Caderno Completo-Alfabetização Teoria e Prática
Caderno Completo-Alfabetização Teoria e Prática
Caderno Completo-Alfabetização Teoria e Prática
Teoria e prática
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização
expressa de ambas as autoras.
Cláudia Maria Mendes Gontijo
Cleonara Maria Schwartz
Alfabetização
teoria e prática
Introdução
Alfabetização
A leitura de textos
Leitura complementar
Referências
Introdução
As crianças têm direito de brincar, mas, às vezes, esse direito tem fim,
quando elas entram na escola para aprender a ler e a escrever. É possível
aprender brincando e é possível brincar e aprender. As brincadeiras realizadas
pelas crianças na sala de aula nos permitem conhecer a sua vida, como
compreendem o mundo e, também, contribuem para o desenvolvimento da
imaginação.
Por outro lado, as necessidades de aprendizagem estão diretamente
ligadas às respostas que damos a três questionamentos: o que ensinamos?
Como ensinamos? Para que ensinamos? Para respondermos a essas
questões, é importante que tenhamos um conceito de alfabetização que oriente
as nossas práticas.
Resumindo
A mediação pedagógica é essencial para a aprendizagem da linguagem
escrita. Ninguém aprende a ler e a escrever sozinho ou apenas interagindo
com materiais escritos.
A organização da sala de aula deve levar em conta, ao mesmo tempo, as
necessidades das crianças e as necessidades de aprendizagem da leitura e da
escrita.
Alfabetização
Resumindo
De acordo com o conceito de alfabetização adotado, ao trabalharmos com
as crianças na sala de aula, é necessário considerar as seguintes dimensões
desse processo:
a) o desenvolvimento da criticidade;
b) a produção de textos orais e escritos;
c) a leitura;
d) os conhecimentos sobre o sistema de escrita da língua portuguesa,
incluindo as relações entre sons e letras e letras e sons.
Os conhecimentos necessários à aprendizagem da linguagem escrita
A história da escrita
Figura 3: Escrita cuneiforme: inventada pelos Figura 4: Estilete utilizado pelos sumérios
Sumérios para escrever em argila úmida
Fonte: http://www.google.com.br Fonte:http://cmup.fc.up.pt
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Os silabários
O primeiro alfabeto
ʼāleph Boi ʼ
bēth Casa B
gīmel Camelo G
dāleth Porta D
hē Janela H
A importância da pontuação
Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta.
Escreveu assim:
“Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobr77inho
jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres."
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna? Eram
quatro concorrentes: o sobrinho, a irmã, o padeiro e os descamisados da
cidade (Adaptado de VENTURA, Amaro; LEITE, Roberto Augusto Soares.
Comunição/Expressão em língua nacional – 5ª série. São Paulo: Nacional,
1973. p. 84).
4. Leia os textos que se seguem e observe como foram pontuados. Qual dos
possíveis herdeiros pontuou cada um dos textos?
1) Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do padeiro. Nada dou aos pobres. __________________
2) Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do padeiro. Nada dou aos pobres. __________________
3) Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a
conta do padeiro. Nada dou aos pobres. __________________
4) Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a
conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres. __________________
Fonética
[mãtega] manteiga
[bãdera] bandeira
[pe∫i] peixe
[bolu]
[colu]
[bulu]
[botu]
[bola]
Vogais e consoantes
1
É importante notar que os erros que ocorrem durante o processo de aprendizagem da leitura
e da escrita, na maioria das vezes, são resultado de reflexões que as crianças realizam sobre a
língua oral. Dessa forma, revelam a compreensão sobre as relações entre o oral e o escrito e
servem para indicar os tipos de intervenção necessários para que as crianças progridam rumo
ao domínio das convenções que regulam o sistema de escrita.
Entretanto, “[...] dividir as letras do alfabeto em vogais e consoantes só
faz sentido se essas letras remetem a sons que na fala podem ser classificados
em vogais e consoantes, segundo a descrição fonética” (CAGLIARI, 1989, p.
57). Isso significa que, na fala, “[...] vogais e consoantes são tipos diferentes de
modos de articulação” (CAGLIARI, 1989, p. 57) e que as letras representam
esses sons.
Vogais
Atividade em dupla
Veja o exercício que se segue retirado de uma cartilha. Agora, procure analisá-
lo, considerando os seguintes aspectos:
a) Palavras utilizadas na composição do exercício.
b) Enunciado do exercício.
c) O tratamento dado a letra A.
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Consoantes
As vogais são produzidas pela passagem livre do ar pela boca.
Chamamos de consoante “[...] o fonema produzido graças aos obstáculos que
impedem a livre passagem do ar” (FARACO; MOURA, 1994, p. 31). As letras
do alfabeto português que representam as consoantes são: b, c, d, f, g, j, k, l,
m, n, p, q, r, s, t, v, w, y, x, z.
As consoantes podem ser sonoras ou surdas. As consoantes surdas são
produzidas sem vibração das cordas vocais. Experimente pronunciar as
consoantes / p / / t / e verá que não há vibração das cordas vocais. Em nossa
língua, as consoantes surdas são / p /, / t /, / k /, / f /, / s /. As demais
consoantes e as vogais são sonoras, isto é, há vibração das cordas vocais ao
serem pronunciadas.
Segundo Cagliari (1989, p. 62), uma das grandes preocupações dos
professores na escola “[...] é o fato de algumas crianças não distinguirem sons
surdos de sonoros, como por exemplo, [ p ] e [ b ], [ f ] e [ v ] etc., e, em
consequência, confundirem também a sua escrita”.
Essas trocas de letras na escrita ocorrem com frequência entre os pares
de consoantes surdas e sonoras, escritas em seguida:
Surdas Sonoras
/p/ /b/
/t/ /d/
/k/ /g/
/f/ /v/
/s/ /z/
Letras Sons
p /p/
b /b/
f /f/
v /v/
a /a/
Quadro 4: Correspondência biunívoca entre sons e letras
SALA CASA
Fone (som)
Letra Posição Exemplos
[k] c Diante de a, o, u caneta, carrancudo
Atividade de pesquisa
Trabalho em grupo
Desse modo, temos uma organização geral do ensino das relações entre
som-letra e letra-som. Acreditamos que poderemos conseguir melhores
resultados na alfabetização trabalhando essas relações integradamente ao
trabalho de produção de textos, de leitura e, ainda, tornando o lúdico parte
integrante das propostas.
A proposta de alfabetização trabalhada tem como unidade de ensino o
texto. Acentuamos que ela se difere das propostas em que o texto é apenas
pretexto para o ensino das unidades menores da língua (letras, sílabas e
palavras) e, também, compreende que o trabalho com as relações entre sons e
letras promove a reflexão sobre a língua que as crianças utilizam em seu
cotidiano.
Variação linguística
Poetas niversitários,
Poetas da Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta componês.
Atividade
a) Escreva, no espaço abaixo, o que você entende por texto, por linguagem
e por sujeito.
Linguagem:________________________________________________
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Texto:_____________________________________________________
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Sujeito:____________________________________________________
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b) Descreva como você trabalha o texto (oral ou escrito) na sala de aula.
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[...] é de suma importância retomar algumas questões básicas que, no momento, vêm
permeando os estudos sobre texto/discurso: a concepção de sujeito, de língua, de texto e de
(construção) de sentido.
2. “Assujeitamento” – de acordo com esta concepção, como bem mostra Possenti (1993), o
indivíduo não é dono do seu discurso e de sua vontade: sua consciência, quando existe, é
produzida de fora e ele pode não saber o que faz e o que diz. Quem fala, na verdade, é um
sujeito anônimo, social, em relação ao qual o indivíduo que, em dado momento, ocupa o
papel de locutor é dependente, repetidor. Ele tem apenas a ilusão de ser a origem de seu
enunciado, ilusão necessária, de que a ideologia lança mão para fazê-lo pensar que é livre
para fazer e dizer o que deseja. Mas, na verdade, ele só diz e faz o que se exige que faça
e diga na posição em que se encontra. Isto é, ele está, de fato, inserido numa ideologia,
numa instituição da qual é apenas porta-voz: é um discurso anterior que fala através dele.
Os enunciados não têm origem, são em grande parte imemoriais, e os sentidos que
carregam são consequências dos discursos a que pertenceram e pertencem, e não do fato
de serem ditos por alguém em dada instância de enunciação [...].
3. Finalmente, à concepção de língua como lugar de interação corresponde a noção de
sujeito como entidade psicossocial, sublinhando-se o caráter ativo dos sujeitos na
produção mesma do social e da interação e defendendo a posição de que os sujeitos
(re)produzem o social na medida em que participam ativamente da definição da situação
na qual se acham engajados, e que são atores na atualização das imagens e das
representações sem as quais a comunicação não poderia existir. Como bem nos diz
Brandão (2001, p. 12), retomando as colocações de Bakhtin (1979):
[...] é um sujeito social, histórica e ideologicamente situado, que se constitui na interação com o outro. Eu sou na
medida em que interajo com o outro. É o outro que dá a medida do que sou. A identidade se constrói nessa relação
dinâmica com a alteridade.
O texto encena, dramatiza essa relação. Nele, o sujeito divide seu espaço com o outro porque nenhum discurso
provém de um sujeito adâmico que, num gesto inaugural, emerge a cada vez que fala/escreve como fonte única do seu
dizer [...].
(KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2003)
Atividade
Resumindo
Os materiais didáticos que utilizamos e a forma como os exploramos no ensino
da leitura e da escrita na alfabetização estão relacionados com as nossas
concepções de linguagem/língua, de sujeito e de texto.
Quadrilha
Biscoito
Amanteigado
nov. 2008.)
100 gramas de
açúcar
200 gramas de
manteiga
300 gramas de
farinha de trigo
Modo de Preparo
os ingredientes. Em
bolinhas ou outro
formato qualquer.
Coloque-as em um
tabuleiro untado.
forno quente.
Obs.: Os biscoitos
devem ficar
clarinhos.
Biscoito
Amanteigado
nov. 2008.)
100 gramas de
açúcar
200 gramas de
manteiga
300 gramas de
farinha de trigo
Modo de Preparo
os ingredientes. Em
bolinhas ou outro
Sobre essas produções e ações, reflita:
formato qualquer.
Coloque-as em um
a) É possível identificar quem são os sujeitos que as produziram? E as
intenções desses sujeitos?
b) É possível identificar nessas produções ou ações algo que é dirigido a
um “outro”?
c) É possível identificar o contexto em que cada uma delas foi produzida?
d) Tomando por base esses questionamentos e os conteúdos abordados,
analise se as produções humanas dos quadros são textos. Analise
também se as ações humanas ilustradas envolvem situações de
produção de textos.
Resumindo
Texto é uma unidade de significação produzida pelos sujeitos em situações de
interação verbal.
Atividade
Converse com o seu colega sobre a opinião dele. É a mesma que a sua?
Registre no espaço abaixo as diferenças e/ou coincidências da opinião de seu
colega.
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(QUINO, Mafalda aprende a ler. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 42.)
(Quino. Mafalda aprende a ler. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 40.)
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Resumindo
Quando as crianças aprendem que os seus enunciados orais e escritos podem
atingir outras pessoas tanto dentro como fora da escola e que as significações
produzidas nesses enunciados podem ser levadas a outros sujeitos que não
estão fisicamente presentes no momento da situação de interação verbal, elas
passam a compreender que o texto é um lugar em que as interações ocorrem e
aprendem que a língua é uma forma de ação social e histórica.
Atividade
a) Entreviste dois professores alfabetizadores e peça-lhes que apresentem
duas atividades de produção de textos que realizam na sala de aula.
b) Registre no espaço abaixo essas atividades.
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c) Analise se essas atividades deixam claro para os alunos as condições
de produção do texto.
d) Caso não deixem, reestruture as atividades de forma que elas
contemplem as condições de produção textual.
Resumindo
Produzir textos é produzir significados pelo uso da língua na sua dimensão
linguística e discursiva. As crianças, mesmo antes de entrar para a escola, já
são produtoras de textos orais. Por isso, para elas, é mais difícil aprender a ler
e a escrever somente manuseando letras, sílabas, frases ou palavras.
A leitura de textos
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando
cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia
cochilando nas tocas. A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros,
deliberou socorrer-se de alguém. Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o
formigueiro. Bateu _ tique, tique, tique... Aparece uma formiga, friorenta, embrulhada num xalinho de
paina.
— Que quer? — perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
— Venho em busca de um agasalho. O mau tempo não cessa e eu...
A formiga olhou-a de alto a baixo.
— E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois de um acesso de tosse:
— Eu cantava, bem sabe...
— Ah! ... exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós
labutávamos para encher as tulhas?
— Isso mesmo, era eu...
— Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos
proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como
vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
(Monteiro Lobato)
Interpretação de texto 2
Interpretação de texto 3
1) Por que a cigarra pediu alimento para a formiga e não para outro animal?
2) Se você estivesse no lugar da cigarra, faria a mesma coisa?
3) Se alguma pessoa bate à sua porta para pedir ajuda, como você reage?
As abordagens de leitura
Atividade
a) Analise uma atividade de leitura do livro didático que você utiliza na sua
sala de aula. Fundamente a sua análise com as considerações
apresentadas sobre as abordagens de leitura.
b) Escolha uma atividade de leitura que prioriza a decifração do código
lingüístico ou que enfatiza apenas a compreensão de informações
presentes no texto e reestrure-a segundo os princípios da abordagem
discursiva.
Resumindo
A leitura pode ser trabalhada na escola sob diferentes enfoques teóricos. A
práticas de leitura.
LEITURA COMPLEMENTAR
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & linguística. São Paulo: Scipione, 1989.
GERALDI, João Wanderley. (Org.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo:
Ática, 2001.
GONTIJO, Cláudia Maria Mendes. A escrita infantil. São Paulo: Cortez, 2008.
ZATZ, Lia. Aventura da escrita: história do desenho que virou letra. São Paulo:
1991.