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Energia e Meio Ambiente: A construção de um lapbook como

ferramenta didática
Energy and Environment: The construction of a lapbook as a didactic tool
Energía y Medio Ambiente: La construcción de un lapbook como herramienta
didáctica

Aline Locatelli ([email protected])


Universidade de Passo Fundo – UPF

Viviane Zanuzzo ([email protected])


Universidade de Passo Fundo – UPF

Resumo: Apresentamos aqui o relato da elaboração de uma ferramenta didática na disciplina


de Energia e Meio Ambiente, em um Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática, modalidade profissional, durante o segundo semestre de 2019. O presente texto
descreve o processo de construção dessa ferramenta didática – denominada lapbook – por oito
mestrandos com formações pedagógicas nas licenciaturas de Biologia, Física, Matemática e
Química. A ideia de construção do lapbook surgiu com o intuito de elaborar um recurso que
proporcione diálogo, sistematização e conhecimento a partir de um tema atual e relevante
discutido na disciplina. A utilização do lapbook na sistematização dos conceitos trabalhados
na disciplina apresentou potencial para se classificar como uma ferramenta didática promotora
da aprendizagem significativa.

Palavras-chave: Ferramenta didática; Construção do conhecimento; Aprendizagem


significativa.

Abstract: We present the report of the elaboration of a didactic tool in the subject of Energy
and Environment, in a Postgraduate Program in Science and Mathematics Teaching,
professional modality, during the second semester of 2019. The present text describes the
process of construction of this didactic tool called lapbook by eight master students with
pedagogical backgrounds in Biology, Physics, Mathematics and Chemistry. The idea of
building the lapbook emerged with the purpose of developing a resource that provides
dialogue, systematization and construction of knowledge from a current and relevant topic
addressed in the postgraduate studies. The use of the lapbook to systematize the concepts
worked in the subject had the potential can be classified as a didactic tool for meaningful
learning.

Keywords: Didactic tool; Construction of knowledge; Meaningful learning.

Resumen: Presentamos aquí el informe de la elaboración de una herramienta didáctica en la


asignatura de Energía y Medio Ambiente, en un Programa de Postgrado en Enseñanza de las
Ciencias y las Matemáticas, modalidad profesional, durante el segundo semestre de 2019.

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Este texto describe el proceso de construcción de esta herramienta didáctica llamada lapbook
por parte de ocho estudiantes de maestría con formación pedagógica en las licenciaturas de
Biología, Física, Matemáticas y Química. La idea de construir el cuaderno surgió con el
propósito de dialogar, sistematizar y construir conocimiento a partir de un tema actual y
relevante discutido en la disciplina. El uso del cuaderno de solapas en la sistematización de
los conceptos trabajados en la asignatura tenía el potencial de ser clasificado como una
herramienta didáctica para el aprendizaje significativo.

Palabras clave: Herramienta didáctica; Construcción del conocimiento; Aprendizaje


significativo.

1. INTRODUÇÃO

O presente texto apresenta os resultados de uma intervenção didática realizada na


disciplina de Energia e Meio Ambiente, durante o segundo semestre de 2019. O objetivo do
presente estudo foi desenvolver e analisar o processo de construção de uma ferramenta
didática – denominada lapbook – pelos mestrandos da referida disciplina no curso de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, modalidade profissional, de uma
universidade comunitária localizada no interior do Rio Grande do Sul.

O lapbook é uma espécie de portfólio/livro interativo que permite aos estudantes


despertar a sua criatividade de maneira dinâmica, ativa e participativa (WHITTAKER, 2008
apud SCOTT, 2018 – tradução nossa). Segundo Brito e Martins (2018), essa ferramenta
didática é bastante utilizada, e existem diversas instruções para a confecção desse material na
internet, entretanto, são encontrados poucos trabalhos acadêmicos que mencionem,
referenciem ou teorizem sobre ele.

A ideia de construção dessa ferramenta de ensino surgiu com o intuito de elaborar um


recurso que proporcione diálogo, sistematização e conhecimento a partir de um tema atual e
relevante discutido na disciplina de Energia e Meio Ambiente.

No cenário atual, quando destacamos a temática energia e meio ambiente, torna-se


necessário construir conhecimento na área de energias e impactos ao meio ambiente, bem
como as diversas formas de energia que são empregadas nos diversos setores da nossa
sociedade, também sendo fundamental desenvolver um pensamento crítico com relação à sua
importância no contexto social, sensibilizando especialmente quanto à utilização de fontes
energéticas renováveis.

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A finalidade, além de sistematização dos conhecimentos sobre o tema, foi também
proporcionar que os mestrandos vivenciem na prática essa ferramenta didática, durante o
desenvolvimento da disciplina, pontuando as limitações e as potencialidades dela
características, para que, em um futuro próximo, possam replicar essa prática pedagógica em
sala de aula, adaptando-a conforme as realidades existentes.

Acreditamos que a proposta apresentada neste trabalho vai ao encontro daquilo que
prevê a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel (2003, p. 143), que descreve “que a
partir de textos, as figuras e os diagramas gráficos, que evocam imagens, também facilitam a
aprendizagem e a retenção, fornecendo deixas substantivas e contextuais que melhoram a
compreensão conceptual e proposicional e a retenção”.

Logo, acreditamos que a utilização do lapbook na sistematização dos


conteúdos/conceitos trabalhados na disciplina pode apresentar potencialidade para se
classificar como uma ferramenta didática, promotora da aprendizagem significativa, uma vez
que o estudante é quem protagoniza a construção do seu conhecimento, para que o assunto
abordado torne-se dotado de significado.

2. APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO

Para Ausubel (2003), a aprendizagem pode ser definida como um conjunto de


informações que são adquiridas, retidas e utilizadas durante as aulas pelas diversas disciplinas
do currículo escolar. Porém, para que essa aprendizagem seja significativa e para que o
estudante dê sentido àquilo que está aprendendo, “é importante tornar explícito, logo de
início, o que se pretende dizer com os significados” que serão incorporados através das
informações fornecidas (AUSUBEL, 2003, p. 71).

A aprendizagem significativa é um mecanismo extremamente importante no processo


da educação, pois permite a aquisição e o armazenamento de novos significados, referentes a
qualquer área do conhecimento, sendo que, para Ausubel (2003, p. 81), a retenção de um
grande número de conceitos é um fenômeno extremamente impressionante, considerando que:

1. Os seres humanos, ao contrário dos computadores, apenas conseguem apreender e


lembrar alguns itens discretos de informações apresentados uma única vez.
2. A memória para listas apreendidas por memorização, apresentadas múltiplas
vezes, é notoriamente limitada quer ao longo do tempo, quer no que toca ao

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comprimento da lista, a não ser que esta seja bem apreendida e seja frequentemente
reproduzida.

Sendo assim, a incorporação de novos significados em relação aos conceitos discutidos


em aula poderá refletir na aquisição de uma aprendizagem significativa, a qual, na concepção
de Ausubel, pode ser entendida como o processo por meio do qual “uma nova informação se
relaciona de maneira não arbitrária e substantiva a um aspecto relevante da estrutura cognitiva
do indivíduo” (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 34).

Para que essa aprendizagem de fato ocorra, é necessário, no entanto, que haja uma
interação entre os conhecimentos já existentes da estrutura cognitiva do aprendiz, “para a
elaboração e aplicação de materiais potencialmente significativos, em razão de iniciar ou
continuar o processo de ensino” (SILVA; BRAIBANTE, 2018, p. 5), fazendo uso do que
Ausubel chama de “subsunçor” e a nova informação.

De acordo com Ostermann e Cavalcanti (2011, p. 34), na concepção de Ausubel, “o


subsunçor é um conceito, uma ideia, uma proposição já existente na estrutura cognitiva, capaz
de servir de ancoradouro a uma nova informação de modo que ela adquira, assim, significado
para o indivíduo: a aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se
em conceitos relevantes pré-existentes na estrutura cognitiva”.

A nova informação – que se ancora em conceitos relevantes e pré-existentes da estrutura


cognitiva do aprendiz – envolve a aquisição de novos significados, também chamados de
verdadeiros ou psicológicos, os quais podem ser construídos com o auxílio de materiais
potencialmente significativos apresentados pelo professor (AUSUBEL, 2003). Porém, ter os
subsunçores necessários e o material potencialmente significativo não assegura a construção
da aprendizagem significativa se o estudante não manifesta uma disposição para relacioná-los
(SILVA; BRAIBANTE, 2018, p. 6, apud MOREIRA, 2011).

Para que a aprendizagem significativa efetivamente aconteça por recepção a partir da


utilização de materiais, estes precisam estar

[...] relacionados de forma não arbitrária (plausível, sensível e não aleatória), estar
relacionados de forma não literal com qualquer estrutura cognitiva apropriada e
relevante (que possui significado lógico), desde que a estrutura cognitiva particular
do aprendiz contenha ideias ancoradas relevantes, com as quais se possa relacionar o
novo material (AUSUBEL, 2003, p. 1, grifo do autor).

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Dos materiais potencialmente significativos que podem ser apresentados pelo professor,
Ausubel destaca a possibilidade de se trabalhar com modelos esquemáticos, diagramas e
gráficos. Em muitas situações, esses materiais facilitam um entendimento dos conceitos de
forma mais eficaz e sucinta quando comparado a conceitos apresentados contidos em frases
ou textos (AUSUBEL, 2003). O mesmo autor reforça essa ideia ao mencionar que:

Numa altura posterior, na aprendizagem significativa a partir de textos, as figuras e


os diagramas gráficos, que evocam imagens, também facilitam a aprendizagem e a
retenção, fornecendo deixas substantivas e contextuais que melhoram a
compreensão conceitual e proposicional e a retenção (AUSUBEL, 2003, p. 143).

Se o professor conseguir planejar a sua aula utilizando estratégias metodológicas


facilitadoras de uma aprendizagem significativa através da utilização de materiais
potencialmente significativos, é possível considerar que essas seriam boas razões para se
acreditar que os estudantes iriam reter, durante boa parte da vida, muitos conceitos
importantes que aprenderam na escola (AUSUBEL, 2003).

Os lapbooks são muito conhecidos e utilizados nas escolas dos Estado Unidos,
especialmente com os estudantes dos anos iniciais e do ensino fundamental. O termo lapbook
foi usado pela primeira vez por Tammy Duby. Escritora e mãe que ensinava seus filhos em
casa, ela assim o nomeou porque, segundo ela, todo o projeto pode caber em um "livro" que
cabe no colo da criança.

De acordo com os estudos de Cañas e Melcón,

[...] deduz-se que o uso do lapbook tem sua origem na pedagogia do


Homeschooling, ou seja, o ensino domiciliar, movimento criado nos Estados Unidos
na década de 1970. [...]. Atualmente, inúmeras páginas da web de natureza
educacional, assim como aplicativos como o Pinterest®, oferecem múltiplos
exemplos de como trabalhar com o lapbook em sala de aula, mostrando seu grande
potencial para o alcance de uma aprendizagem significativa (CANÃS; MELCÓN,
2017, p. 246, apud AUSBEL, 1968, tradução nossa).

Além de o lapbook ser uma das ferramentas didáticas mais utilizadas no ensino
domiciliar, esse recurso também está sendo implementado globalmente em muitas escolas
(SCOTT, 2018). Ele é um portfólio que pode ser construído com materiais de fácil acesso e,
mesmo não havendo nenhum trabalho divulgado sobre o uso do lapbook no ensino médio,
este trabalho tem o propósito de apresentar resultados que cristalizam a relevância de tal
ferramenta de ensino, que tem como um de seus principais objetivos ajudar o estudante a
compreender um conteúdo.

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Um lapbook é único, pois cada sujeito ou grupo de pessoas pode confeccionar
diferentes lapbooks para uma mesma temática, já que essa ferramenta didática oferece a cada
estudante a possibilidade de desempenhar sua criatividade e a imaginação de forma visual e
interativa.

Nesse sentido, Ribeiro (2020) menciona que a ferramenta permite ao estudante acessar
as evidências de aprendizagem para sistematizá-lo, o que proporciona que ele desenvolva uma
metodologia de aprendizagem personalizada. A autora ainda reflete que:

[...] o lapbook é um recurso que visa proporcionar aos professores de todos os


níveis de ensino a oportunidade de construir um trabalho significativo com o
conteúdo abordado, permitindo o desenvolvimento do processo contínuo de ensino-
aprendizagem, pois, através desta técnica e dos seus registros o docente é capaz de
observar a aprendizagem e as dificuldades obtidas pelos alunos e se possível
reencaminhá-las (p. 88).

Além disso, Ribeiro (2020) pontua algumas potencialidades dessa ferramenta frente ao
processo de ensino e aprendizagem, tal como a prerrogativa de ser um excelente instrumento
para sistematizar conceitos aprendidos sobre um assunto e de permitir o uso da criatividade
para seu desenvolvimento.

O desenvolvimento da atividade teve início no mês de agosto de 2019, com uma turma
composta por oito mestrandos, com formações em licenciatura nas áreas de Química (2),
Física (3), Biologia (1) e Matemática (2). O Quadro 1 apresenta a designação fictícia dos
discentes com a sua (verdadeira) formação acadêmica específica.

Quadro 1 – Sujeitos de pesquisa e sua formação acadêmica

Mestrandos Formação acadêmica (graduação)


Franklin Biologia Licenciatura
Newton Física Licenciatura
Carson Física Licenciatura
Volhard Física Licenciatura
Pitágoras Matemática Licenciatura
Hipatia Matemática Licenciatura
Marie Curie Química Licenciatura
Lewis Química Licenciatura
Fonte: autoras, 2019.

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Os mestrandos trabalharam em conjunto para a construção da ferramenta didática,
desenvolvida no decorrer da disciplina de Energia e Meio Ambiente. Em cada encontro, foi
proporcionado um tempo para a sistematização dos conhecimentos sobre os conteúdos
abordados na disciplina. Cada um dos encontros teve duração de três horas e as atividades
neles realizadas estão descritas no Quadro 2.

Quadro 2 – Descrição das atividades e dos encontros realizados.

Encontros Descrição
Discussão sobre o texto “Economia verde e matriz energética brasileira:
1 delineamentos e reflexões” (FARIAS; REI, 2015); Informações e instruções
sobre a construção do lapbook.
2 Efeito estufa, poluições térmica e sonora, chuva ácida e camada de ozônio.
Sistematização do lapbook.
3 Fontes de energia: solar e maremotriz. Sistematização do lapbook.
4 Fontes de energia: eólica e hidráulica. Sistematização do lapbook.
5 Fontes de energia: geotérmica e biomassa. Sistematização do lapbook.
Construção do lapbook.
6 Fontes de energia: petróleo, carvão mineral e gás natural. Sistematização do
lapbook.
7 Fontes de energia: nuclear e hidrogênio. Sistematização do lapbook.
8 Finalização e reflexões sobre o processo de construção do lapbook.
Fonte: Autoras, 2019.

No período de oito semanas, o lapbook foi sistematizado pelos mestrandos, que se


propuseram a refletir sobre as limitações e as potencialidades da ferramenta, para que, no
futuro, possam levar o projeto para suas escolas e aplicar o recurso em sala de aula,
adaptando-o conforme as realidades existentes.

3. O DESENVOLVIMENTO DA FERRAMENTA DIDÁTICA – LAPBOOK


Os desenhos, esquemas, “minilivros” e dobraduras foram sendo confeccionados pelos
mestrandos, que se envolveram ativamente na sistematização do conhecimento, conforme
apresentado na Figura 1. A Figura 2, por sua vez, elucida o material finalizado no último
encontro.

Figura 1 – Lapbook sendo sistematizado pelos mestrandos.

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Fonte: arquivo pessoal das autoras, 2019.

Figura 2 – Lapbook finalizado.

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Fonte: arquivo pessoal das autoras, 2019.

No último encontro, foi realizada uma roda de conversas para pontuar quais foram as
potencialidades e as limitações acerca do desenvolvimento da ferramenta didática. As rodas
de conversa – designadas por Paulo Freire de “Círculos de Cultura” – propiciam espaços de
fala e de escuta, nos quais é possível estabelecer um diálogo entre a prática e a teoria
(FREIRE, 1983).

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Quando consultados se conheciam a ferramenta didática, apenas um dos mestrandos
sinalizou que já conhecia o lapbook, mas destacou, no entanto, que, embora conhecesse a
metodologia, nunca havia utilizado esse recurso em sua prática pedagógica. No que refere ao
restante do grupo, a maioria dos discentes mencionou se sentir motivado e estimulado durante
a sistematização do conhecimento relacionado à ferramenta didática, o que aconteceu durante
o desenvolvimento das aulas da disciplina da pós-graduação:

“Me senti estimulada, pois as atividades nos cativaram e estimularam a criatividade


para a construção do material, além de instigar a busca do conhecimento para
produzir o lapbook”. (Carson)
“Me senti motivado para a realização das atividades. O lapbook contribuiu para a
socialização e construção do conhecimento junto aos colegas”. (Pitágoras)
“Me senti realizada porque era uma atividade que eu tinha muito interesse de
conhecer”. (Lewis)
Sobre esses fatores, Conceição e Souza (2002, p. 78) pontuam:

A motivação, é um dos fatores essenciais que atuam como determinante na


aprendizagem, ajudando o aprendiz a criar uma capacidade de participação mais
ativa em todo o processo ensino-aprendizagem, pois a noção de motivação está
intimamente ligada à aprendizagem. A estimulação e a atividade em si não garantem
que a aprendizagem se opere. Para aprender é necessário estar-se motivado e
interessado.
Nesse sentido, Silva e Braibante (2018) destacam que é preciso que o aluno esteja
predisposto a aprender para que ocorra a construção da aprendizagem significativa.

Outro ponto que foi levantado na roda de conversas foi relacionado à possibilidade de
desenvolver a ferramenta didática no chão da escola. Dos oito mestrandos que elaboram o
lapbook, seis estavam atuando como docentes na educação básica, grande parte desses em
escolas públicas estaduais, e percebeu-se, em seus relatos, que o desenvolvimento dessa
ferramenta didática ofereceu subsídios vantajosos e que viabilizavam o desenvolvimento da
proposta em sala de aula pelos professores em exercício.

“Com certeza utilizaria o lapbook na minha práxis. Pode ser adaptado para vários
conteúdos, incluindo os assuntos já trabalhados na disciplina. As Leis de Newton
seriam um conteúdo que tem a possibilidade de ser trabalhado”. (Carson)
“Utilizaria a ferramenta para desenvolver os conteúdos de medida e geometria na
disciplina de matemática”. (Hipatia)
“Eu utilizaria para alguns conteúdos da disciplina de Ciências, por exemplo, para
temas relacionados ao meio ambiente”. (Volhard)
“Utilizaria essa ferramenta para trabalhar na área da Química com a temática da
alimentação saudável. Vejo que seria uma ferramenta ideal de avaliar os estudantes
a partir de vários requisitos como: organização, trabalhar em grupo, relacionar
conceitos...”. (Lewis)

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A intervenção didática também proporcionou aos mestrandos a possibilidade de
trabalhar em conjunto, no decorrer dos encontros, e ainda desenvolver habilidades como a
criatividade de maneira dinâmica, ativa e interativa, conforme destacado por eles:
“Possibilitou uma maior integração e participação de todos na construção do
lapbook. Houve também bastante troca e construção de conhecimentos”. (Carson)
“Foi possível trabalhar em cooperação e com criatividade”. (Pitágoras)
“A ferramenta possibilitou diálogo e troca de experiências sobre os conteúdos”.
(Volhard)
“Podemos ressaltar o trabalho em equipe, a socialização, a criatividade de expor os
conhecimentos no lapbook...”. (Lewis)
O fato de os mestrandos participantes na elaboração do lapbook serem licenciados em
Biologia, Física, Matemática e Química possibilitou a constituição de um grupo
interdisciplinar, que, conforme Lavaqui e Batista (2007, p. 401), “compõe-se de pessoas que
receberam sua formação em diferentes domínios do conhecimento (disciplinas), com seus
métodos, conceitos, dados e termos próprios”.

Portanto, buscou-se, com essa intervenção didática, romper com as metodologias


tradicionais de ensino e constituir metodologias construtivistas (AUSBEL, 2003), em um
contexto no qual se objetiva a aprendizagem de forma significativa, sendo esse o principal
objetivo a ser alcançado pelos professores dentro do processo de ensino e aprendizagem.

Nesse sentido, a utilização dessa ferramenta na sistematização dos conceitos trabalhados


na disciplina Energia e Meio Ambiente, cursada no âmbito da pós-graduação, apresentou
potencial para se classificar como uma estratégia facilitadora da aprendizagem, uma vez que
os discentes protagonizaram a construção do seu conhecimento.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente texto apresentou uma ferramenta didática, pouco utilizada ou até mesmo
pouco conhecida pelos professores nas diferentes áreas de atuação. A utilização de novas
metodologias de ensino que contemplem a aprendizagem significativa pelos estudantes é de
extrema importância.

Na procura de uma metodologia que esteja voltada para a melhoria no ensino da


Educação Básica, o lapbook construído ao longo dos encontros na pós-graduação, no decorrer
da disciplina de Energia e Meio ambiente, serviu como uma ferramenta didática facilitadora
da aprendizagem significativa.
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Levando em consideração o cenário de importantes mudanças estruturais e
organizacionais propostas para a educação brasileira, é de conhecimento que a formação
inicial dos professores ainda não atende suficientemente às necessidades das sociedades
brasileiras, pois prevalece o modo fragmentado de abordar conceitos no âmbito de cada
disciplina. Revela-se, portanto, de extrema relevância que professores atuantes – e mesmo
aqueles ainda em formação – busquem novas metodologias de ensino que instiguem os
estudantes na construção da aprendizagem de forma significativa.

Nessa perspectiva, a proposta da atividade de construção do lapbook pelos mestrandos é


um exemplo de que é possível inovar as metodologias das aulas, mesmo sendo um desafio à
sintetização dos assuntos de forma individual. Os discentes demonstraram saber trabalhar em
grupo e tornar o conhecimento uma expressão criativa, artística e atrativa. Além do mais, a
construção dessa ferramenta pedagógica permitiu uma aproximação com o conteúdo
trabalhado em cada aula.

O uso do lapbook em sala de aula poderá estar direcionado a diferentes finalidades.


Cabe ao professor, portanto, avaliar qual a melhor forma para que essa ferramenta didática
seja utilizada em suas práticas docentes, uma vez que o lapbook permite a construção e a
organização do conhecimento por parte do estudante de forma criativa, sem memorização,
sendo um potencial promotor de aprendizagem significativa.

5. REFERÊNCIAS
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Cognitiva. Lisboa: Paralelo, 2003.

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