Resumo Do Capítulo 1 (A Experiência Filosófica)

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Resumo do Capítulo 1 (A Experiência Filosófica)

As questões filosóficas fazem parte do nosso cotidiano. Qualquer decisão que tomamos se baseia
sempre em reflexões que podem ser de natureza filosófica. Por exemplo, existem critérios bem
diferentes para fundamentar nossas escolhas, como votar em um candidato, trocar de emprego,
praticar algum esporte ou ir ao teatro durante o tempo livre. Essas escolhas pressupõem valores
que nos orientam, ainda quando não temos muita clareza a respeito deles. Ora, quando paramos
para refletir sobre o que é melhor para nossa vida, estamos fazendo um exercício filosófico.

Do mesmo modo, quantas vezes você já se perguntou sobre conceitos como amor, amizade,
fidelidade, solidão e morte? Certamente, já discutiu sobre esses assuntos com seus amigos e
observou que nem sempre os pontos de vista coincidem.

A disposição para o filosofar decorre do fato de sermos pessoas racionais e sensíveis, capazes de
dar sentido às coisas. Chamamos de filosofia de vida a esse filosofar espontâneo.

A filosofia de vida é, na verdade, uma “pré-filosofia”, apenas uma disposição para o filosofar, que
pode cumprir-se ou não. Já a filosofia do especialista Frank & Ern t (2003), tirinha de Bob Thaves.
Luann (2001), tirinha de Gre Evans. ocupa-se com o rigor do conceito, o que pressupõe intimidade
com a história da filosofia. De fato, desde a Antiguidade, os filósofos são conhecidos por, diante
do saber cotidiano, levantarem problemas questionarem o que parece óbvio e criarem conceitos
para compreender o que os surpreende.

Os filósofos estão sempre questionando o mundo e a si mesmos, pois não aceitam certezas
absolutas e soluções rápidas. Por isso, delimitam os problemas que os intrigam e buscam o sentido
desses pensamentos e ações.

Talvez você esteja se perguntando: como então definir o que é filosofia? O filósofo alemão
Edmund Husserl diz saber o que é filosofia, ao mesmo tempo que assume desconhecê-la. E
completa afirmando que apenas os pensadores secundários estão contentes com suas
definições.Ou seja, explicitar o que é filosofia já é, em si, uma questão filosófica. Portanto,
mesmo quando os pensadores se arriscam a darrespostas, sabem que são sempre imprecisas e
provisórias.

A estranha afirmação de que a filosofia não é um saber significa que ela não constitui uma
doutrina, no sentido de uma teoria ou um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez
por todas. Ao contrário, o filosofar é uma atitude que pressupõe constante disponibilidade para a
indagação.

Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é admirar-se, ser capaz de se
surpreender com o óbvio e questionar as verdades dadas. Essa é a condição para problematizar, o
que caracteriza a filosofia como busca da verdade, e não como sua posse.

Nos seus primórdios, o que chamamos de ciência grega fazia parte do corpo da filosofia. O sábio
era aquele que refletia sobre todos os setores da indagação humana. Ao se debruçar sobre as
questões da natureza – a physis, para os gregos –, o fazia do ponto de vista filosófico.

Apenas no século XVII o método das ciências experimentais, iniciado por Galileu Galilei,
possibilitou a ruptura entre a filosofia e a ciência. Lentamente constituíram-se as chamadas
ciências particulares (física, astronomia, química, biologia) e, há menos tempo, as ciências
humanas (psicologia, sociologia, economia), entre outras.
Surge daí a questão: o que restou à filosofia se ela, ao longo dos anos, foi esvaziada de seus
conteúdos? Na verdade, a filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas
ciências. Enquanto as ciências se especializam e observam “recortes” da realidade, a filosofia
jamais renuncia a analisar seu objeto do ponto de vista da totalidade. Isso porque é uma visão de
conjunto, em que o problema filosófico nunca é examinado parcial e isoladamente, mas sempre
conforme a relação estabelecida com o contexto em que se encontra inserido, ou seja, a filosofia
se apresenta como reflexão crítica e problematização do saber e do agir.

Na conhecida citação de Kant, destacamos duas expressões: “só é possível aprender a filosofar” e
“certas tentativas filosóficas existentes”. Com elas o filósofo destaca que aprender filosofia só
tem sentido pelo esforço pessoal de “exercitar o talento da razão”, mas que esse exercício não se
separa da referência às conquistas anteriores do pensamento filosófico.

Vivemos num mundo que valoriza as aplicações imediatistas do conhecimento. O senso comum
aplaude a pesquisa científica que visa à cura do câncer ou da aids; a matemática no ensino médio
seria importante pela exigência do vestibular; a formação técnica do advogado, do engenheiro, do
fisioterapeuta é reconhecida por preparar para o exercício dessas profissões. Diante disso, não é
raro alguém indagar: para que estudar filosofia se não vou aplicá-la em minha vida profissional?

De acordo com essa linha de pensamento, a filosofia seria “inútil”, já que não serve para
qualquer alteração imediata de ordem prática. No entanto, ela é fundamental para compreender
o ser humano e o mundo. Por meio daquele “olhar diferente”, a filosofia busca outra dimensão da
realidade além das necessidades imediatas nas quais o indivíduo encontra-se mergulhado.

Existem inúmeras definições de filosofia, que muitas vezes se contrapõem, por isso a
perplexidade que, vez ou outra, atinge o filósofo ao rever suas próprias definições. Isso se deve ao
núcleo problematizador do filosofar. Assim, responder à pergunta “O que é filosofia?” já é uma
questão filosófica das mais complexas.

Partimos dessas advertências para dizer que qualquer definição “delimita”, no sentido de
estreitar um significado muito mais amplo. O conceito de reflexão, por exemplo, não é exclusivo
da filosofia. O que, portanto, distingue a reflexão filosófica das demais?

Na tentativa de “delimitar”, pelo menos provisoriamente, a proposta do filósofo brasileiro


Dermeval Saviani*, conceitua a filosofia como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre
os problemas apresentados pela realidade.

Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era um homem feio, mas quando falava exercia
grande fascínio sobre seus interlocutores. Procurado pelos jovens, passava horas discutindo em
praça pública, a ágora de Atenas. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia
perguntas aos que julgavam entender determinado assunto: “O que é coragem?”; “O que é
beleza?”; “O que é justiça?”; “O que é virtude?”.

O interessante no método socrático é que este nem sempre leva a uma conclusão efetiva, mas
ainda assim contribui para que cada interlocutor abandone sua doxa, um conhecimento impreciso
e sem fundamento, e alcance o conhecimento verdadeiro.

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