Políticas Públicas de Alimentação E Nutrição: Ana Manuela Ordonez

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POLÍTICAS

PÚBLICAS DE
ALIMENTAÇÃO
E NUTRIÇÃO

Ana Manuela Ordonez


O65p Ordonez, Ana Manuela.
Políticas públicas de alimentação e nutrição [recurso
eletrônico] / Ana Manuela Ordonez, Andrei Valerio Paiva.
– 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Editado como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-029-0

1. Saúde pública. 2. Nutrição – Políticas públicas. 3.


Alimentação – Assistência em saúde. I. Paiva, Andrei
Valerio. II. Título.
CDU 614:612.39

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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SUS: níveis de atenção e
serviços
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Definir os níveis de atenção à saúde.
„„ Identificar as competências de cada nível.
„„ Diferenciar os níveis de atenção em saúde no Brasil e os serviços
que compõem cada um deles.

Introdução
Neste texto, você estudará os níveis e os setores do Sistema Único de
Saúde (SUS). Assim, você vai se familiarizar com os níveis primário, se-
cundário e terciário, além de reconhecer quais serviços são oferecidos
e qual é a articulação entre os três níveis de atenção à saúde.

Conceitos iniciais
No Brasil, as políticas de saúde sempre estiveram atreladas ao setor privado,
promovendo a privatização da atenção à saúde, credenciando consultórios,
clínicas de diagnóstico, hospitais, incentivando o sistema de seguros e planos
de saúde. Mas apesar da privatização dos serviços de saúde, a população com
frequência recebe vacinas e utiliza os serviços de alta complexidade do SUS
(p. ex., para terapias de hemodiálise, tratamentos oncológicos e realização de
transplantes).
Nas primeiras discussões do movimento que buscava a Reforma Sanitária
no Brasil, já havia a ideia de pensar o sistema de saúde de modo integrado. A
saúde e a doença eram processos determinados não apenas pelos componentes
biológicos, mas também pelas condições sociais e de classe das populações.
O princípio da Integralidade foi assegurado pela Constituição Federal
de 1988, articulando a complexidade do SUS em três níveis de atenção (pri-
mário, secundário e terciário), com ações de assistência e prevenção agru-
padas. Assim, você nota que o SUS foi estabelecido com a função de realizar
ações de promoção de saúde, vigilância em saúde, controle de vetores e edu-
cação sanitária, assegurando continuidade do cuidado nos três níveis.

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A reestruturação do SUS é uma estratégia de superação do modo frag-


mentado de operar a assistência e a gestão em saúde. O modelo brasileiro de
atenção à saúde vem sendo ajustado para o atendimento integral ao usuário,
com inclusão e ampliação de serviços.
Mas hoje o SUS dispõe de menos recursos públicos para atender às neces-
sidades de saúde da população do que previsto em um primeiro momento, no
qual foi criado com o objetivo de se tornar um sistema de saúde universal e
equitativo no Brasil, financiado por recursos públicos.
A divisão dos serviços de saúde ocorre com base nas características e
complexidades tecnológicas de cada nível, que podem ser divididas em: leve,
leve-dura e dura. Embora os serviços de saúde utilizem comumente os três
tipos de tecnologia, em muitos deles prevalece o uso de um ou dois tipos,
determinando a qual nível pertencem os diferentes serviços.
A Constituição de 1988 determinou, no artigo 198, a participação social na
gestão do sistema de saúde. Dois anos depois, duas leis trouxeram conteúdos
importantes sobre essa participação: a Lei nº 8.080, de 1990, conhecida como
Lei Orgânica da Saúde, e a Lei nº 8.142 do mesmo ano. A partir de então, a
atuação da sociedade no sistema de saúde ganhou nova dimensão. A partici-
pação social foi ampliada, democratizada e passou a ser qualificada por “con-
trole social”, ou seja, controle da sociedade sobre a política de saúde vigente. A
sociedade começou, efetivamente, a participar da gestão do sistema de saúde.
A população, por meio dos Conselhos de Saúde, passou a exercer o con-
trole social, participando do planejamento das políticas públicas, fiscalizando
as ações do governo, verificando o cumprimento das leis relacionadas ao SUS
e analisando as aplicações financeiras realizadas por todas as esferas no ge-
renciamento da saúde. Hoje, no Brasil, além do Conselho Nacional de Saúde
(CNS), com sede em Brasília, existem 26 conselhos estaduais de saúde, um
conselho do Distrito Federal, mais de cinco mil conselhos municipais, trinta e
quatro conselhos distritais sanitários indígenas, entre outros (BRASIL, 2013).

Níveis de atenção à saúde


Preste atenção! Agora, você aprenderá a distinguir os três níveis de atenção
do SUS:

1. Nível primário: é a atenção básica, com os serviços de vigilância em


saúde e as Unidades Básicas de Saúde (UBS).

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2. Nível secundário: é a atenção secundária ou de média complexidade,


com os hospitais gerais e os ambulatórios.
3. Nível terciário: é a atenção terciária ou de alta complexidade, com os
hospitais e os serviços especializados.

Imagine que você está na pele de um paciente. O seu caminho seria o


seguinte entre os níveis:

1. No nível primário, você procuraria as Unidades Básicas de Saúde, a


“porta de entrada” ao SUS, agendaria consultas e exames e realizaria
procedimentos de baixa complexidade como vacinação e curativos. De
acordo com as pesquisas, se você fosse atendido por uma UBS em bom
funcionamento, você teria 85% de chances de resolver o seu problema
de saúde.
2. No nível secundário, você buscaria os serviços de média complexi-
dade, como Clínicas, Ambulatórios, Unidades de Pronto Atendimento
(UPA) e Hospitais Escolas. Nesses locais, você poderia passar por al-
guns procedimentos de intervenção, tratamentos de casos crônicos e
agudos de doenças.
3. No nível terciário, você teria acesso a serviços considerados de alta
complexidade, ou seja, seria encaminhado aos Hospitais de Grande
Porte, onde poderia realizar procedimentos invasivos e que repre-
sentem risco de morte.

O Relatório Dawson surgiu em 1920, na Inglaterra, e tornou-se um marco na história da


organização dos sistemas de saúde ao propor a implantação de um sistema integrado
de medicina preventiva e curativa por meio de ações primárias, secundárias e terciárias.
O Relatório Dawson está na base do sistema de saúde britânico e inspirou a organi-
zação de sistemas de saúde em vários outros países.

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Rede de atenção à saúde


A rede de atenção à saúde (RAS) é constituída por um conjunto de organi-
zações que prestam ações e serviços, de diferentes densidades tecnológicas,
visando à integralidade do cuidado em saúde. Essas organizações interagem
por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão. A operacionali-
zação da RAS se dá pela interação de três principais elementos: a população,
a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde.
Como foi explicado, o cuidado em saúde realizado pelo SUS está dividido em
três níveis de atenção (básica, média e alta complexidade), para favorecer o plane-
jamento de ações e dos serviços do sistema de saúde de forma hierarquizada, de
acordo com a complexidade. Mas você deve se lembrar: a atenção à saúde deve
ser integral! Esses níveis não devem ser considerados separadamente.
A estruturação em níveis está constitucionalmente assegurada no artigo 198
e legalmente assegurada nos artigos 7º e 8º da Lei 8.080/90 que determina a inte-
gração dos serviços públicos em redes de atenção à saúde. As RAS, por sua vez,
devem ser regionalizadas. Compete ao Estado definir as regiões de saúde a partir
de conglomerados de municípios limítrofes com características que importem à or-
ganização de rede de atenção à saúde, conforme determina a Constituição Federal.
Não se esqueça de que a proposta dessa divisão visa melhorar a eficácia e
a efetividade do SUS. Assim, casos de menor urgência e emergência são resol-
vidos no primeiro nível de assistência, sem precisar atendimento nos centros
especializados de alta complexidade.

Serviços nos três níveis de atenção à saúde

Atenção primária ou básica


Você vai recordar que os cuidados primários em saúde configuram o prin-
cipal contato do usuário com o sistema de saúde. Afinal, a atenção primária
proporciona os serviços de proteção, cura e reabilitação. As ações de atenção
primária em saúde têm foco na proteção, recuperação, reabilitação e pro-
moção da saúde, além de prever a participação da comunidade no processo
de estruturação dos serviços. A atenção primária em saúde também pode ser
denominada de atenção básica.
A atenção básica tem o objetivo de oferecer acesso universal e serviços
abrangentes, coordenando e expandindo a cobertura para níveis mais com-

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plexos de atenção, bem como implementar ações intersetoriais de promoção


de saúde e prevenção de doenças. A ação da atenção básica depende do re-
passe de recursos financeiros, entre eles o piso da atenção básica (PAB) e
organizacionais. A princípio destacaram-se dois programas: o Programa de
Agentes Comunitários de Saúde implantado em 1991 e o Programa de Saúde
da Família (PSF) implantado em 1994, como parte do processo de reforma
da saúde. Esses dois programas tiveram origem na estratégia adotada pelo
governo para reestruturar o sistema e o modelo assistencial do SUS.
Aqui vale a pena você entender melhor o Programa de Saúde da Família. O
PSF foi lançado como política nacional de atenção básica, de caráter organiza-
tivo e substitutivo, fazendo frente ao modelo tradicional de assistência primária
baseada em profissionais médicos especialistas. O PSF começou oferecendo
serviços na área da saúde materno-infantil, mas desde 1998 é a principal es-
tratégia de estruturação da atenção básica dos sistemas locais de saúde. Uma
característica marcante do PSF é a ênfase dada à reorganização das unidades
básicas de saúde, concentrando a atenção em saúde nas famílias e comuni-
dades, integrando a assistência médica com a promoção da saúde e ações de
prevenção. O PSF funciona por meio de equipes de saúde da família (compostas
por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de
saúde). Desde 2004, inclui equipes de saúde bucal. Outros profissionais, como
assistentes sociais e psicólogos, podem ser incluídos nas equipes. A Unidade
de Saúde da Família atua com uma ou mais equipes, conforme a concentração
demográfica sob sua responsabilidade. Em 2006, a portaria nº 648 de 28 de
março, estabeleceu o PSF como estratégia prioritária do Ministério da Saúde
para organizar a atenção básica. Por não se tratar mais apenas de um programa,
hoje o PSF é conhecido como “estratégia de saúde da família”.
Em 2011, a portaria nº 2488 revogou a anterior e estabeleceu a revisão das
diretrizes e normas para organização da atenção básica e aprovou a política
nacional de atenção básica para a estratégia saúde da família (ESF) e para o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Em 2008, o governo
lançou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), equipes multiprofis-
sionais que se associaram ao PSF para expandir a cobertura da atenção básica
e apoiar o desenvolvimento das redes de referência e contrarreferências regio-
nais. A estratégia do NASF é a troca de conhecimento entre os profissionais
de diferentes áreas específicas, em uma reunião ou nos atendimentos roti-
neiros, formando um conhecimento único da equipe para cada caso discutido
e acompanhado.

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Cada ESF é composta por certo número de famílias da região, que serão
assistidas nas unidades de saúde da família, onde atuam as equipes de saúde
da família. As equipes representam o primeiro contato com o sistema de
saúde local, tendo a responsabilidade de coordenar a atenção e procurar inte-
grar esse processo com os serviços de apoio diagnósticos, assistência especia-
lizada e hospitalar. Os serviços de saúde e as atividades de promoção de saúde
ocorrem nas unidades, nas casas dos pacientes e na comunidade.
O médico deve prestar atendimento a todos os integrantes de cada família,
desenvolvendo ações de prevenção e promoção da qualidade de vida em con-
junto com os demais integrantes, que auxiliem a população atendida pela
equipe. É responsabilidade do enfermeiro da equipe supervisionar o auxiliar
de enfermagem e os agentes comunitários de saúde (ACS), além de realizar
consultas na unidade de saúde, bem como prestar auxilio domiciliar quando
necessário. O auxiliar de enfermagem realiza procedimentos de enfermagem
na unidade básica de saúde, no domicílio e executa ações de orientação sani-
tária. Os ACS fazem a ponte de ligação entre as famílias e o serviço de saúde,
realizam visitas domiciliares a todas as famílias cadastradas para atendi-
mento pela equipe ao menos uma vez por mês, fazem o mapeamento de cada
área, cadastram as famílias e estimulam a população atendida a incorporar as
orientações para uma vida com melhores condições de saúde.
O cadastramento das famílias realizado pela equipe permite realizar um
diagnóstico completo de cada família, para que sejam conhecidas as caracte-
rísticas sociais, demográficas e epidemiológicas de cada núcleo. É papel das
equipes do PSF identificar quais são os problemas de saúde e quais são as si-
tuações de risco às quais a comunidade local está exposta. Com base nesse co-
nhecimento, devem ser elaborados (com a participação da comunidade) planos
de ação para enfrentar os fatores que estão determinando o processo saúde-
-doença, prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racio-
nalizada à demanda, organizada ou espontânea, na Unidade de Saúde da Fa-
mília, na comunidade, no domicílio e no acompanhamento ao atendimento nos
serviços de referência ambulatorial ou hospitalar; além de desenvolver ações
educativas e intersetoriais para enfrentar os problemas de saúde identificados.
A operacionalização da atenção básica acontece por meio de sistemas regu-
latórios descentralizados e informatizados, possibilitando aumentar a oferta de
serviços e a implementação de diretrizes clínicas baseadas em evidências para
o manejo das doenças crônicas. A sistematização favorece a integração entre
cuidado primário e os serviços de especialidades ou alta complexidade.

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Alguns obstáculos impedem que a atenção básica atinja plenamente a inte-


gralização com os outros níveis assistenciais: falta de investimentos, baixa ca-
pacidade administrativa do município, integração deficiente entre prestadores
nos níveis municipal e estadual – este último aspecto dificulta principalmente
a realização de exames de apoio para diagnóstico. A estratégia saúde da fa-
mília é um processo em construção.

Atenção secundária
Na rede de saúde, a atenção secundária é formada pelos serviços especializados
em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre
os níveis de atenção primária e terciária, decodificados como procedimentos de
média complexidade, compreendendo serviços médicos especializados, de apoio
diagnóstico e terapêutico e atendimentos de urgência e emergência.
No nível de atenção secundária, a estrutura e organização das práticas de
saúde dizem respeito ao modo como estão estabelecidas as práticas de atenção
à saúde, contemplando as políticas, princípios e normas que regem seu fun-
cionamento, incluindo as rotinas de trabalho, jornada de trabalho e oferta de
especialidades.
Os atendimentos realizados na atenção secundária envolvem consultas
ambulatoriais de especialidades médicas e odontológicas, atendimentos de
urgência e emergência, atendimentos em saúde mental, alguns exames labo-
ratoriais e de imagem, e alguns tipos de cirurgias. A organização da demanda
é regulada pelo Sistema de Regulação do SUS (Sisreg), orientando o fluxo de
atendimentos ambulatoriais, referenciados pela atenção básica. Os serviços
oferecidos no nível da atenção secundária podem ser contratados, conve-
niados e/ou, ainda, pactuados com outros municípios.
A prestação de serviços especializados no SUS é problemática, pois a
oferta é limitada e o setor privado contratado muitas vezes dá preferência
aos portadores de planos de saúde privados, o que torna o acesso ao serviço
de saúde desigual. O serviço da atenção secundária é pouco regulamentado
e, muitas vezes, os procedimentos de média complexidade são preteridos em
favor dos procedimentos de alto custo. Apesar disso, políticas destinadas ao
aumento da oferta pública levaram ao crescimento do número de procedi-
mentos ambulatoriais especializados no SUS nos últimos dez anos.
Em 2001, foi aprovada a Lei da Reforma Psiquiátrica, com o propósito de
desinstitucionalizar a atenção, diminuir o número de leitos psiquiátricos e re-

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forçar os direitos das pessoas com transtornos mentais, levando à implemen-


tação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e de serviços de residência
terapêutica (SRT) para egressos de longa internação.
A atenção secundária também passou a contar com centros de especia-
lidades odontológicas, serviços de aconselhamento para HIV/aids e outras
doenças sexualmente transmissíveis, centros de referência em saúde do traba-
lhador e serviços de reabilitação.
Em 2003, a portaria nº 1864/GM do MS implantou a criação do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). O SAMU atua na regulação dos
atendimentos de urgência da região e transferência de pacientes graves, por
meio de atendimento móvel. Esse serviço faz parte do sistema regional, capaz
de atender dentro da região a qual abrange, todo enfermo, ferido ou partu-
riente em situação de urgência ou emergência, realizando o transporte com
segurança e sob acompanhamento profissional, até o nível hospitalar.
Em 2008, foram criadas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) que tem
funcionamento 24 horas por dia, com objetivo de diminuir a demanda nas
emergências hospitalares. Essas unidades se articulam com o SAMU, que
conta com ambulâncias (equipadas para o suporte básico ou avançado), he-
licópteros, embarcações e até motocicletas capazes de atender pessoas nas
ruas, em casa ou no trabalho. Em 2010, as UPA e o SAMU cobriam atendi-
mento de 55% da população brasileira.
Com a reforma no sistema de saúde, a tendência tem sido estruturar sub-
sistemas paralelos dentro do SUS para atender a necessidades específicas, o
que leva às dificuldades de coordenação e continuidade do cuidado. Existe
desde 2007, uma diretoria responsável pela integração entre a atenção básica,
a vigilância em saúde e os serviços especializados e de emergência de modo
a melhorar a gestão clínica, a promoção da saúde e o uso racional de recursos
nos serviços de saúde.

Atenção terciária
A atenção terciária (alta complexidade) indica o conjunto de terapias e proce-
dimentos de elevada especialização, que empregam tecnologias duras e que
são realizados no ambiente hospitalar.
O modelo histórico de atenção à saúde, que privilegiou o hospital como
ambiente para a prática de cuidados em saúde, contribuiu para que a atenção
terciária se perpetuasse no imaginário popular como o nível de atenção à

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saúde de maior importância. A imagem do hospital bem equipado está ligada


à de eficiência do sistema de saúde. No entanto, em termos de saúde pública, a
indiscutível maioria das necessidades de saúde da população é satisfeita com
ações no nível atenção primária em saúde, razão pela qual os investimentos
nesse nível têm impacto muito maior nos indicadores de saúde.
É bom você notar que é indispensável a existência da atenção terciária em
saúde, especialmente porque a garantia do direito à saúde no Brasil está permeada
pelo princípio da integralidade. Entretanto, a atenção terciária em saúde deve ser
acessada por meio dos demais níveis de atenção e suas tecnologias empregadas
quando houver evidências científicas de eficácia e segurança para os usuários.
O credenciamento de serviços de atenção terciária ou alta complexidade
requer, entre outros cuidados, a verificação de escala suficiente para os atendi-
mentos, deve ser dada ênfase à regionalização dos serviços, de acordo com in-
dicadores demográficos e epidemiológicos regionais, a fim de que a atenção ter-
ciária possa servir a uma população referenciada, quando houver necessidade.
A atenção terciária no SUS inclui alguns procedimentos de alto custo, re-
alizados predominantemente por prestadores privados contratados e hospitais
públicos de ensino, pagos com recursos públicos. Os desafios da assistência
hospitalar no Brasil incluem o controle de custos, o aumento da eficiência,
a garantia da qualidade da atenção e da segurança do paciente, do acesso a
cuidados abrangentes, e a coordenação com a atenção básica.
Existem no SUS políticas específicas destinadas a alguns procedimentos
de alto custo e para algumas especialidades, como cirurgia cardíaca, onco-
logia, hemodiálise e transplante de órgãos (sistema de gerenciamento de listas
de espera para transplantes de órgãos), que estão sendo organizadas na forma
de redes. O Ministério da Saúde tem procurado organizar redes de serviços
por meio do fortalecimento do PSF e da implementação dos territórios inte-
grados de atenção à saúde (TEIAS).
No SUS, cerca de 20% dos indivíduos são hospitalizados em municípios
diferentes daquele no qual residem. Essa situação resulta da desigualdade
no acesso ao SUS, demonstrando a necessidade de que sejam implantadas
políticas não apenas para regionalizar e assegurar o transporte de pacientes
ao hospital, mas também para modificar os modelos de cuidado de modo a
reduzir tais desigualdades. A regulação do SUS historicamente tem sido in-
fluenciada por grupos desde o setor privado até grupos associados ao mo-
vimento pela reforma sanitária. Infelizmente, os mecanismos regulatórios
existentes ainda não são suficientemente robustos para promover mudanças
significativas nos padrões históricos da assistência hospitalar.

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Exemplo

Imagine que um amigo seu tem diabetes, e surge uma ferida no pé esquerdo dele.
Dez dias depois, e nada da ferida cicatrizar. Você o aconselha a procurar a Unidade
Básica de Saúde e realizar o controle do diabetes melito (atenção básica). A enfermeira
faz a consulta e encaminha seu amigo ao médico. A ferida inspira cuidados, e ele é
encaminhado ao ambulatório de feridas para realizar acompanhamento e curativos
diários (atenção secundária). Mas a cicatrização da ferida apresenta evolução desfavo-
rável, com necrose de tecido e necessidade de amputação. Infelizmente, o paciente
é encaminhado ao hospital municipal para cirurgia de amputação de parte do pé es-
querdo (atenção terciária). Após alta hospitalar, já em casa, o paciente recebe acompa-
nhamento da equipe da Unidade de Saúde.

1. Considerando o conceito ampliado e) Conjunto de ações de saúde que


da atenção primária ou básica, in- abrange a proteção da doença, a
dique a alternativa que melhor define prevenção de agravos, o diag-
essa esfera de cuidado: nóstico e a redução de danos da
a) Conjunto de ações de saúde doença.
no âmbito individual e coletivo, 2. A atenção de média complexidade
cujo objetivo é desenvolver uma ambulatorial é composta por profis-
atenção integral à saúde que sionais especializados e pela utili-
impacte na situação de saúde, zação de recursos tecnológicos para
na autonomia das pessoas e nos o apoio diagnóstico e o tratamento.
determinantes e condicionantes Quais destes serviços NÃO integra a
de saúde das coletividades. média complexidade?
b) Conjunto de ações de saúde no a) Centro de Especialidades Odon-
âmbito coletivo, que abrange a tológicas (CEO).
promoção da saúde. b) Policlínicas.
c) Conjunto de ações de saúde no c) Centro de Especialidades Onco-
âmbito individual, abrangendo a lógicas.
prevenção de agravos, o diagnós- d) Centro de Atenção Psicossocial
tico, o tratamento e a reabilitação. (CAPS).
d) Conjunto de ações de saúde e) Serviço de Atendimento Móvel de
no âmbito individual e coletivo, Urgência (SAMU).
cujo objetivo é desenvolver a 3. Sobre a alta complexidade, assinale a
prevenção da doença das coleti- alternativa CORRETA.
vidades. a) É um conjunto de procedimentos

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SUS: níveis de atenção e serviços 47

oferecidos apenas pela iniciativa c) O tempo de espera para encami-


privada, que envolve baixa tecno- nhamentos a serviços especia-
logia e alto custo. lizados é mais curto quando os
b) É o único nível de atenção cujos encaminhamentos não são feitos
procedimentos são complexos. por equipes de saúde da família
Esse conjunto de procedimentos (eSFs).
é oferecidos apenas SUS, envolve d) Quando feitos por eSF, encami-
alta tecnologia e alto custo. nhamentos a serviços secundá-
c) Este nível de atenção objetiva rios são mais efetivos.
propiciar à população acesso a e) Não é responsabilidade da AB
serviços qualificados, configu- fazer encaminhamento para os
rando-se como o mais impor- outros níveis de atenção.
tante dos serviços de atenção 5. Sobre as redes de atenção à saúde
à saúde (superando a atenção (RAS), assinale a alternativa CORRETA.
básica e a média complexidade). a) O primeiro desenho para indicar
d) Conjunto de procedimentos que, os níveis de atenção era o de
no contexto do SUS, envolve alta rede, no qual a AB organizava
tecnologia e alto custo, obje- a referida. Com a evolução do
tivando propiciar à população conceito, passou-se a pensar a
acesso a serviços qualificados, rede em formato piramidal, no
caracterizando-se como porta qual não há articulação entre nos
preferencial de acesso aos ser- níveis de atenção.
viços de saúde. b) Todos os pontos de atenção à
e) Conjunto de procedimentos que, saúde são igualmente impor-
no contexto do SUS, envolve alta tantes para que se cumpram os
tecnologia e alto custo, obje- objetivos das RAS.
tivando propiciar à população c) Os pontos das redes são divididos
acesso a serviços qualificados, e acessados conforme classes
integrando-os aos demais níveis sociais. A AB é para a classe mais
de atenção à saúde (AB e de vulnerável, ao passo que média e
média complexidade). alta são para quem tem convênio.
4. A respeito do diagnóstico sobre a pro- d) A rede tem formato piramidal
cura dos serviços de atenção saúde, para indicar a hierarquia e dis-
assinale a alternativa CORRETA. tinção de importância entre os
a) Em 2008, 42% dos brasileiros pontos de atenção à saúde.
referiram a AB como seu serviço e) Todos os pontos de atenção à
de saúde de uso habitual. saúde são fundamentais para
b) Em 1998, a proporção de pessoas que se cumpram os objetivos das
que referenciaram os ambulató- RAS, sendo mais importante a alta
rios hospitalares como sua fonte complexidade, seguida da média
habitual de cuidados era de 12%, e, por último, da atenção básica.
subindo para 21% em 2008.

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Leituras recomendadas

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Para entender o controle social
na saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013.

PAIM, J. et al. O sistema de saúde brasileiro: história, avanços e desafios. The Lancet,
Londres, n. especial série Brasil, p. 11-31, maio 2011. Disponível em: <http://actbr.org.br/
uploads/conteudo/925_brazil1.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016.

SOLHA, R. K. T. A atenção básica no Brasil. In: SOLHA, R. K. T. Saúde coletiva para iniciantes:
políticas e práticas profissionais. 2. ed. São Paulo: Erica, 2014. Ebook. p. 51-64.

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