V A Igreja Ortodoxa
V A Igreja Ortodoxa
V A Igreja Ortodoxa
Face ao Islão.
Foi com a cristandade de Oriente que o ISLÃO confrontou – se desde as primeiras décadas de sua
ofensiva no séc. VII. O Império bizantino que, sob HÉRACLIUS (610 – 641), acabava de reconquistar
vastas regiões do antigo ORBIS ROMANUM – cuja Terra Santa – sobre os Persas , devendo recuar
diante dos invasores árabes , abandonando para eles a SYRIE, a PALESTINE, o EGIPTE e a África do
Norte.
A situação religiosa dessas regiões contribuiu , numa ampla medida, ao sucesso do ISLÃO ;
ressentimento anti- grego e anti – impérial das igrejas de língua siríaca e copta, aversão á ortodoxia
de CHALCÉDOINE, que os impéradores bizantinos tinham procurado tanto tempo impor para eles
pela força, situação que os levou a acolher com vontade os novos mestres. As vezes, a própria
hierarquia ortodoxa, inclinando – se diante o inevitável e preocupada em preservar os interesses
permanentes da Igreja, adotou a mesma atitude ; foi assim que S. SOPHRONE, patriarca de
JERUSALÉM e polemista famoso contra o monotelismo (N. Tr. ; sistema dos que admitem em Cristo
duas naturezas , mas uma só vontade), negociou em 638 a rendição da Cidade Santa sitiada. As
armadas e particularmente a frota impérial conseguiram porém parar os Árabes em 678 ; em 718,
novamente o fluxo musulmano quebrou – se diante das famosas muralhas de CONSTANTINOPLA ;
esses sucessos bizantinos tiveram assim, na extremidade oposta do mundo cristã , o mesmo papel
que a vitória de CHARLES MARTEL contra os Árabes em POITIERS em 732.
A partir do séc. XI, novos invasores vindos da ÁSIA, os TURCOS, estabeleceram o seu poder sobre o
califato Árabe e confrontaram – se , eles também , com BYZANCE .Convertidos ao ISLÃO , eles
ameaçarão constantemente o Império que , se bem que enfraquecidos no séc. XIII pela gigantesca
«bandidagem » cometida em 1204 pelos Cruzados , resistirá durante 4 séculos.
Essas lutas militares que opuseram tanto tempo a Cruz com o Crescente e que ainda repercurtem –
se hoje em numerosos textos litúrgicos , não foram as únicas vias de contato entre o ISLÃO e a
cristandade oriental da Idade média. De S. J. de DAMAS (séc. VIII) até o Impérador J. CANTACUZÈNE
(XIV), os polemistas gregos lutaram para recusar o ISLãO. Os Impéradores do séc. VIII – aqueles
mesmos que conseguiram vitórias decisivas contra os Árabes – foram atraidos por certos aspectos
da civilização árabe : se eles assim provocaram a grande crise iconoclasta, eles estabeleceram,
direitamente ou indireitamente, laços culturais duradouros entre BAGDAD e CONSTANTINOPLA (1).
(1). Sobre os laços que existiam entre o Islão e o movimento iconoclasta de BYZANCE , ver o estudo
de A. GRABAR, « o iconoclasmo bizantino, étude archéologique » Paris 1957.
(2).Ver nesse assunto L . GARDET « Un problème de mystique comparée ; la mention du Nom
Divin(DHIKR) dans la mystique musulmane » em REVUE THOMISTE, 1952, III, p. 642 – 679 ; 1953,I, p.
197 – 216. Cfr nossa « Introduction à l’ étude de Grégoire Palamas », p. 201-203. Sobre o probléma
em géral das relações entre o Oriente cristão e os Musulmanos, ver o nosso artigo « Byzantine
Vieuws of Islam »em DUMBARTON OAKS PAPERS, 18, 1964, p. 113 – 132.
Notamos porém que a influência da filosofia árabe sobre o pensamento bizantino foi quase nula : os
Bizantinos , de fato, tinham sempre acesso directo ao ARISTOTE e nunca tiveram , como os Latinos, a
« descobrir » ele por meio de traduções e comentadores árabes.
(3).S . Grégoire PALAMAS fez em 1354 uma temporada forçada na Ásia Menor ocupada ; ele deu
uma descrição favorável da vida que os cristãos levavam nessa região. (Cfr. A nossa « Introduction »,
p. 157- 162)
Sob o regime turco, a Igreja pôde porém conservar o conjunto de sua estrutura administrativa , a
qual foi até consolidada por privilégios concedidos pelo conquistador ao patriarca ecumênico de
CONSTANTINOPLA. MAHOMET II permitiu , de fato, a eleição cânonica de um novo patriarca,
GENNADIOS SCHOLARIOS, ao mesmo tempo chefe do partido anti - unionista e admirador
apaixonado de THOMAS DE AQUIN. Ele lhe concedeu pessoalmente a investidura, pronunciando a
formula ; « Seja patriarca, preserva nossa amizade e recebe todos os privilégios que possuíam os
patriarcas , os teus predecessores ! ». Esses privilégios comportavam a inviolabilidade da pessoa do
patriarca e, pelo seu intermédio, de todos os bispos, a insenção de toda taxa e AUTORIDADE CIVIL
SOBRE TODOS OS CRISTÃOS DO IMPÉRIO OTTOMAN .Esses últimos , de fato, estavam sendo tratados
no direito musulmano como uma nação única (Millet), sem consideração nenhuma para as
diferências confessionais, linguísticas ou nacionais. O ISLAM, povo de Deus, os tinham conquistados,
mas eles conservavam o direito de resolver eles – mesmos as coisas internas, conforme os preceitos
de sua religião e sob a responsabilidade única e pessoal do patriarca ortodoxo que se tornava um
tipo de KHALIFE cristão responsável diante do sultão. Assim a hierarquia grega viu – se investida de
um poder de fato, ao mesmo tempo civil e religioso , muito mais extenso que antés da conquista
turca. O patriarca de CONSTANTINOPLA adquiriu por sua vez um poder quase ilimitado não apenas
sobre os fiéis de seu patriarcado, mas sim também sobre os dos outros patriarcas orientais –
teoricamente os seus iguais - e até sobre os cristãos heterodoxos do Império Ottoman.
Os próprios bispos saudavam o titular do trono ecumênico como « o sobreano deles, imperador e
patriarca » (5).
Esse último concedeu – se doravante os insignes que, outrora, estavam reservados aos impéradores ;
ele usava a mitra em forma de coroa impérial, ele presidia num tapete que portava a imagem da
aáguia romana e deixava crescer os cabelos como os impéradores e dignatários de BYZANCE (6).
(6).Bastante rapidamente, esses diversos privilégios foram igualmente atribuidos aos bispos. Na
Rússia , eles apenas foram introduzidos no séc.XVII, com o patriarca NIKON,e onde eles perderam ,
claro, todo significado político.
O sistema « hierarquia étnica », tal como foi criado pelos Turcos e tal como sobreviveu até hoje em
CHYPRE e nos paises do LEVANTE, garantia a independência da Igreja cristã. Ele estava
fundamentado sobre uma noção que o Islam tinha em comum com o judaísmo ; a identificação total
do « povo de Deus » com uma entidade sociológica concreta. Por uma parte, o Islam, agrupando
todos os fiéis de ALLAH e de seu proféta, e de outra parte os fiéis de Jésus... No coração do MILLET
cristão, o poder ottoman recusava distinguir nacionalidades e contentava – se em aprovar a eleição
do patriarca e dos bispos. Esse regime teve conseqüências profundas sobre a vida dos cristões do
Oriente - Próximo :
*. Ele os cantonou num tipo de ghetto do qual eles não ousavam sair, mesmo se, por momentos ,
a sua vida material tornava – se relativamente próspera e mesmo se eles exerciam uma real
influência junto a « Porta Sublime ».Toda missão exterior , toda evangelização dos não – cristãos
tinha se tornado impossível e teria sido considerada como um crime político ; no Oriente , apenas a
Igreja russa estava em condição de prosseguir a evangelização dos não – cristãos , assim como
BYZANCE.
*. Tornando – se como « hierarco para as étnias » dos cristãos, personagem oficial do Império turco,
o patriarca e seus serviços participavam necessariamente e involuntariamente do sistema da
horrenda corrupção que reinava nos negócios da « Porta ». Cada nova eleição supunha um
pagamento importante ao governo turco, fixado cada vez pelo « Aconselhamento » da investitura ;
esse quantia era retirada seja da caixa do patriarcado – e , neste caso, devolvida pelo novo eleito no
decorrer de seu pontificado pelo meio de retiradas correspondentes nas dioceses – seja sobre os
fundos pessoais dos novo patriarca. A procedura , seja numa escala menor , era necessária para as
eleições episcopais, todas aprovadas por um Conselheiro do Sultão. Como, por outro lado, os
tituláres do trono ecumênico mudavam incessantemente, no bel prazer da política otomana, a
corrupção se tornava um mal crónico. No séc. XVIII, uma das mais sombrias épocas para a Igreja de
CONSTANTINOPLA, 48 patriarcas sucederam-se em 73 anos ! Apenas os santos podiam , nesse
sistema, permanecerem à altura da tarefa e a sobrevivência da Igreja grega , durante os 4 séculos
do jugo turco, parece – se muito como um milagre.
Graças a sua liturgia e aos escritos patrísticos conservados nas bibliotecas monásticas, a Igreja
preservou porém , sob o jugo turco, o essêncial de seu recado. Nas igrejas, as orações comunitárias, a
espantosa riqueza dos textos litúrgicos bizantinos permitiram aos Gregos e outros povos dos
BALKANS e Oriente – Médio permanecer fiéis a sua fé, agrupando – se mais estreitamente que jamais
em volta de uma Igreja porém privada de escolas, livros e clero instruido.
Alguns homens eminentes de igreja souberam , por outro lado, manter a Tradição teólogica de
BYZANCE. Alguns foram autodidactas, outros foram estudar no Ocidente e cairam ferqüentemente
sob a direita influência de seus mestres católicos ou protestantes. As ideias da Reforma e da Contra
– Reforma penetraram assim no Oriente e a Igreja teve que , em condições materiais e espirituais
deploráveis , testemunhar de sua ortodoxia. Os teólogos dos séc. XVII e XVIII fizeram isso como que
no escurro, usando argumentos romanos contra os protestantes e argumentos protestantes contra
os romanos. A própria política nem ficou ausente desses « vai e volta » ; em suas relações com a
« PORTA », o patriarcado apoiava - se tanto nas embaixadas católicas (AUTRICHE, FRANCE),quanto ás
vezes sobre os seus colegas protestantes (ANGLETERRE , PAYS – BAS) , uns e os outros jogando de
influência para destronar ou investir patriarcas.
Nos séc. XV e XVI, nas primeiras décadas que seguiram a queda de BYZANCE, o patriarcado tendo
restabelecido um « MODUS VIVENDI » com o Império turco , estava bem longe ainda das pressões
direitas. Concílios aconteceram regularmente e puderam tratar dos negócios da Igreja . Alguns
dentre eles foram consagrados às relações com os cristãos do Ocidente ; o de 1454, sob o patriarca
GENNADIOS SCHOLARIOS , rejeitou oficialmente a « união de FLORENCE ».O de 1484, realizado com
a presença de 3 outros patriarcas de Oriente, publicou um ofício especial de reconciliação com os
católicos romanos com a ortodoxia.(8).
(8). Este ofício comporta o sacramento de CONFIRMATION . Na prática, notadamente nas ilhas
gregas sob domínio de VENEZA, a concelebração entre os cleros ortodoxos e católicos foi particada
até o séc. XVIII . Este estado de fato que posava certo problema cânonico a uns e outros, era devido
ao mesmo tempo , à situação política (dominação italiana) e ao desejo de não reconhecer o cisma
como um fato realizado.
Desde o fim do séc. XVI, um primeiro contacto aconteceu entre a teólogia dos REFORMADORES e a
ORTODOXIA : em 1573-1574, um importante grupo de teólogos luteranos da Escola de TUBINGUE
endereçava ao patriarca ecumênico JÉRÉMIE II o texto da CONFISSÃO de AUGSBOURG. Esse amical
julgamento era severo ; ele foi seguido de uma correspondência entre os dois partidos , sem
resultado prático. (9)
(10). O manuscrito original de LOUKARIS está conservado na Biblioteca de GENÈVE ; por ele só, fica
demostrado a autênticidade da « CONFISSÃO » que alguns, desde o séc.XVII, acreditavam poder
colocar na dúvida, na esperança de preservar o prestígio pessoal do patriarca ecumênico.
A emoção suscitada no Oriente pelas « CONFISSÃO » foi imensa. Seis locais consecutivos a
condenaram ; CONSTANTINOPLA , 1638, ( 3 meses depois da morte de LOUKARIS) ; KIEV , 1640 ;
JASSY, 1642 ;CONSTANTINOPLA , 1642 ; JERUSALÉM , 1672 ; e CONSTANTINOPLA , 1691 .
Foi em relação com essa reação anti – protestante que o metropolita de KIEV, PIERRE MOGHILA,
redigiu ele também uma «CONFESSION ORTHODOXE »(1640) destinada em servir de CATEQUISMO
na sua metropole. Orfão aos 11 anos, de um « HOSPODAR » da MOLDAVIE, MOGHILA, (em romano ;
MOVILA) estudou na POLOGNE antés de se tornar monge e logo arquimandrite, na Lavra das
CRYPTES , em KIEV . Ele estabeleceu ali uma escola e uma gráfica que se tornaram célebres e
realizaram no mundo ortodoxo inteiro uma influência duradoura. Tentando elevar o nível intelectual
do clero ortodoxo, MOGHILA entendia antés de tudo preservar ele do uniatismo, francamente
apadroado pelos reis de POLOGNE. O caso de CYRILLE LOUKARIS incomodava ele ainda mais que ele
fornecia aos teólogos romanos um argumento de peso ; a Igreja ortodoxa, na pessoa de seu primaz
ecumênico , tinha se tornada protestante ! Para lavar a sua Igreja dessa acusação, MOGHILA decidiu
dar á ortodoxia um sistema doutrinal tão preciso quanto o dos Latinos ; na prática, em sua
« CONFESSION » , ele se limitou em copiar os catecismos católicos então oferecidos, notadamente,
o de CANISIUS. Algumas questões controversadas, sobre as quais os teólogos de KIEV não se
consideravam bastante competentes - Purgatório, momento da consagração dos dons - foram
deferidas ao patriarca de CONSTANTINOPLA ; por sua vez, MOGHILA as resolvia no sentido latino.
Assim, por um evidente conflito de inferioridade diante das FORMULAS da Contra - Reforma ,
MOGHILA e colaboradores , muito pouco informados da teólogia ortodoxa tradicional, lançavam – se
desesperadamente no latinismo dos mais elementares. Aprovada em KIEV (1640) a CONFESSION de
Moghila recebeu serias correções no Concílio de JASSY (1642) no qual um teólogo grego, MÉLÉCE
SYRIGOS, traduziu em grego o texto latino de MOGHILA e modoficou – o nas partes que concerniam
o Purgatório e as palavras da Instituição da Eucaristia ; nos dois casos, a posição bizantina original foi
assim restabelecida. Sob essa nova forma, a « CONFESSION » foi aprovada pelo Sínodo de
CONSTANTINOPLA em 1643. (11).
(11).O texto latino da CONFISSÃO , acompanhado de comentários detalhados , foi publicado por A .
MAVY e M . VILLER, nas ORIENTALIA CHRISTIANA, vol. 8, ROMA ,1927.
Mesmo corrigida , ela representa porém o documento mais latino – no espírito e na forma – que
jamais foi aprovado pela hierarquia ortodoxa. Ela exerceu uma influência duradoura sobre a teólogia
escolástica que apenas começou mesmo um verdadeiro retorno à fonte no meio do séc. XIX.
(12).A « Confissão de DOSITHÉE » e outros textos doutrinais do séc. XVII são publicados em todas as
coleções de livros « simbólicos » da Ortodoxia ( KIMMEL, MIHALESCU). A mais recente e mais
completa dessas coleções é a de I. N.KARMIRIS « ....em grego. »(Não temos letras aptas em repetir o
título ...), 2vol. ATHÈNES, 1953.
A reação da Igreja ortodoxa à REFORMA foi então bastante nítida e afastou qualquer mal
entendimento. As « Confissões de Moghila e de DOSITHÉE » tiveram nesse plano um papel positivo
incontestável , seja qual for o carácter latinizante de sua teólogia. Esse latinismo testemunha aliás –
ao menos no caso de DOSITHÉE – não uma símpatia particular para a Igreja romana ou para a
Escolástica latina, mas sim a ausência de uma formação teólogica coerente. Como essa última teria
sido possível depois de dois séculos debaixo do jugo turco e na ausência completa de escolas e de
livros ?
Um tipo de instinto vital de conservação, sem reserva, da Verdade da Igreja tal como era preservada
na liturgia – sempre viva – e nos escritos dos Padres explicam a reação dos ortodoxos face às
tentativas dos católicos e protestantes de usar a Igreja do Oriente como um instrumento na querela
que os opunha uns aos outros. Pois foi bem isso o principal motivo que levava as embaixadas
ocidentais de CONSTANTINOPLA a se intrometer nas questões do patriarca ortodoxo ; para os
protestantes, essa Igreja - vetusta e enrijecida – testemunhava porém de um antigo antiromanismo,
bem anterior ao LUTHER e CALVIN : era preciso então obter o seu acordo com os príncipes da
REFORMA. Para os católicos, seja qual tinha sido a má reputação dos Gregos no Ocidente latino , os
bispos ortodoxos ainda eram os sucessores de S. J. CHRISÓSTOMO e de S. Basílio ; os missionários
latinos no Oriente oscilavam então constantemente entre uma extrêma tolerância para como os
ortodoxos, que ia até a comunhão In Sacris, e um proselitismo virulento que tendia não apenas em
trazer os Gregos à união , mas sim em latinizar eles.
Face a essas últimas tentativas , a reação da Igreja nem foi menos nítida. Ela materializou – se na
decisão do sínodo de 1755 , reunindo em CONSTANTINOPLA, ao lado do patriarca ecumênico CYRILLE
V, os patriarcas de ALEXANDRIE e de JERUSALÉM, ocupando – se da admissão dos Latinos dentro da
Igreja ortodoxa ; modificando a decisão de 1484, o SÍNODO estipulou que os batismos latinos e
armênios estavam inválidos e que um batismo ortodoxo por imersão era necessário para entrar na
Igreja. Aplicava – se assim aos Latinos e Armênios monofisitas os mais severos cânones concernindo
os heréticos (13).
(13).Na mesma época, quase, o Santo Sínodo russo que tinha se conformado até ali com as decisões
de 1484( Crisma), adotava ao contrário uma medida liberal e prescrevia que apenas a confissão da fé
ortodoxa e uma penitência eram exigíveis de um católico romano tornando – se ortodoxo. A falta de
unidade dos ortodoxos na atitude frente aos convertidos da Igreja romana teve por corolário
hesitações idênticas da parte dos católicos; então que no séc. XIV , na HONGRIE e POLOGNE ,
rebatizava – se os ortodoxos tornando – se católicos, (ver o nosso ártigo « Le projet d’ un Concile
oecuménique en 1367 » em Dumbarion Oaks Papers, XIV, 1960), a comunhão In Sacris estava
amplamente praticada nas ilhas gregas sob o domínio de VENEZA até o séc. XVIII ( ver notadamente
W. De VRIES, « Das Problem der ‘communicatio in sacris dissitentibus’ » em Nahen Osten zur Zeit
der Union » em OSTHIRCHLICHE STUDIEN, 6 (1957) , p. 81 até 106) . Se, por sua vez, do lado romano,
as diversas práticas foram uniformizadas no séc. XIX, certa diferência continua existindo entre a
prática russa mais liberal ( penitência) e a prática grega , que voltou hoje às decisões de 1484.
(Crisma).
Esta decisão levantou oposição de alguns bispos ,mas foi adotada sob pressão da população grega
de CONSTANTINOPLA, violentemente anti – latina. Ela permaneceu em vigor , nas Igrejas de língua
grega , até o ínicio do séc. XX.
Esses diversos episódios da vida da Igreja sob jugo turco não acrescentaram nada de notório à
história da teólogia ortodoxa, mas trouxeram a prova de uma vitalidade segura da ortodoxia grega e
da vontade dos ortodoxos de permanecer eles – mesmos até em circunstâncias difíceis. O próprio
fanatismo de alguns Gregos, provava na sua oposição ao Ocidente,ser apenas, uma reação
compreensível diante do proselitismo dos missionários ocidentais ; esses últimos , vindo com a
missão difícil de converter Muçulmanos não iriam comedir os cristãos ortodoxos , retirando assim
aos Gregos e aos Árabes cristãos o único tesouro intacto que a história lhes tinha deixado ; a sua fé
ortodoxa ?
Aliás, esse fanastismo se torna menos aparente nos documentos doutrinais do séc. XIX e deixa vaga
a uma tranqüila segurança que tende em reafirmar – se com a reapariçâo das escolas e publicações.
Assim é que os patriarcas ortodoxos responderam de modo circunstânciado ás várias iniciativas dos
papas. Em janeiro de 1848, a quando de sua ascencão ao soberano pontificado, PIE IX endereçou –
se aos « Orientais » para chamar eles á união com Roma. Os 4 patriarcas orientais - Constantinopla,
Alexandrie, Antioche e de Jerusalém, por uma encíclica a todos os ortodoxos que assinaram por
outra parte 29 metropolitas. Depois de ter definido o « papismo » como heresia, os prelados
ortodoxos emetiam o voto que o próprio PIE IX convertesse – se á verdadeira fé ortodoxa e voltasse
para a verdadeira Igreja católica , apostólica e ortodoxa ; « Pois , declaram eles, nenhum patriarca e
nenhum Concílio jamais conseguiram introduzir em nós, novidades, pois que o Corpo mesmo da
Igreja, ou seja o seu próprio povo, é o guardião da religião. » A encíclica de 1848 – cujo texto parece
ter sido antecipadamente aprovado pelo metropolita PHILARÈTE de MOSCOU –recebeu uma ampla
difusão e possui ainda hoje grande autoridade como expressão da eclesiologia ortodoxa (14) ; a
Igreja , guardiã da Verdade , constitui um corpo único e nenhum membro , clero ou leigo, está
excluido de um papel ativo na vida comum do organismo.
(14).Texto original grego em KARMIRIS, op. Cit., p. 905 – 995 ; trad .em russo , Moscou, 1849 ; trad.
francesa , Paris, 1850, etc.
Ao novo chamado endereçado por LÉON XIII em 1894, (Encíclica Praeclara gratulationis),o patriarca
ecumênico ANTHIME respondeu por outra encíclica onde as « novidades romanas » - notadamente
o dogma da Imaculada Concepção da Virgem e a infalibilidade pontifical – estavam novamente
estigmatizadas e onde a união era apenas encarada sobre a base da fé indivisa dos primeiros séculos
(15).
(15). Texto em KAMIRIS, op. Cit., p. 932- 946 ( traduções numerosas em frencês, russo, inglês e
alemão).
Fidelidade doutrinal e apego à Tradição ; tais são os traços fundamentais que caracterizam os
escritores ortodoxos desse periódo sombrio e que determinam o seu pensamento , mesmo onde a
ausência de informação teólogica própria os leva a usar argumentos protestantes contra os católicos
e argumentos católicos contra os protestantes. Alguns, portanto , fizeram esforços consideráveis
para permitir aos seus contemporâneos acessar as fontes mesmas da ortodoxia ; as Escrituras e os
Santos Padres da Igreja. Um nome merece menção particular , o de NICODÈME o HAGIORITE (1748 –
1809), monge de Athos que em 1782 publicou em VENISE, em colaboração com o MACAIRE , bispo
de CORINTO, um pesado livreto de textos patrísticos a respeito da oração. Esse livreto - a Philocalie
des saints néptiques – conheceu uma fortuna extraordinária no mundo ortodoxo inteiro. Foi pelo
viés da Philocalie que o mundo moderno começou a conhecer a Tradição mística dos Santo sPadres
gregos ; traduzida em eslavão, russo , romeno, ela encontra – se mna origem de uma acordar
espiritual em muitos paises ortodoxos . NICODÈME que foi recentemente canonizado pela Igreja
ortodoxa (1955) tamé é o autor de vários outros escritos de espiritualidade que as vezes inspiram
– se direitamente de autores ocidentais( SCUPULI, Ignace de LOYOLA) e adaptando – os á mística
cristã oriental. Ele também fez – s eopromotor , no seio d aIgreja grega, da comunhão freqüente.
Com NICODÈMEe seus numerosos discípulos , a espiritualidade dos Padres do deserto , dos monges
do SINAi e dos hesicastos atônitos conheceu uma renovação notória cujos efeitos ainda se fazem
sentir hoje.
Assim, apesar dos cataclismos da história, aigreja ortodoxa sobreviveu no Oriente – Próximo ; sua
riqueza litúrgica esua Tradição espiritual mostraram , nas condições difíceis , todo o seu valor. Essas
condições porém as vezes impediram a cultura cristã de BYZANCE , de se desenvolver
organicamente e trazer todos os frutos que normalmente teriam tido ser os seus. Um novo periódo
de sua história abriu – se com oséc. XX , a queda do Império Ottoman, a definitiva liberação dos
paises eslavos , gregos e romenos dos BALKANS, independência dos povos árabes , instauração na
TURQUIA de uma república leiga e a migação dos Gregos da Ásia Menor . Voltaremos mais em
frente sobre a atual situação da ortodoxia nessas regiões.