A Incessante Busca Pela Felicidade

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 2

A INCESSANTE BUSCA PELA FELICIDADE

o indivíduo in(feliz) das redes sociais e a insatisfação pessoal


Por Gabriela Magalhães

Talvez você não perceba, mas existe uma vida antes e depois das redes sociais. Eu só
percebi isso há uns quatro anos, depois de começar a usar o Instagram como uma forma de
“vender” minha imagem. As necessidades de ser aceita e ganhar “likes” eram maiores que muitas
outras coisas que, com certeza, deveriam ser prioridades - como meus estudos e meus
relacionamentos reais (família e amigos). Perdia horas olhando o perfil de outras garotas e invejava
cada detalhe de suas fotos, até os comentários que recebiam. “O que eu preciso fazer para
conseguir isso?” era a pergunta que rondava minha cabeça todos os dias. Até que um dia eu fui
rejeitada por um garoto e abri seu Instagram pra ver com que tipo de garotas ele mantinha
interações. Eram garotas atléticas, corpos malhados, magros e bronzeados. Eu não me encaixava
nisso, e decidi a partir daí que tinha que mudar, eu precisava me tornar o que me faria ser aceita.
Parei de comer por dois dias, me desesperei. Falhei no terceiro dia e chorei bastante. Foi aí que eu
percebi o que estava acontecendo.

Depois de vários acontecimentos pessoais relacionados às redes sociais, comecei a tentar entender
o que acontece com o indivíduo à medida em que ele se envolve com esses aplicativos. Uma
pesquisa realizada pela Royal Society for Public Health - instituição de saúde pública do Reino Unido
- apontou que as redes sociais são mais viciantes que o álcool e o cigarro. Num ranking, o Instagram
aparece como a rede social mais nociva para o seu público, impactando principalmente na
autoimagem do usuário.

“Sete em cada 10 voluntários disseram que o app fez com que eles se
sentissem pior em relação à própria autoimagem. Entre as meninas, o efeito
Instagram foi ainda mais devastador: nove em cada 10 se sentem infelizes com
seus corpos e pensam em mudar a própria aparência, cogitando, inclusive,
procedimentos cirúrgicos.” aponta estudo.

A promoção de uma “vida perfeita” nesses aplicativos gera expectativas irreais nos próprios
usuários, e ao passo em que essas expectativas não são concretizadas, o indivíduo se torna
frustrado e infeliz. No livro de Alain Ehrenberg ‘O Culto da Performance: da aventura
empreendedora à depressão nervosa’, o autor ressalta que em uma sociedade em que a imagem e a
reputação social são chave para o sucesso, os indivíduos se sentem cada vez mais pressionados à
serem totalmente responsáveis pelas suas realizações pessoais. Consequentemente, o não sucesso
pode desenvolver sérios problemas psicológicos, como ansiedade e depressão.
O primeiro episódio da terceira temporada da série Black Mirror, Nosedive, é uma ótima
ilustração de uma realidade provavelmente próxima. No episódio, a protagonista Lacie Pound vive
em uma sociedade distópica onde as pessoas são totalmente dependentes das mídias sociais. Toda a
reputação do indivíduo depende das avaliações que recebe pelo aplicativo, que vai de 1 a 5
estrelas. O que a pessoa tem ou deixa de ter vai ser definido pela sua avaliação. Os indivíduos
agiam de forma extremamente gentil e educada, por mais que essa não fosse sua vontade. Isso
mostra como a série está ligada à nossa realidade. Não vivemos e agimos como queremos, mas sim
para concretizarmos nossas expectativas - que por vezes são irreais e não necessariamente nos
farão felizes.
“Na era da felicidade compulsiva e compulsória, convém aparentar-se
bem-adaptado ao ambiente, irradiando confiança e entusiasmo, alardeando uma
personalidade desembaraçada, extrovertida e dinâmica.” João Freire Filho
Ao mesmo tempo em que as redes sociais podem ser positivas no sentido de conectar
pessoas e diminuir as barreiras da distância, ele também pode ser um passo para distúrbios
psicológicos e físicos, uma vez que o indivíduo as usa como parâmetro de comparação.
De acordo com estudos da Universidade de Michigan, o uso do Facebook tem recursos que
satisfazem a necessidade humana de conexão social, mas ao mesmo tempo prejudica o bem-estar
pessoal.
Retomando o livro ‘O Culto da Performance’, o autor afirma que o sucesso pessoal é o novo
padrão de comparação social. O indivíduo deixa a ligação ao coletivo de lado para priorizar a
visibilidade individual. Há uma busca incessante pela perfeição pessoal, a fim de superar o
comparativo e alcançar a felicidade almejada, o que potencializa as chances de frustração e
insatisfação.
É dessa maneira que percebemos o imediatismo e a necessidade de sucesso da sociedade
contemporânea. Momentos de infelicidade nos atingem de tal forma que caso o sucesso não venha
na mesma hora, nos consideramos fracassados e alguém sem objetivo na vida. Não devemos basear
nosso conceito de felicidade nas conquistas dos outros, afinal cada um de nós constrói sua história
de vida de maneiras diferentes.

Você também pode gostar