Literatrura Comparada e Estudos Culturais
Literatrura Comparada e Estudos Culturais
Literatrura Comparada e Estudos Culturais
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WELLEK & WARREN. Teoria da literatura e metodologia dos estudos literrios, p. 50.
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Cf WELLEK & WARREN. Teoria da literatura e metodologia dos estudos literrios, p. 51.
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Sobre a aproximao Candido e Willams, ver CEVASCO. Dez lies sobre estudos culturais,
principalmente a dcima lio: Estudos culturais no Brasil, p. 173-188.
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anos, elaborou parte da resposta cabvel.18 Podemos dizer que no tocante ao poder
econmico o pas no leva mais tanta desvantagem como dantes, podendo agora
caminhar com as prprias pernas. Nesse sentido, foi preciso que surgisse uma
crise mundial para que o Brasil mostrasse o Brasil aos brasileiros. Eram duas
naes, no dizer de Santiago, e continuam duas naes, mas com culturas prprias
e diferentes. Agora, e a talvez esteja o maior legado do crtico, resta-nos ler a
nossa cultura em toda sua heterogeneidade e especificidades locais, porque,
mesmo que quisssemos, no poderamos mais ser bairristas e nem provincianos,
a no ser que no tivssemos aprendido como se deveria a lio. A outra pergunta
que o crtico fazia era: como o crtico deve apresentar hoje o complexo sistema
de obras explicado at o presente por um mtodo tradicional e reacionrio cuja
nica originalidade o estudo das fontes e das influncias?19 Nem precisava ser
comparativista para ver que a o crtico chamava s falas a prpria literatura
comparada, ou melhor, seu mtodo disciplinar reacionrio, posto que totalizante,
elitista e quase sempre excludente. Porque, nas prticas comparativistas, as
literaturas subdesenvolvidas vinham sempre depois, a reboque, inclusive nos
manuais de ensino. O problema que isso era a norma, ou melhor, nica
condio. Ao decretar a falncia do mtodo crtico tradicional preso ao estudo das
fontes e das influncias naquela poca, Santiago no deixa de dar prosseguimento
ao mtodo crtico j iniciado por Antonio Candido desde, pelo menos, Formao
da literatura brasileira, como salientamos. Interessa-nos falar desse mtodo
porque vemos esboar-se nele a prpria prtica da literatura comparada como
disciplina, o que s vem comprovar que ela no passaria mesmo de um mtodo de
comparao. Assim, pensando nesse mtodo que destruiria de vez as fontes e as
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Em nota recente (2002) segunda edio do livro Nas malhas da letra, S. Santiago faz o
seguinte comentrio sobre Uma literatura nos trpicos: Uma literatura nos trpicos viveu de
certa euforia narcisista, decorrente da teoria da dependncia econmica aplicada ao conhecimento
e desenvolvimento das artes e das culturas nacionais do Terceiro Mundo. A euforia que sustenta os
ensaios mais densos do livro, em particular O entre-lugar do discurso latino-americano e Ea,
autor de Madame Bovary, foi perdendo o vigor nas duas ltimas dcadas e praticamente se
apagou com o sculo. Hoje pareceria um livro datado, se o novo milnio no nos tivesse trazido
questes que ali forma expostas e discutidas. No seu estertor, os novos tempos se alimentam de
idias que foram por ele corrodas.(SANTIAGO. Nota segunda edio. In: Nas malhas da letra,
p. 9).
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a diferena era o nico valor crtico, de l para c a nova crtica se consolidou a tal
ponto que j podemos dizer que tanto no Brasil quanto na Amrica Latina a
diferena seria um dos valores que ainda devem se fazer presente na crtica
contempornea(?), mas no , de forma alguma, o valor que deva prevalecer no
discurso crtico. E isso se deu graas a leituras como a do prprio Santiago, bem
como aos trabalhos efetuados pela literatura comparada.
Silviano Santiago dizia, h mais de trinta anos, que a literatura latinoamericana propunha um texto e abria o campo terico onde seria preciso se
inspirar durante a elaborao do discurso crtico de que ela seria o objeto. Hoje,
j sabemos que o campo terico latino-americano se consolidou sobre diferentes
abordagens tericas, visando no privilegiar nenhuma delas, e que o discurso
crtico, por conseguinte, est mais do que elaborado, e o reconhecimento
internacional da literatura latino-americana a prova mais cabal de tal elaborao.
O discurso crtico latino-americano deste sculo XXI rejeita qualquer discurso
pseudocrtico, ou seja, aquele discurso erigido aqui e que no trate da literatura e
da cultura latino-americanas em suas especificidades sociais, estticas, polticas e
culturais. Esse discurso, por sua vez, critica todo e qualquer discurso dualista,
assim como qualquer discurso crtico que se queira hegemnico (nico),
propondo, por conseguinte, rediscutir o prprio conceito de literatura nos dias
atuais (literatura comparada?) que se cristalizou na Amrica Latina. Na esteira do
que dizia Santiago no final de seu ensaio, conclumos que o ritual antropfago da
literatura latino-americana (literatura comparada?), da cultura, j se consolidou
aqui, restando agora ao crtico de hoje ver o que daquele ritual ainda nos serve
para pensar melhor os conceitos latino-americanos.
Apesar de Silviano no ter mencionado uma vez sequer a palavra
dependncia no ensaio O entre-lugar do discurso latino-americano, podemos
dizer que em Apesar de dependente, universal o crtico d continuidade a sua
reflexo iniciada naquele ensaio.22 Como se v, diferentemente daquele, nesse
ensaio desde o ttulo o autor j sinaliza tratar-se da questo da dependncia.
Podemos dizer que se em O entre-lugar do discurso latino-americano o crtico
afastava de vez as fontes e as influncias para melhor ler o particular em sua
diferena; agora em Apesar de dependente, universal ele universaliza o
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Lembramos que o subttulo do livro Uma literatura nos trpicos Ensaios de dependncia
cultural.
Em nota recente (2002) segunda edio do livro Nas malhas da letra, S. Santiago faz o
seguinte comentrio sobre Vale quanto pesa: Vale quanto pesa tentou conviver criticamente no
s com os descalabros e impasses criados pela represso e a censura s artes, decorrente do regime
implantado pela ditadura militar, como tambm com a emergncia brutal dos problemas por que
passou o artista no momento em que a economia brasileira tornava-se por opo dos dirigentes do
pas uma economia de mercado. O nome do sabonete da minha infncia servia de metfora para
que se perguntasse qual era o peso e o valor da arte no momento em que a crtica perdia sentido e o
consumidor se alava condio de rbitro todo-poderoso. (SANTIAGO. Nota segunda edio.
In: SANTIAGO. Nas malhas da letra, p. 9).
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visada dualista, isto , disciplinar, e o faz pela aluso direta ao seu conceito de
entrelugar: preciso buscar a explicao de nossa constituio (vale dizer
da nossa inteligncia) atravs de um entrelugar,(...).26 Para sair dessa perspectiva
disciplinar e chegar a uma perspectiva histrico-antropolgica, ou seja, nodisciplinar, Santiago faz um desvio, cujo objetivo central para a perspectiva
comparativista que estamos buscando aqui: est servindo ele [o desvio] para
justificar o questionamento das categorias fortes que servem de alicerce para a
literatura comparada.27 As categorias discutidas por Santiago a so as fontes e as
influncias, por serem de fundo lgico e complementar para a compreenso dos
produtos dominante e dominado, exercitando, assim, exausto uma prtica
disciplinar. Para a reviso de tais categorias, Silviano prope uma fora e um
movimento paradoxal, que por sua vez daro incio a um processo ttico e
desconstrutor da literatura comparada, quando as obras em contraste escapam a
um solo histrico e cultural homogneo.28 Pondo tal prtica paradoxal e
suplementar da crtica em ao, Santiago d nfase diferena que o texto
dependente consegue inaugurar, mostrando, por conseguinte, que o texto
descolonizado da cultura dominada acaba por ser mais rico, por conter em si
uma representao do texto dominante e uma resposta a esta representao no
prprio nvel da fabulao. interessante observar que a o crtico estaria
completamente fora de uma visada etnocntrica, assim como j estaria se valendo
do processo ttico e desconstrutor empreendido literatura comparada que no
deixa de sustentar a leitura do crtico. Tambm justifica e explica o trocadilho do
ttulo do ensaio dependente e universal, posto que o dominado vela a presena
(representao) do dominante.
Alm das categorias, Silviano detm-se na caracterizao do objeto da
literatura comparada. Para ele, o objeto tem de ser duplo, constitudo que por
obras literrias geradas em contextos nacionais diferentes que so, no entanto,
analisadas contrastivamente com o fim de ampliar tanto o horizonte limitado do
conhecimento artstico, quanto a viso crtica das literaturas nacionais.29 Essa
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abordagem do objeto por Silviano, perfeita por sinal naquele momento, servia
muito bem para comparar a literatura, a cultura europia, entretanto no era to
simples quando se tinha em discusso a literatura latino-americana: a situao da
literatura latino-americana, ou da brasileira em particular, com relao literatura
europia ontem e literatura americana do norte hoje, j no apresenta um terreno
to tranqilo,30 conclua o crtico. Como se v, a reflexo de Silviano encontra-se
totalmente dentro dos postulados da literatura comparada naquele momento, o que
foi sumamente enriquecedor para a prpria crtica brasileira que passou a ficar
mais atenta em suas comparaes crticas entre literaturas perifricas e da
metrpole.31 Se tais comparaes mereciam cuidado, por outro lado Silviano
afirma que a perspectiva correta para se estudar as literaturas nacionais latinoamericanas a da literatura comparada no h dvida.32 Nesse momento de seu
ensaio, Santiago menciona Antonio Candido, cuja passagem do crtico j foi por
ns transcrita no incio deste ensaio mas que vale a pena relembr-la: [...].
Comparada s grandes, a nossa literatura pobre e fraca. Mas ela, no outra, que
nos exprime.33 Tais assertivas merecem, hoje, algumas desconfianas, afinal tal
crtica (Candido, Santiago) no se tornou lio por acaso, nem o tempo se passou
em vo: ser que a perspectiva comparativista ainda seria a correta para se estudar
as literaturas nacionais latino-americanas? Felizmente ou infelizmente no temos
mais esta certeza, e pela simples razo do fato de no se saber mais o lugar e papel
da disciplina literatura comparada no Brasil, na Amrica latina e no mundo(?).
Cabe-nos, inclusive, uma pergunta: ser que essa disciplina, de carter
aparentemente to indisciplinar mas totalmente disciplinar (etnocntrica), ainda
existe (no Brasil)? Hoje, depois de quase trinta anos do ensaio de Santiago,
podemos dizer que a nossa literatura, mesmo quando comparada s grandes, no
mais nem pobre nem fraca, mas j no podemos dizer que ela continuaria a nos
exprimir como afirmara Candido e como ainda reforava Santiago. Reforando a
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Tania Franco Carvalhal, em seu pequeno mas fundamental livro Literatura comparada, mais
especificamente no Captulo 5: Literatura comparada e dependncia cultural, mostra a
importncia que os dois ensaios de Santiago tiveram para a discusso em torno dos estudos
comparados no pas.
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SANTIAGO. Vale quanto pesa, p. 20. Lembramos ao leitor que na Entrevista que fecha o livro
Vale quanto pesa, S. Santiago discute questes importantes desenvolvidas no ensaio que abre o
livro (Apesar de dependente, universal).
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sempre ocorrera aqui, como o crtico conseguiu se valer de um aparato tericocrtico que passasse ileso dessa prtica to manifesta na cultura? E mais: at onde
que seu recorte crtico no estava, naquele contexto dos anos 80, contaminado por
aquela confluncia de teorias que migravam de forma avassaladora entre os
mundos, principalmente em direo aos perifricos? Ser que no seria mais
interessante, mesmo que mais difcil, pensar a experincia do postio, do
inautntico, do imitado, j considerando as teorias da dcada de 80 que se
dedicam a questes dessas naturezas? Pensando especificamente na crtica
brasileira, no temos como no concordar com Schwarz, posto que tal crtica
encontra-se acostumada ao vcio imitativo se a compararmos com crticas de fora.
A diferena, hoje, talvez se d porque, se antes, at a dcada de 80, a referncia
ainda era a crtica europia e a norte-americana, cada vez mais nossa crtica
voltou-se para a latino-americana, ou pensada em espanhol, ou pensada por latinos
em ingls (dos Estados Unidos). Na verdade, nossa crtica, por no dar conta de se
resolver internamente, talvez por sofrer de um rano subalternista, estaria
condenada a buscar anuncia de uma crtica pensada em lngua hegemnica, como
se este fator fosse ainda decisivo para um julgamento crtico nos dias atuais.
Seguindo seu raciocnio que se d em torno do mal-estar intelectual que
o assunto discutido em Nacional por subtrao, Schwarz critica a filosofia
francesa recente (Foucault e Derrida) por defender, segundo ele, que o anterior
prima sobre o posterior, o modelo sobre a imitao, o central sobre o perifrico.44
Nessa linha filosfica, de atrasados passaramos a adiantados, de desvio a
paradigma, de inferiores a superiores [...] isto porque os pases que vivem na
humilhao da cpia explcita e inevitvel esto mais preparados que a metrpole
para abrir mo das iluses da origem primeira.45 Na verdade, toda essa discusso,
entre o que defende Schwarz e o que defendem outros crticos brasileiros na
esteira da reflexo filosfica francesa, d-se, sem sobra de dvida, porque a crtica
brasileira constri-se enquanto tal assentada num dualismo exagerado do qual
nenhum dos crticos dessa poca (at dcada de noventa) consegue romper
totalmente para ler as produes culturais, nem muito menos a cultura brasileira.
Se para eles, essa era sua condio, inclusive imposta pelo contexto, para a crtica
de depois de noventa a condio exigida esta bem posta: qualquer olhar crtico
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que ainda fique preso a essa visada dualista, ou sequer preocupado com questes
atinentes dependncia cultural brasileira, est to-somente repetindo aquela lio
magistralmente arquitetada por seus precursores crticos. Exemplo desse
dualismo, alis presente em todos os ensaios at aqui discutidos, inclusive desde
os ttulos, encontra-se nesta passagem de Nacional por subtrao: [...] em lugar
da almejada europeizao ou americanizao da Amrica Latina, assistiramos
latino-americanizao das culturas centrais.46 No estamos dizendo com isso que
o crtico concorda com o que escreve, mas tambm no deixa de sinalizar que se
trata ou de uma condio ou de outra, como se s uma dessas formas fosse a
melhor para se compreender a dependncia cultural aqui instalada. Nessa parte de
seu ensaio, Schwarz menciona o ensaio O entre-lugar do discurso latinoamericano, de Silviano Santiago, por ns antes discutido, e um outro de Haroldo
de Campos, ambos os ensaios embasados pela filosofia francesa e severamente
criticados pelo autor de Nacional por subtrao. Se Schwarz critica a vertente da
crtica brasileira de perspectiva filosfica francesa, por esta criticar a perspectiva
marxista, e se aquela critica a vertente da qual Schwarz faz parte por ser de
extrao marxista, ento s nos resta dizer que ambas as vertentes precisam ser
revistas neste sculo que se inicia (sob pena de algum crtico contemporneo
menos desavisado ainda pensar que ser ou no-ser marxista poderia render
alguma crtica.).
Se, por um lado, a crtica contempornea resolveu de vez todo e qualquer
dualismo que ainda poderia existir dentro da crtica brasileira, por outro, podemos
dizer que subsiste em seu interior um rano que no deixa de lembrar um certo
atraso crtico. Trata-se, como j sinalizamos antes, de um certo partidarismo
explcito da crtica estabelecido entre as duas vertentes crticas que se
sobressaram no Brasil, cujos representantes maiores so, de um lado, Silviano
Santiago e, de outro, Roberto Schwarz. Fecharemos este ensaio abrindo-o para
essa discusso que acabou se impondo no cerne da crtica contempornea,
causando, pelo menos em parte, uma certa dualidade no ensino da crtica na
universidade.
Eneida Leal Cunha, em seu ensaio Leituras de dependncia cultural,
sintetiza muito bem as posies que diferenciam o pensamento crtico de Silviano
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Meio pelo avesso do que diz Costa Lima, mas pensando nas argumentaes
terica e crtica prprias, isto , feitas dentro do Brasil na contemporaneidade,
percebemos que s vezes os partidarismos (somados s intrigas domsticas), que
no deixam de apresentar laivos de um certo rano de autoritarismo escolstico,
pr-direcionam os julgamentos crticos possveis de serem feitos da prpria crtica
brasileira. Querelas entre intelectuais, posicionamentos ideolgicos contrrios, ser
ou no ser marxista por exemplo, formas diferentes de interpretar uma cultura e
suas respectivas manifestaes culturais, so bem-vindos e podem contribuir
definitivamente com a prpria crtica, desde que essa crtica saiba articular-se de
forma que no sonegue qualquer informao ou abalizamento crtico que so
respaldados pela prpria histria pregressa da crtica. Ilustra o que estamos
dizendo, de nosso ponto de vista, o que acontece no livro Dez lies sobre estudos
culturais, de autoria de Maria Eliza Cevasco. Nele, a autora detm-se, na ltima
lio, nos estudos culturais no Brasil. Reconhece que a data oficial de tais
estudos no Brasil se deu em 1998, ano em que a Associao Brasileira de
Literatura Comparada, Abralic, que rene professores e pesquisadores da rea,
escolheu para seu congresso bianual o tema Literatura Comparada = Estudos
Culturais?56 Cita o presidente da associao daquele binio, o crtico cultural
Ral Antelo, passa em revista todos, digamos, formadores da cultura brasileira
para deter-se no tambm crtico cultural Roberto Schwarz, discpulo uspiano.
Como discpula desse crtico, privilegia sua vertente, calcada na produtividade de
um modo de ler dialtico, e passa a exemplificar tal modelo dessa tradio de
crtica cultural brasileira com uma leitura comparativista cultural entre as obras
Dom casmurro (1899), de Machado de Assis, e Minha vida de menina (1942), de
Helena Morley, que no recorte feito por Cevasco soa meio forada. Mas a questo
que se impe na leitura de Cevasco sobre a lio Estudos culturais no Brasil
de outra ordem: a que lugar Cevasco delegou ao crtico Silviano Santiago no rol
dos crticos brasileiros que, pelo menos desde a dcada de 70, vem se dedicando
aos estudos de crtica cultural, como j sinalizava o subttulo de Uma literatura
nos trpicos: ensaios sobre dependncia cultural? Em se tratando de crtica,
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reflexo crtica naquele momento. Apesar disso, Carvalhal meio reticente com
relao aos estudos culturais:
o debate sobre os Cultural Studies fez emergir o risco de ver desaparecer a abordagem
literria, alm de evidenciar o perigo de que especialistas em literatura voltem-se para
outros campos sem a dupla competncia indispensvel aos estudos interdisciplinares.
Mais do que defender a especificidade da literatura ou tentar evitar a reduo de nosso
campo de trabalho, ameaas que pesam mais em outros lugares do que no Brasil
mesmo, preciso salientar que se atribui aos estudos culturais uma liberdade de ao
que, na realidade, no existe. Em contrapartida, procurando, por vezes, afastar a
literatura, interrogar seu lugar dentre as prticas simblicas e culturais e minimizar sua
funo esttica, os Estudos Culturais distanciam-se do comparatismo, que sempre
pressupe que a literatura permanea como um dos termos da comparao. 61
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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