Questões Gêneros Literários

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Questões Gêneros Literários

(USF SP/2016) –As obras lidas para este vestibular pertencem a gêneros e períodos
distintos de nossa produção literária. A respeito delas, analise as afirmativas a seguir e
identifique a(s) correta(s).
I. Vidas secas apresenta um vocabulário seco, como a temática tratada. O narrador, ao
contar a saga de Fabiano, Sinhá Vitória, dos meninos sem nome e da cachorra Baleia,
registra a marginalização social, a exploração do homem pelo homem, a desumanização
dos personagens e a falta de comunicação nas relações familiares, entre outras abordagens.
II. Memórias póstumas de Brás Cubas, a obra que inicia o Realismo brasileiro, é
impregnada da visão cientificista, bem ao gosto do público da época. Questões como o
Determinismo biológico, social e histórico, o materialismo, o predomínio do instinto sobre
a razão e do psicológico sobre a ação são algumas das características mais marcantes da
obra.
III. Memórias de um sargento de milícias pode ser entendida como uma obra de transição
entre o Romantismo e o Realismo. A história de Leonardinho é permeada por aventuras nos
subúrbios cariocas e mostra um herói atrevido, politicamente incorreto e irreverente. Além
disso, a voz narrativa antecipa a conversa com o leitor e a metanarrativa que ganhará força
com a literatura machadiana.
IV. Sentimento de mundo mostra um eu lírico que se reconhece no mundo que precisa ser
salvo, mas que reconhece também o fatal distanciamento entre os homens. O poeta
solitário se transforma, então, em poeta solidário, que recria o mundo pela depuração,
buscando sua essência.
É correto o que se afirma apenas em:
a) II, III e IV.
b) I, III e IV.
c) II e IV.
d) I e III.
e) I, II, III e IV.

Texto 1
No meio do caminho
No meio do caminho tinha
uma pedra
Tinha uma pedra no meio
do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha
uma pedra
[…]
(ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2000. (fragmento).
Texto 2
A comparação entre os recursos expressivos que constituem os dois textos revela que:
a) o texto 1 perde suas características de gênero poético ao ser vulgarizado por histórias em
quadrinho.
b) o texto 2 pertence ao gênero literário, porque as escolhas linguísticas o tornam uma
réplica do texto 1.
c) a escolha do tema, desenvolvido por frases semelhantes, caracteriza-os como
pertencentes ao mesmo gênero.
d) os textos são de gêneros diferentes porque, apesar da intertextualidade, foram
elaborados com finalidades distintas.
e) as linguagens que constroem significados nos dois textos permitem classificá-los como
pertencentes ao mesmo gênero.

(UFSCar – 2002)
Soneto de fidelidade
(Vinicius de Moraes)

De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o
poeta
a) não acredita no amor como entrega total entre duas pessoas.
b) acredita que, mesmo amando muito uma pessoa, é possível apaixonar-se por outra e
trocar de amor.
c) entende que somente a morte é capaz de findar com o amor de duas pessoas.
d) concebe o amor como um sentimento intenso a ser compartilhado, tanto na alegria
quanto na tristeza.
e) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o impedimento para as pessoas se
entregarem ao amor.

(UCS RS/2016) –Os excertos a seguir são de Cecília Meireles e Carpinejar, respectivamente.
“Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas”.
(MEIRELES, 2000, p. 27).

“A matilha dos filhos


fareja o sonho inacabado,
perseguindo tua lapela castanha,
o açúcar do linho,
olor de café aquecido”.
(CARPINEJAR, 2008, p. 58-59).

Em ambas as composições, os versos acima revelam que o sujeito lírico tem do mundo uma
percepção
a) emotiva.
b) sensorial.
c) onírica.
d) racional.
e) sentimental.

(CEFET MG/2015) –Sobre os gêneros literários, afirma-se:


I. O gênero dramático abrange textos que tematizam o sofrimento e a aflição da condição
humana.
II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a expressão subjetiva de estados
interiores.
III. O gênero épico compreende textos sobre acontecimentos grandiosos protagonizados
por heróis.
IV. Em literatura, o romance e a novela são formas narrativas pertencentes ao gênero
dramático.
Estão corretas apenas as afirmativas
a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) II e III.

O gênero narrativo, na maioria das vezes, é expresso pela:


a) Poesia.
b) Show.
c) Jornal.
d) Romance.
e) Ode.

O soneto é uma das formas mais tradicionais e, na maioria das vezes, tem conteúdo:
a) lírico.
b) cronístico.
c) épico.
d) dramático.
e) satírico.

Assinale a afirmativa correta:


a) Aristóteles afirma que os textos épicos apresentam uma narrativa e sempre terão um
narrador-personagem.
b) A tragédia é um gênero literário.
c) O gênero lírico é um texto de caráter emocional, porém, as emoções expressas nesse
gênero não representam a subjetividade do autor; é apenas ficção.
d) O gênero dramático apresenta esta estrutura: apresentação e desfecho.
e) Os elementos essenciais de uma narrativa são: narrador, enredo, personagens, tempo e
espaço.

Sobre o gênero lírico, estão corretas, exceto:


a) Gênero marcado pela subjetividade dos textos. Presença de um eu lírico que manifesta e
expõe seus sentimentos e sua percepção acerca do mundo.
b) As mais conhecidas estruturas formais do gênero lírico são a elegia, o soneto, o hino, a
sátira, o idílio, a écloga e o epitalâmio.
c) São longos poemas narrativos em que um acontecimento histórico protagonizado por
um herói é celebrado.
d) Nota-se, no gênero lírico, a predominância de pronomes e verbos na 1ª pessoa e a
exploração da musicalidade das palavras.
e) Os poemas do gênero lírico podem apresentar forma livre ou estruturas formais.

Leia os fragmentos abaixo para responder à questão:


I.
“A serena, amorosa Primavera,
O doce autor das glórias que consigo,
A Deusa das paixões e de Citera;

Quanto digo, meu bem, quanto não digo,


Tudo em tua presença degenera.
Nada se pode comparar contigo (...)”.
Nada se Pode Comparar Contigo - Bocage
II.
Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
5 de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.
Ilíada - Homero
III.
MADAME CLESSI – Deixa o homem! Como foi que você soube do meu nome?
ALAÍDE – Me lembrei agora! (noutro tom) Ele está-me olhando. (noutro tom, ainda) Foi
uma conversa que eu ouvi quando a gente se mudou. No dia mesmo, entre papai e mamãe.
Deixe eu me recordar como foi...
Já sei! Papai estava dizendo: “O negócio acabava...”
(Escurece o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Aparecem pai e mãe de Alaíde.)
PAI (continuando a frase) – “...numa orgia louca.”
MÃE – E tudo isso aqui?
PAI – Aqui, então?!
MÃE – Alaíde e Lúcia morando em casa de Madame Clessi. Com certeza, é no quarto de
Alaíde que ela dormia. O melhor da casa!
PAI – Deixa a mulher! Já morreu!
MÃE – Assassinada. O jornal não deu?
PAI – Deu. Eu ainda não sonhava conhecer você. Foi um crime muito falado. Saiu
fotografia.
MÃE – No sótão tem retratos dela, uma mala cheia de roupas. Vou mandar botar fogo em
tudo.
PAI – Manda.
Vestido de noiva – Nelson Rodrigues
IV.
“ (…) Ele gostava de matar, por seu miúdo regozijo. Nem contava valentias, vivia dizendo
que não era mau. Mas, outra vez, quando um inimigo foi pego, ele mandou: – “Guardem
este.” Sei o que foi. Levaram aquele homem, entre as árvores duma capoeirinha, o pobre
ficou lá, nhento, amarrado na estaca. O Hermógenes não tinha pressa nenhuma, estava
sentado, recostado. A gente podia caçar a alegria pior nos olhos dele. Depois dum tempo, ia
lá, sozinho, calmoso? Consumia horas, afiando a faca (...)”.
Grande Sertão: Veredas – João Guimarães Rosa

Os fragmentos acima representam, respectivamente, os seguintes gêneros:


a) épico – lírico – dramático – narrativo.
b) lírico – épico – dramático – narrativo.
c) narrativo – dramático – épico – lírico.
d) lírico – épico – narrativo – dramático.
e) dramático – narrativo – lírico – épico.

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
De acordo com as suas características, o poema pode ser classificado como um texto
a) lírico.
b) épico
c) narrativo.
d) dramático.

(UERJ)
Este trecho faz parte do início de um conto. Seu narrador alerta o leitor para o caráter
ficcional do relato que passará a ler.
Isso se dá por meio do seguinte recurso:
a) assumir uma história sem princípio, meio e fim
b) construir uma frase longa com ritmo fluente de narrativa
c) usar o verbo supor como marca de início dos acontecimentos
d) sugerir o Tempo e a Eternidade como metáforas humanizadas

(UERJ)
O início do conto Sonata estabelece as referências para categorias importantes da
narrativa. As categorias de tempo, espaço e o caráter do personagem-narrador são
delimitados, respectivamente, pelos seguintes elementos do texto:
a) outono, ruas, piano
b) tempo, rio sem nascentes, barco
c) Segunda Guerra, Paris, Beethoven
d) gramofone, cômodos, bicho-de-concha

(UFTM-MG)
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina douda de um amor sem fruto…
E minha alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus? morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
(Álvares de Azevedo, Adeus, meus sonhos!; em Lira dos Vinte Anos)
Assinale a alternativa que dá sequência à frase, fazendo citação em discurso indireto do
trecho do poema, de acordo com a norma culta. O eu lírico afirmou que:
a) ele pranteia e morre.
b) tanta vida morria na sua triste mocidade.
c) ele votou seus pobres dias…
d) sua alma na terra então dormia.
e) morra comigo a estrela de cândidos amores.

Gêneros Literários: Leia o trecho abaixo e assinale a opção que melhor o descreve.
“IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.”
a) Possui características do gênero lírico e do épico.
b) Possui características do gênero épico e dramático.
c) Possui características do gênero lírico e do dramático
d) Possui características apenas do épico.

(ENEM – 2009)
Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a
representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois,
uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e
dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no
espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de
personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação
dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir
das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de
exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o
conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema,
ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja
expor, ou sua interpretação real por meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973
(adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral,
conclui-se que:
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual,
pois não é possível sua concepção de forma coletiva.
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de
modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos,
lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais
importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro
até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de
produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes,
agregadas posteriormente à cena teatral.

(ENEM – 2009)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D.
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro.
Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as
inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o
universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência
do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as
concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima:
a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de
expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva
de fatos e dados históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de
imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a
constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em
comparação com as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da
infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.

(ENEM-2009)
A partida
Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis
novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava
das três. Restavame, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco.
Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer
nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me
e,voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da
cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas
palavras… Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?
LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global,
2003.
No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em
separarse da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho:
a) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir”
b) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco”
c) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama”
d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor”
e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras…”

(ENEM – 2010)
Texto I
Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes
proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o trapiche. Não mais estranhas,
porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas,
desde os nove aos dezesseis anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da
ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à
chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com
os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações…
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).

Texto II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do mercado de peixe, ergue-se o velho
ingazeiro – ali os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as
suas necessidades de cachaça e pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do
mercado.
TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são exemplos de uma abordagem
literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos, a linguagem
afetiva:
a) aproxima os narradores dos personagens marginalizados.
b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos personagens.
c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
d) o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão.
e) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.

(UERJ – Vestibular 2001 – Adaptado)


Leia o texto abaixo e responda à questão.
Certo milionário brasileiro foi traído pela esposa. Quis gritar, mas a infiel disse-lhe sem
medo:
— “Eu não amo você, nem você a mim. Não temos nenhum amor a trair”.
O marido baixou a cabeça. Doeu-lhe, porém, o escândalo. Resolveu viajar para a China,
certo de que a distância é o esquecimento. Primeiro, andou em Hong Kong. Um dia,
apanhou o automóvel e corre como um louco. Foi parar quase na fronteira com a China.
Desce e percorre, a pé, uma aldeia miserável. Viu, por toda a parte, as faces escavadas da
fome. Até que entra na primeira porta. Tinha sede e queria beber. Olhou aquela miséria
abjeta. E, súbito, vê surgir, como num milagre, uma menina linda, linda. Aquela beleza
absurda, no meio de sordidez tamanha, parecia um delírio. O amor começou ali. Um amor
que não tinha fim, nem princípio, que começara muito antes e continuaria muito depois.
Não houve uma palavra entre os dois, nunca. Um não conhecia a língua do outro. Mas,
pouco a pouco, o brasileiro foi percebendo esta verdade: – são as palavras que separam.
Durou um ano o amor sem palavras. Os dois formavam um maravilhoso ser único. Até que,
de repente, o brasileiro teve que voltar para o Brasil. Foi também um adeus sem palavras.
Quando embarcou, ele a viu num junco que queria seguir o navio eternamente. Ele ficou
muito tempo olhando. Depois não viu mais o junco. A menina não voltou. Morreu só, tão só.
Passou de um silêncio a outro silêncio mais profundo.
(RODRIGUES, Nelson. A cabra vadia: novas confissões. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.)
O narrador de um conto assume determinados pontos de vista para conduzir o seu leitor a
observar o mundo sob perspectivas diversificadas. No conto de Nelson Rodrigues, a
narrativa busca emocionar o leitor por meio do seguinte recurso:
a) expressa diretamente o ponto de vista do personagem milionário
b) expressa de maneira indireta o ponto de vista da personagem chinesa
c) alterna o ponto de vista do personagem milionário com o do narrador
d) alterna o ponto de vista do personagem milionário com o da personagem chinesa

Leia o poema de Eugênio de Castro para responder à questão.


Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.
Humildemente, atrás de ti rastejo,
humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.
Sei que jamais hei de possuir-te, sei
Que outro feliz, ditoso como um rei
Enlaçará teu virgem corpo em flor.
Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esperança,
Amar sem esperança é o verdadeiro amor.
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa através dos textos. Adaptado)
Considere os versos da terceira estrofe.
Que outro feliz, ditoso como um rei
Enlaçará teu virgem corpo em flor.
No poema, as expressões destacadas podem ser, correta e respectivamente, entendidas no
sentido de:
a) sábio; sensual.
b) afortunado; jovem.
c) astuto; perfumado.
d) poderoso; moreno.
e) temido; esguio.

(Enem 2016) Receita


Tome-se um poeta não cansado,
Uma nuvem de sonho e uma flor,
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma veia sangrando de pavor.
Quando a massa já ferve e se retorce
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
Duma pitada de morte se reforce,
Que um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO, J. Os poemas possíveis.
Alfragide: Caminho, 1997.
Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem
reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de
gêneros, pois
a) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
c) explora elementos temáticos presentes em uma receita.
d) apresenta organização estrutural típica de um poema.
e) utiliza linguagem figurada na construção do poema.
GABARITO
01. [A]
O escritor José Saramago utiliza elementos do gênero “receita” por meio do caráter
descritivo acrescentado aos versos. Um exemplo disso seria a flexão imperativa dos verbos
“tome-se” e “deita-se”.

2. (Enem 2016) Primeira lição


Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro.
O gênero lírico compreende o lirismo.
Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e pessoal.
É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os versos sentimentais eram
declamados ao som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.

O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e o epicédio.


Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta.
CESAR, A. C. Poética, São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as definições apresentadas e o processo de
construção do texto indica que o(a)
a) caráter descritivo dos versos assinala uma concepção irônica de lirismo.
b) tom explicativo e contido constitui uma forma peculiar de expressão poética.
c) seleção e o recorte do tema revelam uma visão pessimista da criação artística.
d) enumeração de distintas manifestações líricas produz um efeito de impessoalidade.
e) referência a gêneros poéticos clássicos expressa a adesão do eu lírico às tradições
literárias.

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