Negócio Jurídico e A Escada Ponteana
Negócio Jurídico e A Escada Ponteana
Negócio Jurídico e A Escada Ponteana
Até chegarmos ao negócio jurídico, disposto no art. 104 do Código Civil, é preciso
percorrer um longo caminho. Primeiro, o negócio jurídico decorre de uma relação
jurídica. É, desse modo, um ato lícito lato sensu. Isto porque decorre de fato humano
caracterizado pela vontade. O fato humano, por sua vez, é fato jurídico lato sensu.
Mas não vamos nos ater a isso, pelo menos neste texto.
Ato jurídico em que há uma composição de interesses das partes com uma finalidade
específica.
É, pois, o negócio jurídico, o ato pelo qual as partes, deliberadamente, manifestam sua
vontade acerca de determinado negócio. Esse pode, portanto, observar a seguinte
classificação:
É necessário, então, que ele passe por alguns degraus, até que seja reputado como
negócio jurídico perfeito. E que, assim, não seja inexistente, nulo ou anulável. Esses
degraus fazem parte de uma escada criada pelo jurista, filósofo, matemático,
advogado, sociólogo, magistrado e diplomata brasileiro Pontes de Miranda. É a
chamada Escada Ponteana.
Pontes de Miranda ensina, em sua obra Tratado de Direito Privado (composta por 60
tomos e escrita em 15 anos!), que:
Existir, valer e ser eficaz são conceitos tão inconfundíveis que o fato jurídico pode ser,
valer e não ser eficaz, ou ser, não valer e ser eficaz. As próprias normas jurídicas
podem ser, valer e não ter eficácia. O que se não pode dar é valer e ser eficaz, ou valer,
ou ser eficaz, sem ser; porque não há validade, ou eficácia do que não é.
A partir dessa construção, então, o negócio jurídico tem três planos ou degraus:
1. existência;
2. validade;
3. eficácia.
Uma vez que for ferido algum desses requisitos, o negócio se tornará nulo ou anulável.
E, para saber se a aplicação é de anulabilidade ou de nulidade, é necessário fazer a
leitura dos arts. 166 e 171 do CC, assim traduzidos no esquema abaixo:
Anulado o negócio jurídico, então, as partes deverão retornar ao seu status anterior.
Contudo, nos casos em que a reversão for impossível, deve-se proceder à indenização
do equivalente.
Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra
em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso,
for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
É o que ocorre, por exemplo, nos casos de menor relativamente incapaz que realiza
negócio jurídico, mas invoca a idade para sua anulação, quando ocultou-a de má-fé no
momento da obrigação.
No tocante ao objeto, por sua vez, o art. 106, CC, estabelece, assim:
Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for
relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
Quanto à forma, o art. 107 dispensa forma especial, exceto quanto previsto em lei.
Desse modo, são exemplos de negócio jurídico solene: o pacto antenupcial e o
testamento público. Dessa forma:
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão
quando a lei expressamente a exigir.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo
vigente no País.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento
público, este é da substância do ato.
IV. Liberalidade
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva
mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.
1. condição;
2. termo; e
3. encargo
A condição, que deriva da vontade das partes, faz com que o negócio jurídico dependa
de um evento futuro e incerto, de acordo com o art. 121 do CC.
Essa condição pode ser invalidada, de acordo com o art. 122 do CC, nos casos de
condições :
II. Termo
III. Encargo
Por fim, o encargo, previsto no art. 136 do CC, traz um ônus que pode ser posto ao
beneficiado por um ato gratuito. Aqui, contudo, não se suspende nem a aquisição nem
o exercício do direito. O art. 555 do CC trata da possibilidade de o estipulador exigir o
cumprimento do encargo.
É o caso, por exemplo, do donatário que doa um terreno a alguém com a condição que
seja construído, em parte do terreno, um asilo.
Além disso, merece especial atenção o art. 137 do Código Civil, que trata do encargo
ilícito ou impossível. Esse artigo diz que os encargos ilícitos ou impossíveis serão
considerados como não escritos, exceto se o encargo constituir o motivo determinante
da liberalidade, gerando a invalidade do negócio jurídico.
Para ilustrar: João doa a José uma fazenda para que ali se cultive maconha. Por se
tratar de motivo determinante, o negócio é inválido. Já se João doar uma fazenda a
José com o encargo de que ele plante maconha, o encargo será tido como não escrito,
ficando assim: João doa a José uma fazenda com o encargo de que ele plante
maconha.
Referências
1. [1] TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8 ed. rev, atual. e
ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
3. [3] TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8 ed. rev, atual. e
ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.