Teleodontologia

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teleodontologia

Maria Inês Meurer*, Aldo von Wangenheim**, Caroline Zimmermann***, Douglas Dyllon
Jeronimo de Macedo****, Andre Puel*****, Martin Prüsse*****, Tiago de Holanda Cunha
Nóbrega*****.

* Professora do Departamento de Patologia, Universidade Federal de Santa


Catarina (UFSC).
** Professor do Departamento de Informática e Estatística, UFSC.
*** Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, UFSC.
**** Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento, UFSC.
****** Pesquisador do Instituto Brasileiro para Convergência Digital – INCoD, UFSC.

RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar uma tância, nos diferentes níveis de formação
solução tecnológica desenvolvida para per- (graduação, pós-graduação e educação con-
tinuada).
mitir atividades colaborativas de diagnósti-
co de lesões bucais em ambientes de Teleo-
Descritores: Teleodontologia; Telemedici-
dontologia. Trata-se de uma plataformato-
na; Diagnóstico.
talmente baseada na web e que permite o
gerenciamento e compartilhamento de ima-
Projeto financiado pela Financiadora de
gens clínicas, radiográficas e histopatológi-
Estudos e Projetos - FINEP.
cas, dispensando a instalação de qualquer
programa adicional no computador do usuá-
1 INTRODUÇÃO
rio. Como suporte à colaboração através do
No Brasil, historicamente os servi-
navegador, as ações efetuadas por um usuá-
ços de atenção à saúde concentraram-se em
rio são replicadas e visíveis ao outro usuá-
torno de centros populacionais mais desen-
rio conectado, sendo possível a discussão e
volvidos socioeconomicamente; regiões
troca de informações sobre o caso através
fronteiriças, centros populacionais menores
de chat e/ou áudio-
e áreas com menor índice de urbanização
videoconferência.Ferramentas de Teles-
possuem acesso insuficiente aos serviços
sa de podem ofe e e dife entes opo tuni-
públicos de saúde11,16,18. Mesmo em regiões
dades para assistência e educação em Odon-
com boa distribuição populacional, bons
tologia. Ao permitir a visualização de dife-
indicadores sociais e/ou concentração de-
rentes aspectos da doença do paciente, a
mográfica relevante este fenômeno é ainda
solução aqui apresentada tem potencial para
observável5,6,11,20.
viabilizar: (1) a troca de informações entre
Em decorrência dessa distribuição
profissionais de saúde atuantes em distintos
irregular, frequentemente os pacientes ne-
níveis de assistência e (2) a tutoria, à dis-
cessitam viajar longas distâncias para reali-

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zar determinados exames ou se submeter a paciente para a reintegração familiar, social


atendimentos e tratamentos especializados. e profissional, temporária ou definitivamen-
No Sistema Único de Saúde, o tratamento te12,13. A maioria dos casos de câncer de
fora de domicílio é disponibilizado e pago boca é diagnosticada tardiamente17, embora
pelo Estado2, não sendo apenas um fator de seja conhecido o perfil dos pacientes de
custo direto, mas também uma situação que risco (tabagistas crônicos, principalmente) e
pode acarretar o agravamento da condição existam alterações que tendem a preceder as
de saúde do paciente. Além disso, a descon- lesões de câncer (na cavidade bucal desta-
tinuidade e fragmentação das informações cam-se as leucoplasias, eritroplasias e o
do paciente entre as frentes assistenciais e líquen plano; nos lábios, a queilite actíni-
ao longo do processo assistencial contribu- ca)1. Neste sentido, o cirurgião-dentista é
em para a diminuição do potencial de reso- um profissional chave no diagnóstico e tra-
lutividade do sistema público de saúde co- tamento das lesões bucais.
mo um todo8,10. A Odontologia brasileira é reconhe-
Tal cenário também se apresenta no cida mundialmente pela excelência técnica
diagnóstico e tratamento das doenças perti- em devolver aos pacientes - com estética e
nentes ao complexo bucomaxilofacial, que função - os elementos dentais perdidos,e os
podem apresentar desde um pequeno im- cirurgiões-dentistas brasileiros, de forma
pacto local até um grande impacto na inte- geral, estão mais centrados no diagnóstico
gralidade da saúde do paciente. Há, por das doenças que acometem dentes e perio-
exemplo, tumores benignos que apresentam donto. Pacientes portadores de doenças não
comportamento agressivo, resultando em relacionadas à cárie e/ou doença periodon-
tratamentos cirúrgicos efetuados em ambi- tal são frequentemente referenciados ao
ente hospitalar e que podem resultar em nível secundário de atenção, sendo o pro-
consequências funcionais e estéticas graves. cesso de diagnóstico e tratamento da doença
Algumas lesões bucais são manifestações conduzido por diferentes profissionais da
de doenças sistêmicas, permitindo o di- Odontologia, como estomatologistas, radio-
agnóstico destas últimas–como é o caso das logistas, patologistas bucais e cirurgiões
manifestações bucais da Síndrome da Imu- bucomaxilofaciais. Na maioria dos estados
nodeficiência Adquirida e outras doenças brasileiros são poucos os profissionais com
sexualmente transmissíveis, do diabetes, de formação especialista a quem pacientes
algumas doenças hematológicas e dermato- com essas lesões podem ser referenciados
lógicas, entre outras. O câncer de boca des- (Tabela 1).
taca-se pelo seu impacto tanto na vida do
paciente quanto nos custos de tratamento
para o sistema de saúde: além da alta morta-
lidade de indivíduos na faixa etária econo-
micamente ativa – a sobrevida em 5 anos
gira em torno de 50%3 -,deve-se considerar
que o seu tratamento geralmente implica em
mutilações que, muitas vezes, inabilitam o
Tabela 1 – Número de profissionais registrados no Conselho Federal de Odontologia, por especialidade, ressal-
tando-se a quantidade relativamente pequena de profissionais com formação específica nas áreas do
diagnóstico e tratamento de lesões bucais (excetuando-se cárie e doença periodontal)
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Especialidade registrada no CFO Números de especialistas


Endodontia 13.128
Prótese 10.030
Periodontia 9.175
Implantodontia 8.910
Dentística 5.893
Radiologia 4.986
Cirurgia Bucomaxilofacial 4.714
Estomatologia 827
Patologia Bucal 408

Fonte: Conselho Federal de Odontologia, 2013..Disponível em http://cfo.org.br/servicos-e-


consultas/Dados-estatisticos, acesso em 08 janeiro de 2013.

Quando o paciente com lesão bucal veu-se uma solução tecnológica integrada
é referenciado, os profissionais envolvidos em uma única plataforma e destinada ao
noseu atendimento precisam ter acesso a gerenciamento de imagens clínicas, radio-
informações sobre os aspectos clínicos, lógicas e histopatológicas,e que permitea
radiológicos e histopatológicos das lesões, discussão colaborativa entre profissionais
dados estes nem sempre disponíveis. Há de saúde atuantes nas distintas fases da as-
casos, ainda, em que a troca de informações sistência.A plataforma também tem poten-
e opiniões pode ser desejável, como nas cial para uso em ambientes educacionais à
doenças raras ou nos casos de maior com- distância.
plexidade diagnóstica.Para Nobre et al Os resultados aqui relatados são ini-
(2007)14, “o intercâmbio eficiente de in- ciais. Os autores optaram por apresentá-los
formação entre profissionais de saúde pode considerando o ainda reduzido número de
economizar tempo e dinheiro, proporcionar trabalhos tecnológicos em Teleodontologia
maior efetividade clínica, melhorar a con- no Brasil, a potencial contribuição desta
tinuidade e a qualidade da assistência, as- solução em ambientes de Telessaúde e seu
sim como facilitar as atividades de gestão eventual impacto sobre a cadeia assistencial
em sistemas de saúde públicos e privados”. do Sistema Único de Saúde.
A Telemedicina tem entre seus
principais objetivos tornar os serviços de 2 CARACTERÍSTICAS DA SOLUÇÃO
saúde acessíveis para populações que vi- TECNOLÓGICA PROPOSTA
vem fora dos grandes centros urbanos, agi- A platafo ma totalmente baseada
lizando o processo de diagnóstico. Assim, é na web, podendo ser utilizados os navega-
desejável que ferramentas de telemedicina dores Firefox e Chrome para sua execução.
permitam o acesso à história da doença do O desenvolvimento foi baseado em padrões
paciente, a visualização e interação com e tecnologias abertas, não havendo a neces-
exames que envolvam imagens e, ainda, a sidade de instalação de softwares específi-
comunicação entre os usuários, permitindo cos- sejam eles livres ou comerciais – o que
a colaboração entre os mesmos – tudo isto viabiliza a utilização a partir de qualquer
de forma facilmente acessível em qualquer computador conectado à Internet.
lugar.Em atenção a este cenário, desenvol-
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O acesso às imagens é efetuado colaboração remota. A partir do estabele-


através de uma “platafo ma-mãe” que apre- cimento da conexão e abertura das imagens
senta as funcionalidades de um PACS (Pic- no DIMP, todas as ações efetuadas por um
ture Archiving and Communication System) usuário (utilizando mouse e teclado) são
– um conjunto de tecnologias usado parti- imediatamente replicadas e visíveis aooutro
cularmente no âmbito da Radiologia, e que usuário conectado.
permite o arquivamento seguro e ordenado A seguir serão descritas as princi-
de imagens obtidas por diferentes equipa- pais funcionalidades da plataforma.
mentos,podendo ser acessadas através de
redes de computadores7. 2.1 Visualização e processamento de
O acesso à plataforma é restrito imagens radiológicas
(usuário e senha), e segue os mesmos mol- Esta funcionalidade já está estabele-
des da Rede Catarinense de Telemedicina e cida em ambiente real, sendo usada como
Telessaúde no que se refere aos aspectos de rotina na visualização de exames radiológi-
segurança e confiabilidade no trânsito de cos na Rede Catarinense de Telemedicina e
documentos clínicos eletrônicos baseados Telessaúde. Imagens obtidas digitalmente -
na internet9,14,19. Seu funcionamento está como é o caso dos equipamentos radiológi-
baseado no envio das imagens clínicas, ra- cos digitais,de tomografia computadorizada
diológicas e histopatológicas para um ser- (TC) e ressonância magnética (RM) - são
vidor, permitindo posteriormente o acesso armazenadas no formato DICOM (formato
remoto pelos profissionais envolvidos no de imagem próprio de exames radiológi-
caso, sendo possível a visualização e pro- cos).
cessamento das imagens,bem como a dis- Quando o profissional acessa a pla-
cussão (colaboração) de forma síncrona. taforma, é apresentada a listagem dos paci-
O módulo de visualização é deno- entes (Figura 1)aos quais ele pode ter aces-
minado DIMP (Digital Imaging Manipula- so. Após identificar as imagens a serem
tion Program). Ao se carregar as imagens acessadas, o profissional solicita que sejam
no DIMP a partir do servidor, o sistema abertas no visualizador DIMP (Figura 2).
ve ifi a se j e iste algum usuário exami- Navegadores de internet não são preparados
nando o mesmo conjunto de imagens e, em para visualização de imagens DICOM, de
caso positivo, anuncia a entrada do novo forma que foi necessário o desenvolvimen-
usuário, estando disponíveis as ferramentas to de um procedimento especial para permi-
de chat e áudio-videoconferência para a tir seu carregamento.

Figura 1 – Interface de usuário, apresentando a listagem de pacientes aos quais o profissional pode ter
acesso

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Figura 2 – Interface de usuário do DIMP, apresentando uma imagem de tomografia computadori-


zada de face. As funcionalidades básicas de programas para visualização e processa-
mento dessas imagens estão disponíveis (sequência de botões acima e à direita). Pode-
se ainda observar a janela para chat no canto superior esquerdo.

O DIMP oferece as funcionalidades surações lineares e de densidade tomográfi-


fundamentais de uma workstation radioló- ca, entre outros. Além disso, o DIMP per-
gica para visualização e análise desse tipo mite a execução de reconstruções multipla-
de imagem15, como zoom, janelamento (va- nares (axiais, coronais e sagitais) (Figura
riação nos tons de cinza da imagem), men- 3). Está em fase avançada de desenvolvi-

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mento a ferramenta para processamento permite a visualização vestíbulo-


tridimensional (3D). lingual/palatal dos processos alveolares de
Na Odontologia, a análise de séries maxila e mandíbula. Na Figura 3, podem
de imagens de tomografia computadorizada ser observadas reconstruções panorâmica e
requer muitas vezes reconstruções diferen- oblíquas, sendo possível a navegação pelo
ciadas, denominadas panorâmicas e oblí- conjunto de reconstruções. Também está
quas (ou paraxiais). A reconstrução pano- implementada a ferramenta de mensuração
râmica objetiva a visualização de todo o sobre estas reconstruções (que ainda precisa
arco dental, gerada como uma única ima- ser validada quanto à sua precisão).
gem plana de uma seção com forma elípti- Imagens obtidas por tomógrafos
ca. No DIMP, o plano elíptico de recons- computadorizados de feixe cônico (TCFC)
t u ão ge ado pelo usu io at av s do também podem ser também visualizadas no
posicionamento de pontos de controle; o DIMP. Infelizmente, vários equipamentos
software então interpola uma curva que de TCFC ainda produzem imagens em DI-
passa pelos pontos de controle, e gera a COM fora do padrão, sendo necessárias
reconstrução. As reconstruções oblíquas adequações no sistema para que tais ima-
envolvem a geração de secções transversais gens possam ser visualizadas e processadas
ao longo da curva definida pelo usuário, no DIMP.
criando um conjunto de sub-imagens que
.
Figura 3 – Reconstruções multiplanares (à esquerda) e reconstruções panorâmica e oblíquas (à direita)
a partir de imagens de tomografia computadorizada

2.2 Visualização de imagens clínicas


Imagens clínicas também podem ser formatos. Imagens radiográficas que te-
visualizadas no DIMP. O formato .JPG é o nham sido digitalizadas por equipamentos
mais comumente utilizado nas imagens não dedicados, como escâneres, máquinas-
obtidas por equipamentos fotográficos fotográficas e smartphones, também podem
digitais, mas o sistema suporta outros ser visualizadas (Figura 4).

Figura 4 – Fotografia intrabucal e radiografia panorâmica de um caso de lesão cística em maxila, visualizadas
no DIMP. A radiografia foi digitalizada com máquina fotográfica semiprofissional. Algumas ferra-
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mentas disponíveis para as imagens radiológicas também podem ser utilizadas, permitindo, por
exemplo, o ajuste de brilho e contrasteou do zoom da imagem

2.3 Imagens histopatológicas Embora possa parecer uma solução


Para o compartilhamento de ima- de simples efetivação, uma análise mais
gens histopatológicas, a solução mais lógi- apurada revelou haver incompatibilidade
ca seria a simples digitalização utilizando entre os diferentes componentes do siste-
câmera fotográfica digital acoplada ao mi- ma, oferecidos por diferentes fornecedo-
croscópio. No entanto, a amostra tecidual é resi. Evidenciou-se que alguns equipamen-
geralmente muito maior que o campo de tos não apresentavam interoperabilidade; e
visão que o microscópio oferece sob am- noutras configurações cogitadas, o micros-
plificação, e a digitalização de subáreas cópio ficaria dedicado a esta única função.
individuais não é tida pelos patologistas Considerando os objetivos do projeto, a
como suficiente para análise à distância, interoperabilidade, a disponibilidade de
sendo essencial a visualização da lâmina recursos e a decisão de não tornar o mi-
como um todo, de forma similar ao que croscópio dedicado a este único fim, op-
ocorre com a amostra física. tou-se pelo seguinte conjunto (Figura 5):
Há escâneres dedicados à digitali- microscópio trinocular Primo Star (Zeiss)
zação de lâminas, como os equipamentos + Platina Motorizada XYZ modelo OptiS-
comercializados por empresas como Ape- can II ES103Z (Prior Scientific) + Adap-
rio (www.aperio.com), Nikon tador C-mount + Câmera digital infinity 1-
(http://www.nikoninstruments.com/pr_BR/ 1 C (Qimaging/Lumenera) + Software
Products/Digital-Pathology), Philips Image-Pro Plus Plus v7.0 (Media Cyberne-
(http://www.research.philips.com/initiative tics). Acrescentou-se ao conjunto uma me-
s/digitalpathology/) e PathXL sa antivibratória (Kinetic Systems) para
(http://www.pathxl.com/about-pathxl). No reduzir o efeito de vibrações mecânicas
entanto, são equipamentos de alto custo, ambientais que interferem no funciona-
tendo sido inviável a sua aquisição com os mento do sistema motorizado.A visualiza-
recursos disponíveis para a execução do ção das imagens foi integrada ao DIMP
projeto. Assim, optou-se por um sistema (Figuras 6 e 7). Também foi desenvolvido
automatizado, composto por microscópio i
Foram avaliados microscópios das fabricantes
óptico convencional trinocular acoplado a Leica, Olympus, Nikon e Zeiss. Para automação da
motor de passo (platina moto i ada aquisição, foram avaliadas as opções dos fabrican-
e me a digital. tes Prior, Marzhauser, Zeiss, Objective Imaging e
Trofa, bem como sistemas de câmeras e softwares
(Dyno Eye, EM 200-F, Cell Profiler, ImageJ, Fiji e
µManager).
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o suporte web necessário à visualização ção/distanciamento e navegação, além de


das imagens, sendo equivalente aos pro- ajustes de brilho e contraste da imagem, se
gramas para exploração de mapas (como o necessário.
Google Maps), permitindo aproxima-

Figura 5 – Sistema de aquisição de imagens histopatológicas acoplado ao computador.

Figura 6 – Imagem histopatológica visualizada no DIMP utilizando o navegador Chrome

Figura 7 - Mesmo caso da figura 6, demonstrando-se aqui a utilização da ferramenta de zoom para am-
pliação, bem como outras que podem ser utilizadas durante a discussão para indicação de
áreas de interesse (neste caso, círculo e seta amarelos)

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2.4 Suporte à colaboração


Por suporte à colaboração entende- forma de comunicação é por chat. Neste
se a disponibilidade de ferramentas que caso, assim que um usuário solicita a aber-
permitam a um usuário do sistema compar- tura de um exame no visuali ado P o
tilhar por chat e/ou voz/vídeo as informa- sistema ve ifi a se j e iste um out o usuá-
ções do caso e suas impressões sobre o di- rio examinando o mesmo conjunto de ima-
agnóstico, bem como efetuar determinadas gens e, em caso positivo, anuncia a sua en-
ações em tela que possam ser visualizadas trada através de uma janela de chat (Figuras
por outro usuário localizado remotamente. 2 e 6).
Da mesma forma que as demais fer- Independente da forma de comuni-
ramentas desenvolvidas, este processo co- cação utilizada (chat ou áu-
laborativo está integrado à plataforma. Fo- dio/videoconferência), a partir do momento
ram implementadas duas formas de comu- que ambos os usuários estão conectados e
nicação: áudio/videoconferência e chat. No visualizando um mesmo exame, as ações
caso da videoconferência (Figura 8), quan- efetuadas por um são imediatamente repli-
do o usuário entra na plataforma ele tem a cadas e visíveis ao outro. Estas duas capa-
opção de iniciar uma sessão de videoconfe- cidades (troca de informações por chat ou
rência com outro usuário conectado. Após áudio-videoconferência + compartilhamen-
estabelecida a conexão, ambos os usuários to de ações efetuadas por mouse e teclado)
escolhem o mesmo exame para comparti- permitem efetivamente a discussão dos ca-
lhar, mantendo-se ativa a áu- sos utilizando o conjunto de dados disponí-
dio/videoconferência em curso. A segunda vel (fotos clínicas, imagens radiológicas
e/ou imagens histopatológicas).

Figura 8 - Interface do usuário na janela principal da plataforma, onde pode ser observada janela de videoconfe-
rência (canto inferior direito).

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2.5 Sistema de acervo digital Participaram dos testes de validação


No decorrer do desenvolvimento, profissionais das áreas de Estomatologia,
verificou-se a necessidade de dispor de um Radiologia Odontológica, Patologia Bucal e
sistema de acervo para gerenciamento e Cirurgia Bucomaxilofacial. Estão sendo
arquivamento das imagens, também de iniciados alguns testes junto a profissionais
acesso restrito. No acervo são inseridas as vinculados a Unidades Básicas de Saúde e
imagens e dados correlatos. Há campos que tenham alguma experiência no uso de
para registro de data da imagem, história ferramentas web no âmbito do Programa
clínica e tipo de exame. Podem ser incluí- Telessaúde Brasil.
dos diversos formatos de imagem, indivi- A metodologia de validação esco-
dualmente ou de forma seriada (como é o lhida para avaliar o impacto destas ferra-
caso das imagens de exames de TC ou mentas sobre a prática dos profissionais foi
RM). Adicionalmente, foram inseridos baseada na experiência de usuário. A lógica
campos para registro de hipóteses de diag- por detrás dessa decisão é a de que, se a
nóstico, diagnóstico clínico (presuntivo) e ferramenta proposta é um auxiliar na exe-
histopatológico - nos dois últimos com con- cução do trabalho deste profissional, mas
sulta direta ao CID-10. Está em fase de im- existem outras formas mais tradicionais de
plementação a ferramenta de busca para realizá-lo é, no fim de contas, a experiência
fins de relatórios (tipos de lesões, incidên- do usuário que decidirá se ele a utilizará no
cia, perfis de ocorrência de determinada futuro - ou seja, se ele considerou fácil,
doença em determinada população, agradável, produtivo e frutífero utilizar a
etc.).Também estão em discussão os méto- ferramenta proposta.
dos e processos para anonimização de da- Foi utilizado um instrumento tradi-
dos e/ou imagens, visando a sua utilização cional e bem estabelecido na literatura e na
nos processos colaborativos. comunidade de Usabilidade em Computa-
ção para avaliação da experiência do usuá-
3 TESTES DE VALIDAÇÃO rio: a Escala de Usabilidade de Sistemas
(SUS -System Usability Scale)4. Este ins-
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trumento utiliza um formulário a ser preen- ricos foram “t adu idos” em adjetivos que
chido pelo usuário, que busca coletar suas expressam a usabilidade do software1, con-
impressões após o uso do software, resul- forme a Tabela 2.
tando em um escore final.Os escores numé-

Tabela 2 – Conversão dos valores da escala SUS em adjetivos que expressam subjetivamente a
usabilidade de um sistema

Escore Desvio padrão Adjetivação


90,9 13,4 “o melho imagin vel”
85,5 10,4 “e elente”
71,4 11,6 “ om”
50,9 13,8 “ok”
35,7 12,6 “ uim”
20,3 11,3 “muito uim”
12,5 13,1 “in on e vel”
Fonte: Bangor, Kortum e Miller, 2008.

Os testes de validação efetuados até tico e tratamento de lesões bucais, confor-


o momento contaram com a participação de me Tabela 3. A média obtida (88,2) indica
onze profissionais que atuam nas especiali- que o sistema foi tido como excelente pelos
dades odontológicas envolvidas no diagnós- usuários durante os testes de validação.

Tabela 3 – Valores da escala SUS (System Usability Scale) para avaliação do sistema, a partir das respostas de
profissionais das especialidades envolvidas no diagnóstico e tratamento de lesões bucais.

Usuário 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 Média
Especialidade(s)* E E E P P R P E E E E
R P P C R R
Pontuação SUS 85 95 100 100 87,5 82,5 82,5 80 85 95 77,5 88,2
Especialidades: (E) Estomatologia; (R) Radiologia; (P) Patologia Oral; (C) Cirurgia Bucomaxilofacial.
* Alguns profissionais são especialistas em mais de uma área.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERS- das as possibilidades de interação da plata-


PECTIVAS FUTURAS forma com ambientes virtuais de aprendi-
Os resultados dos testes de usabili- zagem como o Moodle.
dade iniciais indicam que a plataforma ba- Embora a plataforma possa ser
seada na web se adapta às necessidades dos acessada de qualquer computador, a inter-
potenciais usuários. Já estão sendo analisa face baseada em gestos do mouse impede
seu uso em smartphones e tablets. Está em
avaliação o desenvolvimento de uma versão
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adaptada a este perfil de dispositivo móvel, dos de forma organizada e colaborativa,


estando prevista a repetição comparativa da potencialmente via ili a 1 a t o a de
avaliação de usabilidade aqui apresentada. informações entre profissionais de saúde
A equipe de coordenação e desen- atuantes em distintos níveis de assistência
volvimento acredita que uma solução tec- (supo te assisten ial e a tuto ia dis-
nológica que permita a organização e visua- tância, nos diferentes níveis de formação
lização de diferentes aspectos da doença do (graduação p s-g adua ão e educação con-
paciente, bem como a discussão desses da- tinuada).

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Platafo ma ola o ativa multim dia pa a apoio ao diagn sti o de les es u ais em ambientes de teleodontologia

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ponível em proposed solution is fully web-based, re-
http://www.who.int/workforcealliance/ quiring only a web browser installed; it’s
knowled- not necessary to install any other software
ge/resources/GHWA_AUniversalTruth on the user's computer. As collaboration
Report.pdf. support, the actions performed by a user
with mouse and keyboard are replicated and
visible to the other connected user. This
AGRADECIMENTOS toolkit allows the discussion of disease via
Os autores agradecem a valiosa colabora- chat and/or videoconferen ing. Telehealth’s
ção do Prof. Saulo Bortolon (UFES) na tools offer opportunities for assistance and
definição dos parâmetros a serem conside- education in Dentistry. By allowing real-
rados para a escolha do conjunto de aquisi- time viewing and discussion of different
ção de imagens histopatológicas. aspects of a disease this technological solu-
Também agradecem aos colegas que vêm tion has potential to facilitate: (1) exchange
testando e dando sugestões para melhoria of information between health professionals
da plataforma, em especial: Profa. Rejane at different levels of assistance and (2) dis-
Faria Ribeiro-Rotta (UFG), Prof. Viviane tance tutoring at different levels of training
de Almeida Sarmento (UFBA), Profa. (undergraduate, postgraduate and continu-
Manoela Domingues Martins (UFRGS) e ing education).
Prof. Vinícius Carrard (UFRGS).
Descriptors: Teledentistry; Telemedicine;
ABSTRACT Diagnosis.

Collaborative multimedia platform to


support oral diagnosis in teledentistry
environments

This paper presents a technological solution


developed to enabling collaborative activi-
ties in Teledentistry environments. This is a
platform composed by a set of tools for the
management and sharing of clinical, radio-
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