Caio Prado Jr. Notas Introdutórias A Lógica Dialética
Caio Prado Jr. Notas Introdutórias A Lógica Dialética
Caio Prado Jr. Notas Introdutórias A Lógica Dialética
À
LÓGICA DIALÉTICA
DO AUTOR:
DIALÉTICA DO CONHECIMENTO
do1s tomos - 3,ª edição - 1960
NOTAS INTRODUTÔRIAS
À
LÓGICA DIALÉTICA
2.' ED IÇÃO
[1 J
pois não se trata aqui de desenvolver exaustivamente o assunto, e
nem mesmo de procurar faze-lo. O objetivo deste livro é tão-sàmente
o de apresentar algumas indicações relativamente à maneira de orien
tar e conduzír a indagação e pesquisa cientificas da atividade do
pensamento, naquilo que diz respeito à sua função elaboradora do
Conhecimento, e às suas relações com as formas lógicas em que a
niesma atividade se exp1'ime e exterioriza.
Essa posição em frente ao problema lógico abre perspectivas, de
um lado, para a determinação do "método lógico", isto é, da ma
neira nwis acertada possível com que se há de orientar e conduzir
o pensamento na elaboração do Conhecimento. E doutro lado, para
a elaboração das formas verbais em geral, e das lógicas em parti
cular, adequadas à expressão do pensamento e do produto desse
pensanwnto que é o Conhecimento. E isso a partir de uma base
experimental e científica, isto é, a partir da Psicologia como ciência,
e não da simples intuição, como ocorre no tratamento usual da Lógica.
[2J
NOTAS INTRODUTÓRIAS
A
LÓGICA DIALÉTICA
I. - LÓGICA DIALJ1:TICA E DIALJ1:TICA
DA NATUREZA
tas outra coisa mais que êsses mesmos fatos) possa ser considerada,
descrita e expressa independentemente de tais fatos, isto é, fora da
Física que se ocupa precisamente daquela consideração, descrição
e expressão em linguagem. Não discutiremos aqui o assunto mais
a fundo, porque julgamos que pelo menos nas circunstâncias atuais
do conhecimento científico, a questão é inócua, e não tem mesmo
cabimento. Uma tal ciência específica da Dialética da Natureza,
não existe por enquanto; ninguém, ao que se saiba, dela se ocupa
sistemàticamente, inclusive naqueles países onde a nova filosofia
dialética tem o consenso geral, a saber, nos países do socialismo.
Nem essa falta se faz por enquanto sentir. Debater portanto sua
c'possibilidade" ou ,.eventualidade", é além de estéril, aventurar-se
num labirinto de especulações sem grandes perspectivas.
NOTAS INTRODUTÓ RIAS A LÓGICA DIALJ\:TICA 7
nhar, deparo pela frente com uma árvore, identifico-a como tal, ou
mais precisamente como um obstáculo que há de ser contornado.
:t::sse processo de identificação envolve desde logo a noção não so
mente da «árvore como obstáculo", como algo portanto idêntico e
assimilável a outras feições embora bem distintas, mas que even
tualmente constituiriam também obstáculos (como seria uma parede,
uma rocha, etc.) - e temos aí o caso da identidade ou uniformidade
na multiplicidade -; como ainda a noção de permanência da árvore,
que embora se encontre num processo incessante de aniquilamento
(morte, decomposição, desaparecimento ...), tem pelo menos a per
manência que interessa no caso, a saber, durante os poucos instantes
que me separam dela n o curso de minha marcha. Estaremos aí,
com o nosso processo de identificação, fixando e corno que imobi
lizando a árvore e sua história; emprestando-lhe permanência no
fluxo e transformação incessante das feições da Natureza e da nossa
árvore em particular.
Temos aí uma visão bem clara, parece-nos, do aspecto contra
ditório com que se apresenta a Natureza ao homem e seu pensa
mento e ação: de um lado, múltipla e diversa, instável e fluida;
doutro, uniforme e idêntica, estável e permanente. Ora ela se apre
senta sob um, ora sob outro aspecto. A árvore do nosso exemplo
será uma uniformidade e pe1manência se nos aproximarmos dela
como simples caminhante. Se o fizermos contudo corno botânicos,
contarão muito n1ais para nós as distinções que fazemos entre ela
e outras feições que não são vegetais e que po1ianto não nos inte
ressãriam como botânicos. Contarão também muito mais as even
tuais mutações da árvore e sua transitoriedade desde a semente que
foi até o simples lenho que será. Mas êsse mesmo botânico que se
deteria assim na multiplicidade e variabilidade que a árvore repre
senta, terá também de considerar o que há nela de unifol'me no
conjunto dos vegetais - o que lhe dará a espécie, família, classe
e1n que a árvore se inclui; e a própria transformação da árvore será
vista através de "estados" ou fases estáveis: semente, formas suces
sivas mas cada qual bem caracterizada, como sejam a caducidade
das fôlhas, a floração, etc.
Nessa contradição, qual o critério geral que deverá orientar o
pensamento e a elaboração do conhecimento? Para que aspecto da
NOTAS' INTRODUTóRIAS A LÓGICA DIAL1'TICA 11
(9) Veremos adiante (cap. 13) como essa eshutura da linguagem inspi
rada em concepções filosóficas, se ajusta aos processos pensantes que exprime
ou deve exprimir,
18 CAIO P R ADO JúNIO R
a1jlicá-los pela mesma forma a todos os usos para os quais são pró
prios, e tornando-nos as.sin1 co1no senhores e possuidores do Uni
verso.'· (Discours de la Méthode).
Antes disso, e enquanto a tarefa principal do Conhecimento
consiste apenas ou sobretudo em utilizar o pensamento no plano
inicial e primário da sünples preservação e adaptação passiva à Na
tlrreza, plano êsse em que outras funções orgânicas já desempenha1n
um papel (como aliás tanto no homem como no animal), intervindo
o pensamento apenas como refi\rço suplementar e de alta enverga
dma e potencialidade; aí o processo pensante elementar da iden
tificação siniples1nente discrimínat6ria é relativamente suficiente. E
assim a uniformidade e permanência da Natureza, cuja consideração
constitui o essencial daquele processo, tomam relêvo desproporcio
nado, e a multiplicidade e fluxo dos fatos naturais, a dialética da
Natureza, em suma, pode em rigor passar, e passa efetivamente a
um segundo plano.
Essa posição contudo se tornará, co1n o correr do tempo e
a6úmulo da experiência 11umana, cada vez mais falsa, pois as clás
sicas concepções lógicas-filosóficas encontrarão dificuldades crescen
tes para enquadrarem convenientemente um tal acúmulo de novas
experiências, e estruturarem adequadamnte a conceituação q11e re
sulta daquele progresso do conhecimento; e bem assim, p01tanto, para
fazerem face às necessidades da ação humana. Isso se observará
particularmente bem na incompatibilidade cada vez maior entre as
clássicas concepções lógico-filosóficas e a ciência, isto é, o setor
da elaboração sistemática do conhecimento. Enb·e outros, a crítica
de Descartes e o esfôrço estéril dos filósofos dos sécs. XVII e XVIII
em harmonizar ciência e filosofia, inostra1n isso claramente. A si.:.
tuação se toma particularmente aguda naqueles séculos, quando por
circunstâncias históricas várias, a elaboração da ciência se intensi'"
fica consideràvelmente. E se a crise final do esquema lógico-filo
sófico foi diferida para um ou dois séculos depois, isso se deve ao
fato que tal elaboração científica se fará na 111aior parte à margem
daquele esquema e dentro de outro sistema lógico que é o da Mate-
1nática. Mas êsse assunto não nos interessa aqui particularmente.
O fato é que o primeiro a dar o sinal de rompimento com a
Lógica clássica será Hegel. A solução hegeliana se reduz em última
22 C AI O P R AD O J ú NI OR
Isso mostra, entre outros fatos semelhantes que podem ser ob
jeto de experimentos muito simples, que a representação sensível não
é s� bsidiária, em grande parte pelo menos, das sensações elernenta
res de que · se compõem. Em outras palavras, a representação não é
específica dessas sensações, e se constitui não dos elen1entos que
i)ràpriamente a produzem, e sim da disposição relativa dêsses ele
mentos, da maneira pela qual êles se compõem entre si, espacial
mente, no caso por exemplo da percepção visual, temporalmente
no da percepção auditiva. A representação mental resulta das sen
sações elementares, isso é certo; n1as em seguida, passa a ter uma
existência de certo modo independente dêsses elementos. Ouço uma
melodia� e ela se grava 11.q memória, constituindo o que entendemos
por representação sensível ou iinagem da melodia. 1\!Ias essa repre
sentação não é solidária das notas particulares e sons específicos
NOTAS INTRODUTÓRIAS À LÓGICA DIALÉTICA 43
que a produziram, tanto que pode ser evocada por notas e sons bem
distintos, mas combinados entre si, isto é, dispostos relativamente
uns aos outros de uma determinada maneira. É pois essa combi
nação ou disposição relativa que constitui essencialmente a repre
sentação.
Examinemos o assunto mais de perto. Considere-se o caso de
uma figura muito simples: uma linha reta. O que essencialmente
constitui a representação mental que ternos dessa figura? É difícil
precisá-lo, pois há uma infinidade de "feições" ou "situações" na
turais bem diferentes un1as das outras, em que reconhecemos a
nossa representação mental e que correspondem a essa represen
tação, e que por isso poderíamos legitimamente designar por "linha
reta". Isso desde um traço numa fôlha de papel ou um fio a prumo,
até o recorte, numa paisagem que observamos pela janela, produ
zido pela parede que enquadra a janela; ou a disposição de um
renque de árvores. Tôdas essas feições correspondem à nossa re
presentação de "linha reta." Réconhecemos nelas, ou podemos nelas
reconhecer a imagem e representação que temos da linha reta. O
que há de comum entre elas e que portanto constitui o essencial
da nossa representação? únicamente uma certa "'disposição", Mas
disposição do quê? De elementos que são quaisquer e não gozam
de especificidade alguma.
Essa conclusão muito nos aproxima das teses fundamentais da
Psicologia da Gestalt, segundo as quais o que é apreendido na per
cepção (e portanto se representa mentalmente) não são os dados
elementares da sensibilidade, e sim disposições, configurações, "for
mas'' em .suma; sendo possível o reconhecimento posterior de um
objeto já antes percebido, graças ao exato equivalente da impressão
prévia no sistema nervoso central (15). Podemos até aí acompa
nhar as conclusões da Gestalt; e aproveitar assim o grande acervo
de comprovações experhnentais reunidas pelos gestaltistas em apoio
às mesmas conclusões, para fundamentar as nossas próprias conside
rações feitas acima. Mas onde os psicólogos da Gestalt vão muito
além daquilo que sua comprovada tese inicial autoriza, é na inter-
(15) David Katz, Gestalt Psychology, its nature and significance. Trad.
de Robert Tyson. London, 1951, pág. 97.
CAIO PRADO JúNIOR
ção não sürnente não é essencial para a existência desta última, mas
ainda tem um valor precário que não a esgota, pois ela é múltipla1
variável e sempre insuficiente. Mas seja como fôr, o certo é que
essa expressão pode ser e freqüentemente é posterior à relação que
exprime, e a relação portanto não depende daquela expressão. O
que o experimento de Dallembach deixa bem claro: o paciente,
tendo embora em mente a relação, não sabia exprimi-la verbalmente,
não a "conhecia" sob forma de sua expressão verbal "oposição" ou
outra qualquer. Essa expressão veio depois da relação.
Em suma, na relação conceptual - diríamos mell1or "relacio
namento'» uma vez que se trata de uma operação ou processo men
tal, de um fato dinâmico que podemos assimilar a um movimento
do pensamento - a representação independe dos elementos parti
culares e específicos de que se constitui ou que a evocam, no sen
tido de não derivar direta1nente dêles, e sim de seu emparelhamento,
ou melhor, da sucessão ou passagem de um para ouh·o. A relação
conceptual (e pois a representação mental ou conceito que a relação
configura) consiste naquela sucessão ou passagem, e não nos têrmos
60 CAIO PRADO JúNIOR
(27) Isso ainda é, a rigor, simplificar o assunto, pois o "sentido" ela lin
guagem expressa (em oposição à linguagem mumificada da Gramática e dos
dicionários) não pode ser destacado da situação geral em que se processa,
desde a mhnica dos interlocutores e entoação que empregam, até as circuns
tâncias em que êles se encontram, sejam as externas, sejam as interiores e
psicológicas, Isso tudo deve ser levado em conta, inclusive na linguagem escrita,
onde a mímica e a entoação são supridas por expedientes gráficos (ilustrações,
pontuação, variedade de tipos empregados, etc.); e onde a situação de quem
escreve, como de quem lê, concorre poderosamente para o "sentido" que a
CÀ'Pressão verbal veicula. Todo escritor experimentado conhece a importância
dêsse fato, e procura ntt n1edida do possível levá-lo em conta ao escrever.
74 CAIO PRADO JúN!OR
(34) Não é específica nero das forn1as verbais na sua expressão fonética
(isto é, as forn1as verbais como representações sensíveis, auditivas ou outras),
nem tampouco das formas gramaticais em que a expressão fonética se dispõe,
como por exemplo, entre outras, a função proposicional da Logística. 11: certo
que essas formas gran1ático-lógicas não são específicas das eventuais palavras,
86 CAIO PRADO JúNIOR
processo pensante. Reconhecemos assim que êsse papel, que é o que parti
cu1annente nos interessa aqui, se explica pelo fato de ser através da linguagem
que a conceituação se comunica entre os homens. Sem comunicação, o pensa�
menta hun1ano não seria o que é. Não entraremos contudo nesse assunto,
e analisaremos a participação da linguagem no processo pensante, sem indagar
<las circunstâncias que determinaram e condicionaram tal participação.
NOTAS INTRODUTÓRIAS A LÓGICA DIALltT!CA 95
( 38) :É daí que provém a ilúsão, consagrada pelo senso comum e gene
ralidade dos filósofos e psicólogos do passado, que a expressão verbal "designa"
un1 certo objeto. Isso é exato se tomado em sentido figurado e indireto: real
n1ente a expressão verbal designa o objeto cu;a imagem se associou a ela. Mas
empregando-se o verbo "designar" nesse sentido, é preciso não perder de vista
que entre o objeto e1n questão e a expressão verbal que o "designa", se inter
põe um fato mental que é a representação mental dêsse objeto.
NOTA5 INTRODUTÓRIAS A LÓGICA DIALllTICA 97
(.39) E1n muitos casos, essa ligação é apenas aparente e tem um valor
Unicamente exemplificativo. Assim o conceito de "liberdade" será reportado,
por um prisioneiro, ao constrangimento físico que sofre, e que para êle é bem
NOTAS INTRODUTÓRIAS A LÓGICA DIALltTICA 99
"sensível''. Mas evidentemente nesse caso, como nos infinitos outros análogç,$;,-c�'z' -J J . , .....,·."·�'4+;
Não vem a ser outra coisa o que Koffka denornina o behavioural environment,
cm contraste com o geographical environment. Mas Koffka, bem como os
de1nais gestaltistas, são muito reticentes e vagos quanto à caracterização do
que seja êsse mundo ou ineio intermediário entre o mundo real e concreto ( o
geographical envi1'onment ), e a esfera psicológica dos indivíduos. E não se
vê outra localização para êsse mundo senão numa esfera suprapsicológica que
se assemelha muito à Razão kantiana, como já foi notado, e contra que o
próprio Koffka se defende, mas co1u explicações que muito se assemelham aos
conceitos kantianos. Veja-se entre Outros textos gestaltistas, K. Koffka, Prin
ciples of Gestalt Psychology. London, 1950, pág. 305.
( 43) Daí a inversão idealista do realismo ingênuo, que para realizar essa
referência a todo transe, postula hipotéticas entidades modeladas à imagem
das representações mentais, e situadas na realidade objetiva e exterior ao
pensamento, desde as "divindades" dos espiritualistas, até a "matéria-subs
tância" do 1naterialis1no vulgar.
NOTAS INTRODUTÓRIAS A LÓGICA DIALJ':TICA 109
( 44) Em parte êsses processos diretos podem ser supridos com os dados
da antropologia e da evolução cultural da espécie humana, que revelariam
como que a filogênese de nossa conceituação; filogênese essa extensiva, por
analogia, à sua ontogênese.
110 CAIO PRADO JúNIOR
associação mnen1ônica.
Pode-se ilustrar os fatos acima co1n exemplos de ocorrências
ordinárias no curso de nossas reflexões. Quando rememoramos um
assunto qualquer - o que importa sempre em ordenar o nosso pen
samento a respeito -, estaremos em certas partes inais importantes
e centrais da n1atéria considerada, esforçando-nos por "relacionar''
entre si os diferentes dados de que a propósito dispomos. E pas
saremos com o pensamento de um para outro ponto através de rela
cionamentos que se vão propondo. E1n outras partes, pelo contrário,
louvamo-nos na simples memorização, procurando evocar os pensa
mentos (idéias ou conceitos) pelas suas conexões associativas com
outros presentes. Assim quando refletimos sôbre u1n fato histórico,
é dentro do quadro geral das condições da época (sociais, políticas,
econômicas, psicológicas, etc.), isto é, nu1n co1nplexo de relações
que procuraremos situar o comporta1nento dos indivíduos ou gru
pos de indivíduos envolvidos no fato considerado. E as circuns
tâncias que configuran1 êsse fato se proporão ah·avés de tal rela..
cioamento. Se contudo no correr de nossas reflexões se propuser
por exemplo que o curso de uma batalha ou outro acontecimento
118 CAIO PRADO JúNIOR
positivos empregados serão tanto mais vantajosos, quando êles derivam natu
rahnente do material a ser aprendido, e não consistem en1 shnples esquc1nas
artificiosos em que o material é forçadamente enquadrado. Tan1bém se obsei·
vou que à medida que a aprendizagem progride, os dispositivos auxiliares
empregados são abandonados, e o paciente passa a ligar os itens diretamente
entre si e por simples associação ( McGeoch, ob. cit., 478 ) , Isso parece indicar
que se a me1norização é facilitada pela sisten1atização e relacionan1ento, há
uma tendência, no que se refere à retenção do material memorizado, para o
abandono daquele relacionan1ento, e sua substituição pela associação. O que
se explica pela economia de esfôrço que isso proporciona, pois o relaciona
namento implica uma atividade pensante intensa, pràpriamente o raciocínio,
o que não se dá na associação.
10. - PROCESSO DE RECONHECIMENTO
E IDENTIFICAÇÃO
( 55) Extraída de En1. de Martonne. Europe Centrale, tomo IV, l.ª parte,
pág. 47, da Géographie Universelle de Vidal de la Blache.
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NOTAS INTRODUTÓRIAS A LÓGICA DlALf:TICA 131
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134 CAIO PRADO JúNIOR
( 64) Note-se que há aí u1na preferência que significa de fato uma res
trição e que indica a parcela de especificidade ainda presente na noção ou
representação de "instrumento . . ." do chimpanzé.
NOTAS INTRODUTÓRIAS À LóGICA DIALÉTICA 151
* * *
( 67) É o que já observara Hobbes: ..Um nome, escreve êle, é uma palavra
livrc1ncnte escolhida como uma marca que pode suscitar em nosso espírito
um pensamento semelhante a um que tivemos anteriormente . . ." Computatio
sive Logica, cap. II.
( 68) É muito provável que mais que mn apoio, a forma verbal constitui
um estímulo sensível dos processos pensantes, estímulo êsse que na falta
de outros, como sensações e imagens sensíveis, é indispensável ao progresso
do pensamento.
160 CAIO PRADO JúNIOR
72) Assim as conjunções, que não têm sentido próprio, e servem apenas
como articulação das proposições. Excluem-se também naturahnente as excla-
168 CA!O PRADO JúNIOR
( 76) Essa inclusão, note-se be1n, não se faz por simples acrescentamento
e justaposição de um conceito a outro. Em nossa ilustração, o conceíto de
"descobrimento do Brasil" não se acrescenta simplesmente ao conceito de "por
tuguêses como nacíonalidade, etnia, organização social, política, econômica
etc." E sim se entrosa unitàrian1ente nesta última para constituir um sistema
conceptual novo e original que inclui a representação n1ental da "interação
do fato da descoberta do Brasil co1n aquêles outros fatos da nacionalidade,
etnia, etc, dos portuguêses". Há ai mn novo fato e situação histórica que se
representa mentalmente no conceito expresso por portugu�ses descobridores
do Brasil.
178 CAIO PRADO JúNIOR
(80) Seria preciso verificar até que ponto essa "aparél;ncia" é sàn1ente
para o espírito excessivamente analista do gra1nático, do lingüista, do Iogicista.
No emprêgo usual da linguagem, não ocorre isso.
184 CAIO PRADO JúNIOR
1
dar, a título de exemplificação, uma ·dessas estruturas:
de fôlhas
de madeira de taipa
{
j artificial de barro . . .
de sopapo
habitação de alvenaria
( humana)
{
caverna
natural árvore
da América
da Austrália
do Brasil ( = portuguêses)
{
II - revelação de ,. .,. . l científica
algo desconhecido
descoberta geo�l0.ó ·g,:i,�
.·0
a'
. de rotas tnarítitnas
'ui
J ::: ::::
g g i ca
l
de territ6rio :
Brasil
( = porh1guêses)
(85) Poderia ser nesta outra: o Btasil é unia descoberta dos po1tuguêses,
que tem "sentido" nlgo diferente, isto é, cxprilne outra conceituaç�10. �.'las
. { terrestres { em rotas conhecidas {
192 CAIO PRADO JúNIOR
, .
não-europeus
I
IV - descobertas de ,.
I I
navegadores rotas marltm1as Flór1'da
europeus . africanoslRio da Prata
terntonos americanos . . . . .
Brasil
.
asiáticos
( po1tuguêses)
=
• • •
{92) Co1n respeito a natureza do no1ne, veja-se cap. 13, pág. 167.
NOTAS INTRODUTÓRIAS A LóGIGA DIALJ\;T!CA 203
não é massa, nem tempo, etc. e assim por diante), quando coordenados e rela
cionados na teoria mecânica, êlcs perdem essa sua individualidade, desapa
recendo sua exclusão recíproca, como se verifica em que não é possível fazer
referência a qualquer dêles, que não importe ao mesmo tempo em referência
a todos os outros. Basta para comprová-lo, considerar a sua conceituação e
definição dentro da teoria mecânica, o que se realiza com equações em que
todos se acham sempre presentes expressa ou impllcitamente, e reunidos.
(104) O papel da forma verbal (em que se inclui a forma gráfica) na
condução da atividade pensante, pode ser avaliado no confronto da resolução
de problemas matemáticos respectivamente pelo método aritmético e pelo
equacionamento algébrico. Neste últüno caso, o relacionamento dos dados
oferecidos no problema proposto se representa co1n expressões simbólicas (fun-
232 CAIO PRADO JúNIOR
( 109) Como se sabe, foi Descartes quem deu a essa concepção a forma
acabada que se perpetuaria. - Sendo a quantidade uma discriminação inte
rior da qualidade, segundo se viu, a generalização e universalização da con
ceituação quantitativa impunha a determinação de un1a qualidade geral e uni
versal de que tôdas as quantidades fôssem discriminação interior. Essa quali
dade geral e universal, e por isso mesmo única, seria a extensão.
240 CAIO PRADO JúN!OR
• • •
INTRODUÇÃO 1