APG 18 - Anemias
APG 18 - Anemias
APG 18 - Anemias
1°) Estudar a anemia carencial e hemolítica: epidemiologia, fatores de As anemias podem ser classificadas de acordo com o mecanismo
risco, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e pelo qual ocorrem (classificação fisiopatológica) e de acordo com a
tratamento. morfologia dos glóbulos vermelhos (classificação morfológica).
(LORENZI,2005)
Definição de anemia
Classificação morfológica
A anemia é definida como a existência de um número
anormalmente baixo de hemácias ou de níveis de hemoglobina, ou A classificação morfológica é baseada nos índices hematimétricos,
ambos, resultando na diminuição da capacidade de transporte de fornecidos pelos contadores eletrônicos durante a realização do
oxigênio. (NORRIS,2021) hemograma. (LORENZI,2005)
Em indivíduos normais, os níveis de hemoglobina variam com a fase Os índices hematimétricos a serem avaliados são: volume
do desenvolvimento individual, a estimulação hormonal, a tensão de corpuscular médio (VCM) dos eritrócitos, concentração de
oxigênio no ambiente, a idade e o sexo. (ZAGO,2014) hemoglobina (Hb), quantidade de hemoglobina corpuscular média por
eritrócito (HCM), concentração hemoglobínica corpuscular média
Os valores abaixo aplicam-se para o nível do mar, alterando-se (CHCM — média da concentração de hemoglobina pelo volume
significativamente em grandes altitudes, mas não sofrem variações total de eritrócitos) e do red cell distribution width (RDW — indica a
com a raça, a região geográfica ou a idade avançada. Em particular, variação do tamanho das hemácias, também denominado
não ocorrem níveis de hemoglobina “fisiologicamente” mais baixos anisocitose), os quais compõem os índices hematimétricos obtidos
em idosos. (ZAGO,2014) por meio do hemograma.
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Estas anemias são causadas pela redução de hemoglobina no interior Classificação fisiopatológica/etiopatogenia
do eritrócito, o que torna a hemácia hipocrômica e microcítica.
Do ponto de vista fisiopatológico, as anemias são classificadas em:
A molécula de hemoglobina é constituída por grupos heme e cadeias
globínicas. A diminuição de síntese dos grupos heme ou das cadeias Anemias por falta de produção;
globínicas leva à diminuição de hemoglobina no interior dos Anemias por excesso de destruição;
eritrócitos. (LORENZI,2005) Anemias por perdas hemorrágicas;
Na maioria dos casos a diminuição de síntese do grupo heme é É baseada na contagem de reticulócitos
decorrente da deficiência de ferro, a causa mais comum de anemia
hipocrômica e microcítica. Outras condições que causam alterações
morfológicas semelhantes são as talassemias, que decorrem de um
desequilíbrio de síntese das cadeias globínicas da molécula de
hemoglobina. (LORENZI,2005)
2) Anemias Macrocíticas:
Como os reticulócitos são maiores do que as hemácias maduras, a Estas anemias são decorrentes de:
reticulocitose, que ocorre nas anemias hemolíticas, pode ser causa
de macrocitose. (LORENZI,2005) Redução do tecido hematopoético por aplasia ou hipoplasia
medular idiopática ou induzida por agentes químicos,
3) Anemias normocrômicas e normocíticas: físicos, toxinas ou medicamentos; infiltração da medula
óssea por tumores hematológicos ou metastáticos;
Normocíticas (VCM 80-100 fl): Também são normocrômicas. Corresponde substituição do tecido hematopoético por fibrose ou
a maioria das anemias de doenças crônicas (que, eventualmente, podem ser doenças de depósito. (LORENZI,2005)
microcíticas). Falta de fatores estimulantes da eritropoese
Ocorrem em doenças crônicas, hipoplasia ou aplasia medular, (eritropoetina), como ocorre na insuficiência renal crônica
insuficiência renal, algumas doenças endócrinas, infiltrações Falta de fatores essenciais à produção dos eritrócitos,
medulares, hemólises, hemorragias etc. As anemias normocrômicas como ferro, vitamina B12 e ácido fólico. (LORENZI,2005)
e normocíticas com reticulócitos baixos são, às vezes, difíceis de Tais anemias caracterizam-se por número baixo de reticulócitos
diagnosticar, podendo necessitar de mielograma ou biópsia de tanto em número absoluto como após correção pelo hematócrito.
medula óssea (MO) para elucidação diagnóstica. (LORENZI,2005) (LORENZI,2005)
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Anemias por excesso de destruição (intrínseca e extrínseca)
As anemias hemolíticas caracterizam-se por aumento relativo e O ferro é o metal mais presente no corpo humano e participa de
absoluto no número de reticulócitos. (LORENZI,2005) todas as fases da síntese proteica e dos sistemas respiratórios,
oxidativos e anti-infecciosos do organismo.
A ocorrência de DFe no neonato tem estreita correlação com o O Ferro é amplamente estudado e descrito na literatura mundial,
status de ferro da mãe. (LOPES,2016) este micronutriente desempenha importantes funções no
metabolismo humano, tais como transporte e armazenamento de
O processo de crescimento de uma criança impõe exigências adicionais oxigênio, reações de liberação de energia na cadeia de transporte
sobre o organismo. O volume de sangue aumenta, elevando as necessidades de elétrons, conversão de ribose a desoxirribose, co-fator de
de ferro. As necessidades de ferro são proporcionalmente mais altas na
algumas reações enzimáticas e inúmeras outras reações metabólicas
primeira infância (3 a 24 meses) do que em qualquer outra idade, embora
essenciais. (DE SÁ MOURA et al, 2021)
também sejam maiores por toda a infância e adolescência. Na infância, as
duas principais causas de anemia ferropriva são baixos níveis de ferro ao A maior quantidade de Ferro do organismo está localizada na
nascimento devido a uma deficiência materna e uma dieta que consiste
hemoglobina; o restante distribui-se na composição de outras
principalmente em leite de vaca, que é pobre em ferro absorvível. (NORRIS)
proteínas, enzimas e na forma de depósito (ferritina e
Além disso, são fatores de risco para DFe a diminuição da hemossiderina). (DE SÁ MOURA et al, 2021)
absorção e/ou sangramento do tubo digestivo associado a
O ferro usado pelo organismo é conquistado principalmente da dieta
doenças inflamatórias gastrintestinais crônicas (refluxo
e da reciclagem de hemácias senescentes, a quantidade de ferro
gastresofágico, gastrite, duodenite), intolerância à proteína do
absorvida é regulada pela necessidade do organismo.
leite de vaca e parasitose intestinal (Necator americanus,
Ancylostoma duodenale e Trichiuris trichiura). (LOPES,2016) A homeostase do ferro é importante para a eritropoiese e as
funções celulares normais. (DE SÁ MOURA et al, 2021)
Menorragia, geralmente relacionada com o mioma uterino,
adenomiose, hiperplasia endometrial e hemorragia uterina A maioria do ferro inorgânico é encontrado na forma Fe3+ e é fornecida
disfuncional, é a causa mais frequente de DFe e AFe nas mulheres por vegetais e cereais.
em idade fértil. (LOPES,2016)
A aquisição do ferro da dieta na forma heme corresponde a 1/3 do total e
é derivado da hemoglobina (Hb) e mioglobina contidas na carne vermelha.
Pode-se observar:
Palidez cutaneomucosa;
Fadiga;
Astenia;
Palpitações;
Dispneia,
Angina;
Taquicardia;
Baixa tolerância ao exercício;
Redução do desempenho muscular;
A deficiência de ferro instala-se por mecanismos diversos: Perversão alimentar ou pica ((desejo e consumo de
(1) aumento do consumo,
substâncias não nutritivas como gelo, terra, sabão, argila)
Baqueteamento digital;
(2) excesso de perda (hemorragias) ou Coiloníquia (unhas em forma de colher);
Atrofia das papilas linguais
(3) má absorção.
Estomatite angular
Quando o organismo está em balanço negativo de ferro o primeiro evento Disfagia (síndrome de Plummer-Vinson, que ocorrem mais
é a depleção dos estoques de ferro para a produção de hemoglobina. O comumente em mulheres, mais idosas, onde há uma
intestino aumenta a absorção de ferro antes mesmo do desenvolvimento formação de uma membrana entre hipofaringe e o
da anemia. A ferritina sérica já se encontra reduzida. A eritropoese nesses esôfago);
indivíduos resulta em células com conteúdo reduzido de hemoglobina,
Amenorreia;
tornando-a hipocrômica e microcítica (observado no esfregaço sanguíneo)
e por redução dos índices hematimétricos (VCM < 80 fL e CHCM < 32 Cabelos finos e quebradiços;
g/dL). Além disso, as dosagens de ferro sérico e transferrina saturada de Queda de cabelo (alopecia);
ferro são baixas. A contagem de reticulócitos também é reduzida. A Diminuição da libido;
observação do RDW é um importante no diagnóstico diferencial da anemia
ferropriva com talassemias. Na anemia ferropriva o RDW está aumentado
com os eritroblastos medulares picnóticos e irregulares.
Manifestações clínicas
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Diagnóstico clínico aumento da capacidade total de ligação da transferrina
(>250-390 μg/dL) e a diminuição da saturação da
Para o diagnóstico da anemia ferropriva é importante considerar os transferrina (<16%). Outros exames podem ser
sinais clínicos da deficiência de ferro, incluem fraqueza, cefaleia, necessários como Transferrina, zincoprotoporfirina
irritabilidade, síndrome das pernas inquietas e vários graus de fadiga eritrocitária e capacidade total de ligação do ferro. O ferro
e intolerância aos exercícios ou pica (apetite pervertido por barro sérico é relevante no diagnóstico quando seus valores se
ou terra, papeis, amido). Pode ocorrer ainda distúrbios de conduta e encontram menores que 30 mg/Dl
percepção e psicomotores, atenuação ou impedir a capacidade 3) A anemia ferropriva (diminuição sanguínea da
bactericida dos neutrófilos, diminuição de linfócitos T. Diminuição do hemoglobina e hematócrito e alterações hematimétricas)
rendimento a exercícios, palidez da face, das palmas das mãos e das é o estágio final da deficiência de ferro. Ainda na avaliação
mucosas conjuntival e oral, respiração ofegante, astenia e algia em do hemograma, leucopenia e plaquetose também podem
membros inferiores, unhas quebradiças e rugosas e estomatite ser indicativos do quadro de anemia e devem ser
angular. considerados. A contagem dos reticulócitos se relaciona à
eritropoiese, uma vez que o volume de hemoglobina
Diagnóstico laboratorial presente nos reticulócitos representa o volume de ferro
disponível para a eritropoiese e é um indicador precoce
Exames laboratoriais: da anemia ferropriva e déficit de hemoglobinização.
Hemograma; Hemograma
Coloração do tecido medular pelo corante de Perls;
Mielograma; O hemograma é um teste rápido, barato e amplamente disponível
Dosagem de ferritina sérica; no rastreio de anemia ferropriva, mas incapaz de detectar deficiência
Ferro sérico; de ferro sem anemia. (ZAGO,2014)
Transferrina;
Frequentemente se observa hipocromia, microcitose, aumento do
Índice de Saturação de Transferrina (IST);
índice de Anisocitose Eritrocítica (RDW) e plaquetose, além da
Zincoprotoporfirina (ZPP)
presença de anisocitose, poiquilocitose, hemácias em charuto,
Receptor de transferrina (sTfR); eliptócitos e reticulocitopenia ao exame microscópico. (ZAGO,2014)
Contagem dos reticulócitos;
Coloração do tecido medular pelo corante de Perls
No exame laboratorial da anemia ferropriva encontraremos:
Diminuição de Hb, Ht e VCM A avaliação dos estoques de ferro na medula óssea a partir da
coloração do tecido medular pelo corante de Perls é considerada
Hipocromia e microcitose
padrão-ouro no diagnóstico de DFe. (ZAGO,2014)
Hemácias em alvo/ lápis
Aumento do RDW É exame invasivo, de reprodutibilidade e acurácia questionáveis, não
Diminuição dos reticulócitos tendo papel na prática clínica diária. (ZAGO,2014)
Plaquetas podem estar aumentadas, em casos de
sangramento crônico Mielograma
FERRITINA é o primeiro exame que se altera na anemia
No mielograma observa-se hiperplasia eritroblástica com displasias
ferropriva, com redução do seu valor, uma vez que
morfológicas na DF moderada até hipoplasia das três linhagens da
representa o estoque de ferro no organismo!
DF grave prolongada. (ZAGO,2014)
Diminuição do ferro sérico
Diminuição da Transferrina O exame padrão ouro para diagnosticar a anemia ferropriva é o mielograma
Capacidade total de ligação do ferro aumentada devido ao com pesquisa de ferro medular com a coloração do Azul da Prússia. Porém,
aumento de transferrina tentando captar o ferro. é pouco utilizado por ser um exame invasivo e pouco disponível, em
comparação com os exames laboratoriais.
Exames laboratoriais específicos oferecem diagnóstico em cada um
desses períodos. Dosagem de ferritina sérica
1) A depleção de ferro, primeiro estágio, é caracterizada por A dosagem da ferritina sérica está diretamente relacionada com a
diminuição dos depósitos de ferro no fígado, baço e concentração de ferritina intracelular e, portanto, com o estoque
medula óssea e pode ser diagnosticada a partir da ferritina corporal total (ZAGO,2014)
sérica, principal parâmetro utilizado para avaliar as reservas
de ferro, por apresentar forte correlação com o ferro Deficiência de ferro é a única condição que gera ferritina sérica
armazenado nos tecidos. Entretanto, a concentração de muito reduzida, o que torna a hipoferritinemia bastante específica
ferritina é influenciada pela presença de doenças hepáticas deste diagnóstico. No entanto, valores normais ou elevados de
e processos infecciosos e inflamatórios, devendo ser ferritina não excluem a presença de DF, pois a ferritina é uma
interpretada com cautela; proteína de fase aguda, tendo sua concentração sérica aumentada
2) No segundo estágio (deficiência de ferro), são utilizados na presença de inflamação, infecção, doença hepática e malignidade,
mesmo na presença de DF grave. (ZAGO,2014)
para diagnóstico a própria redução do ferro sérico,
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Ferro sérico
Transferrina
Avalia a capacidade de regeneração da medula pela contagem do Opções: Ferro-dextran, gluconato férrico de sódio, ferro-sucrose,
eritrócito jovem, reticulócitos feromoxitol OBS.: O Feromoxitol é a opção com melhor absorção
e menos efeitos tóxicos.
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Anemias megaloblásticas receptor no íleo distal, sendo a vitamina absorvida e o fator intrínseco
destruído. No plasma, a vitamina B12 é transportada pela
As anemias megaloblásticas constituem um grupo de anemias em transcobalamina até a medula óssea e o fígado. Ela é responsável
que os eritroblastos na medula óssea mostram uma anormalidade por transformar homocisteína → metionina e CoA → Succcinil-
característica – atraso da maturação do núcleo em relação à do CoA.]
citoplasma. O defeito básico responsável por essa assincronia é a
síntese defeituosa de DNA, geralmente causada por deficiência de a) Dieta. A vitamina B12 existe primariamente em alimentos
vitamina B12 ou de folato. de origem animal, não sendo encontrada em frutas e
vegetais. As necessidades diárias são ínfimas (0,5-2 g/dia),
Anemias megaloblásticas são causadas pelo comprometimento na e por isso a carência de vitamina B12 de origem alimentar
síntese de DNA, que resulta em hemácias aumentadas de tamanho é excepcional: somente ocorre em vegetarianos estritos
(VCM > 100 fℓ), devido à maturação e divisão deficientes. A após vários anos sem ingerir alimento de origem animal;
deficiência de vitamina B12 e ácido fólico são as condições mais b) Absorção. A absorção de vitamina B12 ocorre
comumente associadas a casos de anemia megaloblástica.
predominantemente no íleo terminal e depende de uma
(NORRIS,2021)
glicoproteína produzida pelas células parietais da mucosa
Epidemiologia das anemias megaloblásticas gástrica, denominada “Fator Intrínseco” (FI). O complexo
de vitamina B12/FI é captado pelos receptores das células
As anemias resultantes de carências de vitamina B12 ou de folatos epiteliais do íleo e a vitamina B12 é absorvida. Qualquer
vão se tornando menos frequentes, em virtude da diminuição da alteração desses passos da absorção leva à deficiência de
ocorrência de carências nutricionais. No entanto, ainda são vitamina B12. O tipo mais comum de carência de vitamina
encontradas na prática médica, em especial entre grávidas de B12 é representado pela anemia perniciosa, doença de
classes mais pobres, idosos e alcoólatras, na forma clássica da anemia natureza provavelmente imunológica, em que ocorre
perniciosa. (ZAGO,2014) atrofia e inflamação crônica da mucosa gástrica (gastrite
atrófica), levando à ausência concomitante de fator
Etiologia das anemias megaloblásticas intrínseco e da secreção de ácido clorídrico, com
consequente má absorção da vitamina B12.
As deficiências de cobalamina (vitamina B12) ou de ácido fólico
são as mais frequentes causas de anemia megaloblástica. A
ação de fármacos, erros inatos do metabolismo e a
eritroleucemia são menos frequentes na prática clínica.
(LOPES,2016)
Genericamente, as causas de carências podem ser classificadas em: Causas de carência de folato/ Ác. Fólico
a) Menor ingestão do nutriente;
Fisiologia do folato: O folato pode ser encontrado em vegetais verdes,
b) Menor absorção intestinal;
fígados e frutas, sendo absorvido no duodeno e jejuno proximal. No plasma,
c) Defeitos do transporte ou metabolismo; o folato é convertido em metil tetrahidrofolato (Metil-THF).
d) Aumento da excreção ou das perdas;
e) Aumento das necessidades fisiológicas ou patológicas; O metil- THF ao entrar na célula, sofre ação da metionina sintetase,
dependente da vitamina B12 para sua ação, e se transforma na sua forma
Causas de carência de vitamina B12 ou cobalamina ativa, o poliglutamato (THF).
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1) A primeira é reconhecer se a anemia megaloblástica está Avaliação laboratorial
presente;
2) A segunda é distinguir entre as deficiências de vitamina Sangue periférico;
B12 e folato;
3) E a terceira é a determinação da causa; Os principais achados são anemia macrocítica, leucopenia,
trombocitopenia, acompanhados de anisocitose, macrocitose com
Quadro clínico macro-ovalócitos, poiquilocitose, e granulócitos polissegmentados.
As manifestações megaloblásticas das deficiências de vitamina B12 e A contagem de reticulócitos é normal ou baixa, mas o cálculo do
de folatos são clinicamente indistinguíveis, a não ser pela história índice de reticulócitos corrigido indica anemia hipoproliferativa
recente (ao redor de seis meses) na deficiência de folato e mais
As principais alterações morfológicas no esfregaço do sangue
prolongada (três anos ou mais) na deficiência de vitamina B12.
periférico são:
(ZAGO,2014)
A. Eritrócitos: macro-ovalócitos, poiquilocitose com
Além das manifestações de anemia (fraqueza, palidez, dispneia,
esquistócitos, dacriócitos, corpúsculos de Howell-Jolly, anel
claudicação intermitente) são importantes os sintomas
de Cabot, eritroblastos, e até megaloblastos;
gastrintestinais e as alterações da boca e língua. (ZAGO,2014)
B. Granulócitos: hipersegmentação nuclear, com presença
Graus variados de palidez, com pele cor de limão (combinação de de neutrófilos polissegmentados reconhecidos por no
palidez com leve icterícia) são comuns. (ZAGO,2014) mínimo 5% de neutrófilos com cinco lobos (regra dos 5)
ou um neutrófilo com seis ou mais lobos;
Uma das manifestações clássicas da anemia perniciosa é a perda de
C. Leucócitos: leucopenia com neutropenia, podendo os
papilas da língua, que fica lisa, brilhante e intensamente vermelha
leucócitos chegar até abaixo de 2.000/µL, embora seja
(“língua careca”). Associação com outras carências vitamínicas pode
rara a ocorrência de infecções graves;
mostrar queilite angular, dermatite, sangramento de mucosas,
D. Plaquetas: trombocitopenia com 30.000 a 100.000
osteomalacia e infecções crônicas. (ZAGO,2014)
plaquetas/µL;
Os casos mais graves são acompanhados de sinais de insuficiência
cardíaca. (ZAGO,2014)
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estímulo máximo (acloridria) contribuem para confirmar o diagnóstico
de anemia perniciosa. (ZAGO,2014)
Dosagem das vitaminas: A mais importante medida no tratamento dessas anemias consiste
em identificar a causa e removê-la, se possível. (ZAGO,2014)
Esses testes compreendem as dosagens de vitamina B12 sérica,
folato sérico e folato eritrocitário. (ZAGO,2014) Só excepcionalmente há necessidade de tratar esses pacientes com
transfusões sanguíneas, uma vez que a reposição adequada do
Na deficiência de folatos, tanto o folato sérico quanto eritrocitário
nutriente é acompanhada de pronta resposta, com rápida
estão diminuídos, enquanto que os níveis de vitamina B12 estão
normalização hematológica. (ZAGO,2014)
normais ou aumentados. (ZAGO,2014)
Nos casos em que há concomitância com carência de ferro, o
Na deficiência de vitamina B12 os níveis de cobalamina estão
tratamento deve ser simultâneo, caso contrário não haverá
geralmente baixos e os de folato normais. Entretanto, níveis
recuperação completa dos níveis de hemoglobina. (ZAGO,2014)
subnormais ou mesmo normais de vitamina B12 podem ocorrer em
indivíduos com carência, em especial idosos. (ZAGO,2014) Vitamina B12 por via parenteral
Nos casos de dúvida diagnóstica, a dosagem sérica de ácido O ácido fólico, como é bioquimicamente inativo, é convertido em
metilmalônico e de homocisteína total pode auxiliar na diferenciação ácido tetra-hidrofólico e metiltetraidrofolato por di-hidrofolato
das duas anemias megaloblásticas. (ZAGO,2014) redutase. Esses compostos afins de ácido fólico são transportados
através células por endocitose mediada pelo receptor em que são
Ambos os metabólitos estão aumentados em cerca de 95% dos necessários para manter a eritropoiese normal, sintetizar purinas e
casos de deficiência de vitamina B12, enquanto que o aumento de ácidos nucleicos timidilato, interconvertendo aminoácidos, metilato de
homocisteína (sem aumento do ácido metilmalônico) ocorre em 91% ARNt, e gerar e utilizar o formiato. Usando a vitamina B12 como
na deficiência de folatos. (ZAGO,2014) cofator, o ácido fólico pode normalizar os níveis elevados de
homocisteína por remetilação de homocisteína em metionina via
No entanto, o alto custo desses exames faz com que sejam
metionina sintetase
reservados para situações de dúvidas diagnósticas, sendo
dispensados quando o diagnóstico pode ser firmado com base nos
testes rotineiros. (ZAGO,2014)
As anemias hemolíticas podem ser congênitas (defeito corpuscular) ou Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN)
adquiridas (defeitos extracorpusculares).
Uma alteração adquirida da membrana eritrocitária é a
1) Anemia hemolítica por defeitos intrínsecos das hemácias Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN). (ZAGO,2014)
Alterações da hemoglobina
Anemia falciforme
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um gene HbS) ou anemia falciforme (i. e., com dois genes 1) Defeitos da via de Embden-Meyerhof: a anormalidade mais
homozigotos HbS). (ZAGO,2014) frequente é a deficiência de Piruvato Quinase ou Cinase
(PK) (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013).
Síndromes talassêmicas 2) Defeitos na via das pentoses: a alteração mais frequente
é a deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD)
As síndromes talassêmicas constituem um grupo heterogêneo de (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013)
distúrbios hereditários causados por mutações que reduzem a
síntese da cadeia α- ou β-globina (MITCHELL et al., 2021) Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase
As cadeias β são codificadas por um único gene no cromossomo 11 A glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é uma enzima no shunt a
(produzindo duas cópias); as cadeias α são codificadas por dois genes hexose monofosfato, que reduz a nicotinamida adenina dinucleotídeo
intimamente ligados no cromossoma 16 (produzindo quatro cópias) fosfato reduzida (NAPD) a NADPH; por sua vez, a NADPH reduz a
(MITCHELL et al., 2021) glutationa eritrocitária – conferindo proteção contra lesão oxidativa
A síntese menor de uma cadeia tem consequências patológicas do eritrócito. Nas células com deficiência de G6PD, o estresse
decorrentes de: (1) baixa hemoglobina intracelular (hipocromia) e (2) oxidativo (p. ex., decorrente de inflamação, drogas ou alimentos,
efeitos relacionados com o excesso relativo da outra cadeia como feijão fava) promove a ligação cruzada de sulfidrila
(MITCHELL et al., 2021). hemoglobina e desnaturação de proteína. A hemoglobina alterada se
precipita como corpúsculos de Heinz, o que pode causar hemólise
As síndromes são mais comuns nos países mediterrâneos, em direta; além disso, a hemoglobina precipitada pode se fixar à
partes da África e sudoeste da Ásia (MITCHELL et al., 2021) membrana celular interna, reduzir a deformabilidade e aumentar a
suscetibilidade à destruição por macrófago esplênico (MITCHELL et
β-talassemias al., 2021)
As β-talassemias são caracterizadas pela síntese deficiente de β- A deficiência de G6PD é um distúrbio ligado ao X; embora existam
globina: diversas variantes de G6PD, apenas duas – G6PD- e G6PD
mediterrânea – ocasionam hemólise clinicamente significativa. A
As mutações β0 abolem a síntese da cadeia β-globina;
G6PD- está presente em cerca de 10% dos negros americanos;
mais comumente envolvem mutações na terminação da
dobras anormais na proteína acarretam aumento da degradação
cadeia que cria códons de parada prematura
proteolítica e, desse modo, perda progressiva de G6PD nos
As mutações β+ levam à redução (porém detectável) da
eritrócitos mais velhos. Uma vez que os eritrócitos mais jovens não
síntese de β-globina; mais frequentemente envolvem
são afetados, os episódios hemolíticos são autolimitados na maioria
splicing de RNA aberrante, embora algumas sejam
das vezes. Na forma mediterrânea, os níveis de G6PD são muito
mutações na região promotor
menores e os episódios hemolíticos são mais graves (MITCHELL et
α-Talassemias al., 2021)
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Causadas por anticorpos a quente
a) Primárias ou idiopáticas;
b) Secundárias: doença linfoproliferativa, carcinomas,
mielodisplasia, colagenoses, retocolite, ulcerativa e
hepatites
Mistas
a) Indução de autoimunidade
b) Adsorção de fármacos
c) Adsorção de imunocomplexos Manifestações clínicas da anemia hemolítica
d) Adsorção não imunológica de proteínas
As manifestações variam conforme o tipo de causa. Desta forma,
Anemia hemolítica aloimune são inúmeras manifestações.
Ocorre em uma reação pós-transfusional devido à presença de Hemólise extravascular: Os principais aspectos clínicos são anemia,
aloanticorpos, que são anticorpos reativos a antígenos da mesma esplenomegalia e icterícia; reduções modestas na haptoglobina (uma
espécie, mas de indivíduos geneticamente diferentes. Uma reação proteína sérica que se liga à hemoglobina) também são observadas
transfusional hemolítica aguda é definida como a hemólise das (MITCHELL et al., 2021).
hemácias do doador nas primeiras 24 horas após a transfusão, Hemólise intravascular: Os pacientes exibem anemia,
graças aos aloanticorpos pré-formados. As reações hemolíticas
hemoglobinemia, hemoglobinúria, hemossiderinúria, dor dorsal e
transfusionais agudas potencialmente fatais normalmente são
icterícia; há acentuada redução da haptoglobina sérica. A
causadas por transfusão sanguínea de sangue ABO incompatível,
hemoglobina livre pode ser oxidada em metemoglobina. Ambas as
sendo erros de escrita (amostra identificadas erroneamente) a
formas da proteína são excretadas na urina (conferindo a cor
principal responsável por essas reações.
marrom) ou são absorvidas pelos túbulos proximais renais; o ferro
A causa das reações transfusionais hemolíticas é a lise intravascular liberado da hemoglobina pode se acumular nas células tubulares
dos eritrócitos do doador por anticorpos (aloanticorpos ou (hemossiderose renal) (MITCHELL et al., 2021).
isoanticorpos) do receptor, que se ligam a um ou mais antígenos de
O paciente costuma ter:
grupo sanguínea nas células transfundidas
Palidez de mucosas;
Icterícia leve flutuante;
Esplenomegalia;
Não há bilirrubina na urina, mas esta pode se tornar escura
em conservação pelo excesso de urobilinogênio;
Úlceras em volta do tornozelo (em particular com anemia
falciformes);
Podem ocorrer crises aplásticas, geralmente precipitadas
por infecção com parvovírus, que “desligam” a
eritropoese, caracterizadas por intensificação súbita da
anemia e por queda da contagem de reticulócitos
O tratamento é especifico conforme a causa da anemia hemolítica, ZAGO. M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Tratado de
alguns exemplos são listados abaixo: hematologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2013.
Anemia falciforme:
Anemia imuno-hemolitica:
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@_LETICIAALBUQUERQ