A Sustentabilidade Do Aço e Das Estruturas Metálicas

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A SUSTENTABILIDADE DO AÇO E DAS ESTRUTURAS

METÁLICAS
Helena Maria Gervásio

RESUMO

O Desenvolvimento Sustentável é uma questão essencial hoje em dia com


implicações em todos os sectores da nossa sociedade. A indústria da construção
desempenha um papel fundamental nos objectivos do Desenvolvimento
Sustentável, não só pela sua contribuição para a economia global como também
pelos seus impactos significativos tanto em termos ambientais como em termos
sociais.
O aço é normalmente identificado como um material “amigo do ambiente”
devido essencialmente ao seu potencial de reciclagem. No entanto, não são só os
benefícios ambientais do aço que contribuem para os objectivos da construção
sustentável. As estruturas metálicas apresentam características naturais que se
coadunam com os requisitos da construção sustentável e que tornam este tipo de
construção imbatível na realização dos mesmos.
Este trabalho é constituído por duas partes. Na 1ª parte a sustentabilidade do
aço e das estruturas metálicas é analisada e discutida. Na segunda parte são
apresentados dois casos práticos relativos à avaliação da sustentabilidade de
estruturas metálicas.

1. INTRODUÇÃO

Actualmente nos países industrializados os recursos naturais disponíveis são


consumidos a uma escala insustentável, particularmente no que diz respeito ao
recurso a combustíveis fósseis não renováveis. Na União Europeia (UE) metade de
todas as matérias-primas retiradas da superfície da terra são utilizadas na
construção e mais de ¼ de todos os resíduos sólidos produzidos são provenientes
da construção civil (Maydl, 2004).
A Construção Sustentável foi definida pela primeira vez em 1994 por Charles
Kibert, durante a Conferência Internacional sobre Construção Sustentável que teve
lugar em Tampa, como “a criação e o planeamento responsável de um ambiente
construído saudável com base na optimização dos recursos naturais disponíveis e
em princípios ecológicos”. Habitualmente a Sustentabilidade da Construção é
definida em três dimensões: ecológica, económica e sócio-cultural. Uma
metodologia para a avaliação da sustentabilidade de um sistema construtivo deve
portanto considerar as três dimensões referidas (ver Fig. 1). A Construção
Sustentável implica a adopção dos princípios do Desenvolvimento Sustentável ao
ciclo global da construção, desde a extracção de matérias-primas até à sua
demolição e destino final dos resíduos resultantes – análise do berço à cova – e é
um processo holístico que visa estabelecer um equilíbrio entre o ambiente natural e
o ambiente construído.

Figura 1 – As dimensões da sustentabilidade

A indústria da construção, sendo um dos principais responsáveis pela


escassez dos recursos naturais e pela produção de resíduos, desempenha um
papel fundamental no Desenvolvimento Sustentável global. Desta forma, para ser
considerada uma indústria sustentável, tem pela frente um grande desafio, talvez
maior do que em qualquer outro sector industrial.
A nível da União Europeia, a Comissão Europeia tem desenvolvido grandes
esforços no sentido de desenvolver e promover estratégias para minimizar os
impactos ambientais provocados pela actividade da indústria da construção e pelo
ambiente construído, e simultaneamente melhorar as condições para a
competitividade da indústria da construção. No contexto da Comunicação da
Comissão Europeia sobre a competitividade da indústria da construção
(COM(97)539, 1997), os principais aspectos da sustentabilidade que afectam a
indústria da construção foram identificados como sendo os seguintes:
i) Materiais de construção amigos do ambiente - Aproximadamente 50%
de todos os materiais extraídos da crosta terrestre são transformados
em materiais e produtos para a construção;
ii) Eficiência energética em edifícios – A construção, operação e
consequente demolição de edifícios contabiliza aproximadamente 40%
de toda a produção de energia e contribui para uma percentagem
semelhante de emissões de gases com efeito de estufa;
iii) Gestão de desperdícios da construção e/ou demolição – Os
desperdícios da construção e demolição constituem a maior fonte de
resíduos sólidos por peso da União Europeia.
A necessidade de promover práticas e técnicas eco-eficientes na indústria e
de tornar mais eficiente a utilização e gestão dos recursos e dos resíduos, são
assim requisitos fundamentais do Desenvolvimento Sustentável, e a indústria do aço
desenvolve um papel de extrema importância neste sentido.

2. A SUSTENTABILIDADE DO AÇO

Os reconhecidos benefícios ambientais do aço são normalmente associados


ao seu potencial de reciclagem. No entanto, a percentagem de material reciclado
utilizado na produção de aço depende do respectivo processo de produção. Nas
alíneas seguintes esta questão será abordada, bem como serão analisados e
comparados os diversos impactos produzidos pelos dois processos tradicionais de
produção do aço: a produção em alto-forno (Basic Oxygen Furnace) e a produção
em forno de arco eléctrico (Electric Arc Furnace).

2.1 Produção do Aço


Actualmente o aço é produzido através de dois processos básicos – a partir
de matérias-primas (minério de ferro, calcário e coque) em alto-forno ou a partir de
sucata em forno eléctrico de arco. Cerca de 60% do aço produzido actualmente é
feito pelo primeiro processo, também conhecido por processo integrado. A produção
do aço em alto-forno utiliza entre 25% a 35% de aço reciclado enquanto que na
produção do aço em forno de arco eléctrico essa percentagem é aproximadamente
de 95%. A produção em forno de arco eléctrico é por consequência mais fácil e mais
rápida.

2.2 Impactos Ambientais Provocados pela Produção do Aço


A indústria siderúrgica é uma indústria muito intensiva, tanto em termos de
materiais como de energia. Mais de metade da grande quantidade de materiais e
energia que entra no processo resulta na produção de efluentes gasosos e de
resíduos sólidos/subprodutos. As emissões mais relevantes são as emissões para a
atmosfera, principalmente no que respeita à emissão de CO2 e outros gases com
efeito de estufa.
Facilmente se entende que os processos de produção de aço referidos
anteriormente conduzem a consumos de energia bastante diferenciados.
Considerando, por exemplo, a produção de secções laminadas, enquanto que o
consumo de energia na produção em alto-forno é de aproximadamente 29 GJ por
tonelada de aço, na produção em forno de arco eléctrico esse consumo é de cerca
de 10 GJ (ver Fig. 2) (IISI, 2002).
Em consequência das diferentes percentagens de aço reciclado utilizadas
nos processos de produção de aço, facilmente se poderá constatar que as
correspondentes emissões de carbono e de outras partículas são também
consideravelmente inferiores para o forno de arco eléctrico, tornando este um
processo mais eficiente em termos ambientais. Em cada tonelada de aço reciclado
são poupados 1.25 toneladas de minério de ferro, 630 kg de carvão e 54 kg de
calcário (de Spot, 2002). Além do mais, o processo de reciclagem requer menos
energia, cria menos resíduos e provoca a emissão de menos quantidades de
partículas poluentes do que a produção da mesma quantidade de aço a partir de
matérias-primas.
Fig. 2 – Energia consumida por processo Fig. 3 – Impactos ambientais

De entre as emissões de partículas poluentes destacam-se as emissões de


CO2 e outros gases com efeito de estufa. Neste caso, a produção de 1kg de aço em
forno de arco eléctrico produz cerca de 462 gr de equivalentes de CO2, enquanto
que em alto forno a produção de igual quantidade de aço produz cerca de 2494 gr
de equivalentes de CO2. No gráfico da Figura 3 estão representados alguns dos
principais impactos ambientais provocados pela produção de uma tonelada de aço
de acordo com cada um dos processos descritos anteriormente. Neste gráfico é
possível comparar, em termos percentuais, os impactos ambientais gerados por
cada um dos processos, donde facilmente se verifica o melhor desempenho
ambiental da produção em forno de arco eléctrico.

2.3 Estratégias para a Preservação Ambiental


Com o objectivo de tornar o aço num material mais ecológico e “amigo do
ambiente”, as grandes siderurgias mundiais têm vindo a implementar várias
medidas no sentido da preservação ambiental. Os aspectos de maior preocupação
são a diminuição do consumo de energia e a redução da emissão de gases com
efeito de estufa, nomeadamente de dióxido de carbono.
Nas siderurgias a emissão de dióxido de carbono é o factor mais
preocupante. No entanto, a indústria de produção do aço está determinada em
reduzir a emissão destes gases e em tornar mais eficientes os seus processos de
produção. Com este objectivo têm sido desenvolvidos diversos programas de
investigação em todo o mundo. Nomeadamente o programa europeu ULCOS (Ultra
Low CO2 Steelmaking), que tem como principal objectivo o desenvolvimento de
novas formas de produção de aço com reduzidas emissões de gases com efeito de
estufa. Outras medidas têm sido desenvolvidas, tais como tecnologias com recurso
a percentagens mínimas de carbono (carbon-light) combinadas com a captação e
armazenamento de CO2, e recurso a energias alternativas tais como gás natural,
hidrogénio, biomassa e electricidade.
De qualquer forma, no que diz respeito ao consumo de energia e às
emissões de CO2, são já bem visíveis no gráfico seguinte os resultados alcançados
pela indústria de produção do aço, na União Europeia, entre 1970 e 2000.

120

100

80

60
Energia consumida por ton
de aço produzida
40
Emissões de CO2 por ton de
20 aço produzida

0
1970 1980 1985 1990 1995 2000

Figura 4 – Indústria europeia do aço (fonte: Eurofer, Eurostat)

3. A SUSTENTABILIDADE DAS ESTRUTURAS METÁLICAS

Contudo, não é apenas como material que o aço contribui para os objectivos
da construção sustentável, as estruturas metálicas têm características naturais que
também contribuem para esses mesmos objectivos, tal como será discutido nos
parágrafos seguintes.
A Construção Sustentável visa a minimização do consumo de recursos naturais e a
maximização da sua reutilização, a utilização de recursos renováveis e recicláveis, a
protecção do ambiente natural, a criação de um ambiente saudável e não tóxico e a
procura de qualidade na criação do ambiente construído. De acordo com estes
princípios são definidas as linhas gerais que conduzem a uma construção mais
sustentável:
i) ter uma abordagem integrada de ciclo de vida do projecto considerando os
fundamentos da construção sustentável, desenvolvendo soluções optimizadas
(estética, custo, vida útil, manutenção, consumo de energia...)
ii) ter em consideração as qualidades ambientais dos materiais no projecto e no
produto final;
iii) centrar a concepção funcional sobre a fase de exploração (longa vida útil,
durabilidade das componentes, flexibilidade da funcionalidade do edifício, bem
como na reabilitação e da facilidade de desconstrução das diversas
componentes).
Analisando as várias fases ao longo do ciclo de vida de uma estrutura
metálica facilmente se identificam as vantagens deste tipo de estruturas
relativamente a outros tipos de construções.
De forma geral as estruturas metálicas são estruturas que implicam a pré-
fabricação conduzindo desta forma a um processo de construção mais eficiente, a
uma maior rapidez de construção e à minimização dos riscos e prejuízos da obra e
do estaleiro. Simultaneamente, sendo estruturas relativamente leves, conduzem à
construção de fundações mais reduzidas, permitindo a preservação do solo de
fundação e a redução da movimentação de terras.
Dadas as características do aço, em termos de resistência e ductilidade, as
estruturas metálicas permitem a construção de superfícies com grandes vãos livres,
pilares mais esbeltos e fachadas mais leves. Assim, as estruturas metálicas
permitem uma maior liberdade da imaginação na concepção da obra. Ao mesmo
tempo, a existência de espaços amplos, livres de obstáculos interiores, facilita a
alteração ou extensão da estrutura de forma a adaptar-se a novos requisitos
funcionais ou estilos de vida.
A existência de grandes superfícies envidraçadas, normalmente associadas a
este tipo de construção, permite a realização de fachadas e coberturas mais
transparentes, conduzindo a uma melhor gestão da luz natural e ao favorecimento
da utilização da energia solar.
Na fase final da vida útil das estruturas metálicas, e graças às características
já enumeradas, é possível proceder-se ao desmantelamento de estruturas que já
não são utilizadas e fazer a sua reconstrução em locais onde são necessárias. Além
disso, se o destino final for mesmo a demolição nesse caso poder-se-á proceder à
reciclagem do aço. Note-se que o aço pode ser reciclado inúmeras vezes sem
perder qualquer uma das suas qualidades, contribuindo assim para a minimização
do consumo de recursos naturais e para a maximização da reutilização desses
mesmos recursos.

4. FERRAMENTAS PARA A AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

As características das estruturas metálicas enumeradas nos parágrafos


anteriores são popularmente reconhecidas. No entanto, a dificuldade surge com a
necessidade de se traduzir a análise qualitativa da sustentabilidade de estruturas
metálicas para uma análise quantitativa.
Actualmente existem duas metodologias básicas para a análise da
sustentabilidade do ambiente construído: sistemas de classificação ambiental e
análises ambientais de ciclo de vida.
Os primeiros são sistemas voluntários de avaliação da sustentabilidade,
principalmente aplicáveis a edifícios, e que conduzem, na maior parte das vezes, à
emissão de um certificado ambiental de acordo com os critérios definidos nesse
sistema. Estes sistemas baseiam-se numa série de critérios, qualitativos e
quantitativos, os quais são avaliados e classificados com créditos, e conduzem a um
resultado final que corresponde à soma ponderada dos créditos obtidos. Sistemas
deste tipo estão presentes em diversos países, destacando-se, por exemplo, o
sistema LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), nos Estados
Unidos da América, e no Reino Unido o sistema BREEAM (Building Research
Establishment Environmental Assessment Method).
Por outro lado, uma Análise de Ciclo de Vida (ACV) de um sistema
construtivo consiste na compilação e avaliação de todos os fluxos (entradas e
saídas) e dos potenciais impactes ambientais ao longo do seu ciclo de vida. O termo
“ciclo de vida” refere-se às diversas fases ao longo do ciclo de vida do sistema
construtivo, desde a sua construção, utilização, manutenção, e demolição final;
incluindo a aquisição de matéria-prima necessária para a fabricação dos diversos
materiais. A Figura 5 ilustra as possíveis fases ao longo do ciclo de vida que podem
ser considerados numa ACV e os fluxos (entradas/saídas) que são normalmente
inventariados (USEPA, 2001).
Figura 5 – Limites do sistema numa ACV

Ambas as metodologias apresentam vantagens e limitações. Por exemplo,


enquanto que num sistema de classificação ambiental é possível atribuir créditos à
adaptabilidade de um edifício face a novos requisitos funcionais, numa ACV a
consideração deste critério é muito complicada. Por outro lado, uma ACV é uma
análise mais completa que permite ter em conta os balanços ambientais existentes
entre as diversas fases ao longo do ciclo de vida de um sistema construtivo, o que
permite, por exemplo, ter em consideração a alocação da reciclagem do aço no fim
de vida de uma estrutura.
A ACV é a metodologia escolhida para a avaliação da sustentabilidade nos
casos práticos que são apresentados, resumidamente, nos parágrafos seguintes.

5. AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE – CASOS PRÁTICOS

Neste item são, resumidamente, apresentados dois casos práticos nos quais
é feita uma análise comparativa, em termos de sustentabilidade, entre uma estrutura
metálica e um método alternativo de construção. Em ambos os casos, o método
construtivo alternativo é em betão armado, já que este continua a ser o método
tradicional de construção de Portugal.

5.1 Aplicação a uma Obra de Arte


Como já referido, a utilização de aços provenientes de processos de
produção diferentes conduz a impactes ambientais muito diferenciados. Para avaliar
as diferenças em termos de impactes ambientais foi realizado um caso prático
(Gervásio e Silva, 2005). Neste estudo foi feita uma análise comparativa entre duas
soluções estruturais alternativas para uma obra de arte, cujo desenvolvimento em
planta e em alçado se encontram representados na Fig. 5.

Fig. 5 – Planta e alçado da ponte

A solução preconizada pelo projectista original consistia numa solução em betão


pré-fabricado, com dupla viga em caixão. A solução alternativa foi definida por uma
solução mista, composta por duas vigas metálicas alma cheia e uma laje em betão
solidarizada com as vigas e funcionando em conjunto. Ambas as soluções se
encontram representadas na Fig. 6. Em ambos os casos as soluções satisfazem os
requisitos dos Eurocódigos relevantes em cada caso, e foi assumida uma vida de
serviço de 50 anos.
Fig. 6a - Solução em betão Fig. 6b - Solução mista aço-betão

A performance ambiental de ambas as soluções foi avaliada com base numa


análise de ciclo de vida, com base nas normas internacionais ISO, série 14040
(ISO14040, 2006; ISO14044, 2006), e com recurso ao programa de análise BEES
(Lippiatt, 2002).
Na análise de inventários foram quantificados todos os inputs (quantidade de
matérias primas, quantidades de água e energia) e outputs (emissões de partículas
para a atmosfera, terra e água) correspondentes a todas as fases de produção,
desde a extracção de matérias primas até ao produto final, pronto para ser
transportado do local de fabrico. As fases seguintes não foram consideradas na
análise por não haver, na literatura disponível, dados suficientes e credíveis para a
sua quantificação. Todos os dados relativos aos diversos materiais construtivos,
com excepção do aço estrutural, foram obtidos da base de dados do programa
BEES. No caso do aço, os dados foram obtidos do International Iron and Steel
Institute (IISI, 2002).
A avaliação de impactos foi efectuada com base na metodologia
desenvolvida pela Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC)
(Lippiatt, 2002). Desta análise resultaram onze índices, os quais estão
representados no gráfico da Fig. 7, para cada uma das soluções estruturais.
Fig. 7 – Resultado da performance ambiental

No gráfico anterior estão representados, para além dos resultados obtidos para a
solução inicial em betão, os resultados obtidos para a solução mista admitindo três
cenários diferentes para a origem do aço estrutural. Assim, no primeiro cenário
considerou-se que o aço utilizado seria inteiramente produzido em alto-forno, no
segundo cenário a produção seria integralmente em forno de arco eléctrico, e
finalmente no terceiro cenário considerou-se uma situação em que 50% do aço
fornecido seria produzido pelo primeiro processo enquanto que os outros 50%
seriam produzidos pelo segundo processo. Desta forma, na primeira coluna está
representado o resultado ambiental total obtido para a solução em betão.
Comparando este resultado com o resultado obtido para a solução mista,
assumindo-se a origem integral do aço do forno eléctrico, representado na terceira
coluna, observa-se que a solução mista apresenta claramente um resultado
ambiental muito superior à primeira (- 31%). Os resultados para a solução mista
assumindo a produção integral em alto forno (pior caso possível) agravam em cerca
de 23% os resultados obtidos para a solução em betão. Finalmente, na quarta
coluna está representado o resultado obtido para o cenário composto por 50% de
cada processo de produção, e que seria o caso mais realista no caso de haver
incerteza relativamente à origem do aço. Neste caso o resultado é superior à
solução em betão em apenas - 4%.

5.2 Aplicação a um Edifício


A mesma metodologia de ciclo de vida ambiental foi aplicada a um outro caso
prático (Gervásio et al., 2005). Neste caso o estudo consistiu numa análise
comparativa entre duas soluções estruturais alternativas, com base numa moradia
unifamiliar, cuja planta se encontra representada na figura 4, localizada no Algarve
(sul de Portugal). Neste exemplo além da análise ambiental, foi também realizada
uma análise económica ao longo do ciclo de vida das construções.
Assim, foram analisadas duas soluções estruturais. A primeira solução
consistiu numa solução “clássica” constituída por uma estrutura com pilares e lajes
em betão, paredes exteriores de alvenaria de tijolo, duplas (15 cm e 11 cm),
rebocadas e pintadas em ambas as faces, e uma caixa de ar, com 4 cm de
espessura, preenchida com isolamento térmico e acústico. As paredes interiores
eram paredes simples de alvenaria com 11 cm de espessura, rebocadas e pintadas
em ambas as faces. A solução alternativa foi definida por uma solução estrutural
mista aço/betão. Neste caso considerou-se uma laje mista apoiada em pilares
metálicos constituídos por perfis em I laminados, paredes exteriores definidas por
painéis sandwich com pano exterior em painéis OSB (Oriented Strand Board),
revestidos a poliestireno expandido, pano interior em placas de pladur e caixa de ar
preenchida com lã de rocha, perfazendo uma espessura total de 30 cm. As paredes
interiores eram semelhantes mas com 25 cm de espessura. Ambas as estruturas
foram dimensionadas de acordo com os respectivos Eurocódigos estruturais, de
forma a desempenharem a mesma performance estrutural e com as mesmas
margens de segurança. A análise comparativa avaliou as duas soluções em termos
de comportamento físico e do ponto de vista da sustentabilidade de cada solução
estrutural. Nesta análise os elementos comuns a ambas as soluções (fundações,
laje térrea e cobertura) não foram considerados na análise. Em termos de
comportamento físico, os comportamentos térmico e acústico foram equilibrados de
forma a não existir uma solução preferencial. A análise da sustentabilidade
determinou qual o sistema estrutural que obtém o melhor equilíbrio entre a
performance ambiental e a performance económica, considerando em ambos os
casos uma análise de ciclo de vida.

Figura 8 – Planta da moradia

A performance ambiental foi avaliada com base na metodologia referida no caso


anterior. Assim, na análise de inventários foram quantificados todos os inputs e
outputs correspondentes a todas as fases de produção, desde a extracção de
matérias-primas até ao produto final, pronto para ser transportado do local de
fabrico. As fases seguintes não foram consideradas na análise por não haver, na
literatura disponível, dados suficientes e credíveis para a sua quantificação. Todos
os dados relativos aos diversos materiais construtivos, com excepção do aço
estrutural, foram obtidos da base de dados do programa BEES (Lippiatt, 2002). No
caso do aço, os dados foram obtidos do International Iron and Steel Institute (IISI,
2002).
Da avaliação de impactos resultaram doze índices, os quais estão representados no
gráfico da figura 5, para cada uma das soluções estruturais.

Figura 9 – Resultado da performance Figura 10 – Resultado da performance


ambiental económica

A avaliação económica de ciclo de vida, indicada no gráfico da figura 6, foi


efectuada com base nos custos iniciais e futuros correspondentes a cada solução. A
compilação dos custos iniciais de construção baseou-se nas quantidades de
materiais estimados para cada solução estrutural e os custos futuros foram
estimados com base nas despesas de manutenção previstas para o período de
referência. Neste análise assumiu-se um período de estudo de 50 anos e a taxa real
de desconto considerada foi de 3.9%.
O resultado final, representado na figura seguinte, foi obtido pela média
ponderada das performances ambiental e económica, tendo-se considerado o
mesmo peso para ambas as análises.
Figura 11 – Resultado da performance global

Neste caso verificou-se que a solução estrutural mista aço-betão apresentava uma
performance ambiental e económica superior à solução de betão.

6. OBSERVAÇÕES FINAIS

A indústria da construção é responsável, directa ou indirectamente, por uma


proporção bastante significativa de impactos ambientais, os quais podem
comprometer, a médio ou longo prazo, o futuro das gerações futuras. Portanto, uma
das prioridades do sector da construção deve ser o de desenvolver e fornecer
soluções inovadoras com vista à minimização deste problema. Graças às
características naturais do aço, as estruturas metálicas permitem a optimização dos
recursos naturais e a obtenção de um ambiente construído mais racional e eficaz,
contribuindo deste forma para uma construção mais sustentável.

REFERÊNCIAS
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