Análise Do Poema Acordando de Antero de Quental
Análise Do Poema Acordando de Antero de Quental
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de Quental»
ACORDANDO
Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta
Este meu vão sofrer, esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o céu a minh'alma sobe e canta.
Com efeito, é através do sonho que o Poeta se eleva para o "Céu", para o ideal,
aquele mundo perfeito que Platão soube expor em textos ainda sedutores e
identificados com o desejo do "Bem Absoluto", aspiração que mora na alma de cada
ser humano. Comparando-se a uma cotovia, é embalado pelo canto desta ave: a
repetição do verbo "subir" e do verbo "cantar" acentua essa evasão para o paraíso do
sonho. De realçar o gerúndio "cantando" a sugerir a permanência do canto/sonho, e
ainda a expressividade da substância fónica dos versos 3 e 4 realizada, quer pelas
leves aliterações /c/, /t/, /s/, quer pelo tom nasal, quer pela repetição da vogal /i/. Nesta
quadra, encontra-se já claramente definida a oposição entre o sonho e a realidade. Há
dois campos semânticos opostos: sofrer, agonia", cotovia, Céu.