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Victória Balady
Mestre em planejamento e desenvolvimento regional, graduada em Direito, Professora do Centro Universitário
Teresa D’Ávila. Email: [email protected]
Resumo
O artigo pretende discorrer e explanar acerca das transformações às quais o mercado fonográfico
está passando. Por meio deste estudo, será melhor compreendida esta mudança de cenário, com foco
na plataforma de streaming de música Spotify, que revolucionou a maneira de ‘consumir’ música
atualmente. Ademais, esta pesquisa pontuará as tendências que influenciam o target e os produtores
de conteúdo musical, e também o que podemos esperar do futuro da publicidade e da música dentro
dessas plataformas de distribuição de mídia.
Palavras-chave
Spotify; Streaming; Indústria Fonográfica.
Abstract
The article intends to discuss and explain about the transformations that the phonographic market is
going through. Through this study, this change of scenery will be better understood, focusing on the
Spotify music streaming platform, which has revolutionized the way to 'consume' music today. In
addition, this research will punctuate trends influencing the target and producers of music content, as
well as what we can expect from the future of advertising and music within these media distribution
platforms.
Keywords
Spotify; Streaming; Music industry.
Introdução
Com o caminhar da tecnologia, foram surgindo novas formas de mídia e, para tanto,
novas formas de propagá-las. O presente estudo foca principalmente no mercado fonográfico,
na evolução das plataformas online e da ferramenta de streaming, que possibilitou que
empresas como o Spotify viessem à tona.
De tal forma, é necessário compreender o contexto no qual surgiu o streaming, como
esta ferramenta impactou o mercado e como foi sua receptividade para com o público em
geral. É notável que, devido à facilidade de acesso, as plataformas de streaming se
popularizaram de forma rápida.
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Muitas portas se abriram com a chegada também da banda larga, acesso ilimitado à
internet, que permitiu que este conteúdo online pudesse ser acessado cada vez mais
facilmente. Por outro lado, portas começaram a ser fechadas, como por exemplo a queda na
pirataria, que antes muito comum, foi praticamente substituída pela praticidade das novas
tecnologias e serviços cada vez mais disponíveis e alcançáveis.
O artigo tem o objetivo de esclarecer a evolução do mercado fonográfico, com o
intuito de compreender o contexto e a influência das plataformas de streaming na industria de
mídias. Como um dos principais expoentes no mercado, e recentemente apontado como uma
das empresas favoritas dos millenials, o Spotify representa o objeto ideal para o presente
estudo.
2.1 Consumidor
Primeiramente, no que tange o consumidor final, é inegável a revolução proporcionada
pelo consumo mobile (em dispositivos móveis) e via internet. Segundo reportagem da revista
Época de Abril de 2018, uma pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers intitulada
Global Consumer Insight Survey 2018, 58% dos entrevistados utilizam o computador pessoal
para compras e consumo de conteúdo, contra 41% dos que utilizam celulares e smartphones e
30% dos que fazem uso de tablets. Conforme apontado por Ricardo Neves (2018), sócio da
PwC, na mesma reportagem, "O online continua crescendo na vida das pessoas. Elas
compram com mais frequência, usam mais os canais online, e em todas as categorias de
produtos os números de pessoas que optam pela rede aumenta."
Serviços como o Spotify, Apple Music, a Netflix e tantos outros do gênero on demand
encontram no cotidiano do usuário os maiores incentivos para o êxito. O ritmo acelerado da
rotina diária, aliado a constante necessidade de consumo de conteúdo motivada, dentre outros
pontos pelo Fear of Missing Out, torna atrativa as opções que permitem acessar grandes
catálogos por meio dos dispositivos móveis de qualquer local a qualquer hora do dia.
Um fato curioso decorrente do aumento da popularização do consumo via streaming
pôde ser notada em outra mídia da indústria fonográfica, esta muito mais antiga: o vinil.
Conforme apontado em reportagem de junho de 2018 do site O Globo, 70 anos após o
surgimento da mídia que garante melhor qualidade de som se comparada aos arquivos
comprimidos na extensão mp3, o vinil segue em significativo aumento de consumo e ainda
rendendo aos produtores. Seja pelo sentimento de nostalgia, pela onda hipster ou
simplesmente pela qualidade de som oferecida, o ponto supracitado nos mostra a pluralidade
do consumo de mídia na era da informação.
Empresas surgidas dentro do contexto da era digital e do novo consumo de mídia e
informação costumam ter em comum a consciência e apreço pela experiência do consumidor;
entregar o produto que se espera de forma intuitiva, descomplicada e da forma mais
customizada possível, características do consumo on demand. Conforme apontado em
reportagem da revista Época, intitulada “É a experiência do consumidor que gera sucesso – e
não a tecnologia”, a usabilidade, design e conhecimento acerca do perfil por muitas vezes
imprevisível do consumidor final são pontos cruciais a serem levados em conta por empresas
que adotam o modelo de negócios semelhante ao do Spotify, objeto de estudo do presente
artigo.
2.2 Produtores
Se por um lado o mercado e as marcas nem sempre admitem o relacionamento com o
consumidor como principal ponto a ser levado em suas estratégias, os artistas do mundo da
música podem ser tomados como referência neste aspecto. As transformações trazidas pelo
modelo de negócios do Spotify já conquistaram papel de destaque no cotidiano dos artistas,
gravadoras e veículos especializados. A dupla The Carters, formada por Beyoncé e seu marido
Jay Z, proprietário do serviço de streaming TIDAL, conquistaram números expressivos de
mídia espontânea ao lançar seu álbum inédito exclusivamente na plataforma do casal, ainda
que o mesmo tenha sido disponibilizado nos demais serviços e na plataforma de vídeos
YouTube posteriormente.
Outra característica do consumo de mídia em smartphones, o vídeo vertical também
vem ganhando espaço no mercado de música no ano de 2018. Maroon 5, Taylor Swift e Anitta
são alguns dos artistas que aderiram a tendência do clipe vertical em seus lançamentos, um
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videoclipe inteiramente produzido para consumo nas plataformas de streaming de áudio; no
caso de Anitta, a cantora aliou-se ao Spotify para o lançamento exclusivo do clipe de
“Medicina”, conforme apontado em reportagem do site B9 (2018).
Naturalmente, todo o esforço desprendido pelos artistas e gravadoras na produção de
conteúdo levando em conta as plataformas de streaming traz resultados de curto, médio e
longo prazo para os mesmos. Pode se utilizar as estratégias adotadas pela cantora Anitta uma
segunda vez para exemplificar o ponto. Conforme consta em reportagem especial da revista
Meio&Mensagem, veículo referência no mercado de publicidade, marketing e comunicação, a
análise do sócio diretor da Agência 301, Chico Barney:
Enquanto trabalhava com sua exposição comercial, atuando com marcas, Anitta colocava em prática algo que
aprendeu sobre o YouTube: frequência. Estratégia comum aos influenciadores da plataforma. “Como toda boa
marca relevante, a Anitta entendeu que é necessário ter uma presença estratégica no YouTube e vai lançar clipes
de músicas inéditas mensalmente na plataforma de vídeos do Google” (PACETE, 2018).
Parte importante do mercado musical, as premiações, recordes e charts, listas
elaboradas por veículos especializados tais como a Billboard, com as músicas mais tocadas na
semana ou mês, também sofreram e sofrem influência do mercado de streaming. Não raro
influenciadores ou os próprios artistas comemoram junto a seus fãs um novo recorde batido
no Spotify ou Apple Music. É o caso protagonizado por Beyoncé, conforme noticiado pelo
Correio Braziliense na ocasião em que a cantora se tornou a primeira a alcançar a marca de
um bilhão de streams (ou reproduções) em três de seus álbuns no Spotify.
2.3 Mercado
Por fim, ao traçar o paralelo entre os consumidores, marcas e produtores, é possível lançar um
olhar analítico sobre o mercado que se desenvolve a cada dia e marca atingida pelo modelo de
negócios que se expande com velocidade. Em primeiro lugar, vale trazer novamente à luz a
questão da experiência do usuário dentro do ecossistema das plataformas, tomando para este
caso o Spotify.
Conforme apontado em reportagem da revista Meio&Mensagem intitulada “O
caminho fácil é vender volume, difícil é fazer branding”, falta às marcas a consciência de que
somente o streaming, a rádio ou a televisão isoladas não representam a solução para os
objetivos de mídia ou marketing das mesmas. A entrevistada traz à luz da discussão dados que
apontam que o consumo musical em 2018 é de maioria do gênero sertanejo e se concentra nas
rádios. A mesma matéria aponta a necessidade e oportunidade que o mercado musical
representa para interferir em questões como a representatividade no meio, seja de gênero, raça
ou orientação sexual; vale ainda menção às oportunidades de visibilidade e crescimento para
artistas independentes e estreantes, conforme elencado em momento anterior do presente
artigo, a recente mudança na estrutura da comunicação entre o Spotify e os artistas representa
uma evolução neste quesito.
Evidentemente, o awareness e demais valores intangíveis para as marcas não bastam
para que se mantenha um modelo de negócios sustentável; dessa forma, questões como o
fluxo de caixa do Spotify nos últimos anos conforme já citado no presente artigo, lançam o
questionamento para novas formas de publicidade e venda de mídia dentro do serviço, em
demais concorrentes ou até mesmo fora dos citados. Playlists patrocinadas e curadoria de
marcas ou artistas são alguns dos formatos já explorados por concorrentes como o Deezer,
que também possui parcerias firmadas com operadoras de celular para oferecer uma
assinatura do serviço junto ao plano de dados dos usuários. O formato, porém, segue sendo
timidamente explorado pelo Spotify, podendo ser citado como um dos cases mais recentes a
parceria com a Netflix, marca top of mind no mercado de streaming de vídeo, conforme
apontado no estudo “Love Index” divulgado em reportagem da revista Exame (2016). Na
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ação em questão, a parceria acontece por meio de playlists temáticas que suportam o “modo
Stranger Things”, um tema inspirado na popular série da Netflix que pode ser aplicado no
Spotify; a chamada experiência imersiva foi noticiada em reportagem do portal Canal Tech.
Considerações finais
Referências
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