Melany Satar - TCC1

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

LICENCIATURA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE RECURSOS


PETROLIFEROS

ANÁLISE DE RISCO NA EXPLORAÇÃO TRANSPORTE E CANALIZAÇÃO


DO GÁS NATURAL

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção


do grau de Licenciatura em Engenharia e Gestão de Recursos Petrolíferos na
Universidade Técnica de Moçambique

MELANY ABDUL SATAR

Maputo, Janeiro de 2022


ANÁLISE DE RISCO NA EXPLORAÇÃO TRANSPORTE E CANALIZAÇÃO DO
GÁS NATURAL

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção do


grau de Licenciatura em Engenharia e Gestão de Recursos Petrolíferos na Universidade
Técnica de Moçambique

MELANY ABDUL SATAR

LICENCIATURA ORIENTADA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE RECURSOS


PETROLÍFEROS

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

Tutor: Msc. Constantino Dombo

Maputo, ___ de ________de 2021

O JÚRI

O Presidente O Tutor O Arguente

______________________ _______________________ ____________________


DECLARAÇÃO DE HONRA

“Declaro que este trabalho de Diploma nunca foi apresentando na sua essência para
obtenção de qualquer grau académico e ele constitui o resultado da minha pesquisa
pessoal”

A Autora

____________________________

(Melany Abdul Satar)


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus Pais Abdul Satar e Zulfira Abo-bacar Solemane, sem eles
nada seria possível e aos meus irmãos Yussra Satar, Abdul Satar Júnior e Nabil Satar que os
amo incondicionalmente e que fizeram valer a pena cada obstáculo superado, objectivo
alcançado e sonho realizado em cada momento vivido.

Especialmente em memória a minha tia Maimuna Solemane pela sua confiança, motivação,
companheirismo e apoio no meu trajecto académico.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Allah por me ajudar a cumprir mais esta etapa da minha vida. A
meus pais Abdul Satar e Zulfira Abo-bacar Solemane, que participaram assiduamente na
minha trajectória académica, sem os quais nada seria possível.

Ao corpo docente em especial ao meu tutor Dr. Constantino Dombo e a Universidade


Técnica de Moçambique que contribuíram para a minha formação académica e pessoal. Aos
amigos em especial Nuno Reis, Afuade Calisto, Elizabeth Pires, Almira Jasse, Eunite
Caetano, Abrahamo Mondlhane e também a minha irmã Yusssra Satar e ao meu cunhado
Nayr Capatia pélo companheirismo, apoio e acima de tudo amizade presente durante esse
período de formação académica.

Aos colegas da faculdade que durante toda formação tiveram paciência e compreensão,
transformando mesmo os momentos mais difíceis em momentos de distracção e diversão.

E a todos que directa ou indirectamente auxiliaram na construção desse projecto que além
de contribuir para a formação académica contribui para a realização de um sonho.
“A maneira de se conseguir boa reputação reside no esforço em se ser aquilo que se
deseja parecer”

Sócrates
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
• HCl- Ácido Clorídrico
• H2O- Água
• CO2-Dióxido de Carbono
• ENH- Empresa Nacional de Hidrocarbonetos
• EP- Empresa Pública
• FMEA- Failure Mode and Effects Analysis
• FTA -Fault Tree Analysis
• FUNAE- Fundo Nacional de Energia
• GNL- Gás Natural Liquefeito
• GTL- Gás para Líquido
• GXC/GNC- Gás Natural Comprimido
• GLP -Gás Liquefeito de Petróleo
• HAZOP- Hazard and Operability Analysis
• H2S- Hidrogénio sulfurado
• Imp -Indústria Mundial Do Petróleo
• JT- Joule-Thompson
• MTPA- Milhões de Toneladas Por Ano
• N2-Nitrogénio
• Nox- Óxidos de Nitrogénio
• APP- Process Hazard Analysis
• TEP- Toneladas Equivalentes de Petróleo
• CO3-Trióxido de Carbono

I
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização e Exploração do Gás Natural........................................................... 34


Figura 2. Método sísmico. ................................................................................................... 35
Figura 3. Unidade de Processamento do Gás Natural.......................................................... 36
Figura 4. Transporte de Gás Natural por meio marítimo (navio). ....................................... 39

II
LISTAS DE TABELAS

Tabela 1. Classificação de riscos. Fonte: Hokstad & Steiro (2006) .................................... 46

III
LISTAS DE GRÁFICA
Gráfico 1. Distribuição das 11467,744 milhões de TEP de energia produzidas no mundo,
tendo como referência o balanço energético mundial de 2005 (IEA, 2005). ...................... 16
Gráfico 2. Gráfico ilustrativo da matriz energética de Moçambique. Fonte: dados fornecidos
pela FUNAE (adaptado pelo autor). .................................................................................... 17
Gráfico 3. Gráfico ilustrativo do esboço percentual da matriz energética de Moçambique.
.............................................................................................................................................. 18

IV
RESUMO
Nos últimos anos, Moçambique tem aumentado a utilização de gás natural na sua matriz
energética para acompanhar o crescimento da demanda por energia. O gás é explorado,
transportado e distribuído por vários meios, onde um dos métodos de transporte presente e
mais usados no nosso Pais é o transporte através de camiões especializados para carregar
cargas perigosas, mas o transporte por meio de gasoduto é considerado o meio de transporte
mais seguro e económico para esse fim. Ainda assim, esse considerado um dos combustíveis
mais limpos desde as fases de prospecção e exploração, ate processamento, transporte e
distribuição, esta exposto a situações de risco tais como um vazamento, explosão, incêndio,
pode ocasionar acidentes de grandes proporções. Diante deste facto, foi desenvolvida uma
Análise Preliminar de Perigos (APP) para identificação dos cenários acidentais possíveis de
ocorrer na plataforma, no transporte e assim como na distribuição do mesmo. Em seguida,
com base nos resultados qualitativos e quantitativos, foram propostas recomendações e
sugestões que fossem capazes de reduzir ou mitigar os riscos associados a gás natural.

Palavras-chaves: Gás natural, Riscos, Exploração, Transporte e Distribuição.

V
ABSTRACT

In recent years, Mozambique has increased the use of natural gas in its energy matrix to keep
up with the growth in energy demand. Gas is explored, transported, and distributed by
various means, where one of the present and most used transport methods in our country is
transport through specialized trucks to carry dangerous cargo, but transport through a
pipeline is considered the means of transport safer and more economical for this purpose.
Still, this considered one of the cleanest fuels is exposed to risk situations such as a leak,
explosion, fire, natural gas can cause accidents of large proportions. Given this fact, a
Preliminary Hazard Analysis (APP) was developed to identify possible accidental scenarios
to occur on the platform, in transport, and as well as in its distribution. Then, based on the
qualitative and quantitative results, recommendations and suggestions were proposed that
were capable of reducing or mitigating the risks associated with natural gas.

Keywords: Natural Gas, Risks, Exploration, Transport, and Distribution.

VI
ÍNDICE GERAL

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS .................................................................. I

LISTA DE FIGURAS .........................................................................................................II

LISTAS DE TABELAS .................................................................................................... III

LISTAS DE GRÁFICAS .................................................................................................. IV

RESUMO ............................................................................................................................. V

ABSTRACT ....................................................................................................................... VI

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1

1. Introdução ...................................................................................................................... 1

1.2. Descrição do Problema............................................................................................ 3

1.2.1. Pergunta de Pesquisa........................................................................................ 3

1.3. Objectivos do trabalho ............................................................................................ 4

1.3.1. Geral ................................................................................................................. 4

1.3.2. Objectivos específicos ..................................................................................... 4

1.4. Justificativa.............................................................................................................. 5

CAPÍTULO II – METODOLOGIA ................................................................................... 6

2. Metodologia ................................................................................................................... 6

2.1. Quanto aos objectivos de pesquisa .......................................................................... 6

2.2. Quanto à natureza do estudo ................................................................................... 6

2.3. Quanto à forma de abordagem do problema ........................................................... 7

2.4. Quanto aos procedimentos técnicos de pesquisa..................................................... 7

2.5. Instrumentos de colecta de dados ............................................................................ 7

2.6. Forma de análise de dados e discussão dos resultados............................................ 8

2.7. Limitações do estudo ............................................................................................... 8


CAPÍTULO III – REVISÃO DA LITERATURA .......................................................... 10

3. Revisão de Literatura ................................................................................................... 10

3.1. A Trajectória Da Indústria Mundial Do Petróleo (Imp) ........................................ 10

3.1.1. O Início Da Indústria Do Petróleo ................................................................. 10

3.1.2. A Era Dos Monopólios .................................................................................. 13

3.1.3. Matriz Energética ........................................................................................... 16

3.1.4. Panorama da Matriz Energética Mundial ...................................................... 16

3.1.5. Matriz Energética de Moçambique ................................................................ 17

3.1.6. Esboço da Matriz energética de Moçambique ............................................... 17

3.2. Transporte Ductoviário ......................................................................................... 18

3.2.1. Conceito ......................................................................................................... 18

3.2.2. História do surgimento de ducto terrestre ...................................................... 18

3.2.3. Características de ductos terrestres ................................................................ 19

3.2.4. Tipos de ductos de acordo com cargas .......................................................... 20

3.2.5. Classificação de Ductos ................................................................................. 21

3.2.6. Vantagens da utilização do transporte através de oleoduto ........................... 21

3.2.7. Desvantagens na utilização do transporte terrestre por oleoduto................... 22

3.2.8. Principais conceitos do Regulamento de operações petrolíferas da Lei n.º 21/


2014 22

3.3. Outros Conceitos Importantes ............................................................................... 25

3.4. Origem e Composição do Gás Natural .................................................................. 29

3.4.1. Composição.................................................................................................... 29

3.4.2. Utilização ....................................................................................................... 30

3.4.3. Vantagens e Desvantagens ............................................................................. 30

3.5. Histórico do Gás natural ........................................................................................ 31

3.6. O gás natural em Moçambique.............................................................................. 32


3.6.1. Projecto Mozambique LNG ........................................................................... 33

3.7. Exploração do gás ................................................................................................. 34

3.7.1. Prospecção ..................................................................................................... 34

3.7.2. Perfuração ...................................................................................................... 35

3.7.3. Produção ........................................................................................................ 35

3.7.4. Segurança nas Plataformas de Petróleo ......................................................... 36

3.7.5. Principais Riscos ............................................................................................ 36

3.7.6. Riscos Específicos ......................................................................................... 37

3.8. Transporte de Gás Natural..................................................................................... 38

3.8.1. Riscos em gasodutos ...................................................................................... 39

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO E APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS................ 40

4. Exploração de gás natural ............................................................................................ 40

4.1. Produção ................................................................................................................ 41

4.2. Condicionamento .................................................................................................. 42

4.3. Processamento ....................................................................................................... 42

4.4. Transporte.............................................................................................................. 42

4.5. Comercialização .................................................................................................... 42

4.6. Distribuição ........................................................................................................... 43

4.7. Riscos .................................................................................................................... 43

4.7.1. Tipos de riscos ............................................................................................... 43

4.7.2. Classificação dos riscos ................................................................................. 44

4.8. Avaliação de riscos................................................................................................ 46

4.8.1. Avaliação de risco em gasodutos ................................................................... 47

4.8.2. Metodologias gerais de gestão de riscos ........................................................ 48

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO ............................................... 52

5. Conclusões ................................................................................................................... 52
5.1. Recomendações ..................................................................................................... 53

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 54
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1. Introdução
Desde os tempos mais remotos, o homem tem desenvolvido actividades e ferramentas, que
apresentam riscos potenciais, e que podem se materializar causando acidente com lesões
pessoais, ou perdas materiais. No mundo actual são frequentes os acidentes envolvendo
segurança de processo e danos causados por indústrias químicas e petroquímicas e que,
consequentemente, geram danos pessoais, materiais e ambientais (SERPA, 2002).

O desenvolvimento de técnicas de prevenção de acidentes em processos químicos é


constante (DUARTE, 2002). Actualmente existem diversas técnicas que permitem a
identificação dos perigos de forma organizada e sistemática. As empresas que trabalham
com produtos tóxicos ou inflamáveis realizam estudos de Análise de Riscos para identificar,
analisar e avaliar os eventuais riscos advindos de acidentes de processo, que possam
representar perigo.

Dentro do propósito de avaliação de riscos, a fase mais importante consiste na


identificação dos perigos e das falhas. O objectivo da análise de risco é capacitar para
diferenciar as técnicas de avaliação de risco e o entendimento da importância da análise
de risco.

A maioria dos perigos inerentes à indústria moderna tem como característica chave o
facto de que uma possível falha em seus sistemas de segurança pode ocasionar impactos
difíceis de serem contidos a nível local, podendo levar a consequências transnacionais
como prejuízos à imagem da empresa.

A necessidade e a importância da prevenção de perdas foram enfatizadas depois de


vários desastres com consequências catastróficas nas décadas de 60 e 70. A partir desta
época muitos estudos, conferências e documentos foram realizados promovendo
expressivo avanço na área de confiabilidade, transformando a análise de risco em
ferramenta fundamental nos dias de hoje.

A utilização do gás natural vem aumentando significativamente nas últimas décadas,


impulsionada por questões ecológicas, tecnológicas e financeiras. Devido às suas

1
características relativas à localização de reservas e ao crescimento de mercado consumidor,
faz-se necessária uma infra-estrutura eficaz para a produção, processamento, transporte e
distribuição de gás natural às unidades consumidoras. A actividade de transporte de gás
natural através de gasodutos envolve múltiplas dimensões de risco e a depender da extensão
e da localização da malha de ductos, diferentes níveis de consequências podem advir da
ocorrência de cenários acidentais.

2
1.2. Descrição do Problema
Devido ao grande crescimento do uso do gás natural e consequentemente o crescimento da
rede de abastecimento é preciso haver uma análise de risco na exploração transporte e
canalização do gás para um correcto controle e mitigação dos riscos.

O problema na exploração de gás assim como também na exploração de petróleo tem seus
impactos negativos no que tange a questão de riscos tanto na saúde dos colaboradores assim
como na própria indústria de exploração. Sendo assim, torna – se mais fácil de falar que há
muitos anos atrás, os acidentes eram causados por uma ausência de avaliação dos riscos e
por falta de medidas preventivas.

O risco de explosão é sério mesmo para pequenas fugas, sendo o risco de vidas uma realidade
no gasoduto. As ductovias transportam diversos produtos, dentre eles, petróleo, seus
derivados e gases combustíveis. Estes produtos são tóxicos e/ou inflamáveis. Portanto, seu
vazamento pode gerar danos ambientais e socioeconómicos de grande proporção.

Os gasodutos, que podem ser terrestres ou submarinos, têm seu traçado estabelecido em
áreas urbanas ou rurais, passando por uma diversidade de localidades. Há gasodutos no
interior de uma instalação, como também, gasodutos entre diversos pontos do País ou
ligações internacionais.

Diante dos riscos em todo processo de exploração, transporte e canalização destacam-se a


explosão, o incêndio, entre outros que serão abordados nós próximos capítulos. O estudo
irá trazer à superfície a análise dos riscos decorrentes da exploração, transporte e canalização
de gás natural, o que irá permitir que se identifiquem possíveis acções de mitigação para
colmatar impactos negativos.

1.2.1. Pergunta de Pesquisa


Diante do acima exposto a pergunta de partida que se levanta é a seguinte:

• Quais os riscos encontrados na exploração, transporte e canalização do gás


natural?

3
1.3. Objectivos do trabalho
Para responder à pergunta de pesquisa foram traçados os seguintes objectivos:

1.3.1. Objectivo Geral


• Analisar o risco na exploração, transporte e canalização do gás natural.

1.3.2. Objectivos específicos


• Estudar o processo de exploração, transporte e canalização do gás natural;
• Avaliar os riscos na exploração transporte e canalização do gás natural;
• Propor medidas para mitigação dos riscos.

4
1.4. Justificativa
A presente proposta visa estudar e analisar os riscos na exploração, transporte e canalização
do gás natural, com vista a garantir a melhor segurança dos recursos materiais e humanos,
prevenir a ocorrência de acidentes e impactos socioeconómicos e ambientais que esses
podem trazer à sociedade.

A pesquisa, encontra também sua relevância no contexto da implementação dos projectos de


gás em causa em Pande, Temane e na bacia do Rozuma. Devido a magnitude e delicadeza
desses projectos, mapear os riscos imergentes ao funcionamento desses projectos, pode
ajudar a sociedade como um todo a adquirir uma cultura de prevenção de risco de acidente
ao longo de toda a cadeia.

5
CAPÍTULO II – METODOLOGIA

2. Metodologia
Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida,
nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações
podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da
ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

Assim, o método é o conjunto das actividades sistemáticas e racionais que, com maior
segurança e economia, permite alcançar o objectivo - conhecimentos válidos e verdadeiros
traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.
(LAKATOS, 2003)

2.1. Quanto aos objectivos de pesquisa


O presente trabalho foi, quanto aos objectivos de pesquisa, de carácter explicativo pelo facto
de a essência do trabalho ter sido identificar e estudar os factores que contribuem para que
o fenómeno a ser estudado ocorra. Segundo Lakatos e Marconi (2001), este tipo de pesquisa
visa estabelecer relações de causa-efeito por meio da manipulação directa das variáveis
relativas ao objecto de estudo, buscando identificar as causas do fenómeno.

A pesquisa de carácter explicativo trabalha os dados buscando seu significado, tendo como
base a percepção do fenómeno dentro do seu contexto (...) procura captar não só a aparência
do fenómeno como também sua essência, procurando explicar sua origem, relações e
mudanças tentando intuir as consequências. Trivinõs (1987) Apud Oliveira (2011).

2.2.Quanto à natureza do estudo


O trabalho em questão quanto à natureza foi uma pesquisa básica, ou ainda pura porque o
estudo procurou entender quais desafios estão a ser enfrentados na questão do transporte de
hidrocarbonetos mais concretamente o gás natural criando uma base de conhecimentos
novos e úteis concernentes ao transporte do gás natural e envolvendo verdades e interesses
universais. (Kauark, Manhães, Medeiros,2010)

6
2.3.Quanto à forma de abordagem do problema
Tendo em conta a abordagem do problema, o estudo foi de carácter qualitativo. A pesquisa
de carácter qualitativo tem como premissa, analisar e interpretar aspectos mais
profundos(...)fornecendo análises mais detalhadas sobre as investigações, atitudes e
tendências de comportamento. (LAKATOS, 2003) apud (ARAUJO, 2013).

2.4.Quanto aos procedimentos técnicos de pesquisa


Tendo em conta os procedimentos técnicos de pesquisa, privilegiou-se a pesquisa
bibliográfica e documental que segundo (GIL, 2002) permitem ao investigador a cobertura
de uma gama de fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar
directamente (..) tendo como finalidade colocar o investigador em contacto com o que já se
produziu.

Ainda no mesmo âmbito, foi dada primazia ao estudo de campo que segundo (CANASTRA,
HAANSTRA.F., & VILANCULOS.M., 2015), constitui um método privilegiado para
estudar fenómenos ou acontecimentos sociais que revelam uma singularidade e, ao mesmo
tempo, uma complexidade, em termos de apreensão global. Para este trabalho em particular,
o caso a ser estudado é o do processo de transporte de gás natural da multinacional sul-
africana Sasol, neste caso concreto, das operações que têm lugar no território moçambicano.
Ainda no mesmo âmbito, foi dada primazia ao estudo de campo que segundo (CANASTRA,
HAANSTRA.F., & VILANCULOS.M., 2015), constitui um método privilegiado para
estudar fenómenos ou acontecimentos sociais que revelam uma singularidade e, ao mesmo
tempo, uma complexidade, em termos de apreensão global.

2.5. Instrumentos de colecta de dados


Partindo do pressuposto que a abordagem qualitativa constitui o enfoque deste estudo
procurou-se neste subcapítulo apresentar os instrumentos de colecta de dados que pudessem
ajudar a colher da melhor forma informação relacionada com o transporte e logística de
Pande/Temane.

Assim, para a materialização dos objectivos, geral e específicos, traçados para este trabalho,
foram aplicados questionários - online - às pessoas chave e de interesse para o assunto em
questão, nomeadamente aos gestores e aos colaboradores da área operacional do gasoduto
da Sasol que de forma clara e objectiva forneceram informações referentes às questões

7
pertinentes ao transporte do gás natural. E com vista a complementar as informações acima
foi, igualmente, efectuada análise documental que se baseou, fundamentalmente, na análise
das contribuições de vários autores sobre o assunto em questão.

2.6.Forma de análise de dados e discussão dos resultados


Os dados foram analisados em função das questões de pesquisa, tendo como técnica a análise
de conteúdos. A análise de dados foi a forma que a autora encontrou para trabalhar a
informação que lhe foi colocada a disposição pelos participantes do estudo e que, segundo
Amado (2017), permite organizar, dividir em unidades manipuláveis, sintetizar e procurar
padrões, descobrindo aspectos importantes que devem ser aprendidos.

Para este estudo, à técnica de análise de conteúdo revelou-se de capital importância pelo
facto de esta ser flexível e adaptável às estratégias de colecta de dados, através do
questionário-online aplicado aos participantes, por um lado, e permitir uma rigorosa e
objectiva representação dos conteúdos através da sua codificação, dando assim credibilidade
científica aos resultados obtidos, por outro lado.

2.7.Limitações do estudo
A primeira limitação do estudo foi a pandemia que o mundo está a enfrentar actualmente,
causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) que impediu o acesso directo da autora ao
gasoduto visto que, em algum momento, foi obrigatória a quarentena domiciliar que só
permitia o deslocamento apenas para locais estritamente necessários, durante o período, em
que o estudo estava a ser realizado.

A segunda limitação foi o acesso e limitação da informação, que foi bastante demorada por
causa de indisponibilidade das pessoas chaves para o estudo e canais de comunicação
bastante morosos, sendo que quando foi possível contactar as pessoas a informação fornecida
era pobre e não respondia as questões contidas no instrumento de colecta de dados na sua
totalidade.

A terceira limitação foi a dificuldade em obter uma amostra mais significativa e


representativa, pelo facto de ter dependido da disponibilidade bastante limitada do gestor
que participou do estudo em adquirir (contactar) componentes (participantes) de formas a
atingir a amostra prevista, o que fez também com que o processo de aquisição de dados fosse
muito demorado.
8
A quarta e última limitação foi o facto de não se poder ter aplicado entrevistas à determinados
constituintes da amostra por conta da quarentena resultado da pandemia que trouxe aos
trabalhadores da empresa em causa o fenómeno de trabalhar a partir de casa não permitindo
contacto directo entre a autora e os participantes da amostra. Foi neste contexto que a autora
sentiu a necessidade de as entrevistas por questionários, o que limitou a quantidade de
informação que poderia ter sido adquirida para a realização de um estudo mais aprofundado.

9
CAPÍTULO III – REVISÃO DA LITERATURA

3. Revisão de Literatura
A revisão da literatura é fundamental para a elaboração de um estudo ou projecto. Os
estudos bibliográficos determinam as directrizes e consequentemente apontam os métodos
mais adequados para a solução do problema de pesquisa.

Uma vez que a presente trabalho tem como foco analisar os riscos na exploração, transporte
e canalização de Gás natural como uma forma de entender melhor esses riscos, este capítulo
tem como intuito referir aspectos teóricos importantes acerca do historial do petróleo no
geral, gás natural, exploração do mesmo, riscos na exploração, avaliar os riscos assim como
propor medidas de mitigação.

3.1. A Trajectória Da Indústria Mundial Do Petróleo (Imp)


Explorada inicialmente com o intuito de substituir o óleo de baleia na iluminação das cidades
norte americanas, a perfuração do primeiro poço comercial no ano de 1859, não significou
apenas a viabilidade de uma nova fonte energética. Pelo contrário, tal episódio culminava
no nascimento de uma indústria, que iria se tornar, anos depois, uma das mais grandiosas e
relevantes do mundo. A partir desse episódio, a indústria do petróleo originária nos Estados
Unidos, se expandiu de forma desenfreada, espalhando-se pelo mundo, aumentando os
fluxos comerciais entre os países e movimentando quantias colossais de dinheiro
significantes descobertas e produções de milhões de barris por dia.

3.1.1. O Início Da Indústria Do Petróleo


3.1.1.1.Os Primórdios Do Petróleo
Por mais que o início da indústria do petróleo só tenha ocorrido em meados do século XIX,
antes mesmo do nascimento de Cristo o petróleo já possuía relevância. Nessa época, a
principal atribuição do petróleo estava associada à área da construção, auxiliando na
edificação de casas, estradas e até mesmo muralhas como a de Jericó e a da Babilónia. Tais
utilidades do petróleo são relatadas até em algumas passagens Bíblicas destacando o óleo
como sendo o produto responsável por revestir tanto a arca de Noé quanto a cesta de Moisés.

Segundo Yergin (2010), milhares de anos antes de Jesus Cristo a humanidade já conhecia o
petróleo, uma vez que essa substância era encontrada em forma de betume e chegava à

10
superfície através dos vazamentos na região hoje conhecida como Oriente Médio. Além de
seu uso no campo das construções, o petróleo também era utilizado como medicamento.
Segundo reportagem sobre a origem do petróleo publicada no site da COPPE (2016), ao
petróleo eram atribuídas desde propriedades antibacterianas até sua eficácia no tratamento
de bronquite e reumatismo, como no caso do boticário Samuel Kier que passou a
comercializar petróleo após receber um laudo médico que esse líquido negro poderia curar
sua mulher da tuberculose.

GEORGE BISSELL

Ainda que o petróleo seja utilizado há milhares de anos, a indústria do petróleo similar a que
conhecemos hoje só se iniciou em meados do século XIX nos Estados Unidos, mais
precisamente no estado da Pensilvânia em uma área conhecida como Oil Creek Valley. De
acordo com a reportagem publicada na revista Forbes (2009), nessa época a principal fonte
de iluminação era a queima de gordura animal, principalmente das baleias. No entanto, com
a demasiada pesca do animal, o preço de sua gordura aumentou, obedecendo às leis de oferta
e demanda o que levou as pessoas a procurarem outra substância para substituí-la no
abastecimento energético. Deste modo, procurando uma fonte alternativa a gordura animal
para a garantia da iluminação, surge George Bissell, conhecido por muitos como o criador
da indústria petrolífera. Segundo Yergin (2010), Bissell já conhecia as funções medicinais
do petróleo e, também, sabia que este “óleo de pedra”, nome como era conhecido, era
inflamável, ou seja, poderia ser uma fonte alternativa as gorduras animais para o suprimento
de iluminação.

De forma a confirmar essa ideia, Bissell procurou ajuda de um importante professor de


química da faculdade de Yale, Benjamin Silliman, a fim de avaliar as propriedades do refino
e do carácter inflamável do petróleo. Como resultado desta pesquisa, o professor Silliman
constatou que essa matéria prima era capaz de atingir diversos pontos de ebulição e, a partir
disso, gerar subprodutos de altíssima qualidade para geração de luz. Com essa validação
sobre as utilidades do petróleo em sua posse, Bissell conseguiu alavancar o capital necessário
para inaugurar o que consistia na primeira empresa de petróleo do mundo a Pennsylvania
Rock Oil Company em 1854 (Revista Forbes, 2009).

EDWIN DRAKE

11
A partir desse momento, já era possível notar que o petróleo era uma fonte de iluminação
muito superior à gordura animal. No entanto, o único problema que ele ainda enfrentava era
o preço, caso fosse possível encontrar e extrair óleo em grande quantidade, o seu preço
diminuiria facilitando o acesso da população a essa nova fonte de iluminação.

Sendo assim, Bissell iniciou sua procura por uma fonte tecnológica capaz de garantir o
suprimento e a escala necessária para uma produção rentável de petróleo. Em sua procura, o
empresário logo se deparou com produtores de sal que utilizavam de uma técnica até então
pouco conhecida, que consistia no uso de guindastes para a perfuração do solo até as
camadas onde o sal era encontrado. Para realizar essa experiência de utilização de guindastes
para encontrar petróleo, Bissell contratou o comandante Edwin Drake, um ex-condutor
ferroviário, que com a ajuda de um perfurador chamado “Uncle Billy” e seus dois filhos
deram início a exploração do petróleo com o uso do guindaste. No começo, muitas tentativas
foram fracassadas e conforme não se achava o óleo no interior do solo, mais dinheiro deveria
ser gasto para as próximas tentativas, o que aumentava a pressão sobre os experiência de
Bissell e Drake. Foi então que no dia 29 de Agosto de 1859, Drake, Uncle Billy e seus dois
filhos encontraram petróleo a 69 pés da superfície na região de Titusville, Pensilvânia
(Revista Forbes, 2009).

A intuição de George Bissell, a descoberta de Edwin Drake e a perseverança de ambos deram


início a uma nova era – uma época de engenho e inovação, de transacções e fraudes, de
enriquecimentos e empobrecimentos, de enriquecimentos sonhados, mas nunca
concretizados, de estafa devida ao trabalho extenuante, de amargo desapontamento e de
crescimento espantoso (Yergin, 2010).

O sucesso das explorações iniciais de petróleo foi tamanho, que já no início dos anos 60, a
produção de querosene para iluminação já estava sendo realizada por 34 empresas diferentes
com um facturamento de US$ 5 milhões/ano e atingindo uma marca de 5 mil galões/dia nos
mais de 75 poços perfurados. Além disso, muitas refinarias converteram suas actividades
inicialmente focadas no óleo de carvão para o petróleo bruto e começaram a se alocar nas
proximidades da Pensilvânia (Binsztock, M.T. e Monié, F. (Orgs.) et al. 2012).

12
3.1.2. A Era Dos Monopólios
A Regra Da Captura

Segundo Yergin (2010), a “regra da captura”, uma doutrina oriunda da lei comum britânica
era o que ditava as regras de exploração de petróleo no território norte americano.

Conforme essa regra, todo proprietário de terra teria o direito de usufruir de todo óleo
encontrado em seu território por mais que essa exploração pudesse ser danosa para os outros
poços. Defendidas por um aparato legal que permitia a extracção desenfreada do óleo que
jorrava da terra, a população norte americana se encontrava em uma corrida para encontrar
esse óleo. Esse período, por mais que tenha sido marcado por diversos desperdícios e
prejuízos na exploração, também foi um momento de grandes avanços tecnológicos na área
da exploração. Porque graças a essa lei, uma maior quantidade de pessoas estava apta a
trabalhar nessa actividade disseminando assim as boas práticas da indústria. Conforme Pinto
Jr. et al. (2007), nessa fase foram registrados grandes avanços tecnológicos na indústria do
petróleo, como a substituição do cavalo pelos oleodutos de madeira no transporte, o
desenvolvimento de novos métodos de perfuração de solo e melhorias nas práticas de refino.

JOHN D. ROCKFELLER E A STANDARD OIL

Em meio a essa situação de caos e prosperidade, um empresário, dono de uma das refinarias
mais bem-sucedidas dos Estados Unidos, John D. Rockfeller, fundou em 1870 a empresa
Standard Oïl, o que viria a se tornar a maior empresa da época. A partir da introdução de
novas técnicas de refino e transporte, o empresário havia revolucionado a indústria
petrolífera com uma redução de custos que nenhuma outra empresa havia conseguido até
aquele momento. Na década de 1870, a Standard Oïl controlava cerva de 10% do segmento
de refino. Já nas duas décadas seguintes, a empresa era responsável por 80% da capacidade
de refino, 90% da rede de distribuição e 90% do transporte de petróleo em oleodutos e
ferroviário, sendo que 70% das actividades de truste das empresas controladas por Rockfeller
ocorriam fora do território Norte Americano (Giraud e Boy de la Tour, 1987). Segundo Pinto
Jr. et al. (2007), Rockfeller conseguiu revolucionar a indústria petrolífera a partir da
exploração de dois conceitos fundamentais da economia: ganhos de escala e integração
vertical. A Standard Oil, diferente das outras empresas convencionais, operava em todos os
segmentos e em níveis muito maiores que seus concorrentes, possibilitando à empresa uma

13
alta redução de seu custo médio. Além disso, a operação em diversos segmentos permitia
usufruir de subsídios cruzados reduzindo ainda mais os seus custos e consequentemente
aumentando a margem da operação. Com o crescimento desproporcional da Standard Oil
em comparação as empresas convencionais da época, muitas dessas empresas não
conseguiam mais competir e acabaram sendo compradas pela empresa de Rockfeller. Em
suma, sua táctica consistia em reduzir o preço de modo que seus concorrentes não
conseguissem resistir e fossem obrigados a vender sua empresa para o magnata.

O FIM DO IMPÉRIO DA STANDARD OIL

Conforme os anos foram se passando, a indústria petrolífera foi ganhando ainda mais
importância no mundo, sobretudo após a invenção do motor a combustão para automóveis
com a utilização da gasolina como fonte de energia. Segundo Yergin (2010), no final do
século XIX, o refino de petróleo em gasolina consistia em uma parcela insignificante do
total, até porque a gasolina tinha poucas possibilidades de uso naquela época. No entanto,
com a introdução do carro a motor de combustão, isso se alterou e fez com que a gasolina se
tornasse um produto cada vez mais valioso e requisitado pela população. No começo de
século XX, com um império cada vez maior sob seu comando, Rockfeller passou a ser alvo
de diversas acusações na justiça a respeito de suas práticas monopolistas. O crescimento
aconteceu não só por conta do comércio de querosene que havia sido o carro chefe de sua
empresa nos anos iniciais, como também pela venda da gasolina no território nacional e,
também, para outros países. Foi então que em 1911 a suprema Corte dos Estados Unidos
1
declarou que a Standard Oil estava violando a legislação do Sherman Act (1890), o que
resultou no desmantelamento da empresa em 34 novas empresas dentre as quais destacam-
se a Continental Oil, atual ConocoPhilips; Standard de Indiana, actual BP; Standard da
Califórnia, actual Chevron; Standard de Nova Jérsei, actual Esso e ExxonMobil; e Standard
de Nova Iorque, actual ExxonMobil.

O CARTEL DAS MAJORS 2

Após a dissolução da Standard Oil surgia uma nova era na indústria do petróleo. Essa nova
fase ficou demarcada pela intensa competição entre as firmas, uma vez que agora o mercado

1
Lei que visava garantir a concorrência leal entre as empresas e evitar as práticas de monopólio e cartel.
2
Nome atribuído as grandes empresas de petróleo.
14
estava repleto de empresas independentes em busca de novas reservas de petróleo, sejam
elas em território americano ou até mesmo em outras regiões como a Ásia, Oriente Médio e
América Latina. Além dessa corrida por novos mercados, essa fase também foi marcada por
diversas inovações tecnológica comos: na área do transporte, com o desenvolvimento de
petroleiros; na área da perfuração, com a identificação de diferentes estruturas geológicas;
e, principalmente, na área do refino, com a invenção da técnica de craqueamento das
moléculas que permitia a produção de uma maior quantidade de subprodutos de alto valor
agregado com uma menor quantidade de óleo cru (Pinto Jr. et al., 2007). Ainda segundo o
Pinto Jr. et al. (2007), nessa época a indústria mundial de petróleo estava progredindo para
um desenvolvimento estável. Porém, para que essa estabilidade pudesse ser garantida seriam
necessários dois instrumentos que serão abordados a seguir. O primeiro se tratava do
estabelecimento de direitos de propriedades e de domínio das reservas do Oriente Médio
pelas empresas estrangeiras, o que foi conseguido a partir da introdução do sistema de
concessões, um sistema que garantia as empresas estrangeiras de explorar as reservas em
outros territórios e essas em contrapartida deveriam pagar um royalty3 ao país onde a reserva
se localizava. Já o segundo factor era o estabelecimento, por parte das grandes empresas, de
medidas oligopolistas que garantissem a produção e impedissem a concorrência desleal entre
elas. Esse segundo factor ocorreu após o acordo de Achnacarry (1928)4, onde foram
definidas as directrizes da nova indústria mundial de petróleo e deu origem ao chamado
Cartel das Sete Irmãs, formado pelas sete maiores empresas de petróleo do mundo.

Chevron Estados - Unidos Exxon Mobil; Estados Unidos -Gulf Oil; Estados Unidos -Mobil
Oil; Estados Unidos -Texaco Estados Unidos; Royal Dutch Shell -Holanda e British
Petroleum- Inglaterra.

Conforme Penrose (1968), esse acordo definiu os princípios gerais a serem seguidos pelas
empresas estrangeiras fora de seus territórios como a fixação de quotas de produção,
definição do preço e gerenciamento de novos entrantes. Segundo Binsztock, M.T., Monié,
F. et al. (2012), as empresas que compunham esse cartel gozavam de uma longa tradição
nessa actividade e de um alto nível de globalização no mercado internacional, o que permitia

3
Pagamento associado ao direito de usar e/ou explorar algo que pertence à terceira.
4
Acordo firmado entre as maiores empresas de petróleo do mundo, formalizando a actuação em cartel através
da divisão do mercado entre elas (Souza. R. F., 2006)
15
elas de se distanciarem cada vez mais de seus concorrentes. Estima-se que, no final dos anos
40, esse cartel controlasse mais de 80% das reservas fora dos territórios americano e
soviéticos e possuísse mais de 77% da capacidade de refino mundial.

3.1.3. Matriz Energética


3.1.3.1.Conceito de matriz energética
Matriz energética é um conjunto de fontes de energia ofertado no país para captar, distribuir
e utilizar energia nos sectores comerciais, industriais e residenciais Ribeiro (2019). A matriz
representa a quantidade de energia disponível em um país, e a origem dessa energia pode ser
de fontes renováveis ou não renováveis Ribeiro (2019).

A matriz energética é uma representação quantitativa de todos os recursos energéticos


disponíveis oferecidos por um país ou por uma região para serem utilizados nos diversos
processos produtivos.

3.1.4. Panorama da Matriz Energética Mundial


Em 2005 a matriz energética mundial produziu 11,5 bilhões de TEP, sendo que os
combustíveis fósseis representaram aproximadamente 80% da energia: 35,28% de petróleo,
24,5% de carvão e 20,70% de gás natural (IEA, 2005), conforme ilustra a figura

1.

Gráfico 1. Distribuição das 11467,744 milhões de TEP de energia produzidas no mundo,


tendo como referência o balanço energético mundial de 2005 (IEA, 2005).

16
3.1.5. Matriz Energética de Moçambique
Conforme Arthur et all (2011), as estatísticas nacionais indicam que as principais fontes de
energia doméstica em Moçambique são a lenha, carvão vegetal, querosene, LPG (Gás de
Petróleo Liquefeito) e electricidade.

3.1.6. Esboço da Matriz energética de Moçambique


3.1.6.1.Esboço quantitativo
Os dados abaixo descritos, não fazem menção da utilização de fósseis (petróleo, gasóleo e
gasolina) para a geração de energia eléctrica (gráfico.1 e gráfico.2). A obtenção desses dados
não foi possível durante a nossa pesquisa.

Gráfico 2. Gráfico ilustrativo da matriz energética de Moçambique. Fonte: dados fornecidos


pela FUNAE (adaptado pelo autor).

17
3.1.6.2.Esboço qualitativo

Gráfico 3. Gráfico ilustrativo do esboço percentual da matriz energética de Moçambique.


Fonte: dados fornecidos pela FUNAE (adaptado pelo autor).

3.2.Transporte Ductoviário

3.2.1. Conceito
Oleoduto é a designação genérica de instalação constituída por tubos ligados entre si,
incluindo os componentes e complementos, destinada ao transporte ou transferência de
fluidos, entre as fronteiras de unidades operacionais geograficamente distintas.
Componentes são quaisquer elementos mecânicos pertencentes ao ducto e complementos
são as instalações necessárias à segurança, protecção e operação do ducto (RTDT,2011).

O Transporte Ductoviário (ou Transporte Tubular) é aquele realizado por meio de Ductovias,
ou seja, de tubulações. Note que o termo “ducto” significa tubos e corresponde ao local para
transportar óleos, gases e produtos químicos através da gravidade ou da pressão.
(CETESB,2013).

3.2.2. História do surgimento de ducto terrestre


Geralmente quando se fala de ductovias, trata-se de um modal bastante antigo, viabilizado
na área dos equipamentos urbanos, em especial no fornecimento e distribuição de água à

18
população e na captação e deposição de esgotos domiciliares, funções que o caracterizam
até hoje por alguns autores, como a modalidade de maior uso em tonelagem e volume,
embora por suas características nestes campos tenha saído da pauta dos transportes para a
do saneamento urbano.

Em 1865 foi construído o primeiro oleoduto para transporte de hidrocarbonetos, com 2" de
diâmetro que era de ferro fundido e ligava um campo de produção à uma estação de
carregamento de vagões, a uma distância de 8 km na Pensilvânia. Já em 1930 teve início o
transporte de produtos refinados entre a Refinaria de Bayway, próximo à Nova Iorque e a
cidade de Pittsburg. Segundo alguns autores, trata-se de um oleoducto pioneiro no transporte
de derivados a grandes distâncias. Como modalidade típica de transporte ganhou
importância quando da exploração comercial do petróleo e da distribuição de seus derivados
líquidos e gasosos, em especial nos Estados Unidos da América.

3.2.3. Características de ductos terrestres


Os viadutos terrestre subterrâneos são os tipos mais utilizados, são ductos enterrados no
terreno e dessa forma estão mais protegidos contra intempéries e acidentes que possam ser
provocados por veículos, máquinas e por vandalismo. Os tubos ficam enterrados a uma
profundidade média de 1 metro, e em caso de vazamento do material transportado os ductos
estão mais seguros devido à camada de terra que os envolve.

Os ductos são tubulações especialmente desenvolvidas e construídas de acordo com normas


internacionais de segurança, para transportar petróleo e seus derivados, álcool, gás e
productos químicos diversos por distâncias especialmente longas, sendo então denominados
como oleodutos, oleoduto ou poliductos (Colussi, at al, 2018).

O transporte por oleoduto é transporte a longa distância de um líquido ou gás através de um


sistema de tubos, tipicamente a uma área de mercado de consumo. Os dados mais recentes
a partir de 2014 dá um total de pouco menos de 2.175.000 milhas

(3.500.000 km) de oleodutos em 120 países do mundo. Os Estados Unidos tinham 65%, a
Rússia teve 8%, e no Canadá tinham 3%, portanto, 75% de todo o gasoduto foram nestes
três países.

19
Segundo Pipeline and Gas Journal’ os cálculos do levantamento mundial indicam que
118,623 milhas (190.905 km) de condutas são planeadas e em construção. Destes, 88,976
milhas (143.193 km) representam projectos em fase de planeamento e desenho; 29,647
milhas (47,712 km) reflectem ductos em vários estágios de construção. Os líquidos e os
gases são transportados em condutas e qualquer substância quimicamente estável pode ser
enviada através de um oleoduto. Existem oleodutos para transporte de petróleo bruto e
refinado, combustíveis - tais como o óleo, gás natural e biocombustíveis - e outros fluidos
incluindo esgoto, pasta, água, cerveja, água quente ou vapor para distâncias curtas. Ductos
são úteis para o transporte de água para beber ou de irrigação por longas distâncias quando
ele precisa passar montes, os e canais ou são más escolhas devido a considerações de
evaporação, a poluição e impacto ambiental.

3.2.4. Tipos de ductos de acordo com cargas


Nem todo tipo de produto pode ser transportado por este modal. Segundo o COELHO, 2009,
os produtos que são transportáveis por ductos são:

• Petróleo e seus Derivados: Este tipo de carga é transportado por oleodutos.


Seu uso em escala industrial iniciou-se com o transporte de petróleo no século XIV.

• Não Derivados de Petróleo: Algumas cargas não derivadas do petróleo, como


álcool, CO2 (dióxido de carbono) e CO3 (trióxido de carbono), podem ser
transportadas por oleodutos.

• Gás Natural: O gás natural é transportado pelos oleodutos, semelhantes aos


oleodutos, porém com suas particularidades, principalmente no sistema de propulsão
da carga.

• Minério, Cimento e Cereais: O transporte destes materiais é feito por minero


ductos que são tubulações que possuem bombas especiais, capazes impulsionar
cargas sólidas ou em pó. O transporte é efectuado por meio de um fluido portador,
como a água para o transporte do minério a médias e longas distâncias ou o ar para
o transporte de cimento e cereais a curtas distâncias.

20
3.2.5. Classificação de Ductos
Dependendo da substância transportada, os ductos (vias de transporte, linhas tubulares feitas
de aço soldado) são classificados em:

• Gasoduto: transporte de gases, por exemplo, gás natural e dióxido de carbono.

• Oleodutos: transporte de substâncias derivadas e não derivadas do petróleo,


por exemplo: combustível, gasolina, álcool, dentre outros.

• Mineroductos: transporte de minérios, por exemplo, minério de ferro, diesel,


querosene, cimento e sal-gema.

• Carboductos: transporte de carvão mineral.

• Poliductos: transporte de variados produtos, por exemplo, água, cerveja,


vinho.

3.2.6. Vantagens da utilização do transporte através de oleoduto


Gasodutos (e oleoduto) possuem, ambos, pontos fortes de utilização. Ora vejamos:

Permite que grandes quantidades de produtos sejam deslocadas de maneira segura

• Diminuindo o tráfego de cargas perigosas por caminhões, comboios ou por


navios e, consequentemente, diminuindo os riscos de acidentes ambientais.

• Podem dispensar armazenamento;

• Simplificam carga e descarga;

• Diminuem custos de transportes;

• Menor possibilidade de perdas ou roubos.

• Redução do desmatamento;

• Melhoria da qualidade do ar nas grandes cidades;

• Facilidade de implantação,

• Alta confiabilidade, baixo consumo de energia, baixos custos operacionais.

21
3.2.7. Desvantagens na utilização do transporte terrestre por oleoduto
Não obstante as fortes razões para a utilização de oleoduto existem igualmente desvantagens
neste tipo de transporte, nomeadamente:

• Dificuldade de armazenamento;

• Acidentes ambientais;

• Não permitem o armazenamento da energia;

• Dificuldade em se alterar o percurso e a quantidade transportada;

• Destruição do ecossistema para a sua construção;

• Não se pode mudar o percurso em casos de necessidade.

• Considerado um transporte lento (com velocidade de 2 a 8 km/h) em relação


aos outros, além de apresentar pouca flexibilidade de destinos e de produtos.

3.2.8. Principais conceitos do Regulamento de operações petrolíferas da Lei n.º 21/


2014
Parte da legislação dos Petróleos foi aprovada por Lei n." 21/2014, de 18 de Agosto com o
seguinte Preâmbulo: Havendo necessidade de adequar o quadro jurídico-legal da actividade
petrolífera à actual ordem económica do país. Aos desenvolvimentos registados no sector
petrolífero, assegurar a competitividade e a transparência, e salvaguardar os interesses
nacionais, ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 170, conjugado com o artigo 98, ambos
da Constituição, a Assembleia da República determina:

3.2.8.1.Artigo 4.º Papel do Estado


1. O Estado controla a prospecção, pesquisa, produção, transporte,
comercialização, refinação e transformação de hidrocarbonetos líquidos e gasosos e
seus derivados, incluindo actividades de petroquímica e Gás- Natural Liquefeito
(GNL) e Gás para Líquidos (GTL). O Estado pode, ainda, dedicar-se directa ou
indirectamente às actividades complementares ou acessórias às referidas no número
anterior.

2. O Estado, as suas instituições e demais pessoas colectivas de Direito Público


têm uma acção determinante na promoção da avaliação do potencial petrolífero
22
existente, de forma a permitir um acesso- aos benefícios da produção petrolífera e
contribuir para o desenvolvimento económico e social do país.

3. O Governo divulga as potencialidades dos recursos naturais existente, na


consulta e negociação prévia com investidores e as comunidades locais, bem como
na promoção do envolvimento do empresariado nacional nos empreendimentos
petrolíferos.

4. O Estado assegura que parte dos recursos petrolíferos nacionais seja destinada
à promoção do desenvolvimento nacional.

5. O Governo garante o financiamento da Empresa Nacional de


Hidrocarbonetos, Empresa Pública (ENH, EP), seu representante exclusivo, para
investir na melhoria e estabilização da sua participação nos negócios de petróleo e
gás.

3.2.8.2.Artigo 6.º Defesa dos interesses nacionais


Na atribuição de direitos para o exercício de operações petrolíferas ao abrigo da presente
Lei, o Estado assegura sempre o respeito pelos interesses nacionais em relação à defesa,
trabalho, navegação, pesquisa e conservação dos ecossistemas marinhos e demais recursos
naturais, actividades económicas existentes, segurança alimentar e nutricional das
comunidades e ao meio ambiente em geral.

3.2.8.3.Artigo 11.º Envolvimento das Comunidades


1. É obrigatória a informação prévia às comunidades sobre o início da actividade
de pesquisa, bem como da necessidade do seu reassentamento temporário para tal
fim.

2. É obrigatória a consulta prévia às comunidades para a obtenção da


autorização do início da actividade petrolífera.

3. O Governo deve criar mecanismos de envolvimento e; assegurar a


organização e participação das comunidades nas áreas onde se encontram
implantados empreendimentos petrolíferos.

23
3.2.8.4.Artigo 14.º Direitos gerais dos titulares
Os titulares do direito de exercício das operações petrolíferas gozam, entre outros, dos
seguintes direitos:

a) Consultar junto das entidades competentes as informações geológicas


disponíveis do contracto de concessão;

b) Obter a colaboração das autoridades administrativas para a realização dos


trabalhos de campo e para a constituição de servidões de passagem, nos termos da
lei;

c) Construir e implantar as infra-estruturas e as instalações necessárias à


execução das operações petrolíferas;

d) Utilizar, nas condições legais e regulamentares pertinentes, as áreas


demarcadas para a implantação das instalações petrolíferas dos edifícios e
equipamentos;

e) Realizar as actividades geológicas necessárias à execução dos planos


aprovados, sem outras limitações que não sejam decorrentes das normas legais, do
contracto de concessão ou do despacho da entidade que superintende o sector de
petróleo;

f) Extrair, exportar e beneficiar dos recursos petrolíferos objecto do contracto


de concessão, nos termos da lei.

Artigo 17.º Condições para o exercício das operações petrolíferas

1. As operações petrolíferas são exercidas mediante um contracto de concessão


resultante de concurso público, negociação simultânea ou negociação directa.

2. A atribuição de direitos para o exercício de operações petrolíferas ao abrigo da


presente Lei, respeita sempre os interesses nacionais em relação à defesa, navegação,
pesquisa e conservação de recursos marinhos, actividades económicas existentes e ao meio
ambiente em geral.

3.2.8.7. Artigo 26.º Sujeitos

24
1. Podem ser titulares do direito de exercício de operações petrolíferas pessoas
moçambicanas ou pessoas jurídicas estrangeiras registadas em Moçambique, que
comprovem ter competência, capacidade técnica e meios financeiros adequados à condução
efectiva de operações petrolíferas.

2. As pessoas jurídicas estrangeiras que, directa ou indirectamente, detenham ou


controlem pessoas jurídicas que detenham direitos ao abrigo de contractos de concessão,
devem ser estabelecidas, registadas e administradas a partir de uma jurisdição transparente.

3. Os requerentes de direitos para operações petrolíferas, constituídos na forma de


sociedade comercial devem, no acto da submissão do pedido, depositar o documento
comprovativo de constituição da sociedade, incluindo a identificação dos titulares de
participações e o respectivo valor subscrito.

4. Em igualdade de circunstâncias, as pessoas moçambicanas ou as pessoas jurídicas


estrangeiras que se associem com pessoas moçambicanas gozam de direito de preferência
na atribuição de contractos de concessão.

3.3.Outros Conceitos Importantes


● Área de desenvolvimento e produção - a parte da área do contracto de concessão que,
a seguir a uma descoberta comercial tenha sido delineada.

Área do contracto de concessão - área dentro da qual o titular de direitos está autorizado a
conduzir operações petrolíferas.

● Boas práticas da indústria de petróleo - todas aquelas práticas e procedimentos que


são geralmente empregues, na indústria petrolífera internacional, visando a óptima gestão
dos recursos petrolíferos e prudente operações petrolíferas, incluindo a conservação da
pressão, assegurando regularidade das operações petrolíferas e observando os aspectos de
saúde, segurança, preservação do ambiente, eficiência técnica ê económica.

● Contracto de concessão - contracto administrativo mediante o qual o Estado confere


a uma pessoa moçambicana ou pessoa jurídica estrangeira registada em Moçambique o
direito para a realização de operações petrolíferas.

● Depósito de petróleo - uma acumulação de petróleo numa unidade geológica limitada


por rochas características, estruturais ou estratigráficas, com superfícies de contacto entre o
25
petróleo e a água na formação, ou uma combinação destes de tal forma que todo o petróleo
esteja em comunicação sob pressão através de líquido ou gás; ou parte de uma unidade
geológica, tal como xistos betuminosos ou carvão, contendo petróleo, que tenha sido
delineada para efeitos de pesquisa e produção de petróleo.

● Descoberta - primeiro petróleo encontrado numa estrutura geológica através de


perfuração, que é recuperável à superfície por métodos empregues indústria petrolífera.

● Desenvolvimento - actividades de planificação, preparação, construção, instalação


de uma ou mais infra-estruturas para a produção de petróleo, incluindo a abertura de poços
para a condução de operações petrolíferas.

Desmobilização - actividades de planificação, preparação e implementação das actividades


de encerramento das operações petrolíferas, incluindo o término do uso das infra-estruturas
e a remoção e disposição.

● Gás natural - petróleo que nas condições atmosféricas normais se encontra no estado
gasoso, bem como gás não convencional, incluindo gás metano associado ao carvão e gás
de xistos betuminosos.

● Infra-estrutura - instalações, incluindo plataformas, instalações de liquefacção,


fábricas ou barcos e outros equipamentos destinados à realização de operações-petrolíferas,
excluindo navios de fornecimento e apoio, navios e veículos que transportam petróleo a
granel. Salvo de outro modo definido, infra-estrutura também inclui cabos ou oleodutos e
gasodutos.

● Jurisdição transparente - entende-se como sendo aquelas jurisdições em que o


Governo de forma independente possa verificar a titularidade, gestão

e controlo, situação fiscal de tal pessoa jurídica estrangeira que pretende participar ou
participa nas operações petrolíferas.

● Operações petrolíferas – planificação, preparação e implementação das actividades


de reconhecimento, pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenagem, transporte,
cessação de tais actividades ou o término do uso de infra-estruturas, incluindo a
implementação do plano de desmobilização, venda ou entrega de petróleo até ao ponto de
exportação ou fornecimento estipulado, sendo este ponto, o ponto. Onde o petróleo é
26
entregue para o consumo ou uso, ou carregado como mercadoria, incluindo na forma de gás
natural liquefeito.

● Pesquisa - actividades de reconhecimento, bem como outras operações petrolíferas e


uso de infra-estruturas na medida em que o referido uso se destina à descoberta de petróleo
e a avaliação da descoberta, incluindo a perfuração.

● Pessoa colectiva nacional - a que esteja registada em Moçambique c tenha a sede e


direcção efectiva em território nictófila, cujo capital seja maioritariamente.

● Pessoa moçambicana -qualquer pessoa jurídica constituída e registada nos termos da


legislação moçambicana, com sede no país, e na qual o respectivo capital social pertença em
mais de cinquenta e um por cento ou controlada por cidadãos nacionais ou sociedades ou
instituições, privadas ou públicas, moçambicanas.

● Pessoa singular nacional - pessoa singular de nacionalidade moçambicana. Petróleo


- petróleo bruto, gás natural ou outras concentrações naturais de hidrocarbonetos, no estado
físico em que se encontrem no subsolo, produzidos ou capazes de serem produzidos a partir
de ou em associação com o petróleo bruto, gás natural, betumes e asfaltos.

● Petróleo bruto - petróleo mineral bruto, asfalto, ozocerite e todos os tipos de petróleo
e betumes, no seu estado natural quer sólido ou líquido, ou obtidos a partir do gás natural
por condensação ou extracção, excluindo o carvão ou qualquer substância susceptível de ser
extraída do carvão.

Plano de desenvolvimento - documento contendo as opções de desenvolvimento de um


depósito de petróleo, o cronograma de actividades e a previsão de custos para a produção de
petróleo descoberto numa área de contracto de concessão e a construção, implantação e
operação de infra-estruturas necessárias.

● Plano de desenvolvimento de infra-estruturas - documento contendo o cronograma


de actividades e a previsão de custos para a construção,

Implantação e operação de infra-estruturas, quando tais actividades e previsão de custos, não


estejam cobertas por um Plano de Desenvolvimento. Plano de desenvolvimento de oleoduto
ou gasoduto documento contendo o cronograma de actividades e a previsão de custos para a
construção, implantação e operação de um sistema de oleoduto ou gasoduto.
27
● Plano de desmobilização - documento contendo as opções de encerramento das
operações petrolíferas, reutilização ou remoção e recolha das infra-estruturas, incluindo o
cronograma de actividades e previsão de custos.

● Produção - actividades de extracção de petróleo dos depósitos de petróleo no subsolo,


incluindo a perfuração para a produção de petróleo, injecção para melhoramento da
recuperação, separação e tratamento incluindo liquefacção, armazenagem, medição,
preparação para o carregamento e transporte de petróleo a granel e operação e uso das infra-
estruturas para produção de petróleo.

● Produtos Petrolíferos - são os derivados e resíduos da refinação ou processamento de


petróleo, tais como: propano, butano e suas misturas, também designados por gases de
petróleo liquefeitos (GPL), gasolinas auto, gasolinas de aviação (vagas), nafta, petróleo de
iluminação, petróleo de aviação, gasóleo, óleos combustíveis, óleos e massas lubrificantes,
parafinas, solventes, produtos betuminosos e quaisquer outros produtos análogos com outras
designações e origens que possam ter a mesma utilização, incluindo produtos sintéticos, e
ainda o gás natural comprimido (GXC) e outros combustíveis gasosos destinados
exclusivamente a uso como carburante, excluindo os biocombustíveis-puros.

● Reconhecimento - actividades geo-científicas e geotécnicas incluindo perfurações há


profundidades limitadas, que permitem a avaliação preliminar do potencial de petróleo de
uma área, incluindo aquisição e interpretação de informação, amostras e dados.

● Sistema de oleoduto ou gasoduto - oleoduto (s) ou gasoduto (s), incluindo estações


de válvulas, estações de compressão ou bombagem e quaisquer infra-estruturas agregadas,
construídas para o transporte de petróleo, excluindo as condutas de recolha de fluxo dos
poços ou condutas de distribuição de petróleo bruto, gás natural ou produtos petrolíferos.

● Transporte - actividades relacionadas com o transporte de petróleo através de um


sistema de oleoduto ou gasoduto, a granel por navios, ou veículos.

● Meio ambiente: é o conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem


física, química e biológica que permite a vida em todas as suas formas (Serra, 2007).

28
● Impacto ambiental é qualquer mudança no ambiente, para o melhor ou para o pior,
especialmente com efeitos no ar, na terra, na água, e na saúde das pessoas, resultante de
actividades humanas, segundo (Tankarat, 2012).

● Avaliação do impacto ambiental: instrumento de gestão ambiental preventiva e que


consiste na identificação e análise prévia qualitativa e quantitativa dos efeitos ambientais
benéficos e perniciosos de uma actividade proposta;

3.4. Origem e Composição do Gás Natural


O gás natural é originado pela degradação da matéria orgânica (restos de vegetais, algas e
animais) por bactérias anaeróbias em camadas muito profundas da crosta terrestre ou abaixo
dela. Foi sendo formando com o passar de milhões de anos, junto com o processo natural de
formação do planeta.

A matéria orgânica proveniente de vegetais, de natureza seca, alcança maiores profundidades


e sofre maior aquecimento transformando-se em carvão mineral, xisto e metano. Enquanto
que os restos de algas e animais, de natureza gordurosa, não passam por esse cozimento
gradual e originam o petróleo.

Nos estágios finais de degradação dessa matéria gordurosa, o petróleo transforma-se em um


condensado volátil associado aos hidrocarbonetos gasosos, entre os quais predomina o
metano. Por isso é comum encontrar o gás associado ao petróleo, chamado gás natural
associado. Quando há pouca ou nenhuma quantidade do petróleo, é dito gás natural não
associado.

3.4.1. Composição
O gás natural bruto tem composição definida por uma série de factores naturais durante o
seu processo de formação e as condições de acumulação nos reservatórios subterrâneos. Isso
varia com a localização do reservatório (terra ou mar), do tipo de solo, da geologia do solo,
entre outros factores. Os componentes determinam aspectos como a densidade e o poder
calorífico do gás.

O gás natural não associado possui maiores teores de metano, e na forma associada ao
petróleo contém quantidades significativas de etano, propano, butano e hidrocarbonetos mais
pesados. Fazem parte da composição também gases como dióxido de carbono (CO2),

29
nitrogénio (N2), hidrogénio sulfurado (H2S), água, ácido clorídrico (HCl) e impurezas
mecânicas.

A composição do gás natural que é comercializado varia de acordo com a finalidade a que
se destina. Para adquirir características adequadas para ser comercializado, o gás natural
bruto passa por unidades de processamento, onde são retiradas impurezas e separados os
hidrocarbonetos pesados. Alguns exemplos de produtos comercializados são: gás natural
(com predomínio de metano ou propano ou etano), gasolina natural (butano), diesel (octano),
querosene (tetro decano), entre outros.

3.4.2. Utilização
Representa um ótimo combustível com diversas aplicações em automóveis e residências,
comércios e indústrias, para prover eletricidade e calor. É também utilizado como matéria-
prima na indústria petroquímica (plásticos, tintas, fibras sintéticas e borracha) e de
fertilizantes (transformado em ureia, amónia e derivados). Na geração de energia eléctrica,
tem sido bastante empregado nas termeléctricas e em indústrias.

3.4.3. Vantagens e Desvantagens


O gás natural é uma fonte não-renovável, que foi formada por milhões de anos nos
reservatórios subterrâneos do planeta. Seu processo de produção, desde a exploração,
processamento até o transporte pode gerar grandes impactos no ambiente, como
derramamentos de navios petroleiros, vazamentos em plataformas e gasodutos. Tem também
a desvantagem de ter contaminantes altamente tóxicos que tem de ser eliminados no processo
de refinamento.

Além disso, há os problemas gerados por seu uso nas usinas termeléctricas, em especial a
necessidade de um sistema de resfriamento, causando desperdício de água, e as emissões de
poluentes atmosféricos: dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogénio (NOx) e, em menor
escala, monóxido de carbono e alguns hidrocarbonetos de baixo peso molecular, inclusive
metano, devido à combustão incompleta.

Por outro lado, apresenta algumas vantagens ambientais como fonte energética, se
comparado com outros combustíveis fósseis (carvão mineral e derivados de petróleo), a
saber:

30
• possui menos contaminantes que outras fontes de energia, como o óleo diesel que
produz emissões de óxido de enxofre, fuligem e materiais particulados;
• produz uma combustão mais limpa, com menor quantidade de emissões de CO2 por
unidade de energia gerada (cerca de 20 a 23% menos do que o óleo combustível e 40
a 50% menos que o carvão);
• contribui para a redução do desmatamento ao substituir a lenha;
• maior facilidade de transporte e manuseio, se comparado com o GLP (gás liquefeito
de petróleo), que exige grande infra-estrutura;
• não requer estocagem, eliminando os riscos do armazenamento de combustíveis;
• proporciona maior segurança em caso de vazamento, porque é mais leve do que o ar
e se dissipa rapidamente pela atmosfera, favorecendo o uso doméstico.

3.5.Histórico do Gás natural


O gás natural é conhecido pela humanidade desde os tempos da antiguidade. Em lugares
onde o gás mineral era expelido naturalmente para a superfície, povos da antiguidade como
persas, babilónicos e gregos construíam templos onde mantinham aceso o "fogo eterno".
Um dos primeiros registros históricos de uso económico ou socialmente aproveitável do gás
natural, aparece na China, nos séculos XVIII e XIX. Os chineses utilizaram locais de escape
de gás natural mineral para construir alto-forno destinados à cerâmica e metalurgia de forma
ainda rudimentar.

No século XIX, o gás natural foi normalmente obtido como subproduto da produção do
petróleo. Nessa época, o gás natural não era muito utilizado, e toda sua produção indesejada
se tornava um grande problema de descarte para as usinas de petróleo.

O gás natural passou a ser utilizado em maior escala na Europa no final do século XIX, com
a invenção do queimador Bunsen, em 1885, que misturava ar com gás natural e com a
construção de um gasoduto à prova de vazamentos, em 1890.

Porém as técnicas de construção de gasodutos eram incipientes, não havendo transporte de


grandes volumes a longas distâncias, consequentemente, era pequena a participação do gás
em relação ao óleo e ao carvão. Entre 1927 e 1931, já existiam mais de 10 linhas de
transmissão de porte nos Estados Unidos, mas sem alcance interestadual, no final de 1930
os avanços da tecnologia já viabilizavam o transporte do gás para longos percursos.

31
O grande crescimento das construções pós-guerra, durou até 1960, foi responsável pela
instalação de milhares de quilómetros de gasodutos, dados os avanços em metalurgia,
técnicas de soldagem e construção de tubos. Desde então o gás natural passou a ser utilizado
em grande escala por vários países, dentre os quais podemos destacar os Estados
Unidos, Canadá, Japão além da grande maioria dos países Europeus, isso se deve
principalmente as inúmeras vantagens económicas e ambientais que o gás natural apresenta.

3.6.O gás natural em Moçambique


A exploração de hidrocarbonetos em Moçambique remota ao século XX, a data dos
primórdios dos anos 1900 com a descoberta de bacias sedimentares bastante espessas na
parte continental de Moçambique.

No ano de 1900, primeiras pesquisas foram realizadas em busca de recursos petrolíferos,


desde 1904 aos dias actuais, descobertas significativas de recursos petrolíferos são realizadas
por empresas que actuam no ramo de exploração de recursos petrolíferos (Instituto Nacional
de Petroleo, 2018).

A partir de 1948, diversas companhias estrangeiras escalam Moçambique, tendo começado


a levar a cabo os trabalhos de pesquisa de hidrocarbonetos principalmente nas áreas onshore
(continente). Como resultado desta pesquisa, foi a descoberta do campo de gás de pande em
1961 pela companhia Gulf, onde se seguiram as descobertas de Buzi em 1962 e a descoberta
de temane em 1967 (Instituto Nacional de Petroleo, 2018).

Por motivos de problemas políticos que o pais enfrentou após a independência houve uma
pausa nas actividades de pesquisas de hidrocarbonetos até os princípios da década 90.

No ano de 2000 a conhecida empresa Sul Africana Sasol assumiu um compromisso por 25
anos de comprar inicialmente 120 MGJ por ano de gás natural para o consumo próprio e
comercialização na Africa do Sul. Este compromisso permitiu viabilizar o projecto de
produção de gás natural a partir dos jazidos de Pande e Temane e a construção de um
gasoduto com extensão de 865 km para transportar o gás produzido de Temane
(Moçambique) para Secunda (África do Sul).

32
3.6.1. Projecto Mozambique LNG
O Projecto Mozambique LNG iniciou com a descoberta de uma vasta quantidade de gás
natural na costa norte de Moçambique em 2010, levando a uma Decisão Final de
Investimento de US $ 20 bilhões em 2019. Agora, por meio de cooperação e planificação
responsável do projecto, o projecto encontra-se no caminho certo para entregar o primeiro
GNL em 2024.

Por enquanto, os planos para os aproximadamente 65 trilhões de pés cúbicos de gás natural
recuperável incluem um projecto de duas unidades de liquefacção com capacidade de
expansão para até 43 milhões de toneladas por ano (MTPA).

O Projecto é operado pela TotalEnergies - o segundo maior interveniente de GNL do mundo,


com uma presença líder em África - que é qualificada de forma única para garantir que o
Projecto Mozambique LNG ajude a responder à crescente procura mundial de fontes de
energia sustentável, confiável e limpa.

O Projecto está comprometido em colaborar com as comunidades moçambicanas e


funcionários do governo para desenvolver com segurança esses recursos de maneira a
proteger o meio ambiente, incentivar o investimento estrangeiro adicional e contribuir para
a estabilidade social e económica a longo prazo do país.

O Projecto Mozambique LNG trará uma série de benefícios sociais e económicos a


Moçambique. (TotalEnergy, 2021)A sua localização geográfica posiciona bem o projecto
para responder às necessidades do mercado do Atlântico e da Ásia-Pacífico, além de explorar
as crescentes procuras de energia do Médio Oriente e do subcontinente indiano.

A curto prazo, a construção das instalações de GNL oferecerá oportunidades de formação


profissional, emprego e contractos para o fornecimento de bens e serviços. Igualmente, a
fase de construção gere impactos ambientais e sociais e reduz riscos.

A médio e longo prazo, o Projecto Mozambique LNG é fundamental para diversificar as


actividades económicas de Moçambique. O projecto ajudará a:

• Desenvolver forças de trabalho de construção e operação competentes;


• Desenvolver especialistas na área que apoiam esses sectores; e
• Gerar receita que contribuirá para o desenvolvimento socioeconómico do país.

33
3.7.Exploração do gás
Habitualmente, os investimentos em exploração são realizados anos antes do início de
produção, pelo que é essencial existir, pelo menos, um cenário que a produção prevista
justifica o investimento realizado.

Durante a fase de exploração é estudado o historial geológico da área e a probabilidade de


ocorrência de hidrocarbonetos quantificada. A preparação de um programa de trabalhos e
estudos magnéticos, gravimétricos e sísmicos é igualmente efectuada.

Figura 1. Localização e Exploração do Gás Natural.


3.7.1. Prospecção
Na prospecção de jazigos de petróleo e gás utilizam-se, entre outros, métodos geofísicos
como, por exemplo, os métodos sísmicos que permitem investigar a estrutura da terra em
profundidade. No caso de se efectuar a prospecção em terra, podem usar-se equipamentos
que produzem sismos de pequena intensidade.

34
Figura 2. Método sísmico.
3.7.2. Perfuração
Quando os estudos sugerem a existência de uma jazida de petróleo de dimensão económica
faz-se uma sondagem de pesquisa. Para isso monta-se numa plataforma adequada uma sonda
capaz de fazer furos no subsolo até grandes profundidades.

3.7.3. Produção
A fase de produção começa assim que as primeiras quantidades de hidrocarbonetos
comercializáveis (primeiro óleo ou primeiro gás) começam a fluir na cabeça do poço.

Tipicamente a fase de produção tem três fases distintas:

1. Fase de ramp-up, com o início de produção dos primeiros poços;

2. Fase de plateau: nesta fase as instalações de produção estão a funcionar em plena


capacidade, com uma taxa de produção constante;

3. Fase de declínio, geralmente a fase mais longa, durante a qual todos os poços
entraram em decréscimo da produção.

35
Figura 3. Unidade de Processamento do Gás Natural.
3.7.4. Segurança nas Plataformas de Petróleo
As grandes plataformas de petróleo possuem uma série de peculiaridades no que se refere à
segurança, tais como:

• Produção e armazenamento de óleo e gás à alta pressão.


• Perfuração de poços e obras em grandes profundidades.
• Operação distante da costa e com certo grau de autonomia.
• Fornecimento de energia eléctrica, compressores, bombas, água, alimentação e
alojamento das tripulações que não raro ultrapassam 200 funcionários embarcados
ao mesmo tempo.
• Logística de transporte de pessoas e cargas, de e para a costa, em barcos ou
helicópteros.
• Serviço médico de prontidão e toda uma estrutura de botes salva-vidas, entre outros
meios de salvamento.

3.7.5. Principais Riscos


• Perfuração e produção: contaminação ou intoxicação pelo mortífero gás
sulfídrico, por hidrocarbonetos voláteis ou outros gases, podendo
causar narcose, asfixia e irritação.

36
• Transporte: emissão de gases e vapores durante as transferências através de
oleodutos ou navios-tanque às refinarias, além de riscos mecânicos e físicos, como
derivados de vazamentos, explosões e incêndios.

• Refino: exposição a enxofre, monóxido de carbono, nitrogénio,


hidrocarbonetos, gases inertes, entre outros. Somente ocorre combustão quando há
contacto entre comburente (oxigénio), combustível (vapor de hidrocarboneto) e
alguma fonte de ignição (faísca ou centelha).
Seja petróleo, gasolina, lubrificante, parafina ou graxa, os compostos
encontrados nas plataformas de petróleo ou refinarias não se inflamam em estado
líquido ou sólido. Mas podem inflamar no estado gasoso, ou no caso de uma mistura
de vapor e líquido. O problema é eliminar as fontes de ignição desses ambientes,
levando todos os esforços a eliminar o ar e o oxigénio de onde eles estão. Por isso,
processos que precisam misturar oxigénio ou ar a combustível devem ser realizados
em ambientes com condições rigorosamente controladas.

• Distribuição: há riscos de doenças de pele e dermatites por contacto físico com


os desengordurantes dos combustíveis ou lubrificantes.

Estudos indicam que entre as actividades com maior número de óbitos em plataformas
de petróleo, predominam as de perfuração. Em seguida, as de produção e depois as
de reparo e construção.

Entre os acidentes mais frequentes figuram incêndios, explosões e colapsos estruturais.

3.7.6. Riscos Específicos


Os riscos das plataformas de petróleo por vezes assemelham-se ao
das refinarias e unidades de produção de energia. Mas também há factor além-mar e o
de sistemas de isolamento, que acarretam riscos mais específicos.

Por sua distância da costa, um agravante é a dificuldade de evacuação e o pouco tempo que
se tem para isso. E estando no mar, sempre se está sujeito às intempéries
do clima. Condições meteorológicas desfavoráveis podem implicar na segurança dos
frequentes transportes.

37
Outro factor complicador está no fato de algumas plataformas de petróleo trabalharem
com funcionários subcontratados que nem sempre trabalham no mesmo local e/ou
realizam a mesma actividade, em um trabalho em que a rotina é fundamental para a
segurança.

3.8.Transporte de Gás Natural


A indústria de gás natural, assim como outros sectores de infra-estrutura, é um exemplo de
indústria de rede. Esse tipo de indústria é caracterizado pela presença de distintas actividades
constituídas sob a forma de uma rede física, na qual a interconexão é essencial à sua operação
e prestação do serviço. Geralmente, dentre os distintos segmentos da cadeia de uma indústria
de infra-estrutura, algumas das actividades são potencialmente concorrenciais e outras são
naturalmente monopódicas.

O transporte de gás natural é um monopólio natural. Sua organização sob a forma de


monopólio é a estrutura de mercado mais eficiente para o desenvolvimento da
actividade. Na prática, isso significa que o agente prestador do serviço de transporte será
um monopolista o qual deve ser regulado.

Ela é feita por meio de gasodutos que cortam o subsolo de cidades e regiões a fim de levar
o gás natural da sua fonte até as estações de distribuição. O gás natural é composto
por hidrocarbonetos leves como o etano, metano, butano, propano e outros. As jazidas
naturais que encontramos geralmente estão associadas ao petróleo, porém, em comparação
com ele o gás natural é uma fonte energética mais limpa e que apresenta um custo menor.

Por isso tem sido utilizado como combustível para veículos, aplicado nas indústrias para a
geração de electricidade, como fonte de calor ou de força motriz. Há casos em que é matéria-
prima no sector químico, de fertilizantes e petroquímico. Em residências é utilizado
como fonte de calor com o intuito de aquecer a água ou ambientes.

Mas, diferentemente de como acontece com o gás de cozinha (GLP) o natural não é estocado.
Então, para que ele chegue até o destino final é preciso utilizar tubulações que o levem de
suas jazidas ou pontos de produção até as estações. Esse conjunto de tubulações é chamado

38
de gasoduto, um sistema exclusivo para fazer o transporte do gás natural de um lugar para
outro.

Os gasodutos são subterrâneos e construídos com tubos de diâmetro elevado com


capacidade para operar em alta pressão. Eles também recebem um tratamento especial para
evitar a corrosão com o intuito de aumentar a sua vida útil e tornar o sistema ainda mais
seguro.

Figura 4. Transporte de Gás Natural por meio marítimo (navio).


3.8.1. Riscos em gasodutos
Segundo (SCHAFER, 2006), quando uma linha de ductos é instalada em uma dada região,
é introduzido um perigo que não existia previamente. Factores externos provenientes da
acção humana ou da natureza, falhas de equipamentos e erros de projecto são exemplos de
causas potenciais de acidentes em gasodutos. O carácter probabilístico da ocorrência de
cenários acidentais e os diferentes tipos de consequências resultantes destes cenários
caracterizam os riscos envolvidos no abastecimento, transporte e distribuição de gás natural
por meio de ductos.

O factor risco é compreendido de maneira geral a partir da associação de dois conceitos:


probabilidade e consequências, sendo calculado estatisticamente (CORTELETTI, 2009.)
Segundo (BAUMAN, 1997. ), uma vez que as determinações de risco são baseadas em

39
probabilidades matemáticas, o risco poder ser determinado. A conexão entre risco e perigo
é chamada de evento, ou seja, uma situação em que alguém ou algo fica exposto ao perigo.
Por exemplo, uma panela com água fervente constitui um perigo e não risco, uma vez que
pode causar dano a algo ou ferimento a alguém que esteja exposto. Já um evento,
considerando que uma pessoa esbarre e derrube a panela, pode levar à estimativa da
probabilidade e severidade e, assim, ao risco. Portanto, só existe risco quando existir algo
ou alguém que esteja exposto a um perigo (KIRCHHOFF, 2004)

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO E APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

4. Exploração de gás natural


A exploração é a etapa inicial dentro da cadeia de gás natural, consistindo em duas fases. A
primeira fase é a pesquisa onde, através de testes sísmicos, verifica-se a existência em bacias
sedimentares de rochas reservatórias (estruturas propícias ao acúmulo de petróleo e gás
natural). Caso o resultado das pesquisas seja positivo, inicia-se a segunda fase, e é perfurado
um poço pioneiro e poços de delimitação para comprovação da existência de gás natural ou
petróleo em nível comercial e mapeamento do reservatório, que será encaminhado para a
produção.

40
Os reservatórios de gás natural são constituídos de rochas porosas capazes de reter petróleo
e gás. Em função do teor de petróleo bruto e de gás livre, classifica-se o gás, quanto ao seu
estado de origem, em gás associado e gás não-associado.

• Gás associado: é aquele que, no reservatório, está dissolvido no óleo ou sob a forma
de capa de gás. Neste caso, a produção de gás é determinada basicamente pela
produção de óleo. Boa parte do gás é utilizada pelo próprio sistema de produção,
podendo ser usada em processos conhecidos como reinjeção e gás lift, com a
finalidade de aumentar a recuperação de petróleo do reservatório, ou mesmo
consumida para geração de energia para a própria unidade de produção, que
normalmente fica em locais isolados.
• Gás não-associado: é aquele que, no reservatório, está livre ou em presença de
quantidades muito pequenas de óleo. Nesse caso só se justifica comercialmente
produzir o gás

4.1. Produção
Com base nos mapas do reservatório, é definida a curva de produção e a infra-estrutura
necessárias para a extracção, como boa parte do gás é utilizada pela própria unidade de
produção é verificada a viabilidade de se comercializar o excedente de gás, caso a
comercialização do gás não seja viável, normalmente pelo elevado custo na implantação de
infra-estrutura de transporte de gás, o excedente é queimado.

Nos anos 1990 foi desenvolvido o fracking (fracturamento hidráulico) método que utiliza
uma mistura de água, areia e produtos químicos injectada no solo para extrair gás de xisto
dos poros das rochas. (Earthworksaction, 2017) Este processo é economicamente vantajoso
mas, encontra resistências, uma vez que seu uso pode causar danos ao meio ambiente.
(Ecycle, 2021) Um aperfeiçoamento deste método, o denominado "re-fracking", surge como
alternativa ambientalmente segura para a exploração deste gás e de outros combustíveis
fósseis. (Mateus.A, 2014)

41
4.2.Condicionamento
É o conjunto de processos físicos ou químicos aos quais o gás natural é submetido, de modo
a remover ou reduzir os teores de contaminantes para atender as especificações legais do
mercado, condições de transporte, segurança, e processamento posterior.

O gás natural pode ser armazenado na forma líquida à pressão atmosférica. Para tanto os
tanques devem ser dotados de bom isolamento térmico e mantidos à temperatura inferior ao
ponto de condensação do gás natural. Neste caso, o gás natural é chamado de gás natural
liquefeito ou GNL.

4.3.Processamento
• Refrigeração simples;
• Absorção refrigerada;
• Turbo expansão;
• Expansão Joule-Thompson (JT).

4.4.Transporte
• Gás Natural Comprimido (GNC);
• Gasodutos;
• Gás Natural Liquefeito.

4.5.Comercialização
Gazprom (Rússia): 179,7 bilhões de euros

EDF (França): 135,2 bilhões de euros

EON (Alemanha): 85 bilhões de euros

Suez GDF (França): aproximadamente 71 bilhões, contando o polo ambiental, calculado


pelos analistas em 20 bilhões de euros

Iberdrola (Espanha): 51,3 bilhões (após a compra da Scottish Power)

Enel (Itália): 47,1 bilhões (prestes a comprar Endesa com Acciona)

RWE (Alemanha): 46,0 bilhões de euros

Endesa (Espanha): 42,2 bilhões de euros

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BG Group (antiga British Gas): 39,5 bilhões

Exelon (Estados Unidos): 34,6 bilhões de euros

4.6. Distribuição
A distribuição é a última etapa, quando o gás chega ao consumidor, que pode ser residencial,
comercial, industrial (como matéria-prima, combustível e redutor siderúrgico) ou
automotivo. Nesta fase, o gás já deve estar atendendo a padrões rígidos de especificação e
praticamente isento de contaminantes, para não causar problemas aos equipamentos onde
será utilizado como combustível ou matéria-prima. Quando necessário, deverá também estar
odorizado, para ser detectado facilmente em caso de vazamentos.

4.7.Riscos
Risco é a probabilidade de um evento acontecer, seja ele uma ameaça, quando negativo, ou
oportunidade, quando positivo. É o resultado obtido pela efectividade do perigo.

4.7.1. Tipos de riscos


a) Riscos de acidentes: Qualquer factor que coloque o trabalhador em situação
vulnerável e possa afectar sua integridade, e seu bem-estar físico e psíquico. São
exemplos de risco de acidente: as máquinas e equipamentos sem protecção,
probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado, armazenamento
inadequado
b) Riscos ergonómicos: Qualquer factor que possa interferir nas características
psicofisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afectando sua saúde. São
exemplos de risco ergonómico: o levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho,
monotonia, repetibilidade, postura inadequada de trabalho
c) Riscos físicos: Consideram-se agentes de risco físico as diversas formas de energia
a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, calor, frio, pressão,
humidade, radiações ionizantes e não-ionizantes, vibração.
d) Riscos químicos: Consideram-se agentes de risco químico as substâncias,
compostos ou produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador pela via
respiratória, nas formas de poeiras, fumos gases, neblinas, névoas ou vapores, ou que
seja, pela natureza da actividade, de exposição, possam ter contacto ou ser absorvido
pelo organismo através da pele ou por ingestão.

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e) Riscos biológicos: Consideram-se como agentes de risco biológico as bactérias,
vírus, fungos, parasitas, entre outros.

4.7.2. Classificação dos riscos


• Grupo I - Riscos Físicos
Nesta categoria se enquadram os riscos considerados físicos, como Frio, Calor, Radiação
ionizante, humidade, Ruídos (sons) e outras actividades físicas que possam vir a atrapalhar
a saúde do trabalhador.

• Grupo II - Riscos Químicos


São riscos oferecidos devido às características químicas dos factores, como Gases tóxicos,
Fumos poluentes, Poeiras, Vapores e substâncias tóxicas e venenosas, de um modo geral.

• Grupo III - Riscos Biológicos


São riscos ocasionados por agentes vivos, principalmente em laboratórios e ambientes de
pesquisa científica, ou que fazem uso de agentes biológicos, como Farmácias, Hospitais,
Empresas e Indústrias de Cosméticos.

Os principais agentes que oferecem esses riscos são Vírus, Fungos, Bactérias, Germes etc.

• Grupo IV - Riscos Ergonômicos


São problemas ocasionados á má postura do trabalhador, movimentos errados, excesso de
trabalho ou esforço, acções repetitivas etc.

• Grupo V - Riscos de Acidentes

44
GRUPO I: GRUPO II: GRUPO III: GRUPO IV: GROPO V:

VERDE VERMELHO MARROM AMARELO AZUL

Riscos Físicos Riscos Riscos Riscos Riscos de


Químicos Biológicos Ergonómicos Acidentes

Ruídos Poeiras Vírus Esforço físico Arranjo físico


intenso inadequado

Vibrações Fumos Bactérias Levantamento e Máquina e


transporte manual equipamentos
de peso sem protecção

Radiações Neblinas Protozoários Exigências de Ferramentas


ionizantes postura inadequadas
inadequada ou defeituosas

Radiação não - Gases Fungos Controle rígido de Iluminação


ionizantes produtividade inadequada

Frio Vapores Parasitas Imposição de Electricidade


ritmos excessivos

Calor Substâncias Bacilos Trabalhos em Probabilidade


compostas ou turno diurno e de incêndio ou
produtos nocturno explosão
químicos em
geral

Pressões - - Jornada de Armazenamen


anormais trabalho to inadequado
prolongada

Humidade - - Monotonia a Animais


repetibilidade peçonhentos

45
- - - Outras situações Outras
causadoras de situações de
estresse físico risco que
e/ou psíquico poderão
contribuir para
ocorrência de
acidentes

Tabela 1. Classificação de riscos. Fonte: Hokstad & Steiro (2006)


São riscos geralmente iminentes de acidentes, como trabalho em ambiente com Corrente
eléctrica, tensão, animais perigosos, máquinas pesadas, ferramentas velhas e defeituosas, de
entre outros factores que podem ocasionar todo e qualquer tipo de acidente.

A seguir, para auxiliar nos seus estudos e elaboração de um mapa de risco apresenta – se,
uma tabela de classificação dos riscos ambientais, amplamente usada em cursos, empresas e
indústrias:

4.8.Avaliação de riscos
De acordo com a Society of Risk Analysis ( (SRA, 2021), risco é definido como o potencial
de realização de consequências adversas inesperadas à vida humana, à saúde, às
propriedades ou ao meio ambiente, sendo a estimação desse risco geralmente baseada no
valor esperado da consequência, obtido pela integração da distribuição de probabilidade
condicional de um evento vezes os valores das consequências deste evento, dado que ele
ocorreu.

Esta definição está próxima da definição clássica de risco da Teoria da Decisão, que envolve
a avaliação de probabilidades e utilidades das consequências esperadas de determinada
acção ou evento (CAMPELLO DE SOUZA, 2005). Da mesma forma, (HOKSTAD &
STEIRO, 2006) tratam o termo “risco” como a possibilidade de todos os eventos
indesejáveis e condições que podem futuramente ocorrer (ver Tabela 2), relacionadas com
as actividades humanas; ou seja, a possibilidade de uma futura perda de valores humanos,
como a própria vida humana, natureza, produção, informação, entre outros. A avaliação, a
gestão e a comunicação dos riscos constituem o processo de Análise de Risco (STRAUB &
FABER, 2002)apud (KHAN, SADIQ, & HADDARA, 2004).

46
(MACGILL & SIU, 2005) afirmam que as características de complexidade, conflito,
dinamicidade e incerteza devem ser consideradas fundamentais ao caracterizar a natureza da
problemática envolvida nas questões contemporâneas que envolvam risco. A complexidade
deriva em parte da natureza multidimensional do risco, tipicamente envolvendo dimensões
técnicas, económicas, sociais, de saúde e ecológicas, sendo reflectida e composta pela
presença de múltiplos actores (pesquisadores, agências regulatórias, instituições públicas e
privadas, a média e o público em geral) e pela tendência de conflito de preferências entre
eles. A integração destes factores introduz novas formas de incerteza e, portanto, existe certo
trade-off entre tal integração e a inclusão de incertezas (ASSMUTH, 2008)

A gestão de riscos associados às actividades potencialmente perigosas mantem-se um tópico


de profundo interesse técnico e público. Em particular, a avaliação de riscos vem sendo
tratada a partir de várias abordagens descritas na literatura, quantitativas e/ou qualitativas.
Na identificação de factores e subfactores de risco, por exemplo, (DEY, TABUCANON, &
ONGULANA, 1996) citam a possibilidade de uso de várias técnicas, desde simples
entrevistas e aplicação da experiência do analista até o uso da técnica DELPHI.
(MELCHERS, 2001.)discute uma abordagem bastante conhecida denominada ALARP
(sigla em inglês para a sentença “tão baixo quanto razoavelmente praticável”), que trabalha
com regiões de risco aceitáveis, inaceitáveis, negligenciáveis e razoavelmente praticáveis.
Embora de fácil entendimento, uma abordagem baseada no ALARP pode apresentar-se
inapropriada, sobretudo devido à falta de um tratamento mais estruturado quanto à
subjectividade na definição das regiões de risco. Khan et al (2004) apresentam uma
metodologia para avaliação de riscos na inspecção e manutenção de forma agregada,
utilizam conceitos de tomada de decisão multiobjectivo e lógica fuzzy. Segundo Khan et al
(2004), instalações reais de engenharia não podem ser projectadas e operadas com
suposições de não existência de riscos. Níveis de risco aceitáveis são identificados,
considerando que nem toda falha resultará numa consequência grave e que incidentes que
ocasionem consequências muito sérias apenas ocorrem com uma baixa probabilidade.

4.8.1. Avaliação de risco em gasodutos


Mesmo dependente de uma grande estrutura de transporte, a utilização do gás natural é
bastante ampla, Moçambique e no exterior, principalmente em aplicações industriais e
comerciais, uso residencial, uso automotivo, geração de energia e recuperação secundária de

47
petróleo. Em Moçambique, o abastecimento, transporte e distribuição de gás natural
ocorrem, em sua maioria, por meio da malha de gasodutos; malha esta em inevitável
expansão. Nesse contexto, a transmissão e distribuição de gás natural envolvem diversos
cenários de riscos em gasodutos, resultantes dos diversos ambientes onde a cadeia produtiva
do GN está inserida

No tocante aos cenários de riscos acima mencionados, a literatura descreve várias formas de
avaliação e agregação das diferentes dimensões de risco em gasodutos (Khan et al, 2004).
Tais formas dependem fundamentalmente do sistema de valores do decisor (ou entidade) e
sua estrutura de preferências. (KEENEY, 2002)afirma que a identificação dos valores
afectados por uma determinada decisão deve ser o ponto inicial para o desenvolvimento de
uma criteriosa tomada de decisão sobre riscos. Tais valores são usados para criar objectivos
e medidas de performance para a decisão, no intuito de definir aspectos técnicos necessários
para comparar ou ajudar na criação de alternativas mais estruturadas e servir de base para
avaliações qualitativas e quantitativas ( (KEENEY, 2002).

Parte dos acidentes em gasodutos pode ser classificada como eventos extremos. Segundo
(BIER, HAIMES, LAMBERT, MATALAS, & ZIMMERMAN, 1999) este tipo de evento
se caracteriza pela baixa frequência e pela severidade de suas consequências. Os decisores
devem, portanto, estar aptos a utilizar as medidas, principalmente ao lidar com eventos
extremos, que melhor representem as facetas do risco consideradas na análise (FROHWEIN
et al, 1999). Avaliar riscos de acordo com suas várias dimensões é complicado,
principalmente na forma de agregar preferências a respeito das perdas consequentes de um
cenário acidental.

4.8.2. Metodologias gerais de gestão de riscos


Existem ainda técnicas e metodologias convencionais, além dos métodos e índices já listados
nesse trabalho, que são normalmente aplicadas a empreendimentos com actividades e
processos considerados de risco ou que possuam em suas instalações substâncias perigosas.
Logicamente, essas metodologias convencionais também são amplamente utilizadas na
gestão de riscos na indústria de petróleo. Algumas destas metodologias, conceituadas por
Martins (2009), são: HAZOP (ix), FMEA

(x), FTA (xi), ETA (xii), APP (xiii), What-if (xiv) e Check-list (xv).

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(ix) HAZOP - Hazard and Operability Analysis, essa técnica consiste em utilizar palavras
guias especiais para fazer um grupo de pessoas, experientes no assunto em análise,
identificar perigos potenciais ou preocupações com a operabilidade de equipamentos ou
sistemas.

(x) FMEA - Failure Mode and Effects Analysis, é uma análise de modos de falha e efeitos
com uma abordagem de detecção indutiva, sendo mais apropriada para avaliações de
sistemas mecânicos, eléctricos e de processo.

(xi) FTA - Fault Tree Analysis, é uma técnica de análise dedutiva, onde se constrói uma
árvore de falhas começando com a definição do evento topo de interesse, geralmente
associado à falha do sistema analisado em uma determinada condição de operação.

(xii) ETA- Event Tree Analysis, é uma técnica que consiste em utilizar uma árvore de decisão
para representar graficamente todas as possíveis sequências acidentais de uma instalação,
desde o evento iniciador do acidente de interesse até a situação final da planta.

(xiii) APP - Process Hazard Analysis, é a sigla em português da expressão análise preliminar
de perigos, usada para descrever um exercício cujo objectivo é identificar os perigos e
eventos associados que possuem o potencial de resultar em um risco significativo.

(xiv) What-if, é uma análise que consiste em uma abordagem no qual é utilizado um
questionamento amplo e livremente estruturado para postular as condições anormais que
possam resultar em eventos indesejáveis ou em problemas de funcionamento do sistema.
Adicionalmente sugere-se salvaguardas adequadas para a prevenção de cada problema.

(xv) Check-list¸ é uma técnica que consiste em uma avaliação sistemática, diante de critérios
pré-estabelecidos, na forma de lista de perguntas com respostas previamente formatadas.
Esta análise é frequentemente utilizada como um complemento ou parte integrante do
método What-if.
4.8.2.1. Gerenciamento aplicado a Indústria de Gás Natural

4.8.2.1.1. Risco Social

Naturalmente é considerado que uma plataforma offshore de gás natural possua perigos
espalhados por toda a unidade, tornando-os riscos sociais, que será definido como todo e
qualquer problema que possa expor a segurança do funcionário a possíveis danos ou
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fatalidades, sendo assim, eventuais acontecimentos que coloque sua integridade física e, até
mesmo sua vida, em situações vulneráveis (W. NETO, 2021)

Na plataforma offshore, é considerado riscos sociais os seguintes problemas encontrados no


condicionamento do gás natural, devido às variáveis do processo, sendo assim, de acordo
com (VAZ, MAIA, & SANTOS, 2008, 416p.)

Riscos sociais na separação primária: Devido ao seu processo ser baseado no nível
interno de líquido/gás, sendo que a formação de espumas pode interferir na verificação do
nível, dificultando a detecção de possíveis obstruções ou acúmulo de sedimentos no vaso
separador, dos quais acarretam o aumento da pressão interna levando a uma provável
explosão;
Riscos sociais na depuração do gás: Apresenta risco devido ao seu processo também ser
baseado no nível interno do vaso depurador, onde caso os dispositivos internos não sejam
sincronizados, o nível de líquido retido aumenta, podendo levar o equipamento a inundar e
atrapalhar os fluxos de entrada/saída, pressurizando indevidamente outros equipamentos;

Riscos sociais no adoçamento do gás: Por ser uma etapa que manipula ácidos na sua
composição. É importante que o solvente não haja espuma e que seja bem regenerado para
haver uma alta eficiência do processo, pois caso contrário, o teor de gás ácido no gás tratado
aumenta e, por ser ácido, ocasiona na corrosão de equipamentos e tubulações, que possam
vir a ser perfurados, liberando os gases ácidos, cujo é tão tóxico quanto o gás cianeto;

Riscos sociais na desidratação do gás: Proporciona risco por ser uma etapa em que
manipula a quantidade de vapor d’água que será posteriormente ajustado na refinaria, porém,
caso não seja devidamente desidratado, pode haver a reação dessas moléculas de água com
alguns contaminantes, resultando na formação de moléculas ácidas livre no gás, que
igualmente na etapa do adoçamento, pode gerar corrosão em equipamentos, tubulações e
intoxicação.

4.8.2.2.Hipóteses e soluções para os problemas


Observando os riscos/problemas associados à plataforma offshore é possível chegar a
algumas hipóteses e soluções, sendo assim, de acordo com (VAZ, MAIA, & SANTOS, 2008,
416p.)

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Hipóteses de separação primária: Em relação a formação de espuma no processo, o
separador deve ser equipado com dispositivo interno para remoção de espuma, assegurando
tempo e superfície de coalescência suficientes para quebrá-la. Nas obstruções de parafina é
necessários extratores alternativos para permitir a entrada de vapor, ou solventes para ser
efetuada a limpeza interna do separador. Quando o problema é areia e sedimentos presentes
no fluido é fundamental equipamentos como jatos ou drenos para a retirada dos detritos. Já
nas nos problemas e emulsões e arraste é necessário um medidor de nível, para sanar os
problemas internos;

Hipóteses de depuração do gás: Ter um controle grande em relação, a velocidade da


corrente gasosa;

Hipóteses de adoçamento do gás: Obter um controle de nível excelente, vazão e


temperatura. Que são as variáveis controladas que tem o maior índice de problemas se
sofrerem algum tipo de anomalia;

Hipóteses de desidratação: Controle de pressão, Temperatura e pH. A partir dessas


circunstâncias podem alterar o produto, ou sofrer danos permanentes.

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CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO

5. Conclusões
Após uma análise profunda feita na bibliografia consultada, os riscos mais predominantes
na exploração é a explosão, incêndio no seu transporte, riscos químicos através de um
vazamento do mesmo, enquanto no âmbito da canalização ocorre a explosão, vazamento de
gás. Em nosso Pais o transporte de gás por meio de canalização ainda é novo e não tem
muita aderência o que ainda coloca uma análise preliminar a ser feito para construções
futuras em instalações.

Ademais, observou-se um grande avanço no desenvolvimento de ferramentas quantitativas,


tendo em vista que novas ferramentas de modelagem e de simulação computacional vêm
sendo desenvolvidas para simular situações de catástrofes em indústrias de petróleo e gás.
A ferramenta de análise de risco FMEA apresenta grande potencial para ser utilizada no
sector petrolífero, pois pode ser utilizada na fase inicial de elaboração do projecto básico,
durante o detalhamento do projecto e na fase de operação. Ela também pode ser aplicada em
análises quantitativas e qualitativas e possui inúmeras aplicações em diversas situações,
incluindo a de incêndio e explosão. Entretanto, foram observados poucos relatos na literatura
de utilização da ferramenta de análise de risco FMEA aplicada à segurança do trabalho,
deixando uma lacuna que deve ser preenchida com o avanço do gerenciamento de risco no
sector petrolífero.

Pôde-se observar que os riscos de incêndio e explosão fazem parte do processo de produção
de uma indústria de petróleo e gás e que estão sempre presentes, esperando apenas que ocorra
um erro operacional para gerar uma catástrofe. Consequentemente, a análise de risco
aplicada a segurança do trabalho, especialmente na indústria de petróleo e gás, deve avançar
bastante até que se atinja um maior grau de segurança, reduzindo assim esses riscos e,
consequentemente, os acidentes por estes gerados.

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5.1. Recomendações
Apresenta-se abaixo, algumas sugestões para o desenvolvimento de trabalhos futuros
relacionados ao tema:

• Utilização da revisão sistemática da literatura com metodologia pré-definida para


realizar o levantamento bibliográfico de artigos de análise de risco aplicadas também
na segurança do trabalho à indústria de petróleo e gás;
• Analisar outras técnicas de análise de risco qualitativas e quantitativas aplicadas à
segurança do trabalho na indústria de petróleo e gás;
• Identificar as principais técnicas de análise de risco aplicadas na indústria de petróleo
e gás em Moçambique;
• Descrever detalhadamente os procedimentos operacionais estabelecidos na
exploração de Gás, levando-se em consideração o risco de incêndio, explosão, entre
outros;
• Realizar entrevistas semiestruturadas com engenheiros de segurança e colaboradores
das maiores empresas operantes em Moçambique para caracterização do seu actual
sistema de gerenciamento de risco.

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