A Navegacao Interior e Os Usos Multiplos
A Navegacao Interior e Os Usos Multiplos
A Navegacao Interior e Os Usos Multiplos
COORDENAÇÃO
Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho
Superintendente de Usos Múltiplos
Martha Regina von Borstel Sugai
EQUIPE TÉCNICA
Daniel Jordão de Magalhães Rosa
Brasília – DF
Maio – 2005
© Agência Nacional de Águas – ANA
Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L e M
CEP 70610-200, Brasília – DF
PABX: 2109-5400
Endereço eletrônico: http://www.ana.gov.br
Equipe editorial:
Supervisão editorial: Carlos Eduardo Cabral Carvalho
Elaboração dos originais: SUM
Revisão dos originais: SUM
Editoração eletrônica dos originais: SUM
Projeto gráfico, editoração e arte-final: SUM
Capa e ilustração: SUM
Diagramação: SUM
CIP-Brasil (Catalogação-na-publicação)
ANA - CDOC
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO 1
7- CONCLUSÕES 44
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45
i
LISTA DE FIGURAS
ii
LISTA DE TABELAS
iii
iv
1- INTRODUÇÃO
Embora o Brasil possua uma rede hidrográfica considerável, a navegação, como parte
integrante de uma política pública de transportes, somente foi utilizada durante o período
colonial (1500-1822) e do Império (1822-1889), ao contrário do que acontece nos países
desenvolvidos, como Estados Unidos, França e Alemanha, que aproveitam ao máximo seus
rios e lagos.
Apesar do elevado potencial existente, o Brasil não tem priorizado a navegação como meio
de transporte e a sua utilização, atualmente, é bastante reduzida, representando 13,86% da
carga transportada no Brasil, em toneladas-quilômetro, no ano de 2000 (GEIPOT, 2001).
Em quantidade transportada, isso significa 103 bilhões de toneladas-quilômetro em 2000.
Esse valor inclui tanto a cabotagem (navegação marítima, de porto a porto) quanto a
navegação interior (realizada em rios).
Esta relação pode indicar, salientando-se a importância de estudos individuais para cada
situação, a quantidade de recursos que a sociedade economizaria ao se transferir para as
hidrovias, parte da carga rodoviária, que em 2000 participava com um total de 60,50% da
carga transportada no Brasil, em toneladas-quilômetro (GEIPOT, 2001).
Ao se falar em hidrovias, não se pode deixar de mencionar que este modal, por si só, não é
competitivo no mercado no sentido de captar cargas disponíveis em uma determinada área.
É fundamental que, junto com o desenvolvimento de uma hidrovia, existam pontos de
interconexão com sistemas de transporte terrestres, sejam eles portos ou terminais
interiores, especializados em movimentar as cargas geradas ou atraídas no sistema fluvial.
Só existe transporte hidroviário numa conjuntura de transporte intermodal, no qual se tem
os modais hidroviário, ferroviário e/ou rodoviário, trabalhando em conjunto e isto envolve a
responsabilidade de cada um garantir que a carga transportada vai cruzar estas fronteiras
modais de maneira segura, efetiva e dentro de um tempo previamente estipulado. Caso
1
contrário, o sistema hidroviário não funciona e está economicamente condenado ao
fracasso.
Nesse estudo, o foco é dado ao diagnóstico da navegação interior no país e em suas Regiões
Hidrográficas. O transporte marítimo não se inclui nessa abordagem.
O Capítulo 3 descreve a rede hidroviária brasileira, tal como ela é planejada e utilizada na
prática pelo setor de transportes.
O Capítulo 5 aborda os impactos causados pelo setor hidroviário nos recursos hídricos e o
Capítulo 6 discute como deve ser a integração entre o setor hidroviário e os outros setores
usuários da água.
2
2 – BASE LEGAL E INSTITUCIONAL
Pelo artigo 37 do Código de Águas, “.. o uso das águas públicas se deve realizar, sem
prejuízo da navegação, salvo a hipótese do art. 48 e seu parágrafo único”. O artigo 48 e seu
parágrafo único indicam que “.. a concessão, como a autorização, deve ser feita sem
prejuízo da navegação, salvo: a) no caso de uso para as primeiras necessidades da vida;
b) no caso da lei especial que, atendendo a superior interesse público, o permita. Além dos
casos previstos nas letras a e b deste artigo, se o interesse público superior o exigir, a
navegação poderá ser preterida sempre que ela não sirva efetivamente ao comércio.”
Já a Constituição Federal de 1988 estabelece no artigo 21, XII, d, f, que “ ..compete à
União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão os serviços
de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território e os portos marítimos, fluviais e lacustres” e
no mesmo artigo, XXI, que “..compete à União estabelecer princípios e diretrizes para o
sistema nacional de viação.”
Na Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, conhecida como Lei das Águas, que instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos, diversos artigos tratam direta e indiretamente da
questão do transporte aquaviário.
No art. 1º, IV, apresenta um dos fundamentos dessa política: “..a gestão dos recursos
hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas”.
No art. 2º, II, estabelece que um dos objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos é
“.. a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário,
com vistas ao desenvolvimento sustentável.”
Já no seu art. 13 e parágrafo único, quando menciona a outorga destaca que “...toda outorga
estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e
deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção de
condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso. A outorga de uso dos
recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes.”
3
Finalmente, no art. 15, VI, destaca: “..a outorga de direito de uso de recursos hídricos
poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, na
seguinte circunstância: necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade
do corpo de água.”
Por sua vez, a Lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, aprova o Plano Nacional de
Viação-PNV (ver Anexo I). O objetivo essencial desse plano é permitir o estabelecimento
da infra-estrutura de um sistema viário integrado, assim como as bases para planos globais
de transporte que atendam, pelo menor custo, às necessidades do País, sob o múltiplo
aspecto econômico-social-político-militar. Dentre os seus princípios e normas
fundamentais, aplicáveis inclusive à navegação hidroviária, destacam-se no artigo 3º, f, i :
“.. f) a execução das obras referentes ao Sistema Nacional de Viação, especialmente as
previstas no Plano Nacional de Viação, deverá ser realizada em função da existência prévia
de estudos econômicos, que se ajustem às peculiaridades locais, que justifiquem sua
prioridade e de projetos de engenharia final; i) tanto os investimentos na infra-estrutura
como a operação dos serviços de transportes reger-se-ão por critérios econômicos;
ressalvam-se apenas, as necessidades imperiosas ligadas à Segurança Nacional, e as de
caráter social, inadiáveis, definidas e justificadas como tais pelas autoridades competentes,
vinculando-se, porém, sempre aos menores custos, e levadas em conta outras alternativas
possíveis.”
Além disso, nessa Lei, o artigo 9º que diz: “O Plano Nacional de Viação será, em princípio,
revisto de cinco em cinco anos.” Até a presente data, a parte específica em que trata do
Sistema Hidroviário Nacional somente foi atualizada uma única vez, pela Lei nº 6.630, de
16 de abril de 1979.
A Lei nº 5.917, de 1973, apresenta uma relação descritiva das vias navegáveis interiores e
das interligações de bacias do Plano Nacional de Viação. São cerca de 40.000 km de
hidrovias e nove interligações, previstas para efeito de continuidade da navegação.
Interessante observar que quando o legislador define o Sistema Hidroviário Nacional inclui
rios, lagos e canais, suas instalações e acessórios complementares, bem como as atividades
e meios estatais diretos, de operação da navegação hidroviária.
A Figura 1 ilustra, em forma de mapa, a relação das hidrovias e das interligações de bacias
do PNV.
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Tabela 1 - Relação descritiva das hidrovias do Plano Nacional de Viação
Pontos Extremos dos Extensão
Rio
Trechos Navegáveis Aproximada (km)
BACIA AMAZÔNICA
Amazonas Foz / Benjamin Constant 3.108
Negro Manaus/Cucuí 1.210
Branco Foz/Confluência Urariguera/Tacutu 577
Juruá Foz/Cruzeiro do Sul 3.489
Tarauacá Foz/Tarauacá 660
Embira Foz/Feijó 194
Javari Foz/Boca do Javari-Mirim 510
Japurá Foz/Vila Bittencourt 721
Içá Foz/Ipiranga 368
Purus Foz/Sena Madureira (norio Iaco) 2.846
Acre Foz/Brasiléia 796
Madeira Foz/ Confluência Mamoré/Beni 1.546
Guaporé Foz/ Cidade de Mato Grosso 1.180
Tapajós Santarém/Itaituba 359
Xingu Porto Moz/Altamira (Belo Monte) 298
Tocantins Belém/Peixe 1.731
Araguaia Foz/Balisa 1.800
Mamoré Foz/Confluência com Guaporé 225
BACIA DO NORDESTE
Mearim Foz/Barra do Corda 470
Grajaú Foz/Grajaú 500
Pindaré Foz/Pindaré-Mirim 110
Itapicuru Foz/Colinas 565
Parnaíba Foz/Santa Filomena 1.176
Balsas Foz/Balsas 225
BACIA DO LESTE
Doce Foz/Ipatinga 410
Paraíba do Sul Foz/Jacareí 670
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Pontos Extremos dos Extensão
Rio
Trechos Navegáveis Aproximada (km)
BACIA DO SUDESTE
Ribeira do Iguape Foz/Registro 70
Jacuí Foz/Dona Francisca 370
Taquari Foz/Mussum 205
Caí Foz/ São Sebastião do Caí 93
Sinos Foz/Paciência 47
Gravataí Foz/Gravataí 12
Jaguarão Foz/Jaguarão 32
Camaquã Foz/ São José do Patrocínio 120
Lagoa Mirim Pelotas/Santa Vitória do Palmar 180
Lagoa dos Patos Porto Alegre/ Rio Grande 230
BACIA DO PARAGUAI
Paraguai Foz do Apa/Cáceres 1.323
Cuiabá-São
Foz/Rosário do Oeste 785
Lourenço
Taquari Foz/Coxim 430
Miranda Foz/Miranda 255
BACIA DO PARANÁ
Piracicaba* Foz/Paulínea*
Foz/Iguaçu/Confluência
Paraná 808
Paranaíba/Grande
Paranapanema Foz/Salto Grande 421
Tietê Foz/Mogi das Cruzes 1.010
Pardo Foz/Ponto da Barra 170
Ivinheima Foz/Confluência Brilhante 270
Brilhante Foz/Pto. Brilhante 67
Inhanduí Foz/Pto. Tupi 79
Paranaíba Foz/Escada Grande 787
Iguaçu Foz/Curitiba 1.020
BACIA DO URUGUAI
Uruguai Barra do Quaraí/Iraí 840
Ibicuí Foz/Confluência do Santa Maria 360
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Tabela 2 – Interligação de Bacias do Plano Nacional de Viação
Interligação Trecho a ser tornado navegável
Paraguai-Guaporé Foz do Jaurú-Cidade de Mato Grosso
Paraná-Paraguai rio Paraná-Coxim
Paranaíba-São Francisco Escada Grande-Buriti (rio Paracatu)
Tietê-Paraíba do Sul Mogi das Cruzes-Jacareí
Taquari-Araguaia Coxim-Balisa
Ibicuí-Jacuí Vacacaí-Ibicuí
Canal do Varadouro Baía de Paranaguá-Baía de Cananéia
Canal Santa Maria rio Sergipe-rio Vaza Barris
Canal Tartaruga-Jenipapocu e Arari Na Ilha de Marajó
Fonte: Lei nº 5.917, de 1973.
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Figura 1 - Hidrovias do Brasil, segundo o Plano Nacional de Viação
Em resumo, no PNV foram consideradas todas as variáveis necessárias, quais sejam, vias,
instalações complementares e operação, para o estabelecimento de uma importante rede de
transporte aquaviário interior no território nacional. Por outro lado, observa-se que a última
modificação da relação descritiva das vias navegáveis do Plano Nacional de Viação foi
realizada em 1979 e ela precisa ser atualizada.
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aplicação de seus instrumentos de gestão. Duas delas, em especial, relacionam-se com a
navegação.
“Art. 2º - ...
Art 8º - Os Planos de Recursos Hídricos, no seu conteúdo mínimo, deverão ser constituídos
por diagnósticos e prognósticos, alternativas de compatibilização, metas, estratégias,
programas e projetos, contemplando os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, de
acordo com o art. 7º da Lei nº 9433, de 1997.
Dessa forma, fica claro que na concepção dos planos de recursos hídricos é fundamental
levar em consideração os planejamentos setoriais, de todos os setores, inclusive do setor
hidroviário. Para isso, esse setor tem de estar presente nas discussões dos diversos planos
de bacia em que a navegação possui planejamento e apresentar suas propostas.
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autoridade outorgante adotar medidas que forem adequadas para a continuidade da
tramitação do processo. Trata-se de um avanço na legislação de recursos hídricos brasileira,
pois exige que os diversos usuários integrem suas ações antes da autoridade outorgante
emitir sua autorização de uso dos recursos hídricos para uma barragem específica.
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Já a ANTAQ atua na esferas da navegação fluvial, lacustre, de travessia, de apoio marítimo,
de apoio portuário, de cabotagem e de longo curso, dos portos organizados, dos terminais
portuários privativos e do transporte aquaviário de cargas especiais e perigosas. Compete a
essa Agência, dentre outras atividades, promover estudos específicos de demanda de
transporte aquaviário e de serviços portuários, promover estudos aplicados às definições de
tarifas, preços e fretes, em confronto com os custos e os benefícios econômicos transferidos
aos usuários pelos investimentos realizados, propor ao Ministério dos Transportes o plano
geral de outorgas de exploração da infra-estrutura aquaviária e portuária e de prestação de
serviços de transporte aquaviário, elaborar e editar normas e regulamentos relativos á
prestação de serviços de transporte e á exploração da infra-estrutura aquviária e portuária,
garantindo isonomia no seu acesso e uso, assegurando os direitos dos usuários e
fomentando a competição entre os operadores.
Há também as Administrações de Hidrovias. Elas são órgãos que possuem duplo comando:
institucionalmente são subordinadas ao DNIT, mais especificamente ao seu Departamento
de Infra-Estrutura Aquaviária, e gerencialmente às Companhias Docas no âmbito de suas
respectivas jurisdições. A elas compete, principalmente, promover e desenvolver as
atividades de execução, acompanhamento e fiscalização de estudos, obras e serviços de
hidrovias, dos portos fluviais e lacustres que lhe venham a ser atribuídos pelo
Departamento de Infra-Estrutura Aquaviária. Atualmente, elas são oito Administrações
Hidroviárias no Brasil:
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3 – REDE HIDROVIÁRIA BRASILEIRA
Apesar da relação descritiva das hidrovias do Plano Nacional de Viação, de 1973, alterada
apenas uma vez, no ano de 1979, ser o “documento oficial” da rede hidroviária brasileira,
ao longo dos anos, houve, informalmente, modificação na sua estrutura, com inclusão de
novos trechos de rios considerados navegáveis pelo Ministério dos Transportes. Um
exemplo é a inclusão do rio Teles Pires como sendo navegável, na bacia do Amazonas, sem
que ele conste na relação do PNV. A Tabela 3 apresenta a rede hidroviária brasileira
efetivamente considerada pelo Ministério dos Transportes.
do Atlântico
Mearim, Pindaré, Grajaú, Itapecuru, Guamá e
Nordeste MA, PA 648
Capim.
Ocidental
do São
MG, BA, PE, SE 1.578 São Francisco, Grande e Corrente.
Francisco
do Atlântico
MG, ES, RJ, SP 370 Doce e Paraíba do Sul.
Sudeste
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Observa-se que dos 26.662 km apresentados na tabela 3, o Brasil utiliza, de fato, apenas
cerca de 10.000 km de vias navegáveis para o transporte regular de carga. Por outro lado, se
incluirmos os trechos de rios navegáveis apenas nas cheias e os potencialmente navegáveis,
ou seja, aqueles que podem adquirir boas condições de navegabilidade através da execução
de melhorias, a rede hidroviária brasileira pode ultrapassar a extensão de 40.000 km.
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Vale ressaltar que cada rio da Rede Hidroviária Brasileira oferece condições bem diferentes
de navegabilidade, no que diz respeito ao calado, largura da rota de navegação, raios das
curvas presentes, presença de corredeiras, cachoeiras, barragens e eclusas, bem como às
variações decorrentes do ciclo hidrológico.
Para o presente trabalho, a descrição das hidrovias brasileiras será feita por região
hidrográfica. A região hidrográfica é o espaço territorial brasileiro compreendido por uma
bacia, grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas com características naturais,
sociais e econômicas homogêneas ou similares, com vistas a orientar o planejamento e o
gerenciamento dos recursos hídricos. A Figura 3 mostra a divisão hidrográfica nacional,
aprovada pela Resolução CNRH n. 32, de 25 de junho de 2003.
Entretanto, o setor hidroviário atua com base em outra divisão do território nacional: as
administrações hidroviárias. As Administrações Hidroviárias são órgãos destinado a
desenvolver as atividades de execução e acompanhamento de estudos, obras, serviços e
exploração das vias navegáveis interiores, bem como dos portos fluviais e lacustres que lhe
sejam atribuídos pelo Ministério dos Transportes, no âmbito geográfico de suas
jurisdições.A Figura 4 apresenta as áreas de atuação das oito Administrações Hidroviárias
brasileiras.
Figura 4 - Administrações
Hidroviárias
Fonte: MT, 2004a
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4 - A NAVEGAÇÃO NAS DIVERSAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS
A seguir, está apresentada uma breve caracterização das principais vias navegáveis e
hidrovias brasileiras divididas pelas Regiões Hidrográficas. As descrições feitas foram
baseadas em informações do Ministério dos Transportes (2004b,2004c, 2004d, 2004e,
2004f, 2004g, 2004h, 2004i, 2004j, 2004l, 2004m, 2004n, 2004o, 2004p).
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Figura 5 – Hidrovias da Região Hidrográfica Amazônica
A Hidrovia do Amazonas, com cerca de 1.650 km, liga as cidades de Manaus e Belém,
além de Santarém e Macapá. É administrada pela AHIMOC, no trecho entre Manaus e a
divisa entre os Estados do Amazonas e Pará, e pela AHIMOR, no trecho a jusante dessa
divisa, sendo de fundamental importância para o transporte local de passageiros e cargas
diversas. De sua foz até o “encontro das águas” de seus formadores, os rios Negro e
Solimões, apresenta uma profundidade mínima de 13,50 m, que é a limitação existente na
sua desembocadura. A Hidrovia do Amazonas permite a navegação de longo curso e
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cabotagem já que, em geral, não existem restrições à navegação no trecho. O
funcionamento da zona industrial de Manaus depende dos produtos e matérias-primas que
chegam por essa hidrovia. Além disso, a posição geográfica estratégica da foz do
Amazonas, bem mais próxima do hemisfério Norte do que os portos do Sul do país, permite
a exportação da produção do Norte e do Centro-Oeste do País para os grandes mercados
consumidores a preços mais competitivos.
O projeto completo da Hidrovia do Marajó busca a implantação de uma via navegável com
425 km que atravesse a ilha de Marajó através de um canal de 32 km ligando o rio Atuá, na
baía do Marajó, ao rio Anajás, no braço sul do rio Amazonas, reduzindo em mais de 140
km a distância fluvial entre Belém e Macapá, além de facilitar o transporte e a comunicação
na parte central da ilha. A execução desse projeto contempla o desmatamento,
destocamento e limpeza da faixa de execução das obras, a escavação do canal e a
construção de diques longitudinais, além de serviços de dragagem e melhorias nos rios
Atuá e Anajás. Prevê também as obras complementares como a implantação de
balizamento e sinalização. O projeto busca a implantação de um canal com profundidade
mínima de 2,10 m e pé de piloto de 0,30 m. Assim, estaria apto ao tráfego de um comboio-
tipo com 140 m de comprimento, 16 m de boca e um calado de 1,80 m, com uma
capacidade de carga de até 2.600 t por comboio.
O rio Xingu é navegável regularmente num estirão de 220km, desde sua foz até a
localidade de Belo Monte, no município de Altamira (PA). Em meses de estiagem, a
profundidade mínima atinge 1,40 m sendo que o principal ponto crítico é o denominado
Tubarão. Costuma ser utilizado para o transporte de combustível e de carga geral.
Já o rio Trombetas é navegável no estirão de 260 km que vai de sua foz até a Cachoeira
Porteira, no município de Oriximiná (PA). As profundidades mínimas apresentadas no
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trecho são de 4,00 m, no período das águas altas, e de 1,50 m, no período de estiagem. Seu
baixo curso, numa extensão de 30 km, apresenta um calado de até 10,00 m e é freqüentado
por embarcações marítimas, que alcançam Oriximiná. É utilizado para o transporte de
bauxita e de carga geral.
Por sua vez, o rio Jari é navegável num estirão de 110 km, desde sua foz até a Cachoeira de
Santo António, no município de Laranjal do Jari (AP), apresentando uma profundidade
mínima de 4,00 m no período de águas altas e de 2,40 m, na época de estiagem. A produção
de celulose e caulim na região do Jari pode ser um fator de desenvolvimento da região e,
conseqüentemente, de intensificação da utilização do rio Jari para o transporte de carga.
Outros rios da região administrada pela AHIMOR também são navegáveis por pequenas
extensões, servindo principalmente para o transporte local de passageiros e de pequenas
cargas.
A Hidrovia do Solimões conta com uma extensão de 1.620 km e uma profundidade mínima
de 4,50 m., entre Manaus e a fronteira com o Peru. Quanto ao transporte de carga, essa
hidrovia é utilizada para a movimentação do petróleo e seus derivados, provenientes do
Campo de Urucu. Com a construção de um poliduto de 280 km de comprimento, ligando a
área de produção de Urucu até o Terminal Solimões, ao lado da cidade de Coari (AM), na
margem direita do rio Solimões, a produção de petróleo e GLP passou a ser escoada por
navios petroleiros, desde Coari até o Terminal de Petroleiros da Refinaria de Manaus,
distante cerca de 480 km. O rio Solimões, assim como o Amazonas, é francamente
navegável de sua foz até a cidade de Coari.
Já a Hidrovia do Madeira, possui uma extensão de 1.060 km, entre Porto Velho (RO) e sua
foz, na margem direita do rio Amazonas permitindo, mesmo na época de estiagem, a
navegação de grandes comboios, com até 18.000 t. A profundidade mínima é de 2,00 m,
ocorrendo no trecho entre Humaitá (AM) e Porto Velho. Na época de águas altas, sua
profundidade pode atingir até 30 m. Essa hidrovia vem se destacando pelo crescente
volume de grãos transportados, principalmente a soja produzida na região da Chapada dos
Parecis, no norte do Mato Grosso, que é escoada até o porto de Itacoatiara (AM), já no rio
Amazonas, para aí, ser embarcada rumo ao mercado externo. Além disso, conta com uma
embarcação fluviográfica para a periódica confecção de cartas náuticas digitalizadas que
permitem a navegação orientada por satélite, possibilitando o tráfego noturno, inclusive. O
rio Madeira apresenta 15 pontos críticos entre a cidade de Porto Velho e a foz do rio Beni, a
montante. Com a construção das Usinas Hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio, a
navegação será estendida até a foz do rio Beni. Caso sejam superados os pontos críticos na
região de Guajará-Mirim (RO), poderá ocorrer a interligação com os rios Mamoré e
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Guaporé e, assim, a Hidrovia Madeira-Mamoré-Guaporé teria uma extensão de mais de
3.000 km. Esse estirão ligaria as cidades de Vila Bela da Santíssima Trindade (antiga
Cidade de Mato Grosso), no Estado do Mato Grosso e o Porto de Itacoatiara, permitindo
ainda a integração hidroviária com a Bolívia e o Peru. O Estudo de Impacto Ambiental, o
Relatório de Impacto Ambiental e o Estudo de Viabilidade do Complexo do rio Madeira,
que prevê a instalação dessas duas hidrelétricas, encontram-se em andamento. Apesar de
contar com linhas regulares, a navegação nos rios Guaporé e Mamoré ocorre ainda de
forma incipiente, para o transporte de carga geral entre as cidades ribeirinhas, tanto
brasileiras quanto bolivianas. Não ocorre uma integração multimodal e existe a necessidade
da realização de estudos das condições de navegabilidade nesses rios.
Os rios Negro e Branco são ainda considerados rios navegáveis. Contudo, apresentam um
grande potencial de se tornarem uma hidrovia para o escoamento da produção do Estado de
Roraima, podendo funcionar como vetor de crescimento da produção de grãos nos campos
naturais de Roraima e do intercâmbio com a Venezuela.
O rio Negro, é navegável em terras brasileiras por uma extensão de 1.070 km, sendo que
310 km entre a foz e a confluência com o rio Branco, a profundidade mínima é de 2,50 m.
A montante, é navegável além da fronteira com a República da Venezuela sendo que no
período de águas baixas, existe restrição de profundidade acima da cidade de São Gabriel
da Cachoeira (AM), podendo chegar a um calado de menos de 1,20 m.
Já o rio Branco, é navegável até a confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, logo a
montante da cidade de Boa Vista (RR), num estirão de 594 km. Nesse trecho, os 14 km das
corredeiras de Bem-Querer, situadas a montante da cidade de Caracaraí (RR), constituem o
principal impedimento à navegação regular. Nos cerca de 440 km do trecho entre a foz e as
corredeiras, a navegação no rio Branco pode ser realizada por embarcações maiores, apesar
de o calado máximo sofrer grande alteração ao longo do ano, sendo navegado por
embarcações com calado de 3,50 m em águas altas e 1,20 m em águas baixas. Em anos
críticos, a profundidade em certos pontos pode impedir a navegação inclusive de comboios
com 1,20 m de calado. Através de melhorias, como a realização de dragagens e
derrocamentos e a implantação de sinalização e balizamento, pretende-se possibilitar a
adoção de um comboio-tipo com 137 m de comprimento, 20 m de boca e um calado
máximo de 3,00 m e mínimo de 1,50 m, podendo carregar até 5.400 t.
O rio Purus, por sua vez, é navegável por cerca de 2.850 km, desde sua foz na margem
direita do rio Solimões até a confluência com o rio Iaco, apresentando uma profundidade
mínima de 2,10 m, na época das águas altas e de 0,80 m, nos meses de estiagem. No
período das águas altas, rio ainda é navegável por um trecho de 210 km, desse ponto até a
cidade de Manoel Urbano (AC).
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O rio Acre é um afluente do Purus, desaguando nesse na altura da cidade de Boca do Acre
(AM). É navegável nos 635 km que vão de sua foz em Boca do Acre até a cidade de
Brasiléia (AC), passando por Rio Branco (AC). A profundidade mínima disponível na via,
nos cerca de 310 km do trecho entre Boca do Acre e a cidade de Rio Branco, é de 2,10 m,
no período de águas altas, podendo chegar a 0,80 m, nos meses de estiagem. No trecho
entre Rio Branco e Brasiléia a navegação só é possível durante as cheias. É importante
salientar que na cidade de Rio Branco, existem pontes que dificultam a passagem de
embarcações.
Já o rio Juruá, é navegável desde sua foz na margem direita do rio Solimões até a cidade de
Cruzeiro do Sul (AC), num estirão de 3.128 km, com uma profundidade mínima de 2,50 m,
na época da cheia e 0,40 m, na época das águas baixas. Durante a época das águas altas,
pode ainda ser navegado até a fronteira com o Peru, passando pela cidade de Marechal
Thaumaturgo (AC). Um dos empecilhos apresentados pelo Juruá à navegação, é sua grande
sinuosidade.
Na margem esquerda do rio Solimões, perto da cidade de Tefé (AM), deságua o rio Japurá.
Esse rio é navegável num estirão de 721 km, desde sua foz até a fronteira com a Colômbia
na Vila Bittencourt, município de Japurá (AM), com uma profundidade mínima de 2,10 m e
1,50 m nas épocas de águas altas e de estiagem, respectivamente.
A navegabilidade do rio Içá, por sua vez, se estende por um estirão de 275 km desde a sua
foz, que ocorre na margem esquerda do rio Solimões, na altura da cidade de Santo António
do Içá (AM), até a fronteira com a Colômbia, na Vila Ipiranga, localizada no mesmo
município. Apresenta uma profundidade mínima de 3,50 m, no período de águas altas e de
0,80 m, no período de estiagem.
Por fim, outros rios de menor importância para a navegação de carga, mas de grande
importância para as populações ribeirinhas, também são navegáveis na região. Exemplos
são os rios Tefé, Javari, Jutaí, Embira, Tarauacá, Uatumã, Jatapú, Deneni/Aracá,
Nhamundá e o rio Urucu.
20
Já a Hidrovia do Guamá-Capim é localizada na região leste do Pará, interligando regiões do
interior do Estado até Belém. Apesar de serem navegados há muito tempo por pequenas
embarcações para transportes de passageiros e abastecimento das populações dispersas ao
longo dos rios, foi a partir de 1960 que os rios Guamá e Capim passaram a ser utilizados
comercialmente para transporte de minérios e outras cargas. Isso se deu com a descoberta
das jazidas de caulim do médio rio Capim e de bauxita na região de Paragominas e hoje,
apesar do transporte de minério ainda determinar o perfil econômico da hidrovia, observa-
se a formação de relevantes pólos agropecuários na região de influência da hidrovia. A
extensão total da Hidrovia é de 479 km, sendo 157 km no rio Guamá, de sua foz até São
Miguel do Guamá (PA), 262 km no rio Capim, de sua foz no rio Guamá em São Domingos
do Capim, até o local da Travessia para Paragominas e 60 km da foz do Guamá ao porto de
Vila do Conde, no rio Pará. O comboio tipo adotado possui um comprimento de 120 m,
boca de 16 m e um calado máximo de 1,50 m, para uma capacidade de carga de 2.100 t. As
obras a serem realizadas na hidrovia compõem-se do balizamento, retificação de curvas e
desobstrução de trechos, principalmente através da realização de dragagens, sendo que já
está implantado um balizamento experimental e parte da desobstrução já foi realizada. A
Figura 6 apresenta as hidrovias da Região Hidrográfica do Tocantins.
A navegação pelo rio Araguaia ocorre durante o período de águas altas entre sua foz no rio
Tocantins e a cidade de Baliza (GO), entre os meses de dezembro e maio, em uma extensão
de 1.818 km. Os principais impedimentos à navegação são os baixos calados durante a
época de águas baixas, quando as profundidades mínimas chegam a 0,90 m e a existência
de pedrais e bancos de areia em trechos esparsos.
Intervenções como a construção das barragens e eclusas de Santa Isabel e Araguanã (TO),
campanhas de dragagem e derrocamento de pedrais podem melhorar bastante as condições
de navegabilidade do rio Araguaia, navegação esta que, assim, poderia ser realizada durante
o ano todo. Mas as restrições socioambientais, como a existência de inúmeros Parques
Nacionais, Reservas Indígenas, Áreas de Proteção Ambiental e outras áreas de preservação
na área de influência da hidrovia, além do fato do Araguaia ser, no trecho em questão, um
típico rio de planície, sinuoso e instável, fazem com que seja muito difícil a realização
dessas intervenções.
O rio das Mortes, por sua vez, desemboca na margem esquerda do rio Araguaia e é
navegável em 567 km, de sua foz, na cidade de São Félix do Araguaia, até Nova Xavantina,
ambas as cidades de Estado do Mato Grosso. Nesse estirão, os principais pontos críticos
são três passagens rochosas, que foram sinalizadas e balizadas para dar segurança ao
tráfego de embarcações. Muitas das características do rio das Mortes são similares às do
rio Araguaia, como a significativa flutuação do nível de água, entre enchente e vazante, e a
época em que ocorrem as águas altas e a estiagem. Sendo um afluente do rio Araguaia, a
navegação comercial pelo rio das Mortes está condicionada pela implantação de melhorias
na hidrovia do Araguaia.
21
Figura 6 - Hidrovias da Região Hidrográfica do Tocantins
da foz até a barragem de Tucuruí, trecho com 254 km e calado mínimo 1,50 m;
22
de Tucuruí até Imperatriz (MA), trecho com 458 km e calado mínimo de 1,00 m;
de Estreito (MA) até a barragem de Lajeado, trecho com 440 km e calado mínimo de 1,00
m.
O estirão que vai da foz do Tocantins até a barragem de Tucuruí tem seu regime fluvial
determinado pelas vazões efluentes da UHE Tucuruí e pela variação das marés,
apresentando excelentes condições de navegabilidade para embarcações com calado de pelo
menos 1,50 m, durante o ano todo.
A montante de Lajeado, a navegação pode ainda ser estendida até Peixe (TO), estendendo-
se por mais 260 km, desde que os barramentos planejados para essa parte do rio Tocantins,
como Ipueiras, possuam sistemas de eclusagem. Para tanto, a construção da eclusa de
Lajeado é de fundamental importância.
23
Figura 7 - Hidrovias das Regiões Hidrográficas do Atlântico Nordeste Ocidental
O rio Mearim é navegável em uma extensão de 400 km, de sua foz até Pedreiras (MA), e
conta com calado mínimo de 1,50 m. Por sua vez, o rio Pindaré é navegável, também com
calado mínimo de 1,50 m, numa extensão de 217 km, de sua foz até Santa Inês (MA), onde
o cruzamento da rodovia BR-316 impede a navegação para montante. As principais
restrições à navegação são os trechos com baixas profundidades nos períodos de estiagem,
níveis de águas baixas nas horas de maré baixa e perturbações de correntes causadas pelo
efeito das marés, próximo à foz, além da grande sinuosidade em diversos trechos. Outras
restrições são a existência de pontes rodoviária e ferroviária com tirantes de ar reduzido,
existência de inúmeras corredeiras no trecho a jusante de Barra do Corda (MA) e alguns
trechos com depósitos aluvionais que tornam muito difícil a navegação. Como os rios
Pindaré e Mearim abastecem com água potável todas as cidades ribeirinhas e ainda outras
cidades localizadas na área de influência de sua bacia e é utilizado, também, para o
abastecimento de indústrias implantadas nas proximidades do seu curso e para a captação
de água para irrigação de projetos agropecuários localizados em suas margens, é necessário
24
que o planejamento da alocação de água da bacia incorpore o setor de transportes para
garantia dos tirantes mínimos de água necessários à navegação.
Além dos rios Pindaré e Mearim, os rios Grajaú, Itapecuru, Pericumã e trechos de rios e
lagoas da Baixada Maranhense, que desembocam na Baía de São Marcos, também são
navegáveis.
A Hidrovia do Parnaíba, com uma extensão aproximada de 1600 km, é constituída pelos
rios Parnaíba e Balsas, além dos canais que formam o delta do Parnaíba. Administrada pela
AHINOR – Administração das Hidrovias do Nordeste, serve, principalmente, para o
transporte de cargas de interesse regional. Dispõe de potencial para o escoamento de grãos
produzidos nas fronteiras agrícolas em sua área de influência, como o Sul do Piauí, Sudeste
do Maranhão e Noroeste da Bahia. Entretanto, essa hidrovia depende da implantação de
sistema de sinalização e balizamento, bem como da conclusão do sistema de transposição
de desnível da barragem de Boa Esperança, que torna a navegação descontinuada.
No rio Parnaíba, a profundidade mínima do estirão que vai de sua foz no Oceano Atlântico
até a barragem de Boa Esperança, localizada no município de Guadalupe (PI), é de 1,30 m.
Os principais obstáculos existentes à navegação no rio Parnaíba são bancos de areia e
alguns afloramentos rochosos. Como é abundante o transporte de material carregado pelo
rio, decorrente da intensa erosão que vem se processando em suas margens, é intenso
também seu processo de assoreamento. Parte dos empecilhos causados à navegação por
esses afloramentos rochosos e corredeiras foram resolvidos com a construção da barragem
de Boa Esperança, a 669 km da foz (PK 669). Por outro lado, a falta da eclusa que, apesar
de apresentar suas obras concluídas, ainda não teve os equipamentos eletromecânicos
instalados, acarreta uma total interrupção da navegação na barragem. A montante da
barragem, a navegação se desenvolve pelo lago da barragem com uma profundidade
mínima de 3,00 m, por cerca de 155 km até a cidade de Uruçuí (PI). O trecho entre Uruçuí
e Santa Filomena (PI), com 364 km, apresenta uma profundidade mínima de 0,80 m.
Já o rio das Balsas é considerado navegável para embarcações de pequeno calado, de sua
foz na margem esquerda do rio Parnaíba até a cidade de Balsas (MA), principalmente na
época das cheias. Este trecho apresente uma extensão de 225 km e uma acentuada
declividade, que acarreta uma alta velocidade das águas. Esse fato, além de causar o
carregamento de grande quantidade de material pelo rio, que se deposita em determinados
locais formando bancos de areia e seixos, faz com que a navegação a montante seja
bastante lenta.
25
Figura 8 - Hidrovia da Região Hidrográfica do Parnaíba
26
recursos hídricos possam continuar a utilizar as águas do rio de maneira sustentável. O São
Francisco apresenta dois estirões navegáveis: o baixo, com 208 km, entre a foz no Oceano
Atlântico e a cidade alagoana de Piranhas, e o médio, com cerca de 1.370 km de extensão,
entre a cidade de Pirapora, em Minas Gerais, e as cidades gêmeas de Juazeiro e Petrolina,
localizadas nos Estados da Bahia e Pernambuco, respectivamente.
Além dessas ações, está prevista para 2005, a entrada em operação da embarcação
fluviográfica que irá monitorar a movimentação dos bancos de areia no leito do rio para a
elaboração e contínua atualização de uma carta náutica digital, para permitir a navegação
com segurança pela hidrovia 24 horas por dia. A embarcação também irá identificar pontos
críticos que poderão ser objeto de futuras intervenções, como derrocamentos e dragagens.
27
Figura 9 - Hidrovias da Região Hidrográfica do São Francisco
O rio Grande é navegável em cerca de 350 km, entre sua foz na margem esquerda do rio
São Francisco e a cidade de Barreiras, no oeste da Bahia, região que apresenta grande
produção agrícola a ser escoada. Em geral, pode ser freqüentado pelas mesmas
embarcações que trafegam no São Francisco, mas em comboios com menos chatas e,
portanto, menores. Já o rio Corrente, afluente da margem esquerda do rio São Francisco, é
navegável por cerca de 110 km, entre sua foz e a cidade de Santa Maria da Vitória (BA). A
profundidade mínima apresentada no período de águas baixas é de 1,20 m. O rio Corrente
28
atravessa uma região com considerável potencial de carga a exportar, especialmente grãos,
apresentando condições de navegabilidade para embarcações com 1 metro de calado, 8
metros de boca e comprimento de até 60 m, o ano todo.
Além desses dois rios, também podem ser navegados durante parte do ano, nos períodos de
águas médias e altas, os baixos cursos do rio Paracatu, numa extensão aproximada de 100
km, do rio Carinhanha, por aproximadamente 80 km e do rio das Velhas, nos cerca de 90
km até Várzea da Palma (MG). No rio das Velhas a ponte da rodovia BR-385, que liga
Pirapora a Montes Claros e atravessa este rio na localidade de Guaicuí, logo a montante da
foz no rio São Francisco, impede o prosseguimento da navegação em águas altas.
29
Figura 10 - Hidrovias da Região Hidrográfica do Paraguai
A Hidrovia do Paraguai tem intenso tráfego fluvial com os países vizinhos do Mercosul. No
que diz respeito à produção brasileira, ela transporta principalmente os produtos agrícolas
provenientes do sul do Mato Grosso, sobretudo soja em grão e farelo de soja, o minério de
ferro e o minério de manganês extraídos do Maciço de Urucum, na região de Corumbá,
além de cimento e bovinos, em direção à região do Mar del Plata.
30
O projeto completo da hidrovia prevê a navegação nos seguintes trechos:
no rio Paraná, desde a confluência de seus formadores, os rios Grande e Paranaíba, até a
barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu, localizada no município de Foz do Iguaçu (PR),
numa extensão de 740 km;
no rio Tietê, desde a cidade paulista de Conchas até a confluência do Tietê com o Paraná,
numa extensão de 573 km;
no rio Paranaíba, desde o sopé da barragem da Usina Hidrelétrica de São Simão até a
confluência do rio Paranaíba com o rio Grande, numa extensão de 180 km;
no rio Grande, desde a barragem da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, localizada no
município de Ouroeste (SP), até sua confluência com o rio Paranaíba, numa extensão de 59
km;
no canal Pereira Barreto, que liga o lago da barragens da Usina Hidrelétrica de Três Irmãos,
no rio Tietê, ao rio São José dos Dourados, afluente da margem esquerda do rio Paraná, no
Estado de São Paulo, numa extensão de 53 km, sendo 36 km no rio São José dos Dourados
e 17 km no canal Pereira Barreto propriamente dito;
no rio Paranapanema, desde sua foz na margem esquerda do rio Paraná até a barragem da
Usina Hidrelétrica de Rosana, em um trecho com cerca de 70 km. O rio Paranapanema
poderia ser navegável em até 610 km, permitindo conexão intermodal hidro-ferroviária,
desde que as diversas usinas existentes em seu leito contassem com sistemas de
transposição de desnível.
no rio Ivaí, desde sua foz na margem esquerda do rio Paraná até a cidade de Doutor
Camargo (PR), em um estirão de 220 km. Uma série de aproveitamentos hidrelétricos estão
inventariados para o rio Ivaí. Se esses forem construídos seguindo o conceito dos usos
múltiplos do rio, a hidrovia pode alcançar a cidade de Teresa Cristina (PR), apresentando
uma extensão navegável de 632 km. Do contrário, a navegação poderá ser limitada ao
trecho de 150 km que vão da foz até o local planejado para a construção da barragem de
Três Figueiras.
31
Figura 11 - Hidrovias da Região Hidrográfica do Paraná
Somente com a conclusão da Eclusa de Jupiá, tornou-se possível a conexão do rio Tietê
com o tramo sul do rio Paraná, estendendo a navegação até a barragem de Itaipu. Há cerca
de 30 terminais de carga instalados ao longo da hidrovia, sendo os principais os de
32
Pederneiras e Anhembi, no Estado de São Paulo e São Simão, no Estado de Goiás. As
principais cargas transportadas são grãos, farelo e óleos vegetais. A Hidrovia também criou
as condições para o surgimento de uma crescente e promissora indústria de construção
naval com cerca de 10 estaleiros em funcionamento atualmente.
Nessa região, estão os rios Doce e Paraíba do Sul, para os quais não é viável a navegação
em escala comercial.
Hoje em dia, o assoreamento e outras obstruções tornam muito difícil a implantação de uma
Hidrovia para o transporte de carga no rio Doce. Além disso, correndo paralelamente ao
rio, já existe a Estrada de Ferro Vitória-Minas, ligando as jazidas da Companhia Vale do
Rio Doce, em Minas Gerais, ao Porto de Tubarão, no Espírito Santo.
No caso do rio Paraíba do Sul, sua área de influência tem como principais atividades
econômicas os setores industrial e de agropecuária. Atualmente, somente dois trechos do
Paraíba do Sul podem ser navegados: o trecho inferior e o médio superior. O trecho
inferior, entre a foz e a cidade de São Fidélis (RJ) numa extensão de aproximadamente 90
km, apresenta uma navegação incipiente efetuada por pequenas embarcações que
transportam, essencialmente, material de construção para o município de Campos (RJ). Já
no trecho médio superior, numa extensão de aproximadamente 280 km entre Cachoeira
Paulista e Guararema, ambas as cidades localizadas no Estado de São Paulo, a navegação
restringe-se a embarcações de turismo. Diversos desníveis prejudicam a navegação no
Paraíba do Sul: saltos, corredeiras, trechos de forte declividade, bem como obras efetuadas
para fins hidrelétricos sem previsão de transposição de níveis. Além disso, existe um
número apreciável de pontes e uma extensa malha rodo-ferroviária nas margens do rio.
Sendo assim, os rios Doce e Paraíba do Sul só poderiam ser navegáveis comercialmente em
toda sua extensão, caso os aproveitamentos para a geração de energia hidrelétrica
contassem com eclusas, o que é economicamente inviável. A figura 12 apresenta a Região
Hidrográfica do Atlântico Sudeste, com os rios Doce e Paraíba do Sul.
33
Figura 12 – Vias Navegáveis da Região Hidrográfica do Atlântico Sudeste
A navegação do rio Uruguai só apresenta expressão econômica em seu trecho inferior, que
faz divisa entre a Argentina e o Uruguai. No Brasil, a navegação tem-se efetuado apenas no
trecho de 210 km entre São Borja (RS) e Uruguaiana (RS), por embarcações de pequeno
porte.
Para a efetiva implantação de uma hidrovia no rio Uruguai e em seu afluente Ibicuí é
necessário executar uma série de intervenções estruturais, incluindo barragens, eclusas e a
canalização do rio Ibicuí. Além dessas intervenções, a construção de um canal de 200 km,
dotado de eclusas para vencer o desnível de 60m, entre o rio Ibicuí, próximo à cidade de
Cacequi (RS), e o rio Jacuí, a montante da cidade de Cachoeira do Sul (RS), possibilitaria a
integração hidroviária dessa região com a do Atlântico Sul, onde se encontra a Hidrovia
34
Jacuí-Taquari. A Figura 13 apresenta as vias navegáveis da Região Hidrográfica do
Uruguai.
35
(RS) podendo ser navegada por embarcações com até 5,10 m de calado. Essa profundidade,
que garante o acesso de embarcações de cabotagem, em alguns pontos é mantida através de
campanhas regulares de dragagem.
Na lagoa Mirim e canal de São Gonçalo, a navegação vem sendo reativada, propiciando o
escoamento da produção de arroz da região e da República do Uruguai. A Lagoa Mirim
possui cerca de 180 km de extensão e profundidades que variam de 1,00 m, no norte, a até
6,00 m, na porção mais ao sul da lagoa. Já o canal de São Gonçalo permiote a interligação
entre as lagoas Mirim e dos Patos, apresentando uma extensão de 62 km e profundidade
média de 6,00 m. Nas proximidades de Pelotas, há uma barragem construída com o intuito
de evitar a entrada de água salgada na Lagoa Mirim, nos períodos de estiagem. Essa
barragem conta com eclusa, o que permite a continuidade da navegação.
36
Figura 14 –Hidrovias da Região Hidrográfica do Atlântico Sul
37
5 – IMPACTOS CAUSADOS PELO SETOR HIDROVIÁRIO NOS RECURSOS
HÍDRICOS
A utilização dos corpos de água para fins de navegação pode gerar impactos em duas
situações principais: durante a operação do transporte pelas vias navegáveis e quando da
execução de melhorias nas vias navegáveis, inclusive sua manutenção. O transporte
hidroviário está relacionado com um menor gasto de combustível e uma menor emissão de
poluentes por quilômetro e tonelada transportada, bem como com um menor custo de
operação quando comparado com os modais rodoviário e ferroviário. Apesar dessas
vantagens, o transporte aquaviário também apresenta impactos sociais e ao meio ambiente.
Sendo assim, é necessário que o setor de transportes busque sempre minimizar e mitigar os
impactos ambientais por ele causados, seja na implantação, operação ou manutenção de
suas vias. Nesse sentido, destaca-se a implantação da Política Ambiental do Ministério dos
Transportes, que define metas e objetivos para os diversos modais de transporte, em
particular aqueles sugeridos para o setor hidroviário interior.
38
apontadas como fator de intensificação da erosão das margens mas esse problema está mais
relacionado com o tráfego das “voadeiras”, que causam ondas bem mais fortes que os
comboios.
39
casos de pequeno porte, concentradas ou limitadas em trechos de pequena extensão das
calhas fluviais, conhecidos como trechos críticos, ou passagens difíceis. As dragagens de
implantação, por sua vez, apresentam os mesmos problemas relacionados às de
manutenção, mas em escala maior. Isso se dá pelo fato de que, em geral, maiores volumes
de areia são retirados, visando garantir as profundidades iniciais. Uma estimativa genérica
indica que as dragagens de manutenção retiram anualmente 30% do volume retirado nas
dragagens de implantação.
Em outros casos, é possível que o aproveitamento dos rios pela navegação demande a
construção de barragens, quase sempre de baixa queda, ou mesmo canais de desvios,
incluindo pequenas soleiras de manutenção de nível, somando-se a estas as necessárias
obras de transposição como eclusas, por exemplo. Dessa forma, permite-se a continuidade
da navegação e a interligação de trechos navegáveis, quando obstáculos naturais como
quedas de água e corredeiras se apresentam. Nesse caso, os impactos diretos estão
relacionados à área alagada que, em geral, são as áreas sujeitas às inundações anuais.
Comparando-se com as normalmente construídas pelo setor elétrico, essas barragens
acarretam menores impactos ambientais e socioeconômicos pois, pelo fato do reservatório
criado pela construção de tais barragens ser relativamente pequeno, em geral, não ocorrem
problemas como a necessidade de reassentamento de populações e perda de sítios
arqueológicos ou históricos. Além disso, essas barragens pouco alteram o transporte de
sedimentos e permitem a passagem de peixes migratórios.
40
6 – O SETOR HIDROVIÁRIO E OS OUTROS SETORES USUÁRIOS DA ÁGUA
Com o advento da Lei n. 9.433, de 1997, o princípio dos usos múltiplos foi instituído como
uma das bases da nossa Política Nacional de Recursos Hídricos e os diferentes setores
usuários de recursos hídricos passaram a ter igualdade de direito de acesso à água. A única
exceção, já estabelecida na própria Lei, é que em situações de escassez, a prioridade de uso
da água no Brasil é o abastecimento humano e a dessedentação de animais. Todavia, os
outros usos, tais como, navegação, geração de energia elétrica, irrigação, abastecimento
industrial e lazer, entre outros, não têm ordem de prioridade definida. Assim, o crescimento
da demanda por água para os mais variados usos fez crescer e tomar corpo o princípio dos
usos múltiplos, gerando uma série de conflitos de interesses entre os setores usuários.
Assim, qualquer finalidade de uso das águas de um rio, lago ou mesmo de águas
subterrâneas, que altere o regime, a quantidade e a qualidade da água existente, está sujeita
à outorga pelo Poder Público. Em outras palavras, qualquer interferência que se pretenda
realizar na quantidade ou na qualidade das águas de um manancial necessita de uma
autorização de uso da água ao Poder Público. Isso porque as águas são bens de domínio
público: da União ou dos Estados e do Distrito Federal. As águas de domínio da União são
aquelas que se encontram em terras do seu domínio, que banham mais de um Estado,
sirvam de limite com outros países ou unidades da Federação, ou se estendam a território
estrangeiro, ou dele provenham. Incluem-se, também, como corpos hídricos de domínio da
União, as águas em reservatórios construídos pela União. Já as águas de domínio dos
Estados e do Distrito Federal são todas as outras, incluindo as águas de origem subterrânea.
O setor hidroviário, sem dúvida, gera uma demanda de água na medida em que utiliza
corpos hídricos como vias de transporte. Para que seja possível utilizar corpos hídricos
como hidrovias é necessário que determinadas condições de navegabilidade sejam
mantidas, o que pode restringir o uso da água para outras finalidades. As condições de
navegabilidade são estabelecidas, basicamente, pelos níveis de água do rio, que
condicionam as dimensões e o calado das embarcações que podem navegar. Os níveis de
água em cada trecho são função das vazões disponíveis. Portanto, a manutenção de
determinados valores de vazões em cada trecho permite que níveis de água adequados às
dimensões das embarcações sejam mantidos.
Dessa forma, para que esse setor seja levado em consideração no planejamento dos recursos
hídricos, que se fundamenta no uso múltiplo das águas, e também para que sejam
garantidas determinadas condições de navegabilidade, é imprescindível que se solicite a
41
outorga de direito de uso de recursos hídricos para vazões a serem mantidas em cada trecho
ou em pontos notáveis1.
Dentre os diversos usuários de recursos hídricos, o que mais pode gerar impactos sobre as
vias navegáveis existentes e planejadas na bacia hidrográfica, por provocar alterações
significativas no regime de vazões dos corpos hídricos, é, em geral, a implantação de
aproveitamentos hidrelétricos. A existência de trechos do corpo hídrico de interesse do
setor hidroviário a montante ou a jusante do eixo de barramento pode restringir a
disponibilidade hídrica e as regras operacionais do aproveitamento, para a manutenção de
condições adequadas de navegabilidade.
Dessa forma, trechos de interesse localizados a montante dos barramentos exigem níveis de
água que influenciam o deplecionamento do aproveitamento. Isso faz com que as regras de
operação, os níveis de água mínimo e máximo e o dimensionamento do aproveitamento
hidrelétrico prevejam a manutenção da navegabilidade. Já os trechos de interesse do setor
hidroviário localizados a jusante exigem níveis de água que influenciam a vazão mínima
defluente do aproveitamento. Assim, o reservatório deve manter vazões defluentes mínimas
compatíveis com as necessidades das hidrovias e vias navegáveis localizadas a jusante.
De modo geral, as vias navegáveis podem ser enquadradas de acordo com suas
características naturais. Na Tabela 4, o parâmetro utilizado para classificação é a
profundidade mínima garantida com 75% de permanência no tempo em um determinado
trecho do rio, ainda que outros parâmetros como velocidade da corrente, declividade, raios
de curvatura e sinuosidade tenham importante influência sobre a navegabilidade dos corpos
de água.
1
Pontos notáveis são seções do rio onde existem informações sobre vazões e nível de água ou existem
condições de nível de água mínimo, sendo possível estabelecer uma relação e garantir níveis maiores ao longo
de todo o trecho.
42
Tabela 4 – Classificação das vias navegáveis
Profundidade (m)
Gabarito Características 75 % do 25 % do
tempo tempo
“Especial”
I para rios onde a navegação marítima - -
tenha acesso
Para rios de grande potencial de
II > 2,50 2,00 – 1,50
navegação
“Reduzido”
V para rios interrompidos ou onde a - -
navegação tenha possibilidade remota
Fonte: Plano Nacional de das Vias Navegáveis Interiores (1989)
Dessa forma, para subsidiar a elaboração dos planos de recursos hídricos, o setor
hidroviário deve fornecer a listagem de todos os trechos considerados navegáveis do rio, as
hidrovias de interesse nacional e as interligações previstas nos planos do Governo Federal.
Além disso, devem também ser levantados os eixos de barramento previstos, as demandas
de água para agricultura e irrigação, para o abastecimento humano e animal, para o turismo,
lazer, pesca e aqüicultura. Com isso, para cada hidrovia, pode-se determinar os níveis de
água mínimos a serem mantidos em cada trecho ou ponto notável para que seja possível o
transporte aquaviário, considerando-se as dimensões das embarcações utilizadas ou
previstas. A partir dos níveis de água previstos e das curvas-chave dos postos
fluviométricos disponíveis no rio, é possível a determinação das vazões a serem mantidas
em cada trecho ou ponto notável.
Vale ressaltar que a garantia de um nível mínimo para navegação deve ser tomada apenas
como referência para a outorga de outros usos da água e não indicar o nível mínimo que
poderá ser mantido em todo o tempo. A navegação também tira proveito das variações
sazonais das vazões nos rios e lagos.
43
7- CONCLUSÕES
Este trabalho apresenta informações básicas sobre o setor hidroviário de transportes, com
destaque para a interface com os recursos hídricos.
Foi também destacado o Plano Nacional de Viação, que define o Sistema Hidroviário
Nacional, documento legal do setor de transportes, datado da década de 1970. Sua falta de
atualização é tão notável que o próprio Ministério dos Transportes já utiliza uma rede
hidroviária distinta da que foi estabelecida nesse documento legal. Dessa forma,
recomenda-se a imediata revisão e atualização da relação descritiva das hidrovias e da
interligação de bacias do Plano Nacional de Viação, de forma que se torne um marco legal
para o setor.
Finalmente, para que o setor de transporte hidroviário possa alcançar novos patamares de
participação na matriz de transportes brasileira, é necessário decisão política. É necessário
canalização de investimentos públicos e privados. É necessário corrigir o conceito de que
um modal de transporte é concorrente do outro e criar um no qual as modalidades
entendam-se como complementares, voltando, aos poucos, desse desvio em que o Brasil
entrou, baseando praticamente todo o seu transporte de carga em uma única modalidade.
44
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
45
CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS-CNRH. Resolução n. 17, de 29 de
maio de 2001. Lex: Recursos Hídricos: conjunto de normas legais, Brasília-DF, p. 125-128.
2004.
JORNAL TRIBUNA DA IMPRENSA. Nem necessidade de escoar soja faz País expandir
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Cabotagem e Navegação Interior: Instrumentos de Minimização do “Custo Brasil”
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< http://www.transportes.gov.br/bit/estudos/custoshidroviarios/cabotagem.htm>. Acesso
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46
__________. Informações sobre Transporte Hidroviário. Disponível em: <http://
www.transportes.gov.br/bit/inhidro.htm >. Acesso em: 9 dezembro 2004c.
47
__________. ADMINISTRAÇÃO DA HIDROVIA DO PARANÁ-AHRANA.
Disponível em: <http:// www.ahrana.gov.br/site4/hidrovia.html>. Acesso em: 9 dezembro
2004p.
48
MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE
49