Personagens Do Folclore

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Nem só de Mula

Sem Cabeça vive o


imaginário popular
8 personagens pouco
conhecidas do nosso folclore
O que você vai
encontrar neste
e-book?
Introdução  03
1. Pisadeira  04
2. Tibungue  06
3. Poronominare  07
4. Hipocampo  08
5. Anhanga  09
6. Urutau  11
7. Cachorrinha  13
8. Teteu  15

2
Introdução
Nem só de mula-sem-cabeça e saci-pererê vive
o imaginário popular brasileiro. Há uma imensa
variedade de tradições país afora - tanto que
a jornalista e pesquisadora Januária Cristina
Alves foi capaz de escrever um Abecedário de
personagens do folclore brasileiro (Edições Sesc/
FTD), com figuras folclóricas de A a Z.

O livro foi lançado em 2017 e se tornou referência


não apenas para estudiosos, mas também para o
grande público. E, aqui, você terá a oportunidade
de desfrutar desse trabalho.

A pedido de NOVA ESCOLA, Januária selecionou


oito lendas brasileiras para serem apresentadas
aos alunos do Fundamental 1. A seleção foi feita
com base no Abecedário e na obra Personagens
do Folclore Brasileiro (FTD Educação), da mesma
autora. Foram privilegiados personagens menos
conhecidos do rico repertório popular.
Boa leitura!

3
1 Pisadeira
Outros nomes: Diabinho
(ou Fradinho) da Mão Furada
Regiões onde é mais conhecido: Todas
Origem 1: universal
Personagens relacionados 2: Saci-Pererê

A figura da Pisadeira mais famosa por aqui é conhecida


como Diabinho (ou Fradinho) da Mão Furada. Ela entra
no nosso quarto no meio da noite pelo buraco da
fechadura e põe-se em cima de nós. Vai embora quando
acordamos. A Pisadeira gosta de esperar em cima dos
telhados a hora de entrar no quarto das pessoas pela
chaminé ou pelas janelas.

1 
Segundo a pesquisadora Januária Cristina Alves, usa-
se o termo “universal” para designar personagens
que aparecem em diferentes lugares do mundo, com
características semelhantes e certas diferenças de
nome ou de descrição da aparência física. Não se sabe
ao certo o lugar ou povo que originou a lenda.

2 
Personagens relacionados são aqueles que guardam
semelhanças em origem, traços físicos ou psicológicos
com o personagem apresentado. Nas obras de Januária,
eles foram agrupados em famílias de personagens,
cujas características constituem tipos. A família dos
sacis e pisadeiras, por exemplo, constitui um tipo
frequente no Folclore, que é o das criaturas ou humanos
que gostam de praticar traquinagens.

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Nas tradições portuguesas, o Fradinho da Mão
Furada lembra bastante o Saci-Pererê. No
Brasil, a Pisadeira ganhou algumas variações
de inspiração indígena. Para os povos de língua
tupi-guarani, a velha os visitava trazendo
uma porção de agonias terríveis. Já para os
sertanejos nordestinos, a Pisadeira é uma velha
que arranha nosso rosto durante o sonho.

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2 Tibungue
Outro nome: Bicho-Papão

Região onde é mais conhecido:


Sudeste (especialmente Minas Gerais)
Origem: universal
Personagem relacionado: Saci-Pererê

Conhecido como “Saci-Pererê


de Minas Gerais”, o Tibungue é
um homem baixinho que tem
uma perna só e uma seta de
fogo bem no meio da testa. Faz
pequenas maldades nos sítios e
roças, como o Saci-Pererê: apaga
o fogo, espanta as galinhas,
some com objetos de dentro de
casa. Também é descrito como
uma espécie de Bicho-Papão,
pois gosta de comer
criancinhas.

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3 Poronominare
Região onde é mais conhecido:
Norte (especialmente Amazonas)
Origem: sul-americana (possivelmente venezuelana)
Personagens relacionados: Boto, Macunaíma

Bem-humorado, sem escrúpulos, senhor dos animais e


das árvores, falante de várias línguas: por possuir essas
características, Poronominare é relacionado a Macunaíma,
o “herói sem nenhum caráter” criado por Mário de Andrade
(1893-1945) no romance publicado em 1928. Em suas
aventuras, sempre vence. É muito esperto e vingativo com
quem lhe faz mal. No Amazonas, onde é famoso, ainda se
acredita no aspecto divino de Poronominare. Dizem que
ele e seu fiel companheiro, Iure, estavam no alto da serra
de Uiriu quando se viram perseguidos por um bando que
queria matá-los. Trêmulo de medo, Iure fechou
os olhos, enquanto o barulho
daquele povo estrondava em sua
cabeça como se fosse trovão.
De repente, não se sabe como,
aquela gente toda dormiu! No
dia seguinte, quando todos
acordaram e desceram a
serra, viram lá embaixo
apenas as pegadas de
Poronominare e Iure.

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4 Hipocampo
Outro nome: Cavalo-Marinho

Região onde é mais conhecido:


Norte (especialmente Amazonas)
Origem: universal
Personagens relacionados: Bumba
Meu Boi, Cachorrinha-d’Água,
Carneiro Encantado

Conhecido da mitologia universal, o


Hipocampo é relacionado com o cavalo-
marinho ou com o carneiro encantado.
É cavalo da cintura para cima e peixe da
cintura para baixo. Na mitologia grega,
costuma aparecer na companhia das
nereidas, as filhas de Nereu e de Dóris, de um dos autos mais conhecidos no
que viviam no mar Egeu. O Hipocampo Brasil: o Bumba Meu Boi. Em geral,
puxa o carro de Poseidon, o deus dos ele é pequeno, mas, quando aparece
mares. Seres com essas características para os homens, é enorme. É branco,
também são encontrados nas tem crina e cauda douradas e olhos
mitologias fenícia, árabe e indiana. humanos e tristes. Alguns dizem que
Sua lenda chegou ao Brasil com os tem uma estrela de ouro na testa, como
portugueses. Como os índios não o Carneiro Encantado ou a Cachorrinha-
conheciam cavalos, talvez tenham d’Água. O Cavalo-Marinho aparece
transformado o animal em figura do também numa lenda ligada à Janaína,
folclore. O Hipocampo é personagem que é conhecida como Mãe-d’Água.

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5 Anhangá
Outros nomes: Anda-a-Lua, Chora-a-Lua,
Mãe-da-Lua, Pai da Noite
Regiões onde é mais conhecido: todas
Origem: europeia e indígena
Personagens relacionados: Guariba,
Jurupari

Anhangá é uma das personagens mais antigas do


nosso folclore. Nas cartas escritas pelos jesuítas
José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão
Cardim ele é mencionado como um espírito mau,
de quem os índios tinham muito medo. Hans
Staden, o aventureiro e mercenário alemão do
século XVI, que passou nove meses como refém
dos Tupinambá, o chamou de Ingange, o Diabo.
Essa associação de Anhangá com o Diabo pode
ter sido feita pelos jesuítas por razões religiosas,
já que para os índios ele seria uma espécie de
protetor das florestas. Talvez por isso ele tenha
sido confundido com Jurupari, esse sim, o
espírito mau.

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O Anhangá é um espírito e toma a forma que quiser,
tendo um nome para cada uma delas: mira-anhanga
(humana), tatu-anhanga (tatu), tapyra-anhanga (boi),
inhambu-anhanga (pássaro), iurará-anhanga (tartaruga)
e pirarucu-anhanga (peixe). A forma mais comum é a de
um veado branco com olhos de fogo, chifres cobertos
de pelos e uma cruz na testa – o suaçu-anhanga. O
Anhangá anuncia sua chegada com um assobio, e, como
num passe de mágica, a caça some diante dos
olhos do caçador. Ele protege animais que
amamentam, e quem os persegue corre
o risco de encontrar o Anhangá, ter
febre e, às vezes, até delírio. Apesar de
bravo, dizem que é possível pedir ajuda
ao Anhangá. Uma vez perseguido por
animais selvagens, basta gritar: “Valha-
me, Anhangá!”. Se a intenção for fazer
um pacto de boas caças, é só dar-lhe
tabaco em troca.

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6 Urutau
Regiões onde é mais conhecido: todas
Origem: indígena
Personagens relacionados:
Jaci, Tibarané

A ave Urutau (Nyctibius griseus) é comum em


toda a América de Sul e há muitas lendas sobre
ela. É também conhecida como Anda-a-Lua
(em Minas Gerais), Chora-a-Lua (na Bahia)
ou Pai-da-Noite (em Pernambuco). Por ser
uma ave de boca grande e hábitos noturnos
inspirou histórias de mistério e medo. Tem
um canto melancólico e agudo, como se fosse
uma risada de dor, que deixa quem ouve um
tanto angustiado. Muitos a chamam de “ave
fantasma”, talvez porque numa corruptela do
guarani seu nome quer dizer exatamente isso:
guyra (“ave”) e táu (“fantasma”). É muito difícil
de se avistar um urutau, pois tem hábitos
noturnos e sua pelagem pode ser facilmente
confundida com um galho.

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Além disso, gosta de ficar na ponta de galhos secos.
Outra curiosidade é que o urutau pode “enxergar de olhos
fechados”, pois tem duas fendas em suas pálpebras.
Pelo seu canto melancólico, o Urutau inspirou grandes
escritores, como José de Alencar em O Guarani (1857)
- “O urutau no fundo da mata solta as suas notas
graves e sonoras” - e João Guimarães Rosa, em Grande
Sertão: Veredas (1956) - “Todo o mundo dormindo. Só o
chochôrro mateiro, que sai de debaixo dos silêncios, e um
ô-ô-ô de urutau, muito triste e muito alto”.

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7 Cachorrinha d’Água
Região onde é mais conhecido:
Nordeste (especialmente Pernambuco)
Origem: brasileira
Personagens relacionados:
Carneiro Encantado, Hipocampo

Quem anda nas margens do rio São Francisco


sempre olha com atenção: se conseguir ver a
Cachorrinha D’Água receberá riquezas sem fim!
Quem teve a sorte de vê-la diz que é uma cachorra
muito bonita, com os pelos bem brancos , com uma
estrela na testa. Contam que fica às margens do rio,
secando-se ao sol.

A lenda da Cachorrinha d’Água é tão presente na


cultura que envolve o rio São Francisco que foi até
mencionada por Carlos Drummond de Andrade
no poema “Águas e mágoas do rio São Francisco”
(1977), do livro Discurso de primavera e algumas
sombras (Companhia das Letras, 2014). Um trecho
do poema diz assim:

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Está secando o velho Chico.
Está mirrando, está morrendo.
Já não quer saber de lanchas-ônibus,
nem de chatas e seus empurradores.

Cansou-se de gaiolas
e literatura encomiástica
e mostra o leito pobre,
as pedras, as areias desoladas
onde nenhum caboclo-d’água,
nenhum minhocão ou cachorrinha-d’água,
cativados a nacos de fumo forte,
restam para semente
de contos fabulosos e assustados...

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8 Tetéu
Outros nomes: Guigratetéu (para os Tupi),
Quero-Quero (no Sul), Tetéu do Nordeste
Regiões onde é mais conhecido: todas
Origem: indígena
Personagens relacionados: nenhum

Esse é um típico dorme-não-dorme. Passa a vida


tentando dormir. É um pássaro de bico grande que
coloca o bicão sobre o lombo quando se prepara
para dormir. Mas o bico escorrega, ele acorda e
grita! Outros contam que ele, na verdade, coloca
uma pata no meio da perna e se ajeita pra dormir.
Mas a pata escorrega e ele faz uma barulheira. E
toca a começar tudo de novo pra tentar dormir.

Dizem que ele é um bicho que traz sorte e


também azar, depende da direção em que é
visto voando: se é do molhado para o seco
pode rezar que a coisa é feia, mas, se for
o contrário, é coisa boa na certa!

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Reportagem
M A R I A L Í G I A PA G E N O T T O

Colaboração
J A N U Á R I A C R I S T I N A A LV E S

Edição
P E D R O A N N U N C I AT O

Ilustração
ESTÚDIO KIWI

Diagramação
CARONTE DESIGN

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