A Conferencia de Belgrado
A Conferencia de Belgrado
A Conferencia de Belgrado
ISBN 978-86-531-0100-8
ISBN 978-86-531-0100-8
9 788653 101008
Jorge Santos Carvalho
A Conferência de Belgrado
(Set./1961), a Jugoslávia
e o Colonialismo Português
Nº 8903
Belgrado
2014.
Mojim profesorima
Andreju Mitroviću i Branku Petranoviću
3
anos de conflitos e de soluções adiadas — ao Acordo de Londres
(Out./54), a abertura do processo de reconciliação com a URSS
iria permitir contrabalançar a dependência com um só bloco e, ao
mesmo tempo, o resultado de contactos diplomáticos, iniciados
logo a seguir à independência indiana (Ago./47), transformar-se-ia
na terceira alternativa da sua política externa. Como já havia um
convite da Birmânia (Set./53) e «a viagem aos países distantes
da Ásia significava também um certo ganho de tempo, enquanto
a situação não se esclarecia2», foi antecipada a data da partida
(Dez./54) e a escolha do lento meio de transporte, o navio-escola
Galeb (Gaivota), não foi por acaso3. Assim, esta visita de Tito foi um
«acontecimento decisivo, por um lado, no processo da formulação
da estratégia da política externa jugoslava e, por outro, da definição
inicial do quadro da futura actuação dos Estados fora dos blocos e
não-alinhados 4».
Após a independência da maior parte dos países asiáticos e
do fim da guerra da Coreia (Jul./53), esta «viagem de paz» seguiu-
-se à derrota do colonialismo francês na Indochina5 — a batalha
de Dien Bien Phu (Mar.-Mai./54) e o Acordo de Genebra (Jul./54)
— e precedeu a Conferência de Bandung (Abr./55). Uma situação
política que justificou as instruções recebidas, em fins de 1952,
pelos diplomatas jugoslavos para reforçarem os contactos com os
representantes dos estados asiáticos e africanos que tivessem uma
posição próxima no campo das relações internacionais. Entre eles,
pelas ligações económicas, salientavam-se os seguintes: Birmânia,
Ceilão, Etiópia, Índia, Indonésia, Líbano, Paquistão, Síria e Tailândia.
2
Dimitch Lhubodrag, «Na busca de alternativa. Um recorte da política
externa da Jugoslávia (1953-1955)», em sérvio (http://www.cpi.hr/download/links/
hr/7327.pdf, consultado em Dez./2011).
3
Nesta viagem de dois meses do navio-escola da armada jugoslava,
acompanhado de 2 contratorpedeiros e de um cargueiro, as visitas oficiais de
Tito decorreram na Índia (16/Dez./54-3/Jan./55 e 21-25/Jan./55), Birmânia (6-17/
Jan./55) e Egipto (5/Fev./55).
4
Dimitch Lhubodrag, ibidem.
5
Meses depois, começou a insurreição argelina (Nov./54) que contou com
um importante apoio político-militar jugoslavo.
4
Acrescente-se que, em 1953, a Jugoslávia tinha no estrangeiro 49
embaixadas, 5 missões especiais e 13 consulados-gerais.
Se as conversações com Nehru confirmaram as possibilidades de
atenuar o isolamento político na Europa e de desenvolver os contactos
políticos e económicos com os novos países recém-independentes,
foi Bandung que convenceu Tito, como o próprio afirmou mais
tarde, da importância do não-alinhamento6. Em Dezembro de 1955,
novamente no Galeb, visitou a Etiópia e o Egipto, onde se reuniu
com o imperador Selassié e o presidente Nasser.
No primeiro semestre de 1956, esta actividade diplomática
continuou — visitas a França, URSS (a primeira pós-1946) e
Roménia — e foi coroada, em Julho, pela realização do primeiro
«encontro multilateral de estadistas não-alinhados», em Brioni,
entre Tito, Nehru e Nasser, que foi considerado um passo importante
para a criação do Movimento dos Países Não-Alinhados7. Nesse
ano e nos seguintes, as crises internacionais no chamado «Terceiro
Mundo» — do Suez ao Congo, passando pela Argélia, Vietname e
Cuba — e um relacionamento constante com os dois blocos, apesar
de problemas políticos e económicos, foram acompanhados do
estabelecimento de ligações mais estreitas com os novos estados
asiáticos e africanos8, aos quais se juntaram os latino-americanos
após a visita de uma missão jugoslava (Jun.-Ago./59) a 12 países do
continente americano9. Nestes últimos, é de referir que, no caso de
6
Termo introduzido no vocabulário político por Nehru, em 1954, num
discurso proferido em Colombo.
7
Uma síntese: Boguetitch Dragan, A Nova Estratégia da Política Externa
da Jugoslávia 1956-1961, Belgrado, 2006. 384 p. (em sérvio).
8
Estabelecimento de relações diplomáticas com os recém-independentes
Marrocos (1957), Tunísia (1957) e Gana (1959).
9
Destes países (México, Costa-Rica, Honduras, Cuba, Haiti, Venezuela,
Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Brasil), na Conferência de Belgrado
(Set./61), só um (Cuba) aceitou ser membro do Movimento dos Não-Alinhados
e três (Brasil, Equador e Bolívia) estiveram como observadores. Esta ausência,
em Belgrado, dos países latino-americanos esteve ligada, segundo informações de
algumas embaixadas jugoslavas, às pressões diplomáticas dos EUA. Por exemplo,
no caso brasileiro, numa declaração do embaixador dos EUA, o Brasil não devia
participar na Conferência de Belgrado, o que o presidente Jânio Quadros considerou
5
alguns deles, as relações diplomáticas com a Jugoslávia datavam já
do período entre as duas guerras mundiais.
Além das suas embaixadas e de diplomatas atentos, a polí
tica externa jugoslava dependeu, nesta fase da constituição do
Movimento dos Países Não-Alinhados, das directivas de Tito e das
suas visitas a 14 países asiáticos e africanos10, entre 1959 e 1961,
que o consagraram como um dos seus principais líderes. A partir da
diplomacia, a Jugoslávia estabeleceu com muitos deles importantes
trocas comerciais. Contudo, neste período, sem nunca atingir 15%
do seu comércio exterior11.
uma ingerência nos assuntos internos do Brasil, estando ligada à crise política
provocada pela sua posterior demissão e a tentativa de golpe de Estado (25/Ago./61).
Igualmente, em Brioni (30/Jul./61) Tito advertiu Chester Bowles, subsecretário do
Departamento de Estado, que este caso mostrava que os EUA estavam empenhados
em impedir a participação dos estados latino-americanos na cimeira. Vide. Boguetitch
Dragan, «Agravamento das relações jugoslavo-americanas depois da primeira
cimeira dos países não-alinhados em Belgrado», Istorija 20.veka, 2/2006, p.72-86
(em sérvio). Aqui, também é de mencionar as iniciativas de Agostinho da Silva,
então professor da Universidade de Baía (e fundador do seu Centro de Estudos
Afro--Orientais), junto do presidente brasileiro sobre a política não-alinhada. Vide,
Agostinho Pedro, «Agostinho da Silva: pressupostos, concepção e ação de uma
política externa do Brasil com relação à África» (http://www.afroasia.ufba.br/pdf/
afroasia n16 p9.pdf, consultado em Dez./2011). Política que não era desconhecida
por Jânio Quadros, pois tinha sido recebido por Tito durante a sua visita à Jugoslávia
(Jul./59), como foi recebido o seu enviado João Ribeiro Dantas (Abr./61).
10
Nestas duas viagens, no Galeb, Tito visitou: Indonésia, Birmânia, Índia,
Ceilão, Etiópia, Sudão e Egipto (Dez./58-Mar.59); Gana, Togo, Libéria, Guiné,
Mali, Marrocos, Tunísia e Egipto (14/Fev.-26/Abr./61).
11
Conforme os dados estatísticos (1960), os restantes 60% pertenciam aos
EUA, países europeus ocidentais, Canadá e Austrália e 27% à URSS, países do
leste europeu e China.
6
posições em relação aos conflitos entre as grandes potências, surgiu
então a ideia da realização de uma reunião dos seus dirigentes.
Meses depois, no Egipto (Abr./61), Tito apresentou uma proposta
para a sua convocação que foi aceite por Nasser. O local da primeira
conferência do movimento em Belgrado, as principais questões
dos debates e os critérios de admissão seriam aprovados na reunião
ministerial preparatória no Cairo (Jun./61).
Ali, foram aprovadas 5 questões (Desarmamento, Colonialismo,
Papel e Estruturas da ONU, A Alemanha e Berlim e Os Problemas
Económicos) para serem discutidas pelos representantes dos estados-
-membros e, quanto aos critérios de admissão, estes estados deviam
ter uma política externa independente «baseada na coexistência
de estados com diferentes sistemas políticos e sociais», apoiar os
«movimentos pela independência nacional» e não pertencerem
a nenhuma aliança militar surgida «no contexto do conflito das
grandes potências»12.
12
Todavia, além destes critérios mais conhecidos, outros permitiam algumas
excepções: caso esses estados tivessem um «acordo militar bilateral com uma
grande potência», ou fossem membros de um «pacto defensivo regional», esses
acordos ou pactos não deviam ter sido assinados «expressamente e no contexto do
conflito das grandes potências»; se um país permitiu bases militares estrangeiras
no seu território, essa «concessão não deveria ter sido dada no contexto do conflito
das grandes potências».
13
Os resultados obtidos (a realização da Conferência e a escolha de
Belgrado) foram considerados «uma vitória completa» pela delegação jugoslava.
Porém, a anterior posição da Índia contra a formação de um movimento e a
convocação da cimeira, acompanhada por uma atitude demasiado favorável em
relação à política exterior britânica, mais as propostas do Cairo ou de Havana
como alternativas à capital jugoslava, apresentadas pela Guiné e por Cuba, foram
indicadores de uma falta de coesão que confirmaram informações anteriores,
relatados na correspondência desse ano (e anteriores) das embaixadas jugoslavas
nesses países.
7
(excepto em cinco deles14) receberam instruções com vista a
consultações com os governos acerca das questões em discussão,
para uma aproximação de ideias e um maior sucesso da Conferência
de Belgrado. Assim, em primeiro lugar, esta teria de «contribuir
para o desanuviamento das tensões entre o Oriente e o Ocidente e
no mundo em geral». Igualmente, a análise dos problemas «deveria
ser realista e objectiva, quer dizer moderada e construtiva com o
objectivo de se dar apoio a todas as tendências e posições positivas»,
evitando as frases propagandísticas ou «um exagerado radicalismo
e extremismo» que só os afastaria das «reais possibilidades de uma
acção política construtiva». Contudo, sem intenções de ser um
terceiro bloco, esta cimeira não deveria «evitar a crítica aberta
às direcções e acções negativas nas relações internacionais»,
tomando posições precisas e claras «em todas as grandes questões
internacionais».
De 1 a 6 de Setembro desse ano, em Belgrado, realizou-se a
«Conferência de Belgrado dos Chefes de Estado ou de Governo
dos Países fora dos Blocos15», a primeira cimeira do Movimento
dos Países Não-Alinhados, com a participação de 25 estados-
-membros: Afeganistão, Arábia Saudita, Argélia, Birmânia, Cam
bodja, Ceilão, Chipre, Congo, Cuba, Etiópia, Gana, Guiné, Iémen,
Índia, Indonésia, Iraque, Líbano, Mali, Marrocos, Nepal, Repú
blica Árabe Unida, Somália, Sudão, Tunísia e Jugoslávia. Como
observadores, além de três países (Brasil, Equador e Bolívia),
também estiveram representantes de 38 movimentos de libertação,
14
De acordo com este documento, estas instruções não foram enviadas
para quatro deles (Arábia Saudita, Iémen, Nepal e Somália) por não haver relações
diplomáticas com esses países, nem para a « embaixada em Havana porque,
segundo a nossa opinião, não podemos esperar resultados favoráveis das consultas
políticas com o governo de Cuba por causa das posições deste governo em relação
à Conferência de Belgrado e à Jugoslávia». Contudo, não foram mencionados:
Argélia; Chipre; Congo; Tunísia. É de salientar ainda que os três últimos estados
e outros dois (Iémen e Líbano) não estiveram na reunião do Cairo. Dos países
observadores, esteve presente o Brasil.
15
Só na terceira conferência (Lusaca, Set./1970), surgiu a designação de
países não-alinhados.
8
partidos e organizações progressistas de todos os continentes.
Entre estes últimos, alguns dirigentes dos movimentos das colónias
portuguesas.
16
O PCJ era, em 1945, um dos partidos comunistas europeus mais
importantes, e Tito, juntamente com Dimitrov, um dos principais dirigentes
comunistas após Staline. Também, Belgrado foi a cidade escolhida para a primeira
sede do Cominform. Depois da ruptura de 1948-53, a Liga dos Comunistas da
Jugoslávia (designação a partir de 1952), restabeleceu as relações com o movimento
comunista internacional. Apesar das crises posteriores com os partidos soviético —
Hungria (1956) e 1959-60 — e chinês — revisionismo jugoslavo (1959-61) —,
essas relações mantiveram-se sem as consequências ocorridas no anterior período.
17
Quanto a uma avaliação dessa direcção (1945-80), pode-se citar: « A
política externa de Tito é um exemplo raro de relativa incursão autónoma e com
sucesso nas relações hierárquicas da ordem internacional e do domínio das
inevitáveis sujeições periféricas dos pequenos países aos interesses das potências
poderosas. O sucesso diplomático é flagrante porque a independência nas relações
internacionais foi realizada com um Estado no espaço balcânico proverbialmente
instável e na zona perigosa dos interesses indefinidos dos blocos. Trata-se de
uma invulgar diplomacia activa e com sucesso em particulares circunstâncias
históricas». Kulhitch Todor, Tito – estudo sociológico-histórico, Zrenhanin, 2004,
240p. (em sérvio).
9
preparativos, organização, sessões, conversações, publicações, etc.—
não há um fundo único, obrigando os investigadores a buscas por
possíveis fundos relacionados com os objectivos das suas pesquisas
e que se encontram, em Belgrado, no Arquivo da Jugoslávia (AJ) e
no Arquivo Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros
(ADMNE). Do mesmo modo, estes dois arquivos permitem, embora
com um número de documentos mais reduzido, o estudo das posições
jugoslavas a respeito do colonialismo português e suas relações com
partidos e movimentos que, em Portugal e nas colónias africanas,
lutavam contra o Estado Novo e pela independência nacional dos
seus países. Tendo em conta a especificidade documental — do
heurístico ao histórico —, optou-se por uma citação frequente dos
testemunhos (traduzidos) na exposição dos resultados hermenêuticos,
sem esquecer as cautelas metodológicas exigidas por tal escolha.
Quanto a outras fontes: após a integração do Arquivo Iosip Broz
Tito (2009) no AJ, o seu importante arquivo fotográfico ficou no Museu
da História da Jugoslávia; noticiários e documentários cinematográficos18
(Arquivo da Filmske Novosti); programas televisivos (Sector de Do
cumentação da Rádio Televisão da Sérvia); arquivos sonoros (Radio
difusão da Sérvia); imprensa (Biblioteca Nacional da Sérvia).
18
Segundo o diário Borba (9/Set./61), durante a Conferência de Belgrado,
foram filmados 117 000m (71 horas) de película (35mm) por 14 câmaras, dos quais
resultaram vários jornais de actualidades e documentários da Filmske Novosti. Um
deles teve versões nos 5 idiomas oficiais da Conferência.
19
As razões para esta situação podem estar na legislação (30 ou mais anos
para o direito ao acesso a documentos nos arquivos históricos), nas guerras e suas
consequências político-económicas na década dos anos 90. Também, surgiram com
o desaparecimento da Jugoslávia e a crise socioeconómica seguinte (e actual) outros
temas de investigação na historiografia da Sérvia. Uma prova dessa mudança: o
cinquentenário da Conferência de Belgrado reduziu-se, pode-se dizer, às cerimónias
políticas.
10
Uma nota acerca da tradução dos textos em sérvio-croata20: há
poucas emendas lexicais ou estilísticas; fez-se a transliteração dos
nomes; quando rara, a pontuação foi corrigida.
20
Conforme os censos (1961 e 1991), a Jugoslávia tinha 18,5 e 23,5
milhões de habitantes e, entre os seus 5 principais idiomas, o sérvio-croata era a
língua materna de 75% da população. Actualmente, há o sérvio, o croata, o bósnio
e o montenegrino.
11
( II )
A viagem africana de 1961
21
Em Belgrado, os protestos de dezenas de milhares de manifestantes
terminaram junto à embaixada da Bélgica que foi assaltada e uma parte demolida
e incendiada. O governo belga protestou «com profunda indignação, porque não
podia compreender que a polícia tivesse sido tão pouco eficaz», como também
pelas acusações jugoslavas de ligações da Bélgica com o assassinato de Lumumba.
Já o embaixador dos EUA informou oficialmente (15/Fev.) que as autoridades
jugoslavas «protegeram eficazmente as representações americanas em Belgrado,
Zagreb e Saraíevo».
13
votação da resolução22 (15/Mar.), apresentada por este país africano,
no Conselho de Segurança da ONU, acerca da situação angolana.
Apesar de rejeitada pela abstenção de 6 dos seus 11 membros (a
sua aprovação exigia 7 «votos afirmativos»), esta resolução contou
com os votos favoráveis dos EUA23 e URSS. Nesses dias, o chefe
da diplomacia jugoslava, Kotcha Popovitch24, em Washington,
falou com Dean Rusk25 e outros diplomatas (Chester Bowles26
22
Recorde-se que a Assembleia-Geral já tinha aprovado duas resoluções
(15/Dez./60) acerca dos «territórios administrados por Portugal» (Resolução 1541 e
1542 ).
23
Numa «Informação acerca de Angola» (5/Abr./61), «o representante
dos EUA sublinhou como indispensável a necessidade de uma gradual, mas
sistemática e rápida melhoria da situação em Angola, alegando na anterior
resolução da ONU que obrigava Portugal a entregar um relatório sobre a
situação nas suas colónias, os preparativos do povo para a independência e de
colaborar com a ONU. // A demonstração americana de carácter anticolonial
no Conselho de Segurança teve uma recepção muito favorável entre os africanos
e surpreendeu os aliados ocidentais, embora isto tenha sido somente uma
concessão formal de carácter táctico. A reacção de Portugal à atitude dos EUA
no CS foi muito dura. Como seguinte protesto à atitude dos EUA, o governo
português organizou uma manifestação em frente do consulado americano em
Luanda durante a qual foram demolidos o edifício e automóveis.» (AJ, KPR,
I-5-a).
24
Konstantin Kotcha Popovitch (1908-92) – Estudante (Suíça e Paris),
tenente (reserva) de artilharia do exército jugoslavo, escritor, membro do PCJ,
oficial do exército republicano na Guerra Civil de Espanha (1937-39), combatente
da luta de libertação jugoslava (1941-45), general–coronel do exército popular
jugoslavo, chefe do Estado-Maior do EPJ (1948-53) e secretário federal dos
Negócios Estrangeiros (1953-63). Foi, ainda, Vice-Presidente da República (1966-
-67) e ocupou outras funções estatais e partidárias até 1972, quando se retirou da
vida política devido às mudanças políticas (demissão dos dirigentes «liberais») na
Sérvia impostas por Tito.
25
Dean Rusk (1909-94) – Secretário de Estado dos EUA (1961-69).
26
Chester Bowles (1901-86) – Político (subsecretário de Estado, 1961)
e diplomata (embaixador na Índia, 1951-53 e 1963-69). Nas conversações com
Popovitch (17/Mar./61), depois de terem discutido a situação no Congo, Bowles
disse, segundo as notas do embaixador jugoslavo, o seguinte: «consideravam
que os brancos são insensatos na USA (N.doT.:União Sul-Africana) e em Angola
e por isso esperavam conflitos. O embaixador da USA disse aos americanos que
deviam olhar para os seus assuntos e que não tinham nada a ver com estas
14
e George Kennan27) sobre os últimos acontecimentos em Angola,
Congo e na União Sul-Africana (USA).
As visitas aos países seguintes (Guiné, Mali e Marrocos)
decorreram também com a divulgação notícias de Angola28. No
último país, em Casablanca, realizou-se, duas semanas depois da
partida do Galeb, a I Conferência das Organizações Nacionalistas
das Colónias Portuguesas29, que mereceu as atenções da embaixada
jugoslava. A segunda passagem pela Argélia decorreu sem
incidentes30 e, durante a visita oficial à Tunísia (9-14/Abr.), outra
notícia, esta sobre o primeiro homem no espaço, Iuri Gagarin,
correu o mundo. Ali, além das conversações com Bourgiba, Tito
15
encontrou-se com Ferhat Abbas, presidente do Governo Provisório
argelino, reafirmando o direito do povo argelino à independência
e confirmando o comunicado conjunto assinado por ambos na
Jugoslávia (Jun./59). A caminho do Egipto, a última etapa desta
viagem (17-22 Abr.), soube-se da invasão de Cuba e da derrota dos
invasores na Praia de Gíron, terminando com as notícias do «putsch
dos generais» na Argélia.
Além dos aspectos políticos e dos resultados obtidos, esta
viagem conta com uma numerosa documentação que permite
saber factos e opiniões dos principais membros da delegação, de
Tito e dos seus anfitriões — entre eles, Nkrumah, Sékou Touré,
Modibo Keita e Nasser mereceram as maiores atenções —, assim
como dos preparativos (da organização aos custos), dos relatórios
(conversações e reuniões) e tantos outros pormenores desta viagem
que contribuiu para uma maior afirmação da Jugoslávia e do seu
presidente a nível internacional.
Cada um dos 8 países visitados tinha o seu «material prepa
ratório da viagem» e de «informação política» a que se juntaram as
«notas das conversações», «comunicados conjuntos», «discursos,
saudações, entrevistas e declarações» e os «diversos». Como o
primeiro país desta viagem31, a preparação do programa da visita
ao Gana serviu de modelo para os restantes países, havendo a
sua adaptação ao grau de desenvolvimento das relações político-
-económicas com a Jugoslávia e às posições na política internacional
de cada um deles. Igualmente, o discurso de Tito (Vide Anexo-1)
no Parlamento ganês (2/Mar.) foi depois o paradigma para todos
os outros que proferiu nesta viagem. Por isso, mereceu uma grande
atenção de Tito e dos diplomatas com quem discutiu a sua elaboração
desde o seu manuscrito ao texto final. A documentação existente
permite acompanhar estas fases e intervenções em alguns rascunhos
cheios de cortes e emendas.
Um discurso que começou com as habituais saudações
protocolares, as referências aos laços de amizade entre os dois países,
31
A visita ao Gana tem cerca de 500 páginas de documentos (AJ, KPR-
I-2/13), sendo uma das mais bem documentadas.
16
ao colonialismo, à África e à Indochina. Entre outros temas, é
de sublinhar os seguintes: a situação no Congo (o assassinato
de Lumumba, o papel da Bélgica e a cumplicidade da ONU) e
em Angola; «a política sem escrúpulos de discriminação racial»
do governo da União Sul-Africana e «a sangrenta epopeia do
povo argelino»; a questão da luta contra o colonialismo e o
seu desaparecimento, avisando que «era ingénuo acreditar que
a liquidação do colonialismo dependia da boa vontade das
potências coloniais ou que elas dão alguma coisa a alguém, a
não ser quando são obrigadas, sob a pressão dos movimentos
de libertação e da opinião pública mundial, a retirar-se»; a
importância dos problemas económicos e das dificuldades de
desenvolvimento dos novos estados devido ao passado colonial
e ao actual comportamento dos países colonialistas; o perigo do
alargamento da Guerra Fria às regiões coloniais; comparação
da história jugoslava e a dos novos estados africanos; quanto ao
apoio jugoslavo « não houve nem um povo colonial a quem a
nova Jugoslávia não prestou total ajuda política e moral à sua
luta pela liberdade e independência. Também, no futuro, nós
continuaremos tal política».
Dirigindo-se, novamente, aos presentes, Tito retomou a
crise congolesa, acusando «os colonialistas belgas e os círculos
imperialistas no mundo» com os «seus representantes e diversos
usurpadores do tipo de Mobutu, Tchombé, Kalonji e outros
semelhantes» a que se juntaram «alguns órgãos e funcionários das
Nações Unidas e, antes de todos, o secretário-geral». Concluiu:
«Para eles, antes de tudo e sobretudo interessa-lhes o Congo belga
— um Congo submetido à dominação estrangeira, cuja riqueza os
colonialistas exploraram quase um século inteiro.»
Mas, voltando às referências sobre a insurreição em Angola,
há um documento32 com as notas estenográficas da discussão
sobre «as teses e os conceitos» para este discurso entre Vélheko
32
Meia-dúzia de páginas dactilografadas cheias de sublinhados, frases
riscadas e algumas notas nas margens. Embora sem data, é de supor que este
documento seja dos primeiros dias desta viagem.
17
Mitchunovitch33 e Leo Mates34 (Vide Anexo-2) — dois diplomatas
experientes, sendo um deles o secretário-geral do Gabinete do
Presidente da República — que comprova a sua importância no
contexto político internacional e mostra uma escolha de informações
e argumentos para analisar (e condenar) o colonialismo português.
Este é um dos exemplos mais citados, conjuntamente com os do
Congo, Argélia e do «apartheid» sul-africano, para salientar que
«o colonialismo e a situação internacional, ou seja, os problemas
entre as grandes potências e a Guerra Fria não são mais uma
questão separada». Assim, não se podia resolver «as relações
entre as grandes potências e conseguir a coexistência entre elas
sem a resolução da questão colonial».
33
Vélheko Mitchunovitch (Tsetinhe,1916-Belgrado,1982) – Membro
do PCJ e dirigente estudantil na Universidade de Belgrado(1935). Em 1941, no
Montenegro, foi um dos organizadores da resistência contra o ocupante italiano.
Combatente do Exército de Libertação Popular da Jugoslávia, após 1945, ocupou
importantes funções estatais e partidárias. Até 1952, no Ministério do Interior e, a
seguir, no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Embaixador na URSS (1956-58 e
1969-71) e nos EUA (1962-67). Autor de «Anos de Moscovo, 1956-58 » e «Anos de
Moscovo, 1968-71» (várias edições estrangeiras).
34
Leo Mates (Osíiek,1911-Belgrado,1991) – Estudante e dirigente do
movimento estudantil na Universidade de Zagreb. Membro do PC jugoslavo, esteve
preso várias vezes entre 1933 e 1941. Durante a guerra (1941-45), combatente do
ELPJ. No pós-guerra, redactor-chefe da Tanjug e diplomata no Reino Unido. Entre
1954-58, embaixador nos EUA e representante da Jugoslávia na ONU. Secretário-
-geral do Gabinete do Presidente da República (1958-61) e, depois, secretário-
-adjunto dos Negócios Estrangeiros. Director do Instituto de Política e Economia
Internacionais de Belgrado e autor de várias obras sobre as relações internacionais
(«Não-Alinhamento», 1970; «As Relações Internacionais da Jugoslávia Socialista»,
1976; e «A Política das Grandes Potências e o Armamento», 1988).
18
e, sem mencionar números, descreveu as grandes dificuldades
económicas desses povos e a necessidade de apoios. Afirmou que
«o colonialismo é uma coisa ultrapassada e que é preciso liquidar
quanto antes em todas as suas formas», considerando-o «um
absurdo» que ameaçava acender uma «nova fogueira mundial».
19
( III )
As relações da Jugoslávia com Portugal e os
movimentos de libertação das suas colónias
21
observações acerca de Angola e Moçambique porque tinham muito
poucos dados» a seu respeito. Segundo ele (Out. 59), na «bibliografia38
encontra-se a explicação para como os portugueses conseguiram
limar as arestas dos movimentos de libertação nacional, porque
não praticam qualquer discriminação e misturam-se socialmente.
Há também bastantes matrimónios mistos. Esta gente é geralmente
unida. Isto parece uma das razões por que não há movimentos de
libertação nacional assim tão importantes e que lá os movimentos
quando começarem a expandir-se um pouco serão sociais 39».
Noutro documento (Nov./59), dividia-se ainda, «sob o aspecto
da força e sucesso da luta de libertação nacional», a chamada
«África Negra» em três regiões: a primeira ia do Senegal ao Congo;
uma segunda com menos sucesso (África Oriental britânica e África
do Sul); e a terceira com «os movimentos de libertação nacional
mais fracos» (colónias portuguesas de Angola e Moçambique,
Bechuanalândia, etc.).
Todavia, a leitura e o estudo destas informações permitem
acompanhar esse interesse crescente por uma maior recolha de
informações sobre o colonialismo português, mas igualmente a sua
discussão numa comissão, como a das relações internacionais da
LCJ e da ASPTJ40, que ocupou um lugar importante na condução
22
da política externa deste país. Contudo, acrescente-se, a longa
inexistência de contactos com a oposição política portuguesa41
impediu efectuá-los com a facilidade e alguma frequência que já
existiam, em 1960, com os movimentos angolanos (MPLA e UPA).
Assim, sabe-se que, na II Conferência dos Povos Africanos
(Tunis, Jan./60), um funcionário da ASPTJ42, Dimitríie Babitch43,
encontrou-se com os membros dos movimentos das colónias
portuguesas44 e, três meses passados, em Acra, voltou a falar com
Gilmore45 que lhe disse desejar visitar a Jugoslávia, «eventualmente
em Junho», antes da independência do Congo. Pediu-lhe, ainda,
para lhe mandarem «material da Jugoslávia para poder conhecer a
história da Jugoslávia e os actuais problemas», pois se interessava
muito pela experiência jugoslava «acerca de diversos problemas na
construção do país».
Quanto a Angola, haveria 500 000 refugiados46 no Congo e que
«o seu partido tinha organizações em quase todo o país, mas eram
ilegais. Estão orientados para a preparação da luta armada, porque
começaram em fins dos anos cinquenta e tiveram, durante três décadas, diferentes
periodicidades (semanais a bimensais) e presenças dos seus membros (20 a 40 por
sessão).
41
As datas das primeiras conversações foram as seguintes: FPLN (Fev./62);
PCP (Out./1964).
42
A Aliança Socialista do Povo Trabalhador da Jugoslávia tinha a seu
cargo as relações com a maioria das organizações, partidos e movimentos políticos
estrangeiros, excepto com os partidos comunistas que pertenciam à Liga dos
Comunistas da Jugoslávia.
43
Na ASPTJ, teve a seu cargo as relações com os movimentos de libertação
das colónias portuguesas, a FPLN e a ASP. Depois, diplomata, na embaixada na
Tanzânia (antes de 1974), e, mais tarde, embaixador, em Angola.
44
Além do citado Gilmore (o nome Holden Roberto só apareceu meses mais
tarde), estiveram, em Tunis, Lúcio Lara, Viriato Cruz, Hugo Meneses e Amílcar
Cabral. Todavia, não foram encontrados documentos sobre esses encontros, que são
mencionados noutros documentos posteriores.
45
«Nota da conversação com o secretário-geral do Partido Democrático
de Angola,Gilmore», 10/Abr./60 (AJ,507,IX,3/I-1).
46
Um número que, em 1961, oscilou noutros documentos entre os 30 000
e 600 000 refugiados.
23
dificilmente é possível de outra maneira 47conseguir seja o que for
dos portugueses».
Como além desta curta nota — a próxima menção a uma viagem
à Jugoslávia só apareceu, muitos meses depois48, numa proposta de
programa —, é de supor que as ligações, pelos traços documentais
encontrados, não foram muito frequentes em 1960. Contudo, a
recomendação para que essa visita não coincidisse «com a estada
de Mário Andrade» — um convite tinha sido feito, no Cairo, ao
presidente do MPLA (Mar./61) — apontava para uma maior atenção
para com essas relações. Dessas visitas, só a de Holden Roberto se
realizou em Agosto desse ano.
Embora com atraso49, o encontro e a «conferência de imprensa»
de dirigentes nacionalistas, em Londres (Dez./60), mereceram uma
«breve informação acerca dos movimentos nacionais das colónias
portuguesas em África» por parte da embaixada jugoslava, em
que se sublinhou a realização de uma próxima «conferência dos
representantes de todos os movimentos das colónias para a criação
do Comité Coordenador permanente.»
24
a «amnistia para todos os presos políticos» e a retirada de
todos «efectivos militares e agentes da polícia política desses
territórios», os subscritores deste documento criticaram as ilusões
nas possibilidades de uma «libertação pacífica» (em Goa, havia
organizações que eram por meios não-violentos) nas condições de
um «governo fascista em Portugal» e a ausência da condenação da
política colonial portuguesa por parte da OTAN.
O «Santa Maria»
50
Em 1961, a designação de legação foi substituída por embaixada na
classificação das missões diplomáticas jugoslavas.
51
Lazar Udovitchki (Budapeste,1915-Belgrado,1997) – Estudante da
Universidade de Praga, membro do PCJ e combatente das Brigadas Internacionais
na Guerra Civil de Espanha (1937-39). Em França, preso nos campos de
concentração (1939-41) e membro da Resistência francesa (1941-43). Capturado,
em 1943, esteve até ao fim da guerra em prisões francesas e alemãs. Na Jugoslávia,
25
«a revolta» neste barco influenciou o «atear da luta de Angola,
particularmente, porque os revoltosos fizeram declarações que
tencionavam desembarcar em Angola». Os acontecimentos em
redor do 4 de Fevereiro mostraram que «Angola saiu do quadro da
questão interna de Portugal e tornou-se uma questão de carácter
internacional». Também, além dos preparativos e relatos da
«primeira grande acção [do DRIL que deveria] chamar a atenção
do mundo para a sua luta pelo derrubamento do regime fascista na
Península Ibérica», estas duas dezenas de documentos52 abrangem
posteriores reuniões do citado diplomata jugoslavo com alguns dos
seus dirigentes (excepto Henrique Galvão) da chamada «Operação
Dulcineia».
26
estudantes e o exército, como na marinha de guerra —, «a passagem
de algumas (do total de 25) unidades para o lado do Delgado poderia
permitir a tomada do poder nas possessões portuguesas e depois o
desembarque em Portugal, o que também levantaria imediatamente
a Espanha 53». Mesmo, após cinco meses, havia «a probabilidade
de que o governo de Salazar caísse ainda antes do fim do ano o que
provocaria claramente um irresistível movimento contra Franco»,
prevendo-se, por isso, «a possibilidade da mudança do governo
republicano para Lisboa 54». Igualmente, por esses dias de Julho,
outro político republicano, exilado em França, José del Barrio disse
ao embaixador Tchernei: «A queda do regime de Salazar, mais cedo
ou mais tarde segura, irá ter, tendo em conta a situação em Espanha,
[...] imediatas repercussões ali. O regime de Franco sobreviverá ao
de Salazar só alguns dias ou semanas no máximo55».
Em Caracas, «o capitão Fernandes do barco “Santa
Maria”», que tinha regressado recentemente do Brasil, visitou o
embaixador Udovitchki para lhe falar, em nome do DRIL, de uma
«situação politicamente muito mais favorável do que antes da
tomada do barco» e apresentar o pedido para a realização do seu
congresso — «máximo 20 a 25 pessoas» e «dentro de 2 meses» —
na Jugoslávia 56. Uma escolha que consideraram a mais apropriada
53
Telegrama (Paris, 3/Fev./61) do embaixador Tchernei para Belgrado
acerca da visita, no dia anterior, do «vice-presidente do governo espanhol Just» e
da sua avaliação da «acção do “Santa Maria”», (ADMNE, idem).
54
Neste telegrama (22/Jul./61), além de diversas informações sobre a
situação política espanhola, Julio Just voltou a falar ao embaixador Tchernei dessas
possíveis mudanças em Portugal, embora sem mencionar as suas fontes ou explicar
a ausência dessas mudanças, (ADMNE, idem).
55
Embora este telegrama tenha a mesma data de o anterior, é possível que
as duas conversações não tenham ocorrido no mesmo dia, (ADMNE, idem).
56
Nesta «carta cifrada» (19/Jun./61), como noutros documentos, o nome
deste dirigente do DRIL, Jorge Sotomayor, nunca foi mencionado (ADMNE,
Portugal, F-108,1961). Também, não fez qualquer referência à saída de Henrique
Galvão, acusado de colonialista e traidor, em Maio, por muitos militantes do DRIL.
Ver: D.L.Raby, «O DRIL (1959-61). Experiência única na Oposição ao Estado
Novo», Penélope, n.º16, 1995, p.63-86(http://www.penelope.ics.ul.pt/pages/todo.
htm).
27
para a sua realização secreta e a guarda do seu arquivo. Como o
seu interlocutor lhe chamou a atenção para a próxima Conferência
de Belgrado, o próprio Fernandes (Sotomayor) propôs outra data
e referiu-se mesmo a Marrocos, «como segundo país», embora
considerasse a Jugoslávia muito mais indicada para esse fim. Porém,
a resposta a este pedido, dada dias depois, foi negativa 57.
57
(ADMNE, idem). O telegrama do SENE (30/Jun./61) diz: « Não se deve
dar resposta concreta acerca da realização do congresso no nosso país, porque não
temos dados suficientes acerca deles. Ao Fernandes dizer de maneira conveniente que
o congresso teria mais efeito caso fosse realizado mais perto do seu país.» Segundo
D.L.Raby (idem, p.77), «[...] Outra informação da PIDE fala de um congresso do DRIL
a realizar um pouco mais tarde em Belgrado, mas não temos qualquer confirmação
de outras fontes». Além da confirmação, pela comparação de fontes, a data da citada
«informação secreta» (6/Jun./61) revela que a PIDE sabia do congresso antes do
pedido ter sido apresentado pelo DRIL, em Caracas, ao embaixador jugoslavo.
58
Esta visita foi o assunto principal numa reunião, no Quai d’Orsay,
em que o diplomata jugoslavo recebeu, entre outras, as seguintes respostas do
seu interlocutor francês: «A situação interna em Portugal não os preocupava.
Consideram que Salazar tem a situação nas mãos. A última mudança no Governo
representa a eliminação dos elementos que eram por uma política “mais liberal”
nos territórios ultramarinos, em particular em Angola, mas não pelo abandono de
Angola e a concessão da independência. [...] Consideram que as discussões na ONU
acerca de Angola não contribuem para encontrar uma solução construtiva. Angola
é um assunto interno de Portugal. Esta é a opinião do MNE francês». Quanto à
visita de Couve de Murville «não teve algum significado maior. Retribuição de
visita». Telegrama (Paris, 17/Abr./61), ADMNE, idem.
28
conforme a política africana do novo presidente dos EUA, John
Kennedy, como o então «desenvolvimento em África [...favorecia]
os russos» e para um «verdadeiro, anticolonialismo [era] necessário
efectuar preparativos. Propuseram destituição de Salazar por junta
militar que segundo o modelo do De Gaulle prepararia a “solução”
de Angola, [...]. A acção seria provocada pelo Brasil, de forma a não
ter o selo americano.» O presidente Jânio Quadros teria aceitado esta
proposta estado-unidense «e o objectivo da viagem de Arinos foi o
contacto com os representantes da junta tendo à frente o ministro da
Defesa». Porém, acrescenta-se neste documento que «o embaixador
português no Brasil soube e informou pessoalmente Salazar, de
maneira que este tomou todas as medidas e imediatamente após
o regresso de Arinos substituiu todas as figuras-chave militares,
decretou a mobilização em Angola e reforçou o terror.»
Para terminar estas informações, no «caso da inevitabilidade
da libertação de Angola os americanos joga[va]m também na carta
do movimento UPA-aborígene e nos portugueses que est[avam]
de acordo com solução conforme o modelo da Libéria.» Quanto
a «Delgado e Galvão, inimigos pessoais de Salazar», estes não
representavam « factores» que contassem a sério «seja aqui, ou seja
nos EUA.»
Como foi o único documento59 encontrado sobre esta viagem
ou com referências a seu respeito, as numerosas perguntas que
podiam ter sido colocadas não são conhecidas. Relativamente à
ausência de comentários nesta «carta cifrada» pode ser explicada
pelo facto deste tipo de documento se cingir, habitualmente, a um
simples relato das informações, ficando as análises para as notas
ou relatórios enviados por correio diplomático. Perguntas essas que
poderiam ter sido um dos (possíveis) temas das reuniões havidas,
em Belgrado, com Humberto Delgado, embora a documentação
existente a seu respeito não o permite saber. Contudo, sabe-se que
esteve em finais de Setembro desse ano na capital jugoslava, mas
os poucos documentos relativos à sua estada (27Set./4Out.), como
59
(ADMNE, idem).
29
convidado da Liga Jugoslava da Paz60, não dão muitos dados acerca
do que fez e com quem falou. Não obstante, há o seu telegrama,
enviado da primeira estação ferroviária jugoslava na fronteira com
a Itália, para o MNE em Belgrado a comunicar a chegada pelas 23
horas dessa quarta-feira, onde seria esperado, segundo a decisão do
mesmo ministério, «pelo camarada Lhuba Iosifovitch da Liga da
Paz 61» como um convidado «sem particular tratamento, privado»
dessa organização. Após um pedido da embaixada da Índia sobre a
presença na Jugoslávia do «líder da oposição portuguesa» (4/Out.),
a sua partida para Marrocos por via aérea, na manhã desse dia, foi
confirmada. Às perguntas se Delgado se encontrou com alguns dos
dirigentes do SENE e da ASPTJ, «ou, talvez, até o tenha recebido o
Presidente da República», o diplomata jugoslavo (autor da «nota»
sobre este assunto) respondeu que nada sabia, mas quanto lhe era
conhecido não houve tais reuniões ou encontros.
60
Embora (ADMNE, idem) o seu arquivo não se encontre no AJ — onde
devia estar, pois esta organização já não existe há mais de uma dezena de anos —,
não está confirmado o seu desaparecimento.
61
ADMNE, F-108, Portugal (1961). Outros documentos (AJ, 507/IX,
10-V).
62
Nesse dia, em Casablanca, terminou a I CONCP.
30
houve qualquer referência à viagem à Jugoslávia, pode-se pressupor
que a citada proposta de programa foi posterior a este encontro.
Por esta nota, fica-se a saber que «Holden Roberto e Gilmore
são a mesma pessoa e o nome Gilmore serviu a Roberto» para
esconder a sua «identidade perante os portugueses». Também, que
«desde 1956, se encontrava na emigração», tinha passaporte tunisino
e era «presidente da União da População de Angola». No Congo,
contava com «o apoio de uma parte do governo em Leopoldville»,
pois o presidente Kasavubu era «contra a UPA e sua actividade do
território do Congo». Todavia, «não se podia opor directamente»
por causa da posição de «muitos do seu governo» e o apoio do povo
e do exército congoleses.
Quanto a Angola, além de 30 000 refugiados63 no vizinho
Congo, teriam «4-5000 combatentes, mas com fraco equipamento»
e um «território libertado de cerca de 400 quilómetros quadrados».
O principal problema era o armamento e as munições, pois a única
possibilidade de abastecimento que existia era através do Congo e
«todos os restantes caminhos e territórios fronteiriços não podiam
ter-se em conta», estando até as costas guardadas com a «ajuda de
unidades navais dos EUA».
63
Como se mencionam 130 000 refugiados noutros documentos, coloca-se
a possibilidade de erro por parte do subscritor desta «Nota».
64
Holden Roberto enganou-se no ano da partida para Lisboa (1948), onde
se matriculou na Faculdade de Letras (Filologia Clássica). Em 1954, partiu para
Paris.
31
Então, no quadro da ONU, as acções pela liquidação do
colonialismo contavam com tempos e condições favoráveis, embora,
na opinião de Holden Roberto, deveriam ser cautelosos e ter em
conta que não se repetisse o caso do Congo. Receava que as acções
dos portugueses, apoiados pelo Ocidente e os EUA, não fizesse algo
semelhante ao que os belgas fizeram no Congo e, dessa maneira,
criarem uma situação ainda mais difícil. Por isso, era contra uma
excessiva actuação directa da ONU. Considerava que, nessa altura,
o mais importante era conseguir a formação de uma comissão de
inquérito para apresentar um relatório sobre Angola na XVI Sessão
da Assembleia-Geral. Paralelamente, insistir junto da ONU para
dar a maior ajuda possível aos refugiados angolanos «e começar a
solução deste difícil problema».
A CONCP
32
«importante e com sucesso», realçando-se que «o tom da conferência»
foi dado pelos representantes de Angola, «que defendiam a linha
da condução da luta armada», e a recepção dos seus participantes
pelo rei Hassan II que «assim legalizou e reconheceu oficialmente a
actuação do secretariado permanente em Casablanca».
Segundo um boletim (uma centena de páginas, fotografias,
discursos, etc.), a sua organização foi uma iniciativa do MPLA, do
PAI(GC) e da Liga de Goa, e reuniu 13 delegados, representando
10 organizações de 6 países: Angola, Cabo-Verde, Guiné, Goa,
Moçambique e S.Tomé e Príncipe. Pelas resoluções aprovadas e
outros documentos ali apresentados sobre a situação política nas
colónias portuguesas e em Portugal (resolução «sur l’opposition
portugaise», um comunicado de imprensa pelo «Santa Maria» e
o memorando endereçado ao governo português66), os dirigentes
políticos e diplomatas jugoslavos passaram a ter (e a procurar) mais
informações sobre as lutas desses movimentos e partidos.
66
A resolução foi aprovada na Conferência, enquanto os outros documentos
têm as seguintes datas: o comunicado (28/Jan./61); o memorando (1/Dez./60).
67
Por erro no seu arquivamento, estes documentos encontram-se em: Guiné,
F-33, 1961. Como deviam estar no F-101 (Angola, 1961), a pesquisa heurística
deve ter em conta estes possíveis erros na sua classificação e arquivamento.
33
disciplina. Foi feita uma proposta de cooperação entre os dois
movimentos, mas «Gilmore recusou essa orientação». Esperava
um reforço do apoio dos países africanos e outros e «nesse sentido
enviou cartas para Nasser, Keita, Ture, Nkrumah e outros. Escreverá68
também ao camarada Presidente».
Mário de Andrade interessou-se, continuou Topaloski, «pelas
nossas relações com o lager. Ele em contacto com os orientais69.
Contudo, em relação a nós mostrou uma posição correcta».
Acrescentou que ele tinha uma formação marxista e considerava
que «Estaline acabou, entre outras coisas, com qualquer tentativa
de desenvolvimento da teoria e que, depois de Lenine, não foi feita
uma profunda análise das mudanças histórico-sociais.»
Convidou-o a visitar a Jugoslávia que aceitou, reconhecendo
que não entendeu bem, no Cairo, o convite pessoal que lhe dirigiram.
Propôs 15 de Agosto para a sua chegada, «de forma a ficar para a
Conferência dos Não-Alinhados» e, da Jugoslávia, iria para Nova-
-Iorque, assistir à Assembleia-Geral da ONU.
Este telegrama termina com a recomendação para lhe ser pedido
um artigo acerca de Angola «que seria publicado no Borba».
34
a embaixada indiana, foi-lhe recomendado que «seria bom que
também estabelecesse contacto com os jugoslavos», aos quais foi
comunicado o interesse de Savimbi pela realização desse encontro.
De acordo com a «Nota»71 deste diplomata, as suas perguntas
tiveram do dirigente da UPA as seguintes respostas:
Tinha 28 anos72, primeiramente inscreveu-se, na Suíça, em
Medicina, «mas, depois, abandonou o estudo de Medicina e dedicou-
-se às ciências políticas, em que se licenciou na Universidade de Berna.»
Vivia em Lausana e «abriu um escritório do movimento em Genebra».
Segundo ele, a situação em Angola caracterizava-se «por
um terror cada vez maior dos colonialistas», calculando-se que
tivessem sido mortos «mais de 40 mil angolanos, enquanto mais
de ½ milhão foi enviado para a União Sul-Africana73 e outros
países como mão-de-obra barata para as minas». Igualmente,
era impedida «por todos os meios» a escolarização da população
nativa, havendo até um «ensino para a população “civilizada”
e “não civilizada”. Em base de tal divisão do número total da
população autóctone (Angola tinha 4,5 milhões de habitantes, dos
quais 200 mil portugueses), somente 50 mil frequentavam a escola
primária, enquanto nas universidades em Portugal estudavam só 4
angolanos74». Além disso, acrescentou que para «reforçar as suas
71
«Nota acerca da conversação de R. Brzitch, conselheiro da embaixada,
com Jonas Savimbi, representante da União do Povo de Angola (UPA), 10 de Julho
de 1961», 4 pág., (AJ, 507-IX,3/II-5).
72
Afinal, em Julho, tinha só 26 anos, pois o seu aniversário era no dia 3 do
mês seguinte. Nesse ano, festejou-o em Belgrado.
73
Seriam angolanos ou moçambicanos? Erro do diplomata jugoslavo ou
mais uma informação que não mereceu qualquer crítica ou uma simples pergunta
acerca da sua veracidade.
74
Não há neste ou noutro documento uma referência à sua estada,
como estudante, em Portugal. Todavia, sabendo da recente fuga de uma centena
de estudantes de Portugal (Jun./61), pois ele próprio teve contactos com muitos
deles em Paris, este número coloca algumas perguntas acerca dos motivos que
levaram Savimbi a dar essas informações ao seu interlocutor jugoslavo. Também,
a possibilidade do seu interlocutor ter confundido este dado com os 4 licenciados
congolêses (que a Bélgica teria deixado no Congo quando da independência) é
menos provável.
35
posições perante um movimento de resistência cada vez mais forte,
o governo português apressava a imigração de portugueses em
Angola com o fim de modificar a estrutura nacional da população
nas cidades».
Sendo proibida «qualquer actividade política no país», entre
as forças políticas ilegais, a UPA, fundada em 1953, perdeu, após
um ano, os seus chefes que foram presos e mortos pelo poder
colonial. Contudo, os restantes fugiram para o Gana, Tunísia, Congo
e EUA, onde continuaram as suas actividades. No Congo, actuaram
ilegalmente até à independência, «quando Lumumba lhes deu total
apoio e permitiu a legalização» e a abertura de 20 delegações pelo
país. Todavia, com a chegada ao poder de Kasavubu, este proibiu
as actividades da UPA, mas foi obrigado a autorizá-las «sob a
pressão dos EUA, onde a UPA conseguiu obter um determinado
apoio», permitindo porém só a «legalização de 5 delegações [...]
em Leopoldville e outros lugares».
Em Angola, a UPA era o «movimento de resistência mais forte»
e os seus destacamentos de guerrilheiros contavam com «cerca de 20
mil homens», enquanto os «efectivos militares portugueses montavam
só a cerca de 16 mil soldados, mas dispunham de técnica militar muito
superior». Tinham pedido armamento à RAU, que aceitou concedê-
-lo, mas sem possibilidades de enviar «tal ajuda através Leopoldville».
Savimbi referiu-se ainda às seguintes operações militares que
recomeçariam no «período das chuvas», durante os meses de Setembro
a Junho, quando o estado das estradas e o nevoeiro dificultarão as
acções das tropas motorizadas e da aviação portuguesas.
36
fala o português.» Por isso, Savimbi acrescentou que isso facilitaria
muito «na primeira fase da construção do país, [...] a vinda e o
trabalho dos especialistas brasileiros».
Embora, não tivessem nada contra «as boas relações com
a URSS, RP da China e restantes países do bloco oriental»,
consideravam que uma tal orientação daria argumentos a Portugal e
aos estados ocidentais para caracterizar a UPA como pró-comunista,
o que «teria inevitavelmente como consequência a falta de apoio e
ajuda ocidental». Naquela fase, tentavam «estabelecer as melhores
ligações com os EUA e outras principais potências do Ocidente.»
Depois da independência, procurariam «os seus verdadeiros
amigos» e tentariam estabelecer um «equilíbrio nas suas relações
com o Oriente e Ocidente».
Após mencionar as tentativas de negociação com o governo
português que não deram qualquer resultado, Savimbi referiu-se à
continuação de acções armadas em Angola e aos esforços para um
maior apoio internacional. Nesse sentido, Holden Roberto iria «dentro
de duas semanas» a Nova-Iorque. Como, «os EUA ajudam Portugal
indirectamente através da OTAN», o presidente da UPA ia explicar
«aos americanos que as armas que dão a Portugal eram utilizadas
para massacrar o povo em Angola», procurando a suspensão do
seu fornecimento, ou que essas «armas não ser[iam] usadas contra
Angola.» Igualmente, a sua viagem à Índia foi planeada com um
objectivo semelhante em relação ao Reino Unido.
37
Referindo-se às actividades do MPLA no plano internacional, o
diplomata jugoslavo informou que uma delegação, chefiada por Mário
de Andrade, tinha estado «no terceiro Congresso de Solidariedade
Asiático-Africana, que se realizou no Cairo em Março desse ano».
O original deste documento confidencial mostra, como não
há qualquer comentário ou meros pontos de interrogação e de
exclamação nas margens das páginas, que foi arquivado sem merecer
qualquer crítica de quem a ele teve acesso. Todavia, como já foi dito,
havia um primeiro relato das informações, ficando a sua análise para
posteriores relatórios ou discussões. Porém, posteriormente, houve
dados errados que nunca foram emendados ou mesmo foram citados
diversas vezes.
38
( IV )
Uma delegação da UPA na Jugoslávia
e uma carta do MPLA (Ago./61)
39
consideravam que a experiência jugoslava tinha um «valor precioso
para eles». Também, realçaram que a «guerra em Angola não era
dirigida exclusivamente contra o regime colonial português, mas
contra uma aliança inteira que ajudava material e militarmente
Portugal a continuar a manter o regime colonial existente em
Angola». Embora, não estivessem seguros de uma completa vitória
militar, acreditavam na moral do povo que seria um forte apoio para
a sua luta. Afirmaram, depois, que em breve a insurreição armada
seria alargada ao centro e sul de Angola, sendo «questão de dias ou
de semanas» que tal acontecesse76.
40
no Congo. Embora fosse «um verdadeiro revolucionário, sincero
e honesto homem», era um político pouco experiente para superar
a crise em que se encontrava o seu país. Como exemplo, contou
um pormenor do último encontro entre ambos na residência de
Lumumba. Acompanhado de Franz Fanon, «representante argelino
em Acra», aconselharam-no a deixar provisoriamente, durante um ou
dois anos, as suas funções de Estado, prevenindo-o dos preparativos
da conspiração contra ele e que seria melhor que nesse período,
«enquanto a situação no país não se acalmar, voltar novamente
para o partido e através dele actuar politicamente». Asseguraram-
-lhe que fosse quem fosse que formasse governo, esse governo seria
de curta duração e que a consolidação da política interna, de novo,
o colocaria em primeiro plano. Porém, «Lumumba não escutou o
conselho, mas sim levantou-se e saiu do escritório».
Devido ao futuro das suas actividades no Congo, acompanhava
«com grande interesse e também preocupação» a situação política
congolesa e, por isso, «recebeu com satisfação» a formação do novo
governo de Adoula.
Em relação ao «levantamento armado do povo de Angola e
organização do levantamento», em todas as reuniões, Holden
Roberto falou bastante pormenorizadamente das actividades da UPA,
desde o «apoio dos chefes tribais» e o seu «papel na mobilização
de combatentes como também na função de comissários políticos,
pois têm a maior autoridade nas massas» à organização militar no
território libertado no Norte de Angola e da ajuda argelina na fase
inicial da organização da guerrilha.
Nas conversações, Holden Roberto falou das relações entre a
UPA e o MPLA, dizendo que o «movimento do Andrade [era] uma
criação artificial, que não tinha apoio entre as massas e, sobretudo,
entre os combatentes angolanos.» Acrescentou, contudo, que já se
tinha encontrado duas vezes com Mário Andrade. A primeira foi na
conferência de Monróvia, em 1960, quando falaram da cooperação
e que lhe perguntou pelas forças que dispunha para que essa
cooperação fosse possível. «Então, Gilmore disse-lhe: “supúnhamos
que eu e você queríamos formar uma empresa comum e para isso
41
investiria 100 milhões e você nada. Seria possível que tal empresa
se mantivesse”.» Em seguida, afirmou que «a esta pergunta não
teve resposta de Andrade» e nada disse sobre o outro encontro.
Como «Gilmore exprimiu o desejo na ASPTJ que lhe fosse
dada a possibilidade» de um encontro com Tito, a quem «queria
expor os seus problemas e pedir conselhos», foi recebido (5/Ago.),
acompanhado por Jonas Savimbi, pelo presidente jugoslavo77.
77
AJ, KPR I-3-a/3-1.
78
Dobrivoíe Viditch (Tchatchak, Sérvia,1918-Belgrado,1992) - Político,
diplomata (embaixador na Birmânia, URSS e Reino Unido), combatente da II
Guerra Mundial e membro do PCJ (desde 1939). Entre 1961-65, presidente da
Comissão de Relações Internacionais da ASPTJ. Ocupou, depois, importantes
cargos estatais e partidários.
79
União Sul-Africana.
42
seguida, ao seu interlocutor se eram ajudados pelo Gana e outros
estados africanos, e se tinham relações com os países europeus
orientais.
80
Cyrille Adoula (1921-78) - Primeiro-ministro congolês (2/Ago./61-30/
Jun./64).
81
Antoine Gizenga (1925-2008) - Ministro, em 1960, sob a presidência de
Patrice Lumumba. Após o assassinato de Lumumba (Jan./1961), como primeiro-
-ministro e seu governo, em Stanleyville (actual Kisangani), foi reconhecido por 21
países africanos, asiáticos e europeus. Preso ( Jan./62 a Nov./65). Viveu no exílio
entre 1965 e 1992. Primeiro-ministro (2006-08).
82
Referia-se à recente reunião (30/Jul.), em Brioni. Também, no seu
telegrama (31/Jul.) para o Departamento de Estado, Kennan informou que «a
maior diferença entre os EUA e a Jugoslávia se reflectia na questão das colónias.
Consideravam que a América deveria investir todos os seus esforços e influência
sobre Portugal e a França na questão do problema africano». Vide Dragan
Bisenitch, Mister X – George Kennan em Belgrado (1961-1963), Belgrado, 2011
(em sérvio).
43
a sua política em relação à África, começando no apoio económico
e outros às novas nações».
Referindo-se à próxima «conferência dos países fora dos blocos»,
Glimore exprimiu o desejo de enviar uma delegação da UPA, e «pediu
ao camarada Tito que nas decisões da Conferência se condenasse
Portugal e aconselhavam sanções económicas contra Portugal». Tito
informou-o «que tinha intenção no seu discurso de condenar Portugal
e propor medidas, segundo a Carta da ONU, caso continu[asse] com
a sua política de terror». Igualmente, exprimiu a sua convicção na
vitória final da luta de libertação dos povos de Angola.
Após dizer que continuaria a lutar até ao fim e que acreditava
na vitória, o presidente da UPA falou dos refugiados angolanos83,
«que vivem miseravelmente e passam fome» no Congo, e que só a
Cruz Vermelha Internacional dava uma pequena ajuda. Pediu, ainda,
bolsas de estudo «para a sua gente». Tito respondeu-lhe que os seus
pedidos seriam considerados e iriam ver o que podiam fazer para os
ajudar. A seguir aos agradecimentos do seu interlocutor, ofereceu «a
Glimore e Savambi84 que o acompanhava [...] canetas de ouro com
a sua assinatura gravada ao que ambos agradeceram».
A carta do MPLA.
83
Eram «cerca de 127 000», segundo outro documento relativo a esta
visita.
84
Simples erro ortográfico ou na transliteração de Savimbi em sérvio-
-croata.
No Cairo (Mar./61), por ocasião da III Conferência dos Povos
85
Africanos.
44
Contudo, tal não ocorreu e numa carta endereçada86 a Tito, após
saudar a próxima realização da «Conférence des pays non-alignés
à Belgrade» e as provas de solidariedade do presidente jugoslavo
pela luta do povo angolano pela independência, Mário de Andrade
apresentou três propostas à sua apreciação. Na primeira, os governos
dos países presentes na Conferência de Belgrado deveriam aprovar
acções conjuntas em relação dos «puissants alliés du Portugal qui
l’encouragent dans la poursuite de la guerre coloniale». A seguinte
considerava necessária uma posição comum na ONU, tendo em
vista o fim «de la guerre l’extermination» e a autodeterminação de
Angola. Na última, esperava da Conferência qualquer outro apoio à
justa luta angolana.
Considerando que estas propostas seriam aceites, o presidente
do MPLA solicitou «un entretien politique» a Tito numa data à sua
escolha.
86
Datada de 19 de Agosto e entregue na embaixada jugoslava em Conakri
(AJ, KPR-I-4-a, J:2).
45
(V)
Algumas notas acerca da Conferência
87
Segundo estudos recentes (Branko Plavitsa, Dragan Tsevetkovitch,
etc.), o total dos danos materiais elevou-se a 35,8 mil milhões de dólares (de 1938)
e as perdas humanas jugoslavas foram entre 960 000 e 1 100 000 mortos numa
população de cerca de 16 milhões de habitantes (1941). Quanto à I Grande Guerra
Mundial, o Reino da Sérvia teve 750 000 mortos numa população de 4,5 milhões
de habitantes e as reparações de guerra da Alemanha ascendiam (Conferência de
Londres, 1921) a 7,6 mil milhões de marcos-ouro. Todavia, por causa das crises
económicas da República de Weimar, da recusa do III Reich e da Guerra Fria, a
Alemanha acabou por pagar uma reduzida percentagem do total destas quantias.
47
balcânico um lugar importante no contexto da política europeia e
das relações internacionais. Uma posição reforçada com o conflito
jugoslavo-soviético (1948-53) e uma intensa política exterior, nos
anos cinquenta, com os estados asiáticos e africanos.
Estes factos podem explicar — sublinhando, entre eles, a visita
de Tito a 8 estados africanos (1961) — a escolha de Belgrado, na
reunião ministerial do Cairo (Jun./61), para a realização da primeira
cimeira88 do Movimento dos Países Não-Alinhados. Quanto à sua
organização, o país anfitrião nomeou uma comissão que conseguiu
efectuar, em menos de três meses, um vasto programa de obras e
serviços. Conforme o seu relatório final89 acerca dos preparativos
efectuados, como através de tantos outros documentos, pode-
-se acompanhar ao pormenor os passos dados neste período. Um
acompanhamento que deve ser comparado com o que foi publicado
na imprensa diária e semanal, sem esquecer algumas publicações
quinzenais e mensais90. Uma comparação que permite avaliar melhor
as diferenças ou omissões entre as notícias e artigos dos órgãos
da comunicação social e os textos dos documentos confidenciais
estatais.
88
Nas comemorações do seu cinquentenário, em Belgrado, no quadro das
cerimónias oficiais, realizou-se uma exposição e o seu catálogo (em sérvio e inglês)
foi uma das poucas publicações sobre a Conferência. Nele, além da apresentação
da citada exposição (documentos, fotografias, delegações, etc), tem um texto
introdutório de Lhubodrag Dimitch sobre este período da história jugoslava e do
movimento dos países não-alinhados (http:// www.arhivyu.gov.rs /active/srlatin/
home/glavna navigacija/izlozbe/ izlozbe_arhiva / Nesvrstani_ prva_ konferencija.
html, consultado em Dezembro de 2011).
89
Este documento (25/Ago./61) de 31 páginas tem os seguintes capítulos:
«I) Organização do acolhimento, alojamento e alimentação dos chefes das
delegações; II) Salas de trabalho e da conferência; III) Actividades informativas e de
propaganda; IV) Serviços CTT; V) Sessões culturais, recreativas e desportivas; VI)
Decoração e arranjo da cidade; VII) Medidas de segurança; VIII) Financiamento
da conferência ».
90
Essa comparação foi feita pela leitura dos diários Politika e Borba, do
semanário Komunist e da revista quinzenal Medjunarodna Politika que foram
publicados, em Belgrado, nesse ano de 1961.
48
Dos preparativos em Belgrado à chegada das delegações
49
decoração do aeroporto, ruas e edifícios, assim como a renovação de
hotéis, restaurantes, edifícios e residências estudantis para albergar
participantes e pessoal dos serviços de apoio da Conferência. Além
das obras na capital, outras foram feitas em duas outras cidades
(Novi Sad93 e Smederevo).
Em relação ao «financiamento da Conferência», a Jugoslávia
suportaria a maior parte dos seus custos (preparativos e sua
realização), excepto as despesas comuns com pessoal da ONU e da
RAU (tradutores, estenógrafos e outros), o aluguer de equipamento
para tradução simultânea e outras. Calculava-se (Jun./61) que o
total das despesas seria de 5 a 7 mil milhões de dinares (US$1=300
dinares), sendo este só parcialmente coberto pelas contribuições dos
estados participantes. Contudo, em meados de Agosto, o total passou
a 8,1 mil milhões (27 milhões de dólares).
Quanto ao tempo na capital jugoslava, entre os últimos dias
de Agosto e os primeiros de Setembro, as temperaturas médias
máximas oscilaram entre os 26 e 32 graus e as mínimas de 11 a
18 graus, a humidade andou pelos 50% e não choveu. Além dos
dias agradáveis, um cuidado programa de espectáculos culturais
e desportivos com o reforço «do divertimento e entretenimento»
nos cafés, bares e restaurantes belgradenses esperavam ainda os
participantes da cimeira.
50
de Berlim95 e o anúncio soviético de novos ensaios nucleares que
marcaram os dias anteriores ao início da Conferência.
95
Após o insucesso das conversações Kruchetchov-Kennedy (Viena,
Jun./61), em meados de Agosto, a RDA encerrou todas as passagens fronteiriças
entre o sector soviético e os outros três sectores de Berlim com arame farpado e,
depois, com um muro.
51
embora tivesse tomado posições muito mais próximas do primeiro
grupo, enquanto os outros dois também não se enquadraram nesta
classificação, tanto pelo seu empenhamento, como pela sua grande
influência entre os estados recém-independentes. Igualmente,
eles foram com o Gana os principais apoiantes à formação de um
movimento que permitisse uma actividade constante e coesa no
campo das relações internacionais96.
96
AJ, KPR, I-4-a. Este objectivo é citado num «Resumo das posições dos
países participantes em relação às principais questões internacionais», em que se
sublinha ainda o apoio de outros países (Argélia, Afeganistão, Cambodja, Ceilão,
Marrocos, Sudão e Tunísia).
52
«imperialismo», à «política de força» e às «forças reaccionárias e
fascistas», aos «desenfreados rufias militares do exército francês» e
à «selvajaria das forças armadas portuguesas» e aos «monstruosos
assassinos». Considerou «a militarização da Alemanha Ocidental»
como um novo fortalecimento das «forças reaccionárias e fascistas
que ficaram da máquina de guerra hitleriana». Estas e outras frases
acerca do colonialismo, da crise de Berlim e da questão alemã, da
ineficácia da ONU e do papel da OTAN provocaram uma crise
político-económica entre a Jugoslávia e o «bloco ocidental», que se
reflectiu, por algum tempo, nas ajudas financeiras e na suspensão da
cláusula de «nação mais favorecida» por parte do governo estado-
-unidense.
53
( VI )
O colonialismo, as delegações e a Conferência
55
causa da violenta repressão da manifestação, ali ocorrida em 5 de
Setembro, pelo exército francês.
98
O nome deste estudante aparece como Veber neste documento, sem
prenome. Estudava em Viena.
99
Nasceu, em 1940, na província de Inhambane. Trabalhou no Buzi
(Manica e Sofala), antes de se refugiar em Bulawayo (Rodésia do Sul). Dirigente da
UDENAMO, o primeiro movimento político disposto a lutar pela independência de
Moçambique e fundador da FRELIMO (Jun./62). Participou na I CONCP (Abr./61).
Opondo-se à eleição de Eduardo Mondlane para presidente da FRELIMO, foi
expulso da Tanzânia. Como dirigente do COREMO, regressou a Moçambique
(1975), foi preso e executado, possivelmente, dois ou três anos depois.
100
Texto manuscrito. O envelope não foi arquivado. «Coimbra, lundi 28
Août 1961.// Monsieur le Maréchal Tito, président de la Republique Yougoslave/
Excellence: // Je suis un humble étudiant de la veille université de Coimbra,// au
Portugal, et j’ai l’honneur et le plaisir de m’adresser à vous. // Au commencement
de la Conferénce des Pays neutralistes qui se // tiendra à Belgrade à partir le 1er
Septembre, je formule les // meilleurs voeux pour la bonne réussite de ses résultats.
// Le monde aura beaucoup à espérer de cette réunion historique. // Vive la Paix
et la compréhension entre les peuples! // Pour un veritable Humanisme! // Agréez,
Mr. Le Président, l’expréssion de mes sentiments les plus dévoués // Arnaldo da
Silva // Avenida Afonso Henriques, 26-1º // Coimbra/Portugal». Os sublinhados são
do Secretariado da Conferência, sendo esta uma das 63 cartas do estrangeiro (AJ,
KPR,I-4-9).
56
As delegações do PAIGC e da JCAP
101
AJ, 142, 557.
102
FPLN, «Memorandum: La Politique Anticolonialiste des Democrates
Portugais et la Politique Coloniale du Gouvernement Salazar», Argel, sd (talvez de
1963). Nesta publicação, enviada ao embaixador jugoslavo em Argel, a referência
à entrega deste documento não menciona quando foi efectuada, e a sua data (25/
Ago./61) foi considerada como a do início da Conferência.
103
Como ministro dos Negócios Estrangeiros (Ago./75), disse ao
embaixador jugoslavo em Portugal: «(clandestinamente estive também em
Belgrado, em 1961, tive conversações no CC LCJ e na ASPTJ em nome da frente
antifascista portuguesa, em cujo nome enviei também uma mensagem à primeira
conferência dos não-alinhados em Belgrado, pela descolonização das colónias
portuguesas. Mais tarde, estive várias vezes na Jugoslávia)». (ADMNE, F-114,
Portugal,1975). Todavia, graças a uma entrevista que nos concedeu (Jul./2012),
foi possível confirmar e corrigir estes dados. Assim, ficou-se a saber da entrega
dessa «mensagem» por Amílcar Cabral e que a sua primeira viagem à Jugoslávia
foi só em 1962. As viagens seguintes estiveram ligadas aos seus contactos, como
funcionário da FAO, com institutos jugoslavos no campo das investigações
marítimas e pesqueiras.
57
qu’une minorité insignifiante de fauteurs de guerre fasciste et
colonialiste». Noutras ocasiões, continua este documento, o regime
esperava apelar para uma maioria, saída de eleições fraudulentas,
e continuar a confundir a opinião pública mundial e a desafiar a
condenação da ONU. Por isso, só: « Le renversement du régime
fasciste au Portugal signifie la fin de la guerre coloniale en Angola
et la libération de tous les peuples actuellement sous la domination
du régime de Salazar.»
104
Ocupam metade de 5 das 8 colunas da 6.ª página deste diário (formatoA2)
e a fotografia metade desse espaço, tendo uma nitidez suficiente para permitir
identificar estes soldados que «quiseram imortalizar o momento quando cortaram
a cabeça de um rebelde angolano». Uma referência: «esta fotografia foi feita este
ano de 1961, em Angola».
105
Este tipo de documentos era raramente assinado. Os seus autores,
funcionários da ASPTJ ou diplomatas, acompanharam os membros destas
delegações e foram seus tradutores.
58
possivelmente no avião da delegação do Congo, no qual, partiram
no dia 9 de Setembro. Os segundos tinham partido um dia antes,
respectivamente, para Genebra e Viena.
106
Tiveram ainda breves encontros com Aleksandar Rankovitch e Svetozar
Vukmanovitch Tempo. Destas 6 reuniões, não foi encontrado qualquer nota acerca
dos assuntos discutidos e suas conclusões. Como esperavam ser recebidos, após
a Conferência, por Tito, foi-lhes explicado «que o camarada Presidente estava
ausente, pois se estivesse [em Belgrado] recebê-los-ia». Uma ausência confirmada
noutro documento relativo às suas conversações, na Eslovénia (9/Set.), com
Nkrumah que prolongou a sua estadia na Jugoslávia.
107
Destas 4 instituições, só a conferência neste Instituto (12/Set.) — sobre
«a luta de Angola pela sua libertação» por Mário de Andrade — mereceu uma
maior atenção (5.ª pág.), enquanto os temas discutidos nas restantes instituições
tiveram apenas breves descrições numa das «notas». Teve, ainda, uma pequena
notícia no Borba (13Set./2.ª pág.). No dia seguinte, o mesmo jornal publicou uma
entrevista: «Mário de Andrade/ Os colonialistas portugueses/ mataram cerca 50 000
angolanos» com a sua fotografia.
108
Estes documentos não foram encontrados.
59
Nos citados encontros com esses dirigentes – V. Vlahovitch109,
D. Viditch (2 vezes) e Predrag Aititch —, Mário de Andrade
atacou a UPA e pediu «ajuda política, financeira e material»,
assim como «conselhos militares para a Angola e a organização
do Movimento». Um deles, Viditch, achou que parecia ter «pouca
força» e era difícil ter «uma impressão certa» acerca do MPLA.
Segundo uma «Nota acerca das impressões da estadia de
Gilmore e de Andrade110», o presidente do MPLA teve contactos
com várias delegações, reunindo-se com membros das delegações
da Guiné, Gana, RAU e Argélia. Igualmente, através da ASPTJ, a
embaixada soviética procurou saber «onde estava alojado e que
desejariam entrar em contacto com ele». Quanto ao líder da UPA,
109
Vélheko Vlahovitch (1914-1975) – Nasceu em Kolachine (Montenegro)
e fez os seus estudos liceais em Podgoritsa e Belgrado (1932). Estudou Engenharia
Mecânica em Belgrado e Moscovo. Em meados dos anos trinta, foi um dos
dirigentes das lutas dos estudantes da Universidade de Belgrado (1935 e 1936).
Preso e expulso da Universidade, viveu em Praga vários meses. Em Janeiro de
1937, num grupo de 26 estudantes jugoslavos, chegou a Espanha para se alistar
nas Brigadas Internacionais. Como disse, em Espanha, começou «a fazer os
exames das grandes lições da História». Ferido gravemente em combate numa
perna (Fev./37), ocupou outras funções nas Brigadas Internacionais em Albacete,
Madrid e Barcelona. Em França, organizou o regresso à Jugoslávia de voluntários
que combateram pela República Espanhola e, em Paris, encontrou-se pela primeira
vez com Tito, tornando-se num dos seus colaboradores mais próximos. Partiu para
Moscovo (Out./39) como representante do PCJ na III Internacional (Comintern).
Após a invasão e ocupação da Jugoslávia (Abr./41), organizou a Rádio Jugoslávia
Livre que começou a partir a URSS as suas emissões (Nov./41). Em fins de
1944, regressou à Jugoslávia e assumiu a chefia da agitação e propaganda do
PCJ. Depois da Libertação, ocupou importantes cargos políticos (Assembleia
Popular, Ministério dos Negócios Estrangeiros, etc.) e partidários (LCJ e ASPTJ).
Publicou textos e estudos sobre a LCJ, o socialismo autogestionário jugoslavo e
o marxismo-leninismo. Participou nas conversações com delegações do PCP,
FPLN e dos movimentos independentistas das colónias portuguesas nos anos 60
e, possivelmente, em Dezembro de 1947, com Álvaro Cunhal. Por isso, recebia
cópias e tomava conhecimento de todos os documentos relacionados com a situação
política em Portugal e colónias.
110
Este documento sem data (e autor) seria um resumo (2 pág.), pois
não menciona muitos dados de outras notas sobre a visita das duas delegações
angolanas.
60
recusou falar com um jornalista soviético e teve um «grande número
de contactos», como por exemplo, com «Homero Jack, presidente
da organização contra o armamento nuclear dos EUA111», vários
«jornalistas do Ocidente» e o «presidente Nkrumah, como também
com a Nehru júnior». Contudo, por outro documento112, datado de
poucos dias depois, sabe-se que acabou por não ir ao encontro
marcado com esse membro importante da delegação indiana, como
teve contactos diários com o secretário do primeiro-ministro Adoula
e um jornalista congolês, reuniu-se com Adoula e Gizenga, foi
recebido por Nasser, deu três entrevistas e «foi fotografado por uma
jornalista da Suécia, Sra. Halstrom, na companhia de um inglês».
A seguir, o autor desta nota acrescentou: «Gilmore disse-nos
que na Assembleia se encontrou com Andrade, mas evitou falar
acerca do que conversaram», parecendo que, nas relações entre
eles, o último se encontrava na defensiva porque reconhecia a
força indiscutível da UPA e a sua influência no país, realçando
constantemente que «essa força foi criada em base da ajuda
americana». Ignorando o MPLA, Gilmore considerava que ele
não existia no país, apesar do que se ouvia no estrangeiro devido
à propaganda. Concluíndo esta informação, foi referido que este
dirigente tinha deixado até então uma melhor impressão, mostrado
um grande interesse pela realidade jugoslava e apresentou-se
como político mais capaz e melhor diplomata do que Mário de
Andrade. Conclusões justificadas — assim parece, pois outras não
aparecem na seguinte meia-dúzia de linhas finais deste documento
— por não ter estado no almoço para o qual fora convidado pela
ASPTJ, desculpando-se que, como não tinha sido informado a
tempo, já tinha um almoço marcado com uma delegação africana.
111
Homer A. Jack (1916-93). Figura importante da Igreja Unitariana dos
EUA e Canadá. Activista pela paz, desarmamento, igualdade racial e justiça social.
Conheceu, em Nova-Iorque, Holden Roberto e apresentou-o (Set./59) a John
Kennedy.
112
«A Delegação da UPA» (AJ,507,IX,3/II-4). Documento com 5 páginas
dactilografadas (cerca de 120 linhas de texto). Um apontamento com dezenas de
frases quase telegráficas e não assinado.
61
«Claramente, estava descontente com a presença de Gilmore na
Conferência. Alguns representantes africanos afirmaram que, até
por isso, também protestou.»
Noutro documento113, a questão do convite e da presença da
delegação da UPA foi explicada a Mário de Andrade como uma
decisão da Conferência e não só da Jugoslávia. Por sua vez, à
pergunta sobre a cooperação entre os dois movimentos angolanos,
ele respondeu ao seu interlocutor jugoslavo que o «MPLA apresentou
um projecto de cooperação e o mínimo do seu programa, mas a
UPA não tem programa, nem dá nenhuma proposta de cooperação,
excepto que deseja a integração do MPLA na UPA». Sublinhou
que o MPLA, sendo «um partido progressista, igualmente não
podia permitir a integração e a submissão a um partido político
como a UPA [...] que cooperava com o Ocidente». Afirmou,
depois, que Gilmore participou na conspiração contra Lumumba,
que era grande amigo de Kasavubu e Mobutu e, graças a eles e às
ajudas dos EUA e da Tunísia, não tinha «grandes dificuldades em
relação ao fornecimento de armas». Este era efectuado através do
contingente tunisino no quadro das forças militares da ONU no
Congo.
Referiu as reuniões com Adoula e Gizenga, tendo o primeiro
aconselhado a «unir-se com Gilmore e que nesse caso teria a sua
ajuda e apoio», enquanto o segundo lhe prometeu apoio ao MPLA
e que tentaria impedir a ajuda à UPA por parte do Congo. Devido
aos resultados dessas negociações, pensavam «transferir a sede do
MPLA de Conacri para o Congo, nalguma localidade próxima da
fronteira Congo-Angola»114.
113
«Nota acerca das conversações com a delegação que participou na
Conferência dos Países Não-Alinhados» (14/Set./61). O seu autor, um funcionário
diplomático (assinatura ilegível), foi também o tradutor (de francês) da delegação.
As suas 5 páginas têm a descrição mais pormenorizada (lugares, reuniões, nomes,
relações com UPA, delegações estrangeiras, instituições jugoslavas, situação em
Angola e a futura cooperação com a ASPTJ) desta que foi a primeira visita de uma
delegação do MPLA à Jugoslávia.
114
Uma transferência que ocorreu, em Outubro desse ano, mas para a capital
congolesa.
62
Ainda acerca dos seus contactos com uma «série de dirigentes
de movimentos políticos de África, como também com chefes e
membros das delegações estatais de países africanos, asiáticos e
latino-americanos», Mário de Andrade afirmou que todos os estados
africanos apoiavam o MPLA, excepto a Tunísia. Embora, tivesse
havido um breve encontro com Bourgiba, que até lhe disse para
ir a Tunis, estava seguro que não resultaria qualquer apoio dessa
viagem, porque sabia que o presidente tunisino ajudava a UPA e
«tinha relações muito amigáveis com os EUA».
Salientou, em seguida, a Argélia e as conversações, durante a
Conferência, com o presidente do GPRA115, B. Benkheda, que lhe
prometeu «total apoio», esperando, por isso, a suspensão de toda
a cooperação com a UPA por parte do governo provisório argelino.
Teve a seguir um «breve encontro com Nasser e conversou com
membros da delegação da RAU», ficando após Belgrado, segundo
disse, uns dias no Cairo para continuar as negociações e «esperavam
total apoio e ajuda da RAU».
Além destes encontros, Mário de Andrade contactou outras
delegações para pedir o seu apoio, na sessão da Assembleia-Geral
da ONU, quando a questão de Angola fosse discutida. Conseguiu de
todas elas esse apoio e — como, igualmente, prometeram «influenciar
os membros da OTAN a recusar a ajuda a Portugal devido aos seus
actos bárbaros em Angola» — tencionava ir a Nova-Iorque para
assistir a esse debate na ONU.
À pergunta do seu interlocutor sobre «quem organizou o
levantamento em Angola», Mário de Andrade respondeu-lhe que o
MPLA foi o único organizador que preparou e começou «o plano do
levantamento com o ataque à prisão de Luanda, na qual se encon
travam muitos presos políticos, entre os quais dirigentes do MPLA,»
para os libertar e poderem continuar a organização e o alargamento
da luta. Segue-se um «contudo, devido aos acontecimentos no Congo
o plano não foi realizado da forma como estava previsto» e, mesmo
apesar disso, «a luta estendeu-se também a muitos outros lugares
Governo Provisório da República Argelina (Set./1958-Jul./1962). O seu
115
63
(aldeias e plantações) no Norte de Angola». Disse, escreveu o diplomata
jugoslavo, que então não tinham muito território libertado por causa
dos portugueses atacarem com uma rapidez fulgurante os insurrectos
logo que aparecem e os põem em fuga. Noutros lugares continuam a
luta, mas como estão constantemente em movimento «ainda não tem
possibilidades de manter por muito tempo os lugares libertados».
O MPLA tinha então em Angola «cerca de dez mil homens
armados116 e organizados por grupos, pequenos ou grandes, enquanto
a UPA tinha cerca de 15 117mil». A divisão já existia, embora não fosse
tanto visível entre os combatentes. Estes guerrilheiros do MPLA eram
comandados por Tomás Ferreira, ex-sargento do exército português.
Perto da fronteira com o Congo, encontrava-se o Comité Misto
formado por dirigentes políticos e militares, tendo os primeiros a
última palavra quando era preciso decidir «se a luta continua[va] ou se
interromp[ia]». Igualmente, existiam «em todo o território de Angola
organizações (secções) do MPLA», que trabalhavam na organização e
ligação dos grupos guerrilheiros. Realçou que «a luta irá durar muito
tempo e que será difícil se libertarem sem ajuda do exterior».
116
Todavia, segundo uma «Nota acerca conversação com Mário de
Andrade e Gentil Ferreira Viana», sem data, mas escrita nos seus primeiros dias em
Belgrado, o presidente do MPLA teria dito: «Não podia dar uma resposta exacta
acerca do número e força das forças insurrectas em Angola, salientando que era
muito difícil, tendo em conta que todo o povo de Angola estava contra Portugal e
que o povo aproveitava qualquer oportunidade para ajudar os insurrectos na luta
contra o exército português».
117
Sublinhados a lápis vermelho. Estes e outros números neste ou noutros
documentos muito raramente são comentados pelos autores, sucedendo o mesmo
com um simples ponto de interrogação ou de exclamação dos seus poucos leitores
autorizados nas margens das páginas.
64
seus inúmeros contactos com os participantes da Conferência, os
apoios obtidos ou prometidos na ONU e ajuda material, moral,
política, etc.; «abertamente, sublinharam que ficaram satisfeitos com
os discursos dos chefes das delegações, porque todos mencionaram
Angola e condenaram o colonialismo, em geral, e particularmente
o português. Também, exprimiram especial satisfação por a questão
de Angola estar na Declaração imediatamente após a Argélia.»
65
Assim, «Gilmor (Holden). 36 anos de idade120. Casado, seis
filhos,» e vivia com a família em Leopoldville. «Não tinha estudado
nada formalmente», mas estava bem informado e preparado
politicamente, no quadro da sua orientação, para não entrar em
conflitos com a oposição e de fazer tudo pela libertação armada de
Angola. «Em que medida era sincero, caso se trate da oposição» não
podia julgar, mas acrescentou que caso algo podia significar, tanto
ele, como Pinnock sublinharam que «os contactos com a oposição
eram correctos e até amáveis». Contudo, «acerca das reais relações
com o movimento do Andrade, Gilmor não falou».
Anotou, em seguida, que o seu interlocutor «num momento de
sinceridade disse que admirava o povo da Jugoslávia socialista,
que estava preocupado somente com o seu trabalho pacífico e não
ameaçava ninguém». Por isso, esperava voltar novamente a Belgrado
para uma «estada de estudo».
Também, disse que «inicialmente, foi pacifista, mas que a lógica
das coisas o obrigou a decidir-se pela insurreição». Afirmou, a
propósito do discurso de Nehru, que era «incompreensível a conduta
da Índia em relação ao seu excessivo e ultrapassado pacifismo» e
deu o exemplo de que «a Índia ajudaria fraternalmente a libertação
de Angola, caso “apertasse” Portugal em Goa».
Quanto a Johnny Pinnock121, ele era «vice-presidente do mo
vimento UPA, presidente da juventude de Angola. 24 anos, solteiro.
Muito inteligente». Pensava que tinha havido uma guerra, que chegava
de palavras com a oposição e nas declarações de solidariedade com
a luta do povo angolano. Embora exigissem que os tratassem por
«camarada», mesmo até por «tu», tratava Gilmore por «senhor» e era
uma espécie de seu secretário. Por vezes, ria-se de Gilmore por causa
das suas hesitações e, como ele dizia, das grandes declarações.
120
Idade errada, pois tinha 38 anos.
121
Johnny Eduardo Pinnock (1937-2000) – Dirigente da UPA/FLNA, em
1963, esteve, como convidado, no congresso da União da Juventude da Jugoslávia.
Primeiro-ministro do governo de transição (1975), regressou a Angola (1984),
director da empresa petrolífera angolana, membro do CC MPLA (1989), ministro
(1990), deputado, conselheiro presidencial e embaixador.
66
Considerava que a libertação de Angola seria muito difícil por
causa da sua posição geográfica e, sobretudo, porque aumentavam
os interesses de um grande número de países capitalistas (EUA,
Inglaterra, Alemanha Ocidental) e, por consequência, não tinham
apoio de nenhum país importante do Ocidente.
Tinha a impressão que o seu país foi abandonado e esquecido,
e pensava que acontecia o mesmo com a Argélia. Esperavam ajuda
e a insurreição já durava há seis meses e, praticamente, não tinham
ajudas. Dizia: «os próprios insurrectos fazem as espingardas e
as munições», enquanto os portugueses recebiam até bombas de
napalm. Disse depois: «Gostava muito do nosso país e gostaria
de voltar para estudar com mais tempo as nossas experiências e
realidades». Para todos eles, «o discurso do presidente Tito foi a
mais importante e a melhor expressão da vontade dos povos ainda
não libertados pela libertação e paz».
67
de que era um pouco limitado. Estava mais ligado ao Savimbi do
que aos outros dois dirigentes.
Como não falava francês, a língua corrente de conversação,
tinha mais dificuldades de falar com ele. Todavia, perguntou-lhe,
em companhia de Savimbi, porque Djilas122 estava na cadeia, se
então estava em liberdade, acerca da sua actual actividade e o que
pensava do seu livro «A Nova Classe». Respondeu-lhe «que tinha
folheado o livro, mas que não era interessante, antes de tudo pelo
seu carácter pouco científico e panfletário, e não tinha tempo para
artigos jornalísticos tão grandes». Apesar da breve descrição,
estas perguntas e respostas reflectem a repercussão das discussões
ideológicas provocadas pela sua publicação em Nova-Iorque (1957)
e a prisão do seu autor.
Não sabia, concluiu, «a que grupo pertencia», mas não
concordava com as nacionalizações como solução e, em particular,
depois da independência de Angola. Acerca da Conferência pouco
falou, excepto que parecia estar de acordo com o discurso de Nehru
e as teses de Tito e Nkrumah.
No almoço123, oferecido por P. Aititch, o presidente da UPA
lamentou não ter assistido à cimeira desde o início e, por isso,
de ter perdido a possibilidade de contactar diversas delegações124.
Disse que, em Leopoldville, Adoula lhe prometeu «ajudar o seu
movimento e, particularmente, os refugiados angolanos». Quanto «à
associação com certos grupos nacionalistas [...], em particular, em
relação ao Movimento do De Andrade, as relações eram reservadas
122
Milovan Djilas (1911-1995) esteve preso entre fins de 1956 e início de
1958. Voltou a ser preso em 1962.
123
Neste almoço no Hotel Balkan, no centro de Belgrado e próximo da
Assembleia Federal Popular, a conversação decorreu em francês e P. Aititch
estava acompanhado por dois diplomatas jugoslavos, sendo um deles o tradutor
da delegação da UPA e autor deste texto (5 pág.) acerca dos 4 membros desta
delegação. Ali, estavam hospedados Savimbi e Webber, enquanto Holden Roberto e
J.Pinnock se encontravam no Hotel Palace, a uns 500 metros de distância.
124
«Gilmore, presidente da UPA, na conversação com Predag Aititch no
almoço:» (AJ,507,IX,3/II-3). Documento (2 pág.) sem data, mas possivelmente de
6 ou 7 de Setembro.
68
porque considerava que, de todo, este Movimento não existia no
país». Salientou ainda que a política colonial portuguesa estava
baseada «na liquidação gradual da população negra, entre a qual,
segundo as palavras de Gilmore, se encontravam os verdadeiros
patriotas. Além dos colonos, aos mulatos foram dados todos os
direitos e habilmente eram utilizados pelo poder colonial para fins
de espionagem e denúncia à polícia de apoiantes do movimento de
libertação». Houve casos de ofertas de cooperação, cuja maioria
recusaram e que, mais tarde, confirmaram ser de «gente muito
duvidosa, até de agentes ao serviço dos colonialistas». Tal situação
recomendava cautelas e considerava que nessas condições, em
Angola, não «existia um grande número de verdadeiros patriotas».
125
Segundo esta «nota» (2 pág.), assinada por S. Lazarevitch, esta reunião
decorreu das 18 às 19 horas e, possivelmente, sem tradutor (Vlahovitch falava
francês e castelhano). Igualmente, além da menção do seu local que ficava próximo
da Assembleia Federal Popular, Vlahovitch representou a delegação jugoslava na
cimeira e não a LCJ.
69
desde o início a Conferência, mas que «estava muito satisfeito com os
seus resultados, e particularmente pela atenção que dedicou à questão
de Angola», como o seu grande apoio à luta do povo angolano. Não
comentou esses outros resultados, mas disse que representaria um
«grande apoio aos povos oprimidos» num mundo que era caracterizado
«pela divisão entre aqueles que dominam e aqueles que são oprimidos,
dos fortes e ricos de um lado e os atrasados e pobres doutro».
Em seguida, mencionou a sua visita a Belgrado, no mês
anterior, e o seu encontro com Tito, em que se falou da concessão de
apoios políticos e outros à UPA. O texto desta «nota» continua com
Holden Roberto a referir-se às suas intenções, na impossibilidade de
prolongar a sua estadia, de voltar à Jugoslávia, dentro de um ou dois
meses, para outra visita126 de uma «quinzena de dias para conhecer
melhor» as experiências jugoslavas que lhes pudessem ser úteis.
Por parte de Vlahovitch, foi salientado que, numa das reuniões
preparatórias da Conferência, se discutiu a ajuda à luta do povo
angolano e que Tito tinha colocado essa questão em primeiro
lugar. Esta ajuda podia ser não só política e diplomática, mas de
outro tipo. Porém, inicialmente, estas ajudas não seriam grandes,
embora pudessem aumentar com o desenvolvimento das relações.
Mencionou que a melhoria da situação no Congo facilitaria a sua
entrega, ficando os pormenores para a próxima visita de Holden
Roberto. Este concordou e realçou «que também eles esperavam
muito da estabilidade no Congo. Acrescentou que, em Belgrado,
teve conversações tanto com Adoula, como com Gizenga».
Perguntou, depois, ao seu interlocutor angolano se tinha
falado com «os representantes do outro movimento angolano».
Holden Roberto respondeu-lhe que sim, acrescentando que havia
desacordos, mas «que o problema da unidade se podia resolver
através do reforço da luta de libertação, salientando que quando
todos entrarem na luta, então poderá ser mais fácil falar acerca
da unidade e acções conjuntas». Perante esta resposta, Vlahovitch
replicou que desejavam cooperar «com todos os movimentos de
126
Uma viagem que nunca será efectuada, apesar de outra tentativa, em
1967, que foi adiada pela ASPTJ.
70
libertação na base da igualdade de direitos, mas sem ingerências nas
suas relações mútuas porque isso eram seus assuntos internos».
A CONCP e a UDENAMO
71
Dias depois (5/Set.), numa carta dirigida à ASPTJ, assinada por
Marcelino dos Santos, a CONCP comunicou a realização, em Rabat, em
22 desse mês, do primeiro congresso da «Union Generale des Etudiants
de L’Afrique Noire sous domination portugaise - UGEAN -».
Tendo em conta a sua importância e as «charges matérielles
lourdes» do congresso com as viagens dos estudantes que se
encontravam na Europa, na América e em África, a CONCP
tinha «l’honneur de demander à l’ALLIANCE SOCIALISTE DE
YOUGOSLAVIE» a quantia de 5 000 dirames (mil dólares) para
ajudar a realização deste Congresso.
Texto de umas vinte linhas, não assinado (AJ, 142, 539). Apreciação
128
72
delegação marroquina, e não apareceu na reunião com o camarada
Aititch, nem disse “adeus” a ninguém.»
No mencionado encontro (31/Ago.) com um dirigente jugoslavo,
Adelino Gwambe e Marcelino dos Santos «insistiram exclusivamente
na questão do neocolonialismo como o principal perigo, condenando
qualquer tentativa de obtenção da independência que não fosse “total”».
Por isso, este dirigente perguntou-lhes se a independência da Tanganica,
marcada para Dezembro desse ano, iria facilitar a sua luta, tendo em
conta o facto da sua fronteira com Moçambique, ao que «responderam
em geral negativamente, acusando Nierere, primeiro-ministro do
Tanganica, como uma arma dos colonialistas». Como conclusão final,
teve «impressão que o seu Movimento não é particularmente forte no
país e que a direcção deste movimento coloca o acento principal na sua
actividade internacional como o Andrade». No final da conversação,
«exprimiram o desejo de o presidente Tito os receber».
73
rências às lutas dos povos das colónias portuguesas pela independência,
ao secular jugo colonial em Moçambique — a economia e política
nas mãos dos colonialistas, trabalho forçado, leis discriminatórias
e racistas, analfabetismo e a instrução quase reservada só para os
europeus —, à repressão policial e reforços militares a partir de 1959,
elevando-se, em 1961, os efectivos militares a 20 mil soldados em
Moçambique. Considerando que os poucos factos citados pertenciam
a um contexto global muito mais vasto, era necessário não reduzir a
luta pela independência a um «conflit entre le peuple du Mozambique
et le gouvernement colonial-fasciste du Portugal», porque esse
conflito era sim entre o povo moçambicano e «une coalition des forces
impérialistes». Bastava, para isso, «un bref regard sur l’économie du
Mozambique» para comprovar os interesses das empresas estrangeiras
«aussi bien portugaises qu’anglaises, sud-africaines, belges,
américaines, etc.» e o seu apoio à política colonial portuguesa. Como
exemplo, as declarações e a oferta da «somme de 607 049 livres» do
director da «Sena Sugar Estates» ao governo português. Paralelamente,
o mesmo governo fez acordos político-militares com a África do Sul e
a Federação das Rodésias e do Niassalândia, o ministro da Defesa sul-
africano visitou Portugal e, além doutros factos recentes, as potências
da OTAN eram «complices, conscients et volontaires, de Salazar».
Estes factos provavam assim que a luta do povo moçambicano
não era só uma luta contra o colonialismo português, mas também
contra uma coligação de forças imperialistas. Coligação essa que
se encontrava no Congo ex-belga, Angola e noutras regiões de
África. Depois, as manobras imperialistas para dividir as forças
patrióticas já começavam em Moçambique, procurando perpetuar o
colonialismo, «mais maintenant sous de nouvelles formes», ou seja,
sob aquilo que então se chamava neocolonialismo. Por isso, era
urgente: que os países independentes exprimissem «d’une manière
claire leur solidarité concrète»; que os Estados afro-asiáticos
tomassem medidas de boicote económico e diplomático contra
Portugal; e uma vigilância redobrada para «démasquer à temps les
manoeuvres impérialistes» com vista a instaurar o neocolonialismo
em Moçambique.
74
O comunicado da UDENAMO terminava com vários «il est
nécessaire», como a solidariedade, o envio de uma comissão de
inquérito a Moçambique e junto dos refugiados nos países vizinhos,
e todos esforços dos «pays frères d’Afrique et d’Asie, et tous les pays
épris de paix et de liberté» pela situação moçambicana. Igualmente,
os massacres de populações africanas — o de Mueda (Jun./60)
conseguiu chegar «à la connaissance de l’opinion mondiale»
— mostraram «le caractère barbare» do regime colonial em
Moçambique e a necessidade da luta de libertação por parte do povo
moçambicano. No último parágrafo, há um apelo à solidariedade
de todos os estados e forças anticolonialistas e anti-imperialistas do
mundo inteiro que será uma contribuição inestimável para a causa
da libertação e permitirá «une économie importante de sacrifices en
vies humaines.»
75
( VII )
No decorrer das semanas e meses seguintes
Ainda em Setembro
77
portuguesas só aparece bem definida em alguns relatórios e notas dos
anos seguintes, verificando-se o mesmo nas relações com a oposição
antifascista portuguesa (FPLN, PCP e ASP/PSP).
Esta citada acta tem duas partes, começando com um «verificou-
-se o seguinte:» de 16 alíneas sobre factos e consequências da
cimeira, e termina com uma dezena de conclusões.
Nos primeiros dias, as reservas iniciais do «Pravda», os ataques
às posições jugoslavas em jornais estado-unidenses e «a anterior
atitude de constante oposição» da imprensa indiana desapareceram e
«o eco da Conferência de Belgrado e a publicidade, que lhe foi dada
na imprensa mundial, foram maiores do que se pressupunha virem a
ser». Mais, «o efeito positivo e o peso objectivo da CB ultrapassou
todas as expectativas», como mostraram as mensagens enviadas por
Kruchetchov, Kennedy e outros.
Apesar dos sucessos — a Jugoslávia apresentou a sua
realização no Cairo, convocou e organizou uma cimeira «com
carácter mundial, uma reunião não regional» em Belgrado — e do
«enorme acontecimento, [...] a política de não-alinhamento, como
fenómeno mundial, ainda não se tinha afirmado definitivamente».
Para isso, bastava ver a actividade de Sukarno, apoiado pela China
e alguns pequenos estados africanos e asiáticos, para a convocação
de um segundo Bandung e o retorno ao regionalismo que, em
Belgrado, não ousou apresentar, mas tal ameaça existia. Embora,
tenha vencido a concepção jugoslava, era necessário continuar, no
plano ideológico, a luta política pela sua afirmação, «aproveitando
a atmosfera extraordinariamente favorável que surgiu após a CB
entre uma vintena de países (com a excepção da Índia)».
Além disso, a Índia procurou aproveitar «a CB como uma oportu
nidade para melhorar as suas posições em relação aos blocos e, no início,
frontalmente, conduziu uma campanha» contra as propostas jugoslavas,
continuou com tais posições no comité da conferência, mas todas essas
combinações fracassaram e ao seu redor não surgiu nenhuma fracção.
Porém, numa fracção pareciam mais os árabes (sete estados árabes) que
se manifestaram «sobretudo em relação a Israel e na questão alemã»,
bloqueando os trabalhos a respeito destas duas questões.
78
Apesar da «afirmação da política de não-alinhamento como
uma política com futuro», recomendou-se que não se podia ter
pretensões a que tudo fosse compreendido e aceite de acordo com
os pontos de vista jugoslavos. Por isso, era necessário «examinar
a situação, momento e tarefas ideológico-políticas para o futuro
trabalho no campo não-alinhado, junto a uma eventual acção nos
blocos, até mesmo no campo chinês (por causa das suas pretensões
nos PAA132, os chineses anteciparam-se aos russos com a sua atitude
positiva)».
Verificou-se, também, que aumentou fortemente o interesse
na Jugoslávia pela política internacional e a necessidade de uma
«elaboração mais profunda de certos problemas (colonialismo
e outros) e da concepção de coexistência». Igualmente, seria
conveniente examinar a actividade dos serviços de propaganda e de
imprensa.
79
de posições de força (testes nucleares, Berlim, etc.)», não podia
continuar a contar com o seu apoio.
134
Campo ou grupo em alemão. Nesses anos, esta palavra designava o
«bloco socialista» na terminologia política jugoslava.
135
Segundo o Politika (28Set./5.ªpág.), houve só «na Croácia, mais de
meio milhão de pessoas nas palestras sobre a Conferência de Belgrado» com
documentários e filmes da «Filmske Novosti».
80
Em base do que foi exposto, a comissão propôs uma dezena de
conclusões, começando pela necessidade de análises e avaliações da
CB, da situação internacional e de uma saída para a tensão política
mundial. A sua aprovação deveria ser feita ao mais alto nível político
(presidências da LCJ e ASPTJ), e seguida de reuniões e debates pelas
repúblicas jugoslavas.
81
Para terminar, este grupo do CCLCJ aprovou «reunir-se,
regularmente, às quintas-feiras» e enviou este documento a uma
dezena de dirigentes políticos (Tito, Rankovitch, K. Popovitch e
outros). Como foi um dos primeiros deste período da política externa
jugoslava e pelos seus subscritores, as suas páginas são uma síntese
da participação jugoslava na formação do Movimento dos Países
Não-Alinhados, registando os principais passos dados e propostos
pela diplomacia jugoslava nesse ano de 1961.
Em fins de Setembro
136
Nasceu em Zagreb. Terminou o ensino secundário em Paris, licenciatura
em Direito (Belgrado/1965) e doutoramento em Ciências Políticas (Zagreb/1981).
Dirigente e funcionário da UEJ, ASPTJ e diplomata (1981/91). Embaixador na
Tanzânia e no Egipto. Jornalista e autor de artigos e livros (relações internacionais,
África e Médio-Oriente). Depois de 1992, professor na Universidade Americana do
Cairo.
82
as apresentou num relatório137 sobre este «congresso que durou 5 dias
com a participação de 31 estudantes das colónias portuguesas, 13
representantes estrangeiros oficiais [de 12 associações nacionais
e organizações internacionais de estudantes] e um certo número
de estudantes marroquinos». Igualmente, entregou «ao comité
provisório a ajuda da UEJ (200 dólares e uma máquina de
escrever)».
A UGEAN teria, no máximo, uma centena de filiados, dispersos
por diversos países da Europa e da África, «enquanto o seu número
total se elevava a cerca de 300 e a sua maioria encontrava-se no
próprio Portugal». Apesar destes números modestos, o autor do
relatório considerou que já tinha alcançado uma «forte afirmação
internacional, e os seus representantes compareciam em muitas
reuniões estudantis. Também, não se devia subestimar o papel
moral e político que esta organização podia desempenhar no plano
interno como catalisador de diferentes correntes nos movimentos
nacionalistas destes países».
137
(AJ, 142, F-539). Este documento (10 páginas) tem o relatório do
congresso com uma dezena de pontos (UGEAN, moções, comissões e discussões
do Congresso, relações com o movimento internacional estudantil e observações) e
um anexo (a situação política em Portugal e suas colónias, relações dos movimentos
nacionalistas com a Jugoslávia). O original deste relatório e outros documentos
(bolsas de estudo, viagens, etc) sobre as relações UEJ-UGEAN encontram-se no
mesmo Arquivo (AJ, 145, F-46).
138
Acerca de Desidério da Graça (ou Costa noutros documentos, sendo
este o seu último apelido) acrescentou que «a personalidade do presidente [...] era
particularmente apropriada porque ele era protestante de Angola».
83
característico, citaremos que numa reunião de uma comissão
discutiram seis horas sobre diversas formas de luta, analisando-as
até aos mais pequenos pormenores, mas ninguém mencionou a luta
armada!»; houve sessões do Congresso sem quórum, em que «a
relação dos delegados presentes e dos observadores estrangeiros
foi, por vezes, até favorável para os estrangeiros.»; estes últimos
mostraram, na sessão final, «muito mais iniciativas, propondo e
fazendo emendas, enquanto a maioria dos anfitriões se contentava
em levantar o braço».
Ainda, achou que os dirigentes eleitos para o Comité Executivo
«eram todos jovens e pessoas novas a quem faltava experiência
política» e que seria interessante mencionar que «no novo CE, quase
todos eram negros, enquanto no comité provisório139 eram todos
mestiços».
Apesar dos contactos terem sido «muito sinceros e cordiais» e
os delegados terem mostrado «grande interesse por formas concretas
de cooperação» com a UEJ, nada escreveu sobre eles ou fez qualquer
referência à fuga140 de Portugal (Jun./61) de muitos dos presentes.
Uma falta de informações confirmada por «algumas observações
acerca do Congresso» em que considerou que «se podia dizer que
os delegados mostraram em certa medida uma falta de alguma
experiência política e organizativa, o que era compreensível tendo
em conta as possibilidades específicas nas quais se encontrava a
África, e sobretudo os territórios sob a dominação portuguesa». Por
139
Um dos seus membros tinha estado no seminário sobre a paz
(Dubrovnik/1960), organizado anualmente pela UEJ. Foi o primeiro contacto
entre as duas associações estudantis. Estes contactos continuaram através de Luís
de Almeida e José Carlos Horta, residentes na RFA, com o envio de documentos
(Jan.61): um panfleto anticolonialista (Lisboa, Nov./60); protesto pela destituição
da direcção da Casa dos Estudantes do Império (Dez./60).
140
Esta fuga de uma centena de estudantes para França não foi mencionada
em nenhum documento anterior, nem o autor deste relatório sabia do acontecimento
— embora, a notícia tivesse sido publicada em jornais franceses—, ou ficou a saber
após ter falado, seguramente, com alguns deles, tendo em conta que, desses 31
estudantes presentes em Rabat, muitos tinham participado nessa fuga. Também, não
fez qualquer referência ao movimento associativo estudantil em Portugal.
84
isso, segundo ele, «o seu trabalho» nas três comissões do Congresso
foi feito pelos representantes de três associações africanas, entre as
quais, a dos estudantes marroquinos (UNEM).
85
Até ao fim do ano, além de Angola, Goa (Damão e Diu eram
pouco mencionados) ocupou um lugar importante na política
mundial. As semanas anteriores dos preparativos para «o seminário
sobre as colónias portuguesas do Conselho da Índia para a África»,
em Nova Deli e Bombaim (20-23/Out.), mereceram as atenções
da diplomacia jugoslava e, como convidados, um seu observador
presenciou as sessões dessa reunião internacional143. Entre os seus
participantes, estavam representantes das colónias portuguesas
(Gentil Viana, Marcelino dos Santos, Jonas Savimbi e outros) e
líderes africanos de países não independentes. Um terceiro grupo
era constituído, sobretudo, por diplomatas de «20 países que
se destacaram na luta contra o colonialismo», sendo formado
por «todos os países árabes, alguns africanos, depois o Brasil,
URSS, EUA, Alemanha O. (a pedido explícito do seu embaixador)
e Jugoslávia». A oposição (anticolonialista) portuguesa esteve
representada por Manuel Sertório que, como «secretário do Comité
da Frente Democrática dos Portugueses no exílio», em São Paulo,
falou com o convidado jugoslavo no seminário e pediu «ajuda
material, política e moral»144.
143
Como o seu relatório deste seminário não foi encontrado, estes dados
são anteriores ao início do seminário. Igualmente, não tivemos acesso às fontes
existentes nos arquivos indianos.
144
Este telegrama (Deli, 9/Nov./61) foi enviado pelo SENE para informação
da embaixada no Brasil que, em 11/Dez./61, respondeu o seguinte: «Manuel
Sertorio, vosso 433621, é representante de um dos muitos grupos de emigrantes
políticos no Brasil. Ele é socialista, anticolonialista, mas pessoa de gabinete e
muito reservado, o que o conduz frequentemente a conflitos. Poder-se-á dar-lhe
ajuda, especialmente pela linha anticolonialista mas sem alguma ilusão acerca da
sua importância ou papel. Barichitch», (ADMNE, Portugal, F-108, 1961). Embora
pareça estar bem informado, o subscritor é um embaixador com três meses no Brasil,
que, em fins de Outubro, informou que «Galvão ficou encantado com recepção e
as conversações em Belgrado» e, então, estava «em Marrocos, em contacto com
a oposição e a emigração política portuguesas». Uma confusão que lhe mereceu
a seguinte resposta (9/Nov.) do seu vice-secretário, Leo Mates: « Incompreensível
vosso 346 porque Galvão não esteve na Jugoslávia. Na realidade, somente Delgado
esteve alguns dias convidado pela Liga da Paz antes da partida para Marrocos.
Delgado informou por carta a Liga de que Galvão impede a sua actividade com as
suas acções e declarações. Mates». Na sua resposta, Barichitch reconheceu o seu
86
Na primeira metade de Dezembro, o embaixador jugoslavo
foi informado regularmente pelo governo indiano da sua iminente
«intervenção militar»145, e, no dia 18, das operações vitoriosas das
forças armadas e do fim do «Estado Português da Índia». Também,
nesses dias e seguintes, essas informações abrangeram as reacções
políticas das «grandes potências» e das actividades diplomáticas
indianas. O Reino Unido, através do seu embaixador, exprimiu
a Nehru a «insatisfação e preocupação» por essa decisão, mas
sublinhou que só «exprimiu a opinião do governo e que não se
tratava de pressões». Quanto aos EUA, pelo seu embaixador John
K.Galbraith, teriam dito que «embora aprovem a acção, realçaram
todo o tempo as suas dificuldades com os aliados da OTAN». Porém,
a Índia estava segura que não haveria qualquer contramedida,
«porque Goa era uma questão da manutenção do colonialismo e
não da defesa dos membros da OTAN».
Em relação à «libertação de Goa», os meios políticos de Nova
Deli consideravam que «terá importantes consequências nos países
africanos ainda não libertados, principalmente nas possessões
portuguesas», apesar de se reconhecer que «a tarefa indiana fora de
longe mais fácil», pois os africanos deparavam-se com colonialistas
bem armados.
Além de um atento acompanhamento da política do governo
indiano, durante o último trimestre desse ano, a embaixada jugoslava
procurou ouvir outras opiniões sobre a importância do seminário
87
sobre «os problemas das colónias portuguesas». Não obstante uma
apreciação negativa — a organização deste seminário por uma «filial
americana» e financiada pelos EUA, serviu para a Índia «se mostrar
como um grande combatente contra o colonialismo», porque o
colonialismo português era mais fácil de atacar do que o britânico146
—, só dois meses passados com a invasão do exército indiano e o fim
do «Estado Português da Índia», houve outras que consideraram,
entre diversas razões políticas nacionais e internacionais147, a grande
influência que teve este seminário sobre Nehru na sua decisão por
uma «intervenção militar em Goa148». Decisão essa que surgiu da
146
Esta opinião de K.N.Gichoya (secretário-geral da Associação dos
Estudantes Africanos na Índia e estudante da colónia britânica do Quénia) era
semelhante às anteriores críticas do embaixador jugoslavo, Duchan Kveder, em
relação ao anticolonialismo do governo indiano e de Nehru. Por exemplo, no seu
telegrama (Nova Deli, 30/Mai./61) sobre uma reunião do Partido do Congresso,
pode-se ler: « Nestes últimos anos, Nehru não tinha feito uma crítica tão dura à GB
(N.do.T: Grã-Bretanha) como agora em relação ao apoio da GB a Portugal. Assim,
mostrou que também se pode criticar a GB, embora em parte alguma mencionou
que a própria GB tem os seus pecados colonialistas.»; « [...] Ele dirigiu a principal
dureza e a maior parte do discurso contra o minúsculo Portugal, apresentando-o
quase como o principal mal da situação actual, chamando às suas acções em Angola
“matanças” e à sua forma de colonialismo como o “mais sanguinário e tenebroso
na história”. Assim, o fogo aponta-se para um alvo relativamente insignificante,
enquanto que a Índia passa como a lutadora, a protectora dos desprotegidos e, na
verdade, mal tocou num dos mais importantes. » (ADMNE, Índia, F-116, 1961).
147
Neste telegrama (23/Dez./61) da embaixada jugoslava, essas razões
nacionais foram as seguintes: «insatisfação geral pela indecisão do governo para
ajustar contas com as colónias portuguesas»; «a grande pressão de todos partidos»;
«a situação pré-eleitoral apressou a decisão»; e «a Índia na impossibilidade de
resolver uma série de outras questões abertas como Cachemira, litígio indo-chinês,
revolta das tribus Naga, o governo foi para a liquidação do problema mais fácil».
Entre as razões internacionais, mencionaram: «a presença dos portugueses no
território indiano, as potências ocidentais podiam utilizar sempre como meio de
pressão sobre a Índia»; «era preciso mostrar uma certa firmeza aos chineses e
demonstrar determinação na salvaguarda do território nacional»; «demonstrar
aos países africanos que a Ìndia era consequente no anticolonialismo [...] e, assim,
recuperar o prestígio perdido no Cairo e Belgrado», (ADMNE, Índia, F-35,1961).
148
Ibidem.
88
sua reunião, segundo Mário de Andrade149, com os dirigentes da
CONCP.
149
Vide http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/09/08/da-«lumpen-
aristocracia»-a-luta-pela-independencia-55/, consultado em Jan./ 2012. Nesta longa
entrevista, Mário de Andrade mencionou Gentil Viana e Marcelino dos Santos como
sendo os dirigentes da CONCP nessa reunião.
150
Também, não foi mencionada na conferência internacional «Goa 1961
and Beyond», organizada pela Universidade de Goa (Dez./2011).
151
Sobre este apoio: António Correia de Lima, O Fim dos Séculos — Goa,
Damão e Diu, Bertrand Editora, 1997. Assim: «O Plano Sentinela já existia desde a
ameaça de invasão, em 1956, pela União Indiana. Só que naquela altura a política
internacional era outra, o potencial bélico português em Goa era outro, e contava-
-se com o apoio da esquadra americana instalada em Karachi. Porque os americanos
estavam a nosso favor. Por isso, era preciso resistir durante uns dias [...]» para
permitir a chegada da esquadra. Ora, em fins de 1961, o autor comenta: [...] com
a política internacional virada contra nós, sem o apoio dos americanos, o Plano
Sentinela tornou-se a prova cabal da incompetência do nosso Alto Comando».
152
Sobre este depoimento e outros (Vassalo e Silva, Teotónio Pereira,
Adriano Moreira, etc.), ver: Mário Matos e Lemos, «Goa, o Princípio do Fim do
Império. Alguns Documentos», Estudos do Século XX, n.º3-2003, p.271-287.
89
Em fins desse ano, as informações da embaixada no Congo
diziam que a insurreição em Angola estava na defensiva, o que o
MPLA reconheceu, enquanto a UPA falava de acções militares e,
nesse sentido, fazia comunicados. Entre os dois movimentos não
havia qualquer cooperação e até se dizia que «a gente do Holden
desarmou e matou 25 milicianos do MPLA». Além de reconhecer
que era «difícil conseguir uma imagem clara acerca da influência
e da organização de ambos os movimentos», o diplomata jugoslavo
informou, baseando-se «em dados dos centros daqui e dos
refugiados», que nas cidades angolanas «a situação era normal, o
comércio regular» e os portugueses matavam «sem piedade todos
aqueles que eram suspeitos». Resumindo as diferenças e os apoios
internacionais aos dois movimentos, descreveu como «bastante
difícil o estado material» dos cerca de 160 mil refugiados angolanos
na provincia de Leopoldville e, respondendo a uma pergunta do
SENE, terminou o seu telegrama com a resposta seguinte: « Acerca
NETO, não temos novos dados excepto de que continua na prisão.
Para a sua libertação dever-se-ia coordenar a acção com outros
movimentos anticolonialistas.153»
recepção na RPFJ e pediu ajuda de 100 000 dólares. Este era o objectivo principal
90
Segundo a Nota da ASPTJ, este dirigente da «Junta Patriótica
Central de Portugal» vivia em Roma, onde trabalhava como
funcionário da FAO, «o que lhe permitia, como dizia, viagens
a diversos países europeus»155. Nas suas conversações com «os
camaradas Viditch e Aititch, Ruivo falou: 1. acerca da situação
em Portugal, criação, carácter, força e tarefas da Junta; 2. acerca
da ajuda da Jugoslávia às actividades da Junta». Conforme este
documento, começou por falar da «queda da República Portuguesa»
e da chegada ao poder de Salazar que instaurou um «fascismo
camuflado com certas formas da democracia como são as eleições
que se falsificam constantemente e etc., não chamando a atenção para
si da opinião pública mundial como Hitler e Mussolini». Estes três
«[...] trouxeram o Franco com o qual, desde então, constantemente
Salazar colabora[va] o mais estreitamente». Quanto ao movimento
antifascista que foi forte, em 1945, com grandes manifestações contra
Salazar, não conseguiu derrubar a sua ditadura, «porque os EUA o
tomaram como um apoio para a manutenção das suas bases nas
costas do Atlântico. Por isso, em Portugal, continua[va] a manter-
-se uma ditadura fascista sem liberdade de imprensa, associativismo
sindical e etc.». Contudo, como as eleições foram tão falsificadas, a
oposição nem apresentou nas últimas os seus candidatos.
da sua visita. Contou que organizou a recente revolta militar em Portugal, que
teve pela primeira vez mortos e foi a primeira tentativa séria contra Salazar. Falou
do descontentamento no exército, que está contra a guerra em Angola. Gastou
todos os recursos nesta revolta e precisa de reunir pelo menos três vezes mais
dinheiro para uma nova revolta. Pediu que tal pedido se mantenha em segredo,
pois os seus liberais acusá-lo-iam de pedir dinheiro aos comunistas e, também,
não poderia aceitar algumas condições em relação a nós depois desta ajuda.»
(ADMNE,Portugal, F-115, 1962). A resposta do SENE foi «que não se deveria dar
ajuda monetária». Vide nosso «As Relações Jugoslavo-Portuguesas (1941-1974)
— Colectânea de Documentos», IUC, Coimbra, 2012.
155
(AJ,507-IX,10/V),«Nota acerca da conversação dos camaradas Dobrivoíe
Viditich e Predag Aititch com Mário Ruivo (José Fernandes) representante da Junta
de Acção Patriótica (N.doT.: Junta Central de Acção Patriótica) de Portugal» (6
pag.).
91
Referiu-se, em seguida, aos enormes custos militares para
a manutenção das colónias (Angola, Goa, Moçambique) que
conduziram o país a um estado muito difícil, cuja economia era aliás
atrasada. Exemplificando, descreveu com alguns dados estatísticos a
«fase inicial» da industrialização em Portugal, a agricultura baseada
na pequena propriedade e a repartição dos rendimentos das colónias
por «um grupo de pessoas muito reduzido».
Tudo isto conduziu a uma «insatisfação geral de vastas
camadas do povo, entre as quais também as médias, por exemplo,
os comerciantes, cuja situação se agravava com a diminuição do
poder de compra do povo e etc.».
À crise interna juntou-se a externa (isolamento na ONU por
ocasião da votação acerca de Angola e de Goa). «Na conservação
de Salazar, esta[vam] interessados o capital inglês, americano e
belga e, nos últimos tempos, a Alemanha Ocidental da[va] ajuda
económica (através de Israel) que, em geral, se utiliza[va] no reforço
do potencial militar».
Apesar destes apoios, as condições para o derrubamento de
Salazar tinham amadurecido e acrescentou: «É absolutamente
possível que, muito em breve, também os americanos comecem
com a substituição das suas ditaduras, uma por uma, por governos
democráticos. Por isso, é um dever das forças democráticas e
antifascistas de aproveitar as condições existentes para a formação
de um governo o mais democrático possível e a abertura de um
caminho que conduzisse a mudanças na estrutura do sistema».
Concluíu que este era «o objectivo e a essência das actividades» da
Junta Patriótica Central.
92
para acções, como foi a do «Santa Maria», que [eram] boas para
chamar as atenções da opinião pública democrática mundial para
a ditadura de Salazar, mas elas não [eram] suficientes e é muito
mais importante uma luta continuada e organizada. Continuarão a
apoiá-lo quando for vantajoso e a criticá-lo quando efectuar acções
imprudentes».
Achava, ainda, que o maior sucesso da Junta foi que conseguiu
reunir todas as forças antifascistas e, em contraste com a Espanha,
a oposição estava unida contra Salazar. Entre essas forças, o Partido
Comunista era a força mais organizada e o seu secretário-geral era
«um homem muito dinâmico, quase sempre se encontra[va] em
Portugal e [era] capaz de encontrar uma ampla plataforma para a
cooperação de amplas forças democráticas na luta contra Salazar».
Nos últimos tempos, reforçava-se a organização dos socialistas de
esquerda, de quem Ruivo era membro. A Igreja Católica, através
de um bispo, oferecia resistência a Salazar. No exército, existia um
certo apoio, em particular, através dos estudantes «que estavam
provisoriamente no exército como oficiais».
93
mais amplas forças democráticas e diversas convicções políticas e
ideológicas na luta contra Salazar».
No campo da ajuda jugoslava à JPC, Mário Ruivo colocou a
questão se poderiam ajudá-los no equipamento de uma estação de
rádio156, em Marrocos, e disse que o governo marroquino já tinha
concordado com a Junta a sua instalação no seu território.
156
Na citada entrevista (Jul./2012), falou-nos deste pedido, da política externa
jugoslava e dos primeiros contactos com a ASPTJ. Também, não se esqueceu do
frio e da neve que havia em Belgrado. Nesse mês, antes da sua chegada, um nevão
cobriu as ruas belgradenses com 80 cm de neve.
157
Após a recepção do orçamento do seu custo, cerca de 175 mil dólares, foi
dada uma resposta negativa a este pedido. Contudo, a abertura da sede da FPLN,
em Argel (início de 1963), permitiu ali o começo das emissões da Rádio Voz da
Liberdade através dos emissores da rádio argelina. Os contactos com a embaixada
jugoslava conduziram, em 1964, às visitas de delegações da FPLN e do PCP à
Jugoslávia.
94
Angola e o exército de Humberto Delgado
(Mar./62)
95
Outras acusações referem-se: à prática de uma política de
intimidação contra os angolanos exilados no Congo; ao armamento
dado pela Tunísia que, conforme Holden Roberto, custou milhões
de francos e apresentou falsos documentos dessa compra que
estavam na posse do Estado-Maior; aos apelos constantes de ajuda
financeira por parte do povo angolano e de estados estrangeiros
para o pagamento dessas pretensas despesas e de outras compras
de armamento, quando esse dinheiro acabava «dans les coffres
personnels de Holden».
Este comunicado termina com um alerta à opinião pública e um
apelo aos países afro-asiáticos para a condenação da luta fratricida
desencadeada por Holden Roberto e os seus comparsas no interior
de Angola, apelando ainda a todas organizações e movimentos
nacionalistas angolanos um apoio ao Exército de Libertação
Nacional e à criação de uma FLNA para que o povo angolano se
liberte da «domination et de l’exploitation esclavagiste portugaise
et des traitres dirigeants de l’U.P.A.».
96
A resposta a Humberto Delgado (Abr./62)
160
Nestes telegramas (ADMNE, Portugal, F-115, 1962) não aparece
qualquer referência à revolta de Beja na última noite de 1961.
97
Em Maio
98
( VIII )
Algumas notas finais
99
jugoslava. Todavia, o MPLA acabou por vir a ser o mais apoiado e o
único que, a partir de 1970, passou a ter a sua representação oficial
na capital jugoslava.
100
documentais acerca dos seguintes temas: relações jugoslavo-
-portuguesas; posições das grandes potências, de países não-
-alinhados, europeus e americanos; contactos com o PAIGC, MPLA
e FRELIMO; a situação política portuguesa; as independências das
colónias portuguesas.
Na escolha e apresentação dos acontecimentos principais dos
temas enumerados, procurou-se explicar a política externa jugoslava
e os passos que conduziram à primeira cimeira dos países não-
-alinhados em Belgrado, sem esquecer as ligações da Jugoslávia
com as citadas organizações políticas portuguesas e os movimentos
independentistas das colónias africanas.
101
ANEXOS
Anexo-1
103
Anexo-2
104
Anexo-3
105
Anexo-4
106
Anexo-5
107
FONTES E BIBLIOGRAFIA
I ) FONTES
II ) BIBLIOGRAFIA
109
Boguetitch Dragan, A Nova Estratégia da Política Externa da Jugoslávia
1956-1961, Belgrado, 2006. 384 p. (em sérvio).
Idem, «Agravamento das relações jugoslavo-americanas depois da
primeira cimeira dos países não-alinhados em Belgrado», Istorija
20.veka, 2/2006, p.72-86.
Dimitch Lhubodrag, «Na busca de alternativa. Um recorte da política
externa da Jugoslávia (1953-1955)», em sérvio (http://www.cpi.
hr/download/links/hr/7327.pdf, consultado em Dez./2011).
Idem, (http:// www.arhivyu.gov.rs /active/srlatin/home/glavna navigacija/
izlozbe/ izlozbe_arhiva / Nesvrstani_ prva_ konferencija.html),
consultado em Dezembro de 2011.
Kulhitch Todor, Tito – estudo sociológico-histórico, Zrenhanin, 2004, 240
p. (em sérvio).
Lima, António Correia de, O Fim dos Séculos — Goa, Damão e Diu,
Bertrand Editora, 1997.
Mates, Leo, As Relações Internacionais da Jugoslávia Socialista, 1976.
Matos e Lemos, Mário, «Goa, o Princípio do Fim do Império. Alguns
Documentos», Estudos do Século XX, n.º3 - 2003, p.271-287.
Matveievitch, Predag, «História e mito — De Gaulle-Tito-Mihailovitch»,
em croata.
(http://www.e-novine.com/drustvo/40743-Povijest-mit.html), consultado em
Dez./2011.
Pedro, Agostinho, «Agostinho da Silva: pressupostos, concepção e ação
de uma política externa do Brasil com relação à África» (http://www.
afroasia.ufba.br/pdf/afroasia n16 p9.pdf), consultado em Dez./2011.
Petranovitch, Branko, Istorija Jugoslavije 1918-1988, vol.III, Belgrado, 1988.
Raby D.L., «O DRIL (1959-61). Experiência única na Oposição ao Estado
Novo», Penélope, n.º16, 1995, p.63-86 (http://www.penelope.ics.
ul.pt/pages/todo.htm ).
110
SIGLAS
111
índice onomástico
Abbas, Ferhat, 16
Abud, Sardar M., 55
Adoula, Cyrille, 41, 43, 61, 62, 68, 70
Agostinho, Pedro, 6
Aititch Predrag ( Ajtić P.), 60, 65, 68, 69, 73, 91
Alicata, Mário, 80
Almeida, Luís de, 84
Andrade, Mário de, 24, 32, 33, 34, 37, 38, 41, 45, 56, 59, 60, 61, 62,
63, 64, 65, 71, 89, 99
Andritch, Ivo, (Andrić I.), 85
Arinos, Afonso, 28, 29, 98
Arquivo Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, 10
ASPTJ, 22, 23, 30, 39, 42, 57, 58, 60, 61, 62, 64, 70, 72, 73, 81, 82,
85, 91, 94, 95
Babitch, Dimitríie, (Babić,Dimitrije), 23
Baptista, João, 95
Barrio, José del, 26, 27
Bebler, Alex,21
Beirão, Martins, 89
Benkheda, Iusef, 63
Boguetitch Dragan (Bogetić,D.) 5, 6
Borba, 10, 34, 40, 48, 57, 58, 59, 74
Bourguiba, Habib, 15,33,55, 63
Bowles, Chester B., 6, 14, 43
Bragança, Maria Pia de, 96, 97
Brzitch, R. (Brzić), 35
113
Cabral, Amílcar, 23, 56, 57
Cassanga, Marcos, 95, 99
Carrillo, Santiago, 26
Campinos, Jorge, 101
Guevara, Ernesto Che, 26
Coelho, V.H., 87
Cominform, 3, 9, 21
CONCP, 15, 30, 32, 56, 58, 71, 72, 82, 89
Cruz Vermelha Internacional, 44
Cruz, Viriato, 23
Cunhal, Álvaro, 21, 60
Dantas, João Ribeiro, 6, 98
De Gaulle, Charles, 15, 29, 104
Delgado, Humberto, 27, 28, 29, 30, 86, 87, 90, 92, 95, 96, 97
Dimitch, Lhubodrag (Dimić, Ljubodrag), 4, 48
Dimitrov, Gueorgui M., 9
Djilas, Milovan, 68
Djikitch, Osman, 30
DRIL, 25, 26, 27, 28
Estaline, Iosif V., 3, 9, 34
Franco, Francisco, 27, 91
FRELIMO, 56, 72, 99, 101
Freire, Gilberto, 22
Gagarin, Iuri, 15
Galbraith, John K., 87
Galvão, Henrique, 26, 27, 29, 86, 92
Exército de Libertação Popular da Jugoslávia, 18
Faculdade de Direito em Lisboa, 65
Fanon, Franz, 41
Ferreira, Tomás, 64
Filmske Novosti, 10
Gichoya, K.N., 88
Gilmore, José (Holden Roberto), 23, 31, 33, 34, 41, 42, 60, 61, 62,
66, 67, 68, 69, 85, 93
Gizenga, Antoine, 32, 43, 61, 62, 70
114
GPRA, 63
Graça, Desidério da, 83
Gwambe, Adelino, 56, 72, 73, 74
Hassan II, 33, 55
Holden, Roberto, 23, 24, 30, 31, 32, 37, 39, 40, 41, 43, 56, 61, 65,
68, 69, 70, 95, 96
Homer, A. Jack, 61
Horta, José Carlos, 84
Ivekovitch, Ivan, (Iveković I.), 82
Iosifovitch, Lhuba, (Josifović, Ljuba), 30
JCAP, 57, 94
Just, Julio, 26, 27
Kasavubu, Joseph, 31, 32, 36, 62
Kalonji, Albert, 17
Keita, Modibo, 16, 34
Kennan, George, 15, 43, 79
Kennedy, John, 29, 51, 52, 61, 78
Komunist, 48
Kruchetchov, Nikita S., 3, 51, 52, 78
Kulhitch, Todor (Kuljić, T.), 9
Kveder, Duchan (Kveder, Dušan), 88
Lara, Lúcio, 23
Lemos, Mário Matos e,89
Lenine, Vladimir U.,34
Liga da Paz, 30, 86, 87
Liga dos Comunistas da Jugoslávia, 3, 9, 22, 23, 57, 60, 69, 77, 81,
85, 95
Lima, António Correia de, 89
Lumumba, Patrice, 13, 17, 33, 36, 40, 41, 42, 43, 62, 104, 105
Maalayeye, C.Z., 73
Mates, Leo, 18, 86, 104
Matveievitch, Predag (Matvejević P.), 15
Medjunarodna Politika, 48
Meneses, Hugo, 23
Mihailovitch, Draja, (Mihailović Draža), 15
115
Mitchunovitch Velhéko (Mičunović, Veljko), 18, 104
Mobutu, J.D.., 17, 32, 40, 43, 62
Mondlane, Eduardo, 15, 56
MPLA, 23, 24, 33, 37, 38, 39, 41, 44, 45, 50, 56, 58, 59, 60, 61, 62,
63, 64, 65, 66, 69, 90, 95, 99, 100, 101
Museu da História da Jugoslávia, 10
Murville, M. Couve de, 28
Não-Alinhados (Movimento dos Países), 5, 6, 8, 13, 34, 48, 62, 82
Nasser, Gamal A., 5, 6, 7, 16, 34, 55, 61, 63
Nehru, Djavaharlal, 3, 5, 6, 61, 66, 68, 87, 88, 89
Nikezitch, Marko, (Nikezić M.), 79
Nkrumah, Nkrumah, 6, 16, 30, 34, 40, 43, 59, 61, 67, 68
ONU, 6, 7, 14, 17, 18, 22, 24, 28, 30, 32, 33, 34, 44, 45, 50, 52, 53,
55, 58, 62, 63, 65, 92, 98, 103, 104
OTAN, 25, 37, 53, 63, 74, 87
PAIGC, 57, 99, 101
Partido Comunista da URSS, 3
PCP, 21, 23, 25, 60, 78, 94
Petchar, Zdravko (Pečar Z.), 40
Pinnock, Johnny, 56, 66
Plavitsa, Branko, (Plavica, B.), 47
Politika, 48, 80
Popovitch, Konstantin Kotcha (Popović, K. Koča), 14, 82, 98
Quadros, Jânio, 5, 6, 29
Raby, Dawn L., 27, 28
Rankovitch, Aleksandar (Ranković,A.), 59
Ruivo, Mário, 56, 57, 90, 94
Rusk, David Dean, 14
Salazar, A.O., 26, 27, 28, 29, 57, 58, 74, 89, 91, 92, 93, 94, 96, 97
Santos, Marcelino dos, 56, 71, 72, 73, 86, 89
Saud, Ibn, 51
Savimbi, Jonas, 34, 35, 36, 37, 39, 42, 44, 56, 58, 65, 67, 68, 86
Selassié, Haile, 5
SENE, 28, 30, 32, 79, 81, 86, 90, 91, 97
Sertório, Manuel, 86
116
Silva, Agostinho da, 6
Sotomayor, Jorge, 27, 28
Stoiakovitch, Milan, (Stojaković M.), 24
Sukarno, 6, 55, 78
Tchernei, Darko (Černej, D.), 27
Tchombé, Moisés, 17, 40
Tempo, Svetozar Vukmanovitch (S. Vukmanović T.), 59
Tito, Iosip Broz, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 34, 42,
43, 44, 45, 48, 50, 52, 55, 56, 57, 59, 60, 64, 67, 68, 70, 73, 81,
82, 100, 103, 104, 105, 107
Topaloski, Ilíia, (Topaloski Ilija), 33
Touré, Sékou, 16, 34, 51
Tsevetkovitch, Dragan, (Cvetković, D.), 47
U Nu, 55
UDENAMO, 56, 71, 73, 74, 75, 100
Udovitchki, Lazar (Udovički, L.), 25,26, 27
UGEAN, 72, 82, 83
UNEM, 85
Universidade de Belgrado, 18, 59, 60
UPA, 23, 29, 30, 31, 32, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43, 44, 56, 58,
60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 70, 90, 95, 99
Vayo, Alvarez de, 26
Viana, Gentil F., 56, 59, 65, 86, 89
Viditch Dobrivoíe, (Vidić, Dobrivoje), 42, 60, 91
Viktorovitch (Viktorović), 72
Vlahovitch, Vélheko (Vlahović, Veljko), 60, 65, 69, 70, 80, 85
Webber, Eduardo, 56
117
índice toponímico
119
Birmânia, 4, 6, 8, 42, 51, 55
Bizerta, 50, 55
Bolívia, 5, 8
Bombaim, 86
Brasil, 5, 6, 8, 26, 27, 28, 29, 36, 37, 86, 90, 93
Brazaville, 30
Brioni, 5, 6, 9, 43
Bruxelas, 85
Buenos Aires, 26
Bulawayo, 56
Cabo-Verde, 33
Cachemira, 88
Cairo, 7, 8, 24, 34, 38, 44, 48, 50, 57, 63, 78, 82, 88
Cambodja, 8, 52
Canadá, 6, 61
Caracas, 25, 26, 27, 28
Casablanca, 15, 30, 32, 33
Ceilão, 4, 6, 8, 51, 52
China, 6, 37, 78
Chipre, 8, 51
Coimbra, 2, 56, 91
Colômbia, 5
Conacri, 31, 33, 37, 44, 62
Congo, 5, 8, 14, 15, 17, 18, 22, 23, 30, 31, 32, 33, 36, 40, 41, 42, 44,
50, 59, 62, 63, 64, 70, 74, 82, 90, 96, 104, 105
Coreia, 4
Costa-Rica, 5
Cuba, 5, 7, 8, 16, 50, 51, 72, 105
Damão, 52, 86, 89, 106
Danúbio, 50
Diu, 52, 86, 89, 106
Egipto, 4, 5, 6, 7, 13, 16, 82
Equador, 5, 8
Eslovénia, 22, 59
Espanha, 14, 21, 25, 26, 27, 60, 85, 93
120
Etiópia, 4, 5, 6, 8, 51
EUA, 3, 5, 6, 13, 14, 15, 18, 22, 28, 29, 31, 32, 33, 36, 37, 43, 49, 51,
52, 61, 62, 63, 67, 79, 86, 87, 88, 89, 91, 100
França, 5, 21, 22, 25, 26, 27, 37, 43, 60, 84, 93, 98
Federação das Rodésias e da Niassalândia, 74
Gana, 5, 6, 8, 13, 16, 36, 43, 51, 52, 60, 72
Genebra, 4, 35, 59, 67
Goa, 25, 33, 52, 66, 86, 87, 88, 89, 92, 96, 97, 106
Grã-Bretanha, 87, 88, 98
Grécia, 49, 79, 87
Guiné, 6, 7, 8, 15, 33, 37, 51, 60, 77, 100, 104
Haiti, 5
Havana, 7, 8
Honduras, 5
Hungria, 9
Iémen, 8
Índia, 3, 4, 6, 7, 8, 14, 21, 22, 30, 37, 51, 66, 78, 80, 86, 87, 88, 89,
96, 97, 100, 106
Indochina, 4, 17
Indonésia, 4, 6, 8, 22, 51, 72
Inhambane, 56
Iraque, 8
Israel, 51, 78, 92
Itália, 30, 49, 80, 87, 93, 96
Jugoslávia, 1, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 15, 16, 17, 18, 21, 22, 23, 24,
25, 26, 27, 28, 30, 31, 34, 39, 43, 44, 47, 49, 50, 51, 52, 53, 57,
59, 60, 62, 65, 66, 67, 70, 72, 73, 78, 79, 80, 83, 85, 86, 91, 93,
94, 96, 100, 101
Karachi, 89
Karikal, 89
Kisangani, 43
Laos, 50, 105
Lausana, 35
Leopoldville, 30, 31, 36, 42, 66, 68, 90, 95, 99
Lhublhana (Ljubljana), 47
121
Líbano, 4, 8, 51, 104
Libéria, 6, 13, 29, 30, 36
Lisboa, 15, 21, 27, 31, 65, 84, 85, 89
Lobito, 40
Londres, 3, 4, 24, 47
Luanda, 14, 63, 65
Lusaca, 8
Madrid, 60, 85
Mahé, 89
Mali, 6, 8, 15, 36, 51
Marrocos, 5, 6, 8, 15, 28, 30, 52, 86, 94, 104
México, 5, 26
Milão, 26
Moçambique, 15, 22, 33, 56, 72, 73, 74, 75, 77, 92, 100
Monróvia, 41
Moscovo, 3, 18, 60
Nepal, 8, 51
Nova Deli, 86, 87, 88
Nova-Iorque, 24, 30, 34, 37, 61, 63, 68
Novi Sad, 39, 50
Paquistão, 4, 87
Paris, 14, 21, 27, 28, 31, 35, 60, 65, 82
Peru, 5
Pondichéry, 89
Portugal, 10, 14, 21, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 32, 33, 34, 35, 37, 40,
43, 44, 45, 56, 57, 58, 60, 63, 64, 66, 67, 71, 73, 74, 75, 77,
83, 84, 85, 86, 87, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 96, 97, 98, 100, 101,
104, 106
Praga, 25, 60
Quai d’Orsay, 28
Rabat, 32, 72, 82, 84
RAU, 34, 36, 50, 51, 60, 63, 72
Reino Unido, 3, 18, 37, 42, 49, 87, 89
República Árabe Unida, 8, 34
RFA, 49, 84
122
Rio de Janeiro, 25, 97
S.Tomé e Príncipe, 33
São Paulo, 86
Saraíevo (Sarajevo), 13, 47
Senegal, 22
Síria, 4
Smederevo, 50, 59
Somália, 8
Split, 13
Stara Pazova, 39
Sudão, 6, 8, 52
Suécia, 61
Suíça, 14, 35, 67
Tailândia, 4
Tanzânia, 23, 56, 82
Timor, 77
Trieste, 3
Tunis, 23, 63
Tunísia, 5, 6, 8, 15, 36, 39, 40, 52, 55, 62, 63, 96
Turquia, 79
União Sul-Africana, 14, 15, 35, 40, 42, 104
URSS, 4, 5, 6, 14, 15, 18, 21, 37, 42, 52, 60, 79, 86, 100
Uruguai, 26
Venezuela, 5, 25, 26, 93, 100
Viena, 51, 56, 59, 67
Vietname, 5, 50
Washington, 14
Yanaon, 89
Zagreb, 13, 18, 47, 82
123
Rezime
125
Kako je čitanje ovih izvora i navedene bibliografije na
srpsko-hrvatskom nepristupačno čitaocima ovog teksta pisanog
na portugalskom jeziku, na prvim stranicama je dat uvod u
jugoslovensku spoljnu politiku posle 1945, opis Titovog ‘’afričkog
putovanja 1961’’ , i njegove zvanične posete u 8 afričkih zemalja od
februara do aprila. Što se tiče ‘’odnosa Jugoslavije s Portugalom i
pokretima u njegovim kolonijama’’, dokumentacija koja se odnosi
na 1961. omogućava nam da navedemo otmicu putničkog broda
‘’Santa Maria’’, početak kolonijalnog rata u Angoli (februar – mart)
i da saznamo detalje počev od pružene spoljne pomoći SAD i Brazila
u pokušaju državnog udara, aprila meseca, koji je izveo portugalski
ministar odbrane zbog protivljenja vojnom rešenju Salazarove
kolonijalne politike pa do posete Beogradu, krajem septembra,
generala Umberta Delgada, opozicionog kandidata na predsednički
izborima 1958. i kasnijeg izbeglice u Brazilu.
Tokom tih meseci održana je Konferencija nacionalističkih
organizacija portugalskih kolonija (CONCP) u Kazablanci u aprilu,
a obavljeno je i više razgovora sa Holdenom Robertom i Jonasom
Savimbijem, vođama Saveza stanovništava Angole (UPA), koji su
boravili u Jugoslaviji u avgustu kada ih je primio i predsednik Tito.
Pošto je na ministarskom sastanku u Kairu, održanom juna 1961,
doneta odluka o izboru Beograda, počelo se sa pripremama za
realizaciju prvog skupa budućeg pokreta nesvrstanih zemalja od 1. do
5. septembra. Konferenciji je prisustvovalo 25 država članica, 3 države
posmatrači i 38 predstavnika iz oslobodilačkih pokreta i progresivnih
partija i organizacija sa svih kontinenata. Među njima su se nalazile i
neke vođe pokreta za nezavisnost iz portugalskih kolonija.
Što se same organizacije tiče, Beograd je za manje od 3
meseca bio pretvoren u gradilište u koje je izvedeno stotinak većih
i manjih radova (investicije, gradska infrastrukura i dr). Sredinom
avgusta ukupna vrednost troškova je dostigla iznos od 8,1 milijardi
dinara, tj. 27 miliona dolara. Što se tiče troškova same konferencije,
Jugoslavija je podnela najveći deo troškova za pripreme i realizaciju
konferencije, jer su oni samo delimično bili pokriveni doprinosima
zemalja učesnica.
126
U petom poglavlju, o ‘’ konferencijskim sednicama, debatama
i deklaracijama’’ dat je prikaz ne samo rada i učesnika konferencije,
već i drugi događaji koji su se odigrali tih dana u Beogradu, o
posetama Novom Sadu i Smederevu o čemu je izveštavalo skoro
hiljadu novinara, fotografa i kamermana novinskih agencija, radija i
televizije, od čega je više od polovine bilo iz inostranstva.
U sledećem poglavlju pod nazivom ‘’Kolonijalizam, delegacije
i konferencija’’, kolonijalno pitanje zauzima značajno mesto, kako
u debatama, tako i po osudi kolonijalizma i pomoći borbi naroda
iz kolonija što je istaknuto u deklaraciji skupa, gde se navode
‘’događaji u Angoli’’ i integracija ‘’teritorija Goa, Damao i Diu u
[...] zemlje porekla’’. Istovremeno, obavljeni razgovori s nekim od
9 članova delegacija oslobodilačkih pokreta iz portugalskih kolonija
dobro su dokumentovani.
Od poslednja dva poglavlja, u jednom se iznose neka dešavanja
koja su se dogodila ‘’tokom sledeći sedmica i meseci’’, gde se
ističe kraj takozvane portugalske države u Indiji, decembra iste
godine, kako je i bilo zahtevano na Beogradskoj konferenciji i njena
integracija u Indiju, zatim poseta jednog predstavnika portugalske
antifašističke organizacije (JCAP) i razgovori koje je u februaru
vodio u SSRNJ, rat u Angoli i, vezano s tim, optužba za masakr
koji je UPA, marta 1962, izvršila nad gerilcima MPLA i na kraju,
odgovor koji je Koča Popović dao brazilskom ministru spoljnih
poslova prilikom svoje posete Brazilu, maja 1962: ‘’ako Portugal
nema mogućnosti da u uslovima nezavisnosti održi svoje ekonomske
pozicije u Angoli i drugim zemljama, utoliko je manje opravdano da
im se one nameću silom’’. Zaključio je da Jugoslavija ima ‘’veoma
negativno gledanje na politiku Portugala’’ i upitao se ‘’da li taj režim
uopšte može prilaziti realističnije tim i drugim problemima’’.
127
međunarodnog pitanja’’, kao što se isto dogodilo sa Gvinejom Bisao
posle početka oružane pobune januara 1963, i s Mozambikom, u
septembru 1964. Ova „internacionalizacija’’ je umnogome doprinela
važnim političkim promenama u Portugaliji, u aprilu 1974, a
kasnije, posle sticanja nezavisnosti Mozambika i Angole, i u drugim
zemljama na jugu Afrike.
Što se tiče važnosti pomoći koju je Jugoslavija pružila, citiraju
se reči zahvalnosti jednog portugalskog političara koje je izrekao
prilikom prve zvanične posete jedne jugoslovenske delegacije, u
junu 1974: „Hvala vam za pomoć koju ste pružili oslobodilačkim
pokretima, jer je njihova borba objektivo pomogla demokratske
promene u Portugaliji’’.
Zbog toga smatramo da bi ova navedena i malo poznata arhivska
zbirka, trebalo da zauzme svoje mesto u istraživanju i proučavanju
ovog perioda istorije XX veka gore spomenutih zemalja.
128
SUMÁRIO
I ) Introdução.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
II ) A viagem africana de 1961.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
III ) As relações da Jugoslávia com Portugal e os
movimentos de libertação das suas colónias.. . . . . . . . . . . . . 21
O «Santa Maria».. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Da «Abrilada» à viagem de Humberto Delgado a Belgrado. . 28
Conversações com a UPA (Holden Roberto).. . . . . . . . . . . . 30
A CONCP.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Conversações com a UPA (Jonas Savimbi). . . . . . . . . . . . . . 34
IV ) Uma delegação da UPA na Jugoslávia e uma carta do
MPLA (Ago./61). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
A carta do MPLA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
V ) Algumas notas acerca da Conferência. . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Dos preparativos em Belgrado à chegada das delegações.. . 49
As sessões, os debates e as declarações da Conferência. . . . 51
VI ) O colonialismo, as delegações e a Conferência.. . . . . . . . . . 55
As delegações do PAIGC e da JCAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
As delegações do MPLA e da UPA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
A CONCP e a UDENAMO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
VII ) No decorrer das semanas e meses seguintes.. . . . . . . . . . . . 77
129
Ainda em Setembro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Em fins de Setembro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Até final desse ano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Em Fevereiro do ano seguinte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Angola e o exército de Humberto Delgado (Mar./62). . . . . . 95
A resposta a Humberto Delgado (Abr./62) . . . . . . . . . . . . . . 97
Em Maio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
VIII ) Algumas notas finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
A N E X O S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Anexo-1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Anexo-2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Anexo-3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
Anexo-4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Anexo-5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
130
« Hoje às 10 horas começa a Conferência dos Países fora dos blocos»
«Tito abrirá a Conferência »
POLITIKA, 1/Set./1961
131
« Hoje, em Belgrado, começa a Conferência de Chefes // de Estado e de
Governo dos Países fora dos Blocos »
BORBA, 1/Set./1961
132
« Aleksandar Rankovitch ofereceu uma recepção em honra // dos
representantes dos movimentos de libertação e partidos progressistas »
BORBA, 3/Set./1961
133
« O povo de Moçambique sauda a
Conferência de Belgrado —
declarou o presidente da União
Nacional Democrática de
Moçambique Adelino Gwambe »
BORBA, 8/Set./1961
134
« Mário de Andrade » // « Os colonizadores portugueses // mataram
cerca de 50 000 angolanos »
BORBA, 10/Set./1961
135
« Das mensagens para a Conferência de Belgrado»
« Em Portugal expande-se onda de terror salazarista » // — Afirma-se no
apelo da Junta da Acção
Democrática» // // « Crime em Angola » (fotografia)
BORBA, 24/Set./1961
136
« Os princípios da coexistência pacífica — a única possibilidade alternativa
para a catástrofe nuclear mundial »
KOMUNIST, 7/Set./1961
137
Os Chefes de Estado e de Governo na Conferência de Belgrado
(fotografia)
Izdavač
Udruženje za društvenu istoriju
Čigoja štampa
Za izdavače
Milan Ristović
Žarko Čigoja
Priprema i štampa
ISBN 978-86-531-0100-8
CIP - Каталогизација у публикацији
Народна библиотека Србије, Београд
327(497.1)"1961/1975"
325.3(469)"1961/1975"
323(469)"1961/1975"
ISBN 978-86-531-0100-8
140