Políticas Públicas de Alimentação E Nutrição: Ana Manuela Ordonez
Políticas Públicas de Alimentação E Nutrição: Ana Manuela Ordonez
Políticas Públicas de Alimentação E Nutrição: Ana Manuela Ordonez
PÚBLICAS DE
ALIMENTAÇÃO
E NUTRIÇÃO
Introdução
Neste texto, você estudará os níveis e os setores do Sistema Único de
Saúde (SUS). Assim, você vai se familiarizar com os níveis primário, se-
cundário e terciário, além de reconhecer quais serviços são oferecidos
e qual é a articulação entre os três níveis de atenção à saúde.
Conceitos iniciais
No Brasil, as políticas de saúde sempre estiveram atreladas ao setor privado,
promovendo a privatização da atenção à saúde, credenciando consultórios,
clínicas de diagnóstico, hospitais, incentivando o sistema de seguros e planos
de saúde. Mas apesar da privatização dos serviços de saúde, a população com
frequência recebe vacinas e utiliza os serviços de alta complexidade do SUS
(p. ex., para terapias de hemodiálise, tratamentos oncológicos e realização de
transplantes).
Nas primeiras discussões do movimento que buscava a Reforma Sanitária
no Brasil, já havia a ideia de pensar o sistema de saúde de modo integrado. A
saúde e a doença eram processos determinados não apenas pelos componentes
biológicos, mas também pelas condições sociais e de classe das populações.
O princípio da Integralidade foi assegurado pela Constituição Federal
de 1988, articulando a complexidade do SUS em três níveis de atenção (pri-
mário, secundário e terciário), com ações de assistência e prevenção agru-
padas. Assim, você nota que o SUS foi estabelecido com a função de realizar
ações de promoção de saúde, vigilância em saúde, controle de vetores e edu-
cação sanitária, assegurando continuidade do cuidado nos três níveis.
Cada ESF é composta por certo número de famílias da região, que serão
assistidas nas unidades de saúde da família, onde atuam as equipes de saúde
da família. As equipes representam o primeiro contato com o sistema de
saúde local, tendo a responsabilidade de coordenar a atenção e procurar inte-
grar esse processo com os serviços de apoio diagnósticos, assistência especia-
lizada e hospitalar. Os serviços de saúde e as atividades de promoção de saúde
ocorrem nas unidades, nas casas dos pacientes e na comunidade.
O médico deve prestar atendimento a todos os integrantes de cada família,
desenvolvendo ações de prevenção e promoção da qualidade de vida em con-
junto com os demais integrantes, que auxiliem a população atendida pela
equipe. É responsabilidade do enfermeiro da equipe supervisionar o auxiliar
de enfermagem e os agentes comunitários de saúde (ACS), além de realizar
consultas na unidade de saúde, bem como prestar auxilio domiciliar quando
necessário. O auxiliar de enfermagem realiza procedimentos de enfermagem
na unidade básica de saúde, no domicílio e executa ações de orientação sani-
tária. Os ACS fazem a ponte de ligação entre as famílias e o serviço de saúde,
realizam visitas domiciliares a todas as famílias cadastradas para atendi-
mento pela equipe ao menos uma vez por mês, fazem o mapeamento de cada
área, cadastram as famílias e estimulam a população atendida a incorporar as
orientações para uma vida com melhores condições de saúde.
O cadastramento das famílias realizado pela equipe permite realizar um
diagnóstico completo de cada família, para que sejam conhecidas as caracte-
rísticas sociais, demográficas e epidemiológicas de cada núcleo. É papel das
equipes do PSF identificar quais são os problemas de saúde e quais são as si-
tuações de risco às quais a comunidade local está exposta. Com base nesse co-
nhecimento, devem ser elaborados (com a participação da comunidade) planos
de ação para enfrentar os fatores que estão determinando o processo saúde-
-doença, prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racio-
nalizada à demanda, organizada ou espontânea, na Unidade de Saúde da Fa-
mília, na comunidade, no domicílio e no acompanhamento ao atendimento nos
serviços de referência ambulatorial ou hospitalar; além de desenvolver ações
educativas e intersetoriais para enfrentar os problemas de saúde identificados.
A operacionalização da atenção básica acontece por meio de sistemas regu-
latórios descentralizados e informatizados, possibilitando aumentar a oferta de
serviços e a implementação de diretrizes clínicas baseadas em evidências para
o manejo das doenças crônicas. A sistematização favorece a integração entre
cuidado primário e os serviços de especialidades ou alta complexidade.
Atenção secundária
Na rede de saúde, a atenção secundária é formada pelos serviços especializados
em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre
os níveis de atenção primária e terciária, decodificados como procedimentos de
média complexidade, compreendendo serviços médicos especializados, de apoio
diagnóstico e terapêutico e atendimentos de urgência e emergência.
No nível de atenção secundária, a estrutura e organização das práticas de
saúde dizem respeito ao modo como estão estabelecidas as práticas de atenção
à saúde, contemplando as políticas, princípios e normas que regem seu fun-
cionamento, incluindo as rotinas de trabalho, jornada de trabalho e oferta de
especialidades.
Os atendimentos realizados na atenção secundária envolvem consultas
ambulatoriais de especialidades médicas e odontológicas, atendimentos de
urgência e emergência, atendimentos em saúde mental, alguns exames labo-
ratoriais e de imagem, e alguns tipos de cirurgias. A organização da demanda
é regulada pelo Sistema de Regulação do SUS (Sisreg), orientando o fluxo de
atendimentos ambulatoriais, referenciados pela atenção básica. Os serviços
oferecidos no nível da atenção secundária podem ser contratados, conve-
niados e/ou, ainda, pactuados com outros municípios.
A prestação de serviços especializados no SUS é problemática, pois a
oferta é limitada e o setor privado contratado muitas vezes dá preferência
aos portadores de planos de saúde privados, o que torna o acesso ao serviço
de saúde desigual. O serviço da atenção secundária é pouco regulamentado
e, muitas vezes, os procedimentos de média complexidade são preteridos em
favor dos procedimentos de alto custo. Apesar disso, políticas destinadas ao
aumento da oferta pública levaram ao crescimento do número de procedi-
mentos ambulatoriais especializados no SUS nos últimos dez anos.
Em 2001, foi aprovada a Lei da Reforma Psiquiátrica, com o propósito de
desinstitucionalizar a atenção, diminuir o número de leitos psiquiátricos e re-
Atenção terciária
A atenção terciária (alta complexidade) indica o conjunto de terapias e proce-
dimentos de elevada especialização, que empregam tecnologias duras e que
são realizados no ambiente hospitalar.
O modelo histórico de atenção à saúde, que privilegiou o hospital como
ambiente para a prática de cuidados em saúde, contribuiu para que a atenção
terciária se perpetuasse no imaginário popular como o nível de atenção à
Exemplo
Imagine que um amigo seu tem diabetes, e surge uma ferida no pé esquerdo dele.
Dez dias depois, e nada da ferida cicatrizar. Você o aconselha a procurar a Unidade
Básica de Saúde e realizar o controle do diabetes melito (atenção básica). A enfermeira
faz a consulta e encaminha seu amigo ao médico. A ferida inspira cuidados, e ele é
encaminhado ao ambulatório de feridas para realizar acompanhamento e curativos
diários (atenção secundária). Mas a cicatrização da ferida apresenta evolução desfavo-
rável, com necrose de tecido e necessidade de amputação. Infelizmente, o paciente
é encaminhado ao hospital municipal para cirurgia de amputação de parte do pé es-
querdo (atenção terciária). Após alta hospitalar, já em casa, o paciente recebe acompa-
nhamento da equipe da Unidade de Saúde.
Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Para entender o controle social
na saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013.
PAIM, J. et al. O sistema de saúde brasileiro: história, avanços e desafios. The Lancet,
Londres, n. especial série Brasil, p. 11-31, maio 2011. Disponível em: <http://actbr.org.br/
uploads/conteudo/925_brazil1.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016.
SOLHA, R. K. T. A atenção básica no Brasil. In: SOLHA, R. K. T. Saúde coletiva para iniciantes:
políticas e práticas profissionais. 2. ed. São Paulo: Erica, 2014. Ebook. p. 51-64.