Dossie Traducao e Feminismos Negros Revi
Dossie Traducao e Feminismos Negros Revi
Dossie Traducao e Feminismos Negros Revi
Introdução
Estudos da Tradução & Mulheres Negras à luz do feminismo PDF
Cibele de Guadalupe Sousa Araújo, Luciana de Mesquita Silva, Dennys Silva-Reis 2-13
Translation Studies & Black women in the light of feminism PDF (English)
Cibele de Guadalupe Sousa Araújo, Luciana de Mesquita Silva, Dennys Silva-Reis 14-24
__________________________________________________________________
Artigos
Sobre tradução e ativismo intelectual PDF
Patricia Hill Collins 25-32
Negofeminismo: Teorizar, Praticar e Abrir o Caminho da África PDF
Obioma G. Nnaemeka 33-62
Revolução do feminismo negro! PDF
Elsa Dorlin 63-88
Construindo pontes: diálogos a partir do/com o feminismo negro PDF
Mercedes Jabardo Velasco 89-114
Translating Yvonne Mété-Nguemeu’s Femmes de Centrafrique: Âmes vaillantes au PDF
cœur brisé from a Feminist Perspective (English)
Ngozi O. Iloh 115-131
Translating Black Feminism: The Case of the East and West German Versions of PDF
Buchi Emecheta’s The Joys of Motherhood (English)
Omotayo I. Fakayode 132-143
_________________________________________________________________________
Entrevistas
A linha da cor: entrevista com Rane Souza PDF
Luciana Carvalho Fonseca 206-221
Black Feminist Thought and Translation Studies: interview with Patrícia Hill PDF
Collins (English)
Patrícia Hill Collins, Dennys Silva-Reis 222-228
Pensamento feminista negro e estudos da tradução: Entrevista com Patrícia Hill PDF
Collins 229-
Patrícia Hill Collins, Dennys Silva-Reis 235
Pensar la Traducción y el Feminismo Negro: Entrevista con Ochy Curiel PDF (Español
Ochy Curiel, Dennys Silva-Reis (España))
236-240
Pensar a tradução e o feminismo negro: entrevista com Ochy Curiel PDF
Ochy Curiel, Dennys Silva-Reis 241-245
Thinking Negofeminism in Translation: Interview with Tomi Adeaga PDF (English)
Tomi Adeaga, Dennys Silva-Reis 246-250
Pensar o Nego-Feminismo na Tradução: Entrevista com Tomi Adeaga PDF
Tomi Adeaga, Dennys Silva-Reis 251-255
Estudos da Tradução & Mulheres Negras à luz do feminismo
O feminismo negro teve sua ascensão nos anos de 1970 e 1980, a partir de uma
revisão da crítica feminista como um todo e, consequentemente, a conclusão de que
na categoria “mulher” a representação do grupo em questão era predominantemente
branca. A situação de invisibilidade da mulher negra era gritante, em particular,
no mundo universitário, no qual o feminismo acadêmico ignorava as reflexões do
feminismo negro. O feminismo hegemônico – branco e cisgênero1 – de alguma forma
excluía os outros feminismos. Mesmo após ser identificada a existência de outros
feminismos, como o feminismo negro, é preciso ressaltar que a categoria “mulher
negra” não é unívoca e universal. Essa categoria é heterogênea e tem diferenças e
contradições no tempo e no espaço em que esses corpos femininos de cor existem ou
existiram. Thomas Bonnici (2007), ao analisar as obras de Zora Neale Hurston, Alice
Walker e Toni Morrison, afirma que a mulher negra é sempre apresentada como uma
depositária de memória coletiva (ancestralidade e escravidão), munida de habilidades
específicas (parteira, conhecedora de ervas medicinais, entre outras) e duplamente
abusada por homens (pai e marido).
Susan Willis (1990), por sua vez, menciona que o que diferencia fortemente
a mulher negra da mulher branca é a constante reconciliação que a primeira tenta
2 continuamente fazer com o presente por meio de três aspectos: a comunidade
(uma busca pela restauração da identidade de seu grupo étnico), a passagem (o
reconhecimento de que há um caminho coletivo percorrido por todas as mulheres
negras da África para o Novo Mundo) e a sexualidade (a distorção da experiência
sexual da mulher negra devido aos padrões hetero-patriarcais e do feminismo
hegemônico branco cisgênero). O reconhecimento analítico e reflexivo dos diversos
tipos de feminismos negros, com a premissa das características apontadas por
Susan Willis (1990), foi e ainda é motivo de tomada de posicionamento e também de
imposição da voz da mulher negra. O ecoar da voz da mulher negra é, para além da
demarcação de um lugar de fala, um modo de resistência – entendido por bell hooks
(1989) como uma forma de oposição ao feminismo hegemônico branco cisgênero.
O não-reconhecimento das diferenças dos corpos femininos de mulheres
brancas e mulheres negras leva ao que Adrienne Rich (1976) nomeia como cegueira
1 Termo que se se refere à concordância de identidade sexual do indivíduo com sua genitália e
configuração hormonal de nascença.
2 Conceito que abarca, grosso modo, as formas de discriminação relativas à pigmentação da pele de
uma pessoa. Mesmo entre os grupos étnicos considerados negros ou afrodescendentes, a questão do
colorismo refere-se à distinção de tratamento, vivências e oportunidades que depende do quão escura
é a pele da pessoa.
3 O termo é baseado no vocábulo “escrevivência”, cunhado por Conceição Evaristo.
4 “[...] a debate on racism where the subject is Black male; a gendered discourse where the subject is
white female; and a discourse on class where ‘race’ has no place at all” (Kilomba, 2012: 56).
5
Uma vez reconhecendo que as práticas sociais linguísticas são racializadas
e igualmente interseccionadas por gênero, geração e sexualidade, percebe-se que
a tradução, enquanto prática linguístico-cultural, compõe igualmente esse bojo.
Somado a isso, ao tratar especificamente das reverberações da atuação do movimento
feminista negro brasileiro na mídia, Carneiro (2003) ressalta a predominância, não
ocasional, da exclusão simbólica, da não-representação e das distorções da imagem
da mulher negra nos veículos de comunicação em massa. Paralelamente, Conceição
Evaristo (2009) denuncia a não-representação ou a representação negativizada das
pessoas negras em geral, e em especial da mulher negra, no cânone literário brasileiro.
Os efeitos da exclusão simbólica ou da representação negativizada da mulher negra
tanto na mídia quanto na literatura são nefastos.
Do ponto de vista da tradução, a situação não é diferente. As obras literárias
e os diferentes produtos culturais estrangeiros (tais como músicas, filmes, seriados,
novelas) traduzidos para o português brasileiro, principalmente por grandes
5 “[…] the ideological construction and value of standardized language practices are anchored in what
we term raciolinguistic ideologies that conflate certain racialized bodies with linguistic deficiency
unrelated to any objective linguistic practices. That is, raciolinguistic ideologies produce racialized
speaking subjects who are constructed as linguistically deviant even when engaging in linguistic
practices positioned as normative or innovative when produced by privileged white subjects. This
raciolinguistic perspective builds on the critique of the white gaze—a perspective that privileges
dominant white perspectives on the linguistic and cultural practices of racialized communities—that
is central to calls for enacting culturally sustaining pedagogy” (Flores, Rosa, 2015: 150-151).
6 Conceito que diz respeito à utilização feminista do ciberespaço e que tenta libertar a internet das
amarras da construção de gênero, bem como uma forma de unir o corpo e a máquina no mundo
contemporâneo. É uma das formas de uso da tecnologia que lida com as questões de discriminação,
sexualidade e gênero racializadas ou não (Nakamura, 2013).
8 Patrícia Hill Collins (2017), em seu texto “Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade
e política emancipatória”, chama a atenção para esse aspecto ao dissertar sobre como conceitos
“estritamente” norte-americanos seriam úteis ou serviriam de espelho para outras mulheres negras em
outros países e continentes.
9 “First, nego-feminism is the feminism of negotiation; second, nego-feminism stands for “no ego”
feminism. In the foundation of shared values in many African cultures are the principles of negotiation,
give and take, compromise, and balance. Here, negotiation has the double meaning of “give and take/
exchange” and “cope with successfully/go around.” African feminism (or feminism as I have seen it
practiced in Africa) challenges through negotiations and compromise. It knows when, where, and
how to detonate patriarchal land mines; it also knows when, where, and how to go around patriarchal
landmines. In other words, it knows when, where, and how to negotiate with or negotiate around
patriarchy in different contexts. For African women, feminism is an act that evokes the dynamism and
shifts of a process as opposed to the stability and reification of a construct, a framework. My use of
space—the third space— provides the terrain for the unfolding of the dynamic process. Furthermore,
nego-feminism is structured by cultural imperatives and modulated by evershifting local and global
exigencies” (Nnaemeka, 2004: 377-378).
Referências
BAGNO, Marcos (2019). Objeto Língua: inéditos e revisitados. São Paulo: Parábola.
10 “[…] goal-oriented, cautious, accommodating, adaptable, and open to diverse views” (Nnaemeka,
2004: 382).
HOOKS, bell. (1989). Talking Back: Thinking Feminist, Thinking Black. London: Sheba
Feminist.
LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza. (orgs.). (2009). O português afro-
brasileiro. Salvador: EDUFBA.
REA, Caterina; PARADIS, Clarisse Goulart; AMANCIO, Izzie Madalena Santos. (orgs).
(2018). Traduzindo a África Queer. Salvador: Editora Devires.
SPIVAK, Gayatri. (2010). Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG.
WILLIS, Susan. (1990). Specifying: Black Women Writing the American Experience.
London: Routledge.
13
1 This paper was originally written in Brazilian Portuguese as an introduction to the Dossier “Translation
and Black Feminisms”. The text was translated into English by Dr. John Milton, professor at FFLCH-
USP.
2 A term that refers to the sexual identity agreeing with the individual’s genitals and the hormonal
configuration at birth.
It’s funny how they make fun of us when we say it’s Framengo.
They call us ignorant saying that we speak wrong. And suddenly
they ignore that the presence of this r in the place of the l is
nothing more than the linguistic mark of an African language,
in which the l does not exist. So who is ignorant? They also laugh
at Brazilian speech, which cuts the rs off the infinitives of verbs,
which shortens você into cê, está into tá, and so on. They don’t
understand that they are speaking pretuguês (Gonzalez, 1984:
238, author’s emphasis).
Once recognizing that social linguistic practices are racialized and also
intersected by gender, generation and sexuality, it can be seen that translation, as
a linguistic-cultural practice, is also an important part of this core. In addition,
in dealing specifically with the reverberations of the performance of the Brazilian
black feminist movement in the media, Carneiro (2003) highlights the frequent
predominance of symbolic exclusion, non-representation and distortions of black
women’s image in mass communication. Conceição Evaristo (2009) also denounces
the non-representation or negative representation of black people in general, and 17
especially black women, in the Brazilian literary canon. The effects of symbolic
exclusion or negativized representation of black women in both the media and
literature are nefarious.
From the point of view of translation, the situation is no different. Literary
works and different foreign cultural products (such as songs, films, serials, soap
operas) translated into Brazilian Portuguese, mainly by large publishers, with a
view to being received by the Brazilian public, as well as Brazilian literary works
and cultural products translated into foreign languages, in order to be received in
other cultures, do not present, in general, black female characters, except secondary
ones, occupying stereotyped social roles. In this sense, the choice of the work to be
translated can balance the range of female representations, restoring to the black
woman the right to recognize herself positively in the literature and in the cultural
products she consumes from childhood. As examples of this, in the area of translations
of foreign works in Brazil, we can cite the publications by Companhia das Letras
of works by the African American writer Toni Morrison, such as A Mercy (2009),
Beloved (2007/2011/2018), among others, and the Nigerian writer Chimamanda Ngozi
Adichie’s Americanah (2014) and The Thing Around Your Neck (2017), to mention only
two.
Beyond the symbolic representation of black women, their epistemic
contributions are also the subject of a process of a translational silencing that hampers
dialogue, the sharing of experiences, and solidarity between ethnic minority women’s
5 A concept that refers to the feminist use of cyberspace and tries to free the internet from the bonds of
gender construction, as well as a way of uniting the body and the machine in the contemporary world.
It is one of the ways of using technology that deals with issues of discrimination, sexuality and gender
whether racialized or not (Nakamura, 2013).
6 Available at: https://traduzidas.wordpress.com/about/.
References
BAGNO, Marcos (2019). Objeto Língua: inéditos e revisitados. São Paulo: Parábola.
FOUCAULT, Michel. (2003). “‘Omnes et singulatim’: uma crítica da razão política”. In:
FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos. Tradução de Manoel Barros da Motta. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, v. 4. p. 355-385.
HOOKS, bell. (1989). Talking Back: Thinking Feminist, Thinking Black. London: Sheba
Feminist.
LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza. (orgs.). (2009). O português afro-
brasileiro. Salvador: EDUFBA.
NAKAMURA, Lisa. (2013). Cybertypes: Race, Ethnicity, and Identity on the Internet.
London: Routledge.
REA, Caterina; PARADIS, Clarisse Goulart; AMANCIO, Izzie Madalena Santos. (orgs).
(2018). Traduzindo a África Queer. Salvador: Editora Devires.
SPIVAK, Gayatri. (2010). Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG.
WILLIS, Susan. (1990). Specifying: Black Women Writing the American Experience.
London: Routledge.
24
Esta é uma tradução do prefácio escrito por Patricia Hill Collins para a obra Feminist
Translation Studies: Local and Transnational Perspectives (2017). A partir de vivências
pessoais e de sua trajetória acadêmica e intelectual, Collins expõe sua perspectiva
sobre as relações entre tradução e feminismo. Desse modo sua argumentação é
dividida em dois momentos: no primeiro, a pessoa da tradutora como uma mediadora
entre línguas, pensamentos, culturas e pessoas é focalizada; e, no segundo, o foco
recai sobre como a interpretação do pensamento de uma dada comunidade de
mulheres pode ser entendida igualmente como um ato de tradução. Para a autora,
a tradução dentro desses dois pontos de vista é uma prática ativista e uma ação de
confiança naquela que traduz.
ABSTRACT
This is a translation of the preface written by Patricia Hill Collins for the book Feminist
Translation Studies: Local and Transnational Perspectives (2017). Both from personal
experiences and from her academic and intellectual trajectory, Collins exposes her
perspective on the relations between translation and feminism. Accordingly, her
exposition is divided into two moments: firstly, the person of the translator as a 25
broker for languages, thoughts, cultures and people is focused; and secondly, the
focus lies on the interpretation as an act of translation. According to Collins, inside
these two points of view, translation is perceived as an activist praxis and an action
of trust in the person who translates.
1 Texto originalmente publicado com o título de “On Translation and Intellectual Activism” em CASTRO,
Olga; ERGUN, Emek (Orgs.). Feminist Translation Studies: Local and Transnational Perspectives. Nova
York/Londres: Routledge, 2017, p. xii-xvi. Permissão de tradução adquiridos pelos tradutores da
Routledge/Taylor and Francis Group LLC Books. Tradução de Cibele de Guadalupe Sousa Araújo,
Dennys Silva-Reis e Luciana de Mesquita Silva.
2 Agradecemos à professora Patrícia Collins e à professora Olga Castro pela gentileza e presteza
demonstrada na negociação dos direitos autorais da presente tradução brasileira, e também ao professor
Marcos Bagno pelo auxílio na solução de alguns questionamentos.
Em 1994, fui à Europa pela primeira vez para apresentar um trabalho intitulado
“Is the Personal Political Enough? African American Women and Feminist Praxis”
(1996) [“O pessoal é político o suficiente? Mulheres afro-americanas e práxis feminista”]
na conferência “Racisms and Feminisms: An International Conference” [“Racismos
e feminismos: uma conferência internacional”] realizada em Viena. Percebendo
que os/as participantes da conferência não falavam uma língua em comum, os/as
organizadores/as providenciaram traduções para os trabalhos preparados para e/ou
apresentados na conferência que estava ocorrendo. Traduzir o texto escrito de uma
comunidade interpretativa para o texto oral ou escrito de uma outra comunidade
constituiu-se como um primeiro passo importante para possibilitar que as ideias
viajassem. Como a conferência foi encarregada de desenvolver uma agenda feminista
para levar à Conferência sobre Racismo das Nações Unidas, nós precisávamos ser
capazes de falar um/a com o/a outro/a. Como essa era minha primeira conferência
internacional, fiquei estarrecida com o número de pessoas que eu não entendia, ou que
não conseguiam me entender. Nós falávamos tantas línguas diferentes que tínhamos
dificuldade em falar diretamente uns/umas com os/as outros/as, em conversas 27
abertas e relaxadas. Acima de tudo, eu vi bem claramente como os/as tradutores/as
também serviam como mediadores/as de poder para o modo como as ideias formais
da conferência se desdobrariam. Eles/as faziam traduções literais dos trabalhos
assim como traduziam os estilos comunicacionais e critérios epistemológicos que os/
as participantes da conferência traziam consigo.
Mais tarde, naquele mesmo dia, um jantarzinho informal perto do local da
conferência com outros/as três participantes trouxe a importância da tradução para
seu mais alto relevo. Um/a de meus/minhas companheiros/as de jantar era uma
mulher muçulmana da Bósnia que pediu asilo em Viena para escapar da guerra na
Iugoslávia. Ela falava bósnio e um pouco de alemão, mas como ninguém na mesa falava
bósnio, ela se apoiava em seu alemão. Um/a segundo/a participante do jantar falava
apenas alemão fluente. Como eu falava apenas inglês, não podia me comunicar com
nenhum/a deles/as, nem eles/as comigo. Nossa última companheira de jantar falava
tanto alemão quanto inglês, e três outras línguas que descobri depois, nenhuma das
quais era bósnio. Consequentemente, ela se tornou uma tradutora não oficial para
nós três porque ela era a única pessoa na mesa que conseguiu ter uma conversa com
cada pessoa na mesa. Até hoje, eu permaneço grata e impressionada pela habilidade
e autorreflexividade de nossa companheira de jantar multilíngue. Como ela podia
falar com todo mundo na mesa, ela tinha o melhor acesso à conversa significativa.
Mas como ela também servia como a tradutora não oficial para a mesa, ela não podia
4 Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness and the Politics of Empowerment foi publicado
originalmente em 1990, e ainda não conta com tradução completa e/ou oficial no Brasil. Sua publicação
em língua portuguesa está prevista para o ano de 2019, pela editora Boitempo.
***
Referências bibliográficas
32
Obioma G. Nnaemeka
Acadêmica negra, nascida na Nigéria, e residente, atualmente, nos Estados Unidos da América.
Nnaemeka é professora de Francês, Estudos Femininos e Estudos Africanos da Universidade de
Indiana. Entre seus principais interesses de pesquisa estão: escritoras negras, teoria feminista,
feminismos transnacionais, literaturas francesa e francófonas, literaturas orais e escritas de África ou
da diáspora africana, gênero e desenvolvimento e direitos humanos. Entre suas principais publicações
estão as obras: (editora) The Politics of (M)Othering: Womanhood, Identity and Resistance in African
Literature (Routledge 1997) e Feminisms, Sisterhood and Power: From Africa to the Diaspora (Africa
World Press 1998).
In this article I will explore, among other issues, the intertwining of the colonial
moment, the politics of fieldwork, and the politics of representation in feminist
scholarship and development studies by revisiting the processes of theory making and
knowledge construction in an environment of unequal power relations and cultural
difference. I will use the different features and methods of feminist engagement in
Africa to propose what I call nego-feminism (the feminism of negotiation; no ego
feminism) as a term that names African feminisms. Aware of a practice (feminism
in Africa) that is as diverse as the continent itself, I propose nego-feminism not to
occlude the diversity but to argue that a recurrent feature in many African cultures
can be used to name the practice. Moreover, I will address issues of disciplinary
boundaries, pedagogy, and institution building in an atmosphere of intense NGO
activities bound and structured by donor interests, conditionalities, and politics.
Ultimately, I will plead for the interrogation and repositioning of two crucial issues
in feminist studies—positionality and intersectionality. Finally, this paper will also
envisage a modulated shift in focus of the intersectionality of race, gender, class,
ethnicity, sexuality, religion, culture, national origin, and so forth, from ontological
considerations (being there) to functional imperatives (doing what there) and speak
to the important issues of equality and reciprocity in the intersecting and border
crossing.
34
Deslocar e desfazer aquela oposição mortal entre o texto
estritamente concebido como texto verbal e o ativismo estritamente
concebido com algum tipo de engajamento irracional.
— Gayatri C. Spivak (1990: 120–21)
5 Essa não é uma estratégia exclusivista que muda poder e foco dos privilegiados para os subalternos.
Ao invés disso, ela deve ser um engajamento no qual o privilégio é difundido para permitir um fluxo de
vozes multilateral e interativo (de cima e de baixo simultaneamente).
6 Discutindo o feminismo na África em um trabalho anterior, notei que “seria mais preciso argumentar
não no contexto de um monólito (feminismo africano), mas ao invés disso no contexto de um pluralismo
(feminismos africanos) que captura a fluidez e o dinamismo dos diferentes imperativos culturais, forças
históricas e realidades locais condicionando o ativismo feminino/movimentos na África... a inscrição
de feminismos... sublinha a heterogeneidade do pensamento e o engajamento feminista africano como
manifestados em estratégias e abordagens que são, às vezes, complementares e solidárias e, às vezes,
concorrentes e adversárias” (Nnaemeka, 1998a: 5).
Uma aproximação entre teoria e engajamento requer abrir terreno para habitar/
duelar não apenas sobre o que a teoria é, mas, mais importante, sobre o que a teoria
faz, pode ou não pode fazer, e deve ou não deve fazer. As disciplinas nas quais meu
trabalho se situa – estudos africanos, estudos femininos, estudos literários, estudos
culturais e estudos do desenvolvimento – são afetadas por ou implicadas nestes 39
processos. Teorizar em um contexto transcultural é carregado de questões éticas,
políticas e intelectuais: a questão da procedência (de onde vem a teoria?); a questão
subjetividade (quem autoriza?); a questão da posicionalidade (que locais e posições
[sociais, políticas e intelectuais] ela autoriza?). A natureza imperial da formação
de teoria deve ser questionada para permitir um processo democrático que criará
espaço para intervenção, legitimação e validação de teorias formuladas “alhures”.
Em outras palavras, a elaboração de teoria não deveria ser permanentemente um
empreendimento unidirecional – sempre emanando de um local específico e aplicável
a qualquer local – com efeito, permitindo a um constructo localizado impor uma
validade e aplicabilidade universais. Eu defendo, como alternativa, as possibilidades,
a desejabilidade e a pertinência de uma abertura de espaço que permita uma
multiplicidade de enquadramentos, diferentes mas relacionados, de locais diferentes
para tocar, cruzar e alimentar-se um do outro de um modo que acomode realidades e
histórias diferentes. A preocupação de Nussbaum (2000: 40) sobre a aplicabilidade de
um enquadramento universal e único é igualmente pertinente aqui: “[e] precisamos
também questionar se o enquadramento que propomos, se um único e universal,
é suficientemente flexível para nos permitir fazer justiça à variedade humana que
encontramos”. Acima de tudo, a teoria deveria ser usada para elucidar, não para
obscurecer e intimidar.
O “nominalismo” do pós-estruturalismo, a negação da habilidade do
sujeito para refletir sobre o discurso social e desafiar sua determinação, a tese da
indecidibilidade e a afirmação da “função negativa” dos conflitos políticos levaram
8 Conferir Alcoff (1988) para uma discussão do que ela chama de “nominalismo” do pós-estruturalismo;
e também a tese da indecidibilidade de Jacques Derrida (1978) e a “função negativa de Julia Kristeva
(1981: 166).
9 Não estou sozinha nisso. Não faz muito tempo, uma estudiosa/ativista feminista de muito tempo
me informou que ela tinha encerrado sua assinatura de um dos principais periódicos dos estudos
femininos, por causa de “sua filosofia que perdera contato com a realidade”.
10 Aquelas cujas jornadas epistemológicas são guiadas pela oralidade (ndi banyi si) não pela escrita (ndi
banyi delu) são levados a teorizar de modo diferente.
11 Os livros resenhados são Center for Women’s Global Leadership (1994); Cook (1994); e Peters; Wolper
(1995).
12 Conferir Smith (1989: 44–46).
13 Se espaço habitacional é a chave para casamentos harmoniosos, a taxa de divórcios em Beverly Hills
(com suas numerosas mansões) seria uma das mais baixas no mundo!
14 A situação de imigrantes africanos na França é muito mais complexa do que a explicação cultural que
é oferecida aqui. Utilizando o mantra “minha cultura me fez fazer isso” para contextualizar e explicar a
situação dos povos do “terceiro mundo” não é mais aceitável. Não surpreendentemente, um dos ensaios
nesta obra carrega esse mantra como título.
Duas questões pertinentes surgem desse encontro entre Mark Beach (o centro)
e uma mulher em um vilarejo distante e remoto na África, Sibdou Ouada (a margem).
Primeiro, em colisão estão, por um lado, a noção de Sibdou sobre self, de identidade e
de lugar no esquema de coisas e, por outro lado, o desejo de Beach de refazer Sibdou
de acordo com sua percepção de ser – individual, de pé sozinha, tendo um espaço
pessoal. Segundo, o relato do evento alega que Beach aprendeu sobre individualismo
ao fotografar uma enfermeira na África Ocidental. Mas isso não é o que essa história
ensinou a Beach. Era ele quem estava ensinando Sibdou sobre individualismo e
Sibdou, em troca, o ensinou sobre comunidade, aliança e conexão. Dizer que Beach
aprendeu sobre individualismo é conformar o que nós já sabemos – que imperialistas
e colonialistas nunca aprendem com os colonizados: eles os ensinam. Eles não fazem
perguntas; eles fabricam respostas em busca de perguntas. Cruzar fronteiras tem
seus perigos, sua sedução, sua imprevisibilidade, seus momentos humildes, mas
também tem suas recompensas enriquecedoras. Cruzar fronteiras propicia aprender
sobre o “outro”, mas, mais importante, também deveria propiciar aprender com o
outro. Aprender sobre é um gesto que é frequentemente tingido de arrogância e de
um ar de superioridade; aprender com requer uma dose maior de humildade tingida
com civilidade. Aprender sobre frequentemente produz interrogadores arrogantes;
aprender com requer ouvintes humildes.
51
Lila Abu-Lughod propõe que uma reificação mitigada de cultura seja
realizada através da “escrita contra cultura” que focaliza as interconexões entre a
posicionalidade do pesquisador e pesquisado e um afastamento dos sujeitos coletivos
para as “etnografias do particular”15 . O discurso e a prática do desenvolvimento têm
a ganhar com o desenvolvimento do particular. Até que o desenvolvimento assuma
uma face humana e individual, em vez do anonimato do coletivo (os pobres, os
necessitados), ele permanecerá uma meta irrealizável no “terceiro mundo”.
O objetivo será alcançado por meio de um esforço honesto para humanizar
os processos de desenvolvimento e não assumindo que o crescimento econômico
garante o desenvolvimento. A verdade da questão é que as pessoas necessitadas são
seres complexos como a maioria das outras pessoas – comem, trabalham, amam,
fazem compras, dançam, riem, choram, vão passear, abraçam os filhos e assim por
diante. Despojá-los de sua complexidade é negar-lhes sua humanidade. Impulsionados
por considerações humanistas, as organizações filantrópicas e as agências de
desenvolvimento, bem-intencionadas em sua maioria, desumanizam sua tentativa de
humanizar. Como argumentei em outro lugar (Nnaemeka, 1997), a cultura não deve
ser descartada como um fator negativo ou neutro no desenvolvimento; em vez disso,
devem ser feitas tentativas para descobrir de que maneiras a cultura é uma força
positiva que pode servir bem ao desenvolvimento. Como Aung San Suu Kyi (1995)
52
Medi(A)ções africanas: Negofeminismo, construir sobre o autóctone
e (re)clamar o terceiro espaço
54
Na minha opinião, o espaço apresenta uma noção expansiva de terreno
que permite a interação de resistências e realizações no cerne da fronteira e do
engajamento crítico que eu chamo de negofeminismo – o ramo do feminismo que eu
vejo se desdobrar na África.
Mas o que é o negofeminismo? Primeiro, o negofeminismo é o feminismo
da negociação; segundo, negofeminismo significa feminismo do “não ego”. Na
fundamentação de valores compartilhados em muitas culturas africanas estão os
princípios da negociação, dar e receber, compromisso e equilíbrio. Aqui, negociação
tem o dublo sentido de “dar e receber/troca” e de “lidar com sucesso/dar a volta”. O
feminismo africano (ou o feminismo como o vi sendo praticado na África) desafia
por meio de negociações e de acordos.
Ele sabe quando, onde e como detonar as minas terrestres patriarcais;
também sabe quando, onde e como contornar as minas terrestres patriarcais. Em
outras palavras, ele sabe quando, onde e como negociar com ou negociar em torno
do patriarcado em contextos diferentes. Para as mulheres africanas, o feminismo é
um ato que evoca o dinamismo e as mudanças de um processo oposto à estabilidade
a à reificação de um constructo, uma estrutura. Meu uso de espaço – o terceiro
espaço – propicia o terreno para o desdobramento do processo dinâmico. Além disso,
o negofeminismo é estruturado por imperativos culturais e moldado por exigências
globais e locais em constante mudança. A teologia da proximidade fundada no
autóctone instala o feminismo na África como uma performance e como um ato
16 Tome, como exemplo, o provérbio Igbo, ife kwulu, ife akwudebie/quando algo se põe de pé, algo se
põe a seu lado. A atitude de Sibdou Ouda durante a “seção de fotos” (de acenar para seus filhos se porem
ao lado dela) é uma encenação vívida desse provérbio.
17 Conferir Nnaemeka (1998a: 5) Conferir também nota 2, acima, em que uma das participantes africanas
exclamaram “diga a ela [Nussbaum] que não foi para isso que viemos aqui”. Uma participante africana
fez um comentário semelhante quando a luta por supremacia irrompeu entre feministas, mulheristas
e mulheristas africanas na primeira conferência Mulheres na África e a Diáspora Africana (WAAD).
Conferir Nnaemeka (1998a: 31, n. 3).
18 Na primeira conferência internacional WAAD que organizei em Nsukka, Nigéria, em 1992, cerca de 30
porcento dos participantes eram homens. Aproximadamente a mesma porcentagem participou da Terceira
conferência WAAD, em Madagascar. A conferência Mundo das Mulheres acontecida em Kampala, Uganda,
em 2002, também atraiu muitos participantes/palestrantes homens. Na primeira conferência WAAD, algumas
participantes estrangeiras reclamaram da presença de homens (conferir Nnaemeka 1998b: 363–64). Ouvi a
mesma reclamação do mesmo público na conferência de Kampala, em 2002.
Estudos Femininos/Franceses
Universidade de Indiana, Indianápolis
Referências bibliográficas
______. (1995). “The Problem of Speaking for Others.” In: Who Can Speak: Authority
and Cultural Identity, ed. Judith Roof and Robyn Wiegman, pp. 97–119. Urbana:
University of Illinois Press.
AUNG, San Suu Kyi. (1995). “Freedom, Development, and Human Worth.” Journal of
Democracy. 6(2): pp. 11–19.
BEACH, Mark. (1995). “Individual Photograph Unthinkable for West African Woman.”
Mennonite Central Committee News, October 20, pp. 1–2.
BEYALA, Calixthe. (1995). Lettre d’une Africaine à ses surs occidentales. Paris:
Spengler.
BREINES, Wini. (1996). “Sixties Stories’ Silences: White Feminism, Black Feminism,
Black Power.” National Women’s Studies Association Journal. 8(3): pp. 101–21.
BUTLER, Judith. (1994). Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity.
London: Routledge, 1990.
Center for Women’s Global Leadership, ed. Gender Violence and Women’s Human
Rights in Africa. New Brunswick, N.J.: Center for Women’s Global Leadership.
CERTEAU, Michel de. (1984). The Practice of Everyday Life. Trans. Steven Rendall.
Berkeley: University of California Press.
CHRISTIAN, Barbara. (1995). “The Race for Theory.” In: The Post-colonial Studies
Reader, ed. Bill Ashcroft, Gareth Griffiths, and Helen Tiffin, pp. 457–60. London:
60
Routledge.
COOK, Rebecca, ed. (1994). Human Rights of Women: National and International
Perspectives. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
LUGONES, María C.; SPELMAN, Elizabeth V. (1986). “Have We Got a Theory for You!
Feminist Theory, Cultural Imperialism and Demand for the ‘The Women’s Voice.’” In:
Women and Values: Readings in Recent Feminist Philosophy, ed. Marilyn Pearsall,
pp. 19–31. Belmont, Calif.: Wadsworth.
MBEMBE, Achille. (2000). “At the Edge of the World: Boundaries, Territoriality, and
Sovereignty in Africa.” Trans. Steven Rendall. Public Culture. 12(1): pp. 259–84.
MILLER, Christopher. (1993). “Literary Studies and African Literature: The Challenge
of Intercultural Literacy.” In: Africa and the Disciplines: The Contributions of
Research in Africa to the Social Sciences and Humanities, ed. Robert H. Bates, Jean
O’Barr, and V. Y. Mudimbe, pp. 213–31. Chicago: University of Chicago Press.
______. (1998b). “This Women’s Studies Business: Beyond Politics and History
(Thoughts on the First WAAD Conference).” In: Sisterhood, Feminisms, and
Power: From Africa to the Diaspora, ed. Obioma Nnaemeka, pp. 351–86. Trenton,
N.J.: Africa World Press.
OKIN, Susan Moller. (1999). “Is Multiculturalism Bad for Women?” In: Is
Multiculturalism Bad for Women? ed. Joshua Cohen, Matthew Howard; Martha C.
Nussbaum, pp. 9–24. Princeton, N.J.: Princeton University Press.
SKLAR, Richard. (1995). “The New Modernization.” Issue: A Journal of Opinion. 33(1):
pp. 19–21.
SMITH, Valerie. (1989). “Black Feminist Theory and the Representation of the ‘Other.’”
In: Changing Our Own Words: Essays on Criticism, Theory, and Writing by Black
Women, ed. Cheryl A. Wall, pp. 38–57. New Brunswick, N.J.: Rutgers University Press.
TRIPP, Aili Mari. (2001). “The New Political Activism in Africa.” Journal of Democracy.
12(3): pp. 141–55.
62
TUCKER, Vincent. (1999). “The Myth of Development: A Critique of Eurocentric
Discourse.” In: Critical Development Theory, ed. Ronaldo Munck and Denis
O’Hearn, pp. 1–26. London: Zed Books.
YASH, Tandon. (1991). “Foreign NGOs, Uses and Abuses: An African Perspective.”
International Foundation for Development Alternatives Dossier. 81: pp. 67–78.
ABSTRACT
63
This paper, which was an introduction to an anthology of seminal texts of the
American Black feminism, draws a historiographical trajectory of the many phases of
this movement, the so-called “waves”, since the first one, in the 1850’s, when women
stuggled for the abolition of slavery in the US, through the second wave, in the 1970’s,
with its great activist and theoretical currents, until the present day’s third wave, in
which the heteronormativity still present in the precedent phases, essentially white
women’s feminism, is questioned. The author presents a detailed critical analysis
of the terminology that, since the beginning, has been used to qualify or, rather,
disqualify the Black women in the American society, though heavy stereotypes about
the supposedly abnormal sexuality of not only Black men but especially Black women.
Elsa Dorlin reviews the important contributions of the Combahee River Collective
and of authors such as Laura Alexandra Harris, Beverly Guy-Shefall, Patricia Hill
Collins, Kimberly Springer, Michele Wallace, Barbara Smith, Audre Lorde, Hazel
Carby, Angela Davis e bell hooks.
Elsa Dorlin
Filósofa francesa e professora Universitária. Dentre suas obras, pode-se citar: Sexe, genre et sexualités :
introduction à la théorie féministe (2008), La matrice de la race : généalogie sexuelle et coloniale de la
nation française (2006) e Se défendre : une philosophie de la violence (2017).
8 Frederik Douglas (1817-1895): nascido escravo, tornou-se jornalista e foi uma das maiores figuras do
movimento de emancipação e do direito do voto dos negros, do qual foi o orador (Terborg-Penn, 1998).
9 Aqui se vê bem, na fala de Train, de que modo “mulheres” significa apenas as mulheres brancas e,
igualmente, como as “negras” parecem não ter nenhuma identidade de gênero.
12 A tradução de herstory por históriA tenta dar conta do jogo de palavras sobre history e herstory,
maneira irônica para as feministas anglófonas de “se apropriar” de sua história (Sochen, 1974).
13 Voltarei a essas duas temáticas mais demoradamente na última parte deste texto.
14 Mary Ann Weathers, “An argument for Black women’s liberation as a revolutionary force”, No More
Fun and Games: A Journal of Female Liberation, v. 1, n. 2, 1969; disponível on-line no site da biblioteca
universitária da Duke University, que reuniu numerosos arquivos do movimento de libertação das
mulheres estadunidenses, entre os quais muitos documentos do movimento feminista negro: http://
www.scriptorium.lib.duke.edu/wlm/fun-games2/argument.html (acesso em dez. 2007, tradução
minha).
17a Sapphire (literalmente, “safira”): estereótipo muito presente na sociedade estadunidense para
representar as mulheres negras como “naturalmente” atrevidas, grosseiras e mal-humoradas (NT).
As grandes problemáticas
Audre Lorde trabalhou longamente sobre o uso da cólera contra o ódio racista,
cólera que ela não só exprimiu, mas também dirigiu às mulheres brancas, e que
ela articula não como uma força destrutiva da unidade do feminismo, mas para o 77
desdobramento desta, naquilo que ela chama de metamorfose das “diferenças de
potência” (Lorde, 2003: 145). Lorde mostra de que modo o racismo no interior do
feminismo constrangeu as mulheres ao silêncio e que esses silêncios, de ambos os
lados, nos matam: os silêncios das mulheres negras historicamente obrigadas sob
ameaça a se manter fora dos discursos dizíveis e audíveis, silêncios que elas se
extenuam por romper (Harris, 1996), os silêncios das mulheres brancas que são
prisioneiras das estruturas mesmas da dominação que elas interiorizaram e que
permanecem numa mudez culpada quando só o amo se exprime nelas.
18b Fem (ou femme) é termo empregado para designar a lésbica com aparência mais “feminina”, ao
contrário da butch, considerada mais “masculina” (NT).
Ser fem, quando se tem a pele muito clara como Laura A. Harris, é sempre ser
“negra” demais, e, portanto, necessariamente butch, ou “branca” demais, e, portanto,
necessariamente heterossexual. Como as mulheres negras têm sido historicamente
racializadas por sua exclusão das normas binárias de gênero, a força crítica
desencadeada pelas teóricas feministas lésbicas negras constitui a base teórica e
política das práticas do queer. O feminismo negro-queer de Laura Alexandra Harris
constitui a “terceira onda” da politização radical do erotismo, apregoada por Audre
79
Lorde.
Referências bibliográficas
BEAL, F. (1970). “Double jeopardy: to be Black and female”. In: THIRD WORLD
WOMEN’S ALLIANCE. Black Women’s Manifesto. New York: n.d..
BENELLI, N.; DELPHY, D.; FALQUET, J.; HAMEL, C.; ROUX, P. (2006). “Les approches
postcoloniales: apports pour un féminisme antiraciste”. In: Nouvelles Questions
Féministes. Vol 25. No 3.
BOLT, C. (2004). Questioned: Race, Class and Internationalism in the American and
British Women’s Movements, c. 1880s-1970s. New York: Routledge.
CARBY, H. “White Woman listen! Black Feminisme and the Boudaries of Sisterhood”.
In: SOLOMOS, J. (2000). Theories of Race and Racism. New York: Routledge.
CLINTON, C. (2004). Harriet Tubman: The Road to Freedom. New York: Little, Brown
and Company.
FALQUET, J. (2006). “Le combahee River Collective, pionner du féminisme Noir ». In :
FALQUET, J.; LADA, E.; RABAUD, A. (Orgs.) “(Ré)Articulation des rapports sociaux
de sexe, classe et « race ». CAHIERS DU CEDREF. Paris VII.
86
FALQUET, J.; LADA, E.; RABAUD, A. (2006) (Orgs.) “(Ré)Articulation des rapports
sociaux de sexe, classe et « race ». In : CAHIERS DU CEDREF. Paris VII.
HAASE-DUBOSC, D.; John, M. E.; MARINI, M.; MELKOTE, R. (2003). (Orgs.) Enjeux
contemporains du féminisme indien. Paris : MSH.
HARRIS, L. A. (1996). « Queer Black Feminism: The Pleasure Principle”. In: Feminist
Review. No 54. Outono. p. 3-33.
HULL, G.; SCOTT, P. B.; Smith, B. (Orgs.) (1982). All the Women are White, All the
Blacks are Men but Some of Us are Brave: Black Women’s Studies. Old Westburry, N.Y.:
Feminist Press.
MORAGA, C. ; ANDALDÚA, G. (Orgs.) (1980). This Bridge Called Mt Back: Writings
by Radical Women of Color. New York: Kitchen Table.
MUWAKKIL, S. (1988). “Are black males an endangered species?” In: Utner Reader.
Nov/dez.
SMITH, B (1982). “Racisme and Women’s Studies”. In: HULL, G.; SCOTT, P. B.; Smith,
B. (Orgs.). All the Women are White, All the Blacks are Men but Some of Us are Brave:
Black Women’s Studies. Old Westburry, N.Y.: Feminist Press.
SMITH, B. (1983) (Org.). Home Girls: A Black Feminist Anthology. New York: Kitchen
table.
SPRINGER, K. (2002). “Third Wave Black Feminism?” In: Signs: Journal of Women in
Culture and Society. Vol 27. No 4. Verão. p. 1059-1082.
TERBORG-PENN, R. (1998). African American Women in the Struggle for the Vote –
1850-1920. Indiana University Press.
THIRD WORLD WOMEN’S ALLIANCE (1970). Black Women’s Manifesto. New York:
n.d..
WALLACE, M. (1978). Black Macho & The Myth of the Superwoman. London: John
Calder.
88
WALLACE, M. (1982). “A Black Feminist’s Search for Sisterhood”. In: HULL, G.; SCOTT,
P. B.; Smith, B. (Orgs.) All the Women are White, All the Blacks are Men but Some of Us
are Brave: Black Women’s Studies. Old Westburry, N.Y.: Feminist Press.
RESUMEN
1 Este texto, originalmente publicado em espanhol sob o título “Indroducción. Construyendo puentes:
em diálogo desde/con el feminismo negro”, faz parte da Antologia de textos Feminismos negros: una
antologia, organizada por Mercedes Jabardo em 2012. Agradecemos à autora pela concessão de direitos
autorais deste texto. Tradução em língua portuguesa de Liliam Ramos da Silva e Adriana Kerchner da
Silva (UFRGS).
Destacar duas entre centenas de vozes resgatadas nesse período não é uma
tarefa fácil. No entanto, Ida Wells e Sojourner Truth são sem dúvida duas das mais
significativas. E o são tanto por suas posições teóricas (no caso de Wells) quanto pela
coragem e lucidez de uma mulher iletrada (como Sojourner Truth). Elas assentaram
as bases do que seria o pensamento feminista negro (a clara ligação da reflexão teórica
às estratégias de mobilização) e também são o reflexo da forma coletiva de produção
do conhecimento do feminismo negro. Diferentemente do feminismo branco,
que tem seu momento fundacional no Iluminismo e reproduz a racionalidade do
2 No Brasil, há discussões sobre a utilização dos termos “raça” e “etnia”. Enquanto “raça” se referiria
ao fenótipo, “etnia” contemplaria características socioculturais. No texto-fonte, a autora emprega a
palavra raza (raça) sempre entre aspas. Para preservar a ideia controversa que o conceito apresenta,
optamos por manter o termo “raça” entre aspas. (Nota das tradutoras)
3 Como latino-americanistas e pesquisadoras de literatura afro-americana que contempla a produção
de autoria negra na América enquanto continente, traduzimos afro-americano (e suas variáveis de
gênero e número) por afro-estadunidense na intenção de marcar a nacionalidade em questão. (Nota
das tradutoras)
5 Assim destacava o eminente sociólogo Ritzer (2005) em sua mais recente recuperação das sociólogas
afro-estadunidenses.
6 No texto de partida: “Las herramientas del amo nunca desmontan la casa del amo. Quizá nos permitan
obtener una victoria pasajera siguiendo sus reglas del juego, pero nunca nos valdrán para efectuar
un auténtico cambio” (tradução nossa). É possível acessar à tradução completa do texto no par de
línguas inglês-português realizada por Tatiana Nascimento em <https://www.academia.edu/11277332/
LORDE_Audre_-_As_ferramentas_do_mestre_nunca_v%C3%A3o_desmantelar_a_casa-grande>,
acessado em 10.mar.2019
7 A matriz de dominação faz referência à organização total de poder em uma sociedade. Há duas
características em qualquer matriz: 1) cada matriz de dominação tem uma particular disposição dos
sistemas de intersecção da opressão; e 2) a intersecção dos sistemas de opressão está especificamente
organizada através de quatro domínios de poder interrelacionados: estrutural/disciplinário/
hegemônico/interpessoal. A intersecção de vetores de opressão e de privilégio cria variações tanto nas
formas quanto na intensidade na qual as pessoas experimentam a opressão (Collins, 2000b, p. 299,
tradução nossa).
James C. Scott afirma, no livro que fez com que nos aproximássemos de forma
98 diferente das lógicas ocultas dos grupos subalternos:
O que Angela Davis nos apresenta nesse texto é um dos espaços sociais onde
crescia o discurso oculto das mulheres negras, aquele de onde respondiam, resistiam
às construções ideológicas que, no poder, moldavam sua sexualidade como primitiva
e exótica. Esse espaço, que Patricia Hills Collins incluiu em uma categoria mais ampla
como espaço social e cultural, é o das cantoras negras de blues da primeira parte do
século XX. Angela Davis não é a primeira nem a única entre as feministas negras que
explorou esse espaço. As cantoras de blues exerceram um forte fascínio nas feministas
negras, sobretudo estadunidenses, já desde os primeiros textos literários.8 No entanto,
8 Ver, entre outras, Toni Code Bambara, Gayl Jones, Sherley Anne Williams, Alice Walker, Mary Helen
Washington, Toni Morrison, Alexis De Veaux e Jessica Hagedorn. Nos anos 80 do século XX iniciam
as explorações feministas do blues com os trabalhos de Rosseta Reitz, Sandra Leib e Daphne Duval
Harrison.
9 Hazel Carby analisa as obras de Zora Neale Hurston, Jessie Fauset e Nella Larsen.
100 When a woman gets the blues, she hangs her head and cries.
When a man gets the blues, he flags a freight train and rides. 11
14 Ver, entre outras, Amos, Parmar (1984), Parmar, Miza (1981), Brah, Minhas (1985), Lewis, Parmar
(1983), Bryan, Dadzie, Scafe (1985), Visram (1989), Bhachu (1988), Phoenis (1988), Parmar (1990), Brah
(2011).
O debate que Pratibha Pramar deixou aberto em Black Feminism: The Politics of
Articulation está no centro das novas contribuições que as experiências pós-coloniais
e diaspóricas dão ao feminismo negro. As categorias raciais fechadas e binárias
sobre as quais se construiu o pensamento feminista negro são problemáticas em
tempos pós-modernos. A questão da identidade – dizia Pramar – adquiriu um peso
colossal para aquelas de nós que somos migrantes pós-coloniais habitando histórias
de diáspora. Mas, como se define hoje a identidade? Stuart Hall (2000), o “intelectual
da diáspora”, como foi denominado por Kuan-Hsing Chen (2011), discute o tópico nos
seguintes termos:
E para terminar
Até aqui vai meu diálogo pessoal com as autoras selecionadas nesta antologia.
A partir de agora, apenas suas vozes. São seus textos que realmente convidam
para um diálogo.
Pessoalmente, sinto-me feliz de estar em tão grata companhia.
Referências
AMOS, Valerie; PARMAR, Pratibha. “Many Voices, One Chant: Black Feminist
110 Perspectives”. Feminist Review, n. 17, 1984.
BHACHU, Parminder. “Apni Marzi Kardhi. Home and Work: Sikh Women in Britain”.
In: WESTWOOD, Sallie; BHACHU, Parminder (Orgs.). Enterprising Women: Ethnicity,
Economy and Gender Relations. Londres: Routledge, 1988.
BRYAN, Beverley; DADZIE, Stella; SCAFE, Suzanne. The Heart of the Race. Black
Women’s Lives in Britain. Londres: Virago, 1985.
______. “It jus be’s dat way sometime: the sexual politics of women’s blues”. Radical
America, v. 20, n. 4, p. 9-24, 1986.
111
______. Race Men: The Body of Soul and Race, Nation and Manhood. Cambridge:
Harvard University Press, 1998;
______. “White Women Listen! Black Feminism and the Boundaries of Sisterhood”.
In: CENTRE FOR CONTEMPORARY CULTURAL STUDIES. The Empire Strikes Back.
Race and Racism in 70s Britain. London: Routledge, 1982.
COLLINS, Patricia Hill. “Gender, Black Feminism and Black Political Economy”. In:
ANNALS OF THE AMERICAN ACADEMY OF POLITICAL AND SOCIAL SCIENCE,
n. 568, p. 41-53, 2000a.
DUNEIER, Mitchell. “On the legacy of Elliot Liebow and Carol Stack: context-driven
fieldwork and the nees for continuous ethnography”. Focus, v. 25, n. 1, 2007.
hooks, bell. Ain’t a Woman: Black Women and Feminism. Boston: South End, 1981.
______. Talking Back. Thinking Feminist. Thinking Black. Boston: South End, 1989.
112
______. Feminist theory: From margin to center. Boston: South End, 1984.
HULL, Gloria; BELL SCOTT, Patricia; SMITH, Barbara. All the Women are White, All
the Men are Black, But Some of Us Are Brave. New York: The Feminist Press, 1982.
FEKWUNIGWE, Jayne. (1999) “When the Mirror Speaks: The Poetics and
Problematics of Identity Construction for Métisse Women in Bristol”. In: BAROT,
Rohit; BRADLEY, Harriet; FENTON, Steve. (Eds.). Ethnicity, Gender and Social
Change. London: Palgrave Macmillan, London, 1999.
LEWIS, Gail; PARMAR, Pratibha. Review Article: Black Women Writing. Race and
Class, v. 25. n. 2, 1983.
LIEBOW, Elliot. Tally’s Corner: a study of negro streetcorner men. Boston, MA: Little
Brown, 1967.
MIRZA, Heidi Safia. Black British Feminism. A Reader. London, New York: Routledge,
1997.
MOYNIHAN. The negro family. The case for national action. Washington, D.C:
Departament of Labor, 1965.
PARMAR, Pratibha; MIRZA, Nadira. “Growing Angry. Growing Strong”. Spare Rib, n.
1111, 1981.
______. Black Feminist and the Politics of Articulation. In: RUTHERFORD, Jonathan.
(Org.). Identity, Community, Culture, Difference. Londres: Lawrence and Wishart,
1990.
PHOENIX, Ann. “Narrow Definitions of Culture: The Case of Early Motherhood”. In:
WESTWOOD, Sallie; BHACHU, Parminder (Orgs.). Enterprising Women: Ethnicity,
Economy and Gender Relations. Londres: Routledge, 1988.
RUBIN, Gayle. “The Traffic in Women. Notes on the ‘Political Economy’ of Sex”. In:
REITER, Rayna (Ed.) Toward an Anthropology of Women. New York, Monthly Review
Press, 1975.
STACK, C. All our Kin: Strategies for survival in a black community. Nova Iorque:
Harper and How, 1972.
TRINH T. MINH-HA (Ed.). “She, the Inappropiate/d Other. Special Issue on Third
World Women”, Discourse, v. 8, 1987.
TRUTH, Sojourner. “E não sou eu uma mulher?” In: Convenção dos Direitos da Mulher,
1852.
VISRAM, Rozina. Ayahs, Lascars and Princess: Indians in Britain 1700-1947. Londres:
Pluto, 1989.
WELLS, Ida B. “Horrores sureños: la ley Lynch en todas sus fases”. In: JARBADO,
114
Mercedes (Org.). Femenismos negros: Una antologia. Madrid: Traficantes de sueños,
2002. Tradução de Mijo Miquel.
RÉSUMÉ
Cet article aborde quelques défis pratiques rencontrés lors de la traduction anglaise
du roman d’Yvonne Mété-Nguemeu, Femmes de Centrafrique, âmes vaillantes au
115
cœur brisé (2008) d’un point de vue féministe. Pour relever efficacement ces défis,
l’approche adoptée est celle d’une traduction féministe parce que Mété-Nguemeu
est une écrivaine féministe. Les différences grammaticales entre les deux langues
sont des sources majeures de défis dans la traduction du discours féministe de
Mété-Nguemeu. La particularité des expériences vécues par les femmes africaines
est facilement comprise et immédiatement traduite non seulement d’un point de
vue empathique en tant que femme, mais aussi en tant que traductrice féministe
africaine en particulier. Une traductrice féministe traduit mieux un roman féministe
ou une auteure féministe.
Introduction
This article deals with the practical experience of translating Yvonne Mété-
Nguemeu’s novel, Femmes de Centrafrique, âmes vaillantes au coeur brisé (2008),
which is still currently being translated into English. The feminist affinity and the
Ngozi O. Iloh
Department of Foreign Languages. Faculty of Arts. University of Benin, Benin City, Nigeria. Email:
[email protected], [email protected]
Author’s audience/target
Translator’s audience/target
Much as the author wishes to reach out to the world, as the translator of her
book, I maintain a similar goal as well. The affinity between author and translator
usually most often merge mission and goal. The choice of translating this author,
for me, is borne out of the admiration of the feminist strategy and style of the
author. Apart from just broadening people’s knowledge of the situation in CAR, this
translation of local women issues will also serve to situate the existence of feminist
tendencies among the uneducated as portrayed by the author, which contradicts the
opinion that feminism is only a modern issue.
The main target of the translation being done is an international audience,
but the choice of the English variety depends not only on the translator but on the
publishers as well. However, my choice of the variety of English is determined by
the mission of attaining a wider coverage. My primary concern is the activity or
the intervention of the translation since my disposition is equally multi-linguistic in
context, given the colonial experiences of assimilation and association, despite the
existence of the African languages, which form the basic mother tongues for both
author and I as the translator. The similarities of historical experiences make the
It is worthy of note that the works of African female writers have come to stay,
even though despite being late in entering the literary world. Before the entrance
of African female writers on the scene, which had been pre-dominated by the men
whose numerous works were read in translations without the readers having any
strange feelings because they were good translations, there were very few female 119
translators. It is however worthy of note that, among these male authors, their works
were majorly translated by the male folks. One really got fascinated coming across
two female translators among them that were equally outstanding. They are Dorothy
Blair and Katherine Wood.
Dorothy Sara Blair (née Greene), a British, is a renowned female translator who
had earlier caught my attention since I have read translated works of African authors
either from French to English or vice-versa. Among her numerous translations are the
Senegalese Birago Diop’s Tales of Amadou Koumba, translated in 1966, the Guinean
Alioum Fantouré’s Tropical Circle (1981), and the Beninese Olympe Bhely-Quenum’s
Snares without End (1981). But of paramount interest to me are her translations of the
African female authors of which are notably three from Senegal: Aminata Sow Fall’s
The Beggars’ Strike (1981), Nafissatou Diallo’s A Dakar Childhood (1982) and Mariama
BÂ’s Scarlet Song (1995). I have restricted myself to only African authors.
The Scottish, Katherine Wood (née Kostenuk) translated the Senegalese
Cheikh Hamidou Kane’s Aventure ambigu as Ambiguous Adventure (1963) and could
be said to be Blair’s contemporary. Despite not being Africans, these two female
translators must be commended on their translations.
Of paramount interest in this article are African female translators of African
female writers. African female translators are on the rise. However, the likes of Irène
A. D’Almeida (Beninese) and Olga Mahougbé Simpson’s (Beninese) translation of the
Yvonne Mété-Nguemeu is a feminist and does not hide it. In the interview1
we had, she affirms that she is a feminist whose wings were clipped too early and
as a result, got frightened and did not know how to take off in order to write about
the happenings in her country; she believes that the courage will come from the
women folks. She believes that women from her country are great feminists on their
own, especially given their fighting spirit in trying to combat the ills of their society,
and especially fighting to get them liberated from the jaws of masculine chauvinism
characterized by exploitation and oppression.
Themes explored by Mété-Nguemeu include: female genital cutting-otherwise
known as female circumcision, everyday domestic lives of the average Central African 121
woman and girl-child marriage, bride price syndrome, repudiation, widowhood
practices, rape as a weapon of war, which all make up the practical experiential
narration of Yvonne (narrator) and the Central African girl-child and women.
What type of feminism is Mété-Nguemeu talking about? Much as I will not
like to prolong this write-up, it will however be pertinent to expound a little on
feminism here since there exist varieties or variants of feminism.
Davies (2007) recognizes the existence of African feminism that examines
the societies and various institutions of importance to the African women. This is
the feminism that will be explored and the variant of radical feminism that insists
that women should not be hidden and the feminine social gender should not be
subsumed in masculine or neutral genders. This is because notable African female
authors have in the past denied being feminists. In this group fall writers like
Ken Bugul (Senegalese), Aminata Sow Fall (Senegalese), Flora Nwapa (Nigerian)
and Buchi Emecheta (Nigerian) (see Umeh, 1996). I recognize Werewere Liking
(Cameroonian) and D’Almeida’s (1993: 49) ‘misovire’, Clénora Hudson-Weems, Alice
Walker and Chikwendu Okonjo-Ogunyemi’s ’Africana Womanism’ (see Hudson-
1 Interview with Mété-Nguemeu in Mété-Nguemeu & Iloh (2013: 15), Je suis une féministe dont les ailes
ont été brulées trop tôt et qui a eu peur de prendre son envol afin d’écrire un pan de l’histoire de son pays.
[…]. Mais je continue à croire en la force des femmes…. (I am a feminist whose wings were clipped too
early and as a result got frightened from writing a little of my country’s history. […]. But I still believe in
the power of women…). (The English translation is mine).
Translation experience
The translation activity is interesting but full of challenges, which form part
of this study. I will highlight the major challenges which cut across the book in
question. What English? If one may ask. Meanwhile, the work is currently being
translated into British English which could subsequently be adapted or rendered into
American English for a wider coverage. Mété-Nguemeu is a radical feminist, who
chooses not only to fight for the liberation of the women in Central African Republic,
but practically displays it in the choice of her vocabulary. This will be examined in
this paper. We shall take a look at the feminist vocabulary and the author’s linguistic
innovation through the use of proverbs and metaphors as well as specific feminist
discourse. Most African female writers are blunt and go straight to the points without
mincing words. As a female African translator, I will maintain the same strategy of
bluntness.
It can be seen that the defender in French has a feminine gender, which is
lost in the translation. I equally jotted down “human right activist” and also ‘women
human right activist’ to reflect the French feminine gender. The entire narration will
definitely show the feminization of the characters.
Female circumcision is a theme of paramount interest to most African writers,
especially the female writers. Gordon (1997) traces its origin to over 2,500 years.
Mété-Nguemeu can be compared with many writers like Kourouma in Les Soleils
des indépendances (The Suns of Independence), who narrates Salimata’s harrowing
experience, but Mété-Nguemeu succeeds in explaining to her audience without
giving any specific case. According to Gordon (1997), female circumcision is practiced
in most African countries and some other countries of the world.
Below are some examples of the author’s innovations of the feminist language
or discourse, which became major challenges to me in the course of the translation.
124 • Quelques jours avant l’opération, les exciseuses professionnelles, femmes
mûres du village, passaient régulièrement de maison en maison pour
sélectionner les fillettes prêtes à subir l’ablation (27).
• Some days before the operation, the professional female circumcision
practitioners, matured women from the village, were moving from house
to house selecting young girls ripe to undergo ablation (mutilation,
amputation).
• Les exciseuses (27)
• Female circumcision practitioners
Is it necessary to insert the qualifying adjective ‘female’ since the context of the
narration already shows that the female circumcision requires female practitioners,
as the circumcision of the males is carried out by only the male folk? But, in order to
feel the presence of the women, I had to insert ‘female’
• Avant d’arriver à notre maison, il y avait deux familles avec des filles, et mes
sœurs et moi, la mort dans l’âme, suivions la progression de ces recruteuses
du mal (28).
• Before we got home, there were already two families with their daughters,
then my sisters and I, holding our hearts in our hands, we followed the
advancement of these recruiters of evil/bad omen.
The literary commitment of the author, which must be kept in view, is to see
that female circumcision is discouraged. She made a lot of jest out of her deliberate
use and choice of feminized vocabulary, which gives the book a feminist outlook.
Much as in French, gender is mandatory because of the language grammar. It is
impossible in French to talk about women without feminine words but where I
commend the author in her choice of words is where she goes beyond the generic use
of some nouns and ‘creates’ a non-existent feminine gender. She also capitalized on
that by her deliberate choice of aggressive words that portray and show the pains,
agony and suffering girls undergo in the process of circumcision such as: Ablation
(27), opération (27), douleur (30), acte d’amputation (30), souffrance (32), épreuve
(32). These, I translated respectively as: Ablation, operation, pain, act of amputation,
suffering, test.
Similarly, the following words all end with the suffix euse:
Exciseuses (27) - Circumcision pratitioners
Recruteuses (28) - Recruiters
Visiteuses (30) - Female visitors
Réveilleuse (35) - Alarm (waker)
Voleuses (41) - Thieves
The author was also creative in her choice of proverbs which she builds around
the feminine gender. For instance:
• Une bonne calebasse ne traîne jamais sur l’eau ou une bonne calebasse ne
dérive pas longtemps sur la rivière sans trouver preneuse (74)
• A good calabash never stays long in the river or a good calabash is never
neglected in the river without attracting attention.
Metaphors
Conclusion
References
ARNDT, Susan. (2002). The Dynamics of African Feminism: Defining and Classifying
African Feminist Literature: Trenton, NJ: Africa World Press.
BA, Mariama. (1979). Une si longue lettre. Dakar: Nouvelle Édition Africaine.
BEYALA, Calixthe. (1987). C’est le soleil qui m’a brûlée. Paris: Stock.
EMECHETA, Buchi. (2009). “Feminism with a Small ‘f’ !”. In: OLANIYAN, Tejumola
& QUAYSON, Ato. (eds). African Literature: An Anthology of Criticism and Theory. p.
551-557.
ILOH, Ngozi Obiajulum. (2015). “Evolution of the Central African Woman’s Condition
in Mété-Nguemeu Femmes de Centrafrique: Ames vaillantes au cœur brisé”. In :
CONFERENCE OF THE AFRICAN LITERATURE ASSOCIATION (ALA), 41th.
ILOH, Ngozi Obiajulum. (2016). “Le viol comme arme de combat dans Femmes de
Centrafrique: Ames vaillantes au cœur brisé de Mété-Nguemeu: Où est la justice?”. In:
CONFERENCE OF THE AFRICAN LITERATURE ASSOCIATION (ALA), 42nd.
METE-NGUEMEU, Yvonne. & ILOH, Ngozi Obiajulum. (2013). “Entretien avec Yvonne
Mété-Nguemeu, auteur de Femmes de Centrafrique, Ames vaillantes au cœur brisé” .
Voix Plurielles : Revue de l’Association des Professeur-e-s de Français des Universités et
Collèges Canadiens (APFUCC), n. 10, 2: p. 474- 489.
UMEH, Marie. (1996). “African Women in Transition in the Novels of Buchi Emecheta”.
In: UMEH, Marie. Emerging Perspectives on Buchi Emecheta. Trenton: Africa World
Press, Inc. p. 190-201.
VON FLOTOW, Luise. (1991). “Feminist Translation: Contexts, Practices and Theories”.
TTR: traduction, terminologie, redaction, n. 4, 2: p. 69-84.
131
RESUMO
132 Os estudos sobre feminismo em tradução têm recebido considerável atenção no
Ocidente, especialmente no Canadá, de onde ele se irradiou. De igual modo, estudos
sobre tradução e feminismo negro têm sido empreendidos por pesquisadores como
Silva-Reis e Sousa de Araujo (2015) e Amissine (2015). Há, no entanto, poucos estudos
centrados na tradução de textos literários de autoras feministas africanas em alemão.
Este artigo portanto examina como o mulherismo de The Joys of Motherhood, de
Buchi Emecheta, foi translado para o alemão. Contra esse pano de fundo, analisaram-
se as duas traduções publicadas, sob diferentes ideologias políticas, durante a divisão
da Alemanha em dois Estados. Visou-se determinar de que modo os mecanismos de
tradução influenciaram a maneira como o ativismo feminista negro é representado
num ambiente sociocultural específico. O objetivo é mostrar como o mulherismo
está representado de maneiras diferentes nas duas traduções alemãs deste romance
africano.
Omotayo I. Fakayode
Department of Linguistics and Language Practice. University of Free State, Bloemfontein, South Africa.
Email: [email protected]
One of the most popular Nigerian female writers, Buchi Emecheta, who
lives in Britain empathizes with women in her works and is highly “respected for
her imaginative and documentary writing about African women’s experiences”
(Olawoyin 2017). She has been described as one of the most important female
authors to emerge from postcolonial Africa and is distinguished for her vivid
description of female subordination and conflicting cultural values in modern
Africa (Sougou 2002). In addition, Emecheta is “highly regarded for introducing
an authentic female perspective to contemporary African literature” (Essay 2018).
In her novels, she engages the injustice of traditional male-oriented African social
customs that relegate women to a life of child-bearing, servitude and victimization.
Due to her preoccupation with feminine issues, amongst others women/girls as
protagonists, motherhood and marriage (an important cultural tradition for African
women), Emecheta has been classified as a feminist writer. However, in an essay on
contemporary literary criticism, it was noted that:
133
Whatever she opines with her own type of feminism with the small “f ” could
probably be deduced from her writings. This could be based on the fact that she still
recognizes African culture and traditions in her works. She eulogizes the female
character and is preoccupied with the injustice and inequalities girls and women suffer
in the African society. She sees marriage as perpetuating a woman’s powerlessness
and motherhood compounding her disability. This in a way aligns with the notion of
Western feminism but departs from the radical feminism of Western culture.
Emecheta has published several works and the most published of them is The
Joys of Motherhood. This work portrays a tale of a conventional African lady Nnu Ego
– a personality who knows her character and its completion in having numerous kids
particularly the male. In spite of poverty, she defines herself as rich for she has three
sons. In terms of Ibuza tradition, she thought she would experience an agreeable
seniority because of the assistance of her children. Having described Nnu Ego’s
excruciating life in Lagos, a colonized city, the novel concludes with her shocking
death. A desolate passing on without a child to hold her hand and no companion
to converse with her. She had never truly made numerous companions as she was
occupied with delights of motherhood. Describing the novel, Marie Umeh states:
From the above, it can be deduced that although the title of the novel
seems to romanticize motherhood, the theme of the novel contradicts the essence
of the title. The title of the novel is appealing, especially to an African feminist,
since it encapsulates motherhood and “appears to be part of the significant body of
feminist literature concerned with women’s experience of motherhood in patriarchal
cultures” (Maclean 2003: 1). The irony of the title, The Joys of Motherhood does not
however imply that the feminist writer, Emecheta, jettisons the need to be a mother
in the African society. She, as a matter of fact, does not align herself to the notions
of radical feminism, but rather to the need for African women to reject traditional
stereotypes and to opt for a radical change of their situation in society. In view of the
above, the following section reviews the relevant concept of black feminism, namely
Womanism.
Womanism is a reasoning that praises African roots, the beliefs of African life,
while giving a clear presentation of the African woman liberation. Its ultimate aim
is black solidarity where each African individual has some form of power (Adesanmi
2004 cited in: Alkali 2013: 241).
For years, Germany was dominated by different political and economic systems
and two worldviews with different ideologies emerged, namely liberal democracy
or capitalism in West Germany and socialist democracy or communism in East
Germany. The difference between these ideologies lies in the fact that West Germany
favored the ideology of liberalism or private property, which lead to a philosophical,
economic and political current that aspired individual freedom or individualism as a
normative basis of the social and economic order. East Germany saw the development
of an ideology of socialism, which referred to a communist model of private property.
The aim of the East Germany ideology was to change the existing social relations to
ensure social equality and justice, as well as a social order organized according to
these principles. During this period of division, relations between the two German
states were reserved and sometimes hostile. A socialist dictatorship was put into
place in East Germany, the press was censored and the economy was owned and
According to Haug (2018), socialist feminism insists that in the modern world,
the oppression of women is inextricably linked to the history of capitalism and that
feminist demands for change must therefore address the structural links between
patriarchy and capitalism. In East Germany where socialism existed, Marxist terms
were adopted and corollary to this, women were encouraged to reproduce. Women
in the German Democratic Republic (GDR) were also actively involved in the work
force. There were kindergartens and crèches to take care of their children and their
husbands typically took part in the house chores.
In contrast to this, women in Federal Republic of Germany (FRG) were
typically housewives. They looked after children and did the house chores while
their husbands went to work and therefore, were the breadwinners. This is a major
point of critique of the mode of production of capitalism, which involves women’s
oppression in the form of the acquisition of unpaid labour and the use of women in
gender-typical division of labour needs. In view of this, there were more laws in the
GDR that favoured reproduction rights for women than in the FRG. One of this was
the “Muttipolitik” (Myra 1992). On the other hand, the FRG was far less generous in
its social policy for working mothers than the GDR. FRG laws were equally based on
gender-specific requirements and the availability of the mother after lengthy school
hours and so forth. These laws were less based on the compatibility of professional life
Munday (2010) opines that the central intersection of Translation Studies and
Postcolonial theory is that of power relations. Postcolonial theory aims to account
for the ideological consequences of the translation of “Third World” literature into
European languages and the distortion it entails. Spivak (2004), for example, spoke
out against Western feminists who expect feminist writings from outside Europe to
be translated into the language of power, English. According to Munday (2010), such
translation in Spivak’s view, is often expressed in “translatese”, which eliminates
the identity of the politically less powerful individuals and cultures. Postcolonial
Translation Theory, linking colonization and translation, “is accompanied by the
argument that translation has played an active role in the colonization process and 137
in disseminating an ideologically motivated image of colonized peoples” (ibid: 132).
Spivak goes further to describe a kind of “politics of translation” whereby translation
gives prominence to “hegemonic” languages (of ex-colonizers). In this vein, she
admonishes Western feminism by saying that feminists from hegemonic countries
should show real solidarity with women in postcolonial contexts by learning the
language in which those women speak and write.
The assertion of Spivak on Postcolonial theory and her critique of feminism
in the postcolonial context is vital to this study. Her idea of politics of translation
is used to evaluate to what extent German translators have been able to assimilate
African feminism in the target texts. In the following, an analysis of the two German
translations of the selected novel shall be carried out.
In this section, I first analyze the respective translations of the novel’s title
and thereafter the analysis of the translations of the chapter titles in the book.
It is worthy to note that the author emphasizes a crucial aspect of Igbo culture
through the title of the novel. Marriage is very important in the lives of Igbo women,
so also is motherhood (Akujobi 2011). In fact, motherhood crowns a woman’s marriage
in Igbo culture and it is symbolic to the essence of marriage. Therefore, the author
depicts this cultural belief as “Joys” and thus, “Joys of Motherhood”.
The GDR translator transferred the title into German as closely as
possible. Even though the word “motherhood” was translated as “Mutter” and not
“Mutterschaft” in this translation, the source text author’s concept of “Motherhood”
is still communicated to a large extent. The GDR version of the title reads Die Freuden
einer Mutter.
On the other hand, the individualistic nature, which is corollary to liberalism
in a capitalist society can be deduced from the West German translation of the title as
Nnu Ego. Zwanzig Säcke Muschelgeld (Nnu Ego. Twenty Bags of Cowries). In this title,
the translators emphasize the heroine of the novel, Nnu Ego. This is individualistic
and not part of the intention of the author. The translators also further state the
meaning of the name Nnu Ego as “Zwanzig Säcke Muschelgeld” [Twenty bags of
cowries]. Being a capitalist society interested in economic profits, the meaning of the
heroine’s name is quite important for the West German translators. More specifically,
they attempt to present the theme of the novel as only focused on the individual and
138 in so doing emphasize her economic value. Thus, the communal life of an African
woman in relation to her family, husband and children, is overlooked. Besides,
reframing the title in this case underestimates African feminism, which emphasizes
motherhood as a joyous experience.
The novel has 18 chapters, of which seven refer to “the mother”, six focus
on men, two on girls, one on children and two on economy. Of the 18 chapters,
the East and West translators translated nine of them the same way and nine of
them differently. Ideological undertones can however be deduced from the different
translations. In the similar translations, the translators maintained a close equivalent
to the source text, for example:
It is worthy to note that the two translators translated some chapter titles not
exactly, probably due to differences between English and German. For example:
There are however two examples of such a case from which ideological
undertones could be inferred. In these cases, an indefinite article was replaced
by a definite one. The ideological implication of the replacement of an indefinite
with a definite article can be understood in the context of communality versus
individualism. The use of “a/an” could be communal referring to anyone while “the” is
more particular. The communal or socialist ideology versus liberal or individualistic 139
one can be deduced from the differences between the East and West translations of
the following titles:
In a few cases, there are inferences to socialist ideology in the West German
translation and liberalism in the East German translation. For example, the title
of chapter 11 which reads “Sharing a Husband” (JOM p. 140) is translated as “Ein
Mann für zwei Frauen” [A man for two women] (p. 149) in GDR’s version and as
“Zwei Frauen teilen sich einen Mann” [Two women share a man] (p. 141) in FRG’s
translation. Despite the fact that the notion of sharing is more paramount in a social
economy like that which existed in East German at the time, the East German
translator completely reframed the title in a capitalist way. He omitted the word
“share” whereas in contrast to this, in the West German translation, the word “share”
(teilen) is emphasized as the translator chose to be more explicit than the author
herself.
A similar scenario played out in chapter 16 where the East German translator
140 omitted the indefinite article in his translation, making the translation more
individualistic. The West German translators translated as close as possible to the
original and by doing so (adding “eine”), the idea presented in the title is less specific.
The title of the chapter and its translations read:
Conclusion
From the foregoing, it has been shown that there are considerable differences
between the East and West German translations of Emecheta’s The Joys of Motherhood
title and chapter titles, which have resulted in variations in the representation of
Black African Feminism to the target reader. It has also been discussed that the
author’s own feminism, which is Womanism, is different from the radical feminism
from the West. In line with Postcolonial Theory, which describes how Western
ideologies tend to colour translations from third world countries, Spivak criticizes
the Western feminist and postulates the need to show solidarity with women in
postcolonial contexts by learning what is theirs and representing it accordingly. The
References
ALKALI, Muhammad; TALIF, Rosli. YAHYA, Wan Roselezam Wan & JAN, Jariah
Mohd. (2013). “Dwelling or Duelling in Possibilities: How (Ir)relevant are African
Feminisms?” GEMA Online Journal of Language Studies, n. 3, 13: p. 237-253.
AMISSINE, Itang. (2015). “Feminism And Translation: A Case Study of Two Translations
of Mariama Ba: Une Si Longue Lettre (So Long A Letter) and Un Chant ecarlate (Scarlet
Song)”. Mini-Dissertation (Masters in Applied Language Studies) – University of
Pretoria.
BARFI, Zahra & ALAEI, Sarieh. (2015). “Western Feminist Consciousness in Buchi
Emecheta’s The Joys of Motherhood”. International Letters of Social and Humanistic
Sciences, n. 1, 1: p. 12-20.
EMECHETA, Buchi. (1983). Die Freuden einer Mutter. Translated by Rainer Ronsch.
Berlin: Verlag Neues Leben.
EMECHETA, Buchi. (1983). Nnu Ego. Zwanzig Sacke Muschelgeld. Translated by Helmi
Martini-Honus and Jurgen Martini. Munchen: Frauenbuchverlag.
FEREE, Myra Marx. (1992). “Aufstieg und Untergang der “Muttipolitik”: Feminismus
und deutsche Vereinigung”. Diskurs 2, n. 1, p. 60-65.
MACLEAN, Patricia. (2003). How Buchi Emecheta’s The Joys of Motherhood Resists
Feminist and Nationalist Readings. Deep South. Available at: <http://www.otago.
ac.nz/deepsouth/2003_01/motherhood.html>. Accessed on: 8 December 2018
SOUGOU, Omar. (2002). Writing Across Cultures: Gender Politics and Difference in
the Fiction of Buchi Emecheta. New York: Rodopi.
UMEH, Marie. (1982). “The Joys of Motherhood: Myth or Reality?” Colby Quaterly, n.
1, 18: p. 39-46.
143
RESUMO
ABSTRACT
Israel V. de Melo
Universidade de Brasília (UnB), Brasil. E-mail: [email protected]
2 As contribuições das culturas africanas no contexto brasileiro não se restrigem unicamente à dinâmica
iorubana. Ainda que seja possível elencar a formação das religiões de matriz africana tendo por base
o conjunto de elementos culturais iorubanos, outros conjuntos de grupos culturais influenciaram
fortemente as relações socioculturais brasileiras. A saber, grupos proveninentes, em maior escala, da
África Ocidental: em registro, os povos Bantus, os Mandingas, os “Malês”, que, embora não constituissem
uma etnia, agrupavam os muçulmanos escravizados. Nei Lopes, em Dicionário escolar afro-brasileiro
(2006), Enciclopédia da Diáspora africana (2004) e Bantus, Malês e identidade negra (1988) apresenta
dados consubstanciais a respeito da formação das identidades afro-brasileiras a partir de uma dinâmica
de orientação africana. É igualmente pertinente o trabalho da historiadora estadunidense Gwendolyn
Midlo Hall, notadamente, Escravidão e etnias africamas nas Américas (2005).
3 Ver ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural?. São Paulo: Letramento, 2018.
Conclusão
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Silvio (2018). O que é racismo estrutural? 1ª edição. São Paulo: Letramento.
ALVES, Alê (2017). “Angela Davis: ‘Quando a mulher negra se movimenta, toda
a estrutura da sociedade se movimenta com ela’”. El País. Disponível em: <https:// 155
brasil.elpais.com/brasil/2017/07/27/politica/1501114503_610956.html>. Acesso em 14
jan. 2019.
CANDIDO, Antonio (2011). A Educação pela noite. 6ª edição. Rio de Janeiro: Ouro
sobre Azul.
DAVIS, Angela (2013). Mulheres, raça e classe. 1ª edição. Lisboa: Plataforma Gueto.
Tradução livre.
HOOKS, bell (2000). Feminism is for eveybody. 1ª edição. Cambridge: South End Press.
IPEA (2016). Retrato das desigualdades de gênero e raça. Brasília: IPEA. Disponível
em: <http://www.ipea.gov.br/retrato/indicadores_educacao.html>. Acesso em: 09
dez. 2018.
JESUS, Carolina Maria de. (2014). Diário de Bitita. 2ª edição. São Paulo: Sesi editora.
156
______. Quarto de despejo. São Paulo: Francisco Alves, 1960.
157
RESUMO
Este artigo propõe uma releitura da recepção de Franz Fanon no Brasil em dois
períodos específicos entre 1960-1970 e 1980-1990. Em suma, os aportes metodológicos
deste escrito se baseiam em buscas no Google Scholar, os resultados obtidos foram
organizados em dois quadros, por um lado, novas abordagens foram introduzidas
ao longo das últimas cinco décadas desde a recepção de Frantz Fanon no cenário
brasileiro, por outro lado, Lélia González e Neusa Santos Souza, por exemplo, não
foram identificadas como autoras citadas pelos principais comentadores de Fanon.
A ideia de tradução aqui é utilizada em chave ampliada, no entanto, não limita a
nossa compreensão de que trata-se de um campo hegemonicamente masculino
e sexista, e ao assumi-la como uma prática política buscamos refletir sobre os
dividendos patriarcais e racistas do campo editorial e acadêmico. Na análise deste
artigo, fundamentada no pensamento negro feminista e/ou das intelectuais negras,
confirmamos que há uma genealogia masculinista em disputa pelos fanonismos
que invisibiliza as intelectuais negras. Afinal, se Lélia González e Neusa Santos
Souza dialogam com o pensamento fanoniano desde a tradução dos livros Peau
158 Noire, Masques Blancs (Pele Negra, Máscaras Brancas) e Les Damnés de la Terre (Os
Condenados da Terra), quais são as razões para não associá-las às teorias políticas em
voga nos movimentos sociais negros e/ou nos discursos acadêmicos?
ABSTRACT
This article proposes a re-reading of the reception of Franz Fanon in Brazil in two
specific periods between 1960-1970 and 1980-1990. In short, the methodological
contributions of this paper are based on searches in Google Scholar, the results
obtained were organized in two frames, on the one hand, new approaches were
introduced over the last five decades since the reception of Frantz Fanon in the
Brazilian scenario, for On the other hand, Lélia González and Neusa Santos Souza,
for example, were not identified as authors cited by Fanon’s main commentators.
The idea of translation here is used in an enlarged key, however, it does not limit
our understanding that it is a hegemonically male and sexist field, and in assuming
it as a political practice, we seek to reflect on the patriarchal and racist dividends
of the editorial and academic field. In the analysis of this article, based on Black
Rosânia do Nascimento
Bacharela em Antropologia pelo Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (DAN/
ICS/UnB) e Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/DAN/UnB).
E-mail: [email protected]
2 Esse importante mapeamento também foi realizado “em buscas nos bancos virtuais de trabalhos
acadêmicos, a saber: a biblioteca de periódicos da Capes e do Scielo” (FAUSTINO, 2015: 24) durante
o seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia na UFSCar, orientado pelo professor
Valter Silvério, intelectual negro e militante histórico.
3 Como discutido com profundidade por Karin Sant’Anna Kössling (2005), o complexo repressivo
acionado pela polícia política da ditadura civil-militar dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro também
perseguiu os movimentos sociais negros, inclusive, Frantz Fanon, W.E.B Du Bois e Marcus Garvey eram
autores do corpo político-teórico negro, o que chamou a atenção dos órgãos repressivos da época.
4 Há referências importantes sobre a formação dos movimentos sociais negros Cf. CUTI, (Luiz Silva).
(1992). E assim disse o velho militante José Correia Leite. São Paulo: Noovba e PEREIRA, Amauri Mendes;
SILVA, Joselina da. (2009). O Movimento Negro brasileiro: escritos sobre os sentidos de democracia e
justiça social no Brasil. Belo Horizonte-MG: Editora Nandyala.
5 Para Katleen Gyssels (2005), poetas e escritores negros sejam guianenses, martinicanos, haitianos e
africanos foram tributários do existencialismo sartreano. O francês foi autor de prefácios como Orphée
Noir, de 1948, para a Anthologie de la poésie nègre et malgache, organizada pelo senegalês Léopold
Sédar Senghor; o ensaio introdutório, escrito em 1956, para a primeira edição de Les Damnés de la terre,
do martinicano Frantz Fanon e, por conseguinte, outro ensaio escrito, em 1957, para a obra Portrait du
colonisé… do tunisiano Albert Memmi.
6 Atualmente, Heitor Loureiro e Raphaël Maureau (2014) publicaram a tradução do terceiro capítulo
deste livro intitulado La Famille Algérienne. Curiosamente, as três versões apresentam diferenças no
título. Originalmente, em francês, intitula-se L’an V de la révolution algérienne, em inglês, A Dying
Colonialism, em espanhol, Sociologie de una Revolución.
7 Personagem do livro Batouala do antilhano René Maran, considerada a primeira obra escrita por
um autor negro ganhadora do Prix Goncourt, em 1921. Frantz Fanon (2008) afirma que trata-se de um
gênero autobiográfico que denuncia pela perspectiva de um antilhano negro como o racismo afeta as
subjetividades do homem negro. Por outro lado, os leitores (grafados no masculino para afirmar as suas
benesses patriarcais) têm verdadeiro desinteresse pela personagem Nini, da também antilhana Mayotte
Capécia, o livro que enquadra-se no gênero autobiográfico é intitulado Je suis Martiniquaise, e trata do
enlace de uma mulher negra com um homem branco (francês), porém, pareceu pouco interessante aos
olhos masculinistas. No Brasil, essa discussão é bastante conhecida tanto no rol das ciências sociais e
pelos movimentos sociais das mulheres negras que, por sua vez, afirmam como o mito da democracia
racial e a ideologia do embranquecimento provocaram desvantagens afetivas e econômicas para este
grupo.
Áreas de
Abordagens: Publicações
interesse
• MOURA, Clóvis. (1983). Brasil: Raízes do Protesto Negro. Vol. 28. Global
Editora.
• iii. GONZÁLEZ, Lélia. 1991 [2018]. “Uma viagem à Martinica”. In: MNU
Jornal, 20, out./nov./dez., p. 5.
Referências bibliográficas
ALMEIDA DINIZ, Arthur José. (1984). “Hoje Vivemos o Medo”. Revista da Faculdade
de Direito da UFMG, vol. 29.26-27, pp.: 80-93.
AMAURI MENDES; SILVA, Joselina da. (2009). O Movimento Negro brasileiro: escritos
sobre os sentidos de democracia e justiça social no Brasil. Belo Horizonte-MG: Editora
Nandyala.
12 Respectivamente a listagem das tradutoras da última edição espanhola, Iría Álvarez Moreno pelos
textos da filósofa Judith Butler e Sylvia Wynter; Paloma Monleón Alonso pelos textos de Lewis R.
Gordon e Nelson Maldonado-Torres e, por fim, Ana Useros Martín pelos textos de Frantz Fanon, Samir
Amin e Immanuel Wallerstein.
BAIRROS, Luiza. (2000). “Lembrando Lélia Gonzalez”. nº 23, Afro-Ásia, pp. 2-22.
BROOKSHAW, David. (1983) Raça & Cor na Literatura Brasileira . Vol. 7. Mercado
Aberto.
CALDEIRA, Maria Isabel. (1980). “All Colored People Sing: do estereótipo à identidade”.
Revista Crítica de Ciências Sociais, pp. 157-18.
CUTI, Luiz Silva. (1992). E assim disse o velho militante José Correia Leite. São Paulo:
Noovba.
______. (1962). L’An V de la Révolution Algérienne. Ed. François Maspero. Paris, 1959.
resenha Crítica. Resenha Crítica por Fernando Albuquerque Mourão. Revista de
História (USP).
______. (1983). Pele Negra, Máscaras Negras. Tradução de Adriano Caldas. Rio de
Janeiro: Fator.
FAUSTINO, Deivison. (2015). “Por que Fanon? Por que agora?”: Frantz Fanon e os
fanonismos no Brasil. Tese (Doutorado). Universidade Federal de São Carlos-SP. São
Carlos: UFSCar.
FILOSTRAT, Christian. (2017). Le dernier jour de Frantz Fanon: un récit d’un acte
suivie d’un entretien avec Josie Fanon, sa femme. Lake Oswego, Oregon/USA: Pierre
178
Kroft Legacy Publishers.
GONZÁLEZ, Lélia Almeida. (2018). Primavera para as Rosas Negras. São Paulo:
Diáspora Africana. (Coletânea da União dos Coletivos Pan-africanistas).
______. 1983 [2018]. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. In: SILVA, Luiz Antônio
Machado et alii . Movimentos Sociais Urbanos, minorias étnicas e outros estudos.
Brasília-DF, ANPOCS, pp. 223-244.
______. 1991 [2018]. “Uma viagem à Martinica”. MNU Jornal, 20, out./nov./dez., p. 5.
HERKENHOFF, Alfredo (2009). Racismo: Por que se Matou a psicanalista negra que
fazia sucesso no Rio? Disponível em: <https://mamapress.wordpress.com/2016/08/03/
racismo-por-que-se-matou-a-psicanalista-negra-que-fazia-sucesso-no-rio/ Acessado
em 29 de dezembro de 2018.
LIMA REIS, Eliana Lourenço. (1988). “Descentrando a crítica: a literatura das minorias”.
Estudos Germânicos, vol . 9: 22-29. 179
LIMA, Bertúlio, LÚCIA, Dora. (1988). “Apartheid: racismo e/ou capitalismo?”.
Sequência: Estudos Jurídicos e Políticos, 9.16, pp.116-123.
MACEDO, José Rivair. (2016). O pensamento africano no século XX. São Paulo: Outras
expressões.
MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio; ZICCARDI, Alícia. (1980). “Notas para uma
Discussão sobre Movimentos Sociais Urbanos”. Cadernos 13, pp. 79-95.
MOURA, Clóvis. (1983). Brasil: Raízes do Protesto Negro. Vol. 28. Global Editora.
NAUFEL,, Carina da Rocha. (2012). A capa convida: o design gráfico de Marius Lauritzen
Bern para a editora Civilização Brasileira. 159 p. Dissertação (Mestrado). Universidade
Estadual de Campinas, Instituto de Artes: Campinas-SP.
RATTS, Alex; RIOS, Flávia. (2010). Lélia González (Retratos do Brasil Negro). São
Paulo: Selo Negro.
181
RESUMO
Este artigo visa a abordar a tradução, no contexto brasileiro, de obras e textos não-
ficcionais de intelectuais afro-americanas que discutem questões de gênero e raça.
Primeiramente, apresenta-se uma discussão sobre feminismo negro no âmbito
dos Estados Unidos, a partir do trabalho de pensadoras como Angela Davis, bell
hooks e Patricia Hill Collins. Em seguida, é proposto um breve panorama sobre
o que tem sido traduzido no Brasil em relação à escrita das autoras em questão,
com informações como títulos das obras e textos traduzidos, anos de publicação,
nomes dos/as tradutores/as, editoras e periódicos envolvidos e títulos e anos das
obras e textos no contexto de partida. Posteriormente, são feitas reflexões sobre esse
cenário, no qual ainda prevalece pouca visibilidade da produção das autoras citadas,
especialmente em relação ao grande mercado editorial brasileiro. Como arcabouço
teórico, são utilizados os trabalhos de Lefevere (1992), Toury (1995), Collins (2000),
entre outros.
Palavras-chave: Feminismo negro estadunidense. Tradução. Textos não-ficcionais.
182
ABSTRACT
This article aims to address the translation, in the Brazilian context, of nonfiction
works and texts by African-American women intellectuals who discuss gender and
race issues. Firstly, there is a discussion of Black feminism in the United States,
considering the work of scholars such as Angela Davis, bell hooks and Patricia Hill
Collins. Secondly, a brief overview on what has been translated in Brazil regarding the
writings of the authors in question is presented. This overview includes information
such as the titles of translated works and texts, the years of publication, the names of
translators, the publishers and journals involved and the titles and years of works and
texts in the source context. Subsequently, reflections on that scenario, in which there
is still little visibility of the production of the referred authors, especially in relation
to the mainstream Brazilian publishers, are proposed. As theoretical framework, the
works of Lefevere (1992), Toury (1995), Collins (2000), among others, are used.
1 “If we accept that the translator is not, and never could be, a transparent filter through which a text
passes, but is rather a very powerful source of creative transitional energy (and this is the fundamental
premise of Translation Studies scholars), then thinking in terms of gender serves to heighten awareness
of textual complexities in the roles of both writer and reader.”
2 “[…] a multiple system, a system of various systems which intersect with each other and partly overlap,
using concurrently different options, yet functioning as one structured whole, whose members are
interdependent”.
3 “[…] the notion of translation as part of a literary system, with the literary system in turn embedded
in other cultural systems [...] thus setting translation in much broader cultural contexts than had been
done earlier”.
4 “[…] like all (re)writings [translation] is never innocent. There is always a context in which the
translation takes place, always a history from which a text emerges and to which a text is transposed.”
A pergunta que abre o título desta seção é uma tradução de parte do discurso
de Sojourner Truth (“Peregrina da verdade”), proferido em 1851, em uma convenção de
mulheres em Akron, Ohio, nos Estados Unidos. Nascida na condição de escravizada
em Swartekill, Nova York, no ano de 1797, ela fugiu em busca de sua liberdade em 1826
e chegou à cidade de Nova York em 1829. Em 1843, Truth decidiu sair de Nova York
e, um ano depois, associou-se à organização abolicionista Northampton Association
of Education and Industry, em Massachusetts. Alguns anos mais tarde, começou a se
aproximar do movimento de direitos das mulheres.
Quanto à convenção mencionada, nela estavam sendo discutidas questões
como o sufrágio feminino. Depois da fala de um homem que defendeu a ideia de que
as mulheres eram fisicamente inferiores e, por esse motivo, fracas para desempenhar
trabalhos braçais, além de totalmente dependentes dos homens para realizarem
atividades cotidianas como pular uma poça d’água ou entrar em uma carruagem,
Truth, a única mulher negra e ex-escravizada presente na convenção, surpreendeu a
188 todos ao levantar a sua voz. Isso ocorreu mesmo após as próprias mulheres ligadas
à convenção tentarem impedi-la de falar, temendo que ela deslocasse o foco das
reivindicações de direito ao voto. Tal fato por si só ilustra a predominância do racismo
dentro do movimento sufragista feminino. Um trecho das palavras de Truth, nesse
contexto, encontra-se em Mulheres, raça e classe (2016), de Angela Davis:
Nesse caso, pode-se observar que há uma tendência por parte das feministas
brancas em insistir nas opressões relativas a gênero, deixando de lado outros tipos de
opressão, tais como a de raça.
É importante ressaltar que, na década de 1980, muitas mulheres de cor
estadunidenses ligadas a movimentos sociais passaram a ingressar na academia
seja como estudantes de pós-graduação, seja como docentes. No caso de mulheres 189
negras, elas acabaram levando ideias do feminismo negro para a universidade e
contribuíram para os estudos de raça, gênero e classe. Segundo a cientista social
e professora universitária Patricia Hill Collins, nesse cenário surgiram importantes
publicações:
5 “Mulheres de cor” está sendo utilizado como tradução de women of color que, no contexto dos
Estados Unidos, refere-se a mulheres de ascendência asiática, latino-americana, indígena e africana.
Mesmo que no Brasil possam ser encontrados termos como “mulheres não-brancas”, “mulheres de
minorias étnicas” e “mulheres racializadas” como traduções de women of color, neste artigo optou-se
pelo uso de “mulheres de cor” com o objetivo de ressignificar positivamente um termo historicamente
considerado ofensivo, assim como fez o movimento negro brasileiro nos anos 40 e 50 do século XX. Para
mais informações sobre esse assunto, ver o artigo “Quem nomeou essas mulheres “de cor”? Políticas
feministas de tradução que mal dão conta das sujeitas negras traduzidas”, de Tatiana Nascimento,
publicado na revista Translatio (2017), n. 13, p. 127-142.
6 “As white women ignore their built-in privilege of whiteness and define woman in terms of their own
experience alone, then women of Color become “other,” the outsider whose experience and tradition is
too “alien” to comprehend. […] Refusing to recognize difference makes it impossible to see the different
problems and pitfalls facing us as women.”
9 “No other group in America has so had their identity socialized out of existence as have black women...
When black people are talked about the focus tends to be on black men; and when women are talked
about the focus tends to be on white women.”
10 “[…] analysis claiming that systems of race, social class, gender, sexuality, ethnicity, nation, and age
form mutually constructing features of social organization, which shape Black women’s experiences
and, in turn, are shaped by Black women.”
11 “By manipulating ideology and culture, the hegemonic domain acts as a link between social
institutions (structural domain), their organizational practices (disciplinary domain), and the level of
everyday social interaction (interpersonal domain).”
12 Nesse caso, será utilizado o capítulo traduzido por Ana Claudia Jaquetto Pereira e publicado no livro
Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico (2018), organizado por Joaze Bernardino-Costa, Nelson
Maldonado-Torres e Ramón Grosfoguel.
Nesta seção, serão fornecidos dados das traduções brasileiras de obras e textos
não-ficcionais de pensadoras afro-americanas, contendo os nomes das autoras em
ordem alfabética, os anos de publicação (em ordem cronológica), os títulos das obras
traduzidas, os nomes dos/as tradutores/as, os locais de publicação, as editoras e os
Obras completas:
COLLINS, Patricia Hill. (2019 – a ser lançado13). Pensamento feminista negro. Sem
nome do/a tradutor/a. São Paulo: Boitempo. (Tradução de Black Feminist Thought:
Knowledge, Consciousness, and the Politics, 1990)
DAVIS, Angela. (2009). A democracia da abolição: para além do império, das prisões
e da tortura. Tradução de Artur Neves Teixeira. Rio de Janeiro: Difel. (Tradução de
Abolition Democracy: Beyond Empire, Prisons, and Torture, 2006)
DAVIS, Angela. (2016). Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani.
São Paulo: Boitempo. (Tradução de Women, Race & Class, 1981)14
DAVIS, Angela. (2017). Mulheres, cultura e política. Tradução de Heci Regina Candiani.
São Paulo: Boitempo. (Tradução de Women, Culture & Politics, 1989)
DAVIS, Angela. (2018). A liberdade é uma luta constante. Tradução de Heci Regina
194 Candiani. São Paulo: Boitempo. (Tradução de Freedom is a Constant Struggle:
Ferguson, Palestine, and the Foundations of a Movement, 2015)
DAVIS, Angela. (2018). Estarão as prisões obsoletas? Tradução de Mariana Vargas. Rio
de Janeiro: Difel. (Tradução de Are Prisons Obsolete? 2003)
DAVIS, Angela. (2019). Uma autobiografia. Tradução de Heci Regina Candiani. São
Paulo: Boitempo. (Tradução de An autobiography, 1974)
hooks, bell. (2018). O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Tradução
de Ana Luiza Libânio. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos. (Tradução de Feminism is for
Everybody: Passionate Politics, 2000)
13 Esse livro será lançado ainda no ano de 2019. Não foi divulgado, até o momento, o nome do/da
tradutor/a.
14 Para informações sobre essa tradução, ver o artigo de minha autoria “Diáspora negra em contexto
de tradução: discutindo a publicação de Mulheres, raça e classe, de Angela Davis, no Brasil” na revista
Trabalhos em Linguística Aplicada (2018), v. 57, n. 1, p. 205-228.
hooks, bell. (2019). Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. Tradução
de Catia Maringolo. São Paulo: Elefante. (Tradução de Talking Back: Thinking
Feminist, Thinking Black, 1989)
COLLINS, Patricia Hill. (2015). “Em direção a uma nova visão: raça, classe e
gênero como categorias de análise e conexão”. Tradução de Júlia Clímaco. In:
MORENO, Renata (Org.). Reflexões e práticas de transformação feminista. São
Paulo: SOF, 2015. p. 13-42. Disponível em: <https://br.boell.org/sites/default/files/
reflexoesepraticasdetransformacaofeminista-1.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2019. (Tradução
da palestra “Toward A New Vision: Race, Class and Gender as Categories of Analysis
and Connection”, 1989, realizada no Center for Research on Women, Memphis State
University)
DAVIS, Angela; DENT, Gina. (2003). “A prisão como fronteira: uma conversa sobre
gênero, globalização e punição”. Tradução de Pedro Diniz Bennaton e revisão de
Susana Bornéo Funck e José Renato de Faria. Estudos Feministas, n. 11:2, p. 523-531,
jul.-dez. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ref/v11n2/19136.pdf>. Acesso em:
01 fev. 2019. (Tradução do diálogo “Prison as a Border: A Conversation on Gender,
Globalization, and Punishment”, publicado em Signs: Journal of Women in Culture
and Society, 2001, n. 4: 26, p. 1235-1241)
18 “[...] activist translations are performatives – they are acts within broader fields of specific political
and ideological programs of action and their effectiveness is a function of their performative nature.”
Referências Bibliográficas
ALVAREZ, Sonia E.; COSTA, Claudia de Lima. (2013). “A circulação das teorias
feministas e os desafios da tradução”. Estudos feministas, n. 2, 21: p. 579-586, mai-ago.
DAVIS, Angela. (2016). Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani.
São Paulo: Boitempo.
hooks, bell. (2014). Ain’t I a Woman? Black Women and Feminism. Nova York/ Londres:
Routledge.
LEFEVERE, André. (1992). Translation, Rewriting and the Manipulation of the Literary
Fame. 1a ed. London/New York: Routledge.
NASCIMENTO, Tatiana. (2017). “Quem nomeou essas mulheres ‘de cor’? Políticas
204
feministas de tradução que mal dão conta das sujeitas negras traduzidas”. Translatio,
n. 13: 127-142.
205
RESUMO
Nesta entrevista, a terceira de uma série com intérpretes negros (Carvalho Fonseca, 2017, 2018),
Rane Souza, mulher negra e intérprete de conferências, nos conduz pelo racismo estrutural
no Brasil pensando sua existência, resistência e ativismo. Idealizadora e coordenadora do
Programa Abrates Afro da Associação Brasileira de Tradutores, Rane visa promover não
apenas a reflexão, mas também uma maior presença negra na profissão de tradutor e
intérprete. Por meio da Abrates Afro, Rane cria possibilidades para que outros intérpretes
atravessem a linha da cor e nomeia uma realidade que até pouco tempo seguia invisível na
profissão de intérpretes de conferência, cujo perfil ‘tradicional’ é o de pessoas brancas que
não só frequentaram os melhores cursos particulares de línguas estrangeiras, mas também
tiveram oportunidades de morar no exterior. Quantos intérpretes de conferências há cujas
famílias não tiveram condições de arcar com um curso de inglês? Até conhecer Rane, eu não
havia conhecido nenhum.
“Aqui, uma mulher negra não vale nada”. A frase ficou ecoando na cabeça
da premiada escritora ruandesa Scholastique Mukasonga após recente visita ao
Brasil. Mukasonga ressalta o número de vezes em que fora alertada sobre a falta de
segurança no Brasil e como ser mulher negra implica ser alvo de racismos e racistas
em todo lugar (Mukasonga, 2019).
No país com índice de representatividade de mulheres (todas) no parlamento
comparável ao do Oriente Médio – 9,5% contra 22,5% da média mundial (Chade, 2015)
e onde a igualdade de gênero no executivo só deve ser atingida no ano de 2038 para
o cargo de prefeita e só em 2068 para o cargo de governadora (Ranking de presença
feminina no poder executivo - PMI 2018, 2018: 3), em termos de representatividade,
as mulheres negras são a minoria da minoria. O racismo estrutural faz com que
mulheres pretas e pardas sejam mantidas na base da pirâmide política, social e
econômica brasileira.
Politicamente, apenas 0,18% dos prefeitos eleitos são mulheres negras, apesar
de as mulheres negras representarem 21% dos votos válidos na última eleição
presidencial (idem :3).
Socialmente, em relação a taxa de homicídio, enquanto a de mulheres brancas
recuou 10% entre 2003 e 2013, a de mulheres não-brancas aumentou mais de 50%
(Silveira & Sito, 2018). As mulheres pretas e pardas são também as que mais são
vítimas de violência e morte no parto: 60% das vítimas de mortalidade materna são 207
pretas e pardas (Laura, 2018).
No âmbito econômico, as mulheres não-brancas, apesar de serem as primeiras
a ingressar no mercado de trabalho – na condição de empregadas domésticas –, são
as últimas a se aposentar e as que recebem o menor salário. Com um bolo tributário
composto por impostos sobre o consumo (ao contrário do dos países com menores
inídices de desigualdade social, onde se tributa a renda em oposição ao consumo),
a mulher negra é a que proporcionalmente mais paga imposto no Brasil, já que é
obrigada dispor de praticamente toda sua renda para sobreviver – comprar alimentos
e gêneros de subsistência.
Rane Paula Morais Souza, conhece muito bem a realidade brasileira: “Sou
perseguida por agentes de segurança – policiais e seguranças particulares – to-
dos os di-as em lojas e estabelecimentos comerciais.”, disse durante o IX Congresso
Internacional da Associação Brasileira de Tradutores (Abrates) realizado em
junho de 2018 no Rio de Janeiro. Única intérprete mulher negra associada à
Abrates (Dorali, 2018), Rane Souza foi convidada a falar sobre representatividade.
Para ela, falar na Abrates representou uma oportunidade de “propor uma reflexão
coletiva sobre o impacto do racismo institucional na nossa profissão” (Rissatti &
Souza, 2018: 20).
Rane compartilhou o palco com outro tradutor negro, Petê Rissatti. Cientes
da dimensão de sua missão, no seio de um grupo de profissionais majoritariamente
RS: Quando eu era criança, eu tinha muita curiosidade em aprender inglês. Eu falava
com a minha mãe que queria aprender e ela respondia: “Filha, não tem como pagar o
curso de inglês”. Então, respondi: “Ah, mãe, vou dar um jeito e vou aprender”. Como
eu estudava em uma escola onde meus amigos frequentavam cursos de inglês mas não
gostavam muito, eu pegava os livros deles, com as fitas cassettes e fazia o dever de casa.
Uma amiga fazia aulas às terças e quintas, me entregava o livro dela na segunda, eu
estudava, fazia o dever e devolvia. Ela levava pra aula na terça, na quarta me entregava
de novo. Foi assim até a oitava série.
RS: No ensino médio, continuei a estudar por conta própria, mas eu já estava em uma
escola que tinha uma biblioteca fantástica: o Centro Federal de Educação Tecnológica
(CEFET). Hoje o CEFET é um Instituto Federal. Fiz o ensino médio e o curso técnico
de edificações. Gostei muito do técnico, mas acabei não me firmando na área. Como
209
eu tinha demanda por trabalho dando aulas de inglês, acabei fazendo Letras um
ano depois de concluído o ensino médio, porque fui fazer o estágio técnico. Gostava
muito da área, mas o estágio foi em 2001, um ano muito difícil na economia brasileira.
Não tinha demanda de trabalho para técnico de edificações, na área da construção
civil. Em 2003, eu já estava fazendo Letras e feliz com a escolha. A construção civil
voltou a se movimentar em 2008, foi o auge. Eu me senti tentada a talvez voltar, mas
acabou que eu foquei mesmo em continuar trabalhando com idiomas.
LCF: Qual foi a sua primeira experiência como intérprete simultânea? Como
foi?
RS: Foi na Rio +20 e eu estava começando. Minha companheira de cabine e eu fomos
contratadas por uma empresa que venceu a concorrência por menor preço. Eu tinha
acabado de me formar no curso de interpretação da Brasilis e ela estava no início da
formação. Éramos duas intérpretes inexperientes.
LCF: Esta entrevista faz parte de uma série com intérpretes negros e parte
da metodologia empregada é pedir indicações de outros intérpretes para as
próximas. Você conhece outros intérpretes que se identificam como negros?
RS: Em uma conversa com um colega sobre racismo nos vários estados, falamos das
nossas impressões no meio. O Rio sendo pior que São Paulo, no sentido de acharem
que você necessariamente está fazendo um trabalho que sempre foi negado aos negros,
um trabalho que demanda menos formação. Eu não conheço tão bem São Paulo,
mas comparado a Minas Gerais, Belo Horizonte, onde fiz ensino médio e faculdade
o Rio é muito mais tranquilo. Eu passei por situações de cuspirem em mim na rua,
em Minas. No Rio não, ali o racismo aparece de outras formas. Principalmente em
estabelecimentos comerciais. Sempre que vou a uma loja, ao supermercado, há um
segurança te observando. Isso é diário.
RS: Metade dos funcionários do restaurante eram negros. Além disso, todo mundo
em volta já estava olhando a interação na minha mesa. Contei ao jornalista que me
entrevistava e ele disse “É difícil de acreditar”. Na mesa ao lado, havia outro rapaz
dinamarquês que tava com a esposa brasileira, e a família da esposa. Este dinarmaquês
puxou assunto com o jornalista porque o viu falando ao telefone em dinamarquês.
LCF: Você mencionou Minas Gerais algumas vezes. Quanto tempo você morou
lá?
RS: Eu cresci em Coronel Feliciano, Vale do Aço, em Minas Gerais, onde morei até os
15 anos. Dos 15 aos 25, morei em Belo Horizonte para onde me mudei com meu irmão
para estudar no CEFET. Depois que me formei pela PUC-MG, fiquei ainda mais dois
anos na cidade. Eu já tinha vontade de trabalhar como tradutora só que me faltavam
as ferramentas e eu trabalhava em uma escola de inglês lá, onde só me deixavam dar
aula para alunos de nível básico. Nunca me ofereciam as aulas de nível intermediário.
Quando me formei, já estava trabalhando com professora de inglês há dois anos e
meio e percebi que enquanto eu estivesse naquela escola e em Belo Horizonte eu ia ser
a eterna professora de criancinha. Pensei, já que eu quero ver coisas diferentes, fazer
coisas diferentes, eu preciso sair de Belo Horizonte. Lá eu ainda fiz o processo seletivo
da Cultura Inglesa várias vezes. Eu passava na prova, passava na entrevista, mas na
hora de conseguir turma, não me davam retorno.
211
LCF: Você foi aprovada em mais de um processo seletivo?
RS: Sim. Passava todo o processo, todas as vezes: foram três vezes.
RS: É uma possibilidade, mas eu não tenho provas materiais para apontar que foi
racismo. Uma vez chegaram a me convidar para o treinamento, o qual eu fiz, mas
depois nunca entraram em contato. Por outro lado, quando cheguei ao Rio, fui
aprovada no primeiro processo seletivo da Cultura Inglesa e comecei a trabalhar
na sequência. Depois de um tempo, acabei saindo para trabalhar em uma escola
de Business English que pagava um pouquinho melhor e eu conseguia conciliar
com o curso de tradução. Depois, passei a dar aula particular e a investir na área
da tradução mesmo.
RS: Houve um breve momento que eu tentei negar a minha identidade. Foi aos seis
anos. Viajamos à praia. Foi a primeira vez que fui à praia e lá ficava sentada na areia,
RS: Minha mãe fazia questão de pagar uma escola particular para a gente. A escola
que eu e meu irmão estudamos era particular e de 300 crianças, 4 eram negras. No
CEFET havia cerca de 10 alunos negros na turma de 40. Lá era um pouco melhor,
mas mesmo quando eu queria fugir dessa identidade, na escola, havia todo tipo de
apelido: “macaca”, na adolescência por causa da acne, os apelidos eram “anticristo”,
“choquito”. Havia também as músicas. Todo dia alguém cantava para mim uma música
do Chiclete com Banana que fala em “meu cabelo duro”.
RS: Nem tanto. Apesar de minha mãe sempre ter tido uma postura muito forte
de combate ao racismo, foi mesmo na faculdade que desenvolvi pesquisa sobre
literatura afro-brasileira e literatura africana. Durante a pesquisa, lidamos com
vários textos dissecando o racismo, as peles negras, as máscaras brancas. Em 2003,
comecei a fazer essas leituras. Uma marcante foi O Atlântico Negro de Paul Gilroy
(2001) que analisa o mundo pós-colonial. Essas leituras estavam vinculadas a meu
projeto de pesquisa de Iniciação Científica em literatura afro-brasileira e literatura
africana.
RS: “Um defeito de cor” (2006), da Ana Maria Gonçalves, um romance de mais de
900 páginas. É um livro muito bom principalmente para aqueles que se consideram
mestiços, pardos, e para aquela pessoa que pensa “É, eu não sou tão negro assim” ou
ainda “Eu não preciso lidar com essa questão.” No Brasil, a gente tem a tendência de
achar que o racismo é uma questão com a qual apenas os negros têm que lidar, mas
se trata de uma questão com a qual todos nós, como sociedade, temos que lidar. A
situação do racismo é tão grave, e eu digo que é grave porque já se passaram 130 anos
do fim da escravidão e, em termos de estrutura social, a mudança foi muito pequena.
Há uma pesquisa da Oxfam que prevê que negros e brancos vão ter equiparação de
renda em 2089 se nada mudar. Ou seja, diante da gravidade todos nós precisamos de
iniciativas, políticas públicas e iniciativas institucionais também, da sociedade civil,
das associações...
LCF: Você foi recentemente convidada pela direção da Associação Brasileira 213
de Tradutores (Abrates) para falar do racismo no Brasil no XI Congresso
Internacional, ocorrido no Rio em 2018. Como foi a experiência? O que você
considerou importante destacar?
Ricardo Sousa em uma ocasião se aproximou de mim e disse: “Eu reparo que
nas redes sociais você tem uma postura muito militante com relação ao combate
ao racismo. Você não gostaria de falar sobre o assunto no próximo congresso da
Abrates?”. Respondi que adoraria. O convite oficial foi feito juntamente com o Willian
e fui convidada para falar sobre a interface do racismo com o nosso mercado e sobre
a situação em que o intérprete – ou tradutor – é contratado por ser negro ou porque
vai trabalhar com um público negro. Fiquei sabendo que eu falaria juntamente com
outro tradutor negro, Petê Rissati, com o qual me reuni para alinharmos nossos
recortes. Petê estruturou sua fala em três pilares básicos: intolerância religiosa,
discriminação a LGBTs e racismo institucional. Ele falou muito de empatia e que
para sermos capazes de superar o racismo a empatia é chave, empatia na profissão
como um todo, empatia com os novatos.
Na minha fala optei por abordar o racismo institucional, porque eu teria a
possibilidade de usar dados de várias instituições pra dar suporte ao meu argumento.
LCF: Quais as outras histórias seus pais relatam da escola que frequentaram?
RS: Meu pai conta que as professoras davam as respostas paras crianças brancas e
não davam para as crianças negras. O mais grave aconteceu com a minha mãe que
quando ela chegou ao final da quarta série, ela queria continuar estudando, mas a
diretora da escola falou que só podia matricular no quinto ano filho de fazendeiro.
Ela parou de estudar e só voltou a estudar aos 24 anos. Minha mãe teve filhos mais
tarde, porque se ela tivesse tido filhos mais cedo ela não teria voltado a estudar,
não teria mesmo.
LCF: Que outros dados que você considera importantes em relação ao racismo
estrutural no Brasil?
RS: Acho que os membros da diretoria com quem eu conversei possuem a abertura
necessária para pautar a inclusão racial, mas não podemos ser ingênuos a ponto
de considerar que todos os associados vão aplaudir a iniciativa. Por outro lado,
há colegas fora da associação que podem ser parceiros em potencial e podem
contribuir para a formação de intérpretes negros. A iniciativa irá precisar de
recursos. Este curso que estou fazendo hoje, EPIC da Lingua Franca, sou mais uma
vez a única intérprete negra de cerca de 15 inscritos. Seria interessante se no futuro
próximo a Abrates Afro pudesse oferecer uma bolsa de 50% pra que um intérprete
negro pudesse fazer o curso.
LCF: Talvez seja interessante entrar em contato com aqueles que oferecem o
curso para ver se há a possibilidade de doar ou disponibilizar uma gratuidade2
para um intérprete negro indicado pela Abrates Afro, por exemplo.
RS: Sim, isso seria também uma possibilidade, mas considerando que haja resistência,
que a iniciativa também possa arcar.
RS: Vai haver resistência certamente. Uma pessoa que eu conheço, um tempo após
minha fala da Abrates, me falou por WhatsApp que considerou minha atitude vitimista.
Perguntei em que parte. Pensei que tivesse sido quando eu me emocionei ao comentar
que nunca tinha feito intercâmbio. Em uma situação normal eu jamais teria chorado
ao falar sobre isso, mas a oportunidade de falar a meus colegas de profissão mexeu
muito comigo. Mas, não, ela disse eu fui vitimista quando mostrei os dados e a história.
Respondi que os fatos, as estatísticas e a história são comprovados e que se ela não foi
capaz de perceber como as pessoas negras são afetadas por eles até hoje é melhor nem
continuarmos a conversa. Em seguida, ela me acusou de ser oportunista, que eu estava
querendo me promover e entrar no mercado por causa da minha fala. Felizmente sei
que me estabelecer é uma questão de tempo e que tenho condições de continuar a
desenvolver minhas habilidades. Agora, para as outras pessoas negras como eu que
ainda consideram a tradução e a interpretação um sonho, são essas as pessoas que
precisam de ajuda. Pessoalmente, estou encaminhada. Em outra situação, o nome
Abrates Afro foi criticado por uma colega negra. Ela mesma relata sofrer preconceito
de colegas brancos, afirmando que os colegas a tratam como se fosse “empregada
doméstica”. Na opinião dela, o nome Afro geraria mais divisão e seria melhor algo
como Abrates Diversidade. Infelizmente, penso que um nome desses apenas tapa o
2 Interessados em apoiar o Programa Abrates Afro, entrar em contato com a entrevistada pelo email
[email protected]
LCF: Apesar desse relato de resistência, soube que sua fala foi muito bem
recebida. Quais foram os pontos positivos?
RS: De fato, conversei com outras pessoas que assistiram que me disseram que
gostaram muito. Uma colega de BH disse: “Mesmo para uma pessoa branca que se
tenta ter uma atitude progressista não foi fácil ouvir aquilo”. Para mim, também não
foi fácil falar.
LCF: Ainda em relação à Abrates Afro, quando você fala que nunca fez
intercâmbio eu percebo sua dor, mesmo porque praticamente todos nossos
colegas intérpretes tiveram alguma experiência no exterior, em muitos casos
quando jovens. Essa oportunidade está muito distante da população negra.
Assim, como atrair negros para a profissão se não tiverem a oportunidade de
estudar uma língua estrangeira?
RS: Uma das barreiras que os negros enfrentam é de fato a falta de acesso. Falta de
acesso às coisas básicas em muitos casos. Para evidenciar as barreiras, na minha
fala na Abrates fiz o jogo do privilégio antes de apresentar os números, pois os 217
números são frios. Como eu sabia que a plateia que ia me ouvir seria 90% branca,
adaptei o jogo do privilégio e pedi que dessem um passo a frente ou um passo atrás
a cada comando. O jogo completo aborda questões de gênero, econômicas, raciais
e mais. Fiz apenas o recorte racial com dez voluntários e apenas 20 comandos em
vez dos 50 originais. Dos 20 comandos, 10 seriam para dar um passo a frente e 10
um passo atrás. Antes de começar, dentre os voluntários, pedi que pelo menos dois
fossem pessoas negras.
RS: Um deles deu, o outro não. Outros comandos foram: se você pode contar com a
ajuda da sua família no caso de dificuldade financeira, dê um passo a frente; se você já
RS: Cheguei a brincar com este assunto. Falei que iríamos fazer o teste do pescoço.
Coloquei a foto do congresso da Abrates de 2013 que foi em Belo Horizonte. A única
negra na plateia era eu. Em seguida, convidei todos a olhar para a plateia de 2018 e
perguntei quem se considerava negro. Cerca de três pessoas levantaram a mão. Foram
os intérpretes de LIBRAS. Entre os intérpretes de LIBRAS, os negros são maioria
segundo um pequisador da Universidade Federal de Pelotas.
LCF: Uma última pergunta em relação à Abrates Afro. Trata-se de uma iniciativa
só para intérpretes negros ou intérpretes brancos que apoiam a causa podem
fazer parte?
LCF: Fica então o convite às pessoas que leram esta entrevista e que tenham
condições de apoiar a iniciativa e/ou se identificam com ela entrarem em
contato com você.
RS: Sim. Quer na área acadêmica ou não. São importantíssimas porque um profissional
negro em qualquer área é mais questionado e precisa demonstrar todos os dias que é
competente. A formação vai além da questão da inserção no mercado. Trata-se de uma
estratégia de sobrevivência sim, pois todos os dias da sua vida profissional vão duvidar
de você por você ser negro.
219
Palavras finais
É preciso trazer à tona algo que a versão escrita desta entrevista não capta.
Não foram recuperadas as sutilezas racistas do contexto da entrevista, feita no café
da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, São Paulo. Os olhares vindos das demais
mesas, os olhares das pessoas na fila do café e sobretudo os olhares lancinantes
projetados sobre Rane pelos transeuntes na Avenida Paulista enquanto andávamos
até a Rua Pamplona. Todos os olhares acusavam que ela não pertencia àquela
geografia. Todos os olhares declaravam o apartheid que existe no Brasil. Se há
limitações territoriais, se há espaços em que determinados grupos não frequentam
ou não são bem-vindos, – pouco importa se se trata de uma política oficial explícita
ou implícita –, há segregação, há racismo, há apartheid. Não é mais possível “tapar o
sol com a peneira”.
Referências
Chade, J. (2015, March 6). Brasil tem menos mulheres no Legislativo que Oriente
Médio. Estadão. Recuperado de https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-
tem-menos-mulheres-no-legislativo-que-oriente-medio,1645699
Dorali, I. (2018). Instituto Maria e João Aleixo e ABRATES selam parceria para inclusão
de profissionais negros no ofício da tradução e interpretação – IMJA. Retrieved January
14, 2019, from http://imja.org.br/pt-br/2018/10/15/instituto-maria-e-joao-aleixo-e-
abrates-selam-parceria-abrates-afro/
Du Bois, W. E. B. (1903). Souls of Black Folk: Essays and Sketches. Chicago: A.C.
McClurg & Co.
Franklin, J. H. (1993). The Color Line: Legacy for the Twenty-First Century. Columbia
220 and London: University of Missouri Press.
Laura, A. (2018, March 6). Segundo Ministério da Saúde, 62,8% das mulheres mortas
durante o parto são negras. Alma Preta. Recuperado de https://almapreta.com/
editorias/realidade/segundo-ministerio-da-saude-62-8-das-mulheres-mortas-
durante-o-parto-sao-negras
Ranking de presença feminina no poder executivo - PMI 2018. (2018). São Paulo.
Recuperado de http://urlmaster.com.br/ctratk/marlene-campos-machado/Ranking-
de-Presença-Feminina-no-Poder-Executivo-2018.pdf
Silveira, A., & Sito, L. (2018, January 10). A cor da violência: feminicídio de mulheres
negras no Brasil. Blogueiras Negras. Recuperado de http://blogueirasnegras.
org/2018/01/10/cor-da-violencia-feminicidio-de-mulheres-negras-no-brasil/
221
Patricia Hill Collins [P. H. C.]: Thank you for this invitation to discuss how aspects
of my work might inform Translation Studies. While I am less familiar than I would
like to be with Translation Studies a field of formal study, I have thought a great deal
about issues of translation within my own work. So, my answers reflect my sense of
how issues of translation play out in my intellectual production.
[D.S-R.]: What are the dynamics of sexism and racism through language?
222 [P. H. C.]: Sexism and racism are not just ideologies but also encompass tangible social
practices. As systems of power, they organize unjust social institutions and practices.
In my own work, I return to the idea of community as one important site that organizes
the connections between unjust social institutions and the ideological discourses that
reproduce them. Community can also serve as an important site for generating anti-
racist and feminist analyses of social injustice. In this sense, community is a specific
site where language as a set of ideas and of communicative practices occurs.
[D.S-R.]: Do you see the canonical texts of the human sciences as inherently
sexist and racist? Or have they simply been used that way?
[P. H. C.]: Canonical texts within the human sciences illustrate these patterns of
varying interpretive communities exercising different degrees of power in shaping what
counts as knowledge. In this case, the texts are artifacts of decisions that were made
at the time they were initially created and accepted, as well as the history of varying
interpretive communities using them in particular ways for particular purposes. If
the original written texts are sexist and racist, either via their clearly identifiable
assumptions concerning race and gender or via framing assumptions that simply don’t
[D.S-R.]: What is your sense of how sexism and racism are organized and
operate in the translator/interpreter profession field?
[P. H. C.]: I’m not sure I can speak directly to the specific issues in the field of
Translation Studies. But I do think that issues that I face in doing intellectual
work, especially theoretical work, illustrate how racism and sexism inform broader
issues of interpretation. Because I move among so many different interpretive
communities, I find myself constantly thinking about how best to say what I want
to say within each community as well as what they might say to one another if direct
lines of communication were available. In essence, for me, theoretical work involves
constantly negotiating one set of ideas in terms of another, making sure that I am
accountable to multiple communities for translations that make my work possible.
For example, when it comes to Black feminist thought, since traveling to Brazil, I ask
myself how I might understand and interpret the similarities and differences between 225
Black feminism in Brazil, in the U.S., and throughout the African Diaspora?
[P. H. C.]: I’m actually more interested in the mechanisms of how we develop non-
hegemonic feminist and anti-racist theories than in how we might disseminate
theories that emerge from traditional ways of doing theory or theorizing. Within
Western cultures, theory is highly rationed, available to a select few who manage to
acquire the literacy and credentials that enable them to get theory jobs. And once
within those jobs, disciplinary conventions limit what one can say and do. This is a
pragmatic description of theory, one that must be taken into account with any efforts
to disseminate theory that is created under these social conditions. At the same time,
academic gatekeeping is eroding, creating new possibilities for more democratic ways
of theorizing whereby more ideas actually get to the theory table.
226
That’s a project that has been at the center of my attention for some time. In
your questions, you quite rightly distinguish between racism and sexism. I think
that we need that kind of analytical clarity, especially in analyzing how racism and
sexism have been organized within different national settings. To me, they are not
the same, and taking the time to learn about each is invaluable. Moving too quickly
to an imagined alliance between racism and sexism under the banner of a bigger
concept that erases these differences, e.g., social justice, not only is inaccurate but
can be politically ineffective.
Translation studies maintain the integrity of these distinctions by requiring
that scholar-activists of racism and sexism do the work of translating their ideas for
audiences that typically are not their primary concern. It’s different writing feminism
for an assumed audience of white women than feminism for Black men. How
differently anti-racist work sounds when it is written for Black audiences and white
ones. Doing the work of translation sees racism and sexism as interconnected and
independent, creating a pathway for seeing anti-racism and feminism as connected
as well.
My work on intersectionality is very much an act of translation. I see
intersectionality as a critical social theory that is less about dissemination of what has
already been decided – this is the aforementioned canonical knowledge that merits
criticism – but a collaborative project of constructing knowledge across differences.
Translation highlight similarities but it also identifies important differences. As
[D.S-R.]: In what ways do you see the act of translation as feminist and anti-
racist activism?
[P. H. C.]: Translation is never politically neutral. It’s one thing to translate the
language and ideas of dominant groups into terms that subordinated groups can
understand. This kind of translation is accepted as business as usual. It assumes that
the ideas of dominant groups are inherently worthwhile, and that translating them
into terms that all others can understand is fundamentally a good idea. Activism here
consists of translating documents so that Black women and similarly subordinated
groups can know their rights, for example, the legal protections that may be available
to them in law. Teaching can be a terrain of activism, translating texts that may not be
available to one’s students or helping students understand the specialized language
of academia. Because so much of Western knowledge is inherently sexist and racist, 227
working with the assumptions that underlie such knowledge and translating their
canonical texts into a language that enable subordinated people to read and critically
assess them can be an act of anti-racist and feminist activism.
Yet what about translating from the other side of power, namely, the ideas,
analyses and knowledge produced by subordinated groups? Here, translation and
activism require a different set of translation skills that are attentive to the political
costs and benefits of translation. Many of us who aim to speak to, for and with
people who are subordinated within intersecting systems of power engage in a more
sophisticated form of translation that is context specific. Translating the ideas of
women, Black people and indigenous peoples into language that dominant groups
can understand may help our individual careers in the academy. But at what cost to
ourselves and to the people whose ideas that we translate? The risk we run is that
making certain anti-racist and feminist knowledge public may make it easier for
dominant groups to manage subordinated groups. What appears to be translation as
activism to make subordinated people more respectable can be a form of selling out.
I see much of my work as situated in this in-between space of translating
dominant discourse into a form that is useful for social justice projects and translating
the ideas of subordinate groups for one another so they can better communicate with
one another. One of the more difficult tasks is to develop self-defined knowledge that
enables Black women and people from similarly subordinated groups to speak with
228
Patricia Hill Collins [PHC]: Obrigada por este convite para discutir de que modo
aspectos do meu trabalho poderiam contribuir para os estudos da tradução. Embora
eu esteja menos familiarizada do que gostaria com os estudos da tradução, tenho
pensado muito sobre questões de tradução dentro do meu próprio trabalho. Assim,
minhas respostas refletem minha percepção de como questões de tradução afetam
minha produção intelectual.
[PHC]: O sexismo e o racismo não são apenas ideologias, mas também abarcam práticas
sociais tangíveis. Como sistemas de poder, eles organizam instituições e práticas sociais
injustas. Em meu trabalho, volto à ideia de comunidade como um locus importante 229
que organiza as conexões entre instituições sociais injustas e os discursos ideológicos
que as reproduzem. A comunidade também pode servir de locus imporante para gerar
análises antirracistas e feministas da injustiça social. Neste sentido, a comunidade é
um locus específico onde ocorre a linguagem como um conjunto de ideias e de páticas
comunicativas.
[PHC]: Os textos canônicos dentro das ciências humanas ilustram esses padrões
de diversas comunidades interpretativas exercendo diferentes graus de poder na
formatação daquilo que conta como conhecimento. Nesse caso, os textos são artefatos
de decisões que foram tomadas na época em que eles foram criados e aceitos, assim
como a história das diversas comunidades interpretativas que os usam de modos
[PHC]: Não tenho certeza de poder falar diretamente das questões específicas
no campo dos estudos da tradução. Mas penso que questões que enfrento ao fazer
meu trabalho intelectual, especialmente o teórico, ilustram de que modo o racismo
e o sexismo configuram questões mais amplas de interpretação. Pelo fato de me
movimentar entre tantas comunidades interpretativas diferentes, frequentemente
232 me vejo pensando sobre qual o melhor modo de dizer o que quero dizer dentro de
cada comunidade, bem como o que elas poderiam dizer umas às outras se tivessem à
sua disposição linhas diretas de comunicação. Essencialmente, para mim, o trabalho
teórico envolve negociar constantemente um conjunto de ideias em termos de outro,
garantindo que eu possa responder a múltiplas comunidades pelas traduções que
tornam meu trabalho possível. Por exemplo, quando se trata de pensamento feminista
negro, desde que viajei ao Brasil, me pegunto como eu poderia entender e interpretar
as semelhanças e diferenças entre o feminismo negro no Brasil, nos Estados Unidos e
através da diáspora africana.
[PHC]: Eu de fato estou mais interessada nos mecanismos do modo como 233
desenvolvemos teorias feministas e antirracistas não hegemônicas do que em como
poderíamos disseminar teorias que emergem de modos tradicionais de fazer teoria ou
teorização. Dentro das culturais ocidentais, a teoria é altamente racionada, disponível
para uns poucos seletos que conseguem adqurir o letramento e as credenciais que
lhes permitem obter empregos de teóricos. E uma vez dentro desses empregos,
as convenções disciplinares limitam o que alguém pode dizer e fazer. Essa é uma
descrição pragmática da teoria, que precisa ser levada em conta junto com quaisquer
esforços por disseminar teorias criadas sob tais condições sociais. Ao mesmo tempo, a
vigilância acadêmica está se erodindo, criando novas possibilidades para modos mais
democráticos de teorizar por meio dos quais mais ideias realmente chegam à mesa
teórica.
É um projeto que tem estado no centro da minha atenção há algum tempo. Nas
suas perguntas, você distingue com razão racismo de sexismo. Creio que precisamos
desse tipo de clareza analítica, especialmente ao analisar como o racismo e o sexismo
têm sido organizados dentro de contextos nacionais diferentes. Para mim, eles não
são a mesma coisa, e é importantíssimo dedicar tempo para aprender sobre cada um.
Mover-se depressa demais rumo a uma aliança imaginária entre racismo e sexisto
sob a bandeira de um conceito maior que apaga essas diferenças, por exemplo, a
justiça social, não só é errado como pode ser politicamente ineficaz.
Ochy Curiel [O.C.] Si. Con Jules Falquet tradujimos los aportes de las feministas
materialistas francesas Colette Guillaumin, Paola Tabet y Nicole Claude Mathieu,
condensada en el texto El Patriarcado al desnudo, tres feministas materialistas, que
salió publicado en el año 2005 a través de la editorial independiente Brecha lésbica.
236 [O.C.] Cómo sucede en toda la sociedad occidental, las relaciones sociales son
generalmente sexistas, racistas y clasistas. Tiene que ver con las jerarquías que se
han construido desde los inicios de la colonización que continua en la colonialidad
contemporánea y la traducción no escapa de esto. Es parte del sistema modero/
colonial. Los conocimientos más validados son los que producen los hombres blancos
con privilegios de clase, aunque también algunas mujeres con estos privilegios
también. Eso significa que esos conocimientos son los que también se validan para
que sean reconocidos en muchas partes del mundo a través de la traducción que se
hace de sus obras.
Ochy Curiel
La profesora Ochy Curiel,
Nació en República Dominicana, luego de vivir en México, Brasil y Argentina, actualmente vive en
Colombia. Doctora en Antropología Social. Es docente-investigadora de la Universidad Nacional y de
la Universidad Javeriana en Bogotá, Colombia y es también consultora independiente.
Es activista del movimiento lésbico-feminista, antirracista, del feminismo autónomo y del feminismo
decolonial y también cantautora. Es miembra del Grupo Latinoamericano de Estudios, Formación y
Acción Feminista (GLEFAS), de la Tremenda Revoltosa, batucada feminista y del Colectivo Globale
Bogotá, festival de documentales críticos. Tiene varias publicaciones en la que imbrica la raza, el sexo,
la clase, la sexualidad y le geopolítica en la que se destaca su libro: La nación heterosexual, Análisis del
discurso jurídico y el régimen heterosexual desde la antropología de la dominación (2013).
Dennys Silva-Reis
Doctor en Literatura (Universidad de Brasília - UnB). E-mail: [email protected]
[O.C.] Tal como los explicó la argentina Maria Lugones a través de su concepto
colonialidad del género, el género es una categoría moderna colonial pues se reconoce
el diformismo sexual entre hombres y mujeres, desde las experiencias de mujeres
y hombres blancos/as y burgueses/as, por tanto, no es universal. En muchas otras
culturas no existe el género, ni siquiera las categorías de hombres y mujeres. Un
ejemplo de ello es lo que explica Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí en su texto La invención de
las mujeres en torno la sociedad Yorùbá del suroeste de Nigeria. El género no existia
en estas sociedades antes del contacto con occidente, fue impuesto a través de la
colonización europea.
[D.S-R.] ¿Le parece que haya una distinción entre traducción femenina y
traducción feminista?
[O.C.] Creo que muchos feminismos han aportado a complejizar los análisis de las
relaciones sociales. Hay feminismos, como el feminismo negro, el feminismo decolonial
que permite contextualizar la situación de grupos a quienes no solo les afecta el
género, sino también la raza, la clase, la sexualidad, la geopolítica de forma imbricada
de acuerdo a contextos específicos. La traducción de estas teorías son importantes
precisamente para no generalizar ni universalizar las experiencias, que ha sido el error
del feminismo hegemónico que ha sido blanco en sus teorías y conceptos y que solo
toma como centro del análisis el género desde las experiencias de las mujeres blancas,
generalmente del Norte.
[O.C.] Creo que es fundamental para poder fortalecer las coaliciones transnacionales.
Los y las activistas debemos hacer traducción de obras y propuestas que nos ayuden
a comprender mejor la complejidad de las relaciones sociales. Creo importante
traducir no solo las obras con una visión crítica desde al Norte hacia Sur, sino del
[D.S-R.] ¿Está de acuerdo com que solo mujeres blancas pueden traducir a
mujeres blancas y solo mujeres negras pueden traducir a mujeres negras?
[O.C.] No. Considero que, aunque las mujeres negras debemos hacer mayor
traducciones de otras mujeres negras, no se trata de esencializar este ejercicio. Existen
238 pensamientos, teorías, conceptos tanto de mujeres negras y mujeres blancas que
son críticos e interesantes para nuestros proyectos políticos y que son importantes
traducir. Lo que creo es que las mujeres blancas tienen mayores accesos y privilegios y
muchas veces toman las experiencias de las mujeres negras como meros testimonios o
materias primas para sus créditos académicos, por eso es importante que las mujeres
afrodescendientes e indígenas hagamos traducción de la producción de nuestras
compañeras para evitar la utilización y la instrumentalización de nuestras experiencias
y pensamientos.
[D.S-R.] ¿Cree que hombres (feministas o no) son sensibles y aptos para traducir
textos femeninos y feministas? Cuales serían los retos y las potencialidades
involucradas en este caso?
[O.C.] Creo que existen políticas editoriales feministas diversas. No hay una sola línea
editorial y no creo que todas se limiten a buscar la equidad de género. Hay propuestas
feministas que son antirracistas, descoloniales, como existen otras, diría que la
mayoría, que no lo son.
[O.C.] Creo que hay muy pocas, sobre todo negras y afros. Quienes hemos hecho
traducciones, lo hacemos desde el activismo, no como parte de un ejercicio profesional.
[O.C.] Por supuesto, sobre todo si son traducciones de las obras de la gente
subalternizada. Es lo que va a contribuir a descolonizar el saber feminista y de las
ciencias humanas a nivel general.
[O.C.] Pues uno de ellos es lo que estamos haciendo en el GLEFAS, desde nuestra
editorial en la frontera, y lo que ha hecho Brecha Lésbica. Ambas son editoriales
independientes.
[D.S-R.] ¿Cuál sería una buena metáfora para la traducción feminista (negra)?
[O.C.] Sí, pero todo depende de qué tipo de feminismo. No todos son iguales y una
traducción puede ser feminista, pero puede ser bastante racista. Creo que es posible
desarrollar metodologías que permitan una traducción decolonial.
240
Ochy Curiel [OC]: Sim. Com Jules Falquet traduzimos as contribuições das feministas
materialistas francesas Colette Guillaumin, Paola Tabet e Nicole Claude Mathieu,
condensadas no texto El Patriarcado al desnudo, tres feministas materialistas, que saiu
publicado no ano 2005 através da editora independente Brecha Lésbica. Posteriormente,
o Grupo Latinoamericano de Formación y Acción Feminista (GLEFAS), coletivo de
que faço parte, traduziu o texto “La invención de las mujeres. Una perspectiva africana
sobre los discursos occidentales del género” da nigeriana Oyèróké Oyewùmí em 2017,
através da nossa editora, também independente, en la frontera.
[OC]: Como se passa em toda a sociedade ocidental, as relações sociais são geralmente
sexistas, racistas e classistas. Tem a ver com as hierarquias que se foram construindo
desde os inícios da colonização e que continuam na colonialidade contemporânea, e a 241
tradução não escapa disso. Faz parte do sistema moderno/colonial. Os conhecimentos
mais valorizados são os produzidos por homens brancos com privilégios de classe,
embora também por algumas mulheres com esses privilégios. Isso significa que esses
conhecimentos também são os valorizados para que sejam reconhecidos em muitas
partes do mundo através da tradução que se faz de suas obras.
[DSR]: Em sua opinião, até que ponto a noção de gênero de uma dada cultura pode ser
traduzido em outra cultura?
Ochy Curiel
A professora Ochy Curiel,
Nasceu na República Dominicana e, depois de viver no México, no Brasil e na Argentina,
vive atualmente na Colômbia. Doutora em Antropologia Social. É docente-pesquisadora da
Universidad Javeriana em Bogotá e também consultora independente. É ativista do movimento
lésbico-feminista, antirracista, do feminismo autônomo e do feminismo decolonial e também
cantautora. É membra do Grupo Latino-americano de Estudos, Formação e Ação Feminista
(GLEFAS), da Tremenda Revoltosa, batucada feminista e do Coletivo Globale Bogotá, festival
de documentários críticos. Tem várias publicações nas quais mescla raça, sexo, classe,
sexualidade e geopolítica. Em sua produção se destaca o livro La nación heterosexual. Análisis
del discurso jurídico y el régimen heterosexual desde la antropología de la dominación (2013).
Dennys Silva-Reis
Doutor em Literatura (Universidade de Brasília – UnB). E-mail: [email protected]
[OC]: Sem dúvida. O feminino é uma qualidade resultante da diferenciação que traz
consigo a heterossexualidade que se assume que as mulheres têm, o que é um erro,
pois os homens também podem ter qualidades que se assumem como femininas. Ao
final, são cosntruções sociais. Uma tradução feminista implica uma postura política,
embora isso também seja problemático porque não existe só um tipo de tradução
feminista. Tudo depende de em que corrente do feminismo a tradução se inscreve.
[OC]: Creio que muitos feminismos têm contribuído para complexificar as análises
das relações sociais. Há feminismos, como o feminismo negro, o feminismo decolonial
que permitem contextualizar a situação de grupos que não são afetados somente pelo
gênero, mas também pela raça, classe, sexualidade, geopolítica de forma imbricada
segundo contextos específicos. A tradução dessas teorias é importante precisamente
para não se generalizar nem universalizar as experiências, o que tem sido o erro do
feminismo hegemônico, que tem sido branco em suas teorias e contextos e que só
toma como centro de análise o gênero desde as experiências das mulheres brancas,
geralmente do Norte.
[OC]: Não. Considero que, embora nós mulheres negras devamos fazer mais traduções
de outras mulheres negras, não se trata de essencializar este exercício. Existem
pensamentos, teorias, conceitos tanto de mulheres negras e mulheres brancas que
são críticos e interessantes para nossos projetos políticos e que é importante traduzir.
O que creio é que as mulheres brancas têm maior acesso e privilégio e muitas vezes
tomam as experiências das mulheres negras como meros testemunhos ou matérias
primas para seus créditos acadêmicos, por isso é importante que as mulheres afro- 243
descendentes e indígenas façamos tradução da produção de nossa companheiras para
evitar a utilização e a instrumentalização de nossas experiências e pensamentos.
[DSR]: Acredita que homens (feministas ou não) são sensíveis e estão aptos
para traduzir textos femininos e feministas? Quais seriam os desafios e as
potencialidades envolvidas neste caso?
[OC]: Creio que existem políticas editoriais feministas diversas. Não há uma só linha
editorial e não creio que todas se limitem a buscar a igualdade de gênero. Há propostas
[OC]: Creio que há muito poucas, sobretudo negras e africanas. Aquelas que temos
feito traduções, fazemos desde o ativismo, não como parte de um exercício profissional.
[DSR]: Haveria por acaso, em sua opinião, uma “culpa da tradução” por haver
mais teoria feminista branca difundida no mundo?
[OC]: Creio que não se trata de “culpa da tradução”, mas das possibilidades e do
acesso. A maioria das mulheres negras, afros, indígenas de nosso continente não
têm suficiente dinheiro, nem tempo, para priorizar a tradução de textos. Também
não existem muitas editoras interessadas em traduzir suas obras. Acredito, bem mais,
que é uma questão estrutural que tem a ver com a colonialidade do saber, embora,
felizmente, cada vez mais algumas de nós entendem a importância de traduzir textos
das pessoas negras e indígenas para dar a conhecer seus pensamentos e lutas.
[OC]: Sem dúvida. Sobretudo se forem traduções das obras das pessoas subalternizadas.
É o que vai contribuir para decolonizar o saber feminista e das ciências humanas em
nível geral.
[DSR]: Que conselhos daria para uma linguagem (tradutória) menos sexista?
[OC]: Buscar maneiras de escrita que não reflitam a ideologia da diferença sexual, o
binarismo de gênero, mas também é preciso fazer isso desde uma postura pós-colonial,
o que significa evitar categorias, conceitos, palavras racistas, coloniais, heterossexuais
e sobretudo que seja uma tradução apegada aos significados de quem produz e não
uma substituição de palavras e conceitos ocidentais. A linguagem também é política.
[DSR]: Qual seria uma boa metáfora para a tradução feminista (negra)?
[OC]: Sim, mas tudo depende de que tipo de feminismo. Nem todos são iguais, e
uma tradução pode ser feminista, mas pode ser bastante racista. Creio que é possível
desenvolver metodologias que permitam uma tradução decolonial.
245
Tomi Adeaga [T. A.] Over the years, I have found out and have been quite critical
of the way African feminine literature is being translated into German for example.
African women are often portrayed in Western media including the German media as
underdeveloped, helpless women suffering under patriarchal yoke. This perception
along with the xenophobic approach to the African continent has also affected the
way African and African diaspora feminist authors’ books are translated into German.
[T. A.] In a way I believe it is and this is irrespective of the translator and interpreter’s
race. This is because most authors already feel that they are much more important
than the translator/interpreter. They even become more aggressive when they see
that they are dealing with feminist translators/interpreters. But the point they are 246
missing is that the translator is the one that unlocks the doors of foreign languages
and cultures to them. Also, they have a symbiotic relationship, which means that one
cannot exist without the other. They therefore have to respect each other’s work.
A third party in this is also the publisher. The publisher is often the one
who looks for and engages the services of the translator. However, if there is lack of
collaboration between them, which happens if the author is unable to work with the
female translator and the book is nevertheless translated and published, it may have
to be taken off the market.
Tomi Adeaga
Professor Tomi Adeaga teaches African literature at the Department of African Studies, Faculty of
Philological and Cultural Studies of the University of Vienna, Austria. She is the author of Translating
and Publishing African Language(s) and Literature(s): Examples from Nigeria, Ghana and Germany
(2006). She has published an article called “Problems of Translating two Nigerian Novels into German”
In: Acta Scientarum Journal of Language and Culture, Vol. 30, No. 1, (2008). She translated Olympe
Bhêly – Quénum’s C’était à Tigony into As She Was Discovering Tigony (2017). Her areas of interest
include African literature studies, African Diaspora and transnational studies, translation studies as
well as Afro-European studies. She has gathered experiences as the founding secretary of the Translation
Caucus of the African Literature Association (TRACALA), the African Literature Association Executive
Council, and a host of others.
Dennys Silva-Reis
PhD in Literature from the Universidade de Brasília (UnB). E-mail: [email protected]
[T. A.] Yes, there is a connection between them, especially if the author is a feminine
author who is trying to enunciate the dynamics of feminism in her culture and the
foreign translator tries to diminish it because it does not conform with his and his
society’s notion of the author’s society.
[D.S-R.] In your opinion, to which extent (if any) the notion of gender of one
given culture could be translated into another given culture?
[T. A.] I have always strongly believed that translators do not just translate an author’s
book, but they also translate her culture. If the translator does not take the time to
inform himself on the culture from which the author’s work has been written, it may
lead to false translations. This is the reason why some dedicated publishers send their
translators not just to talk to the author but also to visit society that produced the author.
It helps to reduce or minimize the possibilities of intercultural misunderstandings.
247 [T. A.] There is a difference between feminine translation and feminist translation. If I
were to use the African example, I would say feminine translators, irrespective of their
gender, are those who pay close attention to the source text during the translation
process. Feminist translators, which have been, based on my own experience, mainly
Western translators. They are those who believe that they know what the author is
thinking and feel the need to change the contents of the source text.
[T. A.] There is a great importance of translating diverse feminist theories in the
contemporary world because it allows the readers to see that there is no such thing as
one size fits it all for feminist theories. What may be the norm in one feminist society
may be a taboo in another society.
[T. A.] Translation and activism go hand in hand for several reasons. One of the key
reasons is that translation has not been taken as seriously as it should be over the last
few decades. Despite the fact that translation theories have been developed over the
last few centuries, translated books are still not perceived in the same light as original
[D.S-R.] Does the circulation of feminist ideas through translation impel the
emancipation of other groups of women?
[T. A.] I would not say so because it all depends on the kind of activities that these
other women’s groups are engaged in.
[D.S-R.] Do you agree that only white women can translate white women and
only black women can translate black women?
[T. A.] Definitely wrong. Everything depends on how good the translator is, irrespective
of her race and even gender.
[D.S-R.] Do you believe that men (feminist or not) have the sensibility and
aptitude to translate feminine and feminist texts? What would be the challenges
and the potentialities involved in this case?
[T. A.] Yes, I do believe that men, irrespective of their race and feminist believes have
the sensibility and aptitude to successfully translate feminine and feminist texts. The
248
challenges involved in this are such that they have to be willing and ready to work with
the texts and the author, if she is available. The potentialities of such collaborations
are such that the finished production will be a reflection of both the author’s and the
translator’s joint endeavor.
[D.S-R.] Are there, in your opinion, feminist agendas compatible with editorial
policies and structures? How to seek for some gender equity in this field?
[T. A.] In my opinion, I believe they are because there are more feminist writers of
African descent who are actively engaged in the field of translation and transnational
studies these days that cannot be overlooked. Gender equity within this framework is
thus easier to achieve today than it was in the 1960s as the field of African literature
was dominated by male authors.
[T. A.] There are indeed fewer women translators and interpreters because women
needed to catch up with their male counterparts. In terms of African women, which
as you must know is not just about sub-Saharan African women, we also have female
[D.S-R.] In your opinion, whose is the “guilt” (if any) for the existence of more
translations of white feminist theory divulged around the world?
[T. A.] I put the blame on colonialism in most parts of the African continent. The
adoption of the former colonial languages in most parts of the former colonized
African countries stunted the growth of translation in most parts of the African
continent. Apart from East Africa where the first post-independent president of
Tanzania, Mwalimu Julius Nyerere installed Kiswahili as the national language in
Tanzania, which is also the mother tongue in Kenya, the lingua franca in Burundi,
Uganda, the Eastern part of the Democratic Republic of Congo, and Rwanda; other
parts of postcolonial Africa have not been that lucky. A large number of the local
languages do not have written traditions and therefore, this has retarded the growth
of translations done by African women.
[T. A.] Yes, it can. If there are more African women and women of color translating
books written by our foremothers in particular and the rest of the world in general,
then it will contribute to the revival of feminist literature as a whole.
[T. A.] No, I am not aware of any. This is due to the fact that given the very small pool
of African women and women of color translators and interpreters, they mainly work
with translators and interpreters from all over the world.
[T. A.] Yes, it is possible, at least with female African translators and interpreters. This
is in part because African feminists work with grassroots women and when it is time
to come together for a female cause, it makes easier to work together and collaborate
on various issues.
[T. A.] Female translators tend to be quite sensitive to the usage of sexist language in
the source language. It always helps to work with the author (if available) to minimize
the use of sexist language in the target language.
[T. A.] From my experience in reading narratives on the African people written by
Western, or more specifically former colonists, there is a pattern in the way black
gender is portrayed that is different from the way blacks portray themselves.
[T. A.] A good metaphor should be the one used by the African feminist theorist,
Obioma Nnaemeka called: NEGOFEMINISM. That is No- Ego feminist translation.
[T. A.] Apart from the fact that the source text dictates the way the translation is
250
carried out, one can also translate feminism by being sensitive to the implications of
the words chosen during the translation process.
Tomi Adeaga [TA]: Ao longo dos anos, tenho percebido e criticado bastante o modo
como a literatura feminina africana é traduzida, por exemplo, em alemão. As mulheres
africanas são frequentemente retratadas na mídia ocidental, incluindo a alemã, como
subdesenvolvidas, desamparadas, que sofrem o jugo do patriarcado. Essa percepção,
junto com a abordagem xenófoba do continente africano, também tem afetado o modo
como os livros de africanos e da diáspora feminista africana são traduzidos em alemão.
Tomi Adeaga
A Profa. Tomi Adeaga ensina literatura africana no Departamento de Estudos Africanos, na Faculdade
de Estudos Filológicos e Culturais da Universidade de Viena, Áustria. É autora de Translating and
Publishing African Language(s) and Literature(s): Examples from Nigeria, Ghana and Germany (2006).
Publicou um artigo intitulado “Problems of Translating two Nigerian Novels into German” in Acta
Scientarum Journal of Language and Culture, v. 30, n. 1 (2008). Traduziu a obra C’était à Tigony, de
Olympe Bhêly-Quénum, como As She Was Discovering Tigony (2017). Suas áreas de interesse incluem
estudos de literatura africana, diáspora africana e estudos transnacionais, estudos da tradução bem
como estudos afro-europeus. Tem acumulado experiência como secretária fundadora do Translation
Caucus of the African Literature Association (TRACALA), o African Literature Association Executive
Concuil, e vários outros.
Dennys Silva-Reis
Doutor em Literatura (Universidade de Brasília – UnB). E-mail: [email protected]
[TA]: Sim, existe uma conexão entre eles, especialmente se for uma autora que
está tentando enunciar as dinâmicas do feminismo em sua cultura e se o tradutor
estrangeiro tentar diminuir isso porque não se conforma com sua noção e a noção que
sua sociedade tem da sociedade da autora.
[DSR]: Em sua opinião, em que medida, se for o caso, a noção de gênero de uma
dada cultura poderia ser traduzida em outra dada cultura?
[TA]: Tradução e ativismo vão de mãos dadas por diversas razões. Uma das razões
principais é que a tradução não tem sido levada tão a sério quanto deveria nas últimas
décadas. Embora as teorias da tradução tenham se desenvolvido nos últimos séculos,
os livros traduzidos a inda não são avaliados sob a mesma luz que os originais. É aí que
[TA]: Não diria isso, porque tudo depende do tipo de atividades em que esses outros
grupos de mulheres estão engajados.
[DSR]: Em sua opinião, de quem é a “culpa” (se existe alguma) pela existência
de mais traduções da teoria feminista branca divulgada mundo afora?
[TA]: Sim, pode. Se houver mais mulheres africanas e mulheres negras traduzindo
livros escritos por nossas predecessoras, e o resto do mundo em geral, isso contribuirá
para a revivescência da literatura feminista como um todo.
[TA]: Não tenho conhecimento de nenhum. Isso se deve ao fato de que, devido ao
número reduzido de mulheres africanas e mulheres negras tradutoras e intérpretes,
elas trabalham principalmente com tradutores e intérpretes de todas as partes do
mundo.
[TA]: Pela minha experiência na leitura de narrativas do povo africano escritas por
ocidentais, ou mais especificamente por ex-colonizadores, existe um padrão no modo
como o gênero negro é retratado que é diferente do modo como os negros se retratam
a si mesmos.
[DSR]: Qual seria uma boa metáfora para a tradução feminista (negra)?
[TA]: Uma boa metáfora seria a usada pela teórica feminista africana Obioma
Nnaemeka: NEGOFEMINISMO, que é tradução NÃO-EGO feminista.