Políticas Públicas de Alimentação E Nutrição: Ana Manuela Ordonez

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POLÍTICAS

PÚBLICAS DE
ALIMENTAÇÃO E
NUTRIÇÃO
Ana Manuela Ordonez
O65p Ordonez, Ana Manuela.
Políticas públicas de alimentação e nutrição [recurso
eletrônico] / Ana Manuela Ordonez, Andrei Valerio Paiva.
– 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Editado como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-029-0

1. Saúde pública. 2. Nutrição – Políticas públicas. 3.


Alimentação – Assistência em saúde. I. Paiva, Andrei
Valerio. II. Título.
CDU 614:612.39

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Políticas públicas
de atenção à saúde
da família
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar a Política Nacional de atenção básica.


 Identificar as propostas da atenção básica para o cuidado em saúde,
como a estratégia saúde da família.
 Diferenciar as equipes de atenção básica e o seu escopo de ações.

Introdução
Neste texto, você irá estudar sobre a política nacional de atenção básica.
Você entenderá a proposta e o papel da atenção básica (AB) na rede de
atenção à saúde (RAS), os serviços da rede. Também conhecerá a principal
estratégia para sua consolidação: a estratégia de saúde da família (ESF).

Política nacional de atenção básica


Três grandes referenciais para o sistema de saúde brasileiro estão definidos
na Constituição Federal de 1988: um conceito ampliado de saúde; a saúde
como direito do cidadão e dever do Estado e a instituição do Sistema Único
de Saúde (SUS). Esse sistema, com base nos princípios de universalidade,
integralidade, descentralização e participação da comunidade, foi resultado
da reforma sanitária.
O SUS e a reforma sanitária nortearam a organização da atenção primária
à saúde (APS) a partir das experiências de diversas regiões do país. A
legislação infraconstitucional delineou um sistema de acesso universal
e integral à saúde com permanente controle social, organizado de forma
descentralizada e hierarquizada, em que a prestação de serviços de saúde é

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responsabilidade do município. Essa descentralização, iniciada na década


de 1990, aconteceu por meio da transferência de competências e receitas
tributárias estaduais e municipais, com preferência pela municipalização
da gestão da APS.
A história dessa reforma está ligada à crise permanente dos sistemas con-
temporâneos de saúde. O delineamento teórico de um sistema de saúde hie-
rarquizado e integrado em rede (com base na assistência primária, secundária
e em hospitais terciários) surgiu em 1920, na Inglaterra, com as propostas do
“Relatório Dawson”. Com base nessa proposta, cunhou-se o termo Atenção
Primária à Saúde (APS).
O termo APS foi descrito oficialmente pela primeira vez na década de
1970, em documentos do Conselho Mundial de Igrejas e da Federação Mundial
Luterana. Com larga experiência em países em desenvolvimento, defendiam a
intervenção em nível local das comunidades, com o treinamento de agentes de
saúde e métodos acessíveis, pois a atuação das ações missionárias em hospitais
não surtia impacto considerável na saúde da população. Essa instituição foi
responsável pela apresentação de várias experiências em saúde básica para a
Organização Mundial da Saúde (OMS) e, em 1974, foi chamada para estabelecer
uma colaboração formal nas discussões sobre APS.
Em 1975, a utilização do termo Atenção Primária à Saúde apareceu pela
primeira vez em um relatório da OMS, intitulado “A Promoção de Serviços
Nacionais de Saúde”. Esse relatório defendia a APS como caminho para o de-
senvolvimento de serviços de saúde mais efetivos. Isso incentivou a realização
de uma conferência internacional sobre o tema, encabeçada pela OMS, que
culminou com a Declaração de Alma-Ata em 1978, na antiga União Soviética.
Assim, a saúde foi reconhecida como direito fundamental de indivíduos e
comunidades, com ênfase no direito ao acesso universal aos serviços de saúde,
e a necessidade de integração das ações, dando destaque para a APS como
estratégia básica para alcançar esses objetivos. O lema Saúde para Todos no ano
2000 foi o mote das discussões, o qual seria alcançado pelo desenvolvimento
da APS e seus princípios em todos os países do mundo.
A APS tem como princípios a oferta da atenção à saúde por meio de ações
integradas e acessíveis, de acordo com as necessidades locais, com desen-
volvimento pautado na atuação de equipes multiprofissionais, responsáveis
por abordar a maioria das necessidades individuais e coletivas em saúde,
desenvolvendo uma parceria sustentada entre equipe, pessoas e comunidade.
Os princípios da APS se resumem em quatro características ou atributos
essenciais (primeiro contato, integralidade, longitudinalidade e coordenação),
mais três derivados (orientação familiar, comunitária e competência cultural).

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Nesse conceito, você pode entender a APS como um território que, para
além de geográfico, traz consigo o contexto social, político e econômico. Esse
entendimento contribui para uma valorização ainda maior da APS como um dos
componentes essenciais de qualquer sistema de saúde. O Brasil vem dedicando
amplo esforço político, acadêmico e financeiro para o desenvolvimento de
um novo modelo de APS, impulsionado por um entendimento abrangente da
APS como parte do sistema nacional de saúde e política.
A APS deve ser o primeiro contato das pessoas com o sistema de saúde,
independente de gênero, condições socioculturais e problemas de saúde; com
abrangência e integralidade das ações individuais e coletivas; além de continui-
dade (longitudinalidade) e coordenação do cuidado ao longo do tempo, tanto
no plano individual quanto no coletivo, mesmo quando houver necessidade de
encaminhamento para outros níveis de atenção do sistema de saúde.
No Brasil, APS e AB são termos equivalentes. A AB reforça os princípios
e as diretrizes do SUS, assumindo papel central no sistema, pois seus serviços
devem ser a porta de entrada para a rede e a referência principal para o usuário,
além de coordenar o cuidado, isto é, ser responsável por orientar e acompanhar
o usuário em sua trajetória na rede, sendo o elo entre todos. É necessário
que as unidades de AB realizem o acolhimento das demandas de saúde da
população que as procura. O acolhimento é uma ação na qual são ouvidas as
necessidades do usuário e, a partir delas, decide-se, com ele e outros membros
da equipe, quais atividades e atendimentos são necessários para a situação.
Assim, a APS é entendida como o primeiro nível de atenção nos sistemas
de saúde nacional, regionais e locais, como também como estratégia política e
princípios para a (re)organização dos serviços e sistemas de saúde. No Brasil,
você pode usar o nome de atenção básica para tratar dos mesmos princípios e
características, cuja expressão atual na política de saúde é a estratégia saúde
da família.
As diretrizes da atenção básica foram promulgadas por meio da Portaria
nº. 2.488/GM/MS, de 21 de outubro de 2011, que aprova a Política Nacional de
Atenção Básica (PNAB), estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para
a organização da Atenção Básica (AB), para a Estratégia Saúde da Família
(ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Em 2017,
a Portaria nº. 2.436/GM/MS de 21/09/2017 revogou Portaria nº. 2.488/2011 e
aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de
diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS) (BRASIL, 2017. Portaria nº. 2.436/GM/MS disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html).

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Outro avanço da PNAB foi a introdução do trabalho em rede. Com as


redes, o sistema muda da forma piramidal para uma figura em que todos
os níveis estão no mesmo plano. As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são
arranjos que articulam diversos serviços, de todos os níveis de atenção,
para atender às necessidades de saúde. Um exemplo é a Rede de Atenção
à Saúde Materna, também chamada de “Rede Cegonha”. Primeira rede
desenvolvida e implementada pelo governo federal junto aos municípios, foi
desenvolvida com o objetivo de reduzir a mortalidade materna e neonatal
(durante os primeiros 28 dias de vida, período em que a criança corre o
maior risco de morrer). Essa rede prevê a assistência no pré -natal, no parto,
no puerpério (42 dias após o parto) e atenção integral à saúde da criança
nos dois primeiros anos de vida, além de sistema logístico (transporte para
consultas e atendimentos fora da unidade de referência). Essa rede complexa
prevê a participação de diversos serviços para atender a mulher e seu filho,
antes, durante e após a gestação.
Ainda, as redes podem atender diversas situações/doenças: hipertensão arte-
rial, diabetes melito, obesidade, entre outras. Elas devem ser planejadas levando
em consideração o perfil epidemiológico da região, os serviços disponíveis
no município, os recursos financeiros para sustentá-las e a capacitação dos
profissionais para trabalharem nesse novo contexto.

Estratégia saúde da família


O Programa Saúde da Família, oficialmente lançado em 1994, cresceu de forma
gradativa e sustentável, funcionando como alavanca para o avanço da APS e
para o retorno da medicina de família e comunidade ao cenário da saúde no
Brasil. O nascimento desse programa está relacionado com o Programa de
Agentes de Saúde. A Saúde da Família ultrapassou os limites de um programa,
tornando-se uma política de saúde na agenda dos gestores do SUS.
A história da implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) está muito relacionada com a experiência da implantação do Programa
de Agentes de Saúde no estado do Ceará em 1987, que tinha como objetivo
emergencial reduzir a mortalidade infantil naquela região. Ao ter alcançado
grande sucesso já no seu primeiro ano, o programa saiu do caráter emergencial
para permanente. Em 1991, o Governo Federal decidiu expandir o programa
para toda a região Nordeste e, na sequência, para todo o Brasil, modificando
o nome do programa para “Programa de Agentes Comunitários de Saúde”.

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No ano de 1993, aproveitando a conjuntura política favorável e a influência


de diferentes experiências bem-sucedidas que estavam acontecendo no País,
começam a ser ordenadas no Ministério da Saúde ideias sobre a criação de
um programa que integrasse características dessas diferentes e bem-sucedidas
experiências. Em 27 de dezembro de 1993, reuniram-se em Brasília represen-
tantes das experiências citadas e consultores do Ministério da Saúde, para
definir as futuras bases do Programa de Saúde da Família.
Inicialmente, o Programa foi implantado em 13 municípios de diferentes regiões,
condicionados ao Mapa da Fome. O financiamento inicialmente era realizado por
meio de convênios entre as Secretarias Municipais e a Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA). Em janeiro de 1996, o financiamento do programa foi alterado para
a modalidade de produção por meio da tabela SIA-SUS, com valor diferenciado
para a consulta médica, que equivalia ao dobro do valor da consulta no momento.
Essa modalidade, apesar de claramente contraditória à mudança de paradigma
proposta pelo programa, perdurou até o início de 1998.
Em fevereiro de 1998, foi operacionalizado o Piso de Atenção Básica (PAB),
que passou a garantir os repasses de forma automática do nível federal para
o nível municipal, interrompendo o pagamento por procedimentos na APS.
Esses recursos são destinados a custear ações e serviços de atenção primária e
não podem ser usados para outras ações não relacionadas à APS. O PAB fixo
é calculado per capita e transferido a todos os municípios independentemente
das ações realizadas. O PAB variável depende de ação e é calculado com base
nas informações mensais contidas nos sistemas de informação nacional, tendo
um valor por cada ação implementada (equipes de saúde da família, agentes
comunitários de saúde, equipes de saúde bucal, núcleos de apoio a saúde da
família e outros).
A criação do PAB variável da Saúde da Família acelerou o ritmo de
expansão, permitindo a adesão de muitos municípios a essa estratégia e o
acesso de centenas de brasileiros aos serviços de saúde. Também foram criados
incentivos especiais dentro da atenção primária para atendimento a populações
historicamente negligenciadas e a municípios do país com baixo Índice de De-
senvolvimento Humano (IDH). Isso promoveu maior equidade na distribuição
dos recursos da atenção primária, compensando um pouco da desigualdade
histórica do acesso aos serviços de saúde com base quase exclusivamente na
oferta de serviços hospitalares.
Uma vez alcançada a expansão do programa para áreas antes desassistidas,
a nova fase do PSF tinha como desafio converter o modelo biologicista de
atenção no novo paradigma de integralização da saúde trazido pelo PSF.

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Entre os anos de 2000 a 2004, foi introduzido um sistema de incentivo


para o PAB variável, que estava vinculado às faixas de coberturas de Saúde
da Família, permitindo maior valor de repasse às equipes dos municípios
com maior cobertura alcançada. A lógica estava em estimular o aumento
da cobertura nos municípios mais populosos, por meio da criação de novas
equipes ou da conversão de equipes “tradicionais” em equipes de Saúde da
Família. Paralelamente, o MS iniciou em 2001 o Programa de Consolidação e
Expansão da Saúde da Família (PROESF), com o objetivo de apoiar a expansão
da cobertura, a consolidação e a qualificação da estratégia Saúde da Família
nos municípios brasileiros com população acima de 100 mil habitantes.
Analisando o crescimento alcançado, ficou evidente a necessidade de desen-
volver uma proposta de distribuição de recursos que beneficiasse os municípios
com piores IDH, assim como os pequenos municípios da região amazônica.
Sendo assim, em 2004, as equipes de Saúde da Família de municípios com
menos de 50 mil habitantes na Amazônia ou inferior a 30 mil habitantes e IDH
abaixo de 0,7 em outras regiões do país passaram a receber um adicional de
50% em seu financiamento, chamado de fator de equidade, o que ajudou na
ampliação do acesso aos serviços de saúde nessas regiões.
No ano de 2006, o MS formulou o Pacto pela Saúde que definia como prioridade
consolidar e qualificar a estratégia Saúde da Família como modelo de Atenção
Básica e centro ordenador das redes de atenção à saúde no Sistema Único de
Saúde (SUS), trazendo pela primeira vez uma Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB). Como maiores destaques da nova política, estava a definição clara das
responsabilidades de cada esfera de governo quanto à APS e a reafirmação da
Saúde da Família como estratégia nacional, mudando o nome de Programa Saúde
da Família para Estratégia Saúde da Família (ESF).
Após o lançamento da PNAB, outras iniciativas buscaram avanços rumo
à integralidade e à conformação da rede de atenção a partir da APS. Ainda
em 2006, houve a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares, trazendo para o âmbito da APS, ações de Medicina Tradi-
cional Chinesa – Acupuntura, Homeopatia e Fitoterapia.
Em 2008, criaram-se os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Os NASF foram concebidos para apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da
Família na rede de serviços e ampliar a abrangência e a resolubilidade das ações
da APS no Brasil. Os NASF são compostos de profissionais com diferentes
formações que devem desempenhar suas atividades dentro dos princípios da
APS e em parceria com as equipes de Saúde da Família, compartilhando seu
território e priorizando o atendimento compartilhado e interdisciplinar, com
troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas.

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Em especial para a Amazônia Legal, foram criadas estratégias como o


financiamento para a atuação de microscopistas nas regiões endêmicas da
malária, e mais recentemente, em 2010, a criação das Unidades de Saúde da
Família Fluviais e das equipes de Saúde da Família para População Ribeirinha.
O relatório de 2008 da Organização Mundial da Saúde reforça a APS
como “coordenadora de uma resposta ampla em todos os níveis de atenção”
e coloca para a Saúde da Família o desafio de que exerça a função de centro
de comunicação nas redes de atenção à saúde.
A partir de 2012, o programa tornou-se efetivamente uma estratégia e, assim,
garantiu-se a continuidade do trabalho. O objetivo era expandir as equipes de
Saúde da Família (eSF), aumentando a capacidade de atuação na comunidade
e compreendendo os determinantes de saúde com maior profundidade.
Na atuação da Estratégia da Família, a delimitação de um território é de suma
importância para a organização dos serviços. É a partir dessa delimitação que
se traça o perfil de saúde-doença da região e são planejadas ações adequadas
para a saúde. Cada UBS será responsável por uma área delimitada, sendo a
principal referência de saúde na área de abrangência, com atuação altamente
resolutiva. Após a delimitação da área de abrangência, essa área é novamente
dividida, de acordo com o número de eSF, delimitando as áreas de atuação de
cada equipe. Essa delimitação deve obedecer algumas regras: cada eSF deve
atender no máximo mil famílias ou 3.500 pessoas. Após essa divisão, cada
equipe subdivide sua área em microáreas, que são as microrregiões onde os ACS
atuarão, cada microárea devendo conter no máximo 200 famílias. O número de
ACS por equipe pode variar.
Após a definição do território, a equipe deve conhecer os problemas de saúde
da região e a estrutura que existe nela, com finalidade de elaborar o seu plano de
ação. O diagnóstico de saúde é formado por dados levantados de várias fontes:
profissionais da equipe, moradores, conselho gestor, observação do território,
dados governamentais e o SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica).
O SIAB é uma ferramenta que permite conhecer o perfil epidemiológico da
área de abrangência: quantas pessoas moram na região, faixa etária, sexo,
algumas doenças referidas pelas pessoas, mas sem comprovação diagnóstica
(como pressão alta, diabetes, doença de chagas, alcoolismo, deficiências) e se
existem gestantes, internações, óbitos e outras informações.
Esses dados são levantados pelos ACS, que preenchem uma ficha de ca-
dastro, que pode ser diferente de acordo com cada caso. Todas as informações
alimentam um sistema, o qual emite relatórios que apresentam os dados de
forma organizada, que são enviados também para o Ministério da Saúde,
todos os meses. As equipes devem também desenhar um mapa que contenha

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o máximo possível das características da região, como comércio, igrejas, áreas


de risco, ONGs, rios, morros etc., pois isso facilita o planejamento. Com essas
informações, as equipes traçam o perfil da região.
O diagnóstico de saúde também é dinâmico, pois se espera que, a partir
das intervenções da equipe sobre o território, a situação de saúde melhore. As
equipes devem atualizar com frequência seus diagnósticos e discuti-los com
a população, a fim de que juntos tomem decisões que melhorem a qualidade
de vida da população da região.

A definição de atribuições essenciais pelo Ministério da Saúde é importante, pois


ajuda a conduzir o trabalho das equipes em todo o país, evitando assim que algumas
ações sejam realizadas e outras não, o que causaria um impacto negativo na saúde da
população assistida. Por exemplo: em determinado local, o foco são as atividades de
promoção da saúde e de prevenção de doenças; as ações curativas e de reabilitação
são colocadas de lado e, assim, uma parte da população fica sem o acompanhamento
adequado de suas necessidades de saúde.

Equipes de atenção básica


Equipe de Saúde da Família (eSF): É a estratégia prioritária de atenção à
saúde e visa à reorganização da Atenção Básica no Brasil, em consonância
as diretrizes do SUS. A estrutura mínima da equipe saúde da família (eSF)
é composta no mínimo por médico (preferencialmente da especialidade de
medicina da família e comunidade), enfermeiro (preferencialmente especialista
em saúde da família), auxiliar ou técnico de enfermagem e agente comunitário
de saúde (ACS). As equipes de Saúde Bucal também podem ser inseridas
sendo então compostas por cirurgião-dentista, técnico e auxiliar de saúde
bucal. O número de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base
populacional, critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos.
Recomenda-se a cobertura de 100% da população em áreas de grande dispersão
territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, com número máximo de
750 pessoas por ACS.

Equipe da Atenção Básica (eAB): atende aos princípios e diretrizes propostas


para a AB. A gestão municipal poderá compor equipes de Atenção Básica

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(eAB) de acordo com características e necessidades do município. As equipes


deverão ser compostas minimamente por médicos, enfermeiro, auxiliares de
enfermagem e ou técnicos de enfermagem. Podem compor a equipe outros
profi ssionais como dentistas, auxiliares de saúde bucal e ou técnicos de saúde
bucal, agentes comunitários de saúde e agentes de combate à endemias.

Equipe de Saúde Bucal (eSB): Pode compor as equipes que atuam na atenção
básica, constituída por um cirurgião-dentista e um técnico em saúde bucal
e/ou auxiliar de saúde bucal. Os profi ssionais de saúde bucal que compõem
as equipes de Saúde da Família (eSF) e de Atenção Básica (eAB) devem
estar vinculados à uma UBS ou a Unidade Odontológica Móvel.

Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB): Constitui


uma equipe multiprofi ssional e interdisciplinar composta por categorias de
profi ssionais da saúde, complementar às equipes que atuam na Atenção Básica.
É formada por diferentes ocupações (profi ssões e especialidades) da área
da saúde, atuando de maneira integrada para dar suporte (clínico, sanitário
e pedagógico) aos profi ssionais das equipes de Saúde da Família (eSF) e de
Atenção Básica (eAB). Podem compor os NASF-AB: Médico Acupunturista;
Assistente Social; Educador Físico; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudi-
ólogo; Médico Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista;
Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico
Geriatra; Médico Internista (clínica médica), Médico do Trabalho, Médico
Veterinário, profi ssional com formação em arte e educação (arte educador) e
profi ssional de saúde sanitarista, ou seja, profi ssional graduado na área de saúde
com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente
em uma dessas áreas conforme normativa vigente. Além disso, em muitos
municípios, os agentes de zoonose também trabalham de forma integrada
com a saúde da família.

O NASF atua capacitando as equipes nos casos mais simples e atendendo


individualmente ou com as equipes os casos mais complexos; planejando e
executando grupos educativos e diversas atividades. A principal ferramenta
utilizada pelas equipes NASF é a estratégia na qual todos os profissionais
trocam conhecimento de suas áreas específicas, em reuniões ou nos atendi-
mentos rotineiros, formando um conhecimento ú nico da equipe para cada caso
discutido e acompanhado. As equipes da eSF atuam com base nas diretrizes
do SUS e da PNAB e possuem atribuições que sã o comuns a todos os
membros. Essas atribuições tem o objetivo de organizar o serviço, para que
o cuidado oferecido à saúde seja o da melhor qualidade:

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 Definição do território de atuação e da população que estará sob res-


ponsabilidade das UBS e das equipes.
 Programação das ações de atenção à saúde de acordo com o perfil dos
problemas de saúde da comunidade (planejamento de grupos educativos,
agenda dos profissionais, reuniões comunitárias, atividades intersetoriais).
 Desenvolvimento de ações que visem à prevenção de doenças, atuando
ativamente sobre grupos de risco para doenças crônicas não transmissíveis.
 Realização do primeiro atendimento de urgência e acolhimento com
escuta qualificada, avaliando os riscos (o acolhimento é a recepção do
usuário no serviço, levantando as queixas a fim de ajudar a resolvê-las
e oferecendo soluções variadas, que vão desde uma consulta médica à
participação em um grupo educativo).
 Oferecimento de atendimentos de saúde na UBS, no território e nos
domicílios (consultas, visitas, vacinação e todas as outras atividades
desenvolvidas na UBS).
 Desenvolvimento de ações de promoção da saúde, que visem melhorar a
qualidade de vida e promover a independência e a autonomia da população.
 Apoio às estratégias de gestão local e fortalecimento da participação
comunitária, estimulando a participação no conselho gestor da unidade,
para discussão e tomada de decisões diante dos problemas locais.
 Desenvolvimento de ações intersetoriais, visando à integralidade da
atenção (as atividades intersetoriais são aquelas em que a equipe pode en-
volver outros setores que atuam na comunidade, como ONGs, assistência
social, lideranças locais, igrejas, entre outros para atuar sobre os deter-
minantes locais de saúde).
 Desenvolvimento de ações de vigilância em saúde dentro do seu
território, como parte das atividades cotidianas e de forma comparti-
lhada com os outros níveis de atenção.

Além disso, as equipes de Saúde da Família (eSF) estão alocadas em UBS


exclusivas e, em alguns casos, dividem espaço com as unidades tradicionais,
sendo denominadas Unidades Mistas, em que os dois modelos coexistem.
Todas essas unidades têm em comum as atividades que prestam à população:

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 Imunização.
 Cuidados de enfermagem (curativos, aferição de pressão arterial e
glicemia, coleta de exames laboratoriais, dispensação e administração
de medicamentos).
 Ações locais de vigilância epidemiológica (incluindo visitas domiciliares);
 Grupos educativos.
 Atendimentos individuais/compartilhados de vários profissionais:
médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, entre outros.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012. (Série
E. Legislação em Saúde).
GUSSO, G.; LOPES, J. M. C. (Org.). Tratado de medicina de família e comunidade: princípios,
formação e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012. 2 v.
SOLHA, R. K. T. A Atenção Básica no Brasil. In: SOLHA, R. K. T. Saúde coletiva para iniciantes:
políticas e práticas profissionais. 2. ed. São Paulo: Erica, 2014. Ebook. p. 51-64.

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