A Incessante Busca Pela Felicidade
A Incessante Busca Pela Felicidade
A Incessante Busca Pela Felicidade
Talvez você não perceba, mas existe uma vida antes e depois das redes sociais. Eu só
percebi isso há uns quatro anos, depois de começar a usar o Instagram como uma forma de
“vender” minha imagem. As necessidades de ser aceita e ganhar “likes” eram maiores que muitas
outras coisas que, com certeza, deveriam ser prioridades - como meus estudos e meus
relacionamentos reais (família e amigos). Perdia horas olhando o perfil de outras garotas e invejava
cada detalhe de suas fotos, até os comentários que recebiam. “O que eu preciso fazer para
conseguir isso?” era a pergunta que rondava minha cabeça todos os dias. Até que um dia eu fui
rejeitada por um garoto e abri seu Instagram pra ver com que tipo de garotas ele mantinha
interações. Eram garotas atléticas, corpos malhados, magros e bronzeados. Eu não me encaixava
nisso, e decidi a partir daí que tinha que mudar, eu precisava me tornar o que me faria ser aceita.
Parei de comer por dois dias, me desesperei. Falhei no terceiro dia e chorei bastante. Foi aí que eu
percebi o que estava acontecendo.
Depois de vários acontecimentos pessoais relacionados às redes sociais, comecei a tentar entender
o que acontece com o indivíduo à medida em que ele se envolve com esses aplicativos. Uma
pesquisa realizada pela Royal Society for Public Health - instituição de saúde pública do Reino Unido
- apontou que as redes sociais são mais viciantes que o álcool e o cigarro. Num ranking, o Instagram
aparece como a rede social mais nociva para o seu público, impactando principalmente na
autoimagem do usuário.
“Sete em cada 10 voluntários disseram que o app fez com que eles se
sentissem pior em relação à própria autoimagem. Entre as meninas, o efeito
Instagram foi ainda mais devastador: nove em cada 10 se sentem infelizes com
seus corpos e pensam em mudar a própria aparência, cogitando, inclusive,
procedimentos cirúrgicos.” aponta estudo.
A promoção de uma “vida perfeita” nesses aplicativos gera expectativas irreais nos próprios
usuários, e ao passo em que essas expectativas não são concretizadas, o indivíduo se torna
frustrado e infeliz. No livro de Alain Ehrenberg ‘O Culto da Performance: da aventura
empreendedora à depressão nervosa’, o autor ressalta que em uma sociedade em que a imagem e a
reputação social são chave para o sucesso, os indivíduos se sentem cada vez mais pressionados à
serem totalmente responsáveis pelas suas realizações pessoais. Consequentemente, o não sucesso
pode desenvolver sérios problemas psicológicos, como ansiedade e depressão.
O primeiro episódio da terceira temporada da série Black Mirror, Nosedive, é uma ótima
ilustração de uma realidade provavelmente próxima. No episódio, a protagonista Lacie Pound vive
em uma sociedade distópica onde as pessoas são totalmente dependentes das mídias sociais. Toda a
reputação do indivíduo depende das avaliações que recebe pelo aplicativo, que vai de 1 a 5
estrelas. O que a pessoa tem ou deixa de ter vai ser definido pela sua avaliação. Os indivíduos
agiam de forma extremamente gentil e educada, por mais que essa não fosse sua vontade. Isso
mostra como a série está ligada à nossa realidade. Não vivemos e agimos como queremos, mas sim
para concretizarmos nossas expectativas - que por vezes são irreais e não necessariamente nos
farão felizes.
“Na era da felicidade compulsiva e compulsória, convém aparentar-se
bem-adaptado ao ambiente, irradiando confiança e entusiasmo, alardeando uma
personalidade desembaraçada, extrovertida e dinâmica.” João Freire Filho
Ao mesmo tempo em que as redes sociais podem ser positivas no sentido de conectar
pessoas e diminuir as barreiras da distância, ele também pode ser um passo para distúrbios
psicológicos e físicos, uma vez que o indivíduo as usa como parâmetro de comparação.
De acordo com estudos da Universidade de Michigan, o uso do Facebook tem recursos que
satisfazem a necessidade humana de conexão social, mas ao mesmo tempo prejudica o bem-estar
pessoal.
Retomando o livro ‘O Culto da Performance’, o autor afirma que o sucesso pessoal é o novo
padrão de comparação social. O indivíduo deixa a ligação ao coletivo de lado para priorizar a
visibilidade individual. Há uma busca incessante pela perfeição pessoal, a fim de superar o
comparativo e alcançar a felicidade almejada, o que potencializa as chances de frustração e
insatisfação.
É dessa maneira que percebemos o imediatismo e a necessidade de sucesso da sociedade
contemporânea. Momentos de infelicidade nos atingem de tal forma que caso o sucesso não venha
na mesma hora, nos consideramos fracassados e alguém sem objetivo na vida. Não devemos basear
nosso conceito de felicidade nas conquistas dos outros, afinal cada um de nós constrói sua história
de vida de maneiras diferentes.