Cognatos e Falsos Amigos LSB e ASL
Cognatos e Falsos Amigos LSB e ASL
Cognatos e Falsos Amigos LSB e ASL
Apresentação
alfabeto manual de León e criou seu próprio sistema baseado em uma estrutura
visual para ensinar a escrita do francês.
Nos Estados Unidos a LS obteve maior sucesso com Thomas Gallaudet e Lau-
rent Clerc. A procura de uma metodologia pela qual os surdos pudessem compreen-
der melhor os conteúdos em LS, Gallaudet vai à Inglaterra ao encontro de Sicard
e Clerc. Em 1817, Gallaudet e Clerc seguem para os EUA e fundam a escola inti-
tulada “American Asylum fot the Instruction and Education of Deaf ans Dumbs”.
A respeito da língua pela qual ele desenvolveu suas instruções, “no início, Clerc
trabalhou, sobretudo, com base na língua gestual francesa, que acabaria por evoluir
para uma língua gestual americana construída sob diferentes influências internas”
(COUTINHO, 2008, p. 40). A partir do contato entre LSF e ASL, os surdos que pas-
savam pela referida instituição fundavam outras escolas e disseminavam a língua
que outrora fora aprendida. Contudo, segundo Savitt (2007), a atual ASL pode ter
sofrido algum tipo de influência de outras LS já existentes nos EUA antes da che-
gada de Clerc, como é o caso da ilha de Martha Vineyard, de 1690. Devido a uma
doença hereditária que atacou grande parte da população, esta ilha ficou conhecida
pela grande quantidade de surdos que utilizavam a chamada Martha’s Vineyard
Sign Language-MVSL para se comunicarem.
Registros históricos apontam que a LSF influenciou não somente a ASL, mas
também a Língua de Sinais Brasileira-LSB. Ernest Huet foi um surdo francês que
veio para o Brasil em 1852 negociar com o imperador a implantação de uma escola
para surdos e trouxe com ele a LSF. Somente em 1857 conseguiu a aprovação
legal para o funcionamento do Instituto dos Surdos Mudos, atual Instituto Nacio-
nal de Educação de Surdo-INES (ROCHA, 2008). Dessa forma, Huet “trouxe o
alfabeto manual francês e alguns sinais para o Brasil. Os surdos brasileiros, que
deviam usar algum sistema de sinais próprio, em contato com a Língua de Sinais
Francesa (LSF) produziram a Língua de Sinais Brasileira” (MONTEIRO, 2006,
p. 296). Antes da chegada de Huet havia algum sistema de comunicação utilizado
no Brasil, mas este só foi desenvolvido a partir da combinação com a LSF. A LSB
só foi reconhecida oficialmente como língua há 14 anos mediante a promulgação
da lei 10.436/02. A referida legislação a declara como um sistema linguístico de
estrutura visual-motora, detentor de gramática própria, que expressa “ideias e
fatos oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil” (BRASIL, 2002).
Os estudos linguísticos sobre as LS foram marcados inicialmente por Willian
Stokoe, quando em 1965 analisou a estrutura da ASL. Ele foi um dos primeiros a
examinar a decomposição das menores partes de um sinal, sua organização interna,
e estabeleceu inicialmente que eles se constituíam em 3 partes: locação, configuração
de mão e movimento. Com base nesse estudo, posteriormente Battison (1974) inse-
riu mais duas categorias às já descobertas por Stokoe: orientação da mão e aspectos
não-manuais dos sinais. Aqui no Brasil, destacam-se estudos linguísticos de Ferreira
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-Brito (1995) e Quadros e Karnopp (2004) sobre LSB. São, portanto, os parâmetros
estruturais adotados para LSB: Configuração de Mão-CM, Ponto de Articulação-PA,
Movimento-MO, Orientação da Palma-OP, e Expressões Não Manuais-ENM.
2 O léxico
É sabido que a Linguística, ciência que se atribui da linguagem, possui vários
ramos de estudo ligados à língua. A fonética, semântica, sintaxe, e “junto à morfos-
sintaxe e à fonologia, o léxico constitui outro grande componente da língua” (ANTU-
NES, 2012, p. 27). O léxico comporta, portanto, o conjunto de escolhas lexicais
abstratas disponíveis aos falantes de uma dada língua. Isso porque ele compõe a parte
interior mental da língua, e também exterior, quando é manifestado individualmente
pela fala e se convencionaliza socialmente com os integrantes do grupo.
No momento da enunciação o indivíduo escolhe as palavras que são mais
familiares ao ambiente em que vive, a que é exposto culturalmente. O léxico muito
diz sobre a cultura de um povo, das características de uma comunidade linguística.
Os aspectos sociais e culturais classificados como “externos” à língua devem ser
levados em consideração se partimos da perspectiva de Sapir (1969), que indica a
relação de influência do ambiente sobre a língua. O autor afirma que língua e cul-
tura nascem juntas, mas a primeira não consegue acompanhar a segunda em um
determinado momento, pois a mudança cultural acontece de forma mais rápida que
as mudanças da língua. Contudo, a cultura influencia e exige mudanças linguísticas,
principalmente lexicais para acompanhar sua transformação.
O léxico é a parte da língua que mais sofre influência do ambiente, justamente
por ele contemplar todas as experiências vividas por dada comunidade, tendo a
característica de diferenciar grupos uns dos outros. A relação entre léxico e cultura
está tão intrínseca que “o léxico, ou seja, o assunto de uma língua, destina-se em
qualquer época a funcionar como um conjunto de símbolos, referentes ao quadro
cultural do grupo” (SAPIR, 1969, p. 51). Esse fator compõe a diferença de entradas
entre as variantes que existem em uma “mesma língua”, como é o caso do portu-
guês de Portugal e o do Brasil, e até mesmo entre as diferenças dialetais grafadas
em dicionários específicos. Todas as Línguas Orais, doravante LO, podem ou não
obter traços linguísticos em comum, e de igual maneira acontece também com as
LS. É um mito declarar que as LS espalhadas pelo mundo são idênticas, uma só
para todos os surdos situados em diferentes partes do mundo. Cada país tem a sua
própria LS, sua cultura, contemplando dessa forma a afirmação de Sapir.
A partir do proposto acima, contamos com duas estruturas que toda pala-
vra tem, a externa e a interna. A externa corresponde à escrita e à fala, já a parte
interna são os valores semânticos, as significações, estabelecendo, portanto a rela-
ção significante/significado do signo linguístico proposta por Ferdinand Saussure.
Desse modo, os falsos amigos seguem um princípio norteador: formas similares e
significados diferentes.
Nas LS, ocorre esse mesmo fenômeno lexical, não obstante, com algumas
diferenças. Enquanto que nas LO as formas externas consideram o som da pro-
núncia e diferenças na grafia, nas LS a similaridade dos cognatos é baseada na
comparação dos parâmetros linguísticos descritos no tópico anterior. Pesquisas
como a de Al-Fityani e Padden (2006) já consideraram essa mesma adaptação
dos cognatos das LO para as LS. Por conseguinte, evidenciamos aqui três princi-
pais classes: os cognatos, sinais com todos os parâmetros iguais, os cognatos de
vocabulários similares, aqueles que apresentam apenas um dos parâmetros dis-
tinto oferecendo o mesmo valor semântico, e os falsos amigos, com sinais que são
escritos e sinalizados da mesma forma e possuem diferentes valores semânticos.
4 Metodologia
O corpus para esta investigação foi coletado do site de recursos American
Sign Language University (ASLU), disponível em lifeprint.com e administrado
pelo prof. William G. Vicars, conhecido por Bill Vicars, surdo e professor asso-
ciado na California State University. O site é destinado ao ensino de ASL e está
dividido em quatro níveis, compostos por trinta lições cada um. As lições são rea-
lizadas em vídeo, contando com a participação de uma aluna real, em processo de
aprendizagem de ASL. Todas as lições, além do vídeo-aula correspondendo cerca
de trinta e cinco minutos cada, disponibilizam uma lista de vocabulários utili-
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zados na referida aula, tendo em torno de vinte novas palavras. Além do curso
outros recursos estão disponíveis no site: lista dos cem primeiros sinais, prática de
soletração, informações sobre a história da ASL entre outros.
O site oferece gratuitamente apenas as quinze primeiras lições do nível inicial, a
realização do curso completo de ASL pelo ASLU requer a compra dos demais módu-
los. A continuação dos módulos pode ser encontrada em formato de discos, acessíveis
em livrarias ou por download no site lifeprint. Portanto, foram aproveitadas aqui
apenas as primeiras quinze lições e a lista dos cem primeiros sinais. Para a compara-
ção com a LSB foi utilizado o vocabulário presente no dicionário Novo DEIT-Libras,
obra que contém grande número de entradas em LSB e também nosso conhecimento
empírico como participantes das comunidades surdas e utentes da LSB.
Para a análise dos dados, os sinais selecionados foram escritos empregando
o Sistema Brasileiro de Escrita de Sinais (ELiS) proposto por Barros (1998, 2015).
Este sistema é de base linear e alfabética e é uma escrita eficaz para ser utilizada
com qualquer LS como apresentando por Fernandes (2013, 2015). Como base
teórica foi utilizada a teoria de McKee et al. (2000), que apresentam uma pesquisa
de comparação léxico-estatística entre LS, com critérios rigorosos que foram con-
siderados no momento das apreciações para os cognatos.
Importante destacar que foram levados em consideração quatro parâmetros
da LSB: CM, OP e MO, pois o quinto parâmetro, o de ENM no sistema ELiS, é
acoplado ao grupo de MO, não descrevendo todas estas expressões, já que muitas
destas são realizadas pelo leitor no momento da sinalização. A ELiS além de seus
visografemas (letras) faz o uso de diacríticos que foram nesta ocasião levados em
consideração no momento das apreciações. Deste modo, sinais em que se diferen-
ciam pela presença de diacríticos foram considerados como vocabulários similares.
após a explanação de cada uma, serão indicados pontos pertinentes para esta pes-
quisa e posteriormente algumas curiosidades encontradas entre as línguas-alvo.
(continua)
62 Perspectivas em estudos da linguagem
(continua)
Cognatos e falsos amigos entre LSB e ASL 63
é sabido da forte influência que a ASL e a LSB tiveram da LSF, no entanto, esta
pesquisa pode reforçar a ideia de Woodward (1978), quando afirma que algumas
variedades da ASL surgiram anteriormente ao contato com a LSF. Tendo como
base a ideia de que se estas línguas compartilham a mesma raiz apresentariam
uma taxa maior de similaridade entre seus signos linguísticos, não sendo o ocor-
rido entre os dados aqui analisados.
Quadro 2 Cognatos vocabulários similares
Conclusões
Uma das características presentes nas LO é a arbitrariedade dos signos lin-
guísticos, o que se percebeu com os dados cotejados ser também marcante nas
Cognatos e falsos amigos entre LSB e ASL 67
Referências
AL-FITYANI, Kinda.; PADDEN, Carol. Uma comparação lexical de Línguas
de Sinais no mundo Árabe. In: QUADROS, Ronice. Muller de.; VASCON-
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