Criminologia - Murillo Ribeiro - DPC-MG

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CRIMINOLOGIA
PROF. MURILLO RIBEIRO DE LIMA

@murilloribeirodelta

CRIMINOLOGIA

Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar: conceito, objeto, método, sistema e funções
da criminologia.

A escola liberal clássica do direito penal e a criminologia positivista.

CIÊNCIAS CRIMINAIS

O DIREITO PENAL, a CRIMINOLOGIA e a POLÍTICA CRIMINAL são os três pilares de sustentação das
Ciências Criminais.

A Política Criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públicos as opções científicas concretas
mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir de ponte eficaz entre o direito penal
e a criminologia, facilitando a recepção das investigações empíricas e sua eventual transformação
em preceitos normativos. Para a doutrina majoritária, a Política Criminal não tem autonomia de
ciência, já que não possui método próprio.

Exemplo de atuação de Política Criminal: melhoria do sistema de iluminação em locais com alta
incidência de crimes em período noturno.

A Criminologia é uma ciência de referência para a Política Criminal.

Criminologia como ciência: reúne uma informação válida, confiável e contrastada sobre o problema
criminal, que é obtida graças a um método que se baseia na análise e observação da realidade.

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CRIMINOLOGIA

→ TERMINOLOGIA: Termo pensado pelo antropólogo francês Paul Topinard (1830-1911) e


difundido no cenário internacional pelo italiano Raffaele Garofalo (1851-1934), tem sua etimologia
no latim crimen (crime) e no grego logo (tratado), significando o “estudo do crime”.

→ MARCO CIENTÍFICO:

Corrente majoritária: obra L’Uomo Delinquente (1876), ou O Homem Delinquente, por Cesare
Lombroso – ESCOLA POSITIVISTA.

Corrente minoritária: Dei Delitti e Delle Pene (1764), ou Dos Delitos e Das Penas, de Cesare Bonesana
(ou Marquês de Beccaria, ou Cesare Beccaria) – ESCOLA CLÁSSICA.

De todo modo, ambos trouxeram relevante contribuição aos estudos do fenômeno criminal.

CONCEITO

Ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima
e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida,
contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como
problema individual e como problema social - , assim como sobre os programas de prevenção eficaz
do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou
sistemas de resposta ao delito (Antonio García-Pablos de Molina).

MÉTODO

A Criminologia está oposta ao Direito Penal, uma vez que trabalha de forma indutiva, e não
dedutiva, como o segundo. Enquanto a Criminologia utiliza um método empírico, observando a
realidade para analisá-la e extrair das experiências as consequências, o Direito Penal faz uso do
método dedutivo, partindo da regra geral para o caso concreto de forma lógica e abstrata. Se à

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criminologia interessa saber como é a realidade, para explicá-la e compreender o problema criminal,
bem como transformá-la, ao direito penal só lhe preocupa o crime enquanto fato descrito na norma
legal, para descobrir sua adequação típica. A criminologia se baseia mais em fatos que em opiniões,
mais na observação que nos discursos ou silogismos.

*Nestor Sampaio Penteado Filho: a criminologia se utiliza dos métodos biológico e sociológico.
Como ciência empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-se da metodologia experimental,
naturalística e indutiva para estudar o delinquente, não sendo suficiente, no entanto, pra delimitar
as causas da criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos métodos estatísticos,
históricos e sociológicos, além do biológico.

Atenção: não há subordinação da Criminologia ao Direito Penal!

Portanto:

CRIMINOLOGIA → MÉTODO INDUTIVO, EMPÍRICO.

DIREITO PENAL → MÉTODO DEDUTIVO, LÓGICO, ABSTRATO.

Método empírico e não necessariamente experimental: a observação é necessária, pois o objeto da


investigação pode tornar inviável ou ilícita a experimentação.

Dada a complexidade do fenômeno delitivo, cabe sim completar o método empírico com outras de
natureza qualitativa, não incompatíveis com aquele.

Interdisciplinar: a análise científica reclama uma instância superior que integre e coordene as
instâncias setoriais procedentes das diversas disciplinas interessadas no fenômeno delitivo e que
instrumentalize um genuíno sistema de retroalimentação. É uma exigência estrutural do saber
científico. A Criminologia somente se consolidou como ciência autônoma quando conseguiu se
emancipar daquelas disciplinas setoriais em torno das quais nasceu e com as quais, com frequência,
se identificou indevidamente.

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MÉTODO E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO (classificação de Antonio García-Pablos de Molina)

Quantitativas: estatística (método por excelência), questionário, métodos de medição. Explicam a


etiologia, a gênese e o desenvolvimento. Por si só são insuficientes.

Qualitativas: observação participante e a entrevista. Permitem compreender as chaves profundas


de um problema.

Transversais: tomam uma única medição da variável ou do fenômeno examinado. Estudos


estatísticos.

Longitudinais: tomam várias medições, em diferentes momentos temporais. Estudos de


seguimento (follow up), as biografias criminais, os case studies. Modernos estudos sobre carreiras
criminais.

Follow up: estudam a evolução do indivíduo durante um determinado período de tempo operando
com uma série de fatores psicológicos e sociológicos. São eles, pois, métodos dinâmicos e
evolutivos. Investigar a gênese, evolução e manifestações de uma carreira criminal. Outros em torno
do problema da reincidência: até que deriva da falha do tratamento penitenciário ou de outros
fatores.

OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA

Por muito tempo, o objeto tradicional de estudo da Criminologia foi embasado pelos ideais da Escola
Positiva (Lombroso, Garofalo, Ferri), sendo subdividido em dois: DELITO e DELINQUENTE. Em
meados do Século XX, particularmente de sua metade até os dias atuais, foram acrescentados dois
outros pontos de interesse: VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Hoje, portanto, é pacífica a divisão do
objeto da Criminologia em quatro vertentes: DELITO, DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL.
Passemos à análise.

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DELITO

Não é o mesmo conceito de Direito Penal.


É a conduta de incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor, aflição e angústia, persistente
no espaço e no tempo.

Incidência massiva na população: o crime não pode ser um fato isolado. Ex: crítica de Sérgio
Salomão Shecaira, com a tipificação do crime de molestar cetáceo na Lei nº 7.643/1987 (banhista
que colocou um palito de sorvete no “nariz” de um filhote de baleia – fato isolado).

Incidência aflitiva do fato praticado: o crime deve ser algo que cause dor, quer à vítima, quer à
comunidade como um todo.

Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo território ao longo de
certo período de tempo.

Inequívoco consenso: não são todos os fatos massivos, aflitivos, com persistência espaço-temporal
em que há um inequívoco consenso da necessidade de criminalização. Ex: uso do álcool.

DELINQUENTE

Vejamos as várias definições de delinquente para as diferentes Escolas da Criminologia:


ESCOLA CLÁSSICA: o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo mal, embora
pudesse e devesse respeitar a lei. Herança da doutrina do Contrato Social, de Rousseau. O
cometimento do crime era um rompimento ao pacto e a pena deveria ser proporcional ao mal
causado. O comportamento criminoso seria um mau uso da liberdade.

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ESCOLA POSITIVA: para a Escola Positiva, o infrator era um prisioneiro de sua própria patologia
(determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Enquanto para os
clássicos a pena deveria ser proporcional ao mal causado, para os positivistas deveria ser utilizada
uma medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado, enquanto
persistisse a patologia.

ESCOLA CORRECIONALISTA: não teve reflexos significativos no Brasil. Defendia que o criminoso era
um ser débil, inferior, e que deveria receber do Estado uma postura pedagógica e de proteção. Ex:
proteção ao menor infrator no Brasil, tida como uma influência da corrente correcionalista.

MARXISMO: para Marx, quem é culpável pelo crime é a própria sociedade, já que o crime seria
decorrente de certas estruturas econômicas.

Contemporaneamente, no entanto, há o giro sociológico da Criminologia e a necessidade de


atenção aos enfoques político-criminais. Abandona-se a perspectiva biopsicopatológica e assume-
se a noção biopsicossocial. Nos dias atuais, portanto, delinquente é o indivíduo que está sujeito às
leis, podendo ou não segui-las por razões multifatoriais e nem sempre assimiladas por outras
pessoas.

VÍTIMA

Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas:

I) Protagonismo (na chamada “idade de ouro”, desde os primórdios da civilização até o fim da Alta
Idade Média).

Justiça privada, vingança, autotutela, pena de talião.

II) Neutralização (o Estado como o responsável pelo conflito social – Código Penal Francês e as
ideias do liberalismo moderno).

Estado monopoliza o poder punitivo estatal e trata a pena como garantia coletiva e não vitimaria.
Instituto como a legítima defesa foram esquecidos.

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III) Redescobrimento/revalorização (traz contornos mais humanos à postura estatal em relação à
vítima – sobretudo após a 2ª Guerra Mundial).

Na segunda metade do Século XX, o estudo sobre a vítima assumiu contornos marcados, sendo
fundada uma nova disciplina (ou ciência, para parte da doutrina), a VITIMOLOGIA, o estudo das
relações da vítima com o infrator (chamada pela doutrina de “dupla penal”) ou com o sistema. Com
a definição dos contornos do Estado Democrático de Direito, surgiu a necessidade da redefinição
da vítima sob uma perspectiva mais humana, exigindo-se um fazer estatal para implementação
de seus direitos e buscando a diminuição dos efeitos da Vitimização Secundária*.

TIPOS DE VITIMIZAÇÃO:

VITIMIZAÇÃO é, segundo Antonio Garcia-Pablos de Molina, o processo pelo qual uma pessoa sofre
as consequências negativas de um fato traumático, especialmente, de um delito.

Ainda segundo o autor, a doutrina classificou os processos de vitimização em três principais:

A Vitimização Primária é o processo através do qual um indivíduo sofre direta ou indiretamente os


efeitos nocivos ocasionados pelo delito, que variam de acordo com o bem jurídico lesionado e
podem ser, em regra, materiais ou psíquicos.

A Vitimização Secundária é entendida como o sofrimento suportado pela vítima nas fases do
inquérito e do processo, em que muitas vezes deverá reviver o fato criminoso por meio de
interrogatórios, declarações e exames de corpo de delito, além de submeter-se a situações como
presenciar a argumentação dos defensores do autor sugerindo que deu causa ao fato e o reencontro
com o delinquente.

Por fim, entende-se por Vitimização Terciária a ausência de receptividade social em relação à
vítima, que em diversos casos se vê compelida a alterar sua rotina, os ambientes de convívio e
círculos sociais em razão da estigmatização causada pelo delito. São exemplos a segregação social
sentida pelas vítimas de crimes sexuais e as consequências da divulgação não autorizada de fotos
ou vídeos íntimos nas redes sociais.

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CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS:

I) Classificação de Benjamin Mendelsohn.

De acordo com Benjamin Mendelsohn as vítimas podem ser classificadas da seguinte maneira:
1. Vítima completamente inocente ou vítima ideal. Trata-se da vítima completamente estranha à ação
do criminoso, não provocando nem colaborando de alguma forma para a realização do delito.
Exemplo: uma senhora que tem sua bolsa arrancada pelo bandido na rua.
2. Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância. Ocorre quando há um impulso não voluntário
ao delito, mas de certa forma existe um grau de culpa que leva essa pessoa à vitimização. Exemplo:
um casal de namorados que mantém relação sexual na varanda do vizinho e lá são atacados por ele,
por não aceitar esta falta de pudor.
3. Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator. Ambos podem ser o criminoso ou a vítima.
Exemplo: Roleta Russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores giram o tambor até
um se matar).
4. Vítima mais culpada que o infrator. Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que
incitam o autor do crime; as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se
controlarem, ainda que haja uma parcela de culpa do autor.
5. Vítima unicamente culpada. Dentro dessa modalidade, as vítimas são classificadas em: a) Vítima
infratora, ou seja, a pessoa comete um delito e no fim se torna vítima, como ocorre no caso do
homicídio por legítima defesa; b) Vítima Simuladora, que através de uma premeditação irresponsável
induz um indivíduo a ser acusado de um delito, gerando, dessa forma, um erro judiciário; c) Vítima
imaginária, que trata-se de uma pessoa portadora de um grave transtorno mental que, em decorrência
de tal distúrbio leva o judiciário à erro, podendo se passar por vítima de um crime, acusando uma
pessoa de ser o autor, sendo que tal delito nunca existiu, ou seja, esse fato não passa de uma
imaginação da vítima

CONTROLE SOCIAL

Instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos indivíduos aos
modelos e normas comunitárias de modo orientador e fiscalizador. Com relação aos seus

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destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos). Subdivide-se
em controle social formal (realizado pelo Estado, caracterizado pelo Sistema de Justiça Criminal –
Polícias, Poder Judiciário, MP, Administração Prisional) e controle social informal (realizado pela
sociedade civil – família, mídia, opinião pública, religião, ambiente de trabalho etc.).

NORMA, PROCESSO E SANÇÃO = três componentes fundamentais das instituições de controle


social.

Pode ser exercido de três principais formas:


a) sanções formais (aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais) e sanções
informais (não têm força coercitiva);
b) meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções);
c) controle interno (autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas
e penas privativas de liberdade).

Quando as formas de controle social informal falham, aparecem as formas de controle formal. A
pena privativa de liberdade é a mais grave das sanções do controle social formal.

Para o LABELLING APPROACH (Teoria da Reação Social), o controle social é SELETIVO e


DISCRIMINATÓRIO, GERADOR e CONSTITUTIVO de criminalidade e ESTIGMATIZANTE.

FUNÇÕES

Explicar e prevenir o crime;

Intervir na pessoa do infrator (qual é o impacto real da pena, avaliar programas reais de reinserção
e fazer a sociedade perceber que o crime é um problema comunitário).

Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime.

*Nestor Sampaio Penteado Filho: a função da Criminologia é desenhar um diagnóstico qualificado


e conjuntural sobre o delito.

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PREVENÇÃO

Prevenção primária: medidas de médio e longo prazo que atingem a raiz do conflito criminal.
Investimentos em educação, trabalho, bem-estar social.

Prevenção secundária: atua onde o crime se manifesta ou se exterioriza. As chamadas “zonas


quentes de criminalidade”. A prevenção secundária tem em suas principais manifestações a atuação
policial. Outros exemplos: programas de ordenação urbana, controle dos meios de comunicação e
melhora do aspecto visual das obras arquitetônicas.

Prevenção terciária: possui um destinatário específico, o recluso. Possui objetivo certo:


ressocialização do preso, evitando a reincidência.

INTERVENÇÃO POSITIVA NO INFRATOR

Três metas da Criminologia:

1) Avaliar o impacto real da pena em quem a cumpre e os seus efeitos.

2) Desenhar e avaliar programas de reinserção (não individualista, mas funcional).

3) Fazer a sociedade perceber que o crime é um problema de todos (sociedade assumindo


responsabilidades). Crime como problema social.

MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME

Modelo clássico, dissuasório ou retributivo

A base do modelo está na punição do delinquente, que deve ser intimidatória e proporcional ao
dano causado. Os protagonistas do modelo são o Estado e delinquente, estando excluídos a vítima
e a sociedade.

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Modelo ressocializador

Este modelo se preocupa com a reinserção social do delinquente. Assim, a finalidade da pena não
se reduz ao retribucionismo (retribuição do mal feito pelo castigo corporal), mas procura
ressocializar o agente para reinseri-lo na sociedade.

A sociedade tem papel de destaque na efetivação da ressocialização, pois cabe a esta afastar
estigmas, como o de ex-presidiário.

Modelo restaurador, integrador ou Justiça Restaurativa

Este modelo procura restaurar o status quo antes da prática do delito. Para tanto utiliza-se meios
alternativos de solução. A restauração do controle social abalado pelo delito se dá pela via da
reparação do dano pelo delinquente à vítima. A ação conciliadora, com a participação dos
envolvidos no conflito, é fundamental para a solução do problema criminal. Exemplo no sistema
brasileiro: composição civil dos delitos nos Juizados Especiais Criminais.

SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA

Quais são as disciplinas que integram a Criminologia?

Temos duas concepções: a austríaca (também chamada de enciclopédica) e a concepção estrita.

CONCEPÇÃO AUSTRÍACA (ENCICLOPÉDICA)

Pertencem à Criminologia:

I) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM A REALIDADE CRIMINAL: Fenomenologia (análise das formas


de surgimento da criminalidade), Etiologia (causas ou fatores determinantes da criminalidade),
Prognose (análise dos fatores determinantes da criminalidade, formulando diagnósticos e
prognósticos sobre o futuro comportamento e periculosidade do autor), Biologia criminal,
Psicologia criminal, Antropologia, Geografia criminal, Ecologia criminal etc.

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II) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM O PROCESSO: a Criminalística (Tática e Técnica Criminal).
Criminalística é o conjunto de teorias que se referem ao esclarecimento dos casos criminais (ciência
policial). Tática criminal: modus operandi mais adequados para o esclarecimento dos fatos e
identificação do autor. Técnica criminal: se ocupa das provas, analisando os métodos científicos
existentes para demonstrar realisticamente uma determinada hipótese.

III) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM A REPRESSÃO E PREVENÇÃO DO DELITO: Penologia (Ciência


Penitenciária, Pedagogia Correcional) e Profilaxia.

Penologia: ciência que examina o cumprimento e execução das penas. A Ciência Penitenciária é
subdisciplina da Penologia, centralizando os estudos nas penas privativas de liberdade e a Pedagogia
Correcional se preocupa com orientar a execução do castigo para a significação de um impacto
positivo, de reinserção social.

Profilaxia: meta prioritária de luta contra o delito, articulando as estratégias oportunas para incidir
eficazmente nos fatores individuais e sociais criminógenos, antecipando-se ao crime.

CONCEPÇÃO ESTRITA

Admite as disciplinas relacionadas com a realidade criminal, mas afirma que a Criminalística (esta
é, para a concepção estrita, disciplina auxiliar do direito penal), a Penologia (é uma ciência técnica
e não sistema da Criminologia que, por sua vez, é uma ciência “pura”) e a Profilaxia (não cabe à
Criminologia assumir uma postura beligerante contra o delito) NÃO DEVEM fazer parte do sistema
da Criminologia.

NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA

Fase pré-científica: período desde a Antiguidade, com textos esparsos de alguns autores que já se
preocupavam com o crime. A Escola Clássica, segundo a doutrina, também fazia parte da fase pré-
científica da Criminologia.

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Fase científica: estudo da criminalidade, com atenção científica e sistemática. Marco científico
inaugural: Escola Positiva, com a obra O Homem Delinquente, de Lombroso (1876).

A ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA DO DIREITO PENAL E A CRIMINOLOGIA POSITIVISTA

ESCOLA CLÁSSICA

Delimitação histórica: momento conhecido como “época dos pioneiros” = teorias sobre o crime,
sobre o direito penal e sobre a pena (século XVIII e início do século XIX) – Feuerbach, Cesare
Beccaria e escola clássica de direito penal na Itália.

Também chamada de Escola Liberal Clássica.

A Escola Clássica, por adotar o método lógico, abstrato, dedutivo, faz parte da fase pré-científica da
Criminologia. A fase científica é inaugurada com a Escola Positiva.

Escola Liberal Clássica: o homem delinquente não era um ser diferente, não há um rígido
determinismo. O delito é um conceito jurídico, ou seja, é a violação de um direito e, também,
daquele pacto social que estava na base do Estado e do direito, segundo o liberalismo clássico. O
delito surgia da livre vontade do indivíduo e não de causas patológicas. Critérios da pena:
necessidade ou utilidade e princípio da legalidade.

A Escola Clássica representa os primeiros impulsos da tradição italiana de Direito Penal. Um


processo que, segundo Alessandro Baratta, vai da filosofia do direito penal a uma fundamentação
filosófica da ciência do direito penal, ou seja, uma concepção filosófica para uma concepção jurídica,
mas filosoficamente fundamentada, dos conceitos de delito, de responsabilidade penal, de pena.
Essa fase é iniciada com a obra Dos Delitos e Das Penas, de Beccaria. Ideias do contrato social, da
divisão dos poderes e de uma teoria jurídica do delito e da pena.

A Escola Clássica não pretendeu oferecer uma teoria etiológica da criminalidade, das causas desta,
senão o suporte de uma resposta racional e justa ao delito.

CESARE BONESANA BECCARIA

A base da justiça humana, para Beccaria, é a utilidade comum.

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Para Beccaria, o dano social e a defesa social constituem os elementos fundamentais,
respectivamente, da teoria do delito e da teoria da pena.

Racionalidade. Pressuposta a racionalidade do homem, haveria de se indagar, apenas, quanto à


racionalidade da lei. Leis simples, conhecidas pelo povo e obedecidas por todos os cidadãos

A ideologia dominante havia instrumentalizado o saber por meio do paradigma do contrato


(ascensão da burguesia enquanto classe dominante).

Arcabouço teórico = Cesare Beccaria, com a obra Dos Delitos e das Penas (1764).

O crime é uma quebra do pacto. A pena era a reparação do dano causado pela violação de um
contrato (o de Rousseau). Serão ilegítimas todas as penas que não relevem da salvaguarda do
contrato social. Pena deve ser suficiente para reparar o dano causado pela violação do contrato.

Método abstrato e dedutivo, baseado no silogismo.

SEGUNDO AUTOR: GIANDOMENICO ROMAGNOSI

O princípio natural é, para Romagnosi, a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima


utilidade. Deste princípio derivam as três relações ético-jurídicas fundamentais: o direito e dever
de cada um de conservar a própria existência, o dever recíproco dos homens de não atentar contra
sua existência, o direito de cada um de não ser ofendido por outro.

A pena constitui um contraestímulo ao impulso criminoso.

“Se depois do primeiro delito existisse uma certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a
sociedade não teria direito algum de punir o delinquente” (Giandomenico Romagnosi).

TERCEIRO E PRINCIPAL AUTOR: FRANCESCO CARRARA

Para Carrara, o crime não é um ente de fato, é um ENTE JURÍDICO; não é uma ação, é uma infração.
É um ente jurídico porque a sua essência deve consistir necessariamente na VIOLAÇÃO DE UM
DIREITO. Direito não no sentido das mutáveis legislações positivas, mas sim de “uma lei que é
absoluta, porque constituída pela única ordem possível para a humanidade, segundo as previsões e
a vontade do Criador”. Parte teórica (fundamento lógico é a verdade, pela natureza das coisas,
imutável) e prática do direito penal (autoridade da lei positiva). Para Carrara, o fim da pena não é a

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retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria da impunidade do delito. A reeducação
do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a sua função essencial.

O crime é a violação do direito como EXIGÊNCIA RACIONAL e não como norma de direito positivo.
O homem viola porque tem VONTADE. Advém daí O LIVRE-ARBÍTRIO.

Para os clássicos, a pena é uma retribuição jurídica que tem como objeto o restabelecimento da
ordem externa violada. A pena, como negação da negação do direito (Hegel).

“O delito, como ação, é para Carrara e para a Escola Clássica um ente juridicamente qualificado,
possuidor de uma estrutura real e um significado jurídico autônomo, que surge de um princípio por
sua vez autônomo, metafisicamente hipostasiado: o ato da livre vontade de um sujeito (Alessandro
Baratta, Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal).

“A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função
essencial da pena” (Francesco Carrara).

Por ser tão racional, a escola clássica encontrou dificuldade para explicar diversos fenômenos. Ex: a
suposta homogeneidade absoluta de todos os homens no que toca aos processos pessoais,
biopsicológicos, de motivação do ato delituoso. Foi daí que surgiu a crítica positivista.

ESCOLA POSITIVA

Delimitação histórica: teorias na Europa no final do século XIX e início do século XX. Autores: Escola
Sociológica Francesa (Gabriel Tarde), Escola Social na Alemanha (Franz Von Liszt) e principalmente
a Escola Positiva Italiana (Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo).

Principais autores: Lombroso (fase antropológica), Enrico Ferri (fase sociológica) e Raffaele Garofalo
(fase jurídica).

A Escola Positiva ofereceu uma reação contra as hipóteses racionalistas de entidades abstratas.

Modelo positivista da Criminologia: estudo das causas ou dos fatores da criminalidade (paradigma
etiológico), a fim de individualizar as medidas adequadas para removê-los, intervindo sobretudo no
sujeito criminoso. “O foco era o homem delinquente, considerado como um indivíduo diferente e,
como tal, clinicamente observável” (Alessandro Baratta).

Buscava-se a explicação da criminalidade na “diversidade” ou anomalia dos autores de


comportamentos criminalizados.

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Alessandro Baratta defende que o delito é, também para a Escola Positiva, um ente jurídico, mas o
direito que qualifica este fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural e
social. A Escola Positiva procura encontrar todo o complexo das causas na totalidade biológica e
psicológica do indivíduo e na totalidade social que determina a vida do indivíduo.

LOMBROSO (autor inicial da escola)

A obra de Lombroso, como vimos, é considerada o marco científico da Criminologia.

O ponto de partida da teoria de Lombroso proveio de pesquisas craniométricas de criminosos,


abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais.

Para Lombroso, o crime é um fenômeno biológico e não um ente jurídico (como sustentavam os
clássicos), razão pela qual o método que deve ser utilizado para o seu estudo havia de ser o
empírico. O delito é um ente natural, um fenômeno necessário, como o nascimento, a morte, a
concepção, determinado por causas biológicas de natureza sobretudo hereditária.

“A visão predominantemente antropológica de Lombroso seria depois ampliada por Ferri, com a
acentuação dos fatores sociológicos, e com Garófalo, com a acentuação de fatores psicológicos”
(Alessandro Baratta, Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal).

Conceito de criminoso: para Lombroso, o criminoso é um ser atávico que representa a regressão do
homem ao primitivismo. É um selvagem que já nasce delinquente. Sustentava também a
agressividade explosiva do epilético.

Bases de sua teoria básica: atavismo, degeneração pela doença e criminoso nato, com certas
características. Fronte fugidia, assimetria craniana, cara larga e chata, grande desenvolvimento das
maças do rosto, lábios finos, criminosos na maioria das vezes canhotos, cabelos abundantes, barba
rala; ladrões com olhar errante, móvel e oblíquo; assassinos com olhar duro, vítreo, injetado de
sangue. Características anímicas: insensibilidade à dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade,
crueldade, falta de senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo.

Para Lombroso, os fatores exógenos só servem como desencadeadores dos fatos clínicos
(endógenos). Desencadeador de uma predisposição inata, própria do criminoso. O criminoso
sempre nascia criminoso. O determinismo é biológico, sendo o livre-arbítrio uma mera ficção.

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A principal contribuição de Lombroso para a Criminologia não reside em sua tipologia de criminoso
nato, mas do método empírico. Sua teoria é fruto de mais de 400 autópsias de delinquentes e 6000
análises de delinquentes vivos, além de um estudo minucioso de 25 mil presos.

Principal seguidor de Lombroso no Brasil: Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), conhecido como
“Lombroso dos Trópicos”.

O grande equívoco dos positivistas, notadamente Lombroso, foi acreditar na possibilidade de se


descobrir uma causa biológica para o fenômeno criminal.

Sucessor de Lombro, seu genro ENRICO FERRI (1856-1929)

Diferentemente de Lombroso, Ferri dá ênfase às ciências sociais, com uma compreensão mais
alargada da criminalidade, evitando-se o reducionismo antropológico.

Para Ferri, o fenômeno da criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais.

ANTROPOLÓGICOS: constituição orgânica e psíquica do indivíduo, raça, idade, sexo, estado civil,
etc.)

FÍSICOS: clima, estações, temperatura, etc.

SOCIAIS: densidade da população, opinião pública, família, moral, religião, educação, etc.

Segundo Ferri, há cinco categorias de delinquentes: o nato, o louco, o habitual, o ocasional e o


passional.

Nato: criminoso conforme a classificação original de Lombroso, caracterizando-se por impulsividade


ínsita.

Louco: levado ao crime não somente pela doença mental, mas também pela atrofia do senso moral,
que é sempre a condição decisiva na gênese da delinquência.

Habitual: descrição daquele nascido e crescido num ambiente de miséria e pobreza, começando
por pequenos delitos até delitos mais graves. Grave periculosidade e difícil readaptabilidade.

Ocasional: forte influência de circunstâncias ambientais, injusta provocação, necessidades


familiares ou pessoais, etc. Menor a periculosidade e maior a readaptabilidade social.

Passional: praticam crimes impelidos por paixões pessoais, como também políticas e sociais.

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“Para eles (os Clássicos), a ciência só necessita de papel, caneta e lápis, e o resto sai de um cérebro
repleto de leituras de livros, mais ou menos abundantes, e feitos da mesma matéria. Para nós, a
ciência requer um gasto de muito tempo, examinando um a um os feitos, avaliando-os, reduzindo-
os a um denominador comum e extraindo deles a ideia nuclear” (FERRI).

A pena, como meio de defesa social, não age de modo exclusivamente repressivo, segregando o
delinquente e dissuadindo com sua ameaça os possíveis autores do delito, mas, também e
sobretudo, de modo curativo e reeducativo.

O critério de medição de pena não está ligado abstratamente ao fato delituoso singular, ou seja,
à violação do direito ou ao dano social produzido, mas às condições do sujeito tratado. A duração
deve ser medida em relação aos seus efeitos (melhoria e reeducação).

RAFFAELE GAROFALO (1851-1934)

Foi o terceiro grande nome do positivismo italiano.

Para Garofalo, o crime sempre está no indivíduo, e que é uma revelação de uma natureza
degenerativa, sejam as causas antigas ou recentes. Utiliza o termo temibilidade (perversidade
constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal previsto que se deve temer por parte deste
delinquente). A temibilidade é fundamento para a medida de segurança (meio de contenção).

Segundo o autor, o crime está fundamentado em uma anomalia - não patológica -, mas psíquica ou
moral (déficit na esfera moral de personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação
psíquica, transmissível hereditariamente).

O estudioso criou o conceito de delito natural, em que descreve condutas nocivas em si, em
qualquer sociedade e em qualquer momento, com independência, inclusive, das próprias
valorações legais e mutantes.

Delito natural: a violação daquela parte do sentido moral que consiste nos sentimentos altruístas
fundamentais de piedade e probidade, segundo o padrão médio em que se encontram as raças
humanas superiores, cuja medida é necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade (tal
conceito foi criticado pela doutrina, uma vez não ser possível estabelecer uma ideal geral de delito
natural).

Principal contribuição de Garofalo: filosofia do castigo, dos fins da pena e da sua fundamentação.
O Estado deve eliminar o delinquente que não se adapta à sociedade e às exigências da

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convivência. O autor entende ser possível a pena de morte em certos casos (criminosos violentos,
ladrões profissionais e criminosos habituais, em geral), assim como penas severas em geral (ex:
envio de um criminoso por tempo indeterminado para colônias agrícolas).

Resumo do positivismo: o crime passa a ser reconhecido como um fenômeno natural e social,
sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigindo o estudo da criminalidade a adoção
do método experimental. A pena será uma medida de defesa social, para recuperação do criminoso,
por tempo indeterminado (até obtida a recuperação). O criminoso será sempre psicologicamente
um anormal, temporária ou permanentemente.

Para a Escola Positiva, a criminalidade podia tornar-se objeto de estudo nas suas causas,
independentemente do estudo das reações sociais e do direito penal.

Influência da escola positivista no Brasil e no Código Penal de 1940: instalação de manicômios


judiciários. Exposição de motivos propõe uma política de transação e conciliação com os ideais
clássicos e positivistas. Ex: adoção do sistema do duplo-binário (pena e medida de segurança ao
mesmo tempo, abolido na reforma de 1984, vigendo o atual sistema vicariante). Crime habitual e
influências do positivismo.

Conclusão.

Para a doutrina, as influências do positivismo foram mais marcantes, sobretudo pela relação com a
antropologia, sociologia, filosofia, psiquiatria, não considerando o direito como a única fonte de
explicações.

MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA: MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO


COMPORTAMENTO CRIMINAL

Para Antonio García- Pablos de Molina, são quatro os principais modelos ou enfoques teóricos
explicativos do comportamento criminal:

a) Criminologia Clássica e Neoclássica (esta última será estudada a seguir, na Teoria da Opção
Racional como Opção Econômica);

b) Criminologia Positivista;

c) Sociologia Criminal (veja as Teorias Sociológicas);

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d) Diversas correntes da Moderna Criminologia. Para o autor, as correntes da Moderna
Criminologia tratam de explicar o delito seguindo um enfoque dinâmico com métodos
preferencialmente longitudinais. Esses enfoques não pretendem fazer uma análise etiológica do
delito, nem uma teoria generalizada da criminalidade. O objetivo é descrever a gênese do
comportamento delitivo de forma dinâmica, ou seja, avaliar o processo e a evolução dos padrões
de conduta na vida do autor, durante as diversas etapas. Exemplos: estudos de trajetórias e
carreiras criminais, teorias do curso da vida e Criminologia do Desenvolvimento.

O MODELO CLÁSSICO DO LIVRE ARBÍTRIO DA OPÇÃO RACIONAL E TEORIAS SITUACIONAIS DA


CRIMINALIDADE

Antes de analisar as Teorias Sociológicas, Molina traz em sua obra a explicação da chamada Escola
Neoclássica (Teoria da Opção Racional como Opção Econômica) e de outras teorias situacionais da
criminalidade (modelos relacionados à prevenção de delitos).

I) TEORIA DA OPÇÃO RACIONAL COMO OPÇÃO ECONÔMICA (MODELO DE ORIENTAÇÃO


ECONOMICISTA NEOCLÁSSICO).

Década de 70 do Século XX, ou seja, mais de dois séculos da Escola Clássica do Século XVIII.

Principais autores: Gary Stanley Becker e Isaac Ehrlich.

Análise econômica do delito: a ação delitiva é uma opção racional econômica do criminoso. Para
cometer um crime, o autor alia uma opção racional à opção econômica, baseada em custos e
benefícios (não estritamente monetários, mas também outros fatores, como o prestígio, o
conforto, a conveniência etc.).

Em suma: OPÇÃO RACIONAL + OPÇÃO ECONÔMICA.

O homem delinquente, assim como para a teoria clássica propriamente dita, não se distingue do
homem não delinquente do ponto de vista da racionalidade do seu comportamento.

O infrator valora as chances que existem e escolhe a alternativa que lhe traga mais vantagens e
menos riscos.

Assim, as pessoas delinquem quando o coeficiente de benefícios é maior para o comportamento


criminal que para as alternativas não criminais.

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Como solução de prevenção, a teoria destaca o caráter retribucionista da pena. Se o criminoso tiver
a certeza da punição, ele não cometerá o crime. Desta forma, o modelo acredita na lei penal, no
impacto dissuasivo da pena e nas instâncias de controle social formal.

Resumo: a Escola Neoclássica propõe uma imagem racional ao impulso do comportamento humano,
reiterando sua confiança na lei penal (efeito dissuasório desta) e nas instituições de controle social
formal.

II) TEORIA DAS ATIVIDADES ROTINEIRAS (TEORIA DA OPORTUNIDADE).

Vincula a racionalidade da opção delitiva ao fator oportunidade.

OPÇÃO RACIONAL + OPORTUNIDADE.

Não basta a existência de um delinquente disposto (motivado) para a ocorrência do delito, mas
também a oportunidade propícia ou situação idônea para que aquece passe à ação.

Para que um CRIME ocorra deve haver CONVERGÊNCIA de TEMPO e ESPAÇO de pelo menos três
elementos (tais elementos são representados como três lados de um triângulo):

I) INFRATOR MOTIVADO e com habilidades necessárias. Essa motivação pode estar vinculada a
diversos fatores, como patologia individual, maximização do lucro, o criminoso como subproduto
de um sistema social perverso ou deficiente, desorganização social e oportunidade.

II) ALVO ADEQUADO: pode se referir tanto a uma pessoa, como objeto ou local. Se o crime, por
exemplo, é um arrombamento em um comércio, então o alvo adequado deve ser um local em que
se acredita haver dinheiro ou um produto com valor significativo de revenda. Se o crime é um roubo,
cometido em uma avenida qualquer, o alvo adequado, por exemplo, pode ser uma mulher de idade
avançada carregando objetos de valor para o agressor, desprotegida e com pequenas chances de
reagir.

II) AUSÊNCIA DE UM GUARDIÃO. O termo guardião pode se referir a policiais, vigilantes privados,
testemunhas que passam pelo local, um cão de guarda na residência ou no estabelecimento,
câmeras de monitoramento, cercas, alarmes etc.

→Para prevenir o crime, Glensor e Peak recomendam que a polícia e a comunidade estejam atentas
a três fatores vinculados a cada um dos lados do triângulo. Deve haver um CONTROLADOR DO
INFRATOR (alguém que exerça influência neste a fim de evitar o crime, como seus pais, sua mulher,
seu marido etc), um AMBIENTE RESPONSÁVEL (alvos inadequados) e a PRESENÇA de um guardião.

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Para a teoria, a sociedade pós-industrial oferece mais ou melhores oportunidades ao delinquente,
já que a organização tempo-espacial de suas atividades cotidianas e estilos de vida atuais
possibilitam tais oportunidades. Ex: locomoções diárias dos cidadãos, lares vazios por longos
espaços de tempo, saídas noturnas e de fim de semana, vitrine de bens valiosas, a necessidade de
expor seus bens materiais (ex: redes sociais ostentando viagens e itens de luxo) etc. Assim, o
aumento da criminalidade guarda relação direta com o perfil e a organização das atividades
cotidianas lícitas de nossa sociedade.

III) TEORIA DO MEIO OU ENTORNO FÍSICO.

Para a teoria, o espaço físico exerce papel de relevância para a gênese do comportamento delitivo.

OPÇÃO RACIONAL + ESPAÇO FÍSICO ADEQUADO.

Aponta mais para metas prevencionistas do que para modelos etiológicos explicativos do crime.

Newman, um dos estudiosos do tema, cria a expressão “defensible space”: modelo para ambientes
residenciais que inibe o delito, criando a expressão física de uma fábrica social que se defende a si
mesma. Área de maior eficácia do controle social informal.

O desenho arquitetônico e urbanístico favorece o crime. O meio ou o entorno interagem com a


motivação do criminoso. Ex: em crimes patrimoniais, o criminoso busca locais mais escuros, com
vítimas desconhecidas, evitando a presença de testemunhas.

Resumo: o local é relevante para a ocorrência da criminalidade.

A MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA: MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO


COMPORTAMENTO CRIMINAL. BIOLOGIA CRIMINAL, PSICOLOGIA CRIMINAL E SOCIOLOGIA
CRIMINAL

Após a chamada Luta de Escolas (Clássica x Positivista), segundo Molina, surgiram no panorama
criminológico três orientações relativamente definidas: as biológicas, as psicológicas e as
sociológicas.

MODELO BIOLÓGICO: foco no homem delinquente. O objetivo aqui é localizar e identificar, em


alguma parte do corpo ou nos sistemas e subsistemas deste, o fator diferencial que explica a

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conduta delitiva. O crime é encarado como consequência de alguma patologia, disfunção ou
transtorno orgânico do indivíduo. Ex: estudos sobre Biotipologia, anomias, genética etc.

MODELO PSICOLÓGICO: buscam a explicação do comportamento delitivo no mundo anímico do


homem, nos processos psíquicos anormais (psicopatologia) ou nas vivências subconscientes que
têm sua origem no passado remoto do indivíduo e que só podem ser captadas por meio da
introspecção (Psicanálise); ou, ainda, creem que o comportamento delitivo, em sua gênese
(aprendizagem), estrutura e dinâmica, tem idênticas características e se rege pelas mesmas pautas
que o comportamento não delitivo (teorias psicológicas de aprendizagem). Ex: estudos sobre a
Teoria Psicanalítica, pensamento de Freud, Esquizofrenia, Transtorno Bipolar etc.

MODELO SOCIOLÓGICO: ainda segundo Molina, os modelos sociológicos contemplam o fato


delitivo como “fenômeno social”, aplicando à sua análise diversos marcos teóricos precisos:
ecológico, estrutural-funcionalista, subcultural, conflitual, interacionista etc.

Daremos enfoque, segundo os ditames do edital, nas Teorias Sociológicas.

TEORIAS SOCIOLÓGICAS

As Teorias da Sociologia Criminal são separadas em dois grupos, segundo a doutrina, para fins
didáticos: Teorias do Consenso e Teorias do Conflito.

Teorias do Consenso (teorias funcionalistas): a sociedade é formada pelo consenso entre os


indivíduos, pela livre vontade. Todo elemento na sociedade tem sua função. Estudaremos, neste
grupo, a Escola de Chicago, a Teoria da Anomia, a Teoria da Associação Diferencial e Teoria da
Subcultura Delinquente de Albert Cohen.

Teorias do Conflito: toda sociedade é baseada na coerção, na imposição de uns membros aos
outros. Teoria do Labelling Approach e Criminologia Crítica.

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TEORIAS DO CONSENSO

ESCOLA DE CHICAGO

Também chamada de Teoria Ecológica ou Teoria da Ecologia Criminal.

Universidade de Chicago. Rockfeller como investidor, criando uma universidade de renome.


Somado a isso, a cidade crescia exponencialmente.

Dois conceitos centrais: desorganização social e áreas de delinquência.

Utilização dos inquéritos sociais, que são realizados por meio de um interrogatório direito feito
normalmente por uma equipe, junto a um universo determinado de pessoas, sobre certos aspectos
de interesse do pesquisador e de estudos biográficos de casos individuais.

A ideia central é que as cidades não são apenas aglomerados de prédios e pessoas, mas sim um
estado de espírito. Cada cidade tem sua cultura própria, seus estatutos, seus ditames, uma
organização formal e outra informal, seus usos e costumes, enfim, sua própria identidade.

A cidade moderna, em face da grande mobilidade, acaba por romper com os mecanismos
tradicionais de controle (família, vizinhança, etc.). A família, a igreja, a escola, o local de trabalho,
os clubes de serviço não conseguem refrear as condutas humanas (fator potencializador da
criminalidade).

Classes mais ricas = áreas exclusivamente residenciais.

Classes mais pobres = convivem com áreas industriais, tolerando fumaça, cheiro desagradável,
feiúra, sujeira, barulho.

Isso faz surgir zonas desabitadas ou superpovoadas, gerando movimentos favoráveis à proliferação
de atos delituosos decorrentes dessa desorganização social.

A ausência completa do Estado (faltam hospitais, creches, escolas, parques, delegacias, praças e
outras áreas de lazer) gera uma anomia na população, potencializando a criação de justiceiros,
grupos armados, milícias, etc. para substituir o Estado no controle social. No mais, nas regiões
desorganizadas não há um contato social antigo entre as pessoas, o que fragiliza os laços.

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Áreas de delinquência: trechos da cidade que apresentavam índices de criminalidade mais
significativos e que estavam ligados à degradação física, à segregação econômica, étnica, racial, etc.

Zonas concêntricas mais próximas ao loop (zona comercial) = maior incidência da criminalidade.
Pessoas moram perto das áreas centrais por necessidade. É um vetor criminógeno e não um
determinismo ecológico.

Na grande cidade não há o controle informal que existe nas pequenas. Isso decorre do ANONIMATO
do ser.

Soluções da Teoria Ecológica:

Macrointervenção da comunidade. O planejamento e administração dos projetos devem ser feitos


por áreas delimitadas (criação de comitês: igrejas, associações, clubes esportivos, etc.).

Criação de programas comunitários. Melhorias das condições sociais, econômicas, educacionais.

Melhoria no aspecto físico das cidades (lembrar da experiência da “tolerância zero” americana).

As medidas de resgate da cidadania, associadas aos projetos ecológicos, especialmente em áreas


muito carentes, podem fazer decrescer imediatamente a criminalidade.

Prioridade da ação preventiva.

Contribuições:

Método de pesquisa para o conhecimento da realidade da cidade antes do estabelecimento da


política criminal adequada.

Envolvimento de toda a comunidade por meio de seus diferentes canais para o enfrentamento do
problema.

O foco é votado para a comunidade local, com a mobilização das instituições locais para a redução
da desorganização social. Envolvimento preventivo da comunidade.

Depois da Escola de Chicago, não há qualquer política criminal série que não se baseie em estudos
empíricos da criminalidade na cidade.

A própria criminalização da pichação, por exemplo, é uma influência da Escola de Chicago.

Críticas:

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Perspectiva limitadora na investigação criminal. Alguns delitos são realizados nas áreas de moradias
dos criminosos, outros não (ex: furto de veículos).

A teoria ecológica não tem condições de explicar as condutas desviadas ocorridas fora das áreas
delitivas.

A teoria ignorava as cifras negras, trabalhando apenas com dados oficiais.

TEORIA DA ANOMIA

Dois principais expoentes: Durkheim e Merton.

Durkheim.

Faz parte das teorias funcionalistas.

Anomia = sem lei, injustiça, desordem. Ausência ou desintegração das normas sociais de referência
(crise de valores).

Consciência coletiva (sociedades arcaicas x sociedades contemporâneas).

Para Durkheim, o crime é um fenômeno normal de toda estrutura social. Só deixa de ser normal
quando ultrapassa determinados limites, criando uma desorganização. O comportamento desviante
é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural. O fato criminoso
só terá relevo quando atingir a consciência coletiva na sociedade.

O súbito incremento da criminalidade decorre da anomia, que é um desmoronamento das normas


vigentes em dada sociedade.

O crime é simplesmente um ato proibido pela consciência coletiva.

A pena não tem a função de amedrontar ou dissuadir e sim satisfazer a consciência comum. Ela
exige reparação e o castigo do culpado é esta reparação feita aos sentimentos de todos.

Pena deve agir sobretudo sobre as pessoas honestas, pois serve para curar as feridas feitas nos
sentimentos coletivos.

Merton.

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A anomia, fomentadora da criminalidade, advém do colapso na estrutura cultural, especialmente
de uma bifurcação aguda entre as normas e objetivos culturais e as capacidades (socialmente
estruturadas) dos membros do grupo de agirem de acordo com essas normas e objetivos.

A anomia, em palavras mais simples, ocorre quando há um desajuste daquilo que se “vende” como
MODELO DE SUCESSO (metas/fins culturais) com aquilo que se efetivamente tem disponível (ex:
consigo ser um indivíduo com sucesso ganhando um salário mínimo?).

Paradigma histórico: American Dream (consumo e dinheiro como prestígio).

Este desajuste propicia o surgimento de condutas que vão desde a indiferença perante as metas
culturais até a tentativa de chegar às metas mediante meios diversos daqueles socialmente
prescritos.

Cinco tipos de adaptação individual:

a) Conformidade: conformidade entre os objetivos culturais os meios institucionalizados. Com o


que o indivíduo tem disponível, efetivamente conhece atingir as metas culturais.

b) Ritualismo: o indivíduo renuncia aos objetivos valorados pela incapacidade de realizá-los e


continuando seguindo as normas e interagindo com a sociedade.

c) Retraimento/Apatia: renuncia a ambos (objetivos e normas). Ex: mendigos, viciados em drogas.

d) Inovação: delinquência propriamente dita. Meios ilegais para atingir os sonhos e objetivos.
Atalhos. Há adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios institucionais. Ex: tráfico de drogas.

e) Rebelião: inconformismo e revolta. Refuta os padrões vigentes, propondo novas metas e


institucionalização de novos meios para atingi-las.

Toda vez que a sociedade acentuar a importância de determinadas metas, sem oferecer à maioria
das pessoas a possibilidade de atingi-las, por meios legítimos, estamos diante de uma situação de
anomia.

CUIDADO AQUI! Apesar de haver classificações em outro sentido, Antonio García-Pablos de


Molina afirma que dentro do grupo “TEORIAS SUBCULTURAIS” estão, como principais, a Teoria da
Associação Diferencial de Sutherland e a Teoria da Subcultura Delinquente de Albert Cohen.
Estudaremos ambas a seguir!

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TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL

Aportes iniciais com Sutherland.

Influenciada pela Escola de Chicago.

Sutherland conceitua os crimes de colarinho branco: crime cometido no âmbito de sua profissão
por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social.

O crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação de pessoas de classes
menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas. O homem aprende a conduta desviada e
associa-se com referência nela.

Não há herança biológica, mas sim um PROCESSO DE APRENDIZAGEM que conduz o homem à
prática dos atos socialmente reprováveis.

O processo de comunicação é determinante para a prática delitiva.

Síntese da teoria: o comportamento criminoso é um comportamento de APRENDIZADO, mediante


a interação com outras pessoas, resultante de um processo de comunicação. A parte decisiva do
processo de aprendizagem ocorre no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus
familiares ou pessoas de seu meio. Uma pessoa converte-se em delinquente quando as definições
favoráveis à violação superam as desfavoráveis.

Nomenclatura “associação diferencial”: os princípios do processo de associação pelo qual se


desenvolve o comportamento criminoso são os mesmos que os princípios do processo pelo qual se
desenvolve o comportamento legal, mas os conteúdos dos padrões apresentados na associação
diferem.

A associação diferencial é possível porque a sociedade se compõe de vários grupos com culturas
diferentes.

Colarinho branco: crime cometido no âmbito de sua profissão por uma pessoa de respeitabilidade
e elevado estatuto social. Não pode ser explicado pela pobreza, pela má habitação, falta de
educação, etc. A dificuldade das estatísticas se dá pela altíssima cifra negra.

Fatores que dificultam a punição dos crimes de colarinho branco:

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I) O juízo dos grandes empresários, banqueiros, etc. é um misto de medo e admiração, não sendo
concebível tratá-los como delinquentes.

II) Em geral, as penas não são altas, admitem mecanismos de substituição da pena privativa da
liberdade, são mais pecuniárias que pessoais (lembrar do tratamento dos crimes tributários no
Brasil).

III) Os efeitos dos crimes de colarinho branco são complexos e difusos, não sendo diretamente
sentidos pela comunidade.

Todos esses fatores levam a comunidade jurídica a não querer punir da mesma forma o crime de
colarinho-branco, ainda que as suas consequências sejam muito mais lesivas.

Tal teoria coloca em descrédito vários argumentos de teorias tradicionais, como as antropológicas
e as positivistas.

Evolução da teoria com o estudo da influência da mídia no comportamento.

TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE

Obra de Albert Cohen: Delinquent Boys (1955).

Subcultura: enfrentamento desviante de jovens em relação à sociedade adulta tradicional. As


subculturas aceitam certos aspectos dos sistemas de valores predominantes, mas também
expressam sentimentos e crenças exclusivas de seu próprio grupo. Ex; gangues de periferia.

A contracultura é uma subcultura que desafia a cultura e a sociedade dominantes: Ex: movimento
hippie.

Histórico: sociedade americana e o American Dream (1950). A constituição das subculturas criminais
representa a reação necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas diante da exigência
de sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das limitadíssimas
possibilidades legítimas de atuar.

A subcultura delinquente pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é


determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem
ou determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.

Para Cohen, a subcultura delinquente caracteriza-se por três fatores:

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I) Não-utilitarismo da ação: os crimes são realizados por puro prazer, sem um fim utilitarista.

II) Malícia da conduta: as condutas são realizadas para causar desconforto alheio. Ex: hostilidade
gratuita contra jovens que não pertencem a gangues.

III) Negativismo: objetivo de mostrar o rechaço deliberado dos valores da classe dominante.

Ao contrário das ideias da Escola de Chicago, as áreas de delinquência não eram âmbitos
“desorganizados socialmente”, e sim áreas em que vigoram normas distintas das oficiais, de
valores invertidos, mas em estado de funcionalidade.

A subcultura é a expressão de um sistema normativo próprio, cujos valores diferem dos majoritários
de forma oposta.

Ex: gangues de periferia dos EUA.

Subculturas da classe média: trotes em universidades, gangues de jiu-jitsu e a morte do índio Pataxó
(morto queimado no ponto de ônibus em Brasília).

Críticas: o pensamento não consegue oferecer uma explicação generalizada da criminalidade.

TEORIAS DO CONFLITO

Labelling approach e Crítica.

Para a teoria do conflito, a coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coerção, na
dominação por alguns e sujeição por outros. O pressuposto da natureza coercitiva da ordem social
é um princípio heurístico, e não um juízo factual.

Não é a cooperação voluntária ou o consenso geral, mas a coerção imposta que faz com que as
organizações sociais tenham coesão.

Premissas:

Toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança.

A mudança social é ubíqua.

Toda sociedade exibe a cada momento dissensão e conflito e o conflito social é ubíquo.

Todo elemento em uma sociedade contribui de certa forma para sua desintegração e mudança.

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Toda sociedade é baseada na coerção de alguns de seus membros por outros.

TEORIA DO LABELLING APPROACH

As questões centrais do pensamento criminológico, a partir desse momento histórico, deixam de


referir-se somente ao crime e ao criminoso, passando a voltar sua base de reflexão ao sistema de
controle social e suas consequências, bem como ao papel exercido pela vítima na relação delitual.

Contexto histórico: década de 60 e movimentos estudantis, políticos, raciais, feministas. Esses


movimentos foram considerados fermentos de ruptura.

Surge nos EUA no início dos anos 60. Os principais estudiosos são Erving Goffmann e Howard
Becker.

Também chamada de Teoria da Rotulação Social, da Etiquetagem, da Reação Social ou


Interacionista,

A conduta desviante é o resultado de uma reação social e o delinquente apenas se distingue do


homem comum devido à estigmatização que sofre.

Não mais se indaga o porquê de o criminoso cometer crimes. A pergunta passa a ser: por que é que
algumas pessoas são tratadas como criminosas, quais as consequências desse tratamento e qual a
fonte de sua legitimidade?

Desviação primária: é poligenética e se deve a uma série de fatores culturais, sociais, psicológicos
e sociológicos.

Desviação secundária: resposta de adaptação aos problemas ocasionados pela reação social à
desviação primária.

Para ser rotulado como criminoso basta que cometa uma única ofensa criminal e isto passará a ser
tudo que se tem de referência estigmatizante dessa pessoa.

As condutas desviantes parecem ser alimentadas pelas agências designadas para inibi-las.

Cerimônias degradantes: processos ritualizados a que se submetem os envolvidos com um processo


criminal, em que um indivíduo é condenado e despojado da sua identidade, recebendo uma outra
degradada.

A pena gera uma marginalização no âmbito do mercado de trabalho e escolar.

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A criminalização primária produz rotulação, que produz criminalizações secundárias
(reincidência).

Eficácia constitutiva do controle social = este criaria o delito, não se limitaria a declarar a sua
existência.

Experiência no sistema carcerário:

I) Preso passa a ser desculturado, pela perda do nome com a atribuição de um número de prontuário
(sua nova identidade);

II) Privado de seus pertences pessoais, ganhando um uniforme padrão;

III) É medido, fotografado, identificado e analisado por um médico para depois ser lavado, o que
significa despir de sua identidade antiga para assumir uma nova.

Longe de ser ressocializado para a vida livre, está sendo socializado para viver na prisão.

Desviação como um ato dentro de um contexto de coletividade. O ato jamais é um ato isolado; é a
expectativa da reação ao ato. É a própria interação com o ato. A maneira como o ato será avaliado
é que produzirá um novo contexto de ação. Por isso a teoria também é chamada de teoria da reação
ou da interação social.

Modelo explicativo sequencial (Sérgio Shecaira):

Delinquência primária –> resposta ritualizada e estigmatização –> distância social e redução de
oportunidades –> surgimento de uma subcultura delinquente com reflexo na autoimagem –>
estigma decorrente da institucionalização –> delinquência secundária.

Defende a prudente não intervenção = direito penal mínimo.

Influência da teoria no ordenamento jurídico brasileiro:

Regime progressivo de cumprimento de pena (após a reforma de 1984): serve para atenuar o
choque da reinserção social quando o preso está institucionalizado.

Adoção das penas substitutivas (alternativas) à prisão.

Vários dispositivos da LEP.

Identificação criminal (somente em casos específicos).

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Lei nº 9.099/95 e os institutos despenalizadores.

Conclusão: ao aproximar as condutas desviantes dos processos de interação, nos conduz para a
investigação acerca das agências de controle social e de seu papel definitorial da própria reprodução
do poder.

Críticas: deixou em segundo plano as causas primárias da criminalidade (enfoque na desviação


secundária).

LABELLING APPROACH (Teoria da Reação Social): o controle social é SELETIVO e DISCRIMINATÓRIO,


GERADOR e CONSTITUTIVO de criminalidade e ESTIGMATIZANTE.

CRIMINOLOGIA CRÍTICA

Tem origem nos EUA e na Inglaterra nos anos 70. Escola de Berkeley (EUA) e National Deviance
Conference (Inglaterra).

Também chamada de criminologia radical ou nova criminologia.

Crítica às posturas tradicionais da criminologia do consenso, que são incapazes de entender a


totalidade do fenômeno criminal.

Base no pensamento marxista, sustentando ser o delito um fenômeno dependente do modo de


produção capitalista. O Direito não é ciência, e sim ideologia.

A criminologia crítica é a crítica final de todas as outras correntes criminológicas, fundamentalmente


por recusar assumir este papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois considera o problema
criminal insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade capitalista.

Os atos são criminosos porque é do interesse da classe dominante assim defini-los.

As leis penais são aprovadas para gerar uma estabilidade temporária, encobrindo confrontações
violentas entre as classes sociais.

Aceitar a definição legal de crime é aceitar a ficção da neutralidade do direito.

Após dez anos de estudos, surgem basicamente três tendências da criminologia moderna:

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a) O neo-realismo de esquerda (law and order): a ideia continua a ser socialista, mas realista.
Defendem uma nova relação entre a polícia e a sociedade, com a finalidade de contribuir para uma
luta comum contra o delito. Sugerem, de outra parte, uma linha reducionista na política criminal,
descriminalizando certos comportamentos e criminalizando outros. Os crimes graves merecem uma
resposta enfática da sociedade. Aceitam a ideia do cárcere, em situações extremas

b) A teoria do direito penal mínimo: qualquer radical aplicação da pena pode produzir
consequências mais gravosas quanto aos benefícios que pode trazer. Deve-se deixar de atribuir
relevo aos pensamentos tradicionais da criminalidade de massa de rua (roubo, furto) para pensar
uma criminalidade dos oprimidos (racismo, crimes do colarinho-branco, etc.). O direito deve ser
utilizado para a defesa do mais fraco perante uma eventual reação mais forte que a pena
institucional por parte do ofendido e em prevenção ao cometimento ou ameaça de novo delito.
Contração do sistema penal em certas áreas para expansão de outras. Caráter fragmentário do
direito penal, intervenção punitiva como última ratio e reafirmação da natureza acessória do direito
penal.

c) O pensamento abolicionista: o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir as


desigualdades e injustiças sociais. Para os abolicionistas, nós já vivemos sem Direito Penal (cifras
negras), o sistema é anômico (não cumpre as funções esperadas), seletivo, estigmatizante e
burocrata.

Contribuições da teoria crítica: mudança do paradigma das criminalizações. Campanha pela


criminalização dos bens jurídicos difusos (legislações protetivas do meio ambiente, da ordem
econômica, financeira, tributária, etc.). Maximização da intervenção punitiva para os crimes de
colarinho-branco, racismo, etc. e minimização da intervenção punitiva, quando não a própria
descriminalização da conduta para os crimes das classes mais desprotegida (reflexos da
mendicância, vadiagem, princípio da insignificância em pequenos furtos, etc.).

SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL

Alessandro Baratta, em sua obra Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, enfatiza que o
sistema escolar e o sistema penal reproduzem e reafirmam a seleção e a marginalidade social. Veja
as principais frases e conclusões extraídas do capítulo:

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I) O SISTEMA ESCOLAR COMO PRIMEIRO SEGMENTO DO APARATO DE SELEÇÃO E DE
MARGINALIZAÇÃO NA SOCIEDADE.

O novo sistema global de controle social exerce função de seleção e marginalização.

O sistema escolar e o sistema penal reproduzem e asseguram as relações sociais existentes,


baseadas em “ricos e pobres”.

Para Alessandro Baratta, o sistema escolar, no conjunto que vai da instrução elementar à média e à
superior, reflete a estrutura vertical da sociedade e contribui para cria-la e para conservá-la, através
de mecanismos de seleção, discriminação e marginalização.

Baratta critica os testes de coeficiente de inteligência (QI) e o suposto “mérito” escolar.

Uma das razões do insucesso escolar consiste na dificuldade de crianças provenientes de classes
proletárias de se adaptarem a um mundo estranho a eles. A escola reage com exclusão.

II) FUNÇÃO IDEOLÓGICA DO PRINCÍPIO MERITOCRÁTICO NA ESCOLA.

O menino proveniente de grupos marginais é tratado pelo professor com preconceitos e


estereótipos.

Pesquisas revelam a correlação do rendimento escolar com a percepção que o menino tem do juízo
e das expectativas do mestre em relação a ele.

A escola age com ação discriminante, ampliando os efeitos estigmatizantes.

Transferência do mal e da culpa sobre uma minoria estigmatizada.

III) FUNÇÕES SELETIVAS E CLASSISTAS DA JUSTIÇA PENAL.

O sistema escolar e o sistema penal criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e
marginalizados.

Direito penal abstrato: criminalização primária. A formulação técnica dos tipos penais e a espécie
de conexão entre agravantes e atenuantes favorece a punição dos mais pobres.

Os processos de criminalização secundária acentuam o caráter seletivo do direito penal abstrato.


Qual é a verdadeira criminalidade?

36
Na definição de Zaffaroni, criminalização primária “é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal
material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas” e a criminalização secundária “é a
ação punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando as agências policiais
detectam uma pessoa que supõe-se tenha praticado certo ato criminalizado primariamente”.

Alessandro Baratta: “a distância linguística que separa julgadores e julgados, a menor possibilidade
de desenvolver um papel ativo no processo e de servir-se do trabalho de advogados prestigiosos,
desfavorecem os indivíduos socialmente mais débeis.

IV) A INCIDÊNCIA DOS ESTEREÓTIPOS, DOS PRECONCEITOS, DAS TEORIAS DE SENSO COMUM NA
APLICAÇÃO JURISPRUDENCIAL DA LEI PENAL.

Tendências de juízos diversificados conforme a posição social dos acusados.

Para Baratta, pode-se afirmar que existe uma tendência por parte dos juízes de esperar um
comportamento conforme a lei dos indivíduos pertencentes aos estratos médios e superiores; o
inverso ocorre com os indivíduos dos estratos inferiores.

As sanções que mais incidem sobre o status social são usadas, com preferência, contra aqueles cujo
status social é mais baixo:

Indivíduos de estratos inferiores: pena privativa de liberdade.

Indivíduos de estratos superiores: sanções pecuniárias e substitutivas.

V) ESTIGMATIZAÇÃO PENAL E TRANSFORMAÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL DA POPULAÇÃO


CRIMINOSA.

A nova sociologia criminal inspirada no labelling approach nos ensina que a criminalidade é uma
realidade social de que a ação das instâncias oficiais é elemento constitutivo.

Há uma construção social da população delinquente.

O mecanismo de marginalização é integrado e reforçado por processos de reação, que intervêm ao


nível informal. Distância social da população criminosa com o resto da sociedade.

37
VI) NEXO FUNCIONAL ENTRE SISTEMA DISCRIMINATÓRIO ESCOLAR E SISTEMA DISCRIMINATÓRIO
PENAL.

Baratta: “ulterior série de mecanismos institucionais, os quais, inseridos entre os dois sistemas
(escolar e penal), asseguram a sua continuidade e transmitem, através de filtros sucessivos, uma
certa zona da população de um para outro sistema”.

A intervenção da instância oficial é significativa para o prosseguimento do processo de


criminalização, segundo Baratta.

CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL

I) AS CARACTERÍSTICAS CONSTANTES DO “MODELO” CARCERÁRIO NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS


CONTEMPORÂNEAS.

Os institutos de detenção produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção do condenado,


e favoráveis à sua estável inserção na população criminosa.

Uma longa pena carcerária não é capaz de transformar um delinquente antissocial violento em um
indivíduo adaptável.

Cerimônias degradantes no preso geram “socialização ao cárcere” e aculturação.

Prisionalização: educação para ser criminoso e educação para ser um bom preso.

2) RELAÇÃO ENTRE PRESO E SOCIEDADE.

Relação entre quem exclui (sociedade) e quem é excluído (preso).

Não se pode, ao mesmo tempo, excluir e incluir.

O cárcere reflete a sociedade capitalista: relações baseadas no egoísmo e na violência ilegal, onde
indivíduos mais débeis são constrangidos a papeis de exploração e submissão.

Antes de mudar os excluídos, é preciso mudar a sociedade excludente.

38
3 e 4) AS LEIS DE REFORMA PENITENCIÁRIA ITALIANA E ALEMÃ E A PERSPECTIVA DE RUSCHE E
KIRCHHEIMER: AS RELAÇÕES ENTRE MERCADO DE TRABALHO, SISTEMA PUNITIVO E CÁRCERE.

A marginalização criminal revela um caráter impuro da acumulação capitalista, que implica


necessariamente os mecanismos econômicos e políticos do parasitismo e da renda.

É impossível enfrentar o problema da marginalização social sem incidir na estrutura da sociedade


capitalista, que tem necessidade de desempregados e da própria marginalização criminal.

5) ÊXITOS IRREVERSÍVEIS DAS PESQUISAS DE RUSCHE E KIRCHHEIMER E DE FOUCAULT: DO


ENFOQUE IDEOLÓGICO AO POLÍTICO ECONÔMICO.

Teoria dos fins da pena não revela os verdadeiros fins da pena.

“Todo sistema de produção tem uma tendência a descobrir (e a utilizar) sistemas punitivos que
correspondem às próprias relações de produção”.

MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL

Este tema é extraído da obra de Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina, abordando
o modelo consensual de Justiça Criminal e as inovações trazidas pela Lei nº 9.099/95.

Necessidade de separar a GRANDE da PEQUENA E MÉDIA criminalidade, com respostas quantitativa


e qualitativamente diferentes.

Espaço de consenso: pequena e média criminalidade. Penas ou medidas alternativas.

Espaço de conflito: grande criminalidade.

Justiça criminal consensuada: justiça reparatória (ex: Juizados), Justiça Restaurativa (feita por
mediação) e Justiça negociada (plea bargaining), que não existe no Brasil.

→Lei nº 9.099/95 = modelo de justiça consensuada.

Nova filosofia político-criminal = vítima, reparação dos danos e o direito penal de ultima ratio.
Enfraquecimento da crença do full enforcement.

39
Princípio da oportunidade regrada, da autonomia da vontade do imputado e da desnecessidade da
pena de prisão.

Sistema que privilegiou a vítima, assim como a ressocialização do infrator por outras vias
alternativas, distintas da prisão. A Lei 9.099 foi uma quebra do modelo político-criminal
palorepressivo (Ex: Lei de Crimes Hediondos, penas mais severas etc).

Institutos despenalizadores.

Vitimologia e Modelo de Justiça Consensual: a prioridade não é o castigo, mas a reparação dos danos
causados à vítima.

Caro aluno,

Com isso, estudamos todos os tópicos do edital, dando destaque aos conteúdos em que há uma cobrança
expressiva em prova. Obrigado pela confiança e sucesso!

EM DELTA

40
CRIMINOLOGIA
PROF. MURILLO RIBEIRO

EXERCÍCIOS

1) (CESPE – Defensor Público Federal – 2018) A respeito do conceito e dos objetos da criminologia,
julgue o item a seguir.

O desvio ou o delito, objetos da criminologia, devem ser abordados, primordialmente, como um


comportamento individual do desviante ou delinquente; em segundo plano, analisam-se as
influências ambientais e sociais.

2) (FAPEMS – Delegado de Polícia MS/2018) Dentro da criminologia, tem-se a vertente da


vitimologia, que estuda de forma ampla os aspectos da vítima na criminalidade, e é dividida em
primária, segundária e terciária. Da análise dessa divisão, pode-se afirmar que a vitimização
terciária ocorre, quando

a) a vítima tem três ou mais antecedentes.

b) a vítima é parente em terceiro grau do ofensor.

c) um terceiro participa da ação criminosa.

d) a vítima é abandonada pelo estado e estigmatizada pela sociedade.

e) duas ou mais pessoas cometem o crime.

3) (FAPEMS – Delegado de Polícia MS/2018) A atividade policial dentre suas finalidades deve
prevenir e reprimir o crime. Em particular, à polícia judiciária cabe investigar, com o fim de
esclarecer fatos delitivos que causaram danos a bens jurídicos relevantes tutelados pelo direito
penal. A criminologia dada a sua interdisciplinaridade constitui ciência de suma importância na
atividade policial por socorrer-se de outras ciências para compreender a prática delitiva, o infrator
e a vítima, possuindo métodos de investigação que visam a atender sua finalidade. Diante do
exposto, assinale a alternativa correta sobre a criminologia como ciência e seus métodos.

41
a) Como ciência dedutiva; a criminologia se vale de métodos científicos, humanos e sociais,
abstratos, próprios do Direito Penal.

b) A criminologia, ciência lógica e normativa, busca determinar o homem delinquente utilizando


para isso métodos físicos, psicológicos e sociológicos.

c) A criminologia é baseada principalmente em métodos físicos, individuais e coletivos, advindos das


demais ciências jurídico-penais, caracterizando-a como dogmática.

d) Os métodos experimental e lógico auxiliam a investigação da criminologia, integrando várias


áreas, dada sua natureza de ciência disciplinar.

e) Os métodos biológico e sociológico são utilizados pela criminologia, que, por meio do empirismo
e da experimentação, estuda a motivação criminosa do sujeito.

4) (VUNESP – Delegado de Polícia/BA - 2018) Assinale a alternativa correta no que diz respeito à
criminologia e ao controle social.

a) A criminologia crítica radical, através de análises profundas e contundentes, busca apresentar


meios eficazes de aperfeiçoamento do controle social exercido pela justiça criminal.

b) A afirmação do criminólogo Jeffery, no sentido de que “mais leis, mais penas, mais policiais, mais
juízes, mais prisões significam mais presos, porém não necessariamente menos delitos”, refere-se
a uma crítica ao controle social informal.

c) A esterilização eugenista aplicada a criminosos contumazes e estupradores com o objetivo de


evitar a procriação foi sustentada, no início do século XX, como forma de controle social por
correntes criminológicas derivadas do pensamento positivista.

d) a conclusão de uma pesquisa que indica maior punibilidade para negros (mais condenados do
que indiciados e mais presos em flagrante do que indiciados por portaria) contradiz os fundamentos
da criminologia crítica em relação ao controle social.

e) A incipiente criminologia na escola clássica afastava o livre-arbítrio como fundamento do sistema


penal de controle social.

42
5) (CESPE, Delegado de Polícia, PC/PE, 2016) Os objetos de investigação da criminologia incluem
o delito, o infrator, a vítima e o controle social. Acerca do delito e do delinquente, assinale a opção
correta.

a) Para a criminologia positivista, infrator é mera vítima inocente do sistema econômico; culpável é
a sociedade capitalista.

b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora pudesse
escolher pela observância e pelo respeito à lei.

c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os seus atos:
ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.

d) Para a criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga hereditária, nascido
criminoso e prisioneiro de sua própria patologia.

e) A criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar crime: ação típica,
ilícita e culpável.

6) (Promotor de Justiça/SC, 2016) Julgue o item.

O italiano Cesare Lombroso, autor da obra “L’Uomo delinquente”, foi um dos precursores da Escola
Clássica de Criminologia, a qual admitia a ideia de que o crime é um ente jurídico - infração - e não
ação.

7) (VUNESP – Delegado de Polícia/BA - 2018) Assinale a alternativa que contém um exemplo de


prevenção de infrações penais preponderantemente primária.

a) Construção de uma praça com equipamentos de lazer em uma comunidade com altos índices de
criminalidade e de vulnerabilidade social com o fim de evitar que jovens daquele local, em especial
em situação de risco, envolvam-se com a criminalidade.

b) Projeto Começar de Novo, que visa devolver aos cumpridores de pena e egressos a autoestima e
a cidadania suprimidas com a privação de sua liberdade, por meio de ações de caráter preventivo,
educativo e ressocializador, atuando, assim, na humanização, a fim de que referido público valorize
a liberdade e passe a fazer escolhas melhores em sua vida, evitando o retorno ao cárcere.

43
c) Implementação de sistemas de leitores óticos de placas de veículos nas ruas e avenidas da cidade
de Salvador para identificação de veículos relacionados a algum tipo de crime.

d) Bloqueio que impeça a ativação e utilização de aparelhos de telefonia celular subtraídos do


legítimo proprietário por meio de uma conduta criminosa.

e) Melhoria de atendimento pré e pós-natal a todas as gestantes de uma determinada cidade com
a finalidade de reduzir os índices criminais no município.

8) (VUNESP – Delegado de Polícia/BA - 2018) No que diz respeito aos estudos desenvolvidos no
âmbito da vitimologia, assinale a alternativa correta.

a) O linchamento do autor de um crime por populares em uma rua pode ser classificado como uma
vitimização secundária e terciária.

b) A chamada da vítima na fase processual da persecução penal para ser ouvida sobre o crime, por
inúmeras vezes, é denominada de vitimização secundária.

c) A longa espera da vítima de um crime em uma delegacia de polícia para o registro do crime é
denominada de vitimização terciária.

d) A vítima só passa a ter um contorno sistemático em sua abordagem criminológica a partir do fim
da primeira guerra mundial, na segunda década do século XX.

e) As pesquisas de vitimização têm por objetivo principal mensurar a vitimização secundária.

9) (VUNESP – Delegado de Polícia/BA - 2018) Em relação ao conceito de crime, de criminoso e de


pena nas diversas correntes do pensamento criminológico e ao desenvolvimento científico de
seus modelos teóricos, é correto afirmar:

a) A criminologia científica nasceu no ambiente do século XVIII, recebendo contribuições da Escola


Positivista, mas ganhando contornos mais precisos com a Escola Clássica.

b) A criminologia crítica compreende que a finalidade da sociedade é atingida quando há um


perfeito funcionamento das suas instituições, de forma que os indivíduos compartilhem as regras
sociais dominantes.

44
c) As teorias desenvolvidas nas escolas positivistas a partir do método dedutivo buscaram maximizar
as garantias individuais na persecução penal e fora dela.

d) No pensamento criminológico das escolas clássicas, identifica-se uma grande preocupação com
os conceitos de crime e pena como entidades jurídicas e abstratas de modo a estabelecer a razão e
limitar o poder de punir do Estado.

e) Os modelos teóricos de integração que compõem a criminologia tradicional partem da premissa


de que toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança, exibindo dissensão
e conflito, haja vista que todo elemento em uma sociedade contribui, de certa forma, para sua
desintegração e mudança. Sendo assim, a sociedade é baseada na coerção de alguns de seus
membros por outros.

10) (CESPE – Delegado de Polícia Substituto de Goiás– 2017) A respeito do conceito e das funções
da criminologia, assinale a opção correta.

a) A criminologia tem como objetivo estudar os delinquentes, a fim de estabelecer os melhores


passos para sua ressocialização. A política criminal, ao contrário, tem funções mais relacionadas à
prevenção do crime.

b) A finalidade da criminologia em face do direito penal é de promover a eliminação do crime.

c) A determinação da etimologia do crime é uma das finalidades da criminologia.

d) A criminologia é a ciência que, entre outros aspectos, estuda as causas e as concausas da


criminalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade.

e) A criminologia é orientada pela política criminal na prevenção especial e direta dos crimes
socialmente relevantes, mediante intervenção nas manifestações e nos efeitos graves desses crimes
para determinados indivíduos e famílias.

11) (CESPE, Delegado de Polícia, PC/PE, 2016) Considerando que, conforme a doutrina, a moderna
sociologia criminal apresenta teorias e esquemas explicativos do crime, assinale a opção correta
acerca dos modelos sociológicos explicativos do delito.

45
a) Para a teoria ecológica da sociologia criminal, que considera normal o comportamento delituoso
para o desenvolvimento regular da ordem social, é imprescindível e, até mesmo, positiva a
existência da conduta delituosa no seio da comunidade.

b) A teoria do conflito, sob o enfoque sociológico da Escola de Chicago, rechaça o papel das
instâncias punitivas e fundamenta suas ideias em situações concretas, de fácil comprovação e
verificação empírica das medidas adotadas para contenção do crime, sem que haja hostilidade e
coerção no uso dos meios de controle.

c) A teoria da integração, ao criticar a teoria consensual na solução do conflito, rotula o criminoso


quando assevera que o delito é fruto do sistema capitalista e considera o fator econômico como
justificativa para o ato criminoso, de modo que, para frear a criminalidade, devem-se separar as
classes sociais.

d) A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades na análise empírica do
delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das culturas
consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade.

e) A teoria estrutural-funcionalista da sociologia criminal sustenta que o delito é produto da


desorganização da cidade grande, que debilita o controle social e deteriora as relações humanas,
propagando-se, consequentemente, o vício e a corrupção, que são considerados anormais e nocivos
à coletividade.

12) (VUNESP, Delegado de Polícia do Ceará – 2015) Os objetos de estudo da moderna criminologia
estão divididos em

a) três vertentes: justiça criminal, delinquente e vítima.

b) três vertentes: política criminal, delito e delinquente.

c) três vertentes: política criminal, delinquente e pena.

d) quatro vertentes: delito, delinquente, justiça criminal e pena.

e) quatro vertentes: delito, delinquente, vítima e controle social.

46
13) (CESPE, Delegado de Polícia GO – 2017) Em busca do melhor sistema de enfrentamento à
criminalidade, a criminologia estuda os diversos modelos de reação ao delito. A respeito desses
modelos, assinale a opção correta.

a) De acordo com o modelo clássico de reação ao crime, os envolvidos devem resolver o conflito
entre si, ainda que haja necessidade de inobservância das regras técnicas estatais de resolução da
criminalidade, flexibilizando-se leis para se chegar ao consenso.

b) Conforme o modelo ressocializador de reação ao delito, a existência de leis que recrudescem o


sistema penal faz que se previna a reincidência, uma vez que o infrator racional irá sopesar o castigo
com o eventual proveito obtido.

c) Para a criminologia, as medidas despenalizadoras, com o viés reparador à vítima, condizem com
o modelo integrador de reação ao delito, de modo a inserir os interessados como protagonistas na
solução do conflito.

d) A fim de facilitar o retorno do infrator à sociedade, por meio de instrumentos de reabilitação


aptos a retirar o caráter aflitivo da pena, o modelo dissuasório de reação ao crime propõe uma
inserção positiva do apenado no seio social.

e) O modelo integrador de reação ao delito visa prevenir a criminalidade, conferindo especial


relevância ao ius puniendi estatal, ao justo, rápido e necessário castigo ao criminoso, como forma
de intimidação e prevenção do crime na sociedade.

14) (CESPE, Delegado de Polícia PE – 2016) Acerca dos modelos teóricos explicativos do crime,
oriundos das teorias específicas que, na evolução da história, buscaram entender o
comportamento humano propulsor do crime, assinale a opção correta.

a) O modelo positivista analisa os fatores criminológicos sob a concepção do delinquente como


indivíduo racional e livre, que opta pelo crime em virtude de decisão baseada em critérios
subjetivos.

b) O objeto de estudo da criminologia é a culpabilidade, considerada em sentido amplo; já o direito


penal se importa com a periculosidade na pesquisa etiológica do crime.

c) A criminologia clássica atribui o comportamento criminal a fatores biológicos, psicológicos e


sociais como determinantes desse comportamento, com paradigma etiológico na análise causal-
explicativa do delito.

47
d) Entre os modelos teóricos explicativos da criminologia, o conceito definitorial de delito afirma
que, segundo a teoria do labelling approach, o delito carece de consistência material, sendo um
processo de reação social, arbitrário e discriminatório de seleção do comportamento desviado.

e) O modelo teórico de opção racional estuda a conduta criminosa a partir das causas que
impulsionaram a decisão delitiva, com ênfase na observância da relevância causal etiológica do
delito.

15) (Promotor de Justiça/SC, 2016) Julgue o item.

No âmbito das teorias criminológicas, a teoria da subcultura delinquente, originariamente


conhecida como “Escola de Chicago”, assevera que a delinquência surge como resultado da
estrutura das classes sociais, que faz com que alguns grupos aceitem a violência como forma de
resolver os conflitos sociais.

16) (PC/SP, Escrivão de Polícia – 2010) A teoria do “Labelling Approach” ou da Reação Social é
também conhecida como

a) Teoria da Anomia.

b) Teoria da Subcultura.

c) Teoria Ecológica.

d) Teoria do etiquetamento ou rotulação.

e) Teoria Espacial.

17) (PC/SP, Desenhista Técnico-Pericial, 2014) Teoria desenvolvida pelo sociólogo americano
Edwin Sutherland, que cunhou a expressão “white colar crimes” para definir autores de crimes
específicos, que se diferenciavam de criminosos comuns, afirmando, ainda, que o
comportamento criminoso é aprendido, nunca herdado. Trata-se da teoria

a) do neorretribucionismo.

b) crítica.

48
c) da associação diferencial.

d) do labelling approach.

e) radical.

18) (VUNESP, Delegado de Polícia CE/2015) Sobre a teoria da “anomia”, é correto afirmar:

a) é classificada como uma das “teorias de conflito” e teve, como autores, Erving Goffman e
Howard Becker.

b) foi desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland e deu origem à expressão white
collar crimes.

c) surgiu em 1890 com a escola de Chicago e teve o apoio de John Rockefeller.

d) iniciou-se com as obras de Émile Durkheim e Robert King Merton, e significa ausência de lei.

e) foi desenvolvida por Rudolph Giuliani, também conhecida como “Teoria da Tolerância Zero”.

19) (FCC - DPE/PR/ 2017) A criminologia da reação social

a) concentra seus estudos nos processos de criminalização.

b) corresponde a uma teoria do consenso.

c) explica o comportamento criminoso como fruto de um aprendizado.

d) identificou as subculturas delinquentes.

e) explica a existência do homem criminoso pelo atavismo.

20) (UFPR – DPE/PR/ 2014) Em relação às distintas teorias criminológicas, a ideia de que o
“desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social de criminoso foi aplicado com sucesso
foi desenvolvida pela Teoria

a) da anomia.

49
b) da associação diferencial.

c) da subcultura delinquente.

d) da ecologia criminal.

e) da reação social ou Labelling Approach.

50
GABARITO

1–E

2–D

3–E

4-C

5-C

6-E

7-E

8-B

9-D

10 - D

11 - D

12 – E

13 - C

14- D

15 – E

16 – D

17 – C

18 – D

19 – A

20 – E

51

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