Da Creche Ao Jardim de Infancia
Da Creche Ao Jardim de Infancia
Da Creche Ao Jardim de Infancia
Ao meu avô, esteja ele onde estiver, sei que está tão feliz como eu. A ti
avô, por teres sido um verdadeiro exemplo para mim. Obrigada pela
força que ainda me transmites.
iii
iv
AGRADECIMENTOS
Obrigada aos “meus” meninos. Todos os que foram “meus” durante este
percurso têm um lugar especial no meu coração.
Obrigada a todos/as!
v
vi
RESUMO
vii
crianças, existem brincadeiras, atividades e profissões para meninos e
meninas, homens e mulheres?”.
Palavras chave
Creche, Educação para a Cidadania, Estereótipos de Género, Género,
Jardim-de-infância, Metodologia de Trabalho de Projeto, Género.
viii
ABSTRACT
The report is divided into three main parts. The first part concerns the
Supervised Teaching Practice in the context of Nursery; the second part
in the context of Kindergarten I and, finally, the third part in the context
of Kindergarten II.With reference to these three contexts, we try to
demonstrate a reflective dimension, presenting the experiences
experienced, the characterizations of the group of children, spaces,
resources mobilized and activities energized with the children.
In parts II and III the action points are based on the Project Work
Methodology based on the interests and curiosities of the children. In
these places of the report, it is tried to give account of the educational
experiences constructed and lived. In this way educational proposals
were developed with the objective of developing competences in the
most varied Content Areas: Personal and Social Training Area,
Knowledge Area of the World and Area of Expression and
Communication and its Domains.
ix
The search for investigative answers to this starting question allowed
the construction of a brief descriptive study, carried out with four
participants. The results show that the education professional can help
children to reflect and deconstruct certain stereotypes. In fact, if initially
the participants thought that there were exclusive areas and toys of boys
or girls, over time they were reflecting on these aspects and
transforming their opinion.
Keywords
Nursery, Citizenship Education. Gender Stereotypes, Gender,
Kindergarten, Methodology of Work of Project
x
xi
ÍNDICE GERAL
xii
1.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO DE CRIANÇAS .............................................................. 32
2. “À PROCURA DOS INSETOS” – AGIR E CRESCER COM A METODOLOGIA DE TRABALHO
DE PROJETO ............................................................................................................................. 34
2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJETO “À PROCURA DOS INSETOS” ............................... 34
2.2. INSETOS ....................................................................................................................... 35
2.3. FASES DA METODOLOGIA DE TRABALHO DE PROJETO............................................... 35
3. PORTEFÓLIO DE AVALIAÇÃO ........................................................................................... 44
4. DESENVOLVIMENTO PESSOAL E APRENDIZAGENS REALIZADAS .................................... 48
CAPÍTULO II – DIMENSÃO INVESTIGATIVA: OS PAPÉIS DE GÉNERO NA EDUCAÇÃO
PRÉ-ESCOLAR .......................................................................................................................... 50
5. ENQUADRAMENTO TEÓRICO .......................................................................................... 51
5.1. Género e sexo.............................................................................................................. 51
5.2. Estereótipos de Género .............................................................................................. 53
5.3. Género e Currículo na Educação de Infância .............................................................. 54
5.4. O Papel do/a Educador/a na Organização do Espaço, Tempo e Recursos ................. 55
5.5. O Papel das Narrativas na Infância.............................................................................. 57
5.6. O Papel do Brinquedo e o Jogo Simbólico................................................................... 58
6. METODOLOGIA................................................................................................................ 59
6.1. PERGUNTA DE PARTIDA E OBJETIVOS DO ESTUDO..................................................... 59
6.2. PARTICIPANTES ........................................................................................................... 60
6.3. OPÇÕES METODOLÓGICAS ......................................................................................... 61
6.4. INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE DADOS .................... 61
6.5. PROCEDIMENTOS ........................................................................................................ 62
7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE DADOS ...................................................................... 66
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 80
8.1. CONCLUSÃO DO ESTUDO INVESTIGATIVO .................................................................. 80
8.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO............................................................................................. 83
CONCLUSÃO FINAL DO RELATÓRIO ................................................................................. 84
ANEXOS ...................................................................................................................................... 1
xiii
xiv
ÍNDICE DE FIGURAS
xv
xvi
ÍNDICE DE QUADROS
xvii
xviii
ÍNDICE DE ANEXOS
xix
xx
INTRODUÇÃO
1
Metodologia de Trabalho de Projeto, dinamizado com as crianças. Na terceira parte
apresenta-se a dimensão reflexiva inerente à Metodologia de Trabalho de Projeto.
Apresenta-se igualmente o portfólio de avaliação e, por fim, o estudo investigativo
relacionado com as conceções de género das crianças em Jardim-de-Infância.
Esta temática despertou em mim o devido interesse pois, através de observações atentas,
constatei que para algumas crianças existiam brinquedos e profissões para meninos e
meninas, homens e mulheres. Desta forma e, sabendo que a criança contacta com diversos
agentes de socialização (família, escola, televisão, rádio, livros…), é importante que se
criem condições para a criança refletir sobre a igualdade de géneros e, consequentemente,
desconstrua conceções estereotipadas relativas a estes papéis de género.
2
PARTE I – PERCURSO EM EDUCAÇÃO DE
INFÂNCIA – CONTEXTO DE CRECHE
3
CAPÍTULO I – DIMENSÃO REFLEXIVA
O grupo de crianças da Sala dos Patinhos é constituído por dezasseis crianças, sete do
sexo feminino e nove do sexo masculino, com idades compreendidas entre os dois e os
três anos, todos de nacionalidade portuguesa. Algumas das crianças têm irmãos mais
velhos na mesma Instituição.
4
demonstravam autonomia. Efetivamente pudemos confirmar que, tal como referem os
manuais de desenvolvimento infantil, a criança “(…) tenta pegar as coisas com a mão
inteira, fechando os dedos sobre a palma da mão (…); posteriormente, o bebê aprende o
movimento em pinça, no qual as pontas do polegar e do indicador encontram-se (…).”
(ibidem).
Para além dos utensílios das refeições, as crianças também conseguiam manipular as
peças de brinquedos e os materiais de pintura.
Neste sentido, surge o papel do o/a educador/a, que se torna um modelo para criança.
Desta forma é importante que este/a interaja com a mesma e que tenha uma linguagem
cuidada. Segundo Rice, 1989, “Os adultos ajudam o desenvolvimento da linguagem de
uma criança quando parafraseiam ou ampliam o que a criança diz, conversam sobre o que
interessa à criança (…)” (Rice, 1989, citado por Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 224).
De modo semelhante e considerando as observações feitas foi importante, para este grupo
de crianças ler em voz alta, pois
5
A maioria dos bebês gosta que leiam para eles, e a frequência com a qual os pais ou cuidadores lêem
para eles, bem como o modo como o fazem, pode influenciar sua habilidade para falar, sua posterior
capacidade de leitura e o tempo que levam para começar a ler. (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 224).
A maioria das crianças do grupo relevou estar na fase do negativismo e de fazer tudo
sozinhas, comportamento próprio destas faixas etárias, confirmando-se que “(…) é
considerada como um indivíduo que sempre quer agir à sua própria maneira. É negativa
a respeito de qualquer idéia que os outros possam sugerir e a respeito de qualquer
exigência que lhe façam.” (Faw, 1980, p. 212).
Por fim, é importante referir que nem todas as crianças se desenvolvem da mesma forma,
cada uma tem o seu tempo e não nos podemos guiar apenas pelo que é esperado para cada
faixa etária. Segundo Gabriela Portugal, existem 10 princípios educativos na creche que
foram enunciados pela primeira vez por Gonzales-Mena e Eyer, que são fundamentais
para um bom trabalho na sala de creche. Destes, importa destacar em particular o
princípio 10:
“Procurar promover a qualidade do desenvolvimento em cada fase etária, mas não apressar a criança
para atingir determinados níveis desenvolvimentais; - O desenvolvimento não pode ser apressado. Cada
criança tem um relógio interno que determina o momento de gatinhar, sentar, andar, falar. (Portugal,
citado por Mocho, 2014, p.40).
Esta caracterização sucinta das crianças constitui assim um ponto de partida para uma
ação pedagógica respeitadora do seu estado de desenvolvimento e da necessidade de não
o acelerar nem atrasar como sugerem os investigadores.
A Sala dos Patinhos é ideal para o número de crianças que dela faz parte, sendo bastante
ampla. Compõe-se por cinco áreas, a Área da Casinha, a Área da Biblioteca, a Área da
Pintura, a Área do Tapete e a Área do Trabalho Autónomo. Em todas estas áreas, os
6
materiais encontram-se à disposição das crianças, para deles poderem usufruir. A
organização do espaço está pensada para que corresponda às necessidades das crianças,
pois “(…) é importante que os espaços ofereçam às crianças uma variedade de objectos
interessantes, com diferentes texturas e desafios motores diversificados, sem que se gere
confusão ou que seja posta em causa a segurança da criança; (…)”. (Portugal, s.d., p. 12).
Também para o/a educador/a, estas áreas devem ter grande importância. Tendo em conta
que através da observação pode avaliar comportamentos das crianças e alterar estes
espaços consoante as necessidades de desenvolvimento das crianças do grupo. Como
afirma Hohmann et. al., “É evidente que os adultos podem, ao longo do ano, acrescentar
outras áreas, à medida que os interesses das crianças se lhes revelam.” (Hohmann et. al.,
1979, p. 53, citado por Barboza & Volpini, 2015, p. 21).
A Área da Casinha é composta por uma cozinha que tem como recursos, dois fogões com
forno, um lava-louça, uma mesa com bancos e um móvel com objetos de cozinha; pela
zona do quarto que tem como recursos, várias camas e um carro de bebé, alguns nenucos,
e um guarda-fatos com acessórios de vestuário; e, por fim, uma zona com uma mesa
constituída por dois telefones. Nesta área as crianças interagem entre si e desenvolvem
brincadeiras do faz-de-conta, simulando situações do quotidiano. A importância deste
espaço e destes recursos é evidente, pois nestas faixas etárias, “(…) elas são capazes de
imitação diferida, imitar ações que não vêem mais à sua frente. Elas são capazes de fazer
de conta, (…)”. (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 198).
7
creche significa portanto organizar tal ambiente desde o berçário, para que a criança tenha
contato com livros de história, cartazes.” (Oliveira, Mello, Vitória & Ferreira, 1993, p.
98).
A Área da Pintura tem como principal recurso um cavalete grande com várias folhas
brancas. Esta área é portátil, pelo que pode ser movida de sala para sala ou até mesmo,
transportar-se dentro da própria sala. Esta área é utilizada apenas quando solicitado pela
Educadora.
A Área do Tapete tem como recursos o tapete PVC e as almofadas onde as crianças se
sentam quando entram na sala de atividades, é lá que se cantam os bons-dias, se conversa
com a Educadora e se realizam atividades em grande grupo. Esta é uma área onde o grupo
de crianças, em momento de brincadeira livre, pode realizar construções com os legos ou
brincar com os carros e animais, que estão dentro de prateleiras à sua altura, constituindo
um espaço importante para o desenvolvimento da linguagem, da motricidade e dos afetos.
A Área dos Jogos tem como recurso principal uma mesa e cadeiras, onde as crianças se
sentam para realizar jogos didáticos, como é o caso de puzzles simples e jogos de encaixe.
Estes jogos, de grandes dimensões, são apropriados para estas idades e têm como objetivo
desenvolver a motricidade fina e o domínio da matemática.
Por fim, na Área do Trabalho Orientado, o principal recurso é uma mesa com várias
cadeiras. É nesta área que a Educadora realiza as atividades em pequeno grupo. Em
momento de brincadeira livre, é aqui também que as crianças se sentam para realizar
jogos, a par da Área dos Jogos.
Através da observação ainda constatei que as paredes da sala de atividades são todas
brancas, logo na entrada da sala estão expostos trabalhos realizados pelo grupo. À data
da observação estavam pinturas de patos, pois trata-se da Sala dos Patinhos. Para além
desta parede há ainda afixado um placard de cortiça, onde estão mais desenhos em
exposição, na data da observação, encontrava-se afixado “O meu primeiro desenho”.
Na Sala dos Patinhos está também presente um espelho da altura das crianças. Trata-se
de um recurso importante para estas idades, pois a criança reconhece a sua imagem e
8
identidade. Segundo Stipek, Gralinski e Kopp, 1990, “(…) As crianças pequenas se
reconhecem em espelhos ou fotografias com 18 a 24 meses, demonstrando consciência
de si mesmas como seres fisicamente distintos.” (Stipek, Gralinski e Kopp, 1990, citados
por Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 255).
Importa também referir que o Canto dos Rolitas é provido de um Espaço Exterior
adequado às crianças, por ser amplo e com as devidas seguranças. Neste espaço as
crianças libertam energias, correm, socializam, contactam com o meio ambiente e
também desenvolvem diversas aprendizagens. Para Thomas & Harding, 2011, “Brincar
nos espaços exteriores conduz à mobilidade de todo o corpo na exploração do meio, dos
objetos e das próprias capacidades, permitindo que se desenvolvam competências sociais,
emocionais, físicas/motoras e cognitivas” (Thomas & Harding, 2011, citados por Bento
& Portugal, 2016, p. 91).
Relativamente aos tempos, na vertente de Creche as rotinas (ver anexo 1) têm um papel
importante no desenvolvimento e aprendizagem da criança. Para Hohmann & Weikart,
2003, transmitem segurança, pois permitem “às crianças antecipar aquilo que se passará
a seguir e dá-lhes um grande sentido de controlo sobre aquilo que fazem em cada
momento do seu dia” (Hohmann & Weikart, 2003, p.8 citado por Moufarda, 2014, p.24).
Vejamos a seguinte nota de campo:
De tarde, depois de o grupo lanchar e realizar a sua higiene, pedimos que se sentassem no tapete a rever
alguns aspetos da história contada de manhã. Prontamente, S. começa a cantar a canção dos bons-dias. Ao
que eu respondo, “S., só cantamos a canção dos bons-dias de manhã, agora é de tarde”. Nota-se claramente
que ao reunirmos o grupo todo na área do tapete, S., pensou que fosse para cantar a canção dos bons-dias,
tal como fazemos todos os dias, ao entrar na sala de atividades. (Excerto da nota de campo 9 de dezembro
de 2015).
Ao longo do dia são vários os momentos de rotina. Depois do acolhimento, por volta das
09h30, as crianças são levadas para a sala de atividades, onde, depois da canção dos bons-
dias, se iniciam as atividades lúdico-pedagógicas orientadas, “Um grupo de crianças desta
idade comporta-se frequentemente melhor entre as 10 e as 11 horas (…)” (Gesell, 1979,
9
p.287). Depois da brincadeira livre, o grupo realizava a higiene para o almoço. De
seguida, um novo momento de higiene, onde algumas crianças eram colocadas no bacio
e outras na sanita para estimular o controlo dos esfíncteres.
(…) Uma vez que o controlo mostra-se mais consolidado e constante, combinar-se-ão os momentos do
bacio com as primeiras aproximações à casa de banho. Se criará uma situação agradável, aconchegante
e familiar, que lhe fará sentir mais crescida e oferecendo-lhe a possibilidade de colaborar
autonomamente neste momento. (Aguilar & Sabala, 2009, p.54).
Inicialmente, e tendo em conta que nunca havia estado em contexto de Creche, não tinha
noção da importância das rotinas. Porém, ao longo da Prática de Ensino Supervisionada,
apercebi-me do valor das mesmas para crianças desta faixa etária. Assim, pude constatar
várias evoluções em momentos de rotina. As crianças, com o decorrer do tempo, passaram
a ser mais autónomas no momento da refeição, ao vestirem-se, mostrando vontade de o
fazer sem ajuda do adulto. Relativamente ao controlo dos esfíncteres, pude observar que
algumas crianças, que inicialmente usavam fralda, deixaram-no de fazer
progressivamente. Para além da autonomia, também observei evoluções ao nível da
linguagem, ao longo do tempo as crianças, cada vez mais, iam cantando a canção dos
bons-dias. Em momentos de higiene interagiam cada vez mais com o adulto, quando este
incentivava o diálogo.
10
situações, acontecendo desenvolvimento e aprendizagens, consubstanciado em
finalidades educativas.” (Portugal, s.d., p. 5).
Depois de algumas observações atentas, constatei que o grupo mostrava grande interesse
por animais. Desta forma, e considerando também as características de desenvolvimento
atrás referidas, planifiquei, para o dia 27 de outubro de 2015 (ver anexo 2), propostas
educativas relacionadas com animais.
11
Todas as atividades que envolvam música revelam-se de grande importância nestas faixas
etárias. A música ajuda a criança a desenvolver a linguagem e a socialização, “Dançar,
cantar e tocar algum tipo de instrumento musical são atividades vitais para o
desenvolvimento do ritmo, da linguagem, do esquema corporal, o qual será fundamental
para o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança.” (Oliveira, Mello, Vitória &
Ferreira, 1993, p. 95). De facto, as atividades que envolvem música despertam a atenção
das crianças. Nesta atividade as crianças revelaram interesse e mostraram-se
participativas, não só cantaram como também interagiam com o adulto, dizendo o nome
do animal que iam visualizando.
Relativamente à avaliação das práticas realizadas com estas crianças e refletindo sobre as
mesmas (ver anexo 3), foi possível verificar nesta atividade que as crianças gostaram da
música, tendo em conta que a cantaram todo o dia e até mesmo noutros dias, iam repetindo
muitas vezes o “ia, ia, ia o” da música e pediam que os adultos a cantassem. Relativamente
às imagens dos animais, conseguiam identificá-los rapidamente.
Na atividade de correspondência de imagens, todas as crianças mostraram conseguir
manipular bem as imagens. Apesar de o principal objetivo ser o de as crianças associarem
a comida ao respetivo animal, poucas foram as que o conseguiram fazer. As restantes
crianças apenas manuseavam as imagens. Algumas crianças não associaram a comida ao
animal, mas foi importante contactarem com as imagens, tendo sido evidente que
deveríamos utilizar esta estratégia mais vezes incentivando as crianças a verbalizar o que
viam.
Para o dia 9 de dezembro de 2015 planifiquei atividades relativas ao Natal (ver anexo 4).
Assim, defini como intencionalidades educativas: - Promover o contacto com a
linguagem através da história e das imagens; - Desenvolver a motricidade fina; -
Promover a relação entre a música e a palavra; - Estimular a socialização.
De forma a atingir estas intencionalidade educativas e, sabendo que é importante manter
o mistério, a dinâmica e a surpresa, levei comigo uma caixa de sapatos embrulhada e
referi que era um presente deixado pelo Pai Natal. Dentro da caixa estavam imagens com
uma história criada por mim. Desta forma, as crianças estimulam a sua imaginação,
12
pensando no que poderia estar dentro da mesma. Optei por levar uma história criada por
mim para ser original, para as crianças contactarem com outros suportes de narrativas.
Para que o grupo permanecesse atento à história, sempre que mostrei uma imagem, antes
de prosseguir com a leitura, questionei as crianças sobre o que viam e o que achavam que
ia acontecer. Esta interação do adulto com as crianças destas faixas etárias é muito
importante e, assim, “(…) a criança cada vez mais é chamada a participar da narrativa,
completando trechos que já sabe, ou inventando novos, assumindo a narrativa com a ajuda
do adulto (…)”. (Oliveira, Mello, Vitória & Ferreira, 1993, p. 94).
Relativamente à avaliação desta proposta e, refletindo sobre a mesma (ver anexo 5), antes
de iniciar a leitura da história por mim criada, mostrei as imagens da mesma e o grupo
parecia bastante interessado, fazendo alguns comentários. Relativamente à primeira
imagem, sempre que a viam referiam: “Árvore de Natal”, “Estêlas”. Na terceira imagem,
referiam: “’Tá a faxer óó”, “’Tá na cama”, “Tá no quato”. Na quarta imagem, referiram
que as renas eram cavalos. Na sexta imagem, referiram rapidamente: “É o Pai Natal!”, “É
a ávore!”. Na última imagem, a protagonista da história estava com as prendas na mão e
questionei as crianças: “Será que a Maria gostou das prendas?”, ao que me respondem
que sim, porque estava-se a rir com a boneca na mão. As imagens constituíram assim um
motivo para nomear e interagir verbalmente em torno delas.
13
Com a música “Pinheirinho”, as crianças que se revelaram mais desenvolvidas
linguisticamente foram as que cantaram com os adultos. Porém, apenas uma criança
imitou os gestos, o que nos leva a pensar que é importante criar tempos para desenvolver
a linguagem não verbal neste grupo de crianças.
Relativamente à última atividade, a maioria das crianças pintou pouco as estrelas, dando
mais importância ao decalque das mãos, de forma a constituir uma árvore de natal pintada
com as mãos, com tinta verde.
Uma das aprendizagens mais significativas para mim recaiu sobre a importância da
observação. Torna-se fundamental que o/a educador/a conheça as crianças, os seus
interesses, dificuldades e contextos, para poder adaptar a sua Prática. A observação
revela-se muito importante em Creche porque “(…) torna possível aos adultos
conhecerem e aprenderem mais sobre cada criança e assegurar que estão bem colocados
para planear, para estimular e responder aos interesses e necessidades individuais da
criança e da sua família.” (Parente, s.d., p. 6).
Uma das dificuldades por mim sentidas foi a de adaptar propostas educativas para estas
faixas etárias. Inicialmente não percebia que as crianças precisavam de dinamismo para
ouvir histórias, por exemplo. Um dos instrumentos que agora vejo como fundamentais
são os fantoches no apoio das histórias. Para além desta dificuldade, também na gestão
de grupo encarei alguns problemas. Tendo em conta que nunca havia sentido esta
dificuldade antes, não sabia como agir, o que me levou a pesquisar estratégias. Percebi
que uma estratégia que resulta é a de criar um ambiente de curiosidade e de suspense que
14
se cria de volta das propostas educativas, para o grupo estar motivado. Percebo que tenho
de me deixar libertar mais vezes.
O profissional de educação em Creche tem que ser mais que educador, tem que ser
também cuidador. As crianças destas faixas etárias têm que ver as suas necessidades
básicas asseguradas primeiramente,
Bebés ou crianças muito pequenas necessitam de atenção às suas necessidades físicas e psicológicas o
que pressupõe uma relação com alguém em quem confiem; oportunidades para interacção com outras
crianças; liberdade para explorar e descobrir o mundo, a experiência de um ambiente seguro e saudável.
(Portugal, s.d., p. 7).
A principal dificuldade que senti incide sobre a avaliação, pois não sabia que instrumentos
utilizar, como organizar o que observava. Porém, tenho consciência de que a mesma é
muito importante pois, a par da observação e da reflexão, serve para adaptar a Prática ao
grupo de crianças e evidenciar as evoluções das mesmas, “(…) devemos entender a
avaliação como um seguimento contínuo e sistemático da evolução da criança.
Avaliando, dia a dia, os diferentes ritmos de maturação individual e a progressiva
aquisição de hábitos e pequenas aprendizagens.” (Aguilar & Sabala, 2009, p. 70).
Apesar de ter crescido, sei que ainda tenho muito a aprender, por isso mesmo estarei
sempre em formação, de forma a dar o melhor de mim, a libertar-me sem medos
15
PARTE II – PERCURSO EM EDUCAÇÃO DE
INFÂNCIA – JARDIM-DE-INFÂNCIA I
Assim, nesta segunda parte do relatório consta a dimensão reflexiva, composta pela
caracterização do grupo de crianças, o percurso ao longo da Metodologia de Trabalho de
Projeto e de uma reflexão relativa ao meu desenvolvimento e pessoal e aprendizagens
desenvolvidas ao longo da Prática de Ensino Supervisionada em contexto de Jardim-de-
Infância I.
16
CAPÍTULO I – DIMENSÃO REFLEXIVA
17
o seu Chibo, afirmou: “Eu quero saber como nascem estes animais”, ficando assim de lhe dar resposta no
dia seguinte, através do visionamento de um filme. (Excerto da nota de campo 4 de abril de 2016).
Por fim, ao nível do desenvolvimento psicossocial, trata-se de um grupo que sabia gerir
as suas emoções. Segundo Saarni, Mumme e Campos, 1998, “Os pré-escolares sabem
algo sobre suas emoções, mas ainda têm muito que aprender. Eles são capazes de falar
sobre seus sentimentos; com frequência, podem discernir os sentimentos dos outros e
compreendem que as emoções estão ligadas com experiências e desejos.” (Saarni,
Mumme e Campos, 1998, citados por Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 316).
Procurou-se, assim, criar espaço para as crianças verbalizarem o seu sentir a partir das
histórias que ouviram e das atividades em que se envolviam.
18
relacionado com os foguetões e os planetas e, por fim, algumas propostas educativas
inerentes ao mesmo.
A Metodologia de Trabalho de Projeto surge, pela primeira vez, com W. Kilpatrick que
afirma que, “(…) um currículo pré-estabelecido é uma preparação inadequada para a
resolução de problemas numa sociedade em mudança. Os interesses e necessidades da
criança deveriam ser o motor do currículo.” (Katz, Ruivo, Silva & Vasconcelos, 1998, p.
135).
Para Katz, Ruivo, Silva & Vasconcelos, “A palavra projecto tem origem no verbo latino
“projicere” e, na sua etimologia, significa “lançar em frente”. Projecto é a “imagem de
uma situação ou estádio que se pretende atingir”, é um “esboço de futuro”.” (ibidem, p.
132).
Vasconcelos et. al., afirmam que “(…) o trabalho de projecto promove o desenvolvimento
intelectual de crianças (…)” (Vasconcelos et. al., s.d., p. 11). Neste sentido, para Katz
(2004),
(…) as experiências de carácter “intelectual”, tomadas na acepção acima indicada, fortalecem as
disposições inatas da criança: fazer sentido da sua própria experiência: colocar hipóteses, analisar,
elaborar conjecturas; ser curiosa; fazer previsões e verifica-las; ser empírica; persistir na resolução de
problemas; tomar iniciativas e ser responsável pelo que conseguiu fazer; antecipar os desejos dos outros,
as suas reacções (…). (Katz, 2004, citado por Vasconcelos, et. al., s.d., p. 11).
Segundo Katz, Ruivo, Silva & Vasconcelos (1998, p. 139), os projetos podem ser
reformulados durante o decorrer do seu processo e o seu tempo de duração é variável.
Porém, “(…) em todos, os mesmos passos vitais deveriam acontecer: definição da
problemática, planificação, execução, avaliação. (…) (Katz, Ruivo, Silva & Vasconcelos,
1998, p. 139).
19
As fases não são as mesmas para todos os autores, porém irei focar-me nas acima
mencionadas pois foram estas que concretizámos no Projeto “Os Foguetões e os
Planetas”.
Na Fase 1: Definição do Problema,
(…) as crianças fazem perguntas, questionam. (…) partilham os saberes que já possuem sobre o assunto
a investigar. (…) O papel do adulto é determinante, ajudando a manter o diálogo (…) dando palavra a
todas as crianças, estimulando as menos participativas, ajudando o grupo a tomar consciência realista
daquilo que pode fazer. (ibidem, pp. 139-140).
Esta metodologia centrada na criança e nos seus interesses desafia o/a educador/a a ter
um papel importante, pois, “Com o apoio atento do educador as crianças tornam-se
competentes, isto é “capazes de saber fazer em acção”.” (Vasconcelos, s.d., pp. 12-13).
Alguns desses desafios serão as seguir apresentados.
20
para que todas as crianças pudessem brincar. Tendo em conta que todas as crianças do
grupo mostraram entusiasmo pela ideia, iniciámos o projeto.
De forma a iniciar o projeto que despertou interesse e curiosidade nas crianças, tornou-se
importante conhecer mais sobre foguetões e, consequentemente, os planetas. Assim
sendo, li e procurei sistematizar informação relativa a foguetões de forma a sentir-me
mais segura e a implicar de forma mais adequada as crianças no nosso projeto de
descoberta.
Foi importante relembrar a importância dos foguetões na vida do homem e alguns aspetos
técnicos, nomeadamente que o Homem viu no foguetão/foguete o transporte
interplanetário ideal. Isto porque, “Os aviões seriam inviáveis (…). Em primeiro lugar,
suas asas precisam de ar para lhes proporcionar sustentação a fim de continuarem voando
e, (…), as hélices requerem ar para poderem funcionar e proporcionar o impulso para a
frente.” (Nicolson, 1970, p. 43).
De igual forma, tornou-se importante conhecer mais sobre os Planetas, “Em nossos dias
sabemos que os planetas são corpos sólidos como a Terra, sem luz própria, brilhando pelo
reflexo da luz solar.” (ibidem, p. 7).
Tornou-se também importante ter algumas noções sobre a Lua, planeta pelo qual as
crianças demonstraram mais interesse e curiosidade, “A Lua parece ser quase uma esfera
perfeita, sem achatamento nos pólos, embora seja algo saliente no centro da face visível.”
(ibidem, p. 73).
21
quadro abaixo. Refletindo sobre esta atividade (ver anexo 7), o grupo mostrou interesse
em descobrir mais sobre a temática.
“O que
queremos
saber?” “Se metermos fogo, como é
que voltamos para as casas
das mães e dos pais?” C.S.
“O que
Quadro 3 - "Como queremos saber?" queremo
s
saber?”
“Instalar jogos” A.F.
“Como
“Televisão” Grupo
queremos
saber?” “Pedir ajuda aos pais, aos avós,
“Livros” J.
aos primos, tios, irmãos…” Grupo
“Como
Efetivamente, depois de registarmos o querem
que as crianças sabiam, o que queriam saber e
como o queriam saber, procurámos queosas crianças percebessem que iríamos, em
saber?”
22
conjunto, realizar algumas pesquisas importantes para o nosso projeto, nomeadamente
em livros, vídeos e com as famílias.
No dia 10 de maio de 2016 o grupo escutou a história “A que sabe a Lua?”, de Michael
Grejniec. Com esta história pretendeu-se que as crianças refletissem como se poderá
chegar à Lua. Posteriormente realizou-se um jogo simbólico com o auxílio dos adultos,
procurando explorar noutra linguagem a história do livro. Desta forma, as crianças
acederam ao seu imaginário e criatividade, tendo que arranjar alternativas para, tal como
os personagens da história, tocarem a lua. Todas as crianças do grupo saltaram com os
23
braços no ar de forma a tocarem na Lua. Posteriormente concluíram que não era assim
tão fácil. As crianças descobriram que poderiam chegar à lua através de um foguetão.
No dia 11 de maio de 2016, finalizada a visualização do Filme As Aventuras de Tintim –
Pisando a Lua (parte 3/3), de Hergé, e através do diálogo estabelecido com as crianças,
estas obtiveram resposta para mais algumas das suas dúvidas, como descreve o quadro 5.
No dia 16 de maio de 2016 foi lida a história A Viagem da Rita, de autoria própria.
Explorámos a narrativa através da estratégia de compreensão leitora StoryFace, de forma
a levar as crianças a compreenderem a história identificando as suas personagens e a ação
principal. Depois de ouvirem a história e de terem falado sobre ela, as crianças realizaram
as ilustrações. Pretendia-se assim que contactassem com diversos suportes de texto
relacionados com a temática. Com as ilustrações o principal objetivo era o de percecionar
se o grupo havia compreendido a história. Ainda neste dia foi criado, em grande grupo, o
mapa conceptual “O que já sabemos?”, apresentado em baixo, sistematizando as
aprendizagens realizadas com as crianças levando-as a recordar o percurso feito.
“O Espaço é
“O Foguetão foi descolar” R. enorme” B.
25
foguetão, desta forma optou-se por, em conjunto com a família, escolherem os nomes que
mais gostavam e, posteriormente, proceder-se a uma votação.
No dia 24 de maio de 2016, as crianças contactaram com vários livros relacionados com
a temática, encontrando mais respostas para as suas dúvidas, como revela o quadro 8.
26
d) FASE IV – AVALIAÇÃO/DIVULGAÇÃO
Nesta última fase da Metodologia de Trabalho de Projeto, o grupo de crianças partilhou
os seus conhecimentos e aprendizagens à restante Instituição, simulando uma ida ao
Espaço Sideral. Desta forma, a divulgação do projeto decorreu no dia 7 de junho de 2016,
na Sala Polivalente. Estavam presentes todas as crianças da Instituição e, o nosso grupo
de crianças, pôde relatar tudo o que aprendeu e realizou. Numa
dinâmica de jogo simbólico, as crianças que queriam, podiam simular
uma ida ao Espaço, vestindo o fato espacial e entrando no foguetão
Estrelinha. Desta forma, o grupo podia, “(…) socializar os seus
novos conhecimentos, o seu saber, tornando-o útil aos outros (…)”
(Katz, Ruivo, Silva & Vasconcelos, 1998, p. 143). Figura 7 - Entrada
Foguetão
“Foguetão” “O que
“Botões”
gostámos mais
de fazer?”
“Alavanca” “Janelas”
“Foguetão”
“Botões”
“Portas”
“O que
“Alavanca” “Janelas”
gostámos
Em jeito de síntese, posso afirmar que ao longo do projeto, eu e a minha colega de Prática
mais de
“Portas”
de Ensino Supervisionada tentámos ir sempre
fazer?”ao encontro dos interesses e curiosidades
das crianças. Estas mostraram muito entusiasmo ao longo do projeto. Quando o foguetão
ficou finalizado, foi evidente a vontade de o mostrar a todas as crianças da instituição.
Nessa apresentação partilharam também todos os seus conhecimentos com as crianças
mais novas e mais velhas, que também tiveram oportunidade de vestir o fato espacial e
entrar no foguetão, simulando uma ida ao Espaço Sideral. Neste sentido, tentámos realizar
27
propostas educativas que abrangessem todas as Áreas de Conteúdo e seus Domínios
(Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, 1996). Desta forma, “Não se
considerando estas diferentes áreas como compartimentos estanques, acentua-se a
importância de interligar as diferentes áreas de conteúdo e de as contextualizar num
determinado ambiente educativo.” (Ministério da Educação, 1996, p. 22).
28
crianças, também procurámos criar sempre o desejo de saber mais sobre a temática em
que nos tínhamos envolvido.
De forma a perceber os interesses das crianças para adaptar à Prática, o/a educador/a tem
de ser observador/a e reflexivo/a. Cardoso, Peixoto, Serrano e Moreira, 1996, p. 83,
afirmam que, o facto de o professor/educador refletir sobre a Prática, “é o primeiro passo
para quebrar o acto de rotina, possibilitar a análise de opções múltiplas para cada situação
e reforçar a sua autonomia face ao pensamento dominante de uma dada realidade”
(Cardoso, Peixoto, Serrano e Moreira, 1996, p. 83, citado por Oliveira & Serrazina, 2002,
p. 10).
Uma das minhas principais dificuldades recai sobre a gestão do grupo. Desta forma
implementámos algumas estratégias de forma a conseguirmos ter um melhor controlo do
grupo. Destas destaco o uso pedagógico que procurámos fazer das lengalengas do silêncio
e canções, porém, apenas inicialmente surtiram efeito.
29
As interacções com pares também desempenham um papel importante na aprendizagem das crianças.
Os colegas são parceiros que estão envolvidos na aprendizagem e em actividades conjuntas, que se
imitam e ensinam uns aos outros e que, colaborativamente, se empenham em dar sentido ao mundo à
sua volta, através do debate, da negociação e da partilha do raciocínio. (DeVries (1997) e Azmitia (1998)
citados por Folque, 2014, p. 97).
Outra dificuldade por mim sentida recaiu sobre a avaliação. Apesar de ter conhecimentos
relativos às características das faixas etárias em questão, não percebia ao certo, o que
avaliar. Desta forma, optei por avaliar a criança mais nova e a mais velha do grupo,
através de registos escritos. No final, ao ler todas as notas de campo apercebi-me da
importância da avaliação, a par da observação, no desenvolvimento holístico da criança.
Os maiores desafios continuam, porém, a ser os de saber como agir com as crianças de
forma a que se desenvolvam ao nível dos diferentes domínios de desenvolvimento.
Assim, planificar atividades, considerando diferentes competências a desenvolver, pensar
os melhores recursos considerando a especificidade de cada criança continuam a ser
desafios a vencer. Por outro lado, a interação com as crianças é também um lugar
importante para a construção e aprendizagens, e saber como agir, o que referir de forma
a estimular as crianças será sempre um desafio para mim.
30
PARTE III – PERCURSO EM EDUCAÇÃO DE
INFÂNCIA – CONTEXTO DE JARDIM-DE-
INFÂNCIA II
31
CAPÍTULO I – DIMENSÃO REFLEXIVA
O percurso formativo realizado, no âmbito deste mestrado, fez-se também por um tempo
passado em contexto de Jardim-de-Infância, nomeadamente o Jardim-de-Infância de
Barreira. Este está inserido no Agrupamento Domingos Sequeira e está situado na
localidade de Barreira, pertencente à união de freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e
Cortes. Esta é uma instituição de cariz público.
32
No domínio cognitivo, o grupo encontra-se no estágio pré-operatório, “Os avanços no
pensamento simbólico são acompanhados pelo crescente entendimento de identidades,
espaço, causalidade, categorização e número.” (Papalia, Olds & Feldamn, 2006, p. 284).
Outra característica desta faixa etária recai sobre o faz de conta e os jogos simbólicos.
Este grupo de crianças demonstra grande interesse pelo faz-de-conta, geralmente imitam
ações que já observaram ou situações do seu quotidiano, “As crianças demonstram a
função simbólica através da imitação diferida, nas brincadeiras de faz-de-conta e na
linguagem.” (ibidem).
Este grupo de crianças interessa-se por ouvir histórias, por rimas, lengalengas e trava-
línguas. Para além deste aspeto, também contactam e revelam interesse pelo código
escrito, tendo em conta que o chefe e o ajudante do dia relatam, através dos seus
grafismos, tudo o que se passa ao longo do dia. As crianças de 5 e 6 anos revelam noções
de escrita quando, escrevem da esquerda para a direita, até ao final da linha e com letras
que já conhecem, na maioria do seu nome.
33
de faixa etária superior, “As de cinco anos (…) buscam certeza e atenção por suas ações
autônomas;” (ibidem, p. 213).
Respetivamente às relações, trata-se de um grupo com relações positivas entre si, pois é
raro existirem conflitos entre as crianças, cooperam e ajudam-se mutuamente, tanto na
higiene como em atividades orientadas. Apesar disto, “Os pré-escolares são seletivos em
relação aos parceiros para brincar. Além de geralmente gostarem de brincar com crianças
da mesma idade e do mesmo sexo que o seu, eles são muito seletivos em relação a com
quais crianças brincam.” (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 347).
Outro aspeto que se faz notar nestas faixas etárias recai sobre as questões de género,
Com três anos, tipicamente os meninos demonstram preferência por brinquedos definidos por sua
sociedade como associados ao papel do sexo masculino. Depois dos seis anos essa preferência aumenta
de modo impressionante. Para meninas, o desenvolvimento de preferência por brinquedos é menos
sistemático. (Faw, 1980, p. 216).
Neste capítulo do relatório irei apresentar o projeto desenvolvido com o grupo de crianças
intitulado de “À procura dos insetos”. Depois de revelarem interesse em querer saber mais
sobre os insetos, procurámos dar resposta às suas curiosidades.
34
as crianças ficaram a saber que o inseto se chamava Maria Café. Desta forma deu-se início
à Metodologia de Trabalho de Projeto. No dia 2 de novembro de 2016 uma das crianças
sugeriu descobrirem mais sobre mais insetos e assim alargou-se o Projeto. De forma a
sustentar as propostas de ação pedagógica, procedi ao aprofundamento de conhecimento
sobre insetos, lendo e estudando sobre eles. De seguida apresentarei um breve
enquadramento teórico relativo aos insetos.
2.2. INSETOS
Há mais de um milhão de espécies de insectos no mundo. É de longe o grupo com maior número de
indivíduos na Terra. São muito importantes pelo impacto que têm no ambiente: polinizam as flores de
muitas plantas selvagens e de árvores, assim como culturas e árvores de fruto, de forma que sem eles
essas culturas não dariam sementes; (…) (Forey & Fitzsimons, p. 8).
Os insetos são mais importantes do que imaginava antes de iniciar este projeto, isto
porque, “Um mundo sem insectos é inimaginável; eles ocupam posições cruciais em cada
habitat terrestre e têm lugares-chave no suporte e manutenção do equilíbrio presente da
natureza.” (ibidem).
Uma das maiores curiosidades do grupo de crianças recaiu sobre o corpo dos insetos.
Também para nós foi importante descobrir que,
Os insectos distinguem-se de todos os outros animais pelas seguintes caracteristicas: têm o corpo com
exosqueleto rijo, dividido em três partes (cabeça, tórax e abdómen); têm duas antenas na cabeça; três
pares de patas e dois pares de asas no tórax. (ibidem).
Seguidamente apresento o projeto desenvolvido com as crianças nas suas diferentes fases,
segundo Katz, Ruivo, Silva & Vasconcelos (1998).
35
Quadro 10 - "O que já sabemos?"
36
Realização de carta para as famílias referente às pesquisas a
realizar.
8 de novembro de 2016 Registos de curiosidades sobre Cigarras e Formigas;
Jogo de desenhos para adivinhar o inseto.
9 de novembro de 2016 Registos de curiosidades sobre Abelhas;
Músicas e Danças relacionadas com alguns Insetos.
15 de novembro de 2016 Respostas às curiosidades das crianças, relativas aos insetos, através
do Kamishibai;
Contorno das imagens de insetos.
16 de novembro de 2016 Introdução de teias de aranha;
Jogo de Tabuleiro Gigante sobre Insetos;
22 de novembro de 2016 Visionamento de vídeo (de sitepopular, 2009) com aranha a tecer
teia;
Realização de Máscaras sobre Insetos.
23 de novembro de 2016 Visionamento de vídeo relacionado com abelhas e colmeias;
Jogo Simbólico de Insetos, com as máscaras;
Construção de Colmeias.
28 de novembro de 2016 Teia com lã, partilhando conhecimentos de insetos;
Construção de teia de aranha com lã em grande grupo.
29 de novembro de 2016 Realização de abelhas a serem colocadas nas colmeias.
30 de novembro de 2016 Construção de Padrões relativos aos Insetos.
5 de dezembro de 2016 Início da criação da história relacionada com os Insetos, inicialmente
com gravador;
Audição de gravação e registo das ideias das crianças;
6 de dezembro de 2016 Diálogo sobre a capa, contracapa e lombada;
Ilustrações na história.
12 de dezembro de 2016 Votação do título para a história.
13 de dezembro de 2016 Leitura da história criada pelo grupo, “O Urso e os Insetos”;
Construção da capa, contracapa e lombada do livro.
19 e 20 de dezembro de Construção do Jornal de Parede relativo aos insetos;
2016
20 de dezembro de 2016 Festa de Apresentação do Livro e da Exposição de Insetos.
Muitas das propostas educativas foram diretamente sugeridas pelas crianças, tais como,
a observação da Maria Café pela lupa; desenhos variados; teatros; construção de colmeias
e festa de apresentação.
37
Algumas das propostas educativas que foram realizadas nesta fase foram: i) Descoberta
do nome do inseto e observação do mesmo com a lupa; ii) Jogo de Tabuleiro gigante
sobre os Insetos; iii) Jogo Simbólico de Insetos com Máscaras; iv) Realização do livro
relacionado com os Insetos; v) Início do Jornal de Parede.
Esta foi uma atividade crucial para o desenvolvimento do Projeto. Neste dia as crianças
conheceram o nome do inseto, Maria Café através de pesquisas em grande grupo. De
forma envolver as crianças, projetámos a página de pesquisa do computador na parede.
Seguidamente escrevíamos o que as crianças queriam saber. Depois de sugerirem:
“Escreve lagarta preta”, apareceu então a Maria Café. Nesta atividade as crianças tiveram,
também, contacto com o código escrito e aperceberam-se que, o que dizem, pode ser
escrito. Desta forma,
As crianças que desde cedo estão envolvidas na utilização da linguagem escrita, e que vêem outros a ler
e a escrever, vão desenvolvendo a sua perspectiva sobre o que é a leitura e a escrita e simultaneamente
vão desenvolvendo capacidades e vontade para participarem em acontecimentos de leitura e escrita.
(Mata, 2008, p. 14).
Seguidamente passámos para a observação da Maria Café, com a lupa, pois as crianças
tinham mostrado interesse em fazer um “Raio X”. Enquanto as crianças observavam a
Maria Café, eu e a minha colega fomos registando as suas reações, especificamente:
“Parece quase uma minhoca”; “Encolheu porque tocaram nela”; “Tem bico no rabo”;
“Tem patas vermelhas, é toda preta, tem duas antenas e um pico atrás”.
38
ii) Jogo de Tabuleiro gigante sobre os Insetos
Esta atividade foi muito importante pois, não só conciliou ideias relativas aos insetos, mas
também desenvolveu as relações interpessoais e a motricidade global. O facto de ser uma
atividade realizada no parque exterior também contribuiu para a motivação do grupo. Tal
como referem as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, “Se as atividades
que se realizam habitualmente na sala também podem ter lugar no espaço exterior, este
tem características e potencialidades que permitem um enriquecimento e diversificação
de oportunidades educativas.” (Silva, et. al., 2016, p. 27).
anterior, com tecidos, algodão e lãs, realizaram o Jogo Simbólico. Nesta proposta
educativa estiveram presentes, a Área de Expressão e Comunicação, mais
especificamente a Comunicação Oral e o Subdomínio do Jogo Dramático/Teatro, com as
intencionalidades de estimular o prazer em comunicar e promover a representação de
personagens e situações. Também a Área de Conhecimento do Mundo, o Conhecimento
Físico e Natural, de forma a estimular o contacto com vários animais, bem como com as
39
suas características. Por fim, no âmbito da Área de Formação Pessoal e Social, estimular
o respeito pelo outro e em escutar.
Primeiramente dividimos as crianças pelos grupos (o das joaninhas, das aranhas, das
Maria Café e das borboletas) de máscaras. De seguida, cada grupo imitava ações que
conhecia desse inseto, o seu modo de vida, o que comia, como se movimentava. No final,
todos os grupos se reuniram e interagiam entre si. Esta atividade revelou-se importante
pois o grupo desenvolveu a sua motricidade global, as relações interpessoais e a
comunicação. Também serviu para observarmos que a maioria das crianças revelava
conhecimentos sobre os insetos e os seus modos de vida. Através de observações atentas,
constatei que o grupo das aranhas, por iniciativa própria, tentava apanhar os insetos
Inicialmente, as crianças necessitaram do adulto para saber o que fazer, mas, com o
decorrer da atividade, foram realizando as interações de modo mais autónomo e
confirmando as suas aprendizagens. Desta forma,
O apoio do/a educador/a ao jogo dramático da iniciativa da criança permite ampliar as suas propostas,
de modo a criar novas situações de comunicação, através de uma melhor caracterização dos papéis que
está a desempenhar, das ações a desenvolver, permitindo alargar o tempo de envolvimento da criança e
a sua expressão verbal. (Silva, et. al., 2016, p. 52).
40
educativas definimos, promover o uso de linguagem ajustada a funções específicas
(formulação de uma narrativa); facilitar a emergência da linguagem escrita; promover a
confiança em propor ideias e falar em grupo e, finalmente, desenvolver o reconhecimento
dos insetos, pelas suas características e modos de vida.
Por fim, em papel de cenário onde foram coladas as notícias, em pequenos grupos, todas
as crianças desenharam as ilustrações do jornal. Desta forma, todo o jornal é realizado
pelas crianças, tendo-se procurado estimular o trabalho em equipa. Este processo de
produção de notícias foi construído até ao final da Prática Pedagógica Supervisionada,
tendo-se afixado as notícias que as crianças selecionaram.
d) FASE IV – AVALIAÇÃO/DIVULGAÇÃO
42
Na última fase do projeto, segundo Katz, Ruivo, Silva &
Vasconcelos, 1998, o grupo de crianças divulgou todas as
suas aprendizagens às famílias, no dia 20 de dezembro de
2016, numa Exposição dos Insetos. Neste dia também
decorreu o lançamento do livro “O Urso e os Insetos”,
realizado pelas crianças, com exemplares para cada família. Figura 15 - Exposição dos Insetos
Para finalizar o Projeto “À procura dos insetos”, o grupo de crianças pensou no que gostou
mais de fazer: “Gostei mais de fazer os desenhos para o jornal.” (F.M.); “Do livro.” (F.F.,
G.); “Falar sobre as formigas.” (L.); “Teatro de máscaras.” (S.M.); “As máscaras das
aranhas.” (T.A.); “Escrever a notícia.” (H.); “O lançamento do livro.” (L.F.). O que
gostaram menos de fazer, “Não gostei de pintar com lápis de cor.” (F.M.); “Pintar por
cima do risco das letras.” (T.A.). E o que gostariam de ter feito que não fizeram, “Eu
queria fazer os desenhos com tinta.” (L.F.); “Eu queria fazer a casa da Maria Café.” (F.);
“Eu gostava de fazer uma coleção de máscaras dos insetos.” (F.M.); “Eu gostava de ter
um jogo dos insetos.” (F.M.). Estas intervenções das crianças evidenciam como elas não
ficaram indiferentes ao projeto, tendo construído aprendizagens significativas.
A avaliação do projeto foi muito importante para nós pois, só assim tivemos
conhecimento do que faltou e como podemos melhorar a nossa ação educativa, no futuro.
De um modo geral, penso que conseguimos chegar aos interesses das crianças,
respondendo sempre às suas curiosidades e atendendo sempre às suas necessidades,
envolvendo as mais diversas Áreas.
43
Na Área de Expressão e Comunicação, no Domínio da Educação Física, as crianças
realizaram o jogo do tabuleiro gigante, sendo eles próprios os peões. No Domínio da
Educação Artística realizaram atividades que vão desde colmeias e abelhas a máscaras de
insetos e teias de aranha com novelos de lã. No Subdomínio do Jogo Dramático
realizaram um jogo simbólico com recurso às máscaras anteriormente criadas. No
Subdomínio da Música e, em conjunto com o da Dança, cantaram e dançaram músicas de
inseto, projetadas na parede. No Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita
realizaram atividades que vão desde o livro, ao jornal de parede e às histórias contadas
todos os dias. Por fim, no Domínio da Matemática realizaram padrões de insetos e a
contagem da votação para o título do livro.
3. PORTEFÓLIO DE AVALIAÇÃO
44
procedemos à realização de um portefólio de avaliação. No meu caso, incindindo numa
criança do sexo masculino, o L., com 3 anos.
45
Relativamente ao nível do desenvolvimento cognitivo, esta criança de 3 anos de idade,
encontra-se no estágio pré-operacional, “Os avanços do pensamento simbólico são
acompanhados pelo crescente entendimento de identidades, espaço, causalidade,
categorização e número.” (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 284). Destes domínios a
criança revela particular interesse pelo número, geralmente gesticula os números que
ouve. No dia 22 de novembro de 2016, ouvi-o a contar as grainhas das uvas: “1,2,3,6”,
cheguei perto dele e disse: “Vamos contar outra vez L.!”, iniciando a contagem comigo:
“1,2,3,4”, seguidamente questionei-o: “Então tens aí quantas grainhas?”, “4!”, responde-
me ele. Apesar de a criança não ter o princípio de ordem estável bem desenvolvido, por
não “Dizer os nomes dos números em uma ordem definida (…).” (Papalia, Olds &
Feldman, 2006, p. 287), tem o princípio de cardinalidade bem desenvolvido, pois sabe
que, “O último nome de número utilizado é o número total de itens que estão sendo
contados (…).” (ibidem, p. 288).
As principais dificuldades de reprodução do L. devem-se aos sons [r], [rr] e [l]. Segue-se,
em baixo, algumas evidências.
Dia 7 de novembro de 2016 - “Não tenho bósos” (bolsos).
Dia 14 de novembro de 2016 – “Fui buscar a estêa” (estrela); “Bolas vêdes” (verdes);
“Tenho tês anos” (três).
Dia 28 de novembro de 2016 – “Cóta aqui” (corta); “abe e fecha” (abre).
Dia 5 de dezembro de 2016 – “péda vemêlha” (pedra vermelha).
Dia 6 de dezembro de 2016 – “ ’Tá ali uma aanha” (aranha).
Para além das dificuldades sentidas nestes três sons, o L., quando termina algo, diz muitas
vezes: “Já fazi”. Por exemplo, segue-se um diálogo entre mim e esta criança:
Dia 19 de dezembro de 2016: L.: “Já fazi”
Eu: “Já fizeste?”
46
L.: “Sim, já fiz!”.
Através deste diálogo pode-se constatar que, apesar de não o reformular na palavra certa
(“Fiz!”), questionei-o “Já fizeste?”, a criança entendeu e, de seguida reformulou.
O L. é uma criança bastante afetuosa e que tenta ajudar os outros, quer em atividades
orientadas como em momentos de brincadeira livre.
Em suma, através da realização deste portefólio de avaliação consegui ter uma melhor
noção das competências, dificuldades e interesses da criança. O portefólio revela-se,
portanto, um ótimo instrumento de avaliação das crianças. O mais importante é que o/a
educador/a seja observador e reflexivo, de forma a conseguir adaptar a sua Prática às
necessidades das crianças.
47
4. DESENVOLVIMENTO PESSOAL E APRENDIZAGENS
REALIZADAS
48
às características de cada criança, do grupo e do contexto social em que trabalha.”
(ibidem, p. 5).
Sumariamente posso concluir que esta Prática foi crucial para o meu crescimento
profissional. Ao nível investigativo realizei o estudo com quatro participantes, ao nível
reflexivo realizei o portefólio de uma das crianças, ajudando-me na avaliação e reflexão.
49
CAPÍTULO II – DIMENSÃO INVESTIGATIVA: OS
PAPÉIS DE GÉNERO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR
50
5. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
O género trata-se de uma construção social, reflete-se nas características psicológicas dos
indivíduos, descreve “(…) inferências e significações atribuídas aos indivíduos a partir
do conhecimento da sua categoria sexual de pertença. Trata-se, neste caso, da construção
de categorias sociais decorrentes das diferenças anatómicas e fisiológicas.” (ibidem).
Vários autores investigaram sobre a identidade de género. Desta forma são apresentadas
as teorias de Freud, Kohlberg, Sandra Bem e Bandura, citados por Papalia, Olds &
Feldman (2006) e Cardona et. al. (2015).
Papalia, Olds & Feldman (2006) tomando por referência a Teoria psicanalítica baseada
em Sigmund Freud, referem que a criança adquire a sua identidade de género através do
“(…) processo de identificação: a adoção de características, crenças, atitudes, valores e
comportamentos do genitor do mesmo sexo. Freud e outros autores psicanalíticos
51
clássicos consideravam a identificação um importante desenvolvimento da personalidade
na segunda infância; (…).” (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 323).
Relativamente à Abordagem Cognitiva, baseada em Kohlberg, os mesmos autores
afirmam que as crianças adquirem a sua identidade de género quando percebem qual o
seu sexo e o dos outros, desta forma,
(…) as crianças fazem sua própria tipificação de gênero. Elas classificam a si mesmas e aos outros como
masculino ou feminino e depois organizam seu comportamento em torno dessa classificação. Fazem
isso adotando comportamentos que percebem como coerentes com seu gênero. (ibidem).
Sandra Bem (1983, 1985, 1993), Carol Lynn Martin e Charles F. Halverson (1981), com
a Teoria do Esquema do Género, apontam para uma abordagem também cognitiva. Nesta
perspetiva,
(…) depois de descobrirem de que sexo são, as crianças começam a assumir papéis de gênero,
desenvolvendo um conceito do que significa ser do sexo masculino ou feminino em sua cultura. Fazem
isso organizando suas observações em torno do esquema do gênero. Organizam as informações com
base nisso porque vêem que sua sociedade classifica as pessoas dessa maneira: homens e mulheres
vestem roupas diferentes, brincam com brinquedos diferentes (…). (ibidem, pp. 324-325).
A identidade de género, apesar de refletir as vontades individuais, pode ser resultado das
influências exteriores, uma vez que, e ainda na linha do pensamento kolhbergiano
(ibidem), “(…) a vontade da criança de agir em conformidade com as normas adequadas
ao seu sexo precede o próprio comportamento, em virtude da sua compreensão da
realidade.” (ibidem).
52
5.2. Estereótipos de Género
Na sociedade em que vivemos cada vez mais nos deparamos com estereótipos de género.
Os agentes de socialização (família, media, livros, escola…) têm forte impacto nas
crianças que, ao contactarem com estes meios, podem desenvolver estereótipos. Desta
forma, existe uma generalização daquilo que as mulheres e os homens devem “ser” e
“fazer”. E, quando algum deles não corresponde a essa “generalização” é visto como
rejeitado, por não ser ou não fazer aquilo que a sociedade espera consoante o seu sexo:
De um modo geral, os indivíduos que se afastam das visões dominantes de masculinidade (o homem
“choramingas”, por exemplo) e de feminilidade (a mulher “agressiva”, por exemplo) costumam ser alvo
de julgamentos negativos por parte dos outros. (Cardona, M., J. et. al., 2015, p. 27).
Segundo Neto et. al. (2000), os estereótipos de género podem-se dividir em duas
categorias principais, os estereótipos de papéis de género e os estereótipos de traços de
género. Desta forma e segundo os autores, “Os estereótipos de papéis de género designam
as crenças solidamente partilhadas sobre as actividades apropriadas a homens e a
mulheres, referindo-se os estereótipos de traços de género às características psicológicas
que diferencialmente se atribuem a ambos.” (Neto et. al., 2000, p. 11). No presente estudo
tomarei como referência, essencialmente, a categoria estereótipos de papéis de género.
Apesar da evolução que se tem notado ao longo do tempo relativamente aos estereótipos
de género, na nossa sociedade ainda existem muitas ideias preconcebidas. Desta forma é
importante que o/a educador/a trabalhe em parceria com as famílias e que estes dois
contextos estejam em sintonia e auxiliem na promoção da igualdade de género.
53
5.3. Género e Currículo na Educação de Infância
Desta forma e, “Considerando a importância do período dos zero aos seis anos na
construção da identidade de género e na formação do conceito de género (…).” (ibidem,
p. 53), torna-se importante integrar esta temática no currículo da Educação Pré-Escolar
pois,
Embora a criança inicie desde que nasce o seu desenvolvimento pessoal e social no seio da família e no
meio sociocultural em que vive, a educação pré-escolar é um contexto mais alargado que lhe possibilita
a interacção com outros adultos e crianças que poderão ter diferentes valores e perspectivas,
promovendo-se assim a tomada de consciência de si e do outro. (ibidem).
54
de oportunidades para rapazes e raparigas, reproduzindo e fortalecendo os valores e
modelos tradicionais dos papéis e traços de género (Huston, 1983; Fernandes, 1987 &
Thorne, 1993, citados por Neto, et al, 2000, p. 25) “.
É importante que se adote uma educação inclusiva, em que todas as crianças se sintam
bem. Fazê-lo através de uma educação para as questões de género, através de uma
reflexão sobre o papel do/a educador/a neste processo formativo, é um modo de a
construir. Torna-se, assim, importante que o/a educador/a observe e tenha conhecimento
das conceções e comportamentos das crianças para, que desta forma, planifique e
intervenha adequadamente. A observação, de facto, tem um papel preponderante na ação
do educador. É através da observação que se “(…) adquire visões das potencialidades,
dos conhecimentos, dos interesses e das habilidades das crianças, podendo também
descobrir obstáculos a sua aprendizagem” (Jablon, Dombro & Dichtelmiller, 2009, p.
105).
55
O espaço, o tempo e os recursos revelam grande importância no combate a estereótipos.
É fácil cair no estereótipo numa sala de atividades, por exemplo, o/a educador/a poderá
colocar só meninas na Área da Casinha e só meninos na Área das Ferramentas. Esta
aparente simples decisão do/a educador/a condiciona o modo como as crianças veem o
mundo, os outros e a si próprios, influenciando os seus comportamentos. Efetivamente,
todos estes aspetos e “exemplos” que as crianças veem nos adultos leva a que, elas
próprias possam interpretá-los como corretos, quando não são. As decorações da sala de
atividades, bem como os seus materiais, também poderão induzir as crianças a conceções
erradas. De forma a combater essas construções, o/a educador/a tem um papel importante,
tentando sempre dar resposta às necessidades e interesses das crianças. Efetivamente,
“Para começar, tem que estar atento/a ao que dizem as crianças, às suas sugestões,
questionar os motivos que condicionam as suas escolhas e comportamentos. Este é o
ponto de partida para a organização de um ambiente educativo integrador.” (Cardona et.
al., 2015, p. 69).
Das múltiplas formas de o/a educador/a criar ambientes formativos adequados, podemos
destacar a importância de poder adotar o diálogo em grande grupo, de modo a perceber
as conceções de género das crianças e conversar com o objetivo de desmistificar certos
estereótipos. Outra estratégia importante será a de, de modo articulado, explorar outras
formas de expressão, nomeadamente a Expressão Dramática. Efetivamente, o/a
educador/a deve criar situações pedagógicas de jogo simbólico, que favoreçam a troca de
papéis. Por exemplo, “Uma rapariga poderá ser convidada a exibir um suposto
comportamento masculino, num aspeto concreto do enredo, e vice-versa.” (Cardona, M.,
J. et. al., 2015, p. 76). Relativamente a jogos ou até mesmo histórias estereotipadas, por
exemplo, o/a educador/a poderá reformulá-los em conjunto com as crianças, de forma a
tornarem-se não sexistas.
56
Neste sentido, sabe-se que o/a educador/a é um exemplo para as crianças, logo, se tem
como objetivo desconstruir conceções estereotipadas, ele próprio não deve criá-las,
devendo pensar modos diversos de promover ambientes de aprendizagem ao nível do
modo como se organizam os espaços, se criam, selecionam e exploram os recursos e as
atividades que favoreça uma educação para as questões de género, efetivando assim
Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Efetivamente, “Importa que o/a
educador/a esclareça estes estereótipos discriminatórios com as crianças, questionando
situações que vão ocorrendo na vida do grupo, e que também reflita sobre as suas atitudes,
os materiais, recursos e atividades que propõe.” (Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016, p.
34).
Dos diversos recursos disponíveis para uma Educação Pré-Escolar para as questões de
género, destacamos o papel das narrativas que podem aparecer em múltiplos meios nos
quais as crianças se movem. As narrativas estão, ou deviam estar, presentes no dia-a-dia
da criança. Com as narrativas a criança aprende, diverte-se e desenvolve aspetos tais
como, a imaginação, a criatividade, a linguagem e a socialização.
57
(como a novela da hora de jantar) e grandes consumidoras dessas narrativas que são os anúncios.
(ibidem, p. 15).
Ao/à educador/a cabe, pois, a função de selecionar recursos e levar as crianças a pensar
sobre as narrativas que deles emergem de forma a expressarem-se sobre elas.
Todo o processo de brincadeira é importante para a criança, não só pelo momento lúdico
que este engloba, mas também porque, “É no brincar, e somente no brincar, que o
indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é
somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)” (Winnicott, 1975, p. 80).
Mesmo a utilização dos brinquedos difere dos meninos para as meninas, “Como indicam
os autores, aos 3-4 anos, enquanto os rapazes utilizam os brinquedos para expressar uma
identidade diferenciada, as raparigas utilizam brinquedos marcados pelo masculino ou
feminino, independentemente do parceiro.” (Soares, 2012, p. 113).
58
Ligado ao brinquedo e ao consequente desenvolvimento da criança, importa ter presente
a importância do jogo simbólico. É através do faz-de-conta que a criança imita situações
do seu quotidiano, cria situações imaginárias e ainda consegue entender as regras do
Mundo que a rodeia. Kishimoto afirma que, “ao prover de uma situação imaginativa por
meio de uma atividade livre a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e
internaliza as regras sociais.” (Kishimoto, 2003, citado por Oliveira & Rubio, 2013, p. 3).
É também no jogo simbólico que se assumem papéis que se podem revelar como
estereotipados. Para Vandenplas-Holper, 1983, “(…) a partir dos 3-4 anos, as crianças
descrevem a sua mãe como consagrando-se às tarefas domésticas e à educação dos filhos;
o pai, como trabalhando fora e ganhando a vida para a família. (Vandenplas-Holper, 1983,
citado por Rinaldi, 2011, pp. 30-31), de algum modo perpetuando papéis sociais que são
geradores de desigualdades.
O jogo simbólico adquire, assim, grande importância para o/a educador/a, pois ajuda a
percecionar atitudes. Segundo Moyles, 2002, “O brincar em situações educacionais,
proporciona não só um meio real de aprendizagem como permite também que os adultos
percetivos e competentes aprendam sobre as crianças e as suas necessidades.” (Moyles,
2002, citado por Alvanel, 2015, p. 28).
6. METODOLOGIA
59
género. Constatei que algumas crianças preferiam determinadas áreas espaciais e
determinados brinquedos, afirmando que uns “são de menina” e outros “de menino”. A
observação destes comportamentos despertou em mim a curiosidade de conhecer as
conceções de género das crianças e as suas áreas e brincadeiras preferenciais.
Assim, o presente estudo investigativo baseou-se na questão de partida: “Será que para
as crianças, existem especificamente brincadeiras, atividades, roupas e profissões para
meninos e meninas, homens e mulheres?”. Relativamente aos objetivos do estudo, defini
os seguintes:
6.2. PARTICIPANTES
60
6.3. OPÇÕES METODOLÓGICAS
Importante também ressalvar que se trata de um estudo de caso, ou seja, realizado apenas
com esta população de participantes, constituindo assim “(…) uma base pouco sólida para
fazer generalizações.” (Vilelas, 2009, p. 141).
61
objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tendo por
objectivo a sua interpretação”. (Berelson, 1952, 1968, citado por Carmo & Ferreira, 1998,
p. 251).
6.5. PROCEDIMENTOS
Através de observações atentas, no primeiro momento constatei que uma das crianças do
sexo masculino (criança F.) optava por brincar na área da casinha e por usar, na sua
brincadeira, roupa e acessórios do sexo feminino. Enquanto isto, outras duas crianças de
sexo masculino (criança T. e criança L.) referiam que só as meninas poderiam brincar
com aquelas roupas. Outra criança de sexo feminino (criança B.) retorquia que tanto
meninos como meninas poderiam brincar com essas roupas e acessórios.
Assim, foi pensado um dispositivo de ação centrado em três momentos, conforme quadro
14, apresentado na página 64.
62
2016 realizei a primeira proposta do primeiro momento, um Grupo de Discussão, assim,
optou-se por trabalhar com “(…) o grupo uma questão, um problema, uma controvérsia
relacionada com o género a discutir por todos/as durante um determinado tempo (…)”
(Cardona et. al., 2015, p. 75). Assim sendo, reuni com os quatro participantes e, de forma
a introduzir a discussão, os participantes visualizaram quatro imagens retiradas do
referido guião (ver anexo 12) (Cardona et. al., 2015, p. 68, p. 85 e p. 87).
Assim sendo, no dia 14 de novembro de 2016 iniciei o segundo momento com a leitura
de “O livro dos Porquinhos”, de Browne, A., 2013. Os critérios de escolha deste livro
foram a temática abordada, especificamente, a educação para a cidadania, igualdade e
63
colaboração. Pretendi criar condições pedagógicas para que as crianças percebessem que
a interajuda no seio familiar é importante e que não se deve responsabilizar a mãe/mulher
por todas as tarefas domésticas. De forma a cativá-las para a história, a ficarem atentas e
a fazê-las pensar sobre a problemática em questão, coloquei algumas questões antes (“O
que veem na capa?”; “Porque será que estão todos ao colo da mãe?”), durante (“Porque
a mãe estava em casa?”) e depois (“Ela começou a arranjar o carro! O que acham?”) de
contar a história. Para Giasson, 2000, “O ensino de estratégias a usar antes, durante e
depois da leitura consiste em explicitar processos de auto-regulação usados para propiciar
uma melhor compreensão de leitura e para construir e reconstruir os sentidos dos textos.”
(Giasson, 2000, citada por Carvalho & Sousa, 2011, p. 118).
No dia seguinte à leitura de “O Livro dos Porquinhos” (Browne, A., 2013), propus a
realização de um jogo dramático, em que cada um dos quatro participantes simulou um
personagem da história. Através do jogo dramático tencionei também conhecer as
conceções de género das crianças, relativas às tarefas domésticas.
64
Na última atividade do segundo momento, realizada no dia 30 de novembro de 2016,
procedi a uma atividade de desconstrução e reconstrução de narrativas. Portanto levei um
texto sexista (ver anexo 15) retirado do Guião de Educação – Género e Cidadania – Pré-
escolar (Cardona et. al., 2015). Desta forma criou-se um confronto de ideias de forma a
dar continuidade a este mesmo texto, reformulado pelas crianças, na linha do que é
sugerido no Caderno de Coeducação A Narrativa na Promoção da Igualdade de Género.
Contributos para a Educação Pré-Escolar (Silva & Vasconcelos, 2005),
Imaginar a continuação de uma narrativa – seguindo, por exemplo, o método de “L’Ours fariné”
proposto em Formar Crianças Leitoras (Paris, 1984). Segundo este método, a educadora ou o educador
lê ou conta um episódio da narrativa, as crianças inventam uma sequência possível, confrontando-se
depois esta sequência com a que foi escrita pelo autor ou autora; (…) (Silva & Vasconcelos, 2005, p.
24).
65
Para a realização do presente estudo procedeu-se à elaboração de uma categoria de análise
(papéis de género) e de subcategorias (brincadeiras, tarefas domésticas, atividades,
interesses, profissões preferências, gostos e emoções. Tendo em conta que observei, nas
crianças participantes, comportamentos estereotipados relativos a esta categoria e
subcategorias, decidi aprofundar os meus conhecimentos e as opiniões dos participantes
nestes níveis.
Em relação às crianças L. (menino) e T. (menino), apenas observei duas idas das mesmas
para a Área da Casinha, fazendo de conta que eram donos de um restaurante. Estes dois
participantes brincam, sobretudo, na Área do Castelo, onde simulam “lutas” com espadas
e os seus reis, acessórios presentes na referida Área. Ao longo do estudo pude verificar
alguma mudança de comportamento das crianças L. e T. que, para além de frequentarem
a Área da Casinha, deixaram de referir que esta era apenas para meninas, bem como certas
roupas e brinquedos nela presentes.
66
Quadro 15 - Conceções relativas à categoria papéis de género e às subcategorias tarefas
domésticas e brincadeiras
Conceções identificadas nas crianças a partir da proposta Grupo de
Subcategoria
Categoria
Discussão.
Imagens
Criança F. Criança L. Criança B. Criança T.
cozinhar e
Homem a
mulher a
As meninas os meninos
Meninos e
brincarem
meninas a
Desenho
porque as
a mãe também a brincar com senhoras gostam “Senhor a contar a
podia, mas só o um amigo aos de patinhos.” e história, porque o
senhor gosta, mas martelos, estava “Senhor a bater pai não gosta de
não gostam todos. a arranjar a palmas, está a fazer nada.”
Ontem ele parede e a brincar com a
cozinhou, hoje é a pintar. Porque o menina, porque o
mãe.” meu pai trabalha senhor gosta de
com martelos.” legos.”
67
“Menina a brincar “Menina a ler “Menina a brincar “Menina a ouvir
aos mágicos, um livro. Porque com legos, o música, porque as
podem brincar os gosto quando as menino também meninas gostam
Menino e menina
Brincadeiras dois, mas os meninas leem.” podia, mas não mais de música que
meninos fartam- e “Menino a gosta de legos.” e os meninos.” e
se e querem logo jogar à bola. “Menino a jogar à “Menino a brincar
futebol.” e Porque eu gosto bola, porque os com carros, porque
“Menino a jogar à de jogar à bola.” meninos jogam à gosto de carros,
bola, o menino bola.” porque vejo o pai a
fartou-se e foi conduzir.”
jogar à bola.”
68
Quadro 17 - Conceções relativas à categoria papéis de género e à subcategoria tarefas domésticas
Conceções identificadas nas crianças a partir da proposta de leitura da história
Tarefas Subcategoria
Categoria “O Livro dos Porquinhos”.
Através da observação do quadro acima, pode-se constatar que nenhuma das crianças
revelou estereótipos relativamente à subcategoria das tarefas domésticas. A criança L.,
apesar de não se pronunciar sobre este aspeto, no final da leitura disse que achava bem a
mãe arranjar o carro, enquanto o pai se dedicava às tarefas domésticas. As respostas das
crianças podem estar relacionadas com a influência dos pais. Segundo Turner e Gervai,
1995, “(…) meninos e meninas cujos pais faziam mais os afazeres domésticos (…) eram
menos conscientes de estereótipos de gênero (…).” (Turner e Gervai, 1995, citados por
Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 327). Efetivamente as interações das crianças parecem
ser justificadas por aquilo que observam e pelo seu contexto familiar.
Ao iniciar o jogo dramático, a criança F., que fazia de mãe, exclamou: “Não sujem tudo!”,
ao que as restantes três crianças afirmaram: “Nós vamos sujar!”. A criança F. dirigiu-se
para uma mesa, simulando que estava a passar a ferro, enquanto as restantes três crianças
69
desarrumavam a casinha. De forma a ver as suas reações, questionei-os: “Então não
mudavam nada na história?”, ao que a criança F. responde “Eu punha os filhos e o pai a
ajudarem-me!”. As três crianças afirmaram que iam ajudar a “mãe”. A criança T. ainda
acrescentou: “Eu punha o filho de castigo. Porque está a sujar tudo com o pai.”. Enquanto
as quatro crianças arrumavam a casinha verifiquei o seguinte diálogo entre eles:
Criança F.: “Assim a história era melhor!”
Criança L.: “Eu também acho. Porque assim ajuda tudo a mãe!”
Crianças T. e B.: “Nós também achamos que está melhor assim. Estamos a ajudar a mamã
e o papá.”
As crianças que inicialmente desarrumavam tudo (reproduzindo os comportamentos das
personagens da história), ao verem a criança F. que fazia de mãe a arrumar tudo sozinha,
bem como a “passar a ferro”, consciencializaram-se de que tinham de a ajudar e que assim
a história ficava melhor. Nesta proposta a intervenção do adulto foi fundamental, uma
vez que ajudou as crianças a refletirem sobre a história e a reformularem-na.
ria
70
estereotipadas nesta subcategoria. Efetivamente, nenhuma criança associou todas as
tarefas domésticas apresentadas aos dois sexos, à exceção da criança F. que associou a
tarefa de cozinhar a homens e a mulheres. As crianças B., T. e F. associaram apenas os
homens às tarefas de construções.
Antes de mostrar a fotografia de uma pessoa a lavar a loiça, questionei as crianças sobre
quem julgavam ser. As quatro responderam, “Uma mulher.”. Ao mostrar que era um
homem a lavar a loiça e uma mulher a limpar, a criança L. responde: “O meu pai às vezes
também lava!” e a criança F.: “Assim trabalham os dois.”.
De seguida questionei sobre quem estava a martelar um prego. A criança L., a criança B.
e a criança T. afirmaram que seria um homem, justificando os três que são os pais quem
arranjam as coisas em casa. A criança F. afirmou que “É uma mulher. Também há
mulheres que martelam.”. Quando mostrei a imagem, a criança T. reagiu admiradamente:
“Ela está a martelar um prego muito grande!”.
Relativamente às profissões, quando referi que tinha uma fotografia com alguém a
trabalhar num cabeleireiro, a criança T. respondeu prontamente: “É uma mulher. Porque
a minha mãe é cabeleireira!”. A resposta desta criança pode ser explicada devido à
profissão da mãe. A criança F. respondeu: “Pode ser um homem. Também há homens
71
cabeleireiros.”. A criança B.: “É uma mulher porque são senhoras que cortam o cabelo.”
e a criança L.: “Pode ser um homem ou uma mulher”.
Quando questionei sobre quem estaria a jogar futebol, a criança F. referiu: “Eu acho que
são meninos e meninas a jogarem.”. A criança T.: “Os meninos e as meninas podem jogar
futebol.”. A criança B.: “Acho que são as duas.”. A criança L.: “Não, é um homem!”.
Quando mostrei a imagem de uma futebolista, a criança L. reagiu admiradamente, “É uma
mulher?”. Respondi: “Sim, esta é a melhor jogadora mulher.” e a criança afirmou: “Mas
eu jogo à bola e sou menino.”. A criança T. interveio: “Há homens e mulheres que jogam
à bola.”.
As crianças B., T. e F., na maioria das suas respostas relativas às profissões, referem que
os homens e as mulheres podem ter as mesmas profissões, o que poderá revelar que estas
crianças têm adquirida a flexibilidade dos papéis de género, isto é, “(…) a capacidade
para reconhecer que tanto homens como mulheres podem ou poderão manifestar
comportamentos similares e empenhar-se nas mesmas actividades, (…).” (Neto et. al.,
2000, p. 21).
72
No dia 28 de novembro de 2016, em momento de brincadeira livre na casinha, introduzi
novos acessórios (um chapéu preto e branco, um chapéu branco com um boneco rosa, um
lenço preto, um lanço cor-de-rosa e jornal desportivo) de forma a conhecer conceções das
crianças. Os dados evidenciam-se no quadro 19.
na Casinha
Como se pode observar no quadro acima, as quatro crianças não revelaram estereótipos
relativamente à subcategoria preferências e gostos, mais concretamente a roupas e cores.
Com um chapéu preto na mão, perguntei: “Quem pode colocar este chapéu?”, a criança
B. responde: “É de menina, porque eu gosto.”. Seguidamente, agarrei no chapéu branco
com um boneco cor-de-rosa: “E este?”, todas as crianças responderam: “Meninos e
meninas podem utilizar!”. De seguida, questionei sobre o lenço preto, todas as crianças
responderam: “Meninos e meninas!”. Por fim, o lenço cor-de-rosa, a criança F. responde:
“É rosa, mas não faz mal, todos podem usar.”, a criança B. responde: “Meninos e
meninas!”. Por fim, a criança T.: “Sim, os meninos podem ter frio e usam.”. A criança L.
não se pronunciou sobre esta questão e deslocou-se para a mesa com o jornal.
A criança L., ao “ler” o jornal desportivo, diz-me: “Vês? Não há aqui senhoras a jogar
futebol, só homens!”, respondi: “Pois, tens razão. Neste jornal não aparecem mulheres a
jogar. Mas existem mulheres que jogam futebol! No outro dia trouxe imagens de uma
mulher, a melhor jogadora de futebol, lembras-te?”. O L. responde-me: “Sim, mas ela
joga mal.”. Ao que respondo: “Se é a melhor jogadora, é porque joga bem.”. A criança,
73
prontamente, responde-me: “Mas os homens jogam melhor. E só estão homens neste
jornal.”. Tentando levar a criança a pensar sobre o que havia dito referi que ia trazer um
vídeo relativo a um jogo de futebol feminino. Perante esta possibilidade, a criança
mostrou-se admirada. Efetivamente, a sociedade está habituada a ver na televisão,
maioritariamente, jogadores de sexo masculino, confirmando-se que este pode ser um
meio construtor de estereótipos “(…) que as crianças passam uma significativa parte do
seu tempo a ver, poderão constituir-se como uma fonte de aprendizagem privilegiada dos
estereótipos de género.” (Neto et. al., 2000, p. 24).
Através da análise do quadro 19, bem como das devidas transcrições, pode-se constatar
que a criança T., inicialmente parece apresentar uma ideia estereotipada, relativamente
ao arranjo do forno da casinha, talvez porque esteja habituado a ver os homens a
arranjarem tudo. Porém, quando relembrei que anteriormente havia mostrado a imagem
da mulher a martelar, a criança ficou reflexiva e reformulou a sua resposta. A criança L.,
mais uma vez, justifica-se com o pai, com o facto de ser este que arranja as coisas.
No dia 29 de novembro de 2016, levei um vídeo com um jogo de futebol feminino, tendo
em conta que uma das crianças (L.) mostrou não acreditar nessa possibilidade. Ao
visualizarem o vídeo, a criança L. entusiasmada refere: “Eia, grande golo!”. A criança F.
74
afirma: “Foi a jogadora. Grande jogadora!”, a criança T. também: “Grande golo dela!” e
questiona: “Aquela também é uma mulher?”, ao que respondo que sim, são todas.
Quando se marca outro golo, a criança T. diz: “Uma mulher muito corajosa!”. A criança
B.: “São só meninas. Muito bem!”. A criança F. diz ao L.: “Estamos a ver este jogo porque
dizes que as meninas jogam terrivelmente mal.”. A criança T. acrescenta: “Afinal as
meninas jogam bem.” E o L. conclui que: “É que já joguei contra meninas e ganhei, mas
estas jogaram bem.”. Com esta proposta de visionamento e interação em torno do que
viam e sentiam, tornou-se evidente que a criança L. mudou a sua opinião apenas quando
viu um jogo de futebol feminino e percebeu que também existem boas jogadoras, tal como
jogadores. Esta intervenção foi realizada com todos os participantes, que ajudaram o L. a
constatar tal facto.
Como se pode constatar no quadro 20, através do diálogo posterior à história e à des/re-
construção da mesma, as crianças não apresentaram estereótipos relativos à subcategoria
emoções, uma vez que nenhuma das crianças refere que a personagem feminina tem medo
75
por ser menina. Para além deste facto, também referem que gostavam que a menina não
tivesse medo. Esta proposta foi realizada individualmente, para que as crianças não se
deixassem influenciar. É importante que o/a educador/a realize estas desconstruções e
reconstruções de histórias com as crianças, de forma a prevenir as influências culturais
que parecem indicar que “(…) os personagens masculinos predominam, as mulheres
tendem a precisar mais de ajuda, e os homens tendem a dar ajuda.” (Beal, 1994; Evans,
1998, citados por Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 327).
Discussão.
“Eu acho “O pai podia “O senhor “Eu também acho que está
essa imagem estar a ajudar, podia má. O pai se calhar estava a
muito má. O por exemplo, o ajudar.” ler o jornal e a mãe a
Mulher a
mulher a varrer o chão cozinhar
76
“Está boa “A menina “Acho “Está boa, porque os
Meninos e meninas
a brincarem juntos
porque as está na baliza e bem. Eu meninos e as meninas
Brincadeiras
meninas o menino está jogo à bola podem jogar à bola, o L. é
podem a tentar marcar com a que pensa que não.”
brincar com golo, também mãe.”
os meninos.” estão a saltar à
corda.”
Do primeiro para o terceiro momento também constatei alguma evolução nas respostas
das crianças. A criança T., no primeiro momento e relativamente à primeira imagem,
apenas referiu “Ela se calhar precisa de ajuda”, já no terceiro momento refere que “Eu
também acho que está má. O pai se calhar estava a ler o jornal e a mãe a cozinhar. O pai
podia estar a varrer o chão e os filhos a ajudar a mãe a cozinhar.”. A criança L., no
primeiro momento apenas refere que “O meu pai também já cozinhou.”, e no terceiro
momento refere: “Acho bem. Porque o senhor está a cozinhar e a senhora a varrer.”. Por
fim, a criança F., no primeiro momento refere que “Os pais também podem cozinhar.”, e
no terceiro momento, “Eu acho essa imagem muito má. O pai devia ajudar a mãe.”. A
criança B. foi a única que manteve as suas respostas semelhantes. Apesar de todas as
crianças, tanto no primeiro como no terceiro momento, não revelarem estereótipos na
maioria das suas respostas, esta evolução no discurso pode revelar que se tornaram mais
reflexivas em relação ao assunto.
77
Conceções identificadas nas crianças a partir da proposta do Desenho
Subcategoria
Categoria
Desenho
Criança F. Criança L. Criança B. Criança T.
78
conta que no primeiro momento a menina e o menino brincavam separados, no terceiro
momento, brincavam juntos. A criança B., nos dois momentos, desenhou os quatro
personagens a brincarem juntos, não revelando assim estereótipos sobre nenhuma
subcategoria.
79
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a recolha e análise dos dados, o principal aspeto que se constata é que o que as
crianças participantes neste estudo dizem e fazem vai sofrendo alguma alteração. Com o
estudo pretendia-se:
- Identificar as áreas da sala que são preferencialmente escolhidas pelas crianças;
- Observar/registar os comportamentos das crianças quando brincam em contexto de
brincadeira livre;
- Conhecer as conceções de género das crianças relativamente a brincadeiras, profissões
e atividades;
- Refletir sobre o papel do/a educador/a para uma prática integradora que não reforce
ideias estereotipadas sobre os papéis atribuídos ao sexo masculino e feminino.
80
Dois dos participantes de sexo masculino (crianças L. e T.) têm preferências por
brinquedos e áreas semelhantes, porém, o outro participante de sexo masculino (criança
F.) parece não optar pelos mesmos brinquedos e áreas, “As preferências por brinquedos
e actividades são influenciadas pelos estereótipos de género, expressando as crianças uma
maior preferência por brinquedos típicos do seu género (…)” (Neto et. al., 2000, p. 15).
A criança B., de sexo feminino, não apresentou conceções estereotipadas, o que pode
talvez ser explicado por “(…) as raparigas, a partir dos 4 ou 5 anos (Pitcher & Schultz,
1983), não aumentam visivelmente as suas preferências tipificadas (…).” (ibidem).
A questão de partida “Será que, para as crianças, existem brincadeiras, atividades, roupas
e profissões para meninos e meninas, homens e mulheres?” vai ao encontro do terceiro
objetivo. Assim sendo, a criança B., na grande maioria das suas respostas, ao longo do
estudo não revelou conceções estereotipadas. Efetivamente, na subcategoria tarefas
domésticas, tanto no primeiro como no terceiro momento, ao visualizar a imagem do
homem a passar a ferro e a mulher a ler o jornal dizia que “É fixe a mãe estar a ler o jornal
e o pai a passar a ferro” (conforme quadro 15) e que “está bom assim” (conforme quadro
21).
A criança L., revelou conceções estereotipadas, também desde o início ao final do estudo,
relativamente à subcategoria atividades, interesses e profissões e à subcategoria
brincadeiras. No segundo momento as suas conceções iam oscilando, revelando-se mais
rígidas na subcategoria profissões, mais especificamente na profissão de futebolista e
taxista (conforme quadro 18). O facto de esta criança manter, de algum modo, as suas
conceções pode significar que a proposta de intervenção não foi geradora de modos
diferentes de pensar.
81
que poderia ter ajudado a perceber de forma mais clara as suas conceções. Durante o
segundo momento, a criança revelou conceções estereotipadas apenas relativamente à
proposta da FotoPalavra (conforme quadro 18).
Relativamente à criança T., os dados recolhidos nas atividades dos três momentos,
permitem perceber que, inicialmente revelou conceções estereotipadas, considerando a
subcategoria brinquedos e tarefas domésticas (conforme quadro 16). Durante o processo
de intervenção e reflexão verifica-se que a criança parece alterar um pouco o seu modo
de pensar, pois no 3.º momento referiu que o homem apanha milho e a mulher cozinha,
sentindo necessidade de explicar que a mulher também pode apanhar milho e o homem
cozinhar. Nas brincadeiras, desenhou o menino e a menina a brincarem juntos,
contrariamente ao primeiro momento. Mais uma vez, a investigadora deveria ter
procurado, na interação com a criança, razões para as suas escolhas e afirmações.
82
No caso do presente contexto, na Área da Casinha não estavam presentes apenas roupas
referencialmente vestidas por pessoas do sexo feminino, também estavam roupas
preferencialmente vestidas por pessoas do sexo masculino. Na Área do Castelo não
estavam presentes apenas reis, também estavam princesas. Para além das áreas, é
importante que o/a educador/a tenha atenção às imagens estereotipadas que afixa. Por
exemplo, poderá colocar uma mulher policia, ou um homem cabeleireiro, caso o foco das
interações seja as profissões. Também os livros devem ser cuidadosamente selecionados,
de forma a evitar narrativas estereotipadas. Caso sejam, poderá proceder à desconstrução
e reconstrução da narrativa, em conjunto com as crianças. Outro aspeto que o/a
educador/a deverá ter em conta recai nos momentos de brincadeira livre, devendo evitar
que as crianças permaneçam sempre nas mesmas áreas, conversando e incentivando-as a
experimentarem brincar noutras áreas.
Concluindo, apesar de os estereótipos existirem, ao longo deste estudo sinto que ajudei
as crianças a refletir. Neste sentido, este estudo comprova a importância de Práticas
inclusivas na Educação Pré-Escolar, de forma a que as crianças reflitam e desconstruam
alguns estereótipos.
Uma das principais limitações do estudo relaciona-se com o tempo disponível para o
mesmo. Tendo em conta que esta é uma temática que exige tempo, não foi possível obter
os resultados esperados,
A eficácia do método no desenvolvimento das competências e objetivos em questão exige não só tempo
mas também um habitus, uma continuidade que favoreça a compreensão do processo por parte das
crianças e a sua adesão ao mesmo. (Cardona et. al., 2015, p. 83).
Este estudo poderia ainda ter contemplado uma dimensão investigativa pensada na
família, para tentar melhor compreender as conceções das crianças. Efetivamente, a
família é um dos principais meios de socialização e este é um trabalho que tem de ser
feito entre a educação de infância e a família.
83
CONCLUSÃO FINAL DO RELATÓRIO
A elaboração do presente relatório, bem como todo o trabalho que nele está implícito,
fez-me perceber como cresci, tanto a nível pessoal como profissional. Ao recordar os
primeiros dias de Prática de Ensino Supervisionada, percebo que me deixei levar pelas
minhas inseguranças e receios. Sei que ainda tenho muito para aprender, mas consigo
perceber que evoluí ao longo deste percurso. Agora também consigo perceber a
importância do/a educador/a ter um papel reflexivo e investigativo.
As dimensões reflexivas do presente relatório ajudaram-me a refletir mais, sendo que essa
foi uma das minhas maiores dificuldades ao longo do Mestrado. A reflexão é um dos mais
importantes aliados do/a educador/a, tendo em conta que, só refletindo e observando,
consegue adaptar a Prática às necessidades e interesses das crianças. Para além deste
facto, só um educador reflexivo consegue ajudar as crianças a serem também reflexivas
sobre as suas atitudes.
Em suma, este percurso fez-me perceber que educadora quero ser no futuro, quero partir
sempre dos interesses e curiosidades das crianças de forma a promover o seu
desenvolvimento e aprendizagens significativas, pelo que pretendo ser reflexiva e adotar
o papel de investigadora.
84
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92
ANEXOS
1
Higiene - Área de Formação - Promover a autonomia e - A criança aprende a forma ordenada, entrarem na Humanos: - Avaliar a capacidade de
(11h-11h15) Pessoal e Social. a iniciativa da criança. ser autónoma. sala de atividades. Educadora de a criança ser autónoma e
- Área de Conhecimento - Desenvolver na criança - A criança aprende a Depois da brincadeira livre, infância, assistente independente.
do Mundo. regras de higiene. cuidar de si. as crianças arrumam a sala. operacional, - Avaliar a importância
- Desenvolver o sentido de - A criança torna-se Posteriormente sentam-se estagiária. da higiene para a criança.
responsabilidade. responsável. para a colocação dos Materiais:
babetes. Divididos entre os Babetes, lavatório.
adultos, as crianças vão
sendo chamadas uma a uma
para a lavagem das mãos,
sendo sentadas na parte
exterior à sala. Finalmente
formam uma fila e dirigem-
se até à sala de refeições.
- Avaliar a capacidade da
Almoço - Área de Formação - Promover a autonomia - A criança aprende a A estagiária auxilia o grupo Humanos: criança ser autónoma na
(11h15-12h) Pessoal e Social. na hora da refeição. ser autónoma. de crianças na hora de Educadora de hora da refeição.
- Área de Conhecimento - Estimular para a - A criança aprende a almoço. infância, assistente - Avaliar a destreza de
do Mundo. importância de comer bem comer operacional, cada criança na
- Área da Expressão e de forma saudável. saudavelmente. estagiária. manipulação do talher.
Motora. - Expor a criança à - A criança aprende a Materiais: - Avaliar a capacidade da
diversificação alimentar. saborear e distingue Materiais próprios criança esperar sentada
- Desenvolver a os alimentos. para a hora de pelo outro.
motricidade fina. - A criança aprende a almoço. - Avaliar a capacidade da
utilizar a colher. criança respeitar e
apreciar a hora da
refeição.
2
- Desenvolver o sentido de - A criança torna-se sanitárias, onde vão à sanita operacional, - Avaliar a capacidade de
responsabilidade. responsável. ou ao bacio, lavam as mãos e estagiária. a criança ser autónoma e
a cara, procedendo à retirada Materiais: independente.
do bibe, das calças de ganga, Sanitas, bacios, - Avaliar a importância
se as tiverem, e dos sapatos. lavatório. da higiene para a criança.
Posteriormente, as crianças
dirigem-se para a sala de
atividades, onde se deitam
nas camas já dispostas
anteriormente.
Lanche - Promover a autonomia - Avaliar a capacidade da
- Área de Formação - A criança aprende a A estagiária entra na sala e
(15h-15h30) na hora da refeição. Humanos: criança ser autónoma na
Pessoal e Social. ser autónoma. troca a fralda a cada criança,
- Estimular para a Educadora de hora da refeição.
- Área de Conhecimento - A criança aprende a estabelecendo, em
importância de comer bem infância, assistente - Avaliar a destreza de
do Mundo. comer simultâneo, diversos
e de forma saudável. operacional, cada criança na
- Área da Expressão saudavelmente. diálogos. As restantes, que
- Expor a criança à estagiárias. manipulação do talher.
Motora. - A criança aprende a utilizam as instalações
diversificação alimentar. Materiais: - Avaliar a capacidade da
saborear e distingue sanitárias, continuam a
- Desenvolve a Materiais próprios criança esperar sentada
os alimentos. contar com a nossa atenção,
motricidade fina. para a hora do lanche. pelo outro.
- A criança aprende a na hora de vestir os bibes, as - Avaliar a capacidade da
utilizar a colher. calças e o babete. Recolhe as criança respeitar e
chupetas e/ou os acessórios apreciar a hora da
de conforto e, em fila, refeição.
dirigimo-las à sala de
refeições. - Avaliar a capacidade de
Humanos: responsabilidade da
A estagiária auxilia as Educadora de criança.
Higiene
- Área de Formação - Promover a autonomia e - A criança aprende a crianças a lavar as mãos e a
(16h-16h30) a iniciativa da criança. infância, assistente - Avaliar a capacidade de
Pessoal e Social. ser autónoma. cara. operacional, a criança ser autónoma e
- Área de Conhecimento - Desenvolver na criança - A criança aprende a
regras de higiene. estagiárias. independente.
do Mundo. cuidar de si.
Materiais: - Avaliar a importância
Lavatório. da higiene para a criança.
3
Anexo 2 – Planificação 27 de outubro de 2015 Creche
4
animais animais da canção (patos,
vacas, ovelhas e galinhas).
Brincadeira livre no - Área de Formação - Desenvolver o - A criança torna-se A estagiária observa atentamente as Humanos: - Avaliar as interações
exterior Pessoal e Social. sentido de responsável. crianças na brincadeira livre no Educadora de que a criança
(16h30-17h) - Área de responsabilidade. - A criança contacta com exterior. Esta interage com as infância, desenvolve.
Conhecimento do - Promover o elementos da Natureza. crianças de modo a ajudar a resolver assistente - Avaliar a capacidade da
Mundo. contacto com - A criança desenvolve conflitos, a ajuda-las no escorrega operacional, criança ser autónoma e
- Área da Expressão elementos da relações interpessoais. ou no baloiço sobe e desce, e até estagiárias. independente.
Motora. Natureza. - A criança desenvolve a mesmo promove o diálogo entre Materiais: - Avaliar a capacidade da
- Permitir o motricidade global ao elas, por exemplo, quando não Recursos criança apreciar os
contacto com usufruir dos elementos querem partilhar a bola de futebol, inerentes ao elementos da Natureza.
crianças de faixa no espaço exterior por último, incentiva-as a pedalar no espaço exterior. - Avaliar o
etária superior. (triciclos, escorregas, triciclo, ao invés de andar com os desenvolvimento motor
- Desenvolver a bola de futebol…). pés no chão. das crianças.
motricidade global.
Referências Bibliográficas: Espacial Kids (2012, dezembro 3). Na Quinta do Tio Manel – Jardim de Infância Vol. 2. Retirado de
https://www.youtube.com/watch?v=oSDeD9e1kBU a 20 de outubro de 2015 às 19h07.
5
Anexo 3 - 6.º Reflexão Individual Creche
6
As minhas principais intencionalidades nestas atividades foram de a criança
descobrir o que são animais selvagens e conhecer alguns deles. Também foi de a criança
sentir várias texturas e, por fim, de ganhar o gosto pela leitura.
“Por seu turno, a diversidade de situações que enriquecem a expressão plástica
proporciona o contacto com diferentes formas de manifestação artística.” (Orientações
Curriculares Pré-Escolar, 1997, p.63)
Antes de o grupo se dirigir para as instalações sanitárias para a devida higiene e
partirem então para o almoço, reli a história novamente com o fantoche da girafa, o grupo
mostrou gostar imenso do fantoche, no final da história quiseram todos dar beijinhos à
girafa e sentir os seus materiais.
Depois do almoço, o grupo de crianças esteve na hora da sesta, depois lancharam
e foram para a brincadeira livre para o exterior. Na hora da brincadeira livre, notei algo
novo, algumas crianças ao verem as de faixa etária a chegarem e a brincarem com eles,
assustaram-se e ficaram muito paradas. Nunca tinha notado que tal acontecimento se
sucedesse.
Para o seguinte dia, 27 de outubro de 2015, resolvi abordar os animais da quinta.
Isto porque queria começar a atividade com uma música e a que encontrei era sobre os
animais da quinta (Na Quinta do Tio Manel). Nesta música há a abordagem a patos,
galinhas, ovelhas e vacas (onde se imita os sons destes animais). Depois da canção dos
bons-dias, fiz então uma breve abordagem aos animais da quinta e levei comigo imagens
grandes de uma vaca, um pato, uma galinha e uma ovelha. À medida que cantava sobre
cada animal, ia mostrando as imagens desse respetivo animal. Isto porque não queria
chegar lá e cantar só. Para além disso, queria também que o grupo associasse a palavra à
imagem, de modo a desenvolver a linguagem não-verbal.
“Neste processo de compreensão da realidade o desenvolvimento da linguagem
assume-se como uma ferramenta crucial, sendo importante providenciar variadas
oportunidades para que a criança encontre quem converse com ela.” (Portugal, s.d, p.11)
Pela minha observação constatei que o grupo ficou bastante interessado na música,
notando que depois cantavam o “ia ia ooo”, para além disto, pediram-me mais tarde para
voltarem a ver as imagens.
Ainda de modo a estimular a linguagem não-verbal, realizei um jogo em que levei
comigo imagens dos respetivos animais com as suas comidas, para que as crianças
associassem o que cada animal come. Nesta atividade, foram poucas as crianças que
7
corresponderam de forma correta. Para além disto, eles adoraram ver as imagens,
querendo sempre mexer nelas e repetir o jogo, mas era apenas isso, empilhar as imagens.
À medida que ia realizando o jogo com eles, ia comunicando de forma a criar
relações de afetividade e estimular a sua linguagem. “Escutar é uma competência básica
numa situação de comunicação eficaz que os adultos podem modelar mesmo quando as
crianças se expressam ainda com uma fala de bebé onde poucas palavras são
identificáveis.” (Portugal, s.d., p.10).
Posteriormente à atividade, o grupo partiu para as suas rotinas habituais onde nós
os auxiliamos em tudo, higiene, almoço, seguindo-se da sesta, do lanche e da brincadeira
livre no exterior.
Para o terceiro dia da semana, dia 28 de outubro de 2015, a planificação foi
alterada. Isto porque às quartas-feiras é a habitual aula de Expressão Musical, porém neste
dia, o grupo esteve ligado ao dia do bolinho. Depois de se juntarem todas as crianças no
refeitório, as quatro educadoras da instituição, realizaram a massa para o bolinho, à
medida que iam colocando os ingredientes, iam referindo o que cada ingrediente era,
dando também a cheirar o fermento, por exemplo. Depois, foi-me solicitado que levasse,
um a um, perto do alguidar com a massa, para irem vendo como estava a ficar.
Depois do bolinho, foi lida pela assistente operacional da sala, uma história
relacionada com o outono. Nesta história, o grupo mostrou-se bastante irrequieto, pela
minha observação.
Posteriormente à história, o grupo foi almoçar, depois para a sesta e para o lanche
e brincadeira livre no exterior.
Sinto que esta semana foi importante, na medida em que foi a minha primeira
intervenção individual em contexto de creche. Pois, nunca tinha estagiado neste contexto,
apenas no de jardim-de-infância. Sem dúvida que ainda me falta melhorar muito, mas
sinto que cada vez estou a aprender mais e sinto-me mais segura de mim mesma.
Referências Bibliográficas:
Ministério da Educação. (1997). Orientações Curriculares para a Educação Pré- Escolar.
Lisboa: Departamento de Educação Básica. Núcleo de Educação Básica.
8
Anexo 4 - Planificação Individual 9 de dezembro de 2015 em Creche
9
estagiária tira uma terceira folha com
uma criança a dormir, “A Maria fez o que
a mãe mandou e foi dormir, e sonhar
muito com o Pai Natal e as suas prendas.”
A estagiária tira a quarta folha com o Pai
Natal e o seu trenó cheio de prendas,
“Ahhhh, aqui está ele! Quem é?” As
crianças verbalizam as suas respostas e a
estagiária responde: “Pois é, é o Pai Natal
carregado de prendas, não é? E estes
animais? Que animais são estes?” As
crianças respondem e a estagiária
continua: “São renas sim, as renas é que
levam o Pai Natal às casas dos meninos
para entregar as prendas.” A estagiária
continua a história: “Lá vai o Pai Natal,
muito atarefado entregar as prendas aos
meninos. Tem tantas casas para ir que
nem sabe por onde começar.” A
estagiária coloca a quinta folha à sua
frente, com um Pai Natal a descer por
uma chaminé e continua a história:
“Finalmente o Pai Natal chegou a casa da
menina Maria, está a descer pela sua
chaminé com as suas prendas. Só espera
não fazer muito barulho, para não acordar
a Maria.” (Enquanto isto, a estagiária vai
fazendo os sons do Pai Natal “oh oh
oh”). A estagiária coloca outra folha à
sua frente, onde um Pai Natal está perto
de uma árvore de Natal a deixar prendas
e diz, “E agora? O que é que o Pai Natal
está a fazer?” Depois de as crianças
10
responderem, a estagiária continua: “O
Pai Natal já está a colocar as prendas da
Maria debaixo da árvore. Como a Maria
portou-se muito bem, recebeu muitas
prendas.”, a estagiária coloca a outra
folha onde está apenas um Pai Natal e
pergunta às crianças: “E os patinhos?
Portaram-se bem?” Depois de o grupo
verbalizar as suas respostas, a estagiária
continua: “Muito bem. Têm que se portar
bem para o Pai Natal dar prendinhas.
Vamos ver se a Maria gostou das
prendas?” Depois de o grupo responder,
a estagiária mostra uma última imagem
com uma criança a desembrulhar as
prendas muito contente. “Sim, a Maria
gostou muito! Só teve pena de não ver o
Pai Natal, mas pode ser que veja para o
ano, se não adormecer.” A estagiária
finaliza: “Vitória, vitória, acabou a
história. Gostaram?” Depois de o grupo
responder, a estagiária diz: “Vamos
cantar uma música de Natal?” E começa
a cantar: “Pinheirinho, pinheirinho, de
ramos verdinhos, p'ra enfeitar, p'ra
enfeitar, bolas, bonequinhos. Uma bola
aqui, outra acolá, luzinhas que tremem
Que lindo que está. Olha o Pai Natal
de barbas branquinhas, traz o saco cheio
de lindas prendinhas. É Natal! É Natal!
Salvação e Luz! Alegria, cristãos, já
nasceu Jesus.” Depois de cantar a música
de Natal, a estagiária diz: “Agora vamos
11
fazer uma árvore de Natal dos Patinhos.
Vêm alguns amigos comigo e os outros
vão brincar, depois a Diana vai
chamando. Pode ser?” “Quem quer ir
para a casinha?” “E para a leitura?”. A
estagiária, depois de ouvir as respostas,
leva consigo três ou quatro crianças para
a mesa de trabalho autónomo e divide o
restante grupo pelas diversas áreas da
sala. Na mesa de trabalho autónomo, diz
às crianças: “Estão aqui estrelas de Natal,
os amigos podem pintar como quiserem.”
Depois de as crianças pintarem as
estrelas, a estagiária vai pintando a mão
das crianças, de verde e uma a uma.
Depois, em duas cartolinas brancas
coladas, já com um tronco, vai marcando
as mãos das crianças lá, de forma a
constituir uma árvore. Depois, cola as
estrelas ao lado das suas mãos, com os
seus nomes por baixo. No fim, cola uma
estrela grande no cimo da árvore.
Ao finalizar esta atividade, a estagiária
dirige-se às crianças na brincadeira livre
e vai interagindo com estas de forma a
criar relações e a desenvolver a sua
linguagem, “O que estás a ler?” “E o que
é isto aqui nesta página?” “Muito bem,
vamos descobrir o que vem a seguir?”.
Brincadeira livre no - Área de Formação - Promover o - A criança A estagiária observa atentamente as Humanos: - Avaliar a capacidade
exterior Pessoal e Social. contacto com contacta com crianças na brincadeira livre no exterior. da criança apreciar os
(16h30-17h) Esta interage com as crianças de modo a elementos da Natureza.
12
- Área de elementos da elementos da ajudar a resolver conflitos, a ajudá-las no Educadora de infância, - Avaliar o
Conhecimento do Natureza. Natureza. escorrega ou no baloiço sobe e desce, e assistente operacional, comportamento da
Mundo. - Permitir o - A criança até mesmo promove o diálogo entre elas, estagiárias. criança em contexto de
- Área da Expressão contacto com desenvolve por exemplo, quando não querem Materiais: brincadeira.
Motora. crianças de faixa relações partilhar a bola de futebol, por último, Recursos inerentes ao - Avaliar as interações
etária superior. interpessoais. incentiva-as a pedalar no triciclo, ao espaço exterior. que a criança
- Desenvolver a - A criança invés de andar com os pés no chão. desenvolve.
motricidade global. desenvolve a A estagiária vai sempre interagindo com - Avaliar o
motricidade a criança, de maneira a criar relações e a desenvolvimento
global ao promover a linguagem da criança. Por motor das crianças.
usufruir dos exemplo, no sobe e desce, a estagiária
elementos do ajuda as crianças e diz a lengalenga que
espaço exterior eles gostam muito: “Talim, talão, cabeça
(triciclos, de cão, orelhas de gato, não tem
escorregas, bola coração.”
de futebol…).
Referências Bibliográficas: Edições Convite à Música (2014, dezembro 16). Pinheirinho – Natal. Retirado de
https://www.youtube.com/watch?v=CdEtcSGhNZ0 a 04 de dezembro de 2015 às 18h02.
13
Anexo 5 - 13.º Reflexão Individual Creche
14
Finalizada a atividade em grande grupo, as crianças foram distribuídas pelas
diversas áreas espaciais, enquanto algumas iam com a minha colega para a mesa de
trabalho autónomo, digitalizar o seu dedo na bola, de modo a formar a cara da rena, que
já tinha as hastes previamente desenhadas.
Enquanto a minha colega realizava com as crianças, individualmente, o desenho
das renas, eu ia interagindo com as restantes crianças pelas diversas áreas espaciais. Na
área da casinha, uma das crianças diz-me, apontando para um pinguim, “Oia, um
inguim”. Ao responder à criança, “É um pinguim?”, esta responde que sim e continua a
brincar. Ao dirigir-me para a área das histórias, reparo que uma das crianças estava a ler
um livro, aberto numa página com uma imagem do número 5. Ao chegar-me perto da
criança, pergunto: “Que número é este?”, ao que a criança, prontamente, me responde:
“Xinco”, sem dúvida que esta resposta deixou-me completamente admirada. Ao sair de
perto da criança, reparo que outra se levanta, começa a andar e ao reparar na sua imagem
em frente ao espelho, para e admira.
Depois da brincadeira livre, as crianças seguem para a higiene e para o almoço.
Durante a hora de almoço, reparo que há uma criança que tem a sopa a meio e não come
mais, ao dirigir-me perto dela, esta vira a colher para mim, eu dou-lhe algumas colheres
de sopa e vou elogiando “Boa, mais uma colher cheia.”, ao que a criança come o resto
da sopa. Para além desta situação, notei que o grupo está cada vez mais autónomo e não
evidencia tanta dificuldade nesta hora.
Posteriormente ao almoço, segui com algumas crianças para a higiene. Enquanto
estava a limpar as mãos a uma das crianças, pergunto-lhe se o almoço estava bom e se
comeu tudo. Ao que a criança me responde que comeu a sopa toda e que faz bem à barriga.
Na higiene há cada vez mais crianças que querem fazer tudo sozinhas, quando as tento
auxiliar, dizem-me que não é preciso.
Seguiram para a sesta. Ao acordarem, dirigi-me a uma criança e esta aponta logo
para o Ursinho Simão, que estava em cima da mesa, virado para a sua cama, “Oia, é o
Ximão”. Enquanto esta mesma criança falava da sua “Mamã”, outra que estava ao seu
lado e que é raro falar, diz espontaneamente: “Papá”, ao que eu tentei desenvolver mais
a linguagem desta criança, fazendo perguntas: “O Papá?”, porém ela não respondeu
mais. Ao dirigir-me a outra criança e depois de perguntar se teve sonhos bons, esta
responde-me que sim, que sonhou que estava em casa com a mãe.
15
Posteriormente à sesta, as crianças seguiram para o lanche, higiene e brincadeira
livre.
Na brincadeira livre uma criança chama por mim, aponta para um carro de brincar
e diz: “Camineta”, ao que eu respondo: “É a camioneta?”. Durante a brincadeira livre
notei que algumas crianças já cantam muitas músicas, até mesmo crianças que
anteriormente se expressavam pouco. Nesta tarde, a que mais ouvi a cantarem foi o
“Pinheirinho”.
No dia 15 de dezembro de 2015, na área do acolhimento, uma criança chega perto
de mim, aponta para a árvore de Natal presente nesta área, e diz: “Oia, bolas e estêla”,
quando perguntei à criança: “São bolas e uma estrela? De que cor?”, a criança aponta
para as bolas e diz: “bola axul” e “bola cô-de-rosa”.
“Num grupo constituído por adultos e crianças, a criança de 2 anos é mais propensa a falar com os
adultos do que com os seus pares. Além disso, a maior parte das suas intervenções verbais são espontâneas
(e não provocadas pelo que se diz). Tal como aquela criança que diz «Papá, olha: carro!» depois vira-se
para um outro adulto e acrescenta «Eu mostro ao papá o carro».” (Delmine, R., & Vermeulen, S.,
2001, p.55).
Depois da área de acolhimento, as crianças seguem em comboio para a sala de
atividades, onde a minha colega leva uma caixa de sapatos embrulhada em forma de
presente. Depois de o grupo revelar curiosidade em saber o que lá estava dentro, tira-se
duas garrafas sensoriais, onde estão brilhantes com estrelas e água. Estas garrafas foram
previamente fechadas com cola quente, para que as crianças não consigam abrir.
As duas garrafas de água são dadas às crianças, para estas passarem aos seus
colegas e dizerem, tal como no dia anterior, “toma para ti”. Nesta atividade em grande
grupo, houve crianças que quiseram observar bem as garrafas e outras que não
observavam tanto. Um dos aspetos que mais se notou, foi o de muitas crianças dizerem
que a garrafa estava partida ou estragada, porque não abria. Com isto, eu e a minha colega
respondíamos que era uma garrafa especial, que não dava para abrir pois perdia os seus
poderes. Depois das garrafas, mostrou-se ao grupo de crianças duas caras de Pais Natal,
uma com barbas pretas feitas em lã e outra com barbas brancas, de algodão.
Depois desta atividade em grande grupo, a minha colega foi com uma criança de
cada vez realizar os Pais Natal igual aos apresentados em grande grupo. Depois de se
questionar cada criança de qual o Pai Natal que preferia fazer, auxiliava-se a criança na
colagem. Enquanto a minha colega fazia com uma criança, eu fazia com outra. Nesta
16
atividade as crianças mostraram ter boa destreza na manipulação dos materiais e sentido
de decisão ao serem questionadas sobre qual o método pretendido.
Depois da atividade, seguiu-se a hora da higiene, do almoço e da sesta. Depois da
sesta, revemos com o grupo, a história do dia anterior, a manipulação das garrafas e dos
Pais Natal. Ao questionar o grupo acerca factos da história, estes mostraram lembrar-se
de quase tudo, mas em particular do Ursinho Simão e de ele ter medo de não ter prendas
de Natal.
Na brincadeira livre da tarde, observei que uma das brincadeiras que as crianças
mais gostam, na área da casinha, é a simulação de telefonemas. O que para nós é bastante
bom, pois podemos interagir de forma a perguntar o que estavam a falar e com quem.
Apesar de o grupo estar mais autónomo, ainda nos chamam muito para resolver conflitos,
especialmente nas horas de brincadeira livre.
No final do dia, a educadora cooperante colocou na sala os Pais Natal e a árvore
realizada numa atividade minha, na semana anterior. O grupo de crianças, ao visualizar a
árvore, lembrou-se de a fazer. Inclusive, uma criança disse: “Oia, a ávore, fizemos com
as mãos.” Ao ouvir esta frase da criança fiquei contente, pois a atividade já se tinha
realizado há uma semana e esta criança lembrava-se de tudo com entusiasmo. De referir
também que esta criança é das mais desenvolvidas linguisticamente, notando-se também
na frase que esta empregou. “Por volta dos 2 anos de idade, a criança normal tem um
vocabulário efetivo (palavras que pode usar e compreender) de mais de 300 palavras (…)”
(Mussen P., H., & Conger J., J., & Kagan J., 1977, p.215).
No dia 16 de dezembro de 2015 foi dia de atividade extracurricular de Expressão
Musical, onde nós estagiárias, acompanhamos as crianças. Neste dia, a professora de
Expressão Musical abordou o Natal, levando consigo elementos do presépio, músicas
natalícias, uma estrela para cada criança e adulto, de modo a acompanhar com o ritmo da
música, bem como esferovite a simular neve. É importante observar a reação das crianças
nesta atividade, por exemplo neste dia, notei que uma criança que sempre se revelou mais
tímida, cantava e sorria muito.
As crianças seguiram para o almoço, higiene e sesta. Na hora da higiene havia
uma criança que estava muito ansiosa para sair da sanita, quando lhe pedi que ficasse
mais tempo na sanita, não obedeceu. Porém, cheguei perto dele e expliquei que não sabia
da sua fralda, e perguntei se se importava de ficar na sanita mais um pouco, enquanto eu
procurava a sua fralda. A criança mostrou imensa compreensão, sentou-se e apenas se
17
levantou quando já tinha a sua fralda. Esta atitude da criança deixou-me muito contente,
pois mostrou ser muito compreensiva. Para além disto, deixou-me a pensar que tem que
se mudar muitas vezes as nossas abordagens para a criança seguir os nossos desejos.
Finalizando, não poderia deixar de fazer referência ao facto de me sentir
completamente diferente neste contexto. Ainda tenho muito para aprender, mas sinto que
cresci durante esta etapa.
Referências Bibliográficas:
Gesell, A. (1979). A Criança dos 0 aos 5 anos. (C., d., Reis, Trad.). Publicações Dom
Quixote: Lisboa.
Mussen, P., H., Conger, J., J. & Kagan, J. (1977). Desenvolvimento e Personalidade da
Criança. (M., S., M., Netto, Trad.). (4.ª edição). Editora Harper & Row Do Brasil Ltda.:
São Paulo – Brasil.
18
Anexo 6 - Planificação Individual – 4 de maio de 2016 Jardim-de-Infância I
19
Continuação do - Área de Expressão e - Fomentar o - A criança Depois de as crianças se dirigirem da Humanos: - Avaliar o desejo de a
Jogo Dramático e Comunicação; diálogo; desenvolve o Sala Polivalente para a Sala de - Estagiárias; criança comunicar;
Brincadeira Livre diálogo; Atividades, a estagiária diz: “Vamos ler - Educadora
(15h – 16h) Domínio da - Estimular a outra vez a história feita por nós?”, Cooperante; - Avaliar a imaginação
Linguagem Oral; imaginação; - A criança depois de terminar a leitura, a estagiária - Assistente da criança, ao realizar
estimula a prossegue com o Jogo Dramático, Operacional; o jogo dramático.
Domínio da - Promover o imaginação, ao realizando com as crianças que não - Grupo de Crianças.
Expressão Dramática; respeito pelo outro. realizar o jogo realizaram da parte da manhã.
dramático; Materiais:
Domínio da - Tapete;
Expressão Motora; - A criança - Almofadas.
respeita o outro
- Área da Formação quando espera
Pessoal e Social; pela sua vez
- Área de para falar e
Conhecimento do quando ouve a
Mundo. história em
silêncio.
Referências Bibliográficas: Baguley, E. (2005). As Ideias da Bia. (Costa, P. Trad.).Minutos de Leitura – Edições, Lda. – Lisboa.
20
Anexo 7 - 10.º Reflexão Individual Jardim-de-Infância I
21
meninos como para meninas. Porém, outros grupos deram respostas muito variadas,
inclusive: “Isto é cor-de-rosa, é da menina. Os meninos não usam cor-de-rosa”.
Sem dúvida que esta atividade atingiu os meus objetivos pois, com algo tão
simples, consegui ter acesso a mais opiniões das crianças relativas à temática.
Da parte da tarde e, tendo em conta que o grupo se encontrava bastante
empolgado, a educadora cooperante sugeriu a realização de alguns exercícios de
relaxamento. Esta técnica é importante e é uma boa estratégia para acalmar as crianças.
Com música relaxante e alguns exercícios de respiração, a criança poderá sentir-se mais
calma.
Durante a tarde, uma criança chamou-me e disse-me: “Diana, urso começa por
u”. Depois de elogiar a descoberta da criança, perguntei-lhe se sabia outra palavra que
começasse por “u”, a criança responde-me depois de pensar um pouco: “urso!”. Esta
criança tem feito muitas intervenções destas, o que me levou a pensar que seria uma boa
atividade para planificar.
No dia 4 de maio de 2015, realizei o reconto da história do dia anterior com as
crianças. Ou seja, abri o livro página por página e perguntei às crianças o que se
lembravam de cada página. Esta foi das atividades que mais me surpreendeu pela
positiva, o grupo soube responder-me a quase tudo e notou-se grande interesse pela
história. Para além disto, se no dia anterior diziam que as meninas não sabiam brincar,
neste dia ao recontarem a história, uma criança já disse: “Eles diziam que não
brincavam com meninas, mas depois gostaram das ideias dela”. Para além desta frase
que me marcou pela positiva, outra criança ainda me disse que: “Eles queriam que ela
fosse a cozinheira, mas ela foi a vigia. E ela pode ser a vigia”.
Posteriormente a esta atividade, planifiquei a realização de uma nova, baseada
nesta, pelo grupo de crianças com a minha ajuda. Porém, estes mostraram-se tão
entusiasmados com a continuação desta história, que resolvei fazer a continuação com
as ideias deles, utilizando uma estratégia de compreensão leitora,
(…) Lea Mcgee (1998) (…) descreve diversas estratégias e ilustra-as através da descrição de
interacções entre adultos e crianças do jardim de infância proporcionadas pela leitura de histórias em voz
alta. Defende que os pais ou educadores podem ajudar as crianças não leitoras a construir sentido a partir
do texto escrito pedindo às crianças para inferir informação, tanto antes como durante a leitura; pedindo-
lhes que recontem os acontecimentos; que nomeiem o que aparece nas ilustrações ou que aí localizem as
personagens; levando-as a recordar o que sabem e a relacioná-lo com o que está a ser lido; ajudando-os a
analisar personagens e a partilhar os seus sentimentos pessoais… (Pereira, 2002, p.3).
22
O grupo mostrou-se cheio de ideias. Porém, falhei no aspeto em que não disse o
que significava aquele triângulo, apenas escrevi o início e o fim, poderia ter dito que o
triângulo tinha um objetivo, um propósito para estar ali, que era o de ir escalar uma
montanha, por exemplo, no cimo encontrava-se o problema e a descer, apareciam as
soluções. Sem esta explicação, provavelmente as crianças não encontraram objetivo na
tarefa, pensando apenas que se tratava de um depósito das suas ideias.
Durante a realização desta atividade, uma criança sugeriu que construíssemos
um foguetão para o parque exterior, de modo a que todos os meninos e meninas
brincassem. A ideia foi aceite pelo restante grupo com bastante agrado. Esta intervenção
deixou-me muito surpreendida com a imaginação e criatividade da criança, pelo que em
conjunto com a minha colega de Prática e com a Educadora Cooperante, decidimos dar
continuidade a este projeto.
Depois da sesta estava planificado a realização de um jogo dramático baseado na
história continuada pelo grupo. Porém, de forma a abordarmos já a temática do
foguetão, realizei o levantamento de uma questão: “O que achas que é um foguetão?”,
para, desta forma, termos uma noção do que a criança já sabe. As respostas rondaram
todas à volta de ser uma nave que anda no céu e deita fogo. As crianças mostraram
também vontade em querer saber mais.
Em jeito de conclusão e, na minha opinião, esta foi uma das minhas melhores
semanas de Prática. Foi a semana que me senti mais à vontade e a semana que mais me
surpreendi com as crianças. Talvez por ter abordado algo que me interessa, os
estereótipos e ter recolhido alguns dados que me ajudarão. Para além disto, o projeto do
foguetão deixou-me bastante entusiasmada, pois sei que é algo que também os
entusiasma a eles.
Referências Bibliográficas:
Pereira, I., S., P. (2002). Como é possível preparar os alunos do nível pré-escolar para a
compreensão na leitura? Comunicação apresentada no VII Congresso Latinoamericano
para el Desarrollo de la Lectura y la Escritura, México. Resumo retirado de
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4451/1/Compreens%25C3%25A3o
LeituraPr%25C3%25A9-Escolar.pd
23
Anexo 8 – Planificação Individual – 5 de dezembro de 2016 Jardim-de-Infância II
24
colaborativo no estagiária responde: “Boa! É para relativas ao livro e ao
grupo. - A criança dizermos os personagens, onde se passa StoryFace.
participa na a história, os problemas e como foram
organização e resolvidos”, e continua: “Vou ler de
apresentação da novo a história e, à medida que leio,
informação, de mandam-me parar para a Nádia escrever
modo a partilhar os personagens, onde se passa, os
com outros. problemas e como os resolveram. Pode
ser?”, depois de as crianças
possivelmente responderem: “Sim, pode
ser!” a estagiária interveniente inicia a
leitura, enquanto a estagiária auxiliar
regista as opiniões das crianças, de
forma a completar o StoryFace. No final
da leitura, a estagiária questiona: “Então
agora sabemos que uma história precisa
de quê?”, as crianças provavelmente
responderão: “Personagens,
problema…”, a estagiária prossegue:
“Boa! Mas também é preciso alguém
para escrevê-la e fazer os desenhos, não
é?”, as crianças provavelmente
responderão: “Sim, o autor e o
ilustrador!”. Esta conversa inicial serve
para articular com a construção da
história que realizarão depois do lanche
e brincadeira livre no exterior.
25
Comunicação Oral; especificas - A criança quero abri-lo convosco, pode ser?”, Operacional; neste caso na criação
Abordagem à Escrita; (formulação de contata com o depois de as crianças provavelmente - Grupo de Crianças. de uma narrativa
- Área de Formação uma narrativa); código escrito e responderem que sim, a estagiária abre o relativa aos insetos;
Pessoal e Social; apropria-se, saco que tem dentro um bloco em Materiais: - Avaliar o interesse da
Construção da - Facilitar a gradualmente, branco e uma caneta. Estes sacos com - Tapete; criança pelo código
identidade e da emergência da da pistas são ideia da Educadora - Gravador; escrito, quando contata
autoestima; linguagem escrita; especificidade Cooperante e de um projeto que a - Imagens de Carocha, com o mesmo na
- Área do - Promover a da escrita; mesma está a desenvolver, em que todos Cigarra e Formiga; realização da história,
Conhecimento do confiança em - A criança os dias do mês de dezembro, as crianças - Bloco de notas; em grande grupo;
Mundo; propor ideias e falar revela confiança têm uma pista do que vão realizar, - Caneta. - Avaliar a capacidade
Abordagem às em grupo; em propor ideias nesses sacos junto da árvore de Natal. A de a criança propor
Ciências. - Desenvolver o e falar em estagiária abre o saco e faz cara de ideias e falar em
reconhecimento dos grupo; surpresa: “Ahhhhh! O que é isto?”, as grupo;
insetos, pelas suas - A criança crianças provavelmente responderão: - Avaliar a capacidade
caraterísticas e reconhece os “Um caderno e uma caneta!”, ao que a de a criança
modos de vida. diversos insetos estagiária prossegue: “Pois é. Mas está reconhecer diversos
pelas suas tudo em branco. Para que será que isto insetos pelas suas
caraterísticas e serve?”, as crianças possivelmente caraterísticas e modos
modos de vida, responderão: “Para escreveres!”, ao que de vida, quando fala
quando cria a a estagiária prossegue: “E o que posso dos mesmos na criação
história em eu escrever aqui?”, depois de ouvir as da história em grande
grande grupo. respostas das crianças, e caso não grupo.
sugiram um livro, a estagiária refere:
“Então se vocês já sabem o que é
preciso numa história… O que é mesmo,
que já não me lembro?”, depois de as
crianças possivelmente responderem:
“Personagens, autor, ilustrador,
problemas e soluções”, a estagiária
prossegue: “Então e se escrevermos um
livro sobre insetos, sobre o que andamos
a aprender?”, as crianças possivelmente
responderão: “Sim. Que giro!”, ao que a
26
estagiária prossegue: “Então, vamos
fazer a nossa história! Mas, para quem a
vamos mostrar depois?”, as crianças
possivelmente responderão: “À família!”
ao que a estagiária continua: “É uma boa
ideia! Quando poderemos mostrar às
famílias?”, as crianças possivelmente
responderão: “Na exposição dos
insetos!”, a estagiária refere: “Boa ideia!
Agora, a Diana tem aqui imagens com
os personagens que têm de entrar na
história. A Carocha, a Formiga e a
Cigarra! Mas para poderem falar têm
que colocar o dedo no ar, sim?”, depois
de a crianças possivelmente
responderem que sim, a estagiária
prossegue: “Mas antes da história temos
que decidir qual vai sair o problema da
história, como vai ser resolvido e onde
se vai passar, tal como na história que
lemos de manhã”, depois de as crianças
responderem, a estagiária conclui:
“Vamos então criar a nossa história! Eu
não vou escrever nada agora, vou gravar
tudo o que se vai passar. Depois, todos
juntos, ouvimos e escrevemos. Assim, se
quisermos mudar ou acrescentar alguma
coisa, ainda podemos. Pode ser?”,
depois de as crianças possivelmente
responderem que sim, a estagiária inicia
a atividade, gravando. Humanos: - Avaliar o interesse de
- Área de Expressão e - Estagiárias; a criança em querer
Comunicação; - Educadora comunicar com os seus
27
Registos da história Domínio da - A criança Depois de o grupo se dirigir até à Cooperante; pares e com os
relacionada com os Linguagem Oral e - Promover sente-se Sala de Atividades, a estagiária - Assistente adultos;
insetos Abordagem à Escrita; oportunidades de estimulada a questiona: “Quem me sabe dizer o Operacional; - Avaliar a capacidade
(13h30 – 14h30) Comunicação Oral; comunicação comunicar com que estivemos a fazer de manhã?”, - Grupo de Crianças. de a criança relacionar
Identificação de criança-adulto e os seus pares e depois de as crianças provavelmente a mensagem oral com
convenções de escrita; criança-criança; com os adultos; Materiais: a escrita, ao ouvir os
responderem: “A fazer uma
- Área de Formação - Proporcionar a - A criança - Gravador; relatos no gravador e
Pessoal e Social; leitura e a escrita estabelece história!”, a estagiária responde: - Material de Escrita; ao ver que estão a ser
Convivência perante a criança, relações entre a “Pois foi! Mas ainda não a passamos - Bloco de notas. registados;
Democrática e realçando a relação escrita e a para o papel, pois não?”, as crianças - Avaliar a capacidade
Cidadania; entre a escrita e a mensagem oral, possivelmente responderão: “Não, tu de a criança aceitar
- Área do mensagem oral; quando percebe gravaste tudo”, a estagiária que há perspetivas
Conhecimento do - Estimular a que se escreve o prossegue: “Pois foi, eu gravei tudo e diferentes das suas, na
Mundo; consciência e que se ouve; agora vamos ouvir toda a nossa construção da história;
Abordagem às aceitação de - A criança conversa da manhã e a Diana vai - Avaliar a capacidade
Ciências. perspetivas e consciencializa- passar para este bloco”, depois de as de a criança
valores diferentes; se e aceita de crianças possivelmente responderem: reconhecer diferentes
- Promover o que há insetos pelos seus
“Está bem”, a estagiária conclui:
reconhecimento dos perspetivas modos de vida e
insetos, através dos diferentes das “Gravei primeiro porque assim caraterísticas.
seus modos de vida suas; podem ouvir o que fizeram e, caso
e caraterísticas. - A criança queiram, mudar ou acrescentar
reconhece os alguma coisa, podem”, assim, a
insetos pelas estagiária coloca a gravação da
suas manhã e regista as informações que
caraterísticas e ouve. Posteriormente, as crianças
modos de vida. brincam livremente pela Sala de
Atividades.
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Anexo 9 - 12.º Reflexão Individual Jardim-de-Infância II
Esta foi a minha semana de intervenção. E, como tal, deu-se continuidade à Metodologia
de Trabalho de Projeto, mais propriamente à Fase 3, Execução.
Tendo em conta que se passou tempo de mais nesta rotina, já não deu para ler o livro em
questão acompanhado pelo StoryFace. Assim sendo, apenas perguntei ao grupo se se
recordava daquele livro e da “cara”, a esmagadora maioria das crianças respondeu que
sim, explicando que: “A cara é pra pores os personagens”.
29
principais, cigarra, formiga, abelha e carocha. Inicialmente questionaram a estagiária para
que servia a gravação, depois de explicar que era para podermos fazer reformulações, o
grupo mostrou-se interessado, “A revisão é marcada sobretudo pela reflexão em relação
ao texto produzido. Esta dimensão de reflexão acerca do que se escreveu deve ser
aproveitada para tomar decisões respeitantes à correcção e reformulação do texto”
(Barbeiro & Pereira, 2007, p. 21). Foi também explicado o conceito de ilustrador, escritor
e editora, de forma a que as crianças contatem com os elementos da criação de uma
narrativa e que façam também parte.
No dia 6 de dezembro de 2016, iniciei o dia com o trava-línguas “O Rato roeu a roupa”,
de forma a estimular a consciência fonológica do grupo, tendo em conta que algumas
crianças têm dificuldades na articulação do “rr”,
As rimas, as lengalengas, os trava-línguas e as adivinhas são aspetos da tradição cultural portuguesa que
estão frequentemente presentes nas salas e no dia a dia das crianças e são meios de trabalhar a
consciência linguística, em contextos de educação de infância (Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016, p.
64).
De seguida iniciei a leitura do livro “Alex e as Cartas ao Pai Natal”, apesar de ter
explorado o “antes da leitura”, incentivando o grupo a descobrir o titulo do livro, através
da capa, tenho noção que durante a leitura podia ter explorado mais as imagens,
questionando-os, por exemplo: “O que vêm aqui? O que será que se está a passar?” e
depois confrontar com o que realmente se passou, segundo o código escrito, a evidência
disso é que uma criança, mesmo antes de eu ler, me referiu: “Olha, o trenó na lareira!”,
através das ilustrações. Para além disso, para o final da leitura, algumas crianças já não
escutavam a história, pois deveria tê-la adaptado mais, tendo em conta que o grupo é
constituído por crianças dos 2 aos 6 anos de idade.
30
o mel!””. Podemos dar enfoque na escrita colaborativa, “A interacção que ocorre na
escrita colaborativa permite apresentar propostas, obter reacções, confrontar opiniões,
procurar alternativas, solicitar explicações, apresentar argumentos, tomar decisões em
conjunto” (Barbeiro & Pereira, 2007, p. 12).
No dia 7 de dezembro de manhã, o grupo dirigiu-se até ao Teatro José Lúcio da Silva, de
forma a assistir à peça de Teatro “A Missão do Anjo Trapalhão”.
Nesta ultima tarde da semana deveria ter iniciado também a capa, contracapa e lombada
do livro, pois restava algum tempo. Porém, fiquei com receio de ser pouco tempo e de
31
não conseguir terminar. Mesmo assim, refletindo sobre isso, tenho consciência que
deveria ter iniciado, mesmo que não terminasse, ficava para a próxima semana.
Em suma, penso que a ideia da criação de um livro com uma história relacionada com os
insetos, é uma excelente forma de terminar este Projeto, conciliando algumas
aprendizagens do grupo e ainda lhes dando um papel ativo, tornando-os escritores e
ilustradores, neste caso.
Referências Bibliográficas:
Barbeiro, L., F. & Pereira, L., A. (2007). O Ensino da Escrita – A Dimensão Textual. Ministério
da Educação/Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
Silva, I., L., Marques, L., Mata, L. & Rosa, M. (2016). Orientações Curriculares para a
Educação Pré-Escolar. Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação (DGE).
Sim-Sim, I., Silva, A., C. & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-
Infância – Textos de Apoio para Educadores de Infância. Ministério da Educação/Direção-
Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
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Anexo 10 – Livro “0 Urso e os Insetos”
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Anexo 11 – Transcrições
1.º MOMENTO
No dia 31 de outubro de 2016 realizou-se um Grupo de Discussão (baseado no Guião
de Educação – Género e Cidadania – Pré-Escolar de Cardona et. al.).
E. (Estagiária) (mostrando a imagem de uma mulher a cozinhar): “O que veem aqui?”
Criança T.: “Uma menina a cozinhar.”
Criança F. e Criança L.: “A mãe a cozinhar.”
E.: “Então e o que acham disso?”
Criança F.: “Os pais também podem cozinhar.”
Criança L.: “Pois podem. O meu pai também já cozinhou.”
Criança F.: “Os pais podem ajudar as mães.”
Criança T.: “Eu acho bem.”
Criança B.: “Eu também acho bem.”
E.: “Acham bem? Mas será que podia estar mais alguém a ajudar a mulher a cozinhar?”
Criança T.: “Sim. Ela se calhar precisa de ajuda!”
E.: “Então achas que devia estar alguém a ajudá-la?”
Criança T.: “Sim!”
E.: “Quem, por exemplo?”
Criança T.: “Um menino, uma menina ou o pai”
E.: “Exatamente.”
E. (mostrando a imagem de um senhor a cozinhar e uma mulher a varrer o chão):
“E aqui, o que veem?”
Criança T.: “O menino a cozinhar e a menina a varrer.”
E.: “Que imagem acham que é melhor? Esta ou a outra em que está só a mulher a
cozinhar?”
Criança T.: “Esta é boa. A outra não.”
Criança F. e Criança C: “Esta.”
Criança B.: “A outra.”
E.: “Porquê?”
Criança T.: “Porque na outra a senhora não tem ninguém a ajudar.”
Criança L.: “Porque nesta a senhora está a varrer e o menino está a cozinhar. O meu pai
cozinha lá no restaurante. Os meninos também podem cozinhar.”
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Criança B.: “Porque a outra está mais gira, tem corações.”
Criança F.: “Vê bem, esta é melhor porque se estão a ajudar”
Criança B.: “Só a senhora é que pode cozinhar.”
E.: “Porque é que achas que só as mulheres podem cozinhar e os homens não?”
Criança B.: “Os senhores também podem cozinhar.”
E.: “Então achas que podem cozinhar os dois?”
Criança B.: “Sim.”
E.: “Exatamente. Tanto os homens como as mulheres podem cozinhar e ajudar-se um ao
outro.”
E. (mostrando a imagem de meninos e meninas a brincarem juntos, a saltar à corda
e a jogar futebol): “E aqui, o que veem?”
Criança F.: “É os meninos a brincar.”
E.: “São só meninos que estão a brincar?”
Criança F.: “Não. Meninos e meninas.”
Criança T.: “Não. As meninas também estão a jogar à bola.”
E.: “E o que acham desta imagem?”
Criança F.: “Está bem. As meninas também podem jogar à bola.”
Criança T.: “As meninas e os meninos podem jogar à bola juntos.”
Criança L. e Criança B.: “Pois podem.”
E.: “Muito bem! Eu também acho que todos podem brincar juntos, meninos e meninas.”
E. (mostrando a imagem de homem a passar a ferro e mulher no sofá a ler jornal):
“E nesta, o que veem?”
Criança T.: “O pai está a passar a ferro e a mãe a ler o jornal.”
Criança F.: “Uma pessoa grande a ler o jornal e um menino a passar a ferro.”
E.: “O que acham desta imagem?”
Criança F.: “Mal. O menino é que devia estar a ler o jornal e a senhora a passar a ferro.”
Criança T.: “Mal. Porque o pai está a trabalhar sozinho.”
Criança B.: “Está bem.”
E.: “Porquê F.? Achas que só as mulheres é que passam a ferro?”
Criança F.: “Os homens também podem passar.”
E.: “Pois T.., nem as mães devem trabalhar sozinhas, nem os pais.”
E.: “Porque achas que está bem?”
Criança B.: “É fixe a mãe estar a ler o jornal e o pai a passar a ferro.”
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E: “E são só as mulheres que leem? Quem acham que pode ler o jornal?”
Criança T.: “Os adultos. Os pais e as mães e também podem ler para as crianças.”
Criança L.: “A minha mãe passa a ferro e o meu pai está sempre a ver televisão. As
pessoas ajudam os pequeninos, então eles também podem ajudar um ao outro.”
E.: “Exatamente. Temos que nos ajudar uns aos outros. Nem deixar as mulheres fazerem
tudo sozinhas, nem os homens.”
A criança F. desenhou uma menina “a brincar aos mágicos, podem brincar os dois, mas
os meninos fartam-se e querem logo futebol.”, um menino “a jogar à bola, o menino
fartou-se e foi jogar à bola.”, uma mulher “a cozinhar, hoje é ela.”, e, por fim, um homem
“a fumar, a mãe também podia, mas só o senhor gosta, mas não gostam todos. Ontem ele
cozinhou, hoje é a mãe.” .A criança L. desenhou uma menina “a ler um livro. Porque
gosto quando as meninas leem.”, um menino “a jogar à bola. Porque eu gosto de jogar à
bola.”, uma mulher “a fazer a sopa, porque a minha mãe faz sopa.”, e, por fim, um homem
“a brincar com um amigo aos martelos, estava a arranjar a parede e a pintar. Porque o
meu pai trabalha com martelos.” A criança T. desenhou uma menina “a ouvir música,
porque as meninas gostam mais de música que os meninos.”, um menino “a brincar com
carros, porque gosta de carros, porque vejo o pai a conduzir.”, uma mulher “a limpar a
casa, porque a mãe tem muito trabalho.”, e por fim, um homem “a contar a história,
porque o pai não gosta de fazer nada.”, quando questionei a criança: “E achas bem a
senhora ter muito trabalho e o senhor não fazer nada?”, o T. responde: “Não, não acho
nada bem!”. A criança B. desenhou uma menina “a brincar com legos, o menino também
podia, mas não gosta de legos.”, um menino “a jogar à bola, porque os meninos jogam à
bola.”, uma mulher “a brincar ao jogo dos patinhos, porque as senhoras gostam de
patinhos.”, e, por fim, um homem “a bater palmas, está a brincar com a menina, porque
o senhor gosta de legos.”
2.º MOMENTO
No dia 14 de novembro de 2016 li “O livro dos porquinhos”:
38
E.: “O que veem na capa?”
Criança F.: “Parecem macacos. O homem está atrás da mulher.”
Criança L.: “É um pai, uma mãe, o filho mais velho e o filho mais novo.”
E.: “Porque será que estão todos ao colo da mãe?”
Criança L.: “Porque a mãe tem que fazer tudo.”
Criança B.: “Eu também acho.”
Criança T.: “Eu acho que a mãe está triste por estar tudo às cavalitas dela.”
Criança F.: “Nós já lemos essa história, a mãe faz tudo sozinha e tem que limpar a casa
toda sozinha.”
(inicia a leitura da história)
E.: “Porque a mãe estava em casa?”
Criança T.: “Estava a limpar a casa, porque eles só faziam asneiras.”
E.: “Acham isso bem?”
Todos: “Não!”
Criança T.: “O meu pai ajuda a minha mãe a cozinhar.”
Criança F.: “O meu pai às vezes cozinha sozinho.”
(continua a leitura da história)
Criança B.: “Eu ajudo a minha mãe. E o meu pai também.”
(continua a leitura da história)
Criança F.: “Então agora a mãe não faz nada? Só o pai e os filhos fazem?”
E.: “Vamos ver o que a mãe fez…. Ela começou a arranjar o carro! O que acham?”
Criança L.: “Acho bem!”
Criança T., F. e B.: “Eu também.”
39
Criança T.: “Sim!”
E.: “Podem começar. Eu sou a espectadora. Vocês são os atores e eu quero ver o teatro.”
Criança F.: “Não sujem tudo!”
Criança L.: “Nós vamos sujar.”
Criança B. e T.: “Nós também vamos sujar. No livro eles sujam.”
E.: “Então e se pudessem mudar o livro?”
Criança L.: “Sujávamos mais!”
(Dirigem-se para a casinha, a “mãe” passa a ferro, os filhos e o pai começam a sujar a
casinha).
E.: “Então não mudavam nada na história?”
Criança F.: “Eu punha os filhos e o pai a ajudarem-me!”
Criança L.: “Eu vou ajudar a mãe!” (dirige-se até ao F. e ajuda-o a passar a ferro).
Criança T.: “Eu punha o filho de castigo. Porque ele estava a sujar tudo com o pai.”
E.: “Mas o pai agora está a ajudar a mãe!”
Criança T.: “Eu também vou.” (começa a arrumar o que desarrumaram anteriormente)
Criança B.: “Eu também ajudava eles.” (vai ajudar o T. a arrumar o que desarrumaram).
Criança F.: “Assim a história era melhor!”
Criança L.: “Eu também acho. Porque assim ajuda tudo a mãe!”
Criança T. e B.: “Nós também achamos que está melhor assim. Estamos a ajudar a mamã
e o papá”
40
Criança F.: “Esse era o dia da mulher passar a ferro, o homem estava a fazer o jantar.”
Criança B.: “É fixe ser uma mulher.”
Criança L.: “Também acho que era o dia da mulher passar a ferro.”
A estagiária mostra a imagem, em que está o homem a passar a ferro e a mulher
está a arrumar a roupa.
Criança L.: “O meu pai às vezes também passa!”
Criança F.: “Assim trabalham os dois.”
E.: “Pois, estão os dois a trabalhar.”
E.: “Agora tenho aqui uma pessoa a trabalhar num cabeleireiro!”
Criança T.: “É uma mulher. Porque a minha mãe é cabeleireira!”
Criança F.: “Pode ser um homem. Também há homens cabeleireiros.”
Criança B.: “É uma mulher porque são senhoras que cortam o cabelo.”
Criança L.: “Pode ser um homem ou uma mulher.”
Criança F.: “Pois, porque podem ser cabeleireiros homens e mulheres.”
E.: “E agora tenho aqui uma pessoa a jogar a bola.”
Criança F.: “Eu acho que são meninos e meninas a jogarem.”
Criança T.: “Os meninos e as meninas podem jogar futebol.”
Criança B.: “Acho que são as duas.”
Criança L.: “Não, é um homem!”
A estagiária mostra a imagem de uma futebolista.
Criança L.: “É uma mulher?”
E.: “Sim, esta é a melhor jogadora mulher.”
Criança L.: “Mas eu jogo à bola e sou menino.”
Criança T.: “Há homens e mulheres que jogam à bola.”
E.: “Pois há. E aqui está a prova disso.”
E.: “Agora tenho aqui uma pessoa que está a martelar algo em casa.”
Criança L.: “É um senhor. O meu pai trabalha com martelos.”
Criança B.: “É um homem porque o meu pai também faz coisas com martelos.”
Criança F.: “É uma mulher. Também há mulheres que martelam.”
Criança T.: “Quando o pai não chega a tempo a casa, a mulher pode martelar.”
Criança T.: “Ela está a martelar um prego muito grande!”
E.: “Pois está! As mulheres também conseguem.”
E.: “Agora tenho uma pessoa a conduzir um táxi.”
41
Criança T.: “Acho que é um homem ou uma mulher.”
Criança B.: “Uma mulher, é bom uma mulher conduzir, mas também é bom ser o
homem.”
Criança L.: “É um homem, porque já vi senhores a conduzirem.”
E.: “Nunca viram mulheres a conduzir táxis?”
Todos: “Sim!”
E.: “Então L., se já viste mulheres taxistas, porque dizes que é um homem?”
Criança L.: “Porque sim.”
E.: “É uma mulher!”
Todos: “Pois é!”
E.: “Agora tenho uma pessoa a cozinhar.”
Criança L.: “Mulher a cozinhar e o pai a ajudar, se calhar.”
Criança B.: “Um homem a cozinhar.”
Criança F.: “Homem e mulher.”
Criança T.: “Acho que é uma mulher, a minha mãe faz bolos.”
E.: “E os homens? Cozinham?”
Criança T.: “Sim, também cozinham.”
E.: É um homem! Há grandes cozinheiros homens, mas também há mulheres.
42
Criança L. ao ver o jornal desportivo: “Vês? Não há aqui senhoras a jogar futebol, só
homens!”
E.: “Pois, tens razão. Neste jornal não está. Mas existem mulheres que jogam futebol! No
outro dia eu trouxe imagens da melhor jogadora de futebol, lembraste?”
Criança L: “Sim, mas ela joga mal.”
E.: “Se é a melhor jogadora, é porque joga bem.”
Criança L.: “Mas os homens jogam melhor. E só estão homens neste jornal.”
E.: “Amanhã trago um jogo de futebol de mulheres!”
E.: “Sabem, eu ouvi dizer que o forno da casinha está estragado. De nós 5, quem será que
o pode arranjar?”
Criança L.: “Eu e o T. podemos, nós temos ferramentas em casa!”
Criança B.: “Eu não tenho ferramentas.”
Criança F.: “Estão aqui!”
Criança T.: “Mas só os homens é que arranjam! Os homens conseguem arranjar!”
E.: “Então e as mulheres? Eu, no outro dia, mostrei uma imagem de uma mulher a
martelar em casa, não se lembram?”
Criança T.: “Sim, mas o homem arranja primeiro, se ele não conseguir, pede à mulher.”
E.: “E se for a mulher a tentar arranjar primeiro? E, caso não consiga, pede ajuda ao
homem?”
Criança T.: “Também pode ser.”
Criança L.: “Eu acho que tem que ser um homem, porque o meu pai arranja coisas.”
E.: “E a mulher que mostrei, no outro dia, a martelar?”
Criança L.: “Pois, podem ser as mulheres também.”
Criança B. e F.: “Os dois arranjam!”
E.: “Boa, porque tanto os homens como as mulheres conseguem.”
No dia 29 de novembro de 2016, levei um vídeo com um jogo de futebol feminino, tendo
em conta que uma das crianças, não se acredita que tal seja possível:
Criança L.: “Eia, grande golo!”
E.: “Quem marcou um golo, L.?”
Criança F.: “Foi a jogadora. Grande jogadora!”
Criança T.: “Grande golo dela!”
Criança T.: “Aquela também é uma mulher?”
43
E.: “Sim, são todas mulheres!”
Criança L.: “Eia outro, grande golo!”
Criança T.: “Uma mulher muito corajosa!”
Criança B.: “São só meninas. Muito bem!”
Criança F.: “Estamos a ver este jogo porque dizes (L.) que as meninas jogam
terrivelmente mal.”
Criança T.: “Afinal as meninas jogam bem.”
Criança L.: “Já foram 3 golos de cabeça!”
E.: “Então L., que achaste?”
Criança L.: “É que já joguei contra meninas e ganhei, mas estas jogaram bem.”
3.º MOMENTO
No dia 13 de dezembro de 2016, a repetição do Grupo de Discussão.
E. (a mostrar a imagem da mulher a cozinhar): “O que veem aqui?”
Criança B.: “Uma menina a cozinhar.”
E.: “E o que achas desta imagem?”
Criança B.: “Está linda. Porque é fofinha.”
E.: “E o que achas de a mulher estar a cozinhar sozinha?”
Criança B.: “O senhor podia ajudar.”
E.: “E tu L.?”
Criança L.: “O pai podia estar a ajudar, por exemplo, o pai a varrer o chão e a mãe a
cozinhar.”
E.: “Boa, cada um fazia uma coisa assim. E tu F.?”
Criança F.: “Eu acho essa imagem muito má. O pai devia ajudar a mãe.”
Criança T.: “Eu também acho que está má. O pai se calhar estava a ler o jornal e a mãe
estava a cozinhar. O pai podia estar a varrer o chão e os filhos a ajudar a mãe a cozinhar.”
E. (mostra a imagem das crianças a brincarem): “E nesta? O que veem?”
Criança T.: “Meninos e meninas a jogar à bola e a saltar à corda. Está boa, porque as
meninas podem jogar à bola, o L. é que pensa que não.”
Criança F.: “Meninos a jogar à bola, a menina é a guarda-redes. Está boa porque as
meninas podem brincar com os meninos.”
Criança L.: “A menina está na baliza e o menino está a tentar marcar golo, também estão
a saltar à corda.”
44
Criança T.: “O L. agora gosta de ver meninas a jogar à bola.”
Criança B.: “Acho bem, eu jogo à bola com a mãe.”
Criança L.: “Mas ela não joga connosco.”
E.: “Então têm que a convidar para jogar convosco, que ela gosta.”
E. (mostra imagem de mulher a varrer e senhor a cozinhar): “E nesta?”
Criança B.: “Uma menina a varrer e o pai a cozinhar.”
E.: “Qual achas que está melhor?” Esta ou a outra em que a mulher está a cozinhar
sozinha?”
Criança B.: “Esta.”
E.: “Porquê?”
Criança B.: “É bonito.”
E.: “O que é bonito?”
Criança B.: “O senhor a ajudar a senhora.”
E.: “E tu L., que vês nesta imagem?”
Criança L.: “O senhor a cozinhar e a senhora a varrer.”
E.: “E o que achas da imagem?”
Criança L.: “Bem. Porque o senhor está a cozinhar e a senhora a varrer.”
E.: “E tu F., que achas desta imagem?”
Criança F.: “Mal, porque a senhora não está a ajudar o pai.”
E.: “Mas a mulher está a varrer o chão.”
Criança F.: “Ah, pois está. Então está bem.”
E.: “E qual está melhor? Esta ou a mulher a cozinhar sozinha?”
Criança F.: “Esta está melhor.”
E.: “E tu T.?”
Criança T.: “Esta imagem está melhor que a outra, assim a casa fica toda limpinha e
ajudam-se.”
E. (mostra imagem de mulher a ler o jornal e o senhor a passar a ferro): “T., e nesta que
vês?”
Criança T.: “Está mal. A mãe está a ler o jornal e o pai a trabalhar sozinho. A mãe devia
estar a ajudar o pai.”
E.: “E tu, F.?”
Criança F.: “Está mal. Muito mal. Porque a mãe está descansadinha no sofá a ler o jornal
e o pai a passar a ferro.”
45
Criança L.: “Muito pior. Porque a mãe está a ler o jornal e o pai a passar a ferro.”
E.: “E tu, B.?”
Criança B.: “Eu acho que está bem.”
E.: “Está bem? Achas que está bem assim? O homem a passar a ferro e a mulher a ler o
jornal?”
Criança T.: “Para ela as imagens estão todas boas.”
E.: “Então e se fosse ao contrário? O homem a ler o jornal e a mulher a passar a ferro?”
Todos: “Mal!”
E.: “Pois, porque nem pode ser as senhoras a fazer tudo, nem os senhores, não é?”
Todos: “Sim!”
A criança F. desenhou uma menina “a jogar à bola, está a jogar à bola com o menino.”,
um menino “a jogar à bola, está a jogar à bola com a menina, podem brincar todos
juntos.”, uma mulher “a cozinhar, ela faz anos, está a fazer o bolo enquanto o pai vai
comprar uma prenda para a mãe.”, e, por fim, o homem “está a fumar e tem uma moldura
para dar à mãe, porque a mãe está a cozinhar, então ele comprou uma prenda para ela.”.
A criança L. desenhou uma menina “a pôr a mesa, porque está a ajudar a mãe.”, um
menino “a jogar à bola, porque queria jogar à bola com o tio e não queria ajudar a mãe.”,
uma mulher “a cozinhar, porque a minha mãe cozinha.”, e, por fim, um homem “a ver
televisão, porque os senhores gostam de ver televisão e eu também.”. A criança T.
desenhou uma menina “a ser guarda-redes”, um menino “a jogar à bola, porque os
meninos e as meninas podem jogar à bola juntos.”, uma mulher “a cozinhar, porque as
senhoras cozinham, o senhor também podia.”, e, por fim, um homem “a apanhar milho,
porque os senhores apanham milho, mas as senhoras também podem apanhar.”. A criança
B. desenhou uma menina “a brincar com as palmas, estava a brincar com o senhor.”, um
menino “a brincar aos patos, porque é bom brincar.”, uma mulher “a jogar às palmas,
estava a jogar com a menina e com o senhor.”, e, por fim, um homem“a brincar às palmas,
porque é muito giro, é como o meu irmão faz.”.
46
Anexo 12 - Imagens Grupo de Discussão retiradas de Guião de Educação – Género Cidadnia –
Pré-Escolar
Imagem 1
Imagem 2
Imagem 3
Imagem 4
47
Anexo 13 - Desenhos 1.º Momento
Desenho Criança B.
Desenho Criança F.
Desenho Criança L.
Desenho Criança T.
48
Anexo 14 - Imagens FotoPalavra
Imagem 5
http://colunas.receitas.com/platb/receitas- Imagem 6
etc/tag/homem-na-cozinha/ http://www.canstockphoto.com.br/foto-
imagens/jovem-bonito-mulher-martelando-
prego.html
Imagem 7 Imagem 8
http://www.wscom.com.br/esportes/futebo http://www.tudocursosgratuitos.com/curs
l/com+%60pele+do+futebol+feminino%6 o-de-cabeleireiro-gratuito/
0+selecao+mira+copa+e+olimpiada-98572
Imagem 9 Imagem 10
http://www.correiodeuberlandia.com.br/cid http://extra.globo.com/famosos/assim-como-
ade-e-regiao/46-dos-homens-ajudam- alinne-moraes-que-vive-uma-taxista-em-astro-
mulheres-nas-tarefas-domesticas/ mulheres-motoristas-contam-os-desafios-da-
profissao-2377526.html
49
Anexo 15 - História sexista retirada de Guião de Educação – Género e Cidadania – Pré-Escolar,
de Cardona et. al., 2015
50
Anexo 16 - Desenhos 3.º Momento
Desenho Criança T.
Desenho Criança L.
Desenho Criança F.
Desenho Criança B.
51
Anexo 17 - Desconstrução e Reconstrução da história sexista, retirada do Guião de Educação –
Género e Cidadania – Pré-escolar, de Cardona et. al., 2015
Criança B.:
E.: “O que achaste da história?”
Criança B.: “Não me assustei nem nada.”
E.: “Porque achas que a Zira estava a chorar?”
Criança B.: “Porque chora sempre.”
E.: “Porque é que ela chora sempre e os meninos não?”
Criança B.: “Não é por ser menina que teve medo. Eu sou menina e não tive medo.”
E.: “Agora podes-me dizer o que mudavas na história? Podes também dizer se os ladrões
eram homens ou mulheres?”
Criança B.: “Sim. A menina deixou de ter medo. Os meninos também não tinham medo.
Eram ladrões homens, porque é muito chato ser ladrão. Eles não apanharam os ladrões.
Os ladrões não fugiram, ficaram em casa do tio Alberto, ninguém fez nada. Mas depois
apareceu a polícia e levou-os para a prisão. O tio Alberto chamou a polícia. Foi a Zira que
chamou o tio Alberto.
Criança T.:
E.: “O que achaste da história?”
Criança T.: “Eu queria que eles tivessem ido buscar uma faca e ligassem aos tios, para
prenderem os ladrões no carro da polícia.”
E.: “Porque é que achas que a Zira estava com medo?”
Criança T.: “A Zira tinha muito medo porque podiam fazer mal. Os meninos eram fortes,
a menina também era forte, mas tinha um bocadinho mais de medo.”
E.: “Agora podes-me dizer o que mudavas na história? Podes também dizer se os ladrões
eram homens ou mulheres?”
Criança T.: “Sim. Os meninos, a menina e o cão foram apanhar os ladrões. Foram buscar
uma corda, ataram os pés aos ladrões e eles caíram. A menina depois perdeu o medo dos
ladrões. Os meninos nunca tiveram medo. Eles foram ao quarto buscar o fato de fantasma
para assustar os ladrões. Eram ladrões homens e mulheres, porque tinham famílias e
foram todos juntos assustar.”
Criança L.:
52
E.: “O que achaste da história?”
Criança L.: “Foi bom. A Zira não devia ter continuado com medo.”
E.: “Agora podes-me dizer o que mudavas na história? Podes também dizer se os ladrões
eram homens ou mulheres?”
Criança L.: “Sim. Tirar o computador e os cadernos do tio. Os ladrões iam embora. Foi a
menina que chamou a polícia. Os meninos nunca têm medo. Também há meninas que
não têm medo. Também há meninos que têm medo. Eram ladrões homens. Também há
ladrões mulheres, mas nesta história eram homens.”
Criança F.:
E.: “O que achaste da história?”
Criança F.: “Achei tudo bem, menos a menina chorar. Porque as meninas também são
valentes, mas aquela tinha medo. Mas quando crescer fica mais valente.”
E.: “Agora podes-me dizer o que mudavas na história? Podes também dizer se os ladrões
eram homens ou mulheres?”
Criança F.: “Sim. Os meninos e a menina foram pregar um susto aos ladrões. Foram-se
esconder debaixo da mesa e assustaram-nos. A menina também era valente, mas tinha um
bocadinho de medo. Eram ladrões homens e ladrões mulheres”
53
Anexo 18 – Conceções da criança F. ao longo do estudo investigativo
CRIANÇA F.
Proposta Subcategoria Conceções
Tarefas domésticas Revelou conceções estereotipadas apenas
Grupo de na imagem do homem a passar a ferro e a
Discussão mulher a ler o jornal
1.º momento
numa imagem
54
Anexo 19 – Conceções da criança L. ao longo do estudo investigativo
CRIANÇA L.
Proposta Subcategoria Conceções
Tarefas domésticas Não revelou conceções estereotipadas
Grupo de
1.º momento
55
Anexo 20 – Conceções da criança B. ao longo do estudo investigativo
CRIANÇA B.
Proposta Subcategoria Conceções
Tarefas domésticas Não revelou conceções estereotipadas
Grupo de
Discussão
1.º momento
56
CRIANÇA T.
Proposta Subcategoria Conceções
Tarefas domésticas Não revelou conceções estereotipadas
Grupo de
1.º momento
57