Conto de Escola - Machado de Assis

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Conto de Escola Machado de Assis Conto de Escola um conto de formao da personalidade do personagem Pilar, onde atravs da aprendizagem, acontece

ce a quebra da inocncia. Esse conto apresenta muitas tenses, as quais so muito importantes para a formao de Pilar. A dvida est presente em todos os momentos, Pilar um personagem que vive em completa hesitao, j no primeiro pargrafo do conto, podemos observar a 1 tenso, onde ele comea a narrativa situando o leitor no tempo e no espao, e j apresentando a sua primeira hesitao: Hesitava entre o morro de S. Diogo e o campo de SantAna.... Morro ou Campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. Nesse pargrafo, j podemos observar as contradies e dvidas presentes no personagem, onde tambm os elementos Morro e Campo so muito significativos para o conto e para expressar os sentimentos do personagem Pilar, porque o Morro representando um lugar de emoes altas e o Campo de emoes baixas, mas o personagem acaba ficando no meio termo e decide ir pra escola, que tambm outro elemento que traz um grande significado para o conto, pois a escola onde se aprende os sentimentos elevados e sentimentos baixos. Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso ardia por andar l fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios,.... Pode-se perceber aqui mais uma vez a dvida e o desejo de estar livre, assim como os meninos vadios, mas como ele vive da aparncia e no a essncia, ele no consegue fazer isso, vivendo em constante hesitao pela preocupao em manter as aparncias. J os meninos que ele cita, j viviam na essncia, como se percebe claramente atravs da sua descrio, ... a fina flor do bairro e do gnero humano. Durante esse pargrafo inteiro temos presente a tenso liberdade x aprisionamento, demonstrada pelas idias contraditrias do personagem. Para cmulo do desespero, vi atravs das vidraas da escola, no claro azul do cu, por cima do morro do Livramento (smbolo da liberdade), um papagaio de papel (outro smbolo de liberdade)...; E eu na escola sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e gramtica nos joelhos (idias contraditrias liberdade e priso). Nesse pargrafo tambm temos presente a tenso conscincia e desejo, a conscincia faz com que ele v para a escola, e mesmo estando arrependido ele est l, mas tem o desejo de estar livre, uma luta entre conscincia (aparncia) e desejo (essncia). A tenso honestidade e corrupo comea a ser apresentada, quando Raimundo quer pedir algo Pilar. Curvelo comea a observ-los, como podemos observar: Olhei para ele; estava mais plido. ... lembrou-me que queria pedir-me alguma cousa...; Ele deitou os olhos ao pai, e depois a alguns outros meninos. Um destes, o Curvelo, olhava para ele, desconfiado.... Uma caracterstica presente em o Conto de Escola a construo atravs do olhar. ... mostrou-me de longe...; ... mas era uma moeda e tal moeda que fez pular o sangue no corao. Raimundo revolveu em mim o olhar plido; depois me perguntou se a queria para mim. Nesses fragmentos podemos observar que o processo de corrupo j foi despertado, e o desejo pela moeda tambm. Em seguida props-me um negcio, uma troca de servios, ele me daria moeda, eu lhe explicaria um ponto da lio de sintaxe. E concluiu a proposta esfregando a pratinha nos joelhos... (corrupo x desejo).

Comea assim a primeira lio para Pilar, a aprendizagem pela corrupo, ele se vende por dinheiro, cai em tentao, passando ento por um processo de crescimento, como se pode observar no seguinte fragmento: Tive uma sensao esquisita. No que eu possusse da virtude uma idia antes prpria de homem; no tambm que no fosse fcil em empregar uma ou outra mentira de criana. Sabamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lio e dinheiro... Acontece nesse pargrafo tambm, o processo de enganao por dinheiro. Mas Pilar tenta dar uma explicao para sua corrupo: Compreende-se que o ponto da lio era difcil, e que Raimundo, no tendo aprendido recorria a um meio que lhe pareceu til para escapar ao castigo do pai. Se me tem pedido a cousa por favor, alcan-la-ia do mesmo modo, como de outras vezes...; ... o medo de achar a minha vontade frouxa ou cansada e no aprender o que queria...; ... parece que tal foi a causa da proposta. O pobre diabo (Pilar usa essa expresso para se referir a Raimundo, por este estar corrompendo-se) contava com o favor, - mas queria assegurar-lhe a eficcia...; ... pegou dela e veio esfreg-la, minha vista, como uma tentao.... Realmente era bonita, fina, branca, muito branca; e para mim, que s trazia cobre no bolso, quando trazia alguma cousa, um cobre feio, grosso, azinhavrado... Ele faz aqui um balano do conto, e tenta provar sua honestidade. No queria receb-la, e custava-me recus-la, (idias contrrias novamente). Em verdade, se o mestre no visse nada, que mal havia? Nesse trecho Pilar faz jus ao ditado o que os olhos, no v, o corao no sente. De repente, olhei para Curvelo e estremeci; tinha os olhos em ns, com um riso que me pareceu mau. Aqui fica clara a maldade e inveja de Curvelo, levando o personagem Pilar a um tempo psicolgico, onde as horas parecem se arrastar e ele comea a devanear; ... no cu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele.... Seu devaneio interrompido pelo grito do mestre chamando-o, comeando aqui uma tempestade para Pilar e Raimundo. Fui e parei diante dele. ... enterrou-me pela conscincia dentro de um par de olhos pontudos.... Toda a escola tinha parado.... Curvelo o delator de Pilar e Raimundo, faz com que a mscara da aparncia caia, tendo sua essncia invadida, o pilar to slido desmorona. No seguinte pargrafo temos mais uma vez a tenso inveja, atravs de Curvelo, que comete a delao, pelo fato de estar tomado pela inveja, mas arrependendo-se depois por ver o castigo que o mestre aplica a Raimundo e Pilar: ... pode ser at que se arrependese de nos ter denunciado; e na verdade, porque denunciar-nos? Em que que lhe tirvamos alguma coisa? Bem demonstrado aqui, que a inveja muitas vezes domina o ser humano, levando-os a cometer atos movidos pelo simples desejo de prejudicar, sem que tenha lucro algum. O Conto de Escola, de Machado de Assis, apresenta uma linguagem simples, frases curtas, mas de grande impacto, apresenta antteses (idias diferentes), paradoxos (idias contrrias em equilbrio) que fazem com que o conto pulse. Mostrando bem como Machado de Assis, procurava entender a alma humana, e como as relaes humanas interferem na essncia e na aparncia. Em o Conto de Escola, o personagem tem sua lio de vida, atravs da corrupo e da delao, recebendo seu castigo e levando-o a reflexo e ao arrependimento, mas

deixando bem claro que cada um tem seu preo, que o ser humano sempre acaba se vendendo. Como num trecho de uma msica do grupo IRA!, que fala sobre esse comportamento do ser humano: ...para ser humano basta ser humano, para ser humano de se corromper, pois sempre a um preo baixo que voc vai se vender.... Ao final desse conto, analisando de maneira otimista, todo o processo pelo qual Pilar passa percebemos que at mesmo as crianas so capazes de se corromper, mas dentro de sua pureza e inocncia, acabam seguindo a conscincia e deixando as coisas materiais de lado, por isso Pilar ao final do conto acaba preferindo seguir o som do tambor (que representa sua conscincia) e indo brincar, desistindo de procurar a pratinha e de se vingar de seu delator Curvelo. Adquirindo a conscincia de que foram Raimundo e Curvelo que lhe deram sua primeira lio de vida, um o da corrupo e o outro o da delao. E uma outra maneira de interpretar tambm o ato da corrupo no conto, que Raimundo s fez a proposta a Pilar, por medo de ser castigado pelo pai, ento recorre pratinha num ato de desespero para fugir ao castigo, no porque realmente quisesse corromper Pilar. O Conto de Escola, pode levar-nos a muitas interpretaes diferentes, mostrando assim como Machado trabalhava suas histrias, de maneira to profunda, que fica impossvel uma interpretao nica para suas obras, revelando sempre um senso profundo da complexidade do homem e das contradies da alma. Os elementos simblicos vo compondo o conto e fazendo com que atravs deles possamos interpretar o conto de vrias formas. Todos os elementos simblicos so muito importantes, e eram pensados por Machado de Assis, de maneira que oferecessem uma leitura plurissignificativa, pois atravs da anlise desses smbolos o conto pode ter vrias interpretaes. Comeando pelo ttulo, temos o Conto de Escola, conto enquanto gnero literrio e conto no sentido de enganao, conto do vigrio. O nome do personagem principal Pilar, porque representa algo slido, forte, inabalvel, que ainda no foi corrompido. O nome do mestre Policarpo, (Poli vrios carpo frutos), homem de vrios frutos. O papagaio para Pilar o smbolo da liberdade, expressa o desejo de estar livre, porque o papagaio voa livre pelo cu, enquanto ele est preso dentro da sala de aula na escola, de onde ele v a liberdade pela janela, essa representando as grades de uma priso, de onde ele v a liberdade, mas no est livre, porque as paredes e a janela so uma barreira, impedindo-o de estar livre, como podemos observar no seguinte fragmento: ... vi atravs das vidraas da escola, no claro azul do cu..., ... um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma cousa soberba. A palmatria, ao mesmo tempo que representa a opresso, um instrumento usado para castigar, acaba representando tambm a liberdade pois estava pendurada perto da janela (smbolo por onde Pilar v a liberdade), como podemos observar: O pior que ele podia ter, para ns, era a palmatria. ... pendurada do portal da janela, direita, com os seus cinco olhos do diabo. A pratinha simboliza o desejo, a ganncia, a tentao o que leva o personagem Pilar corrupo. Para Pilar a pratinha muito importante, pois ele nunca teve uma, o desejo de t-la leva-o a aceitar a troca de servios entre ele e Raimundo. ... era bonita, fina, branca, muito branca...; E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante....

O relgio representa a tortura para Pilar, pois as horas parecem se arrastar, levando o personagem a um tempo psicolgico. No preciso dizer que tambm eu ficara em brasas, ansioso que a aula acabasse; mas nem o relgio andava como das outras vezes.... Ao final do conto, o batalho de fuzileiros acaba simbolizando o restabelecimento da ordem, pois o texto comea com a ordem, passa para a desordem e ao final a ordem restabelecida. Na rua encontrei uma companhia do batalho (ordem) de fuzileiros, tambor (conscincia) frente, rufando. No podia ouvir isto quieto. Eu senti uma comicho nos ps, e tive mpeto de ir atrs deles. J lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor (conscincia).... E Pilar que havia sado de casa para procurar a pratinha que o mestre havia jogado na rua da escola, acaba desistindo e segue o batalho, ao rufar do tambor, ao final da tarde volta para casa todo sujo, sem a pratinha no bolso, e sem ressentimento na alma. No fui escola, acompanhei os fuzileiros, e depois enfiei pela Sade, e acabei a manh na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calas enxovalhadas, sem a pratinha no bolso nem ressentimento na alma. Vitor Fernandes / Cassia Fernanda Mendes

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