Guia de Estudos e Atividades para Filosofia Antiga
Guia de Estudos e Atividades para Filosofia Antiga
Guia de Estudos e Atividades para Filosofia Antiga
Atividade 2 GL
Neste momento vamos nos voltar para os aspectos histricos do surgimento da Filosofia na
Grcia Antiga. Para tanto vamos utilizar um texto-resumo bem cuidadoso, e que destaca os
aspectos fundamentais para que os alunos compreendam as teses acerca das origens da
reflexo filosfica entre os gregos. O objetivo mostrar que o milagre grego tem pontos de
partida que lhe permitiram vir luz naquele momento. Mais do que uma espcie de intuio
sobrenatural, tratou-se de uma confluncia de fatores que possibilitaram essa nova forma de
ler e interpretar o mundo.
O texto a ser lido agora o de n 2 A histria da filosofia antiga e a formao do pensamento
ocidental. A partir dele os alunos devem discutir:
I.
O que significava, para Pitgoras, filosofia?
II.
Por que a filosofia nascente tambm pode ser entendida como uma cosmologia?
III.
Quais os principais fatores, apontados por Marilena Chaui, para explicar o surgimento
da filosofia entre os gregos?
IV. Quais as caractersticas que marcam o primeiro perodo da filosofia, o pr-socrtico?
V. Por que, com Scrates, a filosofia passa a assumir uma concepo antropolgica?
C.R.: ainda estamos na fase inicial, ento s quero mesmo que eles leiam com ateno esse
texto e respondam as cinco questes acima que esto na sequncia. um cortar-colar, mas
preciso que eles tenham bem claro isso tudo, para que as atividades posteriores possam se
desenvolver de um modo mais reflexivo.
I.
Para Pitgoras, filosofia o amor ao saber, o prazer que se tem ao utilizar a
racionalidade, marca do esprito humano, em busca de respostas precisas e seguras
acerca dos problemas para os quais se volta.
II.
Porque a filosofia nasce como uma tentativa de oferecer um conhecimento racional
(lgos) acerca da ordem do mundo ou da natureza (cosmos).
III.
As viagens martimas; a inveno do calendrio; a inveno da moeda; o surgimento
da vida urbana; a inveno da escrita alfabtica e a inveno da poltica.
IV. A resposta est nas pginas 8-9. No vou transcrever toda ela aqui para poupar
espao...
V. Aqui temos a famosa divisa dlfica e todos os desdobramentos que Scrates extrai
dela. Fundamentalmente, a proposta dele marcada no voltar-se do homem para si
mesmo, uma vez que de nada serve conhecer o cosmos se no se sabe quem ou que
se faz nele. Da a necessidade, para o socratismo, de se compreender o prprio homem
(nthropos) de um modo racional (lgos).
C.R.: Deixo ao tutor a avaliao das respostas. Mas todas tm de conter estes pontos
minimamente explicitados.
O aluno deve ler o captulo A infncia da filosofia de Anthony Kenny, In: Histria
concisa da filosofia ocidental, pp. 19-42. Nossas prximas atividades esto baseadas
nele, embora os alunos tambm possam encontrar as respostas em outros textos, como
na Introduo ao volume Pr-socrticos da Coleo Os Pensadores. Temos de mostrar
a eles uma grande quantidade de autores em um curtssimo espao de tempo, ento
vou selecionar apenas aqueles pontos que so fundamentais para qualquer futuro
professor de filosofia. No consegui extrair do arquivo apenas o captulo que me
interessa porque o livro est completo. Se algum souber como fazer isto, agradeceria
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Filsofo
Ideias centrais
Tales de Mileto
Anaximandro
Anaxmenes
Xenfanes
Herclito
Parmnides
Empdocles
Demcrito
II.
CR: Aqui tambm temos o texto do Anthony Kenny pra ajudar. Eles j tero lido para
preparar o quadro anterior. S estou repetindo aqui pra enfatizar mesmo, porque preciso que
eles entendam bem o modo como a argumentao dele se desenvolve, at porque a linguagem
bastante densa, quase hermtica como ocorre com os fragmentos de Herclito tambm...
Assim, se eles conseguirem explicar um pouco mais, est excelente.
o Parmnides afirma que o Ser e o Pensar so uma e a mesma coisa. No se trata de
perceber apenas o significado mais imediato do verbo ser, como existir. A existncia
das coisas que so o que so possvel porque ao homem dada a capacidade de
refletir acerca do sentido de tal existir. Por isso ser e pensar so sinnimos. S os
homens conseguem chegar a esta associao. Ele ainda refora essa identidade
explicando que o ser tambm ingnito, indestrutvel, compacto, inabalvel e semfim, no foi nem ser, pois agora um todo homogneo, uno, contnuo. Trata-se de um
trecho bastante complicado do poema, e que requereria uma boa discusso em
conjunto.
o O no-ser, por sua vez, impensvel, por isso, no existe. O que ele parece querer
mostrar que somente aquilo a que temos acesso por meio do pensamento pode ter
sua existncia afirmada. Ele no dizvel, nem pensvel, por isso sua existncia no .
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Unidade 3 Plato
Agora vamos leitura do Texto 7, que poder ser complementada pela leitura de um
trecho do dilogo Fdon, Texto 8. Ele servir para complementar a explicao acerca
dos dois mundos, o sensvel e o suprassensvel ou inteligvel, e nos auxiliar a
compreender o significado da ascenso do esprito na direo do conhecimento
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verdadeiro. Reconheo que outra leitura extensa e exigente. Para tentar facilitar um
pouco, sugiro que os alunos concentrem-se apenas no passo em que Plato apresenta a
segunda navegao (Fdon, pp. 42-43, pargrafo XLVIII) a fim de ampliar aquilo
que est no Texto 8, que ser utilizado para o exerccio que proponho abaixo.
Pedir aos alunos que expliquem, no GD, o significado da segunda navegao.
Enfatize que necessrio que seja feito um paralelo entre o que Plato prope e
aquilo que havia sido apresentado pelos pr-socrticos, que, de acordo com ele,
teriam empreendido a primeira navegao.
C.R.: o Texto 7 relativamente curto, uma vez que se concentra to-somente na explicao
acerca da segunda navegao, ou seja, o esforo que o esprito emprega por si s a fim de
alcanar a verdade acerca das coisas. Trata-se da explicao platnica acerca do esforo que
ele empreendeu sozinho na busca de uma explicao que pudesse dar conta daquilo que
encontramos na Repblica, ou seja, a passagem do mundo sensvel ao suprassensvel ou
inteligvel, que s pode ser acessado de modo individual, por meio de uma concentrao do
esprito em si mesmo, na prpria capacidade racional de pensar a partir daquilo que encontra
dado no mundo ao seu redor. Contudo, ele no suficiente para entendermos, minimamente
que seja, a profundidade da elaborao de Plato. Para tanto precisamos ainda do auxlio do
Livro VI d A Repblica. Ele o foco da prxima atividade.
III.
Solicite aos alunos que faam uma pesquisa na internet que lhes fornea uma
explicao do contedo do livro VI dA Repblica (passo 509d-511e). Depois eles
devem elaborar num quadro/grfico o modo como Plato explica o progresso da
alma em busca do conhecimento.
C.R.: encontrei o quadro abaixo, que achei bem explicativo, claro e ilustrativo. Mas h
outros. O importante que todos discutam este processo de ascenso a fim de compreender o
que estava por trs da alegoria da caverna. Acredito que ser necessria uma explicao
cuidadosa de cada momento a fim de mostrar como Plato concebeu o acesso ao mundo
inteligvel. Com estas leituras penso que seja possvel compreender um pouco da extensa e
riqussima proposta platnica, que revolucionou o filosofar!
Seria bom chamar a ateno dos alunos para cada etapa mostrada neste quadro e mostrar
como aqueles que se dedicam a encontrar o caminho da Verdade, chegar s Ideias eternas e
imutveis que nos garantiriam a segurana de um conhecimento correto acerca dessas
verdades, tm um longo caminho a percorrer. O quadro procura explicar visualmente aquilo
que Plato discute no Livro VI dA Repblica: como se passa do mundo sensvel (base do
quadro) para o suprassensvel/inteligvel. Cada etapa esclarece o nvel em que estamos e
aquele para o qual devemos nos dirigir. Deste modo, a alegoria da caverna, que est no
comeo do Livro VII fica muito mais clara. Mas eu preferi inverter para que eles primeiro
tenham a historinha para depois perceberem a profundidade dela. Naturalmente, durante a
discusso deste quadro a imagem da caverna deve estar sempre presente. Plato sabia que se
tratava de algo radicalmente novo, por isso a ilustrao alegrica. Ela visava a tentar facilitar
um pouco o acesso a essas verdades que ele revelava.
H muito mais coisas na filosofia platnica, mas infelizmente nosso tempo pequeno para
tudo. Acredito que o fundamental os alunos entenderem como ele foi capaz de apresentar
um grande sntese entre o pensamento pr-socrtico, do qual herdeiro, e ir adiante pelo
prprio esforo reflexivo. Dei uma nfase ao papel do conhecimento porque um dos pontoschave da proposta platnica. Espero que seja suficiente o que temos por aqui, e que sirva de
incentivo para aprofundamentos posteriores.
Unidade IV Aristteles
Nosso ltimo conjunto de tarefas est voltado para aspectos do pensamento aristotlico.
Tentei manter a linha gnosiolgica a fim de no nos desviarmos do eixo condutor que pensei
quando montei a disciplina. Mas no caso dele, importante tambm enfatizar a discusso
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Para comear, os alunos devem ler com ateno os dois textos introdutrios, Texto 9
Aristteles - A Metafsica. So duas explicaes-resumo bem generalistas dos pontos
centrais da Metafsica aristotlica. Por se tratar de um texto bastante exigente, acredito
ser necessrio entrar nele por uma via de acesso mais simplificada. Ler o original de
Aristteles requer tempo, disciplina, preparo, pacincia. Ademais, dispomos de
pouqussimas tradues decentes em portugus. um daqueles textos que precisa de
algum que o conhea bem para acompanhar passo a passo tudo o que Aristteles
discute, uma vez que ele est sistematizando toda a discusso anterior a ele, desde os
pr-socrticos at Plato. Um esforo gigantesco da parte dele, e um grande desafio
para todos ns. De qualquer modo, fundamental que os conceitos centrais
apresentados por ele estejam bem claros para os alunos. Depois eles podem aprofundar
o que vamos discutir aqui alis, devem mesmo.
Os alunos estaro estudando Lgica concomitantemente a esta disciplina. Para
evitar sobreposio de assuntos/contedos vou deixar a parte da lgica
aristotlica para o professor responsvel. Mas precisamos de alguns dos
conceitos de l para melhor compreender a metafsica aristotlica tambm.
Neste sentido, vamos solicitar aos alunos que preparem, novamente de modo
bem esquemtico, um quadro-resumo com as dez categorias propostas por
Aristteles quando se volta para os modos como podemos falar do ser. Algo
assim:
Categoria termo
aristotlico
T est; ousa
Posn
Poin
Prs t
Po
Pte
Kesthai
khein
Categoria - traduo
Substncia
Quantidade
Qualidade
Relao/relativo
Local
Tempo
Posio
Ter/estado
Poien
Fazer/agir
Pskhein
Exemplo
Homem, cadeira, pedra...
Cinco metros; dez quilos...
Branco; belo; doce; forte...
Metade; o dobro;
No mercado; em casa...
Hoje; amanh; s dez horas...
Deitado; andando; correndo...
X possui um livro; Y est
armado (tem uma arma)
Queimar; transformar algo;
produzir...
Ser queimado; ser irritado...
Isto serve para deixar bem visvel os modos como Aristteles pensa nossa
forma de expressar, pela linguagem, aquilo que nos vai no esprito. Claro que
h muito mais coisas a serem discutidas, mas como disse antes, vou deixar para
o professor de Lgica. Por ora, o que nos basta para avanar no exerccio e
ampliar para a Metafsica.
Agora, com relao aos dois textos, vamos levar as seguintes questes para o
GD:
o Por que a metafsica, para Aristteles, constitui a filosofia primeira
(prot philosopha)?
o Como relacionam-se matria, forma, ato, potncia e as quatro causas?
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C.R.: a metafsica trata da discusso do ser enquanto ser, ou seja, daquilo que , como e de
como vem a ser aquilo que . Por isso, est na base de todo o conhecimento que se queira
verdadeiro. Sem entender os fundamentos racionais que explicam a realidade a partir de sua
origem, isto , os modos como tudo o que existe no universo veio a ser como ns
percebemos/vemos/ouvimos/sentimos lembremos que Aristteles no descarta o papel dos
sentidos no caminho do conhecimento, contrariamente proposta platnica, para a qual os
sentidos devem ser abandonados em prol do conhecimento inteligvel que prescinde deles.
Por esta razo ele comea definindo o conhecimento ontolgico como filosofia primeira ou
teologia. Alis, bom ressaltar para os alunos que o termo metafsica no foi dado por
Aristteles, mas por Andrnico de Rodes quando da classificao da obra aristotlica,
significando apenas aquilo que est alm da fsica, ou seja, o conhecimento que precisa ir
alm daquilo que os sentidos oferecem, embora partindo do material por eles fornecido. A
Fsica aristotlica ocupa-se da realidade sensvel; na metafsica ou ontologia, trata ele das
questes que subjazem a realidade sensvel.
A relao que pode ser estabelecida, em linhas bem gerais, entre os elementos que listei na
segunda questo parte pode ser pensada a partir de nossa experincia do mundo circundante.
Assim, todas as coisas que vemos so compostas de matria e formam, isto , algo de que
feito e o modo como foi feito e pode ser apreendido por ns pelos sentidos. Por exemplo,
quando vemos uma mesa reconhecemos que ela feita de madeira (matria) e quadrada, ou
redonda, ou, oval (forma). Contudo, no somos capazes de separar a matria da mesa de sua
forma. Isto s possvel por meio da reflexo abstrata. Conseguimos nomear de matria
aquilo de que algo feito, e de forma o modo como se vemos/sentimos/ouvimos, mas estas
so duas categorias do pensamento que no existem na realidade independentes uma da outra.
O prximo passo compreender como a forma foi dada matria, ou como a matria recebeu
a forma. Para isto, Aristteles utiliza a explicao potncia-ato: uma determinada matria (a
madeira do nosso exemplo) pode vir a ser infinitas coisas (uma mesa, uma cadeira, uma
escultura, uma tigela, uma escada...), isto significa afirmar que ela tem potncia para vir-a-ser
essas coisas todas. Contudo, de cada vez, ela ser uma nica coisa, pois pode assumir uma
nica forma quando aparece na realidade, ou se torna ato. Isto significa que ao vermos a mesa
pronta temos aquilo que a madeira pode ser efetivamente realizado. E quando vemos uma
cadeira feita de madeira, o mesmo acontece. E assim infinitamente, de acordo com as
possibilidades todas como a matria madeira pode conformar-se, ou tomar uma determinada
forma.
A entram as causas. Para que algo saia de seu estado de potncia e se torne algo (em ato)
quatro causas precisam agir concomitantemente. preciso a matria (causa material), a forma
(causa formal), o agente (causa eficiente), e a finalidade (causa final). No meu exemplo, para
que haja a mesa precisamos da madeira, da forma que queremos dar mesa, de um
marceneiro, capaz de transformar a madeira bruta em mesa, e a finalidade deste processo,
aquilo para que a mesa vai servir.
Isto tudo deve ser discutido e compreendido pelos alunos para que a discusso seguinte,
acerca da tica e da poltica fique clara.
IV.
A segunda atividade ser a produo de um texto escrito. A base ser o Texto 10,
Aristteles tica. Pea aos alunos para lerem com ateno e produzirem um texto
reflexivo, para ser lido e discutido no GL, e que tenha por foco os seguintes pontos:
a. A definio aristotlica de felicidade (eudaimona);
b. A importncia do hbito para o cultivo das virtudes morais;
c. O sentido de mediania, ou de justa medida, para o bem agir;
d. A responsabilidade moral.
e. A virtude da phrnesis (sabedoria prtica).
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C.R.: gostaria que aqui os alunos tivessem maior liberdade para pensarem acerca do que
leram. No quero conduzir a avaliao. O texto proposto como guia para estas questes
bastante explicativo. Mas o importante como cada aluno compreende os contedos ali
desenvolvidos, apropria-se deles e os transforma em algo que lhe faz sentido.
V.
Para encerrarmos nossa caminhada pela Filosofia Antiga, temos ainda de percorrer
uma ltima etapa: a discusso poltica aristotlica. No ltimo pargrafo da tica a
Nicmaco, ele nos promete um livro no qual discutir os desdobramentos da ao
moral na coletividade. Se o trabalho da tica a Nicmaco tem como escopo
compreender como se constitui o bem agir humano individualmente, a funo da
Poltica a de ampliar as questes para que se possa compreender como os homens
constroem a vida em sociedade. Para tanto, vamos ao ltimo texto, Texto 11,
Aristteles A Poltica.
f. Pedir aos alunos para que faam uma pesquisa a fim de explicar o que
Aristteles quer dizer com o homem um animal poltico (zon politikn),
que consta no incio do Livro I dA Poltica.
g. A partir desta compreenso, que dever ser discutida no GD, e tendo lido o
texto 11, os alunos devem debater acerca de como se compreender a
felicidade tendo no horizonte o que foi discutido na tica a Nicmaco
agora, nA Poltica? Se ela constitui um bom estado de esprito (eudaimona)
individualmente, como torn-la algo coletivo? Qual a lio de Aristteles que
poderamos manter no nosso horizonte ainda que no sculo XXI?
C.R.: bem, aqui eu vou deixar para o tutor liberdade de avaliar de acordo com o que for
discutido em conjunto. Acredito que neste momento os alunos j tm material suficiente para
debater esta e outras tantas questes que foram propostas ao longo da disciplina de um modo
minimamente satisfatrio.
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