Entrevista Ética Renato Janine Ribeiro
Entrevista Ética Renato Janine Ribeiro
Entrevista Ética Renato Janine Ribeiro
redenção. Assim defende o professor ti- Nesta entrevista exclusiva para a Organi-
tular de Ética e Filosofia Política da Uni- com, Ribeiro avalia ainda a crise econô-
versidade de São Paulo (USP), Renato mica (uma crise do conservadorismo), a
Janine Ribeiro. Para ele, o mais impor- (escassa) liberdade no trabalho, discute a
tante sobre ética é saber que o sujeito ética como mercadoria, as relações entre
deve ser responsável por suas ações. É o ética e política, a dificuldade brasileira de
exemplo deixado por Antígona, há mais conciliar a prática e o discurso e a falta
de dois mil anos. Acredita, portanto, em de justificativas de se trabalhar em em-
uma ética de transgressões em nome presas corruptas ou que infringem va-
de firmes convicções morais em vez de lores básicos. Como não poderia deixar
uma obediência cega às leis por medo de ser, discute também o papel dos pro-
das conseqüências. A ética, nesse caso, fissionais de Relações Públicas na defesa
está quase ligada ao ato heróico. Seria o dos interesses das empresas pelas quais
que está faltando à sociedade atual. trabalham. Por fim, Ribeiro só vê uma
saída: ou agimos eticamente sem espe-
O filósofo concorda que, em uma socie- rar recompensas, ou o mundo acaba.
dade que só privilegia o descartável, há
uma corrosão do caráter; as relações pes- 0SHBOJDPN – Antes de tudo, o que é ética?
soais e familiares e, conseqüentemente,
também os laços sociais, se fragilizaram Renato Janine Ribeiro – Ética é uma palavra
ao mesmo tempo em que vivemos com que vem do grego ethos, quer dizer cará-
uma liberdade de escolha nunca vista ter. É muito usada como sinônima – ou
antes. Esse seria o grande dilema ético não – de moral, que deriva do latim mo-
da sociedade atual. Como escolher entre res, costumes. Como costumamos distin-
o tradicional e o novo, entre a lealdade guir uma ética (ou moral) que se limita a
amorosa e a paixão? Não há regras. Para seguir os preceitos vigentes de uma outra
o filósofo, a saída está em criar um pen- na qual o sujeito se responsabiliza por
samento para lidar com as rupturas e uma decisão dificilmente tomada, muitos
com as mudanças ao longo da vida. chamam de moral a primeira (que segue
os costumes dominantes), e, de ética, a
Para Ribeiro, não há como fazer pactos segunda (na qual o caráter é construção
de ética, o tão falado pacto social para o pela qual a própria pessoa é responsável).
país, por exemplo. Ou seja, não é possí-
vel fechar negociações de quem vai ser 0SHBOJDPN – Existe uma ética exclusiva de
ético ou não. Se houver esse pacto, en- um determinado setor? Há uma ética ou
tão ética não é. Afirma, ainda, que não várias “éticas”?
é fácil tomar o caminho ético em uma
sociedade na qual ter a consciência tran- Renato Janine Ribeiro – O mais importante
qüila está longe de ser uma “mercadoria” não é dizer se ela muda ou se há diversas
valorizada. Pois, quem age eticamente éticas, mas, sim, que o sujeito é sempre
nunca terá certeza de que sairá ganhan- responsável pelas decisões. Se dissermos
do. Mas a premissa é imediatamente tan- que há éticas setoriais ou corporativas,
gível quando saímos do individual para o caímos no pior risco para a ética, isto é,