Acórdão 1.481 2022
Acórdão 1.481 2022
Acórdão 1.481 2022
731/2022-5
RELATÓRIO
1. INTRODUÇÃO
Pela 87ª vez, o Tribunal de Contas da União desempenha a primeira das competências
que lhe são atribuídas pela Constituição Federal: apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas
prestadas pelo Presidente da República. A análise realizada pelo Tribunal subsidia o órgão de
cúpula do Poder Legislativo com elementos técnicos para emitir seu julgamento e, assim, atender a
sociedade, no seu justo anseio por transparência e correção na gestão dos recursos públicos.
Consoante a Lei 8.443/1992, as contas incluem os balanços gerais da União e o relatório
do órgão central do sistema de controle interno do Poder Executivo sobre a execução dos
orçamentos de que trata o § 5° do art. 165 da Constituição Federal.
Encaminhadas pelo Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional, Senador
Rodrigo Pacheco, no dia 5/5/2022, as contas ora analisadas referem-se ao período de 1º/1/2021 a
31/12/2021, no qual ocupou o cargo de Presidente da República o Excelentíssimo Senhor Jair
Messias Bolsonaro.
Registra-se, ainda, que o TCU emite parecer prévio apenas sobre as contas prestadas
pelo Presidente da República, pois as contas atinentes aos Poderes Legislativo e Judiciário e ao
Ministério Público não são objeto de pareceres prévios individuais, mas efetivamente julgadas por
esta Corte de Contas, em consonância com a decisão do Supremo Tribunal Federal, publicada no
Diário da Justiça de 21/8/2007, ao deferir medida cautelar no âmbito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 2.238-5/DF, confirmada em decisão de mérito de 24/6/2020, publicada
no Diário da Justiça Eletrônico (DJE) 228, de 15/9/2020.
O exame das contas do Presidente da República constitui a mais nobre, complexa e
abrangente tarefa atribuída a esta Corte pela Constituição Federal e legislação correlata, seja por sua
singular relevância, por permitir à sociedade o conhecimento do resultado da atividade do governo
federal, seja pela amplitude dos temas tratados e profundidade das análises realizadas por este
Tribunal.
A primeira opinião se refere à fidedignidade das demonstrações contábeis consolidadas,
devendo exprimir se as contas prestadas pelo Presidente da República “representam adequadamente
as posições financeira, orçamentária, contábil e patrimonial, em 31 de dezembro”, conforme
estabelecido no art. 228 do Regimento Interno do Tribunal (RITCU).
A segunda opinião diz respeito à observância dos princípios constitucionais e legais que
regem a administração pública federal na execução dos orçamentos da União e nas demais
operações realizadas com recursos públicos federais, em especial quanto ao que estabelece a lei
orçamentária anual (art. 228, caput e § 1º, do RITCU).
Destarte, considerando a materialidade, a gravidade e a repercussão negativa sobre a
gestão governamental associadas às irregularidades ou distorções que venham a ser detectadas no
âmbito das análises efetuadas, o TCU registra no parecer prévio sua conclusão quanto à aprovação
ou rejeição das contas prestadas pelo Presidente da República (art. 11 da Resolução-TCU
291/2017).
IPCA mensal
em %
1.6
1.35
1.4 1.26 1.25
1.15
1.2
0.8
0.6
0.4
0.2
-0.2
-0.4
17
18
19
20
21
t
ju
ju
ju
ju
ju
ou
ou
ou
ou
ou
ab
ab
ab
ab
ab
n/
n/
n/
n/
n/
ja
ja
ja
ja
ja
Fonte: IBGE.
O INPC, que mede a variação do custo de vida das famílias com renda mensal entre 1 e
5 salários mínimos, teve alta de 10,16% em 2021. De forma semelhante ao verificado com o IPCA,
as maiores variações e impactos ocorreram com os itens de Transportes – 19,29% e 3,70 p.p., e
Habitação – 13,85% e 2,43 p.p. O item Alimentação e Bebidas registrou alta de 7,71%, com
impacto de 1,86 p.p.
2.1.2. Nível de Emprego e Salários
A taxa de desocupação média anual entre 2014 e 2017 mostra uma trajetória de forte
alta ao longo do período, de 6,9% em 2014 para 12,9% em 2017. Observa-se, entretanto, redução da
taxa de desocupação média para 12,4% em 2018 e 12,1% em 2019, conforme gráfico apresentado
adiante. No biênio 2020-2021 a taxa de desocupação média alcançou 13,5%, uma estabilização em
relação ao exercício do advento da pandemia propagada em 2020.
Evolução da taxa de desocupação média anual – 2013 a 2021
Em %
16
13,5 13,5
12,9
12,4 12,1
11,4
12
8,4
7,3 6,9
8
0
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: IBGE.
10
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Fonte: IBGE.
2.692
2.700
2.670 2.666
2.659
2.649
2.615
2.600
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: IBGE/IPEA.
2.800
2.664 2.652
2.623 2.614
2.587
2.600 2.538
2.498 2.512
2.467
2.400
2.200
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Fonte: IBGE/IPEA.
O gráfico seguinte mostra a evolução média anual do emprego para pessoas ocupadas
no setor privado com carteira de trabalho assinada (emprego formal) no período de 2013 a 2021.
Nota-se que o ápice do emprego formal no período ocorreu em 2014, com aproximadamente 37,5
milhões de pessoas ocupadas. A partir de 2015, o indicador passou para trajetória de queda até o
exercício de 2018, quando contou aproximadamente 34 milhões de empregos, com uma suave
recuperação em 2019 (34,4 milhões). Como esperado, devido à pandemia de Covid-19, houve uma
forte queda do nível de emprego formal registrando 32,4 milhões de pessoas ocupadas em 2020,
sendo o menor patamar de emprego formal no período analisado. O exercício de 2021 apresenta
recuperação, com 32,6 milhões de pessoas formalmente ocupadas.
Evolução do nível de emprego formal médio anual – 2013 a 2021
Em milhares de pessoas ocupadas
37.488
38.000
36.824
36.278
36.000 35.270
34.214 34.402
33.990
34.000
32.645
32.362
32.000
30.000
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: IBGE/IPEA.
A avaliação do nível de emprego formal mensal de 2021 mostra que o indicador teve
seu menor valor em março, com aproximadamente 31,5 milhões de pessoas ocupadas, e o maior
valor em dezembro, com aproximadamente 34,5 milhões de trabalhadores ativos. Observa-se uma
elevação do nível de emprego desde abril até dezembro, com valor substancialmente acima da
média anual (32.645 mil) mostrada no gráfico anterior.
32.894
33.000 32.552
32.098
32.000 31.630
31.515
31.000
30.000
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Fonte: IBGE/IPEA.
7,5
7,5
5,8 6,1
5,1
4,6
5,0 4,0 4,0
3,0
3,1
2,5 3,2 1,8
1,3 1,2
1,9 0,5
1,1
0,0
-0,1
-2,5
-3,3
-3,5 -3,9
-5,0
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
O gráfico seguinte mostra a evolução da variação percentual real do PIB per capita. O
PIB per capita equivale à razão entre o PIB real e a população brasileira, sendo um dos indicadores
considerados ao se analisar o bem-estar da população.
4 3,9
2,1
2 1,0 1,0
0,5 0,4
0,3
0
-2
-4
4,1
4,4 4,6
-6
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: IBGE.
O PIB per capita em 2021 registrou o valor de R$ 40.688,10, uma variação de 3,9% em
relação ao valor registrado em 2020. Apesar de em 2021 ter se obtido uma variação positiva no
crescimento do indicador, nesta última década o Brasil registrou valores cada vez menores, sendo os
valores de 2012 e 2013 de R$ 43.167,29 e R$ 44.088,84, respectivamente.
A variação do PIB é resultado do aumento do Valor Adicionado a Preços Básicos e do
volume do Imposto sobre Produtos líquidos de Subsídios. As variações do Valor Adicionado nas
atividades de Agropecuária, Indústria e Serviços foram, em 2021, de -0,2%, 4,5%, e de 4,7%. Na
Agropecuária o desempenho negativo ocorreu em virtude da baixa produtividade da lavoura e da
pecuária, decorrente de um período de estiagem prolongada, além de geadas. Na lavoura foi
destaque a queda na produção de cana de açúcar, milho e café (-10,1%, -15,0%, e -21,1%), embora
a produção de soja tenha apresentado variação positiva (11,0%). Na pecuária a baixa produtividade
foi resultado da queda nas estimativas de produção de bovinos e leite.
Na Indústria o subsetor Construção teve desempenho de 9,7% em 2021, como resultado
da maior ocupação da atividade. Indústria de Transformação, da mesma forma, experimentou
expansão positiva (4,5%), com aumento na fabricação de máquinas e equipamentos, metalurgia,
fabricação de outros equipamentos de transporte, de produtos minerais não metálicos, e indústria
automotiva.
As Indústrias Extrativas apresentaram variação positiva de 3,0% em decorrência da alta
na extração de minério de ferro.
A atividade de Eletricidade e Gás, Água, Esgoto, Atividades de Gestão de Resíduos
apresentou variação próxima da estabilidade (-0,1%) em 2021. As atividades que compõem os
Serviços apresentaram desempenho positivo: Informação e Comunicação (12,3%), Transporte,
Armazenagem e Correio (11,4%), Outras Atividades de Serviços – serviços prestados às famílias
(7,6%), Comércio (5,5%), Atividades Imobiliárias (2,2%), Administração, Defesa, Saúde e
Educação Públicas e Seguridade Social (1,5%), e Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços
Relacionados (0,7%).
15 12,4
10
5,8
4,6
3,6
5 2,0
0
-0.5
-1.8
-5 -3.9 -4.5
-5.4
-10
-9.8
-15
PIB a preços Despesa de Despesa de Formação bruta de Exportação de bens Importação de bens
de mercado consumo consumo da capital fixo e serviços e serviços (-)
das famílias administração
2016 pública 2018
2017 2019 2020 2021
Fonte: IBGE. Demanda agregada: consumo das famílias, consumo da administração pública, formação bruta de capital fixo, exportações e
importações de bens e serviços.
Em 2021, a Despesa de Consumo das Famílias foi responsável por 61,0% do valor do
PIB, tendo sofrido um acréscimo de 3,6% se comparado ao ano de 2020. A despesa de Consumo do
Governo, correspondente a 19,1% do PIB em 2021, registrou variação positiva de 2,0% em relação
à 2020. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), inclusas as variações de estoque, registrou
aumento de 17,2% se comparado a 2020, com participação de 18,9% no PIB. As Exportações de
Bens e Serviços e as Importações de Bens e Serviços tiveram acréscimo de 5,8% e 12,4%,
respectivamente, em relação ao ano de 2020.
17,8
18 18,6 16.6
18,1
17,7 15,5 15,5 17,4
15,1
14,6
16,1
14 14,7
14,5
13,4 13,6
12,7
12,2
10
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
A tabela a seguir mostra a variação dos tributos arrecadados em 2020 e 2021. As três
primeiras colunas contêm valores correntes e as três últimas, valores corrigidos para 2021. Os
valores de 2020 foram corrigidos pelo deflator implícito do PIB (11,096%).
Arrecadação Tributária Bruta – variação entre 2020 e 2021 em valores correntes e corrigidos
R$ bilhões
Valores correntes Valores corrigidos
Esferas de Governo 2020 2021 Var % 2020 2021 Var %
Governo Federal 1.564 1.951 24,71% 1.738 1.951 12,26%
Governos Estaduais 638 789 23,65% 709 789 11,30%
Governos Municipais 170 202 19,37% 188 202 7,45%
Carga Total 2.372 2.942 24,04% 2.635 2.942 11,65%
Fonte: STN.
Pelo gráfico a seguir, pode-se notar certa estabilidade na carga tributária total até 2019.
A ligeira queda observada em 2020 foi mais do que compensada pelo aumento em 2021. A
tendência de crescimento para estados e municípios continuou e a tendência de crescimento do
RGPS foi revertida pela primeira vez em 2021. O reverso ocorreu com a receita disponível para a
União que vinha caindo até 2020 e se recuperou em 2021.
30%
25%
20%
15,5%
14,3%
15%
10,2%
8,5%
10%
8,9% 8,2%
5%
0%
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
União - transf - RGPS Est+Mun+Transf RGPS Totais
Fonte: STN.
O gráfico a seguir relaciona a carga tributária de alguns países, segundo dados do Fundo
Monetário Internacional – FMI (IMF Data – Government Finance Statistics – GFS – Revenue –
General Government – abril de 2021). A primeira coluna classifica o país segundo as regiões:
Europa Ocidental (EO), América Latina (AL) e América do Norte fora México (AN).
Observa-se que a carga tributária do Brasil se encontra em posição intermediária, mas
muito abaixo dos países da Europa Ocidental e pouco abaixo dos países da América do Norte. Entre
os países da América Latina, fica atrás apenas do Equador e da Argentina.
Carga Tributária Comparada
% do PIB
60
52,5 51,8
47,9
50 46,1
43,5
41,7 40,1
40 35,7
32,9 32,8
30,0 28,6 28,2
27,1 27,0
30 24,9 23,3
18,3 18,0
20 14,7
10
0
ça
lia
ha
dá
do
il
ia
ile
ico
ru
ca
ga
ua
a
do
do
as
eg
nh
in
bi
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ni
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pa
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ra
a
Fr
Ca
lô
ge
M
sU
Ur
No
st
Po
Eq
Pa
Es
Co
e
Ar
Co
in
Al
do
Re
ta
Es
Fonte: FMI.
Nota: Os dados são referentes às estimativas para 2021, com exceção da Argentina que foi a de 2020, por falta de informação para
2021. O valor do Brasil foi o informado pelo FMI e não o que consta nos dados do ME para manter a compatibilidade com os
demais países.
Exportações em 2021
US$ bilhões FOB
Variação dos Valores Variação das Participação no total
em 2021 Quantidades em 2021 exportado - valores
Descrição CUCI Item
em relação à 2020 em relação à 2020 FOB (US$) -
(%) (%) em 2021 (%)
A participação dos produtos exportados pelo Brasil ao bloco de países da Ásia manteve-
se em patamar semelhante ao do ano de 2020, com 46,4% em 2021 e 47,4% naquele ano. O bloco
econômico da América do Norte, de forma parecida, apresentou pequena variação positiva em suas
compras do Brasil, passando de 14,1% em 2020 para 14,8% em 2021. A Europa, o Oriente Médio, a
América Central e Caribe e a Oceania também mantiveram praticamente inalterada sua participação
na aquisição dos produtos exportados pelo Brasil. O bloco formado pela América do Sul registrou
pequena elevação em suas compras, passando de 10,8% em 2020 para 12,1% em 2021.
Se, por um lado, a participação de cada bloco econômico no total exportado pelo Brasil
se manteve em 2021 em patamar semelhante ao verificado em 2020, as variações positivas entre
2020 e 2021 no total exportado podem ser consideradas excepcionais, tanto em relação aos blocos
econômicos quanto em relação aos principais países compradores. Os países com participação mais
expressiva na aquisição de produtos brasileiros em 2021 foram: China, com US$ 87,9 bilhões
(aumento de 29,7%), equivalente a 31,3% do total exportado pelo Brasil; Estados Unidos, com
US$ 31,1 bilhões (aumento de 45,1%), representando 11,1% do total; e Argentina, com US$ 11,9
bilhões (aumento de 39,9%), correspondendo a 4,2% do total exportado.
Exportações Brasileiras – Principais Blocos Econômicos – 2020 e 2019
US$ bilhões FOB
Var (%) Parti (%) Partic (%)
Blocos Econômicos e Países 2021 2020
2021 / 2020 2021 2020
Ásia (Exclusive Oriente Médio) 130.335.942.856 99.253.288.714 31,3 46,4 47,4
China 87.907.887.856 67.788.075.211 29,7 31,3 32,4
Europa 48.295.379.373 37.317.176.007 29,4 17,2 17,8
União Europeia - UE 36.533.049.938 27.641.550.057 32,2 13,0 13,2
América do Norte 41.628.026.353 29.530.362.393 41,0 14,8 14,1
Estados Unidos 31.145.209.269 21.471.033.994 45,1 11,1 10,3
América do Sul 34.052.280.135 22.658.977.282 50,3 12,1 10,8
Mercado Comum do Sul - Mercosul 16.990.077.517 12.402.971.268 37,0 6,1 5,9
Quanto às importações dos diversos produtos feitos pelo Brasil, verificou-se que no ano
de 2021 foi registrado o valor global de US$ 219,4 bilhões (FOB), um crescimento de 38,2% em
relação ao ano de 2020.
A categoria econômica “bens intermediários”, de maior participação na pauta de
importações, atingiu 66,0% do total importado em 2021, com um montante de US$ 144,8 bilhões
FOB, um crescimento de 45,7% em relação ao ano de 2020. “Combustíveis e Lubrificantes”
tiveram um aumento, em valores, de 87,3% em 2021 em relação à 2020. Este aumento foi bastante
expressivo em razão do aumento do dólar e do valor unitário do barril do petróleo, mas também em
função do aumento das quantidades de combustíveis e de lubrificantes importadas, que sofreram
elevação de 28,7% em 2021. Esta categoria havia experimentado uma redução, em valores, de
37,1% em 2020, em virtude da redução, em quantidades (quilogramas), de 16,2%, resultado do
menor deslocamento de pessoas e de cargas, em meio a eclosão da pandemia. A categoria
econômica “Bens de Capital” teve variação de apenas 0,8% em relação à 2020, registrando em 2021
o valor de US$ 24,4 bilhões FOB.
140
90 61,4
50,9
40
-10 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
EXPORTAÇÃO
-4,1 IMPORTAÇÃO SALDO
Fonte: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral.
terem aumentado seu déficit em US$ 2,4 bilhões, excluídos, neste caso, valores de rubricas de
menor monta que mantiveram seus valores praticamente iguais em 2021 e 2020.
Na conta Investimento Direto no Exterior, registraram-se aplicações líquidas no valor
de US$ 19,2 bilhões no acumulado de 2021, comparados a retiradas, ou desinvestimentos líquidos
de recursos, no montante de US$ 3,5 bilhões em 2020.
Os Investimentos Diretos no País atingiram o valor de US$ 46,4 bilhões ao final de
2021, comparados a US$ 37,8 bilhões registrados no acumulado de 2020. Os lucros reinvestidos
sofreram variação positiva em 2021, passando de US$ 5,5 bilhões em 2020 para US$ 14,2 bilhões
em 2021. O mesmo ocorreu com a participação no capital, já deduzidos os lucros reinvestidos, que
passaram de US$ 28,1 bilhões em 2020 para US$ 32,2 bilhões em 2021.
Evolução do Balanço de Pagamentos – 2020 e 2021
US$ milhões
Discriminação 2021
Transações Correntes 2020
-24.492 -28.110
Balança Comercial (FOB) 32.370 36.181
(+) Exportação de Bens * 210.707 283.830
(-) Importação de Bens * 178.337 247.649
Serviços -20.941 -17.114
Renda Primária -38.264 -50.471
Renda Secundária (Transferências Unilaterais)¹ 2.344 3.294
Conta Capital e Financeira
Conta Capital 4.141 225
Conta Financeira: fluxos de invest. ativos – fluxos de invest. passivos -12.473 -32.617
Investimentos Direto
No exterior -3.467 19 157
No país 37.786 46.441
O saldo das reservas internacionais atingiu US$ 362,2 bilhões em 2021, um acréscimo
de US$ 6,6 bilhões (1,9%) em relação ao valor registrado no encerramento do ano de 2020, de
US$ 355,6 bilhões.
Em agosto de 2021, o FMI transferiu ao Brasil US$ 15 bilhões como Alocações de
Direitos Especiais de Saque (DES) a título de ajuda aos países-membros do fundo para superação
da pandemia de Covid-19. Este montante alocado nas reservas internacionais tem contrapartida na
dívida externa e deverá ser quitado junto ao organismo internacional mediante pagamento do
principal e juros. Se o valor de US$ 15 bilhões, transferido pelo FMI como DES, for deduzido do
aumento de US$ 6,6 bilhões das reservas internacionais registrado ao final de 2021, comparado ao
valor registrado em 2020, tem-se um valor a menor, neste saldo para 2021, de US$ 8,4 bilhões.
340,000
320,000
300,000
289
280,000
2010
Fonte: Bacen.
Posição declarada nas notas para a imprensa do BACEN: Variação positiva das reservas: US$ 24,9 bilhões
- transferência através de DES – FMI: US$15,0 bilhões;
- receita de juros: US$5,0 bilhões;
- retorno líquido de linhas com recompra: US$4,9 bilhões.
Variação negativa das reservas: US$ 19,4 bilhões
- liquidação de vendas à vista: US$12,0 bilhões;
- perdas por preço: US$4,1 bilhões;
- perdas por paridade: US$3,3 bilhões.
Saldo da variação: positiva em US$ 5,5 bilhões
200 188
184 184
180
160
142
140
120
122
100
96
80
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Ipeadata.
Risco-País
A taxa de risco-país, representada pelo indicador EMBI+ (Emerging Markets Bond
Index Plus ou Índice dos Bônus de Mercados Emergentes), elaborado pelo banco J. P. Morgan,
compara a diferença entre a taxa de juros cobrada pelo mercado financeiro para títulos públicos de
um conjunto de países emergentes, em relação à taxa de juros dos papeis dos Estados Unidos da
América (EUA). O risco-país indica ao investidor que o preço de se arriscar a fazer negócios em um
determinado país é mais ou menos elevado: quanto menor o número, menor o risco; quanto menor
for o risco, maior será a capacidade do país de atrair investimentos estrangeiros, sem que para isso
tenha de elevar as taxas de juros que remuneram os títulos representativos da sua dívida.
O indicador EMBI+ encerrou o ano de 2020 em 260 pontos. Ao final de dezembro, o
indicador EMBI+ encerrou o exercício de 2021 em 326 pontos, portanto com um aumento de 66
pontos entre os dois finais de período. Durante o exercício de 2021 o mínimo e máximo registrados
foram, respectivamente, de 254 e 375 pontos, com uma média de 307.
800
700
600
500
375
400
300
200 254
100
0
29 4/2 6
23 6/2 6
19 9/2 6
13 2/2 6
06 3/2 6
30 6/2 7
22 8/2 7
16 1/2 7
15 2/2 7
07 5/2 8
30 8/2 8
24 0/2 8
18 1/2 8
11 4/2 9
03 7/2 9
27 0/2 9
23 2/2 9
16 3/2 9
08 6/2 0
27 9/2 0
04 1/2 0
05 2/2 0
04 4/2 1
03 6/2 1
02 8/2 1
01 0/2 1
2/ 1
21
/0 01
/0 01
/0 01
/1 01
/0 01
/0 01
/0 01
/1 01
/0 01
/0 01
/0 01
/1 01
/0 01
/0 01
/0 01
/1 01
/1 01
/0 01
/0 02
/0 02
/1 02
/0 02
/0 02
/0 02
/0 02
/1 02
/1 02
20
05 1/2
/0
04
Fonte: Ipeadata.
16 14.15
13.67 13.65
11.65
10.67 10.91
12
9.9
9.15
8.65
7.29 6.9
8 6.4
4.4
4
1.9
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Bacen.
A taxa de juros real (ex-post), é definida como r = {[(1 + i)/(1 + π)] -1}*100, em que i é
a taxa de juros nominal (taxa Selic anualizada base 252), π é a taxa de inflação anual com base no
IPCA. Segundo se nota no gráfico a seguir, houve forte queda da taxa de juros real média anual
depois de 2016, quando atingiu 6,93%, mantendo-se a tendência de redução, uma vez que essa taxa
foi de 3,84% em 2017, 2,56% em 2018, 0,09% em 2019 e -2,51% em 2020, com inversão da
tendência para -0,83% em 2021.
4,93
4,50
4,16 4,14
3,77 3,84
4 3,14
2,56
1,37
0,09
-0,83
0
-2,51
-4
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Bacen.
O Bacen trabalha, entretanto, com a taxa de juros real ex-ante, calculada pela diferença
entre a taxa Over/Selic e as expectativas inflacionárias. Em outras palavras, se houver tendência de
elevação das expectativas inflacionárias, o Bacen responde com incremento da taxa básica de juros
e vice-versa. Dessa forma, na ausência de choques substantivos, em decorrência da redução das
expectativas inflacionárias, a autoridade monetária tem condições de diminuir de forma direta a taxa
Over/Selic, assim como de reduzir de forma indireta a taxa de juros real.
De acordo com o Bacen, “a taxa Selic acumulada quatro trimestres à frente, descontada
das expectativas de inflação, ambas extraídas da pesquisa Focus e medidas em termos de médias
trimestrais”, aponta aumento considerável da taxa real de juros de -1,3% para 4,4% entre o último
trimestre de 2020 e o de 2021. De forma que, na suposição de uma taxa real de juros neutra de 3,5%
a.a., teria ocorrido nesse período a passagem de uma política monetária expansionista para uma
contracionista.
2.2.2. Base Monetária
Com base nos balancetes do Banco Central referentes ao sistema monetário, pode-se
avaliar se há variação da base monetária. Os balancetes são formados pelas contas de ativo e
passivo. A conta do passivo divide-se em dois grupos: a base monetária e os recursos não
monetários, o que inclui, por exemplo, a Conta Única do Tesouro Nacional. Ela funciona como uma
conta de caixa, a qual centraliza o recebimento das receitas depositadas, assim como os pagamentos
das despesas orçamentárias. Dado que o valor total do ativo deve ser igual ao total das contas do
passivo, calcula-se a base monetária pela diferença entre o total de ativos e o total do passivo não
monetário. Então, se há uma variação positiva do montante das contas do ativo em relação às contas
do passivo não monetário, tem-se uma expansão da base monetária, e vice-versa no caso de uma
retração ou contração.
Os saldos da base monetária em final de período em 2021, 2020 e 2019 foram,
respectivamente, de R$ 409.184 milhões, R$ 431.537 milhões e R$ 316.587 milhões. No exercício
de 2021, a base monetária teve diminuição de R$ 22.353 milhões em relação ao saldo do ano
anterior, enquanto em 2020 houve incremento de R$ 114.950 milhões em relação a 2019.
A tabela a seguir mostra os fatores condicionantes de retração e expansão da base
monetária. Entre esses fatores, destacam-se a contração dada pela variação da conta do Tesouro
Nacional, que é uma conta de caixa na qual se registram entradas e saídas de recursos financeiros do
governo federal, no valor de R$ 81.290 milhões, e a expansão dada pela variação do estoque de
títulos públicos federais, no valor de R$ 182.431 milhões. Vale destacar também a contração do
setor externo no valor de R$ 36.631 milhões, o que significa uma redução do saldo das reservas
internacionais em relação ao ano anterior. Dessa forma, considerando-se todos os fatores
condicionantes da base monetária, observa-se contração da base em 2021 em relação ao ano
anterior, fenômeno oposto ao ocorrido em 2020 quando houve uma expansão maior do que a
ocorrida em 2019, o que sugere uma política monetária contracionista em 2021 em oposição à
expansionista de 2020.
Fatores Condicionantes da Base Monetária – 2010 a 2020
R$ milhões
56
53,9 53,8 53,8
52,2
52 50,9
49,7
49,2
48 47,2 47,0
46,6
44
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Bacen.
O gráfico a seguir mostra o saldo das operações de crédito às pessoas jurídicas (PJ) e físicas (PF) no
período de 2012 a 2021. Observa-se que, no período de 2012 a 2015, houve crescimento tanto do
saldo das operações de crédito às pessoas jurídicas quanto às pessoas físicas. Nesse mesmo período,
a proporção de crédito em relação ao PIB destinado às PJ foi superior à proporção referente às PF.
Destaque-se que, considerando o período de 2015 a 2019, houve queda na proporção de crédito
concedido às PJ, que passou de 28,5% do PIB em 2015 para 19,7% do PIB em 2019.
No entanto, desde 2016, quando obteve 25,0% de crédito às PF, houve relativa
estabilidade nas proporções de crédito concedido às PF em proporção do PIB, com leve tendência
de alta até 2019, no qual obteve 27,3%. Com o advento da Covid-19, no exercício financeiro de
2020, o crédito de PF alcançou 30% do PIB e o crédito para PJ alcançou 23,8%. No exercício
seguinte, observa-se uma pequena queda dos saldos de PJ em proporção do PIB em relação a 2020,
ao apresentar um crédito (22,6%), enquanto o crédito para as PF obteve um pequeno aumento no
valor de 31,2%.
Saldo das Operações de Crédito às Pessoas Jurídicas e Físicas – 2012 a 2021
% PIB
60
24,5 25,3
40 22,4 23,4 30,0 31,2
25,0
25,2 25,7 27,3
20
26,8 27,4 27,7 28,5
24,7 21,9 23,8 22,6
20,9 19,7
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
PJ PF
Fonte: Bacen.
Já o gráfico seguinte demonstra a evolução dos saldos das operações de crédito para os
setores público e privado como proporção do PIB de 2012 a 2021. O saldo do crédito ao setor
público inclui os governos federal, estaduais e municipais. O saldo do setor público como proporção
do PIB passou de 2,5%, em 2012, para 4,4%, em 2015, mostrando trajetória crescente no período.
Em 2016, 2017, 2018 e 2019 houve reduções para 3,8%, 3,4%, 3,1% e 2,6%, respectivamente. Em
2020, o montante em valores nominais foi de R$ 223,5 bilhões, enquanto em 2021 houve redução
para R$ 202,3 bilhões. Pode-se notar queda consistente dos percentuais de crédito para o setor
público (% PIB) de 4,4% em 2015 para 2,6% em 2019. Embora em 2020 o crédito público tenha
aumentado para 3% do PIB, em 2021 caiu para 2,3%.
A participação do crédito do setor privado no PIB passou de 46,7%, em 2012, para
49,5%, em 2015, mostrando trajetória de alta, a qual foi revertida nos anos seguintes, com a redução
da participação para 45,9% do PIB em 2016, 43,8% em 2017 e 43,5% em 2018. Verifica-se
pequeno acréscimos em 2019, com 44,4% do PIB, e um incremento em 2020 e 2021 nos valores
respectivos de 50,8% e 51,5% do PIB em 2020 e 2021.
Saldo das operações de crédito aos setores público e privado – 2012 a 2021
% PIB
60
50,8 51,5
48,0 48,6 49,5
46,7 45,9
43,8 43,5 44,4
40
20
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Credito Publico Credito Privado
Fonte: Bacen.
Por fim, os saldos das operações de crédito livre e direcionado são evidenciados no
gráfico a seguir. Houve redução do saldo da carteira de crédito com recursos livres como proporção
do PIB no período de 2012 a 2017. O crédito livre correspondeu a 29% do PIB, em 2012, e atingiu
24,2% em 2017. De 2018 a 2021, observa-se uma elevação do crédito livre, quando se obteve
25,2% do PIB em 2018, 27,2% em 2019, 31,1% em 2020 e 32,2% do PIB em 2021. Os saldos das
operações de crédito livre foram de R$ 2.319,2 bilhões em 2020, equivalente a 23,8% do PIB, e de
R$ 2.790,3 bilhões em 2021, representando 22,6% do PIB.
Por sua vez, o saldo da carteira de crédito com recursos direcionados como proporção
do PIB, passou de 20,2% em 2012 para 26,5% em 2015. Nos exercícios financeiros de 2016 a 2019
houve reduções do crédito direcionado para 24,8%, 23,0%, 21,4 e 19,8%, respectivamente. Em
2020 e 2021, os saldos das operações de créditos direcionados foram de aproximadamente nos
valores de R$ 1.697,6 e R$ 1.882,4 bilhões, respectivamente, mostrando um incremento em termos
do PIB para 22,7% em 2020 e 21,7%.
22,7 21,7
40 20,2 22,6 25,0 26,5
24,8 21,4 19,8
23,0
20
29,0 31,1 32,2
28,2 27,3 27,4 25,2 27,2
24,9 24,2
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Bacen.
Nesse sentido, esta seção contempla análise das contas públicas sob o enfoque fiscal,
demonstrando-se o resultado primário, representado pela diferença entre receitas primárias e
despesas primárias, bem como os principais atos de gestão da programação orçamentária e
financeira do governo federal. O resultado primário corresponde, portanto, à variação na DL e é o
instrumento disponível para garantir a sua sustentabilidade.
Importante observar, para efeito de apuração das despesas primárias, que o critério para
sua consideração em determinado exercício é o efetivo pagamento no mesmo exercício,
independentemente do ano em que houve o empenho, ao passo que as despesas consideradas no
critério orçamentário, de forma geral, são aquelas empenhadas no exercício. No caso das receitas,
não existe essa diferenciação, de modo que, tanto pelo critério orçamentário quanto pelo fiscal, as
receitas são consideradas quando efetivamente arrecadadas.
O resultado primário, assim, surge do confronto desse conjunto de receitas e despesas
primárias (não financeiras) e sua apuração fornece uma melhor avaliação do impacto da política
fiscal sobre a demanda agregada da economia, de modo que superávits primários contribuem para a
redução do estoque total da dívida líquida. Em contrapartida, déficits primários indicam a parcela
do aumento da dívida líquida resultante do financiamento de gastos primários (não financeiros) que
ultrapassam as receitas primárias (não financeiras).
Em razão da importância desse indicador no controle do endividamento público, a Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO) estabelece, por determinação do art. 165, § 2°, da Constituição
Federal e do art. 4°, § 1° e § 2°, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), as metas de resultado
primário para o exercício a que se referem e para os dois seguintes.
Importante salientar que, além do cálculo do resultado primário apurado em razão do
confronto de receitas e despesas primárias (“acima da linha”), sob responsabilidade da Secretaria do
Tesouro Nacional, o resultado primário é apurado pelo Banco Central do Brasil segundo o método
denominado “abaixo da linha”, que decorre da variação da dívida pública no período do cálculo e
que é considerado como resultado oficial para fins de LDO.
Os tópicos seguintes destinam-se, assim, à análise das receitas e despesas primárias, do
eventual contingenciamento da despesa, do resultado primário e dos impactos fiscais decorrentes da
concessão de benefícios tributários, financeiros e creditícios.
2.3.1. Receitas Primárias
A Lei Orçamentária Anual de 2021 – LOA 2021, Lei 14.144/2021, estimou a
arrecadação de receitas primárias em R$ 1.595,4 bilhões, ao passo que a arrecadação efetiva total
foi de R$ 1.932,4 bilhões. Assim, conforme consta da tabela a seguir, a arrecadação de receitas
primárias em 2021 superou a previsão da LOA em R$ 336,9 bilhões.
Nesse contexto, a arrecadação de Receitas Administradas pela Secretaria Especial da
Receita Federal do Brasil (RFB) e a arrecadação líquida para o Regime Geral de Previdência Social
(RGPS), grupos diretamente relacionados às receitas tributárias da União, apresentaram,
respectivamente, variação de R$ 186,8 bilhões (19%) e de R$ 43,6 bilhões (10%) em relação à
previsão contida na LOA 2021.
De outra parte, as receitas pertencentes ao grupo Receitas Não Arrecadadas pela RFB,
que, embora não sejam diretamente sensibilizadas pela atividade tributária do Estado, apresentaram
substancial crescimento de R$ 106,6 bilhões (64%) com respeito à estimativa da LOA 2021,
alcançando a cifra de R$ 274,6 bilhões, como apresentado na tabela a seguir:
800 50%
0 0%
2016 2017 2018 2019 2020 2021
3.500 1.656
1.579
3.000 1.500
1.457 1.367
1.423
2.500
2.000 1.579
1.347
1.500 1.155 1.232 1.204
1.089
1.000
500
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021
Rec. Primária Líquida Valores Correntes Rec. Primária Líquida Val. Constantes
Fonte: RTN – Série Histórica de fevereiro de 2022.
2.500 2.216
2.000
1.649 1.645 1.690 1.694
1.619 1.630 1.614
1.522
1.425
1.500
2.093
1.000
1.469 1.446 1.467 1.489 1.499 1.566
1.319 1.392
1.237
500 227
189 203 180 184 147 156 191
123 128
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Despesas Primárias Total Despesas Obrigatórias Despesas Discricionárias
30% 26,1%
2,2% 2,3% 2,5% 2,1% 2,3% 1,8% 1,8% 2,2% 1,4% 1,4%
0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Despesa Primária Total % PIB Despesas Obrigatórias % PIB Despesas Discricionárias % PIB
O percentual das despesas primárias obrigatórias com relação ao PIB mostra majoração
de 2012 a 2016, passando de 14,7% para 17,7%. Posteriormente, esse percentual de 2017 a 2019
reduziu-se, alcançando 17,3% do PIB. Houve forte inflexão em 2020, quando o percentual dos
gastos obrigatórios com respeito ao PIB alcançou 24,6%, e houve reversão em 2021 para 17,2% do
PIB.
A seu turno, o percentual das despesas primárias discricionárias com relação ao PIB
evoluiu de 2,2% em 2012 para 2,5% em 2015. A partir de 2015, esse percentual reduziu-se até
alcançar 1,4% em 2020, mantendo-se nesse nível em 2021.
Note-se que as despesas obrigatórias ao longo do período de 2012 a 2021 apresentaram
crescimento de 14,7% para 17,2% do PIB, enquanto as despesas discricionárias decresceram de
2,2% para 1,4% do PIB. Esse fenômeno evidencia aumento da participação das despesas
obrigatórias em detrimento das despesas discricionárias no espaço fiscal disponível. Nesse período,
as participações das despesas obrigatórias e das despesas discricionárias no total de despesas
primárias oscilaram em torno da média, respectivamente, de 89% e 11%. Todavia, em 2021, as
despesas obrigatórias e discricionárias representaram, do total das despesas primárias,
respectivamente 92% e 8%.
O gráfico a seguir apresenta a despesa primária total decomposta em quatro
componentes em valores constantes com base no IPCA de dezembro de 2021.
Despesa Primária Total e seus componentes de 2012 a 2021
R$ trilhões
2,5 2,22
2,0
1,69
1,5
0,97
1,0
0,76 0,75
0,47
0,5 0,37
0,35
0,12 0,13
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Despesas Primárias Total Benefícios Previdenciários
Pessoal e Encargos Sociais Outras Desp. Obrig. e Obrigatórias com Contr. de Fluxo
Despesas Discricionárias
Nesse sentido, os arts. 8º e 13 da LRF determinam que, até trinta dias após a publicação
dos orçamentos, o Poder Executivo estabelecerá a programação financeira e o cronograma de
execução mensal de desembolso, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias, e
desdobrará as receitas previstas em metas bimestrais de arrecadação. Por seu turno, o art. 9º da LRF
dispõe que, se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar
o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas
Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários,
nos trinta dias subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira
(contingenciamento), segundo os critérios fixados pela LDO. Na Lei 14.116, de 31/12/2020 (LDO
2021), tais regras constaram do art. 63. Entretanto, prevendo-se que a LOA 2021 poderia não ser
publicada até 31/12/2020, constaram do art. 65 da LDO 2021 regras para execução orçamentária
provisória.
Iniciado o exercício de 2021 sem que houvesse publicação da lei orçamentária, editou-
se o Decreto 10.625, de 11/2/2021, por meio do qual estabeleceram-se regras de execução
orçamentário-financeira provisória, com alterações promovidas pelos Decretos 10.637, de
26/2/2021, 10.649, de 16/3/2021, 10.663, de 30/3/2021, e 10.682, de 20/4/2021. Com a publicação
da LOA 2021, a Lei 14.144, de 22/4/2021, editou-se, para fins de cumprimento do art. 8º da LRF,
c/c o arts. 62, § 3º, e 63, da LDO 2021, o Decreto 10.699, de 14/5/2021, alterado pelos Decretos
10.709, de 29/5/2021, 10.760, 30/7/2021, Decreto 10.794, de 13/9/2021, 10.826, de 30/9/2021, e
10.874, de 30/11/2021. O Decreto 10.699/2021 estabeleceu para os Órgãos Superiores e entidades
do Poder Executivo que correspondem a órgãos setoriais – casos do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica e das agências reguladoras – dois conjuntos de limites: i) os limites de
movimentação e empenho para todo o exercício, constantes do Anexo I, e ii) os limites de
pagamento e os cronogramas de execução mensal de desembolso, constantes dos Anexos II a XIV.
Tendo em vista o objetivo de compatibilizar a execução da despesa com a arrecadação
da receita e, em especial, o enfoque no cumprimento da meta de resultado primário (art. 2º da
LDO 2021) e do Teto de Gastos (EC 95/2016), bem como o fato de que estariam assegurados os
pagamentos da quase totalidade das despesas primárias obrigatórias, o art. 1º, § 1º, e o art. 2º, § 1º,
do Decreto 10.699/2021 excluíram dessa programação as dotações relativas ao grupo de natureza de
despesa “1 - Pessoal e Encargos Sociais” e as despesas primárias que constituem obrigações
constitucionais ou legais da União, relacionadas na Seção I do Anexo III da LDO 2021, sem
prejuízo da seleção, dentre as últimas, daquelas que, por suas características opostas, estariam
sujeitas a controle de fluxo, conforme disciplina o art. 63, § 2º, da LDO 2021, de modo que para
essas foram estabelecidos os cronogramas de pagamento constantes dos Anexos XIII e XIV do
Decreto 10.699/2021. São excluídas, ainda, uma vez que não integram o conjunto das despesas
primárias, as dotações relativas a despesas financeiras dos grupos de natureza de despesa “2 - Juros
e Encargos da Dívida” e “6 - Amortização da Dívida”, e as despesas financeiras relacionadas
no Anexo XVI do mesmo decreto.
Enfim, a Programação Financeira se refere aos pagamentos de despesas dos grupos de
natureza de despesa “3 - Outras Despesas Correntes”, “4 - Investimentos” e “5 - Inversões
Financeiras” relativas aos créditos orçamentários iniciais, suplementares e especiais, abertos e
reabertos, e de restos a pagar, porém não integram os cronogramas as dotações relativas aos créditos
extraordinários abertos e reabertos no exercício de 2021. A demonstração da compatibilidade entre
os limites autorizados para movimentação e empenho e as despesas primárias discricionárias e
obrigatórias sujeitas a controle de fluxo do Poder Executivo, constantes dos Relatórios de Avaliação
das Receitas e Despesas Primárias de que trata o art. 64, § 4º, da LDO 2021, consta do Anexo
XXVI do Decreto 10.699/2021.
Nos termos da delegação estabelecida no art. 10, incisos I, II, III e V, do Decreto
10.699/2021, o secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia estava
autorizado, quanto aos limites de movimentação e de empenho, a remanejá-los ou adequá-los às
dotações de despesas primárias discricionárias aprovadas para o exercício de 2021, bem assim,
quanto aos limites de pagamento, alterá-los ou remanejá-los. Com base nessas competências, os
limites finais de empenho (R$ 137,2 bilhões) e de pagamento (R$ 285,0 bilhões) foram ajustados
por meio da Portaria Seto/ME 107, de 5/1/2022, e da Portaria Seto/ME 15.151, de 28/12/2021,
respectivamente.
Não obstante obrigatória a execução das programações referentes às emendas
individuais (RP 6) e de iniciativa de bancada (RP 7), com exceção de eventuais impedimentos de
ordem técnica, conforme disciplinam os §§ 9º, e 11 a 13 do art. 166 da Constituição Federal, seus
montantes constam dos citados limites globais, uma vez que estão sujeitas a contingenciamento, de
forma que poderiam ser reduzidas em até a mesma proporção da limitação incidente sobre o
conjunto das demais despesas discricionárias, segundo o § 18 do mesmo dispositivo constitucional.
Limitação de empenho e movimentação financeira
Apresenta-se na tabela seguinte a evolução da programação dos OFSS ao longo do
exercício de 2021 no âmbito do Poder Executivo, destacando-se os limites globais de
movimentação financeira e empenho constantes do Anexo I do Decreto 10.699/2021 e suas
alterações.
Programação Orçamentário-financeira: Resultado Fiscal e Contingenciamento em 2021
R$ bilhões
Agosto Março Março Abril Abril Maio Julho Setembro Novembro Dezembro
2020 2021 2021 2021 2021 2021 2021 2021 2021 2021
Realizado
Normativo Autógrafo Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação
LOA 2021
PLOA 2021 (31/3/2021) 1º Bimestre Extemporânea 2º Bimestre 3º Bimestre 4º Bimestre 5º Bimestre Extemporânea
2021
(22/3/2021) (22/4/2021) (21/5/2021) (22/7/2021) (22/9/2021) (22/11/2021) (20/12/2021)
I. Receita Líquida 1.283,2 1.302,1 1.345,0 1.345,0 1.302,1 1.433,3 1.476,4 1.507,9 1.555,5 1.565,9 1.578.8
II. Despesas 1.516,8 1.516,8 1.571,3 1.631,1 1.497,0 1.621,0 1.631,8 1.647,3 1.651,4 1.655,7 1.613.9
II.1 Obrigatórias 1.420,7 1.377,7 1.475,2 1.491,9 1.377,7 1.501,6 1.512,5 1.522,8 1.522,3 1.521,3 1.490,1
II.2. Discricionárias 96,1 139,1 96,1 139,1 119,4 119,3 119,3 124,5 129,0 134,4 123,8
III. Fundo Soberano 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
IV. Resultado Primário Acima da
-194,9 -214,7 -226,2 -286,0 -194,9 -187,7 -155,4 -139,4 -95,8 -89,8 -35,1
Linha (I - II + III)
V. Compensação Estatais Federais¹ 0 0 -0 0 0 -0 0 0 0 0 0
VI. Ajustes Metodológicos e
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -0,8
Discrepância Estatística
VII. Resultado Primário Abaixo
-233,6 -214,7 -226,2 -286,0 -194,9 -187,7 -155,4 -139,4 -95,8 -89,8 -35,9
da Linha
Contingenciamento indicado2 0,0 32,5 20,9 3,7 52,2 128,4 167,1 192,1 235,8 241,8 -
Contingenciamento indicado
- - - - - 127,1 165,4 190,2 233,4 239,3 -
(Poder Executivo)
Contingenciamento indicado
- - - - - 1,3 1,7 1,9 2,4 2,4 -
(Demais Poderes)
Ajuste devido ao Teto de Gastos - - -17,6 -29,1 - -4,5 2,8 0,33 6,04 3,0 -
Contingenciamento realizado x
- - - - - - - - - - -
LOA 20215
10.625 10.682 10.663 10.699 10.709 10.760 10.826 10.874 107/2022 -
Decreto/Portaria6
(11/2/2021) (20/4/2021) (30/3/2021) (14/5/2021) (29/5/2021) (30/7/2021) (30/9/2021) (30/11/2021) (5/1/2022)
Despesas do Poder Executivo
- - - - - 274,2 264,9 270,4 276,4 282,0 270,0
sujeitas à programação financeira7
Obrigatórias com
- - - - - 154,9 145,6 145,9 147,3 147,6 145,2
Controle de Fluxo
Discricionárias - - - - - 119,3 119,3 124,5 129,0 134,4 123,8
Fontes: LOA 2021; Decretos de Programação Orçamentária e Financeira; Relatórios de Avaliação das Receitas e Despesas Primárias e Resultado do
Tesouro Nacional.
Nota: De acordo com o art. 2º, caput, da LDO 2021, a elaboração e a aprovação do PLOA 2021 e a execução da respectiva LOA deverão ser
compatíveis com a obtenção da meta de déficit primário de R$ 247.118.225.000,00.
1. O art. 3º, § 2º, da LDO 2021, estabelece que poderá haver, durante a execução da LOA 2021, compensação entre as metas estabelecidas para os
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social e para o Programa de Dispêndios Globais.
2. Montante indicado no Relatório de Avaliação das Receitas e Despesas Primárias para cumprimento da meta. O valor positivo implica possibilidade
de ampliação dos limites de empenho e de movimentação financeira, caso contrário, a necessidade de limitação. Não está ajustado para fins de
cumprimento do limite estabelecido no Novo Regime Fiscal – NRF (Teto de Gastos).
3. Este Tribunal decidiu, por meio do Acórdão 1532/2021-TCU-Plenário, ratificado pelo Acórdão 1.931/2021-TCU-Plenário, que R$ 9.496,3 milhões
relativos à economia gerada no Programa Bolsa Família, em razão de sua intersecção com o Auxílio Emergencial, devem ser direcionados
exclusivamente ao custeio de despesas com o enfrentamento da pandemia de Covid-19 na função “Assistência Social”, a função na qual foi
classificado o programa, de modo que houve excesso de R$ 288,4 milhões em relação ao referido limite do Teto de Gastos.
4. A Lei 14.212, de 5/10/2021, incluiu o parágrafo único ao art. 45 da LDO 2021, o que permitiu que a citada economia de R$ 9.496,3 milhões
pudesse ser utilizada para quaisquer despesas sujeitas ao Teto de Gastos, conforme também interpretado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
(PGFN), por meio do Parecer 16446/2021/ME.
5. Não houve necessidade de contingenciamento no exercício.
6. Decretos de programação editados com o fim de operacionalizar as indicações constantes do correspondente relatório bimestral. Portarias
publicadas com amparo no art. 10, incisos V e VI, do Decreto 10.699/2021.
7. Compatibilidade dos Decretos de Programação Orçamentária e Financeira com os Relatórios de Avaliação das Receitas e Despesas Primárias.
Anexo VIII do Decreto 10.699/2021 não são estabelecidos limites mensais, mas apenas o anual, no montante da dotação inicial ou
atualizada.
Apesar da melhora do resultado fiscal em 2021 com relação ao ano anterior, os juros
nominais passaram de R$ 266,7 bilhões em 2020 (-3,6% do PIB) para R$ 407,3 bilhões em 2021
(-4,7%), devido à elevação das taxas de juros.
Resultados Primário e Nominal do Governo Central – 2008 a 2021
R$ bilhões
200 71,3 78,7 93,0 86,1 75,3
42,4
0
-24,9 -45,8 -20,5 -35,9
-87,5 -61,2 -88,9
-200 -107,4 -110,6 -116,7 -118,4 -116,2
-159,5
-271,5
-400
-426,5 -399,0 -443,2
-477,8 -459,3
-600 -513,9
-800 -745,3
-1.000
-1011,9
-1.200
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Resultado Primário Resultado Nominal
Fontes: STN e Bacen.
-12%
-14%
-13,6%
-16%
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Resultado Primário/PIB Resultado Nominal/PIB
Fontes: STN e Bacen.
4%
3%
2%
1%
0%
2017 2018 2019 2020 2021
Além dessas análises, esta seção apresenta aspectos específicos em atendimento a leis e
acórdãos do TCU, a saber:
● Benefícios relacionados ao BNDES (Acórdão 3.071/2012-TCU-Plenário, ministro-
relator Aroldo Cedraz);
● Avaliação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
FNDCT (Acórdão 3.071/2012-TCU-Plenário, ministro-relator Aroldo Cedraz);
● Impactos fiscais relacionados a empréstimos e financiamentos concedidos com
recursos dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social (parágrafo único do art. 49 da Lei
Complementar 101/2000).
Destaca-se que os benefícios tributários, financeiros e creditícios objetivam o
desenvolvimento econômico de diversas áreas do país, bem como a redução das desigualdades
regionais e sociais. Por outro lado, em geral, representam distorções ao livre mercado e resultam, de
forma indireta, em sobrecarga fiscal maior para os setores não beneficiados. Além disso, em um
contexto de restrição fiscal, como o enfrentado pela União em 2021, os valores associados a esses
benefícios devem ser considerados com maior atenção em virtude do seu impacto nas contas
públicas.
2.3.5.1. Benefícios Tributários
Em 2021, foram instituídas desonerações tributárias cuja estimativa de impacto na
arrecadação do exercício, conforme cálculos da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil
(RFB), alcançou R$ 4,8 bilhões. Para os exercícios subsequentes, as projeções dos valores desses
novos benefícios são: R$ 22,0 bilhões em 2022, R$ 17,8 bilhões em 2023 e R$ 9,4 bilhões em 2024.
Parte dessas desonerações é enquadrada pela RFB no conceito de “gasto tributário” e,
assim, incluída no Demonstrativo de Gastos Tributários (DGT), documento produzido por aquela
secretaria em atendimento ao § 6º do art. 165 da Constituição Federal. Esclarece-se que nesta seção
são objeto de análise apenas esses gastos.
O DGT 2021 apresenta valor total de renúncia tributária projetada para 2021 da ordem
de R$ 276,8 bilhões. Cabe ressaltar que, para esse exercício, a RFB deixou de considerar, no âmbito
das projeções dos gastos tributários, os valores concernentes ao Regime Especial Unificado de
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte (Simples Nacional) e ao Microempreendedor Individual (MEI), em obediência ao disposto no
§ 2º do art. 136, c/c o art. 176 da Lei 14.194, de 20/8/2021 (LDO 2022), in verbis:
Art. 136. (...)
§ 2º Não serão considerados benefícios tributários os regimes diferenciados de que trata a alínea
‘d’ do inciso III do art. 146 da Constituição.
(...)
Art. 176. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Com efeito, o Simples Nacional e o MEI têm assento constitucional e representam a
materialização do tratamento tributário diferenciado e favorecido para as microempresas e empresas
de pequeno porte. A exclusão desses regimes de tributação do universo dos gastos tributários teve
origem em emenda parlamentar ao Projeto de LDO para 2022 e foi alvo de veto por parte do
Presidente da República nos seguintes termos:
§ 2º do art. 136 do Projeto de Lei
“§ 2º Não serão considerados benefícios tributários os regimes diferenciados de que trata a
alínea ‘d’ do inciso III do art. 146 da Constituição.”
Razões do veto
“A proposição legislativa determina que não seriam considerados benefícios tributários os
regimes diferenciados de que trata a alínea ‘d’ do inciso III do art. 146 da Constituição, o qual
dispõe que cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre a definição de tratamento diferenciado e favorecido para as
microempresas e para as empresas de pequeno porte.
Apesar da boa intenção do legislador, a proposição legislativa contraria o interesse público,
tendo em vista que adota definição inadequada para benefícios tributários que, segundo a
Instrução de Procedimentos Contábeis nº 16, de 2020, conceituam-se como ‘disposições
preferenciais da legislação que fornecem vantagens tributárias a certos contribuintes e que não
estão disponíveis a outros’, de forma a abranger os regimes diferenciados para microempresas e
empresas de pequeno porte, de que trata o referido dispositivo constitucional.
Nesse sentido, além de afastar a incidência do disposto no art. 136 do Projeto de Lei, que
consiste em uma regra fiscal importante para evitar a extensão de benefícios tributários por
prazo indeterminado e garantir a governança e a avaliação desses benefícios, a proposição
legislativa causaria dúvidas quanto à aplicação do disposto no art. 14 da Lei Complementar nº
101, de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, que requer a apresentação de
estimativa de impacto orçamentário e financeiro e de medida compensatória para aquelas
medidas que concedam ou ampliem benefícios tributários que correspondam a tratamento
diferenciado.” (grifos no original)
Não obstante, referido veto foi rejeitado pelo Congresso Nacional e essa parte vetada
foi promulgada em 20/12/2021. Historicamente, o Simples Nacional constituiu o gasto tributário
mais significativo, representando quase 1/4 do total das renúncias em comento (23,14% em 2020).
Consequentemente, por conta dessa alteração normativa, em comparação com o volume de
benefícios projetados para 2020 (R$ 312,4 bilhões), o montante de 2021 evidencia redução nominal
de 11,4%, bem como redução real de 20,25% (deflator do PIB de 11,096%).
Para melhor avaliar a evolução dos gastos tributários ao longo dos anos, em percentuais
da arrecadação e do PIB dos respectivos exercícios, o gráfico a seguir foi elaborado considerando o
efeito das exclusões do Simples Nacional e do MEI nos últimos cinco anos.
Observa-se, no período 2017-2021, que os percentuais em relação ao PIB têm
apresentado tendência de discreta diminuição (3,25% para 3,19%) Já em cotejo com a arrecadação,
houve declínio mais acentuado nos percentuais: de 16,83% para 15,81% no referido período.
Gastos Tributários (sem Simples Nacional e MEI), em percentual da arrecadação e do PIB
20% 4%
17,3% 17,3%
16,8% 16,7%
15,8%
15% 3%
10% 2%
3,3% 3,4% 3,3% 3,2% 3,2%
5% 1%
0% 0%
2017 2018 2019 2020 2021
GT/PIB GT/Arrecadação
Fonte: RFB.
Fonte: RFB.
1,0
0,5
0,0
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Salic. Acesso por meio de: http://aplicacoes.cultura.gov.br/comparar/salicnet/, em 24/3/2022.
Isso posto, importante destacar que os objetivos de política pública que amparam os
incentivos previstos na LIC não se concretizam com a mera captação de recursos e sim com a
fruição dos produtos culturais decorrentes da execução dos projetos apoiados, tendo em vista que
uma série de requisitos precisam ser observados para que o projeto cultural seja de fato
implementado. Porém, a Secult não disponibiliza o valor efetivamente executado pelos projetos
incentivados pela LIC em um dado período, haja vista que informações consolidadas de execução
financeira não são geradas pelo Salic. Para obter esse tipo de informação, há que ser feita uma
consulta projeto a projeto, o que representa uma importante limitação quanto ao desempenho da
política pública cultural.
De qualquer forma, há que se ter em vista, ainda, que: i) os valores executados pelos
projetos não estão necessariamente atrelados aos valores captados no exercício, uma vez que, em
parte, correspondem a projetos que iniciaram o processo de captação em exercícios anteriores e ii)
parte dos recursos captados em 2021 estão vinculados a projetos que ainda não atingiram todos os
requisitos que autorizam a movimentação de recursos, nos termos do Capítulo VI da Instrução
Normativa do Ministério da Cidadania 2/2019, normativo que disciplinou os procedimentos de
aprovação dos projetos culturais financiados pelo mecanismo de incentivo fiscal do Pronac, até o
início de fevereiro de 2022 (foi revogada pela IN Secult/MTur 1, de 4/2/2022).
Regionalização da captação de recursos via leis de incentivo à cultura
Segundo o art. 1º, inciso II, da Lei 8.313/1991, uma das finalidades do Pronac é
“promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização
de recursos humanos e conteúdos locais”. Dessa forma, cabe ao programa estimular a
desconcentração da produção cultural e promover a distribuição regional equitativa dos recursos,
em consonância, inclusive, com um dos objetivos fundamentais da República, que é o de reduzir as
desigualdades sociais e regionais, conforme prescreve o art. 3º, III, da Constituição Federal.
No entanto, historicamente se verifica grande concentração de recursos aplicados na
região Sudeste do país, como se pode observar no gráfico a seguir:
1,16 1,17
1,2 1,06
0,90 0,92
0,8
0,4 0,26
0,21 0,22
0,13
0,08
0,06
0,0
0,02
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
45%
38,9%
35,2%
30% 24,5%
22,0%
18,7%
16,7%
14,9%
15%
13,9%
3,7% 3,9%
2,5% 2,9%
1,2% 0,8%
0%
Cidade RJ Cidade SP CO NE NO Restante SE S
captação autorizados, por projeto. Tal tendência, no entanto, não pode ser identificada nos gráficos
anteriores.
Este fato reforça a ponderação anterior de que a concentração decorre, ao menos em
parte, da demanda espontânea gerada pela localização dos proponentes de projetos e dos
investidores de recursos. Assim, não se pode asseverar que a concentração regional resulte
necessariamente de falhas de gestão da política pública, a despeito da importância de se reforçar ao
gestor a necessidade de continuar atuando com vistas a fomentar a desconcentração regional, em
observância ao art. 1º, II, da Lei 8.313/1991 e do art. 3º, III, da Constituição Federal.
Além disso, cabe destacar que, como os dados sobre concentração regional não refletem
necessariamente o local da aplicação dos recursos executados, o TCU recomendou ao extinto
Ministério da Cultura, por meio do Acórdão 3.232/2017-TCU-2ª Câmara, que o Salic fosse
aperfeiçoado a fim de registrar, além da localidade do proponente cultural, os “locais em que se
efetivam a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais” incentivados, “de modo a
conferir maior fidedignidade às informações quanto à distribuição regional” do incentivo fiscal à
cultura no Brasil.
A medida foi considerada cumprida pelo Acórdão 11.720/2019-TCU-2ª Câmara. De
fato, o Salic incorporou, no detalhamento de cada projeto, informações sobre o local de realização
do projeto, os deslocamentos para o local de produção e o registro do local da distribuição dos
produtos culturais (peça 12, p. 5-10, TC 002.514/2018-4). Porém, o Salic ainda não produz
relatórios consolidadores da localidade de execução dos gastos. Dessa forma, de maneira agregada,
somente é possível analisar as localidades dos proponentes culturais cujos projetos tiveram recursos
captados, conforme apresentados nos gráficos anteriores, o que representa uma limitação
informacional do sistema.
Passivo de prestações de contas
Historicamente, a situação de atraso na análise das prestações de contas dos projetos
culturais chama atenção. O exame intempestivo e a formação de estoques de cerca de 19.000
processos de prestações de contas pendentes de análise constituem problema crônico na Secretaria
Especial da Cultura, na condição de sucessora do extinto Ministério da Cultura. Este problema vem
sendo tratado pelo TCU destacadamente no TC 008.379/2017-3.
A falta de análise quanto à regular aplicação dos recursos públicos captados via leis de
incentivo faz com que a LIC padeça de ausência de retroalimentação, essencial no contexto do ciclo
de gestão, ou, dito de outra forma, faz com que se gaste sem saber, na verdade, como o recurso
público está sendo aplicado. Esta situação se arrasta há sucessivas gestões, o que não diminui a
importância de insistir-se na adoção de medidas efetivas com vistas à sua solução. Tendo isto em
conta, o TCU expediu diversas deliberações para induzir a análise das prestações de contas da
Cultura, das quais se destacam os itens 9.4 do Acórdão 3.232/2017-TCU-2ª Câmara; 9.1.1 do
Acórdão 12.157/2018-TCU-2ª Câmara e 1.8 do Acórdão 7.725/2020-TCU-2ª Câmara.
Assim, com a justificativa de evitar a formação de novos passivos, a Secult editou a
Portaria-Secult 24/2020, que havia instituído metas de análise de propostas culturais para o controle
do passivo de prestação de contas e adotado o princípio do equilíbrio entre a admissão de novas
propostas culturais e a capacidade operacional da Secult em analisar as prestações de contas de seu
passivo.
No entanto, considerando que a medida prejudicava a efetiva execução da política
pública de incentivos fiscais ao setor cultural, o Acórdão 2.288/2021-TCU-Plenário determinou a
sustação liminar da Portaria-Secult 24/2020. A decisão foi confirmada pelo Acórdão 3.174/2021-
TCU-Plenário que negou provimento a recurso apresentado pelo MTur.
Com isso, foi editada a Portaria SECULT/MTur 54, de 25/1/2022, cujo art. 1º revogou a
Portaria 24, de 22/12/2020, “tendo em vista a decisão proferida no Acórdão 3.174/2021-TCU-
Plenário”.
A Portaria 24/2020 havia estipulado o limite de aprovação de 120 projetos mensais, ou
seis homologações diárias e, assim, durante o período em que esteve vigente, reduziu de forma
expressiva a quantidade de propostas que eram homologadas e recebiam autorização para iniciar o
processo de captação de patrocínios e/ou doações junto aos incentivadores privados. Conforme
dados apresentados pela Secult à peça 432, p. 133-134, do TC 008.379/2017-3, a quantidade de
projetos cuja portaria de homologação foi publicada em 2021 foi cerca de 45% menor do que a
média de publicações anuais do período de 2017 a 2020.
Ademais, destaca-se que o mês de dezembro de 2021 foi responsável por cerca de 34%
das publicações do ano (882 de um total de 2.605 projetos), indicando que a quantidade de
publicações foi significativamente elevada ao final do ano, em decorrência da decisão materializada
pelo Acórdão 3.174/2021-TCU-Plenário, de 15/12/2021. De fato, os gráficos seguintes, elaborados
a partir de dados encaminhados pela Secult, nos processos TC 008.379/2017-3 e TC 040.520/2021-
8, demonstram os efeitos da Portaria 24, de 22/12/2020, bem como do fim de sua aplicação:
Quantidade de Portarias de Homologação publicadas ao dia (18/9/2020 a 18/1/2022)
120
100
80
60
40
20
0
/9 0
/3 20
/2 20
/1 20
1/ 020
22 1
12 1
3/ 021
26 1
16 1
5/ 021
28 1
18 1
7/ 021
30 1
20 1
10 1
/1 1
/2 21
/1 21
/3 1
/2 21
14 1
2
10 202
1/ 202
2/ 202
3/ 202
4/ 202
5/ 202
6/ 202
7/ 202
8/ 202
9/ 202
10 202
12 202
1/ 202
02
10 /20
11 /20
12 /20
10 /20
11 /20
12 /20
2
/2
/2
/2
/2
/
1/
1/
5/
7/
9/
2/
4/
18
2
9/
Fonte: elaboração própria com base nos dados encaminhados pela Secult (Projetos_Portaria_Captacao_Publciada, SEI 1355097,
referência à peça 432, p. 77, TC 008.379/2017-3).
42 40,1
36
28,7 28,5
30
24
18,2
5,4 5,5 5,2 4,1 5,1 6,7
18 15,1
13,2
4,6 5,2 5,1 4,1 5,7
12 8,5 9,5
6
0,6
0
18
m 8
8
8
no 8
ja 8
m 9
m 9
9
9
no 9
ja 9
m 0
m 0
0
0
no 0
ja 0
m 1
m 1
1
1
no 1
21
-1
-1
l-1
t-1
1
1
-1
-1
l-1
t-1
1
2
-2
-2
l-2
t-2
2
2
-2
-2
l-2
t-2
n-
v-
n-
v-
n-
v-
n-
v-
ar
ai
ar
ai
ar
ai
ar
ai
ju
se
ju
se
ju
se
ju
se
ja
m
Por fim, destaca-se que a Portaria 24/2020 representou a principal inciativa da Secult
para controle do passivo em 2021, haja vista que quando se observam os esforços voltados à efetiva
análise das prestações de contas que já se encontram pendentes de apreciação, o que se observou foi
uma redução expressiva do ritmo de análise de processos no segundo semestre do referido ano:
Quantidade total de processos de prestação de contas analisados no semestre*
Final 1º Final 2º Final 1º Final 2º
semestre semestre semestre semestre
2020 2020 2021 2021
Quantidade total de processos de
prestação de contas analisados no 641 622 677 389
semestre
*processos com análise técnica concluída, cuja análise financeira foi concluída pela SGFT (peça 438, p. 2, TC 008.379/2017-3).
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados informados nos seguintes documentos: Nota Informativa AECI 1/2021 (peça 276, p.
4, TC 008.379/2017-3); Nota informativa SE 2/2021 (peça 438, p. 18, TC 008.379/2017-3); Nota Informativa SE 7/2021 (peça 438,
p. 25, TC 008.379/2017-3); Nota Informativa SE 01/2022 (peça 438, p. 5, TC 008.379/2017-3).
Ademais, em 26/6/2021 foi publicado o Decreto 10.755, que trouxe diversas alterações
no que tange à CNIC. A primeira delas foi a alteração do âmbito de atuação da Comissão. Antes, a
CNIC participava da etapa de análise técnica, emitindo opinião sobre o enquadramento das
propostas culturais no art. 18 ou no art. 26 da Lei 8.313/1991 (Lei Rouanet). Agora, a CNIC se
tornou uma instância recursal, cabendo a ela apenas emitir parecer técnico de projetos de incentivo
fiscal indeferidos pelos pareceristas habilitados (art. 6º, § 5º do Decreto 10.755/2021). Tal mudança
fundamenta-se na busca por maior agilidade na tramitação dos processos e, em princípio, parece
não trazer prejuízos à política pública.
Outra questão é que o Decreto 10.755/2021 atribuiu à Secult a competência para editar
as normas internas e regimentais acerca do funcionamento da CNIC. Até a sua publicação, tal
competência era da própria CNIC. Este dispositivo representa, em certa medida, uma perda de
independência para o colegiado.
Por fim, o decreto alterou a composição da CNIC, que passou a ser formada a partir da
indicação de representantes de entidades associativas de setores culturais e artísticos de âmbito
nacional, com base nas seguintes áreas culturais: I – Arte Sacra - conjunto formado por arquitetura,
pintura, escultura, música, dança, teatro e literatura; II - Belas Artes - conjunto formado por
arquitetura, pintura, escultura, música, dança, teatro e literatura; III - Arte Contemporânea -
conjunto formado por arquitetura, pintura, escultura, música, dança, teatro e literatura; IV -
Audiovisual - refere-se ao conjunto de filmes, documentários e jogos eletrônicos; V – Patrimônio
Cultural Material e Imaterial; e VI - Museus e Memória. Sobre este último ponto, a falta de clareza
das áreas estabelecidas trouxe muitas incertezas quanto ao funcionamento da Comissão. Assim,
mostra-se necessário acompanhar sua atuação, de forma que as recentes mudanças não levem à
perda de legitimidade de sua atuação.
Inconsistências Salic e desenvolvimento do SIC
A operacionalização das atividades afetas à Lei 8.313/1991, são realizadas por meio do
Sistema de Apoio à Lei de Incentivo à Cultura (Salic), implantado em 1994 e que, gradativamente,
passou a funcionar como um sistema unificado para o envio das propostas, transformação e
acompanhamento dos projetos, em todas as suas fases. O sistema, que se tornou o principal
repositório de informações sobre ações culturais executadas por meio de incentivos fiscais, sofreu
diversas inconsistências no ano de 2021, levando a divergências de informações relatadas e
documentadas tanto por proponentes quanto pelos gestores da Secult e MTur.
Exemplos das referidas inconsistências são: alterações indevidas nas datas de mudança
das situações dos projetos; alterações indevidas nas situações dos projetos; desaparecimento
temporário de projetos nas unidades responsáveis por seus andamentos, dentre outros.
No âmbito da auditoria do TC 040.520/2021-8 foram evidenciadas diversas falhas de
governança e de segurança da informação no Salic, tais como: falhas nos registros dos logs de
acesso, backup das informações por tempo insuficiente (cinco dias); alteração de informações
diretamente no banco de dados do sistema, falhas na segurança das senhas de acesso ao sistema,
dentre outros.
Nesse contexto, está sendo desenvolvido o Sistema Integrado de Cultura (SIC), no
âmbito da Plataforma +Brasil, com vistas a permitir um acompanhamento concomitante dos
projetos e automatizar parte da avaliação de sua conformidade financeira. O sistema tende a
apresentar ganhos em termos processuais e pode contribuir para o adequado acompanhamento dos
projetos culturais, oferecendo elementos avaliativos que permitam a tão necessária retroalimentação
da política cultural. Também deve fornecer ganhos em termos de informações gerenciais faltantes
no Salic.
No entanto, o novo sistema, cuja data de implantação ainda não está confirmada, não irá
absorver os projetos aprovados antes de sua implantação. Estes vão continuar sendo geridos no
Salic, o que demonstra a necessidade imperiosa de se investir no aprimoramento e na segurança
metodologia utilizada, quando os desembolsos com novos subsídios forem inferiores aos valores
recebidos pela amortização dos empréstimos vigentes.
Desconsiderando a atipicidade ocorrida em 2018, os benefícios apresentaram tendência
de diminuição entre 2016 e 2020. O valor referente a 2021 interrompeu esta tendência,
apresentando crescimento de 103,2% em relação a 2020.
Evolução dos benefícios financeiros e creditícios
R$ bilhões
160 14,2% 16%
11,5%
120 12%
8,4%
7,2%
80 6,2% 8%
5,4%
115,3
84,2
40 4%
52,6
38,1
21,5 25,9
- 0%
2016 2017 2018 2019 2020 2021
BFC Custo de oportunidade
Fonte: Secap.
100 84,2
80
52,6
60
38,1
40 25,9
21,5
20
-20
2016 2017 2018 2019 2020 2021
Setor Econômico 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2021 / 2020
Agropecuário 13.398 10.827 9.328 7.323 5.224 7.743 48,2%
Produtivo 60.345 43.809 25.181 16.135 13.234 20.823 57,3%
Social 41.565 29.541 -13.048 14.682 7.431 24.046 223,6%
Total 115.307 84.177 21.461 38.140 25.889 52.611 103,2%
Fonte: Secap.
Pelo gráfico anterior, verifica-se que o custo de oportunidade se situou acima dos 10%
a.a. pela maior parte do período entre 2010 e 2017, apresentando queda a partir de 2016, chegando
ao nível de 5% a.a. ao final de 2020, seguindo a direção das taxas de juros da economia. A TJLP,
por sua vez, que se situava ao redor de 6% a.a. até 2015, se elevou para 7,5% a.a. e permaneceu
relativamente estável até diminuir a partir de 2020.
Ressalta-se que o diferencial entre as duas taxas oscilou em torno de 4 p.p. a 7 p.p. até o
ano de 2017, quando iniciou-se um processo de convergência, fruto da alteração metodológica na
determinação da TJLP, por meio da Resolução-CMN 4.645/2018, que passou a ser mais aderente
aos prêmios de risco cobrados nos títulos públicos atrelados à inflação, em particular a NTN-B. O
diferencial de remuneração do Fundo nas operações de empréstimos concedidos à Finep (que, por
sua vez, financia o mutuário final ou repassa os recursos a outros agentes financeiros) é uma forma
de medir um subsídio implícito diretamente relacionado com as operações reembolsáveis, pois
indica o “prejuízo econômico” incorrido pelo Fundo, em prol da consecução da política pública nos
parâmetros previstos, tendo em mente o custo econômico dos recursos públicos aplicados.
A tabela a seguir apresenta a distribuição geográfica em termos percentuais dos
benefícios creditícios e da equalização financeira.
O art. 165, § 6º, da Constituição Federal exige a demonstração dos efeitos decorrentes
dos benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia sobre receitas e despesas, considerando
os impactos nas regiões brasileiras, uma vez que são instrumentos também expressamente previstos
no art. 43, § 2º, c/c o art. 3º, inciso III, da Carta Magna, para redução das desigualdades regionais.
Assim, no que concerne à regionalização dos benefícios concedidos pelo FNDCT, os
números demonstram que a distribuição seguiu o mesmo padrão dos demais benefícios, com maior
participação da região Sudeste, concentrando 56,2% do total dos benefícios, seguida da região Sul,
com 33,5%, enquanto as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte tiveram participações bem
inferiores, respectivamente, de 2,7%, 6,6% e 1,0%.
Distribuição geográfica dos benefícios creditícios e da equalização financeira
Ano Centro- Nordest Norte Sul Sudeste Total
Oeste e
2010 0,0% 16,1% 2,9% 34,2% 46,9% 100%
2011 0,6% 15,4% 3,6% 37,1% 43,4% 100%
2012 0,3% 9,6% 0,0% 35,6% 54,5% 100%
2013 5,3% 6,5% 0,0% 16,1% 72,0% 100%
2014 2,8% 6,0% 0,3% 23,1% 67,8% 100%
2015 3,6% 3,5% 0,0% 29,7% 63,2% 100%
2016 2,6% 7,4% 0,2% 33,9% 56,0% 100%
2017 3,0% 4,1% 0,0% 26,8% 66,1% 100%
2018 3,1% 7,5% 0,0% 31,5% 57,9% 100%
2019 3,5% 6,8% 1,9% 50,8% 37,0% 100%
2020 2,5% 3,9% 0,7% 57,2% 35,7% 100%
2021 0,0% 3,3% 6,9% 43,1% 46,8% 100%
Total 2,7% 6,6% 1,0% 33,5% 56,2% 100%
Fonte: Secap/ME
Impactos
Os resultados encontrados para o impacto do FNDCT sobre os esforços inovativos
foram mistos, com tendência à frequência maior de resultados positivos (entre 60% e 80%).
Frente aos resultados mistos encontrados pelos estudos que avaliam o efeito de
incentivos públicos sobre o gasto em P&D privado, no Brasil e no mundo, a avaliação do ME
apresenta alguns pontos a serem investigados em futuras avaliações de impacto ou no Modelo de
Avaliação Global (MAG) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), de acordo com
a disponibilidade de dados, de forma a obter evidências sobre quais características ou circunstâncias
favorecem o efeito adicionalidade entre gastos em P&D públicos e privados. Desta forma, pode-se
Para fins de análise mais acurada, convém considerar os quantitativos populacionais das
regiões brasileiras. O gráfico seguinte apresenta os valores per capita para cada região e a média do
Brasil. Os números concernentes aos benefícios financeiros e creditícios, que envolvem
financiamento direcionado pelas agências oficiais, demonstram distribuição relativamente
equilibrada entre as regiões. Em relação aos gastos tributários, o menor valor coube ao Nordeste,
ficando abaixo da metade da média nacional. Por sua vez, a Região Norte se destacou como maior
beneficiada em termos per capita (2,31 vezes o valor médio nacional).
Comparativo dos Benefícios per capita – Regionalização – 2021
R$ 1,00
3.500
3.010
3.000
2.500
2.000 1.689
1.354 1.298
1.500 1.213
1.000 580
223 212 301 258 263 247
500
0
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil
Para efeito desta seção, a Instrução Normativa-TCU 79/2018, em seu art. 5º, inciso II,
parágrafo único, considera impacto fiscal:
(...) o montante líquido entre os valores repassados pelo Tesouro Nacional para fundos e
programas para o custeio de empréstimos e financiamentos concedidos com recursos dos
orçamentos fiscal e da seguridade social, realizados por Instituições Financeiras Oficiais de
Fomento, e os valores restituídos ao Tesouro no exercício decorrentes dessas operações, sob o
regime de caixa.
Os valores aqui apresentados diferem dos benefícios creditícios (implícitos) contidos na
seção “2.3.5.2 Benefícios Financeiros e Creditícios”, que seguem metodologia descrita na Portaria-
MF 379/2006, alterada pela Portaria-MF 57/2013, que usa o critério de custo de oportunidade.
Em 2021, o Tesouro Nacional repassou às agências financeiras um total de
R$ 25.309,67 milhões e recebeu R$ 8.290,82 milhões, resultando na despesa líquida de
R$ 17.018,85 milhões.
A tabela a seguir apresenta os valores repassados pelo Tesouro Nacional às instituições
financeiras e os respectivos reembolsos dos empréstimos/financiamentos discriminados por
fundo/programa com recursos do Orçamento da União em 2021, com base no regime de caixa.
Despesas com recursos do Tesouro Nacional em 2021
R$ milhões
Montante
Agê ncia de Re pas s e s Re s tituiçõe s
Fundo/Programa Líquido
Fome nto (A) (B)
(A – B)
Basa FNO 3.244,00 0,00 3.244,00
BB FCO 3.244,26 0,00 3.244,26
BB FDA 187,83 54,64 133,19
BB FDCO 0,00 63,02 -63,02
BB FDNE 502,83 299,81 203,02
BB FMM 0,00 1.426,87 -1.426,87
BB FTRA 100,00 105,88 -5,88
BB Funcafé 194,97 150,79 44,18
BB Proex 896,71 651,50 245,21
BB Pronaf 32,50 50,93 -18,43
BNB FNE 9.732,75 0,00 9.732,75
BNDES Progamas Agro 1.056,52 2,61 1.053,91
BNDES Pronaf 456,61 0,00 456,61
BNDES PSI 302,54 0,98 301,56
BNDES Pronamp 5,95 0,00 5,95
BNDES Revitaliza 0,02 0,00 0,02
BNDES PGA 152,24 0,00 152,24
BNDES Cerealistas 0,33 0,00 0,33
Caixa PNAFM 47,36 0,00 47,36
Finep FNDCT 800,00 884,22 -84,22
Finep Funttel 184,29 109,55 74,74
FNDE Fies 4.167,96 4.490,02 -322,06
Total 25.309,67 8.290,82 17.018,85
Ano Subsídio
2020 1.504
2021 1.996
Var 2020-2021 33%
Fonte: Secap.
A tabela a seguir apresenta as estimativas dos benefícios futuros relativos aos contratos
ativos ao longo de toda a sua duração, destacando os quatro anos seguintes. A tabela apresenta as
projeções feitas entre 2018 e 2021. Como as projeções se referem a vários anos futuros, os
montantes apresentados somam os valores presentes de cada parcela, utilizando as taxas de juros
projetadas para os anos seguintes às datas de cada projeção. Com o aperto da política monetária
para combater a inflação, a queda nas projeções observada até 2020 foi revertida em 2021.
Valor presente dos benefícios concedidos por meio do BNDES
R$ milhões
Variação
2018 2019 2020 2021
2020-2021
Total 32.172 16.216 11.391 13.445 18,0%
Próximos quatro anos 10.963 6.898 3.082 8.630 180,0%
Fonte: Nota Técnica SEI 9599/2022/ME.
A tabela a seguir detalha estes valores e acrescenta as projeções dos saldos iniciais dos
totais emprestados. Os montantes são projetados em valores correntes. Os totais dos subsídios dos
quatro anos são ligeiramente superiores aos da tabela anterior, que apresenta totais deflacionados.
Os saldos iniciais projetados caíram sucessivamente ao longo dos anos. As projeções elaboradas
para o total dos benefícios reduziram-se até 2020, tanto pela redução nas estimativas de valores a
serem emprestados quanto pela redução da diferença entre as taxas de captação do Tesouro
Nacional e as dos empréstimos concedidos pelo BNDES.
As projeções feitas em 2021 mantêm a redução dos saldos iniciais dos empréstimos,
mas aumentam as projeções dos subsídios em função de aumento nas projeções dos custos
financeiros como decorrência do aperto monetário para combater a inflação.
Entre 2008 e 2014, o Tesouro Nacional repassou ao BNDES R$ 440,8 bilhões, a valores
correntes. Desde 2015, foram devolvidos R$ 472 bilhões, sendo R$ 67,5 bilhões em 2021. Com os
juros devidos, ainda faltam R$ 130 bilhões a serem devolvidos.
2.3.6. Resultado dos Regimes de Previdência Pública
A presente seção refere-se aos resultados dos regimes de previdência mantidos pela
União. Trata-se do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que atende aos trabalhadores
urbanos e rurais do setor privado; o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), relativo aos
servidores federais civis; e o Sistema de Proteção Social dos Militares das Forças Armadas
(SPSMFA).
A União também é responsável pela previdência dos servidores da Polícia Civil, da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, por intermédio do fundo de
natureza federal (Fundo Constitucional do Distrito Federal – FCDF) previsto no rol de
competências materiais exclusivas da União (art. 21, inciso XIV, da Constituição Federal), assim
como da previdência dos servidores dos ex-Territórios dos Estados do Amapá e Roraima, por força
do art. 31 da Emenda Constitucional 19/1998. A EC 98/2017 promoveu alterações no dispositivo,
no sentido de prever a inclusão, em quadro em extinção da administração pública federal, de
servidor público, de integrante da carreira de policial, civil ou militar, e de pessoa que haja mantido
relação ou vínculo funcional, empregatício, estatutário ou de trabalho com a administração pública
dos ex-Territórios mencionados, inclusive suas prefeituras, na fase de instalação dessas unidades
federadas.
A análise dos regimes de previdência e de proteção social das Forças Armadas justifica-
se por seu elevado montante financeiro, tendo apresentado, conjuntamente, déficit de R$ 350,05
bilhões em 2021. Esse valor equivale à diferença entre as receitas arrecadadas, de R$ 511,6 bilhões,
e as despesas empenhadas, que chegaram a R$ 861,7 bilhões, o que representa um déficit 12%
menor que o observado em 2020. O gráfico a seguir indica a composição do déficit previdenciário
em 2021.
-48,21 -45,67
-100
-200
-250,13
-300
RGPS-trabalhadores RPPS SPSMFA FCDF
do setor privado servidores civis da militares da União policiais e bombeiros
União do Distrito Federal
Fonte: RREO (dez/2021).
1.600 80%
1.400 70%
1.200 60%
1.000 50%
800 40%
600 30%
400 20%
200 10%
- 0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020* 2021
O gráfico revela que a despesa primária total da União em 2021 manteve-se próxima ao
nível registrado nos últimos oito anos – a despesa total em 2021 foi inferior, por exemplo, à de
2018. Quanto aos regimes de previdência da União, as despesas com a previdência de servidores
civis e militares tiveram queda real em 2021. Os gastos do RGPS, com trabalhadores do setor
privado, também tiveram um decréscimo em 2021, com variação de -3,4% em relação ao exercício
de 2020. Como resultado, a participação da despesa previdenciária no total das despesas primárias
também caiu, chegando a 53,4% do total das despesas – com isso, a proporção das despesas com
Previdência convergiu para o nível observado desde 2017, embora ainda se mantenha em patamar
mais elevado que o do período 2012-2016.
Nota-se que, desde 2017, mais da metade de todos os gastos primários do governo
federal teve como destino os regimes de previdência.
Levando-se em conta a restrição imposta pelo Novo Regime Fiscal, que limita a despesa
total ao patamar do ano anterior corrigida pela taxa de inflação (IPCA), e o crescimento projetado
dos gastos previdenciários, conclui-se que a tendência é de se manter o achatamento das demais
despesas públicas, com potenciais consequências negativas para a qualidade e extensão dos serviços
públicos prestados pela União.
Essa dinâmica é reforçada pelas projeções do Anexo de Riscos Fiscais, apresentadas no
Anexo V à LDO de 2022. Com fulcro nas dinâmicas demográficas esperadas, e caso seja mantido o
salário-mínimo como parâmetro básico dos benefícios, espera-se que os gastos previdenciários
continuem a responder por cerca de 50% da despesa primária da União nos próximos três anos.
Infere-se que a expansão das demais políticas públicas depende de maior controle dos gastos
previdenciários, a exemplo das medidas previstas na Emenda Constitucional 103/2019 (Reforma da
Previdência) e na Lei 13.846/2019.
A análise gráfica também permite concluir que o crescimento das despesas do RGPS
tem sido mais acelerado que o do RPPS. De fato, em termos reais, os gastos do RPPS tiveram
variação de -0,78% (ou seja, queda real das despesas) desde 2012, enquanto o RGPS cresceu
34,56% nesse período.
RGPS RPPS Militares FCDF RGPS RPPS Militares FCDF RGPS RPPS Militares FCDF
500
400
300
200
100
(100)
(200)
(300)
(400)
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020* 2021
Resultado do Regime Geral Resultado do Regime Próprio - civis
Resultado com militares inativos e pensionistas militares Resultado com despesas previdenciárias do FCDF
Total do resultado primário do governo central Resultado primário não previdenciário
O resultado primário do Governo Central, que foi positivo de 2009 a 2013, passou a
apresentar déficits sucessivos desde 2014. É de se registrar que o resultado de 2021 foi o melhor
desde 2013 – o déficit primário de 2021 foi 85% menor que a média do período 2014-2020. Não
obstante, os seguidos déficits primários possuem impacto direto no aumento da dívida pública
federal e no agravamento das condições de financiamento e do ambiente macroeconômico.
100 (10)
Receitas e despesas
(20)
80
Resultado
(30)
60
(40)
40
(50)
20 (60)
0 (70)
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
do sistema, mas, sobretudo, não comprometer os limites de despesa com pessoal do referido setor a
cargo da União.
As disfunções do regime de previdência do FCDF e seus reflexos fiscais foram tratados
pela primeira vez no Acórdão 1.573/2006-TCU-Plenário (rel. Min. Valmir Campelo), quando se
apontou a necessidade de instituir e recolher ao FCDF a contribuição patronal (item 9.4),
determinação reiterada pelo item 9.2 do Acórdão 1.316/2009-TCU-Plenário (rel. Min. Walton
Alencar Rodrigues).
A questão foi amplamente discutida na sucessão de embargos de declaração e recursos
apreciados pelos Acórdãos 1.633/2016-TCU-Plenário e 2189/2016-TCU-Plenário (rel. Min. Walton
Alencar Rodrigues), Acórdãos 1224/2017-TCU-Plenário e 1890/2017-TCU-Plenáriohttps://conecta-
tcu.apps.tcu.gov.br/tvp/42617992 (rel. Min. Aroldo Cedraz). Por último, o Acórdão 1244/2020-
TCU-Plenário (rel. Min Walton Alencar Rodrigues) determinou que o Ministério da Economia e a
Advocacia-Geral da União adotassem as providências administrativas e judiciais necessárias a fim
de ultimar o ressarcimento ao FCDF, pelo Governo do Distrito Federal, dos valores das
contribuições previdenciárias dos servidores civis e militares da segurança pública distrital, com
medidas a serem implementadas no prazo de 90 (noventa) dias a partir do término do quadro de
crise provocada pela pandemia do coronavírus no âmbito do Distrito Federal.
Resultado do Regime Geral de Previdência Social
O RGPS compõe-se de pagamento de benefícios previdenciários como aposentadoria
urbana e rural, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-doença, proteção à
maternidade, dentre outros benefícios previstos no art. 201 da Constituição, sendo de adesão
obrigatória para todos os trabalhadores formais do setor privado e para os servidores dos municípios
que não possuam regime próprio de previdência. Em dezembro de 2021, foram emitidos 36.356.594
benefícios previdenciários, segundo dados do Boletim Estatístico da Previdência Social, dos quais
26,7% foram beneficiários rurais. De outra parte, o último dado disponível, de 2018, informa que
52.365.738 pessoas contribuem para o regime geral.
O RGPS possui regras de contribuição e cálculo de benefícios específicas para
trabalhadores rurais. A principal distinção dá-se quanto à contribuição, bastando ao trabalhador
rural comprovar exercício de atividade para obter a aposentadoria por idade, sem necessidade de
realizar contribuições à previdência. Com efeito, o Brasil possuía, em 2015, 9,3 milhões de
aposentados rurais, para uma população de 6,2 milhões de pessoas acima de 55 anos vivendo em
áreas rurais. Ressalte-se que, a partir de 1º/1/2023, a comprovação da atividade rural exigirá
inscrição no Cadastro Nacional de Informações Sociais-CNIS (art. 38-B, § 2º, da Lei 8.213/1991), o
que poderá inibir fraudes.
Cabe destacar que os dados específicos sobre a previdência urbana e rural foram obtidos
pelo regime de caixa, em modalidade de apuração distinta da dos demais dados previdenciários
(aferidos pelo critério de receitas e despesas executadas). Essa forma de totalização específica
ocasiona divergências contábeis. Dessa forma, os números de arrecadação e gastos com a
aposentadoria urbana e rural não são diretamente comparáveis com os demais montantes citados
neste tópico.
O gráfico abaixo contém resultados do RGPS por modalidade, em termos reais:
600 50
500
Receitas e despesas
Resultado
400
(50)
300
(100)
200
100 (150)
0 (200)
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Composição da DBGG
Operações Compromissadas
Segundo o glossário do Banco Central, operações compromissadas são operações de
venda (ou compra) de títulos com compromisso de recompra (ou revenda) dos mesmos títulos em
uma data futura, anterior ou igual à data de vencimento dos títulos. Essas operações são realizadas
pelas instituições financeiras entre si, ou entre as instituições financeiras e o Banco Central ou entre
as instituições financeiras e pessoas físicas e jurídicas em geral.
As operações compromissadas realizadas pelo Bacen, assim, são operações de venda de
títulos com compromisso de recompra, que tem como garantia um título do Tesouro Nacional.
Trata-se de um empréstimo com garantia, de curtíssimo prazo, com remuneração geralmente
prefixada e vinculada à taxa Selic. As operações são utilizadas pelo Bacen para controlar,
juntamente com outros instrumentos, o excesso de liquidez na economia.
Esse controle, por sua vez, está relacionado à execução da política monetária. No Brasil,
a política monetária segue o regime de meta para inflação, definida anualmente pelo Conselho
Monetário Nacional. O principal instrumento de que dispõe o Bacen para alcançar a meta de
inflação é a taxa de juros básica da economia que, no caso do Brasil, é a taxa Selic.
As operações compromissadas com títulos públicos, por seu turno, são o principal
instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar essa liquidez. Quando a liquidez da
economia está baixa o Bacen realiza operações de compra de títulos públicos com compromisso de
revenda, junto às instituições financeiras. De outro lado, se a liquidez da economia for considerada
excessiva, a autoridade monetária realiza operações de venda de títulos com compromisso de
recompra. Faz-se necessário observar que as ações do governo que resultam em ingresso de
recursos junto ao mercado ocasionam aumento de liquidez que, posteriormente, deve ser eliminado
para evitar prejuízos ao alcance da meta de inflação.
1.800 18%
1.500 15%
Valores (R$ bilhões)
1.200 12%
Valores/PIB
900 9%
600 6%
300 3%
0 0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1
01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 02 02
z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2 z/2
De De De De De De De De De De De De
Operações compromissadas do Bacen (Inflac.) Operações compromissadas do Bacen/PIB
É possível observar na figura acima um comportamento errático das métricas, mas com
duas linhas de tendência, antes e depois de dezembro de 2015, período crítico de recessão
econômica. A média e o desvio-padrão do custo médio anualizado em doze meses nos dois períodos
(2007-2014 e 2015-2021) são, respectivamente, de 12,03% e 1,83%; e de 10,60% e 2,71%. Esses
valores mostram uma diminuição de custo de 143 pontos base no período mais recente, mesmo com
o choque na economia propiciado pela pandemia. As médias da vida média em anos dos dois
períodos são iguais a 5,93 e 5,71, e os desvios padrão são iguais a 0,56 e 0,64.
Segundo o RAD 2021, o estoque da DPF cresceu R$ 604,0 bilhões, ou seja,
aproximadamente 12,1% em relação a 2020. A variação incorporou tanto as emissões líquidas de
R$ 154,9 bilhões quanto a apropriação de juros no valor de R$ 449,1 bilhões, como aponta a tabela
seguinte.
No resultado consolidado do ano para a DPMFi, as emissões superaram os resgates em
R$ 163,1 bilhões, considerando apenas as emissões e resgates com impacto na liquidez, o que
corresponde a uma redução na taxa anual de refinanciamento de 111%, em 2021. Essa taxa havia
sido de 143%, no ano anterior.
Destaca-se ainda que em 2021 foram recebidos do BNDES R$ 75,8 bilhões, dos quais,
R$ 12,8 bilhões referentes ao fluxo ordinário de pagamentos devido (já previstos no PAF 2021) e
R$ 63,0 bilhões referentes ao pagamento antecipado dos contratos. Os recursos provenientes dos
pagamentos antecipados do BNDES são exclusivos para o pagamento da dívida pública. Em 2021,
interrompeu tendência de diminuição dos prazos desde 2015. Conforme o RAD 2021, essa mudança
foi possível graças a melhoras nas condições de mercado em 2021, que possibilitou ao Tesouro
Nacional reduzir as emissões de prefixados curtos em relação ao planejamento inicial.
Conforme abaixo, o prazo médio do estoque da DPMFi subiu de 3,39 anos (2020) para
3,65 anos em 2021. O Prazo médio das emissões da DPMFi em ofertas públicas, dando a mesma
virada, subiu de 3,07 anos (2020) para 4,48 anos (2021).
Prazo médio das emissões da DPMFi em ofertas públicas X Prazo médio do estoque da DPMFi
Onde:
– é o resultado primário necessário para estabilizar a razão da dívida/PIB;
rt – é a taxa real de juros sobre a dívida no período t;
nt – é a taxa de crescimento real da economia no período t;
bt – é a razãodívida pública federal/PIB no período t.
Considerando que a taxa de juros sobre a dívida nos doze meses findos em 2021 foi de
0,0891, que o IPCA foi de 0,1006 (será necessário subtrair a taxa de inflação da taxa de juros, para
que se encontre a taxa real de juros ex-post), que a taxa de variação real da economia no período foi
de 0,046 e a dívida/PIB em dezembro de 2021 era de 0,647, tem-se que o resultado primário
necessário para estabilizar a razão dívida/ PIB deveria ser:
= (0,0891 – 0,1006 – (0,046)) * 0,647 = -0,0372 do PIB.
Para estabilizar a relação dívida/PIB, tendo-se em conta o acréscimo real da economia
em 0,046% entre janeiro e dezembro de 2021, a razão dívida/PIB de 0,647, a inflação e a taxa de
juros, seria possível um deficit de 3,72% do PIB. O resultado primário prevalente, entendido como a
média dos últimos dez anos foi de -1,67% do PIB, mesmo contando com o exercício de 2020 em
que os gastos para enfrentamento da pandemia alcançaram quase 10% do PIB. Uma vez que o
resultado primário permanente é menor do que o resultado primário corrente (Guid 5250 –
Guidance on the Audit of the Public Debt, pg. 39/40), “a política fiscal tende a reduzir a razão
dívida/PB.”
2.4.4. Propósitos e utilidade da dívida pública
As receitas obtidas por meio do endividamento público originam-se da emissão de
títulos públicos (Fontes de recursos 43 e 44) e da contratação de operações de crédito pela União
(Fontes de recursos 46 a 49). Em 2021, a previsão do governo era arrecadar R$ 2.432,29 bilhões por
meio da emissão de títulos públicos e contratação de operações de crédito. Contudo, ao final do
exercício, foram arrecadados R$ 2.050,56 bilhões, valor R$ 381,73 bilhões inferior ao previsto.
O quadro seguinte demonstra, em 2021, os valores planejados para obtenção de receita
por meio de endividamento e os valores arrecadados.
Arrecadação das receitas de endividamento no ano de 2021
Em R$ bilhões
Prev. Receita
Cod. Fonte Fonte - Nome
Atualizada realizada
Emissão de títulos (refinanciamento
43 1.603.52 1.652,38
da dívida mobiliária)
44 Emissão de títulos (outras aplicações) 825.99 381,33
46 Operaç. Crédito externa (em moeda) 0,66 14,86
Operaç. Crédito externa
49 2,12 1,99
(bens/serviços)
Total 2.432,29 2.050,56
Fonte: Tesouro Gerencial.
Pelos valores previstos e arrecadados, verifica-se que a grande maioria das receitas
obtidas por meio do endividamento público em 2021 teve origem na emissão de títulos públicos
(dívida mobiliária federal), Fontes 43 e 44.
Apesar de as duas fontes receberem recursos da emissão de títulos públicos, as receitas
classificadas como fonte 43 são vinculadas exclusivamente ao refinanciamento da dívida mobiliária
federal, ou seja, o governo federal contrai dívida para refinanciar sua própria dívida.
Já a fonte 44, além de ser utilizada para o pagamento de dívida, pode ter seus recursos
destinados à cobertura de “deficit explícitos do orçamento” (art. 1º, inciso I, da Lei 10.179/2001).
Mais adiante, quando da análise das aplicações desses recursos, o conceito de déficit orçamentários
explícitos será aprofundado. O gráfico seguinte mostra essa dinâmica decendial de alocação das
receitas de emissão de títulos nas respectivas fontes de recursos:
Alocação por fonte e trajetória das receitas de emissão de títulos públicos
Billions
76%
80% 72%
69% 67% 69%
70% 61% 2.000
58%
55%
60%
45% 1.500
50% 42%
39%
40% 31% 33% 31%
28% 1.000
24%
30%
17% 19%
20% 500
10%
0% 0
eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral
emissões de títulos de curto prazo. Nesse contexto, houve um encurtamento do prazo da Dívida
Pública Federal (DPF) e a consequente elevação dos valores de vencimentos de títulos em 2021,
o que justificou a necessidade do aumento de recursos arrecadados e alocados na fonte 143
neste exercício, para refinanciamento dos vencimentos da dívida.
O RAD 2021 também informou que a desvinculação de recursos de fundos (R$ 162,0
bilhões), por meio da Emenda Constitucional 109/2021, os pagamentos antecipados do BNDES (R$
63,0 bilhões) e uma menor necessidade de financiamento do governo, fez com que a alocação de
recursos na fonte 44, para cobrir déficit orçamentários, fosse reduzida.
Contudo, é possível observar que, mesmo com essas receitas extras e com a menor
necessidade de financiar déficit primário com dívida, houve um maior volume de emissões de títulos
em 2021 em comparação a 2020 (ano de financiamento de várias políticas de enfrentamento à
pandemia). Segundo consta do RAD 2021, aquele exercício financeiro se encerrou com captação
total de R$ 1,63 trilhão, maior volume da série histórica. É possível concluir que a taxa de
refinanciamento superior a 100% em 2021 está relacionada à necessidade de mitigar riscos de
refinanciamento da dívida por meio do reforço da reserva de liquidez, principalmente diante de
momentos de volatilidade do mercado.
A execução orçamentária das despesas relacionadas ao endividamento público está
restrita a dois Grupos Natureza de Despesa (GND): GND 2 – Juros e encargos da dívida e GND 6 –
Amortização da dívida. A LOA 2021 autorizou o montante de R$ 2.236,4 bilhões em despesas
orçamentárias para esses dois grupos de despesa. Desse valor, foram empenhados cerca de R$
1.966,3 bilhões (87,9%) e deixaram de ser empenhados R$ 270,1 bilhões (12,1%). O gráfico
seguinte demonstra o histórico de não execução das dotações dos GNDs 2 e 6 nos últimos 5 anos.
Dotação não executada - GNDs 2 e 6
Em R$ bilhões
800 736,10
712,89
600
387,22
400
270,12
219,74
200
0
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop.
A maior parte das dotações não executadas em 2021 estava lastreada por receitas de
emissão de títulos públicos (R$ 187,3 bilhões, Fontes 43 e 44), do resultado do Bacen (R$ 50,8
bilhões, Fonte 52) e de operações de crédito externa em moeda
(R$ 14,3 bilhões, Fonte 48). Por serem despesas financeiras, a não execução de despesas da dívida
não impacta o limite de despesas primárias definido pela regra do Teto de Gastos.
A execução financeira (pagamentos) da dívida nos GNDs 2 e 6 alcançou o montante de
R$ 1.962,1 bilhões, enquanto o RAD 2021 divulgou o valor de R$ 1.572,8 bilhões para os
pagamentos da dívida. A diferença entre os dois valores chega a R$ 389,3 bilhões. Isso ocorre por
quê, segundo consta do PAF 2021, a sua finalidade é apresentar apenas a estratégia anual para a
dívida pública federal em mercado. Portanto, as despesas com dívida que não são pagas com a
4 - Investimentos 4,52
É possível observar que a maior parte das receitas obtidas com o endividamento público
é destinada ao pagamento da própria dívida e seus juros e encargos, somando cerca de R$ 1.670,96
bilhões (93,5%) das receitas de endividamento aplicadas em 2021.
O valor de amortização da dívida corresponde ao pagamento e/ou refinanciamento do
principal e da atualização monetária ou cambial da dívida pública interna e externa, contratual ou
mobiliária. Já os juros e encargos da dívida são despesas com pagamento de juros, comissões e
outros encargos de operações de crédito internas e externas contratadas, bem como da dívida
pública mobiliária.
O quadro seguinte, com dados extraídos do Siop 2021, detalha os valores pagos nesses
dois grupos de despesas, por ação orçamentária.
Detalhamento dos pagamentos da dívida em 2021
Em R$ bilhões
Fonte: Siop.
Billions
00% 00% 02% 05% 07% 15% 11% 25% 40% 06%
100%
2.000
80%
1.500
60%
100% 100% 98% 95% 93% 89% 94% 1.000
85%
40% 75%
60%
500
20%
0% 0
eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral
Fonte: Siop.
0 10 20 30 40 50
Covid 19 43,80468
Fies 2,72930
Essas despesas não relacionadas à dívida foram custeadas por receitas de emissão de
títulos públicos (R$ 113,56 bilhões, 98,2%) e por receitas de operações de crédito externo (R$ 2,06
bilhões, 1,8%).
O valor total dos pagamentos da dívida e dos juros e encargos em 2021 (GNDs 2 e 6),
foi de R$ 1.962,1 bilhões, sendo que 85,2% desse valor (R$ 1.670,9 bilhões) foram custeados com
recursos da emissão de títulos e operações de crédito, como já detalhado anteriormente, e o restante
(14,8% ou R$ 291,1 bilhões) foi custeado por outras receitas. Lembrando que esses valores não
coincidem com aqueles divulgados no RAD 2021, pelos motivos já explicitados.
Extraindo os dados do Siop, foi possível verificar que 22 fontes que tem origem em
receitas não relacionadas ao endividamento foram utilizadas para pagar a dívida pública, sendo que
85,6% dos valores se concentraram em apenas cinco delas. Veja o detalhamento no quadro
seguinte.
Pagamentos da dívida com outras fontes
Em R$ milhões
Fontes Utilizadas Valor Pago
Fonte exclusiva da dívida 124.377,66
173 - Recursos das Operações Oficiais de Crédito - Retorno de Operações de Crédito - Estados e Municípios 113,10
197 - Dividendos da União 2.816,14
352 - Resultado do Banco Central 121.448,41
Fonte desvinculada pela EC 109/2021 166.217,10
308 - Fundo Social – Parcela Destinada à Educação Pública e à Saúde 3.267,08
320 - Contribuições sobre a Arrecadação dos Fundos de Investimentos Regionais 88,18
329 - Recursos de Concessões e Permissões 16.587,89
330 - Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional 2.307,28
334 - Compensações Financeiras pela Utilização de Recursos Hídricos 549,48
335 - Cota-Parte do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante 8.063,24
341 - Compensações Financeiras pela Exploração de Recursos Minerais 197,77
342 - Compensações Financeiras pela Produção de Petróleo, Gás Natural e Outros Hidrocarbonetos Fluidos 41.410,74
350 - Recursos Próprios Primários de Livre Aplicação 6.632,73
366 - Recursos Financeiros de Aplicação Vinculada 427,03
372 - Outras Contribuições Econômicas 22.582,12
374 - Taxas e Multas pelo Exercício do Poder de Polícia e Multas Provenientes de Processos Judiciais 7.140,82
376 - Outras Contribuições Sociais 400,99
378 - Fundo de Fiscalização das Telecomunicações 1.620,81
380 - Recursos Próprios Financeiros 47.090,88
386 - Recursos Vinculados a Aplicações em Políticas Públicas Específicas 7.850,07
Outras fontes 559,56
100 - Recursos Primários de Livre Aplicação 543,32
150 - Recursos Próprios Primários de Livre Aplicação 0,18
180 - Recursos Próprios Financeiros 16,06
Total Geral 291.154,31
Fonte: Siop.
A Emenda Constitucional 109/2021 prevê em seu art. 5º que até final do segundo
exercício financeiro subsequente à data da promulgação desta Emenda Constitucional, o superavit
financeiro das fontes de recursos dos fundos públicos do Poder Executivo, apurados ao final de cada
exercício, poderá ser destinado à amortização da dívida pública do respectivo ente.
Haja vista essa autorização constitucional, foram destinados cerca de R$ 166.217,1
milhões de fontes desvinculadas para o pagamento da dívida pública federal. Além disso, foram
pagos R$ 124.377,66 milhões com fontes que não possuem origem no endividamento público, mas
são vinculadas ao pagamento da dívida.
Com isso, é possível verificar que os pagamentos da dívida com outras fontes superaram
em R$ 175,53 bilhões os pagamentos de outras despesas realizadas com receitas de endividamento.
Portanto, na prática, não existe financiamento de outras despesas públicas com recursos da dívida
em 2021.
Esse financiamento da dívida por meio de fontes desvinculadas contribuiu para a
preservação da reserva de liquidez e, consequentemente, para a mitigação dos riscos de
refinanciamento da dívida pública, notadamente em momento de volatilidade dos mercados, como
foi o caso de 2021.
R$ 26,01 bilhões referentes a despesas obrigatórias (RP 1) e R$ 457 milhões relativos a despesas
discricionárias (RP 2).
Os recursos liberados com o cancelamento destas programações foram destinados a
emendas do relator-geral (RP 9): R$ 26,13 bilhões; emendas de comissões permanentes da Câmara
ou Senado (RP 8): R$ 198 milhões; e gastos discricionários (RP 2): R$ 135,94 milhões
Desse modo, considerando que do relatório final já constavam R$ 3,03 bilhões em
despesas grafadas como RP 9, o total de despesas alocadas por meio de emendas do relator-geral
atingiu R$ 29,03 bilhões no PLOA 2021. Assim foi aprovada a lei orçamentária, tendo os
autógrafos sido encaminhados à sanção presidencial em 31/3/2021.
Em 22/4/2021 a LOA 2021 foi sancionada com vetos, Lei 14.144/2021, sendo que os
vetos foram justificados sob o argumento de que havia necessidade de se recompor despesas
obrigatórias, que se encontravam em descompasso com a real estimativa, e, ao mesmo tempo,
cumprir com a regra instituída pelo Novo Regime Fiscal (Teto de Gastos – Emenda Constitucional
95/2016).
Neste cenário, foram vetados na LOA R$ 19,77 bilhões em dispêndios discricionários
(RP 2), emendas do relator-geral (RP 9) e emendas de comissões (RP 8). Além disso, R$ 9,29
bilhões em despesas discricionárias foram posteriormente bloqueadas, quando da publicação da
programação financeira, por meio do Decreto 10.699, de 14/5/2021.
Na mesma data da sanção com vetos da LOA (22/4), foi remetido ao Congresso
Nacional projeto de lei de crédito suplementar (PLN 4/2021 – Mensagem 157) com o objetivo de
recompor parte da despesa obrigatória cancelada no curso da tramitação do PLOA 2021. Assim, em
10/6/2021, foi sancionada a Lei 14.167, restaurando ao orçamento o valor de R$ 19,77 bilhões em
despesas obrigatórias, conforme explicitado na tabela a seguir.
Recomposição despesas obrigatórias na LOA 2021 - Lei 14.167
R$ 1,00
Despesas Recomposição
Benefícios Previdenciários Urbanos e Rurais 6.648.818.853
Compensação ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social -
4.798.394.059
FRGPS
Subvenções Econômicas 4.256.729.882
Seguro Desemprego 2.629.646.402
Benefícios de Prestação Continuada (BPC) à Pessoa com Deficiência 967.485.799
e da Renda Mensal Vitalícia (RMV) por Invalidez
Remuneração a Agentes Financeiros 423.400.736
TOTAL 19.767.619.840
Fonte: Lei 14.167/2021.
Operações de Crédito /
1.603.521.711 1.603.521.711 1.647.492.679 38,49% 43.970.968 2,74%
Refinanciamento (V)
TOTAL (VIII) = (VI + VII) 4.181.004.169 4.426.277.782 4.280.212.526 100,00% -146.065.256 -3,30%
RECEITAS DE CAPITAL
2.516.802.220 2.516.802.220 2.263.519.577 52,88% -253.282.643 -10,06%
TOTAIS (IX) = (II + V)
DETALHAMENTO DOS
AJUSTES NA PREVISÃO 245.273.613
ATUALIZADA
Créditos Adicionais Abertos com
53.244.822
Superávit Financeiro
Créditos Adicionais Abertos com
193.100.828
Excesso de Arrecadação
Créditos cancelados líquidos -1.072.037
Fonte: Tesouro Gerencial e RREO Dez/2021, Balanço Orçamentário, págs. 8-11.
110.000
70.000
100.000
60.000
90.000
50.000 80.000
70.000
40.000
60.000
30.000
50.000
20.000 40.000
N
Z
N
R
BR
V
EZ
MA
A
JU
SE
OU
DE
JU
SE
MA
AB
A
JA
FE
JU
AG
NO
JA
FE
JU
O
M
D
A
O
M
25.000 12.000
20.000 10.000
8.000
15.000
6.000
10.000
4.000
5.000 2.000
0 0
N V R R I N UL GO ET UT OV EZ
JA FE MA AB MA JU
N
V
AR
AI
J S
JU
SE
OU
DE
D
AB
JA
FE
JU
AG
NO
A O N
M
M
790,889
700,000
Dez/x0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2020 2021
Ainda com relação às receitas, outro aspecto relevante é sua trajetória em relação ao
PIB. O gráfico a seguir apresenta a evolução das receitas efetivamente arrecadadas, segregadas por
categoria econômica, em percentual do PIB no período de 2001 a 2020.
Evolução receitas orçamentárias em percentual do PIB – 2000 a 2021
Em % do PIB
28%
30%
26%
25%
23%
20%
21%
15%
10%
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
eral
Receitas correntes Receitas de capital
Fonte: Tesouro Gerencial e Banco Central do Brasil (Sistema Gerenciador de Séries Temporais).
operações de crédito. Em 2021, 89,74% das receitas de capital tiveram como origem operações de
crédito.
De se notar que, apesar de o volume de operações de crédito de 2021 superar, em
valores nominais, o de 2020, o crescimento do PIB verificado em 2021 acarretou o decréscimo das
receitas de capital como proporção deste, que passaram de 28% para 26% do PIB.
Ainda com relação às despesas de capital, o gráfico a seguir apresenta a evolução dos
valores previstos e arrecadados ao longo do período de 2000 a 2021.
Evolução das receitas de capital – 2000 a 2021
R$ bilhões
2750,000
2500,000
2250,000
2000,000
1750,000
1500,000
1250,000
1000,000
750,000
500,000
250,000
-
eral
Previsto Realizado
Observa-se que a receita arrecadada tem permanecido abaixo da receita prevista, com
exceção dos exercícios de 2002, 2009 e 2020. Em 2002 e 2009, os valores arrecadados superaram
levemente os estimados, em 5,0% e 1,5%, respectivamente. Já em 2020 as receitas de capital
arrecadadas ficaram 15,4% acima dos valores previstos, em virtude da necessidade de realização de
maior volume de operações de crédito, diante da queda de arrecadação nas receitas correntes.
Conforme já relatado, com a melhora da arrecadação das receitas correntes em 2021,
houve redução na realização de novas operações de crédito, contribuindo para que as receitas de
capital permanecessem abaixo do valor previsto em R$ 253,28 bilhões (10,1%).
Tal discrepância entre os valores estimados e arrecadados seria ainda maior não fosse o
desempenho acima do previsto das receitas oriundas dos subgrupos de “amortização de
empréstimos” e de “outras receitas de capital”.
Em “outras receitas de capital” houve, consoante já registrado, desempenho superior ao
estimado na rentabilidade das disponibilidades existentes na Conta Única, que atingiu o montante
de R$ 117,48 bilhões, valor 176,42% acima do previsto.
Em “amortização de empréstimos”, houve, em 2021, liquidações antecipadas de
R$ 63,00 bilhões de empréstimos concedidos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES). Além disso, houve o recebimento de R$ 12,76 bilhões do BNDES a título de
amortizações ordinárias e juros. Tais fatos contribuíram para que o valor arrecadado como
“amortização de empréstimos” atingisse R$ 106,45 bilhões, montante R$ 66,37 bilhões (165,60%)
superior ao estimado. Em 2020, não houve amortizações extraordinárias (liquidações antecipadas)
de empréstimos concedidos ao BNDES e os repasses a título de amortizações ordinárias e juros
somaram R$ 16,04 bilhões.
Com relação aos períodos anteriores, de 2014 a 2016, verifica-se o crescimento das
receitas de capital, com maior proximidade entre os valores previstos e arrecadados. Tal período
coincide com a fase mais aguda da crise econômica no Brasil, caracterizada por desequilíbrio fiscal
e baixo crescimento do PIB. Esse quadro, ao passo que gerou decréscimo real na arrecadação das
receitas correntes, levou à necessidade de elevação das receitas de capital, por meio do aumento das
receitas de operações de crédito.
No triênio 2017-2019, o descolamento entre as receitas de capital previstas e as
realizadas voltou a ocorrer. Em 2017 e 2018, o valor arrecadado ficou 41,6% e 29,9% abaixo do
estimado, respectivamente, tendo como causa principal a realização de operações destinadas ao
refinanciamento da dívida em patamares inferiores aos estimados na LOA. Em 2019, o
descolamento entre as receitas de capital previstas e as arrecadadas diminuiu para 20,8%, devido,
em grande parte, à redução do valor previsto para essas receitas em comparação com 2018.
Analisa-se, agora, a trajetória das receitas correntes previstas e efetivamente arrecadadas
ao longo do período de 2000 a 2021, conforme apresentado no gráfico a seguir.
Evolução das receitas correntes - 2001 a 2021
R$ bilhões
2250,000
2000,000
1750,000
1500,000
1250,000
1000,000
750,000
500,000
250,000
-
eral
Previsto Realizado
Fonte: Tesouro Gerencial.
O comportamento mais estável das receitas correntes tende a contribuir para um menor
descolamento entre a previsão e a realização de tais receitas. Não obstante, em 2021, as receitas
efetivamente arrecadadas ficaram 21,18% acima das estimadas na LOA. No período representado
no gráfico, de 2000 a 2021, em nenhum exercício houve descolamento desta ordem, com a
arrecadação superando a previsão de receitas. O maior percentual anterior a 2021 havia sido
verificado em 2003, quando as receitas arrecadadas superaram as estimadas em 3,97%.
Observa-se, pois, recuperação das receitas correntes em relação ao exercício de 2020,
em que as receitas arrecadadas ficaram 10,39% abaixo das estimadas. Neste sentido, cabe
mencionar, uma vez mais, que em 2021 o PIB apresentou crescimento de 4,62% e, em 2020,
contração de 3,88%.
No exercício de 2015, as receitas arrecadadas ficaram 12,7% abaixo das receitas
estimadas, tendo havido retração do PIB em 3,55%. Em 2016, quando também houve contração do
PIB, que foi de 3,16%, as receitas arrecadadas foram 6,98% inferiores às estimativas.
No período entre 2009 e 2017, em todos os anos a receita arrecadada ficou abaixo das
estimativas, havendo reversão, receitas arrecadadas superiores às estimativas, nos exercícios de
2018 e 2019, nos patamares de 1,24% e 3,76%, respectivamente.
2000,000
1000,000
,000
eral
500,000 466,194
451,181
450,000
400,000
350,000
300,000
250,000
200,000 168,633
158,602
150,000 110,404
103,711 106,188 99,761 102,226 105,469
99,413 103,445 103,071 106,806
106,409
81,951 91,536 97,443 100,782 94,256
96,226
100,000 61,031 67,618
60,198 66,858
63,844
63,127
80,649
50,450 55,374
49,822 54,903
50,000
,000
eral
Empenhado Pago
principalmente em duas ações orçamentárias: Abono Salarial, com redução de R$ 9,10 bilhões
(47,25%) nos valores empenhados; e Seguro Desemprego, com decréscimo de R$ 3,85 bilhões
(9,61%).
Outra função que se sobressai pela redução dos valores empenhados é a função
Comércio e Serviços, com redução de R$ 4,47 bilhões (57,42%). Esse decréscimo ocorreu em razão
de, em 2020, terem sido dispendidos valores extras na ação denominada Recursos sob Supervisão
do Fundo Geral de Turismo/Fungetur, por meio da qual se procurou atenuar os efeitos da pandemia
no setor de turismo. De fato, a Medida Provisória 963/2020 abriu créditos extraordinários de R$ 5,0
bilhões para o financiamento desta ação orçamentária em 2020, integralmente empenhados naquele
exercício, enquanto, em 2021, os valores empenhados na mesma ação foram de apenas R$ 55,58
milhões.
Por fim, como destaque no aumento dos valores empenhados, tem-se a função Encargos
Especiais, com elevação de R$ 526,82 bilhões (27,32%) ante ao montante observado em 2020, que
foi de R$ 1.928,38 bilhões. Este aumento está concentrado principalmente na ação orçamentária
destinada ao refinanciamento da dívida pública, que em 2021 teve valores empenhados de
R$ 1.363,13 bilhões, ante a R$ 708,68 bilhões em 2020, crescimento, portanto, em termos
nominais, de R$ 654,45 bilhões (92,35%).
Os crescentes volumes no orçamento destinados ao refinanciamento da dívida
demonstram não apenas a elevação da dívida pública, como, principalmente, a redução dos prazos
de vencimento dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, isto é, a rolagem da dívida passou a
ocorrer com mais frequência, em prazos menores. A Tabela a seguir apresenta a posição dos
vencimentos da DPFMi nos meses de dezembro de cada ano.
Vencimentos da DPFMi – 2018 a 2021 – Posição ao final de dezembro de cada ano
R$ bilhões
Dez/2018 Dez/2019 Dez/2020 Dez/2021
Vencimentos
R$ % R$ % R$ % R$ %
Até 12 meses 620,13 16,63% 782,53 19,16% 1.346,27 28,25% 1.163,58 21,75%
De 1 a 2 anos 658,02 17,65% 850,99 20,84% 766,86 16,09% 1.122,26 20,98%
De 2 a 3 anos 699,19 18,75% 538,65 13,19% 691,55 14,51% 932,62 17,44%
De 3 a 4 anos 461,02 12,36% 572,64 14,02% 696,52 14,61% 555.56 10,39%
De 4 a 5 anos 425,18 11,40% 432,21 10,58% 445,01 9,34% 383.10 7,16%
Acima de 5 anos 865,32 23,21% 906,22 22,19% 819,95 17,20% 1.191,81 22,28%
Total 3.728,86 100,00% 4.083,23 100,00% 4.766,16 100,00% 5.348,94 100,00%
Fonte: Relatório Mensal da Dívida – Dezembro de cada ano.
Discricionárias 008%
120%
12,239% 18,168% 12,744% 13,234% 13,306% 13,998% 10,891% 11,337% 9,124% 7,670%
9,531% 11,389% 5,556%
90%
60%
30%
0%
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Obrigatórias Discricionárias
Evolução das despesas obrigatórias X discricionárias como proporção do PIB – 2009 a 2021
Em % do PIB
25%
10%
3,307%
5% 2,126% 2,136% 2,243% 2,308% 2,535% 2,115% 2,259% 2,222%
1,772% 1,839% 1,449% 1,427%
0%
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
Obrigatórias Discricionárias
fazer frente a alguma despesa). Assim, essa conta (8.2.1.1.1.00.00) permite verificar a
disponibilidade por fonte/destinação de cada unidade gestora.
Até o ano de 2021, no Relatório Resumido da Execução Orçamentária do mês de
fevereiro, constava a tabela denominada “Demonstrativo do Superavit Financeiro Apurado no
Balanço Patrimonial”, na qual se informava o superávit por fonte de recursos dos OFSS do
exercício anterior. No RREO de fevereiro de 2022, não constou o Demonstrativo de 2021, que foi
divulgado individualmente por meio da Portaria-STN 1.266/2022.
O superávit corresponde à disponibilidade de caixa na respectiva fonte de recursos.
Independentemente das contas utilizadas para a obtenção da disponibilidade, entende-se que deveria
haver uma correspondência entre os valores constantes do referido demonstrativo e os saldos finais
da conta de controle das disponibilidades detalhados por fonte.
No entanto, na análise das Contas do Presidente da República de 2020, foi realizado um
exame de consistência desses valores, no qual foram identificadas diferenças significativas em
algumas fontes, razão pela qual foram solicitados esclarecimentos à STN. A Secretaria informou
que não utiliza, na apuração do superávit financeiro por fonte, a conta 8.2.1.1.1.00.00 –
Disponibilidade por Destinação de Recurso a Utilizar e que esta conta, de natureza de controle, é
consolidadora da diferença entre ativos e passivos financeiros, facilitando as consultas no cotidiano
das unidades gestoras, de modo que seu saldo deve espelhar o resultado apurado no Demonstrativo
do Superávit Financeiro apurado no Balanço Patrimonial.
Assim, registrou-se, na Prestação de Contas do Presidente da República de 2020, uma
impropriedade, configurada pelas inconsistências verificadas entre as informações de
disponibilidades por fonte/destinação de recursos apuradas a partir da diferença entre ativos e
passivos financeiros (Superávit Financeiro) e aquelas apuradas a partir do saldo da conta
“Disponibilidade por Destinação de Recurso a Utilizar” (8.2.1.1.1.00.00 – DDR a Utilizar).
O gráfico seguinte apresenta, para os exercícios de 2010 a 2021, uma comparação entre
os totais dos valores apurados pela conta de controle referente à disponibilidade de caixa e aqueles
constantes dos Demonstrativos do Superávit Financeiro, apurados no Balanço Patrimonial, por
fonte de recursos. Na linha é apresentada a diferença nominal entre os dois valores.
Comparação entre Dados de Disponibilidade por Fonte – 2010 a 2021
R$ bilhões
1.600
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
0
,059 ,000 ,000 6,404 -01 02 11,662 17,899 25,367 32,842 (,001)
(1,305)
-200
eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral
Contas Contábeis: Disp. Por Destinação de Recursos a Utilizar (a partir de 2015) e Disponibilidades por Fonte de Recursos (até 2014)
Superávit Financeiro
Diferença Nominal
Fontes: Siafi e RREOs/ Fev. para os exercícios de 2010 a 2020, e, para 2021, Portaria-STN 1.266/2022.
Pelos dados apresentados, vê-se que as diferenças entre os valores até 2017 eram
inferiores a R$ 2 bilhões, salvo em 2013, quando atingiu R$ 6 bilhões. No demonstrativo desse
exercício, há a seguinte nota explicativa: “Considera os cancelamentos de RAP em 2014 nas fontes
01, 16, 34, 41 e 42” (RREO de fevereiro de 2014, p. 87). No entanto, a partir de 2017, a diferença
entre os valores cresce anualmente, chegando ao ápice em 2020, no valor de R$ 33 bilhões. No
exercício de 2021, a diferença entre os valores é praticamente eliminada, totalizando apenas R$ 505
mil.
Nesse contexto, em face das evidências de saneamento da impropriedade referente ao
exercício de 2020, manter-se-á a análise com os dados obtidos pela conta “Disponibilidade por
Destinação de Recursos”, mantendo-se, assim, o padrão dos relatórios anteriores.
O saldo da conta “Disponibilidade por Destinação de Recursos” ao final de 2021
correspondeu a R$ 1.590 bilhões, com crescimento real de 13% em relação a 2020. O gráfico a
seguir compara os saldos das disponibilidades ao final de cada exercício, de 2010 a 2021, a preços
de dezembro de 2021. Percebe-se que os maiores incrementos foram em 2012 (24%) e 2015 (58%),
sendo que o crescimento em 2012 foi sucedido por reduções nos dois anos subsequentes. Entre
2015 e 2019, a disponibilidade cresceu em todos os exercícios, sendo que parte significativa desse
incremento se deveu a emissão de títulos para refinanciamento da dívida pública. A redução real de
8% da disponibilidade em 2020 foi seguida de crescimento de 13% em 2021. O total das
disponibilidades ao final de 2021 é 4% superior ao total de 2019.
Disponibilidades por Fonte/Destinação de Recursos – 2010 a 2021
R$ bilhões de dez/2021
1.590
1.528
1.396 1.409
1.195 1.202
1.027
890
790
685 716
649
DEZ/10 DEZ/11 DEZ/12 DEZ/13 DEZ/14 DEZ/15 DEZ/16 DEZ/17 DEZ/18 DEZ/19 DEZ/20 DEZ/21
Fonte: Siafi. Nota: Deflator utilizado: IPCA.
R$ bilhões
Fonte: Siafi.
Destaque-se que, ao final de 2021, havia saldo de R$ 1,6 trilhão, sendo 58% oriundos de
endividamento, sejam títulos para refinanciamento da dívida (34%), sejam títulos emitidos para
obtenção de recursos de livre aplicação (24%). Ao final de 2020, 48% da disponibilidade era
originária de endividamento.
A existência de fonte insuficiente (saldo negativo) indica que, no decorrer dos anos,
foram realizados empenhos em montante superior às arrecadações na respectiva fonte, tornando seu
saldo insuficiente para cobertura das respectivas despesas. Esse descompasso histórico tem sido
objeto de acompanhamento sistemático por parte deste Tribunal.
O Acórdão 1.406/2011-TCU-Plenário, de relatoria do ministro Aroldo Cedraz, relativo
à apreciação das Contas do Presidente da República de 2010, já apresentava a seguinte ressalva:
execução de despesas orçamentárias, nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, à conta de
fontes de recursos sem suficiente disponibilidade financeira, comprometendo a fidedignidade
dos demonstrativos da execução da despesa por fonte de recursos e a aplicação das disposições
contidas no parágrafo único do art. 8º da Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina que os
recursos legalmente vinculados à finalidade específica sejam utilizados exclusivamente para
atendimento do objeto de sua vinculação.
Essa impropriedade foi resolvida paulatinamente nos exercícios subsequentes, mediante
aprimoramento dos mecanismos de controle de fontes/destinações. Em exercícios recentes, porém,
o desequilíbrio retornou e vem sendo avaliado periodicamente no bojo dos acompanhamentos dos
Relatórios de Gestão Fiscal.
No final de 2017, havia treze fontes negativas, totalizando R$ 36 bilhões. Em 2018,
foram identificadas seis fontes nessa situação, representando R$ 12 bilhões. Ao final de 2019,
foram identificadas apenas duas fontes com saldo negativo total de R$ 266 milhões. Em 2020, o
processo de contenção de fontes negativas se reverteu, tendo sido identificadas dez fontes com
saldo negativo, totalizando R$ 36 bilhões. A situação de 2020 foi significativamente revertida em
2021, quando houve apenas três fontes com saldo negativo, totalizando R$ 126 milhões. Destes, R$
118 milhões são da fonte 69 – Contribuição Patronal para o Plano de Seguridade Social do Servidor
Público.
Como citado anteriormente, o fato de uma fonte apresentar saldo negativo significa que,
no decorrer dos exercícios financeiros, o montante empenhado (deduções de recursos) superou o
montante arrecadado (acréscimos de recursos) naquela fonte. Entretanto, uma variação negativa em
qualquer fonte durante o exercício significa apenas que o saldo da fonte diminuiu. Ou seja, no
período, foram consumidos mais recursos do que aqueles arrecadados. Se a fonte possuía saldo
inicial positivo suficiente para arcar com a variação negativa, ela ainda apresentaria suficiência ao
final do exercício.
O gráfico e a tabela seguintes apresentam as fontes que sofreram as maiores variações
em volume de recursos entre o início e o final de 2021. Uma variação positiva retrata que foram
empenhados menos recursos nessa fonte do que as receitas nela arrecadadas durante o exercício.
Por exemplo, a União, em 2021, angariou R$ 247 bilhões a mais do que executou na fonte de
refinanciamento da Dívida Pública Mobiliária Federal, “Títulos de Responsabilidade do Tesouro
Nacional – Refinanciamento da Dívida Pública Federal”.
Uma redução do saldo tem significado inverso, ou seja, durante o exercício houve
empenhos em determinada fonte em montante superior ao valor nela arrecadado. Esse foi o caso da
fonte 52, “Resultado do Banco Central”, que sofreu redução de R$ 121 bilhões em 2021. Cabe
ressaltar que, no exercício de 2020, houve transferência extraordinária de R$ 325 bilhões da reserva
de resultados do Banco Central para a Conta Única do Tesouro Nacional
Os valores registrados nas fontes selecionadas a seguir representam 87% do saldo da
conta de disponibilidades em dezembro de 2021. Assim, eventuais variações percentuais maiores
em outras fontes não consideradas teriam pouca representatividade para fins de análise.
Disponibilidades – fontes que sofreram maiores variações nominais em 2021
R$ bilhões
Fonte: Siafi.
Essas variações nos saldos das fontes, normalmente, são reflexos da condução da dívida
pública, dos eventos econômico-fiscais ocorridos no exercício e do monitoramento tempestivo das
disponibilidades arrecadadas e utilizadas nas respectivas fontes.
Fonte: elaboração própria com base na execução dos restos a pagar em 2021.
200
153,8 158,9
150
189,5 108,7
185,5 129,9
140,5
100 150,7
125,3 128,5
117,1
50
72,4 74,0 74,7
59,7
33,6 38,5 45,2
24,1 26,3 22,9 26,8
0
2
2
01
01
01
01
01
01
01
01
02
02
02
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
RAP Processados RAP Não Processados
O histórico da composição dos estoques de restos a pagar, nos últimos três exercícios,
pode ser visualizado na tabela a seguir:
Histórico da composição dos estoques de restos a pagar – últimos três exercícios
R$ bilhões
Total Processados Não Processados
Período Inscritos e Cance- A Inscritos e Cance- A Inscritos e Cance- A
Pagos Pagos Pagos
Reinscritos lados Pagar Reinscritos lados Pagar Reinscritos lados Pagar
2019/2020 181,2 18,4 117,8 44,9 72,4 1,4 62,2 8,8 108,7 17,0 55,6 36,2
2020/2021 227,9 40,2 139,8 47,8 74,0 1,8 64,5 7,7 153,8 38,4 75,3 40,2
2021/2022 233,6 233,6 74,7 74,7 158,9 158,9
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional (STN).
No uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, o
Presidente da República aprova anualmente por meio decreto presidencial o Programa de
Dispêndios Globais (PDG) das empresas estatais federais. Este decreto prevê também o
detalhamento mensal da proposta e dispõe sobre os prazos para apresentação de propostas de
reprogramação e remanejamento de valores entre itens orçamentários do PDG. Para o exercício de
2021, o Decreto 10.560/2020 aprovou o PDG das empresas estatais federais.
Ressalte-se que o PDG deve compor-se pelos dispêndios correntes e de capital somente
das empresas estatais não dependentes da União – ou seja, aquelas que não se enquadram no
conceito de estatal dependente expresso no art. 2º, inciso III, da Lei Complementar 101/2000 – e o
OI é um dos itens das despesas de capital. A Secretaria de Coordenação e Governança das
Empresas Estatais (Sest) da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do
Ministério da Economia é o órgão responsável pela análise e consolidação das propostas de
dispêndios das estatais federais.
Vale ressaltar que o desempenho financeiro e operacional agregado ou em conjunto das
empresas estatais federais não dependentes não é objeto de análise neste relatório. O enfoque recai
somente sobre o OI, sobre parte das despesas de capital que compõem o PDG, matéria afetas às
competências presidenciais.
A Lei 14.116/2020 (LDO 2021) estabeleceu, em seu art. 43, § 1º, que, para efeito de
compatibilidade da programação orçamentária do OI com a Lei 6.404/1976 (Lei das Sociedades por
Ações), serão consideradas investimento, exclusivamente, as despesas com: i) aquisição de bens
classificáveis no ativo imobilizado, excetuados aqueles que envolvam arrendamento mercantil para
uso próprio da empresa ou de terceiros e os valores do custo dos empréstimos contabilizados no
ativo imobilizado e transferências de ativos entre empresas pertencentes ao mesmo Grupo,
controladas diretamente e/ou indiretamente pela União, cuja aquisição tenha constado do
Orçamento de Investimento; ii) benfeitorias realizadas em bens da União por empresas estatais; e
iii) benfeitorias necessárias à infraestrutura de serviços públicos concedidos pela União.
Apesar de a LDO 2021 determinar a referida compatibilidade com a Lei 6.404/1976,
observa-se que seu conceito de investimento não corresponde à definição do subgrupo Investimento
que consta do inciso III do art. 179 da Lei Societária, mas sim ao conceito do subgrupo Ativo
Imobilizado (inciso IV), ou seja, os “direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à
manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive
os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses
bens”.
Assim, ao limitar o controle orçamentário aos investimentos diretos em imobilizado e
ao prescindir das inversões financeiras vinculadas à aquisição ou construção desses mesmos ativos,
a LDO procura evidenciar, quantitativa e qualitativamente, a contribuição direta do setor público
estatal ao Produto Interno Bruto (PIB) sob a forma de investimento.
Ao TCU cabe verificar se a execução das despesas de investimento das empresas
estatais não dependentes realizou-se de acordo com o programado no OI referente ao exercício de
2021. Dessa forma, o presente tópico apresenta as principais informações relacionadas ao tema,
como os valores executados por fonte de financiamento e o grau de execução do OI, por grupo
empresarial, além da comparação entre os aportes de capital da União e os dispêndios de capital
realizados. Na seção “4.1.1.6. Execução do Orçamento de Investimento” deste Relatório será
apresentada a verificação quanto à regularidade da execução do OI perante as normas regentes,
notadamente o inciso II do art. 167 da Constituição Federal.
Segundo os arts. 5º e 6º da LOA 2021, aprovaram-se inicialmente para o OI
R$ 144,42 bilhões como fonte de recursos para financiamento das despesas fixadas, conforme
especificado, respectivamente, nos Anexos III e IV da LOA. Após a abertura de créditos adicionais,
a dotação final do OI para 2021 passou a ser de R$ 144,80 bilhões.
R$ milhões
Fontes de Financiamento GP GE DE SF Realizado
Recursos Próprios 47.861 2.236 688 3.359 54.143
Recursos para Aumento do Patrimônio Líquido - 1.220 1.485 - 2.706
Operações de Crédito de Longo Prazo - - 24 - 24
Outros Recursos de Longo Prazo - 630 - - 630
Realizado 47.861 4.087 2.197 3.359 57.503
Dotação 126.100 7.114 4.443 7.148 144.805
Fonte: Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest).
GP GE DE SF
< 25 5 19 13 2 39 (54,9)
≥ 25 e < 50 2 5 2 3 12 (16,9)
≥ 50 e < 75 4 5 5 1 15 (21,1)
≥ 75 2 2 1 0 5 (7,0)
Estatais 13 31 21 6 71 (100)
Execução do Grupo/Setor (%) 38,0% 57,4% 49,4% 47,0%
Fonte: Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest).
1. Classe de Execução: (realizado/dotação final)*100 do total das fontes de financiamento da empresa.
2. Empresas que ao final do exercício possuíam dotação final diferente de zero.
no valor de R$ 1,465 bilhão. A tabela seguinte relaciona as empresas que tiveram, em 2021,
entradas de caixa de aportes do Tesouro Nacional por meio da execução de saldos de exercício
anterior:
Empresas com entradas de caixa de aportes do Tesouro (Saldos de Exercícios Anteriores)
Em R$ 1,00
Previsão
Empresa Executado
Atualizada
Empresa Gerencial de Projetos Navais - Emgepron 1.308.881.868 1.048.147.651
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária - Infraero 650.748.785 381.944.859
Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia - Hemobrás 235.352.955 23.833.953
Companhia Docas do Rio de Janeiro - CDRJ 88.149.759 3.383.734
Companhia Docas do Espírito Santo - CODESA 21.852.352 1.940.313
Companhia Docas do Rio Grande do Norte - CODERN 15.883.747 2.312.308
Companhia das docas Do Estado Da Bahia – CODEBA 15.559.972 1.416.270
Companhia Docas do Ceará - CDC 9.852.701 740.055
Companhia Docas do Pará - CDP 8.710.115 1.190.826
Autoridade Portuaria de Santos S.A 2.000.000 -
64,0 Membros
USD Trilhões
OCDE
32,0
China
2,0
1,0
África do Sul
0,5
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Produto Interno Bruto (PIB) per capita em trilhões de dólares (escala logarítmica). Fonte: Banco Mundial.1. Purchasing
power parity, ou paridade do poder de compra, em tradução livre.
10
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
-2
-4
-6
A análise do PIB per capita, que reflete o valor adicionado médio por indivíduo,
também permite uma percepção do bem-estar relativo do cidadão em cada país. É reproduzido a
seguir o PIB per capita do Brasil (linha vermelha), em termos de paridade do poder de compra (a
indicar o poder de mercado do produto por pessoa), em intervalo mais recente, e em cotejo com o
valor médio das seguintes regiões: América Latina e Caribe, Membros da OCDE, Zona do euro,
Índica, China e Federação Russa.
Produto Interno Bruto (PIB) per capita em milhares de dólares PPP (purchasing power parity ou
paridade do poder de compra, em tradução livre)
50
USD Milhares
45
40
35
30
25
20
15
10
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Fonte: International Institute for Management Development (IMD) e Fundação Dom Cabral.
Por fim, a fim de se obter uma perspectiva ampla e realística sobre o desenvolvimento
econômico e social no Brasil, pode ser consultado o Índice Sustainable Development Goals, que
consolida os indicadores presentes nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da
Organização das Nações Unidas, listados abaixo. Os ODS foram adotados pelas Nações Unidas
como um chamado mundial para o desenvolvimento socioeconômico inclusivo e sustentável, assim
como a redução da pobreza até 2030.
cada meta, podendo chegar a um valor máximo de 100 pontos. O país alcançou a 61ª posição no
referido índice, com 71,3 pontos, conforme verifica-se abaixo.
Conforme demonstrado a seguir, as melhores notas do país foram atribuídas aos ODS 1
– Sem Pobreza, 3 – Boa Saúde e Bem-Estar, 4 – Educação de Qualidade, 6 – Água Limpa e
Saneamento, 7 – Energia Renovável, 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, 12 – Consumo e
Produção Responsável e 13 – Ação Climática e 17 – Parcerias e Meios de Implementação.
Além da menor cardinalidade, o plano mais recente busca uma simplificação também
qualitativa. Enquanto o PPA 2016-2019 tinha maior aprofundamento nas dimensões estratégica,
tática e operacional, o PPA atual tem por objeto primordialmente ser o instrumento de planejamento
federal de médio prazo, ocupando-se, eminentemente, da dimensão tática.
A dimensão estratégica, de longo prazo, é simplificada, e se baseia nos eixos
estratégicos da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Endes), que constava
do Projeto de Lei 9.163/2017, o qual não foi aprovado pelo Congresso Nacional. A respeito do
planejamento de longo prazo, registre-se que o Poder Executivo instituiu, por intermédio do
Decreto 10.531/2020, a Estratégia Federal de Desenvolvimento (EFD), com indicadores, desafios e
metas para o país, no período de 2020 até 2031. A dimensão estratégica do PPA conta ainda com 12
diretrizes (que refletem o programa de trabalho do Presidente eleito) e 15 temas (que espelham as
pastas governamentais à época da elaboração do plano).
A ênfase do PPA 2020-2023 reside na dimensão tática, associada ao horizonte temporal
de quatro anos previsto na Constituição. O PPA é composto por 70 programas, tendo sido cada
programa desenhado como uma intervenção governamental para sanear as causas de grandes
problemas nacionais. Dessa forma, buscou-se, no desenho dos programas, seguir o modelo lógico
de planejamento. Além das causas do problema e da descrição da intervenção, também foram
definidos os resultados pretendidos pela intervenção governamental, em termos de benefícios a
serem auferidos pelo público-alvo, e o volume de recursos financeiros requerido para a intervenção
pública. A maior parte desses elementos são atributos gerenciais, que não constam do projeto de lei
aprovado pelo Congresso Nacional, mas podem ser consultados em arquivos publicados pelo
Ministério da Economia na internet.
Os programas possuem, como atributos legais, a descrição de cada um, o seu objetivo, o
indicador a ser acompanhado e a meta, que é um patamar do indicador que se espera alcançar após
quatro anos. A meta deve ser regionalizada, em cumprimento ao art. 165 da Constituição Federal, e
também deve haver o registro anualizado da meta, com o valor esperado da meta a cada ano de
vigência do plano. Cada programa contém um único objetivo (enunciado do que se pretende
alcançar), um indicador e uma meta. A vinculação de um plexo de atribuições, em cada setor de
governo, a uma única meta, tem sobressaído como um importante desafio na implementação do
plano.
Por outro lado, a dimensão operacional, de curto prazo, não consta do PPA 2020-2023.
Segundo o Manual Técnico do PPA, essa dimensão foi integralmente atribuída às ações
orçamentárias e não orçamentárias; para fins de planejamento operacional, os ministérios fariam a
seleção de ações prioritárias. No entanto, embora não conste da estrutura de planejamento, existe
um elemento adicional, descrito na documentação do plano: os resultados intermediários.
A conceituação dos resultados intermediários evoluiu durante a institucionalização do
PPA 2020-2023. Nota-se que a Lei 13.791/2019 não faz menção aos resultados intermediários; o
Decreto 10.321/2019, por sua vez, descreve-os como atributos selecionados do planejamento
estratégico institucional (o planejamento de cada órgão e entidade pública) que são necessários, mas
não suficientes, para o alcance das metas do plano. Já o Guia de Monitoramento do PPA 2020-2023
desatrela os resultados intermediários dos planos estratégicos institucionais, e traz novo conceito: os
resultados intermediários são descritos como um produto (bem ou serviço) ou resultado da ação
governamental, que contribui de forma relevante para o alcance dos objetivos e metas.
O Guia de Monitoramento destaca, ainda, que os resultados intermediários no PPA
2020-2023 são escolhas prioritárias do órgão para o período e devem estar compatíveis com a
capacidade operacional e as disponibilidades orçamentária e financeira do órgão. Percebe-se que os
resultados intermediários foram ganhando importância com o decorrer do tempo, e hoje podem ser
descritos como o principal atributo para o monitoramento do PPA na camada gerencial,
constituindo as entregas previstas de bens e serviços à sociedade que permitirão o alcance do
objetivo e da meta dos programas.
construção dos programas. Além das graves inadequações ainda presentes no PPA, são descritas, no
relatório de auditoria, duas importantes lacunas estruturais: o país não conta com uma lei ordinária
sobre as diretrizes e bases do planejamento nacional (prevista no art. 174, § 1º da Constituição
Federal), nem com uma lei complementar que disponha sobre o exercício financeiro, a vigência, os
prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual (art. 165, § 9º, inciso I, da Constituição).
Nas presentes contas, ao se avaliar o desempenho de indicadores na seção 3.3.13,
mereceu atenção a constatação de que 19,82% dos investimentos plurianuais computados na meta
do Resultado Intermediário 0009, do Programa Finalístico 3006 – Transporte Terrestre e Trânsito
(item 3.3.13), não foram identificados no Anexo III – Investimentos Plurianuais Prioritários do PPA
2020-2023 (Seção I e II).
Registre-se que, segundo o ordenamento constitucional, nenhum investimento, cuja
execução ultrapasse um exercício financeiro, poderá ser iniciado sem prévia inclusão no PPA ou
sem lei que autorize a inclusão, nos termos do art. 167, § 1º. Essa exigência é disciplinada pelo art.
20 da Lei do PPA 2020-2023, segundo o qual o investimento que ultrapassar um exercício
financeiro, durante o período de 2020 a 2023, será incluído no valor global dos programas, com
detalhamento específico em anexos nas leis orçamentárias e de créditos adicionais.
A mensuração dos programas finalísticos previstos no PPA 2020-2023 pelo valor
global, todavia, não reflete a noção de transparência, uma vez que a sociedade e até mesmo os
órgãos de controle, pelo texto do PPA e de seus anexos, não dispõem de meios de amplo acesso
público com as informações necessárias para verificar o fiel cumprimento do art. 167, § 1º da Carta
Política, no sentido de assegurar a previsão, na integralidade, dos investimentos plurianuais de cada
programa e por exercício.
O art. 16, inciso II da LRF exige ainda que a criação, expansão ou aperfeiçoamento da
despesa seja compatível com o PPA (e com a LDO). Já o § 1º, inciso II desse artigo diz que é
compatível com o PPA (e com a LDO) a despesa que se conforme com as diretrizes, objetivos e
metas previstos nesses instrumentos e não infrinja qualquer de suas disposições.
Assim sendo, revela-se oportuno recomendar ao Poder Executivo a adoção de medidas
de gestão com vistas a registrar, em plataforma digital centralizada mantida pelo órgão central do
Sistema de Planejamento e Orçamento Federal previsto nos arts. 3º e 4º da Lei 10.180/2001, os
dados atualizados referentes à integralidade dos investimentos plurianuais, segregados por
programa finalístico e por exercício, com a finalidade de possibilitar o efetivo monitoramento e
avaliação das políticas públicas contempladas no PPA 2020-2023, assim como a comparabilidade
das informações, nos termos dos arts. 37, § 16, 163-A e 165, § 16, da Constituição Federal,
observadas as diretrizes da Política de Dados Abertos do Poder Executivo estabelecidas pelo
Decreto 8.777/2016, em especial o disposto no art. 5º, § 2º, inciso II, no que tange à potencial
utilização e reutilização dos dados tanto pelo Governo quanto pela sociedade civil.
RECOMENDAÇÃO
Ao Ministério da Economia, órgão central do Sistema de Planejamento e Orçamento da União,
que elabore e disponibilize, em plataforma digital centralizada, lista integral, atualizada e
sistematizada dos investimentos plurianuais que se encontram contidos no valor global de cada
programa finalístico, devidamente atualizado, com vistas a conferir transparência sobre o fiel
cumprimento do disposto no art. 167, § 1º da CF/1988 c/c art. 20 da Lei 13.971/2019 e da
compatibilidade exigida no art. 16 da Lei Complementar 101/2000.
critérios adiante explicitados, busca-se neste tópico avaliar as ações governamentais realizadas por
meio dos programas finalísticos do Plano Plurianual (PPA).
Em cumprimento a esse desiderato, o TCU apresenta as análises conduzidas por equipes
técnicas especializadas do Tribunal, que se debruçaram sobre dezenove programas finalísticos do
PPA 2020-2023. Esse exame tem natureza dual: a primeira, pronunciar-se sobre a qualidade e
confiabilidade das informações de desempenho – meta e resultados intermediários (RIs) – de cada
programa; a segunda, apontar o desempenho dos programas, seja em comparação com as metas e
RIs projetados no PPA, seja por meio da colação de indicadores e parâmetros externos ao plano,
que ajudem a elucidar o resultado setorial da atuação do Poder Público.
Instrumento norteador do planejamento de médio prazo da administração pública
federal, o PPA consiste também em ferramenta de monitoramento das ações empreendidas ao longo
dos quatro anos em que tem vigência. A comparação daquilo que foi planejado no PPA com o que é
efetivamente alcançado em termos de entregas para a sociedade permite saber em que medida as
políticas públicas foram concretizadas e o papel do plano na melhoria da qualidade de vida da
sociedade.
Desde 2013, o TCU tem submetido à avaliação a planificação setorial formulada no
Plano Plurianual sob o prisma da estrutura dos programas, seus indicadores, objetivos e metas.
Dessa forma, o Tribunal busca subsidiar o julgamento das Contas do Presidente da República pelo
Congresso Nacional no que se refere à condução de ações finalísticas do Estado.
Nos termos da Resolução-TCU 291/2017 e do Regimento Interno do Tribunal, o TCU
deve posicionar-se, no parecer prévio sobre as Contas do Presidente da República, quanto à
execução dos orçamentos da União. Assim, compõem as análises realizadas: i) avaliação do grau de
conformidade do PPA aos preceitos constitucionais e legais que regem sua elaboração e
monitoramento; ii) a confiabilidade e a qualidade das informações de desempenho prestadas pelo
Chefe do Poder Executivo, bem como o desempenho dos programas finalísticos selecionados.
Ao longo dos anos, observaram-se avanços nos atributos de desempenho do PPA que
estão relacionados à atuação do TCU, tanto por meio das análises realizadas acerca das informações
constantes da Prestação de Contas do Presidente da República como por meio de ações de controle
específicas.
Por exemplo, a partir de 2017, o Guia de Monitoramento do PPA, publicado pelo Poder
Executivo federal, foi alterado e passou a atribuir ao gestor público o dever de classificar o
andamento da meta, a cada ano, em uma das três categorias: andamento adequado, com medidas a
serem adotadas, ou meta prevista ao final do PPA já alcançada. Se houvesse medidas a serem
adotadas, deveriam ser especificadas. Esse monitoramento do progresso anual das metas resultou de
interlocução entre o TCU e o Poder Executivo, tendo sido objeto de deliberação do Tribunal
(Acórdãos 1.320/2017-TCU-Plenário, relator ministro Bruno Dantas, e 1.322/2018-TCU-Plenário,
relator ministro Vital do Rêgo).
A partir da alteração, o Tribunal passou a inquirir o gestor sobre a existência de
andamento programado para a meta no ano. Verificou-se, em relação a 2017, que 22% dos
respondentes afirmaram não dispor de andamento anual esperado, o que equivale a dizer que esses
gestores trabalhavam apenas com uma meta a cumprir para todo o período de quatro anos de
vigência do PPA, mas não definiram o progresso esperado para cada ano.
Outro exemplo está relacionado à necessidade de regionalização das metas, em
atendimento ao art. 165, § 1º, da Constituição Federal. A relevância do mecanismo está associada
ao aumento da compreensão de como a intervenção governamental se distribui nas regiões do
território brasileiro. A partir dos apontamentos do TCU, foram incluídos alertas específicos no
Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop) do governo federal, em 2018, para tornar
mais robusto o monitoramento do Plano Plurianual. O sistema informatizado passou a gerar
mensagens de erro para situações de inconsistência no preenchimento, a exemplo da necessidade de
Foi realizado o exame acerca dos aspectos que compõem a qualidade e a confiabilidade
das metas e resultados intermediários, de modo que os auditores expressaram opinião técnica sobre
a aderência das metas analisadas tendo como base as características do quadro anterior para ancorar
o julgamento profissional.
Outro ponto a ser destacado sobre a metodologia adotada foi a maior ênfase à
possibilidade, já existente em exercícios anteriores, de que a análise trouxesse dados e referências
externas ao setor público, provenientes de instituições de referência, como marco para
conhecimento da realidade do setor e do desempenho da política pública correlacionada a cada uma
das metas.
Ademais, as análises incluíram trabalhos do TCU atinentes ao grau de implementação
de iniciativas, a efetividade de resultados e o alcance de metas e indicadores constantes da
Estratégia Brasileira para a Transformação Digital, em acordo ao disposto no Acórdão 3144/2020-
TCU-Plenário – Relator Ministro Aroldo Cedraz.
Na apresentação das análises efetuadas neste relatório, cada tópico é estruturado da
seguinte forma: contextualização do programa finalístico, com uma sintética descrição de suas
diretrizes e seus objetivos; informações de execução orçamentária do programa; análise sobre as
informações relacionadas à consecução das metas selecionadas e existência de parâmetros de
comparação; conclusão sobre a qualidade e a confiabilidade das metas; breve estudo do
desempenho das metas em 2021; e, conforme o caso, outras informações relevantes, como as
decorrentes de trabalhos de fiscalização realizados pelo Tribunal em objetos pertinentes ao
programa em análise.
Para a análise relativa ao exercício de 2021, selecionaram-se dezenove programas
finalísticos do PPA, relacionados a seguir.
ÓRGÃO
EIXO PROGRAMA FINALÍSTICO
RESPONSÁVEL
Presidência da
2201 - Brasil Moderniza
República
2212 - Melhoria do ambiente de negócios e da produtividade ME
2208 - Tecnologias Aplicadas, Inovação e Desenvolvimento Sustentável MCTI
2205 - Conecta Brasil MCTI
ECONÔMICO 2206 - Política Nuclear MCTI
40% 35%
32%
30% 25%
23%
21%
20%
20% 21%
18% 17% 18%
10% 14% 15% 15%
13%
0%
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Qualidade Confiabilidade
não ser específica; não ser mensurável; não ser apropriada; não ser realista; nem tem um tempo
determinado para cumprimento.
• programa 5011 – Educação Básica de Qualidade: a meta “050E - Atingir a meta de
5,59 no Ideb Sintético” foi rejeitada quanto à adequação, por prever o indicador apurado apenas
bienalmente, o que impossibilita a avaliação anual dos resultados do PPA 2020-2023, sendo esta a
principal meta vinculada ao programa Educação Básica de Qualidade. As metas associadas a dois
dos resultados intermediários também foram consideradas inapropriadas, tendo em vista não terem
sido entendidas como relevantes. Por fim, a meta vinculada ao resultado intermediário “0308 -
Acesso escolar da população de 15 a 17 anos no Ensino Médio” foi rejeitada neste requisito, pois
previu um número de vagas iniciais sem considerar as restrições orçamentárias já existentes quanto
a despesas discricionárias, conforme declarado pelo próprio MEC na PCPR 2021.
Como exemplos de problemas verificados na confiabilidade das metas de objetivo e dos
resultados intermediários, mencionam-se:
• programa 2208 – Tecnologias Aplicadas, Inovação e Desenvolvimento Sustentável:
foi apontado no RI “0082 - Investimento em P&D de empresas beneficiárias da Lei do Bem” que as
fontes de dados utilizadas para apuração dos valores realizados no exercício são informações
autodeclaratórias prestadas pelas empresas por meio de formulários eletrônicos de prestação anual
de contas, inexistindo rotina de confirmação pelo MCTI quanto à sua fidedignidade. Tal situação
denota potencial conflito de interesses decorrente do fato de que o volume de incentivos fiscais
concedidos às empresas depende diretamente do volume de investimentos em pesquisa e
desenvolvimento declarados, principal contrapartida das empresas em troca dos benefícios fiscais
usufruídos.
• programa 1041 – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade: identificou-se
que a meta “052D - Estratégias e instrumentos de gestão desenvolvidos para conservação,
monitoramento, recuperação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade” não é
quantificável, de modo que não existe um indicador que possa retratar e permitir o monitoramento
da meta do objetivo do programa, o que afeta também sua qualidade, mormente nas características
de ser específico, mensurável e apropriado.
• programa 5028 - Inclusão Social por meio do Bolsa Família e da Articulação de
Políticas Públicas: acerca da confiabilidade dos valores descritos na meta em questão,
identificou-se que, inobstante a confiabilidade do total de beneficiários não encontrar indícios de
dúvida, as metas estabelecidas, em virtude da ausência de perspectiva real de pessoas nos requisitos
descritos na Lei 10.836/2004 não se mostram escorreitas como critério para análise do Programa
Bolsa Família.
É certo que a atuação governamental deve ser apoiada por informações de desempenho
confiáveis, do contrário, todas as etapas do ciclo de políticas públicas restam prejudicadas, desde o
diagnóstico dos problemas até o monitoramento e a avaliação para verificar eventual impacto das
ações sobre a realidade. Nesse sentido, registra-se intensa movimentação nas principais
organizações responsáveis pela padronização dos relatos financeiros, tais como a International
Accounting Standards Board (IASB), no sentido de também desenvolver estruturas de relatos não
financeiros que sejam globalmente aceitos.
Vale destacar que esses padrões estão intimamente ligados aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que também consiste, per si, em uma tentativa de
padronização para resultados não financeiros governamentais – de modo que a própria Organização
das Nações Unidas também desenvolveu um padrão próprio de relato não financeiro corporativo.
Por consequência, observa-se o desenvolvimento crescente de metodologia voltada a
prover asseguração de informações não financeira, tais como as informações de desempenho
dispostas no PPA e nos relatos de desempenho governamental. Nesse sentido, vale destacar a
promulgação do padrão de asseguração AA1000AS e da norma ISAE 3000 - Trabalho de
Asseguração Diferente de Auditoria e Revisão – adaptada no país por meio da Norma Brasileira de
Contabilidade CFC/NBC TO 3000.
180
160
140 129,4
120
93,8 Dotação Atualizada
100 84,8 Despesa Liquidada
80
59,0 % de Execução
52,5
60 42,8 46,0
40
20 45,6% 40,6%
25,9% 69,6%
-
2018 2019 2020 2021
O índice de modernização (IM) foi concebido para ser a média de dois indicadores:
a) Percentual (score) do Brasil no relatório Doing Business do Banco Mundial;
b) Percentual de serviços públicos digitais disponibilizados à população brasileira
(O conceito de serviços totalmente digitais –
https://painelservicos.servicos.gov.br/ – refere-se ao modo de prestação dos
serviços ao cliente, onde todas as etapas estão digitalizadas. O total de serviços
para o cálculo exclui aqueles serviços não digitalizáveis, serviços em que é
exigida presença do cidadão ou envio de documentos por meios físicos).
O primeiro indicador, de aferição externa, permite que os países avaliem seu
desempenho em fundamentos e atividades típicas do ambiente de negócios, por meio da aferição de
indicadores de áreas diversas, como indicadores do setor de construção, relacionados à tributação,
tempo de resposta de interações com o serviço público (como tempo e procedimentos para abertura
de uma empresa e transferência de propriedade, capacidade de executar sentenças em casos de
litígio comercial). Já o segundo, de aferição interna, é uma razão simples entre a quantidade de
serviços disponibilizados de forma digital e quantidade total de serviços públicos catalogados
(excluídos os não digitalizáveis).
O relatório Doing Business foi descontinuado pelo Banco Mundial, após suspeitas de
manipulação de alguns indicadores, o que torna necessária sua substituição, preferencialmente por
um indicador que já estivesse disponível desde o ano inicial do programa, para que seja facilitada
análise de impacto do programa, ainda que com limitações. Inobstante tal fato e a informação
(constante no Espelho do Monitoramento do Programa 2201) de que a fórmula de cálculo do
indicador será objeto de revisão, registram-se as análises sobre a qualidade e confiabilidade do
Indicador de Modernização.
Quanto à qualidade do segundo componente do IM, é possível fazer ressalvas, visto que
cada serviço é tratado de forma estanque, sem considerar, em princípio, aqueles mais complexos,
que necessitam de integração entre diversas bases de dados. Em outros termos, um indicador ligado
ao conceito de governo eletrônico, sem garantia de atingir os fins almejados pelo paradigma de
governo digital, em que pese ser um indicador de mensurabilidade acessível. Além disso, lembra-se
que, de acordo com a metodologia adotada pela Secretaria de Governo Digital do Ministério da
Economia (SGD/ME), serviços são considerados totalmente digitais quando as etapas passíveis de
digitalização foram concluídas, podendo haver etapas presenciais se elas não puderem ser
Confiabilidade
Em relação ao quesito confiabilidade, foi avaliada a característica da credibilidade.
Sobre a quantidade de dias para abertura de empresa (indicador 15), destaca-se que o
relatório Doing Business Subnacional 2021 classificou MG como tendo o menor tempo de abertura
de uma empresa, em 9,5 dias. Já a média nacional ficou 15,4 dias, patamar bastante superior ao
estabelecido na meta 0015 e ao resultado pretensamente obtido.
Quanto ao indicador 014, a confiabilidade restou afetada pelas razões já expostas na
análise do IM, destacando-se a ausência de transparência nos dados apresentados no
acompanhamento da meta, visto que as informações (painéis e gráficos) disponibilizadas não
permitem o cálculo do quantitativo de serviços transformados.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
Metas rejeitadas Atributos rejeitados
Meta do objetivo: 051K Melhorar o Índice de Modernização (IM)
Qualidade e Confiabilidade
para 85% nos próximos quatros anos.
Resultados intermediários
1. 0014 - Serviços públicos digitais oferecidos pelo Governo. Qualidade e confiabilidade
2. 0015 - Agilização do procedimento de abertura de empresas. Confiabilidade
Desempenho das metas em 2021
Consoante a informação contida no documento extraído do Siop referente à evolução da
meta do PPA (em 3/3/2022), o resultado do Programa 2201 alcançou, ao fim de 2021, 19,97%,
indicando risco de que a meta prevista para o quadriênio 2020-2023 (elevação de 14,9 pontos do
IM), não seja alcançada. O índice acumulado até 2021 frente à meta de 2020-2023 também é o
mesmo (19,7%), visto que a meta prevista para o ano anterior 2020 era negativa (redução do IM
para 59,5) em relação a linha de base de 60,01.
Já quanto à EGD 2020-2022, consta registro de que o percentual de serviços públicos
digitalizados é de 73%, com meta prevista em 2022 de 100% de oferta, na forma digital no portal
gov.br, dos serviços passíveis de digitalização (ainda que parcial).
Em razão da descontinuidade do Doing Business, os gestores das metas informaram que
o Índice de Modernização (IM) passou em 2021 a ser calculado exclusivamente pelo quantitativo de
serviços digitais transformados e migrados para o portal gov.br. Esse único parâmetro é insuficiente
para aferir o impacto da transformação digital, considerando as diversas ações que compõem a
Estratégia Digital do Governo, bem como a divergência de informações entre o Espelho de
Monitoramento (65) e o resultado da Tabela da EGD para este índice (73).
Segundo a ONU, a pandemia de Covid-19 teve impacto positivo na evolução digital dos
países. As nações foram obrigadas a implementar em curto espaço de tempo soluções digitais para
atendimento aos cidadãos e empresas, o que fez com que países menos desenvolvidos obtivessem
índices que ultrapassaram até mesmo os países mais ricos.
A Tabela de Resultados da Estratégia de Governo Digital (EGD 2020-2022) registra
que, das 58 iniciativas, 19 estavam concluídas, 33 em execução e 6 não iniciadas, bem como que
seriam alteradas 8 iniciativas e revogadas 4 iniciativas. A Edição do Decreto 10.996, de 14/3/2022,
incluiu na EGD 5 iniciativas referentes ao objetivo 15, incluindo notadamente a inovação e as
GovTechs, e revogou 4 metas não iniciadas e alterou algumas metas, que aparentavam
inexequibilidade, notadamente a meta 6.1, que se refere a interoperabilidade dos dados e sistemas.
Quanto aos resultados da digitalização de processos o Painel de Raio-X, registra-se uma
economia anual para o governo de R$ 1,1 bilhão e para a sociedade de R$ 3,4 bilhões. Em função
dos resultados obtidos, frente à redução da dotação orçamentária do Programa 2201 (redução de
48% na dotação atualizada de 2021 em relação a 2020, como registrado no gráfico de execução
orçamentária acima), o TCU determinou que fossem adotadas providências para asseguração de
recursos para garantir o progresso nas ações de transformação digital (Acórdão 2.279-2021-
Plenário, relator ministro Aroldo Cedraz).
Outras informações relevantes
O programa Brasil Moderniza pode ser entendido como aderente ao planejamento
estruturado na Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (e-Digital), instituída pelo Decreto
9.319/2018, com o objetivo de aproveitar o potencial das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) para promover o desenvolvimento social e econômico, a qual inclui cinco
eixos habilitadores, responsáveis por ações de base, direcionadas à melhoria da infraestrutura de
comunicação; da pesquisa e inovação; do aperfeiçoamento do ambiente regulatório e da confiança
no ambiente digital; de inovações normativas; de competências educacionais; e da inserção
internacional.
Os quatro eixos temáticos da transformação digital, por sua vez, são desenvolvidos a
partir dos eixos habilitadores. O eixo “Cidadania e Governo” (Decreto 9.319/2018, art. 1º, § 2º,
inciso II, alínea ‘b’) é materializado pela Estratégia de Governo Digital (EGD), instituída por meio
do Decreto 10.332/2020, cujo maior objetivo é implantar o paradigma do Governo Digital na
Administração Pública Federal.
Eixos da e-Digital
Fonte: Relatório da equipe de auditoria referente ao TC 036.673/2019-6, que subsidiou o Acórdão 3.145/2020-
TCU-Plenário.
Sobre o tema, os números mais recentes indicam que foram digitalizados 3.650 dos
4.909 serviços catalogados pelo portal:
Como se pode observar, 95,1% das fontes de financiamento do Programa 2208 vêm de
recursos extraorçamentários, entre os quais se destacam os gastos tributários, com R$ 9,4 bilhões,
ou 84,4% do total do Programa.
Para efeito de contextualização, as renúncias de receitas associadas à função
orçamentária “Ciência e Tecnologia”, no total de R$ 12,4 bilhões para 2021 (o que inclui renúncias
vinculadas a outros programas, não somente o 2208), estão entre as oito de maior materialidade no
conjunto de gastos tributários, equivalendo a 4,03% do total das renúncias da União, segundo
consta no DGT - PLOA 2021, aba “Q V”, elaborado pela Secretaria Especial da Receita Federal do
Brasil (RFB).
Em função da materialidade das renúncias fiscais na área de CT&I, convém detalhar as
modalidades de gasto tributário previstas para a função “Ciência e Tecnologia” para o exercício de
2021, conforme quadro adiante.
Gastos Tributários com a Função “Ciência e Tecnologia” – Previsão para 2021
– por Modalidade de Gasto –
Valor
Gasto Tributário %
(R$ 1,00)
Informática e Automação 6.596.430.985 53,2%
2.480.292.
Inovação Tecnológica 20,0%
111
Despesas com Pesquisas Científicas e 1.901.758.
15,3%
Tecnológicas 801
934.605.0
PADIS 7,5%
04
220.624.3
Máquinas e Equipamentos – CNPq 1,8%
43
TI e TIC - Tecnologia de Informação e
199.418.6
Tecnologia da Informação e da 1,6%
64
Comunicação
Entidades sem Fins Lucrativos – 75.268.47
0,6%
Científica 9
Evento Esportivo, Cultural e Científico 911.831 0,0%
SUDENE 615.092 0,0%
Pesquisas Científicas 296.062 0,0%
12.410.22 100,0
TOTAL 1.372 %
Fonte: Demonstrativo de Gastos Tributários – DGT – PLOA 2021, elaborado pela Secretaria da Receita
Federal do Brasil (DGT - PLOA 2021, aba “Q IV”, acesso em 22/3/2022)
12
Billions
10,0
10 9,2 8,9
8,5 8,2
7,8 7,8 7,6
8 7,0
Dotação Atualizada
6 5,0 Despesa Liquidada
% de Execução
4
77,5% 85,4% 88,8%
86,1%
2 56,7%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop. Filtro: Função 19 – Ciência e Tecnologia, dados dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social. Valores corrigidos para
2021, pelo IPCA.
Em relação às metas dos RI, seguem comentários para os casos em que houve variações
significativas entre o previsto para 2021 e o resultado efetivo.
No caso do RI 0083 (Transferência de Tecnologia celebrada entre ICTs e setor privado),
não foram disponibilizados os dados de desempenho em função de dificuldades relacionadas a
sistemas de TI de suporte.
Em relação ao RI 0182 (Evolução dos recursos aplicados em P&D, pelas empresas aptas
aos incentivos da Lei de Informática, por meio de convênios com ICTs), e ao RI 0323 (Evolução do
montante de recursos aplicados em P&D pelas empresas habilitadas à fruição dos incentivos da Lei
de Informática), as variações havidas foram positivas, ou seja, o resultado efetivo foi
significativamente superior ao estimado. Segundo o MCTI, ambas situações têm a mesma
explicação: o novo modelo de incentivos introduzido pela Lei 13.969/2019 (que alterou a Lei de
Informática), em que o benefício é diretamente proporcional aos investimentos em P&D. Em se
consolidando essa tendência, espera-se que o MCTI venha a recalibrar a meta, em revisões
posteriores do PPA, passando a refletir o novo potencial de resultados viabilizado pela alteração no
modelo.
No que se refere ao RI 0084 (Evolução da proporção do faturamento em bens com
tecnologia nacional no âmbito da Lei de TIC), verifica-se que a meta para 2021 era de que as
empresas beneficiadas pela Lei das TIC tivessem 14,46% do seu faturamento em bens com
tecnologia nacional, sendo que o observado foi 8,5%. De acordo com o MCTI, a possível
explicação para o fato seria o crescimento do faturamento em segmentos de bens produzidos no país e
que não têm tecnologia local, como microcomputadores, notebooks e smartphones, impulsionado pela
expansão do teletrabalho e atividades remotas no biênio 2020/2021, no ambiente da pandemia de Covid-
19. Entendemos que constitui uma contradição o fato de o percentual de conteúdo local diminuir à
medida que aumenta o faturamento de produtos incentivados como microcomputadores, notebooks
e smartphones, exatamente os que têm maior valor agregado. O MCTI não aprofundou, na PCPR, o
motivo desse comportamento do indicador, nem cogitou de providências a respeito. Ressalta-se que
a questão da efetividade dos resultados da Lei de Informática em termos de inovação já foi tratada a
fundo em fiscalizações anteriores do Tribunal, a exemplo do Acórdão 458/2014-TCU-Plenário e do
mais recente Acórdão 3.141/2020-TCU-Plenário, ambos com recomendações estruturantes.
Outras informações relevantes
Uma considerável parte do orçamento do Programa 2208 é executado por meio da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao MCTI. No exercício de
2021, a Unidade Técnica realizou auditoria na entidade para avaliar a estrutura de governança
existente para promoção de incentivos públicos federais à CT&I.
A fiscalização resultou no Acórdão 693/2022-TCU-Plenário, no qual se demonstrou a
necessidade de planejamento estratégico, pelo MCTI, das iniciativas de fomento operacionalizadas
crescimento da renda no longo prazo. Esse fenômeno gera um produto maior com a mesma
quantidade de insumos, assim como incentivos para que mais investimentos sejam realizados na
economia, sendo ambos responsáveis pela geração de externalidades para a economia de forma
geral.
Nesse sentido, o objetivo do Programa 2212 - Melhoria do Ambiente de Negócios e da
Produtividade é aumentar a produtividade e a competitividade da indústria, do comércio, dos
serviços e das micro e pequenas empresas nacionais em comparação a outras economias mundiais,
fomentando a concorrência dos mercados, conforme o PPA 2020-2023.
Execução orçamentária dos últimos 5 anos – funções 22 e 23
12 11,4
10,5
Billions
9,4
10
8,4 8,3 8,2
8 6,7
6,3 Dotação Atualizada
5,7 5,4
6 5,3 5,1 5,1
Empenhado
4,1
4 3,4 Despesa Liquidada
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais. Dados dos Orçamentos Fiscal de da Seguridade Social (Funções 22 e 23).
Obs.: A grande maioria das ações orçamentárias ligadas ao Programa 2212, no período, foram executadas por meio das Funções 22-
Indústria e 23- Comércio e Serviços, e por isso foram utilizados como dados para a consecução do gráfico acima. No exercício de
2021, 100% da dotação atual prevista originou-se dessas Funções.
Descrição da Meta do Objetivo Unidade Meta prevista Meta prevista para o Resultado Há variações
de para 2021 quadriênio 2020-2023 alcançado em significativas entre o
Medida 2021 previsto para 2021 e o
resultado efetivo?
(S/N)*
Confiabilidade
Com relação ao Resultado Intermediário 0230 – Economia 4.0 (Brasil 4.0), o Ministério
da Economia, órgão responsável por sua execução, esclareceu que as metas anuais previstas no PPA
seriam referentes aos produtos entregues durante todo período, de forma cumulativa. Assim, entre
2020 e 2023, o Ministério esclareceu que estavam previstos quatorze produtos referentes ao referido
Resultado Intermediário, sendo que oito deles já haviam sido entregues até o final de 2021. Por isso,
o espelho do monitoramento apresentou um atingimento de 57% do total previsto, que se referia, na
verdade, ao percentual de produtos executados ao longo dos exercícios anteriores até 2021 (oito de
um total de quatorze). No entanto, o próprio Ministério esclareceu que, em 2021, estava prevista a
entrega de três produtos. Desses, o TCU pôde atestar a execução de dois serviços, chegando-se,
assim, ao percentual de 66,67% do total previsto para o exercício.
Os fatos narrados com relação à previsão e ao cômputo da meta acabaram por gerar
distorções no valor apresentado como executado no exercício de 2021. Contudo, entende-se que
essa dissonância não descaracteriza o aspecto da confiabilidade da meta, uma vez que não
constituiu obstáculo à aferição do indicador de desempenho, visto ter permitido revelar o percentual
de atingimento do que foi programado para o exercício 2021.
Dessa forma, considera-se que a meta do Resultado Intermediário 0230 - Economia 4.0
(Brasil 4.0) atendeu ao atributo da confiabilidade da informação apresentada, devendo ser aceita,
sem embargo de ser motivo de preocupação a falta de cuidado com a consistência dos dados
apresentados pela Administração.
Quanto ao Resultado Intermediário 0231 – InovAtiva 15K (Brasil 4.0) – Programa de
Aceleração InovAtiva de Impacto Socioambiental e ao Resultado Intermediário 0347 – InovAtiva
15K (Brasil 4.0) – Programa de Aceleração de Startups InovAtiva Brasil, o Ministério da Economia
considerou, no cômputo da meta de ambos, o atendimento a empresas beneficiadas que não
apresentavam a identificação dos respectivos registros no CNPJ.
Com base na listagem de empresas beneficiadas apresentada ao TCU, verificou-se que:
1) quanto ao Resultado Intermediário 0231 – InovAtiva 15K (Brasil 4.0) – Programa de Aceleração
InovAtiva de Impacto Socioambiental, cinquenta e nove das startups listadas possuem o respectivo
registro no CNPJ, o que corresponde a 83,10% do total (59/71); 2) quanto ao Resultado
Intermediário 0347 – InovAtiva 15K (Brasil 4.0) – Programa de Aceleração de Startups InovAtiva
Brasil, quinhentas e dezesseis das empresas listadas possuem o respectivo registro no referido
cadastro, o que corresponde a 83,74% do total (516/609).
2,3 2,2
2 1,8 1,8
1,7 1,7
1,5 1,5 1,4 Dotação Atualizada
Despesa Liquidada
76,4% % de Execução
1
78,1%
86,1% 82,1% 85,9%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais.
Filtro: Função 24 - Comunicações.
Em relação à execução orçamentária, ocorrida no último ano, o Programa Finalístico 2205 –
Conecta Brasil pode ser assim apresentado:
R$ milhões
Dotação
Dotação Inicial Empenhado Liquidado Pago
Atualizada
933 1.166 1.082 954 953
Fonte: Siop.
Não apresentou
0064 - Digitalização do
variação se
serviço de radiodifusão de % 70% 60% 70% 80% 85% 55,60%
comparado com
sons e imagens (meta 64)
2020.
0066 - Desenvolvimento de Posição Sim. O Brasil teve
Tecnologias de Informação hierárquica em 59 65 59 58 57 52º lugar uma melhora de 7
e Comunicação (IDI) – ranking entre posições no
Confiabilidade
Na linha da análise feita no ano anterior, não foram encontradas evidências de
inadequação quanto à confiabilidade dos indicadores apresentados. Desta forma, no que se refere à
meta relativa ao objetivo do Programa Finalístico 2205 e às metas dos resultados intermediários
constantes na tabela apresentada, não foram identificadas falhas ou distorções relevantes.
Qualidade
A análise feita no ano anterior identificou inadequações nas metas 0066, 0067 e 0068
quanto ao atributo da qualidade, no que tange aos quesitos de adequabilidade e limitação temporal.
Sendo assim, naquela ocasião elas foram consideradas rejeitadas.
Já no que se refere à meta relativa ao objetivo do Programa Finalístico 2205 e à meta
intermediária 64, não foram identificadas falhas ou distorções relevantes.
Por meio da análise ora realizada foi identificada que a meta do objetivo do programa e
a meta do resultado intermediário 0068 não se apresentam mensuráveis, uma vez que, para ambas,
os últimos resultados obtidos foram referentes ao ano 2019. Desta forma, não é possível avaliar a
evolução do indicador e o atingimento da meta, assim, consideram-se essas metas rejeitadas.
Diante disso, reforça-se a necessidade de melhorias e gestão quanto à tempestividade de
apuração dessas metas, uma vez que o exercício de 2021 corresponde ao segundo ano do programa
e ainda não é possível fazer uma mensuração realista da evolução desse resultado intermediário e da
respectiva meta do programa 2205.
Para as demais metas (64/66/67), verificou-se que apesar de terem sido consideradas
rejeitadas no ano de 2020, foi possível mensurar e avaliar a evolução do indicador no ano de 2021,
sendo assim consideradas adequadas para esse exercício.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução
deste capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
Metas rejeitadas Atributos rejeitados
Meta do objetivo: Ampliar o acesso à internet em banda larga para
os domicílios brasileiros de 74,68% para 91%.
Qualidade
Resultado intermediário 0068: Maior adoção de Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC)
Desempenho das metas em 2021
Pela apuração da meta apresentado no espelho do monitoramento, verifica-se que não
foi possível estimar a meta em 2021 e prever a evolução do objetivo do programa já que o último
valor disponível da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad-TIC foi o de 2019. Em
2020 a pesquisa não foi realizada em função da pandemia do Covid-19 e os dados do ano de 2021
ainda não foram divulgados, prejudicando o seu acompanhamento.
Entretanto, segundo informado no relatório de contas da Controladoria Geral da União
(CGU), mesmo não havendo os dados disponíveis de 2021, há evidências de que o acesso à banda
larga tenha aumentado, conforme informações disponíveis no site da Anatel
(https://informacoes.anatel.gov.br/paineis/acessos/banda-larga-fixa ). Consta nesse relatório da
CGU, que o acesso à banda larga fixa passou de 32,9 milhões em dezembro de 2019 para 41,2
milhões em dezembro de 2021, com a justificativa de que o aumento pode ser explicado pela
demanda desse serviço (acesso à internet) no período de isolamento decorrente da Covid-19 e por
outras políticas do setor de inclusão digital e expansão de internet com maior velocidade. A
conclusão foi de que esse dado provavelmente será refletido no próximo senso a ser divulgado.
Quanto ao indicador do resultado intermediário 64, que trata da digitalização do serviço
de radiodifusão de sons e imagens, com a aferição do percentual de municípios com pelo menos um
canal de TV digital, verifica-se que não houve avanço na implementação, mantendo-se estável e no
mesmo nível do ano de 2020, porque a metodologia de cálculo conta com os municípios onde a
TVD está com canal digital outorgado e a situação de 2021 foi de avanço em etapas anteriores a
essa outorga, como a publicação do edital de chamamento. Assim, é estimado que, com o
andamento do programa Digitaliza Brasil, em 2022, haja um avanço no indicador.
Desta forma, segundo a informação apresentada pelo MCom no exercício de 2021,
havia um total de 2.043 municípios com pelo menos um canal digital e 3.674 municípios que
possuíam ao menos um canal outorgado de televisão (digital ou analógico), resultando, assim, em
55,6% dos municípios com pelo menos um canal digital.
Sobre o resultado 66, cujo indicador trata do desenvolvimento de tecnologias de
informação e comunicação e foca no nível e na evolução do desenvolvimento das TIC nos países,
observa-se que, após a mudança de metodologia por parte da União Internacional de
Telecomunicações (UIT) para o índice de prontidão de rede (network readiness index – RNI),
devido à descontinuidade do anterior, o Brasil ocupou em 2021 a posição 52, no ranking de 130
países, o que representou uma melhoria de sete posições em relação ao ano de 2020 (59º lugar).
Conforme abordado pela CGU em seu relatório, esse índice “está embasado em quatro
dimensões fundamentais: i) tecnologia; ii) pessoas; iii) governança; e iv) impacto. Tal abordagem
holística permite um equilíbrio da análise entre os fatores tecnológicos e humanos na avaliação da
prontidão das redes, sendo um indicador adequado à mensuração do desenvolvimento das TIC no
Brasil e comparativamente a outros países”.
Sobre esse resultado intermediário é importante mencionar que o indicador continua
sendo uma apropriação de um índice de abrangência mundial estabelecido pela União Internacional
de Telecomunicações (UIT) e que manterá uma regularidade de apuração anual.
Quanto ao índice de cibersegurança global (meta 67), verifica-se que o dado de 2020 foi
publicado em junho de 2021, tendo o Brasil ocupado a posição de número 18, o que representou
uma subida de 53 posições no ranking mundial. Conforme apontado no relatório de monitoramento,
o resultado decorre da avaliação e agregação das medidas legais, técnicas, organizacionais, de
capacitação e cooperação.
Sobre a meta 68, o último valor medido foi o de 2019, cujo resultado foi de 67º lugar na
posição no ranking. O último relatório de competitividade global foi publicado em 2020 como uma
edição especial em função da pandemia de coronavírus e não contou com a divulgação do Índice de
Competitividade Global.
Entretanto, nas justificativas apresentadas são destacadas as implementações
normativas, o leilão do 5G e políticas públicas de transferência de recursos, que na visão do
monitoramento da CGU, permitirão avanços na adoção dessas tecnologias. É informado também no
monitoramento que por meio da pesquisa realizada pelo Cetic.br, publicada em novembro de 2021
(https://www.cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201505/resumo_executivo_tic_domicilio
s_2020.pdf ), há evidências de avanços no uso de TIC nos domicílios brasileiros (como o aumento
do uso de telefones celulares, computadores e domicílios com acesso à internet) indicando um
provável aumento desse indicador.
3.3.5. Programa Finalístico 2206 – Política Nuclear
O Programa 2206 – Política Nuclear do PPA 2020-2023 possui como diretriz (diretriz
04) a eficiência da ação do setor público, com a valorização da ciência e tecnologia e a redução da
ingerência do Estado na economia. O programa tem o objetivo (objetivo 1193) de promover o
desenvolvimento da tecnologia nuclear e suas aplicações para ampliar a capacidade de oferta de
produtos e serviços, para atender a demanda e os benefícios dos usos pacíficos da energia nuclear e
das radiações ionizantes, de forma segura e sustentável. A meta do objetivo (meta 052R) é reduzir o
índice de dependência internacional em produtos e serviços (IAN) de 0,75, referência 31/12/2018,
para 0,41 em 31/12/2023.
O programa nuclear brasileiro foi impulsionado na década de 1970 com o propósito de
explorar o potencial uranífero existente no território nacional. Em todo o mundo, apenas doze países
dominam a tecnologia do ciclo de combustível nuclear, entre eles o Brasil, detentor da sexta maior
reserva de urânio do planeta. Contudo, embora o país detenha reservas de urânio e tecnologia de
exploração, a indústria nacional não é suficiente para atender a demanda interna por produtos e
serviços proporcionados pela tecnologia nuclear. Há, portanto, um baixo aproveitamento do
potencial nuclear brasileiro.
No que se refere ao combustível nuclear para abastecer as usinas nucleares de Angra 1 e
2, em 2021, a produção realizada na Fábrica de Combustíveis Nuclear da Indústria Nucleares do
Brasil S/A (INB) foi suficiente para atender a 100% da demanda. Contudo, vale ponderar que as
usinas nucleares são responsáveis por menos de 3% da produção de energia elétrica consumida no
país.
Referente à área médica, também de acordo com o mapeamento, o Brasil está muito
aquém de outros países em desenvolvimento, a exemplo da Argentina, que proporciona um
atendimento à população em torno de quatro vezes maior do que ocorre no Brasil.
Em relação à atividade de mineração e beneficiamento de urânio, em 2021 foi dada
continuidade à produção de concentrado em solo nacional, cuja retomada ocorreu em 2020.
O mapeamento evidencia insuficiência de infraestrutura, recursos humanos
especializados e instrumentos normativos para atender as demandas por tecnologias e aplicações na
área nuclear, além de baixo montante de investimentos em infraestrutura básica e tecnológica para
produção, pesquisa, proteção radiológica, licenciamento e fiscalização na área nuclear.
Os dados do Siop do Programa 2206 (que sucedeu o Programa 2059 a partir de 2020 no
PPA) demonstram ligeiro incremento dos valores da dotação direcionada ao programa, conforme
apresentado a seguir.
Execução orçamentária do Programa Nuclear – 2017 a 2021
1.400
Millions
1.163,5
1.200 1.074,8
960,1 955,6
1.000 896,2
800 734,5
682,8 Dotação Atualizada
632,4
573,6 Despesa Liquidada
600 479,1
% de Execução
400 88,9%
49,3% 82,0%
200 65,9%
70,2%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais.
Filtro: Programa 2059 (de 2017 a 2019) e 2206 (em 2020 e 2021) – Política Nuclear.
Confiabilidade
O indicador é uma composição de quocientes entre valores relacionados à importação
de insumos, faturamento obtido com a venda de produtos, produção e demanda de quatro grandes
atores do setor nuclear brasileiro, quais sejam, a INB, a Comissão Nacional de Energia Nuclear
(Cnen) e a Nuclebras Equipamentos Pesados S/A (Nuclep) e a Eletronuclear (Angra 1 e 2). O
cálculo do indicador é realizado pela seguinte fórmula: IAN = [(Irad/Frad) + (1 – Pen/Den) + (1 –
Pu3/Du3)]/3. Nela a variável “Irad” representa a importação de insumos, matéria prima e serviços
para produção dos radiofármacos. Já a “Frad” representa o faturamento da venda de radiofármacos.
“Pen” é a quantidade de urânio enriquecido e “Den” a demanda anual das usinas Angra 1 e 2. Já
“Pu3” é a produção de concentrado de urânio na mina de Caetité (BA) e “Du3” a demanda anual
nacional de urânio U308 para as usinas de Angra 1 e 2.
Foi realizado confronto dos valores informados com os montantes disponibilizados em
resposta à diligência enviada pelo TCU aos órgãos responsáveis pelo Programa 2206. Desse exame,
não foram identificadas falhas ou distorções relevantes quanto à confiabilidade da meta e do
resultado intermediário analisados.
Qualidade
O indicador da meta 052R não atende as características do atributo “especificidade”, por
não expressar claramente o que deve ser alcançado, levando a potenciais ambiguidades (vide
Técnica de Indicadores de Desempenho para Auditorias, do TCU). Embora a fórmula de cálculo
seja objetiva, ela utiliza valores monetários que são influenciados pela volatilidade cambial, o que
leva a uma distorção da real dependência internacional, em termos quantitativos, de produtos e
serviços da área nuclear. Além disso, por não ser específica, não é possível emitir opinião sobre a
meta ser “realista”, outra característica desejável aos indicadores.
resultado apurado 0,92, ou seja, um desempenho muito aquém do esperado, com um aumento da
dependência internacional em vez de redução. Contudo, como já mencionado, há que se considerar
as distorções provocadas pelo efeito da variação cambial, vez que a meta traçada pode não
representar o objetivo a ser alcançado, carecendo de exame por parte do MCTI.
Já a meta do Resultado Intermediário 0069, que previa alcançar um fornecimento médio
semanal de 500 Ci/semana, alcançou um resultado de 392 Ci/semana, um desempenho também
aquém do programado para o ano de 2021.
Outras informações relevantes
De acordo com a Cnen (https://www.gov.br/cnen/pt-br/rmb/), a expansão da
medicina nuclear no país está diretamente associada ao sucesso da implantação do empreendimento
denominado Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que possibilitará um aumento considerável
da oferta de radioisótopos, para os radiofármacos, de forma autônoma nacional. Além da produção
de radioisótopos para uso principal na saúde, o RMB permitirá a prestação de serviços de irradiação
para testes de materiais e combustíveis para reatores de potência.
Contudo, é importante notar que, apesar de ter sido incorporado aos últimos três
PPAs (2012-2015, 2016-2019 e 2020-2023), não houve avanço significativo na implementação
desse empreendimento, em razão de sucessivos contingenciamentos de recursos. Assim, aparenta
ser remota a possibilidade de atingimento da meta de redução de dependência internacional em
produtos e serviços nucleares, originalmente estabelecida para o quadriênio 2020-2023 (meta 052R,
Objetivo 1193, Programa 2206 do PPA).
3.3.6. Programa Finalístico 2217 – Desenvolvimento Regional
O Programa 2217 – Desenvolvimento Regional, Territorial e Urbano, de
responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), tem como diretriz a
ampliação do investimento privado em infraestrutura, mediante estratégias de planejamentos de
longo prazo e redução de inseguranças jurídicas.
Para ele, foi estabelecido o Objetivo 1194 - Estimular o desenvolvimento de territórios,
cidades e regiões, ampliando a estruturação produtiva e urbana, e a provisão de serviços públicos
para a redução das desigualdades socioeconômicas, em múltiplas escalas.
O tema faz parte da Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil no período de
2020 a 2031, instituída pelo Decreto 10.531/2020, onde é visto de forma transversal, por envolver
políticas de diversas áreas, a saber: ciência, tecnologia e inovação; educação e qualificação
profissional; infraestruturas econômica e urbana; desenvolvimento social e acesso a serviços
públicos essenciais; e fortalecimento das capacidades governativas dos entes subnacionais.
O tema também é caro aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituído
pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2012, que constituem apelos mundiais pelo fim da
pobreza, da proteção do meio ambiente e do clima, da garantia às pessoas de paz e prosperidade.
O referido programa teve como precedente o Programa 2029 - Desenvolvimento
Regional e Territorial, que respondia por algumas das demandas da política regional e do
ordenamento territorial, porém, os recursos previstos eram constantemente contingenciados o que
prejudicava o seu resultado.
O gráfico abaixo evidencia a execução orçamentária do Programa 2217 no exercício de
2021, em comparação com o exercício 2020, ano em que ele foi iniciado. Cumpre, porém, registrar
que a aferição de seus resultados considera feitos anteriores realizado no âmbito de programa que o
antecedeu. Assim, a aferição da meta parte de um marco inicial denominado linha de base, cuja data
de referência é 1º/1/2020.
16.000 14.263,9
Millions
14.000 12.354,8
12.000
10.000
Dotação Atualizada
8.000
Despesa Liquidada
6.000
Series3
4.000 2,6% 2,3%
2.000 319,8 328,6
-
2020 2021
Fonte: Siop, valores reais.
Confiabilidade
Considerando que a apuração dos indicadores e a avaliação da meta do objetivo é
efetuada pelo órgão responsável pelo programa, a partir de informações extraídas de registros
administrativos eletrônicos oficiais, como o Siafi e o Siop, tem-se que tanto a avaliação quanto as
fontes tendem a ser confiáveis. Nada obstante, ressalta-se que, de acordo com os próprios dados do
monitoramento, nem todas as informações constantes da tabela acima correspondem à situação
efetivamente ocorrida.
1.031, dos quais 631 foram executados em 2021, 206 em 2020, e o restante representa a linha de
base do programa, ou seja, empreendimentos executados no âmbito de programa similar na vigência
deste PPA.
O resultado intermediário 0086 - Polos da Estratégia Rotas da Integração Nacional,
também superou a meta prevista, que visava à construção de três polos, logrando-se concluir seis.
A meta relativa ao resultado intermediário 0301, que tem por finalidade acompanhar a
implantação de sistemas e desenvolvimento de ações voltados para a melhoria da gestão dos
recursos hídricos e energia renovável, com foco no desenvolvimento da região Nordeste, foi
executada no quantitativo exato previsto.
Sobre o resultado intermediário 0302, que avalia a capacitação continuada para o
fortalecimento do desenvolvimento regional e urbano, o resultado efetivamente obtido foi inferior
ao previsto. O órgão logrou certificar apenas 6.257 dos 19.396 inscritos, resultado inferior à meta
prevista, que era capacitar 7.520 pessoas (atingimento de 83% da meta).
O resultado intermediário 0087 - Polos de Agricultura Irrigada, também não atingiu a
meta prevista em 2021, pois foi construído apenas um polo, e o resultado acumulado foi de sete
polos, quando a meta era de dez (atingimento de 70% da meta).
Em 2021, a dotação de recursos para esta ação foi de R$ 8.200.069,99, porém somente
R$ 2.735.953,21 foi liquidado, correspondente a 33,4% do valor orçado.
O MDR, em resposta à diligência deste Tribunal (peça 23 do TC 004.364/2022-8)
alegou que o insuficiente desempenho decorreu de limitações impostas pela pandemia da Covid-19,
que dificultou a realização de reuniões necessárias para mobilização dos atores envolvidos na ação,
bem como de oficinas de planejamento.
Além disso, o MDR também aduziu que a perspectiva de construção de dez polos foi
estimada contando com força de trabalho e equipe especializada então existente, a qual foi
posteriormente reduzida em 50%, impedindo a realização da meta.
Sobre o resultado intermediário 0088, em face de discrepância entre os critérios de
definição da meta e os utilizados para sua mensuração não foi possível avaliar o efetivo
desempenho desse resultado no ano de 2021.
Em vista de todo o exposto, apesar do insuficiente desempenho dos resultados
intermediários 0087 - Polos de Agricultura Irrigada e 0302 - Capacitação continuada para o
fortalecimento do desenvolvimento regional e urbano, mas em face da superior execução da meta
geral, entende-se que o desempenho governamental em 2021 favoreceu o alcance do objetivo do
Programa 2217.
Por relevante, cumpre registrar que crítica feita pelo TCU no âmbito das contas do
Presidente da República relativas ao exercício de 2020 contribuiu para a redefinição da forma de
aferição da meta do objetivo do programa, cuja unidade de medida era um aumento percentual, para
a unidade numérica, minimizando riscos de erro e manipulação de dados.
3.3.7. Programa Finalístico 2218 – Gestão de Riscos e de Desastres
O Programa Gestão de Riscos e de Desastres engloba diversos órgãos do Governo
Federal, em especial o Ministério do Desenvolvimento Regional, com atuação sistêmica na área de
Proteção e Defesa Civil. Consoante art. 6º da Lei 12.608/2012, compete à União coordenar, em
articulação com os demais entes da federação, o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil –
Sinpdec, que tem por finalidade contribuir no processo de planejamento, articulação, coordenação e
execução dos programas, projetos e ações de proteção e defesa civil. Essa coordenação encontra-se
à cargo da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec/MDR), que exerce as funções de
órgão central e de coordenação do sistema federal de proteção e defesa civil (Decreto 10.593/2020).
3 Dotação Atualizada
Billions
2,6 2,5
Empenhado
2,1 2,1 2,1 Despesa Liquidada
2 1,7 1,6
1,3 1,3
1,2
1,1 1,1 1,1
0,9
1 0,8
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais. Filtro: Programa 2040 (de 2017 a 2019) e 2218 (em 2020 e 2021) – Gestão de Riscos e de Desastres.
Aspecto que chama a atenção na execução orçamentária do programa 2218 diz respeito
à concentração de gastos em ações relacionadas às etapas de resposta aos eventos e recuperação das
áreas afetadas, típicas da fase de gerenciamento pós desastre. Cerca de 80% do montante liquidado
e pago no exercício 2021 foi direcionado para ações de socorro, assistência às populações vitimadas
e restabelecimento de serviços essenciais (aquisição de água potável, cestas básicas, itens de higiene
pessoal, dentre outros), assim como para reconstrução da infraestrutura danificada (construção de
pontes, bueiros, recuperação de canais etc.).
Em outra vertente, as ações de prevenção – medidas prioritárias destinadas a evitar a
conversão de risco em desastre ou a instalação de vulnerabilidades – vêm encontrando dificuldades
para seu financiamento, com impacto direto na evolução física da infraestrutura necessária à
redução da vulnerabilidade da população exposta em áreas de risco alto e muito alto.
Confiabilidade
Procedeu-se ao recálculo do dado fornecido pela Sedec/MDR, mediante a obtenção dos
dados primários junto à fonte provedora e aplicação posterior da fórmula de cálculo para o
Indicador de Capacidade Municipal na atuação da gestão de riscos e de desastres para a Meta
050L, cujo resultado alcançou 3,51 em 2021, sendo compatível ao apresentado oficialmente (3,45).
Qualidade
Conforme metodologia descrita no item 3.3 deste capítulo, verifica-se que, tanto para a
meta 050L - Ampliar de 2,68 para 3,31 a capacidade dos municípios na atuação da gestão de riscos
e de desastres do Programa 2218 quanto para os Resultados Intermediários 0093 -
Empreendimentos de Manejo de Águas Pluviais e 0095 - Capacitação Continuada em Proteção e
Defesa Civil, não foram encontradas evidências suficientes para rejeitar a qualidade ou a
confiabilidade.
Conclusão
Com base na análise das metas realizada de acordo com a metodologia constante na
introdução a este capítulo, não foram encontradas evidências suficientes para rejeitar a qualidade ou
a confiabilidade.
Desempenho das metas em 2021
Em 2021, o Indicador de Capacidade Municipal (ICM) foi impactado positivamente
pela publicação da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do IBGE, que trouxe os
dados relacionados à gestão de riscos (publicada a cada quatro anos). A meta é ampliar o ICM de
2,68 para 3,31 até 2023.
A atualização do ICM ao final de 2021 indica 510 municípios superando a meta de 3,13
(2021). Os itens que mais impactaram foram o aumento do número de planos de contingência, a
capacitação e adesão ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD).
Em âmbito nacional foi alcançado um nível médio de capacidade dos municípios na
atuação da gestão de riscos e de desastres de 3,45, superando a meta prevista de 3,13 (2021). Tal
resultado foi influenciado positivamente pelos avanços ocorridos nas regiões Sul, Sudeste e
Nordeste e negativamente pelas regiões Centro-Oeste e Norte. Nada obstante, quando comparados
os resultados dessas duas regiões em relação aos valores de 2020 (Norte: 2,21 e Centro-Oeste:
1,36), conclui-se que em 2021 houve significativos avanços em todas as regiões do País.
A Tabela a seguir aduz a regionalização dos resultados associados à Meta 050L:
Índice de Capacidade Municipal (ICM) na Atuação da Gestão de Riscos e de Desastres
Meta Meta Quadriênio 2020-
Região Apurado 2021
2021 2023
Norte 3,32 2,96 3,76
Nordeste 2,60 2,88 2,71
Centro-Oeste 2,43 1,84 2,86
Sudeste 3,19 3,92 3,31
Sul 4,03 4,47 4,19
Média
3,13 3,45 3,31
Nacional
Fonte: Elaboração própria a partir do S2iD (Sedec); MCR2030 (ONU); CPRM e Pesquisa Munic 2020 (IBGE).
4
Billions
3,1
2,9 2,8
3,0
3 2,6
2,5 2,4 2,4
2,0 Dotação Atualizada
1,8 1,9 1,8
2 1,7
1,4 Empenhado
1,1 Despesa Liquidada
1
-
2017 2018 2019 2020 2021
Confiabilidade
Sobre a possibilidade de a meta rejeitar, ou não, uma possível manipulação do resultado
(conforme metodologia descrita na introdução a este capítulo), considera-se que, da forma como
foram concebidas as metas e seus indicadores, não estão livres de manipulação, restando como
remédio contra esse mal a existência de controles internos eficientes e eficazes, além de, por via de
consequência, boa governança. Além disso, deve-se considerar que foram positivas as respostas aos
outros dois quesitos sobre a característica “credibilidade”, uma vez que as fontes dos dados são a
priori confiáveis, bem como são baixas as probabilidades de que os dados fornecidos por essas
fontes contenham erros de medição ou transcrição. Assim, por esses motivos, não houve rejeição de
meta alguma pertinente ao programa 2221 por conta do atributo confiabilidade.
Qualidade
Quanto ao atributo qualidade, tem-se que, relativamente ao programa 2221, as metas do
objetivo e dos resultados intermediários não devem ser rejeitadas, em que pesem as características
Smart “mensurabilidade” e “realismo” terem sido avaliadas como não atendidas para a maioria dos
resultados intermediários, assim como a característica “especificidade” do resultado intermediário
0207. O não atendimento, nos termos da referida metodologia Smart, dessas mencionadas
características, porém, por não ter se verificado para todas as características da meta do programa
2221, nem para todas as metas de cada um dos seus resultados intermediários, não tem o peso
necessário para que se opine com segurança pela sua rejeição ou, ainda, de algum de seus resultados
intermediários. Além disso, aquelas características não atendidas poderão ser aprimoradas ao longo
deste exercício e do restante, para que as metas e seus indicadores espelhem melhor a consecução
do referido programa até o final do PPA em 2023.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, não foram encontradas evidências suficientes para rejeitar a qualidade ou a
confiabilidade da meta e dos resultados intermediários do Programa 2221 – Recursos Hídricos.
Desempenho das metas em 2021
Quanto ao desempenho, a meta 0516 do Objetivo 1174 - Ampliar a Segurança Hídrica
teve um bom desempenho para o previsto para o exercício de 2021, haja vista que a meta projetada
era de se chegar a 37 municípios qualificados no Índice de Segurança Hídrica, na dimensão
humana, mínimo ou baixo, tendo a execução da meta registrado 35, ou seja, houve 94,6% de êxito
na realização da meta estimada para 2021. Por outro lado, relativamente à meta prevista para o
quadriênio do PPA 2020-2023, que é de 132 municípios atendendo ao critério estabelecido, a
execução está em 26,5%, que logicamente não destoa muito do estimado para 2021, cujo percentual
corresponderia a 28,0% da meta para o quadriênio.
No que tange ao desempenho das metas fixadas para os “resultados intermediários”,
verifica-se que três dos cinco selecionados pelo PPA 2020-2023 atingiram os valores estipulados de
metas para 2021, quais sejam, 0116, 0117 e 0209, ao passo que o “resultado intermediário” 0207
(Reabilitação de barragens e de outras infraestruturas hídricas) superou o previsto em muito, pois,
em vez das sete unidades programadas, alcançaram-se 41 unidades. Já para o “resultado
intermediário” 0208 (Recuperação de reservatórios estratégicos para a integração do Rio São
Francisco), apurou-se uma execução de 34,8%, ou seja, menos que os 43,5% fixados, o que
equivale a 80% da meta programada para 2021.
Todavia, é preciso atentar que, embora a performance da execução do “resultado
intermediário” 0207 tenha superado muito sua meta, a definição da métrica que a avaliou não foi
bem concebida, emprestando-lhe um caráter fortemente subjetivo e dependente da
discricionariedade do avaliador. Isso transparece inclusive na aplicação da metodologia Smart
utilizada para a avaliação do atributo “qualidade” da meta, em que se avaliou o atributo qualidade
apenas medianamente satisfatório, uma vez que, das cinco características da metodologia Smart de
aferição da qualidade, três foram pouco satisfatórias, quais sejam, especificidade, mensurabilidade e
realismo, o que deve ter favorecido sobremaneira a índole preponderantemente subjetiva dessa
meta.
No tocante à execução do “resultado intermediário” 0208, em que se observou um
atendimento de 80% da meta prevista, porém, a avaliação pela metodologia Smart do atributo
qualidade resultou satisfatória, uma vez que somente duas das cinco características Smart foram
avaliadas como pouco satisfatórias, isto é, apenas as características mensurabilidade e realismo. Isto
é um sinal de que a meta definida para esse “resultado intermediário” é mais fidedigna do que a do
“resultado intermediário” 0207, tendo assim retratado com mais propriedade o resultado que foi
alcançado com a ação realizada.
3.3.9. Programa Finalístico 1040 – Governança Fundiária
A política pública de regularização fundiária é relevante e necessária para o país, uma
vez que sua efetividade está associada à melhoria dos indicadores regionais de desenvolvimento
econômico, social e ambiental, proporcionando garantia do direito de propriedade da terra,
segurança jurídica aos cidadãos, inclusão produtiva de trabalhadores rurais facilitando o acesso a
crédito, redução de conflitos agrários e dos passivos ambientais.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é responsável pelo
Programa 1040 – Governança Fundiária, que tem como Objetivo “Promover a regularização da
ocupação e do domínio da terra (regularização de imóveis)”. Para medir o alcance desse objetivo,
foi determinada como meta para o período do PPA 2020-2023 elevar de 0,00% para 19,50% o
Índice de Regularização Fundiária até 2023, a ser aferida, anualmente, pelo indicador “Índice de
Regularização Fundiária – IRF”.
Com as mudanças ocorridas a partir da Medida Provisória 870/2019, a competência
para execução dessas ações ficou distribuída entre a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários –
SEAF/Mapa e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), autarquia vinculada.
A fim de atingir os objetivos da governança fundiária, é necessária uma eficiente articulação
federativa entre União e governos estaduais e municipais, cabendo à União a responsabilidade de
coordenar a execução da política, visando à gestão integrada do território nacional.
De acordo com os dados do Siop, a execução orçamentária das Funções 20 –
Agricultura e 21 – Organização Agrária foi a seguinte:
Execução orçamentária das Funções 20 – Agricultura e 21 – Organização Agrária – 2017 a 2021
45
Billions
38,4
40
34,8
35 31,2
27,7 28,5
30
25 21,6 21,5 Dotação Atualizada
19,3 18,1
20 Despesa Liquidada
16,3
% de Execução
15
10 56,1% 61,7% 62,0% 58,8% 63,5%
5
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais. Filtro: Função 20 – Agricultura e 21 – Organização Agrária.
Confiabilidade
O indicador utilizado para mensuração do desempenho é o “iFR-Indice de
Regularização Fundiária”, correspondente ao alcance percentual de atendimento, em relação ao
universo, das parcelas a serem objeto de emissão de documento titulatório identificadas em
11/6/2019 (data de referência da linha base), abrangendo glebas públicas e particulares (485.000) e
parcelas individuais em projetos de assentamento (540.875).
Conforme indicado no Siop, a demanda de regularização fundiária por região é a
seguinte:
Norte 275.069
Nordeste 571.797
Centro-Oeste 43.370
Sudeste 94.591
Sul 41.048
TOTAL: 1.025.875
A meta é calculada utilizando-se o número de processos de regularização fundiária
concluídos por região política do Brasil disponibilizado pelas Diretorias de Ordenamento da
Estrutura Fundiária e de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento do Incra, dividindo por
1.025.875, que é a estimativa do número total de processos que demandavam regularização
fundiária em 2019.
Verifica-se que o iFR está intimamente ligado à meta escolhida, por se tratar, em
primeira análise, de um indicador que aborda o desempenho do Incra da conclusão dos processos de
titulação por meio da ótica da eficácia e efetividade, medindo o grau com que o Incra atinge a
finalidade pretendida com a emissão de títulos da terra definitivos e provisórios.
O título provisório (CRO para Regularização Fundiária e CCU para Reforma
Agrária) são documentos essenciais para que o interessado tenha acesso a políticas públicas tais
como energia elétrica, cartão do produtor, crédito instalação, entre outros. Tais documentos
demandam o mesmo esforço dos servidores da Autarquia, bem como orçamento, para que sejam
emitidos. Razão pela qual devem ser considerados na fórmula.
Não foram detectadas falhas relevantes quanto à confiabilidade do indicador, o qual é
fidedigno, pode ser acompanhado ao longo do tempo, bem como aferido anualmente e de forma
tempestiva para o monitoramento do PPA.
Qualidade
A meta escolhida 052H está adequada e coerente com a finalidade do Programa pois
declara o percentual quantitativo a ser alcançado que contribui para o alcance do seu objetivo de
regularização da ocupação e do domínio da terra e o produto entregue é relevante.
O responsável pela execução da meta é o Incra por meio das suas Diretoria de
Ordenamento da Estrutura Fundiária e Diretoria de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento
e o público-alvo são os detentores de imóveis particulares, parcelas individuais em projetos de
assentamento e povos e comunidades tradicionais remanescentes em todo o território nacional.
Verifica-se que a meta se encontra anualizada, apresentado o ponto de partida
(0,00%) e o patamar que se deseja alcançar (19,50%), quantificando e comunicando adequadamente
a transformação da realidade almejada a cada ano (títulos da terra efetivamente emitidos), conforme
definição do atributo no Manual Técnico do Plano Plurianual do Governo Federal 2020-2023 (p.
48).
Cumpre destacar que, para o cálculo do iFR, são considerados os títulos provisórios e
definitivos de regularização fundiária e de projetos de assentamento, sendo que, dos 248.638
documentos titulatórios emitidos em 2020 e 2021, 45.971 foram títulos definitivos e 202.667 foram
títulos provisórios (CRO para Regularização Fundiária e CCU para Reforma Agrária).
De acordo com os dados incluídos no Siop, esse resultado foi alcançado por meio de
um esforço conjunto entre o Incra/Sede e as Superintendências Regionais (SR), incluindo estratégia
de normatização, orientações, reuniões de trabalho (principalmente remotas), capacitação, apoio
operacional, planejamento integrado e constituição de equipes de trabalho. Como limitações
existentes, foram destacadas as dificuldades inerentes à pandemia de Covid-19 que limitaram as
atividades de campo nos Projetos de Assentamentos e a redução do quadro de servidores do Incra
por aposentadorias, tanto no Incra/Sede como nas SR, situação que vem se agravando
consideravelmente nos últimos anos, com perspectiva de piorar em curto prazo se não houver
concurso público. Outra restrição indicada foi relativa ao orçamento, em termos de valores
disponibilizados e atrasos na liberação.
Ainda em 2021, buscando tornar mais eficaz a política pública de titulação, foi
instituído o Programa Titula Brasil, com objetivo de aumentar a capacidade operacional do Incra na
execução das políticas tendo o apoio dos municípios por meio de Núcleos Municipais de
Regularização Fundiária (NMRF), uma parceria operacionalizada mediante Acordos de Cooperação
Técnica entre o Incra e as Prefeituras. Outra ação realizada pelo Incra foi o lançamento da
Plataforma de Governança Territorial (PGT), que faz parte da transformação digital que vem para
modernizar e agilizar a prestação de serviços do Incra ao cidadão, proporcionando ambiente
necessário para a aceleração da titulação no exercício 2022 e seguintes.
Outras informações relevantes
No âmbito do TCU foi iniciada em 2021 a Produção de Conhecimento (TC
036.767/2021-2) para o acompanhamento do desenvolvimento da Plataforma de Governança
Territorial, escopo de contrato firmado pela Autarquia com o Serviço Federal de Processamento de
Dados (Serpro), com vistas ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para assegurar mais
agilidade e confiabilidade no processo de emissão de títulos de domínio pelo Incra.
3.3.10. Programa Finalístico 1041 – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade
O objetivo do programa, de responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente, é
fortalecer a conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios do uso da Biodiversidade e
dos Recursos Naturais, de forma a combater e reverter as suas perdas e a redução dos serviços
ecossistêmicos, por meio de políticas públicas integradoras. Para medir o alcance do objetivo do
programa foi determinada a meta de desenvolver estratégias e instrumentos de gestão para
conservação, monitoramento, recuperação, uso sustentável e repartição de benefícios da
biodiversidade.
Este programa só passou a existir a partir do exercício de 2020, inclusive, por força da
Lei 13.971/2019, de 27/12/2019, que instituiu o Plano Plurianual da União para o período de 2020 a
2023. Antes, no Plano Plurianual do ciclo de gestão 2016-2019, a Política de Biodiversidade
constava do Programa 2078 - Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, coordenado pelo
Ministério do Meio Ambiente, especialmente pela Secretaria de Biodiversidade. Para o ciclo 2020-
2023 a temática passou a ser abordada no Programa Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade dos Recursos Naturais. O termo “Recursos Naturais” foi incluído ao nome do
Programa, com a finalidade de ampliar o escopo de atuação, incluindo-se a agenda de licenciamento
e fiscalização.
600
Millions
501,3
500
400
321,2 317,3
288,2 Dotação Atualizada
300
232,9 Despesa Liquidada
225,9
207,5 192,7 % de Execução
200 151,5
126,9
100
57,5%
70,3% 73,4% 73,0% 65,8%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop. Filtro: Programa 1041 – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade e dos recursos naturais (2020-2021),
e Programa 2078 – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (2017-2019). Valores reais.
Fonte: Elaboração própria a partir da Prestação de Contas do Presidente da República 2021 e de informações prestadas
pelosórgãos/entidades responsáveis pelas metas.
Confiabilidade
A Meta 052D não é quantificável. Sua avaliação depende de uma cesta de resultados
intermediários, bem diversos entre si, variando desde número de cursos e número de estratégias,
iniciativas e instrumentos até percentual de espécies ameaçadas de extinção objeto de Planos de
Ação de conservação. Todos esses dependem de uma variada rede de mensuração de resultados.
Desse modo, verifica-se que, neste momento, não existe um Indicador que possa retratar
e permitir o monitoramento da meta do objetivo do programa. O que afeta também sua qualidade,
mormente nas características de ser específico, mensurável e apropriado.
A observação acima se aplica em maior ou menor grau não só à Meta do programa
quanto a seu Indicador e seus resultados intermediários. Segundo informações do MMA tentou-se
chegar a uma meta quantitativa, e não se conseguiu. Daí decorreu o grande número de Resultados
Intermediários. Segundo o referido Ministério, a ação quanto à Biodiversidade envolve vários
aspectos, embora com uma só resultante. Haveria problemas se se fechasse um aspecto específico,
e assim as próprias características do Programa dificultam a criação de um Indicador que sintetize
tudo. O MMA informou que pretende aperfeiçoar essa questão no novo PPA, a vigorar a partir de
2024.
Qualidade
O programa 1041 tem seu único objetivo avaliado por apenas uma Meta. A Meta
consiste na 052D - Estratégias e instrumentos de gestão desenvolvidos para conservação,
monitoramento, recuperação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade. Trata-se
de Meta não quantificável, e que portanto sofre de deficiências por não ser específica (tem muitos
propósitos, soltamente interrelacionados); não ser mensurável; não ser apropriada (pois pouco
orienta a ação e pouco possibilita um rápido entendimento do estado em que o atingimento do
objetivo se encontra); não ser realista (pouco se pode na prática afirmar sobre seu realismo); nem ter
um tempo determinado para cumprimento (por se constituir mais em atividade normal do Poder
Público na área ambiental, sem tempo determinado). Assim, até o momento, a meta carece de
características de mensurabilidade e especificidade para avaliação de sua qualidade.
Com relação aos resultados intermediários previstos, cada resultado foi avaliado
individualmente e os resultados fornecidos no Espelho do Monitoramento. Em breve suma, pode-se
observar o seguinte:
RI 0263 - Monitoramento da gestão das Unidades de Conservação
O Indicador se refere ao número de Unidades de Conservação monitoradas por
ferramentas de avaliação de efetividade de gestão. Teve seu valor apurado com base nos dados
coletados pelas ferramentas Sistema de Análise e Monitoramento da Gestão (SAMGe) no período
de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2021.
O Indicador tal como se encontra redigido torna-se pouco claro, sem definir se se trata
de um só sistema ou de vários, nem esclarecer a natureza do sistema SAMGe, o que concerne à
qualidade do Resultado Intermediário, por afetar suas características de ser específico e apropriado.
O que por sua vez reduz o significado do Indicador para o público consulente.
RI 0265 - Estratégias e instrumentos para a conservação e o uso sustentável da
biodiversidade brasileira e para o controle de espécies exóticas invasoras elaboradas
O Indicador consiste na enumeração de ações que têm naturezas muito diversas. Inclui,
entre outras, a reinstalação da Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO) e a aprovação da
minuta de Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção no âmbito da CONABIO para atualização das
Listas Nacionais Oficiais; a instituição de Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para avaliar e
recomendar ações de conservação e uso sustentável para espécies pertencentes à Lista Nacional das
Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção - Peixes e Invertebrados Aquáticos; a
publicação de lista de espécies nativas da biodiversidade de valor alimentício, para fins de
comercialização in natura ou de seus produtos derivados; a impressão do Livro Plantas para o
Futuro – Região Norte; e a impressão de material informativo para campanha contra o peixe-leão,
visto tal espécie exótica poder causar grande impacto no ecossistema marinho brasileiro.
O Indicador tal como se encontra redigido consiste em simples contagem de ações
diferentes, o que compromete sua qualidade, mormente as características de ser específico,
mensurável e apropriado. Segundo informações do MMA este RI realmente possui características
de amálgama, assim como de certa forma os demais neste Programa. Informou ainda o Ministério
que há duas vertentes na ação na Biodiversidade, a conservação de espécies e o uso sustentável; e
que se se fechasse em uma vertente específica haveria o problema de excluir aspectos importantes
da ação programática.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
4
Billions
3,3
3 2,7
2,5 2,5
2,2 2,2
Dotação Atualizada
1,8 1,9
2 1,7
1,6 Despesa Liquidada
% de Execução
82,4%
1
88,8% 88,5%
84,3% 91,1%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais. Filtro: Função 25 – Energia, dados dos orçamentos fiscal e da seguridade social (OFSS).
Francisco - Chesf
Furnas - Centrais Elétricas S.A. 937.888.558 575.708.602 61,38
Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras 639.971.000 523.467.969 81,80
Centrais Elétricas do Norte do Brasil
411.363.073 298.507.715 72,57
S.A. - Eletronorte
Companhia de Geração e
Transmissão de Energia Elétrica do 403.344.626 225.095.521 55,81
Sul do Brasil - CGT Eletrosul
Total Geral 2021 (Função 25 - Subfunção 752) 6.768.492.958 4.039.490.816 59,68
Fonte: Resposta à diligência (TC 000.562/2022-0).
Confiabilidade
Assim como em 2020, a meta do objetivo do Programa 3001 (meta 0050) consiste em
manter em 100% o índice de Expansão da Geração (IEG), ou seja, implementar toda a capacidade
de geração prevista para o ano, independentemente do tipo da fonte. Nesse sentido, o governo
previu um incremento total de geração acumulada de 100% do previsto no ano de 2021, do qual
informou ter alcançado 158%. Foi verificada uma expansão de 7.562 MW na geração de energia
elétrica centralizada e, de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), a previsão
da expansão da capacidade de geração em 2021 era de 4.791 MW. O resultado positivo obtido em
2021 foi explicado, principalmente, pela antecipação de usinas eólicas na região Nordeste (cerca de
2 GW além do estimado), por ações de monitoramento e coordenação realizadas pelos agentes do
setor e incentivos de mercado.
Para o resultado intermediário RI 0099 - Expansão da Capacidade instalada de Geração
de Energia Elétrica - Não Renováveis, a meta consiste em implementar toda a capacidade de
geração prevista considerando tão somente fontes não renováveis. A previsão era de expandir
cerca de 70% da produção de energia elétrica nacional, o qual finalizou o mês de março de 2021
com 35,3% e, em 10/11/2021, estava com apenas 18,53%. À época da fiscalização, concluiu-se que
existia risco de a crise hidroenergética se estender para os anos seguintes, em especial para 2022,
em razão da expectativa de que o volume dos reservatórios ao final do período úmido de 2021/2022
ficasse próximo ou abaixo dos níveis verificados em 2021. O Ministro Relator Benjamin Zymler
autorizou a oitiva do CMSE e do MME. O cenário desfavorável reverteu-se e, atualmente, o
relatório de fiscalização aguarda análise pela Corte de Contas.
Qualidade
Não foram identificadas falhas ou distorções relevantes quanto à qualidade da meta do
objetivo (meta 0050). No entanto, registra-se que, embora apropriada do ponto de vista de alcance
do objetivo, não atende todas as características do atributo “especificidade”, por não expressar
claramente o que deve ser alcançado. A meta informa apenas um percentual para alcance no
quadriênio, não indicando objetivamente o valor alvo para expansão da geração. Em outras
palavras, informa-se que se quer cumprir “100%” do índice, sem indicar um dado mensurável, qual
seja o quantitativo de MW. Contudo, considerando que o indicador utiliza a previsão de expansão
de capacidade de geração registrada no Plano Decenal de Energia (PDE) do Ministério de Minas e
Energia para o período, é possível obter a informação de forma indireta.
Quanto aos resultados intermediários analisados, que indicam valor em MW e em km,
respectivamente, não foram identificadas falhas ou distorções relevantes que afetem a qualidade dos
resultados informados.
Cabe registar que, em resposta ao ofício de requisição expedido, o MME informou que
em vista da pandemia do novo coronavírus e seu impacto sobre a ação governamental, a meta
originalmente estabelecida para o resultado intermediário RI 0102 – Universalização do Acesso à
Energia Elétrica – Programa Luz para Todos, para o quadriênio 2020-2023 se revelou irrealista, ou
seja, não alcançável no período previsto a custo razoável e considerando o histórico de realização e
as restrições existentes. Assim, o órgão informou que, com vistas a não deixar uma parcela da
população desassistida, será realizada uma avaliação sobre a necessidade de prorrogação deste
programa de eletrificação rural.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, é possível apresentar o seguinte resultado: não foram encontradas evidências
suficientes para rejeitar a qualidade ou a confiabilidade da meta do objetivo do Programa 3001
(meta 0050), bem como dos resultados intermediários RI 0099, RI 0100.
Desempenho das metas em 2021
Levando em consideração os dados acima apresentados, é possível reconhecer um
desempenho adequado da meta do objetivo e dos resultados intermediários.
Cabe notar que, para a meta do objetivo, o governo previu um incremento total de
geração no ano de 2021 de 4.791 MW, e foi verificada uma expansão de 7.562 MW na geração de
energia elétrica centralizada, índice bem acima do previsto, explicado, principalmente, pela
antecipação cerca de 2 GW de capacidade instalada de usinas eólicas na região Nordeste, além do
estimado.
3.3.12. Programa Finalístico 3004 – Aviação Civil
O Programa Aviação Civil tem como diretriz a ampliação do investimento privado em
infraestrutura, orientado pela associação entre planejamento de longo prazo e redução da
insegurança jurídica, dentro de um contexto de restrição fiscal para investimentos diretos e grande
número de demandas regionais a serem atendidas.
O programa é fortemente apoiado pelo Programa de Parcerias de Investimentos por
meio de uma política voltada para as concessões aeroportuárias e redução do papel do Estado
através do reposicionamento do papel da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
(Infraero) na gestão dos grandes aeroportos brasileiros, e possui articulação subnacional por meio
da reforma de aeroportos regionais com uso de recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac)
– os quais, por usa vez, são alimentados pelas contribuições ao sistema devidas pelas
concessionárias de aeroportos.
400 363,0
Millions
350 322,5
300
258,5
250 218,7 216,0
Dotação Atualizada
200
Despesa Liquidada
150 % de Execução
96,4 101,6 95,9 93,4
100 65,2
50 29,9% 28,0% 37,1% 29,8% 43,2%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais.
Obs.: Para os anos 2017-2019 foi utilizado o Programa 2017 – Aviação Civil para fins de comparação da série histórica, tendo em
vista que o Programa 3004 só consta no orçamento a partir do ano de 2020.
Confiabilidade
O Indicador de Desenvolvimento da Aviação Civil (IDAC), utilizado como parâmetro
para aferição da meta estipulada, é um indicador composto por 3 subíndices: Índice de
Desenvolvimento da Rede Aeroportuária – IDRA (50%) , Índice de Satisfação Geral dos
passageiros – ISGP (30%), e Índice de Segurança da Aviação Civil – ISAC (20%).
Detectou-se a presença de pequenas correções oriundas de inconsistências no cálculo do
IDRA relacionadas a mudança de código ICAO de alguns aeroportos e inclusão de novos
aeroportos anteriormente ausentes, mas que, de forma objetiva, após recálculo, não apresentaram
distorção relevante em relação à meta anteriormente calculada.
Verificou-se também que as fontes dos dados são públicas e divulgadas essencialmente
pelo Cenipa, Anac e SAC/MInfra, e contêm memória de cálculo que permitem a rastreabilidade dos
valores envolvidos. Não foi verificada manipulação das métricas utilizadas, considerando
principalmente que o peso de cada subíndice foi mantido constante nos anos anteriores e não houve
mudança intencional de metodologia para medição do IDAC.
Qualidade
Relativamente à sua adequação, o IDAC destaca-se por reunir em um único indicador as
dimensões de competitividade (IDRA), segurança (ISAC) e provimento de infraestrutura (ISGP).
Em termos de realismo quanto ao atingimento da meta, vale observar que os dois
primeiros anos de aferição foram impactados em razão da Covid-19, sendo a Aviação Civil um dos
setores mais afetados, relativamente ao transporte de passageiros. Tal fator contribuiu
negativamente no subíndice de maior peso, impactando os aspectos relacionados à conectividade e
acessibilidade.
Apesar dos níveis de voo totais em 2021 ainda se situarem abaixo do patamar pré-covid,
alguns estudos internacionais já apontam para a retomada daquele patamar até 2023. Quando
considerados os demais programas relacionados à 7ª rodada de concessões aeroportuárias, às
relicitações dos aeroportos de São Gonçalo do Amarante/RN e de Viracopos/SP, bem como a
possibilidade da realização da Parceria público-Privada (PPP) de Aeroportos da Região Amazônica
e da possibilidade de relicitação do Aeroporto do Galeão e da concessão do Aeroporto Santos
Dumont até o final de 2023, entende-se não ser recomendável a revisão da meta estabelecida até o
final do quadriênio, dadas as possibilidades de alcance dos resultados ainda nos últimos dois anos
do PPA.
Conclusão
Quanto à Meta 0512 não foram encontradas evidências suficientes para rejeitar a
qualidade ou a confiabilidade.
eral eral
229
215 218
eral
192
eral eral
eral
Milhões de Passageiros
eral
eral
eral eral
Escala IDAC
133
eral eral
99
eral
eral eral
eral
eral
eral eral
eral
eral eral
eral eral eral eral eral eral
Fonte: elaboração própria, a partir de dados fornecidos pelo MInfra (IDAC), Anac (passageiros transportados) e IATA (estimativas
de recuperação de tráfego para 2022-2023).
14
Billions
11,7
12 10,9
9,4 9,3 9,1 9,0
10
8,0 8,0
8 6,9 7,0 7,0 Dotação Atualizada
6,4
5,4 5,8 Empenhado
6
4,0 Despesa Liquidada
4
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais. Filtro: Programa 2087 – Transporte Terrestre (de 2017 a 2019) e Programa 3006 – Transporte
Terrestre e Trânsito (em 2020 e 2021).
Para assistir ao alcance de tal objetivo e meta, alguns resultados intermediários foram
pactuados no Programa de Transporte Terrestre e Trânsito do PPA 2020-2023, os quais estão
detalhados, em seguida, na tabela seguinte:
Metas Selecionadas para Análise
Descrição da Meta Indicador Unidade de Meta prevista para 2021 Meta Resultado Há variações
do Objetivo Medida prevista alcançado significativas entre o
para o em 2021 previsto para 2021 e o
quadriênio resultado efetivo?
2020-2023 (S/N)*
Meta 052B -
Melhorar o nível do Indicador de Pontos 4,00 8,00 5,63 Sim, superou
Indicador de Eficiência do Sistema
Eficiência do Sistema de Transporte em 40,75% a
de Transporte Terrestre e Trânsito – meta prevista
Terrestre e Trânsito – IESTTT
IESTTT, passando
1,59 para 8,00
Há variações
Descrição do Valor de Referência ** Meta Resultado
Unidade de significativas entre o
Resultado Indicador prevista alcançado
Medida previsto para 2021 e o
Intermediário Linha para 2021* em 2021
Data resultado efetivo?
Base
0007 - Concessões
Quilometro de
rodoviárias 1/1/2020 0,00 3.118,67 2,845,50 Sim, negativamente
rodovias concedido km
realizadas
0008 - Concessões
Quilometro de
ferroviárias 1/1/2020 0,00 537,00 537,00
ferrovia concedido km Não
realizadas
Construção ou
0009 - Construção ou Adequação de
adequação de Quilometro de 1/1/2020 0,00 348,49 413,40 Sim, positivamente
km
rodovias rodovia realizado por
ano
Taxa de Cobertura
0010 - Manutenção
Conservacional 1/1/2020 88,00 90,00 94,24 Sim, positivamente
de rodovias %
rodoviária
Quilometro de
0011 - Construção de
ferrovia construído 1/1/2020 0,00 68,81 73,00
ferrovias km Sim, positivamente
por ano
Quantidade de
0304 - Adequações adequações
1/1/2020 0,00 1,00 1,00
ferroviárias ferroviárias realizadas unidade Não
por ano
Fonte: Elaboração própria a partir “Mapeamento dos Programas Integrantes da Lei Orçamentária de 2021”
Nota: * Metas não cumulativas, isto é, o valor discriminado refere-se à quantidade a ser alcançada ao final do exercício de cada exercício
** Valor de referência: Consiste no valor assumido pelo indicador em um momento anterior ao início de execução do Plano. O Índice de Referência
corresponde à linha de base do indicador, servindo para acompanhar a evolução desse indicador ao longo do tempo.
Para tanto, tomou-se por base a legislação pertinente (Lei 13.971/2019, Decreto
10.321/2020 e Portaria 5.806 de 14/5/2021 publicada pelo Ministério da Economia), e o disposto
em elementos obtidos por meio de consulta em documentos públicos, a exemplo das publicações
Manual Técnico do PPA 2020-2023, Manual de Indicadores do PPA 2020-2023 e Guia Siop de
Monitoramento do PPA 2020-2023, publicados pelo Ministério da Economia, e em relatórios
divulgados pelo Banco Mundial, pela Confederação Nacional do Transporte - CNT, pela escola
International Institute for Management Development (IMD) e pelo Fórum Econômico Mundial.
A análise realizada neste trabalho adotou como parâmetro a Portaria Segecex 33/2010,
conforme metodologia descrita na introdução deste capítulo.
Confiabilidade
Quanto ao aspecto da confiabilidade dos dados, uma meta foi refutada pelas análises,
conforme demonstrado na tabela seguinte:
Resumo da análise – Quesito: Confiabilidade
Meta rejeitada Atributos rejeitados
Indicador 3 (subíndice) - Quilômetros de
Confiabilidade
rodovias concedidos no período de análise
Fonte: Elaboração própria.
solucionados
Fonte: Elaboração própria.
Verificou-se, levando em conta as informações prestadas pelos gestores para a
elaboração da presente análise, que o Indicador 4 - Carga transportada no modal ferroviário por km
não está perfeitamente alinhado com o objetivo do Programa 3006, carecendo de aprimoramento,
em especial no que diz respeito à característica adequação (Apropriada) indicada na metodologia
Smart, em prejuízo ao atributo qualidade.
Quanto a esse aspecto, pondera-se que embora seja possível estabelecer uma correlação
entre os resultados do indicador 4 com o objetivo do Programa 3006, qual seja “1235 - Promover a
eficiência do sistema de transporte terrestre”, visto ser possível presumir que um aumento da
eficiência do sistema ferroviário reflete-se em um aumento da carga transportada nesse modal, tal
correlação pode variar substancialmente em razão de alterações na demanda dos produtos
transportados, acarretando distorções no valor apurado para o subíndice, e consequentemente no
IESTTT, o que pode induzir conclusões equivocadas a respeito do setor avaliado.
De modo semelhante, o Indicador 12 - Índice de conflitos ferroviários solucionados não
atende satisfatoriamente os requisitos da característica adequação, pois não reflete de maneira
precisa os esforços despendidos para medir a consecução de seu objetivo principal (% de conflitos
ferroviários urbanos solucionados), comprometendo, por decorrência, a precisão do IESTTT, em
prejuízo ao atributo qualidade. Há que se destacar, inclusive, que, considerando os esclarecimentos
prestados pelo DNIT, ficou demonstrada a necessidade de ajustes do subíndice 12.
Ainda quanto ao atributo qualidade, verificou-se que os subíndices 7 e 14 não estão em
perfeita harmonia com a metodologia Smart aprovada pela Portaria Segecex 33/2010, especialmente
no que diz respeito à característica mensurabilidade, pois emprega-se, para mensurar tais subíndice,
dados do exercício de 2020, por haver um delay para a atualização desses dados anuais. De toda
forma, pondera-se que tais fragilidades não são suficientes para indicar a rejeição das metas do
Indicador 7 - Morte no trânsito e do Indicador 14 - Malha rodoviária não-concedida classificada
entre bom e ótimo estado de conservação.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
Metas rejeitadas Atributos rejeitados
Meta do Objetivo: 052B – Melhorar o nível do Indicador de
Qualidade/ Confiabilidade
Eficiência do Sistema de Transporte Terrestre e Trânsito -
IESTTT
Desempenho em 2021
Quanto ao desempenho, verifica-se que a meta do Objetivo “052B - Melhorar o nível do
Indicador de Eficiência do Sistema de Transporte Terrestre e Trânsito (IESTTT), passando 1,59
para 8,00” atingiu resultado previsto para o exercício de 2021, inclusive, superou a meta prevista no
PPA 2020-2023, embora não seja possível afirmar que de fato tenha suplantado a meta em 40,75%,
conforme consta na PCPR 2021.
Por exemplo, corrigindo-se o valor de entrada do Indicador 3 para 850,5 km de rodovias
concedidas (valor alcançado considerado como marco para cômputo a data de assinatura dos
respectivos contratos), o resultado obtido para o IESTTT seria de 4,13, superando também a meta
prevista para 2021 (4,00), porém em apenas 3,25%, em vez dos 40,75% indicados na PCPR 2021.
Pondera-se, assim, que as fragilidades (não exaustivas) verificadas em parcela dos
subíndices podem ter influenciadas na interpretação do resultado do indicador IESTTT,
prejudicando, inclusive, a análise do atributo desempenho da meta avaliada e de seus reflexos no
alcance dos objetivos e no desempenho da Política Nacional de Transporte (PNT).
160
143,3
Billions
137,2 136,2
140 127,2
119,3 121,8 120,0
113,3
120
101,3 100,3
100
Dotação Atualizada
80
Despesa Liquidada
88,7%
60 87,0% % de Execução
83,2%
40 83,2% 83,5%
20
-
2017 2018 2019 2020 2021
Descrição da Meta do Objetivo Unidade de Meta prevista para 2021 Meta prevista para o Resultado
Medida quadriênio 2020-2023 alcançado em
2021
Confiabilidade
Credibilidade
Em relação às metas dos resultados intermediários, quanto a esse requisito não foram
identificadas falhas ou distorções relevantes capazes de ensejar a rejeição de quaisquer das metas
previstas para os resultados intermediários. Contudo, algumas ressalvas são apresentadas a seguir.
As metas intermediárias selecionadas são todas apresentadas de forma direta, sem
fórmulas, sendo apuradas pela mera verificação de dados das fontes primárias. Não se tem, dentre
os resultados intermediários, fórmulas de cálculo que permitam, a priori, a manipulação matemática
dos dados, pois se constituem meramente em verificação das informações apresentadas.
Todavia, a meta 050E, principal meta vinculada ao programa, foi rejeitada neste
requisito, pois possui fórmula de cálculo a qual aplica pesos numéricos sobre os resultados do
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) por etapa escolar, resultando no Ideb
Sintético. Esses pesos foram estabelecidos pelo MEC sem especificar os critérios utilizados para
utilizar diferentes valores para cada etapa do ensino escolar.
Qualidade
Especificidade e Mensurabilidade
Quanto a esses requisitos, não foram identificadas falhas ou distorções relevantes
capazes de ensejar a rejeição de quaisquer das metas.
Adequação
A meta 050E foi rejeitada quanto a este requisito por prever o indicador Ideb Sintético,
vinculado a dados do Ided, os quais são apurados bienalmente, o que impossibilita a avaliação anual
dos resultados do PPA 2020-2023, sendo esta a principal meta vinculada ao programa Educação
Básica de Qualidade.
As metas associadas aos resultados intermediários 0308 e 0312 também foram
consideradas inapropriadas, tendo em vista não se considerar que o produto esperado seja relevante.
Ambas, de acordo com a PCPR 2021, estão relacionadas à oferta de vagas, o que não implica no
efetivo número de matrículas. Portanto, a mera oferta de vagas não possui potencial de impactar a
realidade social.
Para as demais metas, não foram identificadas falhas ou distorções relevantes capazes
de ensejar a rejeição de quaisquer das metas.
Realismo
A meta vinculada ao resultado intermediário 0308 foi rejeitada neste requisito, pois
previu um número de vagas iniciais sem considerar as restrições orçamentárias já existentes quanto
a despesas discricionárias, conforme declarado pelo próprio MEC na PCPR 2021.
Consequentemente, atingiu somente 19,4% em relação à previsão contida na meta.
Quanto às demais metas, entende-se que não foram identificadas falhas ou distorções
relevantes capazes de ensejar a rejeição delas no presente quesito.
Limitação temporal
Em nenhuma das metas analisadas foram identificadas falhas ou distorções relevantes
relacionadas ao aspecto limitação temporal, eis que explicita o espaço temporal para sua realização
(deadline date), ou seja, o “quando?”.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
Metas do Programa 5011 Rejeitadas
Metas rejeitadas Atributos Rejeitados
Qualidade e
050E - Atingir a meta de 5,59 no Ideb Sintético
Confiabilidade
0308 - Fomento de Novas Matrículas EJA-EPT Qualidade
0312 - Formação Continuada de Professores em Educação Bilíngue de Surdos Qualidade
Fonte: SecexEducação/TCU.
Quanto às demais metas analisadas, não foram encontradas evidências suficientes para
rejeitar a qualidade e a confiabilidade.
Desempenho da meta do Programa 5011
Os resultados do Ideb apurados pelo Inep são calculados a cada biênio, em anos
ímpares, e divulgados no segundo semestre do ano seguinte. Portanto, os resultados do Ideb do ano
de 2021 ainda não foram disponibilizados, impossibilitando apurar o alcance da meta estabelecida.
Vale ressaltar que, de acordo com a PCPR 2021, apurou-se, a partir dos índices
alcançados em 2019 e utilizando a metodologia criada pelo MEC, o resultado de 5,03 no Ideb
Sintético.
Ademais, o MEC instituiu um grupo de trabalho, por meio da Portaria MEC 828/2021,
com o objetivo de discutir os impactos da pandemia na educação, apresentando proposta quanto à
disponibilização ou não dos resultados do Saeb e do Ideb, diante do cenário pandêmico atual.
Registra-se, nesse sentido, os riscos inerentes a não divulgação desses dados, ainda que
o cenário pandêmico tenha impactado negativamente os resultados do Ideb e Saeb. A ausência de
acesso a essas informações impossibilita a análise de um dos programas de mais relevância da
educação, o 5011-Educação Básica de Qualidade, visto que sua meta está diretamente vinculada a
esses dois índices, além de violar os princípios da transparência e publicidade.
Cabe ainda destacar a correlação entre esta meta e a meta 7, estabelecida no Plano
Nacional de Educação 2014-2024 (PNE), na qual os índices a serem atingidos no Ideb estão
divididos por etapa escolar: ensino fundamental – anos iniciais, ensino fundamental – anos finais e
ensino médio, cujos resultados, em 2019, foram respectivamente 5,9, 4,9 e 4,2.
Análise dos resultados intermediários
Destaca-se que, dos dezesseis resultados intermediários, quatro (0035, 0036, 0037 e
0038) não possuem dados atualizados até o ano de 2021, por estarem vinculados às informações
obtidas por meio do Censo Escolar e da Pnad Contínua, cujos resultados ainda não foram
divulgados. Todavia, dois deles atingiram as respectivas metas mesmo considerando o índice
alcançado no final de 2020.
Por outro lado, os resultados intermediários 0035 e 0036 estão aquém do esperado,
considerando os dados obtidos até 31/12/2020, com destaque para o resultado 0036-Acesso à banda
larga nas escolas, o qual atingiu o percentual de 60,3% de acordo com a PCPR 2021. Em
contrapartida, por meio de diligência encaminhada ao MEC, obteve-se a informação do resultado
atualizado até o final de 2021 e este teria atingido o percentual de 64,1%, enquanto a meta esperada
para o respectivo ano era de 80%. O MEC relaciona o não alcance deste resultado com os efeitos da
pandemia na presença dos alunos nas escolas e com atrasos na entrega dos sistemas Simec e PDDE
Interativo (Módulo Educação Conectada).
As metas vinculadas aos resultados intermediários 0037 e 0038 estão diretamente
relacionadas às metas 2 e 3, respectivamente, previstas no PNE, de modo que o PPA estabeleceu as
metas anuais, possibilitando um acompanhamento mais efetivo de seus cumprimentos, e alcançaram
os patamares previstos para o ano de 2021, ainda que façam parte do grupo de resultados
intermediários que estão com dados atualizados somente até 31/12/2020.
Quanto aos resultados intermediários não alcançados e com dados atualizados até o final
de 2021, destaca-se o 0308-Fomento de Novas Matrículas EJA-EPT em virtude de ter totalizado
somente 690 matrículas, enquanto a meta prevista para o período previa 3.550 matrículas.
O MEC associa o não alcance desta meta com as reduções orçamentárias para as
despesas discricionárias, o que teria comprometido a execução de diversas políticas públicas.
Destaca que a diferença entre o orçamento solicitado pela Secretaria de Educação Básica e a
dotação atualizada é de R$ 564,5 milhões. Por estes motivos, teria solicitado, na oportunidade de
revisão do PPA 2020-2023, a redução da meta deste resultado intermediário.
Outra meta não alcançada foi a do resultado intermediário 0310-Avaliação formativa
para a alfabetização. Esta meta previa a aplicação de duas avaliações ao longo do ano de 2021, no
âmbito do Programa Tempo de Aprender. Este programa tem como objetivo disponibilizar
Quanto aos resultados das metas alcançadas no ano de 2021, é preciso consignar alguns
aspectos relevantes. O primeiro trata das datas de referência utilizadas para os resultados
intermediários 0031, 0032, 0033 e 0034.
A data de referência da linha de base de tais dados é 31/12/2018, ou seja, um ano antes
do início da vigência do PPA 2020-2023. Os resultados 0030 e 0324 têm datas de referência mais
próximas ao PPA (31/12/2019 e 31/12/2020).
Outra situação verificada, também relacionada aos resultados intermediários 0031,
0032, 0033 e 0034, é que os valores no espelho do monitoramento têm como data de apuração o dia
31/12/2020. Ou seja, os dados que deveriam refletir a situação em 31/12/2021 (segundo ano do
PPA), se referem ao ano anterior (31/12/2020).
Isso se explica porque a fonte dos resultados desses indicadores é o Censo da Educação
Superior, bem como informações prestadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES). Tradicionalmente, esses dados são publicados no último quadrimestre do
ano seguinte ao exercício de referência. Apenas ao final deste ano de 2022 é que estarão disponíveis
os dados de 31/12/2021.
Assim, a avaliação das metas dos resultados intermediários 0031, 0032, 0033 e 0034 do
PPA sempre levará em conta dados defasados. Por exemplo, quando o ciclo se encerrar, em 2023,
os valores do ano de 2022 é que serão apresentados no monitoramento.
Também é interessante ressaltar que foi acrescentado ao programa 5013 mais um
indicador de resultado intermediário neste segundo ciclo de avaliação do PPA 2020-2023, relativo à
ocupação dos programas de residência da Rede Ebserh (0324).
Qualidade
Relativamente ao resultado intermediário 0030-Regulação e Supervisão de Instituições
do Sistema Federal de Ensino, para a característica adequação, não se vislumbrou seu pleno
atendimento: não foi possível identificar relação direta entre a meta 052E (“elevar a taxa bruta de
matrículas na graduação”) com o percentual de instituições de ensino reguladas e supervisionadas.
Apesar de o produto esperado ser relevante e ir ao encontro ao objetivo pretendido pela meta
(fomentar a formação de pessoal qualificado), visto que a supervisão elevaria o nível de governança
nas universidades, aumentando assim a qualidade global do ensino, entende-se que este indicador
não mede diretamente o atingimento da elevação da taxa bruta de matrículas na graduação, que é a
meta do Objetivo do Programa 5013.
A ressalva emitida para este critério no ano de 2020 permaneceu, pois a Seres afirmou
que houve 687 processos de supervisão em 2021, concernente ao combate à oferta irregular de
educação superior e às ações relacionadas ao cumprimento da legislação educacional. Contudo, não
deixou claro os objetivos e os resultados desses atos, não demonstrando claramente que houve o
atingimento da finalidade (ações efetivamente corrigidas/reguladas).
Pelo exposto, acredita-se que o indicador “Regulação e Supervisão das Instituições do
Sistema Federal de Ensino” não atende o padrão de qualidade mínimo requerido para ser aceito
conforme sugerido pela Portaria Segecex 33/2010.
Confiabilidade
No que diz respeito à avaliação da confiabilidade dos resultados intermediários, não há
indicativos de falhas ou distorções relevantes capazes de ensejar a rejeição em relação às suas
confiabilidades e qualidades.
Conclusão
Com base na análise realizada, apresentam-se os seguintes resultados:
Metas do Programa 5013 Rejeitadas
Fonte: SecexEducação/TCU
O Programa 5017 está associado ao Objetivo 1239 – promover ações que garantam e
ampliem o acesso da população a medicamentos e insumos estratégicos, com qualidade, segurança,
eficácia, em tempo oportuno, promovendo seu uso racional. O Ministério da Saúde (MS) é o órgão
responsável pela execução do objetivo desse programa, que possui, para fins de monitoramento, a
meta de adquirir 100% dos medicamentos e insumos estratégicos sob responsabilidade de compra
centralizada pelo Ministério da Saúde para abastecimento do SUS (052I). O desempenho da referida
meta é avaliado pelo indicador 8747 - Percentual de aquisições de medicamentos e insumos
estratégicos em relação à programação.
O gráfico seguinte demonstra a execução orçamentária dos últimos cinco anos.
Execução orçamentária dos últimos 5 anos
18 16,7
16,2 16,0
Billions
15,3 14,8
16
14,0
14 13,0 12,5 12,3 12,3
12
10 Dotação Atualizada
8 Despesa Liquidada
86,5%
78,0% % de Execução
6 81,7% 76,5% 83,1%
4
2
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais.
Filtro: Ações 20AE, 20YR, 20YS, 4295, 4370 e 4705, que representam 97,2% do valor empenhado do Programa 5017 -
Assistência Farmacêutica no SUS no exercício de 2021. Considerando que o PPA anterior (2016-2019) não tinha o Programa
5017, optou-se por apresentar o gráfico com as seis ações citadas, para fins comparativos.
052I - Adquirir 100% dos medicamentos e % de medicamentos e 100% 100% 96,69% Não
insumos estratégicos sob responsabilidade insumos estratégicos
de compra centralizada pelo Ministério da
Saúde para abastecimento do SUS
Confiabilidade
Em relação ao requisito confiabilidade, avaliou-se a característica credibilidade. Quanto
a essa característica, constatou-se, em relação à Meta RI 0155, que o Mapeamento de Programas
Integrantes da LOA 2021 informa que o indicador Número de medicamentos para doenças
prevalentes (negligenciadas, de alto custo e de alta incidência) fornecidos por Farmanguinhos ao
SUS não é cumulativo. No entanto, o Espelho do Monitoramento aduz que desde o início do PPA
2020-2023 foram fornecidas 851.374.770 unidades farmacêuticas, ou seja, o resultado do indicador
é cumulativo. Todavia, entende-se que tal falha não é suficiente para a rejeição da confiabilidade da
meta.
Já em relação à possibilidade de a métrica rejeitar possível manipulação, não se pode
garantir que ela esteja imune à eventual tentativa dolosa de alteração. De fato, foram identificadas
discrepâncias na apuração das métricas da Meta RI 0156.
Verificou-se que a data de apuração do indicador foi 21/1/2022. Como a aferição é
anual, não se poderia considerar processos concluídos nas primeiras três semanas de 2022 para
avaliar o desempenho da meta em 2021.
Por tudo isso, cabe rejeitar a Meta RI 0156 quanto ao atributo confiabilidade. No que se
refere à Meta 052I e à Meta RI 0154, não foram identificadas falhas ou distorções relevantes.
Qualidade
No que se refere à qualidade das Metas dos RI 0155 e RI 0156, constatou-se que
apresentaram algumas falhas ou distorções.
No que toca à característica mensurabilidade, a Meta RI 0155, que como visto
anteriormente, é cumulativa, incluiu em seu indicador unidades farmacêuticas remanescentes do
ano de 2019 que foram programadas e fornecidas em 2020. Ou seja, o indicador que deveria medir
o número de medicamentos para doenças prevalentes (negligenciadas, de alto custo e de alta
incidência) fornecidos por Farmanguinhos ao SUS durante o PPA 2020-2023 incluiu medicamentos
remanescentes de 2019.
Ainda em termos de mensurabilidade, verificou-se que a linha de base utilizada para o
estabelecimento da Meta RI 0156 data de 31/1/2019. Por se tratar de meta que mede, basicamente,
uma atividade, a desconsideração de praticamente toda a informação do desempenho alcançado em
2019 para a sua fixação compromete, ao menos em parte, o acompanhamento do desempenho em
razão de o PPA ter se iniciado em 2020, o que representa uma distorção relevante.
Quanto à adequação, cabe observar que a realização da Meta RI 0156 não está
completamente alinhada ao Objetivo 1239, uma vez que, dentre os processos de Licença de
Importação analisados, podem estar contemplados cosméticos, que não se enquadram na categoria
de medicamentos e insumos estratégicos descritos no objetivo.
Por tudo isso, cabe rejeitar as Metas RI 0155 e RI 0156 quanto ao atributo qualidade.
No que se refere à Meta 052I e à Meta RI 0154, não foram identificadas falhas ou
distorções relevantes.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
Metas rejeitadas Atributos rejeitados
Resultados Intermediários
0155 - Fornecimento de medicamentos para doenças prevalentes
Qualidade
(negligenciadas, de alto custo e de alta incidência).
0156 - Agilização dos processos de Licença de Importação de produtos Qualidade/Confiabilidad
sujeitos à vigilância sanitária. e
Quanto às demais metas analisadas, não foram encontradas evidências suficientes para
rejeitar a qualidade ou a confiabilidade.
Desempenho das metas em 2021
Conforme dados constates do Siop, em 2021 foram adquiridos pelo Ministério da Saúde
966.963.435 unidades de medicamentos de um total de 1.000.056.184 previstos para o ano,
atingindo um percentual de 96,69%. Esse resultado encontra-se abaixo da meta prevista para o
exercício de 2021 de 100%, correspondendo a 96,69% da Meta 052I para aquele período.
É inegável o impacto da Covid-19 sobre as ações de saúde de maneira geral. O
Ministério da Saúde afirmou em nota no Espelho do Monitoramento (documento extraído do Siop)
que tem focado na abertura de processos emergenciais e aditivos, além de realizar o contínuo
atendimento das demandas e dos processos de aquisição em todas as modalidades.
Já o RI 0154, conforme descrito no Siop, ficou abaixo da meta prevista de 81% de
municípios brasileiros com menos de 40.000 habitantes que possuem pelo menos um
estabelecimento credenciado no Programa “Aqui Tem Farmácia Popular”, tendo atingido o total de
75,73% (3.560 dos 4.701 municípios brasileiros com menos de 40.000 habitantes). Importante
destacar que houve uma leve piora em relação ao ano de 2020, quando o percentual alcançado foi
de 75,8%. O Ministério da Saúde alegou que, em 2021, por meio da Portaria GM/MS 2.898/2021,
foi realizada a atualização normativa do Programa “Aqui Tem Farmácia Popular”, de modo a serem
priorizados os municípios com até 40.000 habitantes onde ainda não haja nenhuma farmácia
credenciada ao programa.
No entanto, consultando-se a referida Portaria, identificou-se que a alteração normativa
permite que a abertura de novos processos de credenciamento esteja condicionada à
discricionariedade da Administração Pública e que futuros instrumentos convocatórios poderão
prever “critérios de priorização para seleção dos interessados ao credenciamento”, não
mencionando a priorização de pequenos municípios sem estabelecimentos credenciados.
Conforme os dados apresentados no Siop, o RI 0155 apresentou desempenho superior à
meta prevista. Em 2021, o número acumulado de medicamentos para doenças prevalentes
(negligenciadas, de alto custo e de alta incidência) fornecidos por Farmanguinhos ao SUS somou
851.374.770 unidades, superando em 2,19% (18.233.124 unidades) a meta prevista de 833.141.646
unidades.
No entanto, importante lembrar que, como visto anteriormente, foi incluído em seu
indicador unidades farmacêuticas remanescentes do ano de 2019 que foram programadas e
fornecidas em 2020. Como o resultado do indicador é cumulativo, tal inclusão impactou no
resultado da meta em 2021.
Por fim, o RI 0156 também apresentou desempenho superior à meta prevista. Em 2021,
90% dos processos de Licença de Importação analisados pela Anvisa foram concluídos em até cinco
dias, frente a uma meta de 86,5% (305.970 dos 340.013 processos recebidos pela agência no
período). No entanto, as metas do PPA 2020-2023 podem estar subestimadas, uma vez que,
conforme aduzido anteriormente, a linha de base utilizada para o estabelecimento da Meta RI 0156
data de 31/1/2019, onze meses antes do início do quadriênio. Ou seja, houve a desconsideração de
praticamente toda a informação do desempenho alcançado em 2019 para a sua fixação.
Outras informações relevantes
Em relação ao Programa “Aqui Tem Farmácia Popular” (RI 0154), tramita nesta Corte
de Contas o TC 045.663/2021-1, que trata de Solicitação do Congresso Nacional (SCN) para que o
TCU realize ato de fiscalização e controle no programa a fim de apurar a implementação das
sugestões feitas pelos órgãos de controle para minorar o risco de fraudes e desvios de recursos
públicos.
Para atender à SCN, foi autuado o TC 002.450/2022-4, no âmbito do qual se procederá
ao monitoramento do Acórdão 2.074/2015-TCU-Plenário (proferido no Monitoramento do Acórdão
3.030/2010-TCU-Plenário, referente à Auditoria Operacional tendo por escopo o Programa
Farmácia Popular). Além disso, segundo apuração feita em 31/1/2022, tramitavam nesta Corte 313
Tomadas de Contas Especiais autuadas a partir de 2017, com valor de débito total apurado de R$
116.213.725,10 (não atualizados e ainda sem a incidência de juros).
Face à crise gerada pelo coronavírus, o TCU vem realizando, desde 2020,
Acompanhamento com o objetivo de avaliar a estrutura de governança montada pelo Ministério da
Saúde para o combate à pandemia, assim como os atos referentes à execução de despesas públicas
pelo referido órgão e suas unidades subordinadas, sob os aspectos da legalidade, legitimidade,
economicidade, eficiência e efetividade, o qual se encontra atualmente em seu sétimo ciclo.
Dentre as principais análises desse Acompanhamento, cabe destacar a abordagem em
relação à assistência farmacêutica. Nesse sentido, o TCU, por meio do Acórdão 2.817/2020-TCU-
Plenário, de 21/10/2020, da relatoria do Ministro Benjamin Zymler, determinou ao MS que
elaborasse plano estratégico detalhado para a viabilização, em especial, das seguintes medidas de
gestão e assistência farmacêutica, previstas no Plano de Contingência Nacional para Infecção
Humana pelo novo Coronavírus: garantir e monitorar o estoque estratégico de insumos laboratoriais
para diagnóstico da Covid-19 e de medicamento para o atendimento de casos suspeitos e
confirmados dessa doença; monitorar o estoque de medicamentos no âmbito federal e estadual;
rever e estabelecer logística de controle, distribuição e remanejamento, conforme solicitação e
demanda; bem como garantir estoque estratégico de medicamentos para atendimento sintomático.
A despeito de ter havido tentativa do MS em cumprir a referida determinação,
constatou-se que, em verdade, as alterações promovidas por aquele Ministério implicaram
exclusões de responsabilidades relacionadas ao monitoramento do estoque estratégico de insumos
laboratoriais para diagnóstico da infecção humana pelo novo coronavírus e ao controle,
monitoramento, distribuição e remanejamento dos medicamentos essenciais ao enfrentamento da
Covid-19, que poderiam gerar impactos negativos na coordenação nacional da resposta de
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, sob responsabilidade da Pasta.
No entendimento da equipe de fiscalização, as alterações promovidas justificar-se-iam
em circunstâncias normais, não em situações de contingência que requerem medidas diferenciadas,
ajustadas sob uma perspectiva de enfrentamento de crises. Sendo assim, a expectativa com o
cumprimento da determinação era a de que a revisão do plano de contingência fosse estruturada por
critérios que pudessem fortalecer a atuação do MS, como órgão central, na liderança e na
coordenação nacional da crise causada pelo Sars-CoV-2.
De modo reverso, porém, as alterações implementadas no Plano de Contingência
representaram a exclusão de competências do MS relacionadas à coordenação da Emergência de
Saúde Pública de Importância Nacional (art. 10º, § 1º, do Decreto 7.616/2011) e a atribuições
regimentais de coordenação e fiscalização do SUS (art. 1º, inciso II, do Anexo I, do Decreto
9.795/2019).
Dessa forma, as alterações realizadas pelo MS nas ações relativas à assistência
farmacêutica representaram uma redução no escopo das atividades de gestão logística do MS
durante a crise, em relação ao Plano de Contingência anterior, restringindo as atribuições apenas aos
medicamentos adquiridos centralizadamente. Ademais, a redução de responsabilidades implicou
riscos para a capacidade do MS de coordenar e fiscalizar o SUS durante a pandemia, bem como
para coordenar e executar as ações de epidemiologia e controle de doenças e agravos inusitados à
saúde, de forma complementar ou suplementar em caráter excepcional, quando, entre outras
hipóteses, for superada a capacidade de execução dos Estados e do Distrito Federal.
Por ocasião do sexto ciclo do Acompanhamento supracitado, esta Corte de Contas
identificou que o MS apresentara, em setembro de 2021, o Plano de Ação para a Assistência
Farmacêutica na Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, contendo as medidas para
evitar desabastecimento, responsabilidades dos entes federativos e interação com o Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (Conass) sobre o monitoramento de insumos para Intubação
Orotraqueal.
3.3.17. Programa Finalístico 5023 – Vigilância em Saúde
A Vigilância em Saúde é um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação,
análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando ao
planejamento e à implementação de medidas de saúde pública, incluindo a regulação, intervenção e
atuação em condicionantes e determinantes da saúde, para a proteção e promoção da saúde da
população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças. Juntamente com outros seis
programas, compõe a diretriz 11 do Plano Plurianual 2020-2023, ampliação da cobertura e da
resolutividade da atenção primária à saúde, com prioridade na prevenção, e o fortalecimento da
integração entre os serviços de saúde.
O Programa 5023 está associado ao Objetivo 1200 – Reduzir ou controlar a ocorrência
de doenças e agravos passíveis de prevenção e controle. O Ministério da Saúde é o órgão
responsável pela execução do Objetivo desse Programa que possui, para fins de monitoramento, a
meta de adquirir e distribuir 100% de imunobiológicos de responsabilidade do Ministério da saúde,
conforme programação anual (052K). O desempenho da referida meta é avaliado pelo indicador
denominado “Percentual de imunobiológicos adquiridos de acordo com a programação anual”.
O gráfico seguinte demonstra a execução orçamentária dos últimos cinco anos.
30
Billions
23,9
25
20
14,7 Dotação Atualizada
15
Despesa Liquidada
9,6 % de Execução
10 8,1 8,5 8,3
7,2 6,6
6,1 6,2
5
74,7% 61,4%
75,5% 72,1% 80,5%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais.
Filtro: Ações 20YE, 20AL e 8327, que representam 97,6% do valor empenhado do Programa 5023 - Vigilância em Saúde no
exercício de 2021. Considerando que o PPA anterior (2016-2019) não tinha o Programa 5023, optou-se por apresentar o
gráfico com as três ações citadas, para fins comparativos.
0177 – Maior efetividade na cura de casos Percentual de cura 76,5% 77,5% 64,3% Sim
novos de tuberculose pulmonar com
confirmação laboratorial
0178 – Ação de vigilância de qualidade da Percentual de 50% 60% 47,18% Não
água para consumo humano em municípios municípios
desenvolvendo
ação de vigilância
0179 – Redução do número de casos Número de casos 131.500 94.000 132.954 Não
autóctones de malária no Brasil autóctones de
malária
0352 – Centros de Informações Estratégicas Percentual de 30% 50% 45,74% Sim
em Vigilância em Saúde (CIEVS) com CIEVS com
Confiabilidade
Em relação ao requisito confiabilidade, avaliou-se a característica credibilidade. Quanto
a essa característica, constatou-se que, no que tange à possibilidade de a métrica rejeitar possível
manipulação, não se pode garantir que ela esteja imune à eventual tentativa dolosa de alteração. De
fato, foram identificadas discrepâncias na apuração das métricas das Metas RI 0177, RI 0178 e RI
0179.
Verificou-se que a data de apuração do indicador da Meta RI 0177 foi 30/11/2021.
Como a aferição é anual, não foram incluídos dados de dezembro de 2021 na análise, a fim de
avaliar o desempenho da meta em 2021.
Quanto à Meta RI 0178, a data de apuração do indicador foi 1º/2/2022. Ou seja, incluiu
na análise de 2021 dados de janeiro de 2022. No mesmo sentido, a data de apuração do indicador da
Meta RI 0179 foi 18/1/2022. Ou seja, também incluiu nas análises de 2021 dados de janeiro de
2022.
Por tudo isso, cabe rejeitar as Metas RI 0177, RI 0178 e RI 0179 quanto ao atributo
confiabilidade. No que se refere à Meta 052K e às Meta RI 0352, RI 0353 e RI 0355, não foram
identificadas falhas ou distorções relevantes.
Qualidade
No que se refere à qualidade das Metas dos RI 0177 e RI 0179, constatou-se que
apresentaram algumas falhas ou distorções.
No que toca à característica mensurabilidade, verificou-se que a linha de base utilizada
para o estabelecimento da Meta RI 0177 data de 31/12/2017. Por se tratar de meta que mede,
basicamente, uma atividade, a desconsideração de toda a informação do desempenho do biênio
2018/2019 para a sua fixação compromete, ao menos em parte, o acompanhamento do desempenho
em razão de o PPA ter se iniciado em 2020, o que representa uma distorção relevante.
Ainda em termos de mensurabilidade, verificou-se que a linha de base utilizada para o
estabelecimento da Meta RI 0179 data de 31/12/2018, caracterizando, da mesma forma, uma
distorção relevante para o acompanhamento do desempenho por desconsiderar todo o exercício de
2019.
Quanto à da Meta RI 0355, que trata da vacinação da população-alvo contra a Covid-19,
a data da linha de base foi 1º/1/2020. Nesse ponto específico, não há que se impugnar a qualidade
da meta, uma vez que até 2020 não havia vacina contra o vírus SarsCov2. Além disso, a vacinação
contra o novo coronavírus no Brasil iniciou-se em janeiro de 2021.
Em face do todo exporto, cabe rejeitar, quanto ao atributo qualidade, as Metas RI 0177 e
RI 0179.
No que se refere à Meta 052K e às Metas RI 0178, RI 0352, RI 0353 e RI 0355 não
foram identificadas falhas ou distorções relevantes.
Conclusão
Com base na análise realizada de acordo com a metodologia constante na introdução a
este capítulo, apresentam-se os seguintes resultados:
de 18/3/2021, que instituiu o Auxílio Emergencial (AE) 2021, previsto inicialmente para ser pago
em quatro parcelas mensais. Com a edição do Decreto 10.740, de 5/7/2021, o Auxílio Emergencial
2021 foi prorrogado por mais três meses, passando de quatro para sete parcelas.
Em termos orçamentários, o quadro abaixo apresenta a execução do programa bolsa
família nos últimos cinco anos e em 2021, que se dá conforme apresentado abaixo, segundo sua
dotação e consequente aplicação:
Execução orçamentária dos últimos 5 anos
350
Billions
304,2
300 274,4
250
18 16,6
Billions
15,8 15,5
16
13,6
14 12,8
11,6 11,9
12 10,9 10,4
10 9,3 Dotação Atualizada
Despesa Liquidada
8
% de Execução
6
70,1% 75,5%
4 69,9% 76,8%
2 72,6%
-
2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Siop, valores reais. Filtro: Programa Defesa Nacional, código 2058 (de 2017 a 2019) e 6012 (em 2020 e 2021).
Confiabilidade
A meta do objetivo – Atingir 75% do Índice de Operacionalidade das Forças Armadas –
baseia-se no próprio índice, o qual é calculado pelo Ministério da Defesa a partir da média de três
subíndices: Índice de Operacionalidade do Comando da Marinha; Índice de Operacionalidade da
Força Terrestre; e Índice de Operacionalidade da Força Aérea Brasileira. Os mencionados
subíndices, por sua vez são compostos por uma série de indicadores de 2ª e 3ª ordem.
Em termos de confiabilidade, constatou-se que os dados primários utilizados pelos
Comandos Militares para calcular o respectivo subíndice e os resultados intermediários, em sua
maioria, são extraídos de sistemas corporativos e publicações produzidas pelos Comandos.
Algumas fontes de dados são cobertas por sigilo legal, o que impossibilitou o recálculo dos dados
informados. Todavia, conforme informado pelas forças em resposta às diligências efetuadas,
existem processos de revisão dos dados e dos cálculos realizados por cada força singular. Com base
nas informações recebidas, não foram encontrados motivos para rejeitar a meta 0505 e seus
resultados intermediários em razão da confiabilidade.
Qualidade
A meta é um percentual de um índice composto de três subíndices. Esses são formados
das seguintes variáveis e pesos relativos:
Subíndice Variáveis Peso Relativo
pessoal 0,1
Operacionalidade do
aprestamento 0,1
Comando da Marinha
meios operativos 0,8
capacidade operacional 0,35
Operacionalidade da Força controle do espaço aéreo 0,21
Aérea Brasileira logística 0,22
capacidade de treinamento 0,22
prontidão operacional 0,42
Operacionalidade da Força
prontidão logística 0,33
Terrestre
efetivo 0,25
Fonte: Ofícios n. 17/EGEI/4207, 10-69/EMA-MB e 857-Asse Gov Gest/Vch EME/EME.
Créditos Extraordinários
O montante de créditos extraordinários abertos e reabertos em 2021 foi de
R$ 141,5 bilhões. Além da abertura e reabertura, foram realizadas alterações orçamentárias nessas
dotações (alterações de naturezas de despesas e planos orçamentários) no valor de R$ 465,08
milhões. Relativamente ao instrumento jurídico utilizado, verificaram-se que 84,7% desses créditos
foram abertos por medida provisória, 15,3% por decreto presidencial e 0,08% por portaria.
Registra-se que os créditos abertos por decreto presidencial são decorrentes da
reabertura de créditos extraordinários abertos nos últimos quatro meses do exercício de 2020, nos
termos autorizados pelo § 2º do art. 167 da CF/1988. Assim, o Decreto 10.595, de 7 de janeiro de
2021, reabriu crédito em favor do Ministério da Saúde, no valor de R$ 19,9 bilhões, aberto
originalmente pela Medida Provisória 1.015, de 17 de dezembro de 2020; e o Decreto 10.061, de 15
de janeiro de 2021, reabriu, em favor do Ministério da Saúde, crédito extraordinário, no valor de R$
1,7 bilhão, aberto pela Medida Provisória 1.004, de 24 de setembro de 2020.
Nove ações orçamentárias respondem por cerca de 97% dos créditos extraordinários
abertos ao longo do exercício. Todas elas estão relacionadas com o enfrentamento da Covid-19 e
suas consequências. A tabela a seguir detalha essas principais ações orçamentárias.
Créditos extraordinários abertos em 2021 por ação orçamentária
R$ milhões
Créditos extraordinários abertos por Medida Provisória
00SI - Auxílio Emergencial 2021 para o Enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância 62.608
Internacional Decorrente do Coronavírus (Covid-19)
21C0 - Enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional Decorrente do Coronavírus 23.965
8585 - Atenção à Saúde da População para Procedimentos em Média e Alta Complexidade 13.560
20YE - Aquisição e Distribuição de Imunobiológicos e Insumos para Prevenção e Controle de Doenças 13.320
Os principais órgãos que receberam esses recursos foram cinco, consoante a tabela
seguinte:
R$ milhões
Créditos extraordinários abertos por Órgão
Ministério da Cidadania
Ministério da Saúde 68.467
53.487
de crédito suplementar ou especial que amplie o montante total autorizado de despesa primária
sujeita aos limites de que trata este artigo”.
Considerando que não é possível ter aumento real da despesa primária por meio de
créditos adicionais, sobressai a importância de se definirem prioridades na escolha de políticas
públicas, com vistas a valorizar a qualidade no gasto público.
Outro aspecto que se destaca, após o NRF, diz respeito às fontes de financiamento para
abertura de créditos adicionais. Com a limitação do aumento real do gasto, a maioria dos créditos
adicionais passou a ser aberta por meio de anulação de dotações já existentes, ou seja, o Governo
Federal retira orçamento de determinada área para destinar a outra. Em 2021, por exemplo, cerca de
71% dos créditos abertos tiveram como fonte de recursos a anulação de dotações.
Abertura de créditos adicionais por fontes de financiamento
Fonte: Siop.
O perfil das fontes de financiamento dos créditos adicionais abertos em 2021 sofreu
algumas modificações quando comparado com o ano de 2020. As anulações continuam sendo a
principal fonte, porém houve incremento de 12 pontos percentuais, passando de cerca de 59% em
2020, para 71% em 2021. O montante total de créditos financiados com excesso de arrecadação saiu
de pouco mais de 0,3% em 2020, para cerca de 16% em 2021. Já a utilização de operações de
créditos como fonte de financiamento caiu de 23% em 2020, para apenas 7%, e os créditos que se
financiaram com o superávit financeiro sofreu redução, passando de 19% em 2020, para 6% em
2021.
4.1.1.2. Apuração da Aplicação do Mínimo Constitucional em Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino
O objetivo deste item é examinar o cumprimento da aplicação do mínimo constitucional
em manutenção e desenvolvimento do ensino (MDE). De acordo com o art. 212 da Constituição
Federal, no âmbito da União, a aplicação mínima corresponde a 18% da receita líquida de impostos.
No entanto, a partir da Emenda Constitucional 95/2016 (EC 95/2016), que instituiu o Novo Regime
Fiscal (NRF), com vigência de vinte anos (2017 a 2036), estabeleceu-se que a aplicação mínima em
MDE passaria a equivaler ao valor do mínimo calculado para o exercício de 2017, apurado nos
termos do art. 212, e corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos
exercícios posteriores, de acordo com os arts. 106 e 110 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT).
Considerações Preliminares
Com o advento da EC 113/2021, houve alteração do principal fator de correção das
variáveis do regime fiscal inaugurado pela EC 95/2016, que instituiu os limites de despesas
primárias dos Poderes e órgãos autônomos (Teto de Gasto). Tais limites são corrigidos pela
variação do IPCA. Entre 2018 e 2020, a correção pelo IPCA foi calculada para o período de doze
meses, encerrado em junho do exercício anterior a que se referia a lei orçamentária (julho a junho).
O índice acumulado nesse período corresponde ao fator de correção de 1,1351.
Promulgada em 8/12/2021, a EC 113 não só inaugurou um regime específico de
precatórios, como também alterou a redação do inciso II, do § 1º do art. 107 do ADCT, para mudar
o cálculo de correção do IPCA, que passou a ser de janeiro a dezembro do exercício anterior,
conforme alteração dada pelo art. 2º da emenda em tela. Com a mudança metodológica, o fator de
correção do período 2018-2020 passou para 1,1645, o qual deve incidir, a partir da vigência do art.
2º da Emenda (8/12/2021), sobre o piso ou valor mínimo de manutenção e desenvolvimento do
ensino apurado segundo as regras do inciso II do art. 110 do ADCT.
Cumpre fazer um registro, a título de esclarecimento, no sentido de que a regra do art. 4º
da EC 113/2021 não produz qualquer reflexo sobre os pisos ou valores mínimos a que se refere o
art. 110 do ADCT (saúde e educação). Isso porque, enquanto a regra em comento se refere ao limite
orçamentário de despesas primárias (Teto de Gasto), fixado por Poderes e órgãos, os pisos ou
mínimos de saúde e educação da União, segundo o art. 110 do ADCT, têm natureza diferente.
Ainda que, à primeira vista, possa parecer semelhante, as previsões constitucionais
refletem lógicas bastante distintas entre os mínimos sociais da União e o limite de Teto de Gasto
dos Poderes e órgãos. O único ponto em comum, no contexto da EC 113/2021, é a alteração do
fator de correção definido no inciso II do § 1º do art. 107 do ADCT (IPCA), utilizado tanto para
atualizar anualmente os limites de Teto de Gasto, quanto para corrigir os pisos de educação e saúde.
Embora os mínimos de educação e saúde também sejam resultantes da aplicação do
inciso II do § 1º do art. 107 do ADCT (IPCA), a sistemática prevista no § 1º do art. 4º da EC
113/2021 não é aplicável a tais pisos, cujas despesas mínimas a serem empenhadas anualmente, por
imperativo constitucional, têm preferência sobre todas as outras, não podendo se sujeitar ao
montante de R$ 15 bilhões fixado para: i) não permitir que o Poder Executivo utilizasse a eventual
ampliação do Teto de Gasto para custear qualquer despesa; ii) ainda que a mudança metodológica
do fator de correção produzisse margem de expansão maior no limite Teto de Gasto, o Poder
Executivo ficar limitado a se apropriar do referido montante.
Não se pode deixar de observar que a alteração da metodologia de cálculo do índice de
correção (IPCA) dos limites de despesas primárias dos Poderes e órgãos não foi sem condição e
direcionamento. A própria EC 113/2021 estabelece que a diferença porventura verificada nos
limites orçamentários de Teto de Gasto, no limite de até R$ 15 bilhões, deve-se destinar, em 2021,
a despesas de vacinação contra a Covid-19 ou relacionadas a ações emergenciais e temporária
de caráter socioeconômico (art. 4º, § 1º), ações próprias de políticas públicas conduzidas pelo
Poder Executivo, que passa a ter o limite de Teto de Gasto aumentado, no plano orçamentário, no
referido valor.
Noutra vertente, não há razão lógica para sujeitar o mínimo da educação à regra do § 1º
art. 4º da EC 113/2021, se o valor previsto no referido dispositivo foi expressamente direcionado a
custear ações próprias da saúde (vacinação) e outras consideradas emergenciais e temporária de
caráter socioeconômico que não necessariamente guardam relação com a política de educação. Tal
assertiva é reforçada pela regra prevista no § 6º do mesmo artigo, inserido pela EC 114, de
16/12/2021, segundo o qual o aumento do limite de Teto de Gasto dos Poderes e órgãos, em razão
da correção metodológica da apuração da variação do IPCA, deve se restringir, em 2022, a ações
que integram as políticas de saúde, previdência e assistência social, regra na qual a política de
educação não se inclui.
A técnica legislativa adotada para sistematizar o regime fiscal no texto constitucional
impõe desafios hermenêuticos para que seus fins sejam observados e suas disposições
adequadamente aplicadas. Ao aproveitar e fazer referência ao dispositivo que define o mesmo
indicador de correção (variação do IPCA) dos limites de despesas primárias (Teto de Gasto) para
atualizar os valores mínimos de despesas com educação e saúde, corre-se maior risco de imprecisão
por ocasião de eventuais alterações, a exemplo da que se verifica com a promulgação da EC
113/2021.
A discussão sobre os efeitos da EC 113/2021 sobre os mínimos de educação e saúde
requer um exercício hermenêutico que vise extrair todo o conteúdo da norma, alicerçado no
Fundeb, em face do art. 212-A, inciso VIII, da CF/1988; e iv) os valores residuais referentes a
pagamentos efetuados a aposentados e pensionistas (elementos de despesa 1 e 59) que contrariam o
§ 7º do art. 212 da CF/1988 e o art. 70, inciso I, da LDB (R$ 60.013,32).
Quanto à classificação como MDE de despesas com aposentadorias e pensões, a parcela
residual de R$ 60 mil não foi computada na aferição do mínimo no exercício de 2021, embora
permaneça marcada com o ID-USO 8. No âmbito da análise sobre as Contas do Presidente no
exercício de 2020 (CG 2020), houve recomendação para que o Ministério da Educação e as
unidades orçamentárias vinculadas que se abstivessem de executar essas despesas como MDE, sem
se restringirem àquelas computadas na apuração anual do limite mínimo. Por essa razão, essa
recomendação será reiterada.
Observa-se que, no cálculo do Demonstrativo de MDE que integra o RREO do
encerramento do exercício (Anexo 8), não foram excluídos os valores referentes ao pagamento de
benefício assistencial a estudantes de nível superior – ação orçamentária 4002 (R$ 150 mil). Essa
situação não gera distorção com os valores apresentados nas tabelas seguintes em virtude da baixa
materialidade e dos arredondamentos efetuados na aferição do cumprimento da aplicação mínima.
Deve-se pontuar que a pertinência de classificar tal despesa como MDE está em estudo no âmbito
do Grupo de Trabalho constituído no âmbito da Secretaria-Executiva do ME, pela Portaria MEC
878, de 6/10/2021, para análise das ações orçamentárias que compõem as despesas com MDE.
Pelo texto original do art. 212 da Constituição Federal, o limite mínimo de aplicação em
MDE seria de R$ 76.803 milhões (18% da receita líquida de impostos). Entretanto, com a regra
introduzida pela EC 95/2016, posteriormente atualizada pela EC 113/2021, o limite mínimo de
aplicação em MDE no exercício de 2021 foi de R$ 57.038 milhões (fator de correção de 1,1645),
conforme demonstrado na tabela seguinte.
Despesas de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
R$ milhões
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino – Exercício de 2021 SIAFI¹ RREO²
(A) 18% da receita líquida de impostos do ano corrente - 2021 (regra antiga) 76.803 73.803
(B) Valor calculado com base na aplicação mínima em 2017 - corrigido pelo IPCA acumulado
57.038 57.038
de 2018 a 2020 (EC 113/2021 = 1,1645)
(C) Despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino em 2021 76.321 76.321
1. Fonte: Tesouro Gerencial;
2. Fonte: Anexo 8 do Relatório Resumido da Execução Orçamentária – Dezembro de 2021 – Secretaria do Tesouro Nacional.
o montante aplicado foi de R$ 76.321 milhões, com excedente de R$ 19.282 milhões (33,81%) em
relação ao mínimo a ser aplicado no exercício de 2021 (R$ 57.038 milhões).
Em complemento, deve-se registrar que, com a implementação das mudanças inseridas
pela EC 95/2016, a partir de 2018, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) passou a suprimir, no
demonstrativo do RREO, o detalhamento dos dados referentes às receitas de impostos do exercício
corrente, passando a informar, no que se refere às receitas, apenas o valor do limite mínimo a ser
aplicado.
No entanto, para continuidade do acompanhamento da série histórica e transparência
das informações, convém demonstrar que 17,9% da receita líquida de impostos referiram-se ao
financiamento público de MDE no exercício de 2021, contra 22,74% no exercício anterior.
Receitas e despesas relativas à manutenção e desenvolvimento do ensino – exercício de 2021
R$ milhões
Especificação SIAFI¹ RREO²
(A) Receita de impostos 703.561
(B) Transferências para estados, DF e municípios (repartição de receita) 276.877
(C) Receita líquida de impostos após repartição de receita (A-B) 426.684
(D) Despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino 76.321 76.321
Participação da manutenção e desenvolvimento do ensino da receita líquida (D/C) 17,9%
1. Fonte: Tesouro Gerencial;
2. Fonte: Anexo 8 do RREO – Dezembro de 2021 – Secretaria do Tesouro Nacional.
Como se nota, a aplicação federal em MDE supera o limite estabelecido pela regra
atual, porém fica ligeiramente aquém (0,1%) do que seria exigido pela regra do texto original do art.
212 da CF/1988.
No que tange à fiscalização e à transparência das informações, o art. 72 da LDB
estabelece que as receitas e despesas com MDE devem ser apuradas e publicadas no âmbito do
RREO, previsto no § 3º do art. 165 da Carta Magna. No mesmo sentido, LDB, em seu art. 73,
prescreve que os órgãos fiscalizadores examinarão, de forma prioritária, o cumprimento do disposto
no art. 212 da Constituição Federal.
Fontes de Financiamento da Educação
Observou-se que os órgãos do Poder Executivo passaram, a partir de 2020, a adotar
nova interpretação acerca das alterações empreendidas pelo NRF. Em síntese, tem-se adotado certa
discricionariedade quanto à destinação das fontes de custeio das despesas consideradas para fins de
cálculo do mínimo em MDE, com a consideração não apenas daquelas despesas custeadas com
recursos previstos no art. 212 da Lei Maior, referente aos impostos, mas também outros recursos
com destinação específica.
A contribuição social do salário-educação ficou de fora do rol de recursos destinados ao
financiamento do mínimo em MDE, respeitando a destinação específica prevista no § 5º do art. 212
da CF/1988, assim como as receitas decorrentes da participação no resultado ou da compensação
financeira pela exploração de petróleo e gás natural, que devem constituir recursos adicionais ao
mínimo obrigatório (Lei 12.858/2013, art. 4º).
Como constatado em 2020, em 2021 também houve a destinação indevida de recursos
vinculados ao conjunto de políticas sociais que integram a seguridade social (saúde, regime geral de
previdência social e assistência social) para o financiamento de ações típicas de MDE.
Em 2020, houve alocação de R$ 4,75 bilhões da fonte 151 (Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido - CSLL) no financiamento de ações típicas de MDE, a exemplo de despesas de
responsabilidade do MEC com a manutenção de hospitais universitários e assistência à saúde de
servidores públicos (benefício do servidor desprovido de caráter universal e igualitário). Na ocasião
da análise referente às CG 2020, foi observado que em escalada crescente, para 2021, havia sido
alocado R$ 12,37 bilhões da fonte 151 em ações de MDE.
Essas constatações levaram o TCU a proferir recomendação ao Poder Executivo federal
para que se abstivesse de incluir nos Projetos de Leis Orçamentárias Anuais, como fontes de
recursos de MDE, receitas de contribuições sociais destinadas ao custeio da seguridade social,
conforme item 3.5 do Parecer Prévio sobre as contas presidenciais de 2020, ocasião em que foi
consignada a necessidade de observar o entendimento assentado no Acórdão 31/2017-TCU-
Plenário, referente à resposta à consulta de densa abstração normativa, no seguinte sentido:
9.2. nos termos do art. 1º, XVII, da Lei 8.443/92, dar as respostas a seguir aos questionamentos
do consulente:
9.2.1. são aplicáveis a partir da publicação da LC 141/2012, em 16/1/2012, as suas disposições
relativas à definição das ações e serviços públicos de saúde que poderão ser considerados para
fins de cumprimento do valor mínimo a ser destinado à área saúde;
9.2.2. os recursos consignados no orçamento do Ministério da Saúde para serem transferidos, no
âmbito do REHUF, às unidades orçamentárias dos hospitais universitários federais não
podem ser contabilizados para fins de cumprimento do valor mínimo a ser destinado à
área saúde, previsto no art. 198, § 2º, I, da CF/1988; (grifamos)
Conforme destacado no Voto do relator, Ministro Augusto Sherman, os serviços de
saúde dos hospitais universitários integram-se ao SUS, “mediante convênio, preservada a sua
autonomia administrativa, em relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino,
pesquisa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados” (art. 45 da
Lei 8.080/1990). Nesses termos, os hospitais-escola, segundo o Voto, também fazem jus a
pagamento a título de ressarcimento das despesas realizadas com o atendimento à comunidade, o
que tem se efetivado mediante descentralização de recursos por meio da ação orçamentária “8585-
Atenção à Saúde da População para Procedimentos em Média e Alta Complexidade”, constante do
programa de trabalho do Fundo Nacional de Saúde. Somente nessas bases que recursos vinculados à
seguridade social, destinados a ações de saúde, podem ser aplicados pelos hospitais-escola, para o
desempenho de sua missão precípua, que integra a política de educação.
Esse entendimento firmado em sede abstrata balizou a análise do caso concreto
verificado nos hospitais-escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o que resultou
nas determinações proferidas no Acórdão 1.932/2019-TCU-Plenário (rel. Min Walton Alencar
Rodrigues), para que o Ministério da Educação efetuasse o ressarcimento dos recursos vinculados a
ações de saúde destinados, irregularmente, para pagamento de despesas próprias do Ministério da
Educação.
De forma convergente a esses dois julgados, o Tribunal deu ciência à Secretaria de
Orçamento Federal (SOF/ME) e ao Ministério da Educação no sentido de que não existe margem
legal para custear com recursos da seguridade social despesas típicas de MDE, mesmo que se
refiram à assistência médica e odontológica dos servidores do MEC, pois não atendem ao princípio
da universalidade que rege o Sistema Único de Saúde, previsto no art. 2º, inciso I, da Lei
Complementar 141/2012. Além disso, o MEC não figura entre os órgãos autorizados a ter suas
despesas referentes aos ativos e à administração geral financiadas pelas contribuições sociais
destinadas à seguridade social, segundo o art. 18 da Lei 8.212/1991, como se depreende do item
1.6.1 do Acórdão 626-2022-TCU - 1ª Câmara, da relatoria do ministro Walton Alencar Rodrigues:
1.6.1 dar ciência à Secretaria de Orçamento Federal/ME e ao Ministério da Educação, com
fundamento nos arts. 9º e 10º da Resolução-TCU 315/2020, que, mesmo que a assistência
médica e odontológica dos servidores do MEC (ação orçamentária 2004) seja classificada como
MDE, com base no inciso I do art. 70 da LDB combinado com o art. 41 da Lei 8.112/1990, não
existe margem legal para custear essas despesas com recursos da seguridade social, pois
não atendem ao princípio da universalidade que rege o Sistema Único de Saúde, previsto
no art. 2º, inciso I, da Lei Complementar 141/2012, e o Ministério da Educação não figura
entre os órgãos autorizados a ter suas despesas referentes aos ativos e à administração geral
financiadas pelas contribuições sociais destinadas à seguridade social, segundo o art. 18 da Lei
8.212/1991. (grifamos)
Quanto à execução de recursos vinculados à seguridade social no custeio de despesa de
MDE, constatou-se que, em 2021, foi verificada reincidência do desvio de finalidade dos recursos
vinculados à seguridade social para custeio de despesas próprias da educação, em desacordo com o
disposto no item 3.5 do Parecer Prévio sobre as contas presidenciais de 2020.
A irregularidade é verificada pelo empenho de R$ 12,19 bilhões em ações típicas de
MDE com recursos constitucionalmente vinculados à seguridade social (CSLL – fonte 151), dos
quais R$ 9,6 bilhões foram para pagamento de servidores e empregados ativos que integram o
quadro das entidades vinculadas ao Ministério da Educação, R$ 650 milhões para pagamento de
assistência médica e odontológica concedida a título de benefício restrito a servidores da educação,
R$ 612 milhões para contribuição patronal da União, de suas Autarquias e Fundações para o
Custeio do Regime de Previdência dos Servidores Públicos Federais (despesa de pessoal segundo o
art. 18 da Lei Complementar 101/2000) e R$ 507 milhões para reestruturação e modernização de
hospitais universitários federais, dentre outras despesas.
De acordo com a arquitetura constitucional, o Título VIII, que disciplina a Ordem
Social, distingue de forma inequívoca as políticas públicas e suas formas de financiamento.
Enquanto a seguridade social dispõe de regras e princípios próprios no Capítulo II – contemplando
as políticas de saúde, previdência social e assistência social –, a política de educação, prevista no
Capítulo III juntamente com a cultura e o desporto, é regida por princípios e regras específicos que
não permitem a sua inclusão no conceito de seguridade social.
Receitas e Despesas Típicas da Seguridade Social
R$ Milhares
Resultado
da
Receitas Típicas da Seguridade Social Despesas Típicas da Seguridade Social
Seguridade
Social
Descrição Valor % Descrição Valor % Valor
1. Contribuições
1. Despesas
Previdenciárias 461.901.057 49,72% 712.027.487 62,08% -250.126.430
Previdenciárias do RGPS
Vinculadas ao RGPS
2. Outras Contribuições 2. Outras Despesas
Típicas da Seguridade 467.074.044 50,28% Típicas da Seguridade 434.977.366 37,92% 32.096.678
Social Social
2.1. PIS/PASEP (fonte 2.1. Abono Salarial 10.158.254 2,34% -
54.018.586 11,57%
140)1 2.2. Seguro-desemprego 36.229.495 8,33% -
2.2. CSLL (fonte 151) 113.461.830 24,29% 2.3. Saúde 179.077.635 41,17% -
2.3. Cofins (fonte 153) 271.678.648 58,17% 2.4. Assistência Social 168.621.447 38,77% -
2.4. Demais Receitas
2.5. Outras Despesas da
Vinculadas à Seguridade 27.914.981 5,98% 40.890.535 9,40% -
Seguridade Social
Social
para financiar ações de outras políticas públicas, a exemplo da educação, cultura, desporto, a
despeito da sua importância.
A norma prevista no § 2º do art. 195 da Lei Maior é taxativa no sentido de que a
“proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos
responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e
prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de
seus recursos”, em cujo contexto não se insere o Ministério da Educação.
Com exceção das contribuições vinculadas ao regime geral de previdência social, o art.
195 da Constituição prevê que a “lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema
único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos”
(§ 10). Tal dispositivo, associado ao art. 198, fundamenta os repasses regulares e automáticos no
âmbito do SUS regulamentados pela Lei Complementar 141/2012, no total de R$ 108,9 bilhões (ou
61% do orçamento federal em saúde em 2021), e os repasses fundo a fundo no âmbito do Sistema
Único de Assistência Social (Suas) regulamentado pela Lei 8.742/1993, com destaque para a análise
empreendida no Acórdão 944/2021-TCU-Plenário e no Acórdão 12.072/2021-TCU - 1ª Câmara
(ambos da relatoria do Min. Marcos Bemquerer).
Não há como inserir a política de educação nesse arranjo constitucional. Para financiar a
referida política pública, o constituinte previu vinculação da receita de impostos, além da
contribuição do salário-educação, cuja arrecadação somou R$ 24 bilhões em 2021. Deste montante,
R$ 14 bilhões (58,3%) foram repassados aos entes subnacionais e R$ 8,7 bilhões (38%) financiaram
os programas realizados pela União na educação básica, a maior parte mediante transferências
voluntárias aos entes subnacionais segundo as premissas assentadas no Acórdão 3.061/2019-TCU-
Plenário, rel. Min. Ana Arraes. Ressalte-se que desses programas da União, o apoio a alimentação
escolar na escola (PNAE), no valor de R$ 4,2 bilhões, não é computado na aferição do mínimo em
MDE.
Ao se executar ações de MDE com recursos de contribuições típicas da seguridade
social, às quais o constituinte deu destinação específica, infringe-se ainda a determinação disposta
no § 4º do art. 76 do ADCT, uma vez que se passa a dispor desses recursos como se desvinculados
ainda fossem, tal como ocorreu de 2000 a 2019, sob a vigência de previsões expressas nas emendas
constitucionais que instituíram a desvinculação das receitas da União (DRU).
Entretanto, com a promulgação da EC 103/2019, o art. 76 do ADCT excluiu,
expressamente, as contribuições da seguridade social do rol de desvinculações, restabelecendo a
situação do texto original da Lei Maior. Convém observar que a contribuição social do salário-
educação já havia, anteriormente, sido considerada exceção da DRU pela EC 68/2011. O tratamento
em parágrafos distintos das contribuições sociais da seguridade social e do salário-educação torna
ainda mais evidente que esses institutos não se confundem e se destinam ao financiamento de
políticas públicas diferentes:
Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2023, 30%
(trinta por cento) da arrecadação da União relativa às contribuições sociais, sem prejuízo do
pagamento das despesas do Regime Geral da Previdência Social, às contribuições de
intervenção no domínio econômico e às taxas, já instituídas ou que vierem a ser criadas até a
referida data.
...
§ 2° Excetua-se da desvinculação de que trata o caput a arrecadação da contribuição social do
salário-educação a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Federal.
...
§ 4º A desvinculação de que trata o caput não se aplica às receitas das contribuições sociais
destinadas ao custeio da seguridade social. (grifo inserido)
A leitura que se pode extrair do dispositivo constitucional vigente é que, a partir de
2020, a DRU incide sobre as receitas de contribuições sociais outras que não sejam as vinculadas à
seguridade social, a exemplo da contribuição sobre sorteio realizado por entidade filantrópica, com
a ressalva de que já não incidia sobre a contribuição do salário-educação desde 2011.
Além dos R$ 12,19 bilhões executados na fonte 151 (CSLL), pouco mais de R$ 1 bilhão
das despesas classificadas como MDE foram custeadas de forma pulverizadas por diversas outras
fontes, cujos recursos foram alocados ao orçamento da seguridade social, representando pouca
materialidade individualmente.
Apesar da inequívoca inobservância dos preceitos constitucionais na alocação dos
recursos vinculados à seguridade social em 2021, mesmo que as despesas efetuadas com essas
fontes não fossem consideradas na aferição do mínimo, o seu atingimento restaria cumprido, pois o
mínimo exigido no exercício de 2021 (R$ 57,04 bilhões) estaria coberto pela execução das despesas
efetuadas com recursos da fonte 0 – Recursos Primários de Aplicação Livre (R$ 53,99 bilhões) e de
outras fontes do Orçamento Fiscal (R$ 9,4 bilhões), já excluída a parcela excedente à 30% da
complementação da União.
Como já consignado no Relatório das CG 2020, a prática de se utilizar de fontes da
seguridade social deve ser corrigida de forma a cumprir o mandamento do § 4º do art. 76 do ADCT,
além de evitar distorções em futuras apurações do seu resultado. Em razão disso, foram proferidas a
recomendação constante do item 3.5 do Parecer Prévio sobre as CG 2020 e a ciência à SOF/ME e
ao Ministério da Educação no Acórdão 626/2022-TCU - 1ª Câmara. A análise do cumprimento das
recomendações referentes às Contas do Presidente de anos anteriores consta no Capítulo 6 deste
relatório.
Em desfecho, registre-se que, tanto no Projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) de
2020 quanto no de 2021, houve a inclusão de contribuições da seguridade social como fonte de
custeio de despesas típicas de MDE, o que resultou na confirmação dessas alocações nas LOAs
2020 e 2021, respectivamente.
Recursos Vinculados à Seguridade Social Alocados em MDE (PLOA e LOA 2020 a 2022)
R$ 1,00
Exercício Fonte Vinculada à Seguridade Social PLOA LOA
2020 151 – CSLL 4.894.956.208 4.675.008.491
2021 151 – CSLL 12.374.403.479 12.354.432.786
2022 153 – Cofins - 57.728.638
Fonte: Volume I, Quadro 8B (PLOA e LOA 2020 e 2021) e Volume I, Quadro 9B (PLOA e LOA 2022)
2020) para, no mínimo, 12% (em 2021), 15% (em 2022), 17% (em 2023), 19% (em 2024), 21%
(em 2025) e 23% (a partir de 2026), conforme incisos IV e V do art. 212-A e nova redação dada ao
art. 60 do ADCT. Ao final da trajetória (2026), a complementação federal ao Fundeb terá sido
ampliada em 13 pontos percentuais (p.p.).
No primeiro ano de aplicação da EC 108/2020, a complementação convencional,
baseada no Valor Anual por Aluno (complementação-VAAF) da União passou de R$ 15,46 bilhões
empenhados em 2020 para R$ 19,47 bilhões em 2021. Soma-se a este valor a complementação
Valor Anual Total por Aluno (complementação-VAAT) e demais no total de R$ 4,10 bilhões. Ao
todo, a União realizou complementação para educação básica da ordem de R$ 23,57 bilhões. Ao
final da trajetória fixada pela Emenda (2026), o montante da complementação federal poderá
alcançar R$ 65,3 bilhões, segundo projeção realizada pelo Ministério da Economia.
A referida emenda instituiu duas novas modalidades de complementação. Para além da
complementação-VAAF, a novidade mais significativa ficou por conta da complementação pelo
VAAT (10,5 pontos percentuais do mínimo que a União deve complementar de forma adicional até
2026), cuja distribuição traz mudanças na modelagem, especialmente no que diz respeito à sua
destinação para reforçar o orçamento de cada rede pública de ensino municipal, estadual ou distrital,
sempre que o VAAT nas respectivas redes não alcançar o mínimo definido nacionalmente. Outra
inovação trata da modalidade de complementação pelo Valor Anual por Aluno por Resultados
(VAAR), distribuído por rede de ensino e que contemplará indicadores de aprendizagem e de
atendimento, a ser aplicado a partir de 2023.
De acordo com Portaria Interministerial 1/2022 (ajuste anual dos recursos do Fundeb do
exercício de 2021, referentes à complementação da União nas modalidades VAAF e VAAT), o
VAAF definido nacionalmente para 2021 foi de R$ 4.645,38. Quanto à complementação-VAAF da
União (R$ 19,8 bilhões em 2021), continuam como beneficiados desses recursos dez estados das
Regiões Norte e Nordeste (Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba,
Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte) e todos os seus 1.925 municípios. Quanto à
complementação-VAAT (R$ 3,9 bilhões), foram beneficiados 1.567 municípios.
No que tange à distribuição da complementação federal, a grande novidade em 2021
ficou por conta de 227 novos municípios – distribuídos em 14 estados das Regiões Centro-Oeste
(3), Norte (4), Nordeste (1), Sul (2) e Sudeste (4) –, os quais passaram a receber a complementação
federal do VAAT (R$ 309,5 milhões ou 8%), constituindo este um importante avanço da EC
108/2020 voltado para promoção da equidade. Minas Gerais apresentou o maior número de
municípios contemplados (85), seguido pelos estados de Goiás (26), Paraná (26), Acre (16) e
Espírito Santo (15), dentre outros.
Ademais, está em curso levantamento (TC 003.297/2022-5, sob a relatoria do min.
Aroldo Cedraz) com o objetivo de conhecer os procedimentos adotados pelos Ministérios da
Educação e da Economia voltados para implantação das rotinas de definição do valor da
complementação da União ao Fundeb aprovado pela EC 108/2020 e sua distribuição aos entes
subnacionais, bem como levantar possíveis riscos jurídico-fiscais com a constitucionalização do
Custo Aluno Qualidade (CAQ), tendo em vista os riscos apontados Acórdão 2.591/2021-TCU-
Plenário (rel. min. Benjamin Zymler.
Além disso, também constitui aspecto relevante do levantamento a ampliação de 60%
para 70% o mínimo da complementação federal (VAAF e VAAT) a ser aplicado em pagamento dos
profissionais da educação básica feita pelo novo arranjo do Fundeb, em razão de relatos de que os
entes subnacionais têm reivindicado nova complementação federal para honrar o piso nacional do
magistério. Isso pode vir a representar a transferência de obrigações salariais locais para a União, o
que requer atenção e cuidado específicos, seja do ponto de vista fiscal, seja pelo ângulo da
sustentabilidade da política pública.
Interoperabilidade entre sistemas mantidos pela União
IRREGULARIDADE
Desvio de finalidade reincidente de recursos vinculados à seguridade social para o custeio de
ações típicas de manutenção e desenvolvimento do ensino alheias às políticas públicas abrangidas
pelo conceito constitucional de seguridade social, em afronta aos princípios e regras previstos nos
arts. 194, 195, 198 a 203 da Constituição Federal, ao § 4º do art. 76 do ADCT, à Lei 8.212/1991
(arts. 11, 16, 17 e 18), à Lei Complementar 141/2012 (arts. 2º e 3º), em desacordo com a resposta
à consulta apreciada pelo Acórdão 31/2017-TCU-Plenário, com eficácia normativa.
IMPROPRIEDADE
Execução reincidente no identificador orçamentário exclusivo para ações de manutenção e
desenvolvimento do ensino (ID-USO 8) de parcela residual de despesas com aposentadorias e
pensões, em desacordo com § 7º do art. 212 da Constituição Federal e o art. 70, inciso I, da Lei
9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
RECOMENDAÇÃO
Ao Presidente da República, para que se abstenha de incluir, nos Projetos de Leis Orçamentárias
Anuais, como fonte de recursos de ações de manutenção e desenvolvimento do ensino, receitas de
contribuições sociais vinculadas ao financiamento de políticas públicas que integram a
seguridade social, sob pena de desvio de finalidade e afronta aos arts. 194, 195 e 198 a 203 da
Constituição Federal, ao § 4º do art. 76 do ADCT, à Lei 8.212/1991 (arts. 11, 16, 17 e 18), à Lei
Complementar 141/2012 (arts. 2º e 3º), e em desacordo com a resposta à consulta apreciada pelo
Acórdão 31/2017-TCU-Plenário.
4.1.1.3. Aplicação Mínima em Ações e Serviços Públicos de Saúde
O objetivo desta seção é avaliar o cumprimento pela União da aplicação de recursos
federais em ações e serviços públicos de saúde (ASPS) no exercício de 2021. A matéria encontra-se
disciplinada no art. 198, § 2º, inciso I, da Constituição Federal, regulamentado pela Lei
Complementar (LC) 141/2012, que prevê a consideração desse tema no parecer prévio sobre a
prestação de contas anuais do Presidente da República.
A metodologia de apuração do mínimo de saúde na União sofreu sucessivas alterações
com as ECs 86/2015 e 95/2016, conforme detalhado nos pareceres prévios dos exercícios
anteriores.
Ressalte-se que a partir da EC 95/2016, que instituiu o Novo Regime Fiscal (NRF), com
vigência de vinte anos (2017 a 2036), estabeleceu-se que a aplicação mínima em ASPS passaria a
equivaler ao valor do mínimo calculado para o exercício de 2017, apurado nos termos do art. 198, e
corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos exercícios posteriores,
de acordo com os arts. 106 e 110 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
No exercício de 2021, com a promulgação da EC 113/2021, alterou-se a EC 95/2016, no
que se refere à redação do art. 107, § 1º, inciso II, do ADCT acerca do critério de correção anual
dos limites de despesas primárias, bem como dos limites de aplicações mínimas em ASPS e em
ações de manutenção e desenvolvimento do ensino (MDE) por força do art. 110 do ADCT,
conforme contextualizado na seção 4.1.1.2. De acordo com a nova metodologia, o fator de
correção para 2021, que considera a variação acumulada do IPCA de 2018 a 2020, é de
1,1645.
No que tange à metodologia de cálculo das despesas com ASPS, devem ser levados em
consideração a abrangência e os conceitos estabelecidos pelos arts. 2º a 4º e 24 da mencionada lei
complementar.
Também se deve considerar o teor do Acórdão 31/2017-TCU-Plenário (relator ministro
Augusto Sherman), referente à resposta à consulta formulada pela Comissão de Seguridade Social e
Família (CSSF) da Câmara dos Deputados, não conhecidos os embargos de declaração opostos pela
Secretaria de Orçamento Federal (SOF), conforme Acórdão 1.935/2019-TCU-Plenário, da relatoria
do ministro Walton Alencar Rodrigues. Em síntese, o Tribunal entendeu não considerar, a título de
ASPS, as seguintes despesas: i) unidades orçamentárias dos hospitais universitários, no âmbito do
Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF); ii) Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS); iii) programa “Academias da Saúde”; iv) integralização de
capital da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás); v) saneamento
básico não definidas no rol exaustivo do art. 3º da LC 141/2012; e vi) manejo de resíduos sólidos.
O efeito da resposta à consulta, de densa abstração normativa, balizou a análise do caso
concreto referente a desvio na aplicação de recursos vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS)
para financiamento de despesas próprias da política de educação, de responsabilidade do Ministério
da Educação, conforme assentado no Acórdão 1.932/2019-TCU-Plenário (rel. Min. Walton Alencar
Rodrigues).
Ademais, deve-se levar em consideração a decisão liminar na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 5.595, que suspendeu a eficácia do art. 3º da EC 86/2015, de modo que
não são computados no mínimo as despesas custeadas com recursos oriundos da participação da
União no resultado da exploração de petróleo ou gás natural ou da compensação financeira pela sua
exploração.
A controvérsia discutida na referida ação restringe-se à aplicação do valor mínimo do
exercício de 2016, sem alterar a metodologia de cálculo dos exercícios subsequentes. Isso porque,
segundo a EC 95/2016, no exercício de 2017, as despesas mínimas com ASPS devem corresponder
a 15% da RCL federal e, no período de 2018 a 2036, tais despesas devem ser equivalentes ao valor
mínimo referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pela variação do IPCA, consoante
o § 1º do art. 107 do ADCT, alterado pela EC 113/2021. A ADI 5595 foi apreciada pelo Plenário
Virtual do STF em abril de 2020, mas não houve conclusão do julgamento de mérito em razão de
pedido de vista. A ação foi reinserida na pauta de julgamento da sessão plenária de 1º/6/2022,
porém houve exclusão do calendário por ato de 19/5/2022.
Também foram considerados os efeitos da liminar concedida no bojo da Reclamação
30.696 ajuizada, por entidade da sociedade civil, no Supremo Tribunal Federal para suspender o
Acórdão 1.048/2018-TCU-Plenário (rel. Min. Bruno Dantas), que tratou da metodologia de cálculo
do mínimo de saúde em 2016, pendente de julgamento o agravo regimental interposto pela
Advocacia-Geral da União (AGU), em 5/12/2018. A Procuradoria-Geral da República proferiu, em
13/8/2020, parecer pela procedência da referida Reclamação, cujos autos foram conclusos ao
relator.
Nesse contexto legislativo e jurisprudencial, foram apuradas as principais despesas não
computadas para fins de avaliação do cumprimento do mínimo constitucional, conforme dispõem os
arts. 2º e 4º da LC 141/2012.
Operacionalmente, as despesas consideradas para fins de cômputo do mínimo são as
identificadas no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), com a
marcação do “Identificador de Uso 6” (ID-USO 6).
Apuração do mínimo constitucional em ações e serviços públicos de saúde
R$ milhões
Discriminação das Despesas Despesas Empenhadas
Despesas com saúde em 2021 193.196
(-) Despesas com inativos e pensionistas (Função 9) 10.473
(-) Despesa com assistência à saúde que não atende ao princípio de acesso universal (Ação 2004 -
222
Assistência Médica e Odontológica aos Servidores Civis)
(-) Despesas custeadas com outros recursos 1.580
(-) Outras ações e serviços não computados (fonte 42 - medida liminar na Adin 5595) 814
(-) Restos a pagar não processados inscritos indevidamente no exercício sem disponibilidade financeira 0
(-) Despesas custeadas com disponibilidade de caixa vinculada aos restos a pagar cancelados (Modalidades 1.029
de
(-) Aplicação 35 e 45) com recursos vinculados à parcela do percentual mínimo que não foi aplicada em
Despesas custeadas
0
ações e serviços de saúde em exercícios anteriores
Total das despesas com ações e serviços públicos de saúde em 2021 179.077
Fontes: Tesouro Gerencial e Relatório Resumido de Execução Orçamentária de dezembro de 2021, Anexo 12.
O total de despesas com saúde (R$ 193.196 milhões) já está descontado do montante
alocado na Agência Nacional de Saúde Suplementar, na UO 74202 - Recursos sob supervisão da
ANS (R$ 2 milhões). E o total de despesas com ASPS (R$ 179.077 milhões) está descontado das
outras despesas da ANS (R$ 324 milhões), na UO 36213 – ANS.
Observa-se ainda que as despesas relacionadas aos aposentados e pensionistas estão
alocadas na função 9 (Previdência Social) e, portanto, não são –– marcadas com o ID-USO 6.
Também não recebem tal marcação as despesas com assistência à saúde que não atendem ao
princípio de acesso universal que rege as políticas públicas que constituem a seguridade social (ação
orçamentária 2004) e as custeadas com recursos oriundos da compensação financeira pela
exploração de petróleo e gás natural (fonte 42), dentre outras.
Conforme tabela anterior, a União aplicou R$ 44 milhões a mais em 2021 do que foi
cancelado de restos a pagar em 2020, atendendo, assim, aos mandamentos da LC 141/2012.
Outro ponto que merece destaque é que, conforme consulta realizada no Tesouro
Gerencial em 18/3/2021, o Governo Federal cancelou, em 2021, R$ 1.307 milhões de restos a pagar
inscritos entre os exercícios de 2013 e 2020, incluídos no valor mínimo em gastos em ASPS. Dessa
forma, a União deverá incluir no orçamento de 2022, além do montante mínimo de gastos em
ASPS, o valor correspondente, de forma a compensar esses restos a pagar cancelados.
É oportuno ressaltar que, do montante empenhado pela União em ASPS (R$ 179
bilhões), 57% (R$ 103,38 bilhões) foram aplicados de forma descentralizada mediante repasses
federais aos entes subnacionais previstos na LC 141/2012, sendo R$ 77,52 bilhões (43%) em favor
dos municípios brasileiros (modalidades de aplicação 40, 41 e 71) e R$ 25,85 bilhões (14%) dos
estados e do Distrito Federal (modalidades de aplicação 30, 31 e 32). A União, todavia, ainda não
dispõe de mecanismos eficazes de monitoramento, avaliação e controle da eficiência alocativa
desses recursos. O grau de execução dos repasses foi bastante elevado (R$ 98,7 bilhões), atingindo
aproximadamente 95,4% dos empenhos, com inscrição em restos a pagar de apenas 4,6%. Além
desses repasses, um volume equivalente a R$ 5,51 bilhões foi transferido para instituições privadas
sem fins lucrativos, para organismos multigovernamentais e para o exterior (modalidades de
aplicação 50, 70 e 80).
43%
39%
14%
3%
A esse arcabouço jurídico, soma-se a norma prevista no art. 18 da LDO 2021 (mantida
no art. 17 da LDO 2022 – Lei 14.194/2021), a qual define a Plataforma +Brasil como ferramenta
tecnológica para congregar os registros centralizados das transferências da União aos entes
subnacionais nos casos em que seja mantida a natureza federal do recurso:
Art. 18. Os órgãos e as entidades integrantes dos Orçamentos Fiscal, da Seguridade Social e de
Investimento deverão disponibilizar informações atualizadas referentes aos seus contratos no
Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais - Siasg, e às diversas modalidades de
transferências operacionalizadas na Plataforma +Brasil, inclusive com o
georreferenciamento das obras e a identificação das categorias de programação e fontes de
recursos, observadas as normas estabelecidas pelo Poder Executivo federal.
§ 1º Nos casos em que o instrumento de transferência ainda não for operacionalizado na
Plataforma +Brasil, as normas deverão estabelecer condições e prazos para a transferência
eletrônica dos respectivos dados para a referida Plataforma. (grifamos)
Entretanto, a Instrução Normativa Seges/ME 206/2019 restringe o uso obrigatório da
Plataforma + Brasil apenas para as transferências voluntárias federais (arts. 1º e 5º), tipo de repasse
intergovernamental residual na área de saúde, sem alcançar a maior parte dos repasses, realizada na
modalidade transferência obrigatória. A despeito de manter a natureza federal do recurso e a
competência dos órgãos da União para realizar a fiscalização e controle, a aplicação de mais de
R$ 103 bilhões permanece à margem de qualquer controle de forma sistematizada e racional.
No que diz respeito à eficiência alocativa, forçoso observar que os arts. 4º, inciso I,
alínea ‘e’ e 50, § 3º, da Lei Complementar 101/2000 exigem a previsão de normas relativas ao
controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados, assim como sistema de
custos que permita a avaliação e o acompanhamento da gestão orçamentária, financeira e
patrimonial, previsão reforçada pelos arts. 37, § 16, 163-A e 165, § 16, da Lei Maior, com redações
dadas pelas Emendas Constitucionais 108/2020 e 109/2021, que priorizam o monitoramento e a
avaliação das políticas públicas, assegurando, para tanto, a rastreabilidade, a comparabilidade e a
publicidade dos dados.
Consentâneo com essa vertente constitucional, o art. 17 da LDO 2021 estabelece que a
alocação de recursos do orçamento da União deve “propiciar o controle dos valores transferidos”
e dos custos (inciso II), de acordo com as diretrizes complementares que regem as transferências
intergovernamentais e para o setor privado. O dispositivo da LDO estabelece, ainda, que o controle
desses custos pelos órgãos federais deve ser “orientado para o estabelecimento da relação entre a
despesa pública e o resultado obtido, de forma a priorizar a análise da eficiência na alocação dos
recursos, e permitir o acompanhamento das gestões orçamentária, financeira e patrimonial”
(parágrafo único). A mesma diretriz se mantém no art. 16 da Lei 14.194/2021 (LDO 2022).
Essa avaliação, contudo, fica comprometida quando as contratações com recursos de
natureza federal são realizadas de forma pulverizada e sem observar os parâmetros mínimos de
comparabilidade, rastreabilidade e publicidade dos dados referentes a procedimentos licitatórios e
de dispensa nas contratações, como ocorre com a política de saúde, que, na União, teve 57%
(R$ 103,38 bilhões) de seus recursos aplicados, em 2021, pelos entes subnacionais, dificultando
sobremaneira o controle sobre a eficiência alocativa desses recursos, e sobre a parte eventualmente
sub-repassada a entidades do terceiro setor.
Frise-se que a transparência, pilar da gestão fiscal responsável, também se configura
pela ampla divulgação, para acesso a qualquer pessoa física ou jurídica, do procedimento licitatório
da despesa, conforme disposto no art. 48-A, inciso I, da Lei Complementar 101/2000, com redação
dada pela Lei Complementar 131/2009. Assim sendo, a faculdade prevista no inciso II do art. 174
da Lei 14.133/2021, quanto ao registro das informações no PNCP em substituição à Plataforma
ComprasNet, deve se limitar aos recursos próprios dos entes subnacionais, abrangidas as
transferências da União por repartição de receita que integram o pacto federativo fiscal. O mesmo,
tomando de empréstimo a inteligência do Voto condutor do Acórdão 1515/2021-TCU-Plenário (rel.
RECOMENDAÇÃO
Aos Ministérios da Economia e da Saúde e à Casa Civil da Presidência da República para que
adotem as plataformas digitais já desenvolvidas e mantidas pelo Poder Executivo federal (a
exemplo da Plataforma +Brasil e do Portal Nacional de Contratações Públicas) – ou outras que
venham substituí-las – para centralizar o registro eletrônico das contratações, dispensas e outras
informações referentes à efetiva aplicação dos recursos de natureza federal vinculados à saúde
repassados, nas modalidades transferência obrigatória ou transferência voluntária, aos
demais entes da Federação, aplicados diretamente ou por meio de sub-repasse a entidades do
terceiro setor, de forma a garantir a identificação do credor final, assim como assegurar a
rastreabilidade, a comparabilidade e a publicidade dos dados decorrentes da efetiva aplicação
desses recursos federais, observado o disposto nos arts. 37, § 16, 163-A e 165, § 16, da
Constituição Federal, os §§ 2º e 4º da Lei Complementar 141/2012, o art. 48-A, inciso I, da Lei
Complementar 101/2000 e os arts. 16 e 17 da Lei 14.194/2021.
ALERTA
a. à Presidência da República, no sentido de que a omissão quanto à regulamentação dos §§ 2º e
4º do art. 13 da Lei Complementar 141/2012, visando à identificação do credor final do recurso
de natureza federal, quando aplicado diretamente pelos entes subnacionais ou por sub-repasse a
entidades do terceiro setor, compromete o monitoramento e a avaliação da política nacional de
saúde, assim como o controle da eficiência na alocação dos recursos de natureza federal, em
desacordo com o disposto nos arts. 37, § 16, 163-A e 165, § 16, da Constituição Federal, no art.
27 da Lei Complementar 141/2012 e nos arts. 16 e 17 da Lei 14.194/2021;
Destinação a Ações e Serviços Públicos de Saúde Mínimo de 50% de (C) (D) 4,835
Emendas com impedimento de ordem técnica Impedimento de ordem técnica¹ (E) 0,014
Execução obrigatória ajustada (empenho e pagamento) (C-E) (F) 9,656
constitucional da União (§ 4º do art. 166-A da CF/1988), sem digressões sobre a sua natureza
jurídica.
A execução orçamentária e financeira das emendas parlamentares individuais de
execução obrigatória, na modalidade de transferência especial a estados, Distrito Federal e
municípios, observou, no exercício de 2021, o disposto na Portaria Interministerial ME/SEGOV
6.411, de 15/6/2021.
Em 2021, foram repassados a título de transferências especiais o valor de R$ 2,04
bilhões, o que representou 21,1% das emendas parlamentares individuais, sendo 7,91% (R$ 0,14
bilhão) destinado a custeio e 92,2% (R$ 1,89 bilhão) a investimento. As transferências especiais são
repassadas sob a identificação da ação orçamentária 0EC2 e podem ser livremente consultadas na
Plataforma +Brasil, no painel de consultas denominado Painel Parlamentar.
Na modalidade finalidade específica, há a hipótese definida constitucionalmente, que
vincula metade dos recursos das emendas individuais a ações e serviços públicos de saúde (art. 166,
§ 9º), além de outras pactuações realizadas nos termos da legislação. As transferências especiais
apresentaram, até agora, o seguinte comportamento:
Emendas Individuais por Modalidade de Transferência (Período 2020-2022)
R$ Milhares
(Resultado Primário 6) Dotação Empenho Dotação Empenho Dotação Empenho Dotação Empenho
1. Transferências Especiais
621.218 621.218 2.045.070 2.038.564 3.279.506 5.945.794 2.659.782
(art. 166-A, I, CR)
2. Transferências com
Finalidade Específica (art. 8.847.236 8.606.741 7.625.165 7.417.681 7.650.956 3.541.652 24.123.357 19.566.074
166-A, II, CR)
2.1. Saúde 5.697.904 5.556.492 5.318.304 5.150.208 5.922.403 3.206.161 16.938.617 13.912.861
2.2. Outras Funções 3.149.331 3.050.248 2.306.861 2.267.474 1.728.556 335.491 7.184.745 5.653.213
Total (1+2) 9.468.454 9.227.959 9.670.235 9.456.245 10.930.461 3.541.652 30.069.151 22.225.856
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do Siop/SOF (consulta em 2/5/2022) para instrução do TC 045.470/2021-9. Valor da
dotação atualizada.
R$ 1,00
Estados Distribuição das Transferências Especiais 2020-2021
Total de Repasse aos Municípios Repasse aos Estados Total de Repasse por
UF População Municípios Municípios Estado e Respectivos
Descrição Valor Global (R$) Valor (R$)
IBGE por Estado Beneficiados Municípios (R$)
(a) (b) c = (b / a) (d) (e) f = (d + e)
AC Acre 906.876 22 22 100% 36.863.598,00 12.616.250,00 49.479.848,00
AL Alagoas 3.365.351 102 36 35% 27.522.779,00 0 27.522.779,00
AP Amapá 877.613 16 16 100% 80.749.408,00 12.371.979,00 93.121.387,00
AM Amazonas 4.269.995 62 36 58% 53.695.411,00 1.840.000,00 55.535.411,00
BA Bahia 14.985.284 417 205 49% 176.781.597,00 51.317.690,00 228.099.287,00
CE Ceará 9.240.580 184 88 48% 121.059.891,00 500.000,00 121.559.891,00
DF Distrito Federal 3.094.325 - - - - 1.700.000,00 1.700.000,00
ES Espírito Santo 4.108.508 78 24 31% 12.688.847,00 1.749.986,00 14.438.833,00
GO Goiás 7.206.589 246 162 66% 103.259.796,00 0 103.259.796,00
MA Maranhão 7.153.262 217 46 21% 38.188.844,00 2.500.000,00 40.688.844,00
MT Mato Grosso 3.567.234 141 70 50% 38.553.632,00 5.519.993,00 44.073.625,00
MS Mato Grosso do Sul 2.839.188 79 33 42% 35.410.551,00 1.440.041,00 36.850.592,00
MG Minas Gerais 21.411.923 853 676 79% 326.207.146,00 34.476.992,00 360.684.138,00
PA Pará 8.777.124 144 95 66% 96.643.175,00 11.150.000,00 107.793.175,00
PB Paraíba 4.059.905 223 73 33% 52.461.957,00 7.805.454,00 60.267.411,00
PR Paraná 11.597.484 399 309 77% 218.302.639,00 1.870.000,00 220.172.639,00
PE Pernambuco 9.674.793 184 102 55% 103.033.360,00 3.920.000,00 106.953.360,00
PI Piauí 3.289.290 224 123 55% 79.568.058,00 28.705.440,00 108.273.498,00
RJ Rio de Janeiro 17.463.349 92 38 41% 58.743.104,00 3.000.000,00 61.743.104,00
RN Rio Grande do Norte 3.560.903 167 113 68% 57.679.307,00 3.891.986,00 61.571.293,00
RS Rio Grande do Sul 11.466.630 497 272 55% 99.145.018,00 300.000,00 99.445.018,00
RO Rondônia 1.815.278 52 49 94% 54.569.978,00 450.000,00 55.019.978,00
RR Roraima 652.713 15 15 100% 91.286.729,00 11.630.213,00 102.916.942,00
SC Santa Catarina 7.338.473 295 241 82% 128.459.959,00 1.975.541,00 130.435.500,00
SP São Paulo 46.649.132 645 346 54% 218.169.403,00 8.198.291,00 226.367.694,00
SE Sergipe 2.338.474 75 55 73% 52.047.961,00 8.875.427,00 60.923.388,00
TO Tocantins 1.607.363 139 112 81% 80.884.419,00 0 80.884.419,00
Total 213.317.639 5.568 3.357 60% 2.441.976.567,00 217.805.283,00 2.659.781.850,00
Fonte: População e número de Municípios: Decisões Normativas TCU 196/2021 (FPM) e 199/2022 (FPE). Pagamentos Painel
Parlamentar +Brasil (https://clusterqap2.economia.gov.br/extensions/painel-parlamentar/painel-parlamentar.html,consulta
26/4/2022). Valor considerado na tabela corresponde à soma do montante empenhado no biênio 2020-2021
Os Estados de Alagoas, Goiás e Tocantins, assim como 40% dos municípios brasileiros,
não foram contemplados com repasses federados a título de transferências especiais no período
2020-2021.
No que diz respeito à distribuição dos recursos federais oriundos de emendas
parlamentares individuais, repassados por meio de transferências especiais, nota-se, em Alagoas,
significativa concentração, restrita a tão somente 35% do total de municípios (102). Igual
concentração se verifica nos Estados do Maranhão (21%), Espírito Santo (31%), Paraíba (33%), Rio
de Janeiro (41%) e Mato Grosso do Sul (42%), cuja distribuição dos recursos federais sequer
alcançou a metade das respectivas cidades.
No biênio em questão, 22 capitais, que representam 23,8% da população do país, foram
contempladas com 3,71% do total que a União repassou aos municípios (R$ 2,44 bilhões) a título de
transferências especiais:
Estado Transferências Especiais às Capitais
Capital % sobre Total das
População Transferências
UF Descrição
IBGE Município População IBGE Valor do Repasse Especiais aos
Municípios Brasileiros
AC Acre 906.876 Rio Branco 419.452 46% 8.719.993,00 0,36%
AL Alagoas 3.365.351 Maceió 1.031.597 31% 732.793,00 0,03%
AP Amapá 877.613 Macapá 522.357 60% 24.679.849,00 1,01%
AM Amazonas 4.269.995 Manaus 2.255.903 53% 839.993,00 0,03%
BA Bahia 14.985.284 Salvador 2.900.319 19% 200.000,00 0,01%
CE Ceará 9.240.580 Fortaleza 2.703.391 29% 5.900.000,00 0,24%
DF Distrito Federal 3.094.325 Brasília 3.094.325 100% - -
ES Espírito Santo 4.108.508 Vitória 369.534 9% 0,00 0,00%
GO Goiás 7.206.589 Goiânia 1.555.626 22% 1.800.000,00 0,07%
MA Maranhão 7.153.262 São Luís 1.115.932 16% 2.508.865,00 0,10%
MT Mato Grosso 3.567.234 Cuiabá 623.614 17% 500.000,00 0,02%
MS Mato Grosso do Sul 2.839.188 Campo Grande 916.001 32% 3.950.000,00 0,16%
MG Minas Gerais 21.411.923 Belo Horizonte 2.530.701 12% 3.200.000,00 0,13%
PA Pará 8.777.124 Belém 1.506.420 17% 6.889.000,00 0,28%
PB Paraíba 4.059.905 João Pessoa 825.796 20% 1.000.000,00 0,04%
PR Paraná 11.597.484 Curitiba 1.963.726 17% 600.000,00 0,02%
PE Pernambuco 9.674.793 Recife 1.664.157 17% 4.739.993,00 0,19%
PI Piauí 3.289.290 Teresina 871.126 26% 760.000,00 0,03%
RJ Rio de Janeiro 17.463.349 Rio de Janeiro 6.775.561 39% 12.984.232,00 0,53%
RN Rio Grande do Norte 3.560.903 Natal 896.708 25% 1.150.069,00 0,05%
RS Rio Grande do Sul 11.466.630 Porto Alegre 1.492.530 13% 750.000,00 0,03%
RO Rondônia 1.815.278 Porto Velho 494.013 27% 2.300.000,00 0,09%
RR Roraima 652.713 Boa Vista 436.591 67% 640.000,00 0,03%
SC Santa Catarina 7.338.473 Florianópolis 516.524 7% 0,00 0,00%
SP São Paulo 46.649.132 São Paulo 12.396.372 27% 5.650.000,00 0,23%
SE Sergipe 2.338.474 Aracaju 672.614 29% 0,00 0,00%
TO Tocantins 1.607.363 Palmas 313.349 19% 0,00 0,00%
Total 213.317.639 50.864.239 24% 90.494.787,00 3,71%
Fonte: População e número de Municípios: Decisões Normativas TCU 196/2021 (FPM) e 199/2022 (FPE). Pagamentos Painel
Parlamentar +Brasil (https://clusterqap2.economia.gov.br/extensions/painel-parlamentar/painel-parlamentar.html,consulta
26/4/2022). Valor considerado na tabela corresponde à soma do montante empenhado no biênio 2020-2021
Como se vê, nem todos os entes da Federação são beneficiados com recursos de
emendas individuais repassadas por meio de transferência especial e não há previsão de que todos o
sejam, pois esta não é a natureza das emendas individuais.
Segundo os § 11 e 19 do art. 166 da CF, considera-se equitativa a “execução das
programações de caráter obrigatório que observe critérios objetivos e imparciais e que atenda de
forma igualitária e impessoal às emendas apresentadas, independentemente da autoria”. A lei
complementar referida no § 9º do art. 165 da Lei Maior, quando editada, deverá dispor “sobre
critérios para a execução equitativa, além de procedimentos que serão adotados quando houver
impedimentos legais e técnicos, cumprimento de restos a pagar e limitação das programações de
caráter obrigatório”, para fins de realização das emendas individuais e de bancada, conforme
redação dada pela EC 100/2019. As análises realizadas nas instruções que fundamentam o Acórdão
368/2021-TCU-Plenário (rel. Min. Vital do Rêgo) e o Acórdão 2.734/2020-TCU-Plenário (rel. Min.
Bruno Dantas) foram no sentido de a equidade na distribuição dos valores relativos às emendas
deve ser considerada entre os Parlamentares. (peça 8 do TC 017.888/2017-4).
Não há, no contexto do art. 166 da Lei Maior, previsão de equidade na distribuição dos
recursos federais de emendas individuais entre os entes subnacionais. Esse, aliás, constitui um dos
fatores críticos do mínimo constitucional de saúde a que a União está obrigada, uma vez que metade
das emendas individuais está vinculada a ações e serviços públicos de saúde, cuja distribuição não
vem sendo orientada pelos critérios objetivos de distribuição estabelecidos pelo art. 17 da Lei
Complementar 141/2012. Cite-se o item 9.5.1 do Acórdão 2.817/2020-TCU-Plenário (rel. Min.
Benjamin Zymler), assim como a resposta à Solicitação do Ministério Público Federal no âmbito do
TC 038.140/2020-9 (rel. Min. Bruno Dantas).
No que diz respeito à competência para fiscalizar, processar e julgar as contas da
aplicação das emendas individuais repassadas por meio de transferências especiais, registre-se que,
em 2021, esta Corte foi instada a se manifestar sobre a matéria mediante consulta formulada por
Parlamentar no âmbito do TC 032.080/2021-2 (rel. Min. Antônio Anastasia). Também tramita nesta
Corte de Contas Solicitação do Congresso Nacional (TC 047.470/2021-9), a qual guarda relação de
continência com o objeto central da consulta mencionada.
Há que se mencionar, ainda, o TC 029.158/2020-6 (rel. Min. Aroldo Cedraz), o qual
versa sobre o Acompanhamento das ações do Poder Executivo para viabilizar a implantação e
gestão de plataforma única para transferência de recursos da União (Plataforma +Brasil). Convém
observar que a abordagem sobre as transferências especiais, realizada de forma colateral no referido
processo, guarda relação com o núcleo da consulta objeto do TC 032.080/2021-2, referente à
natureza jurídica dessa modalidade de transferência, assim como às esferas e órgãos competentes
para exercer o monitoramento, a avaliação e o controle - o que inclui o julgamento de contas - da
aplicação desses repasses federais, cuja conclusão se reflete na definição das competências do
Ministério Público Federal e da Justiça Federal, relacionadas à origem do recurso e à sua natureza
jurídica. Cite-se a análise desenvolvida no Relatório que fundamenta o Acórdão 4.074/2020-TCU-
Plenário (rel. Min. Bruno Dantas).
Em desfecho, oportuno ressaltar que a resposta que vier a ser proferida na consulta (TC
032.080/2021-2) terá caráter normativo e constituirá prejulgamento da tese, configurando
precedente com entendimento a ser, inexoravelmente, aplicado em todos os demais casos
submetidos a esta Corte de Contas, dada a sua densa abstração normativa, conforme dispõe o art. 1º,
inciso XVII e § 2º, da Lei 8.443/1992.
Emendas de Bancada
As programações das emendas de bancada, segundo disposto no § 1º do art. 76 da
Lei 14.116/2020 (LDO 2021), serão destinadas, preferencialmente, a projetos em andamento.
Em consulta ao sistema Tesouro Gerencial, verificou-se a seguinte execução das
emendas de bancada estadual no exercício financeiro de 2021:
Execução das emendas de bancada estadual
R$ 1,00
Dotação Dotação Restos a
Empenhado Liquidado Pago
Inicial Atual Pagar Pagos
7.301.901.752 7.301.901.752 7.223.110.314 3.451.248.224 3.265.806.805 1.777.459.725
Fonte: Tesouro Gerencial.
A tabela a seguir facilita a análise dos valores alocados e executados a título de emendas
de bancada estadual:
Execução Orçamentária e Financeira das Ações Decorrentes de Emendas de Bancada – 2021
R$ bilhões
Montante de Execução Obrigatória p/ 2021 1% da RCL de 2020¹ (A) 6,674
IMPROPRIEDADE
Ausência de justificativa para a totalidade de emendas individuais e de bancada estadual que
deixou de ser paga (execução financeira) em 2021, em desacordo com os valores e parâmetros
mínimos exigidos pelos §§ 11, 12, 14 e 17 do art. 166 da Constituição Federal.
RECOMENDAÇÃO
Ao Ministério da Economia e à Casa Civil da Presidência da República para que sejam adotados
mecanismos efetivos e racionais de monitoramento da execução financeira (pagamentos)
descentralizada das emendas individuais e de bancada estadual pelos órgãos e entidades da
administração pública federal, com vistas a assegurar a observância dos parâmetros mínimos
estabelecidos pelo § 14 do art. 166 da Constituição Federal, com apresentação sistematizada de
justificação para os impedimentos de ordem técnica, de forma que a soma dos valores executados
com os valores dos referidos impedimentos perfaça a integridade dos montantes fixados nos
termos dos §§ 9º, 11, 12 e 17 do mesmo artigo, observado o critério de correção previsto no
inciso II, do § 1º do art. 107 c/c art. 111 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
com redação dada pela Emenda Constitucional 113/2021.
4.1.1.5. Apuração da Regra de Ouro
Trata-se da verificação do cumprimento da denominada Regra de Ouro das finanças
públicas, prevista no art. 167, inciso III, da Constituição Federal e regulamentada pela Lei
Complementar 101/2000 e pela Resolução do Senado Federal 48/2007, que veda a realização de
operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas
mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder
Legislativo por maioria absoluta.
Com fundamento no art. 167, § 6º, da Carta Magna, c/c o art. 6º, § 1º, incisos I e II, da
Resolução do Senado Federal 48/2007, a verificação do cumprimento da Regra de Ouro deve ser
realizada tomando-se por base, no exercício anterior, as receitas de operações de crédito nele
realizadas e as despesas de capital nele executadas, e, no exercício corrente, as receitas de operações
de crédito e as despesas de capital constantes da lei orçamentária, ou seja, a verificação do
equilíbrio entre as receitas de operações de crédito e as despesas de capital, no que se refere aos
OFSS, deve ser realizada, quanto à execução, ao fim do exercício financeiro e, quanto à
programação, por ocasião do processo de elaboração e aprovação da peça orçamentária.
Apuração no PLOA 2021 e na LOA 2021
Constam da tabela seguinte as programações para as operações de crédito e despesas de
capital informadas na Mensagem Presidencial que encaminhou o PLOA 2021 ao Congresso
Nacional. Com amparo no caput do art. 23 da LDO 2021, segundo o qual o PLOA 2021 e a LOA
2021 poderão conter receitas de operações de crédito e despesas correntes primárias condicionadas
à aprovação de projeto de lei de créditos suplementares ou especiais por maioria absoluta do
Congresso Nacional, apresentou-se excesso de R$ 453,72 bilhões de receitas de operações de
crédito em relação às despesas de capital, indicando insuficiência na Regra de Ouro.
Apuração da Regra de Ouro – PLOA 2021
R$ milhões
I - Total das Receitas de Operações de Crédito 2.434.190,9
I.1 Autorizadas na Lei Orçamentária Anual - LOA 1.980.475,6
I.2 Não Autorizadas na Lei Orçamentária Anual - LOA -
453.715,4
condicionadas
II - Total das Despesas de Capital 1.980.475,6
III - Suficiência da Regra de Ouro (II) - (I) (453.715,4)
Fonte: Mensagem Presidencial de envio do PLOA 2021 ao Congresso Nacional – Quadro 5.
de que haveria transferência a gerações futuras dos serviços da dívida, votou, mediante parecer de
25/8/2021, pela aprovação de substitutivo autorizando a emissão de títulos da dívida pública
mobiliária federal de até R$ 28,5 bilhões para despesas identificadas com “GND 1 – Pessoal e
Encargos Sociais”, e não autorizando a emissão para o financiamento das despesas identificadas
com “GND 3 – Outras Despesas Correntes”, no montante de R$ 135,5 bilhões.
Em vista da situação, este Tribunal, com fundamento no art. 59, § 1º, inciso V, da LRF,
deliberou, mediante o item 9.4 do Acórdão 2.958/2021-TCU-Plenário, de relatoria do ministro
Aroldo Cedraz, por alertar o Poder Executivo sobre os riscos de comprometimento à efetiva
execução das programações condicionadas, ao desconsiderar a provável existência de outras fontes
de recursos, a exemplo do excesso de arrecadação (art. 43, § 1º, inciso II, da Lei 4.320/1964), aptas
para atender tais despesas ante eventual aprovação do PLN 9/2021-CN em montante aquém do
estabelecido na Mensagem Presidencial 276/2021.
Entrementes, haja vista a falta de tempestividade na aprovação do PLN 9/2021-CN,
publicou-se a Portaria Seto/ME 12.127, de 8/10/2021, mediante a qual abriu-se crédito suplementar
no montante de R$ 70,1 bilhões para o pagamento de R$ 40,0 bilhões de despesas com benefícios
previdenciários do RGPS e de R$ 30,1 bilhões com pessoal e encargos sociais e benefícios aos
servidores. Os recursos decorreram de anulação de dotações, substituindo-se as fontes de operações
de crédito (944) por fontes oriundas, em grande parte, do excesso de arrecadação (188). Com isso,
restou o saldo de R$ 93,9 bilhões de dotações condicionadas não abrangidas na autorização
constante do substitutivo.
Posteriormente, foram editadas as Portarias Seto/ME 13.633/2021 e 14.583/2021, que,
juntas, abriram crédito suplementar no montante desse saldo, valendo-se de outras fontes, de modo
que deixaram de existir dotações condicionadas para autorização do Congresso Nacional e,
portanto, restou prejudicado o objeto do PLN 9/2021-CN. Por essa razão, o Presidente da
República, por meio da Mensagem 686, de 15/12/2021, solicitou a retirada de tramitação do projeto,
gerando seu arquivamento. O resultado, então, é que durante a execução orçamentária não houve
necessidade de emprego de recursos derivados da emissão de títulos da dívida pública mobiliária
federal para fazer frente à programação das dotações condicionadas, notadamente devido à
utilização do saldo do superávit financeiro e da excepcional arrecadação de recursos de alocação
livre das fontes “00 – Recursos Primários de Livre Aplicação” e “88 – Recursos Financeiros de
Livre”, conforme portarias constantes da tabela seguinte.
Substituições da Fonte de Operações de Crédito 944
R$ 1,00
Ato Administrativo Montante
Portaria Fazenda/ME 5.216, de
30.847.868.916
11/5/20211
Portaria Fazenda/ME 5.545, de
18.773.111.280
11/5/2021
Portaria Fazenda/ME 5.933, de
221.093.401.241
18/5/2021
Portaria SETO/ME 12.127, de
8/10/2021 70.113.093.280
Portaria SETO/ME 13.633, de
19/11/2021 53.000.510.391
Portaria SETO/ME 14.583, de
13/12/2021 40.934.592.303
Total 434.762.577.411
Fonte: Mensagem 276 do Poder Executivo, de 16/7/2021 (PLN 9/2021) e
Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias Extemporâneo de
dezembro de 2021.
1. Vinculada à execução provisória do PLOA 2021, conforme autorizado na
Lei 14.127, de 22/3/2021.
19,169%
2% 20,912% 16,607%
20%
14,559% 1,737%
Investimentos e Inversões Financeiras
1,295%
1,076%
,685% ,632%
,531%
0% 1,412% 0%
-,413%
-1,799%
-9,980%
-1% -10%
eral eral eral eral eral eral eral eral eral
Contudo, a avaliação ampla da atuação estatal nesse quesito não pode prescindir de
contextualizar o aspecto qualitativo desse gasto e o impacto na Formação Bruta de Capital Fixo
(FBCF) também por meio de outros dois relevantes grupos de investimentos: i) realizados por meio
do Programa de Dispêndios Globais - subconjunto mais representativo, considerando-se o
percentual da participação societária da União -, cujas despesas são executadas via Orçamento de
Investimento (R$ 57,5 bilhões), mas não são computadas na Regra de Ouro, que abrange apenas os
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social; ii) e os realizados pelo setor privado no âmbito do
Programa de Parceria de Investimentos (PPI), criado pela Lei 13.334/2016 com o fim de ampliar e
fortalecer a interação entre o Estado e a iniciativa privada por meio da celebração de contratos de
parceria para a execução de empreendimentos públicos de infraestrutura e de outras medidas de
desestatização. Verifica-se, por esse escopo, que a FBCF apresentou no período 2018-2021, após
consecutivas quedas, crescimento de 31,7%, em percentual do PIB, com retorno ao nível mais
elevado existente em 2014, conforme o mesmo gráfico.
Quanto às inversões financeiras, excepcionalmente altas em 2020 devido à realização de
despesas relacionadas ao combate à pandemia de Covid-19, houve retorno ao patamar do período
2015-2019, porém em percentual ainda menor. Em contraste com o montante de R$ 74,9 bilhões de
inversões liquidadas em 2020 para combate à pandemia, em 2021 o montante correspondente foi de
R$ 5 bilhões, relacionado à ação orçamentária 00EE – Integralização de cotas no Fundo Garantidor
de Operações (FGO) para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte (Pronampe). O saldo de investimentos empenhados em 2020 direcionados ao
combate à pandemia e seus efeitos foi de R$ 3.042,2 milhões; em 2021 foi de apenas R$ 371,5
milhões.
Em face do exposto, conclui-se que a Regra de Ouro foi obedecida no processo de
elaboração e aprovação da LOA 2021, bem como de sua execução, conforme disposto no art. 6º, §
1º, incisos I e II, da Resolução do Senado Federal 48/2007.
Por fim, instada a se manifestar sobre as projeções para a margem de suficiência da
Regra de Ouro, a STN apurou margens positivas no período 2022-2025, porém baixas, o que
demandará permanente monitoramento. Consideram-se essenciais para a manutenção dessa margem
os recursos de fontes de superávits financeiros de exercícios anteriores e já disponíveis em 2022,
notadamente provenientes do resultado do Banco Central e do retorno de operações de
financiamento, especialmente do BNDES (TC 000.560/2022-7, peça 43).
desobediência ao inciso II do art. 167 da Constituição Federal, que veda a realização de despesas
que excedam os créditos orçamentários. Essa irregularidade gerou recomendação à CEF e à
Sest/ME, com vistas à estrita observância das disposições legais e constitucionais quanto à
execução do orçamento público.
Em relação ao exercício de 2021, as conclusões estão especificadas a seguir.
Execução de acordo com o limite global de dotação e com o limite da fonte de financiamento
No exercício de 2021, nenhuma empresa executou valor superior ao limite global de
dotação, correspondente à soma de todas as fontes de financiamento, tampouco acima do limite
autorizado especificamente para cada uma dessas fontes.
Ações sem cobertura orçamentária
Ademais, no período sob análise, nenhuma empresa apresentou programação, no nível
de subtítulo, com realização superior à dotação aprovada, em obediência ao inciso II do art. 167 da
Constituição Federal, que veda a realização de despesas que excedam os créditos orçamentários.
Utilização de aporte de capital para pagamento de dispêndios correntes
A partir de informações do PDG enviadas pela Sest, buscou-se identificar se houve
empresa que utilizou aporte de capital para pagamento de despesas correntes. Para isso, foram
utilizadas contas dos Blocos Dicor (discriminação das origens de recursos) e Dicar (discriminação
das aplicações de recursos), os quais consideram o regime de competência.
Como resultado, de acordo com as rubricas do PDG, identificou-se que, em 2021, 24
empresas tiveram déficit corrente, sendo que em seis delas o déficit foi maior que o caixa inicial, ou
seja, não seria possível cobrir o déficit corrente com o caixa inicial. Comparado com 2020, o
número de empresas que apresentaram déficit corrente diminuiu 22,6%, saindo de 31 para 24
empresas.
Empresas estatais não dependentes que apresentaram déficit corrente em 2021
R$ milhares
Aporte Aporte -
Resultado Disponível Dispêndios Disponível
Empresa da Dispêndios de
Corrente Inicial de Capital Final
União Capital
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobras (5.666.711) 12.906.678 - 16.329.085 (16.329.085) 10.612.685
Empresa Gestora de Ativos - EMGEA (160.505) 115.126 - 161.835 (161.835) 380.541
BB Tecnologia e Serviços S.A. (58.764) 118.117 - 65.273 (65.273) 153.717
Finame (36.303) - - 857.962.650 (857.962.650) 0
Petrobras Gás S.A. - Gaspetro (34.922) 63.422 - 293.658 (293.658) 79.927
Eletrobras Termonuclear S.A. - Eletronuclear (28.565) 383.695 - 2.092.973 (2.092.973) 709.621
Breitener Energética S.A. - Breitener (28.435) 22.851 - 31.436 (31.436) 12.255
Caixa Cartões Holding S.A. (25.710) 41.215 - 104.588 (104.588) 181.154
Termobahia S.A. (24.610) 400.174 - 67.295 (67.295) 447.151
Petrobras Biocombustível S.A. - PBIO (24.212) 484.245 - 7.437 (7.437) 706.762
Eletrobras Participações S.A. - Eletropar (24.040) 92.624 - 57.715 (57.715) 73.191
Araucária Nitrogenados S.A. (22.223) 81.832 - - - 59.609
BB Seguros Participações S.A. - BB Seguros (12.817) 99.326 - 113.905 (113.905) 526.538
Itaguaçu da Bahia Energias Renováveis S/A (12.662) 476 - 318 (318) 811
PPSA (9.540) 150.580 - 25.047 (25.047) 115.992
BBTUR Viagens e Turismo Ltda (em Liquidação) (6.938) 13.588 - - - 6.649
Brasil Ventos Energia S/A (4.295) 1.183 - 17.605 (17.605) 52.511
-
Breitener Jaraqui S.A. (1.975) 39.833 19.428 (19.428) 18.429
-
5283 Participações S.A. (891) 840 - - 1.150
Aporte Aporte -
Resultado Disponível Dispêndios Disponível
Empresa da Dispêndios de
Corrente Inicial de Capital Final
União Capital
Companhia Docas do Rio Grande do Norte - CODERN (566) 15.226 59.880 11.102 (48.777) 63.438
Caixa Loterias S.A (20) 234 - - - 225
Refinaria de Manaus S.A (7) 304 - - - 297
Refinaria de Mucuripe S.A. (0,7) 304 - - - 303
Paraná Xisto S.A (0,5) 304 - - - 303
Fonte: Elaboração Própria a partir de informações do PDG enviadas pela Sest.
Das empresas que apresentaram déficit corrente ao final de 2021, apenas a Companhia
Docas do Rio Grande do Norte recebeu aporte de capital do Tesouro Nacional, no valor
R$ 59,9 milhões.
Em relação a essa empresa, apesar de ter recebido aporte de capital e apresentado déficit
corrente nas suas operações, não foram encontrados indícios de utilização de aporte de capital do
Tesouro Nacional para cobrir o déficit corrente, considerando exclusivamente a metodologia
empregada na análise sintetizada na tabela acima. Isso porque o saldo inicial existente no caixa das
empresas foi suficiente para cobrir o déficit corrente do exercício, o que indica a desnecessidade da
empresa utilizar aportes para pagar despesas correntes.
O Decreto 10.690/2021 foi editado com a finalidade de regulamentar o processo de
transição entre empresas estatais federais dependentes e não dependentes. Segundo o regulamento,
considera-se aumento de participação acionária: i) o aumento do número de cotas ou ações detidas
pela União, ainda que não ocorra elevação na sua participação percentual no capital social; ou ii) o
aumento do capital social, quando a totalidade das ações ou cotas pertencer à União.
O normativo prevê, ainda, a possibilidade de a empresa estatal submeter ao Ministério
da Economia proposta de plano de reequilíbrio econômico-financeiro, cujo prazo máximo de
duração será de dois exercícios, com, no mínimo, a previsão de ajustes nas receitas e despesas para
que possam permanecer na condição de não dependência, inclusive durante a execução do referido
plano.
A EC 19/1998, ao dar nova redação ao art. 37, inciso XIX, da Constituição, flexibilizou
a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, exigindo apenas
autorização legislativa. Ao mesmo tempo, em seu art. 26, a referida emenda fixou prazo de dois
anos para as entidades da Administração Indireta revisarem seus estatutos quanto à natureza
jurídica, tendo em conta a finalidade e as competências efetivamente executadas.
Embora pouco tenha sido feito para dar concretude ao dispositivo, a importância dessa
regra é indiscutível, pois o próprio STF reconhece que nas décadas de 1970 e 1980 “havia muita
imprecisão técnica no caracterizar a personalidade jurídica das entidades prestadoras de serviços
públicos, não sendo raro que empresas de direito fossem autarquias de fato”. Cite-se o Recurso
Extraordinário 599.628.
Essa a razão da regra constitucional vigente: empresas públicas e sociedades de
economia mista devem ser instituídas e operar em bases mais flexíveis se, de fato, explorarem
atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, sem
depender de recursos dos orçamentos fiscal e/ou da seguridade social.
4.1.1.7. Recursos destinados à irrigação nas regiões Centro-Oeste e Nordeste
Esta seção visa examinar o cumprimento do disposto no art. 42 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal, quanto à aplicação de recursos da
União em programas de irrigação durante o exercício de 2021.
Nota-se que 75,05% dos recursos destinados à irrigação foram direcionados à Região
Nordeste e 0%, à Região Centro-Oeste, quando deveria ter sido aplicado, pelo menos, o valor de
R$ 31.563.068,65, correspondente a 20% do montante global empenhado no exercício de 2021,
com os devidos remanejamentos entre os localizadores para assegurar a proporcionalidade mínima
constitucional. Enquanto o percentual executado na Região Nordeste superou o patamar mínimo
estabelecido pelo art. 42 do ADCT (50%), o mesmo não ocorreu com relação ao Centro-Oeste, a
despeito das ressalvas e recomendações preferidas nos pareceres prévios dos exercícios precedentes.
Mínimo de Despesas com Irrigação na Região Nordeste
Os empenhos em favor de projetos de irrigação na Região Nordeste somaram R$ 118,4
milhões, valor correspondente a pouco mais 75% do montante global empenhado em projetos dessa
natureza, cuja alocação foi direcionada, preferencialmente, para o Semiárido. Consoante dados do
plano orçamentário, os recursos foram destinados aos seguintes projetos: Pontal, em Petrolina (PE);
Salitre, Baixio de Irecê e Estreito (BA); Sistema Itaparica (PE/BA); Marrecas/Jenipapo (PI); e
Tabuleiros Litorâneos, em Parnaíba (PI).
Contudo, não é possível ao Tribunal assegurar, a partir das informações da LOA 2021 e
dados gerenciais disponíveis no Siop, se o Poder Executivo observou à risca a destinação mínima
de, pelo menos, 50% do montante aplicado na Região Nordeste (R$ 59,2 milhões) para projetos de
irrigação voltados para a agricultura familiar, conforme fixado pelo art. 42, parágrafo único, do
ADCT. O que se consegue apurar, a partir de informações esparsas divulgadas na internet, é que a
maior parte dos projetos de irrigação é realizada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do
São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), entidade vinculada ao MDR cujos projetos de irrigação,
em geral, são voltados para a agricultura familiar.
Essa, porém, não é a forma mais adequada de evidenciar o cumprimento de
mandamento constitucional, o que demonstra a oportunidade de recomendar ao Ministério da
Economia para que identifique de forma pormenorizada, ainda que por meio de informação
gerencial a ser disponibilizada no Siop, as ações que integram os projetos de irrigação no Semiárido
e as destinadas à agricultura familiar nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste, com a finalidade de
conferir transparência quanto ao cumprimento das subvinculações e demais parâmetros
estabelecidos pelo art. 42, inciso II e parágrafo único, do ADCT.
Mínimo de Despesa com Irrigação na Região Centro-Oeste
O descumprimento da aplicação integral do valor mínimo constitucional vinculado à
irrigação na Região Centro-Oeste vem sendo reiterado. Não havia ocorrido, no entanto, nos últimos
três anos, uma alocação nula de recursos, tal como detectado em 2021.
O gráfico a seguir denota o percentual de recursos com o localizador “Região Centro-
Oeste”, como proporção do total empenhado na irrigação, nos últimos dez anos.
Recursos empenhados na Região Centro-Oeste, como proporção do total da Subfunção Irrigação
100,0%
90,0%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Tesouro Gerencial.
Nota: a linha vermelha indica o mínimo constitucional previsto para aplicação no Centro-Oeste, conforme art. 42 do
ADCT.
Foram considerados os recursos orçamentários com localizador “Região Centro-Oeste”. É possível que recursos
adicionais tenham sido direcionados à região, mas não constem dos totais acima, por não terem recebido o localizador
adequado.
Oportuno observar que o mínimo constitucional de irrigação foi previsto, em 1988, com
prazo máximo de 15 anos. A EC 43/2004 estendeu o prazo original para 25 anos, novamente
alterado, para 40 anos, pela EC 89/2015. Ou seja, apenas nos exercícios de 2003, 2013 e 2014, a
União não estava obrigada a aplicar valor mínimo nos referidos projetos. Antes de 2018, foram
verificadas falhas formais em alguns exercícios em razão da falta de evidência de projetos de
irrigação na Região Centro-Oeste, embora houvesse execução nesse sentido realizada no localizador
Nacional.
Pela primeira vez após a edição da Resolução TCU 291/2017, que estabelece normas e
procedimentos relativos ao processo de apreciação das Contas do Presidente da República e à
emissão de parecer prévio pelo TCU, o Poder Executivo deixou de cumprir integralmente o mínimo
de irrigação na Região Centro-Oeste.
Em 2021, o resultado decorre da sucessão de atos comissivos e omissivos. Após o veto
presidencial, os créditos adicionais e os remanejamentos durante o exercício em análise, a dotação
atualizada aponta que 74,96% dos recursos destinados à irrigação foram direcionados à Região
Nordeste, permanecendo sem nenhuma previsão de verba para projetos de irrigação no Centro-
Oeste. Por um lado, o localizador “Centro-Oeste” não teve dotação prevista em 2021; de outra
banda, o exame detalhado dos recursos aplicados sob o localizador “Nacional” não sinaliza
tampouco alocação na Região Centro-Oeste.
A exposição de motivos para os vetos presidenciais (Mensagem 156, de 22/4/2021)
aponta como justificativas a “insuficiência de espaço no Teto de Gastos para o pleno atendimento
das despesas obrigatórias e do orçamento impositivo” e a “recomposição das dotações necessárias à
cobertura das despesas obrigatórias”.
Não obstante, não há indicação do motivo pelo qual, dentre as opções para a intervenção
presidencial, o Presidente da República, com anuência do Ministério da Economia e da Casa Civil,
decidiu vetar, especificamente, toda a dotação para ações de irrigação no Centro-Oeste, embora se
tratasse de aplicação mínima obrigatória de índole constitucional.
Ademais, conquanto a referida mensagem mencione a possibilidade de posterior
abertura de crédito suplementar, não foi encontrado, nos sistemas informatizados de gestão
orçamentária, registro de abertura de crédito adicional para a irrigação no Centro-Oeste durante o
exercício de 2021, seja no localizador próprio da região, seja no localizador “Nacional”. Por outro
lado, foram identificadas, na prestação de contas, declarações aparentemente conflitantes sobre as
medidas adotadas, pelos Ministérios ao longo da execução orçamentária, em relação ao
mandamento constitucional que estabelece aplicação mínima na região em discussão.
Diante da gravidade dos fatos, foram realizadas, com autorização do relator, diligências
para que a Casa Civil da Presidência da República, o Ministério da Economia e o Ministério do
Desenvolvimento Regional esclarecessem a razão do descumprimento do limite constitucional na
Região Centro-Oeste no âmbito do TC 000.562/2022-0 (peças 25-32).
Em resposta às diligências (peças 33 a 48), os órgãos apresentaram seus
esclarecimentos. Por parte do Ministério da Economia, a Secretaria do Orçamento Federal (SOF)
informou (peça 36) que o veto às programações para irrigação no Centro-Oeste foi necessário para
dar cumprimento à legislação fiscal. Afirma que, como havia dotação para o localizador Nacional,
não é possível afirmar que houve descumprimento constitucional. Assinala que o MDR solicitou,
em 3/12/2021, diversos pedidos de créditos suplementares sem compensação, entre os quais se
encontrava a aplicação de R$ 40,0 milhões para irrigação no Centro-Oeste, e que, segundo a Junta
de Execução Orçamentária (JEO), poderia ter ocorrido remanejamento pelo MDR, no limite dos
saldos de dotação ainda sem empenho. Informa ainda que, desde 2017, têm sido tomadas medidas
para assegurar o cumprimento do mínimo da irrigação, mas que, em 2021, houve um enorme
desafio em relação ao atendimento de todas as regras fiscais, considerando a impositividade de
execução das programações orçamentárias aprovadas.
A SOF indica também (peça 37) que o autógrafo aprovado pelo Congresso não atendia
aos mínimos constitucionais para a irrigação, e que propôs a aposição de veto presidencial de
maneira que respeitasse os mínimos, o que não foi atendido. A Secretaria afirma que formalizou
alertas, em 23 de setembro e 17 de novembro, ao MDR, o qual respondeu, em 22 de novembro, que
não poderia reforçar a dotação na irrigação para o Centro-Oeste por falta de cancelamento de outras
dotações. No final do exercício, formalizou-se o pedido 273521, para demanda de crédito não
compensada, o qual não foi acolhido pela JEO. Em ofício de 14 de dezembro, a SOF sinalizou ao
MDR que poderia remanejar saldos de dotação ainda sem empenho, relativo ao montante bloqueado
das dotações discricionárias do ministério, de R$ 700.604.197,00.
A Casa Civil da Presidência da República traça (peça 44) um histórico da prestação de
contas relativo ao mínimo da irrigação nos últimos cinco anos. Ressalta que, embora os projetos de
lei orçamentária fossem encaminhados com o atendimento aos parâmetros mínimos, a
multiplicidade de atores e de decisões no processo orçamentário poderia dificultar o cumprimento
do preceito constitucional. Afirma que foi inserido filtro, no Sistema Integrado de Planejamento e
Orçamento (Siop), relativo à subfunção 607 – Irrigação, de modo a criticar e rejeitar as propostas
que contribuam para o descumprimento dos percentuais. Ademais, informa que estão sendo
envidados os esforços para o cumprimento dos mínimos constitucionais em 2022. Por fim, critica o
montante mínimo previsto para o Centro-Oeste, pois seria irrealista.
No que diz respeito ao exercício de 2021, a Casa Civil relata (peça 45) que os vetos ao
orçamento levaram em conta a necessidade de cumprimento ao teto constitucional, e consideraram,
no caso da irrigação, o aumento da dotação para o Centro-Oeste por emenda parlamentar. Entende
que o veto não deveria ser considerado na análise, pois o dispositivo constitucional atine à aplicação
de recursos. Aduz que não se poderia falar de descumprimento do mínimo para o Centro-Oeste, já
que a dotação no localizador Nacional poderia ser aplicada em qualquer região, e que a maior
demanda na Região Nordeste, por sua maior aridez, somada a obstáculos na localização do gasto
executado, geram complexidade que pode afetar o cumprimento do mínimo.
A Controladoria-Geral da União afirma (peça 47) que, em cumprimento à
recomendação do TCU no relatório sobre as contas de 2016, tem incorporado, na prestação de
contas presidencial, item específico sobre a aplicação dos recursos mínimos destinados à irrigação,
cuja produção é responsabilidade da SOF. No que se refere ao aprimoramento das informações
relativas à execução e à localização do gasto, o assunto vem sendo tratado pela SOF e pelo MDR.
O MDR, órgão responsável pela execução da política de irrigação, comunica (peça 48)
que a dotação para remanejamento, disponibilizada em 1º/12/2021, de R$ 763,3 milhões, foi
utilizada integralmente para o pagamento de obras atrasadas, em especial na habitação, e que, de
qualquer forma, só poderia propor crédito para a irrigação no Centro-Oeste até 30 de novembro, nos
termos da LOA 2021. Segundo o ministério, as dotações para irrigação no localizador Nacional
foram direcionadas, primordialmente, para pagamento de compromissos já assumidos, como
continuidade de obras e manutenção de projetos. Informa que, desde maio de 2021, fez diversos
pedidos para ações de irrigação no Centro-Oeste. Critica o patamar mínimo da irrigação para o
Centro-Oeste, devido às peculiaridades da região, e aponta que, desde 2003, o mínimo do Centro-
Oeste não foi cumprido na maior parte dos exercícios. Quanto à alocação em 2022, reafirma que
vem mantendo esforços para o cumprimento do mínimo da irrigação.
Sobre o conjunto das diligências, cumpre a esta Corte de Contas tecer as considerações
devidas, nos limites deste parecer prévio, sem prejuízo de possível ação de controle em
procedimento específico.
No rol de alegações, alguns órgãos apontaram haver irrealismo do patamar mínimo de
ações de irrigação no Centro-Oeste, seja pelo perfil da região, seja pela inter-relação do percentual
com as demandas da região Nordeste. No que diz respeito a essa alegação, qualquer que seja a
conclusão a esse respeito, o fato é que o cumprimento do mínimo é um mandamento constitucional,
e que os agentes competentes, inclusive o Presidente da República, podem propor alteração desses
parâmetros.
Ademais, o art. 42 do ADCT, que remonta ao texto original de 1988, foi alterado pelas
ECs 43/2004 e 89/2015, ocasiões em que foi reafirmada a decisão do constituinte de priorizar a
alocação de recursos em projetos de irrigação nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste, com a
subvinculação de metade das dotações para projetos de agricultura familiar.
Também descabe aventar que a alocação de recurso no localizador Nacional afastaria o
descumprimento do mínimo para o Centro-Oeste. Essa conclusão não se revela plausível, pois
fulminaria a rastreabilidade do orçamento, que é exigência constitucional (art. 163-A), sendo certo
que o Poder Público deve trabalhar para maior detalhamento e transparência dos gastos, inclusive
quanto à dimensão espacial da aplicação, seja por meio dos subtítulos orçamentários legais, seja por
atributos gerenciais.
Para além desse aspecto, os dados disponíveis sobre o efetivo empenho de recursos para
ações de irrigação, em 2021, sob o localizador “Nacional” (R$ 39,4 milhões), consoante o plano
orçamentário, indicam que a maior parte desses recursos se voltou para a gestão de projetos fora do
Centro-Oeste, nas seguintes localidades: Mirorós/BA, Gorutuba/MG, Jacaré-Curituba/SE, Nupeba-
Riacho Brande/BA, Barreiras Norte/BA, Santa Rosa/PI, Jaíba/PI, Salitre/BA, Estreito/BA e Pontal
Sul/PE. Do montante restante (R$ 17,9 milhões), a maioria se destinou a despesas correntes do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), da Codevasf e do MDR. Não há
evidências de aplicação em projetos de irrigação no Centro-Oeste, ainda que alocados
indevidamente no localizador “Nacional”, o que constituiria apenas falha formal.
Considerando-se a execução orçamentária de 2021 propriamente dita, constata-se uma
sucessão de equívocos, a começar pelo autógrafo legislativo, aprovado em patamar muito inferior
ao preceituado pelo art. 42 do ADCT para a irrigação no Centro-Oeste. Seguiu-se a isso o veto da
dotação, que passou a inexistir, em afronta ao dispositivo citado.
A sistemática adotada por ocasião da sanção/veto do PLOA 2021 aponta que o Poder
Executivo dispunha de condição fática para observar a distribuição proporcional das dotações
aprovadas entre as regiões priorizadas constitucionalmente. Para tanto, bastaria reduzir a dotação da
Região Nordeste e do localizador Nacional, de forma a garantir dotação mínima - evidenciada de
forma transparente - para Região Centro-Oeste na proporção estabelecida constitucionalmente.
Diante das decisões executivas mencionadas e dos efeitos delas decorrentes, é oportuno
registrar que, uma vez aprovada a proposta legislativa em matéria orçamentária pelas Casas do
Congresso Nacional, a mesma deverá ser submetida ao poder de sanção e/ou de veto do Presidente
da República (arts. 48, inciso II, e 66 e §§ da Constituição), tudo a evidenciar o longo itinerário
procedimental a ser percorrido por qualquer projeto de lei, em especial os projetos que versam sobre
orçamento. Isso porque a sanção ou veto é o instrumento que sela a comunhão de vontade do Poder
Executivo e do Poder Legislativo, sendo esta apreciação oportuna para análise não apenas do
interesse público, mas também da compatibilidade da norma infraconstitucional com a Carta
Política. Cite-se o Recurso Extraordinário 217.194 (Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 1/6/2001).
Sobre a necessidade desse controle a ser exercício pelo Poder Executivo, convém
mencionar a abordagem do Capítulo 6 do parecer prévio das contas presidenciais do exercício de
2018 (Acórdão 1.331/2019-TCU-Plenário, relatora Ministra Ana Arraes), que analisou as
recomendações e os alertas proferidos nas contas presidenciais de 2017 (item 2.1 do Acórdão
1.322/2018-TCU-Plenário, relator Ministro Vital do Rêgo), merecendo destaque o Alerta objeto do
item 6.2.19 do Parecer Prévio.
Assim sendo, foi escolha do Presidente da República - com anuência dos Ministros que
integram a Junta de Execução Orçamentária (JEO) e auxiliam na direção superior da administração
federal - deixar a Região Centro-Oeste sem nenhuma dotação orçamentária em 2021.
Isso, por si só, não configura irregularidade, uma vez que o Poder Executivo dispõe de
instrumentos para remanejar e recompor, ao longo da execução orçamentária, as dotações aquém do
devido. Porém, a via eleita tem o risco inerente ao processo legislativo orçamentário que, no limite,
pode ser reinstaurado com vistas à abertura de créditos adicionais para garantir a observância do
mandamento constitucional. São aspectos sensíveis da gestão orçamentária que merecem atenção e
cuidado específicos na tomada de decisão e na atividade de monitoramento a ser realizado pelo
Ministério da Economia, pelo MDR e pela JEO, de forma a mitigar os riscos inerentes à escolha.
Esse cuidado, entretanto, não foi demonstrado nas respostas dos Ministérios integrantes
da JEO, órgão de “assessoramento direto ao Presidente da República na condução da política fiscal
do Governo federal” consoante o Decreto 9.884/2019.
Não foram apresentadas justificativas juridicamente plausíveis pelos titulares dos órgãos
que integram a JEO para as negativas aos pedidos de recomposição da dotação orçamentária
formalizados pelo MDR, tampouco foram indicadas quais medidas a Presidência da República
adotou para coordenar as decisões entre os órgãos mencionados e resolver o problema a contento.
No parecer prévio sobre as contas de 2016, foram feitas ressalvas quanto à falta de
comprovação do cumprimento do percentual mínimo de aplicação de recursos destinados à
irrigação nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste, bem como a projetos de irrigação que
beneficiassem agricultores familiares, outra exigência prevista no art. 42 do ADCT. Também foi
apontada a ausência de requisitos na lei orçamentária e no Siafi que possibilitassem o
monitoramento, a avaliação e o controle da observância da referida regra constitucional (item
4.1.1.7).
Na ocasião, foi expedida a recomendação 3.1.7 ao Ministério da Transparência e
Controladoria-Geral da União para que incluísse, na prestação de contas presidencial, análise sobre
o cumprimento do referido dispositivo constitucional, assim como adotasse medidas para aprimorar
a produção, a consolidação e a divulgação de informações referentes à regionalização da despesa
executada com projetos de irrigação. Foi expedida, ainda, a recomendação 3.1.8 aos Ministérios
hoje representados pelo Ministério da Economia para que fossem aprimoradas as informações
referentes à regionalização da despesa relacionada à subfunção de governo irrigação no processo
orçamentário e no Siafi. Nas contas de 2017, foi expedida recomendação 1.2, no mesmo sentido da
recomendação 3.1.7 exarada no parecer do exercício anterior.
No exercício de 2019, a SOF havia informado, por intermédio da Nota Técnica SEI
31.110/2020/ME, transcrita na página 528 da Prestação de Contas da Presidência da República de
2020 (PCPR 2020), que fora atualizado o Siop, com a implementação do filtro relativo à subfunção
Irrigação, de modo a criticar as propostas que contribuam para o descumprimento dos percentuais
mínimos em cada região, permitindo, assim, que, do exercício de 2020 em diante, as flutuações
percentuais de aplicação de recursos nas regiões sejam monitoradas a tempo para que medidas
concretas sejam tomadas para correção.
Todavia, tem-se verificado a persistência do descumprimento do ditame constitucional,
seja na tramitação, seja na execução do orçamento fiscal. Ora, a aplicação de verba federal para
irrigação no Centro-Oeste, que se fazia presente no PLOA e no autógrafo aprovado pelo Congresso
Nacional, foi eliminada da LOA 2021 por força de veto aposto pelo Presidente da República. Dessa
forma, a atuação do Poder Executivo foi contraditória ao longo do processo legislativo, terminando
por levar à inobservância da Constituição.
Embora o mínimo de irrigação na Região Centro-Oeste seja de baixa materialidade
quantitativa frente à magnitude do orçamento fiscal da União, sob o ângulo da materialidade
qualitativa, à luz do conceito estabelecido no art. 2º, inciso III, da Resolução TCU 291/2017, não é
irrelevante a sequência de atos comissivos e omissivos do Poder Executivo que resultaram na
irregularidade da execução orçamentária da União, eis que representa 100% de inobservância de
parte do mandamento constitucional.
IRREGULARIDADE
Não aplicação, no exercício de 2021, de nenhum valor em projeto de irrigação na Região Centro-
Oeste, em afronta à exigência do inciso I do art. 42 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT), a qual estabelece que, dos recursos empenhados no exercício em projetos de
irrigação, a União deve aplicar, até 2027, o valor mínimo de 20% na Região Centro-Oeste.
RECOMENDAÇÕES
a. Ao Presidente da República, para que observe a distribuição mínima das despesas com
irrigação entre as Regiões Nordeste e Centro-Oeste por ocasião da elaboração da proposta
do orçamento fiscal, da apreciação – por ocasião da sanção ou veto – do autógrafo
aprovado pelo Congresso Nacional, assim como durante toda execução orçamentária,
conforme parâmetros fixados no art. 42 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT);
b. À Casa Civil, ao Ministério da Economia e ao Ministério do Desenvolvimento Regional,
que adotem as medidas de articulação interinstitucional necessárias para o efetivo
cumprimento da aplicação mínima de recursos para ações de irrigação nas Regiões
Nordeste e Centro-Oeste, nos expressos termos do art. 42 do ADCT;
c. Ao Ministério da Economia, para que identifique de forma pormenorizada, ainda que seja
por meio de informação gerencial a ser disponibilizada no Sistema de Planejamento e
Orçamento mantido pelo Poder Executivo, as ações que integram os projetos de irrigação
no semiárido e as destinadas à agricultura familiar nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste,
ALERTA
junho do ano anterior, passou a ser de janeiro a dezembro. Por conseguinte, os limites para 2021
passaram a ser calculados a partir dos montantes realizados em 2016, corrigidos pelo índice de
7,20% para 2017 e pelas variações anuais do IPCA no período de 2017 a 2020, respectivamente,
2,95%, 3,75%, 4,31% e 4,52%, resultando no montante de R$ 1.524.389.915.112.
No entanto, o art. 4º, § 1º, da EC 113/2021 estabeleceu que no exercício de 2021 o
eventual aumento dos limites ficaria restrito ao montante de até R$ 15 bilhões, a ser destinado
exclusivamente ao atendimento de despesas de vacinação contra a Covid-19 ou relacionadas a ações
emergenciais e temporárias de caráter socioeconômico. Destarte, as autorizações orçamentárias e os
pagamentos em 2021 poderiam alcançar R$ 1.500.936.445.067, correspondente à soma dos R$ 15
bilhões com o limite definido antes da EC 113/2021, de R$ 1.485.936.445.067, obtido a partir da
mesma base de 2016 e do índice de 7,20% para 2017, porém corrigido pelas variações do IPCA de
julho a junho no período de 2017 a 2020, respectivamente, 3,00%, 4,39%, 3,37% e 2,13%.
Especificamente no que tange ao cumprimento do art. 4º, § 1º, da EC 113/2021,
consoante a Nota Técnica 12228/2022/ME (peça 41 do TC 000.560/2022-7), expedida em resposta
a diligência efetuada por este Tribunal, foram editadas cinco medidas provisórias veiculando
créditos extraordinários, autorizando novas dotações primárias, com fundamento no art. 4º, §§ 3º e
4º, dessa mesma alteração constitucional, como se verifica na tabela a seguir:
Créditos Extraordinários abertos com base no art. 4º, §§ 1º, 3º e 4º, da EC 113/2021
Ato autorizativo Número do ato Valor (R$) Finalidade*
MP 1.083/2021 6.412.000.000 Aquisição, produção e fornecimento de vacinas.
Auxílio Emergencial de Proteção Social a Pessoas
MP 1.084/2021 4.153.017.000
em Situação de Vulnerabilidade - Lei 14.171/2021.
Garantir o atendimento à Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF
MP 1.087/2021 167.288.600
742, por meio da distribuição de cestas de alimentos
à população quilombola.
Medida Provisória Assistência financeira da União aos Estados e ao
Distrito Federal para a garantia de acesso à internet,
MP 1.088/2021 3.501.597.083
com fins educacionais, aos alunos e aos professores
da Educação Básica Pública - Lei 14.172/2021.
Ação emergencial e temporária de caráter
socioeconômico, visando ao enfrentamento das
MP 1.092/2021 700.000.000 consequências das fortes chuvas que acometeram
diversas regiões do Brasil, ao final de dezembro de
2021.
Total Medida Provisória 14.933.902.683
Fonte: Siop e sítio do Planalto: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/2019-a-
2022.
* Conforme exposições de motivos que acompanharam as listadas medidas provisórias.
Verifica-se que o MPU ultrapassou seu limite em 0,45% (R$ 30,6 milhões), porém, em
consonância com o Acórdão 2.828/2020-TCU-Plenário (relatoria ministro Aroldo Cedraz), a
LOA 2021 foi aprovada fixando-se um excesso de R$ 61,7 milhões em relação ao Teto do MPU,
haja vista que foram absorvidos no limite de despesas primárias do Poder Executivo.
Destarte, os pagamentos realizados pelos Poderes e órgãos foram inferiores aos limites
individualizados, cumprindo-se, sob a perspectiva financeira, a regra constitucional estabelecida no
art. 107, § 10, do ADCT.
No âmbito do acompanhamento dos resultados fiscais e da execução orçamentária e
financeira da União, em cumprimento ao art. 3°, inciso IV, alínea “a”, da Resolução-TCU
142/2001, informou-se, quanto ao 1º bimestre, por meio do item 9.2.1 Acórdão 1.931/2021-TCU-
Plenário (relatoria ministro Aroldo Cedraz), sobre a possibilidade de utilização de saldos
orçamentários derivados da substituição temporária do Programa Bolsa Família (PBF) pelo Auxílio
Emergencial 2021, com fundamento no art. 3º da EC 109/2021, observadas as deliberações contidas
nos itens 9.1 do Acórdão 2.026/2020-TCU-Plenário, 9.3 do Acórdão 2.710/2020-TCU-Plenário e
9.2 do Acórdão 1.532/2021-TCU-Plenário, todos de relatoria do ministro Bruno Dantas. Entretanto,
haveria necessidade de que o eventual emprego/remanejamento de dotações que estavam
originalmente fixadas na LOA 2021 para o PBF e que viessem a ser direcionadas ao custeio de
despesas no próprio programa fosse devidamente justificado quanto ao impacto direto no
enfrentamento das consequências sociais e econômicas da pandemia.
Nos demais bimestres, verificou-se que os créditos suplementares abertos pelo Poder
Executivo foram compatíveis com a meta de resultado primário e com o Teto de Gastos, bem assim
que as avaliações das projeções indicavam a possibilidade de ampliação das despesas
discricionárias, contudo o Teto de Gastos foi o limitador dessa margem de expansão. As projeções
de receitas e despesas primárias para o 2º e 3º bimestres indicaram a possibilidade de ampliação de
R$ 128,4 bilhões e R$ 167,1 bilhões, respectivamente. Porém, por força do Teto de Gastos, a
ampliação se limitaria aos montantes respectivos de R$ 4,5 bilhões e R$ 12,3 bilhões, conforme
itens 9.1.3 dos Acórdãos 2.431/2021-TCU-Plenário e 2.958/2021-TCU-Plenário, ambos de relatoria
do ministro Aroldo Cedraz. Entretanto, com relação ao último, R$ 9,4 bilhões poderiam ser
alocados apenas ao custeio de despesas com o enfrentamento da pandemia de Covid-19, de acordo
com os Acórdão 1.532/2021-TCU-Plenário e 1.931/2021-TCU-Plenário.
Quanto ao 4º bimestre, indicou-se a possibilidade de ampliação em R$ 192,1 bilhões,
porém, a apuração do excesso de R$ 288,4 milhões em relação ao Teto de Gastos exigiu a
adequação ao limite até o término do exercício, conforme o item 9.1.3 Acórdão 540/2022-TCU-
Plenário (relatoria ministro Aroldo Cedraz). Esse ajuste ocorreu já no 5º bimestre, uma vez que foi
apurada a possibilidade de ampliação em R$ 235,7 bilhões nas despesas primárias discricionárias
dos Poderes da União, MPU e DPU. Entretanto, novamente em razão do Teto de Gastos, a expansão
do gasto primário se limitaria a R$ 6,0 bilhões. Ainda nesse último período, foi editada a Lei
14.212/2021, que incluiu o parágrafo único ao art. 45 da LDO 2021, o qual permitiu que a citada
economia de R$ 9,5 bilhões pudesse ser utilizada para quaisquer despesas sujeitas ao Teto,
conforme também interpretado pela PGFN, por meio do Parecer 16446/2021/ME, de forma que
perderam objeto as restrições estabelecidas nos Acórdãos 1.532/2021-TCU-Plenário e 1.931/2021-
TCU-Plenário, conforme o item 9.1.3 do Acórdão 696/2022-TCU-Plenário (relatoria ministro
Aroldo Cedraz).
4.1.2. Lei de Responsabilidade Fiscal
4.1.2.1. Cumprimento das Metas Fiscais
A presente seção abrange, para fins de análise da conformidade financeira e
orçamentária, a verificação do cumprimento das metas fiscais do exercício de 2021 estabelecidas na
Lei 14.116/2020 (LDO 2021), bem como a consistência da apuração do resultado primário.
O resultado primário corresponde à diferença entre receitas primárias, ou seja, receitas
obtidas por meio de tributos ou serviços prestados pelo Estado, desconsiderando-se as receitas de
natureza financeira, e despesas primárias, isto é, gastos que possibilitam a oferta de serviços
públicos à sociedade, deduzidos os dispêndios com operações financeiras (juros, amortizações e
concessão de empréstimos).
A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e o Banco Central do Brasil (Bacen) utilizam
metodologias diferentes para calcular o resultado primário do Governo Central. A primeira apura o
resultado seguindo o método denominado “acima da linha”, que foca na diferença entre fluxos de
receitas e despesas, enquanto o segundo se guia pela variação da dívida líquida, método
denominado “abaixo da linha”.
Conforme o disposto no art. 11, incisos III e IV, da LDO 2021, c/c a Mensagem
Presidencial de Encaminhamento do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2021 ao Congresso
Nacional, incumbe ao Bacen a apuração oficial dos resultados fiscais para fins de verificação do
cumprimento das metas estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais da citada LDO.
A LDO 2021 estabeleceu em seu art. 2º, para o Governo Central, meta de déficit
primário dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) de R$ 247,1 bilhões (-3,16% do
PIB). Já o art. 3º da LDO 2021 preceituou que o Programa de Dispêndios Globais (PDG) das
empresas estatais federais deveria ser compatível com a obtenção da meta de déficit primário de R$
4,0 bilhões (-0,05% do PIB). Assim, para o Governo Federal, a meta de resultado primário para o
exercício de 2021 foi de déficit de R$ 251,1 bilhões (-3,21% do PIB). Ademais, nos termos do § 2º
do art. 3º da LDO 2021, poderia haver, durante a execução orçamentária, com demonstração nos
relatórios de avaliação bimestrais, compensação entre as metas dos OFSS e do PDG.
A seu turno, conforme o Anexo IV.1 da LDO 2021, a meta de resultado primário para o
setor público não financeiro foi de déficit de R$ 250,9 bilhões (-3,21% do PIB), enquanto a
projeção de resultado primário para os estados, o Distrito Federal e os municípios foi de superávit
de R$ 200 milhões, conforme apresentado na tabela seguinte.
Metas Fiscais da LDO 2021
LDO 2021
Discriminação
R$ milhões % PIB*
A. Governo Central -247.118,2 -3,16
I. Receita Primária Total 1.595.421,6 20,42
II. Transferências por Reparticão de Receita 293.133,3 3,75
III. Receita Primária Líquida 1.302.288,3 16,67
IV. Despesa Primária Total 1.549.406,6 19,84
V. Resultado Primário Governo Central (III – IV) -247.118,3 -3,16
V.1 Resultado do Tesouro Nacional e Banco Central 44.669,4 0,57
V.2 Resultado da Previdência Social -291.787,6 -3,74
B. Empresas Estatais Federais - Meta de Resultado
Primário -3.970,0 -0,05
C. Governo Federal - Meta de Resultado Primário
-251.088,2 -3,21
Resultado Primário (A+B)
D - Governos Estaduais e Municipais - Resultado
200,0 0,00
Primário
E - Setor Publico não Financeiro - Resultado Primário
-250.888,20 -3,21
(C+ D)
Fonte: Anexo IV.1 de Metas Fiscais da LDO 2021.
*Observação: PIB 2021 estimado em R$ 7,8 trilhões, a partir de cenário macroeconômico constante da Grade de Parâmetros da SPE
produzida em 9/11/2020. O PIB 2021 apurado pelo IBGE em março de 2022 foi de R$ 8,7 trilhões.
Exclusão de despesas da contabilização da Meta Fiscal prevista no §2º do art. 2º da LDO 2021
A LDO 2021, com modificação pela Lei 14.143/2021 (§ 2º do art. 2º), estatuiu que não
seriam contabilizados na meta de resultado primário os créditos extraordinários alocados para as
seguintes despesas: (i) ações e serviços públicos de saúde, nos termos da Lei Complementar
141/2012, desde que identificadas em categoria de programação específica de enfrentamento à
pandemia; (ii) Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
(Pronampe); e (iii) Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda (BEm).
No âmbito do processo TC 015.468/2021-6 (Acompanhamento dos Resultados Fiscais e
da Execução Orçamentária e Financeira da União no 2º bimestre de 2021), que culminou no
Acórdão 2.431/2021-TCU-Plenário, de relatoria do ministro Aroldo Cedraz, a STN e a SOF
informaram que, para efeito da compensação de meta fiscal, foram definidos os seguintes critérios
de apuração: (i) computar apenas as despesas que se referissem às medidas provisórias publicadas
em 2021, ou seja, não seriam incluídas aquelas publicadas em 2020 ainda que os correspondentes
créditos tivessem sido reabertos em 2021; e (ii) não seriam computadas as despesas decorrentes de
restos a pagar inscritos ao final de 2020 que viessem a ser pagas em 2021.
Tais critérios se justificaram pelo fato de que as despesas referentes às medidas
provisórias de 2020 e aquelas decorrentes de restos a pagar inscritos naquele mesmo ano já haviam
sido consideradas para definição da meta fiscal na LDO 2021. Como corolário, se essas mesmas
despesas fossem abatidas da meta fiscal para fins de compensação, computar-se-ia seu efeito em
dobro, o que ensejaria abertura de espaço fiscal excedente indevidamente.
A par disso, o preceito contido no § 1º, c/c o inciso I, do art. 3º Emenda Constitucional
109/2021 dispôs que a meta fiscal estabelecida no art. 2º da LDO 2021 deveria ser deduzida, ainda,
das despesas com o auxílio emergencial até o limite de R$ 44,0 bilhões.
Encerrado o exercício e sem considerar quaisquer exclusões/deduções, verificou-se que
o Governo Federal atingiu déficit primário de R$ 32,8 bilhões, composto de déficit do Governo
Central de R$ 35,9 bilhões e de superávit das empresas estatais federais de R$ 3,0 bilhões. Por sua
vez, os valores deficitários de metas estabelecidas pela LDO 2021 foram de R$ 251,1 bilhões para o
Governo Federal, R$ 247,1 bilhões, para o Governo Central, e R$ 4,0 bilhões, para as empresas
estatais federais. Assim, conforme demonstrado na tabela a seguir, houve cumprimento das metas
de resultado primário, uma vez que o resultado realizado, embora deficitário, não extrapolou a meta
estabelecida pela LDO 2021.
Registre-se ainda que as deduções autorizadas pela LDO 2021 totalizaram R$ 79,4
bilhões. Todavia, mesmo sem o emprego desse permissivo constitucional-legal, a meta de resultado
primário foi alcançada.
Já os entes subnacionais obtiveram superávit primário de R$ 97,6 bilhões, comparado à
projeção de superávit de R$ 200 milhões, o que corresponde a um resultado R$ 97,4 bilhões acima
do projetado.
Avaliação do Cumprimento das Metas Fiscais 2021
R$ milhões
Desvio
Resultado
LDO/2021 Meta [E] =
Esfera Realizado [D] = [C] -
[A] Ajustada [B] [D]/[B]
[C] [B]
%
Governo Federal -250.888 -330.281 -32.842 297.439 -90%
Governo Central -247.118 -326.511 -35.872 290.639 -89%
Empresas Estatais Federais -3.970 -3.970 3.030 7.000 -176%
Ajustes - EC 109/2021 e LDO 2021* - 79.393 95.045 -
Auxílio Emergencial - 44.000 59.651** - -
Ações e Serviços Públicos de Saúde - 23.373 23.373 - -
BEm - 7.021 7.021 - -
Pronampe - 5.000 5.000 - -
Fontes: Bacen, SOF e STN - Adaptada *Memo: EC 109/2021 e Lei 14.143/2021. **Valor de R$ 59,65 bilhões se refere ao montante
de despesas total pagas em 2021 na ação orçamentária 00SI - Auxílio Emergencial 2021 para o Enfrentamento da Emergência de
Saúde Pública de Importância Internacional Decorrente do Coronavírus (Covid-19), e não somente ao limite estabelecido para a
exclusão da meta de resultado primário.
Apresenta-se a seguir gráfico comparativo da meta fiscal da LDO 2021, da meta ajustada e
do resultado primário do Governo Central alcançado no exercício.
Meta Fiscal da LDO 2021, Meta Ajustada e Resultado Primário do Governo Central em 2021
R$ bilhões
0
-35,9
-100
-200
-247,1
-300
-326,5
-400
Meta Fiscal da LDO 2021 Meta Ajustada Resultado Primário do Governo Central
efetiva aprovação, houve reavaliação do total das despesas obrigatórias, indicando-se insuficiência
de espaço no Teto de Gastos e no orçamento impositivo, de forma que, para fins de cobertura da
citada redução, decidiu-se vetar R$ 19,8 bilhões e bloquear R$ 9 bilhões em despesas
discricionárias, conforme autorização contida no art. 62, § 3º, da LDO 2021. Um bloqueio de
R$ 9,3 bilhões foi realizado por meio do Decreto 10.686/2021, montante mantido no Anexo XXVII
do Decreto 10.699/2021.
Posteriormente, no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 2º
bimestre, já sob a vigência da LOA 2021, houve a possibilidade de ampliação dos limites das
despesas primárias no montante de R$ 4.521,9 milhões. Na avaliação do 3º bimestre, foi possível
ampliar tais limites em até R$ 12.303,9 milhões. Verifica-se, então, que houve, no curso do
exercício financeiro, a inversão da necessidade de redução do montante das despesas primárias, que
passou a ser de possibilidade de ampliação dentro do limite do Teto de Gastos, conforme sintetizado
na tabela “Programação orçamentário-financeira: Resultado Fiscal e Contingenciamento em 2021”
constante da seção 2.3.3 deste Relatório. O reflexo da dinâmica da execução foi a redução do
montante bloqueado, por meio da edição das Portarias Fazenda/ME 6.518, de 8/6/2021, e 7.717, de
29/6/2021, para, respectivamente, R$ 5,2 bilhões e R$ 4,5 bilhões, e, por derradeiro, mediante a
revogação do Anexo XXVII do Decreto 10.699/2021, por meio do Decreto 10.760, de 30/7/2021.
Empoçamento de Recursos
A partir do 2º quadrimestre de 2018 incorporou-se ao Relatório de Avaliação do
Cumprimento das Metas Fiscais tópico relativo ao “empoçamento de recursos”, então definido
como o resultado da diferença entre os pagamentos efetuados e o limite autorizado a cada
Ministério, conforme estabelecido no decreto que dispõe sobre a programação financeira e o
cronograma de execução mensal de desembolso, exigido pelo art. 8º da LRF. Destacou-se como
consequência do Empoçamento o “excesso de resultado primário” em relação à meta do exercício,
configurando, a um só tempo, esforço fiscal além do necessário e prejuízo à eficiência, eficácia e
efetividade do gasto público.
O tema, então, passou a ser objeto dos acompanhamentos bimestrais deste Tribunal,
inserindo-se no escopo da regularidade na execução financeira. No âmbito da avaliação do 2º
bimestre de 2021, constatou-se que o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e o
Ministério da Defesa (MD) apresentaram margem e grau de empoçamento elevados em relação às
despesas discricionárias constantes do Anexos II (Fontes Tesouro), III (Fontes Tesouro ressalvadas
no Anexo III da LDO 2021) e IV (Fontes Próprias) do Decreto 10.625/2021 – o grau de
empoçamento se refere à razão entre a margem e o correspondente limite constante do decreto –,
respectivamente, R$ 1,06 bilhão (50,5%) e R$ 1,02 bilhão (37,6%).
Este Tribunal, por meio do item 9.2 do Acórdão 2.431/2021-TCU-Plenário, deliberou
por dar ciência aos referidos ministérios quanto à necessidade de promover gestões no sentido de
mitigar a ocorrência de significativos empoçamentos de recursos, conforme reportado nos
Relatórios de Avaliação do Cumprimento de Metas Fiscais, em atenção ao princípio da eficiência
estabelecido no art. 37 da Constituição Federal, e em consonância com os arts. 48 e 50 da Lei
4.320/1964, o art. 10, parágrafo único, do Decreto 93.872/1986, os arts. 63, §§ 4º a 8º, e 64, §§ 12 e
18 a 20, da Lei 14.116/2020 (LDO 2021) e o inteiro teor do Decreto 10.699/2021.
Quando da avaliação do 5º bimestre de 2021, a equipe técnica constatou a presença de
elementos suficientes para a apresentação de propostas de deliberações específicas a certos órgãos.
Entretanto, compreendeu-se que o tratamento da matéria no âmbito das Contas do Presidente da
República relativas ao exercício de 2021 proporcionaria a este Tribunal atuar sobre um espectro
mais amplo, uma vez que envolve questões comuns aos ministérios. Em vista disso, apresenta-se o
exame realizado considerando a avaliação referente ao 5º bimestre e os dados de execução
financeira complementar do exercício de 2021, consoante limites autorizados por meio da Portaria
Seto/ME 15.151, de 28/12/2021.
Os exames recaíram sobre os dados de execução das dotações que compõem os Anexos
II, XI e XIII do Decreto 10.699/2021, os conjuntos de maior materialidade, envolvendo
exclusivamente fontes Tesouro, ou seja, não envolvem recursos próprios. O Anexo II agrega os
limites para pagamentos de despesas primárias discricionárias (RP 2), excluídas as despesas que não
são objeto de limitação de empenho constantes do Anexo III da LDO 2021. O Anexo XI
compreende os limites para o pagamento de dotações decorrentes de emendas do relator-geral do
PLOA 2021 (RP 9). O Anexo XIII apresenta limites para os pagamentos de despesas primárias
obrigatórias (RP 1) constantes da Seção I do Anexo III da LDO 2021 que estão sujeitas ao controle
de fluxo, conforme estabelecido no art. 63, § 2º, da LDO 2021.
As despesas de RP 9, além da significativa materialidade, ganharam relevância em
virtude do impacto na sua execução proporcionado pelo deferimento parcial de pedido de medida
cautelar pela ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF), em 5/11/2021, no âmbito
das Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs) 850, 851 e 854, que tramitam
em conjunto. A decisão foi referendada pelo Plenário da Corte em 10/11/2021. Entretanto, em
6/12/2021, a ministra Rosa Weber acolheu, ad referendum do Plenário, o pedido formulado pelos
presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, autorizando a execução dessas despesas
desde que sejam observadas as regras do Ato Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal 1/2021 e da Resolução 2/2021-CN, que alterou disposições da Resolução 1/2006-
CN, para ampliar a transparência da sistemática de apresentação, aprovação e execução
orçamentária referente às emendas de relator-geral.
Os recursos correspondentes aos Anexos II, XI e XIII representam, no fechamento do
exercício de 2021, R$ 236,3 bilhões (82,9%) do montante dos limites estabelecidos no Decreto
10.699/2021 (R$ 285,0 bilhões), respectivamente, R$ 82,1 bilhões (28,8%), R$ 12,2 bilhões (4,3%)
e R$ 142,0 bilhões (49,8%). Apresentam-se nas tabelas seguintes os empoçamentos de recursos dos
órgãos que, em conjunto, responderam por 90,8%, 93,4% e 97,0% do empoçamento total em
outubro de 2021, com respeito aos respectivos anexos.
Empoçamento de Recursos de Despesas Discricionárias em 2021 – Anexo II do Decreto 10.699/2021
R$ milhões
3º Bimestre 4º Bimestre 5º Bimestre Ano
Órgão Limite Empoçamento E/L Limite Empoçamento E/L Limite Empoçamento E/L Limite Empoçamento E/L
(L) (E) (%) (L) (E) (%) (L) (E) (%) (L) (E) (%)
MEC 7.798 873 11,2 10.796 1.327 12,3 13.996 1.580 11,3 17.447 230 1,3
MS 7.390 1.078 14,6 10.112 1.104 10,9 12.913 1.405 10,9 16.078 1.172 7,3
ME 3.405 95 2,8 4.853 243 5,0 6.185 677 10,9 12.993 1.182 9,1
MCom 244 169 69,2 410 243 59,3 582 331 56,9 722 118 16,4
MD 1.622 129 8,0 2.663 214 8,0 3.596 238 6,6 4.754 9 0,2
MC 1.191 352 29,6 1.571 206 13,1 1.941 220 11,3 3.922 1.199 30,6
Mapa 596 256 43,0 1.102 75 6,8 1.442 146 10,1 3.112 911 29,3
MI 2.866 148 5,2 4.191 543 13,0 5.469 141 2,6 7.973 993 12,5
MDR 2.130 82 3,9 3.538 614 17,4 3.865 140 3,6 6.274 475 7,6
MMA 124 5 3,6 260 71 27,5 391 126 32,1 519 128 24,7
AGU 193 11 5,5 278 34 12,4 361 67 18,6 445 35 7,9
Subtotal 27.559 3.198 11,6 39.773 4.675 11,8 50.741 5.069 10,0 73.794 6.007 8,1
Demais 3.050 446 14,6 4.427 503 11,4 5.652 511 9,0 8.300 1.399 16,9
Total 30.609 3.644 11,9 44.200 5.178 11,7 56.393 5.580 9,9 82.094 7.406 9,0
Fonte: STN (Adaptada).
Nota: Empoçamento = Limite-Pagamentos.
Com base nesses números, solicitaram-se justificativas aos órgãos que apresentaram
elevados empoçamentos, bem como que informassem as unidades orçamentárias e ações de
governo que mais contribuíram para esses resultados. Apresentaram-se as respostas a seguir
sintetizadas:
a) a distribuição dos limites financeiros seria de competência do Ministério da
Economia, mediante Programação Financeira, conforme cronograma constante
do Anexo XI do Decreto 10.699/2021, não havendo participação e interferência
dos ministérios quando de sua elaboração;
b) não teria havido empoçamento de recursos porque os saldos financeiros
permanecem sob gestão da STN, a quem a setorial solicita a liberação de valores
específicos na medida das necessidades de execução para cumprir demandas
encaminhadas pelas áreas finalísticas;
c) não haveria descompasso entre a distribuição dos limites e as necessidades do
MDR, principalmente quanto aos Anexos II e XI, haja vista a possibilidade de
remanejamento de limite financeiro entre anexos, conforme previsto na Portaria-
ME 6.844/2021;
d) os limites consideram os ministérios como um todo, não são disponibilizados
por unidade orçamentária ou ação, especialidades ou quaisquer outras
segmentações, de modo que não se poderia precisar quais as unidades
orçamentárias ou ações mais contribuíram para o Empoçamento, tendo em vista
que os limites são estipulados pelo Ministério da Economia considerando o
fluxo de caixa estimado informado pela setorial, e que, em geral, os limites são
bastante associados às projeções orçamentárias do exercício financeiro;
e) considerando-se como critério para estipular o Empoçamento o saldo resultante
da diferença entre as dotações autorizadas para 2021 e os pagamentos de
despesas empenhadas no próprio exercício e os restos a pagar, trata-se de
programações cuja execução ocorre mediante apresentação de propostas pelos
entes federativos a serem beneficiados ou por meio de instrumentos de natureza
convenial, o que enseja execução não linear;
f) as despesas de RP 9 estavam com execução suspensa desde 5/11/2021, com o
deferimento de medida cautelar no âmbito da ADPF 854, posteriormente
referendada pelo plenário do STF;
g) embora as unidades orçamentárias não integrem os sistemas, sujeitam-se à
orientação normativa e à supervisão técnica do órgão central, mas também do
respectivo órgão setorial, e desempenham o papel de coordenação do processo
de elaboração da proposta orçamentária no seu âmbito de atuação, integrando e
articulando o trabalho das suas unidades administrativas, tendo em vista a
consistência da programação de sua unidade;
demandas dos órgãos setoriais por liberação de recursos de dotações fixadas nas leis orçamentárias.
Então, se as solicitações programadas estão significativamente além das reais necessidades do
período, gera-se um problema para a gestão de caixa da STN.
Quanto à justificativa sobre a suspensão da execução das despesas de RP 9 em razão das
ADPFs 850, 851 e 854, observa-se que os empoçamentos, em especial no 5º bimestre, existiram
independentemente do deferimento parcial da medida cautelar, uma vez que essa decisão ocorreu
em 5/11/2021, data posterior, embora próxima, ao término do período sob análise, e, com respeito
ao resultado do exercício, já em 6/12/2021 a ministra Rosa Weber afastou a suspensão.
Embora pareça razoável a justificativa de que as falhas nas programações se devem à
ausência de apresentação de propostas dos entes federativos ou porque envolvem instrumentos de
natureza convenial, essa proposição se aplica mais propriamente às programações para execução
financeira em prazos superiores a dois bimestres. Em prazo menor, não se trata da estimativa do
momento do pagamento levando em conta o cumprimento de inúmeros requisitos para fins de
celebração de convênios (sentido amplo), e de todas as fases de execução da despesa, e que
conduzirá a uma margem elevada de erro, e mesmo assim referente a pagamentos em momentos
distantes.
Trata-se, em tese, da previsão de pagamento considerando a fase de liquidação. A
propósito, conforme disposto nos arts. 2º e 5º da Portaria-ME 6.844/2021, a “redução de valores de
desembolso” é uma das formas de alteração dos cronogramas de execução mensal de desembolso,
cabendo à STN, ao longo do exercício, receber as solicitações de redução do montante do
cronograma de execução mensal de desembolso conforme os prazos estabelecidos no anexo da
mesma norma. Obviamente que, mesmo no curto prazo, não se espera paridade entre a previsão e a
execução do pagamento, aceitando-se certo grau de empoçamento. Porém, dificilmente haverá
justificativas plausíveis para percentuais tão elevados como os constatados.
Destacam-se, nesse aspecto, os Ministérios do Desenvolvimento Regional e da
Cidadania, os quais, quanto às despesas de emendas do relator-geral, mantiveram percentuais de
70%, em média, do 3º ao 5º bimestre. Considerando-se que o indicador também reflete o grau de
execução física, o baixo desempenho das ações executadas por meio desses créditos merece a
devida atenção.
Verifica-se, ainda, que no fechamento do exercício há queda no grau de empoçamento,
contudo, o saneamento não se realiza ao seu término, seja porque o fenômeno merece
acompanhamento ao longo de todo o exercício, haja vista que a gestão de caixa do Tesouro é
contínua, seja porque é possível, mediante ato normativo, diminuir os limites finais,
consequentemente o empoçamento, o que representaria uma melhora de desempenho meramente
formal.
Não obstante se reconheça que os limites sejam estabelecidos exigindo-se do órgão
setorial, para fins de liberação de cotas financeiras e fixação de limite de saque, a especificação do
código da fonte de recursos, da categoria de gasto e da vinculação de pagamento, a situação remete
ao pedido complementar consistente na identificação das unidades e ações orçamentárias que mais
contribuíram para as impropriedades.
Registre-se que o art. 10 do Decreto 93.872/1986, com amparo no art. 72 do Decreto-lei
200/1967, estabelece que os Ministérios, Órgãos da Presidência da República e dos Poderes
Legislativo e Judiciário, dentro do limite global de saques fixado e de acordo com o fluxo dos
recursos do Tesouro Nacional, aprovarão o limite de saques de cada unidade orçamentária, tendo
em vista o cronograma de execução dos projetos e atividades a seu cargo, dando-se ciência a este
Tribunal.
Trata-se de regra clara sobre a necessidade de estreita compatibilidade do cronograma
de execução mensal de desembolso com o cronograma de execução dos projetos e atividades, a
exigir dos ministérios uma agenda de pagamentos mais precisa. Observa-se que há amplo espaço
para melhoria dos resultados dos indicadores relativos ao empoçamento, mediante aprimoramento
da sistemática da gestão financeira dos órgãos setoriais, e mais ainda das unidades executoras,
detentoras de informações mais precisas sobre aspectos qualitativos e quantitativos relacionados aos
fluxos financeiros. O avanço nessa área certamente se refletirá nos resultados de desempenho
também de outros indicadores da execução orçamentário-financeira.
Não se pode deixar de relatar a edição da Portaria 879, de 7/10/2021, pelo então
secretário-executivo do Ministério da Educação, mediante a qual instituiu o Comitê de Governança
para a Gestão Orçamentária e Financeira – CGGOF no âmbito do ministério. O comitê, deliberativo
de caráter permanente, tem o objetivo de acompanhar a gestão orçamentária e financeira, visando
auxiliar o Ministro da Educação nas decisões estratégicas relativas ao planejamento e à execução
dos recursos, e otimizar os resultados da organização. Quanto ao tema, estabeleceu-se no art. 4º,
inciso VI, que compete ao CGGOF, observadas as diretrizes do Ministro da Educação, acompanhar
a evolução dos valores empoçados no Ministério, assim como propor medidas para redução dos
valores. É uma providência que enfoca a questão e representa uma boa prática a ser replicada aos
demais órgãos setoriais, com as devidas adaptações.
Registre-se que o tema do empoçamento foi apreciado por este Tribunal quando do
acompanhamento das receitas e despesas primárias do 4º bimestre de 2018, resultando no item 9.5
do Acórdão 344/2019-TCU-Plenário (relatoria ministra Ana Arraes), por meio do qual foi
recomendado à Secretaria-Geral de Controle Externo que avaliasse a conveniência e a oportunidade
de realizar fiscalização com o objetivo de analisar os critérios e os procedimentos que norteiam a
definição da programação financeira do Órgão Central e dos órgãos setoriais, visando ao
aperfeiçoamento da gestão de caixa no âmbito do Sistema de Administração Financeira Federal,
observado o disposto no art. 32, inciso XXXII, do Decreto 9.003/2017 e no art. 10 do Decreto
93.872/1986.
Além disso, no âmbito do acompanhamento referente ao 3º bimestre de 2020, deliberou-
se aos órgãos setoriais de programação financeira das unidades orçamentárias do Poder Executivo
federal, por meio do item 9.3 do Acórdão 2.533/2020-TCU-Plenário (relatoria ministro Walton
Alencar Rodrigues) acerca da necessidade de observância dos ditames que regem a gestão de
recursos para pagamento de dispêndios públicos, com vistas a otimizar o fluxo de caixa da União e
coibir a permanência de recursos ociosos à disposição das unidades gestoras.
Finalmente, merece destaque a recente reestruturação promovida no âmbito da
Secretaria do Tesouro Nacional por intermédio do Decreto 11.036, de 7/4/2022, que culminou na
criação da Subsecretaria de Administração Financeira Federal (Suafi). Consoante o novel art. 50-A
do Decreto 9.745/2019, compete à Suafi:
I - orientar, normatizar e supervisionar o processo de planejamento e programação
financeira, de administração financeira federal e de gerenciamento da Conta Única do
Tesouro Nacional;
II - orientar a normatização, o acompanhamento, a sistematização e a padronização dos
ingressos e saídas da Conta Única do Tesouro Nacional;
III - promover e administrar as ações relativas à integração do Sistema Integrado de
Administração Financeira do Governo Federal - Siafi ao Sistema de Pagamentos
Brasileiro, e monitorar as movimentações financeiras realizadas por meio do Sistema de
Transferência de Reservas que impliquem entradas ou saídas de recursos da Conta
Única do Tesouro Nacional;
IV - orientar o processo de gerenciamento da conta em moeda estrangeira prevista em
contratos de empréstimos e concessões de créditos especiais firmados pela União junto
a organismos internacionais, entidades governamentais estrangeiras de crédito e
organização supranacional;
RECOMENDAÇÃO
À Casa Civil da Presidência da República, em vista da competência de assistir diretamente o
Presidente da República no desempenho de suas atribuições, especialmente na coordenação e
integração das ações governamentais, bem como na avaliação e monitoramento da gestão dos
órgãos e das entidades da administração pública federal, conforme disposto no art. 1º, incisos I e
III, do Anexo I do Decreto 10.907/2021, que coordene, no âmbito do Sistema de Administração
Financeira Federal, com a assistência da Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento do
Ministério da Economia, o desenvolvimento de normativos, procedimentos e instrumentos
gerenciais, para aplicação pelos órgãos setoriais, com o objetivo de estabelecer controles internos
aptos a reduzir os níveis de empoçamento, subsidiando-se o cumprimento do item 9.3 do Acórdão
2.533/2020-TCU-Plenário.
4.1.2.3. Receita Corrente Líquida
A Receita Corrente Líquida (RCL), definida no art. 2º da Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF), representa o total das receitas correntes arrecadadas em um período de doze meses,
deduzido, no caso da União, dos seguintes valores: transferências constitucionais ou legais a estados
e municípios; contribuições para financiamento da seguridade social (apenas as previstas nos
incisos I, alínea “a”, e II do art. 195 da Constituição Federal); contribuições para o Programa de
Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep);
e pagamentos decorrentes da Lei Complementar 87/1996 e do art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.
O montante da RCL é o denominador comum de vários limites fiscais, em relação ao
qual são calculados os percentuais de despesas com pessoal, operações de crédito, dívida, garantias
e contragarantias, bem como o valor da reserva de contingência que deve ser consignado na lei
orçamentária anual. Os órgãos divulgam quadrimestralmente, nos Relatórios de Gestão Fiscal
(RGFs), sua situação em relação aos respectivos limites.
No contexto da verificação da RCL, caso não sejam cumpridos os limites, podem
ocorrer desdobramentos como cortes em despesas com pessoal e com serviços terceirizados ou
para considerar nas respectivas bases do mês de referência com as dos 11 (onze)
imediatamente anteriores os efeitos do Acórdão nº 4.074/2020-TCU-Plenário?
Ocorre que a interposição de embargos declaratórios, segundo o § 1º do art. 34 da Lei
8.443/1992, suspende os prazos para cumprimento da decisão embargada. Dessa forma, carece de
esclarecimentos, por parte deste Tribunal, a modulação dos efeitos da determinação dirigida ao
Ministério da Economia - no sentido de se abster de considerar as sobreditas despesas no rol de
deduções para fins de apuração da RCL - subitem 9.2.1 do Acórdão 4.074/2020-TCU-Plenário -,
não havendo que se falar, por ora, em trânsito em julgado dessa deliberação.
Ademais, no âmbito do Acórdão 315/2021-TCU-Plenário, de relatoria do ministro
Walton Alencar Rodrigues, foi proferida a seguinte deliberação:
9.9. orientar à Secretaria de Macroavaliação Governamental a acompanhar o deslinde
dos recursos apresentados contra o Acórdão 4074/2020-TCU-Plenário a fim de que
sejam adotadas, pelo Ministério da Economia e por este Tribunal, se for o caso, as
medidas necessárias para correção do cálculo da receita corrente líquida nos relatórios
de gestão fiscal relativos aos períodos a partir do 1º quadrimestre de 2020;
Dessa maneira, os dados apresentados a seguir não consideram os efeitos do
entendimento fixado no subitem 9.2.1 do Acórdão 4.074/2020-TCU-Plenário. Vale dizer, estão
incluídas todas as deduções consideradas na metodologia adotada pela STN referentes aos repasses
da União aos demais entes federativos a título de auxílio ou apoio financeiro, para os fins de
combate à pandemia da Covid-19 ou à mitigação de seus efeitos. Em suma, os dados de 2020 e
2021 coincidem com aqueles publicados pela STN na Portarias 660/2021 e 1.233/2022.
A tabela seguinte apresenta, em valores nominais, os montantes considerados na
apuração da RCL do 3º quadrimestre dos últimos cinco exercícios, com destaque para o seu
significativo incremento no exercício de 2021.
Receita Corrente Líquida – 2017 a 2021
R$ milhões
Especificação 2017 2018 2019 2020 2021
Receita Corrente (I) 1.407.900 1.535.663 1.691.012 1.513.687 1.986.158
Receita Tributária 464.984 507.174 545.809 516.831 710.741
Receita de Contribuições 799.733 844.484 853.404 825.602 1.001.374
Receita Patrimonial 99.908 111.846 202.456 94.502 174.086
Receita Agropecuária 19 21 22 21 28
Receita Industrial 881 2.056 1.606 1.592 2.076
Receita de Serviços 38.325 42.482 56.703 36.260 48.172
Transferências Correntes 1.387 1.235 1.258 574 791
Receitas Correntes a Classificar -34.593 0 0 0 0
Outras Receitas Correntes 37.255 26.366 29.755 38.304 48.891
Deduções (II) 680.646 730.314 785.353 861.743 923.639
Transf. Constitucionais e Legais 239.656 266.521 298.260 378.406 366.526
Contrib. Emp. e Trab. p/ Seg. Social 361.222 380.190 404.528 396.052 454.065
Contrib. Plano Seg. Social do Servidor 13.729 13.736 13.925 17.397 17.945
Compensação Financeira RGPS/RPPS 53 52 29 262 135
Contr. p/ Custeio Pensões Militares 3.343 3.635 3.818 7.012 8.866
Contribuição p/ PIS/Pasep 62.643 66.180 64.792 62.614 76.103
Receita Corrente Líquida (III) = (I - II) 727.254 805.348 905.659 651.943 1.062.519
Fonte: Siafi.
9%
400 6%
- 0%
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
É interessante observar que, desde a promulgação da LRF até 2012, a RCL apresentou
crescimento real em praticamente todos os exercícios. Nos anos de 2012 e 2013, ela manteve
aproximadamente o mesmo valor real. De 2014 a 2017, no entanto, os valores são todos
decrescentes em relação ao exercício anterior. O decréscimo real de 2014 - o mais significativo - foi
de 7,8%; o de 2015, 3,5%; o de 2016, 3,3% e o decréscimo real de 2017 foi de 1,1%. A partir de
2018, a RCL voltou a crescer em termos reais, apresentando, em relação ao exercício anterior,
aumentos de 6,8% em 2018 e de 8,2% em 2019. Em 2020, a RCL sofreu uma expressiva queda real,
da ordem de 30% em relação a 2019, sobretudo em face da elevação das deduções. Já em 2021, a
RCL atingiu o maior valor já registrado nessa série histórica, representando um aumento real de
51% em relação a 2020.
O gráfico incorpora, também, a evolução da RCL em relação ao PIB, sendo importante
observar que até 2019 essa relação percentual, em todos os exercícios, esteve entre 11% e 14%. No
ano de 2020, o percentual registrado foi o menor de toda a série, equivalente a 9% do PIB, cabendo
ainda realçar que o PIB de 2020 sofreu redução real de 4,1% em relação a 2019. Em 2021, por seu
turno, o incremento real de 4,6% do PIB, associado ao crescimento real da RCL, levou o percentual
da RCL em relação ao PIB de volta ao patamar aproximado de 12%.
4.1.2.4. Despesas com Pessoal
O art. 169 da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional
109/2021, determina que a “despesa com pessoal ativo e inativo e pensionistas da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios não pode exceder os limites estabelecidos em lei
complementar”. Esse dispositivo foi regulamentado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que
estabelece, em todas as esferas da federação, limites individualizados para Poderes e órgãos
autônomos, calculados em razão do total da receita corrente líquida (RCL) das respectivas esferas.
A RCL da União é analisada na seção 4.1.2.3 deste Relatório.
Consoante disposição do art. 19 da LRF, a despesa líquida com pessoal, em cada
período de apuração, não poderá exceder, no caso da União, a 50% da RCL. Esse percentual, nos
termos do art. 20 da referida lei, foi assim distribuído entre os Poderes: i) 2,5% para o Legislativo,
incluído o Tribunal de Contas da União; ii) 6% para o Judiciário; iii) 40,9% para o Executivo,
incluído o percentual de 3% para fazer face às despesas com pessoal decorrentes dos incisos XIII
(manutenção do Poder Judiciário, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da
Defensoria Pública dos Territórios) e XIV (manutenção das polícias civil, penal e militar e do corpo
de bombeiros militar do Distrito Federal e assistência financeira ao Distrito Federal para prestação
de serviços públicos de saúde e educação, por intermédio do Fundo Constitucional do Distrito
Federal – FCDF) do art. 21 da Constituição Federal e do art. 31 da Emenda Constitucional 19/1998
(servidores dos ex-Territórios federais do Amapá e de Roraima); e iv) 0,6% para o Ministério
Público da União.
Os citados limites são globais, pois os tetos das despesas com pessoal por Poder e órgão
autônomo são estabelecidos individualmente, conforme estipulado no art. 20 da LRF. Ou seja, cada
tribunal tem um limite, assim como os órgãos do Poder Legislativo e as despesas identificadas no
limite apartado de 3% do Poder Executivo, conforme estabelecido na parte final do art. 20, inciso I,
alínea “c”, da LRF, e regulamentado pelo Decreto 3.917/2001 e alterações. Em 2021, a despesa
líquida da União com pessoal do Distrito Federal, por meio do FCDF, alcançou R$ 12,2 bilhões
(1,14584% da RCL, frente a um limite de 2,200%).
As despesas líquidas com pessoal da administração pública federal são analisadas pelo
TCU a partir da consolidação dos RGFs publicados pelos órgãos. O objetivo é examinar o
cumprimento dos limites individualizados das despesas com pessoal por Poder e órgão autônomo.
Dentre os diversos aspectos verificados pelo Tribunal nos RGFs, destaca-se o
atendimento ao limite prudencial da despesa com pessoal, o qual determina que, se o Poder ou
órgão exceder 95% do limite individualizado da despesa no final do quadrimestre, segundo o
parágrafo único do art. 22 da LRF, deverá incorrer nas vedações para aumento das despesas com
pessoal, a exemplo da concessão de vantagens, da criação de cargo, emprego ou função, do
provimento de cargos públicos e da admissão ou contratação de pessoal.
Os dados individualizados, publicados pelos órgãos, estão disponíveis no Sistema de
Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi)
(https://siconfi.tesouro.gov.br/siconfi/index.jsf), em cumprimento ao disposto no art. 156 da Lei
14.116/2020 (LDO 2021).
Importa registrar que, durante o exercício de 2021, por força do art. 8º da Lei
Complementar 173/2020 – diploma que instituiu o Programa Federativo de Enfrentamento ao
Coronavírus –, os entes afetados pela pandemia de Covid-19 que tenham, nos termos art. 65, inciso
I, da LRF, reconhecido estado de calamidade pública em 2020, ficaram proibidos de adotar, até
31/12/2021, quaisquer medidas que implicassem aumento da despesa com pessoal. Na esfera
federal, o estado de calamidade pública foi reconhecido pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo 6/2020, com vigência, para fins fiscais, até 31/12/2020.
Limites das Despesas com Pessoal por Poder e Ministério Público e Percentual Realizado em 2021
% da RCL
60%
50,0%
40,9%
45%
27,3%
30% 23,2%
15% 6,0%
2,5% 0,9% 2,8%
0,6% 0,4%
0%
Poder Executivo Poder Legislativo Poder Judiciário Ministério Público União
120%
101,19%
96,43% 91,32%
90,23%
90% 81,72% 81,33%
80,06% 72,91% 81,85%
64,59% 63,46%
60,56% 63,34%
63,15%
60% 50,03% 46,07% 45,75% 51,69%
38,19%
30%
2017 2018 2019 2020 2021
atividade econômica (impacto positivo na arrecadação), quanto da redução dos recursos repassados
aos entes subnacionais para combate à pandemia de Covid-19 (impacto diminutivo nas deduções da
RCL) e da relativa estabilidade, em valores correntes, da despesa líquida com pessoal.
O TCU, ao deliberar sobre a dedução dos recursos repassados aos entes subnacionais,
determinou, por meio do Acórdão 4.074/2020-TCU-Plenário (rel. min. Bruno Dantas), que o
Ministério da Economia se abstivesse de considerar tais valores no rol de deduções para fins de
apuração da receita corrente líquida da União, o que tem o condão de elevar o montante da RCL
apurada em 2020, impactando, por consequência, o cumprimento dos limites de despesas com
pessoal estabelecidos pela LRF.
A citado decisão, contudo, foi objeto de pedido de reexame por parte da
Advocacia-Geral da União (AGU), cuja apreciação foi realizada por meio do
Acórdão 2.874/2021-TCU-Plenário (rel. min. Aroldo Cedraz). Essa última deliberação, na prática,
além de ratificar o entendimento proferido no acórdão recorrido, também modulou seus efeitos
fiscais e financeiros no sentido de circunscrevê-los ao exercício de 2020.
Ocorre que contra o Acórdão 2.874/2021-TCU-Plenário (rel. min. Aroldo Cedraz)
foram opostos embargos de declaração pela AGU, ainda não levados à apreciação desta Corte de
Contas. Tendo em vista, assim, que os embargos conferem efeito suspensivo à decisão primária
deste Tribunal, permanecem válidas as informações referentes à RCL apuradas para o 3º
quadrimestre de 2020, bem como para o 1º e o 2º quadrimestres de 2021, publicadas pela STN por
meio das Portarias 660, 853 e 1.055, de 2021, respectivamente, nas quais foram deduzidas da
receita corrente os recursos repassados aos demais entes federativos, visando ao combate à
pandemia de Covid-19.
Convém registrar que, em 2021, à exceção do Poder Legislativo, os Poderes Executivo e
Judiciário e o Ministério Público apresentaram crescimento nominal de suas despesas líquidas com
pessoal em relação a 2020.
Em valores nominais, em 2021, conforme apresentado no gráfico seguinte, a despesa
líquida com pessoal do Poder Judiciário aumentou 3,6%; a do Executivo e a do Ministério Público
aumentaram 1,7% e 1,9%, respectivamente. A do Poder Legislativo, por outro lado, diminuiu 1,7%
em valores nominais. A variação do IPCA em 2020 foi de 10,06%.
Despesa Líquida com Pessoal da União por Poder – 2020 e 2021
300
242,8 247,0
200
DLP (R$ bilhões)
100
28,6 29,7
9,3 9,1 4,6 4,7
0
Poder Executivo Poder Legislativo Poder Judiciário Ministério Público
2020 2021
Fontes: RGFs dos 3º quadrimestres de 2020 e 2021.
despesa denominado “Pessoal e Encargos Sociais”. Isso se justifica essencialmente pelo fato de o
§ 1º do art. 19 da LRF permitir a dedução de algumas despesas contabilizadas no grupo, tais como
aquelas decorrentes de decisão judicial e de incentivos a programas de demissão voluntária.
A seguir, são registrados os valores consolidados da execução da despesa com pessoal
da União em 2020 e 2021, bem como as respectivas deduções e a despesa líquida, que serve de base
para a verificação do cumprimento do limite.
Demonstrativo da Despesa Líquida com Pessoal da União – 2020 e 2021
R$ milhões
Despesa Despesa
Variação
Discriminação Empenhada em Empenhada em
2020/2021
2020 2021
Despesa Bruta com Pessoal (I) 344.046 352.896 2,57%
Pessoal Ativo 191.726 196.390 2,43%
Pessoal Inativo e Pensionistas 151.742 155.795 2,67%
Contratos de terceirização (LRF, art. 18, § 1º) 578 711 22,92%
Despesas com Pessoal Não Executadas Orçamentariamente \1 - 0
Despesas não Computadas (art. 19, § 1º, da LRF) (II) -58.679 -62.437 6,40%
(-) Indenizações por Demissão e Incentivos à Demissão Voluntária -1.226 -1.269 3,53%
(-) Decorrentes de Decisão Judicial -7.338 -10.804 47,24%
(-) Despesas de Exercícios Anteriores -1.576 -1.591 0,94%
(-) Inativos com Recursos Vinculados -48.540 -48.773 0,48%
Despesa Líquida com Pessoal (III) = (I - II) 285.367 290.459 1,78%
Receita Corrente Líquida – RCL (IV) 651.943 1.062.519 62,98%
% sobre a RCL (V) = [(III) / (IV)] x 100% 43,77% 27,34% -37,55%
Limite Máximo (inciso I, art. 20 da LRF) 50,00% da RCL 325.972 531.260 62,98%
Limite Prudencial (parágrafo único, art. 22 da LRF) 47,50% da RCL 309.673 504.697 62,98%
Fontes: RGFs do 3º quadrimestre de 2020 e de 2021.
\1 Linha inserida no modelo de Demonstrativo da Despesa com Pessoal pelo Manual de Demonstrativos Fiscal 11ª edição (2021), para registrar as
despesas com pessoal que deveriam ter sido executadas orçamentariamente no período de referência, mas que não passaram por essa execução.
A despesa líquida com pessoal (despesa bruta menos despesas não computadas)
apresentou aumento, em termos correntes, de R$ 5 bilhões em relação a 2020, ou seja, de 1,8% (em
termos reais, houve uma redução estimada de 7,5%). Como o aumento da RCL foi muito superior
ao da despesa, o indicador DLP/RCL diminuiu, passando de 43,8% em 2020 para 27,3% em 2021.
As despesas do Poder Executivo (R$ 247 bilhões) constituíram 86% da despesa líquida
com pessoal da União em 2021, incluindo-se as despesas do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
e dos Territórios, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, dos servidores dos ex-
Territórios do Amapá e de Roraima e as despesas com pessoal custeadas com recursos do FCDF.
Ao se excluírem essas despesas e as deduções previstas no § 1º do art. 19 da LRF, as despesas do
Poder Executivo federal totalizam R$ 231,3 bilhões, valor levemente superior ao observado em
2020 (R$ 227,8 bilhões), consoante evidenciado na tabela seguinte.
União – Poder Executivo \1 – Governo Federal - Demonstrativo da Despesa com Pessoal – 2020 e 2021
R$ milhões
Variação Variação
Discriminação 2020 2021
Nominal Percentual
Despesa Bruta com Pessoal (I) 272.513 280.724 8.211 3,0%
Pessoal Ativo 143.592 148.066 4.475 3,1%
Pessoal Inativo e Pensionistas 128.375 131.956 3.580 2,8%
Contratos de terceirização (§ 1º do art. 18 da LRF) 546 702 156 28,6%
Despesa com Pessoal não Executada Orçamentariamente \2 - - - -
Despesas não Computadas (§ 1º do art. 19 da LRF) (II) 44.627 49.362 4.735 10,6%
Indenizações por Demissão e Incentivos à Demissão Voluntária 1.082 1.224 143 13,2%
Decorrentes de Decisão Judicial 7.333 10.798 3.466 47,3%
Despesas de Exercícios Anteriores 476 1.382 907 190,5%
Inativos e Pensionistas com Recursos Vinculados 35.737 38.433 2.696 7,5%
Despesa Líquida com Pessoal (III) = (I – II) 227.886 246.973 19.088 8,4%
Fonte: RGFs do Poder Executivo de 2020 e de 2021.
\1 Excluídas as despesas do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, com os
servidores dos ex-Territórios federais do Amapá e de Roraima e as despesas com pessoal custeadas com recursos do FCDF.
\2 Linha inserida no modelo de Demonstrativo da Despesa com Pessoal pelo Manual de Demonstrativos Fiscal 11ª edição (2021), para registrar as
despesas com pessoal que deveriam ter sido executadas orçamentariamente no período de referência, mas que não passaram por essa execução.
Dívida Contratual 44.031 48.709 10,62% 58.006 19,09% 73.873 27,35% 67,77%
Precatórios posteriores a 5.5.2000 419 34.939 8237% 3.048 -91,28% 921 -69,77% 119,82%
Central transferida para o Tesouro Nacional (após a constituição de reservas), nos termos da Lei
13.820/2019. A tempestiva apropriação desse montante (valor com saldo negativo, na tabela), ainda
no encerramento do exercício de 2021, reduziu o total da Dívida Consolidada apurado em quase 1%
(e no caso da DCL quase 1,5%).
Esse montante somente pode ser utilizado no pagamento da Dívida Mobiliária (devido à
vinculação legal) e foi transferido à Conta Única (Ativo Financeiro), com a devida correção, em
25/2/2022, após a aprovação do balanço da autoridade monetária pelo Conselho Monetário
Nacional. Para fins de análise, caso tal montante fosse contabilizado como uma conta redutora da
Dívida Mobiliária, o crescimento da DM em 2021, teria sido de 8,98%, inferior, portanto, ao da
Dívida Consolidada (9,37%).
Nessa hipótese, considerando a quase total identidade entre a Dívida Consolidada e a
Dívida Mobiliária, fica evidente a motivação para a diferença de variação entre estes montantes.
Trata-se da significativa variação do montante registrado à título de Dívida Contratual que, embora
represente apenas uma pequenina parcela da Dívida Consolidada, cresceu quase 68% no ano.
Quanto aos parâmetros fiscais, registra-se que a forte retomada da arrecadação em 2021
foi o principal fator para a extraordinária melhora da relação DCL/RCL (em que pesem
significativas deduções da receita bruta, também tenham impactado o valor da RCL de 2020). De
todo modo, a referida relação, que ao final de 2020 havia atingido o valor recorde de 697,44%,
despencou para 455,39% ao final de 2021 (ainda bastante acima do limite de 350% proposto no ano
2000).
Em relação à Dívida Mobiliária, também houve significativa melhora no indicador
DM/RCL, que saiu de 1.059,86% ao final de 2020 para 715,46% ao final de 2021, melhora também
decorrente da retomada da arrecadação. Ressalte-se que, ao final de 2019, o índice estava próximo
do limite de 650% proposto no ano 2000, pois a relação àquela época havia recuado para 678,66%.
4.1.2.6. Operações de Crédito
Conforme o inciso VII do art. 52 da Constituição Federal, compete ao Senado Federal o
estabelecimento de limites e condições para a contratação de operações de crédito pelos entes
federativos. O art. 7º da Resolução do Senado Federal 48/2007 estabeleceu limite global para a
contratação de operações de crédito pela União, a cada exercício financeiro, de 60% da Receita
Corrente Líquida (RCL), incluindo tanto operações de crédito internas quanto externas. Note-se que
não se trata de um limite para o estoque de operações (dívida), mas sim para o fluxo anual.
Para esta apuração, a referida norma estabelece diversas deduções a serem realizadas,
em especial, dos valores de operações de crédito destinadas ao refinanciamento da dívida
(amortização do principal). Assim, somente é considerado o valor excedente das operações, de
modo que o limite ajuda a reduzir a velocidade do crescimento do endividamento, cerceando a
liberdade dos gestores para realização de novas operações (mas não limita o crescimento do
endividamento decorrente de contratações anteriores).
A apuração do referido limite é realizada quadrimestralmente por meio do Relatório de
Gestão Fiscal (art. 55, inciso, I, alínea “d”, da LRF). Ressalte-se que, da forma como o limite foi
estabelecido, o denominador (RCL) refere-se ao montante dos últimos doze meses, enquanto o
numerador (“novas operações de crédito”) refere-se apenas a quatro ou oito meses, nas duas
primeiras apurações do ano.
De acordo com o derradeiro Relatório de Gestão Fiscal de 2021, o qual possibilita a
efetiva apuração do cumprimento do limite “no exercício”, o saldo de “novas operações de crédito”
em 2021 foi de quase R$ 390 bilhões. Esse significativo montante correspondeu a 36,66% da
Receita Corrente Líquida do ano, inferior ao limite estabelecido pelo Senado Federal e ao limite de
54% para o alerta desta Corte de Contas (90% do limite estabelecido, conforme art. 59, § 1º, inciso
III, da LRF).
Disponib. de
Caixa Líquida Disponib.
Disponib. RPP de RPNP de Demais
RPP do (Antes da RPNP do após a
de Caixa Exercícios Exercícios Obrigações
Exercício Inscrição de Exercício Inscrição de
Poderes e Órgãos Bruta Anteriores Anteriores Financeiras
RPNP do RPNP
Exercício)
(f )=
(a) (b) (c) (d) (e) (g) (h) = (f) - (g)
(a-(b+c+d+e))
Poder Executivo* 1.830.129 9.000 65.516 37.847 30.478 1.687.289 116.785 1.570.504
Poder Legislativo 3.041 8 4 62 15 2.953 264 2.689
Câmara dos Deputados 1.888 2 3 19 2 1.862 132 1.730
Senado Federal 801 6 0 32 13 751 82 669
Tribunal de Contas da União 352 0 0 12 0 340 50 290
Poder Judiciário 11.979 129 63 779 244 10.763 3.121 7.642
Supremo Tribunal Federal 88 0 0 10 0 77 33 44
Conselho Nacional de Justiça 79 0 0 0 0 79 5 74
Superior Tribunal de Justiça 375 74 17 1 0 282 41 241
Superior Tribunal Militar 96 0 0 10 0 86 34 52
Justiça Federal 3.008 1 21 32 220 2.734 1.292 1.442
Justiça Eleitoral 3.949 36 13 702 8 3.191 1.466 1.725
Justiça do Trabalho 3.789 18 10 15 15 3.731 190 3.541
Disponib. de
Caixa Líquida Disponib.
Disponib. RPP de RPNP de Demais
RPP do (Antes da RPNP do após a
de Caixa Exercícios Exercícios Obrigações
Exercício Inscrição de Exercício Inscrição de
Poderes e Órgãos Bruta Anteriores Anteriores Financeiras
RPNP do RPNP
Exercício)
(f )=
(a) (b) (c) (d) (e) (g) (h) = (f) - (g)
(a-(b+c+d+e))
Tribunal de Justiça do DF e
596 1 1 10 1 583 59 524
Territórios
Ministério Público da União 511 0 2 22 1 486 97 389
Conselho Nacional do Ministério
6 0 0 0 0 6 1 5
Público
Defensoria Pública da União 316 0 20 19 1 276 73 203
Total 1.845.666 9.137 65.585 38.710 30.737 1.701.496 120.267 1.581.229
Fonte: Relatórios de Gestão Fiscal do 3º quadrimestre de 2021 publicados pelos Órgãos.
Nota: RPP – Restos a Pagar Processados e RPNP – Restos a Pagar Não Processados.
*Nos dados do Poder Executivo estão incluídos os dados da Defensoria Pública da União.
1,0
0,0
a
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ira
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Fin
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a
Fonte: Relatórios de Gestão Fiscal dos 3º quadrimestres de 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021 publicados pelos Órgãos.
Por fim, cabe registrar que, no exercício de 2021, houve retomada ao movimento,
verificado nos últimos anos, de crescimento contínuo das disponibilidades (líquida e após a
inscrição de RPNP), o qual havia sido interrompido em 2020. A disponibilidade líquida após a
inscrição de RPNP ao final do exercício de 2021 é superior, em termos reais, àquela de 2019.
4.1.2.8.1 Cumprimento do art. 42 da LRF – Poder Executivo
O art. 42 da LRF veda ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois
quadrimestres de seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida
integralmente dentro do exercício ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem
que haja suficiente disponibilidade de caixa para este fim.
O Tribunal de Contas da União, por meio do subitem 9.3 do
Acórdão 2.354/2007-TCU-Plenário (rel. min. Ubiratan Aguiar), firmou entendimento de que o art.
42 da LRF se aplica aos titulares de todos os Poderes e órgãos com autonomia administrativo-
orçamentário-financeira (ou poder de autogoverno) garantida nos termos da Constituição,
independentemente do período do mandato do respectivo titular à frente da gestão do órgão. Com
efeito, no âmbito do Poder Judiciário e do TCU, o mandato é definido, em geral, por meio dos
respectivos regimentos internos.
Ainda de acordo com o entendimento do TCU naquela decisão, a vedação contida no
art. 42 da LRF deve ser aplicada em conjunto com os princípios norteadores do orçamento, em
especial o da anualidade, previsto no § 5º do art. 165 da Constituição e nos arts. 34 e 35 da Lei
4.320/1964, limitada a sua abrangência ao encerramento do exercício em 31 de dezembro.
Nesse contexto, o TCU verifica, anualmente, por meio dos acompanhamentos dos
Relatórios de Gestão Fiscal (RGF) do terceiro quadrimestre, o cumprimento dessa vedação. Além
da análise global (soma de todas as fontes), há um monitoramento no sentido de assegurar a
inexistência de fontes de recursos com saldo negativo.
As fontes de recursos (bem como sua aglutinação em grupos de destinação de recursos)
são agrupamentos de receitas que têm a mesma regra de aplicação. Ou seja, elas fazem a vinculação
entre a receita e as despesas permitidas para determinada aplicação, pois, em muitos casos, a lei
estabelece que certa receita, ou alguma parcela dela, seja destinada a um tipo específico de despesa.
Essa categorização das receitas e despesas por fonte também tem papel importante no cumprimento
do disposto no parágrafo único do art. 8º da LRF, cujo comando determina que “os recursos
legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao
objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o ingresso”.
Na análise do cumprimento do art. 42 da LRF por parte do Poder Executivo federal, este
Tribunal, nos processos de acompanhamento dos RGFs referentes ao terceiro quadrimestre, tem
observado a existência de fontes com disponibilidades negativas em valores significativos, embora,
no seu conjunto, a disponibilidade líquida seja positiva após a inscrição em restos a pagar não
processados. O quadro seguinte apresenta as deliberações do TCU sobre o tema em relação aos
exercícios de 2018, 2019 e 2020:
Deliberações do TCU sobre o art. 42 da LRF – exercícios de 2018, 2019 e 2020
Processo Acórdão Relator Deliberação
9.11. considerar, para o Poder Executivo, regular a inscrição de
restos a pagar não processados e compatível com as
disponibilidades agrupadas por Grupos de Destinação de Recursos,
Ministra Ana
009.306/2019-6 2.901/2019-P ressaltando a existência de disponibilidade negativa no Grupo
Arraes
vinculado à Previdência Social (RPPS), no valor de R$ 70
milhões, e uma disponibilidade positiva de R$ 34 bilhões em
recursos não vinculados;
9.5. considerar regular e compatível com as disponibilidades
Ministro agrupadas por Grupos de Destinação de Recursos, para o Poder
040.300/2019-6 2.196/2020-P
Bruno Dantas Executivo, no exercício de 2019, a inscrição de restos a pagar não
processados;
9.10. considerar, para o Poder Executivo, regular a inscrição de
restos a pagar não processados e compatível com as
disponibilidades agrupadas por Grupos de Destinação de Recursos
Ministro no exercício de 2020, ressaltando a existência de disponibilidades
Walton negativas no Grupo 3 - Recursos Vinculados à Previdência Social
005.182/2021-2 460/2022-P
Alencar (RPPS), no valor de R$ 3,2 bilhões e no grupo 8 - Recursos de
Rodrigues Transferências Constitucionais e Legais a Estados, DF,
Municípios, inclusive Fundos, no montante de R$ 15 bilhões, e de
uma disponibilidade positiva de R$ 51 bilhões em recursos não
vinculados;
Fonte: elaboração própria.
Variação
Variação
Grupo de Destinação de Recursos 2021 2020 Anual
Anual %
Nominal
Total de Recursos Não Vinculados / Ordinários (I) 77.670 51.290 26.380 51%
Total de Recursos Vinculados (II) 1.492.834 1.243.514 249.320 20%
1. Recursos Vinculados à Educação 12.588 10.527 2.061 20%
2. Recursos vinculados à Seguridade Social (exceto Previdência e FAT) 12.220 40.087 -27.867 -70%
3. Recursos Vinculados à Previdência Social (RPPS) -61 -3.245 3.184 -98%
4. Recursos Vinculados à Previdência Social (RGPS) 1.311 9.191 -7.880 -86%
5. Recursos de Receitas Financeiras Vinculadas 10.212 27.018 -16.807 -62%
6. Recursos da Dívida Pública 1.172.805 820.675 352.130 43%
7. Recursos de Alienação de Bens e Direitos 13.627 5.715 7.912 138%
últimos exercícios houve suficiência da ordem de R$ 1,3 trilhão em 2020 e de R$ 1,5 trilhão em
2021.
O segundo critério leva em consideração a vinculação dos recursos. Ele tem como base
os argumentos oferecidos pela Nota Técnica SEI 41/2018/Gepla/Cofin/Sugef/STN-MF, que versa
sobre a metodologia desenvolvida pela STN para monitorar o cumprimento do art. 42 da LRF pelo
Poder Executivo federal.
A referida nota assevera que, para assegurar o cumprimento do art. 42 da LRF, não se
deve considerar a disponibilidade líquida total após a inscrição de restos a pagar não processados
(soma dos saldos de fontes de recursos), pois parte das receitas que constituem essa disponibilidade
estaria vinculada a despesas específicas, não podendo, portanto, garantir qualquer outra obrigação.
Diante dessa constatação, registra que, na verificação do cumprimento do art. 42 da LRF, a
suficiência deve ser apurada considerando essas vinculações, ou seja, deve haver disponibilidade de
recursos livres suficientes para cobrir os valores negativos de recursos vinculados. Conclui, por fim,
que a disponibilidade negativa em grupos de fontes vinculadas não constitui descumprimento da
vedação em comento, desde que haja saldo de recursos livres (não vinculados a despesas
específicas) em montante superior à soma da eventual insuficiência de recursos em fontes
vinculadas.
Este segundo critério pode ser apurado de forma agregada em grupos de fontes
(recursos vinculados à educação, recursos vinculados à seguridade social, recursos vinculados a
fundos, órgãos e programas, entre outros grupos) ou de forma individualizada, por fonte. Esses
critérios são atualmente adotados pelos órgãos de controle e pela Secretaria do Tesouro Nacional
(STN), haja vista a sua plena aderência ao disposto no parágrafo único do art. 8º da LRF.
O atendimento ao art. 42 da LRF, de acordo com o segundo critério, ocorre, portanto,
quando existem suficientes disponibilidades financeiras líquidas (após a inscrição em RPNP) não
vinculadas a determinada destinação (recursos ordinários ou livres) para cobrir eventuais
insuficiências em grupos de fontes vinculadas de forma agregada ou em fontes vinculadas
específicas, conforme o critério adotado.
A tabela seguinte apresenta a apuração do cumprimento do art. 42 da LRF em 2021 pelo
Poder Executivo federal, conforme o critério global e conforme o critério de recursos ordinários
compensando recursos vinculados negativos, sejam esses agregados por fonte ou por grupo de
destinação. No caso de agregação por grupo, a suficiência é maior porque fontes negativas em um
grupo são compensadas por fontes positivas do próprio grupo.
Apuração do Cumprimento do art. 42 da LRF -– Poder Executivo Federal – 2021
R$ milhões
Suficiência Recursos Não Valores Suficiência
Critério
Vinculados / Ordinários Negativos Final
Recursos Ordinários/Livres x Grupo
de Destinação de Recursos com 77.670 -61 77.609
Insuficiência
Recursos Ordinários x Fontes
77.670 -2.783 74.887
Vinculadas com Insuficiência
Critério Geral - Soma de Todas as Disponibilidades 1.570.503
Fonte: Siafi.
subitem 9.4 do Acórdão 809/2014-TCU-Plenário (relatoria ministro Benjamin Zymler); subitem 9.1
do Acórdão 1.205/2014-TCU-Plenário (relatoria ministro Raimundo Carreiro); subitem 1.6.1 do
Acórdão de Relação 384/2016-TCU-Plenário (relatoria ministro Augusto Nardes), subitem 9.1 do
Acórdão 1.840/2019-TCU-Plenário (relatoria ministro Bruno Dantas), subitem 9.1 do Acórdão
1.907/2019-TCU-Plenário (relatoria ministro Raimundo Carreiro), subitens 9.3, 9.4 e 9.5 do
Acórdão 62/2020-TCU-Plenário (relatoria ministro Bruno Dantas), subitens 9.2 e 9.3 do Acórdão
2.198/2020-TCU-Plenário (relatoria ministro Vital do Rêgo) e subitem 9.2 do Acórdão 333/2022-
TCU-Plenário (relatoria ministro Walton Alencar Rodrigues).
Em relação ao Poder Legislativo, por meio do subitem 9.2 do Acórdão 793/2016-TCU-
Plenário (relatoria ministro Raimundo Carreiro), foi recomendado às Presidências da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal que orientem os órgãos de assessoramento que atuam junto às
comissões competentes, quando da análise de propostas que concedem ou ampliem renúncias
tributárias, sobre a necessidade de que seja verificado o cumprimento dos requisitos exigidos pelo
art. 14 da LRF. Já no subitem 9.5.1 do supracitado Acórdão 2.198/2020-TCU-Plenário, informou-se
às Mesas Diretoras da Câmara e do Senado que, em razão da exigência prevista no art. 113 do
ADCT, as proposições legislativas que criem ou alterem renúncia de receita deverão ser
acompanhadas da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro, assim como das medidas
compensatórias exigidas pela LRF, não podendo ser consideradas exequíveis pelos Poderes e
órgãos responsáveis pela sua implementação enquanto as condicionantes constitucionais e legais
não forem efetivamente observadas. Por sua vez, nos subitens 9.3.1 e 9.3.2 do Acórdão 2.692/2021-
TCU-Plenário (relatoria ministro Aroldo Cedraz) prolatados em sede de consulta, assentou-se o
caráter alternativo dos incisos I e II do art. 14 da LRF quanto à ausência de obrigatoriedade da
previsão e da implementação de medidas de compensação na forma do sobredito inciso II quando a
renúncia for considerada na estimativa de receita orçamentária, na forma do inciso I, e forem
atendidos os demais requisitos legais.
Ainda quanto ao Poder Legislativo, registre-se o alerta contido no subitem 9.2.2 do
Acórdão 2.937/2018-TCU-Plenário, no sentido de que:
a manutenção da atual dinâmica de expansão das despesas e/ou inibição de receitas,
mediante inovações ou alterações legislativas desacompanhadas de adequadas
estimativas do impacto orçamentário-financeiro nas finanças da União e de medidas
mitigadoras destes impactos, acarreta riscos significativos para a sustentabilidade fiscal
do país, além de comprometer a capacidade operacional dos órgãos federais para a
prestação de serviços públicos essenciais aos cidadãos.
Convém rememorar que o Tribunal de Contas da União apontou irregularidades quando
da emissão dos Pareceres Prévios sobre as Contas do Presidente da República dos exercícios de
2016, 2017, 2018 e 2019, bem como emitiu sucessivos alertas ao Poder Executivo acerca da
ausência de atendimento aos requisitos previstos no ADCT, na LRF e nas correspondentes LDOs
quando da proposição de ato normativo ou sanção de projeto de lei, com vistas à concessão ou
ampliação de benefícios tributários de que decorra renúncia de receita.
Ademais, o escopo do acompanhamento objeto do TC 043.192/2021-1 (Conformidade
das Renúncias de Receitas e das Despesas Obrigatórias de Caráter Continuado – exercício 2021, de
relatoria do ministro Aroldo Cedraz) contempla questão específica destinada a analisar as possíveis
providências de natureza administrativa e/ou judicial que o Poder Executivo entende ser cabíveis
nos casos de rejeição de veto, por parte do Poder Legislativo, a dispositivos legais que instituam
renúncias de receitas sem a devida adequação orçamentária e financeira.
Exame das renúncias tributárias instituídas em 2021
Durante o exercício de 2021, foram instituídas 26 desonerações tributárias (por meio de
vinte atos normativos), no montante estimado de R$ 4,8 bilhões, segundo informações prestadas
pela RFB (peça 42 do TC 043.192/2021-1 e peça 44 do TC 000.560/2022-7, ambos de relatoria do
ministro Aroldo Cedraz). Apenas dois desses atos normativos – Decreto 10.765/2021 e Portaria-ME
14.811/2021 – veicularam renúncias tributárias às quais não se aplicavam as exigências
constitucionais e legais atinentes ao tema. O quadro a seguir apresenta as dezoito legislações que
foram analisadas em confronto com essas exigências.
Atendimento aos Requisitos para Instituição das Renúncias de Receitas Tributárias em 2021
art. 113 do arts. 125 a 127 e 137
Legislação art. 14 da LRF art. 150, § 6º, da CF
ADCT da LDO 2021
Lei 14.118/2021 Não Não Não Sim
Lei 14.119/2021 Não Não Não Sim
Lei 14.126/2021 Não Não Não Sim
Lei 14.130/2021 Não Não Não Sim
Lei 14.184/2021 Sim Não Não Sim
Lei 14.193/2021 Não Não Não Sim
MP 1.034/2021 Sim Sim Não Sim
MP 1.057/2021 (Lei Sim Não Não Sim
14.257/2021)
MP 1.071/2021 Sim Sim Sim Sim
Portaria-ME 11.358/2021 * Sim * Sim
Lei Complementar 185/2021 Não Não Não Sim
MP 1.094/2021 Sim Sim Não Sim
Lei 14.287/2021 Sim Não Não Sim
Lei 14.288/2021 Sim Não Não Sim
Portaria-ME 15.224/2021 * Não * Sim
Decreto 10.638/2021 * Sim * *
Decreto 10.765/2021 * * * *
Portaria-ME 14.811/2021 * Sim * *
* Não se aplica.
Fonte: RFB. Elaboração própria.
Ademais, em relação ao voto da ministra Ellen Grace, relatora da ADI 2.666, entende-se
que as considerações ali expostas também não se aplicam à questão da observância dos requisitos
constitucionais e legais para concessão das renúncias tributárias. A interpretação contida naquele
julgado foi no sentido de que o princípio da anterioridade nonagesimal, insculpido no § 6º do art.
195 da Constituição, deveria ser aplicado somente quando da instituição ou modificação de
contribuição social, e não da prorrogação do tributo, o que ocorreu no caso concreto da ampliação
da vigência da CPMF, por meio do art. 3º da EC 37/2002.
Importante destacar que, no âmbito dos seus trabalhos de fiscalização, o TCU tem se
posicionado no sentido de que as condicionantes constitucionais e legais (arts. 113 do ADCT e 14
da LRF, bem como dispositivos das LDOs de cada exercício financeiro) para concessão dos
benefícios tributários também devem ser aplicadas no caso de prorrogações dessas renúncias.
Entende-se que o termo “ampliação” de incentivo ou benefício de natureza tributária,
contido no caput do art. 14 da LRF, transcrito a seguir, deve ser compreendido tanto no sentido
quantitativo (número de beneficiados, valores), quanto temporal (duração, ou seja, prorrogação da
renúncia).
Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra
renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-
financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao
disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições:
(grifou-se)
Por exemplo, convém consignar o que dispõe o subitem 9.2.1 do Acórdão 747/2010-
TCU-Plenário, de relatoria do ministro Augusto Nardes: “9.2. determinar ao Ministério da Fazenda
que: 9.2.1. observe, quando da prorrogação de renúncias de receitas, as condições estabelecidas no
art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal;” (grifou-se).
Por sua vez, ao avaliar possíveis irregularidades na concessão e ampliação dos
benefícios tributários prorrogados pela Lei 13.799/2019, a Corte de Contas deliberou no sentido da
necessidade de atendimento aos requisitos constitucionais e legais em apreço, e não só no momento
da aprovação da renúncia tributária, mas também quando da sua implementação, conforme item 9.3
do Acórdão 62/2020-TCU-Plenário (relatoria ministro Bruno Dantas), in verbis:
9.3 determinar ao Ministério da Economia, à Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste e à Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, no âmbito de suas
respectivas competências, com fundamento no art. 250, inc. II, do Regimento Interno do
TCU, que somente reconheçam/concedam/aprovem direitos de fruição de benefícios
previstos na Lei 13.799/2019 quando sobrevier a implementação de todas as condições
de eficácia de renúncia de receitas previstas no art. 14 da Lei de Responsabilidade
Fiscal, no art. 114 da Lei 13.707/2018 (Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019) e no
art. 113 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em sintonia com a
resposta à Consulta veiculada pelo Acórdão 1.907/2019-TCU-Plenário; (grifou-se)
Mais recentemente e de forma similar, o TCU assim deliberou no âmbito do já citado
Acórdão 333/2022-TCU-Plenário (relatoria ministro Walton Alencar Rodrigues):
9.2. dar ciência à Casa Civil da Presidência da República e ao Ministério da Economia,
com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 2º, inciso II, e 9º, inciso I,
da Resolução-TCU 315/2020, acerca da necessidade de atendimento a todos os
requisitos constitucionais e legais para sanção de projeto de lei ou de projeto de lei de
conversão, quanto à concessão ou ampliação de todas as naturezas de renúncias de
receitas;
Nessa última parte, foi enfatizado o caráter positivo que a desoneração teria ocasionado
nas contas públicas, citando que, “além da estimativa positiva realizada pelo Congresso Nacional
nos trabalhos da aprovação da lei orçamentária, foi amplamente noticiado que a arrecadação federal
do mês de janeiro de 2022 teve um aumento 18,3%, o melhor resultado desde 1995”. Esses
argumentos confirmariam que “a desoneração da folha não é, como nunca foi, um problema de
redução de receitas federais”.
A Secretaria-Geral informou também que o Relatório de Avaliação de Receitas e
Despesas Primárias do 1º bimestre de 2022 atestou que “as atuais projeções das receitas primárias
federais previstas para o corrente ano indicam um aumento, no valor de R$ 87.492,9 milhões, em
relação à previsão constante da Lei Orçamentária Anual”, enquanto a estimativa de arrecadação
líquida para o RGPS mostrou acréscimo de R$27.933,6 milhões. Assim, a Secretaria-Geral concluiu
que “a medida é positiva, tanto da perspectiva econômica, quanto sob a ótica jurídica-
constitucional’.
Observa-se que tais alegações procuram demonstrar os benefícios econômicos e sociais
advindos da renúncia fiscal em apreço. No entanto, se revelam inadequadas. Ocorre que a questão
sob análise diz respeito aos aspectos da responsabilidade fiscal, ou seja, pretende-se responder se
foram atendidos os dispositivos constitucionais e legais requeridos para a prorrogação do benefício.
Registre-se que o TCU já realizou trabalhos com vistas a verificar as medidas adotadas
pelo governo federal referentes à avaliação dos resultados de algumas renúncias de receitas, como
por exemplo no âmbito do Acompanhamento das Renúncias de Receitas e Despesas Obrigatórias de
Caráter Continuado - exercício de 2019 (TC 031.445/2019-5, de relatoria do ministro Bruno
Dantas). Mais recentemente, por meio do § 4º do art. 4º da EC 109/2021, previu-se a elaboração de
Lei Complementar com vistas a estabelecer, em resumo, critérios, metas e procedimentos para
concessão não apenas de benefícios tributários, mas também financeiros e creditícios.
Comentários da Secretaria-Executiva da Casa Civil da Presidência da República e respectiva
análise
Por meio do Ofício 1027/2022/SE/CC/CC/PR (peça 27 do TC 000.560/2022-7), a
Secretaria-Executiva da Casa Civil da Presidência da República apresentou esclarecimentos
conforme a Nota SAJ 32/2022/Saeco/SAJ/SG/PR (peça 31 do TC 000.560/2022-7), a Nota SAG
24/2022/Safin/SAG (peça 28 do TC 000.560/2022-7) e a Nota Técnica 65/2021/Safin/SAG (peça
55 do TC 000.560/2022-7). Como a referida Nota SAJ 32/2022/Saeco/SAJ/SG/PR já foi abordada
na parte “a” anterior, esta análise se concentra nos argumentos apresentados nas outras duas Notas.
A SAG informou, conforme a Nota SAG 24/2022/Safin/SAG, que todos os atos
normativos submetidos à apreciação do Presidente da República são avaliados pela Subchefia, “sob
o prisma do mérito da proposição, isto é, com respeito à sua conveniência, oportunidade e
compatibilidade com as diretrizes governamentais”.
Em relação aos atos que envolvam receitas públicas, citou que a Subchefia analisa as
informações “fornecidas pelas Pastas responsáveis, revistas e complementadas pelo Ministério da
Economia, com foco principal nas disposições contidas no art. 113 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT); no art. 14 da Lei Complementar 101/2000 (LRF); e na Lei de
Diretrizes Orçamentárias vigente”, com vistas a agregar elementos que sejam considerados quando
do encaminhamento da matéria para deliberação do Chefe do Executivo.
Em relação ao exame do PL 2541/2021, as análises daquela Subchefia encontram-se na
Nota Técnica 65/2021/Safin/SAG, pela qual se afirma que as questões de constitucionalidade,
legalidade e adequação formal deveriam ser objeto de análise da SAJ, com base no art. 22 do
Decreto 9.982/2019. Quanto à análise do mérito, aquela SAG entendeu que “os argumentos
apresentados pelo Ministério da Economia são contundentes”, devendo, portanto, ser observado o
que dispõem a LRF, a LDO e o ADCT.
Plenário, bem como em alerta e recomendação do Parecer Prévio sobre as Contas do Presidente da
República de 2019.
Em que pese a complexidade da legislação que trata da conformidade fiscal das
renúncias de receitas, bem como não ter sido detectado o descumprimento das exigências
constitucionais e legais para instituição de benefícios fiscais, por parte do Poder Executivo, no
Parecer Prévio das Contas do Presidente da República de 2020, há que se considerar a recorrência
dos achados ora relatados em múltiplas ações de controle externo, bem como em outros Pareceres
Prévios sobre as Contas do Presidente da República, no caso referentes a 2016, 2017, 2018 e 2019.
Assim, observa-se o cumprimento apenas parcial das deliberações do TCU sobre o tema. Nesse
sentido, faz-se necessário o registro da repetição das irregularidades e, por conseguinte, a emissão
de novo alerta.
Ademais, em que pese tais exigências serem requisitos prévios para a exequibilidade de
normas veiculadoras de renúncias tributárias, o Poder Executivo sequer adotou providências
saneadoras posteriores, de modo a conferir a devida adequação orçamentária e financeira dessas
medidas, em conformidade com a legislação pertinente, bem como em atenção ao disposto no item
9.1 do Acórdão 1.907/2019-TCU-Plenário (relatoria ministro Raimundo Carreiro), segundo o qual:
(...) medidas legislativas que forem aprovadas sem a devida adequação orçamentária e
financeira, e em inobservância ao que determina a legislação vigente, especialmente o
art. 167 da Constituição Federal, o art. 113 do ADCT, os arts. 15, 16 e 17 da LRF, e os
dispositivos pertinentes da LDO em vigor, somente podem ser aplicadas se forem
satisfeitos os requisitos previstos na citada legislação;
Por fim, não obstante as deliberações exaradas nos subitens 9.2 do Acórdão 793/2016-
TCU-Plenário, 9.2.2 do Acórdão 2.937/2018-TCU-Plenário, 9.5.1 do Acórdão 2.198/2020-TCU-
Plenário e 9.3.1 e 9.3.2 do Acórdão 2.692/2021-TCU-Plenário, remanesce a prática do Congresso
Nacional de propor legislações e respectivas emendas, além de aprovar medidas provisórias, sem
demonstração do atendimento aos requisitos exigidos pelos arts. 113 do ADCT e 14 da LRF, bem
como pelos dispositivos das LDOs em vigor. Entretanto, considerando que o Parecer Prévio sobre
as Contas do Presidente da República compreende o exame da gestão exclusivamente de
responsabilidade do Poder Executivo, não se propõe deliberação endereçada ao Poder Legislativo.
Nesse contexto, considerando haver indícios de vícios no processo legislativo referente
às normas que instituíram renúncias tributárias no exercício de 2021 sem o cumprimento integral
dos requisitos constitucionais e legais, propor-se-á no âmbito do acompanhamento objeto do
TC 043.192/2021-1 deliberação no sentido de encaminhar elementos à PGR, autoridade legitimada
nos termos do art. 103, inciso VI, da Constituição, para avaliação quanto à conveniência e à
oportunidade de atuar na via do controle concentrado de constitucionalidade.
IRREGULARIDADE
Inobservância de requisitos exigidos pelos arts. 113 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT), 14 da Lei Complementar 101/2000 (LRF) e 125 a 129 e 137 da Lei
14.116/2020, alterada pela Lei 14.143/2021 (LDO 2021) para concessão ou ampliação de
benefícios tributários de que decorra renúncia de receita, conduta incorrida também em exercícios
anteriores, em face da ausência, no momento da edição da Lei 14.257/2021, das Medidas
Provisórias 1.034/2021 e 1.094/2021, da Portaria-ME 15.224/2021, da sanção das Leis
14.126/2021 e Lei 14.288/2021, bem como da implementação pelo Poder Executivo dos
respectivos benefícios, de: projeção do impacto orçamentário-financeiro; atendimento ao disposto
na lei de diretrizes orçamentárias; consideração da renúncia na estimativa de receita da lei
orçamentária e não afetação das metas dos resultados fiscais ou, alternativamente, apresentação
de medidas de compensação; fixação de vigência máxima de cinco anos; indicação do órgão
IRREGULARIDADE
responsável pela supervisão, acompanhamento e avaliação do benefício.
ALERTA
Alertar o Poder Executivo acerca das irregularidades reiteradas na concessão ou ampliação de
benefícios tributários que importaram em renúncia de receita, em descumprimento às disposições
dos arts. 113 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), 14 da Lei
Complementar 101/2000 (LRF) e 125 a 129 e 137, da Lei 14.116/2020, alterada pela Lei
14.143/2021 (LDO 2021) uma vez que, no momento da edição da Lei 14.257/2021, das Medidas
Provisórias 1.034/2021 e 1.094/2021, da Portaria-ME 15.224/2021, da sanção das Leis
14.126/2021 e Lei 14.288/2021, bem como da implementação pelo Poder Executivo dos
benefícios, não foram observados integralmente os respectivos requisitos constitucionais e legais
necessários para conferir eficácia às normas aprovadas, como: projeção do impacto orçamentário-
financeiro; atendimento ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias; consideração da renúncia
na estimativa de receita da lei orçamentária e não afetação das metas dos resultados fiscais ou,
alternativamente, apresentação de medidas de compensação; fixação de vigência máxima de
cinco anos; indicação do órgão responsável pela supervisão, acompanhamento e avaliação do
benefício.
4.1.2.9.1 Plano de Revisão de Benefícios Tributários
O art. 4º da Emenda Constitucional 109/2021 estabeleceu que o Presidente da República
deveria encaminhar ao Congresso Nacional, em até seis meses após a promulgação da referida EC,
ou seja, até 16/9/2021, plano de redução de incentivos e benefícios tributários com vistas à
eliminação de, pelo menos, 10% ao ano dessas renúncias fiscais em relação aos volumes vigentes,
de modo que, no prazo de até oito anos, os benefícios totais não ultrapassem o percentual de 2% do
PIB, conforme dispositivo transcrito a seguir:
Art. 4º O Presidente da República deve encaminhar ao Congresso Nacional, em até 6
(seis) meses após a promulgação desta Emenda Constitucional, plano de redução
gradual de incentivos e benefícios federais de natureza tributária, acompanhado das
correspondentes proposições legislativas e das estimativas dos respectivos impactos
orçamentários e financeiros.
§ 1º As proposições legislativas a que se refere o caput devem propiciar, em conjunto,
redução do montante total dos incentivos e benefícios referidos no caput deste artigo:
I - para o exercício em que forem encaminhadas, de pelo menos 10% (dez por cento),
em termos anualizados, em relação aos incentivos e benefícios vigentes por ocasião da
promulgação desta Emenda Constitucional;
II - de modo que esse montante, no prazo de até 8 (oito) anos, não ultrapasse 2% (dois
por cento) do produto interno bruto.
§ 2º O disposto no caput deste artigo, bem como o atingimento das metas estabelecidas
no § 1º deste artigo, não se aplica aos incentivos e benefícios:
I - estabelecidos com fundamento na alínea "d" do inciso III do caput e no parágrafo
único do art. 146 da Constituição Federal;
II - concedidos a entidades sem fins lucrativos com fundamento na alínea "c" do inciso
VI do caput do art. 150 e no § 7º do art. 195 da Constituição Federal;
III - concedidos aos programas de que trata a alínea "c" do inciso I do caput do art. 159
da Constituição Federal;
2026 4.040
2027
2028
2029
Total 15.287 7.128 22.415
Fonte: EM 248/2021 ME.
Assim, a RFB salientou que, ao se excluir esse valor (R$ 150,5 bilhões) da soma de
todos os benefícios federais de natureza tributária (R$ 307,9 bilhões), o montante dos gastos
tributários a ser considerado no plano de redução gradual reduziria para R$ 157,4 bilhões, ou 2,06%
do PIB.
Por conseguinte, aquela secretaria concluiu que (peça 9, p. 8, do TC 043.192/2021-1):
para se chegar à meta de 2% ao final de 8 anos, seria necessário reduzir em
aproximadamente 0,06% do PIB ou, no mínimo, R$ 4,21bilhões, os benefícios
tributários constantes do DGT - Demonstrativo de Gastos Tributários. Ademais, o inciso
I do artigo 4º da Emenda Constitucional 109, de 2021, estabelece que no primeiro ano
devem ser reduzidos benefícios tributários que representem, no mínimo, 10% do
montante, fora as exceções, o que corresponde a R$ 15,75 bilhões.
Quanto às providências adotadas pelo Poder Executivo, observou-se, inicialmente, que
se cumpriu prazo de seis meses após a promulgação da EC 109/2021, para o envio do plano de
redução gradual de incentivos e benefícios federais de natureza tributária, também denominados
gastos tributários, acompanhado da respectiva proposição legislativa, em obediência ao art. 4º
daquela EC.
seguridade social. Na oportunidade, incluiu-se nova exceção ao sigilo fiscal, consoante o inciso IV
do § 3º do art. 198 do CTN, in verbis:
Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por
parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do
ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e
sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades.
(...)
§ 3o Não é vedada a divulgação de informações relativas a:
(...)
IV - incentivo, renúncia, benefício ou imunidade de natureza tributária cujo beneficiário
seja pessoa jurídica.
Essa alteração normativa, que afastou o sigilo fiscal anteriormente aplicado a benefícios
tributários recebidos por pessoas jurídicas, veio ao encontro da necessidade de transparência das
renúncias de receitas, aspecto crucial para o equilíbrio das finanças públicas. Registre-se que a
transparência fiscal foi alavancada pela edição da LRF em 2000, cujo Capítulo IX é inteiramente
dedicado à transparência, ao controle e à fiscalização da gestão fiscal. Ademais, pela leitura do §
1º do art. 1º da LRF, observa-se a relevância da gestão fiscal transparente e planejada, inclusive no
tocante às renúncias de receitas:
§ 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em
que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas
públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a
obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas
com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações
de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em
Restos a Pagar. (grifou-se)
Convém consignar que o marco regulatório da transparência na gestão pública tem
assento constitucional no art. 37 da Carta Magna, bem como nos dispositivos do Capítulo II (Das
Finanças Públicas). A importância da evidenciação das renúncias tributárias é contemplada no § 6º
do art. 165, transcrito a seguir: “§ 6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de
demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias,
remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia”.
Com efeito, em ações de controle anteriores à Lei Complementar 187/2021, o TCU já
havia identificado diversas deficiências na evidenciação de informações relativas às renúncias
tributárias, notadamente por conta da alegada impossibilidade, por parte da Secretaria Especial da
Receita Federal do Brasil (RFB), de divulgação dessas informações em face do sigilo fiscal então
vigente.
Entre os trabalhos do TCU nessa temática, citam-se o levantamento com o objetivo de
conhecer e avaliar a estrutura de governança tributária, que ensejou o Acórdão 1.205/2014-TCU-
Plenário (relatoria ministro Raimundo Carreiro), bem como a Fiscalização de Orientação
Centralizada (FOC) para verificar a regularidade da concessão de renúncias tributárias relacionadas
às áreas social e de desenvolvimento, que resultou no Acordão 1.270/2018-TCU-Plenário, de
relatoria do ministro José Mucio Monteiro. Na oportunidade, ressaltou-se a necessidade de os
órgãos de controle e os órgãos responsáveis pelas políticas públicas financiadas por renúncias
tributárias terem acesso junto à RFB às informações gerenciais e sobre os beneficiários, visto que o
sigilo fiscal não poderia impedir o controle e a transparência dos gastos públicos.
bem como as medidas de compensação adotadas, devendo haver tópico específico sobre
as DOCCs de pessoal;
Com essa determinação, entende-se que se inicia o necessário processo de
aprimoramento dos processos de trabalho afetos às DOCCs, propiciando transparência e avanços
conceituais, com vistas a viabilizar, a médio prazo, a elaboração semestral de um Demonstrativo
Consolidado das Despesas Obrigatórias de Caráter Continuado, contendo informações sobre as
DOCCs da União. Cumpre ressaltar que, mesmo após a formatação do aludido plano e a
consecução das ações que nele constarem, a expectativa é de que a evolução na qualidade das
informações a serem divulgadas sobre a conformidade fiscal das DOCCs seja alcançada
paulatinamente, conforme os demonstrativos forem sendo publicados e, concomitantemente, as
deficiências apontadas forem sendo sanadas.
Quanto às informações obtidas sobre a criação de DOCCs em 2021, repetiu-se, grosso
modo, o cenário verificado nos anos anteriores: foram apresentadas informações oriundas de vários
órgãos sobre as proposições analisadas no âmbito de suas respectivas áreas de atuação. O exame
técnico detalhado dos processos de criação de DOCCs no exercício de 2021 está sendo realizado no
bojo do TC 043.192/2021-1, de relatoria do ministro Aroldo Cedraz. Numa visão geral, a Nota
Informativa SEI 2499/2022/ME (peça 40 do TC 043.192/2021-1) consolidou a lista de processos
tramitados na SOF e STN que versaram sobre DOCCs.
Por parte da STN, foram apresentadas informações de duas Coordenações:
Coordenação-Geral de Operações Fiscais (CGFIS) e Coordenação-Geral de Planejamento e Riscos
Fiscais (Copef). A Copef, no entanto, elencou sessenta processos nos quais se manifestou sobre
potenciais renúncias de receitas. A CGFIS elencou quatro processos de DOCCs tramitados pelo
sistema SEI, referentes a subvenções econômicas criadas ou prorrogadas em 2021 (duas portarias e
duas leis), e duas Resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), cujo trâmite não se realiza
pelo SEI. Há informações de impacto fiscal e medidas de compensação em relação às portarias e
resoluções.
As leis mencionadas são a Lei 14.166/2021 (Renegociação Extraordinária de Débitos no
âmbito dos Fundos Constitucionais) e a Lei 14.275/2021 (Programa de Atendimento Emergencial à
Agricultura Familiar). Essas leis sofreram vetos, que, posteriormente, foram rejeitados. A esse
respeito, cumpre mencionar que o escopo do acompanhamento objeto do TC 043.192/2021-1
contempla questão específica destinada a analisar as possíveis providências de natureza
administrativa e/ou judicial que o Poder Executivo entende ser cabíveis nos casos de rejeição de
veto, por parte do Poder Legislativo, a dispositivos legais que instituam DOCCs sem a devida
adequação orçamentária e financeira.
Por sua vez, a SOF apresentou informações do Departamento de Programas das Áreas
Social e Especial (Depes), da Coordenação-Geral de Assuntos Macro-Orçamentários (CGMAC) e
do Departamento de Programas das Áreas Econômica e Infraestrutura (Deinf). A CGMAC e o
Deinf se manifestaram em relação à Lei 14.275/2021 e a CGMAC se manifestou também sobre a
Lei 14.166/2021.
O Depes apresentou informações sobre três normas que criaram DOCCs em 2021. A
Medida Provisória (MP) 1.070/2021, Habite Seguro – programa que subsidia a aquisição de casa
própria para servidores da área de segurança, com impacto orçamentário em 2021 de R$ 101
milhões, cuja medida de compensação apresentada foi a redução permanente de outras despesas do
Fundo Nacional de Segurança Pública.
O Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família, foi criado pela MP
1.061/2021 (convertida na Lei 14.284/2021), teve impacto orçamentário previsto para 2021 da
ordem de R$ 9 bilhões, cujos recursos foram oriundos do cancelamento de despesas do Bolsa
Família. Para os exercícios seguintes, a previsão de impacto foi de R$ 38 bilhões para pagamento
dos benefícios permanentes.
Por fim, o Depes elencou o Auxílio Inclusão, Lei 14.176/2021, cujo impacto previsto
para 2021 foi de R$ 11,5 milhões e para 2022, de R$ 312,5 milhões. O Auxílio Inclusão consiste no
pagamento de benefício mensal no valor de 50% do Benefício de Prestação Continuada (BPC) à
pessoa com deficiência e beneficiária do BPC que ingressar no mercado de trabalho. A arquitetura
do programa pressupõe que a economia gerada pela redução dos beneficiários do BPC compensará
a despesa do Auxílio.
Ante o exposto, não obstante o processo específico TC 043.192/2021-1 ainda encontrar-
se em andamento, cumpre informar que, entre os casos concretos já avaliados até o momento, não
se detectou indício de descumprimento dos requisitos fiscais aplicáveis à espécie.
4.1.2.11. Ações de Recuperação de Créditos
O art. 58 da Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) estabelece
que a prestação de contas do Chefe do Poder Executivo destacará as ações de recuperação de
créditos tributários ou não tributários nas instâncias administrativa e judicial.
Os créditos tributários provêm de obrigação legal relativa a tributos – imposto, taxa,
contribuição social, contribuição de melhoria, contribuição especial e empréstimo compulsório. Os
não tributários são os demais créditos, todos constituídos por autoridade administrativa competente
dos órgãos da União ou das autarquias e fundações públicas federais titulares do respectivo direito.
Esgotado o prazo para pagamento da obrigação, inicia-se a cobrança administrativa no âmbito dos
citados órgãos e entidades.
Não havendo pagamento, o órgão ou entidade de origem encaminha o crédito à
correspondente procuradoria para fins de controle de legalidade e regularidade, apuração da
liquidez, certeza e exigibilidade e eventual inscrição em Dívida Ativa para cobrança extrajudicial
(conciliação prévia e protesto) ou judicial (ação de execução fiscal): à Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN) são encaminhados os créditos da União; à Procuradoria-Geral Federal
(PGF), os créditos das autarquias e fundações públicas federais; e à Procuradoria-Geral do Banco
Central (PGBC), os créditos do Banco Central do Brasil (Bacen).
A maior parte da análise da evolução da arrecadação e do estoque aqui realizada tem
por base os dados extraídos da PCPR 2021, derivados dos sistemas de informações gerenciais
próprios dos citados órgãos gestores. A análise da confiabilidade dos números do Siafi é feita no
Capítulo 5 deste relatório, que trata da auditoria do Balanço Geral da União de 2021.
Conforme será detalhado, os sistemas gerenciais registraram no fechamento do
exercício de 2021 o montante de R$ 4.673,87 bilhões em créditos com potencial recebimento,
inferiores em 5,2% ao montante registrado ao final do exercício de 2020. Equivalem a 53,8% do
Produto Interno Bruto de 2021 (R$ 8.679,5 bilhões), distribuindo-se como segue: R$ 2.764,53
bilhões inscritos em Dívida Ativa, R$ 1.707,36 bilhões com exigibilidade suspensa no âmbito de
processos administrativos ou judiciais e R$ 201,98 bilhões com exigibilidade suspensa em razão de
parcelamento nas respectivas esferas.
As arrecadações de Dívida Ativa por PGFN, PGBC e PGF foram, respectivamente, de
R$ 24,66 bilhões, R$ 0,87 bilhão e R$ 1,94 bilhão. A maior parte se deve à adesão do sujeito
passivo a algum parcelamento: na PGFN corresponde a 81,9% e na PGBC, a 98,5% – não houve
segregação da arrecadação dos créditos parcelados no âmbito da PGF. A razão consolidada
arrecadação/estoque da Dívida Ativa foi de 0,99%, índice superior à média simples dos últimos
quatro exercícios (0,86%).
A razão arrecadação/estoque (grau de recuperabilidade) é um índice comumente usado
para avaliar o desempenho da macrogestão na recuperação de créditos. Esse índice é aqui
empregado como instrumento de análise, reconhecendo-se, porém, a existência de peculiaridades
que relativizam a capacidade ou autonomia de ação dos órgãos responsáveis pela administração do
direito, tais como: natureza ou categoria do crédito, restrições legais e fatores econômicos e
institucionais. Tal índice não é, portanto, ferramenta que isoladamente traduza o desempenho
individual do agente e mesmo de setores internos das repartições envolvidas.
Créditos Administrados pela RFB
Segundo a publicação da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB)
“Análise dos Créditos Ativos” de dezembro de 2021, os Créditos Ativos correspondem aos créditos
tributários não extintos dos contribuintes para com o Fisco registrados em sistemas gerenciais,
categorizados de acordo com uma das quatro situações:
a) Devedor: créditos exigíveis, sujeitos à cobrança amigável e à cobrança administrativa
especial e, em caso de não regularização, ao envio à PGFN para inscrição em Dívida
Ativa da União (DAU);
Exigibilidade Suspensa por Processo Administrativo: créditos com exigibilidade
suspensa na esfera administrativa. Essa situação ocorre principalmente durante o
julgamento do contencioso nas Delegacias da Receita Federal de Julgamento (DRJ) ou
no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e durante a revisão de ofício dos
débitos lançados. Também ocorre no transcurso dos prazos para ciência, pagamento,
apresentação de impugnação, de manifestação de inconformidade ou de recursos;
Exigibilidade Suspensa por Processo Judicial: créditos cujos valores e exigibilidades
estão em discussão na esfera judicial; e
Parcelamento: crédito consolidado, suspenso por parcelamento ordinário ou especial,
amortizado em cotas.
Não obstante os Créditos Ativos das categorias “a”, “b” e “c” representem um direito
nas esferas administrativa ou judicial, não constituem direito líquido e certo contra o devedor,
atributo dos créditos parcelados – notadamente em virtude de prévia e expressa renúncia ao direito
no âmbito de processos administrativos ou judiciais – e dos créditos inscritos em Dívida Ativa.
Apresenta-se na tabela seguinte o montante desses créditos nas últimas quatro apurações anuais
publicadas pela RFB. Os dados são de natureza gerencial e advêm dos diversos sistemas de
cobrança do Fisco. Observa-se variação dos saldos em 2021 relativamente ao exercício de 2020,
com destaque para a elevação de 11,7% nos créditos com exigibilidade suspensa por processo
administrativo.
Consolidação dos Créditos Ativos
R$ bilhões
Dez/2018 Dez/2019 Dez/2020 Dez/2021
Situação
Saldo % Saldo % Saldo % Saldo %
Devedor 324,62 16,5 143,46 7,7 173,48 9,0 149,96 7,3
Exigibilidade Suspensa (Processo Administrativo) 1.119,35 56,9 1.152,61 61,8 1.168,87 60,5 1.305,74 63,6
Exigibilidade Suspensa (Processo Judicial) 321,55 16,3 353,62 19,0 374,76 19,4 396,88 19,3
Parcelamento 202,28 10,3 214,08 11,5 216,10 11,2 201,98 9,8
Total 1.967,80 100,0 1.863,77 100,0 1.933,21 100,0 2.054,56 100,0
Fonte: RFB – Análise dos Créditos Ativos.
8.9.9.9.1.46.0
Impostos 706.530,83
1 46,9 718.753,03 46,6 773.226,18 45,4
8.9.9.9.1.46.0 Contribuiç
716.527,68
2 ões 47,6 734.408,72 47,6 817.425,65 48,0
8.9.9.9.1.46.0
Infrações 82.934,45
3 5,5 90.209,80 5,8 111.707,75 6,6
1.505.992, 1.543.371, 100,0 1.702.359, 100,0
Total
96 100,0 55 58
Fonte: Siafi.
Parcelamentos
O parcelamento, a cuja adesão é da discricionariedade do sujeito passivo, pode ser
classificado em duas categorias: convencional ou ordinário, disciplinado nos arts. 10 a 14-F da Lei
10.522/2002; e especial, previsto no art. 151, inciso VI, c/c o art. 155-A da Lei 5.172/1966 (Código
Tributário Nacional – CTN).
No primeiro, pode-se optar a qualquer tempo pelo parcelamento seja qual for a natureza
do débito, nos termos das regras estabelecidas na Lei 10.522/2002. Na segunda categoria, são
criadas regras especiais por leis ou medidas provisórias, que, em geral, estabelecem restrições
quanto à natureza dos débitos, delimitam o prazo para adesão e possibilitam descontos.
Registre-se que este Tribunal (Acórdão 2.497/2018-TCU-Plenário, de relatoria do
ministro José Mucio Monteiro) verificou problemas que permeiam os parcelamentos especiais,
quais sejam: i) perda do caráter extraordinário do parcelamento; ii) longos prazos para pagamento;
iii) migração entre parcelamentos e adesão por contribuintes inadimplentes em parcelamentos
anteriores; iv) falta de compromisso dos contribuintes que aderem aos parcelamentos; e v) elevado
percentual de desconto oferecido.
Na PCPR 2021, os parcelamentos foram discriminados em Não Tributários, Tributários
Não Previdenciários (Fazendários) e Tributários Previdenciários. Abordam-se aqui os créditos
parcelados sob administração da RFB. Os parcelamentos de créditos inscritos em Dívida Ativa sob
a gestão da PGFN, da PGF e da PGBC são analisados nos respectivos tópicos.
A tabela seguinte apresenta os dados de estoque e arrecadação segregados em
fazendários e previdenciários. Evidencia-se, em relação a 2020, redução do nível do estoque e
elevação da arrecadação dos créditos fazendários, contrastando com a redução na arrecadação dos
créditos previdenciários.
Arrecadação e Estoque dos Créditos Parcelados Administrados pela RFB
R$ milhões
Parcelamentos 2020 2021
Arrecadação Estoque (A/B) Arrecadação Estoque (C/D) (C/A)-1 (D/B)-1
A B % C D % % %
Fazendários 16.585,34 119.736,92 13,85 18.905,68 102.029,15 18,53 13,99 -14,80
Previdenciários 7.088,70 96.360,33 7,36 4.528,36 99.946,29 4,53 -36,12 3,70
Total 23.674,04 216.097,24 10,96 23.434,05 201.975,45 11,60 -1,01 -6,50
Fonte: PCPR 2021.
2.000 2,0%
1.500 1,5%
1,1% 1,0%
0,8% 0,8%
1.000 0,7% 1,0%
500 0,5%
22,0 18,8 18,5 21,2 27,5
0 0,0%
2017 2018 2019 2020 2021
ESTOQUE ARRECADAÇÃO A/E (%)
89,8%
96,5%
Quanto ao estoque da dívida ativa administrada pela PGFN, verifica-se aumento tanto
dos créditos parcelados como dos não parcelados, respectivamente, 26% e 3%, resultando no
aumento consolidado de 5,5%. Parte do aumento decorre do ajuste dos saldos pela taxa Selic, bem
como em face de novas inscrições por inadimplência. A razão arrecadação/estoque ficou em 0,92%,
superior à observada em 2020 (0,77%).
No que diz respeito à eficiência da arrecadação da Dívida Ativa, a PGFN apresentou um
quadro com as vinte principais ações de seu Plano de Ação, baseado em “medidas de inteligência
fiscal, fortalecimento dos mecanismos de cobrança e na revisão de processos de trabalho” (PCPR
2021, p. 147-148).
Parcelamentos
Verifica-se da tabela anterior que, embora apenas cerca de 13% do estoque da DAU de
2021 corresponda a créditos parcelados, a arrecadação nessa modalidade no mesmo exercício
representa 81,9% da global. A tabela seguinte apresenta a arrecadação e o estoque dos
parcelamentos segregados segundo as normas instituidoras (modalidades) e organizados em ordem
decrescente dos saldos.
Arrecadação e Estoque dos Créditos Parcelados inscritos em Dívida Ativa – PGFN
R$ milhões
2020 2021
Arrecadação Estoque Arrecadação Estoque
Parcelamentos A/B C/D
Participação Participação
A B % C D %
% %
Transação - Lei 13.988/2020 1.766,35 72.345,54 26,1 2,4 6.380,03 161.365,20 46,2 4,0
Lei 11.941/2009 3.249,30 74.403,88 26,9 4,4 3.074,53 71.993,48 20,6 4,3
PERT - Lei 13.496/2017 2.899,36 66.690,74 24,1 4,3 3.103,55 55.434,99 15,9 5,6
Convencional 6.026,04 20.259,10 7,3 29,7 6.013,20 23.683,25 6,8 25,4
Lei 12.996/2014 921,01 19.577,65 7,1 4,7 746,99 15.584,67 4,5 4,8
Lei 13.485/2017 163,18 6.400,94 2,3 2,5 205,45 5.716,35 1,6 3,6
PERT-SN 222,32 3.404,81 1,2 6,5 169,86 2.872,22 0,8 5,9
Demais 2.013,33 13.797,03 5,0 14,6 488,71 12.301,44 3,5 4,0
Total 17.260,89 276.879,69 100 6,2 20.182,32 348.951,60 100 5,8
Fonte: PCPR 2021.
Nota: Conforme consulta ao Siafi em 4/2/2022, foram identificados saldos duplicados de créditos recuperáveis das classes “C”
e “D” nas contas 899914813, 899914814, 899914815 e 899914816. Em contato com a PGFN foi informado que em 2020,
época da implantação do fluxo de contabilização dos créditos de repartição tanto para o Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT), como para o Fundo do Regime Geral de Previdência Social (FRGPS), a Secretaria do Tesouro Nacional (STN)
parametrizou no formato 89991481XX o registro das novas contas. Entretanto, para que não mais ocorressem duplicidades,
seria implementado um novo fluxo de contabilização. Em 29/3/2022, a PGFN informou que a STN fez a reclassificação das
contas 899914813, 899914814, 899914815 e 899914816, que por se tratar de contas de controle específico, deveriam ser
registradas nos grupos 7999169XX e 8999169XX. Em consulta ao Siafi em 29/3/2022, foi verificado que as contas em
duplicidade haviam sido reclassificadas.
Além dos créditos inscritos em Dívida Ativa, em 2021 foram arrecadados R$ 3.541,71
milhões. Destacou-se o envio a protesto de 441 títulos de Dívida Ativa, perfazendo o montante
original de R$ 350,4 milhões, que alcançou recuperação de 25% nos créditos cuja quantia é inferior
a R$ 20 mil (PCPR 2021, p. 162).
4.1.3. Metas e Prioridades na Lei de Diretrizes Orçamentárias
A lei de diretrizes orçamentárias (LDO) deve dispor sobre as metas e prioridades da
administração pública federal para o exercício seguinte, conforme o art. 165, § 2º, da Constituição
Federal, que sofreu alteração com a promulgação da EC 109, de 15/3/2021:
Art. 165.
...
§ 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da
administração pública federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal e
por vezes a LDO apenas fazia uma remissão às prioridades definidas no PPA, ou mesmo deixou de
prever prioridades, como foi o caso da LDO 2020, assinalado pelo TCU no item 4.1.3 do relatório
sobre as contas do Presidente da República de 2020.
Entretanto, o rol fixado na LDO 2021 contém apenas prioridades específicas para a
administração pública federal, sem previsão de metas operacionais para 2021. Além dessa lacuna, a
alteração promovida pela Lei 14.143/2021 suprimiu do rol de prioridades as despesas necessárias ao
“funcionamento dos órgãos e das entidades”, em descompasso com a lógica das diretrizes de
política fiscal e respectivas metas, as quais devem ser consistentes com as premissas e os objetivos
da política econômica nacional, com vistas a assegurar a trajetória sustentável da dívida pública.
Frise-se que foi a partir do Acórdão 806/2014-TCU-Plenário que o Poder Executivo
passou a explicitar, em suas propostas orçamentárias, as despesas de caráter continuado e essenciais
ao funcionamento dos órgãos e entidades, incluídas nesse bojo as despesas necessárias à
conservação do patrimônio público priorizadas pelo art. 45 da Lei Complementar 101/2000. Os
fatores críticos decorrentes desta medida legislativa foram examinados no TC 012.649/2021-0, cuja
instrução de mérito subsidiou a análise da seção 4.2.2 deste Relatório.
O estabelecimento de metas de resultado das políticas públicas não é estranho ao
modelo de planejamento e orçamento brasileiro. Quanto ao orçamento anual, existe a previsão de
metas físicas para as alocações de recursos públicos. Segundo o Manual Técnico do Orçamento, a
meta física é a “quantidade de produto a ser ofertado por ação, de forma regionalizada, e
instituída para o exercício. (...) Exemplo: No caso da vacinação de crianças, a meta será
regionalizada pela quantidade de crianças a serem vacinadas ou de vacinas empregadas em cada
Estado” (grifo nosso).
No escopo do plano plurianual, são definidas metas para o planejamento de médio
prazo. Nos termos do Manual Técnico do PPA 2023, as metas físicas do orçamento anual são
descritas como “metas de produto”, enquanto as metas do PPA, de prazo mais dilatado, são “metas
de resultado”. As metas do PPA são apuradas por meio da mensuração do indicador de cada
programa, sendo recomendada a adoção de indicador de resultado. Conclui-se, portanto, que a meta
do PPA é um patamar esperado do indicador de resultado, a fim de refletir a transformação da
realidade almejada.
Nesse contexto, é patente que a LDO tem por função orientar a elaboração do
orçamento anual, e que as metas do orçamento anual são metas físicas, definidas como metas de
produto, que não se confundem com as metas de resultado constantes do PPA, de natureza
plurianual. O texto aprovado pelo Congresso Nacional dispunha de um Anexo VIII, de Metas e
Prioridades, com metas de bens e serviços a serem entregues no exercício de 2021. No entanto,
referido anexo foi vetado integralmente pelo Presidente da República.
Dessa forma, como não houve previsão de metas de produto na LDO, que teriam o
papel de balizar a elaboração do orçamento pela indução de bens e serviços a serem efetivamente
entregues por meio das alocações, a LDO deixou de cumprir plenamente a função que lhe é
conferida pela Constituição Federal.
No tocante às prioridades fixadas pela LDO 2021, a Prestação de Contas do Presidente
da República de 2021 contém informações sobre a execução naquele exercício.
A agenda para a primeira infância foi objeto do Decreto 10.770, de 17/8/2021, que
define a Agenda Transversal e Multissetorial da Primeira Infância. Segundo a Prestação de Contas,
o Ministério da Economia tem o papel de regulamentar a apresentação dos dados orçamentários
dessa agenda, cuja execução compete a seis ministérios. Não há indicação de que o processo de
apresentação desses dados tenha sido concluído, e o texto refere apenas que o Ministério da
Economia iniciou o processo junto aos demais ministérios.
IMPROPRIEDADE
Insuficiência de informações relativas às metas operacionais da administração pública federal nas
diretrizes orçamentárias do exercício de 2021.
RECOMENDAÇÃO
Ao Poder Executivo federal, que aperfeiçoe o processo de definição das metas operacionais da
administração pública federal na lei de diretrizes orçamentárias, em conformidade com o disposto
no § 2º do art. 165 da Constituição Federal.
Esta seção tem por finalidade analisar, sob o ponto de vista macro, a alocação da
programação orçamentária decorrente de emendas de relator-geral ao Projeto de Lei Orçamentária
(PLOA) do exercício de 2021, que passou a ser identificado com codificação própria de
identificador de resultado primário (RP 9) desde 2020.
Dada sua importância para a consolidação do Estado Democrático inaugurado em 1988,
o orçamento público conta com regras norteadoras de densa relevância definidas no Capítulo das
Finanças Públicas na própria Carta Política (arts. 163 a 169), que prevê a definição de normas gerais
em leis complementares (art. 163 e § 9º do art. 165). Atualmente, normas gerais do processo de
elaboração do orçamento público podem ser encontradas no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT), na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e na Lei 4.320/1964, esta
recepcionada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com status de lei complementar, conforme
assentado na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.081.
O orçamento de 2021 apresentou atipicidades que decorreram da apresentação de
emendas de relator-geral com o objetivo a incluir novas programações no PLOA. Tais inclusões,
entretanto, não demonstram relação com a correção de erros das projeções ou omissões, conforme
previsto constitucionalmente.
Pelo segundo ano consecutivo a LOA contou com despesas marcadas com o indicador
específico para emendas do relator-geral do orçamento (RP 9). A forma adotada para criar espaço
orçamentário visando à alocação dessas despesas na LOA é objeto de análise específica na seção
4.2.2, na qual são descritas algumas irregularidades e impropriedades que ocorreram durante a
tramitação e sanção do orçamento de 2021.
Na LOA 2020, foram inicialmente alocados R$ 30,1 bilhões em despesas decorrentes de
emendas do relator-geral, sendo a dotação autorizada de R$ 20,14 bilhões e tendo o montante
empenhado atingido R$ 19,74 bilhões.
Com relação ao exercício de 2021, foram alocados, inicialmente, R$ 18,5 bilhões a
título de RP 9, dos quais foram empenhados R$ 16,7 bilhões e pagos R$ 6,3 bilhões referentes a
despesas do mesmo exercício (37,72%). Em paralelo, também houve a execução financeira de R$
4,04 bilhões referente ao pagamento dos restos a pagar inscritos em 2020 no valor de R$ 13,14
bilhões.
4.2.1.1. Inclusão de novas programações durante o processo legislativo orçamentário
O poder de emendar o PLOA é consagrado na Carta Política e tratado com especial
deferência pela jurisprudência do STF, com destaque para as balizas presentes no julgamento da
ADI 1.050 MC. Segundo essa decisão, o poder de emendar o PLOA, que se reveste de natureza
eminentemente constitucional, qualifica-se como prerrogativa de ordem político-jurídica inerente ao
exercício da atividade legislativa, competência constitucional exercida pelo parlamentar desde que
respeitadas as limitações estabelecidas na própria Constituição da República. Eis a decisão:
O poder de emendar projetos de lei, que se reveste de natureza eminentemente constitucional,
qualifica-se como prerrogativa de ordem político-jurídica inerente ao exercício da atividade
legislativa. Essa prerrogativa institucional, precisamente por não traduzir corolário do poder de
iniciar o processo de formação das leis (RTJ 36/382, 385 – RTJ 37/113 – RDA 102/261), pode
ser legitimamente exercida pelos membros do Legislativo, ainda que se cuide de proposições
constitucionalmente sujeitas à cláusula de reserva de iniciativa (ADI 865/MA, rel. min. Celso de
Mello), desde que, respeitadas as limitações estabelecidas na Constituição da República, as
emendas parlamentares (a) não importem em aumento da despesa prevista no projeto de lei, (b)
guardem afinidade lógica (relação de pertinência) com a proposição original e (c) tratando-se
de projetos orçamentários (CF, art. 165, I, II e III), observem as restrições fixadas no art.
166, §§ 3º e 4º, da Carta Política (...). [ADI 1.050 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 21-9-1994,
P, DJ de 23-4-2004.] (grifamos para além do original)
CN”, que proíbe “a apresentação de emendas que tenham por objetivo a inclusão de programação
nova, bem como o acréscimo de valores a programações constantes dos projetos” (art. 144,
parágrafo único), ressalvadas as correções de erros e omissões de ordem técnica ou legal, que
devem ser realizadas e processadas por meio dos pareceres preliminares. Asseverou que, nessas
bases, a previsão do regulamento vigente apresentava-se em plena conformidade com a restrição
constitucional (art. 166, § 3º) analisada na ADI 1050.
Na prática, a despeito das restrições constitucionais e regimentares, as emendas RP 9
alteram as programações do PLOA. A inovação legislativa, como costuma acontecer, trouxe
algumas perplexidades e dificuldades em sua operacionalização. Não por acaso, três ações de
arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPFs 850, 851 e 854) foram ajuizadas no
STF, por meio das quais os autores buscam a declaração de inconstitucionalidade do indicador de
resultado primário RP 9 (despesa discricionária decorrente de emenda de relator-geral, exceto
recomposição e correção de erros e omissões).
Nessas ações, sustentam os autores que as emendas de relator-geral, “sem previsão
constitucional expressa e originariamente destinadas apenas a correções e ajustes técnicos no
orçamento”, na forma de Resolução 1/2006-CN, “não têm tido suas informações individualizadas e
publicizadas, não sendo possível identificar os parlamentares que fizeram a indicação dos recursos
nem a destinação específica das verbas”.
Todavia, em 2/12/2021, foi editada a Resolução 2/2021-CN, em sentido oposto ao
disciplinamento previsto na Resolução 1/2006-CN, ocasião em que passou a “autorizar o relator-
geral a apresentar emendas que tenham por objetivo a inclusão de programação ou o acréscimo de
valores em programações constantes do projeto” (com a inclusão do inciso IV do art. 53 da
Resolução 1/2006-CN), a despeito das restrições fixadas no art. 166, §§ 3º e 4º, da Carta Política
que balizaram a decisão do STF sobre o tema em sede da ADI 1050, anteriormente reproduzida.
Em síntese, das restrições constitucionais mencionadas, sobressai-se que as emendas ao
PLOA ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso: i) sejam compatíveis
com o plano plurianual e com a LDO; ii) indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os
provenientes de anulação de despesa, excluídos os casos exemplificados no texto constitucional, os
quais não têm caráter exaustivo a ponto de permitir, por óbvio, a anulação de despesas obrigatórias
– conforme é demonstrado no TC 012.649/2021-0 –, criando espaço orçamentário artificioso
durante a tramitação do PLOA para alocar em emendas parlamentares; iii) relacionadas, numa
banda, com a correção de erros ou omissões ou, noutra banda, com os dispositivos do texto do
projeto de lei. Ainda não há, todavia, manifestação do STF sobre a matéria no âmbito da ADPF
854.
Em 6/12/2021, a Ministra Rosa Weber afastou, temporariamente, os efeitos de parte da
liminar concedida em sede da ADPF 854 para suspender a execução orçamentária e financeira das
emendas RP 9 da LOA/2021, “sem prejuízo da continuidade da adoção de todas as
providências necessárias à ampla publicização dos documentos embasadores da distribuição
de recursos das emendas do Relator-Geral (RP-9) no período correspondente aos exercícios de
2020 e de 2021”.
Tais providências, contudo, não foram adotadas, tanto que a relatora negou, em
18/3/2022, o pedido de prorrogação, por 90 dias, do prazo fixado para o Congresso Nacional dar
ampla divulgação, em plataforma centralizada de acesso público, em atendimento à decisão do
Plenário do STF de 10/11/2021, proferida nos seguintes termos que importam à presente análise:
(a) quanto ao orçamento dos exercícios de 2020 e de 2021, que seja dada ampla publicidade, em
plataforma centralizada de acesso público, aos documentos encaminhados aos órgãos e
entidades federais que embasaram as demandas e/ou resultaram na distribuição de recursos das
emendas de relator-geral (RP-9), no prazo de 30 (trinta) dias corridos;
(b) quanto à execução das despesas indicadas pelo classificador RP 9 (despesas decorrentes de
emendas do relator do projeto de lei orçamentária anual), que sejam adotadas as providências
necessárias para que todas as demandas de parlamentares voltadas à distribuição de emendas
de relator-geral, independentemente da modalidade de aplicação, sejam registradas em
plataforma eletrônica centralizada mantida pelo órgão central do Sistema de Planejamento e
Orçamento Federal previsto nos arts. 3º e 4º da Lei 10.180/2001, à qual assegurado amplo
acesso público, com medidas de fomento à transparência ativa, assim como sejam garantidas a
comparabilidade e a rastreabilidade dos dados referentes às solicitações/pedidos de distribuição
de emendas e sua respectiva execução, em conformidade com os princípios da publicidade e
transparência previstos nos arts. 37, caput, e 163-A da Constituição Federal, com o art. 3º da Lei
12.527/2011 e art. 48 da Lei Complementar 101/2000, também no prazo de trinta dias corridos;
e (grifamos)
Pela cronologia dos fatos, resta claro que as informações referentes aos pedidos de
parlamentares, alocados por meio de RP 9 na LOA 2021, não foram divulgadas a contento para
atender a legislação constitucional e legal vigente e a decisão do STF.
Outro fato relevante ocorreu em 8/4/2022, quando a relatora da ADPF 854 acatou, em
despacho, o pedido para reconhecer a existência de vínculo de conexão entre o conteúdo do Ato
Conjunto 1/2021 e da Resolução 2/2021-CN e o objeto da controvérsia constitucional tratada na
ação em questão.
Desse modo, a constitucionalidade dos referidos atos editados pelo Congresso Nacional
também será apreciada no âmbito da ADPF em curso, o que contempla o dispositivo que autoriza o
relator-geral a “apresentar emendas que tenham por objetivo a inclusão de programação ou o
acréscimo de valores em programações constantes do projeto”, questão nuclear referente à
sistemática das emendas RP 9 e da compatibilidade da LOA com o ordenamento constitucional
vigente, assim como as normas gerais de finanças públicas.
Questionamento em sentido semelhante foi apresentado na Representação do Ministério
Público de Contas (TC 044.337/2021-3, rel. Min. Aroldo Cedraz). Embora o feito não tenha sido
conhecido, cópia da deliberação objeto do Excerto do Acórdão 19/2022-TCU-Plenário,
acompanhada da instrução da Semag (peças 7-9), foi encaminhada à Ministra Rosa Weber, relatora
da ADPF 854, em 25/1/2022. Da manifestação da Semag de peça 8, merece reprodução a seguinte
passagem:
A inovação realizada no curso do cumprimento da liminar proferida na ADPF 854 afeta,
sobremaneira, a sistemática de alteração orçamentária, o que impõe revisitar a jurisprudência
paradigmática sobre o poder de emendar o projeto de lei orçamentária, conforme assentado na
ADI 1.050.
A instrução encaminhada ao STF ressalta as conclusões do TC 012.649/2021-0, que
analisou as incompatibilidades da LOA 2021 com o ordenamento constitucional e legal, em especial
as normas gerais de finanças públicas. Explica que, para além das deficiências nas estimativas e
cancelamento de programações referentes a despesas obrigatórias que decorrem de obrigações
incondicionais impostas à União pela via constitucional e legal (arts. 17 e 24 da LRF), o exame
apontou a alteração da LDO realizada no curso da execução do orçamento de 2021 para reduzir o
rol de despesas essenciais que devem ser priorizadas na composição dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social, suprimindo despesas que, embora caracterizadas como discricionárias, possuem
caráter continuado. As despesas relacionadas à conservação do patrimônio devem ser priorizadas na
sua totalidade, seja para se conformar com os princípios norteadores da gestão fiscal responsável,
seja para atender o art. 45 da LRF.
Destaca que a via de escape às restrições constitucionais eleita, em 2020 e 2021, para
acomodar o volume expressivo de recursos destinados a emendas RP 9, em confronto com os
princípios da universalidade, da transparência e do realismo orçamentário, compromete a
governança da gestão orçamentária necessária para assegurar o cumprimento das normas gerais de
finanças públicas fixadas pela LRF e a sustentabilidade da dívida pública, que passou a ser exigida
constitucionalmente com a promulgação da Emenda Constitucional 109/2021.
Chama a atenção para o fato de que, embora as despesas classificadas no grupo de
natureza de despesa Outras Despesas Correntes (GND 3) congreguem despesas discricionárias (RP
2), nem todas as despesas de custeio devem – ou podem – ser elegíveis para contingenciamento ou
cancelamento de dotação visando a ajustes orçamentários, dado seu caráter continuado e essencial
para funcionamento dos órgãos e das entidades que integram os orçamentos fiscal e da seguridade
social, pois se assim fizer coloca em risco o funcionamento da máquina e a proteção do patrimônio
público, que deve ser priorizado pelo art. 45 da LRF.
A título de registro histórico, convém relembrar que as deficiências na gestão
orçamentária contribuíram para falhas no sistema de segurança e proteção patrimonial, o que
resultou no incêndio de grandes proporções que destruiu o Museu Nacional, a mais antiga
instituição científica do Brasil que, segundo a Unesco, “era um símbolo de conexões vívidas entre a
cultura e a pesquisa e fazia parte da memória brasileira”, patrimônio histórico-cultural que
completou 200 anos em 2018, ironicamente, ano de sua destruição.
As consequências negativas decorrentes do irrealismo orçamentário, em especial para as
despesas de caráter continuado voltadas para a conservação do patrimônio público, estão presentes,
por exemplo, no Levantamento, realizado pela SecexEducação, para verificar as condições de
segurança do patrimônio nos museus sob responsabilidade de órgãos ou entidades federais, bem
como identificar os principais riscos e oportunidades de melhoria na gestão patrimonial e
orçamentária dessas instituições culturais, cuja conclusão aponta fragilidades na gestão
orçamentária e a invisibilidade orçamentária dos museus brasileiros, dentre outras falhas que
guardam relação com a gestão orçamentária.
A fiscalização foi apreciada pelo Acórdão 1.243/2019-TCU-Plenário (rel. Min. André
Luís Carvalho), cujas conclusões e o conjunto de determinações exemplificam, com nitidez, o risco
de subdimensionar ou suprimir programações orçamentárias destinadas a certas despesas
discricionárias (RP 2), especialmente as relacionadas à proteção do patrimônio público. O trabalho
foi oportunamente aproveitado para ilustrar o risco da sistemática inaugurada pelas emendas RP 9 e
fundamentar as conclusões na instrução que examinou as inconsistências na LOA 2021 no âmbito
do TC 012.649/2021-0 (rel. Min. Aroldo Cedraz), peça 128.
Os documentos que acompanharam o Acórdão 19/2022-TCU-Plenário, encaminhado à
relatora da ADPF 854, também registram, como outro fator crítico decorrente do modelo de
emendas RP 9, a sua alocação no orçamento de ações e serviços públicos de saúde, notadamente
quanto à falta de transparência dos critérios objetivos exigidos constitucionalmente (art. 198, § 3º)
para a distribuição dos recursos federais alocados em saúde, como vem sendo apontada em várias
fiscalizações do TCU. Citam, a título de exemplo, a resposta à Solicitação do Ministério Público
Federal no âmbito do TC 038.140/2020-9 (rel. Min. Bruno Dantas), cuja análise robusta subsidiou o
Relatório que fundamentou o Parecer Prévio das contas presidenciais de 2020, apreciado pelo
Acórdão 1.515/2021-TCU-Plenário (rel. Min. Walton Alencar Rodrigues).
Apontam que o arranjo inaugurado com as emendas RP 9 não cria, apenas, problema de
transparência das escolhas orçamentárias, o qual por si só coloca a prática em desacordo com os
princípios e regras estatuídos nos arts. 37, caput, e 163-A da Lei Maior, o que levou o Tribunal a
fazer recomendações em prol da transparência e visibilidade das informações referentes às escolhas
alocativas por ocasião da apreciação do Parecer Prévio das contas presidenciais de 2020 (Acórdão
1.515/2021-TCU-Plenário, da relatoria do Ministro Walton Alencar Rodrigues). Configura, acima
de tudo, fator crítico para gestão orçamentária.
Asseveram que não se verifica, na Resolução 2/2021-CN, exigência de divulgação das
informações referentes às indicações e solicitações em sistema eletrônico centralizado da União que
garanta amplo acesso público aos dados (abertos), de forma a facilitar a rastreabilidade e a
7.670
Saúde 5.785
5.959
Urbanismo 27
1.013
Agricultura 103
523
Educação 130
358
Defesa Nacional 4
350
Previdência Social 315
847
Demais 28
Quanto aos valores efetivamente pagos, embora a função Saúde represente 45,87% do
total empenhado, concentra 90,10% dos valores pagos. Em oposição tem-se, a função Urbanismo,
com 35,64% do total empenhado, mas apenas 0,42% do montante pago.
Emendas RP 9 por Modalidade de Aplicação
A modalidade de aplicação evidencia a estratégia de aplicação dos recursos das
emendas de relator-geral. Em 2021, 79% das emendas RP 9 foram destinadas a transferências aos
municípios, pouco mais 8% repassadas aos estados e ao Distrito Federal e 11,5% aplicados
diretamente por órgãos e entidades federais.
Modalidade de Aplicação das Emendas RP 9 em 2021
R$ 1,00
Índice de
Execução
Despesa Empenhada Despesa Paga
Modalidade de Aplicação das Emendas RP 9 Financeira
em 2021
Valor (a) % Valor (b) % c = b/a
Aplicação Direta pela União (90 e 91) 1.927.486.871 11,53% 359.049.182 5,62% 18,63%
Transferências a Municípios (40, 41 e 42) 13.207.603.517 78,99% 5.440.449.352 85,11% 41,19%
Transferências a Estados e ao Distrito Federal (30, 31 e 32) 1.348.651.771 8,07% 572.132.025 8,95% 42,42%
Transferências a Consórcios (71) 14.468.841 0,09% 0
Outras Transferências (50, 70 e 80) 221.398.212 1,32% 20.595.045 0,32% 9,30%
Total 16.719.609.211 100% 6.392.225.604 100% 38,23%
Fonte: Siop.
Do montante empenhado em favor dos estados, Distrito Federal e municípios (R$ 14,55
bilhões), 51,87% se referem a repasses fundo a fundo nas modalidades 31 e 41 (R$ 7,55 bilhões),
com execução financeira de 76,53% (R$ 5,78 bilhões).
As transferências aos entes subnacionais nas demais modalidades de aplicação (30, 32,
40, 42), cujos empenhos somaram R$ 7 bilhões, apresentaram baixa execução financeira (3,34%),
com pagamentos que somaram R$ 234 milhões apenas. Essa baixa execução de emendas RP 9
ocorre, em especial, nos investimentos, cuja execução não raras vezes ocorre em exercícios futuros.
O gráfico a seguir detalha a execução orçamentária das emendas de relator-geral por
modalidade de aplicação.
6.954
Transferências a Municípios - Fundo a Fundo 5.305
5.951
Transferências a Municípios 135
1.906
Aplicações Diretas 338
714
Transferências a Estados e ao Distrito Federal 99
302
Execução Orçamentária Delegada a Municípios 0
295
Demais 41
Empenho Pagamento
Fonte: Siop.
31,529%
1D73 ,185%
31,176%
7K66 ,753%
10,751%
20ZV 9,685%
5,291%
8535 35,964%
4,990%
20RP 28,405%
16,264%
Demais 12,281%
0% 5% 10%
% Empenho 15% 20% %25% 30%
Pagamento/Empenho 35% 40%
Fonte: Siop.
Como se observa, apenas três ações orçamentárias concentram mais de 73% dos
recursos para investimentos empenhados por meio de emendas do Relator-Geral da LOA 2021.
Segundo o Manual para Apresentação das Propostas da Ação Orçamentária, a ação
“7K66 - Apoio a Projetos de Desenvolvimento Sustentável Local Integrado” visa promover a
infraestrutura da produtividade local através de aquisição de equipamentos e realização de obras.
Para tanto, os recursos são transferidos a estados, ao Distrito Federal ou a municípios. A ação conta
com quatro modalidades: 1) Pavimentação de estradas vicinais; 2) Pavimentação de rodovias
estaduais; 3) Implantação de infraestrutura produtiva; e 4) Aquisição de equipamentos para apoio à
produção. Nesta ação foram empenhados R$ 2,89 bilhões, representando 31,18% do total dos
investimentos empenhados nas emendas RP 9.
A ação “1D73 - Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano Voltado à
Implantação e Qualificação Viária”, que concentra 31,53% dos recursos empenhados, apoia a
execução de pavimentação, adequação de vias e execução de pontes e travessias em desnível, em
estados, Distrito Federal e municípios. As ações 7K66 e 1D63, possuem como órgão repassador dos
recursos o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Já a ação “20ZV - Fomento ao Setor Agropecuário”, com 10,75% dos recursos
empenhados para investimentos oriundos de emendas RP 9, possui como órgão repassador o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), podendo financiar os seguintes
empreendimentos: 1) obras de engenharia civil: construções e edificações de interesse coletivo
destinadas às atividades agropecuárias, ampliações e reformas de edificações existentes, obras de
estradas vicinais e obras de irrigação agrícola, destinadas a beneficiar a população rural; 2)
agroindustrialização: atividade de transformação e beneficiamento de produtos agropecuários
realizada em instalação existente ou a ser construída; 3) Mecanização agrícola: atividade executada
por uma ou um conjunto de máquinas, equipamentos e implementos utilizados para atenderem
serviços de recuperação de solos, preparos de áreas para plantio, terraços, tratos culturais, colheita e
beneficiamento de produtos agropecuários, construção, recuperação e conservação de estradas
vicinais, dragagem, obras de drenagem e irrigação; e 4) Patrulha mecanizada: composição de uma
ou mais máquinas, agrícolas ou de recuperação de estradas, as quais podem ser acompanhadas de
um ou mais implementos/equipamentos compatíveis com seu uso.
As duas outras ações destacadas nos gráficos são: “8535 - Estruturação de Unidades de
Atenção Especializada em Saúde”, que representa 5,29% dos recursos empenhados e “20RP -
Apoio à Infraestrutura para a Educação Básica”, que concentrou 4,99% do montante empenhado.
Quanto à alocação dos recursos para investimentos por unidade orçamentária (UO) da
União, os gráficos trazem o detalhamento:
Emendas RP 9 – Investimentos (GND 4) – por Unidade Orçamentária
R$ milhões Billions
4.627,7
MDR - 25,9
1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000
10,2% 0,6%
1.379,8
Codevasf 1,1
5,0% 28,4%
986,9
MAPA 95,6
8,6% 44,6%
789,8
FNS 351,9
10,8% 9,7%
458,0
FNDE 130,1
15,0% 0,1%
937,1
Demais 6,0
50,4% 0,6%
Fonte: Siop.
Siglas: MDR, Ministério do Desenvolvimento Regional, administração direta; Codevasf, Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba; MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Administração Direta; FNS,
Fundo Nacional de Saúde e FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Como dito, a execução financeira dos investimentos alocados por meio de emendas RP
9 em 2021 foi muito baixa, sendo que do total empenhado em 2021 (R$ 9,18 bilhões) apenas 6,65%
(R$ 610,59 milhões) foram pagos no exercício. No MDR, UO na qual foi alocada a maior parte dos
recursos (R$ 4,63 bilhões empenhados), houve o pagamento de apenas 0,56% (R$ 25,89 milhões).
Oportuno mencionar que, para empenho dos recursos relativos a quaisquer emendas
parlamentares (RP 6, 7, 8 ou 9) não se exige sequer a existência prévia de projeto de engenharia do
empreendimento e licença ambiental, podendo tais itens, essenciais à efetiva implementação dos
investimentos, ser apresentados a posteriori, conforme disposto no art. 67, § 3º, da LDO 2021. Com
efeito, tem-se grande volume de recursos inscritos em restos a pagar, uma vez que podem ser
empenhados valores para empreendimentos que não se encontram tecnicamente preparados para sua
implementação.
Dispositivo com conteúdo semelhante também foi previsto na LDO 2020 (art. 62-A, §
3º, da Lei 13.898/2019, com redação dada pela Lei 13.983/2020) e, naquele exercício, a maior
parcela dos valores das emendas RP 9 destinadas a investimentos não foi efetivamente utilizada, ou
seja, não houve desembolso dos recursos.
Em 2020, da dotação atualizada em emendas de relator-geral destinadas a investimentos
(R$ 12,72 bilhões), foram empenhados 97,96% (R$ 12,46 bilhões), sendo pagos apenas 15,96%
(R$ 2,03 bilhões) e inscritos em restos a pagar R$ 10,73 bilhões (mais de 84%), dos quais R$ 2,33
bilhões (21,71%) foram pagos em 2021.
Despesas correntes alocadas por meio de emendas RP 9
No que diz respeito às dotações oriundas de emendas do relator-geral para despesas
correntes na LOA 2021, o detalhamento das principais ações orçamentárias contempladas é feito na
tabela e gráficos seguintes.
Ações Orçamentárias de Despesas Correntes com RP 9 na LOA 2021
R$ 1,00
Dotação Despesas Empenhadas Despesas % Execução
Ação Orçamentária – Despesas Correntes Atualizada Valor Pagas Financeira
%
(a) (b) (c) (d= c/b)
meio de emendas do relator-geral tiveram ampla execução no exercício, tendo sido pagos 76,68%
do montante empenhado.
As três outras ações destacadas nos gráficos são: “2000 – Administração da Unidade”
que representa 2,65% dos recursos empenhados; “219G - Estruturação da Rede de Serviços do
Sistema Único de Assistência Social (Suas), com 2,26% do total empenhado e “2591 -
Reconhecimento de Direitos de Benefícios Previdenciários”, que concentrou 1,53% do montante
empenhado.
Emendas RP 9 – Despesas Correntes (GND 3) – por Ação Orçamentária
R$ milhões
- 1.000,0 2.000,0 3.000,0 4.000,0 5.000,0 6.000,0
4.517,1
2E89 4,5% 18,1%
3.644,2
2.199,9
2E90 1,5% 80,3%
1.784,0
200,0
2000 2,3% 0,0%
200,0
170,3
219G 2,7% 100,0%
-
115,0
2591 29,2% 81,1%
92,3
338,1
Demais 59,9% 80,7%
61,1
Fonte: Siop e Tabela - Ações Orçamentárias de Despesas Correntes com RP 9 na LOA 2021.
6.790,5
FNS 1,1% 24,1%
5.428,2
349,8
INSS 0,9% 0,0%
314,7
170,3
FNAS 1,1% 22,9%
-
83,2
Cidadania 2,3% 0,0%
19,1
64,9
FNDE 4,6% 90,0%
-
81,7
Demais 90,1% 79,9%
19,7
Fonte: Siop.
292
2E90 291
257
2E89 257
191
0509 125
72
2843 65
74
20G8 63
1.410
Demais 907
Fonte: Siop e descrição das ações na Tabela - Ações Orçamentárias de Despesas Correntes com RP 9 na LOA 2021.
3.081
7k66 689
1.870
1D73 193
885
20ZV 145
110
2726 105
265
8535 103
4.215
Demais 1.100
Fonte: Siop e descrição das ações na Tabela - Ações Orçamentárias de Despesas Correntes com RP 9 na LOA 2021.
Empenho Pagamento
47
23 21
50 43
41
25
18 18
40 20
29 28 14
30 23 15
18
20 10 05
10 09 08 03
02
10 5 00 01
- -
eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral
Fonte: Siop.
¹ Valores atualizados pelo IPCA até dez/2021.
Poder Executivo: RP 1, RP 2 e RP 3. Poder Legislativo: RP 6, RP 7, RP 8 e RP 9.
pelo Poder Legislativo sem considerar as premissas que norteiam o planejamento governamental
estabelecidas pela Lei 10.180/2001.
Nesse quadro, impende observar que a diminuição da fatia orçamentária do Poder
Executivo para alocação dos investimentos pode trazer consequências deletérias à consecução de
políticas públicas estruturantes, que, via de regra, transcendem questões locais, visto que devem ser
pensadas para a solução de problemas que afetem o desenvolvimento econômico e social do país
como um todo.
O modelo inaugurado em 2020 não observa a noção de coordenação programática entre
as políticas públicas, que devem ser guarnecidas pela definição de metas e prioridades da
administração pública federal. Deve-se observar a função do orçamento voltada para reduzir as
desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional, conforme exigência art. 165 §§ 2º e 7º
da CF/1988.
Nesse mesmo sentido, manifestação no Estudo Técnico 22/2021 da Consultoria de
Orçamentos e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, que analisou o atual modelo de
emendas parlamentares e da qual se destaca o seguinte trecho:
A sistemática vigente não estimula a coordenação programática entre as políticas públicas
desenvolvidas pelo Poder Executivo federal e as ações locais financiadas por intermédio das
emendas. As lógicas por detrás dessas duas formas de se alocar os recursos públicos são bem
distintas: apesar de conter falhas, o Executivo, em tese, busca seguir um planejamento mais
abrangente de suas ações, com lastro em políticas setoriais, ao passo que as emendas – ao menos
no modelo atual – incentivam a atuação fragmentada baseada no paroquialismo.
Trabalhos recorrentes realizados pelo Tribunal identificam dificuldade por parte dos
órgãos e entidades de realizarem avaliação das políticas públicas, o que passou a ser exigência
constitucional com a EC 109/2021.
Falhas no processo orçamentário têm sido identificadas em fiscalizações recorrentes, o
que compromete a funcionalidade do orçamento. Essas falhas, cujos números evidenciam que têm
origem na sistemática de emendas parlamentares, perpassam todas as suas fases – elaboração,
execução e monitoramento e avaliação dos resultados –, geram ineficiências e prejudicam as
entregas de bens e serviços públicos à sociedade. Além do desperdício de recursos públicos, esses
problemas colocam em risco a capacidade do Estado de cumprir os objetivos e assegurar os direitos
fundamentais dos cidadãos.
Cite-se o diagnóstico traçado no Acórdão 3.090/2020-TCU-Plenário (rel. Min. Vital do
Rêgo), por meio do qual foi realizado o monitoramento do Acórdão 2.515/2019-TCU-Plenário
referente ao acompanhamento da elaboração do plano plurianual 2020-2023. Em síntese, do
conjunto de trabalhos realizados pelo Tribunal, foram identificados: i) baixa capacidade de
promoção do alinhamento do orçamento com o planejamento estratégico de médio e longo prazo,
bem assim com os planejamentos setoriais; ii) avaliação de políticas públicas não retroalimenta o
processo orçamentário; iii) não utilização das ferramentas tecnológicas disponíveis na União para
assegurar a transparência, assim como viabilizar o monitoramento, a avaliação e a prestação de
contas digitais de recursos repassados aos entes subnacionais sob a forma de transferência
obrigatória de natureza federal do recurso.
A fiscalização conclui que o sistema de avaliação de políticas públicas precisa de maior
robustez para subsidiar a elaboração e execução dos planos de governo e o processo orçamentário,
com vistas a ampliar a eficiência das escolhas alocativas nesse processo, tarefa que se torna ainda
mais desafiadora com a sistemática do RP 9.
A partir da sistemática inaugurada pela Resolução 2/2021-CN, que permite a inclusão
de novas programações no PLOA, as escolhas alocativas dos recursos da União passam a ser
definidas sem considerar premissas fundamentais que justificam a instituição do Sistema de
Planejamento e de Orçamento Federal pelo art. 2º da Lei 10.180/2001, que tem por finalidade,
dentre outras, formular: i) o planejamento estratégico nacional; ii) os planos nacionais, setoriais e
regionais de desenvolvimento econômico e social; iii) o plano plurianual, as diretrizes
orçamentárias e os orçamentos anuais; além de gerenciar o processo de planejamento e orçamento
federal.
Emendas RP 9 por Unidade da Federação e Região
No exercício de 2021, as dotações empenhadas de emendas RP 9 destinadas aos entes
subnacionais somaram R$ 14,56 bilhões, sendo 90,73% (R$ 13,21 bilhões) em transferências ou
delegação de execução aos municípios (modalidades de aplicação 40, 41 e 42) e o restante (R$ 1,35
bilhão ou 9,27%) em transferências ou delegação de execução aos estados (modalidades de
aplicação 30, 31 e 32). A tabela a seguir detalha as transferências por unidade da federação.
Variação dos empenhos de emendas de relator-geral para repasses aos estados e respectivos
municípios
Execução Orçamentária de 2021 Execução Orçamentária de 2020
Variação
Estado e seus
População Valor Empenhado Valor Empenhado Empenhos
Municípios
2021-2020
R$ (milhões) % Per Capita R$ (milhões) % Per Capita
Minas Gerais 21.411.923 1.605,1 11% 75,0 600,7 5% 28,1 167%
São Paulo 46.649.132 1.202,3 8% 25,8 842,7 7% 18,1 43%
Bahia 14.985.284 1.132,1 8% 75,5 576,3 5% 38,5 96%
Maranhão 7.153.262 857,9 6% 119,9 570,4 5% 79,7 50%
Rio de Janeiro 17.463.349 731,4 5% 41,9 576,2 5% 33,0 27%
Ceará 9.240.580 693,6 5% 75,1 754,5 7% 81,6 -8%
Alagoas 3.365.351 692,2 5% 205,7 210,3 2% 62,5 229%
Pernambuco 9.674.793 682,1 5% 70,5 416,8 4% 43,1 64%
Paraíba 4.059.905 637,5 4% 157,0 524,3 5% 129,2 22%
Acre 906.876 566,5 4% 624,6 228,8 2% 252,3 148%
Paraná 11.597.484 529,2 4% 45,6 477,1 4% 41,1 11%
Piauí 3.289.290 527,7 4% 160,4 587,2 5% 178,5 -10%
Amazonas 4.269.995 526,7 4% 123,3 661,3 6% 154,9 -20%
Pará 8.777.124 478,7 3% 54,5 204,6 2% 23,3 134%
Rio Grande do Sul 11.466.630 426,6 3% 37,2 343,8 3% 30,0 24%
Goiás 7.206.589 406,7 3% 56,4 433,8 4% 60,2 -6%
Amapá 877.613 397,0 3% 452,3 457,9 4% 521,8 -13%
Rio Grande do Norte 3.560.903 371,3 3% 104,3 361,2 3% 101,4 3%
Mato Grosso do Sul 2.839.188 319,4 2% 112,5 322,5 3% 113,6 -1%
Santa Catarina 7.338.473 312,7 2% 42,6 226,1 2% 30,8 38%
Mato Grosso 3.567.234 293,2 2% 82,2 231,6 2% 64,9 27%
Roraima 652.713 272,5 2% 417,5 272,8 2% 417,9 0%
Tocantins 1.607.363 258,5 2% 160,8 322,4 3% 200,6 -20%
Rondônia 1.815.278 255,5 2% 140,8 259,5 2% 142,9 -2%
Sergipe 2.338.474 180,8 1% 77,3 171,6 1% 73,4 5%
Espírito Santo 4.108.508 170,7 1% 41,5 188,2 2% 45,8 -9%
Distrito Federal 3.094.325 28,4 0% 9,2 776,1 7% 250,8 -96%
Total 213.317.639 14.556,3 100% 68,2 11.598,8 100% 54,4 25%
Fonte: Elaboração própria a partir de informações do Tesouro Gerencial e IBGE.
Os Estados de Alagoas (229%), Minas Gerais (167%), Acre (148%) e Pará (134%)
foram os que apresentaram maiores altas na distribuição das emendas de relator-geral quando
comparados com a distribuição dos recursos alocados por essa via em 2020. Distrito Federal (-
96%), Amazonas e Tocantins (-20%), Amapá (-13%) e Piauí (-10%) se sobressaíram com as
maiores perdas no referido período.
Variação
Execução Orçamentária de 2020 Execução Orçamentária de 2021
UF Cidade População 2021-2020
Empenho Per capita Empenho Per capita %
RJ Duque de Caxias 929.449 46.648.301 50,19 53.299.999 57,35 14%
PE Petrolina 359.372 86.501.399 240,70 79.927.674 222,41 -8%
AL Maceió 1.031.597 61.446.939 59,56 53.166.335 51,54 -13%
AM Manaus 2.255.903 87.650.431 38,85 53.796.387 23,85 -39%
AC Rio Branco 419.452 162.205.917 386,71 97.292.176 231,95 -40%
MG Belo Horizonte 2.530.701 126.615.094 50,03 50.565.050 19,98 -60%
AP Macapá 522.357 215.838.926 413,20 79.563.279 152,32 -63%
BA Salvador 2.900.319 172.343.684 59,42 64.034.249 22,08 -63%
PB João Pessoa 825.796 189.287.125 229,22 50.145.191 60,72 -74%
Total 13.915.056 1.235.785.914 88,81 994.713.092 71,48 -20%
Fonte: Tesouro Gerencial e IBGE – Estimativa População (julho/2021).
O montante global dos repasses acima de R$ 50 milhões, que representa 7,5% das
emendas de relator-geral de 2021, foi destinado a uma área territorial que concentra quase 14
milhões de habitantes (6,52% da população nacional), na qual sobressarem as transferências
realizadas aos Municípios de Arapiraca (AL), São Félix do Xingu (PA), Campina Grande (PB) e
São Gonçalo (RJ), no total de R$ 343,6 milhões, distribuídos nas seguintes ações orçamentárias.
Distribuição de emendas de relator-geral por ação orçamentária em 2021
R$ 1,00
Ação Orçamentária em 2021 Empenho %
Arapiraca - AL
1D73 - Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano Voltado à Implantação e
97.099.650 93,75%
Qualificação Viária
2E89 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Atenção Primária à Saúde para
2.695.000 2,60%
Cumprimento de Metas
2E90 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Assistência Hospitalar e Ambulatorial
2.516.400 2,43%
para Cumprimento de Metas
219G – Estruturação da Rede de Serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) 600.000 0,58%
8581 – Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Primaria à Saúde 399.998 0,39%
20ZV - Fomento ao Setor Agropecuário 257.850 0,25%
20RP - Apoio à Infraestrutura para a Educação Básica 5.000 0,005%
Subtotal 103.573.898 100,00%
São Gonçalo - RJ
2E89 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Atenção Primária 73.160.000 56,29%
2E90 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Assistência 37.616.552 28,94%
1D73 - Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano Voltado 14.364.463 11,05%
10T2 - Apoio à Projetos e Obras de Reabilitação, de Acessibilidade 2.870.210 2,21%
5450 - Implantação e Modernização de Infraestrutura para Esporte Educacional, Recreativo e de
955.000 0,73%
Lazer
20RP - Apoio à Infraestrutura para a Educação Básica 500.000 0,38%
8535 - Estruturação de Unidades de Atenção Especializada em Saúde 299.939 0,23%
219G – Estruturação da Rede de Serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) 200.000 0,15%
Subtotal 129.966.164 100,00%
Campina Grande - PB
2E90 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Assistência Hospitalar e Ambulatorial
40.700.000 72,53%
para Cumprimento de Metas
2E89 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Atenção Primária à Saúde para
9.000.000 16,04%
Cumprimento de Metas
8581 - Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Primaria à Saúde 2.599.865 4,63%
20RP - Apoio à Infraestrutura para à Educação Básica 1.959.564 3,49%
5450 - Implantação e Modernização de Infraestrutura para Esporte Educacional, Recreativo e de
1.156.800 2,06%
Lazer
219G – Estruturação da Rede de Serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) 700.000 1,25%
Subtotal 56.116.229 100,00%
São Félix do Xingu - PA
7K66 - Apoio a Projetos de Desenvolvimento Sustentável Local Integrado 50.250.000 93,13%
2E89 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Atenção Primária 1.215.333 2,25%
2E90 - Incremento Temporário ao Custeio dos Serviços de Assistência 1.000.000 1,85%
8581 - Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Primaria à Saúde 499.632 0,93%
120 16%
R$ Milhões
14%
100
12%
80
10%
60 8%
6%
40
4%
20
2%
0 0%
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oi
ra
Br
o
o
Ri
Be
Valor %
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela - Capitais beneficiadas com emendas RP-9 em 2021.
Impende ressaltar ainda que a pulverização da maior parte das emendas RP 9 em mais
de 5,2 mil municípios traz o desafio de realizar o monitoramento e a avaliação das políticas
públicas, nos termos previstos nos arts. 37, § 16, e 165, § 16, da CF/1988. A rastreabilidade e a
comparabilidade das escolhas alocativas no Congresso Nacional e da efetiva aplicação desses
recursos também se revelam desafiadoras no atual estágio da sistemática.
A recomendação proferida no Parecer Prévio das contas de 2020 (item 3.11), para que
os órgãos do Poder Executivo adotassem as medidas necessárias no sentido de que todas as
atingiu R$ 29,03 bilhões no PLOA 2021. Assim foi aprovada a lei orçamentária, tendo os
autógrafos sido encaminhados à sanção presidencial em 31/3/2021.
Em 22/4/2021 a LOA 2021 foi sancionada com vetos, Lei 14.144, sendo as razões dos
vetos expostas como a necessidade de se recompor despesas obrigatórias, que se encontravam em
descompasso com a real estimativa, e, ao mesmo tempo, cumprir com a regra instituída pelo Novo
Regime Fiscal (Teto de Gastos – Emenda Constitucional 95/2016).
Foram vetados na LOA R$ 19,77 bilhões em dispêndios discricionários (RP 2),
emendas do relator-geral (RP 9) e emendas de comissões (RP 8). Além disso, R$ 9,29 bilhões em
despesas discricionárias foram posteriormente bloqueadas, quando da edição do decreto de
programação financeira – Decreto 10.699, de 14/5/2021. Tais despesas só vieram a ser
desbloqueadas em 30/7/2021, com a publicação do Decreto 10.760, que modificou o decreto
original de programação financeira.
Na mesma data da sanção com vetos da lei orçamentária, 22/4, foi remetido ao
Congresso Nacional projeto de lei de crédito suplementar (PLN 4/2021 – Mensagem 157) com o
objetivo de recompor parte da despesa obrigatória cancelada no curso da tramitação do PLOA 2021.
Assim, em 10/6/2021, foi sancionada a Lei 14.167, restaurando ao orçamento R$ 19,77 bilhões em
despesas obrigatórias.
Tomando de empréstimo, mais uma vez, os fundamentos do Recurso Extraordinário
217.194 julgado pelo STF, a sanção ou veto é o instrumento que sela a comunhão de vontade do
Poder Executivo e do Poder Legislativo. Esta apreciação é oportuna para análise não apenas do
interesse público, mas também da compatibilidade da lei orçamentária com a Carta Política e as
normas gerais de finanças públicas. Cite-se o alerta expedido pelo Acórdão 2.198/2020-TCU-
Plenário (rel. Min. Vital do Rêgo) sobre situação semelhante envolvendo incentivos fiscais sem
observar as condicionantes constitucionais e fixadas pela LRF:
9.2. alertar o Poder Executivo, com fundamento no art. 59, § 1º, inciso V, da Lei Complementar
101/2000, que:
...
9.2.2. os requisitos estabelecidos no art. 14 da Lei Complementar 101/2000, no art. 113 do
ADCT e na Lei de Diretrizes Orçamentárias não se limitam aos projetos de iniciativa do Poder
Executivo, estendendo-se à apreciação de propostas de iniciativa do Poder Legislativo, o que
deve ocorrer, neste último caso, por ocasião do exercício do poder de sanção e/ou de veto do
presidente da República com base no art. 66 da Constituição da República, conforme
disposto no parecer prévio das contas presidenciais do exercício de 2018 apreciado pelo
Acórdão 1.331/2019-TCU-Plenário, que analisou o alerta proferido no parecer prévio das contas
presidenciais de 2017; (grifamos)
Dessa forma, oportuno se faz alertar o Presidente da República sobre a necessidade de
observar, por ocasião da elaboração do PLOA e, sobretudo, quando da apreciação do autógrafo da
LOA, a conformação dos dispositivos e programações orçamentárias com os ditames
constitucionais e das normas gerais de finanças públicas, notadamente as Leis Complementares
101/2000 e 141/2012, que estabelecem normas gerais de finanças públicas para orientar o processo
orçamentário e que devem ser observadas tanto pelo Poder Executivo, quando pelo Poder
Legislativo.
Ausência de Dotação Orçamentária para Despesas Relativas ao Abono Salarial Anual na LOA
2021
O abono salarial é uma política pública que integra a seguridade social, com previsão de
fonte de financiamento no art. 239, § 3º, da Constituição Federal, o qual estabelece que empregados
que recebam até dois salários-mínimos de remuneração mensal, de empregadores que contribuem
para o Programa de Integração Social (PIS) ou para o Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público (Pasep), possuem direito assegurado ao pagamento de um salário-mínimo anual.
O programa é regulamentado pela Lei 7.998/1990, que em seu art. 9º, dispõe, dentre
outros aspectos, que o abono salarial anual tem seu valor calculado na proporção de um doze avos
do valor do salário-mínimo vigente na data do respectivo pagamento, multiplicado pelo número de
meses trabalhados no ano correspondente.
Desse modo, a operacionalização do programa requer um período no qual será
verificado o direito do trabalhador a receber o abono, checando, por exemplo, o valor do salário
percebido e o número de meses laborado pelo trabalhador. A verificação do direito do trabalhador
em receber o abono é realizada por meio da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e, mais
recentemente, também por meio do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais,
Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial).
Ao Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), dentre outras
funções, compete aprovar e acompanhar a execução do plano de trabalho anual do abono salarial
anual e regulamentar os dispositivos da lei.
Nessas bases, pouco antes da aprovação da LOA (22/4/2021), o Codefat editou a
Resolução 896, de 23/3/2021, para estabelecer procedimentos operacionais relativos ao abono
salarial anual. O novo regramento (art. 3º) implicou a alteração da sistemática de pagamentos até
então vigente para o abono salarial anual.
A sistemática anterior consistia em verificar o direito do trabalhador ao recebimento do
abono no ano imediatamente subsequente ao ano-base trabalhado (ano-base + 1), sendo o efetivo
pagamento realizado para uma parte dos trabalhadores no segundo semestre do ano-base + 1 e, para
a parte restante dos trabalhadores, no primeiro semestre do ano-base + 2.
Assim, para os trabalhadores que laboraram no ano-base 2019, por exemplo, a
verificação do direito em receber o abono ocorreu em 2020, sendo efetivado o pagamento no
segundo semestre de 2020 para alguns trabalhadores e no primeiro semestre de 2021 para o restante.
Com a nova regra do Codefat, o pagamento aos trabalhadores que fizerem jus ao abono
será integralmente realizado no ano-base + 2, sendo a verificação do direito realizada entre os meses
de outubro do ano-base + 1 e janeiro do ano-base + 2.
Desse modo, para os trabalhadores que laboraram no ano-base 2020, a verificação do
direito de receber o abono ocorreu entre outubro de 2021 e janeiro de 2022, e o pagamento ocorreu
em fevereiro e março de 2022 para todos os trabalhadores. Com efeito, foi aberto, artificiosamente,
espaço orçamentário em 2021, uma vez que a legislação vigente estabelece que o abono salarial é
anual.
Conforme já mencionado, o relator-geral do PLOA 2021 propôs, em complemento de
voto apresentado no dia 25/3/2021 (dois dias após a resolução do Codefat), o cancelamento de
R$ 26,47 bilhões em despesas, sendo R$ 26,01 bilhões referentes a despesas obrigatórias e R$ 457
milhões relativos a despesas discricionárias. Dentre as supressões de despesas obrigatórias pelo
relator-geral sobressaem R$ 7,4 bilhões (28,45% das despesas obrigatórias) relativos ao pagamento
do abono salarial anual.
Posteriormente, em 22/4, mesma data da sanção com vetos da LOA, foi remetido ao
Congresso Nacional projeto de lei de crédito suplementar (PLN 4/2021 – Mensagem 157) com o
objetivo de recompor parte da despesa obrigatória cancelada no curso da tramitação do PLOA 2021,
sancionada a Lei 14.167, de 10/6/2021, para restaurar ao orçamento R$ 19,8 bilhões em despesas
obrigatórias. Não houve, contudo, restabelecimento da dotação originalmente proposta para o abono
salarial anual.
Segundo declararam os gestores em resposta a diligências e comentários à instrução
preliminar proferida no TC 012.649/2021-0, como o pagamento do ano-base 2020 ocorrerá
integralmente em 2022, os créditos orçamentários necessários para adequar a obrigação
constitucional e legal da União referente ao abono salarial anual poderiam ser previstos apenas na
LOA de 2022, a despeito de o trabalhador ter laborado em 2020 e a apuração do direito de receber o
abono ter ocorrido majoritariamente em 2021.
Em síntese, os órgãos do Poder Executivo defenderam nos autos que os créditos
orçamentários só precisariam estar previstos na lei orçamentária referente ao ano da realização do
pagamento, independentemente do disposto no art. 24 da LRF. Esse entendimento está presente
também em alguns documentos produzidos em resposta às diligências realizadas por esta Corte de
Contas.
A sistemática, amparada por ato infralegal editado dois dias antes da apresentação do
voto complementar do relator-geral do orçamento, é mais uma hipótese de postergação de despesas
de um exercício para o orçamento futuro, quando serão empenhadas e pagas. A análise de mérito
realizada no TC 012.649/2021-0 não teve a pretensão de discutir, de forma conclusiva e abrangente,
teses sobre o regime orçamentário que rege o setor público brasileiro (se de competência, de caixa
ou, como expressa a literatura, de base modificada). Tampouco é necessário enfrentar, nesta
assentada, o desafio de integrar de forma abrangente os regimes orçamentário e contábil no setor
público.
Isso porque, no campo das finanças públicas, sobressaem as regras específicas da
seguridade social previstas no art. 24 da LRF, segundo as quais as projeções orçamentárias para as
respectivas despesas devem considerar: i) a concessão de benefício a quem satisfaça as condições
de habilitação prevista na legislação pertinente; ii) a hipótese de expansão quantitativa do
atendimento e dos serviços prestados; iii) o reajustamento de valor do benefício ou serviço, a fim de
preservar o seu valor real, de acordo com a legislação pertinente, situações em que o aumento da
despesa é dispensado de compensação referida no art. 17 da LRF, mas não da adequação
orçamentária e compatibilidade com a LDO, o que passa por definição de dotações necessárias e
suficientes, o que não foi verificado no exercício de 2021.
As modificações havidas na dotação das despesas previstas para o abono salarial em
2021, assim como a execução orçamentária no exercício, podem ser assim resumidas:
Dotação do Abono Salarial na LOA 2021
Ação Orçamentária Proposta Autógrafo Sanção Autorizado
0581 - Abono Salarial 17.972.921.705 10.572.921.705 10.572.921.705 10.772.921.705
Fonte: Siop – acesso em 15/3/2021.
Nota-se que foram empenhados e pagos 94,29% dos recursos autorizados para o abono
salarial na LOA 2021. Pela sistemática inaugurada pelo Codefat, depreende-se que os recursos
executados são relativos ao abono do ano-base 2019, cujo direito dos trabalhadores foi apurado em
2020, sendo parte pago em 2020 e o restante, no total de R$ 10,2 bilhões, em 2021. Ou seja, não
houve, na LOA 2021, programação orçamentária necessária e suficiente para honrar o direito do
trabalhador de receber o abono salarial anual referente ao ano base 2020, que deveria ter sido pago,
no todo ou pelo menos em parte, em 2021.
A Lei 13.134/2015 estabelece que as alterações havidas no abono salarial anual somente
produziriam “efeitos financeiros a partir do exercício de 2016, considerando-se, para os fins do
disposto no inciso I do art. 9º da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, como ano-base para a sua
aplicação o ano de 2015” (art. 4º). Nessa vertente, dispõe que os efeitos financeiros decorrentes da
alteração legislativa ocorrerão apenas no exercício financeiro seguinte ao do ano-base. Com isso, a
exposição de motivos que encaminhou o PLN 4/2021. O documento também esclarece que a
diferença observada poderia ser atendida durante o exercício financeiro, mediante a abertura de
créditos adicionais, utilizando, como recursos em cancelamento, entre outros, as dotações
orçamentárias bloqueadas, conforme autorização prevista no § 3º do art. 62 da LDO 2021.
De acordo com as projeções de despesa apresentadas no Relatório de Avaliação de
Receitas e Despesas Primárias (RARDP), publicado em abril de 2021, a diferença entre as
programações orçamentárias destinadas aos benefícios previdenciários contidas no autógrafo da lei
orçamentária e as projeções existentes à época atingiam R$ 16,29 bilhões pela ótica financeira e
R$ 9,26 bilhões na vertente orçamentária. Entretanto, o PLN 4/2021, convertido na Lei
14.167/2021, realizou a recomposição de tão somente R$ 6,65 bilhões das despesas previdenciárias.
Assim, a diferença não recomposta foi de R$ 9,64 bilhões pela ótica financeira e de R$ 2,61 bilhões
pela ótica orçamentária.
Em 14/5/2021, foi editado o Decreto 10.699/2021, estabelecendo a programação
financeira do Poder Executivo Federal para o exercício de 2021, tendo sido realizado o bloqueio de
despesas primárias discricionárias (RP 2) no montante de R$ 9,29 bilhões.
Instado a se manifestar no TC 012.649/2021-0, o Ministério da Economia alegou que a
realização do bloqueio de despesas discricionárias supriria a não-recomposição integral das
despesas com benefícios previdenciários. O ponto central da controvérsia das estimativas de
despesas com tais benefícios é determinar se pode a lei orçamentária prever dotação em montante
inferior ao que indicam as projeções oficiais, considerando a natureza obrigatória das referidas
despesas.
No caso em análise, que se refere a benefícios previdenciários integrantes da seguridade
social, as referidas despesas recebem tratamento específico pelo art. 24 LRF, especialmente quanto
à sua criação ou majoração. O dispositivo excepciona a observância das regras de criação de
despesa do art. 17, quando se tratar de concessão de benefício derivados da seguridade social, entre
eles os previdenciários, a quem satisfaça as condições de habilitação prevista na legislação
pertinente (art. 24, § 1º, inciso I da LRF).
Está implícito na construção da referida norma a ideia de que a despesa ocorrerá,
independentemente da vontade do gestor ou da própria União, considerando se tratar de despesa de
índole constitucional. Basta que o beneficiário preencha os requisitos descritos na legislação própria
para ter direito ao recebimento do benefício, e, assim, surja a obrigação da União. Nessas situações,
há a flexibilização das exigências para a criação ou majoração de despesa obrigatória de caráter
continuado, assim como da demonstração da origem dos recursos para seu custeio, com a estimativa
do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois
subsequentes (art. 16, inciso I, da LRF).
O procedimento autorizado na LRF busca manter a higidez do sistema orçamentário,
estimulando a adoção de providências necessárias para o atendimento de despesa que, embora não
prevista no orçamento, o direito do beneficiário é assegurado pela legislação segundo algumas
condições de habilitação – a exemplo do benefício por auxílio-doença, dentre outros. Em situações
como essa, deve-se buscar a recomposição da dotação orçamentária específica e, assim, cumprir as
normas de finanças públicas, de modo a evitar a configuração da obrigação da União sem prévio
empenho.
Dessa forma, a previsão na LOA de dotação referente à despesa obrigatória em
montante inferior ao projetado em documentos oficiais caracteriza situação de não-conformidade
com as regras constitucionais e legais que rege as finanças públicas.
É cediço que as projeções de despesa com benefícios previdenciários podem mudar ao
longo do ano em função de diversas variáveis macroeconômicas. Entretanto, o que se contestou no
TC 012.649/2021-0 foi o fato de o Poder Executivo, conhecendo a projeção existente à época da
sanção da LOA (22/4/2021), optar por manter programações orçamentárias insuficientes ao
Tal fato resta ainda mais claro quando se verificam as ações orçamentárias mais
afetadas e que estão vinculadas às programações de cada órgão ou unidade orçamentária. O
Ministério da Economia foi o que sofreu maior redução nas dotações destinadas às despesas
discricionárias RP 2, das quais se destacam: i) “20U7 – Censos Demográfico, Agropecuário e
Geográfico”, redução de R$ 1,95 bilhão (-97,34%); ii) “00I0 - Inventariança do Fundo Nacional de
Desenvolvimento”, diminuição de R$ 500 milhões (-71,43%); iii) “00M4 - Remuneração a Agentes
Financeiros, declínio de R$ 423,4 milhões; e iv) “00OP - Integralização de Cotas de Capital em
Organismos Financeiros Internacionais”, decréscimo de R$ 73 milhões (-6,00%).
O segundo órgão orçamentário com maior supressão nas dotações RP 2 foi o Ministério
da Educação. As ações mais afetadas foram: i) “0509 - Apoio ao Desenvolvimento da Educação
Básica”, redução de R$ 222,25 milhões (-30,33%); ii) “20RK - Funcionamento de Instituições
Federais de Ensino Superior”, diminuição de R$ 143,59 milhões (-3,89%); iii) “15R3 - Apoio à
Expansão, Reestruturação e Modernização das Instituições Federais de Ensino Superior”, supressão
de R$ 141,14 milhões (- 100,00%) e iv) “12KU - Apoio à implantação de escolas para educação
infantil”, decréscimo de R$ 113,24 milhões (-51,01%).
Nesse contexto, convém reiterar que o art. 45 da LRF prioriza os projetos em
andamento e as despesas de conservação do patrimônio público. A LDO 2021, por sua vez,
estabelece que o PLOA e os projetos para abertura de créditos somente incluirão ações ou subtítulos
novos se tiverem sido adequada e suficientemente contemplados os projetos e seus subtítulos em
andamento, e os recursos alocados, no caso dos projetos, viabilizarem a conclusão de uma etapa ou
a obtenção de uma unidade completa (art. 21), assim como as despesas prioritárias (obrigatórias e as
discricionárias necessárias ao funcionamento dos órgãos e entidades), consideradas as
contrapartidas previstas na LDO.
Como se nota, a legislação estabelece precedência à conclusão de projetos já iniciados e
à conservação do patrimônio já existente e não à alocação de recursos em novos investimentos.
Assim, observa-se que o cancelamento e o bloqueio de despesas primárias discricionárias (RP 2)
para que sejam alocados valores em emendas do relator-geral da LOA (RP 9) para novos
empreendimentos não atende ao disposto no art. 45 da LRF.
Ademais, um dia antes da sanção da LOA 2021, foi publicada a Lei 14.143, que
modificou o caput do art. 4º da LDO 2021, retirando a obrigatoriedade que, somente após o
atendimento das despesas de funcionamento dos órgãos e entidades, devem ser alocados valores nas
prioridades e metas da Administração Pública. Entretanto, essa alteração apenas torna o caput do
art. 4º da LDO, em parte, incompatível com o art. 45 da LRF, no que diz respeito às despesas de
conservação do patrimônio público, conforme instrução de mérito proferida no TC 012.649/2021-0.
Importa mencionar também que, para empenho dos recursos relativos a quaisquer
emendas parlamentares (RP 6, 7, 8 ou 9) não se exige sequer a existência prévia de projeto de
engenharia do empreendimento e licença ambiental, podendo tais itens, essenciais à efetiva
implementação dos investimentos, serem apresentados a posteriori, por força do disposto no art. 67,
§ 3º, da LDO 2021. Disso pode resultar grande volume de recursos inscritos em restos a pagar, uma
vez que podem ser empenhados valores para empreendimentos que não se encontrem tecnicamente
preparados para serem desenvolvidos, sendo os valores, então, inscritos em restos a pagar.
De fato, dispositivo em sentido semelhante estava presente também na LDO 2020 (Lei
13.898/2019). Naquele exercício, a maior parcela dos valores das emendas RP 9 destinada a
investimentos não teve execução financeira, ou seja, não houve desembolso dos recursos. Em 2020,
da dotação autorizada em emendas de relator-geral para investimentos (R$ 12,72 bilhões), foram
empenhados 97,96% (R$12,46 bilhões), sendo pagos apenas 15,96% (R$ 2,03 bilhões) e inscritos
em restos a pagar mais de 84% dos recursos (R$ 10,73 bilhões).
Em 2021, a dotação autorizada em emendas RP 9 para investimentos públicos foi de
R$ 9,27 bilhões, tendo sido empenhados 99,06% (R$ 9,18 bilhões), mas pagos no exercício apenas
6,59% (R$ 610,59 milhões). Ao término do exercício foram inscritos em restos a pagar R$ 8,57
bilhões em programações de emendas RP 9 destinadas a investimentos.
Esse cenário de baixa execução dos investimentos impõe dificuldades à gestão
orçamentária da União, em face da necessidade de cumprimento do Teto de Gastos (EC 95/2016).
Isso porque, não obstante a apuração do cumprimento da regra fiscal ocorrer pelos valores
efetivamente pagos (art. 107, § 10), as dotações orçamentárias não podem exceder o limite do Teto
de Gastos (art. 107, §§ 3º e 4º).
Desse modo, os investimentos oriundos das emendas RP 9 terminam por ocupar espaço
orçamentário em dois exercícios distintos: primeiro, no exercício em que as dotações são inseridas
no orçamento e, posteriormente, no exercício em que ocorrer o efetivo desembolso. Assim, em
2020, por exemplo, embora somente R$ 2,03 bilhões em investimentos oriundos de emendas RP 9
tenham sido efetivamente computados para efeito do Teto de Gastos, outros R$ 10,34 bilhões,
inscritos em restos a pagar, ocuparam espaço no limite orçamentário dado pela regra fiscal,
impedindo que outras despesas primárias pudessem ser alocadas e efetivamente realizadas naquele
exercício.
Ademais, esses valores destinados a investimentos inscritos em restos a pagar voltarão a
ocupar parte do limite fixado pela regra fiscal no exercício em que forem efetivamente realizados,
concorrendo, então, com as despesas primárias daquele exercício.
Ao se propor no orçamento, via emendas de relator-geral, o início de novos
empreendimentos sem que estejam tecnicamente preparados para serem iniciados e sem que sejam
priorizados os empreendimentos já em andamento e as despesas de conservação do patrimônio
existente, compromete-se a boa gestão orçamentária e financeira da União, com reflexos imediatos
na qualidade do investimento e na deterioração do patrimônio público, em contrariedade, portanto a
uma gestão fiscal responsável segundo os pressupostos do § 1º do art. 1º da LRF, que têm como
alicerce a ação planejada e transparente em que se previnam riscos e se corrijam desvios capazes de
afetar o equilíbrio das contas públicas.
Com relação ao exercício de 2021, a tabela a seguir detalha a execução orçamentária
das emendas RP 9, por Grupo Natureza de Despesa.
Emendas RP 9 por Grupo Natureza de Despesa na LOA 2021
R$ milhares
Execução
Financeira dos
Execução Orçamentária e Financeira da LOA 2021
Restos a Pagar
Grupo Natureza de Despesa
de 2020
Dotação Dotação Despesas Despesas Despesas Pagamento de
Inicial Autorizada Empenhadas Liquidadas Pagas Restos a Pagar
3 - Outras Despesas Correntes 8.936.121 7.598.659 7.540.305 7.540.305 5.781.628 1.707.294
4 - Investimentos 9.593.720 9.266.340 9.179.304 9.179.304 610.598 2.334.362
Total Geral 18.529.841 16.865.000 16.719.609 16.719.609 6.392.226 4.041.656
Fonte: Siop (considerados valores da execução financeira dos restos a pagar inscritos em 2020 – ‘RP9 Atual’.
Acesso 22/6/2022.
Verifica-se que, em 2021, da dotação inicial, 48,23% dos recursos foram destinados a
despesas correntes e 51,77% a investimentos. A execução dos investimentos permaneceu baixa,
sendo que da dotação autorizada 99,06% foram empenhados, mas apenas 6,59% foram pagos. Ao
término do exercício, foram inscritos em restos a pagar R$ 8,57 bilhões em programações de
emendas RP 9 destinadas a investimentos. Dos R$ 10,73 bilhões em investimentos inscritos em
restos a pagar em 2020, R$ 2,33 bilhões (21,71%) foram pagos em 2021.
Sobre essa matéria, cumpre mencionar, ainda, que os identificadores de resultado
primário RP 8 e RP 9 foram vetados quando da sanção da LDO 2021 (veto 59/2020). Isso
implicaria a impossibilidade de a LOA 2021 abrigar despesas oriundas de emendas de comissão
permanente do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e de comissão mista permanente do
Congresso Nacional (RP 8), assim como dispêndios decorrentes de emendas do relator-geral do
projeto de lei orçamentária (RP 9), que não se relacionassem à correção de eventuais erros e
omissões eventualmente existentes na proposta.
Não obstante, em sessão do dia 17/3/2021, foram rejeitados os vetos aos itens 3 e 4 da
alínea “c” do inciso II do § 4º do art. 7º da LDO 2021 pelo Congresso Nacional, restabelecendo o
indicador orçamentário para segregar as emendas do relator-geral do PLOA 2021 para alocar
despesas não diretamente relacionadas à correção de erros e omissões.
De fato, conforme consta nas razões de veto, por força de dispositivos constitucionais,
as dotações oriundas de emendas individuais (RP 6) ou de emendas de bancada estadual (RP 7) são
de execução obrigatória, nos termos do art. 166, §§ 9º, 11 e 12. Já emendas de relator-geral do
PLOA não possuem assento constitucional, embora tenham atingido, na LOA 2021, montante de R$
18,52 bilhões, valor superior ao somatório de todas as emendas individuais (R$ 9,67 bilhões) e de
bancada estadual (R$ 7,30 bilhões).
Assim sendo, o relator-geral do PLOA, por meio das emendas RP 9, passou a ter
controle sobre larga parcela do Orçamento Geral da União (OGU), com todas as distorções que esse
arranjo acarreta, cuja constitucionalidade é apreciada no âmbito da ADPF 854. Ademais, como já
amplamente discorrido, essa sistemática constitui fator crítico para o fiel cumprimento da LRF,
notadamente o seu art. 45.
Embora as dotações oriundas de emendas RP 9 só possam ser canceladas com anuência
do relator-geral, o poder de veto do Presidente da República também alcança tais programações
orçamentárias. Entretanto, do total de R$ 29,02 bilhões emendas RP 9, somente R$ 10,49 bilhões
foram objeto de veto.
Convém registrar que, uma vez aprovada a proposta legislativa em matéria orçamentária
pelas Casas do Congresso Nacional, a mesma deverá ser submetida ao poder de sanção e/ou de veto
do Presidente da República (arts. 48, inciso II, e 66 e §§ da Constituição), tudo a evidenciar o longo
itinerário procedimental a ser percorrido por qualquer projeto de lei, em especial os projetos que
versam sobre orçamento. Isso porque a sanção ou veto é o instrumento que sela a comunhão de
vontade do Poder Executivo e do Poder Legislativo, sendo esta apreciação oportuna para análise
não apenas do interesse público, mas também da compatibilidade da lei orçamentária com a Lei
Maior e as normas gerais de finanças públicas. Cite-se o Recurso Extraordinário 217.194 (rel. Min.
Maurício Corrêa, DJ de 1/6/2001).
Também é oportuno revisitar o Acórdão 1.907/2019-TCU-Plenário (rel. Min. Raimundo
Carreiro), proferido em resposta à Consulta formulada pelo então Ministério da Fazenda (atual
Ministério da Economia), na qual o consulente formulou questionamento sobre a eficácia de
medidas legislativas aprovadas sem a devida adequação orçamentária e financeira, e sem observar
o que determina o arcabouço jurídico-constitucional vigente, hipótese em que configura claro
conflito de normas. Em resposta, ancorada na mais abalizada doutrina de Pontes de Miranda e
jurisprudência do STF, esta Corte de Contas respondeu no sentido de que medidas legislativas que
forem aprovadas sem a devida adequação orçamentária e financeira, e em inobservância ao que
determina a legislação vigente, especialmente o art. 167 da Constituição Federal, o art. 113 do
ADCT, os arts. 15, 16 e 17 da LRF, e os dispositivos pertinentes da LDO em vigor, “somente
podem ser aplicadas se forem satisfeitos os requisitos previstos na citada legislação” (item 9.1).
Essa resposta à consulta, a despeito da densa abstração normativa, não foi considerada
por ocasião da análise do autógrafo da LOA 2021 aprovado pelo Congresso Nacional, uma vez que
o Presidente da República, com a anuência dos Ministros da Economia e da Casa Civil, sancionou a
LOA 2021 sem dotações suficientes para atender as despesas obrigatórias, assim como as
necessárias à conservação do patrimônio público, assim como vetou dotações previstas para honrar
tais despesas de forma a acomodar programações referentes a emendas RP 9. Na prática, essa
Esse aumento nos valores destinados ao FAT possui relação com a supressão de
despesas primárias obrigatórias havida no curso da tramitação da PLOA 2021, despesas essas que
estavam previstas originalmente na proposta encaminhada pelo Poder Executivo. Foram suprimidas
despesas de R$ 7,4 bilhões com o abono salarial anual e R$ 2,6 bilhões com o seguro-desemprego.
Assim, os recursos vinculados ao financiamento dessas políticas públicas foram alocados como
fonte para as reservas de contingência financeiras.
Ou seja, dentro da unidade orçamentária do FAT, a fonte 140, “Contribuições para os
Programas PIS/PASEP”, deixou de ser a origem dos recursos para o custeio das ações de abono
salarial e do seguro-desemprego e passou a ser fonte para a ação 0Z00, “Reserva de Contingência –
Financeira”. Essa prática configura o que comumente se denomina represamento dos recursos da
fonte 140, já que, embora arrecadados, não foram de fato desembolsados no exercício.
Resta claro, então, uma vez mais, que a alocação de recursos na reserva de contingência
com indicador de natureza financeira possui propósitos outros que não o previsto no art. 5º, inciso
III, da LRF, de atendimento dos passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos.
Nesse cenário, na ocorrência de eventos fiscais não previstos e que acarretem despesas
primárias, a margem para acomodação de tais despesas no orçamento do exercício é pequena,
podendo comprometer a execução de outras despesas e/ou as regras fiscais estabelecidas.
Quanto ao Teto de Gastos, por exemplo, a EC 95/2016 possibilita que despesas
realizadas por meio da abertura de créditos extraordinários não sejam computadas nos limites da
regra (art. 107, § 6º, inciso II do ADCT). Assim, eventual uso indiscriminado de créditos
extraordinários, sem observar os pressupostos constitucionais, pode sinalizar uma tendência à
pavimentação de via de escapismo à restrição de índole constitucional, com potencial elevado de
reduzir a efetividade do Teto de Gasto, em razão do seu mero cumprimento formal.
Entretanto, não se pode afirmar que a inexistência de recursos primários na reserva de
contingência seja ato deliberado para que qualquer despesa não prevista seja financiada com a
abertura de créditos extraordinários. O Teto de Gastos remonta ao exercício de 2016, enquanto a
prática de manter na LOA a reserva de contingência, majoritariamente com recursos de natureza
financeira, não é recente, tendo sido observada pelo menos na última década.
Por certo que eventos de grande magnitude, tal como a pandemia de Covid-19, cujos
impactos econômicos e sociais se manifestaram a partir de fevereiro/março de 2020, não podem ser
previstos com precisão e adequadamente mitigados. Entretanto, a ausência na LOA 2021 de valores
com indicador primário na reserva de contingência impossibilitou a absorção, ainda que parcial, dos
impactos fiscais derivados da continuidade e recrudescimento da pandemia em 2021.
Recentemente, por ocasião da ocorrência de fortes chuvas no estado da Bahia, ao
término de 2021 e início de 2022, foi noticiada a intenção de parlamentares de propor ao Congresso
Nacional a criação de um “fundo emergencial a ser utilizado em situações de catástrofes naturais”.
Essa função deveria ser exercida pela reserva de contingência, sem necessidade de instituir outros
mecanismos para este fim.
A inexistência de reserva de contingência para honrar passivos contingentes e outros
riscos e eventos fiscais imprevistos tende a aumentar a abertura de créditos extraordinários por
medida provisória. Com efeito, ainda que de forma reflexa, tem-se o esvaziamento das regras fiscais
de caráter mais restritivo, a exemplo do Teto de Gasto e do contingenciamento.
Cite-se, para ilustrar a assertiva, a Lei 14.143, de 21/4/2021, editada para alterar a LDO
2021 um dia antes da aprovação da LOA. Dentre as mudanças, sobressai a retirada do cômputo da
meta de resultado primário de despesas abertas por créditos extraordinários e que se destinassem a:
i) ações e serviços públicos de saúde; ii) Programa Nacional de Apoio às Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte (Pronampe); e iii) Programa Emergencial de Manutenção do Emprego
e da Renda (art. 2º, § 2º da LDO 2021).
Nesse contexto, pode restar comprometida não só a credibilidade das regras fiscais
vigentes como a do próprio orçamento como meio hábil a prover transparência e previsibilidade do
impacto fiscal das ações conduzidas pelo Poder Público.
Ao analisar o mérito dessa questão no TC 012.649/2021-0, a unidade técnica concluiu
que a reserva de contingência na LOA 2021, contendo exclusivamente recursos com identificador
de resultado primário financeiro (RP 0), não observa o preceito do art. 5º, inciso III, da LRF, uma
vez que recursos de natureza financeira (RP 0) não se prestam ao atendimento de passivos
contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. Os encaminhamentos foram propostos na
instrução de mérito do processo em referência.
ALERTA
mudança metodológica foi a ampliação do limite de despesa daquele exercício. Porém, o Congresso
Nacional restringiu a utilização desse espaço fiscal criado pela EC 113/2021, de forma que a
ampliação autorizada ficou limitada a R$ 15 bilhões, a serem destinados exclusivamente ao
atendimento de despesas de vacinação contra a Covid-19 ou relacionadas a ações emergenciais e
temporárias de caráter socioeconômico (art. 4º, § 1º).
Ademais, consoante art. 4º, §§ 3º e 4º, da EC 113/2021, as despesas citadas no § 1º do
mesmo dispositivo da Carta Magna deveriam ser atendidas por meio de créditos extraordinários,
cuja abertura prescindia da observância dos requisitos da imprevisibilidade e urgência.
Nesse rumo, o Poder Executivo federal abriu créditos extraordinários autorizados com
fulcro na EC 113/2021, no valor de R$ 14,2 bilhões. Tais créditos possuem marcadores
orçamentários de despesas relacionadas à pandemia de Covid-19, os quais, operacionalmente,
caracterizam-se pelo registro do Plano Orçamentário específico “CV”.
Créditos extraordinários abertos com base no art. 4º, §§ 1º, 3º e 4º, da EC 113/2021
Ato autorizativo Número do ato Valor (R$) Finalidade*
MP 1.083/2021 6.412.000.000 Aquisição, produção e fornecimento de vacinas.
Auxílio Emergencial de Proteção Social a Pessoas em
MP 1.084/2021 4.153.017.000
Situação de Vulnerabilidade - Lei 14.171/2021.
Garantir o atendimento à Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF
Medida Provisória MP 1.087/2021 167.288.600
742, por meio da distribuição de cestas de alimentos à
população quilombola.
Assistência financeira da União aos Estados e ao
Distrito Federal para a garantia de acesso à internet,
MP 1.088/2021 3.501.597.083
com fins educacionais, aos alunos e aos professores
da Educação Básica Pública - Lei 14.172/2021.
Total MP 14.233.902.683
Fonte: Siop e sítio do Planalto: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/2019-a-2022.
* Conforme Exposições de Motivos que acompanharam as listadas medidas provisórias.
Programa Bolsa Família (PBF), como ocorrera no exercício anterior. Nesse contexto, o Acórdão
1.532/2021-TCU-Plenário (também relatado pelo ministro Bruno Dantas) esclareceu, conservando-
se as premissas utilizadas no Acórdão 2.026/2020-TCU-Plenário, que eventual utilização do espaço
fiscal no Teto de Gastos proveniente de economia de recursos no Programa Bolsa Família gerada
pela substituição do Auxílio Emergencial 2021 deveria ser direcionada exclusivamente ao custeio
de despesas com o enfrentamento do contexto da calamidade relativa à pandemia de Covid-19 e de
seus efeitos sociais e econômicos e que tivessem a mesma classificação funcional da dotação
cancelada ou substituída.
Posteriormente, por intermédio do Acórdão 1.931/2021-TCU-Plenário, relatado pelo
ministro Aroldo Cedraz, reforçou-se a recomendação contida no Acórdão 1.532/2021-TCU-
Plenário, incluindo requisitos adicionais para o aproveitamento do espaço fiscal derivado da
substituição temporária do Programa Bolsa Família pelo Programa Auxílio Emergencial Residual.
Nesse rumo, recomendou-se que o aproveitamento do espaço fiscal no Teto de Gastos gerado
artificialmente pela substituição de programas seguisse as premissas definidas nos acórdãos
mencionados.
Entretanto, em 5/10/2021, foi editada a Lei 14.212/2021, que incluiu o parágrafo único
ao art. 45 da LDO 2021, permitindo que o espaço fiscal no Teto de Gastos decorrente da multicitada
substituição de programas (valor de R$ 9,4 bilhões, conforme apuração evidenciada no Relatório de
Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 3º bimestre de 2021) pudesse ser utilizado para
quaisquer despesas sujeitas ao Teto, conforme também interpretado pela PGFN, por meio do
Parecer 16446/2021/ME, de forma que deixaram de ter efeito as restrições estabelecidas nos
Acórdãos 1.532/2021-TCU-Plenário e 1.931/2021-TCU-Plenário, conforme o item 9.1.3 do
Acórdão 696/2022-TCU-Plenário (relatoria ministro Aroldo Cedraz). O resultado imediato dessa
medida foi a ampliação da capacidade de realização de despesas primárias no exercício de 2021, no
valor estimado de R$ 9,4 bilhões.
Alocação dos recursos e execução das despesas em 2021
Os R$ 145,6 bilhões autorizados em 2021, visando ao combate à pandemia e a seus
efeitos, foram alocados nas seguintes funções orçamentárias: Assistência Social, R$ 78,7 bilhões;
Saúde, R$ 56,7 bilhões; Encargos Especiais, R$ 5 bilhões; Educação R$ 4,9 bilhões; e R$ 357
milhões em outras funções.
A tabela a seguir evidencia a execução da despesa em 2021, distribuindo-se as despesas
em quatro grandes áreas, conforme a aplicação do recurso:
Alocação e execução das dotações destinadas ao combate à Covid-19 e a seus efeitos em 2021
R$ bilhões
2021
pública.
seguir apresenta a execução de restos a pagar em 2021, referentes a despesas empenhadas em 2020,
as quais se destinavam ao combate à pandemia e a seus efeitos.
Restos a Pagar de Despesas Empenhadas em 2020 - Execução em 2021
R$ milhões
RAP Cancelados
RAP Inscritos (Processados e
(Processados e não RAP Pagos
não processados)
processados)
16.132,3 9.766,0 5.236,1
Fonte: Siop.
operações realizadas com recursos públicos federais, em especial quanto ao que estabelece a lei
orçamentária anual, exceto pelas ressalvas apresentadas neste Relatório.
A seguir, são descritas as ocorrências que embasam a opinião com ressalva:
1. Desvio de finalidade reincidente de recursos vinculados à seguridade social para
o custeio de ações típicas de manutenção e desenvolvimento do ensino alheias às
políticas públicas abrangidas pelo conceito constitucional de seguridade social,
em afronta aos princípios e regras previstos nos arts. 194, 195, 198 a 203 da
Constituição Federal, ao § 4º do art. 76 do ADCT, à Lei 8.212/1991 (arts. 11, 16,
17 e 18), à Lei Complementar 141/2012 (arts. 2º e 3º), em desacordo com a
resposta à consulta apreciada pelo Acórdão 31/2017-TCU-Plenário, com eficácia
normativa; (seção 4.1.1.2)
2. Execução reincidente no identificador orçamentário exclusivo para ações de
manutenção e desenvolvimento do ensino (ID-USO 8) de parcela residual de
despesas com aposentadorias e pensões, em desacordo com § 7º do art. 212 da
Constituição Federal e o art. 70, inciso I, da Lei 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB); (seção 4.1.1.2)
3. Ausência de justificativa para a totalidade de emendas individuais e de bancada
estadual que deixou de ser paga (execução financeira) em 2021, em desacordo
com os valores e parâmetros mínimos exigidos pelos §§ 11, 12, 14 e 17 do art.
166 da Constituição Federal; (seção 4.1.1.4)
4. Não aplicação, no exercício de 2021, de nenhum valor em projeto de irrigação
na Região Centro-Oeste, em afronta à exigência do inciso I do art. 42 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), a qual estabelece que, dos
recursos empenhados no exercício em projetos de irrigação, a União deve
aplicar, até 2027, o valor mínimo de 20% na Região Centro-Oeste; (seção
4.1.1.7)
5. Inobservância de requisitos exigidos pelos arts. 113 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), 14 da Lei Complementar 101/2000 (LRF)
e 125 a 129 e 137 da Lei 14.116/2020, alterada pela Lei 14.143/2021 (LDO
2021) para concessão ou ampliação de benefícios tributários de que decorra
renúncia de receita, conduta incorrida também em exercícios anteriores, em face
da ausência, no momento da edição da Lei 14.257/2021, das Medidas
Provisórias 1.034/2021 e 1.094/2021, da Portaria-ME 15.224/2021, da sanção
das Leis 14.126/2021 e Lei 14.288/2021, bem como da implementação pelo
Poder Executivo dos respectivos benefícios, de: projeção do impacto
orçamentário-financeiro; atendimento ao disposto na lei de diretrizes
orçamentárias; consideração da renúncia na estimativa de receita da lei
orçamentária e não afetação das metas dos resultados fiscais ou,
alternativamente, apresentação de medidas de compensação; fixação de vigência
máxima de cinco anos; indicação do órgão responsável pela supervisão,
acompanhamento e avaliação do benefício; (seção 4.1.2.9)
6. Insuficiência de informações relativas às metas operacionais da administração
pública federal nas diretrizes orçamentárias do exercício de 2021. (seção 4.1.3)
5.2.1.1. R$ 99,558 bilhões de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos
a maior por consideração do serviço futuro
(TC 021.979/2021-9, peça 168 - Relatório de Auditoria, item 3.1.2.1)
A NBC TSP 15 – Benefícios a Empregados, itens 69 a 75, requer que seja reconhecido
como passivo somente o valor dos benefícios atribuível aos serviços já prestados. Por exemplo, no
caso de um militar de carreira da ativa, que prestou 25 anos de serviço dos 35 necessários para a
aquisição do direito à transferência para a reserva remunerada, deve-se reconhecer como passivo a
proporção de 25/35 do valor atual dos benefícios futuros (VABF), em consistência com a definição
de passivo constante do MCASP, 8ª edição, Parte II, item 2.2.1: “é uma obrigação presente,
derivada de evento passado, cuja extinção deva resultar na saída de recursos da entidade”.
Contudo, o passivo relativo aos militares inativos foi contabilizado com base não só no
serviço prestado, mas também no serviço que se espera seja prestado futuramente; ou seja, no caso
de todos os militares, foi reconhecido como obrigação da União 100% do VABF,
independentemente do tempo que resta para a aquisição do direito ao benefício de inatividade,
gerando uma distorção de R$ 99.558.064.475,94 no passivo referente à Provisão de Benefícios com
Militares Inativos, o que representa 18% desse passivo.
Como a SPrev corrigiu a distorção em data posterior à publicação das demonstrações
contábeis do exercício de 2021, ou seja, em 16/3/2022, a distorção permaneceu.
5.2.1.2. R$ 7,874 bilhões de passivo atuarial do RPPS reconhecidos a menor por erro na
exclusão de segurados
(TC 021.979/2021-9, peça 168 - Relatório de Auditoria, item 3.1.1.1)
O item 12.5.4 do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) – 8ª
Edição e a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TSP) 15 – Benefícios a Empregados,
requerem, especificamente quanto ao Regime Próprio de Previdência dos Servidores (RPPS), o
reconhecimento de provisão matemática previdenciária, também conhecida como passivo atuarial, e
de sua evidenciação no Balanço Patrimonial, em atendimento ao regime de competência, para
demonstrar a real situação patrimonial e financeira do RPPS.
A provisão matemática previdenciária, ou passivo atuarial, representa o valor presente
do total dos recursos necessários para fazer face à totalidade dos compromissos futuros do RPPS
para com seus beneficiários e dependentes, calculados atuarialmente, na data do Balanço
Patrimonial.
Em 2021, devido a erro na exclusão de segurados, a estimativa dessa provisão resultou
em reconhecimento a menor, na conta de Provisões Matemáticas Previdenciárias, no valor de
R$ 7.874.289.903,84.
Ficaram de fora da avaliação final da provisão atuarial 7.862 segurados do Judiciário e
do Ministério Público. Sendo 1.147 segurados ausentes da base de dados e 6.715 excluídos
indevidamente pela Secretaria de Previdência (SPrev) do Ministério do Trabalho e Previdência
(MTP).
A exclusão de segurados decorreu de erro na execução de controle implementado para
mitigar o risco de inclusão indevida na avaliação atuarial do RPPS. O controle, todavia, é
necessário, a fim de excluir servidores em duplicidade, comissionados não concursados (vinculados
ao Regime Geral de Previdência Social), entre outros casos.
Para corrigir a distorção, formulou-se proposta de encaminhamento de recomendação ao
Ministério do Trabalho e Previdência, no relatório de auditoria do TC 021.979/2021-9, que será
monitorada na próxima auditoria de contas anuais dos Passivos Atuariais da União.
5.2.1.3. R$ 7,519 bilhões de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos
a menor por imprecisão e erro na implementação das premissas de crescimento dos benefícios
e dos salários
(TC 021.979/2021-9, peça 168 - Relatório de Auditoria, tópico 3.1.2.2)
Erro no cálculo da projeção do valor mensal que os militares receberão após os futuros
reajustes e progressões na carreira resultou em reconhecimento a menor, no valor de
R$ 7.519.506.341,14, do passivo atuarial refletido na Provisão para Benefícios com Militares
Inativos, conforme detalhado a seguir.
Ao estimar o valor que os atuais inativos receberão após a implementação de todos os
reajustes futuros previstos na Lei 13.954, de 2019, sobre os benefícios já concedidos, a SPrev
utilizou a tabela de salários dos militares ativos, para calcular o salário médio em 2024, por nível da
carreira militar. Em seguida, aplicou o mesmo salário médio para os atuais inativos, conforme seus
respectivos postos ou graduações. O uso das médias, em vez da aplicação dos reajustes da referida
lei sobre os benefícios efetivamente recebidos por inativo em maio de 2021, resultou em
reconhecimento a menor desse passivo atuarial, no valor de R$ 7.329.615.156,90.
Na provisão para benefícios a conceder na reserva remunerada, devido a erro na
implementação da premissa de crescimento dos salários, o valor projetado dos benefícios a
conceder, no caso de 9.648 militares do Exército, não foi o maior salário dentre as opções previstas
legalmente, resultando em reconhecimento a menor da referida provisão, no valor de
R$ 173.547.081,23.
Na provisão para benefícios a conceder de reforma por invalidez, foi encontrado erro
semelhante. No caso de 101.741 militares, o valor do benefício projetado foi o valor em 2023, e não
o valor em 2024, o qual reflete 100% do reajuste concedido pela Lei 13.954, de 2019. Apesar da
grande quantidade de casos, a subestimação do passivo decorrente desta última falha foi de apenas
R$ 16.344.103,01.
A SPrev corrigiu o erro na implementação da premissa de crescimento dos salários e fez
o ajuste contábil da distorção em 16/3/2022, data posterior à publicação do Balanço, que
permaneceu com o saldo da provisão distorcido.
Os demais problemas apontados não foram corrigidos. Assim, formulou-se proposta de
encaminhamento no TC 021.979-2021-9, que será monitorada na próxima auditoria de contas
anuais dos passivos atuariais.
5.2.1.4. R$ 7,291 bilhões, pelo menos, do passivo atuarial relativo ao Benefício Especial ao
Regime dos Anistiados e ao Plano de Seguridade Social dos Congressistas não reconhecidos
(TC 021.979/2021-9, peça 168 - Relatório de Auditoria, tópico 3.1.4.1)
Não está sendo reconhecido o passivo atuarial relativo ao benefício especial instituído
pelo art. 3º da Lei 12.618, de 2012, ao benefício dos anistiados políticos e ao benefício do Plano de
Seguridade Social dos Congressistas (PSSC), em desacordo com o item 65 da NBC TSP 15 -
Benefícios a Empregados, segundo o qual “a entidade deve reconhecer o valor líquido de passivo
(ativo) de benefício definido no balanço patrimonial”. Do item 8 dessa norma, depreende-se que
esses três casos se enquadram na definição de “Planos de benefício definido”. E o item 26 requer a
aplicação do requisito de reconhecimento previsto na norma a todos os planos de benefício pós-
emprego.
Benefício especial
O benefício especial tem natureza compensatória, e não previdenciária, o que impede a
incidência de contribuição previdenciária (de acordo com o Parecer JL-03, de 18/5/2020, da
Advocacia-Geral da União), a subavaliação do passivo da União neste caso é de
R$ 7.291.482.353,23, conforme evidenciado no Relatório de Auditoria dos Passivos Atuariais da
União, tópico 3.1.4.1, do TC 021.979-2021-9, peça 168).
Anistiados
Grande parte dos anistiados recebe benefício vitalício, decorrente de serviço prestado,
podendo inclusive instituir pensão por morte para seus dependentes, de acordo com os arts. 1º e 6º
da Lei 10.559/2002, que deixa claro se tratar de benefício pós-emprego.
Embora não tenha sido praticável estimar a subavaliação do passivo atuarial resultante
da não consideração desses benefícios, a tabela a seguir apresenta a quantidade de anistiados civis e
militares identificados, respectivamente, no Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Siape)
(mês 07/2021) e no Banco de Informações Estratégicas e Gerenciais do Ministério da Defesa – Bieg
(mês 05/2021), bem como o total da despesa no respectivo mês, o que evidencia a relevância dessa
distorção de valor, quando consideradas outras variáveis que influenciam o seu cálculo, como a
estimativa de prazo de duração dos benefícios, incluindo a possibilidade de sua manutenção
mediante pensão por morte aos dependentes.
Despesa com anistiados por grupo
Despesa mensal
Grupo Quantidade
(R$)
Anistiados civis que recebem prestação mensal –
3.756 26.294.007,76
Siape
Anistiados militares que recebem prestação 3.139 37.980.370,37
mensal – Bieg
Total 6.895 64.274.378,13
Fonte: Relatório de Auditoria dos Passivos Atuariais da União – TC 021.979/2021-9, peça 168.
5.2.1.5. R$ 1,839 bilhões de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos
a menor pela desconsideração da despesa com o auxílio invalidez
(TC 021.979/2021-9, peça 168 - Relatório de Auditoria, tópico 3.1.2.3)
O auxílio-invalidez é o direito pecuniário devido ao militar na inatividade, reformado
como inválido, por incapacidade para o serviço ativo (art. 3º, XV, da Medida Provisória 2.215-
10/2001). É destinado ao militar que necessitar de internação especializada, assistência ou cuidados
permanentes de enfermagem, incluindo tratamento na própria residência (art. 1º da Lei 11.421, de
2006). Trata-se, portanto, de benefício previdenciário.
A NBC TSP 15 - Benefícios a Empregados, item 157, estabelece que deve haver
provisão para benefícios por invalidez de longo prazo quando estes estão sujeitos ao mesmo grau de
incerteza que os benefícios pós-emprego. A mesma norma, no item 160, orienta que o custo
esperado desses benefícios deve ser reconhecido quando o evento que gera o benefício de longo
prazo por invalidez ocorrer, ou seja, deve haver provisão apenas para os benefícios já concedidos.
Todavia, o auxílio-invalidez não foi considerado na mensuração do passivo atuarial
referente às obrigações com militares inativos, pela justificativa de que não compõe a base de
cálculo da contribuição dos militares. Faltou, portanto, reconhecer a provisão para fazer face a
despesas futuras no valor de R$ 1.839.914.295,96, em relação a 8.595 beneficiários que já possuem
o referido benefício concedido.
Destaque-se que o assunto já havia sido objeto de recomendação na auditoria anterior
(item 9.1.6 do Acórdão 1.496/2021-TCU-Plenário), cuja inobservância levou a nova distorção no
exercício ora examinado. Entretanto, a SPrev corrigiu a distorção no exercício seguinte, em
16/3/2022, dessa forma permaneceu a distorção nas demonstrações do exercício de 2021.
5.2.1.6. R$ 1,006 bilhão de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos a
maior por erro de inclusão de militares com pagamento suspenso/bloqueado
(TC 021.979/2021-9, peça 168 - Relatório de Auditoria, tópico 3.1.2.4)
A SPrev não excluiu da avaliação atuarial do passivo relativo às pensões dos militares
aqueles com pagamento suspenso/bloqueado ou em fase de acerto de contas, o que ocorre, por
exemplo, no caso dos que faleceram, situação que provocou um reconhecimento a maior de
R$ 1.006.052.062,89 na Provisão para Benefícios com Militares Inativos.
A seguir são apresentados, por grupo, os quantitativos de pessoas nessa situação e o
efeito no passivo (ajustado com a correção das distorções apontadas nos tópicos 3.1.2.1 e 3.1.2.2):
Militares com pagamento suspenso/bloqueado por grupo
Quantidade
(pagamento
Superavaliação do
Grupo suspenso/bloqueado
passivo (R$)
ou em acerto de
contas
Reserva remunerada a conceder 960 359.088.305,76
Reforma por invalidez a 8.938 16.894.049,18
conceder concedidos
Benefícios 470 630.069.707,95
Total - 1.006.052.062,89
Fonte: Relatório de Auditoria dos Passivos Atuariais da União – TC 021.979/2021-9, peça 168.
31.12.2021, das saídas de materiais ocorridas nos meses de novembro e dezembro desse exercício,
conforme demonstrado na tabela a seguir.
Comparativo entre os registros do Sismat e do Siafi, exercício de 2021
Mês/2021 Total Sismat (A) Total Siafi (B) Sismat X Siafi (A - B)
jan/21 1.236.893.307,94 1.189.659.085,45 47.234.222,49
fev/21 1.018.907.706,11 1.019.689.367,76 -781.661,65
mar/21 2.903.521.991,62 2.902.489.788,47 -.032.203,15
abr/21 1.877.496.681,69 1.878.015.341,84 -518.660,15
mai/21 2.371.271.206,42 2.371.848.426,42 -577.220,00
jun/21 2.844.200.627,70 2.833.690.072,36 -10.510.555,34
jul/21 2.916.739.052,94 2.918.702.444,14 -1.963.391,20
ago/21 3.879.281.709,83 3.971.755.896,04 -92.474.186,21
set/21 5.104.989.477,86 5.113.998.692,67 -9.009.214,81
out/21 2.421.892.700,55 2.421.892.700,55 -
nov/21 3.153.025.412,09 - 3.153.025.412,09
dez/21 3.125.140.161,91 - 3.125.140.161,91
TOTAL 32.853.360.036,66 26.621.741.815,70 6.231.618.220,96
Fonte: Relatório de Avaliação SFC/CGU nº 1016345, item 2.1.1.
5.2.1.8. R$ 5,472 bilhões de créditos da Dívida Ativa Tributária extintos, porém mantidos
no ativo não circulante
(TC 037.612/2021-2, peça 251 - Relatório de Auditoria, itens 64 a 77)
O Sistema de Cadastro Integrado da Dívida Ativa da União (sistema SIDA) tem
registrado a extinção de créditos por pagamentos ou compensações de Certidões de Dívida Ativa
(CDA) sem que ocorra tempestivamente a baixa contábil correspondente no sistema Siafi,
acarretando lançamentos contábeis defasados em relação aos períodos a que os fatos se referem. Tal
situação provocou a manutenção no ativo não circulante de créditos extintos da dívida ativa
tributária, no valor de R$ 5.472.808.411,24.
A defasagem temporal na baixa do direito a receber após amortização da dívida tem
ocorrido no prazo médio de seis meses, podendo chegar a nove meses. Com isso, no encerramento
do exercício de 2020, havia o valor acumulado de R$ 2.173.381.161,47, cuja baixa contábil só viria
a ocorrer no exercício de 2021. Em relação ao encerramento do exercício de 2021, o valor dos
pagamentos ocorridos entre os meses de julho e dezembro de 2021, não registrados no sistema Siafi
e cuja baixa contábil deverá ocorrer apenas no exercício de 2022, o valor apurado na auditoria anual
de contas da Receita e dos Créditos Tributários é de ao menos R$ 5,473 bilhões. Cabe destacar que
na amostra foram desconsiderados os valores inferiores a R$ 1.000.000 (um milhão).
A prática contraria o disposto no item 2, letra b, p. 23 do MCASP, 8ª ed., segundo o
qual variações patrimoniais aumentativas e diminutivas devem ser reconhecidas nos períodos a que
se referem, sejam elas dependentes ou independentes da execução orçamentária.
No relatório de auditoria constante do TC 037.612/2021-2, a unidade técnica formulou
proposta de ciência da impropriedade ao Ministério da Economia e à Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional.
Empréstimos a Estados
Para calcular essas perdas estimadas dos contratos de refinanciamento regidos pela
Lei 9.496/1997 (Empréstimos aos Estados da Federação), a Coordenação-Geral de Haveres
Financeiros da União da Secretaria do Tesouro Nacional (COAFI/STN) adota uma metodologia
denominada CAPAG-Plus, que se baseia na avaliação da capacidade de pagamento do devedor e
contempla, em resumo, a lógica de avaliação do risco do crédito a partir de uma visão da situação
fiscal atual, acrescidas de premissas relacionadas aos atrasos no pagamento e a pendências jurídicas
com suspensão de pagamento.
As normas de contabilidade não prescrevem um modelo mecanicista ou automático de
calcular perdas estimadas, pois, cada entidade deve avaliar seu modelo de negócio e o seu contexto
jurídico, a natureza de seus créditos, a situação de adimplência e as garantias recebidas dos
devedores, a conjuntura econômica do momento em que a estimativa está sendo efetuada, bem
como uma análise jurídica das ações judiciais envolvendo os créditos concedidos para avaliar seu
maior ou menor risco de perda, sua abrangência em relação ao crédito, se parcial ou total, e, por
fim, sua magnitude expressa em valores.
Na situação em análise, é importante destacar que os devedores da União, regidos pela
Lei 9.496/1997, são pessoas jurídicas de direito público (os Estados da Federação), que não estão
sujeitos à falência e, em sua maioria, não possuem histórico de atrasos em relação aos pagamentos.
Há ainda aqueles entes subnacionais, com pendência jurídicas, que têm a pretensão de aderir ao
Regime de Recuperação Fiscal ou já estão inseridos nele – casos do Rio de Janeiro e, recentemente,
de Goiás –, sendo importante anotar que a inclusão no referido regime tem como prerrogativa a
redução extraordinária da prestação mensal da dívida com a União, que ocorre em caráter
temporário, ou seja, não definitivo.
Além disso, há a previsão constitucional de que “a União não intervirá nos Estados nem
no Distrito Federal, exceto para reorganizar as finanças da unidade da Federação que suspender o
pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior”
(art. 34, inciso V, alínea a, da Constituição Federal, de 1988):
Não obstante esse contexto, a perda estimada pela metodologia CAPAG-Plus, adotada
pela COAFI/STN, é de 100% dos empréstimos concedidos aos cinco primeiros Estados listados na
tabela acima, cerca de R$ 261,989 bilhões, o que equivale a 46,75% de todo o saldo devedor de
todos os 24 Estados mais o Distrito Federal que têm saldos de empréstimos concedidos pela União
em aberto, na data de 31/12/2021.
A metodologia CAPAG-Plus da COAFI/STN incorpora regras complexas e ainda está
em desenvolvimento, conforme reconhece o gestor. O reconhecimento contábil envolve a avaliação
da incerteza relacionada à existência e à mensuração do item, o que é às vezes complexo,
certamente. Contudo, considerando o contexto descrito, não se revela razoável a premissa que leva
ao reconhecimento de perda de 100% dos créditos dessa natureza.
Conclui-se, portanto, que o reconhecimento do Ajuste para Perdas de Empréstimos e
Financiamentos Concedidos (código Siafi 121149904) não reflete adequadamente as perdas
esperadas para os empréstimos aos Estados da Federação e, apesar de não ser praticável a
quantificação dos efeitos financeiros da distorção no âmbito dessa auditoria das Demonstrações
Consolidadas da União, trata-se de distorção relevante nas referidas demonstrações, conforme
evidenciado pelo contexto e pelos dados apresentados.
Instado a manifestar-se sobre o assunto o gestor afirmou que uma “questão a ser
discutida é quanto à efetividade da aplicação da regra de ajuste de perdas de 100% do saldo devedor
(...), essa regra pode estar impactando de forma exagerada o volume previsto de ajuste de perdas.
No caso, serão necessários estudos adicionais a respeito da implementação de regras para tais
condições específicas.” Afirmou ainda que os “modelos de ajuste de perdas (...) apresentam
vantagens e desvantagens para a COAFI/STN, face ao regramento vigente, por incorporar conceitos
De acordo com o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP), a conta contábil
Atualização Monetária Positiva (código Siafi 443940101) registra a variação patrimonial
aumentativa proveniente de variações da nossa própria moeda em relação aos índices ou
coeficientes aplicáveis por dispositivo legal ou contratual e a variação do valor da nossa moeda em
relação às moedas estrangeiras referentes a empréstimos internos concedidos.
Contudo, foram realizados doze lançamentos na referida conta, perfazendo o montante
de R$ 7.141.273.607,12, que não se referem a variações monetárias ativas, mas sim a
reclassificação de juros, equalização de encargos financeiros e de alongamento de dívidas,
incorporações de penalidades contratuais entre outros acertos de saldos relacionados a contratos de
refinanciamento.
A administração reconheceu a classificação em desacordo com o PCASP 2021 e
informou que as rotinas de lançamento serão revistas para devida adequação ao longo do exercício
de 2022. A recomendação formulada no relatório de auditoria do TC 032.722/2021-4 será
monitorada na próxima auditoria de contas anuais dos Haveres Financeiros da União.
5.3. Opinião de Auditoria sobre o Balanço Geral da União
Opinião com ressalva
Examinamos, ao amparo das competências estabelecidas no art. 71, inciso I, da
Constituição Federal de 1988, e nos termos do art. 1º, inciso III, e do art. 36, parágrafo único, da Lei
8.443, de 16/7/1992, as Demonstrações Contábeis Consolidadas da União, comumente conhecidas
como Balanço Geral da União (BGU), compreendendo o Balanço Patrimonial (BP) e Orçamentário
(BO) de 31 de dezembro de 2021 e a Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP) para o
exercício findo nessa data, bem como as correspondentes notas explicativas, incluindo o resumo das
principais políticas contábeis.
Em nossa opinião, exceto pelos assuntos descritos na seção a seguir “Base para opinião
com ressalva”, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os
aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira em 31 de dezembro de 2021 e a execução
orçamentária da União do exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas
no Brasil aplicadas ao setor público.
Base para opinião com ressalva
Foram identificadas distorções de valor e de classificação contábil, cujos efeitos nas
demonstrações contábeis são relevantes, tomados individualmente ou em conjunto, mas não
generalizados, conforme apresentadas a seguir:
Distorções de valor
1.1 R$ 100,564 bilhões de provisão para pagamento de benefícios previdenciários
reconhecida a maior, tornando superavaliados o saldo da conta Provisões e o Passivo Exigível e
subavaliando o Resultado Patrimonial do período em 16,28% (itens 5.2.1.1 e 5.2.1.6 do Relatório
das Contas de Governo);
1.2 R$ 24,525 bilhões de provisão para pagamento de benefícios previdenciários
reconhecida a menor, tornando subavaliados o saldo da conta Provisões e o Passivo Exigível e
superavaliando o Resultado Patrimonial do período em 3,97% (itens 5.2.1.2, 5.2.1.3, 5.2.1.4 e
5.2.1.5 do Relatório das Contas de Governo);
1.3 R$ 6,231 bilhões de medicamentos e insumos estratégicos distribuídos, mas
não baixados do estoque, tornando superavaliado o saldo da conta em 16,41% (item 5.2.1.7 do
Relatório das Contas de Governo);
1.4 R$ 5,472 bilhões de créditos da Dívida Ativa Tributária extintos, porém
mantidos no ativo não circulante, tornando superavaliado o saldo da conta Dívida Ativa em 0,44%
(item 5.2.1.8 do Relatório das Contas de Governo);
curso nos Ministérios da Economia e da Saúde, independentemente do estágio das tratativas desses
órgãos com o MPF.
O Ministério da Economia também informou que foram editadas a Portaria SEGES/ME
13.405, de 1º/12/2021, e a Portaria Interministerial ME/CGU/MCTI/MEC 14.213, de 15/12/2021.
Tais normativos, respectivamente, obrigam a operacionalização, por meio da Plataforma +Brasil,
dos Termos de Execução Descentralizada (TED) e dos convênios das áreas de educação, ciência,
tecnologia e inovação (ECTI). Essa regulamentação, todavia, não alcança a maioria das
transferências realizadas pelo MEC por meio de transferências obrigatórias de recursos de natureza
federal e até mesmo as transferências voluntárias.
Quanto à declaração do Ministério da Economia, impende fazer um parêntese para
observar que o convênio apenas constitui um dos instrumentos do rol previsto no art. 71, inciso VI,
da Constituição Federal para formalizar as transferências voluntárias da União aos entes
subnacionais. Essa assertiva encontra respaldo na regulamentação expressa no art. 18 da Lei
Complementar 141/2012.
Esse registro é importante porque a expressão ‘transferência voluntária’ alcança
diversos repasses realizados pelo MEC, a exemplo dos programas nacionais de alimentação,
transporte, livro, banda larga, informática, caminho da escola, dinheiro direto na escola, dentre
outros. Ou seja, o instrumento convênio não alcança a maior parte dos programas na área de
educação, que adota sistemática análoga ao repasse fundo a fundo. Cite-se o Acórdão 3.061/2019-
TCU-Plenário (rel. Min. Ana Arraes), que reitera a jurisprudência desta Corte de Contas no sentido
de que os repasses realizados no bojo de vários programas de educação do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia federal responsável pela condução dos
programas mencionados, integram o gênero transferência voluntária da União, independentemente
do instrumento adotado para formalizar a sua operacionalização, que alcança, inclusive, práticas
assemelhadas ao repasse fundo a fundo, que dispensa o termo de convênio e formas congêneres.
Nesse sentido, a regulamentação prevista na Portaria Interministerial
ME/CGU/MCTI/MEC 14.213, de 15/12/2021, adota termo restritivo (convênio) para exigir a
obrigatoriedade de declaração, na Plataforma +Brasil, da aplicação dos repasses de natureza federal
aos entes subnacionais nas áreas de educação, ciência e tecnologia e inovação, sem razão para a
União dispensar tratamento diferenciado às demais transferências voluntárias realizadas pelo FNDE
por instrumento análogo à sistemática fundo a fundo.
Ressalte-se que o art. 1º da Instrução Normativa-Seges 206/2019 regulamenta uma série
de procedimentos para os entes subnacionais adotarem quando da aplicação de recursos de natureza
federal repassados por meio de transferência voluntária. Tais procedimentos exigem a utilização
obrigatória da modalidade de pregão, na forma eletrônica, ou a dispensa eletrônica para aplicação
dos referidos recursos, observadas as regras previstas no Decreto 10.024/2019, que dispõe sobre
plataforma digital centralizada mantida pelo Ministério da Economia.
Em 2021, a Emenda Constitucional 109 alterou a Constituição para exigir que os órgãos
e entidades da administração pública, individual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das
políticas públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados alcançados, na
forma da lei (art. 37, § 16). Passou a exigir, ainda, que o PPA, a LDO e a LOA devem observar, no
que couber, os resultados do monitoramento e da avaliação das políticas públicas previstos no § 16
do art. 37 desta Constituição. Soma-se a isso previsão do art. 163-A da Constituição Federal, com
redação dada pela EC 108/2020, que impõe o dever a todos os entes de disponibilizar suas
informações e dados contábeis, orçamentários e fiscais, de forma a garantir a rastreabilidade, a
comparabilidade e a publicidade dos dados coletados, os quais deverão ser divulgados em meio
eletrônico de amplo acesso público.
Nessa esteira, o art. 17 da LDO 2021 estabelece que a alocação de recursos do
orçamento da União deve “propiciar o controle dos valores transferidos” e dos custos (inciso II), de
‘Plano Interno’. Por meio desse normativo foi incluído plano interno específico para apuração de
recursos aplicados no Semiárido em irrigação.
A análise empreendida na seção 4.1.1.7 considera irregular a ausência, em 2021, de
aplicação de qualquer valor em projeto de irrigação na Região Centro-Oeste, em afronta à exigência
constitucional. Também foi constatada a ausência de informação pormenorizada no Siop que
possibilite a identificação, por meio sistematizado, das ações que integram os projetos de irrigação
no semiárido e as destinadas à agricultura familiar nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste, com a
finalidade de conferir transparência quanto ao cumprimento das subvinculações constitucionais.
Tais constatações ensejam a expedição de novas recomendações e alerta em substituição à
Recomendação 3.9 objeto deste monitoramento.
Conclusão
Deliberação não implementada. Entretanto, não há que se seguir com o presente
monitoramento, porque a matéria é tratada nos termos da análise da seção 4.1.1.7 deste relatório.
6.1.10. Deliberação original: CG2020 – 3.10
Ao Poder Executivo federal e aos órgãos componentes do Comitê Internacional de
Governança (CIG) que aperfeiçoem o processo de definição das prioridades e metas da
administração pública federal, em conformidade com o disposto no § 2º do art. 165 da Constituição
Federal e com as diretrizes, objetivos e metas estabelecidos pela Lei 13.971/2019 (Lei do PPA
2020-2023), conforme arts. 3º, incisos III e V, 4º, inciso III, 5º e 9º-A do Decreto 9.203/2017.
(seção 4.1.3)
Análise
Em relação às providências adotadas em atendimento à presente Recomendação, merece
registro a Nota Técnica 1.596/2022/ME, elaborada pelo Ministério da Economia e inserida no
Sistema e-Aud (código e-Aud 1014206).
No documento, o órgão apresenta medidas voltadas para o aprimoramento do processo
de definição das prioridades e metas na elaboração do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias –
PLDO. O Ministério da Economia também destacou que as prioridades e as metas da administração
pública federal para o exercício de 2022 encontram-se definidas nos investimentos plurianuais em
andamento, previstos no Anexo III do PPA 2020-2023 (inciso III do art. 5º da Lei 13.971/2019).
Ressalte-se que a referida remissão do PLDO-2022 à Lei 13.971/2019 sofre alterações
no âmbito do Poder Legislativo, conforme pontuou a Controladoria-Geral da União (CGU) em
manifestação inserida no Sistema e-Aud, em 18/1/2022.
O Anexo III do PPA 2020 – 2023 referenciado no PLDO – 2022, como já apontado, é
estabelecido pelo art. 5º da Lei 13.971/2019, sendo composto por investimentos plurianuais
prioritários que impactam programas finalísticos em mais de um exercício financeiro, definidos
entre as ações do tipo projeto dos programas finalísticos integrantes dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social, exceto os investimentos relacionados exclusivamente às transferências da União
aos entes subnacionais.
Cumpre destacar que o aludido Anexo III possui investimentos plurianuais prioritários
definidos pelo Poder Executivo federal (Seção I) e pelo Poder Legislativo federal (Seção II). Neste
último caso, por meio de emendas parlamentares, observadas determinadas condições previstas no
art. 166 da Constituição Federal.
No que se refere aos investimentos plurianuais prioritários definidos no âmbito do Poder
Executivo federal, são monitorados pelo Ministério da Economia e as informações de cada um deles
encontram-se disponíveis no endereço eletrônico: relatório-de-investimentos-prioritarios-do-ppa-
2020-2023 (www.gov.br).
em seu sítio eletrônico, após o recebimento das informações dos recursos destinados às emendas
parlamentares.
Nesse sentido, cumpre trazer à colação o art. 3º do Decreto 10.888/2021, que disciplina
como as informações de recursos decorrentes de emendas devem ocorrer:
Art. 3º No âmbito da execução das emendas de relator-geral do projeto de lei orçamentária
anual, o Ministro de Estado titular da pasta competente poderá solicitar informações adicionais
ao autor da emenda quanto ao detalhamento da dotação orçamentária.
§ 1º As informações de que trata o caput não vinculam a execução das programações.
§ 2º As comunicações destinadas à obtenção e à prestação das informações de que trata o caput
e o conteúdo das informações prestadas serão:
I - organizados de acordo com as programações orçamentárias correspondentes; e
II - divulgados nos sítios eletrônicos de livre acesso dos respectivos Ministérios, na forma do
disposto no art. 8º da Lei nº 12.527, de 2011: a) até o décimo dia do mês subsequente, para as
comunicações realizadas após a publicação deste Decreto; e b) até noventa dias, contados da
publicação deste Decreto, para as comunicações referentes aos exercícios de 2020 e 2021
realizadas em data anterior à da publicação deste Decreto.
§ 3º Os Ministérios deverão registrar as informações adicionais de que trata o caput no campo
descritivo do programa na Plataforma +Brasil, prevista no Decreto nº 10.035, 2019.
§ 4º Excepcionalmente, para as transferências de recursos não operacionalizadas na
Plataforma +Brasil, o registro das informações adicionais de que trata o caput deverá ser
efetuado em sistema próprio do órgão repassador dos recursos, observadas as disposições
deste Decreto e as demais normas aplicáveis.
§ 5º O Ministério da Economia divulgará, em seu sítio eletrônico, a lista dos endereços dos
sítios eletrônicos dos Ministérios que conterão as informações adicionais de que trata o caput.
(destaques acrescidos)
O Decreto em questão elege a Plataforma +Brasil a título de “plataforma eletrônica
centralizada mantida pelo órgão central do Sistema de Planejamento e Orçamento Federal previsto
nos arts. 3º e 4º da Lei 10.180/2001”. A referida plataforma, diferentemente do Siop mantido pela
SOF, visa ao monitoramento, à avaliação e à prestação de contas de repasses da União para os entes
subnacionais e transferências para entidades privadas do terceiro setor, em substituição ao Sistema
de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Siconv). Não se reveste, contudo, das
funcionalidades do Siop para subsidiar o acompanhamento da execução orçamentária da União com
a periodicidade prevista na legislação e a racionalidade que esse tipo de acompanhamento exige.
Várias transferências para as áreas de saúde, educação e assistência social, por exemplo,
ainda não são operacionalizadas na Plataforma +Brasil, de forma que a previsão do § 4º do art. 3º
do Decreto em questão mantém a possibilidade de pulverização da informação em várias páginas
dos Ministérios e entidades federais, o que dificulta a rastreabilidade, a comparabilidade e a
divulgação da informação, que deve privilegiar a fácil compreensão pelos cidadãos.
A título de ilustração acerca da alocação das emendas RP 9, foram empenhados R$ 7,6
bilhões na função saúde e R$ 523 milhões na função educação, sem que a integralidade desses
repasses aos entes subnacionais fosse declarada na Plataforma +Brasil. Frise-se que a maior parte
das emendas RP 9 foi aplicada mediante transferências aos municípios (R$ 13,2 bilhões, o que
representa 79% dos empenhos) e aos estados e Distrito Federal (R$ 1,3 bilhão, correspondente a
pouco mais de 8%).
Por outro lado, deve-se ressaltar que a iniciativa regulamentada pelo Decreto limita-se à
operacionalização do fluxo de informação entre os Poderes Legislativo e Executivo, o que não
garante a transparência dos critérios adotados por ocasião das escolhas alocativas das emendas de
De início, o Banco Central do Brasil registrou que foram realizadas diversas reuniões e
discussões técnicas com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), sem chegar a um consenso, tendo
em vista entendimentos divergentes no que tange à obrigatoriedade e à necessidade de integração
das informações do Proagro e do Faspe ao Balanço Geral da União. Em relação ao Faspe, por
exemplo, diante da divergência entre STN e BCB, foi inserida na discussão a PGFN com intuito de
buscar assessoramento e consultoria do órgão jurídico. Os técnicos de ambos os órgãos aguardam o
referido pronunciamento do órgão de assessoramento jurídico. Diante da complexidade do tema, foi
solicitado pelos gestores, a partir do E-AUD, sistema de monitoramento da CGU, prorrogação do
prazo para cumprimento desta deliberação para 30/6/2022. Dada a fase de discussão que ainda
permeia o tema, o presente item precisa permanecer em monitoramento.
Conclusão
Deliberação em implementação. Monitorar no ano seguinte.
6.1.15. Deliberação original: CG2020 – 3.15
À Casa Civil da Presidência da República e ao Banco Central do Brasil:
a. registrar no Siafi, em unidade vinculada ao OFSS, todos os créditos inscritos em
dívida ativa (incluindo os parcelados) que não sejam relacionados ao Orçamento de Autoridade
Monetária;
b. instituir metodologia para o cálculo de ajuste para perdas relacionado aos créditos
inscritos em dívida ativa, que considere, minimamente, b.1) o fluxo de recebimento (valores,
duração dos pagamentos, tempo da cobrança, etc.), as perspectivas de sucesso das cobranças, a
situação do devedor, a existência de garantias e a inadimplência, procedendo à revisão dos valores
contabilizados; e b.2) controle das ações judiciais relacionadas aos créditos inscritos em dívida
ativa, para permitir a obtenção de informações sobre todas as ações relacionadas a um crédito, bem
como os impactos sobre a sua recuperabilidade;
c. avaliar a conveniência e oportunidade de implementar atualizações no BCJUR2, a fim
de reduzir a necessidade de cálculos e controles manuais, ponderando os riscos para a unidade; e
d. revisar e implementar a metodologia adotada pela Procuradoria-Geral do Banco
Central para avaliação da recuperabilidade dos créditos inscritos em dívida ativa e aplicá-la sobre
todo o estoque. (seção 5.4.1)
Análise
Em relação ao item “a”, a unidade gestora solicitou a prorrogação do prazo até
31/12/2022, com a justificativa de que decisões relativas à segregação de ativos, passivos, receitas e
despesas entre Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) e Orçamento da Autoridade
Monetária (OAM) dependem de decisão do TCU, em processo ainda sem data prevista de
julgamento. Sendo assim, sugere-se manter o presente item em monitoramento.
Para o item “b.1”, considerando a mesma justificativa apresentada para o item “a”, a
Unidade gestora solicitou a prorrogação do prazo até 31/12/2022, exigindo que se mantenha o item
em monitoramento.
No caso do item “b.2”, conforme relatado no arquivo "Informações e Despacho nº
37083/2021-BCB/PGBC", a Unidade gestora demandou alteração em seu sistema para incluir
campo específico para vinculação entre os processos judiciais nos quais o Banco Central do Brasil
(Bacen) conste no polo passivo e os respectivos créditos questionados. Além disso, solicitou a
inclusão desse tipo de análise diretamente no fluxo de trabalho de entrada de processos judiciais
contido no sistema. Informa que, quando da entrada de novos processos, o procurador será
provocado a analisar se a ação judicial tem relação com crédito do Bacen. Contudo, em virtude das
inúmeras demandas de ajuste do sistema, não foi possível implementar ainda a modificação, com
previsão para 30/6/2022. Tal iniciativa torna o item passível de ser considerado como em
atendimento.
Em relação ao item “c”, a proposta inicial da CGU foi no sentido de recomendar a
conveniência e oportunidade de se implementar atualizações no BCJUR2. O Bacen alegou que,
considerando o insignificante risco de quitação de créditos por valor incorreto ou de informação
materialmente divergente nas demonstrações contábeis, a relação custo-benefício não compensaria
a implementação de mudanças no sistema BC-JUR2. Vislumbrou-se ainda que atualizações no
sistema que tentem englobar todos os casos de ressalva podem elevar, além do custo de manutenção
do sistema, o risco de erros no BCJUR2, uma vez que os parâmetros que precisariam ser alterados
envolvem questões estruturais relacionadas à forma como funcionam os cálculos realizados pelo
sistema. Dado que não houve contestação da CGU em relação aos argumentos apresentados pelo
BCB quanto a conveniência e oportunidade, o item pode ser considerado como atendido.
No caso do item “d”, conforme relatado no arquivo "Informações e Despacho nº
37417/2021-BCB/PGBC", a Unidade gestora ratificou que a metodologia atual foi desenvolvida
com vistas, tão somente, a orientar a atuação da PGBC, no sentido de dirigir mais esforços aos
créditos em que há maior probabilidade de recuperação. Nessa linha, entende-se que a metodologia
atual é apropriada.
A Unidade informou que foram feitos acompanhamentos e cobranças ao longo do
exercício de 2021, a fim de que os registros fossem saneados, no tocante aos créditos inscritos há
mais de dois anos, excluídos os de pequeno valor. Com essas medidas, conseguiu que todos os
créditos considerados pendentes tivessem o grau de recuperabilidade devidamente marcado.
Adicionalmente, como forma de acompanhamento contínuo, informou que será
desenvolvido relatório automático que indique periodicamente aos setores responsáveis os créditos
passíveis de classificação. Sendo assim, dada a intenção de automatização de parte da metodologia,
o item pode ser considerado como em atendimento.
Conclusão
Deliberações dos itens “a”, “b” e “d” em implementação. Deliberação do item “c”
implementada. Monitorar os itens “a”, “b” e “d” no ano seguinte.
6.1.16. Deliberação original: CG2020 – 3.16
À Casa Civil da Presidência da República e à Fundação Nacional do índio (Funai) que:
a. regularizem o cadastro da reserva RIP 21000045007 (Terra indígena Uru Eu Wau, em
Costa Marques-RO), conciliando as informações do SPIUNet e do Siafi;
b. cancelem o RIP 9031000025002 (Terra indígena Umutina, em Barão de
MelgaçoMT), tendo em vista se tratar de erro de cadastro que gera distorções no valor contábil dos
bens imóveis;
c. promovam o registro, no SPIUNet, das Terras Indígenas Kulina do Médio Juruá,
Paumari do Lago Marissuã, Rio Biá, Morro Branco, Tereza Cristina e Mangueirinha e Xapecó no
Sistema Indigenista de Informações, referentes a suas áreas, atentando para a correção de
informações;
d. aprimorem os critérios de reavaliação das terras indígenas, definindo e formalizando
os parâmetros e variáveis a serem adotados;
Com relação ao item “c”, considerando que a Administradora do FCVS informou ter
procedido o registro no Sistema de Acompanhamento das Habilitações (Siaha) da opção pela
novação para as matrículas que não tenham a manifestação registrada no sistema e que reprocessou
os contratos com taxa de juros Novação para os AF que tenham o Termo de Opção pela Novação
registrado na forma da ação anterior, entende-se que o item foi atendido. O gestor do fundo
observou ainda que o problema estava restrito apenas à matrícula do agente financeiro 53171.
O item “d” foi dividido em quatro subpartes, todas elas também são impactadas pela
definição de uma nova rotina contábil e pela discussão sobre fato gerador. Como essas atividades
foram objeto de pedido de prorrogação por parte dos gestores do fundo para maio de 2022, o
presente item e suas subdivisões permanecem em monitoramento.
O item “f” foi divido em duas partes, tratando ambas de necessidade atualização
normativa. A manifestação da administradora do FCVS foi de que tal atualização do normativo
interno (NS 173) foi realizada pela GECTC, sendo, portanto, o item passível de ser declarado
como atendido.
Conclusão
Deliberações dos itens “a”, “b” e “d” em implementação. Deliberações dos itens “c” e
“f” implementadas. Monitorar os itens “a”, “b” e “d” no ano seguinte.
6.1.18. Deliberação original: CG2020 – 3.18
À Casa Civil da Presidência da República e ao Instituto Nacional do Seguro Social que:
a. realizem inventário dos passivos de curto prazo relativos à folha de pagamento de
seus servidores e pensionistas, bem como adotem as providências necessárias à regularização dos
valores pendentes de pagamento; e
b. em articulação com a Secretaria do Tesouro Nacional, adotem as providências
necessárias à baixa dos valores de R$ 7.601,56 e R$ 4.286.374,32, da subconta 2.1.1.3.1.01.00 –
“Benefícios Assistenciais a Pagar”, uma vez que não se coadunam ao conceito de passivo. (seção
5.4.4)
Análise
Os itens “a” e “b” tratam da regularização de passivos referentes à folha de pagamento.
A recomendação contida em ambos pode ser considerada como atendida, considerando a
manifestação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que informou que os valores devidos
foram baixados pela UG 512001 após conciliação, em conformidade com orientação da STN.
Os documentos contábeis utilizados na regularização foram listados na própria PCPR
2021. O INSS relatou ainda que o valor de R$ 2,23 mil não era devido e se referia à despesa de
exercício anterior, portanto, foi baixado. Ademais, os valores de R$ 7.601,56 e R$ 4.286.374,32, da
subconta 2.1.1.3.1.01.00 – “Benefícios Assistenciais a Pagar”, também foram devidamente
baixados após tratativas e orientação da STN. Os respectivos documentos de baixas foram também
relacionados na PCPR 2021. Sendo assim, o item em análise pode ser considerado como
atendido.
Conclusão
Deliberações dos itens “a” e “b” implementadas. Não monitorar no ano seguinte.
6.1.19. Deliberação original: CG2020 – 3.19
À Casa Civil da Presidência da República, à Fundação Nacional de Assistência Social e
ao Instituto Nacional do Seguro Social, a adoção de medidas para aprimoramento dos controles
internos administrativos relacionados à gestão de transferências realizadas por Termos de Execução
Alertas
6.1.21. Deliberação original: CG2020 – 4.2
Alertar o Poder Executivo federal, com fulcro no art. 59, § 1º, inciso II, da Lei
Complementar 101/2000 (LRF), c/c os arts. 1º, inciso II, alínea “b”, e 7º, da Resolução-TCU
142/2001, que, não obstante os efeitos da pandemia de Covid-19 e as disposições da Lei
Complementar 173/2020 e do inciso I do art. 65 da LRF, o montante das despesas com pessoal
desse Poder no 3º quadrimestre de 2020 (R$ 227,9 bilhões), correspondente a 34,955% da RCL no
período, ultrapassou 90% do limite de que trata o art. 20, inciso I, alínea “c”, da LRF. (seção
4.1.2.4)
Análise
A Casa Civil da Presidência da República informou que realiza tratativas e
interlocuções com os demais órgãos envolvidos, observando as respectivas competências, com o
intuito de contribuir para o fornecimento de informações tempestivas e suficientes para atendimento
das recomendações e observância dos alertas expedidos pelo TCU.
A Secretaria do Tesouro Nacional informou, por sua vez, estar ciente de que o montante
das despesas com pessoal do Poder Executivo no 3º quadrimestre de 2020 ultrapassou 90% do
limite de que trata o art. 20, inciso I, alínea “c”, da LRF. Registrou, todavia, que as despesas com
pessoal do Poder Executivo no 2º quadrimestre de 2021 alcançaram R$ 236,5 bilhões,
correspondente a 25,198% da RCL no período, portanto, dentro de 90% do limite de que trata o art.
20, inciso I, alínea “c”, da LRF (34,110%).
Em tempo, registra-se que, no período de janeiro a dezembro de 2021, o montante da
despesa líquida com pessoal do Poder Executivo federal alcançou R$ 231,3 bilhões, o que
corresponde a 21,775% da RCL apurada para o mesmo período, podendo-se considerar que a
situação ensejadora do alerta emitido pelo TCU em 2020 não mais subsiste.
Conclusão
Entende-se que o alerta foi observado, dispensando-se novo monitoramento.
6.2. Recomendações e Alertas sobre as Contas do Presidente da República de
2019
Recomendações
6.2.1. Deliberação original: CG2019 – 3.6
Ao Poder Executivo Federal que realize levantamento, juntamente com os ministérios
setoriais, de todos os restos a pagar não processados relativos a transferências voluntárias liquidados
integralmente em 2019 em desacordo com a Nota Técnica 7/2018/CCONT/SUCON/STN-MF, de
22/3/2018, e oriente cada órgão, quando ainda for viável, sobre o cancelamento das liquidações
irregulares, bem como o consequente cancelamento dos restos a pagar não processados. (seção
4.1.2.8.2)
Análise
A CC/PR registrou que a presente recomendação foi plenamente atendida, tendo em
vista todos os procedimentos realizados e conforme as documentações inseridas no Sistema e-Aud
(código 1011995).
Por meio da Nota Técnica 1/2022/SAAOF/SERG, a Casa Civil esclareceu que foram
realizados comunicados aos ministérios setoriais nos exercícios de 2020 e 2021, além de
levantamentos de restos a pagar emitidos em 2019 e os possíveis casos de desconformidade
(“possíveis inconsistências”) com a Nota Técnica 7/2018/CCONT/SUCON/STN-MF, de 22/3/2018.
A referida Nota Técnica, cujo entendimento foi ratificado pela Nota Técnica SEI
24401/2020/ME, de 24/6/2020, disciplinou o momento ideal para a liquidação da despesa pública
relativa a transferências voluntárias e, em decorrência, definiu o momento de reconhecimento de
obrigações devidas pela União em razão dessas transferências.
Com isso, no âmbito do Poder Executivo federal, está assente que a liquidação dessas
despesas deve ocorrer apenas quando todas as exigências para a transferência de recursos forem
integralmente satisfeitas pelo convenente. Em contrapartida, satisfeitos todos os critérios, o recurso
financeiro pactuado deve ser transferido pelos órgãos e entidades da União responsáveis pelas
transferências de recursos (parágrafo 28 Nota Técnica SEI 24401/2020/ME)
O Ministério da Economia, por meio da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e da
Secretaria de Gestão (Seges), elaborou a Nota Técnica SEI 24401/2020/ME, na qual tratou do
atendimento das recomendações 3.6 e 3.7, formuladas quando da apreciação das contas
presidenciais relativas ao exercício de 2019. Expediu orientações no sentido de que os órgãos e
entidades verificassem a viabilidade do cancelamento restos a pagar não processados com
liquidação ocorrida em 2019, nos casos em que tal procedimento não tenha observado as diretrizes
prescritas na Nota Técnica SEI 7/2018/CCOPNTSUCONSTN-MF, de 22/3/2019.
Em razão das providências adotas pelos diversos órgãos e entidades do Poder Executivo
federal, sobressaem-se aqueles em que foram identificadas situações contempladas no escopo da
presente Recomendação: Empresa Brasil de Comunicação (EBC); Ministério de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa); Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI);
Ministério da Economia (ME), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde (MS);
Ministério da Defesa (MD); Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR); Ministério do
Turismo (Mtur); e Ministério da Cidadania (MCidadania).
De acordo com os dados inseridos no Sistema e-Aud, os órgãos e entidades procederam
às devidas correções/saneamento ou apresentaram justificativas para o não cancelamento. Nesse
sentido, vale registrar os casos do Ministério da Saúde e do MEC.
O Ministério da Saúde salientou que as despesas do órgão inscritas em restos a pagar
(art. 36, da Lei 4.320/1964) são ampararas na exceção prevista no Decreto 93.872/1983,
especificamente o art. 68, § 3º, inciso I. Declarou, ainda, que procedeu aos devidos cancelamentos
de restos a pagar processados decorrentes das liquidações objeto da presente recomendação,
ressaltando que procedeu desse modo nos casos em que se verificou que tais cancelamentos não
comprometeriam a prestação de serviço de saúde à população ou se mostravam tecnicamente
viáveis (Nota Informativa 1/2021-SPO/CGOF/SPO/SE/MS, da Coordenação-Geral de Orçamento e
Finanças, da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento (SPO/SE/MS).
Conforme se verifica no Despacho da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento do
Ministério da Saúde, de 20/1/2022, em relação a despesas vinculadas à Fundação Nacional de
Saúde (Funasa), correspondentes a restos a pagar inscritos como não processados em 2019, foram
cancelados até o fim do exercício de 2021 o montante de R$ 104.603.311,70. Já os programas do
Ministério da Saúde operacionalizados por meio da Caixa Econômica Federal totalizaram
cancelamentos em 2021 no valor de R$ 18.131.541,50.
No levantamento realizado pelo Ministério da Educação, duas unidades apresentaram
justificativas para o não cumprimento da recomendação, que, no caso, seria a efetivação de
cancelamento de empenho quando verificadas desacordo com a Nota Técnica
7/2018/CCONT/SUCON/STN-MF.
A Fundação Universidade Federal do Acre (FUFAC) alegou razões de interesse público.
Ponderou que o cancelamento inviabilizaria a conclusão do objeto do convênio e, tendo em vista a
relevância da matéria (melhoria nas condições de saneamento básico) e o ‘dever público’, não foi
realizado o cancelamento da Nota de Empenho 2016NE800817 (Ofício 9/2022/Reitoria/UFAC, de
5 de janeiro de 2022).
documentação que serviu de subsídio para a tomada de decisão esteja devidamente registrada, no
que for pertinente, com os documentos produzidos pelo Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros
da Receita Federal do Brasil (Cetad), por outras áreas da Receita Federal do Brasil, pelas demais
Secretarias do ME, pelos Ministérios Setoriais, bem como pela Casa Civil da Presidência da
República. Informou-se, ainda, que a recomendação em apreço vem sendo atendida no âmbito
daquela Secretaria, com respaldo na Portaria-MF 453/2013 (regulamenta o cálculo do impacto
fiscal e o controle da renúncia de receita, nos termos do art. 14 da LRF), “mas que a edição, a
sanção e o encaminhamento das informações ao TCU são de competência de outros órgãos do
Poder Executivo”.
Por sua vez, a SOF reiterou que a matéria escapa de suas competências, sugerindo que
o tema seja discutido com a RFB e a PGFN, uma vez que esses órgãos atuam diretamente com a
administração dos tributos e suas respectivas especificidades jurídicas.
Mencionou-se também na PCPR 2021 a manifestação da Casa Civil de que todos os
atos normativos submetidos à apreciação do Presidente da República, e não apenas aqueles que
acarretam renúncia de receita, são avaliados pela Subchefia de Análise Governamental (SAG). No
caso dos atos que envolvam receitas públicas, a Subchefia mencionou que recebe e analisa as
informações fornecidas pelas pastas responsáveis, revistas e complementadas pelo ME, com foco
principal nas disposições contidas no art. 113 do ADCT, no art. 14 da LRF, bem como na LDO
vigente. Em seguida, esses atos são encaminhados para deliberação do Presidente da República e,
em caso de anuência, seguem o rito legal de publicação.
Por fim, aquela Subchefia alegou que, com base em suas competências regimentais, o
cumprimento integral da recomendação foge do seu espoco de atuação. Além disso, sugeriu que,
por trazer questões de relevância sobre o trâmite legislativo, de regulação legal e constitucional, a
presente deliberação deveria ser submetida à analise tanto da Subchefia para Assuntos Jurídicos
(SAJ) da Secretaria-Geral da Presidência da República, quanto da Advocacia-Geral da União
(AGU), no que concerne aos seus impactos jurídicos e eventuais medidas processuais cabíveis.
Com efeito, verificou-se que o Poder Executivo não encaminhou o indicado
demonstrativo comprobatório ao TCU, bem como as retromencionadas argumentações foram
insuficientes para justificar a não apresentação da documentação em apreço. Ademais, como
evidenciado no item 4.1.2.9 deste Relatório, o Poder Executivo não demonstrou o atendimento
integral das exigências constitucionais e legais para criação ou prorrogação de renúncias de receitas
tributárias durante o exercício de 2021, tanto no momento da edição e sanção dos respectivos atos
normativos, quanto da sua implementação.
Conclusão
Conclui-se que a recomendação não foi implementada, ensejando novo monitoramento
no ano seguinte.
6.2.4. Deliberação original: CG2019 – 3.11
À Casa Civil da Presidência da República, em conjunto com a Secretaria do Tesouro
Nacional, que, no prazo de até 180 dias e em consonância com o item 12.2 Provisões do Manual de
Contabilidade Aplicada ao Setor Público, itens 5.14 a 5.26 da Norma Brasileira de Contabilidade
TSP Estrutura Conceitual e, subsidiariamente, itens 4.26 a 4.47 do Pronunciamento técnico CPC 00
(R2) Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro:
a) constitua provisão para honra de garantia a operações de crédito contratadas pelos
estados do Amapá, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, bem como de
demais entes devedores que incorrerem em situação semelhante, fundada na provável necessidade
de desembolso financeiro pela União para cobertura das recorrentes e sucessivas inadimplências,
com base em estimativa de desembolso futuro para liquidar a obrigação;
Cabe salientar que o tema haveres financeiros junto a estados e a municípios e suas
respectivas contas de ajuste estão sendo tratados anualmente, inclusive, na auditoria financeira de
2021, o modelo adotado e os valores ajustados foram analisados e questionados. Dito isso, como as
distorções de 2019 e 2020 possuem relação direta com as discussões atuais sobre o tema, sugere-se
que a presente deliberação permaneça em monitoramento. A previsão é que a equipe responsável
pela auditoria financeira nesse grupo de contas faça testes específicos para avaliação de
cumprimento integral de todas as deliberações elaboradas em 2019 e 2020 já na auditoria financeira
de 2022.
Conclusão
Deliberação do item “a” em implementação. Monitorar no ano seguinte.
6.2.6. Deliberação original: CG2019 – 3.13
À Casa Civil da Presidência da República, em conjunto com a Secretaria do Tesouro
Nacional, que apresente ao Tribunal de Contas da União em até 180 dias:
a) as providências adotadas para conciliação e ajuste dos saldos de Adiantamento para
Futuro Aumento de Capital registrados no ativo da União para refletir os recebimentos dos valores
pelas empresas investidas, considerando nesse ajuste, as distorções de classificação identificadas
neste trabalho, que foram abordadas no TC 033.588/2019-8; e
b) instituição de rotina contábil e de controles internos que prevejam a averiguação
periódica dos registros de Adiantamento para Futuro Aumento de Capital realizados pelas UGs
transferidoras e que tenham reflexo contábil na UG da Copar/STN, a fim de que eventuais erros
sejam prontamente identificados e tempestivamente corrigidos, com base no inciso XI do art. 1° do
Regimento Interno da STN (Portaria-MF 285/2018). (seção 5.3.1.4)
Análise
Com relação aos itens "a" e "b", a STN informou a situação das medidas adotadas até o
final de 2021, a saber:
Com base nas planilhas enviadas pelas empresas, bem como em dados obtidos em
outras fontes, como os balanços societários, foi possível conciliar totalmente os saldos de Afac de
20 das 30 empresas/entidades que possuíam esse tipo de registro no Siafi na data-base de 31 de
dezembro de 2020.
Adicionalmente a essa conciliação, foi realizada, em 2021, a baixa dos Afac registrados
em nome das empresas: Brasil 2016 e Alcântara Cyclone Space, tendo em vista a extinção das
referidas companhias. No que tange às empresas com processo de conciliação parcialmente
concluído, a STN/ME destaca os casos da Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL),
Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. (Trensurb), Engenharia, Construções e Ferrovias
S.A. (Valec) e Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras).
Atualmente existem quatro empresas com processo de conciliação em fase inicial. São
elas: i) Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern); ii) Companhia Docas do Rio de
Janeiro (CDRJ); iii) Companhia Docas do Pará (CDP); e iv) Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (Ebserh). No caso das três primeiras, a STN recebeu informações iniciais das empresas
e do Ministério da Infraestrutura, porém ainda há divergências nesses dados, o que, aliado a
limitações de pessoal, impossibilitou o avanço nessa análise.
No caso da Ebserh, a STN informa que foi identificada uma situação peculiar, tendo em
vista que a empresa recebe recursos tanto do Ministério da Educação quanto do Ministério da
Saúde. No entanto, a rotina de transferência de Afac de empresas dependentes está desenhada
apenas para transferências originadas do Ministério Supervisor, no caso, o MEC. Por esse motivo,
todos os repasses oriundos do Ministério da Saúde são realizados em rotina diversa e não impactam
a UG da Coordenação-Geral de Participações Societárias da Secretaria do Tesouro Nacional
(Copar/STN). Foi solicitado à Ebserh que informe a relação dos aportes de Afac originados no
Ministério da Saúde.
Feitos os ajustes nos saldos de Afac da maior parte das empresas, tendo em vista que a
produção de um sistema informatizado é uma tarefa complexa, a STN/ME instituiu rotina de
contingência com vistas a fazer apuração periódica da consistência dos saldos de Afac registrados
no Siafi. Essa rotina consistiria nas seguintes etapas:
• no caso das empresas dependentes, a STN está realizando a conferência do movimento
mensal das contas de Afac (principal e atualização monetária) na UG da Copar e
comparando com as UG das empresas.
Em regra, os lançamentos de atualização monetária realizados pelas empresas
dependentes impactam diretamente a UG da Copar/STN. No caso específico da
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), foi necessário levantar todos os
lançamentos de atualização monetária realizados pela empresa e lançar o ajuste
correspondente na UG da STN; e
• no caso das empresas não-dependentes, segundo a STN, a rotina envolve o envio de
planilhas padronizadas às empresas com vistas a identificar possíveis aportes sem
reflexo na Copar, bem como ajustar o saldo de atualização monetária dos Afac.
Atualmente, está em curso o processo de conciliação das contas de Afac para a posição
de 30 de setembro de 2021. Enquanto não houver a conclusão do sistema informatizado,
essa é a medida que a STN/ME entende ser possível, considerando as limitações de
pessoal da área de registro da Copar/STN.
Conclusão
Deliberações em implementação. Monitorar no ano seguinte.
6.2.7. Deliberação original: CG2019 – 3.14
À Casa Civil da Presidência da República, em conjunto com a Secretaria do Tesouro
Nacional, que apresente ao Tribunal de Contas da União em até 180 dias:
a) as providências adotadas para conciliação de saldos e reconhecimento dos encargos
financeiros equivalentes à taxa Selic incidentes sobre os valores de Adiantamento para Futuro
Aumento de Capital transferidos pela União, nos termos do Decreto 2.673/1998, alterado pelo
Decreto 8.945/2016, inclusive para as distorções identificadas neste trabalho, que foram abordadas
no TC 033.588/2019-8; e
b) a instituição de rotina contábil e de controles internos que garanta o reconhecimento
por competência dos encargos financeiros equivalentes à taxa Selic incidentes sobre os saldos de
Adiantamento para Futuro Aumento de Capital transferidos pela União, quando aplicável, bem
assim a conferência desse processo pela Coordenação-Geral de Participações Societárias, com base
no inciso XI do art. 1º do Regimento Interno da STN (Portaria-MF 285/2018) (seção 5.3.1.5).
Análise
A STN informou que, ao final de 2021, com base nas informações encaminhadas pelas
empresas em decorrência de ofícios expedidos e de outras fontes, como os balanços societários, foi
possível conciliar totalmente os saldos de Afac de 20 empresas e parcialmente de mais quatro
empresas. Sendo assim, a rotina ainda não está automatizada. Contudo, informa também que a
Copar/STN está trabalhando em conjunto com as equipes de sistemas e de tecnologia da informação
na produção de um sistema que automatize os registros de atualização monetária incidentes sobre o
saldo de Afac.
Conclusão
Conclusão
Deliberações implementadas. Não monitorar no ano seguinte.
6.2.9. Deliberação original: CG2019 – 3.16
À Casa Civil da Presidência da República, em conjunto com a Secretaria do Tesouro
Nacional, que (Item 3.16):
a) promova as retificações necessárias para sanar as distorções identificadas nas
participações permanentes da União avaliadas pelo método da equivalência patrimonial, em
31/12/2019, bem como institua controles internos capazes de mitigar o risco de distorções
semelhantes ocorrerem novamente em exercícios futuros; (seção 5.3.1.7)
b) realize estudo técnico, com mapeamento de todos os impactos – legais, fiscais,
contábeis, orçamentários, operacionais, de custo e outros, bem como elabore plano de ação
relacionado à adoção da metodologia com base na taxa interna de retorno para reconhecimento das
despesas com serviços e com amortização da dívida, a fim de registrar com fidedignidade seus
aspectos orçamentário e patrimonial, em atendimento aos arts. 89 e 98 da Lei 4.320/1964 e ao art.
15 da Lei 10.180/2001, em consonância com o disposto nas Normas Brasileiras de Contabilidade
TSP Estrutura Conceitual e TSP 02 e, subsidiariamente, IPSAS 29, apresentando os resultados ao
Tribunal no prazo de 180 dias; (seção 5.3.2.1)
c) padronize, já para o exercício de 2020, os procedimentos contábeis de registro dos
juros e encargos negativos de empréstimos a receber, a fim de evitar que fatos semelhantes sejam
registrados em contas de naturezas e funções distintas e de forma que a Demonstração das
Variações Patrimoniais comunique ao usuário da informação contábil as variações positivas e
negativas relacionadas ao título empréstimos e financiamentos concedidos, em observância às
características qualitativas da representação fidedigna, comparabilidade e compreensibilidade, e aos
itens 8.37 e 8.45 a 8.57 previstos na NBC TSP Estrutura Conceitual; (seção 5.3.2.4)
d) (Atendido em anos anteriores)
e) (Atendido em anos anteriores)
f) aprimorem e estabeleçam normas e procedimentos contábeis para o reconhecimento
de dividendos e juros sobre capital próprio a receber e recebidos antecipadamente, bem assim
promovam as alterações necessárias na macrofunção 021123, tendo em vista os encaminhamentos
do Grupo de Trabalho Participações Societárias instituído pela Portaria-STN 702/2016 e os
apontamentos realizados na auditoria financeira do BGU 2019; e (seção 5.4.8)
g) estabeleça requisitos mínimos para a documentação e as informações contábeis
intermediárias a serem encaminhadas pelos gestores dos fundos nos quais a União possui
participação, de forma a dar o suporte documental adequado e viabilizar a verificação, pela
Secretaria do Tesouro Nacional e órgãos de controle, dos dados utilizados na aplicação do método
da equivalência patrimonial. (seção 5.4.9)
Análise
Para o assunto tratado no item “a”, em 2021, foi possível verificar que a Copar passou
a readequar a rotina contábil, de modo a registrar os dividendos/juros sobre capital próprio
diretamente na conta contábil pertinente existente no PCASP. Todavia, o investimento na Terracap,
por exemplo, permaneceu com a inconsistência já apontada em 2020. Em 2022, houve o ajuste do
saldo desse investimento.
Ainda em 2021, foram verificadas novas inconsistências na mensuração dos
investimentos avaliados pelo MEP na Codern, Ebserh e Codevasf. Os erros verificados nessas
participações derivam da utilização de demonstrações contábeis defasadas. Em 2022, os ajustes
federais. Acrescentou que a manifestação técnica sobre os aspectos orçamentários e fiscais das
propostas de atos submetidos à análise do órgão restringe-se à emissão de parecer, escapando à
governabilidade da SOF/ME o prosseguimento da publicação de atos sobre os quais tenha-se
manifestado contrariamente. Em referência à configuração de despesa obrigatória de caráter
continuado de pessoal, destaca que tal assunto vem sendo deliberado em demais procedimentos
fiscalizatórios conduzidos pelo Tribunal de Contas da União.
Com efeito, o acompanhamento objeto do TC 037.193/2020-1 foi concluído e tanto no
respectivo relatório, quanto no Acórdão 333/2022-TCU-Plenário (rel. min. Walton Alencar
Rodrigues), não há referência à criação de DOCCs sem o cumprimento das regras fiscais vigentes,
sendo, portanto, razoável considerar como observado o alerta de 2019.
Conclusão
Considera-se observado o alerta, dispensando-se novo monitoramento.
6.2.14. Deliberação original: CG2019 – 4.7
Ao Poder Executivo Federal, com fulcro no art. 59, § 1º, inciso V, da Lei
Complementar 101/2000, de que o expressivo hiato entre as projeções de obrigações com
organismos internacionais e as respectivas dotações orçamentárias representa potencial risco de
descumprimento sistemático do disposto no art. 167, inciso II, da CF/1988. (seção 4.2.2)
Análise
Quando da apreciação das Contas de 2019, verificou-se que o Poder Executivo havia
contraído obrigações junto a organismos internacionais em montante superior às respectivas
dotações, gerando passivos não lastreados por empenho, em desacordo com o disposto no art. 167,
inciso II, da Constituição Federal. Com efeito, no âmbito do processo TC 038.365/2019-7, de
relatoria do ministro Bruno Dantas e ainda em curso neste Tribunal, a Secretaria de Assuntos
Econômicos Internacionais (Sain), unidade do Ministério da Economia responsável por executar as
despesas com organismos internacionais, foi categórica ao afirmar que o reconhecimento de
Despesas de Exercícios Anteriores em 2019 derivou de insuficiência orçamentária em anos
pretéritos.
A instrução do TC 038.365/2019-7 foi concluída pela Semag em 2021, estando
pendente de apreciação pelo TCU. Na proposta encaminhada pela Semag, consta determinação ao
Ministério da Economia e à Casa Civil da Presidência da República para que, no prazo de sessenta
dias, estabeleçam plano de ação com as medidas a serem tomadas, os responsáveis por essas
medidas e os prazos para sua implementação, visando compatibilizar o montante de obrigações
anuais com organismos internacionais às dotações necessárias ao seu custeio, bem como relacionar
as ações em curso e futuras para solucionar a questão do passivo sem suporte orçamentário
existente junto aos organismos internacionais
No que tange ao aspecto orçamentário, conforme informações constantes da PCPR
2021, a execução da despesa com organismos internacionais foi significativa em 2021, alcançando
o montante pago de R$ 6,1 bilhões, cerca de quatro vezes o volume de 2020, entretanto, inferior ao
valor dos compromissos previstos para 2021 da ordem de R$ 9,67 bilhões (câmbio de
R$ 5,20/1 USD). Em razão dos esforços promovidos pelo Ministério da Economia, houve redução
do passivo de compromissos com organismos internacionais com alocação de recursos
suplementares da ordem de R$ 3,9 bilhões em 2021, reduzindo a necessidade projetada para 2022
de R$ 7,3 bilhões para R$ 5,1 bilhões.
Nesse sentido, observa-se que, apesar de a matéria estar sendo tratada no âmbito do
TC 038.365/2019-7, as providências adotadas pelo Poder Executivo vão ao encontro do propósito
do alerta ora monitorado. De fato, os compromissos do país junto a organismos internacionais
derivam de manifestação do Presidente da República e de referendo do Congresso Nacional,
implicando complexo arranjo institucional para extinção de seus efeitos tanto na esfera do Direito
Público Internacional, quanto na seara do Direito Financeiro pátrio.
Análises 28803 (SEI 11173213) e 29087 (SEI 11262316), emitidas pela Auditoria Interna do Incra,
juntados ao processo SEI 54000.190306/2019-96.
Conclusão
Deliberação implementada. Não monitorar no ano seguinte.
6.5.2. Deliberação original: CG2016 – 3.1.13
À Secretaria do Tesouro Nacional (STN), à Secretaria Especial de Agricultura Familiar
e do Desenvolvimento Agrário da Casa Civil da Presidência da República e ao Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que, em conjunto, adotem as providências necessárias
para o desenvolvimento de metodologia e o reconhecimento dos encargos incidentes sobre os
créditos oriundos de regularização fundiária, em observância à legislação aplicável e ao item 4.3.2
do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. (seção 5.3.1, iv, a)
Análise
A presente recomendação foi considerada como em atendimento no exame das contas
de 2020, sendo observado ações do Incra na promoção de solução tecnológica para reconhecimento
dos encargos incidentes sobre créditos de regularização fundiária. Para tanto, a entidade
parametrizou o sistema TDCalc com regras de negócio pertinentes, sendo possível a realização de
registros de correção monetária, juros contratuais, juros de mora e descontos para títulos emitidos
até 2018, conforme informações inseridas na PCPR 2020.
No exercício de 2021, o INCRA avançou no registro contábil de encargos nas contas de
crédito a receber curto prazo (CP) e longo prazo (LP), mas destacou que a atualização anual de
registros somente ficará completa quando as bases de dados ficarem mais robustas, por conta da
ampliação da série histórica, da automação e da compatibilização de sistemas em curso no órgão.
Plataforma de Governança Fundiária tem sido desenvolvida e possui previsão de
absorver em 2022 a ferramenta de cobrança dos títulos de domínio (TDcalc). Além disso, em
relação à integração de sistemas, o Incra tem avançado no espelhamento da base de dados do Sigef-
titulação junto ao TDcalc, proporcionando robustez aos relatórios financeiros e, por consequência,
aos registros contábeis.
Conclusão
Deliberação em implementação. Monitorar no ano seguinte.
6.5.3. Deliberação original: CG2016 – 3.1.17
Ao Incra, em conjunto com a Secretaria do Patrimônio da União e a Secretaria do
Tesouro Nacional, que avalie a forma adequada para estabelecer o valor patrimonial e realizar a
contabilização dos imóveis destinados à reforma agrária, nos termos do disposto no item 5.3.2 do
Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. (seção 5.3.1, vii)
Análise
Essa recomendação foi considerada em atendimento no monitoramento das contas de
2020. Nessa oportunidade, foi verificado esforço do Incra na realização de força tarefa para avaliar
seus imóveis com base em Planilhas de Preços Referenciais (PPR). O uso desse referencial é
considerado adequado pela STN/ME para avaliação patrimonial e contabilização dos imóveis
destinados à reforma agrária, consoante reafirmado na PCPR 2021.
Recentemente o Incra concluiu o registro de aproximadamente oito mil imóveis no
SPIUnet, tendo por base os preços referenciais levantados por meio de PPR. Nesse sentido, existe
avanço da entidade na adoção de metodologia adequada para avaliação de seus bens, deixando mais
fidedigno o registro do seu patrimônio imobilizado.
No ano de 2021 houve acréscimo de aproximadamente 4% no saldo de conta de ativos
imobilizados, com destaque para registros efetuados pela Superintendência Regional de Santarém-
ações a fim de aperfeiçoar a gestão dos imóveis funcionais da União, promovendo a publicidade e a
transparência sobre sua existência e situação nos meios oficiais.
Análise
A Controladoria-Geral da União (CGU) informou que se encontra em fase de minuta,
pendente de finalização pela Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da União
(SPU), decreto que cria o Sistema de Gestão do Patrimônio Imobiliário da Administração Pública
Federal (Sipi) e que foi editada a Portaria Interministerial ME/CGU 6.909/2021 que institui o
Regime Especial de Governança para a destinação de imóveis da União, contendo dispositivo
específico sobre o encaminhamento à CGU de dados sobre a destinação de imóveis da União. A
periodicidade será trimestral e em formato compatível com a Política de Dados Abertos do Poder
Executivo Federal (Decreto 8.777, de 11/5/2016).
Por meio da Nota Técnica SEI 61901/2021/ME, a Secretaria Especial de
Desestatização, Desinvestimento e Mercados (SEDDM) informou que está em andamento a
atividade de higienização da base de imóveis funcionais no SPIUnet.
No âmbito da Portaria Interministerial ME/CGU 6.909 de 21/6/2021, acrescentou que
vem cumprindo o envio trimestral das informações pertinentes aos imóveis funcionais e aos
permissionários sob a gestão da SPU/ME para publicação no Portal da Transparência.
A minuta do decreto que cria o Sistema de Gestão do Patrimônio Imobiliário da
Administração Pública Federal (Sipi) ainda está em fase de elaboração, em análise interna,
imprescindível para regulamentação da centralização de informações acerca dos imóveis da União.
Conclusão
Deliberação em implementação. Monitorar no ano seguinte.
6.6.5. Deliberação original: CG2015 – 1.3.14
Ao Poder Executivo Federal que adote medidas para quitar o passivo existente e
impedir o surgimento de novos débitos da União com instituições financeiras, decorrentes de tarifas
devidas pela prestação de serviços na operacionalização de políticas públicas e programas de
governo, uma vez que tais dívidas podem comprometer a boa execução dessas ações.
Análise
O Ministério da Economia informou, por meio da Nota Técnica SEI 32606/2021/ME,
de 13/7/2021, que foi retomada a discussão com a proposta de nova minuta de decreto em
substituição ao Decreto 8.535, de 1º/10/2015, haja vista o encaminhamento anterior não ter
avançado como esperado.
Segundo a Nota Técnica, pelo novo decreto, a gestão e execução orçamentária e
financeira dos contratos ficará a cargo do órgão ou entidade contratante, cujas dotações
orçamentárias serão alocadas em programações específicas no orçamento da respectiva unidade da
Administração Pública Federal gestora do contrato de prestação de serviços de instituições
financeiras, com expectativa a partir do exercício de 2022.
Entre outras mudanças, a instituição financeira ficará encarregada de comunicar ao
órgão ou entidade contratante no caso de insuficiência de recursos, cujo saldo deverá ser coberto em
cinco dias úteis. Cabe ainda à contratante a emissão de Declaração de Quitação dos Débitos,
assinada pelo respectivo ordenador de despesas ao final de cada exercício financeiro, anexando as
declarações de quitações emitidas pelas entidades financeiras contratadas e enviá-las à Comissão
Gestora de Contratos de Serviços de Instituições Financeiras (CGSEIF), que ficará à disposição da
CGU, a qual divulgará, no Portal da Transparência, informações relativas à contratação e execução
orçamentária e financeira das despesas de que trata o decreto.
7. CONCLUSÃO
O Relatório e o Parecer Prévio sobre as Contas prestadas pelo Presidente da República
apresentam ao País diagnóstico sistêmico efetuado pelo Tribunal de Contas da União sobre aspectos
relevantes da conformidade da gestão das finanças públicas federais no ano que se encerrou. É o mais
abrangente e fundamental produto do controle externo e constitui etapa máxima no processo
democrático de responsabilização e prestação de contas governamental, ao subsidiar o Congresso
Nacional e a sociedade com elementos técnicos e informações essenciais para avaliação das ações
relevantes do Poder Executivo federal na condução dos negócios do Estado. Assim, pela 87ª vez, o
TCU exerce essa solene atribuição.
Consoante a Lei 8.443/1992, as Contas incluem os balanços gerais da União e o relatório
do órgão central do sistema de controle interno do Poder Executivo sobre a execução dos orçamentos
de que trata o § 5° do art. 165 da Constituição Federal. As Contas ora analisadas se referem ao período
de 1/1 a 31/12/2021, de responsabilidade do Excelentíssimo Senhor Jair Messias Bolsonaro.
A opinião desta Corte é materializada em Parecer Prévio, emitido nos termos do art. 71,
inciso I, da Constituição Federal, que deve exprimir se tais contas representam adequadamente as
posições financeira, orçamentária, contábil e patrimonial consolidadas no encerramento do exercício,
bem como se observam os princípios constitucionais e legais que regem a administração pública
federal, com destaque para o cumprimento das normas constitucionais, legais e regulamentares na
execução dos orçamentos da União e nas demais operações realizadas com recursos públicos federais.
Embora o TCU emita Parecer Prévio apenas sobre a Prestação de Contas do Presidente da
República (PCPR), o Relatório sobre as Contas contempla informações sobre os demais Poderes e o
Ministério Público, compondo, assim, panorama abrangente da administração pública federal.
Com base no disposto no art. 228, § 2º, do Regimento Interno desta Corte, o presente
Relatório também contém informações sobre: i) o cumprimento dos programas previstos na lei
orçamentária anual quanto à legitimidade, eficiência e economicidade, bem como o atingimento de
metas e a consonância destas com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias; ii) o
reflexo da administração financeira e orçamentária no desenvolvimento econômico e social do País; e
iii) o cumprimento dos limites e parâmetros estabelecidos pela Lei Complementar 101/2000 – Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF).
Entre os objetivos do Relatório estão:
• contribuir para a transparência das ações governamentais;
• fornecer panorama do cenário econômico e das ações macroeconômicas
governamentais no exercício em exame;
• analisar a atuação setorial, com ênfase na confiabilidade das informações de
desempenho das ações governamentais;
• fundamentar a opinião sobre a conformidade do orçamento e da gestão fiscal,
aspectos estruturantes da atuação do governo;
• fundamentar a opinião sobre as demonstrações contábeis consolidadas da União, com
vistas a ampliar a credibilidade dessas informações financeiras; e
• monitorar as deliberações constantes dos pareceres prévios de exercícios anteriores.
Em complemento, no exercício de 2021, ainda foram adotadas diferentes medidas visando
ao combate à pandemia e a seus efeitos. Com efeito, a exemplo do que ocorreu no ano de 2020, foram
promovidas alterações constitucionais e legais, bem como foram autorizadas despesas especificamente
destinadas ao enfrentamento da Covid-19. Nesse rumo, o presente relatório ainda apresenta os
impactos fiscais dessas medidas nas contas do ente federal.
448
449
8 6,41 6,29
6 4,52
4,31
5,84 5,91 3,75
4 2,95
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: IBGE.
A taxa de juros Selic, principal instrumento utilizado pelo Banco Central do Brasil na
política monetária para o controle do nível geral de preços, havia caído de 14,15% em 2015 para 1,9%
em 2020, e após sucessivos ajustes efetuados pelo Copom, encerrou 2021 em 9,15%. A taxa de juros
real (ex-post) de 2021 foi de -0,83%, ante -2,51% em 2020. Os dois últimos anos foram os únicos com
taxa real negativa na série analisada (desde 2008).
A taxa de desocupação média anual registrou forte alta entre 2014 (6,9%) e 2017 (12,9%).
Nos anos seguintes, foi caindo até fechar 2019 em 12,1%. No biênio 2020 e 2021, alcançou 13,5%. A
evolução da taxa de desocupação mensal em 2021 subiu de 14,5% em janeiro para 14,9% em março,
caindo continuamente até fechar o ano em 11,1%.
O rendimento médio real anual foi de R$ 2.659 em 2021, menor valor desde 2016,
revertendo uma tendência de crescimento que vinha desde 2015. Por outro lado, a quantidade de
pessoas ocupadas no setor privado com carteira de trabalho assinada (emprego formal) ficou em 32,65
milhões, um pequeno aumento em relação à quantidade de 2020 (32,36 milhões). O último biênio teve
os menores números desde 2013, devido aos efeitos da pandemia de Covid-19.
Política fiscal (item 2.3)
Com relação à política fiscal, a receita primária, líquida de transferência por repartição da
receita, prevista na Lei 14.144/2021 (LOA 2021), foi de R$ 1.595,4 bilhões e a efetiva arrecadação
totalizou R$ 1.932,4 bilhões. Já as despesas primárias fixadas na LOA 2021 totalizaram R$ 1.497,0
bilhões, enquanto o total de despesas primárias pagas foi de R$ 1.613,9 bilhões (R$ 116,9 bilhões a
mais que o valor fixado na LOA, ou 8%, em virtude, sobretudo, de despesas destinadas ao
enfrentamento da crise sanitária).
Entre 2016 a 2019, a despesa primária em percentual do PIB ficou relativamente estável,
notadamente em face da instituição do Novo Regime Fiscal (Teto de Gastos, estabelecido pela EC
95/2016), que impede o crescimento real do total das despesas primárias sujeitas ao Teto de Gastos, de
modo que eventual crescimento do PIB não resulta em ampliação dos limites de despesa, visto que o
Teto de Gastos é insensível à variação da arrecadação.
Em 2020, houve forte elevação das despesas primárias em relação a 2019 (de 19,5% para
26,1% do PIB), sobretudo, em face da abertura de créditos extraordinários, visando ao combate da
450
pandemia, despesas estas que não se sujeitaram ao Teto de Gastos. Já em 2021, as despesas primárias
pagas representaram 18,6% do PIB.
Ao término de 2021, o resultado primário do Governo Central totalizou déficit de R$ 35,9
bilhões (-0,4% do PIB), ante a um déficit de R$ 745,3 bilhões no ano anterior, resultando em oito
exercícios seguidos de déficit primário (desde 2014). No que tange ao resultado nominal do governo
central, verificou-se déficit de R$ 443,2 bilhões em 2021 (-5,1% do PIB), contra um déficit nominal de
1.011,9 bilhões em 2020.
As renúncias de receitas federais alcançaram o montante projetado de R$ 329,4 bilhões em
2020, o que corresponde a 20,9% sobre a receita primária líquida e a 3,8% do PIB, sendo: R$ 276,8
bilhões de benefícios tributários e R$ 52,6 bilhões de benefícios financeiros e creditícios.
Os gastos tributários em 2021 corresponderam a 15,8% da arrecadação total. A Receita
Federal deixou de considerar os valores concernentes ao Regime Especial Unificado de Arrecadação
de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples
Nacional) e ao Microempreendedor Individual (MEI), em obediência ao disposto no § 2º do art. 136,
c/c o art. 176 da Lei 14.194, de 20/8/2021 (LDO 2022). Os sete maiores gastos representam 90,17% do
total de gastos tributários no ano:
Ranking gastos tributários – projeções 2021
R$ milhões
Posição Gasto Tributário Valor Participação Acumulado
1 Zona Franca de Manaus e Áreas de Livre Comércio 45.945 16,6% 16,6%
2 Agricultura e Agroindústria 45.480 16,4% 33,0%
3 Rendimentos Isentos e Não Tributáveis - IRPF 34.748 12,6% 45,6%
4 Entidades Sem Fins Lucrativos - Imunes / Isentas 26.355 9,5% 55,1%
5 Deduções do Rendimento Tributável - IRPF 22.997 8,3% 63,4%
6 Benefícios do Trabalhador 13.148 4,7% 68,2%
7 Medicamentos, Produtos Farmacêuticos e Equipamentos Médicos 12.408 4,5% 72,6%
8 Desenvolvimento Regional 11.091 4,0% 76,6%
9 Poupança e Títulos de Crédito - Setor Imobiliário e do Agronegócio 8.506 3,1% 79,7%
10 Desoneração da Folha de Salários 7.490 2,7% 82,4%
11 Informática e Automação 7.145 2,6% 85,0%
12 Setor Automotivo 6.111 2,2% 87,2%
13 Pesquisas Científicas e Inovação Tecnológica 5.836 2,1% 89,3%
14 Embarcações e Aeronaves 4.867 1,8% 91,1%
15 Outros (43 gastos tributários) 24.706 8,9% 100,0%
Total 276.833 100,0%
Fonte: Receita Federal do Brasil.
451
-48,2
-250,1
712,0 461,9
RGPS RPPS Militares FCDF RGPS RPPS Militares FCDF RGPS RPPS Militares FCDF
A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que abrange os governos federal, estaduais e
municipais, atingiu R$ 6.966,9 bilhões em 2021, chegando a 80,3% do PIB (era 88,6% do PIB em
452
2020). Já a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) alcançou 57,2% em 2021, ante a 62,5% no ano
anterior.
Dívidas Bruta do Governo Geral e Líquida do Setor Público
% do PIB
100,0%
88,6%
80,3%
73,7% 75,3% 74,4%
80,0%
69,8%
65,5%
62,5%
56,3% 57,2%
60,0% 53,7% 54,7%
51,5% 51,4% 52,8%
46,1%
35,6%
40,0% 32,2% 32,6%
30,5%
20,0%
Dívida Líquida do Setor Público Dívida Bruta do Governo Geral
0,0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: Bacen.
453
454
O montante de restos a pagar ao final de 2021 chegou a R$ 233,6 bilhões, sendo 79,5%
referente a despesas empenhadas em 2021 e 20,5% de valores empenhados em anos anteriores.
No encerramento de 2021, foram inscritos R$ 15,7 bilhões em restos a pagar voltados ao
enfrentamento da crise sanitária, sendo R$ 5,69 bilhões para o Auxílio Emergencial às Pessoas em
Situação de Vulnerabilidade e R$ 4,4 bilhões para Aquisição de Vacinas. Quanto aos valores inscritos
ao final de 2020) em ações voltadas para o combate à pandemia (R$ 16,1 bilhões), R$ 9,8 bilhões
foram cancelados e R$ 5,2 pagos, restando R$ 1,1 bilhão.
Dos R$ 9,8 bilhões cancelados, cerca de R$ 8,0 bilhões estão concentrados nas ações de
manutenção do emprego e crédito ao setor privado, especificamente em despesas com o Bem (Ação
21C2). Esse valor expressivo de cancelamentos foi objeto de análise no âmbito do processo TC
047.592/2020-6, de relatoria do ministro Bruno Dantas. As análises identificaram que o Ministério da
Economia havia cancelado, nos meses de março e abril de 2021, cerca de R$ 6,35 bilhões de restos a
pagar da Ação 21C2, sob a justificativa de que houve erro no levantamento dos passivos do Bem ao
final do exercício financeiro de 2020. O referido processo se encontra pendente de apreciação pelo
Plenário do TCU.
455
250
200
153,8 158,9
150
189,5
185,5 129,9 108,7
140,5
100 150,7
125,3 128,5
117,1
50
72,4 74,0 74,7
59,7
33,6 38,5 45,2
24,1 26,3 22,9 26,8
0
2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2
01 01 01 01 01 01 01 01 02 02 02
1 1/2 1 2/2 1 3/2 1 4/2 1 5/2 1 6/2 1 7/2 1 8/2 1 9/2 2 0/2 2 1/2
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
RAP Processados RAP Não Processados
Fontes: Siafi e Tesouro Gerencial.
456
exigência, dizendo que o referido investimento plurianual será incluído no valor global dos programas,
com detalhamento específico nas leis orçamentárias.
Esse detalhamento não é suficiente para que se demonstre, com a transparência adequada,
o fiel cumprimento do requisito constitucional, fazendo-se necessária a elaboração e disponibilização,
em plataforma digital centralizada, de lista integral, atualizada e sistematizada dos investimentos
plurianuais que se encontram contidos no valor global de cada programa finalístico, devidamente
atualizado.
Análise setorial (item 3.3)
Quanto à ação setorial do governo, analisaram-se as informações de desempenho (metas e
resultados intermediários), as quais demonstram o resultado das intervenções governamentais,
conforme definido no plano plurianual, pois tais instrumentos destacam as realizações e os efeitos da
atuação estatal para a sociedade.
Em 2021, o TCU analisou 105 metas e resultados intermediários do plano (26,6% de um
total de 395), pertencentes a dezenove programas finalísticos, selecionados por critérios de
materialidade e relevância. Dessa amostra, 16 (15%) apresentaram problemas de confiabilidade e 22
(21%) tiveram problemas de qualidade.
Como exemplos de problemas de qualidade, citam-se: meta e resultado intermediário não
mensuráveis de forma tempestiva (programa “Conecta Brasil”); meta “052D - Estratégias e
instrumentos de gestão desenvolvidos para conservação, monitoramento, recuperação, uso sustentável
e repartição de benefícios da biodiversidade” (programa “Conservação e Uso da Biodiversidade”) foi
considerada não específica e não mensurável, entre outros problemas.
Entre os problemas de confiabilidade, cita-se o uso de informações autodeclaratórias sem
rotinas de confirmação pelo MCTI (programa “Tecnologias Aplicadas, Inovação e Desenvolvimento
Sustentável”).
O esforço para assegurar a confiabilidade e a qualidade das informações não financeiras se
coaduna com o princípio da transparência e com a decisão do STF acerca da necessidade de realização
do censo demográfico no país. O ministro Marco Aurélio destacou que o direito à informação é
constitucional e “é basilar para o Poder Público formular e implementar políticas públicas” e que o
censo “permite mapear as condições socioeconômicas de cada parte do Brasil”, permitindo que os
Poderes Executivo e Legislativo possam implementar os direitos fundamentais previstos na CF/1988
em cada ente federado.
Conformidade Financeira e Orçamentária (Capítulo 4)
Além de contribuir para a transparência da gestão, fornecendo informações sobre a atuação
do governo federal, os exames efetuados pelo Tribunal de Contas da União visam verificar a
conformidade dessa atuação com as normas regentes no âmbito das finanças públicas. Para isso, são
realizadas auditorias específicas e análises da Prestação de Contas do Presidente da República, com o
fim de subsidiar a emissão do parecer prévio exigido no inciso I do art. 71 da Constituição Federal.
Assim, o Tribunal avaliou a adequação da gestão no exercício de 2021 às normas que
regem a execução dos orçamentos da União, em especial, à Constituição Federal, à LDO 2021, à LOA
2021 e à LRF, incluindo-se as alterações legislativas realizadas nos referidos normativos visando ao
combate à pandemia.
Os principais pontos de cada tópico estão sintetizados na sequência.
Abertura de créditos adicionais (item 4.1.1.1)
Em 2021, houve abertura de créditos adicionais no montante de R$ 861,4 bilhões, sendo
71,4% (R$ 616,1 bilhões) referentes a remanejamento de dotação, R$ 193,1 bilhões (22,4%) oriundos
457
de excesso de arrecadação e 6,2% (R$ 53,2 bilhões) de superávit financeiro de exercício anterior.
Foram abertos, via créditos extraordinários, R$ 141,5 bilhões, destinados majoritariamente às ações de
enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Mínimos da educação, da saúde e da irrigação (itens 4.1.1.2, 4.1.1.3 e 4.1.1.7)
Em 2021, a União aplicou R$ 76,3 bilhões em despesas com manutenção e
desenvolvimento do ensino (MDE), cumprindo, portanto, o mínimo exigido pelo art. 212 da CF/1988,
c/c os arts. 60 e 110 do ADCT, que foi de R$ 57,0 bilhões no ano. Em virtude da reincidência na
utilização de recursos vinculados à seguridade social para o custeio de ações típicas de MDE,
registrou-se irregularidade e recomendação para evitar a reiteração do problema.
Quanto ao mínimo constitucional da saúde, verificou-se que, em 2021, foram aplicados
(empenhados) R$ 179,1 bilhões pela União, montante R$ 52,0 bilhões superior ao mínimo exigido
para o exercício (R$ 127,0 bilhões). Do total, R$ 20,4 bilhões foram executados na Ação 21C0
(enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
Coronavírus).
A análise concluiu pela necessidade de recomendar o uso das plataformas digitais já
desenvolvidas (a exemplo da Plataforma +Brasil e do Portal Nacional de Contratações Públicas) para
centralizar o registro das contratações, dispensas e outras informações referentes à efetiva aplicação
dos recursos de natureza federal repassados na área da saúde, visando assegurar a rastreabilidade, a
comparabilidade e a publicidade dessas despesas, assim como o monitoramento e a avaliação das
políticas públicas pelos órgãos do Poder Executivo federal, em atendimento aos preceitos
constitucionais e legais. No exercício de 2021, 57% dos recursos federais destinados à política de
saúde (R$ 103,4 bilhões) foram aplicados pelos entes subnacionais, sem que a União utilize as
plataformas digitais em funcionamento para monitorar e avaliar a eficiência alocativa desses recursos
aplicados de forma descentralizada e pulverizada. Essa proporção, em geral, gira em torno de 70%,
tendo reduzido em 2021 em razão da aquisição direta de vacinas para enfrentamento da Covid-19
mediante aplicação direta.
Sobre a aplicação mínima de recursos destinados à irrigação, houve empenho de R$ 157,8
milhões em 2021. Verificou-se que 75,1% da aplicação foi na região Nordeste, atendendo ao comando
constitucional que exige um mínimo de 50%).
A CF/1988 exige, ainda, que 20% sejam aplicados na região Centro-Oeste, o que não foi
observado em 2021, pois nenhum valor foi empenhado nessa região, ensejando o registro de
irregularidade, de três recomendações e de um alerta sobre a possibilidade de o Tribunal emitir opinião
adversa em caso de descumprimento de qualquer dos mínimos constitucionais, conforme prevê o art.
14 da Resolução TCU 291/2017. Embora o mínimo de irrigação na referida região seja de baixa
materialidade quantitativa frente à magnitude do orçamento fiscal da União, sob a ótica da
materialidade qualitativa, não é irrelevante a sequência de atos comissivos e omissivos do Poder
Executivo que resultaram na irregularidade da execução orçamentária da União, eis que representa
100% de inobservância de parte do mandamento constitucional, fato que merece atenção do Executivo
para que implemente as medidas corretivas necessárias para a resolução definitiva da questão.
Emendas parlamentares individuais e de bancada estadual (item 4.1.1.4)
Em 2021, foram empenhados 97,9% do montante ajustado de execução obrigatória para as
emendas individuais (a PCPR apresentou justificativa para o montante não empenhado) e 108,2% para
as emendas de bancada estadual.
A execução financeira das emendas individuais alcançou 98,9% do montante exigido,
enquanto nas emendas de bancadas esse percentual foi de 74,9%, sem que houvesse justificativa para a
458
execução financeira menor que o definido pela regra. Mesmo considerando as dificuldades
operacionais do processo de execução das emendas, registrou-se impropriedade e recomendação para
que haja execução dos montantes exigidos, com a apresentação sistematizada das justificativas para os
impedimentos de ordem técnica.
Regra de Ouro (item 4.1.1.5)
Segundo o art. 167, inciso III, da Constituição Federal, é vedada a realização de operações
de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante
créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por
maioria absoluta. Tal princípio, comumente denominado Regra de Ouro das finanças públicas, visa a
coibir o endividamento do Estado para custear despesas correntes, e deve ser observado tanto na
elaboração e aprovação da LOA, com base nos valores propostos e autorizados, quanto após o
encerramento do exercício, com base nos valores realizados.
Em 2021, diferentemente do que foi verificado em 2020, as operações de crédito não
superaram as despesas de capital ao final do exercício.
O projeto de LOA 2021 foi encaminhado com R$ 2.434,2 bilhões em operações de crédito
estimadas e R$ 1.980,5 bilhões em despesas de capital. A diferença (R$ 453,7 bilhões) foi consignada
como despesas condicionadas à aprovação legislativa por maioria absoluta via crédito adicional, na
forma exigida pela Constituição. Na tramitação, a insuficiência foi reduzida para R$ 434,8 bilhões na
LOA 2021 aprovada. Boa parcela das despesas condicionadas foi alocada aos Benefícios
Previdenciários Urbanos (R$ 203,1 bilhões) e Rurais (R$ 55,4 bilhões).
Durante o exercício de 2021, o Poder Executivo, com fulcro na autorização conferida pelo
art. 65, §§ 6º e 7º, LDO 2021, executou as despesas anteriormente condicionadas mediante a
substituição de receitas derivadas de operações de crédito por outras fontes de recursos. Assim, restou
prejudicado o PLN 9/2021-CN, encaminhado ao Congresso Nacional, visando à autorização
excepcional para abertura de crédito suplementar, a ser aprovado por maioria absoluta. Isso porque não
houve necessidade de realização de operações de crédito em montante superior às despesas de capital
na execução do orçamento de 2021, face a troca de fontes empreendida pelo Poder Executivo.
Ao final do exercício de 2021, verificou-se as despesas de capital executadas (R$ 1.832,3
bilhões) superaram as operações de crédito realizadas (R$ 1.754,2 bilhões), resultando em
cumprimento da Regra de Ouro com margem de R$ 78,2 bilhões. Registre-se que no exercício de
2021, as ECs 109 e 113, ambas de 2021, permitiram a exclusão do cômputo da Regra de Ouro algumas
despesas primárias destinadas ao combate à pandemia e a seus efeitos. Nesse rumo, ainda foram
ressalvados cerca de R$ 41,6 bilhões, o que enseja margem ainda maior de cumprimento da
multicitada regra, R$ 119,7 bilhões, ao final de 2021.
Orçamento de Investimento das Empresas Estatais (item 4.1.1.6)
A execução das despesas constantes do orçamento de investimento das empresas estatais
(OI) respeitou os limites globais de dotação, autorizados por fonte e por ação orçamentária em 2021.
Analisou-se, a partir de informações do Programa de Dispêndios Globais (PDG) enviadas
pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, se houve empresas que
utilizaram aporte de capital para pagamento de despesa corrente. De acordo com as rubricas do PDG,
identificou-se que 24 empresas tiveram déficit corrente, sendo que em seis delas o déficit foi maior que
o caixa inicial, ou seja, não seria possível cobrir o déficit corrente com o caixa inicial.
Das empresas que apresentaram déficit corrente ao final de 2021, apenas a Companhia
Docas do Rio Grande do Norte recebeu aporte de capital do Tesouro Nacional, no valor R$ 59,9
459
milhões. Contudo, não foram encontrados indícios de utilização do aporte de capital do Tesouro
Nacional para cobrir o déficit corrente.
Destaque-se ainda que não foram examinados aspectos atinentes ao ambiente de negócios
de cada empresa e que a análise se restringiu ao exercício de 2021, de modo que não foi verificado se
os recursos da rubrica “disponível inicial” eram decorrentes de aportes de capital realizados em anos
anteriores, o que também sinalizaria possível dependência.
Em decorrência de decisões do TCU, houve a edição do Decreto 10.690, de 29/4/2021,
com a finalidade de regulamentar o processo de transição entre empresas estatais federais dependentes
e não dependentes.
Considerando que o aumento de capital em empresas estatais não dependentes é exceção
expressamente prevista na Constituição para fins de Teto de Gastos, é necessária a vigilância
permanente dos órgãos de controle para que esse normativo não seja utilizado para desvirtuar o sentido
da regra, o que permitiria aumento de despesa pública por meio de uso artificial de empresas públicas
como forma de burlar indevidamente as restrições fiscais e orçamentárias vigentes.
Teto de Gastos (item 4.1.1.8)
A Emenda Constitucional (EC) 95/2016 instituiu o Novo Regime Fiscal (NRF), com
vigência por vinte anos, fixando limites individualizados para as despesas primárias dos órgãos dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, do Ministério Público da União, do Conselho Nacional do
Ministério Público e da Defensoria Pública da União.
No exercício de 2021, a metodologia de correção do Teto de Gastos foi alterada pela EC
113, resultando em majoração do limite de despesas primárias ainda naquele exercício. Ademais, essa
mesma alteração constitucional estabeleceu que a majoração do espaço fiscal em 2021 fosse limitada a
R$ 15 bilhões e se destinasse exclusivamente ao atendimento de despesas de vacinação contra a covid-
19 ou relacionadas a ações emergenciais e temporárias de caráter socioeconômico. Nesse rumo, foram
autorizados R$ 14,9 bilhões, em consonância com o disposto na EC 113/2021.
Para além da novel alteração da Carta Magna, em 2021, todos os órgãos cumpriram o Teto
de Gastos. Houve ainda, em termos globais, folga em R$ 27,5 bilhões sob a perspectiva financeira,
mesmo em um exercício em que foram direcionados R$ 145,6 bilhões de despesas voltadas ao
combate à pandemia, fato explicado pela abertura de créditos extraordinários, não computados no Teto
de Gastos.
Cumprimento das metas fiscais (itens 4.1.2.1 e 4.1.2.2)
A meta fiscal de resultado primário fixada pela LDO 2021 (Lei 14.116/2020) foi de déficit
primário para os Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) no valor de R$ 247,1 bilhões, que
representou – 3,16% do PIB projetado à época. Com efeito, na LOA 2021 foram estimadas receitas
primárias (líquidas de receitas por repartição de receitas) de R$ 1.302,3 bilhões e despesas primárias
de R$ 1.549,4 bilhões.
Além disso, por meio de modificações na LDO 2021, estabeleceu-se que não seriam
contabilizados na meta de resultado primário os créditos extraordinários alocados para as seguintes
despesas: i) ações e serviços públicos de saúde, nos termos da Lei Complementar 141/2012, desde que
identificadas em categoria de programação específica de enfrentamento à pandemia; ii) Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe); e iii) Programa
Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda (BEm). Complementarmente, a EC 113/2021 ainda
excluiu da meta de resultado primário de 2021 despesas com o auxílio emergencial até o limite de
R$ 44,0 bilhões.
460
461
462
463
substancialmente inferior à de exercícios pretéritos. Por sua vez, a agenda transversal da primeira
infância estava em fase de implantação.
Devido ao não estabelecimento de metas operacionais na LDO 2021, registrou-se uma
impropriedade sobre a insuficiências dessas informações e uma recomendação para que o Poder
Executivo realize aperfeiçoamento desse requisito.
Execução de Despesas Decorrentes de Emendas de Relator-Geral do Orçamento (item 4.2.1)
O relatório final do PLOA 2021 foi apresentado na Comissão Mista de Planos, Orçamentos
Públicos e Fiscalização (CMO) com R$ 3,03 bilhões em emendas do relator-geral (RP 9). Na
sequência, o relator-geral apresentou complementação de voto ao relatório final, com ajustes nas
programações orçamentárias. Ao todo, as programações orçamentárias que resultaram de emendas de
relator-geral somaram R$ 29,03 bilhões no PLOA 2021.
Para obter espaço orçamentário para esse volume de emendas RP 9, foram propostos
cancelamentos de despesas da ordem de R$ 26,47 bilhões, sendo R$ 26,01 bilhões referentes a
despesas obrigatórias (RP 1) e R$ 457 milhões relativos a despesas discricionárias (RP 2).
O Poder Executivo vetou R$ 19,77 bilhões em dispêndios discricionários (RP 2), emendas
do relator-geral (RP 9) e emendas de comissões (RP 8). Além disso, R$ 9,29 bilhões em despesas
discricionárias foram posteriormente bloqueadas, quando da edição do decreto de programação
financeira. A Lei 14.167/2021, de iniciativa do Poder Executivo, restaurou R$ 19,77 bilhões em
despesas obrigatórias. Entretanto, não houve recomposição de R$ 7,4 bilhões em despesas obrigatórias
referentes ao abono salarial anual que constavam do PLOA 2021 e foram cancelados no contexto da
sistemática do RP9.
Ao longo do exercício, as emendas de relator-geral contaram com dotação inicial de
R$ 18,53 bilhões, atualizados para R$ 16,86 bilhões. Foram empenhados 16,72 bilhões, com execução
financeira global de 38% no próprio exercício (R$ 6,39 bilhões). Na execução orçamentária das
emendas de relator-geral, 45% foram destinados a despesas de custeio e 55% a investimentos. A
execução financeira das despesas de custeio foi de 77%, enquanto nos investimentos o índice foi muito
baixo, não chegou a 7%, o que resultou em alto índice de inscrição em restos a pagar (93,35%).
As emendas RP 9 foram alocadas, em maior concentração, nas funções Saúde (R$ 7,7
bilhões), Urbanismo (R$ 5,9 bilhões), Agricultura (R$ 1 bilhão) e Educação (R$ 523 milhões). Aos
municípios foram destinados R$ 79% das emendas RP9 (R$ 13,2 bilhões), R$ 1,3 bilhão aos estados e
ao Distrito Federal (8,1%), sendo a aplicação direta pela União R$ 1,92 bilhão. (11,53%).
A série histórica dos últimos 5 anos evidencia maior participação do Poder Legislativo na
decisão do quanto alocar em investimentos.
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Empenho Pagamento
47
23 21
50 43
41
25
18 18
40 20
29 28 14
30 23 15
18
20 10 05
10 09 08 03
02
10 5 00 01
- -
eral eral eral eral eral eral eral eral eral eral
Fonte: Siop.
¹ Valores atualizados pelo IPCA até dez/2021.
Poder Executivo: RP 1, RP 2 e RP 3. Poder Legislativo: RP 6, RP 7, RP 8 e RP 9.
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de dezembro de 2021 e a execução orçamentária da União do exercício findo nessa data, de acordo
com as práticas contábeis adotadas no Brasil aplicadas ao setor público.
As recomendações e as ações dos órgãos e entidades da administração pública federal no
sentido de cumprir as recomendações advindas da auditoria financeira do TCU têm se mostrado como
importante mecanismo de aprimoramento dos registros da contabilidade pública. De forma
exemplificativa, podem ser citadas a implementação de rotina automática para contabilização da
remuneração das disponibilidades da conta única, bem como as melhorias que estão sendo
implementadas no controle contábil das participações acionárias da União.
Monitoramento das deliberações sobre as Contas do Presidente da República de 2015 a 2019
(Capítulo 6)
No âmbito do Relatório sobre as Contas do Presidente da República, o TCU emite
recomendações e alertas aos órgãos e entidades responsáveis pela conformidade na execução dos
orçamentos e na gestão dos recursos públicos federais e pela confiabilidade das informações contábeis,
buscando assegurar a transparência das contas públicas e a observância dos princípios que regem a
Administração Pública. Nesse sentido, uma das diretrizes do Relatório sobre as Contas do exercício de
2021 foi o monitoramento das deliberações veiculadas nas Contas de 2015 a 2020.
Assim, conforme os resultados sintetizados na tabela seguinte, de um total de 74
recomendações abrangidas pelo escopo final do presente monitoramento: 29 foram consideradas
implementadas, 41 em implementação e 4 não implementadas. Das 74, 39 serão novamente
monitoradas no ano seguinte e 35 tiveram seu monitoramento no ano seguinte dispensado, pois foram
implementadas (29), ou serão tratadas em local adequado (deliberação do Parecer Prévio 2021 ou
análise específica).
Nível de atendimento das deliberações
Recomendações 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Total Geral
Implementada 2 1 0 2 9 15 29
Em implementação 3 4 1 1 10 22 41
Não implementada 0 0 0 0 1 3 4
Não aplicável 0 0 0 0 0 0 0
TOTAL 5 5 1 3 20 40 74
Fonte: elaboração própria.
cidadãos os bens e serviços públicos assegurados pela Constituição Federal. Nesse sentido, a Lei
Complementar 101/2000 estatuiu, logo em seu primeiro artigo, a transparência e o planejamento como
pressupostos basilares da gestão fiscal responsável. Tais pressupostos devem orientar a ação
governamental para que seja capaz de prevenir riscos e corrigir desvios que possam afetar o equilíbrio
das contas públicas.
Em 2021, o país continuou sofrendo os efeitos sociais e econômicos decorrentes da
pandemia de Covid-19, razão pela qual foram realizadas alterações normativas, bem como foram
autorizadas despesas visando ao enfrentamento das consequências da crise sanitária.
No cenário macroeconômico, o PIB real aumentou 4,62% em relação ao ano anterior,
enquanto o PIB per capita real subiu 4,8%. Por seu turno, a carga tributária em percentual do PIB
alcançou 33,7%, a maior dos últimos cinco anos, resultado de aumento real na arrecadação das três
esferas governamentais.
A inflação do exercício atingiu 10,06%, bastante superior ao limite superior da meta
estabelecida (5,25%), sendo a maior desde 2015, impactada principalmente pelos grupos
“Transportes”, “Habitação” e “Alimentação e Bebidas”. Já a taxa de juros Over/Selic encerrou 2021
em 9,15%, ante a 1,9% em 2020. Os últimos dois anos foram os únicos com taxa real negativa desde
2008.
Os níveis de emprego continuaram afetados pela situação de calamidade instaurada. A taxa
de desocupação média anual de 2020 e 2021 foi de 13,5%, enquanto o rendimento médio real anual de
2021 foi de R$ 2.659, menor valor desde 2016.
Na área fiscal, o país enfrenta sucessivos déficits primários desde 2014. O resultado
primário de 2021 foi deficitário em R$ 35,9 bilhões (contra R$ 745,3 bilhões no ano anterior). Já o
resultado nominal, que inclui despesas financeiras, foi deficitário em R$ 443,2 bilhões.
Os benefícios tributários, financeiros e creditícios foram estimados em R$ 329,4 bilhões,
20,9% da receita primária líquida ou 3,8% do PIB, sendo a maior parte referente a gastos tributários
(R$ 276,8 bilhões), com significativo impacto sobre as receitas tributárias, principais fontes para
financiamento das despesas públicas. Registra-se, em 2021, deixaram de ser considerados gastos
tributários os montantes referentes ao “Simples Nacional” e “MEI” (microempreendedor individual),
por força de alteração na LDO 2021. Desonerações fiscais têm efeito fiscal similar à despesa direta, de
modo que o país precisa avaliar os potenciais benefícios sociais e econômicos frente aos custos
estimados, com vistas a definir se uma renúncia deve ser instituída, prorrogada, alterada ou extinta.
Acerca do endividamento público, o prazo médio da dívida chegou a 3,8 anos em 2021
(era de 4,5 anos em 2016), enquanto o percentual vincento em doze meses recuou para 21% em 2021
(ante a 27,6% no ano anterior). O custo médio da dívida subiu para 8,9% (estava em 8,4% em 2020). A
Dívida Bruta do Governo Geral encerrou o ano em 80,3% do PIB, ante a 88,6% em 2020.
É certo que a situação extrema exigiu socorro governamental na forma de despesa pública
para assegurar à população os direitos sociais previstos na Constituição ou, ao menos, minimizar os
impactos sociais da calamidade. Para atender essas necessidades extraordinárias sem romper as regras
fiscais vigentes, houve alterações legislativas para permitir a destinação de recursos ao enfrentamento
da pandemia, sem que tais despesas fossem convertidas em gastos permanentes, mantendo-se o
compromisso com a austeridade fiscal.
A EC 106/2020 estabeleceu o regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações,
válido somente naquilo em que a urgência for incompatível com o regime regular. A Lei
Complementar (LC) 173/2020 trouxe o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus,
dispensando alguns limites, condições e restrições da LRF aplicáveis à União e aos entes subnacionais.
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VOTO
Senhora Presidente,
Senhor Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Ilustres Autoridades que prestigiam esta Sessão,
como aos próprios governos, alcançados a partir da adequada implementação de serviços públicos
digitais, tanto na melhoria da eficiência na gestão quanto no controle da administração pública.
10. Nessa seara, o Tribunal tem atuado proativamente, contribuindo para o fortalecimento
contínuo do uso de ferramentas tecnológicas pelos gestores, não olvidando o encargo do controle
externo de induzir práticas que agreguem valor ao negócio da administração pública federal.
11. Excelentíssimas autoridades, ilustres presentes, nesse ínterim, a atuação do controle
externo não é pautada apenas em uma agenda repressiva, de verificação da conformidade e uso do
poder sancionador, com a responsabilidade inerente a uma Corte de Contas de estatura
constitucional, mas pode e deve ser indutora de melhorias, de aperfeiçoamento da gestão pública,
com o oferecimento de caminhos para a transformação do país.
12. Deixo aqui registrada, com grata satisfação, a excelência da instrução produzida sob a
coordenação da equipe da Secretaria de Macroavaliação Governamental, em conjunto com diversas
equipes técnicas do Tribunal, cujos auditores, de reconhecida expertise, não mediram esforços,
sempre com zelo e empenho para o alcance do resultado do presente processo, e os parabenizo nas
pessoas do Secretário Alessandro Aurélio Caldeira e do Secretário-Geral de Controle Externo
Leonardo Rodrigues Albernaz.
I – INTRODUÇÃO
13. Conforme definido na Constituição Federal de 1988, art. 71, inciso I, a primeira das
competências atribuídas ao TCU consiste em apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas
prestadas anualmente pelo Presidente da República.
14. Referida apreciação deve ocorrer em até sessenta dias após o recebimento das contas,
cujo encaminhamento pelo Congresso Nacional, no presente exercício, ocorreu no último dia
5/5/2021.
15. As contas consistirão, a teor art. 36 da Lei 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU), nos
balanços gerais da União e no relatório do órgão central do Sistema de Controle Interno do Poder
Executivo sobre a execução dos orçamentos (§ 5º, art. 165, da Constituição).
16. Por meio do Parecer Prévio, acompanhado do Relatório pormenorizado sobre a
conformidade da gestão governamental, serão apresentadas as conclusões sobre a fidedignidade dos
balanços gerais da União e a regularidade da execução orçamentária, com encaminhamento final de
recomendação pela aprovação ou rejeição das contas, e com a possibilidade, nos termos da
Resolução TCU 291/2017, da emissão de opinião sem ressalvas, com ressalvas ou adversa.
17. Cumpre ainda esclarecer que a deliberação do Tribunal, consubstanciada no Parecer
Prévio, conterá as ressalvas e irregularidades detectadas, as opiniões, a conclusão e a respectiva
fundamentação, além de eventuais ciências de descumprimento de normativos e recomendações
direcionadas à Presidência da República e demais órgãos.
18. Relativamente à execução dos orçamentos, a emissão de opinião com ressalvas ocorre
quando detectadas impropriedades ou irregularidades que, pela materialidade e gravidade, não
impliquem em opinião adversa; bem como distorções materialmente relevantes com efeito não
generalizado sobre as informações de desempenho orçamentário ou da política fiscal.
19. Por outro lado, a opinião será adversa quando configuradas, em síntese, a inobservância
de princípio ou norma constitucional ou legal; a prática de ato contra a probidade da Administração
ou a LOA; distorções materialmente relevantes que tenham efeitos generalizados sobre as
informações de desempenho orçamentário ou da política fiscal e inobservância dos princípios e
regras constitucionais e infraconstitucionais relativos à gestão fiscal responsável, dentre outras
ocorrências.
20. Quanto ao exame dos balanços gerais da União, a opinião será com ressalva quando,
tendo sido obtida evidência de auditoria adequada e suficiente, as distorções nas demonstrações
financeiras forem materialmente relevantes, mas não generalizadas. Ou, se obtida evidência
adequada e suficiente, os possíveis efeitos de distorções não detectadas sobre as demonstrações
financeiras forem materialmente relevantes, mas não generalizados.
21. O Tribunal ficará ainda impossibilitado de emitir opinião sobre os balanços gerais da
União quando houver limitação na extensão dos exames causada por motivos alheios à sua atuação,
ausentes as evidências adequadas e suficientes a fundamentar o parecer.
22. Por derradeiro, ressalte-se que o TCU emite Parecer Prévio apenas sobre as contas
prestadas pelo Presidente da República. As contas relativas aos Poderes Legislativo e Judiciário e
ao Ministério Público são efetivamente julgadas pela Corte, em sede de processos específicos,
conforme decisão do Supremo Tribunal Federal no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 2.238-5/DF.
23. Na sequência, passo a discorrer sobre o bem fundamentado Relatório que subsidia a
emissão do Parecer Prévio.
II - CONJUNTURA ECONÔMICA, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
Desempenho da Economia Brasileira
24. A análise das contas anuais deve ser efetuada levando-se em conta obrigatoriamente a
base normativa de regência, mas não pode ser dissociada do contexto e das variáveis
macroeconômicas do período, para a devida compreensão quanto ao desempenho da gestão pública.
25. Assim, no que tange à taxa de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) alcançou 10,06% a.a, muito acima do limite superior da meta, de 5,25% p.p., fixada pelo
Conselho Monetário Nacional.
26. Dentre os diversos grupos de produtos e serviços que compõem o IPCA, a maior
variação e o maior impacto no índice ocorreu no grupo de transportes, inclusos combustíveis,
automóveis novos e usados, passagens aéreas e transportes por aplicativo. Referido grupo sofreu
enorme variação, de 21,03%, e impacto muito forte, de 4,19 p.p., quase a metade do impacto
observado no índice geral do IPCA, de 10,06%. O expressivo aumento do grupo de transportes pode
ser explicado, principalmente, pela variação dos preços dos combustíveis, que tiveram elevação de
49,02%.
27. Outros grupos também contribuíram para o expressivo aumento da taxa de inflação,
dentre eles habitação, com alta de 13,05% e impacto de 2,05 p.p.; alimentação e bebidas, com alta
de 7,94% e impacto de 1,68 p.p., além do item energia elétrica, com aumento de 21,21%.
28. Relativamente ao INPC, que mede a variação do custo de vida das famílias com renda
mensal entre 1 e 5 salários-mínimos, foi observada alta de 10,16% em 2021. De forma semelhante
ao IPCA, as maiores variações e impactos ocorreram com os itens de transportes (19,29% e impacto
de 3,70 p.p.) e habitação (13,85% e impacto de 2,43 p.p.).
29. Quanto ao Produto Interno Bruto (PIB), foi alcançado o montante de R$ 8,679 trilhões,
sendo 4,62% superior, em termos reais, ao de 2020, cujo valor foi de R$ 8,296 trilhões.
30. Observa-se que o PIB retrocedeu aos patamares de 2013 e 2014, de aproximadamente
R$ 8,8 trilhões, em razão das fortes taxas negativas observadas nos anos de 2015, 2016 e 2020
(Pandemia do Covid-19), mas apresentou boa recuperação em 2021, com a taxa de crescimento
passando, em termos reais, de -3,9% em 2020 para 4,6% no exercício seguinte.
31. Em relação à taxa de crescimento do PIB real per capita, um dos indicadores
considerados ao se analisar o bem-estar da população, foi registrado o valor de R$ 40.688,10.
3
Houve, também, boa recuperação, visto que a taxa de crescimento do PIB per capita, em termos
reais, passou de -4,6% em 2020 para 3,9% em 2021.
32. Sob a ótica da demanda, a Despesa de Consumo das Famílias foi responsável por 61,0%
do valor do PIB, tendo sofrido um acréscimo de 3,6% se comparado ao ano de 2020. A despesa de
Consumo do Governo, correspondente a 19,1% do PIB em 2021, registrou variação positiva de
2,0% em relação a 2020.
33. Quanto às Exportações de Bens e Serviços, bem assim as Importações, foram
registrados acréscimos de 5,8% e 12,4%, respectivamente, em relação ao ano de 2020.
34. Com referência à Balança Comercial Brasileira, manteve-se superavitária em US$
61,4 bilhões em 2021, com exportações de US$ 280,8 bilhões e importações de US$ 219,4 bilhões.
O aumento de 33,8% nas exportações entre o ano de 2021 e 2020 sofreu maior influência dos
preços, que aumentaram 29,3%, enquanto o volume evoluiu somente 3,2%.
35. Já no caso das importações, a elevação de 38,1% foi causada principalmente em função
do volume, que cresceu 21,9%, enquanto os preços tiveram aumento de apenas 13,1%. As
commodities agrícolas e minerais participaram com 67,7% do total das exportações, demonstrando a
dependência das exportações quanto a este tipo de produto.
36. Ainda quanto às exportações, houve variações pouco expressivas em relação aos
produtos exportados pelo Brasil aos blocos de países da Ásia, América do Norte, América Central e
Caribe, América do Sul Europa, Oriente Médio e Oceania.
37. Quanto aos volumes de produtos exportados pelo Brasil, negociados com cada bloco
econômico, ocorreram variações positivas expressivas entre 2020 e 2021. Os países com maior
participação na aquisição de produtos brasileiros em 2021 foram: China, com US$ 87,9 bilhões
(aumento de 29,7%), equivalente a 31,3% do total exportado pelo Brasil; Estados Unidos, com
US$ 31,1 bilhões (aumento de 45,1%), representando 11,1% do total; e Argentina, com US$ 11,9
bilhões (aumento de 39,9%), correspondendo a 4,2% do total exportado.
38. Por outro lado, o Balanço de Pagamentos apresentou déficit na conta “Transações
Correntes” em 2021, atingindo o valor de US$ 28,1 bilhões, superior em 14,8% ao valor verificado
em 2020, de US$ 24,5 bilhões.
39. O saldo das Reservas Internacionais se manteve elevado, totalizando US$ 362,2
bilhões em 2021, com acréscimo de US$ 6,6 bilhões (1,9%) em relação a 2020, de US$ 355,6
bilhões.
40. Com referência à taxa de risco-país - representada pelo indicador EMBI+ (Emerging
Markets Bond Index Plus ou Índice dos Bônus de Mercados Emergentes), elaborado pelo banco J.
P. Morgan, que compara a diferença entre a taxa de juros cobrada pelo mercado financeiro para
títulos públicos de um conjunto de países emergentes, em relação à taxa de juros dos papéis dos
EUA, encerrou o ano de 2020 em 260 pontos. Ao final de dezembro de 2021, o indicador EMBI+
atingiu 326 pontos, com um aumento de 66 pontos entre os dois finais de período.
41. Quanto ao nível de emprego e salários, a taxa de desocupação média alcançou 13,5% no
biênio 2020-2021, uma estabilização em relação ao exercício do advento da pandemia. A partir de
março/2021, houve redução contínua na taxa de desocupação mensal, alcançando 11,1% em
dezembro de 2021, número mais favorável da série anual.
42. Com referência à carga tributária brasileira em 2021, atingiu 33,90%, a maior do
período 2017-2021, sendo superior em 2,14 p.p. à de 2020, de 31,77%. As três esferas
governamentais apresentaram aumento real de receitas tributárias e a arrecadação bruta total
aumentou, em termos reais, 11,65% em comparação com 2020.
Política Monetária
43. A política monetária segue o regime de metas para a inflação, definidas pelo Conselho
Monetário Nacional, de crucial relevância eis que interfere diretamente no mercado de
investimentos e no poder de consumo da população, com impacto no valor da moeda e nos preços
dos produtos e serviços.
44. A Semag destacou um conjunto de medidas de capital, de liquidez e de crédito que
foram adotadas pelo Bacen para evitar o empoçamento da liquidez decorrente dos efeitos da
pandemia do Covid-19 sobre a economia, dentre as quais a redução da taxa Selic, de 4,25% para 2%
a.a. em 2020. Entretanto, a referida a taxa permaneceu nesse valor apenas até meados de março de
2021, quando foi elevada para 2,75%, com aumentos sucessivos de maio a dezembro, até atingir
9,25%.
45. A recuperação da atividade econômica, de 4,6% do PIB em 2021, veio acompanhada de
aumento de preços de 10,06% a.a., em 2021, com os choques que se abateram sobre a economia
brasileira e os efeitos defasados da política monetária sobre a inflação.
46. Os principais fatores explicativos da extrapolação do limite superior da meta de inflação
em 2021, apontados pelo Bacen em expediente ao Ministério da Economia, foram a forte elevação
dos preços de bens transacionáveis, a bandeira de energia elétrica decorrente da escassez hídrica, e
desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos.
47. Entre as providências adotadas pela Autoridade Monetária para o retorno da inflação à
faixa de tolerância da meta constam a retirada da prescrição futura (forward guidance) e o início
dos ajustes, em março 2021, como já informado, nas taxas de juros, resultando no aumento de
7,25p.p. acima dos 2% vigentes, com a Selic atingindo 9,25% ao final de 2021.
48. Quanto à base monetária, observou-se que, no exercício de 2021, houve diminuição de
R$ 22.353 milhões em relação ao saldo do ano anterior, enquanto que em 2020 houve incremento
de R$ 114.950 milhões em relação a 2019. O Relatório destaca a política monetária contracionista
em 2021 em oposição à expansionista de 2020.
49. No que se refere à Política Creditícia, os saldos totais de crédito como proporção do PIB
são idênticos nos exercícios de 2020 e 2021.
50. No entanto, houve forte aumento dos saldos totais das operações de crédito, próximos a
54% do PIB no período, devido principalmente à pandemia do Covid-19.
51. No que tange ao saldo das operações de crédito às pessoas jurídicas (PJ) e físicas (PF),
com o advento do Covid-19, no início de 2020, o crédito para PF alcançou 30% do PIB e, para PJ,
atingiu 23,8%. No exercício seguinte, observou-se pequena queda dos saldos de PJ em proporção
do PIB em relação a 2020 (22,6%), enquanto o crédito para as PF passou por pequeno aumento
(31,2%).
52. Por sua vez, os saldos da carteira de crédito com recursos direcionados como proporção
do PIB, em 2020 e 2021, foram de aproximadamente R$ 1.697,6 e R$ 1.882,4 bilhões,
respectivamente, mostrando incremento em termos do PIB, para 22,7% em 2020 e 21,7% em 2021.
53. Em linhas gerais, o exercício de 2021 se caracterizou pela melhora no desempenho da
economia, com crescimento de cerca de 4,6%, embora abaixo da média mundial.
Política Fiscal
54. Consoante registrado no relatório, a política fiscal tem como objetivo a promoção da
gestão financeira equilibrada dos recursos públicos visando assegurar a estabilidade econômica, o
crescimento sustentado e o financiamento das políticas públicas.
55. Nesse contexto, a LOA 2021 estimou a arrecadação de receitas primárias em R$ 1.595,4
bilhões, ao passo que a arrecadação efetiva total foi de R$ 1.932,4 bilhões, superando a previsão em
R$ 336,9 bilhões.
56. Foi verificada expansão na execução das despesas em 2021, viabilizada por meio de
excepcionalidades de determinados gastos quando da aferição do cumprimento da meta de resultado
primário, com ajustes de meta envolvendo as seguintes despesas: saúde no enfrentamento à
pandemia (gastos de R$ 23,4 bilhões); Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas
de Pequeno Porte (Pronampe, totalizando R$ 5 bilhões); Programa Emergencial de Manutenção do
Emprego e da Renda (Bem, com R$ 7 bilhões), e despesas com o Auxílio Emergencial (R$ 59,7
bilhões).
57. As despesas obrigatórias apresentaram, no período de 2012 a 2021, crescimento de
14,7% para 17,2% do PIB, enquanto as despesas discricionárias decresceram de 2,2% para 1,4% do
PIB, evidenciando aumento da participação das despesas obrigatórias em detrimento das despesas
discricionárias no espaço fiscal disponível.
58. Embora a redução de despesas possa ser positiva para as finanças públicas em
determinado contexto, especialmente no cenário de sucessivos déficits fiscais, o grupo de despesas
discricionárias abrange investimentos, custeio de órgãos/entidades da Administração e políticas
públicas de alta relevância para o Estado, sendo pertinente enfatizar que a compressão de despesas
discricionárias pode impactar negativamente a prestação de serviços públicos essenciais e
inviabilizar a execução de determinadas políticas públicas.
59. Ademais, a partir da publicação da LOA 2021, as reavaliações bimestrais de receitas e
de despesas primárias, realizadas com base na execução orçamentário-financeira e nos parâmetros
macroeconômicos atualizados, indicaram sistematicamente a possibilidade de ampliação das
despesas discricionárias em expressiva margem, respeitado, em todo caso, o Novo Regime Fiscal
(Teto de Gastos).
Benefícios Tributários, Financeiros e Creditícios
60. Os benefícios em tela, que objetivam o desenvolvimento econômico de diversas áreas
do país, bem como a redução das desigualdades regionais e sociais, atingiram, em 2021, o montante
de R$ 329,4 bilhões, correspondendo a 20,9% da receita primária líquida e a 3,8% do PIB,
segregados em R$ 276,8 bilhões de benefícios tributários e R$ 52,6 bilhões de benefícios
financeiros e creditícios.
61. Conforme destacado no relatório, esses benefícios representam distorções ao livre
mercado e resultam, de forma indireta, em sobrecarga fiscal maior para os setores não beneficiados,
e devem ser avaliados com atenção em face do seu impacto nas contas públicas.
62. Os benefícios financeiros e creditícios apresentaram tendência de diminuição no período
de 2016 a 2020, com interrupção dessa tendência em 2021, e crescimento de 103,2 % em relação a
2020, consoante o gráfico a seguir, por segmento da atividade econômica:
por recursos do Fundo, com destaque para a elaboração de uma estratégia nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação de longo prazo, o estabelecimento de critérios de priorização de programas e
projetos apoiados pelo Fundo e a avaliação da pertinência do atual modelo de concentração de
recursos em ações transversais, em detrimento das ações verticais associadas aos fundos setoriais.
Regimes de Previdência Pública
71. O relatório produzido pela equipe técnica também cuidou de avaliar o resultado dos
Regimes de Previdência mantidos pela União, a exemplo do Regime Geral de Previdência Social
(RGPS), que atende os trabalhadores urbanos e rurais do setor privado; o Regime Próprio de
Previdência Social (RPPS), relativo aos servidores federais civis; e o Sistema de Proteção Social
dos Militares das Forças Armadas (SPSMFA).
72. Merece destaque o exame quanto ao preocupante déficit previdenciário em 2021,
consoante o gráfico a seguir, com gastos que cresceram, nos dez últimos exercícios (de 2012 a
2021), a uma média anual de 7,1%, representando, desde 2017, mais da metade de todos os gastos
primários do governo federal:
73. Os dados indicam que 71,5% do déficit previdenciário (R$ 250,13 bilhões) concentram-
se no RGPS, enquanto 28,5% do déficit (R$ 99,93 bilhões) se referem a benefícios previdenciários
do setor público (a cargo da União), assim distribuídos: i) 48%, ao RPPS-civil federal e previdência
dos ex-Territórios do Amapá e Roraima; ii) 46%, ao Sistema de Proteção Social das Forças
Armadas; e iii) 6%, ao FCDF.
74. No que tange ao Sistema de Proteção Social dos Militares das Forças Armadas, o
regime é caracterizado por baixa geração de receitas, decorrente do modelo legal adotado.
75. Por outro lado, as despesas desse Sistema alcançaram patamares significativos (R$ 54,1
bilhões em 2021, representando 6% da despesa previdenciária total da União), além de uma
reduzida capacidade interna de cobertura: apenas 15,6% das despesas foram custeadas por
contribuições de militares. Como consequência, o déficit do regime atingiu R$ 45,7 bilhões em
2021 (0,5% do PIB e 4,3% da receita corrente líquida da União).
76. Na configuração atual das finanças públicas, em que sobressai a restrição imposta pelo
Novo Regime Fiscal, limitando a despesa total ao patamar do ano anterior corrigida pela taxa de
inflação, o crescimento projetado dos gastos previdenciários contribui para a tendência de
achatamento das demais despesas públicas, com potenciais consequências negativas para a
qualidade e a extensão dos serviços públicos prestados pela União.
Dívida Pública
77. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) e a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP)
são indicadores amplamente utilizados para efeito de comparabilidade das condições de
endividamento público.
78. Em dezembro de 2021, a DBGG diminuiu 4,32% em relação ao saldo atualizado do ano
anterior. Para o mesmo período, houve uma queda de 8,30% na relação da DBGG com o PIB,
saindo da proporção de 88,59% para 80,29%.
79. Nesse ponto, destaco que houve redução da DBGG em relação ao exercício 2020, ano
atípico no qual o endividamento foi utilizado de maneira mais forte para o suporte às ações de
combate aos efeitos da pandemia do Covid-19. Todavia, quando excluído aquele exercício, nota-se
a manutenção da trajetória de alta que teve início em 2014, com o aumento expressivo nos déficits
federais, que representam 94% desse indicador.
80. Quando se examina especificamente as operações compromissadas, percebe-se que
representavam 7,43% do PIB em dezembro 2010, ao passo que, em dezembro de 2021,
representavam 11,31%, o que reforça o quadro de encurtamento dos prazos da dívida.
81. Dentre as causas do elevado volume de operações compromissadas estão a necessidade
de redução da liquidez da economia (aumentada artificialmente com as medidas anticíclicas de
combate aos efeitos da pandemia), bem como o aproveitamento da baixa taxa Selic no exercício
2021, a qual ainda que tenha apresentado trajetória crescente no ano, manteve-se em níveis
inferiores aos registrados no período pré-pandêmico.
82. Ainda com referência aos importantes indicadores de estoque da dívida divulgados pelo
governo federal, destaco também o exame empreendido quanto à Dívida Líquida do Setor Público
(DLSP), que mensura, pela ótica do financiamento, o impacto das operações do setor público sobre
a demanda agregada e que considera, como setor público não financeiro, as administrações diretas
federal, estaduais e municipais, as administrações indiretas, o sistema público de previdência social
e as empresas estatais não financeiras federais, estaduais e municipais.
83. Compõem o passivo da DLSP as dívidas interna e externa do governo federal, a base
monetária e as operações compromissadas. Quanto aos ativos, estão incluídas as reservas
internacionais do Banco Central, bem assim os fundos públicos, como o Fundo de Amparo ao
Trabalhador.
84. Nos últimos oito anos, a DLSP cresceu tanto em volume quanto em representatividade
do PIB, tendo como ponto mais baixo da série o ano de 2013, no qual totalizou R$ 2.608,71 bilhões,
representando 30,50% do PIB e atingindo, em dezembro de 2021, o montante de R$ 4.966,92
bilhões, correspondentes a 57,24% do PIB.
85. Quanto às operações da Dívida Pública Federal (DPF) e ao comportamento dos
indicadores do Plano Anual de Financiamento (PAF), pode-se concluir que as condições de
incerteza da economia brasileira e de demanda dos títulos públicos ainda impõem uma composição
e estrutura de vencimentos de curto prazo, ou de final de exercício, distantes daqueles objetivos
mais alongados, almejados pelo Tesouro Nacional.
86. Chama a atenção o fato de que o estoque da DPF cresceu R$ 604,0 bilhões, ou seja,
aproximadamente 12,1% em relação a 2020. Apesar disso, os R$ 63,0 bilhões recebidos do BNDES
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Fonte: International Institute for Management Development (IMD) e Fundação Dom Cabral.
119. Merece especial atenção o fato de que, considerando os pilares avaliados (Desempenho
Econômico, Eficiência do Governo, Eficiência dos Negócios e Infraestrutura), o Brasil encontra-se
no que poderíamos chamar de “zona de rebaixamento”, entre as quatro últimas colocações no
ranking, justamente nas dimensões relacionadas à eficiência – do governo e de negócios.
120. Segundo o IMD, os principais desafios impostos ao país para superar tais deficiências
incluem a promoção de medidas de qualificação profissional para a economia digital, a ampliação
de investimentos públicos e privados para desenvolver ecossistemas de ciência, tecnologia e
inovação, bem como o incentivo à aplicação de recursos nacionais e estrangeiros no setor produtivo
e na infraestrutura de serviços para melhor se adaptar aos mercados do futuro.
121. Não por acaso, tais diretrizes têm sido trabalhadas de forma abrangente por esta Corte
junto à Administração Pública Federal nos últimos anos, por meio de ações e eventos relacionados
ao programa Brasil 100% Digital e à Rede Federal de Inovação no Setor Público (Rede InovaGov),
ambas iniciativas originárias desta Casa, em parceria com o Poder Executivo e o Poder Judiciário.
122. Os resultados das avaliações internacionais demonstram, portanto, que é necessário dar
continuidade a essas e a outras ações conduzidas pelo TCU, no sentido de estimular e orientar a
modernização do Estado Brasileiro, pois só com o uso intensivo de tecnologias, como a inteligência
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artificial, será possível nos libertar das amarras que impedem o alcance de patamares superiores de
eficiência e de desenvolvimento social e econômico sustentável.
Plano Plurianual – PPA 2020-2023
123. Nesse contexto, cabe ressaltar o papel preponderante conferido pela Carta Magna ao
Plano Plurianual (PPA), enquanto direcionador de mais alto nível das ações governamentais.
Entretanto, a ascensão do PPA ao status de instrumento efetivo de planejamento depende do
aperfeiçoamento dos programas finalísticos e das respectivas metas, cujas deficiências têm sido
apontadas de forma recorrente por esta Corte quando da apreciação anual das Contas de Governo.
124. No que se refere ao exercício de 2020, como consignado pelo Exmo. Ministro Walton
Alencar Rodrigues (Acórdão 1.515/2021-Plenário), 43% das metas e dos resultados intermediários
examinados não foram integralmente cumpridos. Tal resultado representou piora importante em
relação ao ano anterior, quando tal índice alcançou 30%, conforme relatado pelo Exmo. Ministro
Bruno Dantas (Acórdão 1.437/2020-Plenário).
125. Paradoxalmente, o PPA anterior, referente ao período 2016-2019, apresentava maior
complexidade e era mais difícil de ser acompanhado, com 54 programas temáticos, 304 objetivos e
1.136 metas. O plano atual, por sua vez, conta com 70 programas finalísticos, com igual número de
objetivos e metas, e pode ser acompanhado pela aferição de resultados intermediários, que
consistem em escolhas prioritárias do órgão, constituindo as entregas essenciais ao sucesso das
ações planejadas.
126. Outrossim, cabe lembrar que o PPA é instrumental para cumprir a função, elementar nas
democracias maduras, de prover clareza e transparência ao ciclo orçamentário. Qualquer deficiência
na integridade dos dados que o compõem tem o condão de distorcer a visão dos tomadores de
decisão e de comprometer tanto a gestão estatal como o seu devido acompanhamento.
127. Além disso, prezando pela transparência, o legislador previu, no art. 20 da Lei do PPA
2020-2023, que “o investimento que ultrapassar um exercício financeiro, durante o período de 2020
a 2023, será incluído no valor global dos programas, com detalhamento específico em anexos nas
leis orçamentárias e de créditos adicionais”.
128. Nessa linha, preocupa a constatação, registrada no item 3.3.13 do Relatório, de “que
19,82% dos investimentos plurianuais computados na meta do Resultado Intermediário 0009, do
Programa Finalístico 3006 – Transporte Terrestre e Trânsito, não foram identificados no Anexo III
– Investimentos Plurianuais Prioritários do PPA 2020-2023 (Seção I e II)”, em descompasso com a
Lei do PPA e com o previsto no art. 167, § 1º, da Constituição da República.
129. Ao mesmo tempo, verifica-se que as informações disponíveis no texto do PPA e em
seus anexos não estão dispostas de forma a facilitar o acesso e a compreensão da sociedade, ou até
dos auditores do próprio TCU, dificultando a atestação do cumprimento do art. 167, § 1º, da Carta
Política, o qual prevê a inclusão, no Plano, da integralidade dos investimentos plurianuais de cada
programa e por exercício. Ou seja, a forma como os programas finalísticos são medidos e
acompanhados no PPA 2020-2023, pelo valor global, não contribui para o alcance da transparência
esperada.
130. Na época em que vivemos, na qual a identidade de boa parte dos cidadãos se mistura
com sua própria presença digital, parece-me injustificável qualquer dificuldade de monitoramento
do instrumento orçamentário mais estratégico da República, não por falta de dados disponíveis, mas
por insuficiência de transparência ativa – que se configuraria, nesse caso, com um esforço
intencional da Administração Pública em disponibilizar as informações necessárias para o
acompanhamento, na integralidade, dos investimentos plurianuais, de forma que possam ser melhor
compreendidos pelas partes interessadas.
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soberania e promovendo os interesses nacionais. Essa diretriz tem como indicador-chave o Índice
de Governo Digital (EGDI) da ONU e estabelece como meta elevar o referido índice para 0,82
(cenário de referência) ou 0,85 (cenário transformador) até 2031, partindo de uma avaliação inicial
de 0,76 em 2020.
141. Vale lembrar que o posicionamento do Brasil nesse ranking da ONU foi justamente um
dos motivadores para a criação da iniciativa Brasil 100% Digital, pelo TCU, em janeiro de 2015.
Naquela época, nos encontrávamos na 57ª colocação global e em 6º lugar entre os países da
América Latina, atrás de Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia e Costa Rica. Continuávamos reféns
da ditadura dos carimbos e guichês das repartições públicas, após pelo menos quinze anos de
investimentos frustrados, desde o ano 2000, em sistemas de governo eletrônico que nunca chegaram
a funcionar de forma satisfatória.
142. Em um primeiro momento, atendendo à provocação desta Corte, a Casa Civil da
Presidência da República realizou diversas reuniões interministeriais, com a participação do
Tribunal, para diagnosticar o cenário atual e debater sobre as providências necessárias para acelerar
a transformação digital do Governo Brasileiro.
143. Como resultado, o TCU, em cooperação com a Casa Civil e o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, realizou, em abril de 2015, o primeiro “Seminário Internacional Brasil
100% Digital”, que contou com representantes de quinze países dentre os mais avançados do
mundo nesses temas, além de 700 participantes de todas as esferas da Administração Pública, do
meio acadêmico e do terceiro setor.
144. O tema permaneceu em evidência nos anos subsequentes, com a realização de novas
edições do seminário sobre governo digital e eventos anuais intitulados “Análise de dados na
Administração Pública”, com a finalidade de discutir o uso de técnicas avançadas de inteligência
artificial para cruzamento e mineração de dados, como instrumento para melhoria da gestão e do
controle de entidades e políticas públicas.
145. Pode-se dizer que tais esforços geraram bons frutos, como as já citadas Política de
Governança Digital e Estratégia Brasileira de Transformação Digital. Merecem elogios, ainda, os
decretos que instituíram diretrizes para compartilhamento e integração de dados da Administração
Pública (Decreto 8.789/2016), bem como para simplificação dos serviços ao cidadão (Decreto
9.094/2017), além da constituição da Rede Nacional de Governo Digital (Decreto 9.584/2018).
146. Importante ressaltar, igualmente, as relevantes contribuições do Poder Legislativo, a
exemplo da aprovação da Lei do Governo Digital (Lei 14.129/2021) e da iniciativa do Senado
Federal em constituir comissão dedicada a elaborar projeto de regulação da inteligência artificial.
147. Registro que o TCU tem dispensado atenção mais do que especial ao tema, por meio de
fiscalizações específicas, dada a relevância estratégica e viabilizadora para o desenvolvimento
econômico sustentável da nação. Cito os recentes Acórdãos 3.145/2020 (Plataforma de Cidadania
Digital), 1.480/2021 (Internet das Coisas), 1.784/2021 (Governança das ações de transformação
digital), 2.032/2021 (Licitação de frequências do padrão 5G), 2.279/2021 (Plataforma de
Compartilhamento de Dados – Conecta), 1.139/2022 (Inteligência Artificial) e 1.384/2022 (Lei
Geral de Proteção de Dados), todos do Plenário.
148. As contribuições desta Corte de Contas foram reconhecidas explicitamente pelo então
Secretário de Governo Digital do Ministério da Economia, responsável por liderar o esforço de
transformação digital do Poder Executivo, em ofício dirigido à nossa Secretaria de Fiscalização de
Tecnologia da Informação no último dia 13 de outubro, nos seguintes termos:
Gostaria de expressar meus mais elevados préstimos pelo excelente trabalho realizado por toda
a equipe da Sefti no esforço de motivar, dar suporte, monitorar e cobrar o aprimoramento
constante da iniciativa de transformação digital do Estado Brasileiro.
16
Desde muito antes dos resultados serem entregues à população, o TCU demonstrou visão de
futuro, sobretudo quando lançou o tema, ainda em 2015, no seminário Brasil 100% Digital.
Ressalto que a Sefti acompanhou esta trajetória desde os primeiros passos, dando orientações,
prestando esclarecimentos e cobrando resultados em governança, gestão e nos serviços à
população. Por meio de ao menos oito acórdãos, inúmeras reuniões, relatórios e oficinas,
aprendemos juntos, continuamente, quais as melhores práticas deveriam ser aplicadas para
maximizar os ganhos deste projeto e recuperar o atraso da digitalização do Estado brasileiro.
149. Entretanto, apesar das ações do Executivo, com o apoio do Congresso e a orientação
desta Corte, os avanços ainda se mostram insuficientes, conforme evidenciado pelo próprio índice
EGDI, adotado como referência para o planejamento estratégico de longo prazo. Mesmo com o
avanço numérico expressivo, de 0,60 em 2014 para 0,76 em 2020, o Brasil figurava ainda na 54ª
posição do ranking global, muito atrás de Uruguai (26º, EGDI = 0,85), Argentina (32º, EGDI =
0,827) e Chile (34º, EGDI = 0,825).
150. Ainda mais preocupante, a meu ver, é a constatação de que a meta estabelecida na
proposta de Estratégia Nacional de Desenvolvimento para o período 2020-2031 é justamente que o
índice EGDI alcance o valor de 0,82, na estimativa mais conservadora, e 0,85, no “cenário
transformador”. Ou seja, por essas projeções, levaríamos mais dez anos para alcançar o mesmo
patamar de desenvolvimento em governo digital que nossos vizinhos já possuíam dois anos atrás.
151. Nesse ponto, cabe registrar a ocorrência de uma aparente contradição, pois no ranking
global de maturidade em governo digital, divulgado pelo Banco Mundial no último mês de outubro
com base em dados de 2020 (mesmo ano do último levantamento da ONU), o Brasil aparece na 7ª
colocação geral e como líder no continente americano, à frente até mesmo de Estados Unidos e
Canadá, além dos países da América Latina.
152. A explicação para tamanha discrepância é simples: enquanto a avaliação do Banco
Mundial baseia-se na oferta de serviços públicos digitais e nos investimentos associados para
melhoria de processos e capacitação no âmbito da administração pública, a análise efetuada pelas
Nações Unidas é muito mais abrangente. O índice EGDI, calculado pela ONU, é resultado de três
indicadores complementares: a oferta de serviços digitais por parte do governo (OSI), o
desenvolvimento da infraestrutura nacional de telecomunicações (TII) e os investimentos em
capacitação da população em geral para o uso de serviços e tecnologias digitais (HCI).
153. Ocorre que em 2020, segundo o ranking da ONU, éramos o 20º país mais avançado na
digitalização de serviços (OSI), mas estávamos estagnados na 68ª posição na dimensão de capital
humano (HCI) e nossa colocação em infraestrutura (TII) vinha piorando ano após ano – de 58º em
2016 para 68º em 2018, e 72º em 2020, o que evidencia que outras nações têm avançado em
velocidade superior à nossa.
154. Não é difícil compreender as razões para isso quando vemos a situação lastimável da
educação no país, e quando as frequências da telefonia 5G são licitadas a preços muito inferiores ao
seu valor, com obrigações de cobertura insuficientes e prazos mais do que elásticos para sua
implantação que, a propósito, cabe lembrar, já se encontra atrasada neste momento.
155. Em suma, para construção da verdadeira cidadania digital, essencial para uma
democracia plena e participativa, não basta a oferta de serviços públicos digitais. É indispensável
que o Estado proporcione condições efetivas para uso de tais serviços pela população, tanto em
relação à conectividade – com desempenho adequado e preços razoáveis – como ao conhecimento
necessário para operação de tais serviços.
156. Feitas essas observações, passo a discorrer sobre alguns dos principais pontos descritos
no item 3.3 do relatório precedente, com especial atenção aos programas Brasil Moderniza,
relacionado à estruturação do governo digital, e Conecta Brasil, que visa ampliar o acesso à
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165. Em março de 2021, foi firmado Acordo de Cooperação Técnica entre o TSE e o Poder
Executivo, o que possibilitou a retomada dessa iniciativa após uma década de adiamentos. Espera-
se que, após implementada, a ICN possibilite maior acesso aos serviços públicos, constituindo
importante fonte de conferência para reduzir fraudes na utilização de dados de pessoas naturais,
notadamente no acesso a benefícios sociais.
166. No entanto, ainda que o Governo Federal tenha evoluído no campo da oferta de serviços
digitais, os desafios do País nessa seara são mais profundos, conforme demonstrado pela
retromencionada composição do índice EGDI avaliado pela ONU, em especial na área de
telecomunicações.
Programa Finalístico 2205 – Conecta Brasil
167. O programa Conecta Brasil foi planejado para enfrentar o desafio da implantação de
serviços de telecomunicações em regiões remotas, diante de um país de grandezas continentais e de
alta concentração populacional, tendo como objetivo “promover o acesso universal e ampliar a
qualidade dos serviços de comunicações do país”, e como meta “ampliar o acesso à internet em
banda larga para os domicílios brasileiros, de 74,68% para 91%” até 2023.
168. Inicialmente, cabe registrar que persiste o cenário de inadequação de metas e de
resultados intermediários do referido programa, como apontado pelo eminente Ministro Walton
Alencar Rodrigues quando da apreciação das Contas de Governo de 2020, motivando manifestação
sobre o tema na declaração de voto que apresentei à época, nos seguintes termos:
24. Além de a apuração da meta global do referido programa ter utilizado dados bastante
defasados, ainda de 2018, nota-se que a maioria dos resultados intermediários sequer
chegaram a ser apurados, visto que se limitam a referenciar a posição do Brasil em rankings
internacionais de telecomunicações, cibersegurança e adoção da tecnologia da informação, os
quais não foram atualizados em 2020.
25. Conforme bem ressaltado no relatório, a simples utilização de índices processados e
divulgados por organizações internacionais implica omissão do órgão ministerial de seu dever
inarredável de promover e acompanhar o desenvolvimento das iniciativas atinentes à sua área
de competência. Ademais, na ausência de resultados intermediários que indiquem de forma
objetiva o conjunto de ações necessárias para a consecução do objetivo geral, não chega a ser
surpreendente que a meta de universalização prevista para 2020 não tenha sido atingida.
169. Quanto ao desempenho do programa, conforme registrado no relatório precedente, não
foi possível apurar a evolução no índice de acesso domiciliar em banda larga no período, devido à
não realização do levantamento específico (Pnad-TIC) por parte do IBGE em 2020 e à
indisponibilidade, até o momento, dos dados relativos à pesquisa efetuada em 2021.
170. Por outro lado, segundo relatório apresentado pela Controladoria Geral da União com
base em informações obtidas no site da Anatel, há evidências de que o acesso à banda larga fixa
tenha aumentado de 32,9 milhões em dezembro de 2019 para 41,2 milhões ao final de 2021, o que
poderia ser explicado pelo aumento da demanda por serviços disponíveis na internet no período de
isolamento decorrente da pandemia do Covid-19.
171. Com efeito, o que se verifica em relação à conectividade móvel é que o Brasil continua
apresentando indicadores de velocidade em dispositivos móveis muito abaixo dos padrões mundiais
e do mínimo esperado para uma conexão de qualidade. Dados de fevereiro de 2022 apontam o
Brasil na 78ª posição entre 138 países, com desempenho médio sofrível, da ordem de 23 Mbps para
download e 8 Mbps para upload.
172. Ainda pior é a constatação de que não existem perspectivas concretas para a melhoria
dessa situação a curto e médio prazos. O Brasil aparecia, em 2021, como o mais atrasado adotante
da tecnologia 5G entre 112 países. Ademais, conforme consignado no voto revisor que apresentei
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capacitação da população, a fim de que seja possível ampliar os benefícios da transformação digital
para além das fronteiras das repartições públicas.
Considerações sobre os demais programas
181. Registro que, além dos programas Brasil Moderniza e Conecta Brasil, foram analisados
outros seis programas vinculados ao eixo econômico do PPA 2020-2023, dois no eixo ambiental,
três em infraestrutura e cinco na dimensão social. As avaliações detalhadas com relação à qualidade
das metas e dos resultados intermediários, bem como do desempenho de tais iniciativas no ano de
2021, encontram-se anotadas no relatório precedente.
182. Nesse contexto, merece destaque positivo o programa de Melhoria do Ambiente de
Negócios e da Produtividade, que tem como objetivo aumentar a produtividade e a competitividade
da indústria, do comércio, dos serviços e das micro e pequenas empresas nacionais em comparação
com outras economias mundiais.
183. Além da execução orçamentária do referido programa ter ultrapassado a marca dos
90%, as metas estabelecidas para o ano de 2021 foram cumpridas ou superadas, em especial no que
se refere à posição do Brasil no Índice de Competitividade Global, em que a colocação obtida em
2021 – 67º lugar – ultrapassou a meta prevista para todo o quadriênio, que seria a 76ª posição.
184. Ainda que tal resultado possa ter sido influenciado por mudanças na metodologia de
cálculo do índice, entendo que as iniciativas do Poder Executivo contribuíram de forma
significativa para o avanço do país, principalmente no tocante ao incentivo à inovação, por meio da
aceleração de startups (Programa Inovativa Brasil) e do esforço para desburocratização da máquina
pública, este último objeto dos Acórdãos 1.263/2019 e 836/2022, do Plenário, ambos da relatoria do
eminente Ministro Vital do Rêgo.
185. No que diz respeito aos investimentos em Ciência e Tecnologia, entretanto, o cenário
não é tão auspicioso. Apesar de contar com recursos oriundos de renúncias de receitas que estão
entre as oito de maior materialidade no conjunto de gastos tributários, equivalendo a 4,03% do total
das renúncias da União, como já adiantado no Voto, o dispêndio com essa função orçamentária
experimentou um percentual de liquidação de despesas de apenas 56,7% em 2021, contra uma
média de 84,4% nos quatro exercícios anteriores.
186. Conforme detalhado pela unidade técnica, o mau desempenho do programa analisado
(2208 - Tecnologias Aplicadas, Inovação e Desenvolvimento Sustentável) pode ser associado a
problemas na política de incentivos da Lei de Informática, visto que o percentual de faturamento
decorrente de bens com tecnologia nacional foi reduzido durante a pandemia, justamente em função
do aumento da venda de produtos incentivados, como microcomputadores, notebooks e
smartphones.
187. Outrossim, parte considerável do orçamento do Programa 2208 é executado por meio da
Financiadora de Estudos e Projetos, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, bem como pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, responsável pela concessão de bolsas e auxílios para pesquisadores brasileiros. A
atuação das referidas entidades foi avaliada pelo TCU no âmbito dos Acórdãos 693/2022 e
2.794/2021, do Plenário, ambos da relatoria do eminente Min. Augusto Nardes, com diversas
recomendações voltadas para a melhoria na aplicação e na fiscalização dos recursos destinados ao
aprimoramento dessa área tão essencial ao desenvolvimento nacional.
188. Quanto ao Programa 2218, que trata de Gestão de Riscos e de Desastres, informo um
dado curioso. As metas definidas para o programa foram alcançadas e até superadas, com destaque
para o Indicador de Capacidade Municipal (ICM), que considerou o aumento do número de planos
21
197. Conforme registrado pela unidade técnica, durante o exercício de 2021 observou-se o
alcance de 80% da meta estabelecida para o período, com uma execução de 34,8% em relação aos
43,5% planejados. Embora tal diferença possa parecer pequena, é importante levar em consideração
o cenário geral de estresse hídrico vivenciado no país nos últimos anos, e ainda não totalmente
superado.
198. Nesse contexto, não é difícil compreender que a eventual manutenção do atual nível de
desempenho da iniciativa de recuperação dos reservatórios resultaria em uma redução potencial de
20% na capacidade de regeneração dos volumes de água do Rio São Francisco ao longo do tempo, o
que pode comprometer não só o sucesso do PISF, como a segurança do abastecimento dos
municípios que integram a bacia hidrográfica.
199. Em resumo, caso não seja revertido o baixo desempenho nessa ação específica, é
possível que esse programa governamental resulte no aumento da quantidade de municípios em
situação de insegurança hídrica, em vez da sua redução.
200. Vale lembrar que o processo de capitalização da Eletrobras, concluído recentemente
após validação das condições da operação por esta Corte (Acórdão 1.103/2022-Plenário, de minha
relatoria), previu a destinação anual de R$ 350 milhões justamente para revitalização dos recursos
hídricos da bacia do Rio São Francisco. Porém, conforme alertei em meu voto, tais valores são
insuficientes para levar a termo as ações necessárias, sendo imprescindível que o Governo Federal
continue aportando recursos orçamentários e humanos para o alcance dos objetivos estabelecidos
para o programa.
201. Apesar da criticidade do tema e das deficiências apontadas na implementação das ações
planejadas, entendo que tais problemas poderão ser enfrentados por meio de iniciativas inseridas no
novo Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), uma vez que o PNRH 2006-2021 teve sua
vigência encerrada em dezembro de 2021 e, segundo informações prestadas pela Agência Nacional
de Águas no âmbito do TC 029.486/2020-3, o PNRH 2022-4040 encontra-se atualmente em
elaboração.
IV - CONFORMIDADE FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
202. Nesse ponto, o exame efetuado, para além de contribuir com a transparência da gestão,
fornecendo informações sobre a atuação do Governo Federal na seara das finanças públicas,
objetiva verificar a conformidade e a adequação da gestão orçamentária e financeira do exercício de
2021 às normas regentes, em especial as regras constitucionais, da Lei de Responsabilidade Fiscal,
da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentaria anual.
203. Conforme destacado pela unidade instrutiva, o resultado dessa avaliação não configura
certificação acerca da regularidade da gestão, em similitude ao disposto no art. 206 do Regimento
Interno do TCU.
204. Acerca do cumprimento de dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal, foram
escrutinados os seguintes temas: limites e/ou parâmetros estabelecidos para as metas fiscais;
contingenciamento; receita corrente líquida; despesas com pessoal; disponibilidades de caixa e
restos a pagar; operações de crédito, garantias e contragarantias; instituição de renúncias de receitas;
criação ou aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; e ações de recuperação de
créditos.
205. Em seu exame, a unidade técnica cuidou de verificar o cumprimento de dispositivos da
Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto à execução de metas e prioridades do exercício de 2021,
finalizando com a proposta de opinião do TCU sobre a observância dos princípios constitucionais e
legais que regem a administração pública federal, com vistas à emissão do Parecer Prévio sobre as
Contas do Presidente da República.
23
206. A unidade instrutiva registrou como irregularidade, após extensa e judiciosa análise nos
autos, alinhando proposta de recomendação, o desvio de finalidade reincidente de recursos
vinculados à seguridade social para o custeio de ações típicas de manutenção e desenvolvimento do
ensino alheias às políticas públicas abrangidas pelo conceito constitucional de seguridade social, em
afronta aos princípios e regras previstos nos arts. 194, 195, 198 a 203 da Constituição Federal, ao §
4º do art. 76 do ADCT, à Lei 8.212/1991 (arts. 11, 16, 17 e 18), à Lei Complementar 141/2012
(arts. 2º e 3º), e em desacordo com a resposta à consulta apreciada pelo Acórdão 31/2017 - Plenário,
com eficácia normativa.
207. Na sequência, foi anotada como impropriedade a execução reincidente no identificador
orçamentário exclusivo para ações de manutenção e desenvolvimento do ensino (ID-USO 8) de
parcela residual de despesas com aposentadorias e pensões, em desacordo com § 7º do art. 212 da
Constituição Federal e o art. 70, inciso I, da Lei 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
208. No tocante ao quadro de calamidade pública decorrente da pandemia do Covid-19,
foram adotadas diversas ações para fazer frente à crise sanitária. Entretanto, a LOA 2021 não previu
ação específica para segregar os recursos alocados no enfrentamento da pandemia, de modo
diferente do que ocorreu em 2020 com a criação de ação orçamentária própria (Enfrentamento da
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional Decorrente do Coronavírus).
209. Assim, cabe destacar que, para a continuidade do referido enfrentamento, foram
publicadas diversas medidas provisórias para a abertura de créditos extraordinários na função
Saúde, tendo como fonte de recursos o superávit financeiro, excesso de arrecadação e operações de
crédito.
210. O relatório também trouxe a lume o volume expressivo de recursos de natureza federal
repassados aos entes subnacionais na forma prevista na Lei Complementar 141/2012. Entretanto, o
Ministério da Saúde e demais órgãos federais não se valeram das ferramentas tecnológicas
disponíveis – a exemplo da Plataforma +Brasil e do Portal Nacional das Contratações Públicas
(PNCP) – para realizar o monitoramento e a avaliação da eficiência alocativa dos recursos de
natureza federal aplicados de forma descentralizada.
211. O tema da necessidade de se estender o uso das ferramentas tecnológicas disponíveis
para monitorar e avaliar a eficiência alocativa dos recursos federais destinados à saúde já tinha sido
apontado no Parecer Prévio sobre as Contas de 2020, inclusive com a expedição de recomendação,
que ainda não foi implementada.
212. Nesse contexto, rememoro que, por meio da Instrução Normativa Seges/Ministério da
Economia 206/2019, foi promovida restrição quanto ao uso obrigatório da Plataforma + Brasil,
reservada apenas para as transferências voluntárias federais, tipo de repasse intergovernamental
residual na área de saúde, sem alcançar a maior parte dos repasses, realizados na modalidade
transferência obrigatória.
213. Assim, como destacado no relatório, a despeito de se manter a natureza federal do
recurso e a competência dos órgãos da União para realizar a fiscalização e controle, a aplicação de
mais de R$ 103 bilhões permanece à margem de qualquer controle de forma sistematizada e
racional.
214. Referido quadro torna por deveras pertinente a proposta de se expedir nova
recomendação, bem assim alertas, conforme registrado pela unidade instrutiva, contemplando os
avanços legislativos inaugurados pela Emenda Constitucional 109/2021 e as previsões dos arts. 16 e
17 da Lei 14.194/2021, cujo monitoramento futuro deverá ser realizado em substituição ao anterior,
presente na recomendação relativa às Contas de 2020.
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243. Ao contrário dos exames promovidos no último exercício, não foram relatadas
restrições significativas para o exercício, pelo TCU, da sua competência quanto ao Balanço Geral
da União. Rememoro que, relativamente às contas de 2020, a equipe da unidade técnica registrou
que não foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar a opinião
sobre as demonstrações contábeis integrantes do BGU, tendo sido lavrada proposta de abstenção de
opinião de auditoria sobre elementos das demonstrações contábeis do Ministério da Economia e do
Fundo do Regime Geral de Previdência Social.
244. Na quadra atual, foram relacionados os seguintes achados constantes dos diversos
relatórios de auditoria elaborados em sede dos processos específicos de fiscalização que
subsidiaram o presente exame quanto ao Balanço Geral da União e para os quais foram detectadas
distorções de valor, com a consequente formulação de proposta corretiva:
i) R$ 99,558 bilhões de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos a
maior por consideração do serviço futuro;
ii) R$ 7,874 bilhões de passivo atuarial do RPPS reconhecidos a menor por erro na
exclusão de segurados;
iii) R$ 7,519 bilhões de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos a
menor por imprecisão e erro na implementação das premissas de crescimento dos benefícios e dos
salários;
iv) R$ 7,291 bilhões, pelo menos, do passivo atuarial relativo ao Benefício Especial ao
Regime dos Anistiados e ao Plano de Seguridade Social dos Congressistas não reconhecidos;
v) R$ 1,839 bilhões de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos a
menor pela desconsideração da despesa com o auxílio invalidez;
vi) R$ 1,006 bilhão de Provisão para Benefícios com Militares Inativos reconhecidos a
maior por erro de inclusão de militares com pagamento suspenso/bloqueado;
vii) R$ 6,231 bilhões de medicamentos e insumos estratégicos distribuídos, mas não
baixados do estoque;
viii) R$ 5,472 bilhões de créditos da Dívida Ativa Tributária extintos, porém mantidos
no ativo não circulante;
ix) Reconhecimento a maior de Ajuste para Perdas relativo a Empréstimos da União
para Estados da Federação.
245. Com referência às distorções de classificação, as fiscalizações realizadas pela unidade
técnica destacaram os seguintes achados:
i) R$ 329,455 bilhões de créditos tributários a receber classificados em circulante e não
circulante sem adequada segregação entre curto e longo prazo;
ii) R$ 7,406 bilhões de classificação inadequada dos Depósitos Especiais do FAT no
Balanço Patrimonial da União;
iii) R$ 7,141 bilhões de variações patrimoniais aumentativas classificadas
indevidamente como atualização monetária.
246. Ao fim, consoante a conclusão da unidade técnica, exceto pelas distorções de valor e de
classificação contábil retromencionadas, cujos efeitos nas demonstrações contábeis são relevantes,
mas não generalizados, as demonstrações contábeis em exame apresentam adequadamente, em
todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira em 31 de dezembro de 2021 e
a execução orçamentária da União do exercício encerrado na referida data, de acordo com as
práticas contábeis adotadas no Brasil e aplicadas ao setor público.
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constitucionais e legais que regem a administração pública federal no tocante às Contas do exercício
de 2021.
257. Assim, louvando mais uma vez a excelência do trabalho produzido pelas equipes
técnicas do Tribunal, são apresentados ao Colegiado, para deliberação, com proposta de opinião
com ressalvas sobre a execução dos orçamentos e a gestão dos recursos públicos federais, o
Relatório e a minuta de Parecer Prévio sobre as Contas do Presidente da República referentes ao
exercício de 2021, com fulcro no art. 71, inciso I, da Constituição Federal, e no art. 36 da Lei
8.443/1992.
258. Por fim, o detido exame efetuado pelo Tribunal irá subsidiar as Casas do Congresso
Nacional no subsequente cumprimento do seu mister constitucional, de julgamento das contas, nos
termos do art. 49, inciso IX, da Carta Política.
AROLDO CEDRAZ
Relator
31
AO CONGRESSO NACIONAL
(Assinado Eletronicamente)
MARCOS BEMQUERER COSTA
Ministro-Substituto
10
(Assinado Eletronicamente)
ANTONIO ANASTASIA
Ministro
11
(Assinado Eletronicamente)
ANTONIO ANASTASIA
Ministro
12
Fonte: International Institute for Management Development (IMD) e Fundação Dom Cabral.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 29 de junho
de 2022.
BENJAMIN ZYMLER
Ministro
DECLARAÇÃO DE VOTO
Sra. Presidente, Srs. Ministros, Sra. Procuradora-Geral, demais autoridades, Sras. e Srs.
Em sessão solene, o Plenário desta Casa de Contas se reúne novamente para cumprir o comando
inserto no art. 71, inciso I, da Constituição Federal, de apreciar as contas prestadas anualmente pelo
Presidente da República relativas ao exercício de 2021, mediante parecer prévio.
2. De proêmio, saúdo o E. Ministro Aroldo Cedraz, Relator destas contas, e toda a sua equipe
pelo zeloso trabalho empreendido, cujos resultados refletem a qualidade técnica e a profundidade do
Relatório e do Projeto de Parecer Prévio ora submetidos a este Colegiado. Rendo ainda encômios à
valorosa Secretaria de Macroavaliação Governamental e aos servidores desta Casa que somaram
esforços para o atendimento dessa republicana competência constitucional.
3. Da plêiade de temas relevantes que permeiam estes autos, colho para exame a delicada
matéria da renúncia de receitas tributárias. Consoante informou a unidade técnica (subitem 4.1.2.9 do
Relatório precedente, peça 6, p. 301), foram instituídas 26 desonerações tributárias no exercício de
2021, mediante 20 atos normativos, no montante estimado de R$ 4,8 bilhões.
4. Por ter os mesmos resultados econômicos das despesas públicas, a renúncia tributária ou
“gasto tributário” (tax expediture) foi objeto de preocupação do legislador constituinte e ordinário,
especialmente ao estabelecer diversas regras e cautelas para concessão dessas desonerações.
5. Nada obstante, o Poder Executivo concedeu e/ou ampliou benefícios tributários que
importaram renúncia de receita sem observar as disposições dos arts. 113 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), 14 da Lei Complementar 101/2000 (LRF) e 125 a 129 e 137 da
Lei 14.116/2020, alterada pela Lei 14.143/2021 (LDO 2021), haja vista que, no momento da edição da
Lei 14.257/2021, das Medidas Provisórias 1.034/2021 e 1.094/2021, da Portaria/ME 15.224/2021, e da
sanção das Leis 14.126/2021 e Lei 14.288/2021 (estas de iniciativa do Poder Legislativo), bem como
da implementação pelo Poder Executivo dos benefícios, não foram contemplados integralmente os
requisitos constitucionais e legais necessários para conferir eficácia às normas aprovadas, como:
projeção do impacto orçamentário-financeiro; atendimento ao disposto na lei de diretrizes
orçamentárias; consideração da renúncia na estimativa de receita da lei orçamentária e não afetação
das metas dos resultados fiscais ou, alternativamente, apresentação de medidas de compensação;
fixação de vigência máxima de cinco anos; e indicação do órgão responsável pela supervisão,
acompanhamento e avaliação do benefício.
6. Essa relevante questão não tem passado despercebida nesta Corte de Contas. Sem a
pretensão de ser exaustivo, destaco que o Tribunal, recentemente, deu Ciência à Casa Civil da
Presidência da República e ao Ministério da Economia acerca da necessidade de cumprir “todos os
requisitos constitucionais e legais” para sanção de projeto de lei ou de projeto de lei de conversão,
“quanto à concessão ou ampliação de todas as naturezas de renúncias de receitas”, nos termos do
subitem 9.2 do Acórdão 333/2022 – Plenário (rel. min. Walton Alencar Rodrigues).
7. De ressaltar que a atenção aos comandos estabelecidos no art. 14 da LRF 101/2000, no art.
113 do ADCT e na Lei de Diretrizes Orçamentárias não se restringem aos projetos de iniciativa do
Poder Executivo, pois alcançam igualmente a apreciação de propostas de iniciativa do Poder
Legislativo, “por ocasião do exercício do poder de sanção e/ou de veto do Presidente da
República”, conforme assentou este Colegiado mediante o Acordão 2.198/2020, subitem 9.2.2.
(rel. min. Vital do Rêgo). Nessa mesma Decisão, firmou-se o entendimento de que as leis e demais
normativos que instituírem benefícios tributários e outros que tenham o potencial de impactar as metas
fiscais somente podem ser aplicadas se forem satisfeitas as condicionantes constitucionais e legais
indicadas no art. 167, inciso II, da CF, no art. 113 do ADCT, assim como na regulamentação
disciplinada pelos arts. 14 a 16 da LC 101/2000 (subitem 9.3).
8. Como se percebe, os julgados precitados, entre outros, dão bem a dimensão da importância e
da atenção que o Tribunal confere ao tema dos benefícios tributários e da indispensável observância
aos requisitos necessários à sua concessão.
9. A preocupação desta Casa de Contas no controle das renúncias de receitas tributárias
justifica-se por motivo de pinacular relevância, que é a necessária consciência de que as inovações
legislativas que encaminham desonerações tributárias, se desacompanhadas dos cuidados estabelecidos
pelo legislador, a exemplo da adequada estimativa do impacto orçamentário-financeiro nas finanças da
União e das medidas destinadas a aplacar esses impactos, podem trazer riscos significativos à
sustentabilidade fiscal do país.
10. Não há dúvida de que a situação atual é desafiadora e ainda inspira cuidados, pois as
providências de enfrentamento à pandemia da Covid-19 indiscutivelmente trouxeram reflexos às
receitas, às despesas e à dívida pública. Nada obstante, a superação dos desafios não dispensa o
atendimento das cautelas constitucionais e legais para adoção de medidas de ampliação de benefícios
tributários que resultam em renúncia de receita, sob pena de distanciamento do norte da
responsabilidade fiscal.
Feitas essas considerações, novamente registro minhas homenagens ao portentoso trabalho
conduzido pelo E. Ministro Aroldo Cedraz, com apoio nos dados e fundamentos técnicos oferecidos
pela Secretaria de Macroavalição Governamental.
Acompanho na íntegra o voto de Sua Excelência.
DECLARAÇÃO DE VOTO
Senhora Presidente,
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
De início, registro minha participação na apreciação das contas prestadas pelo Presidente
da República, relativas ao exercício de 2021, atuando em substituição ao Ministro Bruno Dantas,
conforme Portaria-TCU nº 47-SEAE, de 28/06/2022.
2. Parabenizo, desde logo, o Ministro Aroldo Cedraz, estendendo os cumprimentos aos
servidores de seu gabinete e a todos os auditores e unidades deste Tribunal que, direta ou
indiretamente, participaram da análise das presentes contas.
3. A par das inúmeras questões relevantes abordadas no relatório apresentado por Sua
Excelência, gostaria de destacar, neste momento, a atuação dos órgãos governamentais no controle das
contas públicas, evidenciada em diversos trechos do relatório. Ao longo dos últimos anos, é evidente a
evolução ocorrida no controle jurídico, financeiro e contábil das contas de governo. Isso se deve não
só a atuação cada vez mais qualificada deste Tribunal e de suas unidades técnicas, mas também do
aprimoramento do planejamento e das ações de órgãos internos de governo. Vou me deter nessas
últimas, com intuito de incentivá-los a alcançar melhores resultados a cada dia.
4. Além das iniciativas próprias adotadas, realça a atenção às deliberações do TCU
dispensada pela STN.
5. Por certo que os resultados do controle exercido por esta Corte de Contas dependem, em
grande medida, do esforço dos órgãos para adotar as providências recomendadas e as medidas
necessárias para a correção de eventuais falhas constatadas e para a implementação de oportunidades
de melhoria.
6. Ao concluir a análise da auditoria acerca do Balanço Geral da União (BGU), registrou-se,
no relatório: “As recomendações e as ações dos órgãos e entidades da administração pública federal no
sentido de cumprir as recomendações advindas da auditoria financeira do TCU têm se mostrado
como importante mecanismo de aprimoramento dos registros da contabilidade pública. De forma
exemplificativa, podem ser citadas a implementação de rotina automática para contabilização da
remuneração das disponibilidades da conta única, bem como as melhorias que estão sendo
implementadas no controle contábil das participações acionárias da União”.
7. No mesmo sentido, a partir do monitoramento das deliberações sobre as Contas do
Presidente da República de 2015 a 2019, ressaltou-se: “Em que pesem as quatro recomendações não
implementadas, o desempenho apurado em face do presente monitoramento revela que os órgãos
e entidades do Poder Executivo federal estão envidando esforços para implementar as medidas
sugeridas pelo TCU por ocasião do Parecer Prévio. Com efeito, quase todas as recomendações e
alertas proferidos por esta Corte de Contas ensejaram a adoção de ações preventivas, corretivas ou de
aprimoramento da gestão, com o propósito de evitar irregularidades, sanar distorções e impropriedades
e aperfeiçoar procedimentos que assegurem a conformidade na execução orçamentária e na gestão dos
recursos públicos federais e a confiabilidade das informações contábeis da União.”
12. Nada obstante a evolução da correção da gestão financeira e do controle das contas
públicas seja objetivo a ser continuamente perquirido, mencionados exemplos revelam a atuação da
STN nessa direção e a diligência quanto às deliberações do Tribunal, o que se espera permaneça em
crescente progresso.
13. Como indicativo a reforçar a melhora da performance da Secretaria do Tesouro Nacional,
observo a inexistência de qualquer recomendação a ela direcionada, no parecer prévio sobre as contas
prestadas pelo Presidente da República referentes ao exercício de 2021, ora em exame.
Com esse registro, concluo reafirmando meus louvores ao distinto trabalho levado a efeito
nesta ocasião, sob direção do eminente Ministro Aroldo Cedraz, e VOTO pela aprovação do Parecer
Prévio apresentado por Sua Excelência.
DECLARAÇÃO DE VOTO
utilização racional dos recursos naturais, em especial da água; redução da pobreza; e garantia da
igualdade de oportunidades.
O primeiro passo para o controle dessas despesas passa pela adequada gestão dos
benefícios pagos. Urge, portanto, que a administração seja capaz de controlar adequadamente todas as
etapas dos benefícios pagos, bem como seja capaz de estimar o volume de obrigações no longo prazo,
produzindo informações atuariais capazes de indicar o provável crescimento dessas despesas e,
consequentemente, conferindo a necessária transparência aos gastos futuros.
Nessa esteira, poderia citar dezenas de acórdãos desta Corte que permitiram ao RPPS e ao
SPMFA terem alcançado a estrutura de controle, que apesar das inúmeras fragilidades ainda existentes,
encaminha-se para um nível minimamente adequado.
A título de exemplo, cito dois acórdãos recentes que ilustram em alguma medida esse
entendimento. O primeiro trata-se do Acórdão 684/2022 – Plenário, no qual fui redator, por meio do
qual o Tribunal definiu, apesar do SPMFA não ser caracterizado formalmente como previdência, a
obrigatoriedade de o Ministério da Defesa realizar os estudos atuariais desses gastos.
Essa questão demonstrou um avanço significativo na gestão e na transparência desses
benefícios pós-emprego, questão esta que o Tribunal discutia há mais de uma década.
Além desse decisum, cito também o Acórdão 1515/2021 – Plenário, de minha relatoria,
referente às Contas do Presidente da República de 2020, no qual o Tribunal determinou à Secretaria de
Previdência Social do Ministério da Economia (Sprev/ME) que enviasse Plano de Ação para
implementação da Unidade Gestora Única do Regime Próprio de Previdência Social da União (RPPS),
informando as etapas, o cronograma e as ações a serem realizadas.
A Sprev/ME encaminhou a este Tribunal Nota Técnica informando que já foi elaborada
minuta de projeto de lei para a instituição dessa unidade gestora única e o cronograma de centralização
das atividades de concessão e manutenção de aposentadorias e pensões das autarquias e fundações da
União tem previsão para conclusão até setembro de 2022.
Dessa forma, observo que o RPPS e o SPMFA encontram-se em uma fase de estruturação
mais avançada do que o Regime Geral de Previdência Social, na medida em que este último se
encontra em níveis críticos de transparência e de controle de pagamento de seus benefícios.
Com vistas a demonstrar minha maior preocupação com o Regime Geral de Previdência
Social, em primeiro lugar, faz-se necessário apresentar a comparação sucinta da magnitude de gastos
entre o RGPS e o RPPS e o SMPFA. Minha preocupação não é a respeito do valor do benefício médio,
mas, sim, em termos de agregado e de impacto nas contas públicas.
Enquanto o RGPS realizou o pagamento de benefícios que somaram R$ 712,0 bilhões em
2021, o RPPS registrou a despesa de R$ 89,0 bilhões e o SPMFA, de R$ 54,1 bilhões, ou seja, sem
considerar o número de beneficiários, o RPPS e o SMFA representaram cerca de 20% da despesa
anual do Regime Geral de Previdência Social.
Além disso, quanto ao déficit dos regimes e do SPMFA, em um total de 350,0 bilhões,
71,5%, ou seja, R$ 250,13 bilhões, concentram-se no RGPS, enquanto 28,5% do déficit (R$ 99,93
bilhões) se refere a benefícios pós-emprego do setor público a cargo da União, assim distribuídos: i)
48%, ao RPPS; ii) 46%, ao SPSMFA; e iii) 6%, ao FCDF.
Outra informação relevante refere-se ao fato de que o RPPS e o SPMFA, por conta da
reforma previdenciária e da Lei 13.954/2019, apresentaram, em termos reais, redução do déficit em
2021 de 8,2% e 7,5%, respectivamente. Ademais, enquanto os gastos do RPPS tiveram variação de -
0,78%, de 2012 a 2021, o RGPS cresceu seus gastos 34,56% no mesmo período.
Como variável agravante da minha preocupação com o Regime Geral de Previdência
Social, relembro que a transição demográfica brasileira aumentará significativamente o número de
pessoas em idade de aposentadoria no Brasil, nas próximas décadas, o que impactará de forma
desproporcional esse regime.
Isso ocorrerá, em essência, por três motivos: primeiro, o regime geral, atualmente com 36,3
milhões de beneficiários (segundo o Boletim Estatístico da Previdência Social) realiza o pagamento de
benefícios na ordem de R$ 712 bilhões anuais, sendo que existem atualmente cerca de 52,3 milhões de
contribuintes que passarão a receber os benefícios em futuro breve; segundo, a aposentadoria rural, por
ter caráter assistencial, não exige contribuição dos segurados, ou seja, além dos atuais contribuintes,
alguns milhões adentrarão no sistema previdenciário sem nunca ter realizado nenhuma contribuição; e
terceiro, pela baixa taxa de fecundidade atual do Brasil, que impede a necessária reposição da força de
trabalho para fazer frente ao regime de financiamento por repartição, impedindo que se consiga
contribuintes em atividade laboral suficientes para financiar os inativos.
Feito esse breve quadro do risco fiscal referente ao Regime Geral da Previdência Social,
repiso a declaração que proferi, na sessão plenária do dia 24/6/2022, no âmbito do TC 030.739/2021-7,
referente à auditoria financeira nas demonstrações contábeis do Fundo do Regime Geral de
Previdência Social (FRGPS), exercício de 2021. Naquela ocasião, expressei minha opinião de que
estamos em face de uma “bomba atômica”, em relação ao Regime Geral de Previdência Social.
Infelizmente, o país ainda não deu a necessária atenção à questão.
Ressalto esse ponto, em primeiro lugar, porque estamos em cenário de incerteza em
relação ao impacto da previdência desse regime nas contas públicas. Esse ponto torna-se evidente
quando, nas Contas do Presidente da República, apenas o Regime Geral de Previdência Social não
apresentou os passivos atuariais em suas demonstrações financeiras.
Cristalino está o quão absurdo é o risco que envolve essa questão quando se analisa as
contas públicas. Não apenas porque o volume de gasto com esse regime já é alarmante, mas,
principalmente, porque existem sólidas evidências de que tais gastos aumentarão drasticamente nas
próximas décadas.
Em relação a isso, a ciência atuarial, com os avanços nos últimos anos, já possui
mecanismos e metodologias suficientes para sobrepujar possíveis dificuldades existentes em relação
aos dados, para realizar estimativa do passivo atuarial, faltando apenas a vontade política de fazê-lo.
Tal “bomba” a qual me referi, não se restringe, apenas, à falta de informação e de
transparência dos gastos de longo prazo do Regime Geral de Previdência Social, mas também por
conta da mais grave crise administrativa na qual já passou o INSS.
A autarquia teve seu quadro reduzido em mais de 30% nos últimos anos, sem a devida
reposição funcional, ou mesmo mudanças significativas nos processos de trabalho, suficientes para
adequar suas atividades ao fluxo de trabalho e à demanda da sociedade.
Prova da ineficiência da autarquia é o fato de a digitalização dos pedidos de concessão de
aposentadorias, longe de mostrar avanços no atendimento, serviu apenas para gerar a falsa ilusão aos
segurados de que seriam atendidos rapidamente e sem burocracia. Existem, atualmente, mais de um
milhão de pedidos, alguns dos quais com mais de um ano de espera, aguardando eventual
reconhecimento ou negação dos direitos pleiteados.
A demora excessiva na concessão de tais benefícios digitalizados, além de ser
desrespeitosa a trabalhadores e a pessoas com hipossuficiência, faz com que aumente o fluxo de
concessão desses benefícios pelas vias judiciais.
Conforme apresentado no relatório do Acórdão 2894/2018 – Plenário, o maior número de
processos no judiciário brasileiro é referente a benefícios previdenciários. O problema, além do
impacto financeiro real que a judicialização causa ao Erário, está no fato de que os benefícios
concedidos pelo judiciário têm parâmetros muito mais elásticos do que os realizados pelo INSS, ou
seja, o menor rigor faz com que concessões, com muitos erros e inconsistências, sejam prevalentes e
suscitem cada vez maior número de demandas.
Além disso, conforme o TC 030.739/2021-7, referente à auditoria financeira nas
demonstrações contábeis do Fundo do Regime Geral de Previdência Social (FRGPS), ainda existe
grave deficiência na apuração dos benefícios identificados como fraudes. Nesta auditoria, a equipe
verificou que o departamento central do INSS não conseguiu informar quantos processos físicos,
identificados como fraudes, aguardam apurações nas agências da autarquia. Isto significa que as
DECLARAÇÃO DE VOTO
Cumprimento o nobre relator, Ministro Aroldo Cedraz, pelo laborioso, amplo e preciso
diagnóstico da situação das contas governamentais sob os diversos aspectos tratados no relatório e no
parecer prévio das Contas do Governo relativas ao exercício de 2021.
2. Igualmente, exalto todo o esforço empreendido pelas unidades técnicas do TCU, que
produziram sólido embasamento técnico para a elaboração do parecer prévio ora apreciado pelo Plenário
desta Casa, razão pela qual homenageio todos os servidores envolvidos neste trabalho.
3. Passo a abordar brevemente questões que reputo de elevada importância para o Estado
Brasileiro no atual contexto.
II
4. Inicio meus comentários para tratar de assunto que me causou incômodo na leitura do
relatório sobre as Contas do Presidente da República, especificamente a respeito do que vejo como um
grande empobrecimento dos brasileiros em 2021.
5. De acordo com as informações apresentadas, o rendimento médio real mensal ficou em
R$ 2.659, regredindo a valores de 2013 em boa parte dos meses do ano passado.
6. Em que pese a redução paulatina da taxa de pessoas desocupadas ao longo de 2021, que
começou em 14,5% e terminou em 11,1%, ocorreu o inverso com a renda, que desabou de R$ 2.943 para
R$ 2.512, demonstrando que houve achatamento dos salários e dos outros ganhos.
7. Cabe notar que o quadro de penúria só não restou pior porque, no ano, em caráter
extraordinário, foram injetados R$ 59,7 bilhões diretamente no bolso dos brasileiros, a título do Auxílio
Emergencial, mais R$ 7 bilhões no âmbito do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda, ambas as ações, entretanto, já encerradas.
8. Nem mesmo o crescimento real do PIB, de 4,62%, conseguiu compensar o efeito corrosivo
da inflação de 10,06% sobre o poder de compra, de modo que a produção adicional de bens e serviços
não foi suficiente sequer para manter o nível de renda do ano anterior, caindo 3,76% na média.
9. Confirmando a conjuntura alarmante, poucos dias atrás, o IBGE divulgou o Informativo
referente à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Rendimento de Todas as Fontes
2021, com números ainda piores, dando conta de uma renda média mensal real, no País, de R$ 2.265, a
menor da série iniciada em 2012, quando foi superior em R$ 104.
10. Como é histórico da perversa e persistente desigualdade regional, a população do Nordeste
ficou com o mais baixo rendimento, de R$ 1.497, ou seja, R$ 768 inferior à média brasileira e R$ 1.170
à maior delas, do Sudeste, diferença mensal que ultrapassa o salário mínimo pago em 2021 (R$ 1.100).
11. Quando se considera o rendimento médio mensal real domiciliar per capita, que divide os
ganhos totais do grupo familiar pela quantidade de moradores maiores de 14 anos que aufiram renda ou
não, a pesquisa do IBGE aponta para R$ 1.353 a cada mês por brasileiro, com todas as classes sociais
reunidas.
12. Não obstante, nesse quesito, o dado mais assustador levantado é quanto ao grupo dos 5%
mais pobres residentes no País, “cujo rendimento médio [mensal] foi de R$ 39 em 2021, [com] redução
de 48,0% na comparação com a estimativa de 2012 (R$ 75)” e de 33,9% em relação a 2020 (R$ 59). No
grupo seguinte, de 5% a 10% dos mais pobres, o rendimento foi de R$ 148, com decréscimo de 31,8%
de 2020 para 2021.
13. Pelos critérios do Programa Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família), definidos pelo Decreto
10.852/2021, no ano passado a “extrema pobreza” era caracterizada pelo recebimento de renda familiar
mensal per capita de até R$ 100, enquanto a “pobreza” estava inserida no intervalo de mais de R$ 100
a R$ 200.
14. Isto é, tendo em vista a população estimada de 212,7 milhões, tínhamos em 2021 mais de
10,6 milhões de pessoas vivendo com R$ 1,30 por dia, menos da metade do valor da linha da “extrema
pobreza”, e outras mais de 10,6 milhões com R$ 4,93 por dia, menos da metade do valor da linha da
“pobreza”. Devido ao expressivo declínio da renda, é certo que boa parte desse conjunto de pessoas veio
a se tornar pobre em 2021.
15. Com resultados semelhantes aos do IBGE, o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio
Vargas (FGV Social) publicou, também neste mês de junho, a pesquisa intitulada “A Montanha-Russa
da Pobreza”, revelando que, pelos próprios parâmetros governamentais, “10,8% da população estava
abaixo da linha de pobreza (...) em 2021, cerca de 23 milhões de pessoas”. E segue destacando que “a
proporção de pobres em bases anuais sobe 42,11% entre 2020 e 2021, correspondendo a 7,2 milhões de
novos pobres” no último ano.
16. Aos olhos do resto do planeta, a situação brasileira é mais grave ainda, uma vez que o
referencial normalmente aceito, do Banco Mundial, coloca na faixa da “extrema pobreza” quem ganha
até U$ 1,90 por dia (U$ 57 por mês). Adotada, como melhor hipótese, a menor cotação do dólar em
2021 (R$ 4,90), o rendimento característico da “extrema pobreza” seria aquele abaixo de R$ 279, valor
que, segundo a Pesquisa do IBGE, abrange quase 20% da população, quer dizer, 42,5 milhões de pessoas.
Na linha da “pobreza”, seriam mais 30%, ou 64 milhões de pessoas. Totalizando, é metade dos
brasileiros, 106 milhões, subsistindo de maneira precária.
17. Conforme a Prestação das Contas do Presidente da República, o governo federal avaliou que,
em 2021, superou, com alcance de 106,27%, a meta do PPA 2020-2023 relativa ao atendimento das
famílias pobres elegíveis ao antigo Programa Bolsa Família, atingindo 14,6 milhões de benefícios. Para
tanto, contudo, utilizou dados ainda do Censo de 2010, já muito defasados, em comparação com a última
Pesquisa de Domicílios do IBGE, devendo a avaliação ser rejeitada por falta de confiabilidade, na forma
proposta pela Semag. Após adiamentos, o novo Censo está programado para o ano corrente.
18. Em todo caso, o indicador mais evidente e trágico do tamanho da indigência é captado pelas
nossas vistas, nas ruas, nos semáforos, nas portas de supermercados e padarias, onde pessoas já deixaram
para trás toda a sua dignidade para implorar por comida.
19. Chegam também os sinais do noticiário, quando somos informados, por exemplo, da
comercialização, por supermercados pelo Brasil, de subprodutos alimentícios para consumo humano,
como osso bovino e pele de frango, outrora destinados ao lixo.
20. Na pesquisa “Insegurança Alimentar no Brasil: Pandemia, Tendências e Comparações
Globais”, divulgada em maio passado, a FGV Social mostra que “a parcela de brasileiros que não teve
dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento nos últimos 12 meses subiu de 30% em
2019 para 36% em 2021, atingindo novo recorde da série iniciada em 2006.”
21. A pesquisa observa ainda que o ano de 2021 marcou como “a primeira vez (...) que a
insegurança alimentar brasileira supera a média simples mundial”, com elevação de “4,48 pontos
percentuais mais aqui [do] que no conjunto de países (aumento percentual quatro vezes maior no Brasil),
sugerindo ineficácia relativa de ações nacionais”.
22. Ou seja, de acordo com os critérios da pesquisa, mesmo sendo a pandemia um fenômeno
mundial, o impacto negativo na renda do brasileiro foi o maior do globo, a despeito das políticas públicas
emergenciais implementadas no nosso território.
34. Isso custou caro para o povo brasileiro, em vidas e em valores financeiros. Processos em
tramitação no TCU nos deram conta de gastos desnecessários com medicamentos de comprovada
ineficácia, cuja utilização foi incentivada por meio de notas técnicas do Ministério da Saúde.
35. Em outro exemplo, ao levar à consideração do Plenário o relatório do sexto ciclo de
acompanhamento das ações de combate à covid-19, em dezembro do ano passado, quando todas as
atenções do mundo se voltavam para a nova variante ômicron, propus que fosse determinada a exigência
de comprovação do ciclo vacinal como requisito de entrada de estrangeiros no país, medida simples que,
por prudência, podia ser tomada de ofício pelo próprio governo. Contudo, a proposta foi aprovada sob a
forma de recomendação pelo Plenário do TCU (Acórdão 2.878/2021), apenas para, dias depois,
integrante do Supremo Tribunal Federal (STF) determinar cautelarmente a adoção do chamado
passaporte vacinal – decisão referendada meses depois pelo pleno daquela Corte, que também ratificou
a determinação de correção de notas técnicas que desestimulavam a vacinação.
36. Se a preocupação com a celeridade da vacinação era o foco principal das nossas apreensões
no início do ano de 2021, ao longo do exercício outras questões foram surgindo. O TCU procedeu a
diversas fiscalizações no tema, dando continuidade à estratégia iniciada no ano anterior, o Programa
Especial de Atuação ao Enfrentamento à Crise de covid-19 (Coopera), por meio do qual mais de 300
processos, entre acompanhamentos, representações e Solicitações do Congresso Nacional, foram
autuados.
37. Entre os trabalhos levados a cabo pelo TCU em 2021, destaque-se o já mencionado sexto
ciclo de acompanhamento das ações do Ministério da Saúde para enfrentamento à pandemia, a
fiscalização de contratações associadas ao tema, monitoramento do desbloqueio de leitos ociosos,
levantamento de informações sobre hospitais de campanha, auditoria nos programas emergências de
acesso a crédito para enfrentamento à crise, entre tantos outros.
38. De relevo mencionar que em outubro de 2021 houve a entrega ao TCU do relatório final da
CPI da Pandemia, cujos trabalhos, aliás, foram apoiados com pronta contribuição da Corte de Contas,
sempre que demandada. Trata-se de valiosos insumos a alimentarem diversas das nossas fiscalizações
em andamento.
39. A despeito do recente arrefecimento da pandemia e da decisão do Ministério da Saúde de
declarar o encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, ainda hoje colhemos
consequências deletérias da falta de governança que viemos apontando ao longo dos dois últimos anos.
40. O fato mais concreto nesse sentido atualmente é a iminência do vencimento do prazo de
validade de mais de 28 milhões de doses de vacina contra covid-19, que pode resultar em prejuízos
significativos aos cofres públicos e à saúde da população, também objeto de processo em trâmite no
TCU.
41. O sétimo ciclo de acompanhamento das ações do Ministério da Saúde contra os efeitos da
pandemia, que haverei de levar à apreciação deste Plenário em breve, indica, entre outros, deficiência
de planejamento no encerramento da Espin, feito sem indicação de quais ações essenciais deveriam
permanecer, sem avaliação de impactos e, mais grave, sem plano de retomada das ações de vigilância e
combate à pandemia, ante a possibilidade de recrudescimento da doença.
42. Menciono ainda que a pandemia trouxe visíveis impactos negativos nas coberturas vacinais
no Brasil, a exigir, com urgência, a atuação de nossas lideranças na área de saúde. Tomando por base
2015, ano que precede o início do declínio, a queda da cobertura vacinal em 2021 foi de 36% para a
Tríplice (contra sarampo, caxumba e rubéola) e 29% para a Poliomielite, com reais possibilidades de
novos surtos no país. Todas essas, apenas para dar uns poucos exemplos, são doenças antes consideradas
erradicadas, mas que representam, atualmente, sérias ameaças à saúde pública, especialmente das nossas
crianças.
43. Novamente em 2021, tal como ocorreu em 2020, a gravidade do quadro sanitário exigiu
alterações normativas a permitirem a liberação de recursos para combate às consequências sociais e
econômicas da pandemia.
44. Com efeito, a Emenda Constitucional 109/2021 autorizou a concessão de auxílio
emergencial à população em situação de fragilidade, com dispensa da observância das limitações legais
quanto à criação, à expansão ou ao aperfeiçoamento de ação governamental que acarretasse aumento de
despesa, limitado ao montante de R$ 44 bilhões.
45. Já a Emenda Constitucional 113/2021 flexibilizou o regime de Teto de Gastos para
atendimento de despesas de vacinação contra a covid-19 ou relacionadas a ações emergenciais e
temporárias.
46. Além disso, diversas medidas provisórias foram editadas para abertura de créditos
extraordinários para o Ministério da Saúde, que somaram R$ 53,42 bilhões. Apenas em 2021, o
Ministério da Saúde pagou R$ 44,6 bilhões em despesas com a covid-19. Para Estados, municípios e
Distrito Federal, foram transferidos R$ 16,4 bilhões em recursos federais.
47. Conforme detalhado no último relatório de acompanhamento que avaliou os reflexos das
mudanças nas regras orçamentárias e fiscais sobre a gestão dos recursos públicos em razão das medidas
adotadas em resposta à pandemia, Acórdão 2.461/2021-TCU-Plenário (Rel. Min. Bruno Dantas), a grave
crise de saúde já consumiu mais de R$ 600 bilhões dos cofres federais.
48. Como se vê, não faltaram recursos à disposição para fazer frente aos enormes desafios
trazidos pela pandemia, a custa de endividamento sem precedentes e afrouxamento de regras fiscais e
orçamentárias. Nesse sentido, torno a concluir, como já o tinha feito por ocasião das Prestação de Contas
do Presidente da República referente ao exercício de 2020, que, considerado todo o contexto fático
apresentado, o resultado da gestão foi aquém do que se esperava.
49. Para concluir, vimos em 2021, de um lado, uma melhora do quadro fiscal, com déficit
primário bem abaixo do que se previa, mas por fatores essencialmente exógenos à atuação do governo,
em especial uma combinação de alta inflação persistente com altos preços de commodities no mercado
internacional, tendo como consequência expressivo aumento da arrecadação, aliada, mais recentemente,
a um cenário de estacionamento da pandemia em níveis menos alarmantes; por outro lado,
lamentavelmente, presenciamos uma forte degradação na situação sócio-econômica do país, em especial
da parcela mais frágil da população, afora a tragédia indizível de mais de 670 mil vítimas fatais até o
momento.
IV
50. Com as breves considerações que acabo de apresentar, acompanho o Parecer elaborado por
Sua Excelência, Ministro Aroldo Cedraz.
VITAL DO RÊGO
Ministro
DECLARAÇÃO DE VOTO
Nesta sessão solene em que o Tribunal de Contas da União cumpre seu dever constitucional
de apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas prestadas pelo Presidente da República, referentes ao
exercício de 2021, congratulo-me com o Relator, Ministro Aroldo Cedraz, e com todos os profissionais,
tanto do Gabinete de Sua Excelência quanto da Secretaria de Macroavaliação Governamental, que se
empenharam, com brilhantismo e comprometimento, na produção do riquíssimo relatório que nos foi
apresentado.
Desde já, manifesto meu endosso às análises, conclusões e propostas oferecidas pelo
eminente Relator, sem prejuízo de destacar alguns aspectos que considero relevantes.
Hoje, podemos nos debruçar sobre os números e ver o que eles nos revelam a respeito do
impacto da pandemia nas finanças públicas e sobre o desempenho governamental no auge da crise e nos
meses seguintes. O relatório trazido pelo Ministro Aroldo Cedraz nos mostra um país resiliente, que se
sacrificou para destinar quase R$ 800 bilhões, em dois anos, às medidas de combate à covid-19 e ao
fortalecimento de uma rede de proteção social sem parâmetros de comparação com outras nações.
Apesar dessa despesa excepcional, não foram excedidos nem a meta de resultado fiscal nem
o teto de gastos do Novo Regime Fiscal. Também foi respeitada a Regra de Ouro, que veda a previsão
de contratação de operações de crédito para custeio de despesas correntes. Embora houvesse, quando do
agravamento da crise, risco de a estagnação da economia provocar colapso na receita pública, a ponto
de inviabilizar o pagamento de despesas obrigatórias, isso não aconteceu. Em 2021, a receita primária
líquida (18,19% do PIB) praticamente retornou ao patamar de 2019 (18,23% do PIB).
Como era esperado, o impacto negativo deu-se sobre o endividamento da União. No biênio
2020-2021, a dívida consolidada cresceu 22,78%, o que certamente impactará o desenvolvimento ao
longo dos próximos anos. Além disso, parcela relevante da população perdeu renda e poder aquisitivo.
O cenário, portanto, é desafiador e continuará a exigir competência, criatividade e cooperação dos
diversos setores do Estado brasileiro.
Na condição de Relator das Contas do Presidente da República referentes a 2022, tenho
acompanhado atentamente a evolução desses parâmetros, de modo a dar continuidade, no próximo ano,
à avaliação dos reflexos fiscais das medidas de enfrentamento à crise da covid-19, na expectativa de que
se confirme a retomada da aceleração da economia e o consequente aquecimento do mercado de trabalho.
Também merecem ser acompanhadas as três irregularidades apontadas no relatório e na
minuta de parecer prévio, as quais, embora não tenham magnitude suficiente para levar à rejeição das
contas, demandam atenção do Poder Executivo e do TCU.
A reiterada utilização de recursos vinculados à seguridade social para pagamento de
despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino, no montante de R$ 12,2 bilhões, é apontamento
relevante, que surpreende tanto pela materialidade dos valores envolvidos, quanto pela sinalização de
inobservância de regras fundamentais da elaboração orçamentária. Devo pontuar, contudo, que as
despesas incorridas, por exemplo, com a saúde dos servidores, têm sido consideradas como
legitimamente contabilizadas enquanto seguridade social e, como relator das próximas contas de
governo, pretendo avaliar com maiores detalhes esse aspecto. Em que pese esse valor não ter afetado o
cumprimento do limite mínimo que a União estava obrigada a aplicar na educação, a ocorrência
ocasionará solicitação de esclarecimentos e de medidas corretivas, a serem monitoradas no âmbito do
acompanhamento das contas presidenciais do corrente ano.
Quanto à concessão ou ampliação de benefícios tributários que resultem em renúncia de
receita sem a correspondente projeção do impacto orçamentário-financeiro, trata-se de irregularidade há
1
muito combatida por esta Corte. A quantidade de dispositivos constitucionais e legais infringidos (arts.
113 do ADCT, 14 da LRF, 125 a 129 e 137 da LDO/2021) ressalta a complexidade do tema, que
demanda articulação de diversos setores do Executivo no momento da elaboração das medidas
provisórias que estabeleçam esse tipo de benefício.
Já no tocante à inobservância da aplicação, na Região Centro-Oeste, de no mínimo 20% dos
recursos destinados a projetos de irrigação, arrisco dizer que esta é, provavelmente, a irregularidade há
mais tempo apontada pelo TCU na apreciação das contas do Governo que permanece sem solução. O
próprio Ministério do Desenvolvimento Regional reconhece que essa exigência de cumprimento anual
é desobedecida desde 2003, com algumas exceções. Entretanto, a referida Pasta e o Ministério da
Economia sinalizaram que atuam em prol do pleno cumprimento do mínimo da irrigação em 2022. A
matéria será acompanhada ao longo do ano.
Passo a tratar de um tema relacionado à Lista de Unidades Jurisdicionadas, que está sob a
minha responsabilidade no corrente biênio e cuja relevância, pelos critérios de gravidade, urgência e
tendência, demanda a maior atenção tanto do Poder Executivo quanto dos órgãos de controle. Refiro-
me à Gestão de Riscos e de Desastres Naturais.
Não é demais lembrar que vivenciamos, a cada temporada de chuvas no Sul, Sudeste e
Nordeste, o conhecido e dramático desenrolar de catástrofes relacionadas a enchentes e deslizamentos
de terras, que parecem ser cada vez mais destrutivas e fatais. Por outro lado, as secas prolongadas
atingem regiões desguarnecidas e despreparadas para com elas conviver, ceifando vidas e espalhando
miséria. A cada novo episódio, vemos a mobilização do poder público e de entidades de ajuda
humanitária. Vultosos recursos são empregados, sempre na expectativa de minimizar os impactos dos
desastres naturais.
Li no relatório trazido pelo Ministro Aroldo Cedraz que a execução orçamentária dos
recursos do Programa Gestão de Riscos e de Desastres vem caindo a cada ano. No exercício de 2021, a
dotação do Programa foi de R$ 1,23 bilhão, mas só foram liquidados R$ 754 milhões, equivalentes a
61%.
Desse montante liquidado, 80% foram direcionados para ações de socorro, assistência às
populações vitimadas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução da infraestrutura
danificada. As ações de prevenção, que seriam essenciais para evitar desastres, não chegam a ser
implementadas ou ficam muito aquém do necessário. Não é cumprida, portanto, a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, que prioriza a atuação preventiva.
Nesse sentido, a Secretaria de Fiscalização da Infraestrutura Urbana programou e vem
conduzindo, no corrente ano, uma sequência de ações de controle cujo objetivo é mapear os principais
desafios da condução da PNPDEC, auxiliar no endereçamento de soluções e cobrar a atuação preventiva.
Fonte preciosa de informações para esse trabalho e para a transparência da ação governamental é o Painel
Digital de Recursos para Gestão de Riscos e de Desastres, desenvolvido pelos técnicos do TCU, sob
minha orientação, por sugestão do eminente Ministro Bruno Dantas.
Com esses breves comentários, reitero os elogios ao ilustre Relator e aos técnicos que
atuaram neste processo e, ao endossar o inteiro teor do Relatório elaborado por Sua Excelência, voto
pela adoção da minuta de Parecer Prévio submetida a este Colegiado.
JORGE OLIVEIRA
Ministro
2
DECLARAÇÃO DE VOTO
(Parecer Prévio – Contas do Presidente da República – exercício de 2021)
Senhora Presidente,
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Demais autoridades presentes,
Senhoras e Senhores,
Tenho a honra de participar, pela primeira vez como integrante desta Corte de Contas, desta
importante Sessão em que desempenhamos nosso mais excelso dever republicano, inaugurado com a
Constituição de 1934: a apreciação das contas anuais do Presidente da República, mediante parecer
prévio, para subsidiar seu julgamento pelo Congresso Nacional.
O rigor técnico nas análises para emissão do parecer em relevo sempre foi uma exigência do
Poder Constituinte. O art. 102 da Carta de 1934 já preconizava que a manifestação do Tribunal de
Contas da União deveria ser produzida mediante “minucioso relatório do exercício financeiro
terminado”.
Com o amadurecimento da nossa Democracia, as análises empreendidas por este Colendo
Tribunal ampliaram-se para além da avaliação contábil e financeira, alcançando, no tempo presente,
diversas aferições legais, conjunturais, macroeconômicas, de governança, eficácia e efetividade das
políticas públicas, entre outros ramos de análise, que agregam à peça técnica ora apreciada um valor
bem maior que seu objetivo originário de verificar a regularidade financeira e contábil da gestão.
Nesse panorama, podemos afirmar, com segurança, que a amplitude, o rigor técnico e a
confiabilidade atuais do Relatório e Parecer Prévio sobre as contas do Presidente da República
conferem-lhes o status de valioso subsídio ao aperfeiçoamento da gestão governamental, em sentido
amplo, além de fonte de informações úteis às pesquisas acadêmicas e ao controle social.
Feito esse justo registro sobre a importância da presente assentada, expresso minha
concordância com as proposições do Excelentíssimo Relator, calcadas nos percucientes estudos
desenvolvidos pela área técnica deste Tribunal, sem prejuízo de aduzir algumas considerações sobre
um tópico que me desperta mais detida atenção.
Refiro-me aos achados relativos à gestão governamental das renúncias tributárias.
ANTÔNIO ANASTASIA
Ministro
1. Processo nº TC 008.731/2022-5.
1.1. Apenso: 000.562/2022-0
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Contas do Presidente da República.
3. Interessado: Congresso Nacional.
4. Órgão/Entidade: Presidência da República.
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
6. Representante do Ministério Público: Cristina Machado da Costa e Silva (manifestação oral).
7. Unidade Técnica: Secretaria de Macroavaliação Governamental (Semag).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTO, relatado e discutido o Relatório sobre as Contas do Presidente da República
referentes ao exercício de 2021, sob a responsabilidade do Excelentíssimo Senhor Jair Messias
Bolsonaro;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão
Extraordinária do Plenário, diante das razões expostas pelo relator, com fundamento nos artigos 71,
inciso I, da Constituição de 1988, 1º, inciso III, e 36, da Lei 8.443/1992, 1º, inciso VI, 221, 223 e
228 do Regimento Interno/TCU, em aprovar o parecer prévio sobre as Contas do Presidente da
República, na forma do documento anexo.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral
Processo TC 008.731/2022-5
Apreciação das Contas do Presidente da República – Exercício de 2021
Verifica-se que, no ano de 2021, foram envidados esforços para se buscar maior
transparência dessa sistemática, com a aprovação da Resolução 2/2021 pelo Congresso
Nacional, em atendimento a deliberação proferida pelo Supremo Tribunal Federal, bem
como a edição do Decreto 10.888/2021, no fim de 2021. No entanto, permanecem lacunas
importantes no novo regramento, sobretudo, a possibilidade de se manter, na prática, a
indesejável descentralização das informações no âmbito dos diversos ministérios.
Essa matéria deverá ser objeto de acompanhamento específico pelo Tribunal, a fim
de aferir a observância aos referidos normativos pelos diversos ministérios setoriais, além
de verificar o atendimento a recomendação específica emitida pela Corte de Contas sobre
a questão, veiculada no parecer prévio às Contas de Governo de 2020, aprovado por meio
do Acórdão n.º 1.515/2021, do Plenário, de lavra do nobre Ministro Walton Alencar
Rodrigues, mas, ainda em implementação.
Outro aspecto que nos causa enorme preocupação e que demanda a atenção da
Corte de Contas é a prática observada nos Poderes Executivo e Legislativo de acomodar
as dotações decorrentes de emendas do Relator-Geral do PLOA 2021 (RP 9) com o
cancelamento de valores vinculados a despesas obrigatórias e o sacrifício de outros gastos
destinados à manutenção de órgãos e de entidades, além de investimentos.
Com efeito, após os vetos do Chefe do Poder Executivo, com vistas a recuperar as
dotações para despesas obrigatórias extraídas no curso da tramitação do PLOA no
Congresso Nacional, em 2021, ainda assim, restaram descobertos gastos destinados ao
custeio do abono salarial e até mesmo dotações vinculadas a benefícios previdenciários,
conforme análise contida no TC 012.649/2021-0, de relatoria do nobre Ministro Aroldo
Cedraz, e no relatório da unidade técnica.
A sistemática ora em questão deve ser acompanhada com a maior cautela, dados
os impactos sobre o orçamento, instrumento de relevância constitucional que visa
materializar direitos e garantias fundamentais, além de concretizar políticas públicas de
médio e de longo prazo, que podem ficar prejudicadas ou suspensas por falta ou
insuficiência de recursos, para se dar prioridade a outros projetos de escolha pessoal do
parlamento.
A título de exemplo, ressalto que o segundo órgão orçamentário com maior
supressão nas dotações para despesas primárias discricionárias na tramitação do
orçamento de 2021 foi o Ministério da Educação. Foi identificada, Senhores Ministros,
uma redução de 100% para a ação destinada à expansão, reestruturação e modernização
das instituições federais de ensino superior.
Lembro que, mesmo os parlamentares, no exercício legítimo do poder de emendar,
não estão desobrigados da observância às normas do direito orçamentário e financeiro, a
exemplo do art. 45 da Lei de Responsabilidade Fiscal, segundo o qual a lei orçamentária
e as de créditos adicionais somente podem incluir novos projetos depois de atendidos
aqueles em andamento e contempladas as despesas de conservação do patrimônio
público.