Histórias Ambulantes
Histórias Ambulantes
Histórias Ambulantes
Histórias ambulantes:
cultura e cotidiano em folhetos de cordel
TERESINA/PI
2008
UFPI – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CCHL - CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL
Histórias ambulantes:
cultura e cotidiano em folhetos de cordel
TERESINA/PI
2008
MARIA DO ROSÁRIO DA SILVA
Histórias ambulantes:
cultura e cotidiano em folhetos de cordel
Teresina/PI
2008
___________________________________________________________________
S586h
Silva, Maria do Rosário da
Histórias ambulantes: cultura e cotidiano em folhetos de
cordel / Maria do Rosário da Silva. - Teresina: O Autor, 2008.
146 folhas: il., fotos
Inclui bibliografia.
BANCA EXAMINADORA
Este trabalho foi escrito entre Teresina e Caruaru: de Caruaru tem o barro
que oferece a forma, a sinuosidade das curvas e delineia o perfil; de Teresina o calor
que concede cor, acabamento e resistência ao barro moldado. Entre barro e calor
estabeleceu-se uma ponte que é toda atravessamentos. Atravessaram-me encontros
e desencontros nesse caminhar, mas aqui cheguei! E cheguei para agradecer:
Ao meu orientador-amigo Edwar de Alencar Castelo Branco, pela
amizade, pela confiança e por ter possibilitado a ponte e os atravessamentos entre
Teresina e Caruaru;
A todos os que fazem o Mestrado em História do Brasil da UFPI e à
CAPES, pela confiança e incentivo;
Aos professores: Terezinha Queiroz, Alcides Nascimento, Áurea Pinheiro,
Paulo Ângelo e Pedro Vilarinho, pela partilha de conhecimentos e amizade;
Ao professor José Luís, pelo diálogo nos primeiros tempos da orientação;
Aos meus pais José e Isabel, pelo amor dedicado e porque souberam
suportar minhas ausências;
Aos meus irmãos Paulo e Rejane, pela presença constante;
Aos cunhados Nina e Reginaldo;
A Cícera, pelo pão, pelo vinho, pelo chocolate e por todas as leituras;
A Luciana e Doriane, amigas acolhedoras e leitoras dos meus rascunhos
e esboços. Partilharam comigo as angústias e incertezas que envolvem a seleção e
o processo de mudança de uma cidade para outra, de um tempo a outro.
Partilhamos a surpresa de quando mudam a cor da nossa casa. Quebramos telhas e
paredes para dormir na amplidão. Sob a luz do candeeiro e ao som de amigos bons,
acendemos incensos dos mais diversos aromas e deu-se a construção da casa feito
ninho;
Ao Frede Barreto, pela odisséia de um tempo amarelo;
A Ciani, por partilhar movimentos, caminhadas e oferendas e pela revisão
cuidadosa;
Ao Ricardo Macedo, pela companhia na hora do café, pelas conversas
amenas e pela digitação das entrevistas;
Ao Sandro, o poeta sonhador, porque me apresentou nos tempos de
antigamente os versos encantados de Zé da Luz;
A Lucinéia Scremin e Alexandre Aguiar, por tornarem minha vida repleta
de estradas e saudades da boa;
A Eliane Soares, pela amizade poética;
Aos professores Alder Júlio e Josué Euzébio, pela disponibilidade em
indicar fontes de pesquisa, leituras e pelo diálogo instigante;
Aos amigos e companheiros de sala de aula, de pesquisas e de
celebrações, porque o sonho, o riso, a poesia e a festa se fizeram presentes em
nosso “cotidiano ordinário e inventivo”: Luciana, que nos revelou as dores e as
alegrias de ser “moça de família”; Emília, que nos ofereceu os sons e sonhos dos
anos 70; Marylu que, “armada” com a foice e o martelo, se fez amada e admirada
por todos nós; Demetrios, pelas caminhadas na cidade, pelas viagens poéticas,
imagéticas e musicais, pela sintonia que nos torna irmãos; Warrington, por
possibilitar uma espécie de retorno aos caminhos da devoção;
Ao Zé Luis, por me apresentar uma Teresina noturna e cinematográfica;
A Andreza, Ana Rosa, Clarice, Márcia, Nalva, Pedro Pio e Joseane, que
me possibilitaram pensar e atravessar fronteiras;
A Adryana Santos, Conceição Moita, Carmem Castro, companheiras com
quem partilhei a vivência cotidiana de um apartamento-república de estudantes,
entre poesias, harmonias e estranhamentos;
Aos amigos e amigas de muitas conversas e viagens: Magda, Adilson,
Jailson, Daniel, Gilvano, Rebeca, Schirley Pimentel, Luís Augusto, Alexandre
Pacheco, Lucas Ryman, Gerard Ryman, Conceição Porto, Severino Ferreira, Daniela
Mourão, Margarida Alexandrina, Adjair Alves, Edmário Santos, Sidney Gonçalo, cada
um sabe como e em que contribuiu.
A Michele, Rose, Flávio companheiros de viagens e pesquisas;
Ao Marcus Vinícius, poeta dos sons ancestrais, pelos olhos e ouvidos
atentos. Com o espanto e deslumbre de quem vem de longe, me ajudou a
desnaturalizar paisagens culturais;
Às amigas dos tempos novos Janny e Ísis pelas leituras;
Aos amigos Veridiano, Djair, Nilton e tantos outros que partilharam café,
poesia e conversas nos fins de tarde do País de Caruaru;
Aos poetas e entrevistados: J. Borges, Dila, Olegário Fernandes (in
memorian) e Josué Euzébio, por me concederem seu tempo e suas palavras;
Aos que fazem o Jornal Vanguarda;
Ao CEPED/FAFICA, pelo acesso aos arquivos do jornal A Defesa;
Ao Museu do Cordel de Caruaru;
À FUNDAJ, pela disponibilização do acervo de folhetos;
Ao professor Carlos Newton Jr e todos os que fazem o Espaço Ariano
Suassuna da Universidade Federal de Pernambuco;
Ao Marcilio, funcionário da Biblioteca Central da UFPE, por ter
disponibilizado uma obra importante para a elaboração deste trabalho.
E a todos os que, mesmo não citados, sabem que passaram pela ponte e
que fizeram parte deste atravessamento. A vocês o meu agradecimento.
Por fim, confesso que, enquanto escrevia, ousei levar minha alma para
passear nos mundos da música e da poesia. Sons, ritmos e palavras estão
impregnados em cada palavra aqui escrita. Nas madrugadas intermináveis de meu
quarto de estudo, esperei pela aurora na companhia poético-musical de Pablo
Neruda, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Hilda Hilst, Jomar Muniz de
Britto, Alice Ruiz, Demetrios Gomes Galvão, Djair Roberto, Cordel do Fogo
Encantado, Antonio Carlos Nóbrega, Nação Zumbi, Sagrama, Lenine, Silvério
Pessoa, Junio Barreto, Chico Buarque... e escrever foi um prazer porque, “dessa
insustentável leveza de ser, eu gosto mesmo é de vida real”.
Resumo
This paper looks for problems arising between the day to day cultural aspects and
orality relating to the aquisition of literary pamphlets known as cordels. The
pamphlets are conceived as instruments that allow access to the many ways of
aquiring cordelian texts in the nineteen sixties, in the semi arid region of
Pernambuco, one of the most visible centres of cordelian production. The writings
receive benefit from the concepts of identity, folk culture, orality and reading, that
allows us to think, in historical terms, the handywork of the cordelists and of their
public. The paper looks to present how the literature of the cordel constitutes itself as
an historic objective intertwined with the discussions that involve erudition and
folklore.
FOLHETO DE ABERTURA......................................................................................12
FOLHETO I
FOLHETO II
Roger Chartier
6
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1 artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 39.
7
Para uma leitura sobre a década de 1960, ver: CASTELO BRANCO, Edwar de Alencar. Todos os
dias de Paupéria: Torquato Neto e a invenção da tropicália. São Paulo: Ana Blume, 2005, p. 68.
8
Para uma leitura sobre o corpus de cordel, ver: CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre
práticas e representações. Lisboa: DIFEL; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p. 165–187.
9
CERTEAU, op. cit., p. 47.
15
10
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 66.
17
“[...] o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre
iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas estão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.”
Guimarães Rosa
19
[...]
1
A expressão está sendo utilizada, aqui, no sentido que lhe é atribuído por CANEVACCI, Massimo.
Culturas extremas: mutações juvenis nos corpos das metrópoles. Rio de Janeiro: DP&A Editora,
2005.
2
Para uma leitura introdutória sobre esta questão, ver: CERTEAU, Michel de. A cultura no plural.
Campinas, São Paulo: Papirus, 1995 e CHARTIER, Roger. Cultura popular: revisitando um conceito
historiográfico. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8, n. 16, 1995, p. 179-191.
20
3
Para referências sobre o dispositivo nacional popular e a identidade nacional, ver: ALBUQUERQUE
JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste: e outras artes. Recife: FJN, Editora Massangana;
São Paulo: Cortez, 1999 e ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo:
Brasiliense, 1985.
4
Michel de Certeau afirmou que a concepção de cultura resulta do lugar no qual é pensada e “o
conjunto de determinações que fixam seus limites em um encontro de especialistas e que
circunscrevem a quem e como lhe é possível falar quando abordam a cultura entre si”. CERTEAU,
1995, p. 222.
5
MORAES, MariaThereza Didier de. Emblemas da Sagração Armorial: Ariano Suassuna e o
Movimento Armorial (1970/76). Recife/PE: Ed. Universitária 2000, p. 104.
21
uma definição sobre uma arte e cultura brasileiras e por isso foram ao encontro da
cultura popular6.
O Movimento Armorial foi lançado oficialmente em Recife no dia 18 de
outubro de 19707. Na ocasião, o Departamento de Extensão Cultural (DEC) da
Universidade Federal de Pernambuco, dirigido por Ariano Suassuna,8 promoveu um
concerto da Orquestra Armorial de Câmara, intitulado Três Séculos de Música
Nordestina: do barroco ao armorial, e uma exposição de gravuras, pinturas e
esculturas, ambas realizadas na Igreja de São Pedro dos Clérigos. Entretanto, o
trabalho criador, a arte armorial e o conceito de cultura brasileira defendido pelo
Movimento Armorial9 “começou muito antes do lançamento oficial”10. No programa
de lançamento do evento, Suassuna escreveu:
6
Roger Chartier observa que “os debates em torno da própria definição de cultura popular foram (e
são) travados a propósito de um conceito que quer delimitar, caracterizar e nomear práticas que
nunca são designadas pelos seus atores como pertencentes à ‘cultura popular’. Produzido como uma
categoria erudita destinada a circunscrever e descrever produções e condutas situadas fora da
cultura erudita, o conceito de cultura popular tem traduzido, nas suas múltiplas e contraditórias
acepções, as relações mantidas pelos intelectuais ocidentais (e, entre eles, os scholars) com uma
alteridade cultural ainda mais difícil de ser pensada que a dos mundos ‘exóticos’”. CHARTIER, 1995,
p.179.
7
SUASSUNA, Ariano. O movimento armorial. Recife/PE: Editora Universitária da UFPE, 1974, p. 09.
8
Sobre Suassuna e o Movimento Armorial, ver: MORAES, Maria Thereza Didier de. Emblemas da
sagração armorial: Ariano Suassuna e o movimento armorial (1970/76). Recife/PE: Ed. Universitária,
2000; NEWTON JÚNIOR, Carlos. O Pai, O Exílio e o reino: a poesia armorial de Ariano Suassuna.
Recife: Ed. Universitária, 1999; NOGUEIRA, Maria Aparecida Lopes. O cabreiro tresmalhado: Ariano
Suassuna e a universalidade da cultura. São Paulo: Palas Athena, 2002 e NOGUEIRA, Maria
Aparecida Lopes (Org.) Ode a Ariano Suassuna: celebrações dos 80 anos do autor na Universidade
Federal de Pernambuco. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2007.
9
No texto veiculado juntamente com o programa do Concerto, Suassuna concluiu com a seguinte
frase: “Pronto! Já estava feito e esta, agora explicado. A arte armorial brasileira está na rua, à
disposição dos inimigos para os ataques e dos amigos para os incentivos e elogios”. SUASSUNA,
Ariano apud NEWTON JÚNIOR, op. cit. p. 230.
10
SUASSUNA, op. cit., p. 07.
22
16
Certeau chama atenção para as conotações do termo povo e popular diante do olhar dos
folcloristas e dos letrados: “o popular aí está associado ao natural, ao verdadeiro, ao ingênuo, ao
espontâneo, à infância. [...] Não por acaso, o popular é, desde então, sempre identificado com o
camponês. [...] O povo é como um todo, o bom selvagem: o confinamento do cultural pode ser
seguido da reserva ou do museu”. CERTEAU, 1995, p. 63-65.
17
Brandão afirma que os primeiros anos da década de sessenta “era o tempo da criação dos
movimentos populares de cultura (MCP), dos centros de cultura popular do movimento estudantil
(CPC), do Movimento de Educação de Base da Igreja Católica (MEB), da campanha de Pé no Chão
Também se Aprende a Ler, da Prefeitura de Natal, entre tantos outros grupos, lugares e equipes
onde se misturavam educadores, estudantes, professores, profissionais de outras áreas que, por toda
a parte, davam sentidos novos a velhas palavras: educação popular, cultura popular”. BRANDÃO,
Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1981, p.18.
18
Sobre cultura popular e a busca do nacional-popular, ver, entre outros, AYALA, Marcos; AYALA,
Maria Ignez Novais. Cultura popular no Brasil. 2. ed. São Paulo: Ática, 2006; CHAUÍ, Marilena Souza.
Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2003 e GARCIA,
Miliandre. A Questão da Cultura Popular. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 24, nº 47,
p.127-62 – 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. Acesso em outubro de 2007.
19
Ver, MARTINS, Carlos Estevam. Anteprojeto do manifesto do CPC. In: Arte em Revista, São Paulo,
nº 1, 1979.
20
MARTINS, op. cit, p. 73.
21
Para Michel de Certeau, os intelectuais concebem o povo como “uma criança, cuja pureza original
convém resguardar”. CERTEAU, 1995, p. 62.
24
ser outro senão a riqueza, em suas linhas gerais e em seus meandros, do processo
pelo qual o povo supera a si mesmo e forja seu destino coletivo”22.
Entre os fundadores do MCP de Pernambuco, destacaram-se Germano
Coelho, Hermilo Borba Filho, Paulo Freire, Luis Mendonça e Ariano Suassuna. Os
membros do MCP foram ao encontro do popular como base para a construção de
uma cultura nacional, mas elaboraram uma concepção diferente da armorial, pois
acreditavam que haveria uma troca entre os intelectuais e o povo. Os intelectuais
contribuiriam com a ciência e a técnica, enquanto o povo doaria as autênticas raízes
culturais brasileiras, essa junção resultaria na formação de uma cultura nacional23. O
conceito de arte do MCP tem como base a arte dirigida, na qual os intelectuais têm o
papel de vanguarda, de levar “cultura” e “conhecimento” ao povo. Suassuna, apesar
de ter sido um dos sócios fundadores do MCP, posteriormente, desligou-se dele
porque discordava da compreensão de arte dirigida.
Embora a concepção de arte armorial não concorde com a concepção de
arte como expressão política no sentido defendido pelos grupos de esquerda, “um
dos fundamentos da estética armorial reside na preocupação de ligar a criação
artística a um alicerce nacional-popular”24. A concepção de nacional-popular
defendida por Suassuna difere da concepção de grande parte dos intelectuais
brasileiros que, baseados nas idéias do intelectual italiano Antonio Gramsci,
perceberam a expressão como indicadora de uma opção pelas classes dominantes
e de uma concepção política reacionária. Um dos intelectuais defensores dessa
compreensão é a filósofa Marilena Chauí25.
Suassuna concebe o nacional de modo diferente, relacionando-o ao povo
e não às classes dominantes. Para ele, tanto a arte popular quanto a arte erudita
devem se identificar com o nacional porque é “o único caminho capaz de levar à
verdadeira Arte Universal – aquela que, partindo do nacional, se universaliza pela
22
MARTINS, 1979, p. 73.
23
Michel de Certeau chamou atenção para o caráter dessa relação, como um processo de
desmistificação das ideologias, visto que: “Uma linguagem da técnica ou da ciência, dotada de um
poder de transformar, é reservada à elite, permanece estranha ao conjunto da população à qual é
apresentada pela vulgarização como sendo inacessível”. CERTEAU, 1995, p, 202.
24
NEWTON JÚNIOR, 1999, p. 99.
25
Para Marilena Chauí: “[...] o vínculo entre o nacional e o Estado, de um lado, e entre o popular e as
classes dominadas, de outro, parece tornar inviável aquilo que freqüentemente é alvo dos projetos de
“cultura nacional-popular, isto é, a identidade nacional. As experiências do fascismo, do nazismo, do
‘socialismo em um só país’ (cujo arquiteto era especialista nas questões das nacionalidades), dos
populismos e nacionalismos autoritários latino-americanos colocam a expressão ‘o nacional popular’
sob suspeita e a ‘identidade nacional’ como altamente indesejável”. CHAUÍ, 2003, p. 85.
25
26
SUASSUNA, 1974, p, 67.
27
Ibid., p, 68.
28
O Manifesto denominado Inventário do Nosso feudalismo Cultural, publicado no Jornal do
Commercio de Recife, em 28 de julho de 1968, foi assinado por vários artistas, entre eles Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Jomard Muniz de Britto e Celso Marconi.
29
Suassuna faz questão de afirmar que sua concepção de arte está relacionada com as preferências
populares: “Mantenho a distância entre epopéia e teatro. Por outro lado, não me interessam nem o
Drama psicológico e burguês, nem o Drama politizado do teatro sectário. Sempre preferi a tragédia e
a comédia, formas mais preferidas pelo Povo, mais próximas do espírito do nosso Romanceiro. Pode-
se dizer, portanto, que, assim como a Gravura armorial, parte das xilogravuras populares dos
folhetos, o Teatro armorial parte dos romances, das histórias trágicas ou picarescas da Literatura de
26
Cordel, assim como dos espetáculos populares do Nordeste, e tem, no campo da arte erudita, um
espírito muito semelhante ao deles.” SUASSUNA, 1974, p. 25.
30
MORAES, 2000, p.105.
31
No início da década de sessenta, integrou a Equipe do Serviço de Extensão Cultural ligado ao
Sistema Paulo Freire de Educação. Desse período, destacamos o ensaio Contradições do Homem
Brasileiro, no qual procurava uma filosofia da educação para o Brasil e se aproximava do conceito de
arte engajada, posteriormente passa a discordar desse modo de ver e pensar a cultura brasileira e
direciona seus estudos para a elaboração de uma crítica cultural alternativa em relação ao Movimento
Armorial e ao MCP. Para uma leitura que abarque esses dois momentos, ver: BRITTO, Jomard Muniz
de. Contradições do homem brasileiro. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1964 e BRITTO,
Jomard Muniz de; LEMOS, Sérgio. Inventário de um feudalismo cultural. Jaboatão/PE, Nordeste
Gráfica Industrial e Editora, 1979.
32
Para Maria Thereza Didier de Moraes, “A polêmica com as idéias armoriais seria fundamentada no
caminho escolhido por Jomard Muniz de Britto, que defendia a cultura de massa como uma
possibilidade de ‘embaralhar’ ou ‘misturar’ o que ele considerava como dicotomia clássica, expressa
no pensamento nordestino, entre cultura popular e cultura erudita. Muniz de Britto argumentava que a
‘cultura de massa’ não é fatalmente unificadora e propunha transformar as potencialidades técnico-
funcionais, desenvolvidas na cultura de massa, em técnico-reflexivas, captando o real como processo
evolutivo e criador. A crítica ao passado simbólico, construído pelos armoriais, parece-nos pertinente,
mas não pelas formulações do cineasta Muniz de Brito, que faz transparecer a realização da
sociedade industrial como uma inevitabilidade positiva. O cineasta, para se alinhar ao modernismo na
arte, compartilha com a visão da industrialização como um avanço, sem, entretanto, tecer uma crítica
em relação à construção social (aí está incluída a dimensão imaginária) da sociedade de consumo.
MORAES, op. cit., p. 49.
33
Muniz de Britto cria palavras a partir da mistura das línguas portuguesa e inglesa, como
característica da inserção da cultura de massa. Para conferir uma abordagem interessante sobre a
discussão da cultura de massa e consumo, ver: LIMA, Luis Costa. Comunicação e cultura de massa
(Introdução Geral). In: Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 13 – 69.
34
BRITTO; LEMOS, op. cit., p. 09.
35
Ibid., p. 45.
36
ibid.
37
“é preciso e urgentíssimo que alguém escreva para nada salvar, ressalvar/ nem mesmo a alegria
prova de nós/nem recuperar passado algum do patrimônio perdido”. Ibid., p. 28.
27
38
BRITTO; LEMOS, op. cit., p. 17.
39
Ibid., p. 30.
28
40
Em sua tese de livre docência, Suassuna escreve Povo, Cultura, Raça, entre outras palavras,
sempre com inicial maiúscula. Ver: SUASSUNA, Ariano. A onça castanha e a ilha Brasil: uma reflexão
sobre a cultura brasileira. Recife/PE: Interativa; Projeto Virtus, 2003.
41
Para consecução deste trabalho, utilizamos cópia digitalizada pela Biblioteca central da
Universidade Federal de Pernambuco. Id., Ibid.
42
Id., 1974.
43
Id., 2003.
29
44
SUASSUNA, 1974, p. 07.
45
NOGUEIRA, 2007, p.113.
46
Id., Ibid.
47
Para Suassuna o Romanceiro Popular do Nordeste é composto por dois grupos distintos de poesia:
a Poesia Improvisada e a Literatura de Cordel. Ver: Id. O romanceiro popular do Nordeste. Quebra
mar. Revista informativa do porto do Recife. Ano 1, n. 03, fev/mai de 1976, p. 23.
48
Id., 1974, p. 07.
49
Movimento intelectual poético, crítico, filosófico, sociológico, folclórico e jurídico conhecido como a
Escola do Recife, nos anos de 1860 e 1880 e cujo líder era o sergipano Tobias Barreto de Meneses.
Silvio Romero figura entre outras pessoas importantes do movimento.
50
Sobre o Movimento Regionalista, observa Durval Muniz de Albuquerque Júnior: “O movimento
Regionalista e Tradicionalista de Recife teve início com a fundação do Centro Regionalista do
Nordeste, em 1924, congregando não apenas intelectuais ligados às artes e à cultura, mas
principalmente àqueles voltados para as questões políticas locais e nacionais. Sua afirmação, no
30
entre si55. O mito da Rainha do Meio-Dia representa uma busca pela união de povos
e culturas. Eis a narração de Ariano Suassuna:
55
SUASSUNA, 2003.
56
Id., Ibid., p. 21,23 e 24.
57
NOGUEIRA, 2007, p. 107
58
SUASSUNA, op. cit., p, 10.
59
MORAES, 2000, p. 160.
32
60
SUASSUNA apud NOGUEIRA, op. cit., p. 105.
61
SUASSUNA, op. cit., 2003, p. 18.
33
62
SUASSUNA, A. Todo professor deve ter um pouco de ator. Revista nova Escola, jun/jul de 2007.
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/pdf/0203/fala_mestre.pdf. Acesso em jan.
2008.
63
“Por isso, tentarei esboçar aqui as linhas gerais dessa visão-do-mundo brasileira, e mostrá-las
nascendo na obra e no pensamento de alguns dos nossos maiores espíritos dos séculos
antecessores – principalmente o XVII, o XVIII e o XIX. Depois de uma espécie de contraponto,
veremos as mesmas idéias mestras, as mesmas características, reaparecendo em outros grandes
espíritos brasileiros do século XX e apontando para o futuro e o Desconhecido, como a indicar, com
essa permanência no tempo e no espaço, que pertencem de fato àquele “inconsciente que é alicerce
e é segredo vital das obras de arte” como diz João Ribeiro. E, sem fazer violência a seu pensamento,
eu acrescentaria que esse inconsciente nacional é o alicerce e o segredo vital não só das obras de
arte mas de todas as manifestações da Cultura Brasileira”. SUASSUNA, 2003, p. 09-10.
64
ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1999, p. 85.
34
65
HOLANDA, Lourival. Ariano Suassuna, Cavaleiro Andante da Cultura Brasileira. In: NOGUEIRA,
2007, p. 106-107.
66
ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1999, p.166.
35
Nelson Barbalho
67
Sobre Nelson Barbalho, ver: SANTOS, Jose Veridiano dos. Um Historiador para a Cidade e uma
cidade para a História: Nelson Barbalho e o País de Caruaru. In: ______. Falas da Cidade: um
estudo sobre as estratégias discursivas que constituíram historicamente a cidade de Caruaru-PE
(1950-1970). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2006. Dissertação de Mestrado.
68
Ibid., p. 79
69
Ver: BARBALHO, Nelson. País de Caruaru: subsídios para a história do Agreste. Recife: CEPE,
1974, p. 193-211.
36
70
Segundo Roger Chartier, a cultura popular é uma categoria erudita e os debates em torno da
definição de cultura popular têm gerado classificações e divisões; uma delas é a divisão cultura
popular/cultura erudita. As definições estão vinculadas a dois modelos de inteligibilidade: “o primeiro,
no intuito de abolir toda forma de etnocentrismo cultural, concebe a cultura popular como um sistema
simbólico coerente e autônomo, que funciona segundo uma lógica absolutamente alheia e irredutível
a da cultura letrada. O segundo, preocupado em lembrar a existência das relações de dominação que
organizam o mundo social, percebe a cultura popular em suas dependências e carências em relação
a cultura dos dominantes”. CHARTIER, 1995, p. 179.
71
BARBALHO, Nel Bar. Jornal Vanguarda. Caruaru, 04 out. 1964, n. 1632, p.03.
72
Para Barbalho, “com partidarismo e paixão não se pode escrever história. Sem documentos não há
história. [...] A única liberdade do historiador será a de usar a intuição, mas assim mesmo uma
intuição toda racional e objetiva, aquela que vai tateando de grau em grau tão diferente da intuição
artística”. BARBALHO, Vasto mundo: panorama visto do monte. Recife: CEPE, 1981, p. 92.
37
73
BARBALHO, Nel Bar. Jornal Vanguarda. Caruaru, 07 abr. 1963, n. 1549, p. 09.
74
Major era apenas um apelido, segundo explica Barbalho: “Major Sinval tinha patente de apelido”.
Id., Nordestinidades. Recife: CEPE. 1990, p. 07.
75
LANÇAMENTO de Major Sinval: acontecimento de grande repercussão. Jornal Vanguarda,
Caruaru, 05 de jan. de 1969, n. 1943, p.01.
76
Para o prefaciador: “O livro Major Sinval destaca-se pelo seu aspecto eminentemente folclórico”.
ALVES NETO, Aureliano. Prefácio. In: BARBALHO, Major Sinval. Caruaru: Gráfica Vanguarda,
1968a, p. 06.
38
77
BARBALHO, 1981, p. 48.
78
Id.,Trem da saudade: parada obrigatória: estação Caruaru. Recife: CEPE, 1980a, p. 122.
79
Id., Baú de sovina: caruaruísmos, nordestinidades e outros bichos. Recife: CEPE, 1980b, p.43 e
149.
80
Ibid., p. 44.
81
Id.,Caruaru sessenta e dois. Jornal Vanguarda, Caruaru, 01 mai. 1962, n. 1500, p.09.
39
82
BARBALHO, Caruaru sessenta e dois. Jornal Vanguarda, Caruaru, 01 mai. 1962, n. 1500, p.09.
83
BARBALHO, Meu povinho de Caruaru: estórias de gente da gente. Recife: CEPE, 1980c, p. 121.
40
84
Id., Caruru, Caruaru: nótulas subsidiárias para a história do agreste de Pernambuco. Recife: CEPE.
1972.
85
Id., op. cit., 1980, p. 25.
86
“[...] o Agreste é o espaço para o qual Barbalho, com seus textos, imagens e personagens,
contribuirá para instituir no imaginário social das populações que habitavam os espaços do interior
de Pernambuco”. SANTOS, 2006, p. 84.
41
87
BARBALHO, Baú de sovina, 1980b p.106.
88
A respeito de suas pesquisas, Barbalho afirmou: “o material pesquisado e selecionado por mim, a
respeito de Caruaru, é tão variado e abundante que, caso o aproveite integralmente, dará para uns
vinte livros, de duzentas páginas cada um, uns 20 livros sem repetir assunto de qualquer espécie, em
torno da exuberante História de Caruaru”. Id. Ibid., p. 47.
89
O trecho a seguir é elucidativo do pensamento do autor sobre os costumes: “O mais trágico,
senhores meus, é que, com a permissividade, com o topless, com a pílula anticoncepcional, com o
controle da natalidade, com os movimentos femininos de independência total da mulher,
simplesmente destruíram a família nos moldes antigos e não puseram nem põe (sic) em seu lugar
uma coisa melhor ou igual para substituí-la. E querem convencer a gente a murro ou a canelão de
que assim, tudo se modernizando, melhorou ou vai melhorar”. Id. Ibid., p. 73-74.
90
Id.,O folheto. Jornal Vanguarda. Caruaru, 06 out. 1968b, n. 1939, p.09.
42
91
BARBALHO, 1990, p. 21.
92
Durante o mês de julho de 1964, publicaram-se, na coluna Teia de Penélope, os artigos intitulados:
Diabos à solta; Mais diabolices e Com o diabo no corpo. Ver: Jornal Vanguarda, julho de 1964.
93
ALVES NETO, Aureliano. Diabos à solta. Jornal Vanguarda. Caruaru, 12 jul. 1964a, n.1620, p.03.
94
Essa imagem do diabo como promotor das imoralidades também aparece nos folhetos da década
de sessenta. Ver, por exemplo, os folhetos: LEITE, José Costa. A Moça que dançou com Satanaz no
inferno; SOARES, José. A resposta da carta de Satanaz a Roberto Carlos, entre outros do gênero.
43
95
ALVES NETO, Mais diabolices. Jornal Vanguarda. Caruaru, 19 jul.1964b, n. 1621, p.07.
96
Id., Intereletrônica. Jornal Vanguarda. Caruaru, 09 jul. 1961, n. 1461, p.05.
44
97
ALVES NETO, O amor livre. Jornal Vanguarda. Caruaru, 05 jan. 1969, n. 1943, p.04.
98
Id., Ibid.
99
Para uma leitura a respeito do debate sobre a música popular brasileira na década de sessenta,
ver: LOBO, Edu [et al.]. Confronto: música popular brasileira. In: Revista Civilização Brasileira. nº 03,
45
Rio de Janeiro, 1965, p. 305-312 e BARBOSA, Airton Lima [et al.]. Que caminho seguir na música
popular brasileira. In: Revista Civilização Brasileira. nº 07, Rio de Janeiro, 1966, p. 375-385.
100
ALVES NETO, A banda. A Defesa. Caruaru, 20 nov. 1966, n. 47, p. 03
101
Id., A propósito do modernismo. Jornal Vanguarda. Caruaru, 17 nov. 1965, n. 1684, p.06.
102
Id., Ibid.
103
Id., Ibid.
46
104
“Nasceu no dia 29 de novembro de 1929, em Prata, município de Bom Conselho, PE. Fez o
primário em Belo Jardim e em São José do Egito, o ginasial no Colégio Diocesano de Garanhuns, o
científico no Colégio Salesiano do Recife e no Colégio de Caruaru. Bacharelou-se em Ciências
Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Caruaru (1965). Romancista, professor em diversos
colégios da Paraíba, Pernambuco e Alagoas, conferencista, Aleixo Leite Filho ministrou cursos de
Folclore em diversas cidades do país. É poeta popular, autor de onze folhetos e de livros tendo o
folclore como tema: Louro de São José ou o rei dos trocadilhos, Reflexões sobre o verso popular, O
Águia do sertão ou o rei dos cantadores, Cartilha dos cantadores e noções de folclore (1994)”. Ver:
SOUTO MAIOR, M. Dicionário dos folcloristas brasileiros. Disponível em:
www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/dicfab.htm. Acesso em 07 de nov de 2007.
105
LEITE FILHO, Em termos de folclore. A Defesa. Caruaru, 02 set.1972, n. 746, p. 04.
47
106
LEITE FILHO, Literatura de cordel. A Defesa. Caruaru, 18 mai. 1975a, n. 861, p.05.
107
Id, Ibid., Maldição da lucidez. A Defesa. Caruaru, 26 jun. 1976, n. 916, p. 05.
108
Sobre o zelo para com o folclore, Michel de Certeau adverte que não é isento de segundas
intenções, posto que “ele deseja localizar, prender, proteger. Seu interesse é como que o inverso da
censura: uma integração racionalizada. A cultura popular define-se, desse modo, como um
patrimônio, segundo uma dupla grade histórica (a interpolação dos temas garante uma comunidade
histórica) e geográfica (sua generalização no espaço atesta a coesão desta)”. CERTEAU, Michel de.
A cultura no plural, 1995, p. 63.
109
LEITE FILHO, 1972, p.04.
48
110
LEITE FILHO, Para turista ler. A Defesa. Caruaru, 21 abr. 1973a, n. 759, p. 04.
111
Id. Ibid.
112
Id. Ibid.
113
Id., Ponto de vista: é tempo de folclore. A Defesa. Caruaru, 07 jul. 1973b, n. 777, p. 02.
49
A – Artesanato riquíssimo
De conhecido valor
Coloca Caruaru
Em plano superior
Com exposições que atraem
Artistas do exterior
[...]
D – Dila da Xilogravura
E dos folhetos de feira
Cantando versos bonitos
Para o povo da ribeira
Mostrando que essa cidade
No cordel é a primeira118.
120
LEITE FILHO, E agora, José? A Defesa. Caruaru, 09 set. 1976, n. 931, p. 05.
121
Id.,1972, 04.
122
Id., Reflexões sobre verso popular. Caruaru/PE: 1978. (sem indicação de páginas)
123
Para um estudo sobre a relação entre as práticas discursivas desses intelectuais e a constituição
histórica da cidade Caruaru, ver: SANTOS, 2006.
51
costumes, indicando que as rupturas não são as únicas marcas do momento, mas
que as permanências se fizeram presentes. Encontramo-nos com uma década
conturbada, na qual os indivíduos estavam aprendendo a lidar com uma nova
configuração cultural. Esses indivíduos eram convidados a fazer uso de antigas
práticas e inventar novas. Parece-nos que souberam utilizar o tempo habilmente e
transitar entre o novo e o velho com desenvoltura, pois atentaram para as
“circunstâncias de que o tempo preciso de uma intervenção transforma em situação
favorável, à rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço”126.
Portanto, concluímos que a concepção de cultural popular em
Pernambuco na década de sessenta constituiu-se a partir do cruzamento de
discursos que abarcaram principalmente os ideais do MCP, do Movimento Armorial
e dos tropicalistas, possibilitando uma leitura diversificada e complexa do período.
Os folhetos da literatura de cordel podem ser situados historicamente como
expressão de uma cultura popular vinculada ao debate da identidade nacional.
Nesse sentido, o Movimento Armorial contribuiu para colocar em evidência as
características dessa literatura e os seus autores ao adotar os folhetos nordestinos
como bandeira do Movimento, definindo as características de uma arte e de uma
cultura brasileiras.
126
CERTEAU, 1994, p. 102.
FOLHETO II
“Sempre é bom recordar que não se deve tomar os outros por idiotas.
[..] nossas categorias de saber ainda são muito rústicas e nossos modelos de análise por demais
elaborados para permitir-nos imaginar a incrível abundância inventiva das práticas cotidianas”
Michel de Certeau
54
[...]
[...]
1
Ver: BATISTA, Sebastião Nunes. Antologia da literatura de cordel. Natal/RN: Fundação José Augus-
to, 1977;______. Poética popular do Nordeste. Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1982
e PROENÇA, Manoel Cavalcante. Literatura popular em verso: antologia. Belo Horizonte: Itatiaia; São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
55
Não temos a pretensão de provar tais diferenças, mas, a partir das refle-
xões apontadas no texto de Abreu, pensar sobre as especificidades ou singularida-
des reivindicadas para a literatura de cordel nordestina. Tratamos essas característi-
cas enquanto práticas que remetem às condições de existir de um determinado lugar
2
BATISTA, 1982, p. III.
3
ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de
Leitura do Brasil, 1999.
4
Id. ibid.,p. 104-105.
56
5
Para Octavio Paz, “a operação poética não é diferente do conjuro do feitiço e de outros processos
de magia. A atitude do poeta tem muita semelhança com a do mago. Ambos usam o princípio da
analogia; ambos agem com fins utilitários e imediatos: não se perguntam o que é o idioma ou a natu-
reza, mas servem-se deles para seus próprios fins. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1982, p.64.
6
PROENÇA, 1986, p. 30.
7
LOPES, José Ribamar. Literatura de cordel; antologia. Fortaleza: BNB, 1982, p. 13.
8
SUASSUNA, Ariano. Nota sobre a poesia popular nordestina. In: DECA (Revista do Departamento
de Extensão Cultural e Artística da Secretaria de Estado dos Negócios de Educação e Cultura), Reci-
fe ano IV, n. 5, 1962, p. 13.
9
Estrofes de seis versos de sete sílabas, com rimas emparelhadas ou alternadas. Ver: BATIS-
TA,1982, p. 73.
10
São estrofes de dez versos de sete sílabas e apresentam um esquema de quatro rimas: ABBA-
ACCDDC. Ver: BASTISTA, ibid., p. 21.
57
11
Para Leite Filho: “essas classificações todas não passam de invencionices para impressionar aque-
les que conhecem o folheto através das lunetas de suas escrivaninhas. Um folheto pode apresentar
em seu conteúdo várias nuances, diversificados assuntos onde dificilmente poderá ser identificado
como erótico, heróico ou messiânico, do contrário não será folclore. É muito fácil se distinguir um
ABC de outro tipo de folheto qualquer. O resto é esnobação”. LEITE FILHO, Aleixo. Reflexões sobre
verso popular. 1978. (sem paginação).
12
SUASSUNA, 1962, p. 28.
13
SOUSA, Liêdo Maranhão de. Classificação popular da literatura de cordel, Petrópolis: Vozes, 1976.
14
DIEGUÉS JÚNIOR, Manoel. Ciclos temáticos da literatura de cordel. In: _____. Literatura popular
em verso. Rio de Janeiro, MEC, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1973.
15
Ver: SUASSUNA, op. Cit., p. 28
16
Essa mesma classificação também se encontra publicada em: Id. O romanceiro popular do Nordes-
te. In: Quebra Mar. Revista Informativa do Porto do Recife. nº 03, Recife, 1976, p.23-24.
17
O Romance da Pedra do Reino traz citações do romanceiro popular do Nordeste e é ilustrado com
xilogravuras de brasões e insígnias armoriais; os capítulos são denominados folhetos.
58
18
SUASSUNA, O romance da pedra do reino: e o príncipe do sangue do Vai-E-Volta. 2. ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1972, p. 58.
19
Id., Introdução. In: Literatura popular em verso. antologia. Tomo III. Leandro Gomes de Barros –
2. Rio: Fundação Casa de Rui Barbosa; João Pessoa: UFPB, 1977, p. 06.
20
Revista Peleja, ano VI, n. 08, Arcoverde, setembro de 1984.
21
Ver: LIMA, Genival Vicente de. Uma classificação Didática de folhetos de feira. In: Peleja, ano VI, n.
08, Arcoverde, setembro de 1984, p. 43-51.
22
Remetemos o uso da palavra ao conceito função autor relacionado com o modo de existência, a
circulação e o funcionamento do discurso em sociedade, porque “os discursos literários não podem
ser recebidos se não forem dotados da função autor: perguntar-se-á a qualquer texto de poesia ou de
ficção de onde é que veio, quem o escreveu, em que data, em que circunstância ou a partir de que
projecto. FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa: editorial Presença, 1994, p.49.
59
ses autores podem ter preferências por alguns temas, mas, nesse caso, eles, e não
a literatura de cordel, é que devem ser estudados de acordo com temas”23.
Observamos que em alguns estudos24 realizados por historiadores, soció-
logos e folcloristas sobre a literatura de cordel são recorrentes as interpretações
que, na busca pelas origens, afirmam que a literatura de cordel foi herdada do Ro-
manceiro Ibérico, adquirindo aqui características próprias vinculadas ao meio social
e cultural da região Nordeste. Nesses discursos, o Nordeste aparece como ambiente
sociocultural ideal para o surgimento de tal literatura por suas condições étnicas,
sociais e culturais, contribuindo para o que Durval Muniz de Albuquerque Júnior de-
nominou de maquinaria imagético-discursiva25. É elucidativo o que escreveu Manoel
Cavalcante Proença:
23
LUYTEN, Joseph Maria. O que é literatura de cordel. São Paulo: Brasiliense. 2005, p. 46.
24
Ver: DIÉGUES JÚNIOR, Manoel. Literatura de cordel. In: Cadernos de folclore. Rio de Janeiro:
MEC/FUNARTE, 1977; LOPES, José Ribamar. Literatura de cordel; antologia. Fortaleza: BNB, 1982;
BATISTA,1977; PROENÇA,1986.
25
Ver: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste: e outras artes. Recife:
FJN, Editora Massangana; São Paulo: Cortez, 1999.
26
PROENÇA. Manoel Cavalcante. op. cit., p. IV.
27
Sobre o olhar regionalista, ver: ALBUQUERQUE JÚNIOR, op. cit.
60
Acreditamos que a resumindo desse modo estamos perdendo de vista sua capaci-
dade criativa artística e cultural, assim como a possibilidade de pensar os vários
passados que se encontram em nosso presente.
A literatura de cordel tem sido estudada como um fenômeno da chamada
cultura popular nordestina, de forma mais intensa a partir da década de 1960. Con-
sideramos significativo que esse interesse dos estudiosos tenha tomado força, jus-
tamente em um momento no qual a literatura de cordel sofre transformações na pro-
dução e no público leitor dos folhetos. Momento esse, caracterizado por mudanças
nos costumes morais e religiosos; marcado pela modernização, decorrente dos fes-
tejados avanços tecnológicos, interligados à difusão gradativa do rádio de pilha e da
televisão. Os novos meios de comunicação contribuíram com notícias e novas idéias
para que os poetas pudessem montar seus folhetos. Dos noticiários, telenovelas e
outros programas surgiram temas para inúmeros folhetos de sucesso28.
Mark Curran afirma que, além do rádio de pilha e da televisão, outros fato-
res contribuíram para mudanças na literatura de cordel, nos anos sessenta: a morte
de poetas mais velhos, o aparecimento de novos autores, a modernização das gráfi-
cas e a transformação da sociedade brasileira como resultado da chamada moderni-
zação do país29. As reportagens publicadas na imprensa também buscaram mostrar
a crise e a gradativa morte30 como resultado da influência da televisão, da falta de
interesse das autoridades políticas pela cultura popular e do processo de urbaniza-
ção e industrialização da sociedade brasileira.
Sendo a concepção de cultura vinculada a um lugar particular, o que im-
plica considerar o conjunto de determinações que fixam limites e delineiam uma to-
28
Termo usado pelos poetas para classificar os folhetos com tiragens altíssimas e ampla aceitação
da população. Na introdução do livro sobre o poeta José Soares, Mark Dinneen afirma que os folhe-
tos mais vendidos eram os que tratavam de notícias sobre acontecimentos políticos e dramáticos. Só
o poeta José Soares vendeu 60.000 exemplares do folheto a Renúncia de Jânio Quadros; O folheto
O assassinato de Kennedy passou de 40.000 cópias vendidas. Mas esses não foram os mais vendi-
dos. O folheto intitulado A Morte do bispo de Garanhuns, Dom Expedito Lopes, alcançou a marca de
108.000 cópias vendidas apenas no estado de Pernambuco.
Ver: DINNEEN, Mark. José Soares. São Paulo: Hedra, 2007, p. 20.
29
Ver: CURRAN, Mark. História do Brasil em cordel. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 1998, p.183.
30
Segundo Michel de Certeau, a cultura popular só desperta a atenção dos estudiosos quando consi-
derada morta. Em suas pesquisas os intelectuais, se debruçam sobre a beleza do morto. Esse gesto
pretende preservar as ruínas e assim eles se distanciam do povo. CERTEAU, Michel de. A cultura no
plural. Campinas/SP: Papirus,1995.
61
31
CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p.
67.
32
Segundo Ana Maria Galvão, “A denominação ‘literatura de cordel’ foi atribuída aos folhetos brasi-
leiros, pelos estudiosos, a partir de um tipo de literatura semelhante encontrada em Portugal. Câma-
ra Cascudo (1988) situa na década de 60 a difusão dessa denominação para se referir aos ‘folhetos
impressos’ no território brasileiro, até então somente utilizada para o caso português.” GALVÃO,
Ana Maria de Oliveira. Cordel: leitores e ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, p. 27.
33
“Tal é a razão por que todo poeta, todo romancista, todo dramaturgo, todo crítico, todo escritor bra-
sileiro de nossos dias tem a seu cargo um duplo problema e há de preencher uma dupla função: deve
saber o que vai pelo mundo culto, isto é, entre aquelas nações européias que imediatamente influen-
ciam a inteligência nacional, e incumbe-lhe também não perder de mira que se escreve para um povo
que se forma, que tem suas tendências próprias, que pode tornar uma feição, um ascendente origi-
nal”. ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Tomo 1. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953, p.
42.
34
FREYRE, Gilberto. Manifesto regionalista. Disponível em:
http://www.arq.ufsc.br/manifestoregionalistamo, Acesso em abr. de 2007.
35
Id., Ibid.
36
Ibid.
62
37
A historiadora Ângela Grillo, aponta como pioneiros no estudo dos folhetos Celso de Magalhães,
José de Alencar, Flanklin Távora e Sílvio Romero, precursores de um debate sobre uma definição
para a literatura nacional. Principalmente, Sílvio Romero que estava preocupado em descobrir a for-
mação do povo brasileiro a partir das produções culturais. Para ele, a autêntica poesia brasileira seria
a oral, por ser de origem portuguesa. E os folhetos impressos não eram considerados autênticos. Ver:
GRILLO, Maria Ângela de Faria. A arte do povo: histórias na literatura de cordel. 2005. 256 f. Tese
(Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
38
Id. Ibid., p.121.
39
A concepção de literatura em Sílvio Romero abarca as criações populares como elemento literário:
“Cumpre declarar que a divisão proposta não se guia exclusivamente pelos fatos literários; porque
para mim a expressão literatura tem a amplitude que lhes dão os críticos e historiadores alemães.
Compreende todas as manifestações da inteligência de um povo – política, economia, arte, criações
populares... e não como era costume supor-se no Brasil, somente as intituladas Belas Artes, que
afinal cifravam-se quase exclusivamente na poesia”. ROMERO, 1953, p. 60.
40
Na década de 1920, Leonardo Mota, folclorista cearense, transportou as cantorias das fazendas e
sítios para os salões urbanos, freqüentados por intelectuais. Recolheu, selecionou e colocou em evi-
dência alguns cantadores. Ver: GRILLO, Ibid., p. 105-125.
63
tir a prova da autoria, os autores usam recursos variados que vão desde a utilização
de um acróstico44 na última estrofe da narrativa até o uso de fotos na contracapa do
folheto. A Prelúdio alcançou o público do Nordeste vendendo muitos folhetos por
isso responsabilizada pela queda do cordel tradicional. No artigo intitulado Da Clas-
sificação do Folheto, Aleixo Leite Filho denuncia que “lá pelo Sul do País, mormente
em São Paulo, publicam-se folhetos, na maioria, reedições de folhetos nordestinos,
em papel de livro, com capa colorida e tamanho grande, matando toda originalidade
do folheto legítimo”45.
Orígenes Lessa figura como um dos pesquisadores que se empenhou em
recolher folhetos e escrever sobre o tema. Sua obra mais conhecida é o clássico
Getúlio Vargas na Literatura de Cordel46, publicado na década de 1970. Inúmeros
são os autores nesse momento, as produções e o consumo dessa literatura vendida
nas feiras a um público nem sempre alfabetizado, nem sempre rural, portanto, hete-
rogêneo. A década de cinqüenta é considerada a década do apogeu da produção
cordeliana, enquanto uma literatura que produz uma espécie de crônica histórica,
dos eventos mais significativos do século XX, sob uma perspectiva popular47.
Os primeiros anos da década de 1960 mantêm a produção de folhetos
nas alturas. No entanto, a partir dos meados dessa década, alguns sinais de morte
parecem visíveis para os intelectuais que acreditavam que a recepção da cultura de
massa, por parte do povo brasileiro, contribuiria para o desmantelamento da cultura
popular e, conseqüentemente, para o desaparecimento dos folhetos. A crise ou que-
da do cordel passou a ser tema de uma vasta quantidade de artigos jornalísticos,
principalmente a partir do final dos anos 1970 e durante toda década de 1980. Nes-
ses artigos, o desenvolvimento dos meios de comunicação são causadores da de-
cadência dos folhetos. Gilberto Freyre foi um dos intelectuais que na década de
1980 elogiava as iniciativas de publicar coletâneas da literatura de cordel. Essas co-
letâneas apresentavam dupla função: preservar e divulgar.
44
O acróstico é uma “composição poética na qual o conjunto das letras iniciais dos versos compõe
verticalmente uma palavra, geralmente o nome do autor. É um dos meios de identificação de autoria
usado na literatura de cordel”. BATISTA, 1982, p. 13.
45
LEITE FILHO, Aleixo. Da classificação do folheto (conclusão). A Defesa. Caruaru, 18 mar. 1978, n.
991, p.08
46
LESSA, Orígenes. Getúlio Vargas na literatura de cordel. Rio de Janeiro: Documentário, 1973.
47
CURRAN, 1998, p. 108.
65
Pode-se dizer que uma das realizações culturais importantes nos es-
tudos do Brasil por brasileiros é a que tem vindo, nos últimos cin-
qüenta ou sessenta anos, dessa maior aproximação de estudiosos
científicos da sociedade e da cultura pré-nacionais e nacionais das
fontes populares de informação idônea48.
Na opinião dos poetas, são vários os fatores que concorrem para que o
cordel passe por crises na produção. Em entrevista, o poeta J. Borges afirma ter
vendido folhetos nas feiras até a década de 1970 e que o motivo de seu afastamento
não foi o desaparecimento da literatura de cordel, mas uma transformação no modo
de produção e recepção49. Ao associar a produção de xilogravura e folhetos em seu
atelier, já não precisava se ausentar devido à procura por seus trabalhos não se cir-
cunscrever apenas ao espaço das feiras, mas ter sido ampliado à sua própria ofici-
na.
48
FREYRE, Gilberto. Nota Prévia. In: LOPES, José Ribamar. (Org.). Literatura de cordel: antologia.
Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1982, p. XIV.
49
Essa transformação é descrita por Galvão, assim: “nos anos 60, o cordel passou por uma grande
crise, tornando-se novamente centro de interesses a partir dos anos 70, desta vez principalmente por
parte de turistas, universitários brasileiros e estrangeiros: o cordel tornou-se objeto de estudo e de
curiosidade. [...] A partir desse momento, os locais de venda começaram também a mudar, o que
também revela uma mudança de público: nas livrarias e lojas de artesanato”. GALVÃO, 2006, p. 34-
35.
50
BORGES, José Francisco. Entrevista concedida à Maria do Rosário da Silva. Bezerros, 2007.
51
José Cavalcanti e Ferreira, conhecido por Dila Soares. Nasceu em Bom Conselho/PE, em 17 de
setembro de 1935. Autor de inúmeros folhetos sobre o cangaço e também xilogravurista. Vive em
Caruaru/PE, onde cria xilogravuras, escreve e publica folhetos.
66
52
FERREIRA DILA, José Cavalcanti e. Sindô e Amália. Caruaru/PE. [2004], p.08
53
Mark Curran aponta as seguintes modificações: inovação no formato e uso da xilogravura para
ilustrar as capas. Ver: CURRAN,1998, p, 185.
54
id. Ibid., p. 184.
67
blicados pela Casa de Rui Barbosa55 sobre a literatura de cordel. Esses estudiosos
distinguem literatura popular em verso da poesia popular improvisada. Cavalcanti
Proença apreende-as como duas manifestações diferentes: a primeira, denominada
folclórica, caracterizada pela transmissão oral e por “não está sujeita a moda ou vo-
ga, que já se tornou anônima pelo esquecimento dos autores e se transformou em
patrimônio coletivo”56; a segunda, chamada de popular, por ser transmitida através
do “uso de meios técnicos (no caso a impressão), que está sujeita a moda ou voga,
que não é anônima, mas possui intrinsecamente as características da poesia folcló-
rica”57.
Atualmente, a literatura de cordel encontra-se como tema freqüente nos
estudos acadêmicos vinculados às ciências sociais, literatura e crítica literária. Cons-
titui-se em um campo de estudo da academia e tem abrangência tanto nacional
quanto internacional. Destacam-se as pesquisas e produções de autores como Jo-
seph Luyten, Mark Curran, Antonio Arantes, Jerusa Pires, Márcia Abreu, Ângela Gril-
lo, Ana Maria Galvão entres outros. As abordagens são variadas e apontam um
crescente interesse por parte dos intelectuais brasileiros pela literatura de cordel.
55
A fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, reúne um dos melhores acervos de folhetos
do Brasil. Entre as várias coleções doadas constam as de Cavalcante Proença e Diégues Júnior.
56
PROENÇA, 1986, p. 27.
57
Id. Ibid.
58
Os poetas da primeira geração são: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, José
Bernardo da Silva, entre tantos outros. Ver: FLANKLIN, Jeová. J. Borges. São Paulo: Hedra, 2007, p.
17.
68
59
Entendemos, em consonância com Otavio Paz, “que o poeta consagra sempre uma experiência
histórica, que pode ser pessoal, social ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Mas, ao nos falar de
todos esses sucessos, sentimentos, experiências e pessoas, o poeta nos fala de outra coisa: do que
está fazendo, do que está sendo diante de nós e em nós. Mais ainda: leva-nos a repetir, a recriar seu
poema, a nomear aquilo que ele nomeia; e ao fazê-lo, revela-nos o que somos”. PAZ, 1982, p. 233.
60
Alguns folhetos do autor: Conselhos de Frei Damião em favor da humanidade; Corno, bicha e sa-
patão: os sacanas de hoje em dia; A chegada da prostituta no céu; O casamento do boiola; A mulher
vampiro e o exemplo das costas nuas; O exemplo da mulher que vendeu o cabelo e visitou o inferno;
O exemplo da moça com o umbigo de fogo; Exemplo da cabra que falou sobre crise e corrução; E-
xemplo da moça que viu o diabo; A moça que virou jumenta porque falou de top less com Frei Dami-
ão.
61
FERREIRA, João Melquíades. O pavão misterioso. [s.l.; s.d.].
62
Xilogravura é uma técnica de gravura muito semelhante ao carimbo. Utiliza-se taco de madeira e
objetos cortantes para entalhar o contorno do desenho. A impressão, em alto relevo, é feita utilizan-
do-se um rolo com tinta apenas nas partes elevadas do desenho. Ao pressionar o taco de madeira
sob papel ou tecido, o desenho é revelado. Esse é o processo utilizado na confecção das capas de
folhetos. Sobre xilogravura ver: LOPES, 1982.
63
Ver: BORGES, José Francisco. Memórias e contos de J. Borges. Bezerros/PE: Gráfica Borges,
[2002].
69
com as mesmas técnicas que utiliza na produção dos folhetos, narra como começou
sua atividade de poeta:
64
BORGES, 2002, p.51.
65
As folheterias concentravam “os grandes produtores do cordel [que] moravam em cidades adianta-
das e confeccionavam as capas do folheto em metal. As estampas eram tiradas de clichês utilizados
em anúncios de filmes americanos ou de postais importados da Europa”. FLANKLIN, 2007, p.16.
70
66
Id. Ibid., p. 16.
67
Folhetos de exemplos escritos por Olegário Fernandes: O menino macaco e o exemplo do fim do
mundo, O exemplo da perna cabeluda e os sinais do fim do mundo, O exemplo do menino que nas-
ceu cabeludo, entre outros.
71
Começou vendendo folhetos em 1954. Nessa fase inicial não contou com
o apoio de seu pai, porque ele acreditava que o trabalho na agricultura seria mais
rentável e a venda de folhetos era uma profissão incerta. Poetas e cantadores, na
época, eram vistos como preguiçosos68. No entanto, em decorrência do convívio nas
feiras e das boas vendas, Olegário conseguiu provar que era possível manter a fa-
mília com uma renda mensal superior à renda de um agricultor. O gosto pelas histó-
rias contadas nos folhetos e o convívio com outros poetas colaboraram para sua ini-
ciação como poeta da literatura de cordel. Seu primeiro folheto, intitulado A História
do Boi de Minas e as Carnes Contaminadas, pode ser considerado um sucesso de
vendas para um poeta em começo de carreira. A primeira leitura foi feita ao lado da
Igreja da Conceição, na Feira de Caruaru. Na ocasião, Olegário vendeu imediata-
mente 36 folhetos! Em poucos meses de publicização nas feiras da região, foram
vendidos 7 mil exemplares.
Sua obra conta com mais de 200 folhetos, ele preferia os temas relacio-
nados à religiosidade e à moralidade. Mas também escreveu folhetos de aconteci-
do69, aproveitando as notícias que circulavam no rádio e nos jornais. O folheto A
Morte de Ludugero70 é um exemplo de um folheto que alcançou rapidamente o título
de mais vendido na região71. Tornou-se uma espécie de furo jornalístico. Segundo J.
68
Dimas Batista, autor de folhetos, diferencia o poeta do vendedor de folhetos com os seguintes ver-
sos: “Basta um cabra não ter disposição/pra viver do serviço de alugado/pega numa viola e bota ao
lado,/compra logo o Romance do Pavão,/A Peleja do Diabo e Riachão/e a História de Pedro Malasar-
te,/sai no mundo a gabar-se em toda parte/e a berrar por vintém em mei de feira,/parasitas assim
desta maneira/é que têm relaxado a minha arte”. Ver: PROENÇA. Manoel Cavalcante. Antologia da
literatura de cordel, 1977, p. 30.
69
Também chamados de folhetos jornalísticos, são identificados pela capacidade de alguns poetas
de recriar notícias propagadas pelos meios de comunicação de massa, reformulando-as de acordo
com as experiências dos leitores e com suas próprias palavras rimadas.
70
Personagem criado por Luis Queiroga na década de 1960, vivido pelo artista caruaruense Luis
Jacinto da Silva (Coronel Ludugero). Representava com bom humor a figura do coronel, visto como
homem simples, de poucas palavras, sincero, contador de histórias, aboiador, cantador de viola e
poeta, mas também impaciente e nervoso. Dividia o palco com dona Felomena, mulher do coronel (a
atriz Mercedes Del Prado), e Otrope, uma espécie de secretário e orientador dos negócios e das
questões políticas (o ator Irandir Peres Costa). Faleceu em 14 de março de 1970, vítima de desastre
aéreo na Baía de Guajará Mirim em Belém do Pará. Gozava de grande prestígio junto à população,
algo que já explica o sucesso dos folhetos que narraram sua morte. Sobre Ludugero, ver: QUEIRO-
GA, Mêves. Luis Queiroga: o humilde imenso. Recife. Ed. do Autor, 2006.
71
Segundo texto do Jornal Vanguarda, o poeta Vicente Vitorino de Melo também escreveu sobre a
morte do humorista: “o artista popular, sensível à extinção de figuras das mais queridas pelo povo –
desde que dele era parcela importante – veio através do folheto de feira – literatura de cordel – ex-
pressar o seu sentimento ao fato com o trabalho “Trágico Desaparecimento do Coronel Ludugero” de
Vicente Vitorino de Melo, vendido às centenas na feira de Caruaru”. PRAÇA de Caruaru terá estátua
do Coroné Ludugero. Jornal Vanguarda. Caruaru, 29 mar. 1970, n. 2006 p. 08.
72
Borges, em poucas semanas, ele vendeu milhares de exemplares, o folheto não fal-
tava na maleta dos vários cordelistas que atuavam na região.
Em 1962, Olegário comprou a primeira máquina tipográfica e passou a
produzir folhetos em sua própria casa. Dessa produção participavam a esposa e os
filhos. A família passava noites inteiras imprimindo, cortando papel, separando o mi-
olo dos folhetos, dobrando as capas e grampeando as pequenas brochuras. Mante-
ve durante vários anos uma barraca de cordel na feira de Caruaru, onde vendia, jun-
to com os folhetos, quase tudo no ramo de papelaria. Em 1999 fundou, ao lado de
sua barraca, com a ajuda da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru e de um
grupo de poetas, O Museu do Cordel, espaço no qual estudantes e pesquisadores
podem encontrar um rico acervo de folhetos. Olegário faleceu em 2002, aos 66 a-
nos, em plena atividade poética.
José Francisco Soares ou Zé Soares72, o poeta-repórter73 do Recife como
era conhecido, nasceu no estado da Paraíba, em uma área rural nas proximidades
de Campina Grande, em 1914. Filho de agricultores, na infância, já estava próximo
da poesia popular, através do contato com alguns de seus parentes, a saber, o tio
Inácio da Catingueira e o primo Agostinho Lopes dos Santos74 influenciaram Zé Soa-
res no gosto pela poesia popular. Trabalhou como biscateiro na feira de Campina
Grande e, nesse espaço, escutou e travou contato com poetas e cantadores.
No espaço da educação formal, freqüentou a escola até o segundo ano
do ensino primário, mas aprendeu a ler bem, e por isso desde cedo era solicitado
por vizinhos e amigos para ler folhetos comprados nas feiras. Seu primeiro folheto,
escrito aos 14 anos – Descrição do Brasil por Estados – informava ao leitor sobre as
características dos vários estados do país e indicava que o autor conhecia elemen-
tos da geografia do país. Como a maioria dos poetas populares de sua época, preci-
sou, antes de ser cordelista, desenvolver outras atividades enquanto ainda não es-
72
Folhetos de Zé Soares: O cego no cinema; O futebol no inferno; Anistia ampla e a volta de Arraes;
O homem na lua – partida e chegada de Neil Armstrong; A perna cabeluda de Olinda; A resposta da
72
carta de Satanás a Roberto Carlos; A mulher que matou o marido de xifre (sic).
73
São chamados de poetas repórteres aqueles poetas peritos em identificar notícias jornalísticas que
interessariam a seus leitores, recriando-as na forma de poesia e produzindo folhetos de maneira rápi-
da para vendê-los enquanto dura o interesse do público leitor. Ver: DINNEEN, Mark, 2007.
74
Violeiro-repentista nasceu na Fazenda Cajá, em São José do Egito/PE, no ano de 1906. Passou a
viver exclusivamente da cantoria a partir de 1927 e logo ganhou fama como um dos melhores violei-
ros do estado. Morreu em Caruaru/PE, em 1972.
73
Nos anos 70, José Soares já era uma pessoa célebre em Recife, re-
gularmente procurado para dar entrevistas a jornalistas ou pesquisa-
dores de cordel. Era um poeta prolífico e, durante os anos mais pro-
dutivos, produzia um folheto a cada quinze dias. Ao final de sua car-
reira, havia publicado aproximadamente duzentos e oitenta folhetos,
com mais de cinqüenta inéditos77.
75
“Como poeta, José Soares descobriu uma fórmula muito bem sucedida, apanhando notícias de
várias fontes e recriando-as rapidamente na forma de folheto para um grande número de leitores.
Distribuídos por grande parte do país por revendedores, ou em suas próprias viagens às feiras, os
seus poemas vendiam bem e as tiragens eram altas. Numerosos acontecimentos nacionais e interna-
cionais foram tratados, e o seu sucesso como comunicador popular resultou em encomenda de mui-
tos políticos e empresários, pedindo-lhe um folheto para promover uma campanha política ou um
novo serviço ou produto”. DINNEEN, Mark, 2007, p.13.
76
Para Otavio Paz, essa comunicação pode ser explicada porque “o poeta desperta as formas secre-
tas do idioma. O poeta encanta a linguagem por meio do ritmo. Uma imagem suscita outra. Assim, a
função predominante do ritmo distingue o poema de todas as outras formas literárias. O poema é um
conjunto de frases, uma ordem verbal, fundados no ritmo”. PAZ, 1982, p. 68.
77
DINNEEN, op. cit., p. 13.
74
78
CURRAN, 1998, p, 24.
79
DINNEEN, 2007, p.18.
80
Alguns folhetos do autor: A briga de Antonio Silvino com a moça que virou cabra; A luta de Lampião
com a velha feiticeira; A briga de Lampião com a moça que virou cachorra; Peleja de Costa Leite com
Olegário Fernandes; Os dez mandamentos, o Pai Nosso e o credo dos cachaceiros; A moça que
dançou com Satanaz no inferno; Estamos no fim da era; os sinais do fim do mundo e as três pedras
de carvão.
75
84
Sobre o processo de criação do Mestre Dila, ver: CAVALCANTI, Herlon de Figueiredo. Xilogravuras
do Mestre Dila: uma visão poética do Nordeste. Caruaru: Edições Fafica, 2007.
77
As duas da madrugada
Num dia de sexta feira
Era grande a multidão
Já reunida em fileira
85
Sobre essa perspectiva de tomar o discurso como acontecimento histórico, ver: ALBUQUERQUE
JÚNIOR, Durval Muniz de. Menocchio e Rivière: criminosos da palavra, poetas do silêncio. In:
______. História: a arte de inventar o passado. ensaios de teoria da história. Bauru/SP: Edusc, 2007,
p. 101-112.
86
Do conjunto de folhetos selecionado, 40 são folhetos de exemplo, 30 são folhetos de acontecidos e
08 versam sobre o que é a literatura de cordel.
87
BORGES, José Francisco. O exemplo da moça do umbigo de fogo. Bezerros/PE [s/d.]
78
Acompanhando a procissão
De pé no chão na poeira
Os tempos se aproximam
O povo está como quer
Tem gente que diz assim
Dê o caso no que der
Os tempos bons se consomem
Mulheres querem ser homens
Homens querem ser mulher (sic).
91
LEITE, A briga de Lampião com a moça que virou cachorra, [ca. 1960] , p. 01.
92
Para Jerusa Ferreira no maravilhoso “elidem-se encantamentos e encantadores e há um relacio-
namento constante com as exigências do mundo prático, que compõem o universo dos que o escu-
tam”. Ver: FERREIRA, Jerusa Pires. Cavalaria em cordel: o passo das águas mortas. 2. ed. São Pau-
lo: Hucitec, 1993, p.31.
93
HOLANDA,1999, p. 33.
94
BORGES, Conselhos de Frei Damião em favor da humanidade, [1967?].
80
[...]
Ai eu vou procurar
um padre e me confesso
me arrependo do que fiz
e perdão a ele peço
mas isso depois que eu
deixar o mundo azavésso (sic)97.
95
BORGES, José Francisco. Conselhos de Frei Damião em favor da humanidade. Bezerros/PE,
[1967?] p. 03-04.
96
HOLANDA, 1999, p, 34.
97
BORGES, José Francisco. O exemplo da moça do umbigo de fogo. Bezerros/PE, p. 07-08.
81
[...]
mas é que 66
vem aí fazendo o rapa
o que escapar da crise
a febre tira do mapa
pois eu conheço 60
quando disser é 70
pouca gente é que escapa.
98
Ver: CASTELO BRANCO, 2005.
99
Segundo Lourival Holanda: “O macabro, o grotesco têm ainda larga circulação na cultura interiora-
na. Das feiras às igrejas: os Hércules de circos e os santos barrocamente angustiosos. Santa Águe-
da, as mamelas arrancadas, expostas num prato; a imagem do Homem das Dores, na procissão dos
Passos; Santa Luzia, os olhos extraídos – tantas figurações onde se poderia filiar o macabro e a cru-
eza que ainda ecoam nos ícones e na linguagem do cordel”. HOLANDA, 1999, p. 32.
100
Expressão usada freqüentemente pelos poetas e que aqui tomamos como uma metáfora da déca-
da de sessenta.
82
[...]
101
ASSIS, Manoel Tomaz de. O fim do mundo está próximo. In: BATISTA,1977, p, 321 – 322.
102
CASTELO BRANCO, 2005, p. 222-223.
103
FATOS de hoje, bofes de amanhã: cabeludos e cultura. Jornal Vanguarda. Caruaru, 10 jul. 1966,
n. 1817, p. 04.
104
PALCOS, telas e microfones. Jornal Vanguarda. Caruaru, 12 jul. 1964, n. 1620, p.05.
83
aumentou a violência
é morte pra todo lado
daqui pra dois mil e dez
temos que andar com cuidado
[...]
E se os pais reclamarem
elas dizem um palavrão
não vão a missa nem rezam
também não fazem oração
só namoram cabeludo
quem (sic) vive com um violão105.
105
BORGES, A moça que dançou depois de morta. [1970?], p. 01.
106
Aproximadamente 50% dos folhetos analisados obedecem à seguinte estrutura narrativa: denunci-
ar os novos costumes e lembrar os antigos costumes como exemplo a ser seguido pela juventude.
84
Diferente do passado”107.
107
CAVALCANTE, Rodolfo Coelho. O desencanto da moça que bateu na mãe e virou cachorra.
[1960?], p. 08.
108
Em relação à canção tradicional dos Cevenas, Pelen observa que “propõe antes um exemplo, um
exemplum, geralmente considerado como imaginário, mas pode também remeter ao real. PELEN,
Jean-Noel. Memória da literatura oral. A dinâmica discursiva da literatura oral: reflexões sobre a no-
ção de etnotexto. In: Projeto História, São Paulo, 22, junho de 2001, p. 57.
109
Id. Ibid.,p. 57.
110
Para Ferreira, “Ao analisar o texto-cordel, sabe-se estar diante de uma criatura, que tem a ver com
determinados processos de folk, percebendo-se que a sua complexa mecânica de criação está sem-
pre relacionada com um grupo que aceita ou sanciona, atenta para uma certa censura preventiva da
comunidade e, de certo modo, atinge-se o alcance de uma produção, em parte sob o comando”. Ver:
FERREIRA,1993, p.14.
85
111
É interessante observar que nos folhetos do período o termo moderno aparece com freqüência
sempre em oposição aos costumes tradicionais. Os versos seguintes são emblemáticos neste senti-
do: “Quanto mais tempo se passa/Mais o mundo se evolui/Cresce mais o mudernismo(sic)/E a tradi-
ção diminui/Até eu presentemente/Estou muito diferente/Não sou mais como já fui”. Ver: SANTOS,
Apolônio Alves dos. O Nosso Mundo Moderno, [196?], p.01.
112
DINNEEN, 2007, p. 18
113
CASTELO BRANCO, 2005, p. 68.
114
SOARES, José. O Homem na lua: partida e chegada Neil Armstrong. Recife, 1969.
115
SUASSUNA, Ariano. Entrevista do mês. Revista Caros Amigos, n. 75, junho de 2003.
116
SOARES, ibid., p.01.
86
Em viagem rotatória
Que deixou daqui à Lua
Uma estrada transitória
E voltou do estranho cosmo
Trazendo o cetro da glória117.
117
Id. Ibid., p.02.
118
SOARES, 1969, p. 05.
87
era produzir uma música popular brasileira, coloca-se contrário à produção e à posi-
ção dos defensores da adoção de meios tecnológicos na criação da música nacio-
nal119.
É possível perceber uma tendência nos poetas que buscaram narrar os
acontecimentos cotidianos em concordar que, a partir do contato com os novos veí-
culos de comunicação, os indivíduos, principalmente os jovens, descambavam para
a dispersão, a ilusão, a desmoralização, a loucura, o nudismo, o sexo livre e o uso
de roupas extravagantes, cujo modelo teria sido apresentado pelos artistas da Jo-
vem Guarda.
É emblemática a narrativa do folheto História do Debate do Papa de Ro-
ma com Roberto Carlos120. A xilogravura da capa apresenta símbolos da época em
lados opostos. Do lado direito do desenho, Roberto Carlos, de pé, vestindo os trajes
extravagantes da época: calça boca de sino, sapatos cavalo de aço e jaquetão. Os
cabelos compridos caem sobre os ombros. Apoiada no ombro esquerdo, está uma
guitarra em forma de tridente; ela parece mais uma arma do que um instrumento
musical, o que pode significar que essa seria sua arma na luta contra o bem, já que
o tridente em nossa cultura é um símbolo associado ao Diabo. Do lado esquerdo, o
Papa sentado em sua cadeira com o cetro em uma das mãos. Ele aponta para a fi-
gura de Roberto Carlos acusando-o ou indicando aos fiéis um exemplo que não de-
ve ser seguido. Roberto não está ajoelhado diante do Santo Papa, o que indica que
está desafiando a Igreja e os valores do Cristianismo:
119
“Diziam (os cabeludos da guitarra elétrica) que “o Brasil era um País subdesenvolvido” e que, por-
tanto, “sua Arte era também, necessariamente, subdesenvolvida”. Só havia um caminho para sairmos
desse subdesenvolvimento cultural: era o de “adotarmos o progresso e a técnica das Artes dos paí-
ses desenvolvidos”, aderindo às formas eletrônicas da música “de vanguarda”. Contrariamente a esse
ponto de vista, eu sustentava e ainda sustento: primeiro que a Arte não depende de subdesenvolvi-
mentos ou desenvolvimentismos; um País pode ser rico e poderoso, como os Estados Unidos, e ter
uma cultura inferior a da Índia, país pobre”. SUASSUNA,1974, p, 63.
120
SENA, Joaquim Batista de. História do debate do Papa de Roma com Roberto Carlos. In: BATIS-
TA, 1977, p. 160-168.
88
Imagem 1:
Capa do Folheto A história do Debate do Papa de Roma com Roberto Car-
los.
[...]
121
SENA,1977, p. 165.
122
O debate sobre a Música Popular Brasileira na década de sessenta estava vinculado ao debate do
elemento nacional popular. Segundo Luís Antonio Groppo, “todos os críticos musicais, nos anos 60,
defensores das ideologias mais diferentes, concordavam igualmente quanto à existência dessa tripar-
tite e na valorização do popular. Nos termos do maestro Júlio Medaglia, haveria três principais tipos
de manifestação musical popular: 1. Folclórica; 2. Popular, originada da própria criação de classes
populares, mas transmitida pelos novos meios de comunicação de massa; 3. Popular, fabricada tão-
somente pelos meios de comunicação. GROPPO, Luis Antonio. MPB e Indústria Cultural nos Anos
60. In: Impulso n. 30, p, 135-136.
90
[...]
123
SENA, 1977, p.167.
124
ALVES NETO, Aureliano. Vereda Tropical. A Defesa. Caruaru, 30 jun. 1968, n. 553, p.05
91
O Hippie se desapega
De tudo quanto é divino
E sai, a pés, pelo mundo
Ignorando o destino
Com um matulão nas costas
Feito errante e peregrino.
[...]
[...]
125
SENA, 1977, p, 167.
126
CAVALCANTE, As Modas Escandalosas de Hoje em Dia. [196?].
92
127
CAVALCANTE, [196?], p. 01-03.
FOLHETO III
“Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de
escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que
chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de
encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas e
disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela
máquina de invenções que lia que para ele não havia história mais certa no mundo”.
Miguel de Cervantes
94
O chamado trovador
Ou poeta popular
Era semi-analfabeto
Porém sabia rimar,
Seus folhetos escrevia
E os sertanejos os lia
Por ser o seu linguajar.
[...]
1
Usamos a palavra em consonância com a acepção elaborada por Michel Foucault, de que os
discursos literários são dotados da função autor. Ver: FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa:
editorial Presença, 1994.
2
Dentre os trabalhos sobre leitura de folhetos, destacamos: ABREU, Márcia. Cultura letrada:
literatura e leitura. São Paulo: UNESP, 2006 e GALVÃO, Ana. Maria de Oliveira. Cordel: leitores e
ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
95
3
DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos: e outros episódios da história cultural francesa.
Rio de Janeiro: Graal, 1986, p. 227.
4
Sobre essa questão, ver: DARNTON,1986 e CHARTIER. Roger. Do palco à página: publicar teatro e
ler romances na época moderna (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.
5
Ver: CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 2. morar, cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996,
p. 335.
6
Ibid., p. 336.
7
Ibid., p.339.
96
8
Ver: BAJARD, Élie. Da escuta de textos à leitura. São Paulo: Cortez, 2007.
9
“Para Certeau escritura e leitura têm significação diferentes, posto que a escritura acumula, estoca,
resiste ao tempo pelo estabelecimento de um lugar e multiplica sua reprodução pelo expansionismo
da reprodução. A leitura não tem garantias contra o desgaste do tempo (a gente se esquece e
esquece), ela não conserva ou conserva mal a sua posse, e cada um dos lugares por onde ela passa
é repetição do paraíso perdido”. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1, artes de fazer.
Petrópolis/RJ: Vozes, 1994, p. 270.
10
A propósito dessa divisão, ver primeiro capítulo deste trabalho.
11
Para Alessandra El Far, a impressão e produção do livro em larga escala possibilitadas pelas
novas tecnologias fizeram do livro um objeto acessível e “a imagem do volume luxuosamente
decorado e reservado somente às elites abastadas e ao saber erudito perdeu gradualmente espaço
para as brochuras feitas a baixos custos, interessados também em fornecer aos leitores informação
rápida, entretenimento e diversão. EL FAR, Alessandra. O livro e a leitura no Brasil. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2006, p. 8.
97
No dia-a-dia do engenho,
toda a semana, durante,
cochichavam-me em segredo:
saiu um novo romance.
E da feira do domingo
me traziam conspirantes
para que os lesse e explicasse
um romance de barbante.
Sentados na roda morta
de um carro de boi, sem jante,
ouviam o folheto guenzo,
a seu leitor semelhante,
com as peripécias de espanto
preditas pelos feirantes.
Embora as coisas contadas
e todo o mirabolante,
em nada ou pouco variassem
nos crimes, no amor, nos lances,
e soassem como sabidas
de outros folhetos migrantes,
a tensão era tão densa,
sabia tão alarmante,
que o leitor que lia aquilo
como puro alto-falante,
e, sem querer imantara
todos ali, circunstantes,
receava que confundissem
o de perto com o distante,
o ali com o espaço mágico,
seu franzino com o gigante,
e que o acabassem tomando
pelo autor imaginante
ou tivesse que afrontar
as brabezas do brigante.
(e acabaria, não fossem
contar tudo...Casa-grande:
12
MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1997, p. 129.
98
13
MELO NETO, 1997, p. 129.
14
Para Roger Chartier, “a relação com o escrito não implica necessariamente uma leitura individual; a
leitura não implica necessariamente a posse e a convivência com o impresso não implica
necessariamente o livro”. Ver: CHARTIER, Roger. Leituras e leitores na França do Antigo Regime.
São Paulo: Editora UNESP, 2004, p. 100.
15
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros. Lisboa: Vega, 1997, p, 21.
16
Roger Chartier chama atenção para o fato de que nem sempre os livros foram impressos visando
um leitor solitário e silencioso. E que a leitura em voz alta pode ter uma função ritual: “Desde a
Antiguidade, ler em voz alta tem, basicamente, dois propósitos. De um lado, uma função pedagógica:
demonstrar que se é um bom leitor, lendo em voz alta, constitui um ritual de passagem para os jovens
que exibem, assim, seu domínio de retórica e do falar em público. Por outro lado, um propósito
literário: ler em voz alta é para um autor colocar um trabalho em circulação, ‘publicá-lo’. CHARTIER,
Roger. As Revoluções da Leitura no Ocidente. In: ABREU, Marta. Leitura, história e história da leitura.
99
Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP, 1999, p.
21-22.
17
CERTEAU,1994, p. 268.
18
Sobre o conceito, ver: id., Ibid.
19
CAMPOS, Renato Carneiro. Ideologia dos poetas populares do Nordeste. Recife, Instituto Joaquim
Nabuco de Pesquisas Sociais; Rio de Janeiro, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro; Fundação
Nacional de Arte, 1977, p. 12-13. (1ª edição 1959).
100
Roger Chartier sugeriu que “uma história dos modos de ler deve
identificar as disposições específicas que distinguem as comunidades de leitores e
as tradições de leitura”21. Quais seriam os modos de ler folhetos de cordel na
década de sessenta? Quais os efeitos estéticos dessa forma textual na leitura? Na
literatura de cordel a ilustração da capa, o título e a quantidade de páginas de um
folheto antecipam, para o leitor, uma síntese da história escrita. Estes três elementos
funcionam como instrumentos para uma leitura prévia, uma maneira de localizar o
leitor no universo da literatura de cordel, indicando o tipo de narrativa. As capas dos
folhetos também sugerem uma leitura plural, proporcionando um texto a ser lido para
aqueles que sabem ler e imagens a serem decifradas para aqueles que não sabem
ler.
Naquela década, a técnica tradicional de confeccionar os folhetos em
folhas de papel jornal, dobradas ao meio duas vezes, permaneceu sendo usada nas
pequenas tipografias de fundo de quintal. O número de folhas de papel dobrado
define a quantidade de páginas de cada brochura. Estas brochuras podem ser de
oito,dezesseis, vinte e quatro ou trinta e duas páginas. Eram os textos curtos, de oito
ou dezesseis páginas, os mais produzidos pelos poetas do período. A natureza do
enredo e o número de páginas caracterizam e dividem esses livrinhos em dois
grupos: os folhetos – têm apenas oito páginas e narram acontecimentos diversos – e
20
“a identificação dos efeitos estéticos e intelectuais dos significados produzidos pelas formas
textuais (quaisquer que sejam) é essencial para a compreensão, em toda sua historicidade, das
múltiplas formas de recepção e de apropriação dos textos, sejam eles literários ou não”. CHARTIER.
Roger. Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna (séculos XVI-XVIII). Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2002, p. 37.
21
CHARTIER, 1997, p. 14.
101
22
Leite Filho não concorda com essa divisão, argumentando que “o rumanço como é chamado pelo
povo do mato, que também nunca deixou de ser um folheto igual aos outros, é conhecido pela
natureza do enredo denominado ‘estória-de-amor’ e não pela quantidade de folhas”. LEITE FILHO,
Aleixo. Reflexões sobre verso popular, Caruaru/PE, 1978.
23
Chartier chama atenção para a noção de “cultura gráfica”, o que implica compreender as diferenças
entre as diversas formas de escrita e a pluralidade de usos, “convém lembrar que a produção, não
apenas de livros, mas dos próprios textos, é um processo que implica, além do gesto da escrita,
diversos momentos, técnicas e intervenções, como a dos copistas, dos livreiros editores, dos mestres
impressores, dos compositores e dos revisores. [...] O processo de publicação, seja lá qual for sua
modalidade, é sempre um processo coletivo que requer numerosos atores e não separa a
materialidade do texto da textualidade do livro”. CHARTIER, Roger. Inscrever e apagar: cultura
escrita e literatura, séculos XI-XVIII. São Paulo: Editora UNESP, 2007, p. 12-13.
24
SILVA, Olegário Fernandes da. Entrevista concedida à Maria do Rosário da Silva. Caruaru, 2001.
25
FLANKLIN, 2007, p. 27.
102
26
SOUZA, Liêdo Maranhão de. O Folheto popular: sua capa e seus ilustradores. Recife/PE:
Fundação Joaquim Nabuco, 1981, p. 27.
103
27
FLANKLIN, 2007, p. 30.
28
Ver: SUASSUNA, Ariano. O Movimento Armorial. Recife/PE: Editora da Universitária da UFPE,
1974, p. 07.
29
Ibid., p. 21-22.
30
As iluminogravuras criadas por Suassuna e usadas para ilustrar suas obras literárias possuem um
forte parentesco com as xilogravuras das capas dos folhetos. A pintura armorial é definida por
Suassuana a partir do “parentesco com o espírito mágico e poético do Romanceiro e das xilogravuras
populares do Nordeste; ausência de perspectiva, de profundidade ou relevo, ou então, perspectiva,
profundidade e relevo apenas indicados; uso predominante de cores puras, distribuídas em zonas
achatadas; desenho tosco e forte, quase sempre contornado, como herança da Pintura popular;
semelhança com os brasões, bandeiras e estandartes dos espetáculos populares nordestinos,
parentesco com o espírito da cerâmica e da tapeçaria.” Ver: Id. Ibid., p. 17.
104
31
Roger Chartier aponta que o aspecto material do livro está relacionado com as lutas de
representação, posto que “é no aspecto material do livro que se inscrevem [...] intenções
contrastadas: objeto nobre, cuidado, encadernado, preservado, de um lado, e objeto efêmero e
grosseiro de outro. Pela forma e pelo texto, o livro torna-se signo de distinção e portador de uma
identidade cultural. CHARTIER, 2004, p.129.
32
Em nota de rodapé, Renato Carneiro Campos explica que “devido a inflação os poetas populares
só [estariam] escrevendo folhetos de oito páginas. A impressão sai mais em conta e o folheto fica
mais barato, mais ao alcance da bolsa do povo”. CAMPOS, 1977, p.15.
105
numerada e na parte superior ele escreve seu nome de autor, sua marca. Em
seguida coloca o título e as três primeiras estrofes. Numeradas, as páginas
seguintes recebem quatro estrofes cada uma, com exceção da última, que só tem
três poemas. Visto que cada estrofe é composta por seis ou sete versos, o poeta
escrevia de 180 a 210 versos em um folheto desse tipo.
A observação dessas fronteiras implica afirmar que a literatura de
cordel não é algo simples e espontâneo, mas que os textos cordelianos têm
operações específicas e revelam o que Certeau chamou de uma arte de fazer,
visto que “as maneiras de fazer não designam somente atividades que uma teoria
tomaria como objetos. Essas teorias organizam também a sua construção”33. Para
escrever folhetos, é necessário bem mais que criatividade com as rimas, é preciso
reunir práticas plurais que envolvem, simultaneamente, a palavra escrita, a leitura
e os modos de escrever e imprimir os folhetos. Segundo Márcia Abreu, o texto
precisa de um roteiro, de uma unidade:
33
CERTEAU, 1994, p. 152.
34
ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de
Leitura do Brasil, 1999, p. 116.
35
Consideramos que o folheto enquanto texto se manifesta de três modos: gráfico, sonoro e virtual.
Segundo Élie Bajard, o texto escrito pode se manifestar como: “texto gráfico, a ser lido, aparece em
suporte de papel ou numa tela (do monitor ou do cinema), apreensível pelos olhos; texto sonoro: a
ser escutado, mina dos lábios do locutor ou de uma aparelhagem de som, apreensível pelos ouvidos;
texto virtual, liberado de seu suporte inacessível pelos cinco sentidos, armazenado em memórias – a
do computador ou do cérebro humano –, matriz de ambas as manifestações, gráfica e sonora.”
BAJARD, 2007, p. 29.
106
36
Para Márcia Abreu, a produção de folhetos situa-se entre a oralidade e a escrita, porque “a fixação
na forma impressa não eliminou a oralidade como referência para essas composições. Os poetas
populares nordestinos escrevem como se estivessem contando uma história em voz alta. O público,
mesmo quando a lê, prefigura um narrador oral, cuja voz se pode ouvir. Desta forma as exigências
pertinentes às composições orais permanecem, mesmo quando se trata de um texto escrito.
Portanto, pode-se entender a literatura de folhetos nordestina como mediadora entre o oral e o
escrito. ABREU, 1999, p. 118.
37
É usual entre os autores e leitores o termo pé ou linha para fazer referência ao verso. Um poema
de seis pés é o mesmo que um poema de seis versos. Já a estrofe é chamada de verso.
38
Octavio Paz acredita que “o poeta encanta a linguagem por meio do ritmo. Uma imagem suscita
outra. Assim a função predominante do ritmo distingue o poema de todas as outras formas literárias.
O poema é um conjunto de frases, uma ordem verbal, fundados no ritmo”. PAZ, 1982, p. 68.
39
Id. Ibid., p. 16.
107
40
O cantador deve “pegar a deixa”, ou seja, rimar o primeiro verso da sua estrofe com o último
cantado por seu companheiro.
41
SOARES,1969, p, 06.
42
Márcia Abreu explica que “para os ouvintes será mais fácil compreender e memorizar poemas em
que hajam recorrências e repetições. A participação do público é importante, pois a tarefa de
conservação cabe não só ao autor, mas a toda comunidade. Saber, por exemplo, que o segundo,
quarto e sexto versos terminarão com um mesmo som permite prever minimamente o que será dito e
auxilia a recordação de uma história já conhecida. A regularidade fornece marcas, ‘pistas’, sobre o
caminho que a composição seguirá, não só para quem a apresenta mas também para quem a ouve”.
ABREU, 1999, p.88.
43
BORGES, 2007.
108
44
Ver: CHARTIER, 2002.
45
“Estes índices de oralidade existentes nos textos não são representações de práticas orais, mas
sim instrumentos implícitos ou explícitos que destinavam os textos àqueles que os leriam em voz alta
ou os escutariam”. CHARTIER, 2002, p. 24.
46
BORGES, José Francisco. O Exemplo da Mulher que Vendeu o Cabelo e Visitou o Inferno.
Bezerros, 1967.
47
SOARES, 1969.
48
“Não há cores nem sons em si, desprovidos de significação: tocados pela mão do homem, mudam
de natureza e penetram no mundo das obras. E todas as obras desembocam na significação; aquilo
que o homem toca se tinge de intencionalidade: é um ir em direção a. O mundo do homem é o mundo
do sentido”. PAZ, 1982, p.23.
49
Para Ana Maria Galvão, “De modo geral, as capas, os títulos e o número de páginas dos poemas,
conjuntamente, já geram no leitor uma série de expectativas que o fazem antecipar alguns elementos
da história que será narrada e em que subgênero (romance, ‘de acontecido’, etc.) se insere no
universo do cordel”. GALVÃO, 2006, p. 66.
109
50
BORGES, 1967.
51
As estrofes obedecem ao esquema de rimas alternadas: ABCBDB.
110
52
Jerusa Pires Ferreira verificou que a literatura de cordel brasileira tem condições especiais de
recepção e de produção, porque “a sua complexa mecânica de criação está sempre relacionada com
um grupo que aceita ou sanciona, atenta para uma certa censura preventiva da comunidade, de certo
modo atinge-se o alcance de uma produção, em parte sob o comando. Apropria-se ou rejeita-se
matriz ou do repertório consagrado, consoante uma série de condições da vária ordem, intrínsecas ou
extrínsecas, impostas pelo grupo a que se destina, pela cosmovisão do narrador e pelos seus
próprios requisitos de poeta, em seu intuitivo e mágico ofício de poetar”. FERREIRA,1993, p.14.
53
BORGES, 2007.
54
BORGES, 1967, p. 01
55
Ibid., p. 02
111
59
BORGES, 1967.
60
BORGES, 1967, p. 07.
61
Para Jerusa Pires Ferreira, a utilização do elemento maravilhoso na narrativa dos folhetos “haveria
um compromisso com o imaginativo, onde tudo seria não só permitido mas consentido enquanto
acontecimento, e justificado como fuga de uma realidade, como que um estabelecimento de um país
de maravilhas, onde o prodígio seria o próprio acontecer”. FERREIRA, 1993, p.51.
113
Completamente assombrado
Sentido ouvir a voz
Da sua esposa a seu lado
62
BORGES, 1967, p, 08.
63
Trata-se dos folhetos que relatam acontecimentos sobrenaturais e façanhas envolvendo gigantes,
monstros, deuses, animais e outros seres.
64
FERREIRA, 1993, p.53.
65
SOARES, 1969.
66
Para Mark Dinneen “era essencial ter o folheto pronto o mais rápido possível para maximizar as
vendas enquanto o tema ocupasse a atenção do público”. DINNEEN,2007, p. 17.
114
69
SOARES,1969, p. 01.
116
O Vietnã do Norte
Também criou a idéia
Fazendo uma tentativa
Mas falhou sua odisséia
Porque no primeiro teste
Caiu no mar da Coréia70.
O texto criado por José Soares funcionou como uma versão original da
chegada do homem à lua, diferente dos textos veiculados por outros meios de
comunicação. Ele contou a notícia usando versos e rimas na tentativa de agradar
seu público leitor. Foram incluídas no enredo uma dimensão regional e uma
dimensão moral. A primeira pode ser percebida nas roupas dos astronautas que
receberam ornamentos parecidos com os adereços das vestimentas de vaqueiros
e cangaceiros. E a segunda dimensão foi evidenciada na preocupação do autor
em elogiar a viagem à lua como uma grande realização técnica e científica, mas
que não daria ao homem o direito de realizar qualquer façanha sem o
consentimento de Deus. Os poemas seguintes apresentam respectivamente as
dimensões regional e religiosa entremeadas na narrativa:
Os astronautas trajavam
Calça, culote e colete
Um guarda peito de aço
Desenhado um ramalhete
E todos tinham uma estrela
De prata no capacete
70
SOARES, 1969, p. 01-02.
71
Id., p. 03, 05.
117
Um astronauta pesava
Aqui cento e vinte quilos
Mas na balança da lua
Emagreceu como grilo
Porque só pesou dezoito
Mas conservou-se tranqüilo72.
[...]
72
SOARES, 1969, p. 06.
118
E a fortuna me entregue
E o zumbi de uma porca
Dê-me um beijo e me carregue73.
73
SOARES,1969, p. 07,08.
119
Imagem 5:
Olegário Fernandes vendendo folhetos na feira de Caruaru.
Foto: acervo do Museu do Cordel.
Crédito não identificado. Data provável: década de 1960.
74
Ver: GRILLO, Maria Ângela de Faria. A arte do povo: histórias na literatura de cordel. 2005. 256 f.
Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005; ABREU,1999 e
GALVÃO, 2006.
120
75
CAMPOS, 1977, p.09-10.
76
As Feiras teriam a mesma função social aplicada por Michel de Certeau ao mercado:
“Tradicionalmente o mercado é um importante ponto de referencia sociológico para a compreensão
das relações humanas no interior da prática do bairro. Nemhuna cidade, nenhum povoado pode
prenscindir dele. Ao mesmo tempo que é um lugar de comércio é um lugar de festa”. CERTEAU,
1996, p.159.
76
PAZ. 1982, p. 166.
77
“A recitação poética é uma festa: uma comunhão. E o que se reparte e recria nela é a imagem. O
poema se realiza na participação, que nada mais é que a recriação do instante original. Id., p. 141.
78
FERREIRA DILA. José. Entrevista concedida à Maria do Rosário da Silva. Caruaru, 2007.
121
79
Roger Chartier escreveu no capítulo sobre o livro O outro mundo ou os Estados e Impérios da Lua
de Cyrano de Bergerac, cujo tema é uma metáfora sobre o apagamento da voz e da escuta em
proveito da leitura silenciosa dos textos. Os livros falantes “não são compostos nem por cadernos
nem por folhas, não são escritos com letras do alfabeto e cabem inteiramente em caixas minúsculas
que têm o tamanho de um diamante ou de uma grande pérola. Graças a molas semelhantes às de
um relógio, esses livros miraculosos são sonoros, feitos para o ouvido e não para o olho”.
CHARTIER, 2007, p.163.
80
CERTEAU, 1996, p. 336.
81
PAZ, 1982, p. 166.
82
Para Octavio Paz, “toda escrita convoca um leitor. A do poema vindouro suscita a imagem de uma
cerimônia: jogo, recitação, paixão (nunca espetáculo). O poema será recriado coletivamente. Em
certos momentos e lugares a poesia pode ser vivida por todos: a arte da festa aguarda a
ressurreição”. Ibid., p. 343.
83
“Aquele que participa de uma cerimônia é como um ator que representa uma obra: está e não está
ao mesmo tempo no personagem”. Ibid., p. 154.
122
leitores, isto é, o conjunto das convenções e das referências repartidas pelo seu ou
os seus públicos”84.
84
CHARTIER,1997, p. 46.
85
BORGES, 2007.
86
CHARTIER,2004, p. 100-101.
123
dinheiro que não vale nada e o senhor leva pra casa, vai ler, vai se
divertir. [...] Eu vendi até 120 cordel (sic) numa lida só, eu vendi87.
87
BORGES, 2007.
88
CAMPOS, 1977, p.09.
89
FERREIRA, Josué Euzébio. Entrevista concedida à Maria do Rosário da Silva. 2007.
124
90
FERREIRA, 2007.
91
“A leitura dos folhetos nas “feiras” é considerada função importante. O matuto, geralmente
analfabeto, não sabe se a história “agrada” ou não, senão ouvindo-a. E ouvindo, caso lhe agrade,
compra o “romance” para ser lido por algum parente ou amigo. A leitura ou narrativa cantada chama a
atenção do público: é um meio muito usado de propaganda”. CAMPOS, 1977, p.15.
92
BARBALHO, 1974.
93
Nelson Barbalho fazia questão de usar uma linguagem picaresca, grafando as palavras de forma
muito próxima da pronúncia popular.
94
Ver: CHARTIER, 1999.
125
95
BARBALHO,1974, p. 203.
96
CHARTIER, 1997, p. 14.
97
BORGES, 2007.
126
98
Os poetas eram atores e a feira era o palco onde as obras eram encenadas e transmitidas.
99
FERREIRA, 2007.
100
CHARTIER, 1997, p. 20.
127
Para atrair o público que passa pelas feiras, o vendedor de folhetos faz
uso de estratégias muito peculiares. É de costume fazer uma leitura oral (ou uma
declamação de memória) do folheto; essa declamação é interrompida em um
momento de clímax da narrativa no qual o leitor/vendedor anuncia: quem quiser
saber o final da história, compre o folheto... Ao cantar o folheto, o autor/vendedor
pode acompanhar e avaliar as reações dos ouvintes durante a narrativa, o que
permite saber o gosto dos consumidores. Permite também saber se ficaram
emocionados, acharam graça ou demonstraram enfado. É desse modo que o leitor
participa da composição.
Durante uma declamação de folheto, os ouvintes são também
participantes. Eles interrompem, fazem comentários e críticas. Tanto autores quanto
leitores e ouvintes conhecem as regras básicas da composição poética dos folhetos
chamadas de métrica, rima e oração. Se o poeta não leva em consideração uma
dessas regras, é rapidamente criticado pelos ouvintes, pois não as obedecer implica
desmantelamento da sonoridade esperada a cada verso. Percebe-se que não é um
público ignorante que aceita qualquer tipo de versificação. Nem a composição dos
folhetos é tão simples como se pensa, geralmente. Para Josué Euzébio, não era o
fato de ser ou não ser alfabetizado que influenciava na hora de comprar o folheto,
mas o modo como era lido pelo poeta na feira:
101
BORGES, 2007.
128
[...] entre umas coisas que pudesse trazer dali interpretações dúbias
sobre determinada situação, isso a população, principalmente os
homens, adoravam quando lia essas histórias porque fazia,
imaginava. Por isso que eu fiz a relação anterior com a questão da
história em quadrinho, porque, quando se lê um cordel, eu lia o
cordel, eu imaginava as imagens, não é? Que eram, o romance
principalmente, como era a casa grande, como era [...] a beleza da
mocinha que era filha do coronel, não é? Ou filha de um homem, de
um vaqueiro simples103.
Como a nossa janta era muito cedo e não existia luz, existia o
candeeiro, normalmente, a ceia era bem cedo e ainda se pegava
uma claridade do finalzinho da tarde e na calçada ou ali, no
102
FERREIRA, 2007.
103
Id. Ibid.
129
104
FERREIRA, 2007.
105
CERTEAU, 1996, p.336.
130
FOLHETO DE ENCERRAMENTO
1
PAZ, Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 15-16.
131
4
VEYNE, Paul. Tudo é histórico, portanto a história não existe. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da.
(Org.) Teoria da História. São Paulo: Cultriz, [s.d.] p.47.
5
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. História: a arte de inventar o passado.
Bauru/SP: Edusc, 2007, p.61.
133
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8p. (FUNDAJ).
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Bezerros, s.d. 8p. (acervo particular).
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(acervo particular).
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(FUNDAJ).
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(acervo particular).
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135
______. Sinais do fim do mundo e as três pedras de carvão. s.d. 8p. (FUNDAJ).
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136
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