Dissertacao
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NATUREZA E PESCA:
Um estudo sobre os pescadores artesanais de Matinhos - PR
CURITIBA
2007
VANESSA MARION ANDREOLI
NATUREZA E PESCA:
Um estudo sobre os pescadores artesanais de Matinhos - PR
CURITIBA
2007
EPÍGRAFE
LISTA DE TABELAS.................................................................................................vii
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................viii
RESUMO.....................................................................................................................ix
INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
REFLEXÕES FINAIS...............................................................................................111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................118
ANEXOS..................................................................................................................122
vii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1
Relação entre pesca artesanal e industrial/empresarial no Brasil
TABELA 2
Produção pesqueira por região (Brasil - 1988)
TABELA 3
Número de pescadores por município – litoral do Paraná - 1988
TABELA 4
Quantidade de embarcações, produção de camarão e de pescado no litoral do
Paraná (toneladas/ano1998)
TABELA 5
População, superfície e densidade populacional - municípios do litoral
paranaense, 2000.
TABELA 6
População e taxas anuais de crescimento, por situação de domicílio -
Municípios do litoral paranaense, 1970 a 2000.
TABELA 7
População ocupada segundo as atividades econômicas- Matinhos/PR – 2000
TABELA 8
Estimativa do tempo de decomposição de materiais no solo
TABELA 9
Local de residência dos pescadores de Matinhos/PR - 2005
TABELA 10
Tipo de moradia dos pescadores de Matinhos/PR – 2005
TABELA 11
Renda mensal média dos pescadores de Matinhos/PR – 2005
TABELA 12
Profissões que exercem além da pesca (pescadores de Matinhos/PR – 2005)
TABELA 13
Grau de instrução dos pescadores de Matinhos/PR – 2005
TABELA 14
Por que são pescadores (Matinhos/PR – 2005)
viii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1
Mapa Político do Estado do Paraná e Localização do Município de Matinhos
FIGURA 2
Canoas utilizadas pelos pescadores de Matinhos
FIGURA 3
Carretinha para puxar a canoa do mar
FIGURA 4
Rede de nylon utilizada pelos pescadores
FIGURA 5
Mercado Municipal de Pescados
FIGURA 6
Sede da Colônia de Pescadores Z-4
FIGURA 7
Instalações da Emater de Matinhos-PR
FIGURA 8
Ultima casa de pescador na areia
FIGURA 9
Pescadores saindo ao mar para pescaria
FIGURA 10
Pescadores retirando o pescado da canoa
FIGURA 11
Locais onde confraternizam, guardam seus instrumentos de trabalho e suas
canoas
ix
RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Usaremos aqui a definição de Hall (1999) de identidade: sujeito sociológico. Ver capítulo 4.
2
Ver capítulo 2, item 2.3 do presente trabalho.
2
3
Discutida no capítulo 2, item 2.2.
3
4
Ver tabela 6.
5
5
Ver capítulo 3, item 3.2.3 do presente trabalho.
7
6
O sonar (do inglês sound navigation and ranging) é um aparato capaz de emitir ondas ultra-sons a
objetos, para captar os seus ecos, permitindo assim, verificar a posição deles, medindo o tempo entre a
emissão do som e a recepção do seu eco.
7
O radar, do inglês Radio Detection And Ranging (Deteção e Telemetria pelo Rádio), é um dispositivo
que permite detectar objetos a longas distâncias.
8
Ecossondas são instrumentos que utilizam os princípios da acústica, principalmente do comportamento
das ondas de som na água, para detectar submarinos, peixes, ou outros objetos na coluna de água, no
oceano ou em outras massas de água. Sendo que a penetração do som na água é significativamente maior
que a da luz, instrumentos acústicos ativos que, por definição, emitem e recebem ondas sonoras, são,
portanto, capazes de detectar peixes ou outros objetos a muito maior distância da que é possível atingir
com sistemas visuais.
13
boa memória compreende o ritmo das marés e dos ventos, sabe o lugar onde
lançar a rede, etc., e, além de tudo é ele quem leva a embarcação e sua
tripulação com qualidade para atingir os objetivos traçados, mantendo a união
dos integrantes do barco.
Para Allut (2000, p.105), “a necessidade do pescador de conhecer a
dinâmica desse espaço, supõe em última instância uma prática de subsistência
que serve tanto para aumentar a segurança física num meio perigoso como
para administrar os recursos que nele se encontram”. O dia-a-dia do pescador
é comandado pela pesca, uma vez que eles seguem os movimentos próprios
da natureza – das marés, das espécies, dos astros e da atmosfera. Portanto, o
tempo do pescador é medido pelos ciclos da natureza; dependem muito desse
fator e por ele se perdem vários dias de trabalho. Segundo Diegues (1995,
p.92), “daí, como em todos os países do mundo, a pesca artesanal ser uma
atividade cíclica com períodos de maior ou menor intensidade de trabalho, com
horas de espera e horas de extenuante esforço físico”. O trabalho do pescador
artesanal obedece a um tempo ditado pelo ritmo dos fenômenos naturais –
marés, espécies, astros e atmosfera. Cunha (2004) comenta que a questão dos
tempos enfrentado por esses pescadores se difere da produção que ocorre no
meio urbano-industrial, já que este último é ditado pelo “tempo do relógio”.
A pesca artesanal representa para o pescador enfrentar situações de
risco, já não bastassem as quase sempre cambaleantes condições do mar e de
muitas das embarcações empregadas na atividade. É muito importante
ressaltar os riscos ocasionados pela atividade pesqueira, visto que na pesquisa
empírica realizada nesse estudo os entrevistados relataram em vários
momentos que sua profissão muitas vezes representa enfrentar situações de
risco para sua saúde e mesmo risco de vida. Além dessas questões, no
período da pesca de espécies com alto valor agregado e de onde os
pescadores tiram seu sustento, muitos destes trabalhadores atuam
continuamente sem dormida ou descanso aumentando a probabilidade de
acidentes, ou a severidade de doenças relacionadas ao trabalho. Para agravar
a situação a que estes trabalhadores estão submetidos, muitos operam
equipamentos de alto risco em uma superfície que se move continuamente e
que, na maioria das vezes, encontra-se molhada e escorregadia (Vale, 2006).
A longo prazo, muitos pescadores apresentam uma pele envelhecida
17
tipo de pesca.
11
Pesca Longínqua é um tipo de pesca que se realiza em águas internacionais ou nas que se encontram
sob a jurisdição de outros países, tendo uma duração que se pode prolongar por vários meses.
12
Pesca Costeira é um tipo de pesca que se pratica junto à costa, para lá das 6 milhas.
21
o tamanho dos pescados vêm diminuindo nas últimas décadas (Garcez &
Sanchez-Botero, 2005). Isso obriga os pescadores artesanais a buscar o
pescado cada vez mais longe e em locais muitas vezes perigosos, além de
precisarem permanecer mais tempo no mar, agravando os riscos de acidentes
de trabalho.
Mas a intenção dos pescadores artesanais não é a competição de
mercado; o que buscam é a subsistência. Essa competição se torna desleal na
medida em que as grandes embarcações passam a se configurar como
verdadeiras “fábricas flutuantes” (Pimenta, 2001). Equipamentos altamente
modernos, inviáveis financeiramente para os pescadores artesanais, são
utilizados cada vez com mais freqüência entre a frota industrial. Tais
equipamentos, além de permitirem que os cardumes sejam encontrados
acertadamente, faz com que os empregados do barco percam seu poder de
decisão. Seus conhecimentos vão cada vez mais ficando em segundo plano;
há máquinas que fazem o trabalho por eles, além de departamentos
especializados somente na captura.
De acordo com Diegues (1995), o principal motivo da preocupação com
esse tipo de pesca - que está em ascendência, como observamos na Tabela 3
– é a falta de chance que proporcionam à Natureza de repor as espécies.
Retiram quantidades gigantescas de pescados em um período de tempo muito
pequeno, o que não permite ao meio ambiente as recompor. Esse é um dos
principais motivos para começarmos a refletir sobre essa prática. Além disso,
se encaixando na lógica do mercado capitalista, há uma clara dissociação entre
pescador e pescado, o que mais uma vez minimiza a valorização dos
conhecimentos e da experiência que o trabalhador carrega.
No Brasil, segundo Diegues (1995), quando falamos em número de
pescadores artesanais, é difícil estimar ao certo, uma vez que a estatística
pesqueira não é confiável; não há um sistema confiável para se fazer essa
estatística. Quanto à produção, continua sendo significativa, apesar da falta de
apoio por parte do governo, que canaliza todos os investimentos na pesca
industrial. Quando tratamos de números, percebe-se que a pesca artesanal
vem diminuindo sua produção no decorrer dos anos, enquanto a pesca
industrial vem aumentando sua produção significativamente.
22
TABELA 1
Relação entre pesca artesanal e industrial/empresarial no Brasil
TABELA 2
Produção pesqueira por região (Brasil - 1988)
Durante muitos anos, até pelo menos o início do século XVII, a região
litorânea do Paraná foi a de maior dinamismo econômico do estado. Em boa
parte essa situação se deu por ser o litoral a primeira região a ser colonizada
ao longo do século XVII, em função de sua exploração aurífera. Esse foi o
primeiro ciclo dos muitos que passou o Estado para que se formasse sua
economia, segundo Kraemer (1978), autora que possui um estudo com os
pescadores artesanais de Paranaguá.
O ciclo do ouro, que tem maior destaque entre todos, foi o que deu início
a colonização do Estado e determinou a ocupação do litoral no século XVII. Foi
neste primeiro ciclo que a pesca teve o seu papel mais importante, juntamente
com as pequenas lavouras que surgiram no litoral. A pesca então se constituiu
em alimento básico daqueles envolvidos na mineração do ouro. Nesta época
em foi fundada a Vila Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá,
especificamente em 1649, quando o ouro ainda tinha uma grande demanda
naquela região. O ouro que existia em Paranaguá, mesmo sendo a primeira
amostra para a Coroa portuguesa, era encontrado apenas nas terras de aluvião
(terra de inundação) e areias monazíticas, apresentando-se em pouca
quantidade. Com isso, logo desapareceu, se esgotando as possibilidades de
exploração neste setor, aproximadamente no início do século XVIII (Kraemer,
1978).
Com isso surge, no final do século XVII, o segundo ciclo econômico do
Paraná, que se deu pelo tropeirismo13, com o transporte de gado do Rio
Grande do Sul para São Paulo. A região do Planalto, de acordo com o caminho
dos tropeiros, era a mais indicada para as chamadas “invernadas”,
caracterizada por uma parada no período de inverno, com o objetivo exclusivo
13
A palavra "tropeiro" deriva de tropa, numa referência ao conjunto de homens que transportavam gado
e mercadoria no Brasil colônia. O termo tem sido usado para designar principalmente o transporte de
gado da região do Rio Grande do Sul até os mercados de Minas Gerais, posteriormente São Paulo e Rio
de Janeiro.
26
de que o gado resistisse. Essa foi uma época em que o Paraná teve um
crescimento econômico muito intenso, mas com a decadência da extração do
ouro também em Minas Gerais e, conseqüentemente, a perda da necessidade
do gado para abastecer a região, ocorreu a decadência do ciclo do tropeirismo.
O próximo ciclo econômico importante para a consolidação da economia
no Paraná foi à extração da erva-mate, entrando aqui a cidade de Paranaguá
como a exportadora da erva para a Argentina, na metade do século XIX, o que
marca esse ciclo como um período de grande prosperidade da economia no
Estado.
No final do mesmo século se desenvolveu outro ciclo, sendo
representado pela exportação de madeira, também feita pelo porto de
Paranaguá. Nesses dois períodos a região, que vivia a economia de
subsistência, passa a uma nova situação, uma vez que o movimento portuário
passa a ocupar o primeiro lugar entre suas atividades econômicas.
O quinto ciclo importante, que se deu no início do século XX, se
caracteriza pela economia do café, dominando toda a economia do Estado. As
principais atividades executadas depois disso na região passam a ser a
agricultura e o extrativismo florestal e pesqueiro.
Nesse período (início do século XX) se estabeleceram as raízes culturais
da sociedade pesqueira marítima paranaense, com o surgimento dos primeiros
agricultores-pescadores, entre índios e portugueses (Andriguetto, 1999). De
acordo com Bonin (1984), que realizou uma pesquisa com pescadores de
Itapema-SC, a associação da pesca artesanal com a pequena lavoura é uma
prática muito antiga entre nós, conforme se pode apreender das referências
encontradas ao longo da história do litoral paranaense. Em função dessa
associação, a pesca tem sido tradicionalmente concebida, teoricamente, como
parte do que se denominou campesinato, isto é, como atividade subordinada à
pequena lavoura familiar, mesmo quando ela apresenta-se com o mais
importante que a atividade agrícola ou, ainda, quando dela já se encontra
separada. Para Bonin (1984, p.63), “há certamente uma grande diferença entre
o processo produtivo na agricultura e o processo produtivo na pesca artesanal
que se estabeleceu desde o primeiro momento, pelo fato de o primeiro se
desenvolver em torno da terra e o segundo em torno do mar”. Em outras
palavras, enquanto na agricultura o objeto de trabalho se configura na terra
27
TABELA 3
Número de pescadores por município – litoral do Paraná - 1988
NÚMERO DE PESCADORES
MUNICÍPIO
(EMATER/PR, 1998)
ANTONINA 1040
GUARAQUEÇABA 1097
GUARATUBA 540
MATINHOS 156
PARANAGUÁ 1005
PONTAL DO PARANÁ 240
TOTAL 4078
FONTE: EMATER, 1998, apud RICHTER, 2000.
TABELA 4
Quantidade de embarcações, produção de camarão e de pescado no litoral do
Paraná (toneladas/ano1998)
PRODUÇÃO DE PRODUÇÃO DE
NÚMERO DE
MUNICÍPIO CAMARÃO PESCADO
EMBARCAÇÕES
(ton/ano) (ton/ano)
ANTONINA 350 89 93
29
14
Com tração a remo ou vela (dentro das baías) e motor de centro com 11 a 24 hp (dentro das baías e
principalmente na região de orla oceânica); monóxilas, ou seja, construídas a partir de tora única
escavada, secção transversal em U, em geral, dotada de borda com fundo quilhado.
15
Motor de centro com 11 a 24 hp; mesma forma do tipo anterior, porém fabricadas com resina sintética
e fibra de vidro.
16
Motor de centro com 9 a 36 hp; confeccionados com tábuas encaixadas de forma coplanar (lisa); popa
reta e fundo podendo ser quilhado ou chato (plano); podem possuir guincho e tangones.
17
Propulsão a remo; fundo chato; atuam sozinhas ou auxiliam as embarcações motorizadas, também são
transportadas como salva-vidas na pesca na Plataforma Oceânica.
18
Motor de centro com 11 hp ou superior; construídas com tábuas de madeira coplanares (lisas) ou
imbricadas (escamadas); podem possuir guincho e tangones. A denominação bateira, como também
bateirinha, advém de seu fundo chato "bater" contra as ondas.
19
Motor de centro com 22 a 115 hp; maioria com tábuas de madeira coplanares (lisas), proas e popas em
bico abauladas podendo ter casario, convés, tangones e guincho; muitas possuem geladeira e banheiro.
20
Uma variação de caceio de fundo é o caracol, em que a rede é forçada em semi-circunferência através
30
Moderno, um termo que para nós indica o presente absoluto, uma espécie
de presente na segunda potência, ou o presente como futuro de si, é o termo
para o que passou, o que acabou de acontecer. E esta contradição não se
limita a etimologia; também na estética, o moderno implica em
desdobramentos entre o presente e o passado.
21
Ver capítulo 4 do presente trabalho, item 4.2.
41
22
Como já comentado neste capítulo, essa seria a segunda natureza, ou seja, aquela natureza que foi
transformada, mas não deixa de se configurar como natureza.
46
Para ele, não há como esperar que nesse modelo todas as nações
atinjam o mesmo nível de “desenvolvimento” e o mesmo padrão de consumo,
sem riscos de degradação ambiental.
Aqui entra a urgência do resgate de valores, principalmente valores
ambientais, e a educação ambiental aparece como principal facilitadora nesse
processo. Os próprios pescadores artesanais estudados percebem a
importância da educação ambiental, visto que muitas vezes justificam suas
atitudes em relação à natureza através da falta de conhecimento sobre os
efeitos destrutivos que podem causar sobre ela.
A Educação Ambiental, em meio à crise que o meio ambiente se
encontra, se transforma em um dos principais instrumentos possíveis de evitar
ou pelo menos minimizar a destruição da natureza, através de uma nova
conduta acerca dela. É através da sensibilização, primeiramente, que o homem
começa a tomar consciência de sua prática em relação ao ambiente em que
vive. Sensibilização entendida no contexto dessa pesquisa como um processo
educativo de tornar sensível, possibilitando uma vivência que pode construir
conhecimentos não só pela racionalidade, mas também a partir de sensações,
intuição e até mesmo sentimentos.
A Educação Ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um
estimulante espaço para repensar práticas sociais e desenvolver um
conhecimento necessário para que os indivíduos adquiram uma base
adequada de compreensão essencial do meio ambiente global e local, da
47
conservação que parte do princípio que a natureza para ser conservada deve
estar separada das sociedades humanas. Nessa perspectiva qualquer
intervenção humana é essencialmente negativa e prejudicial. Em contraponto,
de acordo com Diegues (2000), vários estudos mostram que populações
tradicionais apresentam formas de relação com a natureza que garantem de
forma eficaz sua conservação. O autor ressalta que o Brasil “importa” modelos
de conservação, e quando se fala em modelos importados não está se
referindo apenas a aspectos estruturais dos parques e reservas, mas também
à própria forma de pensar a relação do ser humano com a natureza. Há, no
pensamento de Diegues, uma grande resistência das instituições
governamentais em começar a avaliar seus próprios modelos de conservação
do mundo natural apesar dos inúmeros estudos já realizados.
A conservação da natureza, de acordo com Foladori (2001) em seus
estudos sobre o desenvolvimento sustentável, está diretamente ligada ao “nível
de diferenciação interna da sociedade humana e o comportamento em relação
à natureza” (p.113). Foladori comenta que o conservacionismo surge como
uma “crítica a partir da natureza e contra a sociedade industrial”. O autor
acredita que o modelo capitalista de sociedade, ou mais especificamente as
classes sociais , “condicionam e explicam o comportamento em relação à
Natureza”.
A defesa do meio ambiente ou a salvação da natureza se tornaram
comum, de acordo com o pensamento de Giddens (1996). O ambientalismo,
uma das correntes que visa a conservação ambiental, tem como objetivo
controlar os danos que os humanos causaram à Natureza, e não a
recuperação da natureza. O meio ambiente é visto aqui como um agrupamento
de recursos e os homens precisam cuidar para garantir seu próprio futuro.
Para Giddens (1996), a conservação da natureza, não importando a
forma como é interpretada, tem laços evidentes com o conservadorismo
enquanto proteção de uma herança do passado. Sendo assim, não podemos
confundir a proteção da natureza com a proteção da tradição, ou seja, como diz
Giddens, “não deveríamos supor que estamos defendendo a natureza quando,
na verdade, estamos protegendo um cenário social ou um modo de vida
específicos” (p.240). Em contraponto, essas duas coisas estão interligadas de
uma forma que sentimos dificuldade de pensar nelas separadamente. Como é
50
FIGURA 1
Mapa Político do Estado do Paraná e Localização do Município de Matinhos
TABELA 5
População, superfície e densidade populacional - municípios do litoral
paranaense, 2000.
De acordo com a tabela 5, percebe-se que Matinhos teve uma taxa média
de crescimento anual muito alta (5,31% a.a.), que chegou a triplicar em três
décadas. Se comparado com o desempenho dos demais municípios do litoral,
a evolução de Matinhos evidencia uma situação muito diferente, especialmente
se comparada as cidades praianas do litoral sul, onde o crescimento tem sido
reduzido se comparados a Matinhos. Percebe-se que Matinhos teve a maior
taxa de crescimento anual se comparado as outras regiões do litoral
paranaense.
TABELA 6
População e taxas anuais de crescimento, por situação de domicílio -
Municípios do litoral paranaense, 1970 a 2000.
TABELA 7
População ocupada segundo as atividades econômicas- Matinhos/PR – 2000
FIGURA 2
Canoas utilizadas pelos pescadores de Matinhos
23
Capacidade de armazenamento de um navio.
24
Essa carreta (figura 3), segundo os pescadores, foi “inventada” por eles mesmos, e facilita muito tanto o
trabalho de retirada da canoa do mar quanto o de colocação.
58
FIGURA 3
Carretinha para puxar a canoa do mar
25
Gehlen (1998) referindo-se aos caboclos da região sul do Brasil, comenta que os caboclos viviam da
caça, pesca, de coletas e do extrativismo (erva-mate e madeira). Sua atividade mais tradicional, porém,
era a agricultura de subsistência.
61
pesqueira essa época não era propícia, uma vez que o pescador ficava
impossibilitado de sair ao mar para realizar a atividade, visto que, além dos
riscos causados pelas tempestades, não era fácil encontrar o pescado. Já em
períodos onde os cardumes de peixe estavam próximos a costa ou procriando,
o pescador-lavrador detinha sua produção à atividade pesqueira.
Nesta época (déc.70), segundo Bigarella (1991), a pesca ainda era
abundante, e os catarinenses introduziram o motor de dois tempos,
substituindo o sistema de vela ou remo e a rede de náilon, o que facilitava a
atividade ainda mais. Mas a rede de náilon, quando surgiu, “... era feita a mão,
era um dinheirão. Depois inventaram a rede feita na máquina, não era tão
perfeita mas já tava em andamento um processo de pesca mais avançado.
Essa rede era chamada de rede monofilamento” (P1).
A pesca era realizada, então, utilizando-se redes, o que dependia (e
depende até hoje) de um trabalho coletivo, o que exige um esforço físico
significativo. Nessa época as redes eram confeccionadas em fibras naturais
feitas de casca desfiada de embaúva (uma árvore), passando depois de alguns
anos para o feitio com cordel, algodão ou barbante. Hoje, em Matinhos,
utilizam-se somente redes de fios de náilon seda. As redes utilizadas
antigamente exigiam do pescador um trabalho muito maior para conservação,
uma vez que precisavam, de tempo em tempo, serem “tingidas”, ou seja, eram
mergulhadas em um extrato resultante da fervura de casca de aroeira, o que as
protegia da água do mar. Segundo um dos pescadores entrevistados,
FIGURA 4
Rede de nylon utilizada pelos pescadores
TABELA 8
Estimativa do tempo de decomposição de materiais no solo
26
Segundo o Instituto Aqualung, baleias e golfinhos já foram encontrados com o estômago cheio de lixo
que veio das cidades. A ponta de cigarro, o item mais coletado no mundo todo por oito anos consecutivos,
tem ocasionado a morte de inúmeros animais que a confundem com ovas de peixe e a engolem. O mesmo
ocorre com os sacos plásticos.
63
3.2.1 Os pescadores
27
Será utilizado no decorrer deste trabalho o conceito de grupo, em vez de comunidade, uma vez que eles
não residem no mesmo local.
28
De acordo com a definição de Diegues (1983).
64
TABELA 9
Local de residência dos pescadores de Matinhos/PR - 2005
TABELA 10
Tipo de moradia dos pescadores de Matinhos/PR - 2005
TABELA 11
Renda mensal média dos pescadores de Matinhos/PR – 2005
TABELA 12
Profissões que exercem além da pesca (pescadores de Matinhos/PR – 2005)
TABELA 13
Grau de instrução dos pescadores de Matinhos/PR - 2005
TABELA 14
Por que são pescadores (Matinhos/PR – 2005)
FIGURA 5
Mercado Municipal de Pescados
29
Cada colônia de pescadores tem uma área de abrangência, quase sempre correspondente à área de um
município e é normalmente designada pela letra Z seguida de um número ordinal em função de sua
fundação dentro de cada Estado da Federação. (Horochovski, 2007)
72
FIGURA 6
Sede da Colônia de Pescadores Z-4
Esta colônia, assim como as demais, tem por objetivo maior auxiliar e
dar base para os pescadores terem uma melhor qualidade de vida. O principal
objetivo formal da Colônia é a “representação e a defesa dos direitos e
interesses dos seus associados”, conforme o Art. 1º do estatuto. É regida por
um estatuto, implantado no ano de 2005. Segundo Horochovski (2007, p.146),
FIGURA 7
Instalações da Emater de Matinhos-PR
Para o pescador, a realidade por excelência é aquela partilhada com seus pares e
o seu meio ambiente. O tipo de conhecimento que se produz entre eles pode ser
confirmado na experiência, organizando-se como um saber bastante
sistematizado. Daí a sua tendência (...) a confiar mais na experiência do que nos
instrumentos, mesmo quando há uma mixagem de experiência e tecnologia (Bonin,
1984, p.105)
77
pescador, mas meu irmão já sabia pescar, quando meu pai morreu
meu tio se sentiu na necessidade de vir pra cá acompanhar meu
irmão. Dali pra frente eu vim aqui, com 8 anos 9 anos eu me obriguei
a aprender a pescar, limpar peixe. Meu tio e meu irmão fazia e eu
ficava só vendo, me metendo, até levava uns cascudo às vezes. Mas
tarde aprendi a arrumar canoa, depois arrumar o motor, umas coisa.
Meu irmão era muito bom mas não sabia nada desse tipo de coisa,
ele era amarrado. Eu me obriguei a aprender, aí eu fui mexendo
daqui, mexendo de lá, tive que aprender. (pescador P2-60 anos)
Aprendi com meu pai, meus tios, me ensinaram. Tudo que eu sei
hoje foi através deles, do meu pai bastante, depois através do tempo
a gente vai aprendendo também. Eu tinha uns 11, 12 anos mais ou
menos. Eu comecei a ajudar. A gente vai aprendendo né, com o
tempo, vai tendo mais experiência, vai pegando o jeito. Fui vendo
meu pai, meu tio. Meu pai parou de pescar, aí meu tio foi levando a
gente junto pro mar. E depois a gente foi também, depois com o
tempo foi levando os irmão mais novo, aí a gente foi fazendo a
mesma coisa que eles fizeram com a gente, com os nossos irmão
mais novo. Eu pesquei com os meus outros irmão também e assim
foi passando, vendo, aprendendo. Os mais velhos foram saindo,
meu pai, meus tio, e a gente foi entrando. (pescador P5-32 anos)
Aprendi a pescar com o meu pai. Meu pai era pescador de Santa
Catarina, depois ele veio pra cá. Aí quando eu ia fazer 8 anos de
idade eu já comecei a ir com ele. Depois eu comecei a ir com o meu
tio, com os outros companheiros do meu pai. Com 11 anos eu
comprei uma canoazinha pequena pra mim e ali eu parei de estudar,
foi uma coisa fácil pra mim mais que eu fiz errado de parar de
estudar. (pescador P1-63 anos)
30
Ver capítulo 2 do presente trabalho.
80
Outro fator que deve ser analisado, uma vez que apareceu
freqüentemente na fala dos entrevistados, é a importância das relações
familiares na atividade pesqueira. A família representa a primeira inserção na
pesca. As relações familiares se estendem para desenvolver o gosto da criança
81
pela pescaria, fazendo com que, nas horas de folga da escola formal, na qual
praticamente todas as crianças estão inseridas, estas aprendam outras
relações e lições, só que na escola da vida. A escolarização, como visto
anteriormente, não é imprescindível para a iniciação na pescaria, já que boa
parte dos pescadores entrevistados não terminaram nem sequer o ensino
fundamental, mas o que acreditam é que a criança deve ter oportunidade de
estudar para poder optar em ser pescador ou não. Embora acreditem que os
estudos são importantes, como vimos, a maioria abandona a escola logo nos
primeiros anos. Segundo eles, “o estudo é importante, mas temos que escolher
em se dedicar a pesca ou estudar. E estudar não dá dinheiro...pelo menos não
agora. Mas a gente precisa sobreviver e ajudar a família, né?” (pescador P8 –
29 anos). Apesar de começarem a transmitir seus conhecimentos tradicionais
para as crianças desde bem pequenas, acreditam que é somente na prática
que eles se configuram em um saber válido.
Refletindo sobre as mudanças ocorridas ao longo dos anos na pesca
artesanal, um dos pescadores entrevistados observa que a vida mudou muito
dos tempos em que ele iniciou na pesca dos tempos atuais. Para ele, os jovens
e as crianças “...nem se interessam mais pela pesca, são tudo preguiçoso, e
aqui tem mais opção de trabalho, diferente daquela época que era pescar ou
plantar, então não querem ficar suando com a mão cheia de calo e passando
frio, são bobo né!” (pescador P2-60 anos). Para outro pescador, com uma
idade mais elevada assim como o pescador P2,
...o jovem não quer fazer, quer ficar na moleza. E você pode ver que
jovem nenhum dorme antes das onze da noite, e o certo é ir
ensinando o filho desde cedo a trabalhar, se não vai ficar a vida toda
aí na batalha. Eles não querem ficar no frio, no sol, fazendo força.
Porque é uma profissão difícil filha, sofrida e bem perigosa. Mas vale
a pena! (pescador P1-63 anos)
...o cara é dono, ele que manda. O mestre é o que fica na proa, o
encarregado, é o manda-chuva. Hoje o cara trabalha em tudo, na
83
FIGURA 8
Ultima casa de pescador na areia
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Espécie de peixe com o maior valor econômico para os pescadores.
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vende. Quando eu era guri a gente não tinha nada em casa, nós não
tinha televisão, não tinha água, não tinha roupa. Naquela época isso
aqui era um lugar muito pobre, de roupa, comida, remédio. Tudo era
difícil, até ficar doente, o cara morria de dor, porque não tinha
recurso. Hoje tem recurso, só que todo mundo era honesto, se
ajudava, era uma família grandona, todo mundo morava aqui na
areia, pertinho um do outro.
Para esse mestre, a vida dos jovens de hoje é muito mais fácil do que no
tempo em que ele estava iniciando na pesca. Afirma que no tempo em que
iniciou se ouvia muito mais o que os mais velhos tinham a dizer, o respeito era
maior, e, segundo ele, esse fator influência diretamente a pesca, já que não se
ouve o que os mais experientes têm a ensinar, o que pode prejudicar quando
eles saem para pescar. “...o pescador é teimoso. Mesmo quando você tem
mais experiência, conhecimento que teu companheiro, você fala, aconselha,
mas ele não ouve, tem que aprender quebrando a cara mesmo, depois volta
com as orelhas baixa.”
Outro pescador considerado pelos demais como um mestre, chamado
aqui de pescador P1 (63 anos), iniciou na pesca aproximadamente no ano de
1952. Não mora mais na beira da praia, mas não passa um dia sequer,
segundo ele, sem vir até o Mercado, seja para trabalhar ou, quando o dia não
está apropriado, para conversar.
FIGURA 9
Pescadores saindo ao mar para pescaria
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confusão. O cara fala que você tem que ir prá um lado, e você vai
pro outro, aí já viu... encrenca na certa. O negócio é se dar bem e
fazer um acordo bem certo antes de sair. (pescador P4-26 anos)
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A figura do atravessador já foi descrita no capítulo 1 do presente trabalho.
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Pra vender tem vários jeitos, tem uns que guardam, tem uns que
chega aqui e vende ali no mercado fiado né, às vezes recebe mais
de pingo em pingo, 10, 20, 30. Tem bastante atravessador também,
tipo, eles chegam com 1000 quilo de peixe, o cara compra, pega
aqui e já vende ali pro outro cidadão a cinqüenta, um real por quilo
né, 1000 quilos o cara já ganha o dia dele né. Ele só faz isso, só
vende.(pescador P7-35 anos)
... tem muito atravessador, eles não são pescador, só vendem, mas
não tem dinheiro. Agora se entregasse pra uma empresa que ele
sabe que daqui a 15 dias vai receber, mas aqui não tem. Agora aqui
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diferentemente dos pescadores, que vêm essa relação como prejudicial (como
já visto nos depoimentos). Mas, o que pode notar-se é que, apesar de
encararem essa relação assim, não fazem nada para mudar a situação.
Em época de veraneio ou até mesmo feriados, os pescadores comentam
que é o período onde eles podem tirar realmente um melhor rendimento da
venda, não só por aumentar a demanda de pescados, mas por terem a
oportunidade de negociar direto com o consumidor. Somente repassam o
pescado ao atravessador quando a quantidade coletada é muito maior do que
a capacidade de armazenamento.
As relações entre pescadores e comerciantes são ao mesmo tempo
conflituosas, mas também amistosas. Notou-se que o pescador percebe com
clareza a exploração a que está submetido no “câmbio” (intermediação) que o
comerciante faz entre seu produto e o mercado, entretanto depende muitas
vezes do atravessador para a comercialização do seu produto, principalmente,
como comentado acima, em períodos de grande demanda de pescado.
Essa relação se traduz, algumas vezes, em uma relação de fidelidade,
pois assim como o atravessador conta com a produção, o pescador pode
contar com a cooperação deste nos períodos mais difíceis, onde a demanda
está escassa.Assim, ao mesmo tempo em que essa relação entre pescador e
atravessador os incomoda, acaba por vezes deixando-os aliviados, como relata
o pescador:
Eles não fazem nada mesmo, nada não, mas eles não penam no sol
que nem nós, o dia todo puxando rede, fazendo força. Mas até que
na hora que a gente chega e já vê eles fica feliz, já que não
precisamo nos preocupar em vender o peixe e o camarão né. Sei
que se eu vendesse, estocasse, ia ganhar mais, podia até ficar bem
na vida, mas é muita coisa prá uma pessoa só... (pescador P8-29
anos)
FIGURA 11
Locais onde confraternizam, guardam seus instrumentos de trabalho e suas
canoas
namorar, assistir uma partida de futebol juntos e até mesmo jogarem na prática
a famosa “pelada na areia”, não só no tempo livre como também quando as
condições do mar não estão propícias para a saída para a pescaria. Encaram
esse espaço como necessário para suas sobrevivências como pescadores,
apesar de não mais residirem no local, já que a maioria deles precisou sair das
suas casas que eram na areia da praia por questões de segurança. Segundo
dados da EMATER, realmente o local onde eram concentradas as residências
dos pescadores estava comprometida, devido ao avanço do mar e as ressacas
constantes no local; esse é o principal motivo do deslocamento dos pescadores
para outras regiões do município.
A natureza é a nossa vida, a gente vive dela e pra ela, já que todo
dia a gente tem contato com o mar, a areia, o céu... (pescador P7-35
anos)
A natureza prá mim? Fica complicado definir assim, sei lá, ela é tão
junta de nós que nem sei explicar... é tudo isso aí que você tá vendo,
até a areia que tamo pisando, o céu que tamo vendo, esse mar
enorme, esses peixes que tão nele... se não fosse ela, nem sei o
que seria de nós... já pensou se não existisse o mar? (pescador P4-
26 anos)
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jogar uma pedra lá pra acabar com a puxa de água, o que a gente
acha. (pescador P5-32 anos)
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Ver tabela 8 – decomposição de materiais.
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comercializar.
Você vê, não tem nada que estrague o meio ambiente aqui, a gente
pesca pouco, já a pesca industrial é diferente, eles trocam óleo aí
pra fora às vezes a gente encontra galão daqueles preto assim cheio
de óleo, óleo queimado que eles tiram do motor e jogam em alto
mar. Imagino se um galão desses estoura, quantos quilômetros de
óleo vai ficar espalhado no mar. Eles prejudicam a gente, o peixe
que a gente mata é de um quilo pra cima, eles não, já começam a
matar desde o filhotinho até o adulto. Aí os pequenos eles matam e
jogam fora, não aproveitam nada que a gente podia vender, comer.
Acho que isso que é destruir o meio ambiente né. (pescador P8-29
anos)
Eu conservo sim, tipo, a maioria da gente não faz nada que destrua
o meio ambiente, pesca pouco, não suja, não acabamo com os
peixes, se todo mundo pescasse que nem a gente não seria assim
com é, destruindo tudo. (pescador P7-35 anos)
Claro que hoje o peixe tá mais escasso, então fica pior de sabe onde
ele tá. Primeiro quando vinha tainha, às vezes não tinha nada, daí
vinha um cardume bem grande e ficava pra lá de Praia de Leste,
ficava uns 3, 4, 5, 6 dias parado ali, ali ninguém mexia nele, nem
tinha rede boa pra jogar, mas dava pra ver. Cação vinha aqui no
seco, camarão pistola, um monte. Hoje não tem nada. Como diz a
turma: nos fomo na granja pega tudo as galinha e comemo tudo. A
moral da história é essa mesmo. Eu em 40 anos não criei nenhum,
só matei né. (pescador P2-60 anos)
O que acaba com o peixe é a exploração. Por quê? Porque tudo que
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Esse ano não teve defeso, a gente trabalha no defeso. Pra nós é
bom, a gente dá uma fugidinha de vez em quando, aí os barcos
grandes não e sobra mais pra gente. Se eles pagassem o salário
certinho nessa época aí sim a gente não ia, mas eles não pagam,
atrasam e como que a gente vai pagar as contas, comer. Às vezes
fecha a caçada no dia primeiro de março e você vai receber só em
junho, julho. E a água, a luz, ninguém come, ninguém bebe, isso é
um problema aqui pra nós. Se eles pegarem multa, prendem a
embarcação e fica preso na polícia federal. Perde rede e tem que
pagar uma multa de seis mil reais ainda. E a canoa fica presa uns 3,
4 dias. (pescador P2-60 anos)
REFLEXÕES FINAIS
Para que possamos ter uma visão mais abrangente do presente trabalho
e subsidiar algumas considerações, faremos agora uma síntese dos principais
aspectos abordados no texto. No primeiro capítulo abordamos o tema da pesca
e sua organização para retratarmos como se configura a pesca artesanal no
Brasil e mais especificamente na história do litoral paranaense. Percebemos
que os pescadores de que trata essa pesquisa se enquadram nos moldes da
pequena produção mercantil (Diegues, 1983), uma vez que possuem práticas
de manejo e modos de vida que estão de acordo com os ritmos da natureza,
além de possuírem um baixo impacto sobre o meio ambiente quando
comparados a pesca industrial.
Analisando a questão da atividade pesqueira, a opinião de Diegues
(1995) é importante para entendermos que os pescadores artesanais possuem
percepções e representações em relação ao mundo natural marcadas pela
idéia de associação com a natureza e dependência de seus ciclos, se
associando a modos de produção pré-capitalistas, próprios de sociedades em
que o trabalho ainda não se tornou mercadoria, onde há uma grande
dependência dos recursos naturais e dos ciclos da natureza, em que a
dependência do mercado já existe, mas não é total. Segundo Bonin (1984), o
que diferencia o pescador artesanal do agricultor, por exemplo, é a questão do
processo produtivo “terra” e “mar”, ou seja, o objeto de trabalho de um e de
outro, já que o dos agricultores se configura em torno de um bem, a terra
privada – portanto mercadoria -, e o dos pescadores é um bem comum.
Segundo a autora, é a mediação do mar que vai dar conteúdos específicos ao
processo de trabalho na pesca, uma vez que esse representa a relação prática
entre o homem e a natureza como determinado pela fase específica do
desenvolvimento das forças produtivas.
É essa mediação do mar que dá especificidade ao trabalho do pescador
artesanal. É a partir daí que se manifesta a identidade social e a representação
que o pescador faz do seu objeto de trabalho – o mar – e de si mesmo. Assim
sendo, como pudemos observar na pesquisa de campo, a relação dos
pescadores com o mar se torna muito forte e conseqüentemente, muito
importante em seus cotidianos.
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34
Canoas de fibra de vidro, motor nos barcos, redes de náilon, etc.
35
Jogar óleo do motor dos barcos na areia, por exemplo.
114
36
Grifo meu.
37
Ver capítulo 1, item 1.1 do presente trabalho.
115
38
Ver capítulo 2, item 2.2 do presente trabalho.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Atlântica, 2003.
ANEXOS
ANEXO I
Roteiro para entrevista aos pescadores artesanais de Matinhos-PR
ANEXO II
QUESTIONÁRIO DA FUNDACENTRO
IDENTIFICAÇÃO
VIDA PROFISSIONAL
14. Associado:
( ) Sim
( ) Não
Caso positivo: ( ) Associação ( ) Sindicato ( ) Colônia ( ) Outros
( ) 6 -8 horas
( ) Mais de 8 horas
( ) Ruins
28. Que fatores importantes, na sua opinião, poderiam melhorar as suas condições de
trabalho?___________________
29. Em seu ambiente de trabalho existe algo que prejudique a sua saúde
( ) Sim, o que?_____________________
( ) Não
31. Indique com que freqüência você apresenta os sintomas descritos abaixo? Coloque o
número correspondente obedecendo aos seguintes critérios:
35. Você tem informações sobre os seus direitos e deveres previdenciário e/ou trabalhistas?
( ) Sim ( ) Não
127
42. Comentários:_________________________________________