Eliete Andrade - TCC Versão Final
Eliete Andrade - TCC Versão Final
Eliete Andrade - TCC Versão Final
TERESINA
2019
ELIETE DE SOUSA ANDRADE
TERESINA
2019
ELIETE DE SOUSA ANDRADE
Aprovado no dia:____/____/______
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Profa. Dra. Olívia Perez
Presidente da Banca – Orientadora
Universidade Federal do Piauí
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Raimundo Santos Batista Júnior
(Membro Interno à Instituição)
___________________________________________________________________________
Profa. Dra. Rute Irene Cláudio Crispim
(Membro Externo a Instituição)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todas as mulheres Cristãs que sofreram ou sofrem de algum tipo de
Violência.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus Pais, José Nunes de Andrade e Maria Elizete de Sousa Andrade
que me proporcionou a oportunidade de executar minha vida e Graduação. Aos meus Amores
da minha vida, Joara Andrade e Jussara Andrade, como vocês são especiais. Vocês me
ajudaram muitas vezes nos momentos dificeis acadêmicos, superando o limite da distância,
Amo muito vocês. A Deus por todas as ofertas realizadas em nossas vidas, pois sem o
Senhor, tudo teria sido mais difícil. Meu agradecimento à minha orientadora Olívia Perez,
pela dedicação, paciência e orientação que me ajudou na realização desse trabalho. A todos os
Professores que compoem o Curso de Ciência Política da UFPI. Agradeço a Universidade
Federal do Piauí que para mim, é um orgulho ser formanda dessa instituição de Ensino
Federal.
O meu muito Obrigada, aos meus amigos que investiram em mim, acreditaram e
sonharam com esse dia. Hoje, mesmo muitos distantes, permanecem bem perto do meu
coração. Sem a motivação de todos e a contribuição de muitos, nem consigo imaginar como
teria sido. A palavra de Deus diz em Mateus 20:1-16: Jesus afirma que qualquer operário que
aceita o convite para o trabalho na vinha, não importa o quão tarde do dia, receberá uma
recompensa igual com aqueles que foram fiéis por mais tempo. É com base nessa parábola
que agradeço a Nairaliny Cruz pela pela oportunidade de me ensinar o valor de uma amizade
saudável. E agradeço ao Amor que surgiu em meio ao companheirismo, amizade, palavras de
conforto, as buscas na universidade, obrigada Mauro Sergio Silva Veras, por me proporcionar
todos os cuidados que precisei nessa tarefa que não é fácil, e nem poderia ser, pois a emoção
de chegar ao fim e dizer “ Eu terminei, Eu consegui”, não tem preço.
Enfim, Meu Muito Obrigada a todos!!!
“O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens
que tem à sua volta”.
Maquiavel
RESUMO
Tendo em vista que a pesquisa sobre feminismo no meio evangélico possui poucos trabalhos, a
pesquisa se baseia no Feminismo e Protestantismo, a fim de identificar o que pensam as líderes
evangélicas pentecostais sobre o feminismo. Para tanto é necessário analisar quais as
implicações do feminismo para as mulheres evangélicas, e se há influência do feminismo no meio
evangélico. Realiza-se, então uma pesquisa por meio de um estudo de caso do protestantismo. O
material foi coletado do Youtube e de matérias de entrevistas realizadas em sites de notícias,
tais como: Uol, blog e acervo de ministrações de congressos cristãos. Nos resultados da
pesquisa constatou-se que as líderes evangélicas não veem com bons olhos o movimento
feminista para mulheres cristãs, porque divergem dos ensinos bíblicos as quais elas devem
seguir. Também percebemos que mulheres cristãs buscam o feminismo como forma de
refúgio e apoio, assim como, a busca por igualdade entre homens e mulheres cristãs, o que
impõe a constatação de que em parte, as líderes evangélicas pentecostais associam o
feminismo radical como única forma do movimento feminista, enquanto as mulheres que já
fizeram parte de movimentos feministas antes de se tornarem cristãs, conseguem ver o
feminismo em sua essência e incluí-lo de forma saudável no meio cristão.
Andrade, Eliete. What do evangelical leaders think about feminism? A case study on the
evangelical leaders of the Pentecostal churches in Brazil. 2019. 58 f. Course Completion
Work - (Bachelor of Political Science). Federal University of Piaui. Teresina, 2019.
Considering that the research on feminism in the evangelical environment has few works, the
research is based on Feminism and Protestantism, in order to identify what the Pentecostal
evangelical leaders think about feminism. To do so, it is necessary to analyze the implications
of feminism for evangelical women, and if there is feminism's influence in the evangelical
environment. A survey is then conducted through a case study of the Protestantism section.
The material was collected from Youtube and from interview materials conducted on news
sites. The results of the survey found that evangelical leaders do not welcome the feminist
movement for Christian women because they differ from the biblical teachings they must
follow. We also perceive that Christian women seek feminism as a form of refuge and
support, as well as the search for equality between Christian men and women, which implies
that in part the Pentecostal evangelical leaders associate radical feminism as the only form of
feminist movement, while women who have already been part of feminist movements before
they become Christians, they can see feminism in its essence and include it in a healthy way
in the Christian milieu.
1. INTRODUÇÃO
contribuição do pensamento feminista entre as líderes pentecostais para que haja um maior
número de papeis de lideranças exercidas por mulheres.
A hipótese levantada é que líderes evangélicas das igrejas pentecostais no Brasil se
inspiraram no movimento feminista para lutar pela igualdade nos papeis de liderança perante
a sociedade e nas comunidades cristãs as quais fazem parte, podendo assim exercer seus
ministérios, seja de ordem oficial (no caso dos cargos de liderança) ou espiritual, abrangendo
assim, seu crescimento e reconhecimento de seu papel em nível nacional e internacional.
Por conseguinte, o objetivo geral deste estudo foi identificar o que pensam as líderes
evangélicas sobre o feminismo. Os objetivos específicos foram: Analisar utilizando a pesquisa
bibliográfica, quais as implicações do feminismo para as mulheres na atualidade e conhecer o
Movimento feminista em seu contexto histórico. Em relação ao tipo de pesquisa utilizado
neste trabalho, inicialmente realizamos uma pesquisa bibliográfica, visto que, o material
utilizado como base nas citações, foram materiais já publicados, como livros, dissertações,
artigos, teses, vídeos do Youtube e entrevistas cedidas a site de notícias (GIL, 2008).
Foram analisados dois vídeos e duas entrevistas. A utilização da análise do
pensamento dessas líderes dá-se uma perspectiva ampla do pensamento geral das mulheres
que as seguem, isso porque, sendo os ministérios nacionais, não existe uma denominação as
quais elas pertencem. Quanto à abordagem do objeto, esta pesquisa será de abordagem
qualitativa, na qual, segundo Beuren (2008, p. 92), “concebem-se análises mais profundas em
relação ao fenômeno que está sendo estudado”.
No que se refere à estrutura, a pesquisa está dividida em introdução, três capítulos,
análise das entrevistas e considerações finais. O primeiro capítulo refere-se ao feminismo no
Brasil, aborda-se o surgimento histórico do feminismo, os principais conceitos sobre
feminismo segundo diversos autores. Posteriormente há o segundo capítulo, o qual abordará
sobre pentecostalismo e o papel das mulheres nas igrejas do Brasil. Segue a análise das líderes
evangélicas sobre o feminismo. Por fim, as considerações finais e as referências bibliográficas
que fundamentaram a base teórica da presente pesquisa.
11
2. FEMINISMO E PENTECOSTAIS
A mulher sempre foi classificada, desde os primórdios, pelas óticas biológica e social,
sendo estas determinantes para a compreensão da desigualdade de gênero, cuja preconização
se detém baseada no discurso que se reproduz na valorização de um sexo sobre o outro
(DAMASCO, 2009).
12
Segundo Pinto (2009), a partir das últimas décadas do século XIX na Inglaterra, no
qual mulheres se revoltaram contra sua condição social e organizaram-se para lutar por seus
direitos, sendo o primeiro deles o direito ao voto, conquistado pelo movimento das sufragistas
em 1897. As sufragistas tornaram-se conhecidas em Londres pelos diversos movimentos e
manifestações sociais em defesa dos direitos das mulheres, principalmente das mulheres da
elite e brancas, não era um movimento para todas as mulheres. Além da luta pelo direito ao
voto as sufragistas denunciavam a exclusão das mulheres na vida acadêmica e na esfera
publica. É nesse período que Simone de Beauvoir escreveu o livro o segundo sexo, sendo
este, um marco para se pensar as questões femininas (PINTO, 2009).
No século XX, com o advento da Revolução Industrial o movimento feminista ganha
um novo olhar, e esse período são conhecidos como a segunda fase do Movimento Feminista.
Nesse momento as reivindicações estão voltadas ao campo da cidadania, igualdade,
emancipação e gênero. É nessa fase que o Movimento Feminista ganha visibilidade
acadêmica e várias produções literárias, passando a buscar novas conquistas visualizando
novos horizontes (PINTO, 2009). Também é nesse período que se compreende a ideia de
gênero como uma construção cultural, assim, legitimando os ideais feministas na crença de
que a dominação do masculino é consequência de uma construção cultural, portanto, através
de estudos com o tempo teríamos o fim da dominação masculina (LEVATTI, 2011).
Nesse cenário, outros direitos ganham destaque: o planejamento familiar, o direito ao
uso dos contraceptivos, o cuidado com os filhos através das creches e luta contra a violência
contra mulher (SOUZA; BALDWIN; ROSA, 2000).
Para Pinto,
O feminismo aparece como um movimento libertário, que não quer só
espaço para a mulher – no trabalho, na vida pública, na educação, mas que
luta, sim, por uma nova forma de relacionamento entre homens e mulheres,
em que esta última tenha liberdade e autonomia para decidir sobre sua vida e
seu corpo (PINTO, 2009, p.16).
Foi em 1949 que Simone de Beauvoir publicou a obra O Segundo Sexo, na qual a
autora aborda o início da opressão feminina e analisa o desenvolvimento psicológico da
mulher bem como as condições sociais que interferem em seu comportamento. No ano de
1963, Betty Friedan lança a mística feminina, no qual retoma as ideias de Beauvoir e relata a
opressão contra a mulher na sociedade industrial. É a partir dessas novas ideias que o
feminismo se expande pelo mundo e se inicia um período de movimentos sociais feministas
(ALVES & ALVES, 2013).
13
feminilidade ao papel de mãe e esposa, e assim define o Tal “problema sem nome”. Em 1966,
foi fundada em Washington uma conferência nacional onde se constitui a organização
nacional de mulheres conhecida como NOW - National Organization for Women, sendo à
frente da organização Betty Friedan, a qual já se intitulava feminista (DUARTE, 2006).
Em 1969, Betty ajudou a fundar a Associação Nacional para a revogação das Leis do
Aborto, hoje conhecida como Naral América Pró-Escolha (NARAL Pro-Choice America).
Em 1971, com Gloria Steinem e Bella Abzug, fundou a Organização Política de Mulheres.
Por esse tempo, Mística feminina era usada como verdadeira Bíblia pelo movimento de
mulheres americanas. Como porta-voz do Movimento de Libertação Feminina, Betty Friedan
endossa sem reservas que não é possível modificar o atual panorama de violência no mundo
sem o concurso da mulher, que além de constituir metade do gênero humano, forma ou
deforma a outra metade. Não se trata de opor-se ao homem, mas sim de que ambos, homens e
mulheres, tomem consciência de sua alienação, de sua manipulação pela sociedade de
consumo que os impedem de crescerem e se realizarem juntos como seres humanos ativos,
felizes, úteis. Trata-se de aliar energias na tarefa de criar um mundo melhor. Trata-se de
possibilitar entre eles um vínculo realmente maduro e harmonioso, em que nenhum domina o
outro ou usurpa algo do outro. A militância feminista de Betty Friedan a marcou para a vida
inteira e influenciou os estudos sobre gênero e mulheres nas universidades americanas. Outros
escritos importantes vieram, mas nenhum alcançou a mesma repercussão de Mística feminina,
conquistando à condição de clássico (DUARTE, 2006, p.290).
gerações anteriores, como o papel e a função da mulher na sociedade. A segunda onda foi
responsável pela conquista dos direitos das mulheres, sendo assim, as feministas da terceira
onda se focaram na mudança de estereótipos, nos retratos da mídia e na linguagem usada para
definir as mulheres. O objetivo era conquistar o reconhecimento das diversas identidades
femininas e deixar para trás a ideologia do “feminismo vítima”, aplicada ao feminismo da
segunda onda (PINTO, 2010).
Em 1994, foi realizada a convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher. Essa convenção fazia parte da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos. O artigo 1º da Convenção define a violência contra a mulher como
“qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como privado”. O artigo 6º prevê
que o direito da mulher a uma vida livre de violência inclui, dentre outros, o direito de ser
livre de toda forma de discriminação e o direito de ser valorizada e educada livre de padrões
estereotipados de comportamento e práticas sociais e culturais baseadas em conceitos de
inferioridade ou subordinação (PINTO, 2003).
A terceira Onda do feminismo nestes últimos anos tem impulsionado uma população
mais jovem e questionadora dos paradigmas. Essa movimentação acontece em paralelo com a
nova forma tecnológica de se comunicar em rede, que também proporciona facilidade para se
buscar informações. Dentre os desafios que tem por diante as reivindicações da primeira e
segunda onda persistindo no movimento atual, podemos relacionar à estrutura patriarcal e
capitalista, que organiza e naturaliza as relações entre opressor e oprimido. Mesmo no
feminismo brasileiro motivado por bandeiras de cunho mais radical, as pautas liberais, com
foco em mudanças comportamentais e individuais muitas vezes acabam se sobrepondo. Isso
porque o próprio modelo de convivência das relações norteadas por este sistema dita normas
cada vez mais neoliberais e particularizadas (NASCIMENTO, 2009).
Contudo, não podemos negar a força desta onda que se propaga de uma forma ou de
outra com a politização das mulheres jovens, que levantam de forma assídua o debate. Mesmo
sem entender os termos conceituais, essas mulheres são feministas em sua vivência e
experiência militante. As ideias de promover temáticas organizadas em coletivos, uma
maneira de se fazer o debate o mais horizontal e participativo possível, permanece nos
alicerces de suas organizações, eis o reflexo do feminismo da década de 1970. Naquela
segunda onda, as mulheres se reuniam em grupos de reflexão, como hoje, para discutir os
papéis atribuídos a elas e as dificuldades que enfrentavam por conta do domínio masculino.
Por fim, esta terceira onda não deve ser entendida como uma ocasião homogênea e dada como
17
2.3.Feminismo Liberal
O objetivo deste ensaio é expor os fundamentos de uma opinião que sustento desde
que comecei a formular as primeiras opiniões sobre a mulher no meio social, e que, ao invés
de ter-se enfraquecido ou modificado, vem se tornando mais forte com o desenvolvimento da
reflexão e com a vivência. O princípio que regula as relações sociais entre os dois sexos: a
subordinação legal de um sexo ao outro é errado e que hoje é um dos principais obstáculos ao
progresso humano, e que deveria ser substituído por um princípio de perfeita igualdade onde
não há poder, privilégio ou inferioridade nem de um lado nem de outro (MILL, 1970).
O Feminismo liberal possui sua concepção nas relações de gênero, onde sua teoria se
baseia na justiça e no liberalismo igualitário. A teoria liberal será abordada devido a sociedade
contemporânea começar a buscar os mecanismo de justiça e igualdade social para mudança do
status quo. Este item trata da concepção do autor Jonh Stuart Mill sobre a liberdade do
indivíduo e a visão sobre a sujeição da mulher, a qual Mill defende em sua época a libertação
da mulher dessa sujeição aos homens. Por suas defesas chegou a ser considerado feminista.
Outro autor a que utilizo sua concepção e discordância do feminismo Liberal comparando
com a obra de Jonh Rawls e Stuart Mill é a feminista Susan Okin. Assim, analiso a relação
entre família e justiça a partir do diálogo entre esses três filósofos políticos. Esses diálogos
nos proporcionam perceber as abordagens específicas e as críticas entre ambos. Com relação a
Okin sobre a obra de Rawls, a crítica e a apreciação positiva de conceitos importantes da
teoria da justiça são centrais para sua posição sobre a conexão entre família e justiça.
Os estudos feministas concentraram-se em denunciar as desigualdades de gênero que
atingiam a maior parte das mulheres nas mais variadas sociedades. Feministas em geral, mas
principalmente, o feminismo de matriz liberal, passou a lutar pelos direitos legais e políticos
das mulheres e pela justiça dos arranjos político-institucionais. O movimento pelo sufrágio
universal feminino enfatizava a injustiça inerente à negação do direito de voto às mulheres e
18
o âmbito doméstico por Mill. No entanto, o autor sustenta que mesmo após as reformas legais
que equiparassem maridos e esposas, o casamento deveria continuar representando uma
carreira para a mulher (MILL, 1970). Porém, Mill deixa intacta a divisão de trabalho na esfera
doméstica e revela uma concepção de igualdade de gênero formal à qual acredita na eficiência
dos direitos legais para garantir o acesso feminino à esfera pública. A divisão do trabalho
doméstico não é objeto de crítica de Mill, ao contrário, o autor afirma que a divisão
tradicional é um acordo que convém tanto para homens quanto para as mulheres, sugerindo a
justificação dessa repartição de tarefas na natureza (CYFER, 2010, p.138).
A relação entre o privado e o natural está na base da interconexão entre liberalismo e
patriarcalismo, e aparece mesmo em liberais considerados feministas, como Stuart Mill. O
público e o privado também podem ser denominados espaço da cultura e da natureza, mas,
qualquer que seja a denominação utilizada, o espaço masculino será o primeiro, e o feminino,
o segundo. A identificação do feminino com a natureza teria três consequências: A primeira
seria a desvalorização das atividades consideradas femininas, isso ocorre porque herdamos
dos gregos o valor da superação da existência natural (PATEMAN, 1989). A segunda
consequência seria considerar essa divisão inquestionável e imutável. Se for a natureza que
distribui as tarefas referentes à criação dos filhos, por exemplo, os seres humanos não teriam
muito a fazer a não ser adaptar-se à vida em sociedade, a distinção entre tarefas femininas e
masculinas. A terceira consequência seria a distração histórica na divisão público-privado
(CYFER, 2010, p.139).
Partindo da teoria liberal podemos tirar duas ideias centrais, sendo a primeira a igual
dignidade entre os seres humanos e a segunda, o poder de escolha humana, julgando como
habilidade de planejar sua própria vida. É a partir dessa ideia de compromisso e autonomia
que se pode definir uma teoria feminista. O liberalismo tem como finalidade o bem comum e
universal, sem privilégios de uns sobre outros. Esse bem-comum, jamais poderia perder de
vista que o fim último da política é o bem-estar dos indivíduos. A política liberal estaria
comprometida com a tolerância e com a diversidade, no sentido de que não poderia se voltar a
uma forma particular de bem, fosse ela religiosa ou laica (CYFER, 2010, p. 140).
Com relação a teoria liberal feminista, quem não se encaixa perfeitamente nela é a
Feminista Susan Okin. Para ela, o público e o privado são vistos como partes interligadas de
um ciclo de desigualdades entre os sexos (OKIN, 1989a, p. 133). O que tem de implicações
para a análise das tradições e abordagens teóricas: “a maior parte das teorias anglo-americanas
da justiça é, em grande medida, sobre homens com mulheres em casa” (idem, p. 110). Apesar
disso, sua adesão às premissas do liberalismo é evidente. Em suas análises da teoria da justiça
20
menos tempo e recursos para qualificar-se e investir em sua vida profissional, permanecendo
dependentes ou obtendo rendimentos menores do que os dos homens e na vida pública em
que as habilidades e afetos desenvolvidos pelo desempenho dos papéis domésticos serão
desvalorizados e, em alguns casos, vistos como indesejáveis para uma atuação profissional
satisfatória (BIROLI, 2010).
A discussão sobre a vulnerabilidade das mulheres no casamento é um exemplo
importante de como Okin percebe a relação entre as esferas e as especificidades nos arranjos
familiares. Pensar em vulnerabilidade e dependência mútua no casamento, com formas
variáveis de assimetria que não correspondem com as diferenças entre os sexos. Mas há, no
casamento, ao lado dessas especificidades, padrões de gênero socialmente estruturados que
envolvem as mulheres no que a autora define como “ciclos de vulnerabilidade socialmente
causada e distintamente assimétrica” (OKIN, 1989, p. 138).
Nas sociedades contemporâneas, a vulnerabilidade das mulheres é, em grande medida,
produzida pelo casamento de que serão as principais responsáveis pelo cuidado com as
crianças, e para fazer esse papel elas precisam manter o suporte econômico de um homem,
para que, cuja a vida profissional se espera que elas deem prioridade. Elas se tornam
vulneráveis pela divisão atual do trabalho dentro de quase todos os casamentos atuais. Elas
têm desvantagens no trabalho pelo fato de que o mundo do trabalho pago, incluído o
profissionalizado, é ainda amplamente estruturado em torno da presunção de que
“trabalhadores” têm esposas em casa. De um lado, o foco na domesticidade e nos filhos não
corresponde à valorização em outras esferas da vida. Por outro lado, a posição do homem
como provedor inserido no contexto de valorização social do sucesso econômico (que tende a
ser ainda mais destacado quando é acompanhado de uma identidade profissional socialmente
valorizada), reforça seu domínio e as possibilidades de exercer constrangimento na esfera
doméstica (BIROLI, 2010).
Podemos dizer que a fonte de renda do homem se desdobra em formas de valorização
da mulher em casa, podendo ser na esfera doméstica ou não, enquanto o exercício de cuidado
da família e do suporte à vida profissional do marido é de inteira responsabilidade da mulher,
reforçando assim o pré-conceito ao qual o feminismo tenta derrubar mostrando que existem
vários talentos e tendências naturais diferente em cada sexo. Podemos pensar que nas
sociedades contemporâneas, o problema está menos na exclusão ou veto à participação da
mulher em esferas de exercício profissional e atuação política, e mais nas formas assumidas
por essa participação. O silêncio de suas perspectivas e a imposição de uma atuação
“masculina” brevemente mencionada por Okin (OKIN, 1989 p. 133), expõem os ruídos entre
22
Para Okin, o recurso à imparcialidade não exclui a empatia, a consideração das diferenças e o
cuidado com os outros.
2.4.Feminismo no Brasil
países centrais, mas também porque encontrava respaldo entre os membros dessa elite e
conseguia respeitabilidade até na conservadora classe política brasileira. Era, portanto, um
feminismo bem comportado, na medida em que agia no limite da pressão intraclasse, não
buscando agregar nenhum tipo de tema que pudesse pôr em xeque as bases da organização
das relações patriarcais. [...] Aí reside um paradoxo: é nesses espaços revolucionários, são
feministas em princípio, que se encontravam, nas primeiras décadas do século XX, as
manifestações mais radicalmente feministas, no sentido de uma clara identificação da
condição de explorada da mulher como decorrência das relações de gênero. Diferentemente
da luta das sufragistas, essas mulheres apontavam sem meias palavras a opressão masculina.
(PINTO, 2003, p. 26-34)
28
O protestantismo surgiu no século XVI, é uma vertente cristã que teve suas origens na
Europa, com a reforma organizada por Martinho Lutero. Lutero percebeu a diferença entre os
princípios bíblicos com as práticas da igreja católica, então resolveu protestar publicamente
contra isso. Em Roma nos anos de 1517 era permitido afixar opiniões para debater em locais
públicos a fim de que todos tomassem conhecimento. Assim, Lutero escreveu seu protesto,
desmembrado no que foi chamado de “Noventa e cinco teses” e pregou à porta da Igreja do
Castelo. Em suas teses Lutero afirmava que a remissão dos pecados era unicamente através
da fé em Jesus Cristo, e contestava o poder da igreja como mediadora entre os fiéis e Deus e
afirmava que as ofertas eram inúteis para o perdão dos pecados e salvação eterna. Suas teses
foram rapidamente divulgadas por toda a Alemanha e causaram grande polêmica em Roma.
Como consequência disto, Lutero acabou sendo excomungado pelo papa Leão X
(BETTENCOURT, 2000).
Em 1529, durante a campanha da Reforma Luterana na cidade de Espira, na Alemanha
determinou que nenhuma mudança religiosa seria realizada, em virtude disso, tanto católicos
como luteranos ficariam nas posições até então assumidas. Esse decreto provocou o protesto
de 14 cidades imperiais e 6 príncipes em 1527. Daí a nomenclatura “protestantes”, que só
começou a ser usada como substantivo no século XVII, onde passou a designar todos os
cristãos reformados que se opõem a Roma. Os reformados do século XVI se
autodenominavam “evangélicos” e, atualmente, as igrejas que se identificam com o ideal
reformista preferem se autodenominar da mesma forma (BETTENCOURT, 2000). A
Reforma Protestante ensina que o homem pode ter contato diretamente com Deus, sem
precisar ser intermediado pelo clero. Antes da reforma a Bíblia era lida pelos sacerdotes e/ou
outras hierarquias religiosas, depois dela cada um pode ler a Bíblia e interpretá-la
individualmente, podendo inclusive, escolher a comunidade cristã da qual quer fazer parte
(MENDONÇA, 2007). A salvação se dá unicamente pela fé em Cristo, ela é uma graça que o
torna o homem justo perante Deus (MASSOTTI, 2006).
O crescimento do protestantismo abalou seriamente a tradicional hegemonia religiosa
romana sobre o continente europeu (MARQUES, BERUTTI e FARIA, 2005). A Reforma
Protestante nasceu em um ambiente de muita polêmica contra o catolicismo, fazendo com que
houvesse uma forte “sacudida” eclesial e social (ARTIGAS, 1978). Em toda a Europa, muitas
pessoas foram mortas devido a questões religiosas, muitos protestantes foram perseguidos e a
29
desavença entre protestantes e católicos foi tomando uma proporção e caráter cada vez mais
agressivos. Dentro deste contexto, muitos protestantes abandonaram a Europa e tentaram
reconstruir suas vidas em uma nova terra. Assim, os Estados Unidos da América tiveram
como base, um ideal reformista (MARQUES, BERUTTI e FARIA, 2005). No Brasil, os
protestantes se inseriram de duas formas: pela via do movimento imigratório, no começo do
século XIX e pela via missionária, ocorrida na mesma época (MENDONÇA; VELASQUES
FILHO, 1990). Pela via da imigração, na primeira metade do século XIX, há chegada de
imigrantes alemães no Brasil, principalmente na região sul, que fundam a Igreja Evangélica
de Confissão Luterana do Brasil. Pela via missionária, na segunda metade do século XIX,
missionários da América do Norte e da Europa começam a chegar no país. Assim, em 1855
temos a fundação, no Rio de Janeiro, da Igreja Congregacional do Brasil e, em 1863 da Igreja
Presbiteriana do Brasil.
Posteriormente, muitas outras denominações protestantes vieram para o Brasil, entre
elas os batistas e os anglicanos. Estas denominações são tidas como protestantes A presença
do protestantismo brasileiro é fruto da abertura política e religiosa oferecida pelo imperador
D. Pedro II. As Igrejas de missão ou históricas aproveitaram essa abertura e iniciaram um
processo de evangelização, com a finalidade de implantarem suas igrejas. O protestantismo
brasileiro pouco a pouco marcou sua presença no contexto de uma sociedade hostil, onde
foram necessárias diversas estratégias para dinamizar sua proposta de evangelização como,
por exemplo, o estabelecimento de escolas, a distribuição de Bíblias e a presença dos
missionários na zona rural (SILVA, 2011). Foi a partir de 1910 e 1911 que o protestantismo
foi levado a conviver com a chegada e implantação do pentecostalismo e, mais recentemente,
com o neopentecostalismo e igrejas independentes. O crescimento destes movimentos se deu
com fiéis insatisfeitos com os estilos de culto e práticas religiosas das igrejas protestantes
históricas e até mesmo pelo desajuste social provocado pela passagem de uma sociedade rural
a uma sociedade urbana (SILVA, 2011).
Uma das tradicionais características do protestantismo histórico é o que Bastide (2006)
chama de “domesticação do sagrado”, ou seja, os cultos doutrinários onde são orientados para
a ordem, formalidade e racionalidade, procurando suprimir manifestações mais exóticas do
sagrado como a possessão ou a glossolalia, por exemplo (CAMPOS, 1996). A configuração
atual do campo religioso brasileiro precisa englobar a chamada concorrência de mercado que
se instaura neste campo. No interior das igrejas protestantes históricas houve uma perda
simbólica, ou seja, houve um abandono, no mínimo parcial, das práticas tradicionais no
campo litúrgico ao mesmo tempo em que há uma progressiva incorporação de práticas
30
Sendo o cristianismo ocidental uma religião que descende do judaísmo, isso fez com
que as mulheres continuassem distante da imagem de Deus, sendo possível se aproximar dEle
somente através da negação de sua própria identidade ou da submissão ao seu companheiro.
Cecília Domezi (2010) diz que o discurso que normatiza a dominação das mulheres na Igreja
Católica é pautado em interpretações de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino que
procuram sempre subordinar a mulher, espírito de paixões e inconstâncias à razão da alma
sempre atribuída ao sexo masculino, tornando-a um ser não tão próximo de Deus.
Apesar de a mulher, ao longo da história, ter participação ativa na igreja, ter o papel de
instruir os filhos na fé e, por muitas vezes, participar das organizações e dos grupos de apoio;
nunca foi lhe dado nenhum papel de liderança e de atuação efetiva dentro da organização
cristã. Com o feminismo em alta é possível que as mulheres cristãs, que têm vida ativa dentro
da fé, passaram as incluir as questões feministas em suas discussões, uma vez que, pela ideia
de igualdade de gênero, as próprias poderiam desempenhar tais papeis.
Nos séculos passados, há referência de grandes mulheres que lutaram por tais casos,
todavia, eram mulheres que agiam de forma solitária e isolada, nunca houve uma organização
com participação da grande massa da população feminina como nos tempos atuais, como diz
Gomes (2015):
Ao longo da história, o mundo tem presenciado conflitos sociais dos
mais diversos, sejam por diferenças de raças, religiões, seja por
condições sociais. Grande parte dessas tensões reside no grito dos
oprimidos pela liberdade, na luta renhida por direitos iguais, na reação
incontida dos menos favorecidos. Entre os grupos e classes que, no
século 20, reagem ao sistema opressor e desigual, destaca-se o das
mulheres. As mudanças ocorridas partem da tentativa de superação de
um modelo patriarcal. Embora os séculos passados registrem a
biografia de heroínas que protagonizaram grandes feitos, somente em
tempos recentes, a voz das mulheres incorpora uma manifestação
coletiva por oportunidades iguais, tanto na política quanto na vida
doméstica ou no mercado de trabalho (GOMES, 2015).
O Feminismo veio para aliar as ideias de várias mulheres que, juntas, lutam por uma
mesma causa: direitos e oportunidades equiparados aos dos homens, lutas estas que cada vez
ganham mais apoiadores. O Feminismo Conservador (assim determinado) não trás para si
apenas as questões religiosas, mas também todas as outras pelas quais os Movimentos
Feministas (em toda sua totalidade) já lutam, como direito ao trabalho, igualdade nos salários
entre homens e mulheres, direito de ir e vir, etc. A crescente do espaço da mulher dentro da
igreja é mais notória dentro da Igreja Evangélica, uma vez que, na Igreja Católica, para
ocorrer mudanças de grandes proporções, é necessário um processo bastante longo até que a
36
informação chegue ao Vaticano, sede da mesma, e chegue ao alcance dos seus mais de um
bilhão de fiéis por todo o mundo. Como diz Boff (2014, p. 07):
A Igreja, no caso a Igreja romano-católica, que se derivou de sua herança, é
dirigida exclusivamente por homens que detêm todos os meios de produção
simbólica. A mulher foi considerada, por séculos, como não persona
jurídica, e até hoje é excluída sistematicamente de todas as decisões do poder
religioso. A mulher pode ser mãe de um sacerdote ou de um bispo, mas
jamais poderá aceder a tais funções. O homem, na figura de Jesus de Nazaré,
foi divinizado, enquanto a mulher é mantida como simples criatura, embora,
na figura de Maria, seja considerada como Mãe de Deus (BOFF, 2014, p.
07).
Nas igrejas que se denominam evangélicas, já não é tão absurdo uma mulher estar à
frente da Assembleia, conduzindo todo o ritual e discurso com os fiéis, sendo um marco para
a história o ano de 1973, em que surgiu a primeira pastora do Brasil, na Igreja Evangélica
Missão Cristã Pentecostal em Niterói – RJ. Além das lideranças femininas dentro dos
templos, há lideranças nas músicas, nas passeatas religiosas (em especial a Marcha para Jesus,
momento em que fiéis de igrejas evangélicas se organizam em passeata para manifestar sua
fé, com louvores e pregações, a cada ano, conduzido por mais mulheres) e em mais segmentos
que envolvem a religião (acampamentos, ações sociais, encontros, etc.)
Cada vez com mais espaço, elas andam levando massas e moldando um novo modelo
de vida aliada à religião, como aponta a entrevista feita pela Revista IstoÉ, na edição nº 2288
de 25/09/2013, no trecho:
Em muitas instituições religiosas as mulheres conseguem criar uma
empatia muito mais sólida com a comunidade do que os homens. Na
Igreja Batista da Lagoinha, fundada em Belo Horizonte (MG), 44,6%
do corpo pastoral é do sexo feminino – a cultuada cantora gospel Ana
Paula Valadão é uma delas. Entre os metodistas, as mulheres
representam aproximadamente 30% dos pastores – a mesma
porcentagem é verificada entre os presbíteros da Igreja Anglicana.
Fica mais evidente que o tempo da liturgia já não se adequa mais ao atual, como
aponta a entrevista da IstoÉ (edição nº 2288 de 25/09/2013) que aborda o tema:
O silêncio exigido naquela época, porém, fazia parte de um contexto
cultural. Os cristãos se reuniam em sinagogas, onde as mulheres não
podiam se manifestar. Para evitar atrito com os judeus, eram
orientadas a apresentar seus questionamentos em casa, junto dos
maridos. Hoje, a realidade é outra. A pastora Simone e duas amigas,
casadas e formadas em teologia, resolveram dar voz à palavra que
aprofundavam em núcleos de estudo. Decidiram abrir uma igreja
evangélica, a Viva Praia da Costa, em Vila Velha, no Espírito Santo,
em 2011. As três são as únicas pastoras da denominação, hoje
frequentada por cerca de 100 membros (ISTOÉ, ED. 2288/2013).
37
As mulheres têm voz cada vez mais ativa dentro da igreja, dados do IBGE mostram
que elas já são maiorias nos bancos das cerimônias, que na Igreja Metodista elas já ocupam
30% do cargo de Pastora, que na Igreja Reina, que possuía 120 templos no país, 40 tem uma
Pastora à sua frente, Na Convenção Batista Brasileira de 2013, 157 era o número de pastoras
espalhadas pelo Brasil. As mulheres correm pelo seu espaço dentro da religião, seu espaço
atuante, com lideranças e à frente de projetos, e não mais como um ser subordinado ao
marido.
Outras discussões que vão além da atuação da mulher dentro da igreja também são
pautas dessa vertente do Feminismo. Até mesmo sobre a imagem e semelhança de Deus, pois
no sistema patriarcal em que o Cristianismo se fundamenta, Deus é representado por uma
figura masculina, como Boff (2014, p. 03) diz em seu trabalho sobre teologia feminista em
sua proposta de “despatriarcalização” do imaginário e da linguagem religiosa:
Neste esforço, representa grande estímulo a descoberta da tradição do
matriarcado e das divindades femininas. Foi mérito do feminismo
resgatar essa tradição ancestral e fazê-la valer na cultura e no interior
da reflexão religiosa e teológica2. Hoje só fazemos justiça à nossa
experiência do divino se a traduzirmos em termos masculinos e,
simultaneamente, femininos. Deus emerge como pai e como mãe ou,
em uma linguagem inclusiva que supera as justaposições, como pai
maternal e como mãe paternal. Mais radicalmente ainda, muitas
feministas falam de Deus e da Deusa. Ou, para mostrar a unidade de
Deus (que não se divide, como nos seres humanos, em macho e
fêmea), escrevem da seguinte forma: Deus/a (BOFF, 2014, p. 03).
“No princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e
vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia
sobre a face das águas. Disse Deus: “Haja luz”, e houve luz. Deus viu
que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou à luz de dia
e às trevas chamou noite. Passaram-se a tarde e a manhã; Esse foi o
primeiro dia” (Gênesis cap.1: 1-5).
Quando Deus criou o mundo, aparentemente não apresentava uma criação sem
propósito e sem fundamento, assim como não apresentava uma atitude egoísta, dado que se
explica através dessa passagem:
Disse Deus: “Eis que dou a vocês todas as plantas que nascem em
toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos
com sementes”. Elas servirão de alimento para vocês. E dou todos os
vegetais como alimento a tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos
os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a todas as
criaturas que se movem rente ao chão. E assim foi. Gên. 1: 29-30.
Notemos que nessa passagem bíblica, “Eis que dou a vocês...” estando no plural, é
possível afirmar que Deus doou tudo o que fez ao Homem e a Mulher, dando lhes posse de
tudo que estava sobre a terra. Outro fator que impulsiona a perfil humanitário de Deus é a
concepção de Homem e Mulher. Vejamos:
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança”. Gên. 1-26
Então o senhor Deus declarou: “Não é bom que o homem esteja só; Farei para ele
alguém que o ajude e lhe corresponda”. Gên. 2- 18.
“Deus os abençoou” e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra. Dominem sobre os peixes dor mar, sobre as aves do céu e sobre todos os
animais que se movem pela terra” (Gên. 1: 28).
Analisando esse texto, a referência de autoridade bíblica criada por Deus, foi dada
tanto para o Homem quanto para Mulher, e na mesma proporção. Essa passagem explica a
questão de “subjugar”. Subjugar a Terra, não a mulher.
Quando as teologias feministas se articularam aos movimentos feministas e fazem de
suas questões as questões cotidianas vividas pelas mulheres, se dá uma espécie de ruptura em
relação às questões tradicionais da teologia e à sua forma de abordagem. Mais uma vez, essa
maneira de fazer teologia não é institucional, no sentido de não ser assumida oficialmente
pelas igrejas. Nesse sentido, talvez precisasse criar formas de atuação mais organizadas para
39
garantir uma vivência e uma teoria teológica que acompanhe o avanço dos movimentos
feministas (GEBARA, 2006).
Os pontos de maior contato estão na perspectiva ética encontrada nos textos do
Evangelho. A Teologia da Libertação se estruturou em torno da opção pelos pobres, dos
oprimidos, como critério para a reconstrução do mundo, como base para o processo de
salvação. Essa matriz ética presente nos profetas e profetizas e na tradição de Jesus é
retomada igualmente pela Teologia Feminista. Entretanto, a maior parte das teologias
feministas separa-se de certa forma da teologia masculina da libertação quando se trata da
manutenção da dogmática patriarcal, das imagens de Deus masculinas e de um conceito de
salvação estreito que inclui apenas a pessoa individual de Jesus de Nazaré (GEBARA, 2006).
Em uma passagem bíblica em que uma mulher foi levada até Jesus para que Ele a
condenasse por ter sido pega em adultério, Jesus utiliza de sabedoria ao lhe dar com essa
questão. Ele não a julga, muito menos permite que a julguem, até porque todos os patriarcas
que lá estavam, havia erros que também os condenavam.
João 8: 1 -9
Porém Jesus foi para o monte das Oliveiras. E, pela manhã cedo, voltou para o
templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava. E os escribas
e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério. E, pondo-a no meio,
disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando, e, na
lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Diziam
eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se,
escrevia com o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se e
disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra
contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isso, saíram
um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficaram só Jesus e a mulher,
que estava no meio. E, endireitando-se Jesus e não vendo ninguém mais do que a
mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te
condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te
condeno; vai-te e não peques mais.
Hoje existe uma ressignificação das escrituras abrangendo os casos para possíveis
divórcios. A liberdade de escolha é uma condição humana independente das crenças, e pode
ser exercida sobre vários anglos. A mulher é avaliada a partir do corpo e da sua sexualidade
feminina, é a partir dai que se expressa a opressão e a dominação de gênero ou do gênero
masculino. Conforme a entrevista de Gebara a Rosado Nunes (2006, p.301):
40
Não se pode fazer Teologia Feminista sem falar dos corpos femininos e
especificamente da sexualidade feminina. Esse é o lugar a partir do qual começa a
opressão e também o lugar a partir da qual se afirma a autonomia feminina. A partir
daí que se marca a posse masculina sobre as mulheres. A Teologia Feminista, sem
dúvida, inspirou-se na Teologia da Libertação em muitos aspectos, porém, dados os
diferentes temas que trabalha e as alianças com o movimento feminista, ela tem se
afastado da ortodoxia da Teologia da Libertação (GEBARA, 2006).
De acordo com que apresenta Rohden (1997), em uma entrevista com uma das
primeiras pastoras ordenadas no Brasil, a afirmação do pastorado feminino foi um processo
iniciado na própria faculdade de teologia, a partir da organização das estudantes, que
passaram a lutar por um lugar político de reconhecimento do seu ministério. Além disso,
dentro de um quadro de pouca mobilização política, ainda na época da ditadura e de
professores vindos da tradição neoliberal americana (sem contato com a Teologia da
Libertação da América Latina), em sua maioria despreparados para formar mulheres pastoras,
um pastorado feminino que privilegiasse o trabalho com comunidades, incluindo atenção e
conscientização da "mulher pobre", teve que ser conquistado aos poucos a partir da luta de um
grupo organizado e disposto a resistir a todo tipo de pressões:
“A gente começou a produzir uma reflexão para nos afirmar como pastora,
porque a Igreja não nos aceitava. A gente tinha que enfrentar a negação dos
bispos, dos pastores e das Igrejas. Então tinham várias pressões, desde os
alunos acharem que a gente estava lá só para casar. Isso também tem uma
certa história, de outros processos de formação de mulheres, que viravam só
casamento de uma esposa qualificada, para o pastor. E tinha de tudo: tinha
professor dizendo que a gente não tinha mercado de trabalho, que a Igreja
não ia aceitar a gente, que então era melhor criar uma especialização para a
gente no curso. E nas primeiras turmas a gente era muito organizada, no
sentido de reagir. O que a gente queria era ser pastora, queria ser pastora de
Igreja local. E aí, eu pelo menos, e outras, a gente se recusou a estudar outra
coisa. A gente se recusou a namorar. A gente se recusava a tudo que pudesse
ser tomado como se a gente não tivesse interessada no pastorado. (...) Eu
acho importante, pelo menos na minha experiência, resgatar esse momento
de produção de teologia, onde a gente se pretendia tomar como tema e
elaborar alguma coisa de produção teológica que definisse o tipo de
ministério que a gente queria, porque o que a gente queria era definir um tipo
de ministério pastoral, que tinha certos cortes: que fosse ecumênico, que
fosse de pastoral popular, e que tivesse essa marca do apoio às mulheres.”
42
É possível perceber que para as teólogas protestantes há até uma recusa em falar de
algum tipo de singularidade que possa dar preeminência às mulheres ou servir como
justificativa lógica para as lutas dentro das Igrejas. O que transparece é uma distinção entre
opções por um feminismo mais preocupado com a diferença e por outro que enfatiza mais a
luta pela igualdade (ROHDEN, 1997).
44
Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte/MG. Atuou por 13 anos como Backing Vocal
do grupo Diante do Trono onde, juntamente com seu esposo, participou da criação
do “Ministério Crianças Diante do Trono”. Foi professora do CTMDT – Centro de
Treinamento Ministerial Diante do Trono – ensinando as disciplinas “O Coração do Artista” e
“Arte na Adoração” (TANNURE, 2016).
Carolyn Mcculley É autora, palestrante e cineasta. Ela já escreveu para várias
publicações, incluindo The Washington Post e Christianity Today, e ministérios como The
Gospel Coalition, Desiring God, True Woman e outros. Ex-Feminista, lançou o livro
Feminilidade Radical. O livro aborda o tema da feminilidade bíblica em oposição ao
feminismo. A autora explica sua transição de uma feminista secular de 30 anos de idade,
grandemente influenciada pelas expectativas da cultura moderna para as mulheres, para uma
jovem cristã buscando entender a Bíblia em seus ensinamentos sobre feminilidade,
sexualidade, matrimônio, família e filhos. Ela reconhece que hoje uma geração mais jovem de
mulheres cristãs anseia por ouvir os grandes ensinamentos da Bíblia sobre o igual valor entre
homens e mulheres, e sobre a beleza das diferenças planejadas e criadas por Deus
(MCCULLEY, 2018).
Ana Caroline Campagnolo nasceu em Itajaí em 26 de novembro de 1990. É
uma política, professora e historiadora brasileira. Em 2018 foi eleita Deputada
Estadual de Santa Catarina. Graduada pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó.
Autora do livro “Feminismo, Perversão e Subversão”. É de família conservadora e religiosa,
mas que nunca se opôs a estudar ideologias que não são suas. Campagnolo é Cristã
protestante e participou de eventos antifeministas. Ela não se declara antifeminista e afirma
que apenas não é feminista. É apoiadora do movimento Escola sem Partido (KONCHINSKI,
2019).
“Eu acho que o que é mais importante para os cristãos entenderem é que as
pessoas que pensam diferente de nós não são nossos inimigos. Efésios 6:12
deixa muito claro que a verdadeira oposição é espiritual. Existem pessoas
que creem nessa ideologia porque testemunharam o abuso real e
o sexismo real que as mulheres frequentemente sofrem. As soluções que eles
apresentam são diferentes daquilo que as Escrituras apresentam, e por isso
eu quis escrever esse livro.
Tendo dito isso, dez anos depois [da publicação do livro original], há coisas
que eu revisaria nesse livro – não em questões essenciais, mas na ênfase ou
nas ilustrações. Eu fico feliz de ter incluído um apêndice sobre abuso na
edição original, mas à luz do movimento #MeToo* [“Eu também”] nos
Estados Unidos, eu agora incluiria muito mais material sobre abuso e como
responder a ele e preveni-lo. Eu também escreveria mais sobre o que
significa ser uma Abigail pós-moderna que é proativa em sua resposta ao
pecado. Tudo sobre ser uma mulher que segue a Cristo requer grande força
de caráter e eu não quero que ninguém entenda isso mal.
Mas, voltando ao problema do feminismo, eu percebo que é um termo muito
amplo e um movimento global, que tem tantas vertentes que quando alguém
me pergunta minha posição eu gosto de tomar tempo para entender qual a
definição de quem está perguntando. Eu falei com muitas mulheres jovens
que defendem feminismo como simplesmente a igualdade entre homens e
mulheres. E se essa é a sua única definição para feminismo, então sim, nós
concordamos! E a Bíblia também concorda. A Bíblia deixa muito claro que o
homem e a mulher são igualmente feitos à imagem de Deus. Igualmente
precisamos de um Salvador. E quando nós nos arrependemos e confiamos
em Jesus e em seu dom da salvação, nós somos co-herdeiros em Cristo.
O que eu aprendo frequentemente, entretanto, sobre aqueles que estão
fazendo essas perguntas, é que eles veem a Igreja tratando as mulheres como
“cidadãs de segunda-classe” ao limitar sua liberdade e contribuições.
Infelizmente, esse é um problema real. Jesus encontrou a mesma atitude em
seus dias e Ele desafiou aquelas limitações culturais sobre as mulheres ao se
relacionar com elas diretamente – revelando a elas sua identidade, as
elogiando por sua fé, acatando seus pedidos, e dando a elas poder com o Seu
Espírito para avançar o Reino. Então é importante que quando nós quisermos
falar sobre essas questões do feminismo que saibamos como Jesus interagiu
com mulheres – porque é o modelo dEle que queremos imitar. Finalmente,
como discípulos de Jesus, nós deveríamos ser capazes de ver nas Escrituras
que ninguém nunca foi convencido por um debate acirrado. Eu acho que o
47
Para Carolyn Mcculley seria interessante os cristãos entenderem que, pessoas que
pensam diferente não são pessoas inimigas, mas, apenas pessoas que acreditam nessa
ideologia, sendo que o feminismo é um termo muito amplo e em movimento global, na qual
possui outras vertentes. “Gosto de tomar tempo para entender qual a definição de quem está
perguntando” (MCCULLEY, 2018).
“Não sou antifeminista. “Só não sou feminista” Quem não é cristão, é
anticristão? Não. O problema é que o feminismo se tornou tão hegemônico
na mídia e nas universidades que você não pode não ser. Você é obrigado a
ser. Só porque eu sou mulher, eu sou obrigada a ser feminista?”
(CAMPAGNOLO, 2019).
Mesmo a deputada afirmando não ser feminista, ela se manifesta interessada no tema,
tanto que lançou um livro sobre o assunto. O Jornalista faz uma série de perguntas
relacionado ao tema, tais como: Quando passou a se interessar sobre o tema feminismo;
Porque ela considera a revolução feminista de “obscura”; Para evitar casos de violência contra
a mulher, o Brasil não precisa de feminismo?; Sobre a disparidade entre homens e mulheres,
as ações feministas não reduziria essa disparidade? Sobre essas questões, Campagnolo expõe
seu ponto de vista. O entrevistador Konchinski, (2009) perguntou para Campagnolo, Quando
passou a se interessar sobre o tema feminismo? A mesma respondeu que:
Konchinski, (2009), fala a Campagnolo: O que te levou a não ser feminista? Ela
responde:
Eu me voltei contra o movimento feminista quando eu descobri que essas
bandeiras de reconhecimento de direitos são falsas. São uma maquiagem de
algo muito mais obscuro que recebe o nome de revolução sexual, que é a
transformação dos comportamentos, da relação e da diferenciação entre
homem e mulher (CAMPAGNOLO, 2019).
Konchinski, (2009) pergunta a Campagnolo: Por que a senhora chama essa revolução
de "obscura"? Ela diz:
Primeiro, porque ela ignora tendências naturais que diferenciam homens e
mulheres. Segundo, ela despreza grande parte da comunidade científica.
Qualquer pesquisa científica ou livro que vá contra os interesses das
feministas é boicotado por elas. O movimento de revolução sexual é um
movimento autoritário, totalitário, antidemocrático, e antinatural. Ele nega a
natureza masculina e feminina. Se os corpos de um homem e de uma mulher
se diferem, tudo que está preso a ele, a alma, o espírito, as impressões, as
preferências, também diferem. Eu não concordo com a revolução sexual
porque ela consiste em aproximar tanto os dois sexos a pontos de
transformá-los indiscerníveis. Não tem como concordar com isso, porque
para mim isso é um projeto social que não corresponde com a realidade
(CAMPAGNOLO, 2019).
Claro que não! Quem combate a violência contra a mulher? Todo mundo.
Quem defende isso? Só o cara que violenta. A Igreja Católica combate, a
evangélica, o vizinho. E por que o feminismo é o baluarte da defesa da
mulher contra a violência? Não é verdade. Quem nos ensinou a combater a
violência não foram as feministas. O que as feministas fazem é alardear o
problema. Inclusive, você tem no movimento feminista muitas pesquisas
falsas, muito sofisma, muita falácia. O movimento feminista diz que tudo é
estupro. Um assovio é um estupro, uma passada de mão é estupro. Tudo é
um absurdo, tudo é machismo. Se muitas mulheres começarem a fazer falsas
acusações de estupro, quando a Mariazinha for verdadeiramente estuprada,
ela não vai receber auxílio. Na minha opinião, o movimento feminista não
ajuda como diz ajudar, e prejudica ao criar um pânico sobre casos que
inexistem (CAMPAGNOLO, 2019).
[...] Jesus defendeu uma mulher de sua época de ser apedrejada pelo castigo
de ser uma prostituta. Defendeu a mulher adultera do poço enquanto ela era
totalmente rejeitada pela sociedade. Quando Jesus teve mulheres que
caminharam com ele, quando ele teve seu ministério terreno.
50
[...] Apostolo Paulo em suas cartas dizia: “Em cristo não existe mais grego
ou judeu, não existe mais escravo nem livre, não existe mais homem ou
mulher, nós somos todos iguais perante o senhor em cristo. Deus se coloca
contrário ao abuso e manda que seus filhos defenda os oprimidos.
Segundo Walsh (2017), o movimento feminista surgiu porque algum problema existiu,
e o movimento veio como forma de resposta a esse problema, sendo o caso da opressão e do
abuso contra as mulheres. A sociedade não pode tirar a legalidade do feminismo, já que existi
um “porque”, uma razão de existir. O cristianismo não pode simplesmente ignorar essa razão.
51
A luta naquela época também era pela reforma no cristianismo, pois consideravam que o
cristianismo pregado oprimia demais as mulheres, e que não era o verdadeiro cristianismo,
mas sim, uma distorção da bíblia que os homens usavam para justificar o abuso contra o
feminismo.
A conferencista Helena Tannure, ministrou num congresso de casais onde ela abordou
o tema sobre feminismo. Tannure (2018) expõe em sua ministração sua concepção sobre o
movimento feminista. A palestrante afirma que não há problema no feminismo, porém, após a
segunda onda do feminismo as mulheres começaram a romper com o padrão de família. Para
ela, as mulheres naquela época enxergavam sua liberdade através do trabalho, pois viam uma
oportunidade de ser livre das regras impostas pela sociedade trabalhando, sendo sustentada
através do próprio emprego. As mulheres poderiam conquistar sua independência do
casamento.
Na visão da líder do ministério de mulheres, não que seja errado o movimento
feminista, a questão se torna errada quando a mulher quer competir com o homem fazendo
disso a regra dos sexos. Para ela é louvável a luta feminista e as conquistas que elas
conseguiram, mas quando as mulheres começaram a tomar outra posição, uma posição
contraria a da família, posição a qual sentiam que não precisavam mais cumprir com o seu
papel no seio familiar, em casa, deixando de lado os filhos e as honras do seu casamento, indo
contra os princípios bíblicos, a partir daquele momento o movimento feminista passa de ser
bom, para se tornar um movimento desfavorável no meio das mulheres cristãs (TANNURE,
2018).
Tannure expõe seu pensamento sobre as feministas. Ela diz:
De acordo com que apresenta Tannure (2018), com a segunda onda do feminismo veio
à revolução sexual, a luta pelo aborto (pois se eu trabalho e me sustento, eu me torno dona do
52
meu corpo, assim defendendo o aborto), pois ter filhos atrapalharia a mulher de trabalhar fora;
A luta pelo divorcio, pois não precisa se estar num casamento fracassado, assim motivando as
mulheres de terem múltiplos parceiros. Outra influência foi o cinema que motivou as
mulheres pela busca da juventude. As mulheres antes da Segunda onda do feminismo,
envelheciam, cuidavam dos maridos e dos filhos. Nesse tempo aparecia na tela dos cinemas
atriz Marilyn Monroe que era sinônimo de sensualidade e assim, começou a exercer o poder
sobre os homens.
Quando a líder do ministério de mulheres se remete à terceira onda, ela diz que as
mulheres começaram a pensar o feminismo não apenas a partir da mulher branca de classe
media alta, mas também, começaram a discutir as questões étnicas, culturais e sociais. Para
ela, o que contribuiu realmente para a revolução da mulher foi a segunda onda do feminismo,
que proporcionou a mulher a não fazer seu papel de família, e contribuiu para os dias de hoje
no meio da família a confluência de papeis, a qual fez com que homens se a acovardassem e
não fizessem seu papel de homem no seio familiar. No pensamento do homem os papeis
ficaram invertidos: a mulher faz tudo, paga as contas e oferecer o prazer masculino de graça.
As mulheres da geração da Segunda Onda passaram a influenciar as meninas dessa nova
geração, tanto que nos dias de hoje se vê o reflexo na sociedade; homens que não assumem
seu papel de provedor, e se esquiva de suas responsabilidades causando assim uma inversão
de seus papeis (TANNURE, 2018).
A partir da teoria liberal podemos tirar duas ideias centrais, sendo a primeira a igual
dignidade entre os seres humanos e a segunda, o poder de escolha humana, julgando como
habilidade de planejar sua própria vida. O liberalismo tem como finalidade o bem comum e
universal, sem privilégios de uns sobre outros. Esse bem-comum jamais poderia perder de
vista que o fim último da política que é o bem-estar dos indivíduos. A política liberal estaria
comprometida com a tolerância e com a diversidade, no sentido de que não poderia se voltar a
uma forma particular de bem, fosse ela religiosa ou laica (CYFER, 2010, p. 140). Sendo
assim, quando perguntamos o que as Líderes evangélicas pensam sobre a igualdade, todas
concordam que devem existir a igualdade entre homens e mulheres em todas as áreas, e nesse
ponto elas concordam com o movimento feminista, reconhecendo que o movimento
contribuiu muito para os direitos de igualdade das mulheres, tirando o jugo das mulheres
subjugadas e as elevando ao nível maior de posicionamento social.
Para Stuart Mill(1970), Okin(1989) e Rawls(1971), os três autores confirmam a
necessidade da igualdade de gênero, de justiça e liberdade. Os autores convergem entre si à
importância sobre o movimento feminista como forma de libertação feminina. Quando
53
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, A.; OLIVEIRA, R. Genero, políticas públicas, sustentabilidade,
feminismo, sexualidade. Revista Eletrônica Acadêmica / Faculdades Integradas Simonsem.
v. 6, n. 6, 2017.
ALVES, A.C. F.; ALVES, A. K. S. As trajetórias e lutas do movimento feminista no Brasil e
o protagonismo social das mulheres. Seminário CETROS Neodesenvolvimentismo,
Trabalho e Questão Social, v. 4, p. 113-121, 2013.
ARAÚJO, L. C. R.; SILVA, M. G. C. Missionárias Esposas de Pastores: a invisibilidade do
ministério feminino na Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. Revista
Ártemis, v. 14, n. 1, 2012, p. 87-97.
ARTIGAS, Luiz. História do Pensamento Cristão: a reforma protestante. Curitiba: Impr.
Universitária, 1978.
BASTIDE, Roger. O sagrado selvagem: e outros ensaios. Editora Companhia das Letras,
2006.
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo–Volume II. Santo André-SP, editora Nova fronteira,
2008.
BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Crenças, religiões, igrejas e seitas: quem são? Santo
André – SP, editora Mensageiro de Santo Antônio, 1995.
CYFER, I. Liberalism and feminism: gender equality in Carole Pateman and Martha
Nussbaum. Revista de sociologia e política, v. 18, n. 36, p. 135-146, 2010.
DAS RELIGIÕES, Novo Mapa. Coordenação Marcelo Côrtes Neri. Rio de Janeiro: FGV,
2011.
56
DUARTE, A.R. F. Betty Friedan: morre a feminista que estremeceu a América. Revista
Estudos Feministas, v. 14, n. 1, p. 287-293, 2006.
FRIEDAN, B. Mística feminina. Petrópolis: Vozes, 1971.
GEBARA, I. A dimensão feminina na luta dos pobres. R.E.B., vo1.45, fase. 178, p.245-255,
1985.
LE GOFF, J. Uma longa Idade Média explicada a meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
LUTERO, Martinho. Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e
mantenham escolas cristãs. Obras Selecionadas, v. 4, 1995.
MILL, S. The Subjection of Women. In: ROSSI, A. (Ed.). Essays on Sex Equality. Chicago:
University of Chicago. 1970.
MONTES, Maria Lucia. As figuras do sagrado: entre o público e o privado. História da vida
privada no Brasil, v. 4, p. 63-171, 1998.
OKIN, S. Justice, Gender, and the Family. Chicago: University of Chicago. 1989.
SAGRADA, Bíblia. tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do
Brasil, v. 2, 1969.