Vantagens E Desvantagens Da Automedicação: Princípios Gerais

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105-110 (Jun - Ago 2018) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA
AUTOMEDICAÇÃO: PRINCÍPIOS GERAIS
ADVANTAGES AND DISADVANTAGES OF SELF-MEDICATION:
GENERAL PRINCIPLES

RAY AMARAL MARINHO1*, GLEIDSON PEREIRA CARDOSO2, WEVERSON ALVES FERREIRA3


1. Acadêmico do curso de graduação do curso de Farmácia da Universidade Luterana de Ji-Paraná; 2. Professor do Centro Universitário Luterano
de Ji-Paraná; 3. Doutor em Química, professor do Centro Universitário Luterano, de Ji-Paraná.
* Rua Ana Nery.565, Jardim Tropical, Estância Turística de Ouro Preto do Oeste, Rondônia, Brasil. CEP: 76920-000. [email protected]

Recebido em 19/052018. Aceito para publicação em 12/06/2018

RESUMO promovendo assim melhorias na qualidade de vida1. A


Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
Aplicada de forma correta, a automedicação responsável é define medicamento como um "produto farmacêutico,
reflexo do uso racional de medicamentos. Segundo a OMS,
tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade
quando um indivíduo utiliza um medicamento apropriado
sem prescrição médica ou odontológica, com posologia profilática, curativa, paliativa ou para fins de
adequada e a um custo mínimo, ele coopera com a redução diagnóstico. Uma forma farmacêutica terminada que
dos gastos públicos e melhora sua qualidade de vida. É vital contém o fármaco, geralmente em associação com
que o farmacêutico tenha a notoriedade exata de sua adjuvantes farmacotécnicos", (Resolução RDC,
competência e de seus limites na intervenção no nº84/02)2, que pode acarretar danos à saúde quando
procedimento saúde-doença, com o objetivo de propiciar administrado inapropriadamente3.
uma ação correta no momento adequado. Este profissional O acesso facilitado aos medicamentos de tarja vermelha
da saúde ajuda a analisar a condição do indivíduo e, se (sem retenção de receita) e aos Medicamentos Isentos de
necessário, faz seu encaminhamento ao médico em casos
Prescrição (MIP) (Resolução RDC, n°98/16), podem
que julga necessário. Por possuir conhecimento que
permiti indicar, desaconselhar ou informar o paciente em levar ao aumento da automedicação4. Esta prática pode
casos de automedicação ou sintomatologia simples, o trazer riscos para saúde tais como, mascarar sinais e/ou
profissional farmacêutico é o mais indicado para garantir sintomas de alguma doença, prejudicar o diagnóstico,
o uso racional de medicamentos, e assim, beneficiar os conduzir a um tratamento ineficaz e/ou equivocado5. De
indivíduos que o buscam. acordo com o Sistema Nacional de Informações
PALAVRAS-CHAVE: Uso racional de medicamentos, Toxicológicas (SINITOX), a intoxicação oriunda de
uso irracional de medicamentos, automedicação e produtos farmacêuticos segue como uma das principais
farmacovigilância. causas de intoxicação6,7.
Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
ABSTRACT considera que a automedicação participa do
autocuidado8 e a define como uma opção pessoal
Correctly applied, responsible self-medication is a reflection relativa à utilização de fármacos por qualquer pessoa,
of the rational use of medicines. According to the WHO, when cuja a finalidade é de curar doenças ou amenizar
a person uses an appropriate medication without medical or sintomas autodiagnosticáveis9.
dental prescription, with adequate dosage and at a minimal Aplicada de forma correta, a automedicação responsável
cost, he cooperates to reduce public spending and improve his ajuda na utilização racional de medicamentos. Neste
quality of life. It is vital that the pharmacist has the exact
notoriety of his competence and limits in intervening in the
contexto, segundo a OMS, o indivíduo pode utilizar um
health-disease procedure, in order to provide a correct action medicamento apropriado, sem necessidade de
at the appropriate time. This health professional helps to prescrição médica ou odontológica, com posologia
analyze the condition of the individual and, if necessary, adequada10, cooperando desta maneira com a redução
makes referral to the doctor in cases that he thinks necessary. dos gastos públicos em saúde11 e atendendo muitas
Because of the knowledge that allows indicating, advising or vezes a situações emergenciais que melhoram seu bem
informing the patient in cases of simple self-medication or estar12.
symptomatology, the pharmacist is the most appropriate Ao optar pela automedicação, um indivíduo pode contar
person to guarantee the rational use of medicines, and thus, to com o auxílio do profissional farmacêutico para fazer a
benefit the individuals who seek it.
escolha de um medicamento. A assistência farmacêutica
KEYWORDS: Rational use of medication, irrational use of constitui-se em um conjunto de condutas direcionadas a
medication, self-medication end pharmacovigilance. promoção, proteção e recuperação da saúde. Ao
desempenhá-la, o farmacêutico exerce um papel
1. INTRODUÇÃO fundamental no auxílio ao paciente, buscando assegurar
a máxima eficácia em seu tratamento13.
Os medicamentos representam função essencial na Pesquisas realizadas no Brasil ao longo dos anos
proteção, recuperação e manutenção da saúde, constam que a automedicação é uma prática muito

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comum e varia de acordo com a região e condições prescrições, incentivam seu uso indiscriminado e
financeiras, políticas e culturais14,15. Assim, este ampliam os quadros de intoxicações medicamentosas20.
trabalho tem como objetivo principal, analisar as O Centro de Investigação Toxicológica (Ciatox)
vantagens e desvantagens da prática da automedicação registrou 1.784 casos de intoxicação medicamentosa
realizada com medicamentos isentos de retenção de entre os anos de 2012 e 2013. Ocorrendo 949 dos casos
prescrições, em estabelecimentos farmacêuticos no em 2012 e 835 em 2013. O uso indiscriminado de
Brasil, através de uma ampla revisão bibliográfica em medicamentos pode mascarar e intensificar doenças,
diversos meios. levar a desastrosas interações medicamentosas e
ocasionar vários outros prejuízos à saúde21.
2. MATERIAL E MÉTODOS Segundo o Ministério da Saúde, entre os anos de
2010 e 2015 foram registrados cerca de 60 mil casos de
Esta pesquisa baseia-se em uma revisão bibliográfica internações relacionadas a automedicação no nosso país.
efetuada em 2018. Foram feitos levantamentos na Conforme o presidente do Conselho Federal de
internet em dissertações, periódicos e artigos. A busca Farmácia, é essencial que o indivíduo busque o
de dados foi elaborada utilizando os bancos de dados profissional farmacêutico para se assegurar da
PubMed, SciELO e Google Acadêmico com a medicação desejada, quando o medicamento não
contribuição das palavras-chave: “uso racional de necessita de receituário22.
medicamentos, uso irracional de medicamentos, A automedicação, em alguns munícipios
automedicação e farmacovigilância”. Não se delimitou
o período de publicação e critérios de inclusão e Vários estudos têm sido realizados para verificar a
exclusão para a seleção do material de bibliografia. automedicação em diversas cidades brasileiras e são
essenciais para ajudar a compreender esta prática.
Necessário informar as bases de dados utilizadas na Durante junho de 2007 a junho de 2008 foi realizado
pesquisa, critérios de inclusão e exclusão de obras. um estudo sobre automedicação em algumas escolas
estaduais de Alfenas/MG. Dos 571 entrevistados, 65%
3. DESENVOLVIMENTO se automedicavam sem orientação alguma. 55,7% por
falta de recursos financeiros, 30,2% motivados pela
Princípios Gerais da Automedicação confiança em terceiros e 14,2% por motivos diversos.
Verificou-se a prevalência da automedicação
A automedicação é uma realidade frequente na semelhante à observada em países desenvolvidos23.
população brasileira. Se realizada de forma incorreta, Uma outra pesquisa realizada nas dependências da
esta atividade pode resultar em sérios problemas de Faculdade de Saúde de Ibituruna em Montes Claros –
saúde. Entretanto, a automedicação também apresenta MG, realizada com acadêmicos do curso de farmácia,
pontos positivos se utilizada de modo racional. mostrou que 95,7% dos entrevistados realizaram
Os principais motivos que colaboram com a automedicação sem orientações e 4,3% com orientações
realização da automedicação estão relacionados a medicas. 89,3% adquiriram os medicamentos em redes
condição financeira, cultural e social de quem opta por privadas, 4% de forma gratuita, 4% ganharam o
esta prática. Os medicamentos isentos de prescrições medicamento de terceiros e 2,2% não consumiram
também representam uma grande influência para quem medicamentos24.
se automedica16. Em Goiânia-GO um estudo mostrou que 934 idosos
Conforme o Conselho Federal de Farmácia, em 2013 administravam 2.846 medicamentos, sendo 35,7% por
foram registradas 75.716 farmácias no Brasil, levando- automedicação. 24,6% dos idosos utilizavam
o a alcançar o quarto lugar dentre os países que mais medicamentos inapropriados e o maior número de
utilizam medicamentos17. Nossa população tem indivíduos que se automedicaram foram os que
acessibilidade facilitada para obtenção de produtos possuíam menor escolaridade e pouco conhecimento
farmacêuticos e, consequentemente, o número de para o autocuidado25.
indivíduos que se automedicam cresce cada vez mais. Um estudo realizado em uma farmácia comunitária
Isto pode levar a situações perigosas, pois, a de Quixáda-CE identificou que dos 400 indivíduos
Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que 50% dos entrevistados 56% se automedicam. Os prognósticos
praticantes da automedicação utilizam os medicamentos mais comuns que levam a utilização de medicamentos
de maneira indevida18. isentos de prescrição são diarreia, dor, infecção, gripe,
Um estudo realizado pela Academia Brasileira de febre e outros. Percebeu-se que os indivíduos buscam a
Neurologia (ABN) verificou que 81% da população farmácia ou drogaria em razão da complexidade aos
brasileira pratica automedicação em casos de cefaleia. acessos dos serviços de saúde do Sistema Único de
Esse dado mostra que as pessoas buscam solucionar seus Saúde26.
problemas sem buscar ajuda de profissionais, e muitas Em Lisboa um estudo realizado observou que 53,1%
vezes são influenciadas por propagandas de das pessoas realizam a automedicação por escolha
medicamentos19. pessoal, indicação por terceiros ou utilizando
As propagandas de medicamentos tendem a anunciar prescrições antiquadas. A cefaleia foi alegada por 33,7%
apenas suas vantagens, influenciam negativamente nas dos entrevistados como sendo o maior motivo da
automedicação27.
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Em Pereira, Colômbia, um estudo feito com a argumentos demonstram a utilidade de ferramentas


população adulta demonstrou que 77,5% utilizaram da efetivas de gerencia com o objetivo de melhorar as
automedicação, 25% comunicaram que indicariam informações levadas ao usuário35.
medicamentos a outros indivíduos e 58,2% Preocupado com o problema da automedicação, o
conservavam medicamentos em suas residências28. Ministério da Saúde do Brasil elaborou o Comitê
Já uma outra pesquisa mostrou que houve um Nacional para a Promoção do Uso Racional de
predomínio de 16,1 da automedicação no Brasil, Medicamentos através da Portaria n° 427/07, para
ocorrendo maior prevalência na região Nordeste desenvolver ações estratégicas para ampliar o acesso da
(23,8%). As classes mais utilizadas foram os analgésicos população à assistência farmacêutica e para melhorar a
e relaxantes musculares, e a dipirona foi o medicamento qualidade e segurança na utilização dos
mais utilizado. De modo geral, a maior parte dos medicamentos36.
medicamentos associados na prática da automedicação Difundir princípios essenciais aos cuidados da saúde
são considerados isentos de prescrição (65,5%)29. e promover o uso racional de medicamentos também é
Segundo Amanda et al, as regiões Sul e Sudeste se responsabilidade do estabelecimento farmacêutico. A
destacaram com quase 80% dos estudos sobre o tema. O Lei 13021/2014 configurou a farmácia como
principal problema motivador foi a dor, o que é coerente estabelecimento de saúde e reafirmou a
com a maior proporção de uso de analgésicos como o responsabilidade técnica do estabelecimento ao
paracetamol e a dipirona. Verificou-se uma grande profissional farmacêutico, que deve garantir prestações
diversidade de fatores associados, entre eles idade, sexo, de serviço, como a assistência farmacêutica, no período
escolaridade, dificuldade de acesso aos serviços de de funcionamento da farmácia. Já a Lei Orgânica da
saúde e acesso facilitado aos medicamentos30. Saúde (Lei 8.080/90) assegura que a assistência
farmacêutica é um direito do cidadão37.
Legislação e fatores sócio-políticos
Aceitando a automedicação como aliada da
No Brasil a fiscalização da comercialização de
saúde
medicamentos é prevista pela Lei n° 5.991/1973, que
determina as normas para esta prática e princípios sobre O uso racional de medicamentos é uma realidade que
a profissão farmacêutica31. visa diminuir os riscos associados a seu uso
Os medicamentos isentos de prescrição são indiscriminado. Esta conduta busca aumentar os
utilizados nos tratamentos de sintomas e males menores benefícios da automedicação, tratar enfermidades e
já reconhecidos pelos pacientes. Esses medicamentos condições autolimitadas de fácil diagnóstico com
são regulamentados pela RDC 98 de 01 de agosto de medicamentos isentos de prescrição e reduzir os gastos
2016 que assegura qualidade e eficácia, contando que totais do tratamento38.
sejam utilizados segundo as instruções de uso32. Um estudo de revisão realizado por Foellmer, et al.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária observou que é necessário disponibilizar mais
(ANVISA) elaborou um Guia Terapêutico do Lar, para conhecimentos e orientações relacionadas aos
que a população possa consumir os medicamentos de medicamentos, para que as pessoas que praticam a
venda livre com o intuito de curar algumas doenças. A automedicação procurem o profissional farmacêutico
partir de uma análise realizada por uma instância visando o uso racional de medicamentos isentos de
sanitária federal, onde se investiga a segurança e eficácia prescrição, como previsto na RDC 357/2001. Segundo a
dos fármacos, criou-se a RDC n° 138/03 que contém (OMS) os medicamentos aplicados a está prática são
uma lista com o Grupo de Indicações Terapêuticas seguros, com qualidade e eficácia confirmados, e
Especificas33. colaboram com a melhoria do bem-estar da população39.
A influência das propagandas realizadas pelas Quando utilizada de forma correta, a automedicação
indústrias farmacêuticas causa grande impacto no uso responsável auxilia no tratamento de doenças e
irracional de medicamentos. Em 2000 a ANVISA sintomas, através de medicamentos isentos de prescrição
divulgou a RDC 102 que instrui a publicação de que possuem segurança, qualidade e eficácia
propagandas de medicamento. Em 2008 a ANVISA comprovadas. Os medicamentos sempre devem
determinou mais exatidão a respeito da efetividade dos apresentar informações pertinentes a administração,
medicamentos conforme a RDC 96/2000 onde dever-se- possíveis efeitos colaterais, possíveis interações
ia informar com mais evidencia sobre a segurança e medicamentosas, precauções, advertências, duração do
riscos dos medicamentos34. tratamento, entre outros40.
Um estudo realizado no sul do Brasil verificou que Existem atualmente muitos meios de se obter
nenhuma das publicidades seguiam as exigências da informações a respeito de medicamentos isentos de
legislação. Seguindo os Critérios Éticos para Promoção prescrição. Com os indivíduos buscando cada vez mais
de Medicamentos da OMS, somente 59% exibiam a a automedicação para o autocuidado da saúde, eles
composição do produto, 43% apresentam precauções, deveriam se informar com um médico ou farmacêutico
73% possuíam escritas pequenas dificultando assim a sobre as orientações necessárias para realizarem com
leitura. As alegações mais empregadas neste estudo eficácia e segurança a uma automedicação responsável.
foram a eficácia, segurança, comodidade posológica, Os medicamentos isentos de prescrições podem
rapidez de ação, alta tolerabilidade. O descumprimento diminuir os gastos com problemas de saúde leves,
da legislação, a falta de precauções e excesso de reduzir a demanda nos sempre saturados consultórios
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médicos e aliviar a pressão sobre o Serviço Nacional de (SUS), assim como a quantidade insatisfatória de
Saúde (SNS), liberando recursos para serem aplicados médicos nas unidades de saúde em algumas regiões do
em situações de carência visando a melhoria da país, que podem contribuir para o aumento dos índices
qualidade de vida da população41. da automedicação. Além de garantir a oferta de produtos
O farmacêutico é peça essencial no processo de realmente necessários, nossos governantes deveriam
automedicação responsável, pois, na maioria das vezes estar cientes que é fundamental educar a população
um indivíduo busca em primeiro lugar uma farmácia por sobre o uso correto de medicamentos.
ser uma instituição de saúde de acesso fácil e gratuito. Também é curioso observar que a automedicação
Torna-se vital que o farmacêutico tenha a notoriedade apresenta relação com o gênero. Vários trabalhos
exata de sua competência e de seus limites na relatam que as mulheres se automedicam mais que os
intervenção no procedimento saúde-doença, com o homens. O predomínio do uso de fármacos pelas
objetivo de propiciar uma ação correta no momento mulheres pode ser parcialmente explicado pelas
adequado, analisando a condição do indivíduo e se publicidades de medicamentos e ações sociais
necessário um possível encaminhamento ao médico em especialmente direcionadas a elas.
casos específicos. O profissional farmacêutico possui Uma vez que nenhum medicamento é totalmente
conhecimento que o permiti indicar, desaconselhar ou inócuo, o ato de se automedicar pode ser possivelmente
informar o paciente em casos de automedicação ou desfavorável à saúde individual e coletiva. A utilização
sintomatologia simples, além disso o farmacêutico é o indevida de fármacos, mesmo os mais comuns e
único profissional especializado a conhecer os aspectos conceituados, pode promover vários efeitos, como:
do medicamento, podendo beneficiar os indivíduos que reações de hipersensibilidade, estimulo para geração de
o busca. Por estas razões ele é um parceiro excepcional anticorpos sem a merecida necessidade, dependência do
do sistema de saúde, da indústria farmacêutica e do medicamento sem precisão real, hemorragias digestivas,
usuário42. entre outros.
De acordo com a OMS, a automedicação é A intoxicação por medicamentos é responsável por
considerável contando que ocorra de forma responsável, grande parte das mortes no Brasil e, na maioria dos
exemplos como dores de cabeça, muitas vezes casos, é consequência da automedicação irracional.
provenientes de situação de estresse, cólicas abdominais Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas pode
ou menstruais, conseguem ser mitigadas mascarar a doença de base, podendo se agravar o estado
temporariamente com medicamentos de menor de saúde do indivíduo.
potência, nesta circunstância a automedicação é capaz A automedicação constitui-se em uma prática
de beneficiar o sistema público de saúde por atender a permanente, e para isso é preciso informar a sociedade
casos transitórios ou de menor urgência43. sobre os medicamentos de venda livre, sem estimular o
A impossibilidade de banir a prática da consumo desenfreado ou o mito de cura milagrosa,
automedicação, pela inviabilidade socioeconômica para como faz a mídia. As propagandas de medicamentos
o sistema de saúde pública, torna claro a importância da encorajam a população a empregar a prática da
discussão deste procedimento. automedicação ao acrescentar no fim das propagandas o
dito "persistindo os sintomas um médico deverá ser
4. DISCUSSÃO consultado", excluindo desta maneira o produto
anunciado de qualquer compromisso com a saúde.
O uso indiscriminado de medicamentos isentos de Apesar de no Brasil a ANVISA normatizar para o
prescrições é um problema de saúde pública prevalente comércio e publicidade de medicamentos isento de
em todo o mundo. A prática da automedicação já se prescrição, ainda faltam orientações necessárias para os
tornou um costume na sociedade brasileira moderna e que praticam a automedicação.
pode estar relacionada tanto a problemas quanto a Os medicamentos de venda livre são permitidos,
soluções em relação aos cuidados com a saúde das segundo as normas sanitárias, com a finalidade de aliviar
pessoas. A automedicação não é uma prática restrita a sintomas e problemas menores de saúde, contando que
países desenvolvidos ou que estão em desenvolvimento, sejam utilizados segundo as informações contidas no
vários países de primeiro mundo também são adeptos a produto.
esta prática, entretanto a sistematização utilizada pelos Os medicamentos isentos de prescrição são
sistemas de saúde evita que a automedicação provoque regulamentados na legislação brasileira pela a Lei nº
mais malefícios do que benefícios aos usuários. 5.991, de 17 de dezembro de 1973, que sugere o
O grande número de medicamentos desnecessários monitoramento sanitário dos medicamentos. A
que é disponibilizado a população brasileira, coopera ANVISA autorizou um outro regime para os
para que exista vários problemas relacionados ao uso de medicamentos isentos de prescrição em 2016, a RDC n°
medicamentos sem orientações, por esta razão os casos 98 determina sete critérios para regularizar um
de intoxicações se tornaram as maiores causas de medicamento como isento de prescrição, são eles:
agravos a saúde dos indivíduos. O uso excessivo de período de comercialização, segurança, sintomas
fármacos é altamente comum, refletindo em um domínio autodiagnosticáveis, administração por curto período de
cultural, pouco influenciada por nível de escolaridade ou tempo, ser portátil pelo usuário, desenvolver baixo
pela classe social. Outro fator é a privação de fundos potencial de risco e não desenvolver potencial de
orçamentários propostos ao Sistema Único de Saúde provocar dependência.
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A dispensação do medicamento deve acompanhar importância discuti-la em conjunto com diferentes


além da assistência farmacêutica, condutas que setores da comunidade. Quase sempre ela é tratada como
direcione as orientações necessárias para um vilã, porém, a possibilidade de utilizar um medicamento
atendimento eficaz e seguro. Para isso, o farmacêutico de venda livre com segurança não deve ser descartada e
pode utilizar fichas de acompanhamento os indivíduos tem o direito de estarem preparados em
farmacoterapêutico, guias explicativos e dedicar-se a relação a isso. Assim, campanhas relacionadas ao uso
educação continuada de seus usuários. A orientação racional de medicamentos são sempre bem-vindas e
sobre posologia é essencial no tratamento e cura da contribuem neste contexto.
doença, vários usuários não possuem conhecimento
sobre os intervalos de administração dos medicamentos, REFERÊNCIAS
o que pode interferir na biodisponibilidade do
medicamento e, consequentemente, em sua efetividade [1] Lira CAB, Oliveira JNS, Andrade MS, Campanharo
farmacológica. CRV, Vancini RL. Conhecimento, percepções e
O indivíduo que detém conhecimento colabora para utilização de medicamentos genéricos: um estudo
eficácia terapêutica e adota medidas profiláticas transversal. 3. ed. Goiânia-GO: Einstein (São Paulo),
reduzindo os problemas associados ao uso de produtos 2014; 12:267-273.
farmacêuticos. [2] BRASIL, Ministério da Saúde, Resolução - RDC nº 84,
Não há como extinguir a automedicação da de 19 de março de 2002. [Acesso em 10 maio 2018]
sociedade, há no entanto, recursos capazes de minimizar Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/hotsite/genericos/legis/resolu
seus riscos. Esquemas de orientações preparados para coes/2002/84_02rdc.htm
profissionais de saúde e população em geral, projetos de [3] Tomasini AA, Ferraes AMB, Santos JS. Prevalência e
encorajamento à busca de profissionais médicos e/ou fatores da automedicação entre estudantes universitários
farmacêuticos e expansão de políticas públicas a fim de no Norte do Paraná. 1. ed. Londrina-PR: Biosaúde,
adaptação de infraestrutura e supervisionamento 2015; 17:1-12.
adequado, da propagação em publicidade e da venda de [4] Soterio KA, Santos MA. A automedicação no brasil e a
medicamento isentos de prescrição, são medidas importância do farmacêutico na orientação do uso
essenciais que ajudam a minimizar os males da racional de medicamentos de venda livre: uma revisão.
automedicação. 2. ed. Rio Grande do Sul: Revista da Graduação. 2016;
9:1-15.
Os resultados desta pesquisa revelaram que a [5] López JRG, Gázquez MÁR, Campos MML.
população necessita de mais informações sobre Automedicação em imigrantes adultos latino-
automedicação responsável, pois, muitas vezes, o americanos em Sevilha. 2. ed. São Paulo: Acta Paulista
diálogo dentro do consultório médico restringe-se a de Enfermagem. 2012; 25:75-81.
poucas palavras e nem sempre é um diálogo completo. [6] Sales CCF, Suguma P, Guedes MRJ, Borghesan NBA,
Neste contexto, é essencial que o farmacêutico Higarashi IH, Oliveira MLF. Intoxicação na primeira
assuma seu papel como principal profissional infância: socorros domiciliares realizados por adultos. 4.
responsável pelos medicamentos e esteja empenhado em ed. [S.l.]: Revista Baiana de Enfermagem. 2017; 31:1-7.
trabalhar com atenção farmacêutica. A assistência e a [7] Nunes CRM, Alencar GO, Bezerra CA, et al. Panoramas
das intoxicações por medicamentos no brasil. 2. ed.
atenção prestada pelo farmacêutico são extremamente [S.l.]: Revista E-ciência. 2017;.5:98-103.
importantes para garantir a eficácia terapêutica no [8] Bertoldi AD, Camargo AL, Silveira MPT, Menezes
tratamento da doença e, acima de tudo, da manutenção AMB, Assunção MCF, Gonçalves H, et al. Auto-
da saúde e da qualidade de vida. medicação entre adolescentes com 18 anos: estudo de
coorte de nascimentos de 1993 em Pelotas (Brasil). 2. ed.
5. CONCLUSÃO [S.l.]: Journal Of Adolescent Health. 2014; 55:175-181.
[9] Lee CH, Chang FC, Hsu SD, Chi HY, Huang LJ, Yeh
MK. Auto-medicação inadequada entre adolescentes e
A maioria dos estudos relacionados a automedicação sua associação com menor conhecimento sobre
tem como foco apenas seus aspectos desfavoráveis. medicamentos e uso de substâncias. [S.l.]: PLoS ONE.
Embora as informações mostrem que esta prática traz 2017; 12:189-199.
prejuízos a saúde, a automedicação é uma prática [10] Galato D, Galafassi LM, Alano GM, Trauthman SC.
inegável, dessa forma, a comunidade deve saber lidar Auto-medicação responsável: revisão do processo de
com esta realidade, assim diminuindo seus perigos e atendimento farmacêutico. 4. ed. São Paulo: Revista
aumentando suas vantagens. Os dados levantados nesta Brasileira de Ciências Farmacêuticas. 2009; 45:625-633.
pesquisa mostram que o Brasil deveria dar mais [11] Ribeiro MI, Oliveira A, Silva H, Mendes M, Almeida M,
importância a este assunto tão relevante e criar equipes Silva T. Prevalência da automedicação na população
estudantil do Instituto Politécnico de Bragança. 1. ed.
com profissionais da área de saúde que possam melhor Lisboa: Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2010;
contribuir com a automedicação responsável na 28:41-48.
sociedade. Assim, a integração do farmacêutico nos [12] Oliveira ALM, Pelógia NCC. Cefaleia como principal
grupos do Programa da Saúde da Família (PSF) se torna causa de automedicação entre os profissionais da saúde
fundamental, uma vez que, este profissional é o mais não prescritores. 2. ed. São Paulo: Revista Dor. 2011;
habilitado para atuar nas questões referentes aos 12:99-103.
medicamentos. Como a automedicação é um tema [13] Mélo DVA. Analise da importância do farmacêutico nas
polêmico e precisa de atenção difundida, é de suma intervenções farmacêuticas. [Monografia] Recife:

BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr


Marinho et al. / Braz. J. Surg. Clin. Res. V.23,n.2,pp.105-110 (Jun - Ago 2018)

Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa CCE - Lusófona de Ciências e Tecnologias da Saúde. 2010;
Centro de Capacitação Educacional Pós-Graduação em 7:47-55.
Farmácia Hospitalar e Clínica. 2015. [28] Alba JEM, Cataño LFE, Builes MJL, Gutiérrez PAM,
[14] Bertoldi AD, Pizzol TSD, Ramos LR, Mengue SS, Luiza Orozco SAO, Villa JOR. Fatores sociais, culturais e
VL, Tavares NUL, et al. Perfil sociodemográfico dos econômicos associados à automedicação. 4. ed. Bogotá:
usuários de medicamentos no Brasil: resultados da Biomédica. 2014; 34:580-588.
pesquisa PNAUM 2014. 2. ed. São Paulo: Revista de [29] Arrais PSD, Fernandes MEP, Pizzol TSD, Ramos LR,
Saúde Pública. 2016; 50:1-11. Mengue SS, Luiza VL, et. al. Prevalência da
[15] Montanari CM, Souza WA, Vilela DO, Araújo FS, automedicação no Brasil e fatores associados. 2. ed.
Podestá MHMC, Ferreira EB. Automedicação em [S.l.]: Revista Saúde Pública. 2016; 50:1-11.
acadêmicos de uma universidade pública do sul de [30] Araújo AL. Estudos brasileiros sobre automedicação:
Minas Gerais. 4. ed. Brasília: Revista Tempus - Actas de uma análise da literatura. [Monografia] CEILÂNDIA,
Saúde Coletiva. 2014; 8:257-268. DF: Universidade de Brasília Faculdade de Ceilândia
[16] Fernandes WS, Cembranelli JC. Automedicação e o uso Curso de Farmácia. 2014.
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BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr

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