Bullying - Conhecer para Intervir
Bullying - Conhecer para Intervir
Bullying - Conhecer para Intervir
ELISABETE FERNANDES 1
SÓNIA HENRIQUES 1
SUSANA MACEDO MENDES 1
ESPERANÇA JALES RIBEIRO 2
Resumo
O bullying é um fenómeno que suscita a apreensão
de toda a sociedade. Deste modo, enquanto pais, educadores e
profissionais, devemos reconhecer que a violência entre pares
em meio escolar afeta gravemente o desenvolvimento
saudável das crianças. Conhecer e identificar as causas que
estão na origem do bullying, bem como as consequências que
este comportamento acarreta no desenvolvimento psicossocial
dos seus alvos, é fundamental para melhor intervir. Proteger as
crianças e jovens de hoje contribui para potenciar um futuro
sem violência, através da existência de adultos equilibrados.
Assim, a criação e implementação de estratégias de prevenção
do bullying em contexto escolar constitui-se como dever
social, porquanto só através de diversificadas conjugações de
esforços será possível contribuir para um amanhã mais seguro.
Abstract
Bullying is a phenomenon that raises concern in the
whole society. Therefore, as parents, educators and
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Fernandes, Elisabete; Henriques, Sónia; Mendes, Susana & Ribeiro, Esperança.
Bullying: Conhecer para Prevenir (2015). Millenium, 49 (jun/dez). Pp. 77-89.
Introdução
Nos últimos anos, verificou-se uma nova forma de violência escolar que tem
vindo a ganhar cada vez maior relevância nos mass media, causando preocupações aos
pais, educadores e à sociedade em geral. Este fenómeno, conhecido como bullying, não
é recente nem é um acontecimento novo dentro das escolas; no entanto, só nos anos 80,
através dos estudos do norueguês Olweus, é que foram definidos como bullying os
comportamentos agressivos, antissociais e reincidentes que ocorrem entre estudantes no
contexto escolar (Freire & Aires, 2012). Toda a violência é caracterizada pelo abuso de
poder de um ou mais indivíduos sobre um outro ou vários, pelo que a prevenção da
violência promovendo a não-violência é importante e necessária, sobretudo nas escolas
(Cardoso, 2009). Apesar de acontecer no contexto das instituições escolares, o bullying
não pode ser encarado como um problema apenas da escola, mas de toda a sociedade.
Uma vez que tem consequências a longo prazo e interfere negativamente no
desenvolvimento socioemocional, quer das vítimas, quer dos agressores (Fante, 2008), é
urgente avançar para a intervenção como forma de prevenir e reduzir o bullying nas
escolas (Pereira, 2002). O presente artigo encontra-se estruturado em três partes. Na
primeira, caracteriza-se o bullying, identificam-se os seus diferentes tipos e os
intervenientes neste fenómeno, as causas que poderão estar na sua origem e suas
respetivas consequências, bem como a existência de fatores de risco e proteção para a
criança ou jovem. Num segundo momento, aborda-se o papel das escolas na prevenção
e, por último, apresentam-se algumas das estratégias no domínio da prevenção do
bullying em meio escolar.
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pode dar lugar a uma conduta antissocial, passiva perante os problemas alheios, a
relações entre iguais de domínio-submissão, a valores pouco solidários.” (Urra, 2009, p.
335). Estes observadores manifestam alguns sentimentos de fraqueza e depressão, pois
ora estão a sofrer, ora estão a aprender comportamentos negativos.
É difícil determinar as causas dos comportamentos agressivos nas crianças e
jovens, uma vez que variam de caso para caso e a origem desses comportamentos, pode
resultar da interação de fatores internos e externos. Segundo Marcos (cit. por Urra,
2009, p. 332), “as sementes da violência são semeadas nos primeiros anos de vida, são
cultivadas e desenvolvidas durante a infância e começam a dar os seus frutos malignos
durante a adolescência”.
Vários estudos sobre a agressividade nos jovens concluem que, quando o
comportamento agressivo se manifesta precocemente, ainda na infância, constitui-se
como indicador de comportamentos desviantes no futuro. Segundo Negreiros (2008), a
criança ao crescer e interagir com um mau ambiente social e familiar tende a apresentar
comportamentos desajustados na sociedade. Obviamente que se o estilo educativo dos
pais for negligente e não houver imposição de regras, for desinteressado e ausente, ou
por outro lado, for autoritário com recurso a punições físicas, maior é a probabilidade de
potenciar uma reação/ação desajustada da criança ou jovem noutros contextos. Por outro
lado, o inverso potencia uma saudável e equilibrada adaptação ao meio social. De
acordo com Freire & Aires (2012), é necessária uma visão ecológica e ampla antes de se
fazer qualquer inferência sobre a origem de comportamentos antissociais dos jovens,
seja culpando-se o aluno, ou culpando-se a escola, ou ainda a família ou a sociedade.
Torna-se, assim, fundamental percebê-los como resultado de problemas que estão
inseridos em todos esses ambientes – pessoal, escolar, familiar ou social – e nas
inter-relações que entre eles ocorrem. Segundo Beane (2008), são, ainda,
influenciadores, entre outros, fatores individuais e influências sociais. No entanto,
Almeida (2012) refere que existem várias causas que favorecem situações de bullying e
que são aumentadas pela heterogeneidade existente no contexto escolar, uma vez que aí
convivem jovens de diferentes etnias, culturas e níveis socioeconómicos muito distintos.
Segundo Fernandes & Seixas (2012), as motivações dos agressores estão orientadas
para a obtenção de determinado fim, seja uma recompensa, aprovação pelos pares,
integração no grupo ou a necessidade de obter pertences de outrem. Para além destas,
Beane (2010, cit. por Fernandes & Seixas, 2012), identifica ainda a “inveja (…); o medo
de ser alvo de troça (…); a vingança (…); e a proteção e preservação da própria
imagem(…).” (p. 28). Para Fernandes & Seixas (2012) existem alunos mais propensos a
serem vítimas: alunos caracterizados por “ansiedade, baixa auto-estima, inibição,
retraimento social, timidez, submissão e dificuldades de regulação” (p. 96), mas
também aqueles alunos que são diferentes “de forma manifesta (deficiência, etnia ou
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religião) ” (p. 95). Contudo, independentemente das causas que estão na sua origem, o
bullying apresenta consequências a vários níveis para os seus intervenientes, sendo
apontado como estando na base de depressões e de dificuldades de inserção social na
vida futura da vítima. Igualmente, também se verifica existir uma maior incidência de
delinquência nos jovens com historial de bullying na escola (Amado, 2005). Segundo
Martins (2007), as crianças agressoras, vítimas e vítimas/agressoras têm muitas vezes
problemas quer ao nível das aprendizagens académicas, quer ao nível do rendimento
escolar e ao do absentismo. Muitas destas crianças poderão apresentar dificuldades de
aprendizagem na escola, as quais estão associadas a problemas relacionais e de
comportamento. Quando há um envolvimento em condutas agressivas de forma
continuada existe uma maior probabilidade de dificuldades nas relações com os
professores, bem como de haver suspensão, reprovação e abandono escolar, o que
facilmente pode conduzir a condutas delinquentes. Para este autor, as vítimas/agressoras
mostram ser o grupo que se encontra numa situação de maior risco psicossocial. Pois,
segundo Urra (2009, p. 329), quer as vítimas, quer os agressores “manifestam baixa
auto-estima e têm um fraco poder de influência nas relações interpessoais com os
pares.” Nos alunos vítimas de bullying podem ser identificadas consequências, tanto ao
nível físico (dores de cabeça, garganta, barriga), como ao nível psicossomático
(irritabilidade, cansaço, falta de apetite, insónias) como ao nível psicológico, o que se
traduz em sentimentos de solidão, rejeição, tristeza, infelicidade, baixos níveis de
autoestima/autoconfiança, elevados níveis de depressão, ansiedade, angústia, terror, o
que, em situações extremas, pode levar mesmo a cometer o suicídio (Cardoso, 2009;
Fernandes & Seixas, 2012; Urra, 2009). Embora as marcas psicológicas não sejam
visíveis, as vítimas têm uma imagem muito negativa de si mesmas e são muito
inseguras nas relações com os outros. “Para a vítima é difícil falar, pois sente vergonha
e culpabilidade. Crê que merece o que lhe aconteceu, por ser diferente dos outros”
(Urra, 2009, p. 333). Por sua vez, de acordo com Fernandes & Seixas (2012), no que diz
respeito aos alunos agressores, estes manifestam níveis elevados de autoconfiança e
autoestima e níveis mais baixos de incapacidade e rejeição, nervosismo e depressão.
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poderá estar exposta é fulcral para a proteger. Para uma melhor e adequada intervenção,
junto de crianças ou jovens em contexto escolar – ou outros – é essencial identificar e
conhecer se estão expostos a fatores que os colocam numa situação mais vulnerável.
Para além disso, convém, de igual forma, identificar a existência de elementos
protetores, intrínsecos ou extrínsecos, que os podem não só ajudar como também afastar
dessas situações. Assim, de acordo com o que Fernandes & Seixas (2012, p. 64),
“podemos assumir que os fatores de risco e, portanto, facilitadores de comportamentos
de bullying, e os fatores de proteção, são os mesmos, variando apenas na sua
configuração.” Segundo Reppold, Pacheco, Bardagi & Hutz (2002), fatores de risco são
todas as variáveis que estão associadas a uma elevada probabilidade de ocorrência de
comportamentos negativos ou indesejáveis. Por sua vez, Afonso & Cerviño (2006), cit.
por Urra, 2009, afirmam que os fatores de risco “podem definir-se numa só palavra:
SOCIEDADE” (p. 332). Esta é composta por todos: pelo jovem com
características/personalidade específica, pela família, pela escola, pela cultura, pelos
amigos. “É o resultado da interação de uma série de fatores nos quais estamos incluídos,
direta ou indiretamente” (p. 332). No entanto, Beane (2010), cit. por Fernandes &
Seixas, 2012, reconhece como fatores de risco o egocentrismo e a violência a que o
jovem tem acesso facilitado, através dos media ou do ambiente familiar. Também
Steinberg (2000), cit. por Reppold, Pacheco, Bardagi, & Hutz, 2002, p. 13, identifica a
estrutura familiar como o mais elevado fator de risco, referindo que “A família é
responsável pelo processo de socialização da criança, por meio do qual esses adquirem
comportamentos, habilidades e valores apropriados e desejáveis em sua cultura”.
Segundo Urra (2009), a influência do ambiente familiar é um dos fatores mais
estruturados para a ocorrência de bullying, quer pela ausência de uma figura masculina
ou presença de uma figura agressiva, quer pelas novas estruturas familiares, com a
coabitação de filhos de diferentes uniões. Com a entrada na adolescência, que se
caracteriza pelas inúmeras mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais, o
jovem passa por uma fase mais vulnerável no seu desenvolvimento. Como resposta a
estas profundas alterações, alguns jovens podem apresentar um desenvolvimento
desequilibrado (problemas comportamentais e psicológicos). Silva & Hutz (2002)
defendem que um desenvolvimento menos saudável pode ser resultado de vivências e
aprendizagens da infância.
Perante os inúmeros desafios pessoais e sociais, o jovem pode ter uma maior
ou menor capacidade em reagir de forma adequada ao grupo de pares e à sociedade em
geral. Ainda de acordo com Urra (2009, p. 295), “a conduta violenta é aprendida num
processo de socialização errado, pelo que a forma de intervenção será de recorte
educativo e ecológico, incidindo de forma comportamental no seu meio social e
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ambiental e apoiada por uma psicoterapia que modifique certas variáveis pessoais que
se enquistaram no devir da sua história pessoal.”
Será, assim, mais provável que um jovem que teve um crescimento harmonioso
consiga lidar com mais facilidade com situações adversas, uma vez que, durante o seu
desenvolvimento, experienciou várias relações e situações positivas. Um adequado
equilíbrio emocional, uma boa relação com familiares, amigos e comunidade,
constituem-se assim, como elementos protetores da criança e jovem. Segundo Steinberg
(1999), cit. por Reppold, Pacheco, Bardagi & Hutz, 2002, a adaptação psicológica
apresenta-se como a ausência de problemas psicossociais. Todavia, se o jovem tiver
progenitores que desempenhem um estilo educativo desadequado, presenciar episódios
de violência, possuir relações pessoais e sociais deficitárias, viver com carências
económicas e exposto a contextos problemáticos, maiores serão as probabilidades de
apresentar comportamentos sociais também eles desadequados e até agressivos. Por
norma, os agressores têm uma visão positiva da violência e são insensíveis ao
sofrimento que causam às suas vítimas (Fernandes & Seixas, 2012). Considera-se,
assim, que a criança está exposta a fatores de risco extrínsecos, se estiver inserida em
contextos multiproblemáticos, nomeadamente, se tiver cuidadores negligentes na sua
educação, ficar exposta a comportamentos violentos ou de consumo de substâncias
nocivas para a saúde, tiver carências socioeconómicas, afetivas e educacionais, entre
outras. Entre os fatores de risco, de carácter mais intrínseco, que se podem apresentar,
situam-se, entre outros, a baixa autoestima, o desequilíbrio emocional, o isolamento, a
revolta (que pode levar à agressão), a depressão e a desmotivação. Os fatores de risco
correspondem a factos reais que podem ser externos ou internos, embora a fronteira
entre eles seja muita vez ténue, e perante os quais o jovem reage de forma mais sadia ou
disfuncional ou, mais ou menos adaptativa. Porém, a falta de competências sociais e de
assertividade das crianças vítimas pode ser ultrapassada pelo treino, de forma a
capacitá-las para lidar melhor com as situações de agressão, direta ou indireta (Smith,
1991, cit. por Cardoso, 2009). Por outro lado, os fatores protetores são todas as variáreis
que diminuem a probabilidade de a criança ou jovem desenvolver comportamentos
negativos ou indesejáveis. Se, por um lado, a hostilidade e a negligência parental são
fatores de risco que contribuem para a ocorrência de distúrbios de comportamento e
para a delinquência, as práticas afetivas, um bom funcionamento familiar e o vínculo
afetivo parental podem ser considerados fatores protetores (Reppold, Pacheco, Bardagi,
& Hutz, 2002).
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ser duradouros no tempo (Pereira, 2002). Strecht (2004) enfatiza a importância que
todos devemos ter na prevenção do bullying referindo que, tanto nos agressores como
nos agredidos existe um traço emocional de sofrimento psíquico, e é por isso importante
a atuação dos pais, dos educadores e dos professores. Nesse sentido, a comunidade
escolar também deve criar e manter uma relação de simbiose com os pais na educação
dos filhos. E, sendo a escola um contexto que deve proporcionar o desenvolvimento de
habilidades, competências, formação e desenvolvimento de conceitos, saberes e
opiniões, tem ainda o papel fundamental de procurar alternativas para lidar com o
bullying e preveni-lo (Freire & Aires, 2012). Para Leandro (2008), a criança possui esse
direito “como candidata a uma humanidade plena” (p. 87). Assim a difusão de
competências pessoais, sociais, emocionais e relacionais, são ensinamentos benéficos,
se forem aplicados nos primeiros anos de ensino, proporcionando aos alunos modelos
alternativos de resolução de conflitos e ferramentas que lhes permitam um crescimento
e desenvolvimento saudáveis (Cardoso, 2009). Nesse sentido, devemos ter sempre em
conta que a intervenção deve acontecer com a maior brevidade possível, pois a
gravidade do bullying está relacionada com a sua continuidade, causando às vítimas
sensações de abandono e insegurança e aos agressores o sentimento de impunidade e
poder (Fante, 2008). Desse modo, a escola deve promover uma educação assente em
valores humanitários e, sempre que detetar situações que coloquem em risco o
desenvolvimento harmonioso da criança, deve agir convenientemente no sentido de o
salvaguardar. Tal como refere Montano (2006, p. 19), “Os profissionais de educação
encontram-se numa situação privilegiada relativamente aos seus contactos com as
crianças tendo, por isso, responsabilidades específicas, em matéria de proteção à
infância e juventude, e funcionando, na maioria dos casos, como agentes de detecção
e/ou recepção de denúncias de situações de maus tratos ou perigo.”
Segundo Fante (2008), identificar o fenómeno de bullying é difícil, visto ser
muito peculiar, sendo preciso estar atento a qualquer mudança no comportamento, ainda
que a mesma possa parecer insignificante. Por sua vez, Freire & Aires (2012) defendem
que qualquer tipo de intervenção no bullying deve ter em conta as dimensões sociais,
educacionais, familiares e individuais e que o bullying escolar deve ser encarado como
um fenómeno social. Referem ainda que as formas de prevenção devem estar de acordo
com o contexto onde ocorrem, envolvendo medidas psicopedagógicas e preventivas que
levem em consideração aspetos sociais em vez de medidas punitivas, ameaças e
intimidações. De acordo com Strech (2008), “(…) os pais e os professores podem e
devem responder de maneira eficaz, mas sem uma intervenção compreensiva e
verdadeiramente reparadora (…) nunca se alcançarão resultados satisfatórios” (p. 158).
Uma vez que é nos recreios escolares que se observam mais comportamentos
agressivos, é pois aqui que devemos centrar a intervenção, visando a diminuição da
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ocorrência desses atos. Como já referimos, pelo facto de toda a comunidade escolar
estar envolvida nestes comportamentos agressivos/bullying, é urgente encontrar
soluções para acabar com eles.
Nesse sentido, Formosinho & Simões (2001, p. 75) sugerem que as medidas de
combate ao bullying devem incluir a redefinição da política organizacional da escola,
enunciando “regras democráticas e normas explícitas, que consagrem o princípio do
respeito pelos direitos de cada indivíduo”. Para Cardoso (2009, p. 279), “a violência é
um comportamento aprendido que também pode ser desaprendido, sendo desta forma, a
escola um ambiente privilegiado para “os programas de prevenção onde as
aprendizagens de respeito pelo outro, assertividade, resolução pacífica de conflitos, as
estratégias de autocontrolo emocional, resistência à frustração e pressão dos pares e a
consciencialização sobre a igualdade de género podem ser não só aprendidas, mas
também experimentadas e solidificadas, através do diálogo e confronto de ideias, do
treino de competências e da observação participante, permitindo que os indivíduos
possam escolher alternativas não violentas”.
Deste modo, a prevenção através da educação para uma cultura de paz e
não-violência significa, antes de mais, mediar, criar pontes que tentem evitar o
aparecimento de problemas e dificuldades, através da sua prévia identificação e da
rápida intervenção, ensinando capacidades e competências aos alunos, no sentido de
melhorar as suas relações interpessoais (González-Pérez & Pozo (2007). De acordo com
Fernandes & Seixas (2012), existem duas formas de abordar o bullying: programas de
prevenção (intervenção primária) ou programas de intervenção (intervenção secundária
ou terciária). A intervenção primária visa “reduzir a probabilidade de os alunos
evidenciarem comportamentos perturbadores, agressivos ou violentos ” (Fernandes &
Seixas, 2012, p. 67). Este tipo de intervenção requer, segundo Urra (2009), uma maior
proximidade entre família-casa e escola-família-comunidades, desenvolve um código
disciplinar positivo, prevê uma maior supervisão dos vários locais comuns da escola,
nomeadamente nos recreios, através da restruturação dos espaços físicos, dos
equipamentos e das atividades. Segundo Fernandes & Seixas (2012, p. 68), estes
programas destinam-se a toda a comunidade escolar, uma vez que se baseiam em
modelos cognitivos de aprendizagem social, e através deles “procura-se alterar o clima e
cultura escolares, eliminar os fatores que facilitam a ocorrência de comportamentos de
bullying e de vitimização, promover o desenvolvimento de competências
pró-sociais(…)”. Uma intervenção preventiva, focada no desenvolvimento de
comptências socioemocionais, produz efeitos positivos nos alunos, uma vez que estes
tenderão para um menor envolvimento em comportamentos agressivos e vitimizadores.
É essencial trabalhar temas como o autocontrolo, assertividade, gestão da raiva, empatia
pelas vítimas e resolução de conflitos. De entre os inúmeros programas que visam o
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Conclusão
É facto que, para prevenir comportamentos violentos, torna-se essencial
encontrar e agir sobre as causas que motivam o seu desenvolvimento, reconhecendo que
muitos desses comportamentos violentos são aprendidos através da observação e
repetição de modelos. Por sua vez, esses modelos são consolidados através de padrões
socioculturais que desvalorizam certos atos de violência e os consideram normais. É
frequente a opinião de que certas ações de violência são uma forma de crescimento e de
defesa numa sociedade competitiva, ignorando-se, desvalorizando-se ou recusando-se
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conhecer as marcas emocionais que o bullying pode deixar numa criança ou num jovem,
o que, em alguns casos, leva ao desenvolvimento de comportamentos de risco. Nesse
sentido, além da intervenção junto das crianças vítimas e das crianças agressoras, é
necessário também, recorrer e utilizar medidas de prevenção, com o objetivo de reduzir
a frequência de comportamentos de risco, promovendo a reflexão e aprendizagem de
métodos de resolução de conflitos, de forma não violenta, evitando as consequências
que a violência pode ter nas vidas dos seus autores/alvos. Assim, como profissionais
conscientes das consequências que o bullying tem nas crianças ou jovens, a nível
psicossocial, com impacto na vida familiar e social, exige-se o desenvolvimento de
ações de sensibilização/formação sobre esta temática, dirigidas a toda a comunidade que
só pode prevenir se bem conhecer. Para além disso, a implementação de estratégias
preventivas deste fenómeno em meio escolar é, também, fundamental para uma melhor
formação das crianças, possibilitando-lhes a aquisição de um conjunto de competências
individuais e sociais, por forma a interagirem com o seu grupo de pares de modo
assertivo e a lidarem com situações indesejáveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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