W Final
W Final
W Final
Orientadora
Mestre Manuela Valadão
Orientadora
Mestre Manuela Valadão
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela força e coragem ao longo desta caminhada, trilhada pela
necessidade do saber.
Aos meus pais, Zaida e Alfredo, os quais me inspiram e lhes rogo todos os dias da
minha vida.
Aos meus irmãos pelo apoio incondicional que me têm prestado.
À minha mulher Helena e aos meus filhos Machado, Sónia e António pelo carinho,
incentivo e amparo que contribuíram para o aprofundamento dos meus conhecimentos e
sucesso.
À professora Manuela Valadão pela paciência na orientação e incentivo que tornaram
possível a conclusão deste trabalho de projecto do Curso de Mestrado Integrado em
Ciências Policiais e Segurança Interna.
Aos docentes do ISCPSI pela transmissão sábia e motivante dos conteúdos
programáticos.
Aos meus colegas e amigos pelo incentivo e pelo apoio constantes.
Ao ISCPSI pelo acolhimento e formação ao longo dos últimos 5 anos.
I
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
LISTA DE SIGLAS
§ – Parágrafo
APC – Autoridade de Polícia Criminal
APIC – Autoridades de Polícia de Investigação Criminal
Art.º – Artigo
CADH – Convenção Americana sobre os Direitos Humanos
CEDH – Convenção Europeia dos Direitos Humanos
CADHP – Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos
CEPDLF – Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos e Liberdades
Fundamentais
CP – Código Penal Português
CPM – Código Penal Moçambicano
CRM – Constituição da República de Moçambique
CRP – Constituição da República Portuguesa
DL – Decreto-Lei
DUDH – Declaração Universal dos Direitos do Homem
JIC – Juiz de Instrução Criminal
LMDH – Liga Moçambicana dos Direitos do Homem
MPº – Ministério Público
ONU – Organização das Nações Unidas
OPC – Órgãos de Polícia Criminal
PIC – Polícia de Investigação Criminal
PIDCP – Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
PRM – Polícia da República de Moçambique
STJ – Supremo Tribunal de Justiça
TJP – Tribunal Judicial Provincial
TS – Tribunal Supremo
UC – Unidade de Conta
I
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
RESUMO
Factor motivante do presente trabalho foi a constatação da frequência e elevado
número de detenções efectuadas pela Polícia moçambicana, o que estimulou a pesquisa e
reflexão sobre as razões subjacentes a tal circunstância.
Considerando a importância do bem jurídico liberdade num Estado de direito
democrático, procura-se aprofundar o estudo dos fundamentos, pressupostos e requisitos
legais que podem conduzir à detenção de alguém pela Polícia da República de
Moçambique no território moçambicano, fazendo, ainda, uma análise comparativa com o
regime jurídico em vigor em Portugal.
Pretende-se neste trabalho analisar o conceito de “detenção” e respectiva
operacionalização em ambos os países, atendendo às fortes ligações históricas e ao actual
intercâmbio existentes entre eles. Questiona-se o grau de observância dos direitos humanos
pela polícia moçambicana, tendo em conta o seu carácter paramilitar aliado à necessidade
de actualização dos principais instrumentos normativos com relevância para este tema,
como sejam o Código de Processo Penal e o Código Penal moçambicanos.
Finalmente, conclui-se que os fundamentos, pressupostos e requisitos legais da
detenção, em Moçambique, são passíveis de vulnerabilidade interpretativa, criando-se, na
maior parte dos casos, espaço para o recurso abusivo à medida da detenção.
I
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
ABSTRACT
Motivating factor of this work was the observation of the frequency and high number
of arrests carried out by the Mozambican Police, which has stimulated research and
reflection on the reasons behind such a circumstance.
Considering the importance of the legal value of Freedom in a democratic
constitutional State, seeks to deepen the study of the grounds, legal requirements and
assumptions that can lead to someone's arrest by the police of the Republic of Mozambique
in the Mozambican territory, making a comparative analysis with the Portuguese legal
regime.
It is intended in this work, examine the concept of "detention" and its
operationalization, considering, in both countries, the strong links to historic and current
exchanges between them. We will question the degree of observance of human rights by
the Mozambican police, attending to its paramilitary nature allied to the need of updating
the main legal instruments with relevance to this subject, such as the Code of Criminal
Procedure and the Penal Code of the country.
Finally, it is concluded that the grounds, legal requirements and assumptions of
holding someone, in Mozambique, are prone to interpretative vulnerability, by creating, in
most cases, room for authority abuse in arresting.
V
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS.................................................................................................II
LISTA DE SIGLAS....................................................................................................III
RESUMO...................................................................................................................IV
ABSTRACT.................................................................................................................V
ÍNDICE.......................................................................................................................VI
INTRODUÇÃO...........................................................................................................1
NOÇÕES PREAMBULARES............................................................................................................... 15
1.DISTINÇÃO ENTRE DETENÇÃO E PRISÃO PREVENTIVA NO REGIME JURÍDICO
PORTUGUÊS..................................................................................................................................... 15
............................................................................................................................. 18
4. ADMISSIBILIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA NO REGIME JURÍDICO MOÇAMBICANO
............................................................................................................................. 22
Síntese do capítulo II..........................................................................................24
V
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
NOÇÃO PRELIMINAR......................................................................................................................... 46
1. A PROVIDÊNCIA DE HABEAS CORPUS NO REGIME JURÍDICO PORTUGUÊS....................46
2. A PROVIDÊNCIA DE HABEAS CORPUS NO REGIME JURÍDICO MOÇAMBICANO.............48
Síntese do capítulo IV.........................................................................................53
CONCLUSÕES.........................................................................................................56
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................62
SÍTIOS DA INTERNET.............................................................................................64
LEGISLAÇÃO...........................................................................................................65
ANEXOS......................................................................................................................1
V
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
VI
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
INTRODUÇÃO
A liberdade tem vindo a assumir cada vez mais valor e protecção à medida que as
nações e os Estados têm evoluído para a democracia.
A vida em sociedade obriga à observância de algumas regras de conduta de modo a
tornar possível a perpetuação da espécie humana, pelo que outros valores tais como a
segurança também têm de ser protegidos.
Para evitar uma convivência anárquica, os Estados de direito democrático
empenham-se em criar leis de protecção do Homem contra a prepotência, o arbítrio e a
injustiça protagonizada por outrem ou pelo próprio Estado.
A procura de segurança para o exercício de outros direitos fundamentais justifica
que, em algumas situações, o direito à liberdade ceda em relação à segurança.
A própria Constituição moçambicana ao prever no art.º 43.º que a interpretação e
integração dos preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais se deve fazer
de harmonia com a DUDH, admite a sua limitação por Lei “com vista exclusivamente a
promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de
satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática”1.
O equilíbrio garantístico dos dois direitos é extremamente difícil de alcançar porque
“a liberdade de cada um é relativizada pela liberdade de todos; é condicionada pela
organização política da sociedade a que se pertence, pelas normas de conduta estabelecidas
e em vigor e pelas pressões sociais decorrentes das tradições, dos costumes e dos padrões
culturais predominantes nas comunidades onde se vive.”2
O direito à liberdade congrega uma vastidão de outros direitos, por isso é susceptível
de limitação, quando bens jurídicos superiores, também, protegidos pela Lei forem postas
em causa pela conduta humana.
Assim, tendo em conta diversos factores que podem condicionar o direito à
liberdade, propomo-nos a fazer um estudo sobre a detenção, visto ser uma medida de
privação de movimentos.
1
Art.º 29.º, n.º 2 da DUDH.
2
Dias, Manuel Domingos Antunes, Liberdade, Cidadania e Segurança, Coimbra, Almedina, 2001, pág. 7.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
2
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
3
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
A promoção dos direitos de liberdade constitui agenda prioritária nos Estados que
primam pela legalidade democrática. O direito à liberdade é um valor socialmente
preservado e garantido como um dos mais importantes direitos fundamentais, razão pela
qual é tutelado pelo Estado.
A limitação do direito de liberdade constitui uma crescente preocupação nos Estados
que se distinguem pela organização social democrática e pelo respeito pelas normas de
direito. A violação deste direito pode fomentar reações e manifestações com o objectivo de
ver reconhecidos alguns direitos fundamentais consagrados em diversos instrumentos
internacionais3. Na maioria dos casos, a luta é pelos seguintes direitos: à vida, à integridade
física, à liberdade e à segurança, à reserva da vida privada e à inviolabilidade do domicílio,
da correspondência, entre outros. A liberdade em causa está normalmente relacionada com
a livre circulação de pessoas dentro e fora de um país, com a liberdade de consciência, de
expressão e de informação.
Apesar de as constituições admitirem a possibilidade de limitação dos direitos de
liberdade, a detenção, no quadro dos direitos de liberdade constitucionalmente
consagrados, afigura-se um desvio à regra de liberdade, pois priva o cidadão de um dos
direitos fundamentais mais importantes, o direito à liberdade de locomoção.
A detenção pode ser vista como um instrumento de reacção ao crime violento,
contudo, deve merecer tratamento constitucional, de modo a excluir eventuais abusos de
poder do Estado contra a restrição dos direitos de liberdade dos cidadãos.
3
As violações dos direitos de liberdade podem ter consequências directas para as forças de segurança, na
medida em que são susceptíveis de deteriorar a manutenção da ordem e segurança públicas.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
4
Cfr. O preâmbulo da DUDH
5
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
5
Conferência sobre “Liberdade e Segurança”, organizada pelo MAI, pág. 12.
6
Discurso proferido pelo Secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, na
conferência sobre “Liberdade e Segurança” realizada no Centro Cultural de Belém em Lisboa na sala Almada
Negreiros, no dia 11 de Maio de 2009, pág. 39.
7
Gomes Canotilho e Vital Moreira, cit. por Magistrados do Ministério Público do Distrito do Porto –
Comentários e notas práticas do Código do Processo Penal, 2009, pág. 625.
8
Relatório Sobre o Desenvolvimento Humano de 1994 do programa das Nações Unidas para o
desenvolvimento, págs. 22 e 23.
6
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
9
Discurso proferido pelo Secretário de Estado da Administração Interna (Rui Sá Gomes), na conferência
sobre “Liberdade e Segurança”, realizada no Centro Cultural de Belém em Lisboa na sala Almada Negreiros,
no dia 12 de Maio de 2009, pág. 73.
10
Dias, Manuel Domingos Antunes, Liberdade, Cidadania e Segurança, Coimbra, Almedina, 2001, pág. 77.
11
A DUDH estabelece no art.º 29.º o seguinte: “N.º 1 – O indivíduo tem deveres para com a comunidade,
fora da qual não é possível o livre e o pleno desenvolvimento da sua personalidade. N.º 2 - No exercício
destes direitos e no gozo destas liberdades, ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela Lei
com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a
fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática. N.º 3 - Em caso algum estes direitos poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos
princípios da Nações Unidas.”
7
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
Tendo como base o art.º 29.º da DUDH, pode-se dizer, sem margem de dúvida, que a
expressão “ser livre”, significa que “qualquer cidadão pode fazer todas as vontades
conforme a sua consciência manda, desde que não ponha em causa a liberdade dos outros”.
Como afirma Manuel Domingos Antunes Dias, “a liberdade de cada um é relativizada pela
liberdade de todos; é condicionada pela organização política da sociedade a que se
pertence, pelas normas de conduta estabelecidas e em vigor e pelas pressões sociais
decorrentes das tradições, dos costumes e dos padrões culturais predominantes nas
comunidades onde se vive”12.
Ligado ao direito à liberdade e à segurança está o princípio da presunção de
inocência. A DUDH consagra o direito a presunção de inocência no art.º 11.º, n.º 1,
referindo que “toda pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas
as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas”.
Este direito é consagrado também por outros instrumentos internacionais,
nomeadamente: a CADHP [art.º 7.º, n.º 1, al. b)], CEDH (art.º 6.º, n.º 2), CADH (art.º 8.º,
n.º 2) e o PIDP (art.º 14.º, n.º 2).
Há sempre um conflito entre o direito à liberdade e à segurança na aplicação da
presunção de inocência. Da sua aplicação, em casos concretos, ressaltam-nos duas
situações dignas de apontar:
A inocência ou a culpabilidade são determinadas por um tribunal em virtude
de um processo-crime no âmbito do qual tenham sido concedidas ao arguido
todas as garantias necessárias para a sua defesa (ver art.º 10.º da DUDH).
O direito à presunção de inocência, até prova em contrário, é uma garantia
essencial para que se proporcione um julgamento justo ao arguido.
Todas as pessoas acusadas de práticas criminais deverão ser tratadas como inocentes,
quer estejam detidas ou em prisão preventiva quer permaneçam em liberdade, até à
sentença condenatória transitada em julgado.
Deste modo, competirá às constituições e demais leis resolver o conflito existente
entre “a necessidade socialmente sentida de procurar assegurar um justo e correcto
esfriamento das infracções criminais, e a salvaguarda dos interesses e da personalidade dos
12
Dias, Manuel Domingos Antunes, Liberdade, Cidadania e Segurança, Coimbra, Almedina, 2001, pág. 7.
8
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
acusados”13. É com base nesta garantia que se proíbe a antecipação da pena através da
utilização das medidas restritivas de liberdade.
13
Cfr., em Portugal, Vitela, Alexandra, Considerações acerca da presunção de inocência em Direito
Processual Penal, Coimbra Editora, 2000, pág. 19.
14
Sousa, João de Castro e, tramitação do processo penal, Coimbra Editora, 1985, pág. 100.
9
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
15
Ver art.ºs 28.º e 29.º da Lei de Segurança Interna.
16
Curso de Processo Penal cit., vol. I, págs. 302 e 303.
17
Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal, 4ª edição, 2008, pág. 122.
18
Valente, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito Policial, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2009,
pág. 191.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
19
Segundo o art.º 43.º, da CRM “os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são
interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta
Africana dos Direitos do Homem e dos Povos”.
20
Lei n.º 19/92 de 31 de Dezembro – Cria a Polícia da República de Moçambique.
21
Cfr. art.º 254.º, n.º 1 da CRM.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
22
O n.º 3 do art.º 254.º da CRM prevê que “no exercício das suas funções a Polícia obedece à Lei e serve
com isenção e imparcialidade os cidadãos e as instituições privadas”.
23
A CRM dá possibilidade a qualquer cidadão de não obedecer a ordens ilegais, desde que violem os direitos
de liberdade constitucionalmente consagrados.
24
Art.º 40.º da CRM, “N.º 1- Todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser
sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou desumanos. N.º 2 – Na República de Moçambique não há pena de
morte”.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
A CRM prevê que em determinadas situações, a liberdade pessoal pode ser coartada
– art.º 72.º e 287.º25. Essa restrição tem em vista garantir, essencialmente, o exercício de
outros direitos constitucionalmente consagrados.
A própria CRM enumera, no art.º 287.º26, as excepções que podem limitar
temporariamente as liberdades e garantias individuais em virtude de declaração do estado
de guerra, do estado de sítio ou do estado de emergência27.
Síntese do capítulo I
25
Em casos de declaração do estado de sítio ou de emergência podem ser tomadas as seguintes medidas
restritivas da liberdade das pessoas: a) obrigação de permanência em local determinado; detenção; detenção
em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns.
26
Quanto às restrições das liberdades individuais, o art.º 287.º de CRM determina que podem ser tomadas as
seguintes medidas restritivas da liberdade das pessoas: obrigação de permanência em local determinado;
detenção; detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; restrições
relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à
liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão; busca e apreensão em domicílio; suspensão de liberdade de
reunião e manifestação e requisição de bens e serviços.
27
Vide também o art.º 72.º da CRM.
28
O art.º 56.º, n.º 3 da CRM, remete para a Lei a criação de excepções ao direito à liberdade.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
29
Segundo o art.º 80.º da CRM, “o cidadão tem o direito de não acatar ordens ilegais ou que ofendam os seus
direitos, liberdades e garantias”.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Noções preambulares
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
execução de uma medida de coacção; ou para assegurar a presença imediata ou, não sendo
possível, no mais curto prazo, mas sem nunca exceder vinte e quatro horas, do detido
perante a autoridade judiciária em acto processual”.
A primeira finalidade abarca a detenção em flagrante delito, na situação em que o
detido deve ser submetido a julgamento em processo sumário ou para ser presente ao JIC
para o primeiro interrogatório judicial e, caso seja admissível, para aplicação de uma
medida de coação e também a detenção fora de flagrante delito, nas situações em que a
autoridade judiciária aplica ou executa uma medida de coacção.
A segunda finalidade visa disciplinar o andamento do processo, pelo asseguramento
da presença do detido em acto processual.
As finalidades da prisão preventiva retiram-se do art.º 204.º do CPP e têm em vista o
impedimento de fuga ou perigo de fuga; do perigo de perturbação do decurso do inquérito
ou da instrução do processo; ou do perigo de continuação da actividade criminosa ou da
perturbação grave da ordem e tranquilidades públicas.
Quanto aos prazos da duração máxima da detenção, constata-se da leitura do
preceituado no art.º 254.º do CPP que não podem exceder quarenta e oito horas sem que o
detido seja presente a um juiz. Situação diferente ocorre para os prazos de duração máxima
da prisão preventiva.
Os prazos de duração máxima da prisão preventiva fixam-se entre quatro meses e
três anos e dez meses, podendo, também, elevar-se para metade da pena que tiver sido
fixada, quando a sentença condenatória a pena de prisão do arguido em primeira instância,
tiver sido confirmada em sede de recurso ordinário – vide, art.º 215.º do CPP. Correndo
vários processos contra o arguido por crimes praticados antes de lhe ter sido aplicada
prisão preventiva não é admissível exceder os prazos previstos no art.º 215.º do CPP.
Esgotados os prazos de duração máxima da prisão preventiva, o arguido é posto em
liberdade com ou sem algumas das medidas previstas nos art.ºs 197.º a 200.º, salvo se a
prisão se mantiver em virtude de outro processo – art.º 217.º do CPP.
No que concerne às competências para proceder ou ordenar a detenção e a prisão
preventiva oferece-nos dizer o seguinte: a detenção não pressupõe emissão de mandado,
razão pela qual qualquer autoridade judiciária, qualquer entidade policial ou qualquer
cidadão procede à detenção em flagrante delito (art.º 255.º do CPP); a aplicação da prisão
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
preventiva exige emissão de um mandado, sendo competente para tal, apenas, o juiz (art.º
202.º do CPP).
A detenção pode recair tanto no arguido como em todas as pessoas que, regularmente
convocadas para qualquer diligência processual, faltem injustificadamente, ou perturbem a
ordem dos actos processuais, dificultando o decurso normal do processo – art.ºs 85.º, n.º 2
e 116.º, n.º 2, todos do CPP. A detenção é ordenada pelo juiz e, tratando-se de arguido,
pode ser aplicada a prisão preventiva, se esta for legalmente admissível – art.º 116.º, n.º 2
do CPP.
30
De acordo com a nova redacção dada pela Lei n.º 26/2010 de 30 de Agosto – 19ª Alteração ao CPP.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
31
Cfr. Art.º 213.º do CPP – reexame dos pressupostos da prisão preventiva e da obrigação de permanência na
habitação.
32
Conforme o art.º 291.º do CP, a prisão pode ser entendida como correspondendo a qualquer detenção ou
custódia.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
33
O art.º 251.º do CPPM define como arguido “aquele sobre quem recai forte suspeita de ter perpetrado uma
infracção, cuja existência esteja suficientemente comprovada”.
34
Conforme o art.º 56.º do CPM, são penas correcionais, as seguintes: a pena de prisão de 3 dias a 2 anos, a
de suspensão temporária dos direitos políticos, a de multa e a de repreensão.
35
O CPM estabelece no art.º 55.º, que são penas maiores, as penas de prisão seguintes: 2 a 8 anos, 8 a 12
anos, 12 a 16 anos, 16 a 20 anos, 20 a 24 anos e a pena de suspensão dos direitos políticos por tempo de
quinze ou de vinte anos. O CPM, também, prevê penas especiais para empregados públicos. São penas
especiais para os empregados públicos, as seguintes: a pena de demissão, a de suspensão e a de censura.
1
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
Quanto à manutenção da prisão preventiva depois da culpa formada até decisão final,
cremos que constitui uma violação grave do princípio da presunção de inocência.
Relativamente ao reexame dos pressupostos da prisão preventiva, a Lei processual
penal não estipula nenhum prazo. Contudo, esgotados os prazos de duração máxima da
prisão preventiva sem culpa formada, o arguido deve ser posto em liberdade provisória
mediante caução e sujeito a alguma ou algumas das obrigações previstas no § 2.º do art.º
270.º do CPPM. Se a liberdade provisória mediante caução for inadmissível, o juiz pode,
ouvido o MPº e o defensor do arguido, em despacho fundamentado, determinar os dias
para diligências indispensáveis para conclusão da instrução preparatória do processo e
prorrogar a prisão preventiva por um período nunca superior a 60 dias – art.º 309.º do
CPPM.
A liberdade provisória é sempre inadmissível nos crimes puníveis com as penas
maiores de 20 a 24 anos, 16 a 20 anos, 12 a 16 anos e 8 a 12 anos e nos crimes dolosos
puníveis com pena de prisão superior a 1 ano cometidos por reincidentes – art.º 291.º, § 2.º,
al) a) e b) do CPPM.
Nos termos do disposto no art.º 273.º do CPPM, a prisão preventiva sem culpa
formada é passível de revogação, ordenando-se a soltura do arguido, sempre que os
fundamentos que a determinaram não subsistirem, podendo ser novamente ordenada se
sobrevierem razões que legalmente o justifiquem.
A prisão preventiva pode ser ordenada por juízes dos tribunais judiciais ou
equivalentes, procuradores do MPº, directores, inspectores e subinspectores da PIC,
oficiais da PRM com funções de comando e administradores distritais, chefes dos postos
administrativos ou presidentes dos conselhos municipais, onde não existam oficiais da
PRM37.
A atribuição por Lei da competência para ordenar a prisão preventiva, fora dos casos
de flagrante delito, às entidades não judiciais extravasa do art.º 64.º, n.º 4 do texto
constitucional, quando estatui que “a decisão judicial que ordene ou mantenha uma medida
de privação da liberdade deve ser comunicada a parente ou pessoa da confiança do detido,
por este indicado”38.
36
Cfr. art.ºs 273.º e 308.º, § 3.º do CPPM.
37
Art.º 293.º do CPPM – Requisitos formais da prisão fora de flagrante delito.
38
Antes da formação da culpa, entendemos que deveria ser competente para ordenar a prisão preventiva,
somente o juiz de instrução criminal, em conformidade com a redacção constitucional.
2
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
39
O art.º 3.º da CRM estatui que “a República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado no
pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais do Homem”.
40
Conforme afirmado pelo Procurador-geral da República de Moçambique, os prazos processuais,
nomeadamente os de prisão preventiva, de apresentação do detido ao juiz para o primeiro interrogatório e os
prazos de instrução preparatória não estão a ser observados (anexo III).
41
Esta afirmação resulta da experiência profissional do ora candidato na Polícia de Investigação Criminal,
que, embora naturalmente limitada, ainda assim, permite o presente apontamento. Vide, também, o
pronunciamento do Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (anexo VI) e o teor da entrevista
do anexo II.
2
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
Julgamento em processo sumário no prazo máximo de oito dias 42. Logo após
a detenção é obrigatória a comunicação do acto ao MPº. As APIC devem
entregar o detido em acto seguido à detenção ou no mais curto espaço de
tempo às autoridades judiciárias para o julgamento – art.º 290.º do CPPM.
Apresentação a juiz para o primeiro interrogatório judicial no prazo de
quarenta e oito horas ou no prazo máximo de 5 dias, quando a mandado de
captura não tenha sido emitido pelo juiz e o MPº entender necessária maior
dilação, após a detenção, nos termos do art.º 311.º do CPPM.
Aplicação da prisão preventiva quando o arguido quebra a caução43.
Garantir a presença em acto processual no prazo máximo de 24 horas, sem
contudo o arguido recolher à cadeia44.
Para cumprimento da pena de prisão, decretada por uma sentença judicial
transitada em julgado, na cadeia da região onde foi detido.
Apesar do regime jurídico moçambicano não distinguir formalmente a prisão
preventiva da detenção, se compararmos com o regime português, chega-se à seguinte
conclusão:
a) A prisão preventiva em flagrante delito é uma mera detenção e,
b) Fora de flagrante delito, a prisão preventiva é uma prisão num verdadeiro
sentido de encarceramento. Essa destrinça pode-se retirar do pedido da
providência do habeas corpus, tema que será desenvolvido, a seguir, em
capítulo próprio.
A liberdade consagrada na CRM é uma liberdade no sentido amplo, razão pela qual é
imprescindível a sua restrição para salvaguarda de outros interesses legalmente protegidos
quando são postos em causa por certas condutas humanas. Há, certamente, alguns
comportamentos humanos em face dos quais se justifica plenamente que o direito à
liberdade ceda em relação à ordem e segurança públicas.
42
Art.º 558.º, § 2.º do CPPM – O julgamento pode ser adiado até ao prazo máximo de oito dias.
43
Cfr. art.º 283.º do CPPM – Quebra e execução da caução.
44
Art.º 269.º, § 5.º do CPPM – Se houver suspeita de o arguido se eximir a receber a notificação ou se não
comparecer depois de notificado, deverá ser ordenada a sua comparência sob custódia para acto processual.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
provisória mediante termo de identidade ou mediante caução (art.º 270.º, § 1.º e 2.º do
CPPM).
Pode-se distinguir, no CPPM, duas modalidades de prestação da caução: carcerária e
económica. A carcerária visa assegurar eficazmente a comparência do arguido aos actos
processuais em que seja necessário (art.º 274.º do CPPM). A caução económica tem por
finalidade garantir o pagamento de multas, impostos de justiça e indemnizações (art.º
274.º, § 1.º do CPPM). A económica é imposta somente nos casos em que se reconhece a
solvibilidade económica do arguido.
É obrigatória a substituição da caução por apresentação ao tribunal ou à autoridade
por ele designada, sempre que o arguido, por razões de impossibilidade, grande dificuldade
ou inconveniência não possa prestá-la (art.º 272.º do CPPM).
No que toca ao desconto na duração das penas e medidas de segurança privativas da
liberdade, o art.º 117.º do CPM determina que a sentença condenatória levará em conta por
inteiro: a prisão preventiva, a partir da captura; o tempo cumprido em execução de
condenação por tribunal estrangeiro, desde que se reporte ao mesmo crime; o tempo de
internamento hospitalar que suspenda a execução da pena, salvo se tiver havido simulação;
o tempo da prisão preventiva sofrida pela imputação de crime diferente do crime por que
vier a ser condenado, desde que este último tenha sido praticado antes do termo da prisão
anterior; um dia de pena de multa, no caso de condenação em multa, por um dia de prisão
preventiva.
Síntese do capítulo II
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Sequência:
Neste capítulo estudaremos, apenas, a detenção. Este tema tem suscitado
controvérsias nos últimos anos na República de Moçambique, acusando-se o Sistema de
Administração de Justiça Criminal de proceder, muitas vezes, a detenções feridas de
ilegalidade. A PRM é considerada como o órgão do Estado que mais viola o direito da
liberdade45.
A detenção colide, necessariamente, com os direitos e interesses dos cidadãos, por
isso propomo-nos fazer uma análise dos fundamentos, pressupostos e requisitos de
situações que podem conduzir à detenção de alguém, pela PRM, no âmbito da segurança
interna moçambicana, bem como uma comparação com o regime em vigor em Portugal.
O regime jurídico português estabelece, no art.º 256.º do CPP, que é flagrante delito
todo o crime que se está cometendo ou se acabou de cometer. Equipara ao flagrante delito,
também, o caso em que o agente for, logo após o crime, perseguido por qualquer pessoa ou
encontrado com objectos ou sinais que mostrem claramente que acabou de o cometer ou
nele participar.
Da análise desta definição legal podem-se distinguir, à partida, três situações: o
flagrante delito propriamente dito, o quase flagrante delito e a presunção de flagrante
delito.
No flagrante delito propriamente dito (“…todo o crime que se está cometendo
ou…”), o agente é surpreendido a executar o facto criminal. Verifica-se a actualidade da
acção criminosa.
45
A Liga Moçambicana dos Direitos Humanos tem vindo, sistematicamente, acusar a PRM de submeter
os detidos a "tratamento desumano", ignorando os direitos humanos elementares, para além de
protagonizar detenções ilegais e/ou arbitrárias, por motivos fúteis ou infundados, bem como violação dos
prazos de prisão preventiva (ver anexos IV e I).
2
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
46
Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal II, 4ª edição, Verbo, Lisboa, Revista actualizada,
2008, pág. 266.
47
Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal II, 4ª edição, Verbo, Lisboa, Revista actualizada,
2008, pág. 266.
2
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
A noção de flagrante delito está plasmada no art.º 288.º de CPPM, que estabelece que
“é flagrante delito todo o facto punível que se está cometendo ou que se acabou de
cometer. Reputa-se, também, flagrante delito o caso em que o agente é, logo após a
infracção criminal, perseguido por qualquer pessoa, ou foi encontrado a seguir a prática da
infracção com objectos ou sinais que mostrem claramente que a cometeu ou nela
participou”.
O conteúdo da definição legal de flagrante delito permite-nos, tal como sucede no
regime português, distinguir o flagrante delito, o quase flagrante delito e a presunção de
flagrante delito.
A Lei moçambicana não faz nenhuma referência relativamente ao flagrante delito
nos casos de crimes permanentes, mas é nosso entendimento que o estado de flagrante
delito, nestes, perdura enquanto existirem sinais claros da actualidade da execução da
acção criminal.
48
Nos crimes públicos, o MPº depois de tomar conhecimento da notícia do crime, promove, obrigatória e
oficiosamente o processo-crime, iniciando destarte a fase do inquérito, art.ºs 48.º e 262.º, n.º 2 do CPP. O
MPº colabora com o tribunal na descoberta da verdade e na realização do direito, obedecendo em todas as
intervenções a critérios de estrita objectividade e legalidade (cfr. art.ºs 53.º, n.º 1 do CPP e 219.º, n.º 1 da
CRP). Nos crimes semipúblicos a promoção do processo-crime por parte do MPº está dependente do
exercício do direito de queixa do ofendido ou de outras pessoas a quem a Lei confere esse direito (art.ºs 49.º,
n.º1 do CPP e 113.º do CP). Os crimes semipúblicos são a primeira restrição ao caráter oficioso e obrigatório
da promoção do processo-crime pelo MPº (art.º 48.º). Após a apresentação da queixa, o MPº dá início ao
processo-crime, fase de inquérito, desenvolvendo toda a tramitação processual como de crime público fosse.
Os crimes particulares são aqueles cujo procedimento exige obrigatoriamente: apresentação de queixa pelo
ofendido ou outras pessoas a quem a Lei confere esse direito, constituição de assistente e dedução da
acusação particular (Cfr. art.ºs 50.º, n.º 1 do CPP e 113.º do CP). Os crimes particulares são a segunda
restrição ao preceituado art.º 48.º do CPP que estipula a oficialidade e obrigatoriedade da promoção penal
pelo MPº.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
O regime jurídico português prevê duas finalidades para a detenção, a saber: “para,
no prazo máximo de quarenta e oito horas, o detido ser submetido a julgamento sob forma
sumária ou ser presente ao juiz competente para o primeiro interrogatório judicial ou para
aplicação ou execução de uma medida de coacção; ou para assegurar a presença imediata
49
Art.º 250.º do CPP – Identificação de suspeitos e pedido de informações.
50
Cfr. art.ºs 248.º e 259.º, al. b), do CPP.
51
Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal II, 4ª edição, Verbo, Lisboa, Revista actualizada,
2008, pág. 268.
2
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
ou, não sendo possível, no mais curto prazo, mas sem nunca exceder vinte e quatro horas,
do detido perante a autoridade judiciária em acto processual” 52.
A primeira finalidade reporta-se à detenção em flagrante delito, na situação em que o
detido deve ser submetido a julgamento em processo sumário ou para ser presente ao juiz
de instrução criminal para o primeiro interrogatório judicial e, caso seja admissível, para
aplicação de uma medida de coação e também à detenção fora de flagrante delito, nas
situações em que a autoridade judiciária aplica ou executa uma medida de coação.
A segunda finalidade visa disciplinar o andamento do processo, designadamente
assegurando a presença do detido em acto processual. Esta medida tem como pano de
fundo evitar-se a perturbação dos trabalhos de investigação e faltas sucessivas em acto
processual. Pode ser aplicada tanto ao arguido como a todas pessoas regularmente
convocadas para qualquer diligência processual – artigos 85.º, n.º 2 e 116.º, n.º 2, todos do
CPP.
A detenção é ordenada pelo juiz e, tratando-se de arguido, pode ser aplicada a prisão
preventiva, se esta for legalmente admissível – art.º 116.º, n.º 2 do CPP.
Aos arguidos são reconhecidos direitos e deveres.
Importa referir que o arguido detido em qualquer estabelecimento policial das forças
de segurança tem direito de comunicar, oralmente ou por escrito, com o seu defensor. Para
a prossecução deste direito, a polícia deve facilitar ao detido o uso do telefone do
estabelecimento policial, quando não haja telefone público nas instalações policiais 53. Para
além deste direito, uma vastidão de outros lhe são reconhecidos pelo CPP, conforme se
pode depreender nos art.ºs 61.º, 89.º, 140.º, n.º 1, 174.º, n.º 5, 176.º, n.º 1, 220.º, 225.º,
272.º, 287.º, 325.º, 332.º, n.º 7, 334.º, n.º 2, 357.º, n.º 1 e 361º.
O art.º 61.º do CPP é uma reafirmação de alguns direitos do arguido, estabelecidos
no art.º 32º da CRP.
De acordo com o estipulado no art.º 61.º n.º 3, os arguidos detidos tem obrigação: de
responder com verdade às perguntas sobre a sua identidade e sobre os antecedentes
criminais, quando a Lei exigir, sob pena de cometer os crimes de desobediência ou de
falsidade de depoimento ou declarações previstos e punidos pelos art.ºs 348.º e 359.º n.º 2,
52
Cfr. art.º 254.º do CPP – Finalidades da detenção.
53
Cfr. Despacho n.º 10717/2000 de 25 de Maio.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
todos do CP; de prestar TIR, indicando a sua residência, local de trabalho ou outro
domicílio à sua escolha e de sujeitar-se a diligências de prova e a medidas de coacção.
54
No Código Penal vigente em Moçambique os crimes podem ser classificados em públicos, quando
dispensam a denúncia ou queixa para ter lugar o procedimento criminal, ou semipúblicos, quando a Lei exige
a queixa da pessoa ofendido ou dos seus legítimos representantes e isto acontece, particularmente nos casos
de crimes sexuais. Há, também, os chamados crimes particulares, aqueles para cujo procedimento criminal a
Lei exige além da queixa ou denúncia a acusação particular.
3
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
55
Cfr. art.º 269.º, §1.º e § único do art.º 287.º, todos do CPPM.
56
Cfr. art.º 292.º do CPPM – Casos em que não deve ser efectuada a prisão.
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Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
57
O § único do art.º 292.º do CPPM prevê que “quando a acção penal depender de acusação particular ou de
participação de certas pessoas, a prisão em flagrante delito só pode ter lugar quando o titular do direito de
acusação ou participação em juízo declare à autoridade ou agente da autoridade que pretende exercer aquele
direito”.
58
Cfr. art.º 289.º do CPPM –. Lugar da captura em flagrante delito.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
59
A CRM garante a inviolabilidade do domicílio ao estabelecer que “ninguém pode entrar durante a noite no
domicílio de qualquer pessoa sem o seu consentimento”.
60
Cfr. § único do art.º 301.º do CPPM – Prisão de noite, em casa habitada.
61
Art.º 558.º, § 2.º do CPPM – O julgamento pode ser adiado até ao prazo máximo de oito dias.
62
Art.º 290.º do CPPM – Entrega de
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
63
Cfr. art.º 283.º do CPPM – Quebra e execução da caução.
64
Art.º 269.º, § 5.º do CPPM – Se houver suspeita de o arguido se eximir a receber a notificação ou se não
comparecer depois de notificado, deverá ser ordenada a sua comparência sob custódia para acto processual.
65
Para o ingresso na carreira da PRM são exigidas as habilitações literárias mínimas de 10ª classe (art.º 21.º
do Decreto-Lei n.º 28/99, de 24 de Maio), contudo continua a existir muitos elementos policiais com
habilitações literárias inferiores aos actualmente em vigor devido à integração dos militares nas fileiras
policiais após o Acordo Geral de Paz, assinado entre o Governo da Frelimo e o Partido Renamo no dia 4 de
Outubro de 1992. Este acordo pôs fim a guerra civil que devastou Moçambique durante 16 anos
consecutivos.
66
Informação sustentada pelo preâmbulo do Decreto-Lei n.º 28/75, de 1 de Março.
67
O CPPM em vigor em Moçambique data de 15 de Fevereiro de 1929. A última reforma foi dada pelo
Decreto-Lei n.º 185/72, de 31 de Maio.
68
Art.º n.º 63.º, n.º 4 da
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
69
A LMDH refere que a polícia tem violado o direito de o detido ser ouvido na presença de um advogado,
com o argumento de que este é apenas essencial no tribunal, ver anexos I e V.
70
N.º 2 do art.º 62.º da CRM.
71
Cfr. art.º 311.º, § 1.º do CPPM – Apresentação ao juiz e incomunicabilidade antes do primeiro
interrogatório.
73
Cfr. art.º 56.º a 72.º da CRM – Direitos, liberdades e garantias
3
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
72
§ Único do art.º 253.º do CPPM.
73
Cfr. art.º 56.º a 72.º da CRM – Direitos, liberdades e garantias
3
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
A detenção fora de flagrante delito só pode ter lugar por mandado das autoridades
judiciárias ou ordem das autoridades de polícia criminal.
A CRP consagra a detenção fora de flagrante delito no art.º 27.º, n.º 3. Esta é,
também, disciplinada no CPP, nos art.ºs 257.º74 e 258.º75.
O MPº só pode ordenar a detenção fora de flagrante delito nos crimes que admitem
prisão preventiva quando:
a) Houver fundadas razões para considerar que o visado se não apresentaria
voluntariamente perante autoridade judiciária no prazo que lhe fosse fixado,
b) Houver, em concreto, uma das situações do art.º 204.º do CPP, ou
c) For imprescindível para a protecção da vítima.
As autoridades policiais podem ordenar a detenção do infractor, por iniciativa
própria, fora de flagrante delito, quando se verifiquem, cumulativamente, os seguintes
requisitos (art.º 257.º, n.º 2 do CPP):
Se se tratar de caso em que é admissível a prisão preventiva,
Existirem elementos que tornem fundados o receio de fuga ou de continuação
da actividade criminosa,
Não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora, esperar
pela intervenção da autoridade judiciária.
74
Detenção fora de flagrante delito.
75
Mandados de detenção.
3
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
76
O CPPM utiliza, sem nenhuma distinção, os termos: prisão preventiva, prisão e detenção.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
A CRM estatui, no art.º 64.º, n.º 2 que o cidadão detido fora de flagrante delito deve
ser apresentado no prazo fixado na Lei à autoridade judicial, por ser a única competente
para decidir sobre a validação e a manutenção da detenção. A CRM não determina quem
tem competência de deter fora de flagrante delito. Contudo, da leitura da Lei Fundamental
moçambicana, conjugada com a da legislação processual penal, em vigor no país, conclui-
se que a competência para ordenar a detenção fora de flagrante delito pode estender-se a
outras entidades para além das autoridades judiciais.
A Lei n.º 2/93 de 24 de Junho introduziu uma nova redacção ao art.º 293.º do CPPM,
atribuindo a competência para deter às seguintes entidades: autoridades judiciárias e
demais APIC.
O § único do art.º 293.º define como autoridades de polícia de investigação criminal
o MPº, os directores, inspectores, subinspectores da PIC, os oficiais da PRM com funções
de comando, os administradores de distrito, chefes de posto administrativo e presidentes do
conselho executivo, onde não haja oficiais da PRM com funções de comando.
Analisando detalhadamente o art.º 293.º do CPPM chega-se à conclusão de que
somente as entidades que nele constam são competentes para ordenar qualquer detenção
fora de flagrante delito. Qualquer entidade diferente das mencionadas neste preceito é
incompetente para ordenar uma detenção fora de flagrante delito, pelo que se o fizer, a
detenção considerar-se-á ilegal.
Os agentes de autoridade, por maioria de razão, não podem ordenar nem efectuar a
detenção fora de flagrante delito por iniciativa própria, mas podem intervir na detenção
como simples executores, após ordem por escrito de qualquer uma das autoridades
referidas no art.º 293.º do CPPM.
A realidade moçambicana permite, na maioria das situações, que a ordem de
detenção fora de flagrante delito seja dada pelo comandante de Esquadra devido à
exiguidade de magistrados judiciários em muitos aglomerados populacionais.
A falta de definição clara dos pressupostos materiais para a detenção fora de
flagrante delito, no art.º 291.º do CPPM, tem conduzido a uma interpretação pouco cuidada
da Lei, por parte das autoridades policiais, ocasionando, algumas vezes, uma actuação
policial à margem das normas legais.
Continuamos a não concordar com a competência atribuída aos administradores de
distrito e chefes dos postos administrativos ou presidentes dos conselhos executivos para
3
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
ordenar a detenção fora de flagrante delito, uma vez convencidos de que somente as
autoridades judiciárias e policiais é que estão em melhores condições para garantir maior
protecção os direitos dos detidos.
Sempre que for necessário entrar em casa habitada ou suas dependências fechadas
para prender o agente, a autoridade ou agente de autoridade é obrigada a exibir o mandado
ou a ordem de captura, sempre que para tal seja solicitado pelo alvo77.
Se, depois de exibido o mandado ou a ordem de captura, for negada a entrada em
casa habitada ou suas dependências, a autoridade ou agente de autoridade podem usar da
força para tornar exequível a detenção, nos casos que a Lei o permita – art.º 302.º do
CPPM.
77
Cfr. art.º 302.º do CPPM – Necessidade de ordem de captura para a prisão dentro de casa.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
78
Cfr. art.º 258.º do CPP – Mandados de detenção.
79
Art.º 141.º, n.º 3 do CPP; Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal II, pág. 274.
80
Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal II, pág. 277.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
da situação actual do detido e, sempre que este o pretenda, informa parente ou pessoa da
sua confiança81.
Importa referir que, em caso de urgência e de perigo na demora é admissível a
requisição da detenção por qualquer meio de telecomunicação, seguindo-se-lhe
imediatamente confirmação por mandado82.
A detenção não pode ter lugar quando houver motivos para crer na existência de
causas de isenção de responsabilidade ou de extinção do procedimento criminal83.
A execução do mandado de detenção sem observância do preceituado no art.º 258.º,
n.º 1 do CPP, consubstancia uma detenção ilegal “por a pessoa a deter não poder
comprovar a legitimidade de quem o assinou, se lhe é dirigido ou se se verificam os
pressupostos materiais que a permitem” 84. Constatando-se que a detenção ofende os
direitos de liberdade por abuso de poder da entidade que emitiu ou executou o mandado de
detenção, o arguido pode recorrer à providência do habeas corpus em virtude de detenção
ilegal. Sobre o habeas corpus falaremos com mais detalhe no próximo capítulo.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
86
O art.º 64.º, n.º 3 da CRM estabelece que “toda pessoa privada de liberdade deve ser informada
imediatamente e de forma compreensível das razões da sua prisão ou de detenção e dos seus direitos”.
87
O ora candidato a oficial de polícia pertence aos quadros da Polícia da República de Moçambique e
vivenciou algumas situações.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
88
Cfr. art.º 296.º do CPPM – exequibilidade dos mandados de captura.
89
A decisão sobre as medidas privativas de liberdade cabe ao poder judicial, Lei n.º 2/93, de 24 de Junho e
art.º 290.º do CPPM.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
A consagração dos direitos do arguido no art.º 61.º do CPP e tantos outros dispersos
pelo mesmo instrumento constitui uma reafirmação do conteúdo do art.º 32º da CRP. Em
Moçambique, os direitos do detido são menos explícitos, embora se possam inferir de
diversos instrumentos, desde a Constituição da República 90 e de instrumentos
internacionais.
Fora de flagrante delito, a detenção pode ter lugar por mandado do juiz, do MPº ou
da APC, em Portugal. Em Moçambique, a detenção pode ser executada através do
mandado do juiz ou da ordem de captura do MPº, da autoridade policial, do administrador
distrital, do chefe do posto administrativo e do presidente do conselho executivo de
localidade.
Os pressupostos materiais para a emissão do mandado de detenção, em Portugal,
diferem de cada uma das entidades, conquanto, em Moçambique, os pressupostos materiais
para emissão dos mandados de detenção são idênticos para todas as entidades com
competência para tal.
Durante a detenção o detido recebe uma cópia do mandado de detenção em que
constam, para além da identificação do detido e da assinatura da entidade que o emitiu, do
facto que motivou a detenção e das circunstâncias que legalmente a fundamentam. Nos
dois regimes jurídicos, os mandados de detenção não tem data de validade.
Contrariamente ao mandado de detenção português, o mandado ou a ordem de
captura moçambicano exige, ainda, a declaração da admissibilidade ou não da liberdade
provisória.
Nos dois países, os mandados de detenção são exequíveis em todo território nacional,
devendo, sempre que possível, ser imediatamente cumpridos. Durante a noite, a execução
do mandado de detenção em casa habitada e suas dependências depende do consentimento
dos moradores ou do despacho do juiz.
90
O CPPM está em vigor desde o período colonial (15 de Fevereiro de 1929); a CRM é de 16 de Novembro
de 2004.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Noção preliminar
O habeas corpus91 é um instrumento de reacção célere contra qualquer privação de
liberdade sem fundamento legal.
As sociedades democraticamente organizadas adoptam o habeas corpus como uma
garantia individual usada quando se verifica um exercício ilegítimo ou abusivo de poderes
públicos92.
O habeas corpus surge como um mecanismo rápido de reposição da legalidade
coartada pela intromissão abusiva da autoridade pública contra o direito de liberdade
individual. A consciência democrática projectada na protecção constitucional dos direitos
fundamentais obriga a que a gestão desta providência seja confiada ao poder judicial, por
ser imparcial e independente.
91
O habeas corpus é uma instituição de origem britânica e tinha como objectivo reagir aos abusos de poder
do absolutismo monárquico.
92
António Alfredo Mendes, op. cit., pág.14.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
93
Sobre os prazos de entrega do detido ao poder judicial, cfr. art.º 254.º do CPP.
94
Os locais onde a detenção é legalmente permitida estão previstos nos Decretos-Lei n.ºs 265/79, de 1 de
Agosto e 49/80, de 22 de Março.
95
Vide, art.º 221.º do CPP.
96
Vide, art.º 31.º, n.º 3 da CRP.
97
Silva, Germano Marques, Curso de Processo Penal II, 4ª edição, pág. 357.
98
1 UC equivale a 102 euros.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
A aplicação desta providência exige que a prisão sob a qual aquela versa seja
efectiva, actual, e ilegal em resultado de:
Ter sido efectuada ou ordenada por entidade incompetente;
Ser motivada por facto pelo qual a Lei a não permite; ou
Manter-se para além dos prazos fixados pela Lei ou por decisão judicial.
O pedido do habeas corpus pode ser formulado pelo preso ou por qualquer cidadão
no gozo dos seus direitos políticos. O requerimento, em duplicado, é dirigido ao presidente
do STJ, mas remetido à autoridade à ordem da qual se mantenha o preso. Recebido o
requerimento, a autoridade à ordem da qual se mantenha ao preso envia-o imediatamente
ao presidente do STJ, com esclarecimentos sobre as condições em que foi efectuada ou se
mantém a prisão.
Se a prisão se mantiver, o STJ delibera dentro dos oitos dias subsequentes. A
deliberação pode, em alternativa:
Indeferir o pedido por falta de fundamento bastante;
Mandar colocar imediatamente o preso à ordem do STJ e no local por este
indicado, nomeando um juiz para proceder a averiguações, dentro do prazo
que lhe for fixado, sobre as condições de legalidade da prisão;
Mandar apresentar o preso no tribunal competente e no prazo de vinte e
quatro horas, sob pena de desobediência qualificada; ou
Declarar ilegal a prisão e, se for caso disso, ordenar a libertação imediata.
Se a decisão do STJ julgar o requerimento de habeas corpus manifestamente
infundado, condena o peticionário ao pagamento de uma soma entre 6 UC a
30 UC.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
99
Em Moçambique, todos têm direito à segurança e ninguém pode ser preso e submetido a julgamento senão
nos termos da Lei (art.º 59.º, n.º 1 da CRM). As liberdades e garantias individuais só podem ser suspensas ou
limitadas temporariamente em virtude de declaração de estado de guerra, do estado de sítio ou do estado de
emergência nos termos estabelecidos na Constituição (art.º 72.º da CRM).
100
O detido pode requerer a validação judicial da prisão nos termos do art.º 312.º do CPP ou requerer ao juiz
a sua restituição à liberdade ou recorrer à providência extraordinária do habeas corpus nos termos do art.º
315.º do CPP.
4
Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
d) Prolongar-se para além do tempo fixado por decisão judicial para a duração
da pena ou medida de segurança ou sua prorrogação.
O pedido de habeas corpus poderá ser formulado pelo preso, ou por seu cônjuge,
ascendente ou descendente com capacidade para tal, através do requerimento assinado por
advogado, dirigido ao presidente do TS, com sede na cidade de Maputo – art.º 316.º do
CPPM.
O requerimento é entregue em duplicado ao presidente do Tribunal Judicial da
Cidade de Maputo ou ao juiz presidente do TJP do lugar onde a ordem de prisão tiver sido
dada, com os fundamentos da ilegalidade da prisão. Do requerimento devem constar a
identificação do preso, a entidade que o prendeu ou mandou prender, a data de captura, o
local da prisão, os motivos desta e os fundamentos da sua ilegalidade – § 1.º do art.º 316.º
do CPPM.
O juiz presidente do TJP remete o duplicado do requerimento do pedido da
providência extraordinária de habeas corpus à entidade responsável pela prisão, a qual
deverá responder com informação sobre as condições em que esta foi efectuada ou mantida
dentro do mais breve prazo possível101.
Se, da informação dada pela entidade responsável pela prisão constar que o preso foi
restituído à liberdade, o juiz presidente do TJP ordena o arquivamento do processo de
reclamação por falta do requisito de actualidade, ficando abertos ao peticionário os meios
normais para o pedido de indemnização pelos danos sofridos – art.º 317.º, § 1.º do
CPPM102.
Se, da informação dada pela referida entidade, constar que a prisão se mantém, o juiz
presidente do TJP remete a informação, juntamente com o pedido da providência de
habeas corpus, ao presidente do TS. O mesmo acontece quando a entidade responsável
pela prisão não forneça resposta dentro do prazo que se julgue suficiente, remetendo-se o
pedido da providência com essa informação - § 3.º do art.º 317.º CPPM.
101
Cfr. art.º 317.º do CPPM – Resposta e audiência da entidade responsável pela prisão.
102
O Estado moçambicano reconhece o direito à indemnização pelos actos lesivos aos direitos de liberdade,
quando estabelece no art.º 58.º da CRM que “ a todos é reconhecido o direito de exigir, nos termos da Lei,
indemnização pelos prejuízos que forem causados pela violação dos seus direitos fundamentais. O Estado é
responsável pelos danos causados por actos ilegais dos seus agentes, no exercício das suas funções, sem o
prejuízo do direito de regresso nos termos da Lei”.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
Este artigo prevê e pune a prisão ilegal efectuada por qualquer empregado público, com as penas de três
104
meses a dois anos, podendo as mesmas ser agravadas com pena de multa.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
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105
O art.º 312.º do CPPM refere-se a uma mera detenção.
106
Os prazos de apresentação do detido ao poder judicial estão previstos no art.º 311.º do CPPM.
107
Os locais de detenção legalmente autorizados estão regulados pelo Decreto-Lei n.º 26643.
108
Cfr. art.º 313.º do CPPM – Notificação da entidade que tem o detido à sua guarda.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
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Síntese do capítulo IV
109
É considerada desobediência qualificada a que for feita na qualidade de jurado, testemunha, perito,
intérprete, tutor ou vogal do conselho de família – art.º 189.º do CPM.
110
Cfr. art.º 314.º, § 3.º do CPPM.
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CONCLUSÕES
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Caso o tribunal decida indeferir o pedido do habeas corpus por ser manifestamente
infundado, condena, solidariamente o requerente e o defensor no pagamento de uma
indemnização que reverte para o cofre geral dos tribunais, podendo, ainda, aplicar uma
pena de prisão por injúrias ao tribunal, ao preso e a pena de suspensão do exercício da
advocacia, ao advogado, pelo período de 3 meses a 1ano, sempre que o pedido tiver como
intenção prejudicar ou demorar o curso normal da investigação.
Apesar de existirem violações dos prazos de apresentação do detido ao juiz para o
primeiro interrogatório judicial e da prisão preventiva em Moçambique, os
condicionalismos que envolvem o instituto do habeas corpus reduzem, em muito, a sua
aplicação prática.
p) A ocorrência frequente de detenções e em número elevado, em Moçambique,
deve-se, essencialmente, à vulnerabilidade dos respectivos pressupostos materiais e das
dificuldades interpretativas da CRM, por um lado, e das demais leis, por outro.
O facto de a Lei admitir tanto a emissão das ordens de captura para os crimes a que
caiba pena de prisão superior a 1 ano, fora de flagrante delito como a aplicação da medida
de prisão preventiva, pode dar origem à excessiva frequência e elevado número de
detenções. Acrescem a este problema, dificuldades interpretativas da Lei decorrentes de
lacunas legislativas e da inaplicabilidade de vários artigos do CPPM, instrumento de
trabalho diário da polícia, tais como os seguintes:
Art.º 291.º,§ 2.º al. a), que obriga as autoridades policiais a efectuar a
detenção do arguido em todos os crimes cuja pena de prisão seja igual ou
superior a 8 anos,
Art.º 293.º que atribui à polícia a competência de ordenar a prisão preventiva
por crimes cuja pena de prisão seja superior a 1 ano,
Art.º 311.º,§ 1.º, que obriga as autoridades policiais a impedir a comunicação
dos detidos ou presos com os seus defensores, até ao primeiro interrogatório
judicial, em violação do direito do arguido à assistência de defensor em todos
actos do processo – art.º 62.º da CRM;
q) Deverá questionar-se a constitucionalidade dos art.ºs 291.º, § 2.º al. a), 293.º,
308.º, § 3.º, e 311.º, todos do CPPM.
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
r) Deverá equacionar-se uma reforma efectiva e urgente dos CPPM e CPM com vista
à sua modernização em conformidade com o regime democrático em vigor e a sua
harmonização com a Lei fundamental.
2. Para além das conclusões enunciadas, supra, há outras vertentes que, a nosso ver,
deveriam ser equacionadas e trabalhadas, com vista à melhoria do desempenho da Polícia
moçambicana nos processos de detenção, tais como: reforço da intervenção do Ministério
do Interior, no que diz respeito, às inspecções ordinárias e extraordinárias aos Comandos,
esquadras e postos policiais; recrutamento de quadros com formação académica adequada;
promoção de cursos contínuos sobre os direitos humanos aos elementos policiais;
elaboração de manuais de procedimentos por forma a uma mais clara interpretação e
precisão dos normativos, contendo, além do mais, por razões pedagógicas, mecanismos de
responsabilização dos elementos policiais que actuem abusivamente ou desrespeitem as
normas legais; aquisição de viaturas vocacionadas para o transporte de detidos.
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BIBLIOGRAFIA
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
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SÍTIOS DA INTERNET
http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/2012/2/10/Liga-dos-
Direitos-Humanos-acusa-policia-tratamento-desumano-dos-presos,8b88e1dc-5ace-48e9-
bf87-cbcb75f451d7.html (disponível no dia 10 de Fevereiro de 2012).
http://www.cedimo.gov.mz/index.php?
option=com_content&view=article&id=217:r eforma-da-legislacao-penal-sociedade-civil-
inicia-recolha-de- assinaturas&catid=57:informacao&Itemid=113 (disponível no dia 6 de
Março de 2012).
http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/1186378 (disponível no
dia 6 de Março de 2012).
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Detenção em flagrante delito e fora de flagrante
Comparação dos regimes jurídicos vigentes em Moçambique e Portugal
http://www.tvm.co.mz/index.php?option=com_k2&view=item&id=244:prazos-de-
pris%C3%A3o-preventiva-n%C3%A3o-est%C3%A3o-a-ser-observados-constata-
augustopaulino-em-cabo-delgado (disponível no dia 9 de Março de 2012).
LEGISLAÇÃO
Assembleia da República. Lei n.º 53/08. Aprova a Lei de Segurança Interna. Diário
da República n.º167, Série I, de 29 de Agosto de 2008.
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Anexos
ANEXO I – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO VICE-PRESIDENTE DA LMDH
A
da prisão preventiva são, efectivamente, os adequados para o tipo do Sistema de
Justiça Criminal Nacional actual.
Não pelas razões já apontadas anteriormente, acrescendo que só aumentam o volume
processual e a população em reclusão. Dão azo à violação do princípio da presunção da
inocência, o que é uma violação grave dos Direitos Humanos.
4. A PRM é uma das partes da unidade do Sistema de Justiça Criminal de
Moçambique. Quais os avanços ou retrocessos que a LDH poderia apontar quanto à
actuação policial na defesa, protecção e respeito dos Direitos Humanos.
Avanços apenas a formação de agentes com melhor qualificação académica e o
apetrechamento de algumas esquadras. Retrocessos são muitos. Ainda há detenções
arbitrárias, a violação do direito à manifestação, a corrupção já é endémica, há uma
sistemática intimidação aos desmobilizados para não se manifestarem a exigir os seus
direitos, continua a ser violado o direito ao detido a ser ouvido na presença de um
advogado, sempre com o argumento de que o advogado só tem trabalho no tribunal e não
nas esquadras.
5. Fora de flagrante delito, a detenção pode ser ordenada pelas autoridades
judiciárias e pelas demais autoridades de polícia de investigação criminal, conforme o
artigo 293.º do código do processo penal. Esta prerrogativa legal não será motivadora
de elevado número de detenções arbitrárias ou ilegais a nível nacional?
Sim, pelas razões apontadas anteriormente e sobretudo por ter um leque muito
alargado de entidades que não têm profundo conhecimento do direito mas têm o poder de
mandar deter.
6. Quais são, na opinião da LDH, os aspectos da actuação policial moçambicana
que podiam ser melhorados para uma efectiva defesa, protecção e respeito pelos
Direitos Fundamentais dos cidadãos?
Conhecimento dos direitos dos cidadãos, recrutar pessoas com melhores
qualificações, haver mecanismos eficazes de sancionamento de práticas de abuso de
autoridade e de corrupção; atribuir melhores condições materiais à polícia e purificar as
mentalidades.
7. Será que em Moçambique há abundância ou ausência das liberdades?
Liberdades estão todas consagradas na Lei, existe é dificuldade de concretizar tais
liberdades.
B
ANEXO II – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO CHEFE DO DEPARTAMENTO DA
PIC DA PROVÍNCIA DO MAPUTO
C
ameaças contra as testemunhas, às vítimas, peritos, destruição de provas que não tenham
sido recolhidas. Facilita a captura de outros agentes infractores; c) Evitar que o arguido
cometa outros crimes.
3. Em que circunstâncias a polícia pode ordenar a libertação de um detido, seja
por erro sobre a pessoa ou por não se justificar a situação da detenção?
Logo que se verifique que a detenção ocorreu por erro sob a pessoa ou foi
injustificada, mediante despacho fundamentado, o inspector ou subinspector da PIC pode
ordenar a libertação do detido, desde que não tenha sido dado conhecimento ao digno
agente do MPº e/ou ao JIC. Uma vez apresentado ao MPª ou ao JIC, só estas figuras o
podem fazer.
O inspector que dirige a investigação fundamenta previamente e faz subir os autos
para o digno representante do MPº a fim de se pronunciar a cerca dos fundamentos
apresentados relativamente à restituição à liberdade do detido.
4. O nosso Sistema de Justiça Criminal não define a detenção nem a prisão.
Qual é o entendimento desta Polícia quanto à destrinça entre os dois conceitos?
Para mim, a detenção corresponde a prisão preventiva.
5. Qual é o tempo de validade de um mandado ou ordem de detenção?
A prescrição é relativa aos casos que não tenha sido levantada a acção penal. Uma
vez levantada e havendo ordem ou mandado de captura este mantém-se válido até o seu
cumprimento/execução. Importante é periodicamente dar a conhecer a quem de direito.
6. Nas localidades têm-se verificado exiguidade de meios circulantes para o
serviço policial. Qual deve ser o tratamento dos detidos quando há razões para crer
que os mesmos nunca poderão ser apresentados no período inferior a 48 horas a uma
autoridade judiciária?
Nem na sede (Direcção Provincial da PIC) conseguimos apresentar os arguidos
dentro de quarenta e oito horas devido à falta de quadros e de meios.
D
ANEXO III – PRAZOS DE PRISÃO PREVENTIVA NÃO ESTÃO A SER CUMPRIDOS
E
pedido de liberdade condicional; necessidade de formação e capacitação de magistrados e
oficias de justiça colocados nos distritos; construir e apetrechar as novas procuradorias
distritais e preparar a província para os desafios que o seu desenvolvimento coloca.
De um modo geral, o PGR constatou existirem melhorias na intervenção do
Ministério Público nos processos, na assistência aos reclusos e na tramitação processual.
Saudou os quadros da província, pela construção de três procuradorias nos distritos de
Ancuabe, Chiúre e Palma.
A visita de Augusto Paulino a Cabo Delgado teve como objectivo, entre vários
outros, a monitoria, assistência técnica e metodológica e avaliação das actividades
desenvolvidas pelas procuradorias provincial e distritais, o controlo da legalidade, a
capacidade de acção e desempenho institucional e a aferição do nível de intervenção do
Ministério Público nos processos, com particular destaque para a direcção da instrução
preparatória dos processos-crime.”
F
ANEXO IV – RECLAMAÇÕES DA LMDH ACERCA DOS DIREITOS DOS DETIDOS
G
"O Estado, por mais aperfeiçoadas que estejam as suas instituições, não pode tudo.
As organizações da sociedade civil são parceiros imprescindíveis na promoção da justiça.
Elas têm de ser parte da solução", enfatizou Alberto Nkutumula. PMA – Lusa/Fim”
H
ANEXO V – SOBRE A DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
I
Assim sendo, apelou à sociedade civil a tomar parte das assinaturas para que, neste
semestre, o documento seja submetido ao Conselho Constitucional.
Com efeito, Alberto Nkutumula encorajou a sociedade civil no seu trabalho, pois é
tarefa de todos lutar pela protecção dos direitos humanos. Aliás, no seu entender, as
organizações da sociedade civil são parceiras do Governo na luta contra as violações dos
direitos dos homens e não só.”
J
ANEXO VI – SOBRE A REORGANIZAÇÃO DA PIC
K
Vice-Ministro do Interior e ao respectivo ministro. Nas províncias, os directores da PIC
subordinam-se aos governadores provinciais e ainda à restante estrutura do Ministério do
Interior atrás apontada”, frisou Correia.
Segundo ele, este tipo de subordinação pode constituir, em alguns casos, uma porta
entreaberta ao tráfico de influências no âmbito da investigação criminal, com todos os
efeitos perniciosos nos seus resultados.
Como proposta, a Ordem dos Advogados reitera a necessidade de a PIC passar a
subordinar-se ao Ministério Público e que o seu director seja um magistrado judicial ou do
Ministério Público, em comissão de serviço.”