Fauna Parasitária de Peixes Da Família Pimelodidae - 2019
Fauna Parasitária de Peixes Da Família Pimelodidae - 2019
Fauna Parasitária de Peixes Da Família Pimelodidae - 2019
RESUMO
A piscicultura é responsável por mais de um quarto da produção de pescado que
alimenta a população mundial e desponta como alternativa relevante para extinguir a fome,
promover a saúde e minimizar a pobreza. O desenvolvimento da atividade traz consigo
expectativas de um futuro promissor, todavia, um dos maiores desafios da aquicultura é a
produção com qualidade, objetivando o aperfeiçoamento da cadeia produtiva. Os peixes no
ambiente natural apresentam uma fauna parasitária própria, no entanto, em condições de
piscicultura esta prevalência parasitária pode ter aumento significativo devido a elevada
densidade populacional. Os bagres da família Pimelodidae são espécies com grande
importância econômica no Brasil, uma vez que asseguram a renda de populações ribeirinhas e
possui uma boa aceitação pelo consumidor em diferentes regiões do país. Uma das espécies da
família apreciada pelos consumidores é Zungaro zungaro, conhecida popularmente como jaú e
encontrada em diferentes bacias hidrográficas do país. Considerando os poucos trabalhos a
respeito da fauna helmintológica dos peixes da família Pimelodidae, esta revisão buscou gerar
dados a respeito das espécies parasitárias de bagres com destaque para Zungaro zungaro.
ABSTRACT
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - ISSN 1679-7353 Ano XVI - Número 32 – JANEIRO de
2019 – Periódico Semestral
Fish farming is responsible for more than a quarter of fish production that feeds the
world's population and places it as a relevant alternative to extinguish hunger, promote health
and minimize poverty. The development of the activity brings with it expectations of a
promising future, however, one of the biggest challenges of aquaculture is the production with
quality, aiming at the improvement of the productive chain. Fish in the natural environment
have their own parasitic fauna, however, under pisciculture conditions this parasite prevalence
may have a significant increase due to high population density. Catfish of Pimelodidae family
are species with great economic importance in Brazil, as they ensure the income of coastal
communities and has a good consumer acceptance in different regions of the country. One of
the species of family enjoyed by consumers is Zungaro zungaro, popularly known as jaú and
found in different river basins of the country. Considering the few works about the
helminthological fauna of the fish of the family Pimelodidae, this review sought to generate
data on the parasitic species of catfishes, especially Zungaro zungaro.
INTRODUÇÃO
A piscicultura é responsável por mais de um quarto da produção do pescado que
alimenta a população mundial. À medida que a população humana cresce, a ampliação da
produção de peixes cultivados torna-se uma alternativa viável para obtenção de proteína animal
que atenda a demanda por alimentos (EMBRAPA, 2003; NAYLOR et al., 2000). A desnutrição
crônica atinge mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo, número bastante preocupante,
já que a perspectiva de crescimento populacional até 2050 é que haja um aumento de 2 bilhões
de habitantes. Mediante essa realidade, a pesca e a aquicultura despontam como alternativas
relevantes para extinguir a fome, promover a saúde e minimizar a pobreza (FAO, 2014).
Com a mudança dos hábitos alimentares, o consumo de peixe nunca foi tão expressivo,
movimentando o setor aquícola em busca de saúde e bem-estar, principalmente devido às
características favoráveis da carne de pescado. O peixe é um alimento nutritivo e os benefícios
nutricionais provenientes do seu consumo regular, reforçam a validade de investimentos e
incentivos por meio de políticas públicas. Estratégias alternativas que busquem a popularização
e o crescimento do consumo desses produtos podem agregar valor e melhorar a rentabilidade
das empresas (BOMBARDELLI; SYPERRECK; SANCHES, 2005; FAO, 2014; SARTORI;
AMANCIO, 2012).
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REVISÃO DE LITERATURA
Caracterização da espécie
estende além da base das nadadeiras peitorais (BUCKUP; MENEZES; GHAZZI, 2007;
SANTOS; JEGU; MERONA, 1984).
A maioria das espécies é noturna, passando o dia escondidas e saindo à noite para
explorar o ambiente; muitas delas apresentam os órgãos de visão atrofiados, mas, em
compensação, os barbilhões funcionam como órgãos sensitivos que os tornam capazes de
explorar eficientemente o meio, mesmo na ausência de luz. Os bagres da família Pimelodidae
são espécies carnívoras, com hábitos piscívoros, mas que podem se alimentar também de
camarões e caranguejos. Várias espécies desta família empreendem migrações tróficas e
reprodutivas e a sua concentração em regiões de cachoeiras e corredeiras, geralmente
condiciona um tipo de pesca esportiva (IBAMA, 2001; SANTOS; JEGU; MERONA, 1984).
O jaú é uma das maiores espécies da ictiofauna brasileira, com distribuição que vai
desde as bacias hidrográficas do rio Paraná, Paraguai, Uruguai até a do Amazonas, na qual a
espécie é denominada de Z. zungaro (CALDAS; DIAS; SHIBATA, 2006). Esta espécie é
considerada de grande porte, podendo alcançar 1,60 m de comprimento e 110 Kg, possui um
corpo curto e roliço, com cabeça ampla, coloração cinza-amarelada coberta por pequenas
manchas escuras. Ocorre em rios com predileção pelos canais de grandes rios localizados à
jusante das corredeiras. O jaú é um peixe carnívoro, que realiza suas migrações reprodutivas
rio acima sendo este período caracterizado pela piracema. A população de folículos ovarianos
encontra-se em torno de 3.640.000 ovócitos compensando a alta mortalidade das larvas e
alevinos, pois são bastante susceptíveis a predação quando em seu ambiente natural
(CREPALDI et al., 2006; SANTOS; FERREIRA; ZUANON, 2006).
Ectoparasitos
Os ectoparasitas de peixes são considerados bons indicadores biológicos do ambiente.
Possuem ciclo de vida direto e alta especificidade, reproduzindo no próprio hospedeiro. São em
sua maioria hermafroditas e responsáveis por elevadas mortalidades de peixes quando em altas
infestações, mas em grande parte dos casos, a seleção natural resulta em organismos que causam
o mínimo de prejuízo ao hospedeiro. Estes parasitos caracterizam-se pela presença de um
aparelho de fixação, formado por uma série de ganchos, barras e âncoras que são introduzidas
no corpo dos peixes para fixação (FISHER; MATTA; VARELLA, 2003; JONES, 2001;
TAVARES-DIAS, 2009).
Os ectoparasitos descritos em peixes de água doce pertencem a duas grandes famílias:
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espécies do gênero Ergasilus sp. conhecidas como pestes da piscicultura, podendo levar
animais à morte pela redução da eficiência das brânquias e pela predisposição a invasões
bacterianas secundárias (THATCHER; NETO, 1994).
Os isópodos são crustáceos achatados dorso-ventralmente, encontrados em habitats
marinhos, terrestres e de água doce. Muitas espécies estão distribuídas dentro da família
Cymothoidae caracterizada por patas modificadas para preensão, terminadas em fortes garras.
Estes ectoparasitos possuem fertilização interna, com machos e fêmeas observados aos pares
na superfície do hospedeiro. Estes, quando encontrados na cavidade branquial do peixe, podem
provocar falha na eficiência da respiração do hospedeiro. Os Cymothoideos são sugadores de
sangue e a consequência do parasitismo inclui o retardo do crescimento, o emagrecimento e a
morte ou o descarte dos peixes por perda das condições de consumo (RAVICHANDRANS;
BALASUBRAMANINT; KANNUPANDI, 2007; RAVICHANDRAN; RAMESHKUMAR;
BALASUBRAMANIAN, 2010; THATCHER; NETO, 1994).
Trematodas
Os trematodas são endoparasitos foleáceos, quase todos hermafroditas com aparelho
reprodutor complexo, provido de ventosa oral e acetábulo na região mediana do corpo.
Caracterizam-se por ciclo evolutivo bastante complexo, tendo quase sempre moluscos como
hospedeiros intermediários obrigatórios e peixes ou aves piscívoras como hospedeiro
definitivo. Os peixes podem ser parasitados por adultos e larvas de trematodas (PAVANELLI;
EIRAS; TAKEMOTO, 2008; TAKEMOTO et al., 2009).
As aves piscívoras ou peixes carnívoros carregam o parasito adulto no intestino e
liberam ovos junto com as fezes dos quais eclode uma larva ciliada, o miracídio, que é ingerido
por um molusco, desenvolvendo a forma de rédias e posteriormente de cercárias, que
abandonam o hospedeiro e procuram um peixe susceptível para infectarem e evoluírem para
metacercárias, onde permanecem encistadas até que um hospedeiro definitivo se alimente do
peixe parasitado (TAKEMOTO et al., 2009).
A maioria dos adultos destes trematodas vive no intestino, embora alguns também
possam ser vistos na cavidade visceral, interior de órgãos como vesícula biliar e gônadas,
sistema circulatório e tecido subcutâneo de peixes. As larvas podem ser encontradas encistadas
em musculatura, sistema nervoso, gônadas, olhos e outros órgãos (PAVANELLI; EIRAS;
TAKEMOTO, 2008).
Poucas espécies de trematodas são descritas em peixes, com relatos das espécies
Acanthostomum gnerii, Fellodistomum sp. em estômago e Iheringtrema iheringi, Witenbergia
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Nematodas
Os nematodas são parasitos comuns nos peixes de água doce, possuindo ciclo
evolutivo complexo, com a maioria das espécies necessitando de um hospedeiro intermediário,
geralmente um crustáceo, para completar seu desenvolvimento. Os hospedeiros definitivos
podem ser peixes, aves, mamíferos e até mesmo o homem. Estes helmintos são facilmente
reconhecidos por possuírem corpo alongado recoberto por uma cutícula protetora com
extremidades afiladas. São parasitos do tubo digestivo, contudo, podem ser observados em
diversos órgãos e as larvas geralmente encontram-se encistadas na musculatura. Existem quatro
estágios larvais antes do estágio adulto para a maioria dos nematodas de peixes, o primeiro
estágio possui vida livre na água e os outros parasitam os hospedeiros, sendo que os danos
dependem da espécie, do órgão e da carga parasitária (PAVANELLI; EIRAS; TAKEMOTO,
2008; TAKEMOTO et al., 2009).
Em cativeiro estes helmintos podem causar obstrução intestinal, dependendo da carga
parasitária e do tamanho do hospedeiro. Em muitos casos o parasito alimenta-se de conteúdo
intestinal e compete com o peixe na absorção de nutrientes (TAKEMOTO et al., 2009)
(ALINHAR À ESQUERDA)
A maioria dos nematodas registrados em peixes pertence às famílias Pharyngodonidae,
Cucullanidae, Camallanidae e Anisakidae (VICENTE; PINTO, 1999). As informações a
respeito do ciclo da família Pharyngodonidae são escassas, contudo, é sabido que são parasitos
de répteis, anfíbios e peixes (BURSEY et al., 2013; ROCA, 2014; VICENTE et al., 1993).
A família Cucullanidae parasita peixes e quelônios (MACHADO; PAVANELLI;
TAKEMOTO, 1996; MORAVEC; KOHN; FERNANDES, 1993; PETTER, 1973). Em peixes,
estes nematodas infectam o intestino, com registros de espécimes recuperados no fígado. As
larvas migram através da parede intestinal, penetram em vasos sanguíneos e alojam-sem em
cavidades, necessitando de um hospedeiro intermediário como crustáceo do grupo Ciclopoidea
para completar seu ciclo (TAKEMOTO et al., 2009).
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devido ao caráter zoonótico de alguns gêneros desta família. Casos de anisaquíase gástrica
foram documentados em dois humanos após consumirem o peixe Engraulis encrasicolus
(biqueirão) na Itália. Os sinais clínicos observados foram dor epigástrica, gastrite e vômitos
sanguinolentos, sendo recuperados, em ambos os casos, um helminto de cor branca no
estômago, que foi classificado como larva L3, do gênero Anisakis sp. (FUMAROLA et al.,
2009). Além de sinais de infecção gastrointestinal, reações de hipersensibilidade alérgica das
vias aéreas e dermatite já foram reportadas em mamíferos (NIEUWENHUIZEN et al., 2006;
RAMOS, 2011, URQUHART et al., 2008).
As enfermidades de peixes com caráter zoonótico devem ser alvo de maior preocupação,
por parte dos serviços de fiscalização sanitária do pescado destinado ao consumo humano,
requerendo um maior controle por parte de autoridades sanitárias na cadeia de comercialização,
contribuindo assim, para diminuição das taxas de morbidade e mortalidade nas criações e da
propagação de zoonoses transmissíveis por peixes (THATCHER; NETO, 1994).
Cestodas
Os cestodas são endoparasitos conhecidos como tênias. Possuem forma de fita e
tamanho que varia de alguns milímetros até vários metros. Uma das principais características
destes parasitos é o fato dos adultos serem encontrados sempre no intestino dos peixes. Por não
possuírem aparelho digestivo, eles necessitam habitar a região do hospedeiro onde o alimento
encontre-se digerido e pronto para ser absorvido. Os danos mais sérios destes parasitos podem
ser observados quando estes utilizam estruturas de fixação mais eficientes, causando alterações
histopatológicas importantes nas camadas intestinais (PAVANELLI; EIRAS; TAKEMOTO,
2008).
O ciclo evolutivo das tênias de peixes é complexo, envolvendo um hospedeiro
intermediário, que é quase sempre um microcrustáceo ou um peixe e um definitivo que pode
ser representado pelos peixes, aves e mamíferos, inclusive o homem (TAKEMOTO et al.,
2009).
Ao ser liberado através das fezes, o embrião contido no ovo entra em contato com a
água, sai pelo opérculo e locomove-se através de cílios à procura de um hospedeiro
intermediário, como crustáceos copepodas. Após infectar o copepoda, o parasito evolui
transformando-se em uma larva alongada sem cílios, o procercóide. Esta larva aguarda no
organismo deste primeiro hospedeiro até que ele seja ingerido por um vertebrado, peixe ou
mesmo mamífero. A infecção pode se dar de maneira direta, no caso de peixes que se alimentam
do plâncton, ou indireta, no caso dos outros vertebrados, que consomem os microcrustáceos
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(TRAVASSOS, 1950).
Ao serem ingeridas por um peixe, as larvas são liberadas no processo de digestão,
migram através das paredes do tubo digestivo e vão se encistar em pontos de tecido conjuntivo,
musculatura, vísceras e órgãos internos, onde crescem, atingindo a fase de pleurocercóide, já
apresentando os vestígios das ventosas. Quando presentes no intestino dos peixes, elas podem
provocar hemorragia temporária, reação inflamatória e ainda quando encontrados em grande
quantidade podem interferir na capacidade de absorção de nutrientes. Estas larvas têm um corpo
alongado, sem vestígios de segmentação ou de órgãos internos e permanecem neste segundo
hospedeiro até que ele seja ingerido pelo hospedeiro definitivo para então atingir a fase adulta
ou de maturação sexual (TAKEMOTO et al., 2009; TRAVASSOS, 1950).
Pentastomídeos
Acredita-se que os pentastomídeos tenham uma relação filogenética com os crustáceos.
Os parasitos adultos são encontrados principalmente nos pulmões de répteis e os jovens (ninfas)
ocorrem encistados nos órgãos internos de muitos vertebrados, incluindo o peixe. Estes
parasitos são pequenos, corpo cilíndrico ou achatado, segmentado, expandido anteriormente,
com presença de ganchos nesta porção e estágio de ninfa enrolada (MALTA, 1982; YANONG,
2013).
Os pentastomídeos tem um ciclo indireto com o parasito adulto infectando o trato
respiratório de répteis. Após a produção dos ovos, estes são expectorados e ganham o tubo
digestivo, onde assumem o estágio infectante e são eliminados juntamente com as fezes na
água, podendo assim, serem ingeridos por um hospedeiro intermediário, geralmente um peixe,
no qual as larvas migram para os órgãos internos através da parede intestinal, eclodem e passam
por várias mudas, alcançando o estágio de ninfa. Ao serem ingeridos pelo hospedeiro definitivo,
os parasitos perfuram a parede intestinal migrando através do corpo para os pulmões, onde o
pentastomídeo amadurece e o ciclo de vida é concluído. Os achados clínicos em peixes são
inchaços proeminentes na pele, faixas de migração parasitária em músculos e formas de ninfas
encapsuladas na cavidade do corpo e sob o tecido conjuntivo de diversos órgãos (WILSON;
CARPENTER, 1996; YANONG, 2013).
A prevenção primária de infecções por pentastomídeo no peixe requer controle dos
hospedeiros definitivos como jacarés, tartarugas aquáticas, cobras de água. A exposição
prolongada da água aos répteis infectados aumenta o número de larvas infectantes nas lagoas e
as cargas de ninfa em peixes sensíveis, portanto, fazendas com répteis aquáticos, que não
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realizam a limpeza e o reabastecimento adequado destes reservatórios, estarão sob maior risco
de infecção (YANONG, 2013).
Filo Acanthocephala
Prevenção e tratamento
Os peixes nativos apresentam uma fauna parasitária característica, em muitos casos sem
comprometimento da sanidade, sendo que a introdução de espécies exóticas e a alta densidade
populacional, sem os cuidados sanitários necessários, criam-se condições propícias ao
desenvolvimento de parasitos na criação (LUQUE, 2004; MAXIMIANO et al., 2005;
TAVARES-DIAS, 2009).
As doenças parasitárias podem onerar e tornar a piscicultura pouco lucrativa devido à
mortalidade excessiva durante surtos de infecção/infestação (TAVECHIO; GUIDELLI;
PORTZ, 2009), o que leva os criadores a recorrerem a produtos químicos de forma
indiscriminada, na tentativa de controlar os danos decorrentes da ação parasitária na criação.
Como na aquicultura a água é retirada dos cursos d’água e devolvida aos mesmos depois de
passar pelos tanques, tais produtos podem causar danos ambientais (MAXIMIANO et al., 2005;
SANTOS et al., 2013; TAVECHIO; GUIDELLI; PORTZ, 2009).
O impacto ambiental decorrente do uso de produtos químicos para o controle de
enfermidades em peixes é desconhecido. Contudo, sabe-se que existem prejuízos tanto pelo fato
da comunidade biótica convivente com os peixes compor a cadeia alimentar de interesse para
a produção, quanto pelo risco da dose utilizada levar ao surgimento de resistência parasitária
(ONAKA; MARTINS; MORAES, 2003).
A portaria número 48 de 12/05/1997 da Secretaria da Defesa Agropecuária do
Ministério da Agricultura determina que para o registro de antiparasitários, sua eficácia não
pode ser inferior a 90% (BRASIL, 1996). Todavia, não existe até o momento legislação para o
uso destes produtos na piscicultura. Diante da ausência de princípios ativos regularizados para
combate às parasitoses de peixes, os investimentos em pesquisas que visem gerar
antiparasitários auxiliariam na qualidade do cultivo de espécies e na redução dos custos de
produção, contribuindo desta forma para o crescimento e competitividade da aquicultura
nacional (ONAKA; MARTINS; MORAES, 2003; SANTOS et al., 2013).
Os produtos químicos usados por criadores no controle sanitário de doenças na
aquicultura incluem cloreto de sódio, permanganato de potássio, azul de metileno, formaldeído,
verde malaquita, sulfato de cobre, triclorfon, e antibióticos como tetraciclina, eritromicina e a
oxitetraciclina entre outros.
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a aplicação de extratos vegetais possa causar um desenvolvimento bem mais lento da resis-
tência, além de normalmente atingir somente espécies alvo, serem biodegradáveis, não
causarem a poluição ambiental e diminuírem drasticamente o problema dos resíduos. Muitas
pesquisas têm buscado desenvolver produtos baseados em substâncias naturais, que tenham a
capacidade de interferir nos processos biológicos dos parasitos (CHAGAS, 2004).
Conclusão
Embora sejam encontrados relatos ocasionais sobre a fauna parasitária de peixes
brasileiros, nota-se que algumas espécies de bagres nunca foram alvo deste tipo de estudo.
Adicionalmente, diante dos impactos que os helmintos podem provocar tanto no
desenvolvimento da espécie quanto na saúde pública, faz-se necessária a ampliação de
pesquisas que permitam o conhecimento de espécies parasitárias, sua relação com os
hospedeiros e os métodos de controle e prevenção para possíveis zoonoses.
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