Oracoes Completivas LPSS

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ORAÇÕES SUBORDINADAS COMPLETIVAS

Rita Veloso

Alguns verbos, nomes e adjetivos selecionam orações como argumentos, ao


contrário de outros que só selecionam SP ou SN (ou de outros ainda que não fazem
qualquer seleção). Como tal, essa propriedade tem de ser descrita no Léxico (nas Entradas
Lexicais), para que se faça a distinção. Comparem-se1:

O Pedro confirmou que estava cansado.


* O Pedro consolidou que estava cansado.
O facto de a Ana sorrir a toda a gente torna-a simpática.
* O dado de a Ana sorrir a toda a gente torna-a simpática.
A Maria está desejosa de que nós a visitemos.
* A Maria está corajosa de que nós a visitemos.

Estas orações distinguem-se das orações relativas e das adverbiais, na medida em


que são sempre argumentais, isto é, do ponto de vista sintático terão sempre a função
sintática de ou sujeito ou complemento (direto ou oblíquo) de um predicador. Como tal,
do ponto de vista configuracional (a sua posição na árvore), ou são filhas de F ou são
irmãs de um núcleo (o verbo, nome ou adjetivo que as seleciona).
As orações completivas classificam-se de acordo com a categoria sintática do
elemento que as seleciona, a função sintática que desempenham na frase, a finitude e a
expressão (declarativa ou interrogativa).

a) Classificação de acordo com o elemento que seleciona a oração:


– de verbo
A Joana disse que ia à rua.
– de nome
A notícia de que os mantimentos tinham chegado espalhou-se depressa
– de adjetivo.
Os agricultores capazes de enfrentar a concorrência estrangeira são
poucos.

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Nos exemplos, a oração subordinada completiva encontra-se em negro e o elemento que a seleciona,
em itálico.
Orações Subordinadas Completivas Rita Veloso
Língua Portuguesa: Sintaxe e Semântica 2014/2015

b) Classificação de acordo com a função sintática desempenhada


– com função de sujeito
Que esteja a chover preocupa a Maria.
Estar a chover preocupa a Maria.
(Isso preocupa a Maria)
– Com função de complemento
Complemento Direto
A Maria quer que vás ao cinema.
A Maria quer ir ao cinema.
(A Maria quer isso)
Complemento Oblíquo2
A Maria certificou-se (de) que a encomenda chegaria a horas.
A Maria certificou-se de a encomenda poder chegar a horas.
(A Maria certificou-se disso)
A Maria gosta (de) que lhe deem chocolates.
A Maria gosta de dar chocolates.
(A Maria gosta disso)

Na tabela anterior, os exemplos contêm apenas orações subordinadas completivas


de verbo. De seguida, exemplificam-se casos de orações completivas de nome e de
adjetivo, com função de sujeito e de complemento oblíquo.

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Note-se que, apesar de, na maioria dos casos, a preposição de poder «cair» nas
completivas finitas, quando há pronominalização surge o pronome com a forma
oblíqua disso.
(Note-se também que este tipo de orações não surge com a função sintática de
Complemento Indireto. Se aparecer uma oração que aparenta ter esta função, ela será
uma oração relativa, sem antecedente explícito: «Dei o chocolate a quem se portou
melhor»)

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Orações Subordinadas Completivas Rita Veloso
Língua Portuguesa: Sintaxe e Semântica 2014/2015

– Orações completivas de nome e de adjetivo, com função de sujeito

Nestes casos, a identificação é mais difícil e a classificação, complexa. Do ponto


de vista semântico, estas orações completivas são argumentos de um nome ou de um
adjetivo (o qual tem a função sintática de predicativo do sujeito). Do ponto de vista
sintático, desempenham a função de sujeito da frase (e não do nome ou do adjetivo) e
ocorrem em construções com verbos copulativos do tipo de ser.

Que esse filme tenha ganho o festival é uma surpresa.


Esse fime ter ganhado o festival é uma surpresa.
Que esse filme tenha ganho o festival é surpreendente.
Esse fime ter ganhado o festival é surpreendente.

Estas orações completivas com função de sujeito, sobretudo quando são


argumentos de um nome ou de um adjetivo, mas também quando são argumentos de um
verbo, têm tendência a surgir em posição final:

É uma surpresa que esse filme tenha ganho o festival.


É uma surpresa esse fime ter ganhado o festival.
É surpreendente que esse filme tenha ganho o festival.
É surpreendente esse fime ter ganhado o festival.

– Orações completivas de nome e de adjetivo, com função de complemento


oblíquo

Eles fizeram-lhe a surpresa de preparar o jantar.


A notícia de que os mantimentos tinham chegado espalhou-se depressa.
Ela está ansiosa por que os resultados da prova sejam divulgados.
Os agricultores capazes de enfrentar a concorrência estrangeira são poucos.

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Orações Subordinadas Completivas Rita Veloso
Língua Portuguesa: Sintaxe e Semântica 2014/2015

c) Classificação quanto à finitude e quanto à expressão3


Por fim, podemos classificar as orações completivas quanto à finitude – finitas
ou não finitas – e quanto à expressão – declarativas ou interrogativas. Uma vez
que esta última distinção é feita no documento sobre orações interrogativas, não se
considera necessário voltar a referi-la detalhadamente.

– Nota acerca das semelhanças e diferenças entre orações subordinadas


completivas de nome, com função de complemento oblíquo, e orações relativas de
nome

Outro aspeto que é importante referir prende-se com a distinção entre orações
completivas de nome e orações relativas. Como já se viu, nas orações relativas, o que é
pronominal, por isso tem sempre associadas uma função sintática e conteúdo semântico
dentro da oração relativa. Nas orações completivas, o que é uma mera conjunção, com um
valor puramente gramatical (equiparável ao das preposições), isto é, não tem qualquer
função sintática ou semântica associada, dentro da oração completiva.
A ideia de que vamos às compras agrada-me.
A ideia de que mais gostaste era boa.
No primeiro caso, a preposição de mostra que toda a frase tem a função de
complemento oblíquo e que não está associado nem sintática nem semanticamente a uma
posição dentro da oração, é a conjunção integrante da oração, que é uma completiva. No
segundo caso, a preposição de está associada ao complemento oblíquo do verbo gostar (e
não a um complemento de ideia. Nesta frase ideia não tem complemento). A função de
complemento oblíquo de gostar é desempenhada pelo constituinte relativo de que, em que
o que é pronominal, ou seja, de que está sintática e semanticamente associado a uma
posição dentro da oração, que é uma oração relativa.

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Não se preocupem quanto a estes dois parâmetros de classificação, que não foram trabalhados em
aula.

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