Carreiras Feminicas Indo Alem Do Sendo Comum
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Carreiras Feminicas Indo Alem Do Sendo Comum
RESUMO
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INTRODUÇÃO
e autonomia para a construção das carreiras (Zuboff & Maxmin, 2003). Mulheres casadas e
com filhos pequenos, por exemplo, podem em determinada época da vida, desejar promover
uma desaceleração temporária em suas carreiras, sem necessariamente se desligar da
organização, mas são poucas as empresas proporcionam essa possibilidade (Crompton, 2006).
Nesse sentido, surge um grande desafio para a gestão de recursos humanos: como
trabalhar o novo profissional - no caso deste artigo, a mulher profissional - e sua carreira,
vista de acordo com Albuquerque e Oliveira (2009), como um ponto relevante da política de
recursos humanos das organizações.
As políticas de recursos humanos consistem em: contratação, desenvolvimento,
avaliação, recompensas, plano organizacional e comunicação (Ulrich, 1999). Para o
desenvolvimento dessas políticas de gestão de recursos humanos, devem ser aplicadas
ferramentas que possam potencializar o desempenho dos trabalhadores, alinhar as suas
estratégias com as do negócio, analisar criticamente instrumentos utilizados e recuperar o
sentido das relações entre os indivíduos que possuem papéis e atribuições distintas no
universo do trabalho (Barbosa, 2005).
Algumas ferramentas e/ou políticas têm sido utilizadas por organizações e pela gestão
de recursos humanos no intuito de compatibilizar interesses do profissional e da empresa
(Mainiero & Sullivan, 2005; Carlier, 2007; Dutra, 2010).
Mainiero & Sullivan (2005) apresentam recomendações para as organizações
trabalharem a compatibilização de interesses. O Quadro 1 sintetiza as principais
recomendações.
Quadro 1
Recomendações para as organizações voltadas à carreira
Recomendação Detalhamento
Redesenhar o trabalho. Prover tecnologias que permitam a flexibilização do
trabalho; disponibilizar videoconferências para minimizar
necessidades de viagens; e recompensar e promover
profissionais que adotam práticas de flexibilidade, tornando-os
exemplo para os demais.
Apoiar políticas públicas Estruturar lobby para que o governo aprimore políticas
que auxiliem na públicas que auxiliem profissionais que possuem filhos, como a
minimização do conflito ampliação de ofertas de creches e pré-escolas.
entre trabalho e família.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Mainiero & Sullivan (2005)
Quadro 2
Políticas organizacionais sugeridas
Políticas Detalhamento
Flexibilização Incluem políticas de flexibilidade de horário tais como horário de
trabalho flexível, trabalho em tempo parcial, semana de trabalho reduzida e
jornada de trabalho reduzida. Consideram também modalidades de licença
maternidade e paternidade, além do prazo legal, licença para cuidar dos
filhos, licença para cuidar de familiares enfermos ou incapacitados, bancos
de tempo livre, abono por causa de emergência familiar e tempo livre para
formação profissional. A flexibilidade de espaço também é considerada
como possibilidade de trabalho a distância, infraestrutura para trabalho em
casa e videoconferências.
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Metodologia
Foi realizada uma pesquisa descritiva em duas etapas. A primeira contou com a
realização de cinco grupos de foco realizados entre março e junho de 2011, para calibrar a
segunda, feita por meio de um survey aplicado entre agosto e outubro de 2011 a mulheres
profissionais de nível superior com idade entre 20 e 59 anos e com renda superior a cinco
salários mínimos, do qual participaram 694 mulheres.
As duas partes da pesquisa tiveram por objetivo conhecer e interpretar a realidade sem
nela interferir para modificá-la (Churchill, 1987). Pode-se dizer que ela estava interessada em
descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los.
Buscou-se descrever a percepção das mulheres profissionais quanto aos instrumentos, práticas
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e políticas de carreira organizacional, dentre outras questões, abordadas numa pesquisa mais
ampla realizada fruto de tese de doutorado.
A pesquisa descritiva se interessa pelas relações entre variáveis e expõe as
características de determinada população ou de determinado fenômeno, mas não tem o
compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal.
Normalmente, baseia-se em amostras grandes e representativas. O formato básico de trabalho
é o survey (Churchill, 1987) realizado nesse trabalho.
As pesquisas descritivas compreendem grande número de métodos de coleta de dados,
os quais compreendem: entrevistas pessoais, entrevistas por telefone, questionários pelo
correio/internet (enviado por e-mail como link, forma utilizada neste trabalho), questionários
pessoais e observação.
As etapas 1 e 2 percorridas ao longo dessa pesquisa estão descritas conforme se segue.
Etapa 1
Na Etapa 1 foram realizados cinco grupos de foco. Este é um método que, segundo
Oliveira e Freitas (2006), realiza entrevistas em grupo conduzidas por um moderador,
objetivando a discussão de um assunto específico. No caso desta pesquisa, a realização dos
grupos de foco teve por objetivo fomentar a discussão entre as mulheres profissionais, com a
utilização de um roteiro semi-estruturado, sobre os aspectos relacionados às carreiras
femininas que permitissem subsidiar a realização do survey, a posteriori.
Os grupos de foco tiveram duração média de duas horas e meia. As participantes
foram selecionadas por acessibilidade, respeitando os critérios de idade (de 20 a 59 anos),
diversidade de ocupação (gestora, gestora pública, profissional liberal, consultora e
empreendedora), estado civil (casada, solteira, divorciada, união estável) e maternidade (com
e sem filhos). Todas as participantes tinham formação em nível de pós-graduação e receita
mensal acima de 5 salários mínimos.
A técnica utilizada para a análise das discussões resultantes dos cinco grupos de foco
foi a análise de conteúdo, que, segundo Vergara (2005, p. 15), “é considerada uma técnica
para tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito do tema, que
admite tanto abordagens quantitativas quanto qualitativas”. São definidas categorias de
análise que podem ser analisadas via grades abertas, fechadas ou mistas, procedendo-se à
análise de conteúdo, com apoio em procedimentos estatísticos, interpretativos ou ambos.
Foi elaborado um roteiro semiestruturado contemplando eixos de análise, a partir do
levantamento bibliográfico utilizado para a construção do referencial teórico.
Etapa 2
A pesquisa na forma de survey teve como propósitos: gerar estatísticas com descrições
quantitativas e/ou numéricas de aspectos a serem estudados de determinada população; coletar
informações, perguntando às pessoas sobre assuntos diversos, sendo que as respostas serão os
dados de pesquisa a serem analisados; e gerar informações em relação a uma amostra da
população pesquisada.
Nesta pesquisa, a amostra utilizada foi não probabilística por acessibilidade a partir da
definição a priori dos critérios objetivos de seleção (mulheres, de 20 a 59 anos, com
rendimentos acima de 5 salários mínimos e graduadas em curso superior).
Em relação ao instrumento, foi elaborado um questionário, estruturado de forma
parametrizada, utilizando perguntas fechadas nas seguintes formas: dicotômica (com duas
respostas possíveis), múltipla escolha (com uma ou mais respostas possíveis), escala de Likert
de cinco pontos (para avaliar o grau de concordância/discordância das mulheres profissionais
sobre o assunto) e escala de importância (para avaliar determinados atributos relacionados à
carreira feminina na percepção das mulheres profissionais) (Kotler, 2000).
Foram realizados dois pré-testes do questionário. O primeiro, com 10 mulheres
profissionais, avaliou o instrumento. Algumas dificuldades iniciais foram identificadas o
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Tabela 1
Teste de normalidade da amostra
Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk
Questão Statisti DF Sig. Statisti Df Sig.
c c
Para realizar as análises dos dados, foram utilizados os seguintes testes estatísticos:
- Teste U Mann-Whitney - é um substituto para o teste t para comparar duas amostras
independentes quando há ruptura dos pressupostos paramétricos, principalmente normalidade
e homocedasticidade (variâncias semelhantes entre grupos comparados). Como a amostra
desta tese demonstrou ser não paramétrica, utilizou-se este teste quando havia a necessidade
de comparar dados contínuos de dois grupos - por exemplo, idade e se trabalha (sim ou não),
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utilizando-se de algum tipo de tecnologia remota (Soares e Siqueira, 2002; Motta e Oliveira
Filho, 2009).
- Teste H de Kruskal-Wallis - também conhecido como “análise de variância
(ANOVA) não paramétrica” de Kruskal-Wallis. Foi utilizado como alternativa não
paramétrica para comparar medianas de várias amostras independentes (Soares e Siqueira,
2002; Motta e Oliveira Filho, 2009). Na análise dos dados do survey, este teste foi utilizado
para comparar dados contínuos com mais de dois grupos. Exemplificando, para comparar
idade com o fato de a mulher concordar ou não (numa gradação de cinco pontos utilizando-se
a escala de Likert) com a necessidade de apoio social para cumprir a jornada de trabalho.
- Teste qui-quadrado - avalia a associação entre duas variáveis categóricas, em que
pelo menos uma delas não é ordinal. Esta comparação é feita mediante a comparação de
valores observados em cada categoria com os valores esperados (estimados) (Soares e
Siqueira, 2002; Motta e Oliveira Filho, 2009). Foi utilizado na maioria dos cruzamentos
realizados nesta tese para avaliar a significância estatística entre as variáveis. Por exemplo,
para analisar o porte da empresa em relação ao fato de a mulher concordar ou não com a
sobrecarga de papéis vivenciada por ela.
A partir destes testes, foram identificadas associações estatisticamente significativas
entre as variáveis quando o valor-p foi menor do que o ponto de corte 0,05.
Resultados
Grupos de Foco
Tabela 2
Síntese das características preponderantes da amostra
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Quadro 3
Questões centrais dos Grupos de Foco
Resultados: Survey
Para a análise das questões relativas aos instrumentos de carreira adotados pelas
empresas, foi-lhes perguntado, de forma dicotômica, se a empresa em que trabalham adota ou
não os instrumentos presentes na literatura (Mainiero & Sullivan, 2005; Carlier, 2007; Dutra,
2010). As respostas estão sintetizadas na Tabela 3.
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Tabela 3
Síntese das respostas sobre os instrumentos de carreiras adotados pelas empresas
Questão Sim % Não %
Posturas que primam pela qualidade de vida do profissional. 37,6 62,4
Horários flexíveis. 41,5 51,5
Carga horária de trabalho mais ajustada. 26,7 73,3
Dando acesso para seus profissionais a instrumentos de auto- 26,9 73,1
avaliação que permitem que os indivíduos se conheçam melhor e
façam opções de carreira mais consistentes.
Desenvolvendo programas de apoio ao meu desenvolvimento 22,2 77,8
rumo a progressão de carreira.
Divulgando as oportunidades de carreira internamente. 31,1 68,9
Avaliando através de critérios objetivos seus profissionais. 32,3 67,7
Investindo em programas de desenvolvimento e treinamentos 51,3 48,7
para seus funcionários.
Adotando políticas institucionais para atrair e reter a mulher 7,2 92,8
profissional.
Desenvolvendo mulheres e preparando-as para os próximos 12,1 87,9
níveis hierárquicos.
Revendo atribuições e funções quando necessário e adequando-as 23,2 76,8
ao perfil de seus colaboradores.
Controlando horas extras. 31 69
Revisando localidade onde o profissional é lotado para conciliar 7,5 92,5
com suas demandas familiares.
Dando apoio à mulher durante o período de gestação. 36,9 63,1
Promovendo oportunidades de criação de redes de 20,3 79,2
relacionamento para seus profissionais.
Orientando seus colaboradores para fazer o seu planejamento 14 86
financeiro pessoal.
Mapeando os motivos de desligamento das mulheres profissionais 4,8 95,2
da empresa.
Fonte: Dados do survey (2012)
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Tabela 4
Porte e recursos humanos auxiliando na tomada de decisão sobre carreira
Quanto à questão sobre não ter como rejeitar uma promoção, houve diferença maior
no nível de discordância no caso de mulheres profissionais de micro (24% contra 8%) e
pequenas empresas (21,2% contra 9,1%).
Quanto à percepção da mulher profissional sobre o fato de ter apoio de um profissional
na empresa para ajudá-la na tomar decisões sobre carreira, a maioria discorda,
Sobre o fato de haver discussão institucional a respeito da carreira, a percepção das
mulheres profissionais é equilibrada somente em grandes empresas.
Quadro 4
Síntese das discussões sobre instrumentos, práticas e políticas organizacionais de
carreiras
Estratégias Desdobramentos
Tempo de trabalho - Limitando o excesso de reuniões ocorridas nas organizações.
- Possibilitando o horário flexível.
- Respeitando a carga horária diária de trabalho.
- Controlando as horas extras.
- Minimizando viagens dos colaboradores.
Qualidade de vida - Valorizando a qualidade de vida do colaborador.
- Respeitando/Dando assistência à saúde do colaborador.
- Apoiando a mulher no período da gestação.
- Revisando a lotação da colaboradora para ficar próxima à
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família.
Gestão de carreira - Estruturando e divulgando plano de carreira.
-Trabalhando a ambição do profissional possibilitando sua
movimentação.
- Investindo no desenvolvimento das pessoas.
- Mapeando os motivos pelos quais as mulheres profissionais
deixam a empresa.
- Adequando o perfil da profissional à sua função.
Fonte: Elaborado pelos autores (2013)
sucederem e serem sucedidos nas diversas posições nas organizações também são políticas
importantes a serem desenvolvidas. Ter uma área de recursos humanos mais atuante no
sentido de efetivamente ser a guardiã da gestão de carreiras organizacionais é fundamental
para que se desenvolvam instrumentos, políticas e práticas mais contemporâneas que
busquem atender às demandas dos profissionais e das organizações.
Considerações Finais
Instrumentos, práticas e políticas de carreira devem ser desenvolvidos e implementados,
independente do porte da empresa, e ser apresentados/discutidos, para que os profissionais se
sintam participantes da construção do plano e contribuam para o seu sucesso.
Os resultados desta pesquisa revelam um enorme campo a ser explorado pelas
organizações e pela gestão de recursos humanos. Ações relacionadas ao tempo de trabalho e à
qualidade de vida merecem ser desenvolvidas pelos gestores das organizações. Respeito à
carga horária acordada, limitação da necessidade de se cumprir horas extras, implementação
de horários flexíveis, uso de tecnologias que minimizem a necessidade de deslocamento
físico do profissional são ações recomendadas. Promover diálogo nas organizações para que
seja possível debater as reais aspirações e perspectivas de carreira dos profissionais são
também práticas importantes. Políticas que desenvolvam formalmente as pessoas e auxiliem
no processo da construção de sucessão para as diversas posições organizacionais também
devem ser adotadas.
Cabe aqui uma reflexão sobre o próprio papel da área de Recursos Humanos. Sem
uma postura forte de parceria estratégica nunca exercerá de fato um papel relevante na
organização e continuará sendo negligente e desconsiderando questões importantes para a
competitividade das empresas, como o estabelecimento de políticas de carreiras consistentes
que promovam a retenção de talentos. A área não deve fazer “terapia empresarial”, mas, sim,
ajudar os profissionais a serem mais competentes, fazendo escolhas profissionais consistentes.
Não pode ser ocupado por qualquer profissional, mas sim por aqueles que dominam a teoria e
a prática e tenham autoridade (Ulrich, 1999).
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