Rev Industrial HENDERSON
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Rev Industrial HENDERSON
HENDERS
^ ^u m en to progre ssi vo d a téc nic a
SO
Tawrecendo a preponderância da máquina
teve particular incidência
<
sobre o campo industrial. O
r
Os s écu los X IX e XX
testemunharam uma autêntica revolução
que influiu de forma decisiva
nas ideias e na vida
do homem contemporâneo.
e
• o
>
o
REVOLUÇ
O presente estudo abre uma luz nova
sobre os acontecimentos e os nomes
que estiveram na srcem e na sequência
deste fenómeno social
NH
z
0
d
INDUSTRI
de repercussões ainda imprevisíveis. X fl
H
X
HM
y/. O. HENDERSON
As grandes invenções 12
A revolução do caminhodeferro 15
A adaptação social 22
O choque da guerra 26
A promoção da indústria, 18401870 28
O progresso industrial, 18701914 32
II OS INVENTORES 35
Os magnates do ferro 35
Os arquitectos da idade do vapor 37
Os construtores navais 40
Os pioneiros dos caminhosdeferro 43
Os inovadores têxteis 46
Os engenheiros 49
A segunda grande vaga de invenções 52
Os químicos industriais 53
Os técnicos da electricidade 57
Os engenheir os do automobilismo 60
Inventores american os 60
Incentiv os para a invenção 61
de toneladas;
ladas. cem anos
A produção antes, era
de lingotes inferior
de ferro a 3 de
subiu milhões
17 000detoneladas
tone
em 1740 a 25 0 000 em 1 806. As importações de algo dão cru
aumentar am de cerca de 1 milh ão de libras e m 1743 para
cerca de 60 milhões em 1802. Nos princípios da década de 1820
as manufacturas de algodão representavam 46 % das expor
tações totais da Grã-Bretanha, e na ocasião da Grande Exposição
de 1851 a indústria algodoeira era igual, em tamanho, a todas
as outras indústrias de algodão europeias juntas. Em 1800 já
várias regiões estavam a especializar-se no fabrico de certos
produto s. O fio de algodão e os tecidos eram feitos no Lan
cashire, as lãs no West Riding, as malhas em Nottinghamshire,.
o aço e as cutelarias em Sheffield, ferro e aço no Sul do País
de Gales, objectos de metal e ferragens em Birmingham e no
«Black Country», e cerâmica em Staffordshire. A Giã-Bretanha
tornara-se, indiscutivelmente, a «oficina do Múrido».
Em contraste, a Alemanha, a França e a Itália continuavam
países agrários em 1815. Na Alemanha, a produção de artigos
3. À direita,
Arkwright, o prenúncio
construída da épocaemfabril,
em Cromford 1771. aPormenor
fábrica de algodão
de uma de de
pintura Richard
Jos eph Wr igh t, de Der by.
Jazig os de cartão
HdimburgiX
Ârta da indústria d e aça dt
Sheffield desenvolvida pelas
manufacturados estava principalmente nas mãos de artífices, 6. Mapa que mostra técnicas de refinação de
Huntsman a partir de 1760
ao passo que a moderna indústria se limitava a algumas bolsas o estado avançado da O Cidades em desenvolvimento
indústria britânica em NewcástlêZV
na Renânia, Saxónia e Alta Silésia. Só depois da unificação 1815 — um an o to-
< Movas fundiç ões de ferr o a carvão
W 7 '
Em 1870, uma teia de aço estendia-se por toda a Europa
X ' 856'
Ocidental. Tinha-se tornado uma operação simples transportar
/
maquinismos pesados e matérias-primas, em grandes quantidades, dres
de um canto do Continente para outro. Já engenheiros ferro
viários haviam furado os Alpes em monte Cenis e os projectos
do túnel de St. Gottard saíam da prancheta dos desenhadores.
2 1 . À direita, o empresário e
titular britânico do século
X V III, Franci s Egert on, ter -
ceiro duque de Bridgewater,
construtor de canais e magnate
do carvão.
26 É, pois, quase
revolucionária s e um paradoxo
napoleó nicas que vinte e três
marcassem anos
o iníci o de
da guerras
expansão de levarem a cabo inspecções geográficas, prospecções de mine
rais, e dirigirem minas e fábricas. 27
O «sistema continental» de Napoleão pretendia ser não um
estímulo para a indústria europeia mas uma medida de guerra
destinada a destruir a economia da Grã-Bretanha, cortando-lhe
o comércio de exportação. Claro que esta não ficou incólume;
à volta de 1816 incorrera num débito nacional de 876 milhões
de libras, e houve períodos de sérios distúrbios financeiros,
desemprego e angústia social. Mas o progresso industrial da
Grã-Bretanha era já tão grande que, apesar da perda de valiosos
mercados à sua porta, os negociantes britânicos foram capazes
de manter as exportações, abrindo novos mercados na América
do Sul e noutros lugares. As grandes indústrias da Grã-Bre
tanha continuaram a expandir-se e a sua capacidade de dominar
os mares, aguentar os exércitos de Wellington na Guerra Penin
sular e financiar a guerra dos seus aliados com substanciais
subsídios manteve-se incomparável.
Os efeitos danotáveis
particularmente guerra no
na desenvolvimento
Rússia. Conformeindustrial foram
Gerschenkron
nota, o desenvolvimen to económico da Rússia no século XI X , 23, 2 4. À esquerda, « O quê! outra ve z a pedires acções aos caminh osdef erro!» À direita,
tomou-se verdadeiramente «uma função de exigências militares... «Dizme, querido Alberto, tens algumas acções nos caminhosdeferro?»
Avançava ràpidamente onde quer que as necessidades militares
apertassem e cessava logo que a pressão bélica abrandava». depressão de 1857 e pelo desconjuntamento da indústria de
A revelação da fraqueza económica do tempo de guerra levaria algodão durante o bloqueio dos estados do Sul, por ocasião da
em seguida a uma acção vigorosa: a Guerra da Crimeia repre guerra civil nos Estados Unidos. Os regimes autoritários da
sentou um estímulo para a emancipação dos escravos e a expansão Áustria, França e Prússia, no período de reacção que se seguiu
do sistema ferroviário, e a Guerra Turca, de 1876, foi seguida às revoluções, apoiaram-se nas classes médias, e promulgaram
de um grande impulso para expandir as indústiias pesadas da leis favoráveis à expansão das actividades industriais e comer
Rússia. ciais. Na Prússia, por exemplo, a reforma das leis mineiras levantou
numerosas restrições que de há muito vinham impedindo o empre
ÍA PROMOÇÃO DA INDÚSTRIA, 1840-1870 endimento mineiro privado. Por toda a Europa, as classes médias
/ urbanas, ainda muito incapazes de participar directamente na
No período de 1840-1870, o encorajamento da indústria e da vida política dos seus países, dedicaram as suas energias a empre
agricultura pelo Estado e o estabelecimento de bancos de crédito sas económicas.
e de companhias por acções foram provàvelmente os mais signi Em 1850 e 1860 vários factores ampliaram o mercado de
ficativos estímulos para o progresso económico do continente artigos manufacturados europeus. O crescimento contínuo da
europeu. À quebra de 1847 e às revoluções de 1848, seguiu-se população, a extensão das redes de caminho-de-ferro na Europa
28 um período de expansão económica somente interrompido pela e nos Estados Unidos, a introdução de barcos de ferro a vapor, 29
receu assistência financeira a empresas particulares. Minas, fun
dições, salinas, docas navais, fábricas de armamento, cami
nhos-de-ferro e vários outros empreendimentos industriais e
de utilidade pública funcionavam como negócios nacionalizados.
Na Prússia, as minas de carvão do Sarre foram nacionalizadas.
Embora os negócios nacionalizados e as firmas particulares,
como a Krupp, de Essen, fossem de grande importância, o desen
volvimento das regiões industriais importantes como o Rur
25. Uma nova vi a comercial p ara o Oriente: o Mediterrâneo encontra o mar Vermelho foi devido principalmente às actividades das companhias por
quando o Canal d e Suez, de Ferdinand de Lesseps, se completa n o Verão de 18 69. • acções. Olhadas com suspeita pelos Governos e pelos funcioná
rios públicos desde o histórico colapso da Companhia do Mar
a abertura do Canal de Suez e uma renovada licitação de posses do Sul, no século anterior, essas companhias tinham sido limi
sões coloniais, tudo beneficiou imenso o comércio internacional. tadas principalmente aos campos de utilidade pública e às minas
A autoridade britânica estendeu-se na índia e a supressão do mas agora tornavam-se num instrumento poderoso de industria
motim de 1857 foi seguida de um programa de investimento de lização. Entre 1850 e 1857 estabeleceram-se, só na Prússia, umas
capitais, e que
tânicos touxe industriais.
a outros encomendas Osaos Franceses
proprietários do ferroo bri
reforçaram seu 170 companhias por acções.
Os banqueiros e os financeiros representavam agora um
poder sobre os Aigelinos, e o desenvolvimento do comércio papel vital no fomento de novas empresas. Na década de 1850
entre a França e a sua colónia do Norte de África reflectiu-se tornou-se proeminente uma nova espécie de empresas de finan
na expansão de Marselha. Entretanto, os Russos avançavam na ciamento : o «Crédit Mobilier», em França, o Banco de Darmstadt,
Sibéria e na Ásia Central. na Alemanha, e o Kreditanstalt, na Áustria, figuram entre os exem
A expansão económica foi também estimulada pela redução plos mais importantes. Atraíam as economias de pequenos inves ti
de tarifas na Europa Ocidental. A Grã-Bretanha foi o primeiro dores e usavam-nas para comprar acções em novas empresas
país a adoptar o comércio livre: com a abolição das leis do trigo industriai s. Em 1856, o consul francês em Leipzig escrevi a que na
e os orçamentos de Peei e de Gladstone, quase todos os direitos Alemanha «cada cidade e Estado, ainda que sejam pequenos, que
alfandegários de importação foram abolidos. O tratado comer rem o seu banco e o seu «Crédit Mobilier».
cial anglo-francês (Cobden) de 1860 e o tratado franco-prussiano Esses bancos de crédito, que depressa se espalharam por
(Zollverein) de 1862 ocasionaram reduções drásticas nas altas Itália, Espanha, Holanda e outros países, estavam mais ligados
tarifas de importação da Fra nça. Em 1870, muitos países da à indústria do que os antigos bancos britânicos. Sendo a primeira
Europa Ocidental estavam reunidos por um acordo de baixas nação a industrializar-se, a Grã-Bretanha, conforme Landes
tarifas. E a criação das uniões monetárias austro-germânica e observa, «pôde construir as suas instalações de baixo para cima...
latina mostrou que os Governos estavam a começar a apreciar começando com máquinas rudimentares que não eram muito
a importância de assegurar uma relação fixa entre os principais caras para as bolsas particulares e convertendo os lucros em
sistemas monetários. desenvolvimento e avanço técnico». Na Grã-Bretanha, as com
Em vários países, o Estado exerceu controle directo sobre panhias por acções e as instituições de crédito foram menos impor
30 sectores naciona lizados da economia, ao mesmo tempo que ofe tantes do que viriam a ser noutros lados.
PROGRESSO INDUSTRIAL, 1870-1914
outrora
que os as melhores
modelos do Mundo,
mais recentes eram agora menos
desenvolvidos no eficientes do e
estrangeiro, depois disso,
ficou apta a sua riqueza
a investir grandesnacional
somas emaumentou
empresasa tal ponto de
mineiras, que
os métodos do mercado britânico começavam a ficar fora de moda. plantação, ferroviárias e fabris, em muitas partes do Mundo.
Nos dias em que a Grã-Bretanha tinha virtualmente monopo Pelos começos do sécu lo X X , a Alemanha p odia comparar-se
lizado a venda de certos fabricos em mercados estrangeiros, o à Grã-Bretanha como produtora de aço, e em 1914 não estava
cliente não tinha outro remédio senão aceitar o que lhe era ofe muito atrás desta como produtora de carvão.
recido. Agora, os vendedores britânicos achavam difícil adaptar-se Foi no período que se seguiu a 1870 que a Rússia começou
à situação competitiva. Para mais, muitos industriais britânicos a repre sentar um papel importante na vida económica da Europa.
persistiam em treinar a sua mão-de-obra em linhas tradicionais, Embora possuísse vastas fontes de matérias-primas e de trabalho,
ignorando métodos modernos mais eficientes. a Rússia foi vagarosa na industrialização. A sobrevivência da
A Alemanha forneceu muito do ímpeto da nova irrupção escravatura em 1860, um clima severo, estradas fracas, poucas
da actividade industrial e das inovações que caracterizaram o ligações ferroviárias, rios gelados, a falta de portos de água
último quartel do século X IX . A vitória da Prússia em Séda n temperada e a lonjura dos seus depósitos de carvão e de minério
e a criação de um Reich unido tinham fortalecido muito o de ferro, tudo eram obstáculos. No entanto, uma vez que o
moral alemão. Embora em 1873 uma depressão se seguisse ao investimento estrangeiro e a ajuda técnica se dispuseram a auxiliar
boom de 1871-1872, um rápido desenvolvimento ocorreu não a arrancada inicial, a largada tardia da Rússia e o papel extraor
só nas antigas indústrias da Alemanha, como a do ferro, do aço, dinariamente activo do Estado asseguraram um progresso espec
do carvão e dos têxteis, mas também na construção de navios, tacular, levando ao mesmo tempo a uma situação paradoxal.
nos produtos químicos e na indústria eléctrica. Criaram-se Nos princípios do século XX , a Rússia podia gabar-se de uma
grandes cartéis expansão
apropriados
na às
condiçõesdedaprodutos
época. Deu-se uma quantidade de gr andes e eficientes empresas industriais „ tão
32 impressionante exportação manufactu avançadas como quaisquer outras da Europa , e os seus grandes 33
trusts industriais eram tão poderosos como os da Alemanha rOBT
ABLK
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it hio k s ,
II O S INVE NTO RES
ou dos Estados Unidos; todavia, ao lado das modernas minas
de carvão, das fundições, das instalações mecânicas e das fábri
cas têxteis existiam também milhares de pequenas oficinas
domésticas (kustar), que usavam ainda utensílios simples e
máquinas manuais.
O progresso no resto da Europa foi bastante menos rápido
i 28. Um ep itáfio
do que na Grã-Bretanha, Bélgica, Alemanha e Rússia. O desen j para o cavalo.
volvimento industrial na França foi firme mas pouco espectacular.
A facilidade com que ela pagou a sua indemnização à Alemanha, A grande era das invenções modernas divide-se em duas
após 1871, e a rapidez com que recuperou dos efeitos desastrosos fases distintas. A primeira, entre 1700 e 1850, foi dominada pelo
da Guerra Franco-Prussiana e da Comuna de Paris mostraram carvão, o ferro e o vapor, e testemunhou a transição da oficina
a força intrínseca da sua economia. Novas regiões fabris desen para a fábrica e da empresa individual para a companhia por
volveram-se na Terceira República para substituir as perdidas acções. A segunda, coincidindo com a aparição das grandes firmas
com a anexação alemã da Alsácia-Lorena. Mas as altas tarifas e monopólios de 1850 em diante, está associada, acima de tudo,
aduaneiras francesas ref rearam a expansão do . seu comé rcio com com o aço,
síntese a electricidade,
de novas substâncias.o Ambas
motor de combustão
as fases interna que,
demonstram e a
o estrangeiro e a das i ndústrias nav ais e de construção naval.
As indústrias eléctrica e química não podiam competir eficiente embora o avanço em tecnologia não possa por si próprio levar
mente com as suas rivais alemãs. ao progresso industrial, pode conseguir-se, em pouco tempo,
um impressionante avanço, se empresários e artífices habilidosos
tiverem a vontade e a capacidade de reconhecer e aplicar novas
27. A indústria do século X IX na Suécia: Falun, a pri meira cida de industri al do país, u m ideias e invenções úteis. Durante a fase pioneira da industria
centro de minas de cobre há mais de 600 anos.
lização britânica, as principais invenções a chamar a imaginação
do Mundo foram a máquina a vapor, as novas máquinas têxteis
e os novos processos de fabricação do aço.
OS MAGNATES DO FERRO
mesma Os ocasião.
novos processos foram adoptados, primeiro, nas fun suíço J. C. Fischer
aço fundido descobriu,
em cadinho independentemente,
e exibiu comoIndustrial
amostras na Exposição fabricar
dições do Sul do País de Gales, donde o seu uso se espalhou de Berna de 1804. Na mesma altura, mais ou menos, Friedrich
para outras áreas, mas não parecem ter atravessado o canal da Krupp, de Essen, Poncelet, de Liège, e Andreas Kuller, de Wald
Mancha até ao fim das guerras napoleónicas. A pudelagem foi (Solingen), também faziam aço fundido. A primeira grande ins
então introduzida nas fundições de Seraing, na Bélgica, nas de talação em França para produzir aço fundido pelo novo processo
Hayange, na França, e nas de Rasselstein e Lendersdorf, na foi a estabelecida por James Jackson, perto de Saint-Étienne,
Alemanha. após as guerras napoleónicas.
Benjamin Huntsman, de Sheffield, deu um grande desen
volvimento à produção do aço em 1740, com a invenção de um OS ARQUITECTOS DA IDADE DO VAPOR
método de produzir aço fundido em cadinho. O seu sucesso
consistiu em fazer com que os cadinhos fossem capazes de resis Em 1708 um folheto intitulado The Co mpl eat Coll ier chamou
tir ao grande calor e em descobrir um fusor apropriado. Huntsman a atenção para a necessidade urgente de criar bombas mais
tentou guardar o segredo desses processos, mas em 1749 Samuel eficientes para as minas de carvão de Tyneside. Problema seme
Walker també m produzia já aço fundido em cadinho. Para os lhante enfrentavam os interessados nas minas de estanho e de
fins da década de 1780, cerca de vinte refinadores de aço de cobre da Cornualha. Uma bomba a vapor tinha já sido patenteada
Sheffield estavam a fazer aço fundido segundo a nova técnica. por Thomas Savery, que a havia descrito num folheto anterior,
Durante algum tempo, contudo, o processo não se espalhou The M ineras Fr i end (1702). Mas a bomba de Savery não era
muito. Em 1800, David Mushet obteve patente para um novo suficientemente potente para as minas, embora pequenos modelos
método de preparação de aço, a partir do ferro em barra, por fossem usados durante muitos anos para tirar água em casas e
um processo directo, e nos começos do sécul o X IX o metalúrgico jardins particulares. Alguns anos mais tarde, Thom as Newcomen 37
inventou um motor atmosférico mais poderoso e ligou-o a
uma bomba. A bomba a vapor de Newcomen foi primeiramente
instalada na estrada Wolverhampton-Walsall, em 1712, e do
Staffordshire espalhou-se para outras partes da Grã-Bretanha
e para o continente europeu. À volta de 1720, tais bombas^ esta
vam a trabalhar em Kõnigsberg (na Hungria), Passy (Paris),
Londelinsard (perto de Charleroi), Viena, Cassei, e na mina
de Dannemora, na Suécia. Uma bomba Newcomen instalada
na mina de carvão de Griff, perto de Coventry, tinha um custo
anual de funcionamento de 150 libras, reduzindo em 750 libras
as despesas anuais de bombagem.
Em 1760 o mecânico James Watt, de Glasgow, foi chamado
para consertar um modelo de um motor Newcomen. Acrescen- 31, 32. Plano da primeira máquina a ser potenciada por pressão a vapor e a primeira a
tando-lhe um condensador e uma bomba de vapor, transformou fazer girar um veio, e o seu inventor James Watt (17361819).
o motor atmosférico num genuíno motor a vapor, onde a força
era derivada do vapor e não da pressão do ar. A primeira máquina água três vezes mais depressa do que o motor Newcomen—,
Wa tt foi usada quase exclusiva mente para accio nar bombas. mas não se generalizou nos jazigos de carvão. A máquina New
Era mais eficien te do que a antecessora — diz-se que tirava comen era de instalação mais barata e o seu alto consumo de
combustível não afligia os donos das minas de carvão. A máquina
a vapor Watt foi, contudo, introduzida, com sucesso, nas minas
de estanho da Cornualha.
Em 1782 Watt inventou um motor rotativo, que teve uma
aplicação muito maior do que a sua primeira máquina a vapor,
visto poder ser usado para fazer girar um veio e assim guiar maqui
nismos. Enquanto a máquina a vapor estava sob patente, a firma
de Boulton & Watt construiu cerca de 200 bombas a vapor e
cerca de 300 máquinas rotativas, e a rápida expansão do distrito
industrial de Lancashire nessa ocasião foi devida, em larga escala,
à aplicação da energia a vapor para a fiação do algodão. As máqui
30. A máqui-
na atmosférica nas a vapor Watt foram também instaladas em minas estran
Newcomen era geiras — em Fran ça, nas minas de carvão de J ary, em Nantes,
maciça e inefi-
ciente, mas uma por exemplo, e na Alemanha, em Hettstett.
dádiva do céu Quando a patente de Watt expirou em 1800, foram cons
para as minas do
século X V III . truídos vários novos tipos de motores a vapor. Richard Trevi-
À esquerda, um
modelo cons-
truído em 1717.
thick, em Inglaterra,
rimentaram motores eque
Oliver
não Evans,
tinhamnos Estados Unidos,
condensador e que expe
desen- 39
volviam uma pressão de vapor dez vezes maior do que o máximo
que Wa tt conside rava ■seguro. Outros m otores de alta pressão
foram construídos na Inglaterra pelo engenheiro americano
Jaco b Perkins (18 27 ) e na Alemanha pelo Dr . Alban (18 28 ),
mas não foram produzidos em escala comercial. Entretanto, 34. O barco a
vapor experimen-
Arthur Woolf, da fundição de Hayle, melhorou a máquina de tal de John Fitch
Trevithick, que era uma bomba eficiente e popular nos dis no rio Delaware,
tritos mineiros do Sudoeste da Inglaterra. O sócio de Woolf, em Filadélfia, 1786.
Humphrey Edwards, estabeleceu-se em França, e, como gerente
da fundição e da fábrica metalúrgica de Chaillot (Paris) dos
irmãos Perier, construiu cerca de 200 motores Woolf. Importou
também bombas a vapor da Cornualha para várias mina s francesas.
OS CONSTRUTORES NAVAIS
A força
quando do vapor barcos
se construíram foi aplicada
a vaporpara transportesemem
experimentais 1780
França,
no rio Saona, nos Estados Unidos, no Potomac e no Delaware,
e na Escócia, no lago Dalswinton. Depois de construir o motor
atmosférico para o barco Dalswinton, William Symington foi
contratado por Lord Dundas para construir um motor semelhante
para o Charlotte Dundas , que navegava no canal For th-C lyd e
(1801-1803). Em 1807, o barco a vapor de Robert Fulton, Cler-
mont, navegou de Nova Iorque a Albânia, no Hudson. Em 1812
Henry Bell inaugurou um serviço diário de barcos a vapor no construído por David Napier) iniciou um serviço regular entre
Clyde. Em 1818 o Rob Roy de William Denny (com um motor Glasgow e Belfast. Todos eles eram barcos de rodas de madeira.
33. O destino do Téméraire (ver ilustração 9) proclamou um século de avanço: um desenho Embora John Wilkinson tivesse construído uma barcaça de ferro
para um barco a vapor com roda propulsora, por Jonathan Hull, 1737. no Severn em 1787, não foi senão em 1821 que o primeiro barco
de.ferro a vapor, o Aaron M anby , aparece u. Aaro n Manby e
seu filho Carlos, tendo patenteado um novo tipo de motor marí
timo a vapor com cilindros oscilantes, construíram um barco
de ferro a vapor em Horseley, no Staffordshire, montando-o
na doca do canal de Surrey, em Londres, e em Junho de 1822
fizeram-no navegar através do canal da Mancha e pelo Sena até
Paris. Dez anos mais tarde, em Birkenhead, John Laird construiu
um segundo barco de ferro a vapor para o comércio do rio Níger. 41
Em 1836, as primeiras hélices eficazes foram inventadas por Sir
Francis Pettit-Smith e por um engenheiro sueco, capitão John
Ericsson. Mas foi só em 1860 que a superioridade da hélice
sobre as rodas se estabeleceu claramente.
Em '1858, o ferro, o vapor, a roda propulsora e a hélice casa
ram-se na construção do Great Easte rn de Isambard Kingdom
Brunel, o maior navio do século. Embora realizasse um serviço
útil, estendendo cabos transatlânticos e outros, não foi um sucesso
comercial. Hoje, o seu casco pode ainda ver-se encalhado nas
ilhas Falkland.
OS PIONEIROS DO CAMINHO-DE-FERRO
em Newcastle-upon-Tyne,
que em 1823, construíram
serviram nos novos caminhos-de-ferro as locomotivas
inaugurados em Ingla-
vam a produção em relação ao número de operários empregados
mas também proporcionavam reduções substanciais de preço: o
fio do algodão custava apenas dois xelins e onze dinheiros por
libra em 1832 comparado com 38 xelins por libra em 1786. As
próprias máquinas também se tornaram mais baratas, desde que
as inovações técnicas nas minas e fundições fizeram o preço do
ferro em barra descer de 18 libras por tonelada em 1750 para 3
ou 4 libras em 1850. Em 1733, John Kay inventara o primeiro
importante utensílio têxtil, a lançadeira impulsionada, que permi
tia ao tecelão do tear manual duplicar o seu rendimento diário.
Construiu também uma máquina para as cardas desenredarem as
fibras antes da fiação. Em 1759, um dos filhos de Kay inventou o
caixão de lançadeiras múltiplas que permitia que uma peça de
pano fosse tecida em três cores quase tão depressa como uma
42. Estamp agem de algodão. A impressão por rolos foi pela primeira vez aplicada com êxito
aos têxteis em 1735. Anteriormente os desenhos tinham de ser estampados à mão no pano. peça de pano branco. A aceleração do processo de tecer signifi
cava que 4 ou 5 fiandeiros trabalhavam para fornecer um único
terra (1825), Bélgica (1835), Alemanha (1835) e Canadá (1836). tecelão. Assim, eram grandes os incentivos para inventar máqui
Dentro de alguns anos estavam também a ser construídas locomo nas de fiar que permitissem a um fiandeiro seguir a par do
tivas noutros países. Em França, em 1831, uma locomotiva tecelão. Em 1760, James Hargreaves inventou oj enn y , (fian
construída por Marc Séguin era usada na linha Saint-Étienne- deira múltipla manual), uma máquina de fiar melhorada, em
-Lião. Dois anos mais tarde, Cherepanov e seu filho construíram que o fiandeiro podia trabalhar com oito fusos em vez de um.
uma locomotiva para puxar vagons na fábrica Nijne-Taguilsh, Mas o fio fiado peloj enn y servia só para a trama e não para a
nos Urales. Em 1839, a Saxonia , a prime ira locomot iva feita teia, que tinha ainda de ser fiada na roda manual. Em 1769,
na Alemanha, funcionava na linha Dresda-Leipzig. Richard Arkwright patenteou um maquinismo que dava ao fio
a necessária torcedura, permitindo o seu emprego tanto para
OS INOVADORES TÊXTEIS trama como para teia. Arkwright ideou também um método de
cardar por cilindros.
As máquinas britânicas que mais impressionaram os con • Enquan to as i nven ções de Kay e de Ha rgreav es eram pro
temporâneos foram as que estimularam a expansão da indústria gressos para máquinas manuais, a máquina de Arkwright e a
algodoeira. Em 1840, uma fábrica de algodão, empregando sua carda eram propulsionadas primeiro por água e depois por
750 operários e usando uma máquina a vapor de 100 h. p., podia vapor. Visto uma única unidade de potência poder accionar
fazer trabalhar 50 000 fusos e produzir tanto fio quanto 200 000 muitas máquinas simultâneamente, a adopção das invenções
operários que usassem fiadeiras manuais. Uma máquina de de Arkwright proclamaram o fim do sistema doméstico tradi
estampar tecido de algodão dirigida por um único homem podia cional da manufactura e a introdução do sistema fabril.
produzir tantos metros de estampado por hora quanto 200 homens Em 1779, Samuel Crompton inventou a solfactina ou
46 produziam imprimindo à mão. Tais máquinas não só aumenta carruagem, que combinava as características essenciais do
j enn y e da máquina de Arkwright. Mas, enquanto a máquina OS ENGENHEIROS
de Crompton aumentava muito o rendimento dos fiandeiros,
os tecelões continuavam a usar o tear manual melhorado por Intimamente associados com os desenvolvimentos da pro
John Kay e seu filho. Em 1784 , contud o, Edm und Cartw right dução do ferro e do aço do século XV II I, estavam os des en
construiu um tear mecânico: porém, enquanto as novas máquinas volvimentos de técnicas de engenharia que tornaram possível
de fiação tinham sido adoptadas rapidamente, a transição do uma grande extensão do uso dos metais. Tanto em engenharia
tear manual para o tear mecânico levou tempo. O tear mecânico civil como mecânica, os pioneiros britânicos foram à frente,
de Cartwright era uma máquina imperfeita, tosca, e foi neces incluindo os construtores de estradas Metcalf e McAdam e
sário introduzir-lhe vários melhoramentos até que ele pudesse os construtores de pontes Telford e Rennie. Depois, houve
entrar em uso generalizado. George Sorocold, o primeiro engenheiro hidráulico de Inglaterra,
Os processos têxteis de acabamento foram desenvolvidos nos princípios do sécul o XV II I, que construiu uma grande
no último quartel do século XVIII. A branqueação por hipo- turbina para mover a fábrica de sedas instalada pelos irmãos
clorito foi introduzida por Berthollet, novas tintas se descobri Lombe em Derby. John Smeaton melhorou a bomba de New-
ram, e Thomas Bell inventou o estampado por rolos. comen, inventou um dispositivo de ventilação de altos-fornos
As novas máquinas têxteis foram introduzidas em França para a fundição Carron, e construiu o terceiro farol Eddystone
enicos,
na Alemanha,
e em parte em
por parte por empresários
industriais locais. Johne Kay
mecânicos britâ
e seus filhos einventaram
o canal Forth-Clyde.
um método John Wilkinson,
de brocar de Bersham,
cilindros e Broseley
muito mais apurado
viveram muitos anos em França, onde fizeram lançadeiras, do que os anteriores e forneceram cilindros de máquinas a vapor
máquinas de cardar e outros equipamentos. John Holker, um à casa Boulton & Watt. As famosas oficinas mecânicas de Boul-
exilado jacobita que se estabeleceu em Ruão em 1751, fundou ton & Watt, perto de Biimingham, construíram, além de máqui
uma fábrica de tecidos em Saint Sever e foi designado inspector- nas, os mais variados maquinismos, como prensas para cunhar
-geral das fábricas. Introduziu maquinismos mais recentes moeda. William Murdock, funcionário da firma, inventou a ilu
parâ o algodão e trouxe operários especializados do Lancashire minação a gás.
para treinarem os operários franceses no uso daqueles. Depois Nos primeiros anos do século XI X , uma nova geração d e
das guerras napoleónicas, os peritos ingleses, como Job Dixon engenheiros tinha consolidado a posição da Grã-Bretanha como
e Richard Roberts, ajudaram a trazer maquinismo moderno pioneira mundial na construção de máquinas de toda a espécie.
para a Alsácia, enquanto William Douglas e John Collier intro Em Londres, Joseph Bramah inventou uma máquina de aplainar
duziram novos dispositiv os mecânicos para cardar, pentear e madeira, uma prensa hidráulica, um autoclismo, uma bomba
fiar a lã. Na Alemanha, três operários britânicos montaram para cerveja e um novo tipo de fechadura. Joseph Clement
uma fábrica de algodão para K. F. Bernhard, em Hartau, na dedicou os seus grandes talentos ao desenvolvimento de uten
Saxónia, em 1790, e, cerca de 20 anos mais tarde, o jovem sílios automáticos, particularmente o tomo mecânico com carro.
William Cockerill trabalhav a em fábricas de lã em Guben e Henry Maudsley construiu tomos mecânicos para metais e exce
Griinberg. Outras invenções têxteis, como o tear de seda lentes motores marítimos a vapor. James Nasmyth celebrizou-se
Jac qua rd, o cilindro de estam par Ober kamp f-Wi dmer e as pelo seu martelo a vapor. Marc Isambard Brunel desenhou
técnicas de tingir, melhoradas, de Macquer e de Berthollet, para cima de quarenta máquinas a vapor para fazerem roldanas
foram surgindo. de madeira para equipamento de barcos e foi também respon- 49
sável pela construção do primeiro túnel sob o Tamisa, um grande fez carreira como construtor de máquinas de fazer rendas e de
feito da engenharia civil. John Martineau e seu filho ganharam aplainar madeira. Em Newcastle-upon-Tyne os Stephensons, pai
alta reputação como construtores de excelentes máquinas a vapor, e filho, eram os primeiros engenheiros ferroviários do país. Na
geradores de gás e bombas. Escócia, J. B. Neilson, director das fábricas de gás de Glas-
Em Manchester, Richard Roberts inventou a solfactina auto gow, desenvolveu muito os altos-fornos, inventando o ventilador
mática. Joseph Whitworth construiu máquinas rigorosas de medi quente.
ção e instrumentos mecânicos de alta qualidade, enquanto os As realizações dos engenheiros de minas britânicos levaram
seus parafusos de ranhura era m adoptados em todo o Mundo. a um aumento da produção de carvão, tão vital para o desen
William Fair bair n foi o responsável por muitos melhora mentos volvimento económico durante a Revolução Industrial. John Curr,
na construção de máquinas têxteis e máquinas hidráulicas. Mon de Sheffield, desenvolveu o transporte debaixo do chão, intro
tou também um estaleiro em Millwall (Londres) para a constru duzindo pequenos carros de quatro rodas que corriam em carris
ção de barcos de ferro, e mecanizou a cravação de chapas de e podiam ser içados no poço de mina; assentou carris de ferro
caldeiras. Em Leeds, Matthew Murray introduziu inovações com rebordo, e inventou a correia plana e um método de evitar
importantes em maquinismos de fiação de linho e inventou colisões entre os carros que subiam e desciam o poço de mina.
uma máquina de cardar; construiu ainda a locomotiva desenhada Joh n Buddle , de Wallse nd, introdu ziu o métod o tubular de
por Blenkinsop
Middleton. Peterpara o caminho-de-ferro
Fairbairn da minadesenvolveu
(irmão de William) de carvão deo revestir veios com moldes de ferro e modernizou a ventilação
das minas e os métodos de exploração do carvão. O motor rota
maquinismo da fiação do linho em Leeds antes de voltar a sua tivo foi adaptado para melhorar a eficiência do guincho do poço.
atenção para a indústria de armamentos. Em Derby, James Fox E a lâmpada de segurança de Davy reduziu os riscos de fogo e
de explosões subterrâneas.
43. Zona de montagem da fábrica de locomotivas a vapor de Stephens on em Newcas tle,
1864. A caldeira multitubular foi patenteada por Robert Stephenson em 1828. Alguns engenheiros britânicos levaram muitas das suas
invenções e processos para além da Mancha. Aaron Manby
montou oficinas de engenharia em Charenton, perto de Paris,
e modernizou as fábricas Le Creusot. William Jackson, em
Saint-Étienne, e os seus dois filhos, em Assailly, montaram
igualmente modernas fábricas metalúrgicas em França.
William Cockeril l ergue u uma instalação para a const ru
ção de máquinas têxteis em Verviers, na Bélgica, enquanto o
seu filho John fundava o famoso estabelecimento metalúrgico
de Seraing, perto de Liège. Engenheiros e construtores britâ
nicos ajudaram na construção de vários caminhos-de-ferro, como
a linha de Paris-Ruão.
No entanto, a galeria de nomes como Héron de Ville-
fosse, A. H. de Bonnard, L. A. Beaunier, Louis de Gallois-
-Lachapelle e Marc Séguin, mostra que a França possuía os
seus próprios engenheiros muito talentosos nos princípios do
século X IX . Séguin foi o primeiro engenhei ro francês a con s OS QUÍMICOS INDUSTRIAIS
truir um caminho-de-ferro, uma locomotiva e uma ponte sus
pensa, e foram atingidos altos padrões de fabrico nas fundições Com o aparecimento da equipa de investigação científica
e nas instalações metalúrgicas dos irmãos Perier, em Chaillot, a trabalhar num laboratório caro, os dias do inventor, no seu
de Wendels, em Hayange, de Dufaud, em Fourchambault, gabinete particular, estavam contados. O caso de Friedrich
dos irmãos Schneider, em Le Creusot, de Dietrich, em Nieder- Bayer & C.°, de Elberfeld, uma firma alemã fundada n os prin
bronn, e de Thierry-Mieg, em Mulhouse. Na Suíça, Hans Caspar cípios da década de 1860 por Bayer e Weskutt para fabricar as
Escher e o seu filho dirigiram uma instalação em Zurique para tintas de anilina recentemente descobertas, ilustra esse desen
a construção de maquinismos têxteis, que foi das mais eficientes volvimento. Entre 1864 e 1874, quatro capatazes, treinados
da Europa. Na Alemanha, nos princípi os do século XI X , Fra nz na Escola Comercial Têxtil de Krefeld, partilhavam da respon
Dinnendahl e Fritz Harkort estavam entre os primeiros constru sabilidade tanto da investigação como da produção. Mas, à medida
tores de máquinas do Rur. F. A. J. Egells montou uma moderna que os processos de tingir se tornavam mais sofisticados, a firma
fundição de ferro e fábricas metalúrgicas em Berlim. Ferdinand principiou a verificar a necessi dade de em pregar químicos especia
Schichau construiu maquinismos e, mais tarde, barcos a vapor lizados para levarem a cabo projectos de investigação. O químico
em Elbing, enquanto Georg von Reichenbach criava a sua mais proeminente a ser designado foi Cari Duisberg, que des
pelo
e peladesenvolvimento das indústrias
expansão da agricultura, que têxtil,
trouxe do sabão
uma e do vidro,
exigência cada ções industriais
tarde, de Londres
os químicos alemãe s em 1862 e de várias
produziram Paris em 1867. tintas
outras Mais a 55
Frank demonstraram que grandes depósitos de sais de potássio
encontrados em Stassfurt-Leopoldshall constituíram valiosos
fertilizantes.
OS TÉCNICOS DA ELECTRICIDADE
rar as máquinas
dentes dos seus de fiação de
operários modo
mais a torná-las
refractários. mais indepen
Roberts inventou oterra
filamento eléctrico Unidos.
e nos Estados foi inventado ao os
Em 1885, mesmo tempoautomóveis
primeiros em Ingla
foram construídos em Canstadt por Daimler e Maybach e em III O S EMP RESÁ RIO S
Mannheim por Benz. E em 1895 os primeiros filmes foram
apresentados pelos irmãos Lumière, em Paris, e pelos irmãos
Schadanowsky, em Berlim.
Uma feição impressionante da Revolução Industrial no
sécu lo XV II I, particul armente na Grã-Bretanha, foi o nú mero
de invenções feitas por artífices habilidosos, que construíram
novas máquinas ou descobriram novos processos, não pela apli
cação de princípios científicos mas pelo método do ensaio e
do engano. Newcomen era ferreiro e ferrageiro, Crompton,
fiandeiro, Brindley, fabricante de rodas, Neilson e Rennie, ope 56. O rei dos caminhos-de-
rários fabris, Clement, assentador de ardósias, Telford, pedreiro, -ferro absorvido no seu em
pr ee nd im en to; caricatura dos
Metcalf, negociante de cavalos, e Hargreaves, tecelão. Embora tempos da rainha Vitória.
as experiências iniciais de Watt fossem feitas em associação
com o professor Black da Universidade de Glasgow, a máquina
a vapor foi uma invenção de palpite, e quando Carnot apresentou Os Governos dos países europeus empregaram vários expe
a primeira teoria dos motores térmicos, em 1824, foi ignorado dientes a fim de iniciarem e apressarem o progresso da indu s
pelos engenheiros da época. trialização. Procuravam fornecer um meio tão favorável quanto
Mas, lado a lado com os inventores-artífices, houve inova possível à expansão da empresa industrial. Esta política de
dores mais instruídos que estavam conscientes dos avanços encorajamento indirecto à indústria impunha geralmente a
do conhecimento técnico e em contacto íntimo com os cientistas. libertação dos escravos, a abolição dos privilégios medievais
Roebuck, por exemplo, estudou na Universidade de Leida, de associações e municipalidades, a remoção ou redução de
enquanto Davy e Faraday tanto foram obreiros da investigação portagens sobre rios e estradas, a existência de uma moeda forte
científica como inventores práticos. Mais tarde, na grande época baseada em prata ou oiro, a manutenção de um banco nacional
do avanço técnico alemão, os inventores que tanto contribuíram central, a construção de obras públicas (portos, obras hidráu
para o desenvolvimento do automóvel e para as novas indústrias licas, fábricas de gás), a aplicação de tarifas aduaneiras pro
eléctricas e químicas eram geralmente homens que haviam sido tectoras e o reforço de um código naval que salvaguardasse os
treinados em universidades ou escolas técnicas. Onde o meio era interesses marítimos e a construção naval. Implicava igualmente
menos favorável, os inventores pouco brilharam. Na Rússia, o recrutamento de operários especializados no estrangeiro, a
por exemplo, a máquina de fiação de linho de Glinkov, a proibição tanto da emigração de mão-de-obra como da expor
máquina atmosférica de Polzunov, o processo de fundição de aço tação de maquinaria e desenhos, a protecção das invenções por
de Anusov, a locomotiva de Cherepanov, o telégrafo electro meio de uma lei de patentes, o pagamento de subsídios para
magnético de Jacobi, a turbina de Kouzminsky e as notáveis encorajar a produção industrial e promover a exportação, a
descobertas de Zvorykin, relativas às máquinas de cortar metais, regulamentação do custo de fretes em comboios e canais, a
Nem sempre foi possível aos Governos concederem as con mento de Estradas e Pontes, afirmava que as estradas francesas
dições favoráveis que desejavam. Durante a Revolução Fran estavam em condição deplorável e que as regiões industrializadas,
cesa, a depreciação da moeda pela emissão deassignats foi um como a de Lião e de Saint-Étienne, tinham estradas péssimas.
dos factores que atrasou o dese nvolvimento industrial n essa Além disso, a eficiência do impulso governamental dependia
ocasiã o, e, durante a maior parte do séc ulo XI X , o rublo russ o da qualidade dos funcionários públicos que em vários países
foi uma moeda notàvelmente instável. Depois das guerras napo- deixava muito a desejar.
leónicas o Banco Real de Berlim tinha um débito tão grande que Aconteceu também que alguns Governos, apesar das suas
não podia cumprir com as funções normais de um banco cen boas intenções, estorvavam mais do que ajudavam o desen
tr al — e, ao mesmo tem po, o estado desorganiz ado das finanças , volvimento industrial, pela própria perfeição das suas tentativas
tanto nacionais como locais, em quase todos os Estados alemães, para regular a produção. Não restam dúvidas de que, na primeira
impedia-os de auxiliarem os projectos urgentemente neces metade do século XI X , o código prussiano de minas, que deu
sários de obras públicas. Em França, em 1818, o eminente aos inspectores do Governo extensos poderes para regular o
engenheiro Louis de Gallois-Lachapelle queixava-se Qjam rela trabalho diário nas minas de carvão e outras, não estimulava
tório da falta de caminhos-de-ferro em minas de carvão, enquanto, o investimento de capitais nessas indústrias e atrasava, assim,
66 seis anos depois, F. L. Becquey, director- geral do Depart a- o seu desenvolvimento. Por seu turno, o sistema centralizado
59. Nunca foi tão
bom. Caricatura do interesses da defesa nacional. Certas fábricas, assim como
rei Luís Filipe (1773 algumas explorações agrícolas do Estado, eram estabelecimen-
1850), despejando so-
bre o povo o dinheiro tos-modelo, destinados a indicar o caminho às empresas pri
que à indústria escas- vadas, utilizando os maquinismos mais modernos e as melhores
seava para promover
o desenvolvimento técnicas de produção. Construíram-se também algumas fábricas
económico. estatais em regiões onde as velhas indústrias estavam a declinar,
a fim de fornecerem trabalho aos desempregados. Deve acen-
tuar-se que, durante o século XI X , a política de nacionali zações
raramente foi influenciada por doutrinas socialistas. A obra de
Motz, Beuth e Rother, na Prússia; de Napoleão III, em França;
do conde Witte, na Rússia, ilustram pormenorizadamente as
intenções e o papel dos Governos.
de bloqueio.
Foi muitoEmmais
1830difícil
o problema dos enclaves
estabelecer estava
a ligação entreresolvido.
as pro Motz, então, adoptou
União Comercial com sucesso
da Alemanha o próprio
Média tinha método
desejado que a
usar contra
víncias da Prússia, de modo a que o comércio se pudesse mover a Prússia. O Governo prussiano começou a construir estradas
livremente através do reino. A princípio, os esforços de Motz novas que ligavam os territórios da união alfandegária Prússia-
para formar uma união alfandegária no Norte da Alemanha -Hesse-Darmstadt com os da união alfandegária recentemente
falharam. Hanôver e outros Estados que ele contactou receavam formada B aviera-W urttem berg — estradas que atravessavam os
que qualquer forma de união económica com a Prússia levasse territórios de vários pequenos Estados turíngios membros da
eventualmente ao domínio político do seu poderoso vizinho. União Comercial da Alemanha Média. Se esses Estados tivessem
Tudo quanto Motz tinha conseguido em 1828 era a formação apoiado de todo o coração a política da União, teriam recusado
de uma união alfandegária com o Hesse-Darmstadt. Embora o acesso à Prússia. Em 1829 Meiningen e Coburgo concordaram,
isto constituísse uma ligação útil entre a província da Renânia em troca de subsídios e empréstimos, que a Prússia construísse
e a Baviera, as regiões orientais e ocidentais da Prússia conti estradas através dos seus territórios, e cinco meses depois, os
nuaram separadas. Esta união, entretanto, alarmou a tal ponto principados de Reuss seguiram o exemplo. No mesmo ano,
os Estados centrais e setentrionais da Alemanha que estes esta Motz completou com sucesso as negociações que encetara com
beleceram entre si a União Comercial da Alemanha Média, o Governo holandês para facilitar a navegação no Reno. A Holanda
sob a direcção de Hanôver e da Saxónia, e comprometeram-se deixou de cobrar os direitos de trânsito outrora impostos no
a abster-se de se juntarem a qualquer outra união antes de 1835. Reno, no Leck e no Waal, extinguindo também o monopólio
Motz não deixou, todavia, que esse revés o desanimasse, das associações holandesas de navegação, enquanto os portos
pois compreendia que, devido aos mútuos ciúmes dos Estados fluviais alemães de Colónia, Mainz e Mannheim desistiam igual
nistas,
mico nãode sequerealizaram,
a nova política fiscalIIIlevaria
e Napoleão tentouaoadoçar
desastre econó
a pílula aindustrial
tomarem do
um país,
maiormas
interesse na promoção
os seus do desenvolvimento
esforços não obtiveram grande
do impopular Tratado Cobden-Chevalier, concedendo aos indus sucesso. Muitos nobres consideravam as actividades industriais
triais um empréstimo do Estado de 40 milhões de francos, a uma ocupação indigna e os negociantes eram dissuadidos de
fim de lhes permitir comprar novas máquinas e expandir os seus estabelecer fábricas pela escassez de operários e pela supervisão
empreendimentos. O estímulo das competições estrangeiras trazido burocrática dos negócios económicos. Inicialmente, por isso,
pelos tratados comerciais de baixas tarifas foi um dos factores foi o capitalista estrangeiro, empresário e artífice, que repre
que, em 1860, contribuiu para a modernização de várias indústrias sentou o principal papel na construção de grandes estabele
francesas, como as dos têxteis, do ferro e do aço. cimentos fabris na Rússia. A introdução da fiação mecânica
O Governo do Segundo Império esteve intimamente ligado de algodão, por exemplo, foi largamente devida ao empresário
à criação de dois bancos importantes, que fomentaram o desen alemão Ludwig Knoop.
volvimento económico do país: o Crédit Foncier e o Crédit Mobi Embora nascido em Bremen, Knoop trabalhara, em novo,
lier. O Crédit Foncier, estabelecido por um decreto publicado nos escritórios da firma C. B. Jersey, de Manchester. Aos 18
em 1852, era um banco que possuía o monopólio do negócio de anos foi para a Rússia, para ajudar os representantes da sua
hipotecas de terra e dispôs de um subsídio do Estado de 10 milhões firma em Moscovo, e bem depressa montou uma fábrica moderna
de francos. Dois anos mais tarde, tornou-se uma instituição de fiação de algodão em Nikolskoye (perto de Moscovo) para
semiestatal, visto o seu presidente e os dois vice-presidentes a firma de Morozov. Ao todo, instalou 122 fábricas na Rússia,
serem, a partir de então, nomeados pelo imperador. Começou trabalhando em associação íntima com um pequeno grupo de
por ser um banco que emprestava dinheiro a proprietários rurais firmas do Lancashire: C. B. Jersey, de Manchester, Platt Brothers,
sobre as suas propriedades, mas transformou-se pràticamente de Oldham, Hick, Hargreaves & C.° , de Bolton, e Mather &
numa instituição financiadora de obras públicas municipais. Platt, de Salford. 85
e Ludvig Nobel. Em 1870, fundaram uma companhia para
escavar poços de petróleo em Baku e montar refinarias de petró
leo. O seu petroleiro Zoroaster (construído em 1878 pelos esta
leiros Lindholmen-Motala, na Suécia) podia levar 250 tone
ladas de querosene em 21 depósitos de ferro. Em 1880, os petro
leiros dos Nobels transportavam petróleo em porões forrados de
cimento. Navegavam regularmente no mar Cáspio, desde Baku
a Astracã, donde o petróleo era enviado para o Volga em barcaças
dos Nobels, especialmente construídas para o efeito.
Os estrangeiros também ajudaram nas primeiras linhas de
caminho-de-ferro na Rússia. Muito do capital da Companhia
de Caminhos de Ferro da Grande Rússia, de 1857, foi levantado
no estrangeiro. Três bancos franceses estiveram particularmente
envolvidos no fornecimento de dinheiro à companhia, e as
necessária s pontes, locomotivas e material auxiliar foram fornecidos
principalmente por firmas francesas.
No entanto, o progresso industrial da Rússia em 1890 foi
em grande parte realização do conde Sergei Witte, ministro das
Finanças, entre 1892 e 1903. Nos 11 anos do seu governo, Witte
70. O conde Sergei
exerceu uma pressão enérgica para apressar o passo da industria
Witte (18491915), pro- lização. Como considerava a construção de um sistema eficiente de
motor da indústria, mi- caminho-de-ferro a chave do futuro progresso económico, dupli
nistro das Finanças
russo nos últimos anos cou a rede ferroviária. "Mo scovo foi ligad a aos portos de
"' #r/ # 'ú
/ ' v'4'’ do século passado. Archangel e Riga e ao centro têxtil de Ivanovo-Vognesensk;
S. Petersburgo ganhou acesso directo à Ucrânia, enquanto Kiev
A fundação de uma moderna instalação siderúrgica na Ucrâ se ligava ao vale do Donetz, e Rostov, no Don, com os jazigos
nia deveu muito ao magnate do ferro galês John Hughes, que de petróleo de Baku. O caminho-de-ferro mais espectacular de
anteriormente fora gerente das fábricas do Mi llwall Iron &
Shipbuilding C.° em Londres. Em 1869, a sua Companhia 71. O cam inhodeferro transiberiano, de 6000 quilómetros, foi provavelmente a maior
realização de Witte. À direita, um aspecto, alguns anos depois, da conclusão da linha em 1904.
Nova Rússia recebeu incentivos financeiros do Governo russo,
para erguer uma fundição no vale do Donetz, a fim de fazer
carris para os novos caminhos-de-ferro. O primeiro forno foi
aceso em 1872 e, 20 anos mais tarde, erguia-se uma cidade à
volta do empreendimento, empregando cerca de 6000 operários.
A aparição da grande indústria de petróleo na Rússia foi
86 devida em grande parte à iniciativa dos irmãos suecos Robert
Wit te foi a linha transibe riana, da qual mais de 45 00 quilómetros As suas recomendações para que se tratasse disso caíram em
se terminaram cerca de 1899. O pesado investimento do Governo ouvidos surdos, embora prefigurassem as subsequentes refor
em caminhos-de-ferro levou à expansão do ferro, do aço e das mas agrárias de Stolypin; e, se bem que acreditasse que uma forma
indústrias metalúrgicas. Havia grande actividade no jazigo de autocrática de governo era essencial à Rússia, compreendia que
ferro do Krivoi-Rog, na bacia de carvão do Donetz e no jazigo Nicolau II não possuía a capacidade e a força de vontade neces
de petróleo de Baku. As fontes industriais da Sibéria e da Ásia sárias para levar a cabo as reformas indispensáveis à iniciativa
Central começaram a abrir-se, e até as remotas províncias chi privada.
nesas da Manchúria e da Coreia foram alvo da penetração Os esforços dos Governos europeus para estimular o desen
económica russa. volvimento económico durante a Revolução Industrial não
Para financiar um tão grande programa de obras públicas, teriam conseguido mais do que um sucesso muito limitado se a
Wit te apoiou-se muito nos emprés timos do estrange iro e em iniciativa privada não estivesse preparada para desempenhar
persuadir os capitalistas estrangeiros a investir nas empresas o seu papel na construção de novas empresas. Entre os muitos
industriais russas. Em resposta às críticas, Witte insistia que, milhares de empresários pioneiros que ajudaram a transformar
no passado, todos os países subdesenvolvidos se tinham apoiado a Europa de uma região agrária numa região predominan
em dinheiro emprestado para financiar a primeira fase da indus temente fabril, contam-se inventores, artífices, comerciantes,
proprietários rurais, financeiros e os próprios servos.
trialização mase aconsumidores
contribuintes sua política russos.
financeira
Os pesava
críticos sem dúvida nos
queixavam-se
O EMPRESÁRIO-INVENTOR WERNER SIEMENS
de que os preços estavam a subir, que o grão estava a ser expor
tado mesmo quando a colheita era pobre, e que o «sistema de
Witte» só podia sobrevive r enquanto os investidores estrangeiros W em er Siemens (18 16 -18 92 ) foi um famoso empre sário-
— especialmente franceses — estivessem dispostos a continuar -inventor germânico. O seu pai não pôde dar-lhe uma formação
a comprar acções e títulos de novas companhias russas. Recla universitária, mas, como cadete na artilharia prussiana, recebeu
mavam que muitas das indústrias estavam a ser dirigidas por uma boa instrução técnica na Escola de Engenharia e Artilharia
empresários estrangeiros em benefício de investidores estran Unidas de Berlim (1835-1838). Em 1842, tendo obtido uma
geiros e que, embora algumas regiões fabris (tal como o vale patente para laminação e revestimento galvânicos, chegou a
do Donetz) parecessem florescentes, as áreas industriais mais acordo com um prateiro, chamado Henniger, para explorar o
antigas (como os Urales) estavam a declinar. A crítica também processo comercialmente e vendeu os direitos ingleses da patente
comentava que, se a indústria houvesse de florescer, teria de à firma Elkington, de Birmingham, por 1500 libras. Siemens
haver uma forte procura interna de artigos de consumo. ocupou-se em seguida com várias experiências ligadas à telegrafia
Para os fins do seu mandato, Witte começou a compreender eléctrica e, em 1846, usava com sucesso a borracha para isolar
a necessidade de um plano económico global do Estado. Com os fios eléctricos no caminho-de-ferro de Berlim-Anhalt. Em
energia incomparável, estendeu a sua influência a todas as acti 1847, com a assistência financeira de seu primo George Siemens,
vidades dos serviços, mas, na Rússia dos seus dias, nunca podia associou-se com o mecânico J. G. Halske para instalar uma
esperar obter controle decisivo sobre todos os aspectos da vida oficina de telegrafia.
Em 1848, Siemens servia no Ministério do Comércio da
económica. Além disso, chegou à conclusão de que o problema Prússia, acabado de criar , o qual estava ocupado na tarefa urgente 89
dos camponeses estava na raiz das dificuldades da Rússia de 1890.
de assentar um telégrafo eléctrico subterrâneo entre Berlim e
Francforte-sobre-o-Meno. Esta linha — a primeira grande linha
de telégrafo na Europa — ficou completa em 1849. A tarefa
seguinte de Siemens foi dirigir a construção de um telégrafo
subterrâneo de Berlim a Colónia, Aachen e Verviers, onde se
ligava à linha aérea para Bruxelas. As suas primeiras linhas
telegráficas, contudo, depressa deixaram de funcionar satis
fatoriamente. Convencido de que isso era devido à recusa dos
funcionários do Ministério do Comércio em seguir as suas direc
trizes, escreveu um panfleto onde exprimia a sua opinião sobre
o assunto. O resultado foi a rotura com a burocracia prussiana,
e, durante muitos anos, Siemens e Halske não receberam encomen
das da administração dos caminhos-de-ferro. Isto obrigou a
firma a tratar só com companhias particulares de caminhos-de-
-ferro, na Prússia e noutros lados. Em 1849, Siemens e Halske do Governo britânico a tarefa de preparar e ensaiar futuros cabos
tinham já fornecido ao Governo russo aparelhos para a linha submarinos. Em 1860 Werner e Guilherme Siemens descreviam
telegráfica de S. Petersburgo-Moscovo e, em 1851, a reputação os seus métodos num documento lido à Associ ação Britânica e
da companhia foi reconhecida pela atribuição de uma meda Guilherme Siemens estabelecia uma nova instalação perto de
lha do Conselho na Exposição Internacional de Londre s. Em Woolwic h para poder satisfazer as encome ndas de cabos. A
1852, Siemens fez duas visitas à Rússia e a sua firma recebeu princípio, o ramo dos cabos, na firma, deu prejuízo, e Halske
encomendas para ligar Riga a Bolderaja e S. Petersburgo a começou a queixar-se. Assim, Werner e Cari montaram uma
Kronstadt por telégrafo. No ano seguinte foi confiada a Siemens companhia independente em Inglaterra denominada Siemens
a construção dos telégrafos dos caminhos-de-ferro de Varsóvia Brothers.
à fronteira prussiana, o que realizou com a assistência do seu Por volta de 1860, as firmas Siemens de Berlim, Londres e
irmão Cari. Depois da Guerra da Crimeia, durante a qual a firma S. Petersburgo fundaram tuna nova companhia anglo-germânica
montara o telégrafo S. Petersburgo-Varsóvia, seguiu-se uma para construir a linha do telégrafo indo-europeu de Londres
enchente de encomendas. Cari Siemens foi colocado numa firma a Calcutá, que seguia por cima da terra através da Rússia
subsidiária em S. Petersburgo que recebeu muitas encomendas e da Pérsia, mas usava um cabo submarino no mar Negro. Na
do Governo russo. Em 1858, só a direcção e a conservação dos mesma altura, um sector da firma Siemens de S. Petersburgo
telégrafos russo s traziam-lhes 80 000 rublos por ano. construía várias linhas telegráficas para o Governo russo no
Enquanto, na década de 1850, a subsidiária russa de Siemens Cáucaso. Quando as linhas se completaram, um quarto irmão
& Halske e stava a cobrir os domí nios do czar com uma rede Siemens, Walter, com ajuda financeira de Werner e Guilherme,
de telégrafos, a firma de Berlim fornecia Newall & C°. com o abriu uma mina de cobre no Cáucaso. Entretanto, a companhia
equipamento eléctrico para o cabo Cagliari-Bône (Sardenha- londrina aumentava a sua reputação com o sucesso do cabo Malta-
-Argélia)
da firma, e dirigido
para o cabo
por Suez-Carachi. Em 1859,
Guilherme, irmão o ramo londrino
de Werner, recebeu ~Alexandria. Os um
dispunha já de seusbarco
negócios
de col cresceram
ocação de tanto que em 1874
cabos, Faraday.
o 91
Apesar dos seus numerosos interesses comerciais, Wemer
Siemens continuou o seu trabalho de investigação e criou nume
rosos utensílios eléctricos entre 1850 e 1860. O dínamo, a sua maior
reali zação — inve ntad o em 1866, quando e le ti nha 60 an os— ,
foi descrito numa comunicação para a Academia de Ciências
de Berlim em 17 de Janeiro de 1867. Um mês mais tarde, o seu
irmão Guilherme apresentou um dínamo à Royal Society de
Inglaterra, e um dos primeiros grandes dínamos a ser construído
por Siemens e Halske f oi exibi do na Exposição de Paris de 1867.
Nos seus últimos anos, Siemens interessou-se muito pela,apli
cação da energia eléctrica para novos fins: locomotivas e carros
eléctricos, elevadores e iluminação das ruas. Em 1880, o seu pri
meiro elevador eléctrico esteve em uso na exposição industrial
de Mannheim. Em 1881, o primeiro carro eléctrico corria- em
Berlim e, no ano seguinte, a Potsdamer Platz, de Berlim, era
iluminada com lâmpadas de arco. Em Berlim, no mesmo ano,
Siemens e Halske montaram uma instalação para fabricar lâm 75. O carro el éctrico de Siemens n a Exposição Eléctrica de Paris de 1881.
padas de filamento.
O auge da carreira de Werner Siemens como empresário acabada de fundar por Emil Rathenau, a companhia alemã
foi em 1883 quando a firma concluiu um acordo com a sua rival Edison: alguns anos mais tarde as duas firmas estabeleceram
o grande cartel eléctrico germânico chamado Allgemeine
74. O Faraday de Siemens, construído para assentar cabos submarinos.
Elektrizitãts-Gesellschaft (A. E. G.). Siemens retirou-se dos
negócios em 1890 e morreu dois anos depois. A publicação da
maioria dos seus numerosos escritos técnicos em 1889-1891
demonstrou que a sua contribuição para a ciência e para a tecno
logia e a sua carreira como capitão-de-indústria foram igual
mente notáveis.
larida de — Széchenyi foi uma figura dominante na política magiar a melhorar a sorte dos seus servos, distribuindo terras para uso
e um poderoso advogado da reforma constitucional. pessoal deles e aconselhando-os sobre os mais eficientes métodos
Depois de herdar uma parte das propriedades do pai, voltou de agricultura.
a sua atenção para o melhoramento delas. Importou garanhões Enquanto se ocupava em beneficiar as suas propriedades,
e éguas puro-sangue de Inglaterra, e foi largamente responsável Széchenyi promovia também activamente a constituição de
pela fundação de uma sociedade de corridas de cavalos que se empresas industriais. Tomou-se membro da Dieta em 1826,
transformou dez anos mais tarde na Sociedade Agrícola Nacional e seis anos mais tarde juntou-se a uma comissão que se tinha
Húngara. Importou gado da Holanda e porcos da Sibéria. Pro criado para fundar um banco comercial. Ele era a força
duziu melhor lã nas suas quintas melhorando a qualidade dirigente por trás do esquema e, após longa demora, teve a
dos seus rebanhos de carneiros e foi um dos primeiros senhores satisfação de ver a constituição do Banco Comercial Húngaro
de terras da Hungria a plantar amoreiras para criar bichos-da-seda. de Peste (1841). Advogando fortemente a construção de uma
Usou utensílios modernos nas suas propriedades, drenou campos moderna ponte suspensa sobre o Danúbio, para ligar Buda com
pantanosos e modificou o sistema de rotação de colheitas, semeando Peste e substituir a velha ponte de barcos, persuadiu um banqueiro
mais
tradorbatatas
Janos eLunkanyi
vegetais. em
As 1828
instruções queque
mostram davaestava
ao seu adminis
resolvido vienense a financiar o projecto, e a ponte, desenhada por uma
firma inglesa, ficou pronta em 1849. Széchenyi foi também
designado pelo Governo para alto comissário responsável por -servo, chamado E. Grachev, dirigia uma fábrica de linho e outra
um esquema regulador da navegação sobre o Danúbio na Porta de algodões estampados nas propriedades da família Sheremetev.
de Ferro. Esteve no quadro dos dirigentes da Primeira Compa Comandava mais de 500 teares de linho, mas quatro quintos dos
nhia Imperial Privilegiada de Navegação do Danúbio (1829), seus tecelões trabalhavam nas suas próprias casas. As suas fábricas
que tinha um serviço de barcos entre Viena e Belgrado e contro de algodão estampado empregavam cerca de 120 homens. Instalou
lava uma companhia subsidiária estabelecida para dirigir um máquinas de fiação, calandras e prensas de estampar. Em 1800,
estaleiro em Altofen, subúrbio de Budapeste. Outro dos seus esta firma tinha-se tomado uma das mais importantes de Ivanovo.
empreendimentos foi a regularização do rio Tizsa, para o que foram Possuía quatro fábricas, com bons edifícios, e sete dormitórios que
expropriadas 150 milhas de terras baixas. Széchenyi foi ainda serviam de casa de habitação para os operários. Grachev, que
membro de um grupo que apadrinhou a formação de uma comprara a sua liberdade por 130 000 rublos em 179 5, tornou-
companhia para construir um caminho-de-ferro na margem -se um homem rico, chegando a investir em propriedades rurais.
direita do Danúbio desde Budapeste a Viena. Em 1797, Asva Morosov, um servo da propriedade de N.
Széchenyi criticava os que consideravam as fábricas e as G. Ryumiri, ergueu uma pequena oficina de fitas de seda ná
máquinas a vapor «instituições infernais». Acreditava que a aldeia de Zuevo (distrito de Bogorodski) e logo a seguir, uma
Hungria devia seguir o exemplo de países mais avançados desen segunda fábrica. Ele dirigia os teares, enquanto a mulher era
volvendo a produção das suas próprias manufacturas. Contribuiu responsável pelo tinto da seda. Em 1811, a empresa de Morosov
para melhorar a Companhia da Fábrica de Farinhas a Vapor de era ainda pequena, pois tinha só dez teares. Durante algum tempo,
Peste, que começou a laborar em 1842. O sistema d e cilindros de aço a invasão da Rússia por Napoleão e o incêndio de Moscovo
para moer trigo — inventado pelo engenheiro suíço Sullzberger — impediram a expansão das indústrias têxteis nessa zona do país,
foi usado, e trouxeram-se da Suíça vários peritos para trabalhar mas em 1820 Morosov estava a trabalhar com o dobro dos teares.
com as máquinas. Uma firma subsidiária, estabelecida para o Então, expandiu as suas actividades à fiação e tecelagem de
serviço de manutenção das máquinas, tornava-se independente algodão, mandando fazer a fiação fora, aos camponeses que
em 1847 , sob a designação de Ganz & C°. Com o propri etário viviam nas aldeias vizinhas. Em 1825, Morosov mudou-se para
de terras e empresário — e também como escr itor e estadista — Moscovo, onde se aproveitou do aumento de consumo de artigos
Széchenyi representou um papel muito importante no avanço de algodão que então se verificava, ao mesmo tempo que se tornava
económico e político da Hungria entre o fim das guerras napoleó- possível adquirir, por preço acessível, grandes quantidades de fio
nicas e a Revolução de 1848. do Lancas hire — apesar da alta tarifa de 1822. As fábricas de
Morosov produziam tanto tecido de algodão puro como misto
EMPRESÁRIOS-SERVOS RUSSOS de algodão e lã. Os seus dois filhos instalaram fábricas suas
que eram, no entanto, vigiadas de perto pelo pai. Nos princípios
Em S. Petersburgo, nos princípi os do sécul o XI X , havia um da década de 1850, um inventário das várias empresas de Morosov
certo número de servos que faziam um pagamento anual em moeda mostrava que a fábrica tinha 74 teares mecânicos, 456 teares
(em vez de prestação de serviços) ao proprietário da casa senho manuais e um volume anual avaliado em perto de 2 milhões
rial das suas aldeias natais. de rublos. Pel os fins do século X IX , a firma tinha-se transfor
Alguns servos russos conseguiram fundar empresas indus- mado numa das maiores de Moscovo, empregando 22 000 ope
120 triai s. Em Ivanovo, nos fins do sécul o X V III , um empresár io- rários e produzindo artigos no valor de 32 milhões de rublos.
IV OS OPE RÁ RIOS de trazer consigo cartões de identidade que permitiam aos patrões
e à polícia impedir-lhes os movimentos e mudanças de emprego.
Os trabalhadores achavam, pois, difícil adaptar-se à disciplina
imposta pela fábrica. No passado, os artífices e os camponeses
98. Brasão usado pela Associação de trabalhavam muitas horas, mas podiam descansar de vez em
tecelões de lã de Dewsbury. quando. A máquina cruel, contudo, precisava de atenção constante.
A pontualidade e a rigorosa atenção ao trabalho eram reforçadas
A Revolução Industrial teve consequências dramáticas por multas e pela ameaça de desemprego.
para todos os grupos de trabalhadores. Os operários nas fábricas, O novo sistema industrial arruinou a saúde de muitos tra
os mineiros nas minas de carvão, os artífices nas suas oficinas, balhadores. Quase todas as indústrias tinham as suas doenças
e os camponeses na terra, tinham de se ajustar a um modo de características e as - suas deformidades físicas. Os oleiros, os
vida inteiramente novo. Muitos entravam nas fábricas com pintores e os cortadores de arame sofriam de envenenamento
grande relutância. Para os artífices respeitáveis, as fábricas pare pelo chumbo; os mineiros, de tuberculose, de anemia, da vista,
ciam estar a atrair operários do mais baixo estofo e tais estabe e de deformações da espinha; os afiadores, de asma; os fiandeiros,
lecimentos começaram a ser considerados quase como prisões de perturbações brônquicas; os fabricantes de fósforos, de envene
ou asilos. Os males sociais das fábricas, das cidades fabris e das
mineiras, e as tragédias dos trabalhadores domésticos agora namento
francesas pelo fósforo.«Os
declarou: Jules Simon, escrevendo
visitantes não podem acerca das fábricas
respirar nesses
desempregados estavam entre os primeiros aspectos da nova tristes lugares.» Nos países continentais que tinham recrutamento
ordem que requeria a atenção dos reformadores. militar, verificava-se que os recrutas das regiões industriais
Muitos operários das primeiras fábricas ficavam em completa tinham muitos mais defeitos físicos do que os jovens dos distri
dependência dos seus novos patrões. No século XV II I, muitos tos rurais. A esperança de vida dos trabalhadores das fábricas
mineiros de carvão escoceses e operários das salinas eram servos, e dos mineiros era pequena. Tem-se dito que na indústria de
e do mesmo modo os operários de várias minas e fábricas do cutelaria de Sheffield, em 1865, a média da idade dos amoladores
Continente, em especial os dirigidos por magnates feudais na
Rússia, Silésia e Boémia. Mesmo depois dos servos terem sido 99. Servos russos no Don, princípios do século XI X . A escravatur a só viria a ser abolida
na Rússia em 1861.
emancipados, havia operários que gozavam de muito pouca
liberdade. Nos p rincípio s do século XI X , um mineiro de Durham
ou um oleiro de Staffordshire que tivesse assinado um contrato
por um ano e vivesse numa choupana da firma estava completa
mente à mercê do patrão. Havia outros modos dos patrões domi
narem os operários. Em certos distritos industriais era vulgar
homens receberem salários antecipados e assim caíam em débito
permanente. Os operários das fábricas e das minas não só estavam
sob o poder dos patrões como sob o poder público. Era-lhes proi
. /r,> ~ h
não menos pálidas, não menos sujas, cobertas de farrapos, besun
tadas do óleo dos teares que as esparrinhou durante o trabalho.»
As queixas mais sérias dos operários das fábricas e mings
das
referiam-se a excessivas horas de trabalho, salários baixos, multas,
e ao sistema de permuta segundo o qual os patrões pagavam
em géneros e não em dinheiro. Os homens, as mulheres e as
crianças trabalhavam doze horas ou mais por dia e estavam geral
mente exaustos quando regressavam a casa. Visto a certos patrões
interessar que as máquinas trabalhassem continuamente, intro
duziram-se turnos nocturnos em algumas indústrias. O número
de dias de trabalho no ano aumentava. Por vezes o domingo era
dia de trabalho também, apesar dos protestos das Igrejas. Nos
distritos onde os aprendizes costumavam ter as segundas-feiras
livres, os patrões faziam o possível por abolir esse hábito. E,
nos países católicos, os dias santos eram gradualmente reduzidos
nas fábricas. Além disso, após a Revolução Industrial, um ope
rário tinha às vezes de percorrer uma considerável distância
a pé para chegar à fábrica, enquanto sob o anterior sistema
doméstico trabalhava em casa.
Os salários, geralmente muito baixos, eram ainda reduzidos
de vários modos: os operários sofriam multas por atrasos ou
trabalho estragado; se os salários se pagavam não em dinheiro 104. O meio habitacional das classes trabalhadoras: desenho de G. Doré d e uma zona
miserável de Lon dres atravessada por viadutos de comboios (1870).
mas em vales trocáveis nas lojas do patrão, o operário tinha
muitas vezes de comprar artigos de mercearia estragados e imi As condições nos centros de trabalhadores das cidades indus
tações a preços altos. Para mais, se o negócio baixava, os patrões triais não eram melhores do que as condições nas fábricas. As
reduziam logo os salários a fim de diminuir os custos. Os salários casas, umas de encontro às outras, e os pátios esquálidos de
de muitos operários — mesmo de famílias inteiras — eram fr e Inglaterra, tal como os amontoados igualmente sórdidos dos
quentemente insuficientes para pagar a renda de casa ou alimentar andares no Continente, depressa se transformaram em bairros
e vestir a família. Não espantava, pois, que mulheres e crianças miseráveis. St. Giles, em Londres, Little Ireland, em Manchester,
fossem trabalhar e que, mesmo quando tinham emprego, os o Voigtland, em Berlim, os subúrbios de Saint-Georges, e Croix-
operários fabris precisassem de contar com a caridade como -Rousse, em Lião, eram todos quarteirões de trabalhadores onde
suplemento dos seus ganhos. Uma vez que não podiam conseguir estes não gozavam de nenhuma das amenidades das habitações
nada melhor, os operários viviam em casebres ou em andares civilizadas. A falta de água potável e de retretes, os esgotos
húmidos, superlotados, doentios — mesmo em trapeiras, caves impróprios e a ausência de nitreiras, tornaram as cidades indus
ee telheiros.
a taberna As suas roupas
o único refúgioeram
dos esfarrapadas,
desconfortos ado
comida
lar. imprópria, triais lugares extremamente insalubres. Os piores bairros pobres
abrigavam grupos minoritários — os irlandese s em Liverpool e 129
106 blocos de apartamentos revelou que 19 eram estruturalmente
Man cheste r, os polacos no Rur — que vinham de paíse s onde
inseguros, 15 eram insalubres e 6 absolutamente impróprios
o nível de vida era ainda mais baixo do que os deploráveis níveis
para habitação humana. Em Essen, 17 por cento das pessoas
das cidades industriais.
viviam em águas-furtadas e um inspector de construções local
Alguns operários possuíam alojamentos melhores do que
verificou que 2200 águas-furtadas não ofereciam segurança.
outros. Engels, escrevendo em 1844, descrevia a sordidez incrível
Consta que, numa quinta perto de Wattenscheid, em 1902, um
em que os irlandeses de Manchester viviam junto do rio Medlock
lavrador alugara um telheiro abandonado a 17 famílias, num
e na confluência do Irk e do Irwell, mas quando visitou Ashton-
-under-Lyne, só a algumas milhas de distância, viu que «as ruas total de 94 pessoas.
Disciplina rigorosa, horas excessivas de trabalho, salários
são mais largas e mais limpas, ao passo que as casinhas novas,
baixos e acomodações pobres, não esgotavam os males do novo
de tijolo vermelho, dão todo o aspecto de conforto». Más condições
sistema industrial. Havia pouca certeza de emprego, o que não
de alojamento não conheciam fonteiras nacionais. Mais de meio
representava nenhum novo problema, visto a vagabundagem
século depois de Engels ter descrito as condições de alojamento
— por vezes em larga escala — ter sido co mum em sociedades
em Inglaterra, Loienz Pieper, num livro sobre os mineiros do
rurais do passado. Com o advento da indústria moderna, muitos
Rur, dedicou
Contava que um
em capítulo
Hõrde, ema situação semelhante
1896, uma nessa
inspecção região.
oficial de operários acharam-se em emprego casual ou temporário: os
Mesmo os operários ocupados em ramos de fabrico livres
de trabalho ocasional não podiam esperar emprego regular por
que toda a economia industrial estava sujeita a grandes flutuações.
Patrões e operários habituaram-se a um ciclo de curtas depres
sões em cada dez anos, mais ou menos, até 1870, quando as
breves ciises foram substituídas por uma bastante prolongada.
Para o tiabalhador, uma baixa podia significar um período de
semiemprego ou de desemprego que se estendia por muitos
meses, durante os quais tinha de recorrer, para comida e roupas,
à generosidade pública ou à caridade particular. Em períodos
de extrema crise o Êstado podia promover a realização de certas
obras públicas, como no caso das Oficinas Nacionais de Paris
em 1848, a fim de aliviar o desemprego.
A Revolução Industrial teve lugar na Grã-Bretanha mais
cedo do que em qualquer outra parte, foi aí que o fenómeno
dos ciclos
outros comerciais
países se observou
se tomaram primeiramente.
industrializados, Masa quando
sofreram mesma
experiência desagradável e o desenvolvimento de uma economia
106. Vítimas da escass ez do algodã o, no Lancashire, trocam senhas por c omida num
armazém dirigido por uma associação de socorros mútuos (1861). de tipo internacional fez com que os efeitos das crises nos países
industriais se espalhassem para as regiões agrárias e tropicais,
trabalhadores dos portos e da construção eram muitas vezes interessadas na produção de alimentos e matérias-primas: a grande
contratados ao dia. Os construtores estavam mais ocupados crise de 1857 foi a primeira depressão a nível mundial.
no Verão do que no Inverno. As fábricas de ferro e as fábricas As altas e as baixas de valores ocorriam tão regularmente
têxteis, que dependiam da energia hidráulica, tinham de fechar que podiam ser previstas com certa exactidão. Era natural que
se não havia, água bastante para mover a roda que punha o maqui- os economistas pensassem que cada ciclo seguiria precisamente
nismo em movimento. O grito de Alfred Krupp: «Se ao menos o padrão dos anteriores, mas embora houvesse um ritmo de activi
eu tivesse água suficiente para fazer trabalhar o meu martelo dade industrial — a um a fase de pr osperidade seguia-se uma
só um dia!» era repetido por muitos patrões na primeira era depressão — , cada subida e cada baixa tinham as suas próprias
das máquinas. Um Inverno severo podia levar a produção indus características particulares. Nos princípios de 1850, a Europa
trial à paralisação, se as estradas ficavam intransitáveis. Por Ocidental experimentou uma subida que ficou a dever muito
vezes, contudo, os operários podiam voltar às suas aldeias quando a uma súbita afluência de oiro da Califórnia e da Austrália, en
o movimento diminuía nas cidades industriais. Os artífices rurais quanto a crise nas indústrias de algodão, dez anos depois, foi
dividiam frequentemente o seu tempo entre a indústria e a agri devida a acontecimentos no outro lado do Atlântico, nomeada
cultura. Um estudo de uma região rural francesa (Sobre le Château) mente à guerra civil nos Estados Unidos Ora, nem as descobertas
132 em
nos 1848 mencionava:
campos durante o«os cardadores
Verão de lãàsgostam
e regressar de no
fábricas trabalhar
Outono». de oiro universal
nem a guerra civil se adaptavam muito bem aKarl
qualquer
padrão de subidas e baixas industriais. Marx
A indústria do algodão era uma das maiores e mais florescentes
do pais mas a sua prosperidade estava ameaçada por descidas
periódicas devido à competição que aumentava no estrangeiro
e à dependência de uma fonte irregular de fornecimento — as
plantaçõ es de algodão dos Estados Unidos — em mais de três
quartas partes da sua matéria-prima. A erupção da guerra civil,
em 1861 foi seguida por um bloqueio dos portos do Sul dos
Estados Unidos. Os estados da Confederação estavam isolados
do mundo exterior e o Lancashire não podia assegurar-se dos
seus fornec imentos norm ais de algodão. O resulta do foi que os
fabricantes tiveram de reduzir as horas de trabalho ou mesmo
de fechar as fábricas. Calculou-se em mais de 60 milhões de
libras a perda líquida da indústria durante a fome do algodão.
Para os operários, a fome do algodão foi um período de
desemprego e aflição. Em Novembro de 1862 as autoridades
134 de tecidosavaliadas
estavam do Mundoem 46e as exportações
milhões anuais da indústria
de libras.
encarregadas dos pobres estavam a socorrer mais de um quarto
de milhão de pessoas nos distritos algodoeiros. Em 1863foi
emitido um decreto para permitir às autoridades locaiscontrair
empréstimos a fim de remediar o desemprego dando início à cons-
tução de obras públicas. Noventa autoridades locais pediram
emprestado cerca de um milhão de libras aos comissários do
Crédito para Obras Públicas. Mas não conseguiram ocupar majs
de 4000 operários, o que representava uma pequena fracção do
total de desempregados. Comissões de socorro foram instituídas
nos distritos algodoeiros e o seu trabalho era coordenado por
uma Comissão Central de Socorros, em Manchester. Estabele
ceram-se dois fundos nacionais, um dos quais apadrinhado pelo
Lord Mayor de Londres. Ao todo, mais de um milhão de libras
foi levantado para minorar as dificuldades no Lancashire, nessa
ocasião.
PATRÕES ESCLARECIDOS
primária — tudo pago com a ajuda de uma comparticipação
do Governo. Ao fim de alguns anos estavam edificadas em França,
na Alemanha e na Suíça «cidades de trabalhadores» semelhantes.
Poucos patrões estavam bem conscientes dos problemas
sociais da industrialização e procuravam tratar os seus operários
ACÇÃO DO ESTADO
de um m odo humano e civiliz ado. Os donos de fábricas conscientes
reduziam as horas excessivas, pagavam salários um pouco acima
Mas por cada patrão consciente, como Robert Owen ou Titus
da média, e davam aos seus operários cantinas, salas de leitura,
Salt, havia cem que preferiam ignorar as condições de vida dos
casas decentes e serviços de saúde. Robert Owen, por exemplo,
transformou as fábricas de algodão de New Lanark num modelo, seus operários. Estes patrões tinham de ser compelidos pelo
Estado a melhorar essas condições. Os protestos dos próprios
nos primeiros anos do século XI X . Introduziu o horário de dez
operários e o simpático apoio de reformadores humanitários,
horas de trabalho, não empregava crianças muito novas e con
cedeu várias regalias aos operários e suas famílias. como Lord Shaftesbury, trouxeram consigo reformas legislativas
para aliviar os piores males sociais da Revolução Industrial.
Em 1851, o fabricante de lãs Titus Salt começou a erigir a
Em Inglaterra foram feitas tentativas, em 1802 e 1819, para limitar
cidade modelo de Saltaire, perto de Bradford, para os seus 3000
as excessivas horas de trabalho das c rianças nas fábricas de algodão .
operários, com casas bem construídas, serviços sanitários capazes,
O Truck A ct de 1831 estipulou o pagamento de todos os salários
um parque, hospital, escola, igrejas, e banhos públicos. Ao mesmo
em dinheiro. O Alt horp’s Act de 1833, aplicável às fábricas têxteis
tempo, alguns patrões progressivos de Mulhouse, na Alsácia,
auxiliaram uma sociedade a construir casas que os operários (excluindo sedas e rendas), proibiu o emprego de crianças com
podiam comprar pagando em vários anos. Essa «cidade dos tra menos de noveanos,
e os dezoito anos,, limitou as
e proibiu horas dos
trabalho de idade
de noite paraentre os nove
crianças e 137
136 balhadores» tinha banhos públicos, uma cozinha comunal e escola
gente nova, e foram nomeados fiscais para vigiar o cumpri
mento da lei. O registo obrigatório de nascimentos depois de
1837 permitia aos fiscais verificar as idades das crianças
nas fábricas. A Lei das Minas de Carvão, de 1842, proibiu o
emprego de mulheres e crianças em trabalhos subterrâneos.
Em 1847 a Lei das Dez Horas limitou o trabalho semanal das
mulheres e de gente nova a 58 horas, com um máximo de dez
horas diárias. Efectivamente, esta lei veio também limitar as horas
de trabalho dos homens. As novas leis fabris de 1864 e 1867
abrangeram muitos ramos da indústria, como o da cerâmica,
onde os operários não tinham até então gozado de nenhuma
protecção.
Em França, uma lei de 1841 fixou em oito anos a idade
mínima para as crianças empregadas em fábricas e limitou as
suas horas de trabalho. Em 1851 uma lei relativa a aprendizagem
trouxe alguma protecção a certos jovens que não tinham sido das fábricas tinham de travar dolorosas batalhas para fazer
incluídos nas primeiras leis. Mas não foi senão em 1874 que aplicar os novos regulamentos.
surgiram legislações mais radicais e mais efectivas. A idade As condições das classes trabalhadoras melhoraram também
mínima das crianças das fábricas foi elevada para doze anos e por outros modos, além da legislação fabril. Quando se compre
as mulheres receberam também protecção contra a exploração endeu que o s ricos podiam mo rrer de cólera ou de tifo tão fàcil-
patronal. Na Prússia, um decreto de 1839 proibia o emprego de mente como os pobres, começaram a tomar-se medidas para
crianças, com idade inferior aos nove anos, em minas e fábricas, limpar as cidades industriais. A epidemia de cólera de 1831-
e limitava a dez horas o trabalho dos jovens com menos de dezas -1832 afectou lugares tão distantes entre si como Riga, Hamburgo,
seis anos. Além disso, os jovens não podiam trabalhar de noite, Sunderland, Londres e Paris. As epidemias que se lhes seguiram,
nem aos domingos nem em feriados públicos. Na Rússia, foi em 1 848-184 9 e 1854, mataram mais de 70 000 pessoas só e m
lançado um edicto, em 1882, a proibir o emprego de crianças Inglaterra e no País de Gales. Embora a Comissão Inglesa da
com menos de doze anos e a limitar o trabalho dos jovens (de Saúde Pública de 1848 fosse deficiente, as autoridades munici
idade entre doze e quinze anos) a oito horas. Tornar efectivas as pais melhoraram gradualmente o meio urbano dos operários das
primeiras legislações fabris era uma operação vagarosa em todos os fábricas. Liverpool foi a primeira cidade inglesa a nomear uma
países industriais. As leis referiam-se frequentemente a mulheres, Delegação de Saúde (1847). As habitações e os serviços sanitários
crianças e jovens, de modo que o operário adulto ainda sofria de Birmingham melhoraram muito durante a presidência de
de falta de protecção legal. Os primeiros regulamentos cingiam-se Jose ph Cham berla in, entre 1873 e 1875 . Em Lon dre s foi o
por vezes a categorias limitadas de estabelecimentos industriais, Departamento Metropolitano das Fábricas (1855) e as empresas
como fábricas têxteis, em Inglaterra, e fábricas que empregavam das águas que se juntaram para formar o Departamento das
mais de vinte pessoas, em França. A oposição determinada dos Aguas (1902), que melhorou as condições de vida. Foi obtido um
patrões mais reaccionários atrasou muitas vezes a lei e os fiscais bom fornecimento de água, remover am-se muitas fossas, os 139
113. O Departamento do Algodão, em Nova Orleães (1873), por Degas. Os industriais do
algodão dependiam da matériaprima dos Estados Unidos.
AS COOPERATIVAS
146 mente
lojinhaatribuída
em Toa da 28 tecelões
Lane, de Rochdaledeque
em Dezembro abriram
1844, a sua a
registando-
grandes associações de socorros mútuos, com muitos ramos locais. como associação de socorros mútuos. Mas antes disso havia já
Os Oddefellows tinham a sua sede em Manchester, osRechabites sociedades cooperativas. A fama dos «Pioneiros de Rochdale»
em Salford, e os Ancient Shepherds em Ashton. Em 1850, os deve-se principalmente ao facto de eles terem feito funcionar
Oddfellows contavam 400 000 membro s, muitos deles o perários com êxito o sistema de «dividendos». Os lucros do exercício
de fábricas. Em França havia também muitas associações de eram distribuídos pelos membros da sociedade proporcionalmente
socorros mútuos, sustentadas tanto por artífices como por ope às suas compras, e assim os clientes obtinham os proveitos que,
rários fabris, e em 1845 o país possuía 1900 associações desse de outro modo, teriam sido embolsados pelos donos das lojas
tipo. As associações de socorros mútuos alemãs desenvolveram-se particulares.
bastante mais tarde e mais devagar. Excluindo os grémios de O movimento cooperativo espalhou-se pelas regiões indus
mineiros há muito estabelecidos, parece que só 54 associações triais da Inglaterra e da Escócia, e a sua popularidade deveu-se
de socorros mútuos foram fundadas na Alemanha entre 1801 sobretudo ao pagamento de «dividendos» bem como ao método
e 1840. À medida que as indústrias se expandiam, era frequente democrático de um voto para cada membro, quaisquer que fossem
os donos das fábricas criarem associações de socorros mútuos as suas acções, e à alta qualidade dos produtos vendidos. A esta
para os seus empregados, mas os operários exerciam pouco ou
nenhum controle na sua direcção. Em 1880 estavam inscritos 116. Uma reunião da Sociedade Cooperativa de Manches ter e Salford, 1865.
rurais e abasteciam
e lojistas pequenos proprietários,
de aldeia. Raiffeisen, o burgomestretrabalhadores
de Neuwied, rurais
perto servir
regime para mostrar podia
cooperativo como ser
o princípio
aplicado àdeagricultura.
compra e O venda em
período
de Coblenz, organizou uma sociedade cooperativa em 1848 que de reconstrução na Dinamarca, depois da perda de Schleswig-
permitia aos membros comprar batatas e pão. A seguir, fundou um -Holstein em 1864, assistiu a uma renovação da vida nacional
banco de crédito cooperativo em Flammersfeld, no Westerwald. A que achou expressão em muitas formas, e as sociedades coope
maioria do capital era fornecido por lavradores ricos e filantropos. rativas nasceram durante esse período de reconstrução. A coope
Mais tarde, Raiffeisen fundou bancos cooperativos cuja direcção ração adaptou-se ideologicamente aos Dinamarqueses, povo de
era confiada aos próprios membros, geralmente pequenos criadores de gado bovino e porcino e de pequenos proprietários
proprietários. que dependiam da exportação para viver. A primeira cooperativa
Havia diferenças entre a organização dos bancos Raiffeisen de consumo foi fundada em 1866, seguindo-se o estabelecimento
e dos Schuze -Delitzsch. Schuze-Delitzsch insistia em que os de cooperativas de produtores — fábricas de lacticínios, salsi charias
membros do seu banco deviam subscrever um número de cotas e centros de recolha de ovos. Em 1906 os produtores dinamarqueses
adequado, enquanto Raiffeisen não considerava de grande impor de lacticínios estavam organizados em mais de mil sociedades
tância a subscrição de capital. Os membros dos seus bancos cooperativas (157 000 membros) que dirigiam a venda de quatro
eram, em geral, pequenos proprietários, e as suas propriedades quintos da manteiga do país. A exportação de manteiga era diri
— gida por nove agências cooperativas, e parte do leite de Copenhague
a casa da quinta, a terra e o gado — forneciam toda a segu
rança necessária. Os bancos Raiffeisen eram mais pequenos era fornecido por uma sociedade cooperativa. Dois terços da
do que os de Schulze-Delitzsch. Raiffeisen acreditava que cada produção de presunto da Dinamarca curavam-se em 33 instala
banco cooperativo devia servir uma única freguesia, e, como o ções cooperativas. A recolha e venda de ovos era dirigida, em
banco, assim, era bem pequeno, podia geralmente ser dirigido parte, por 500 sociedades especializadas nesse trabalho, e o res
150 por volunt ários. Escritórios e funcionár ios assalar iados — que tante pelas sociedades do presunto e da manteiga.
Na Alemanha foram fundadas várias cooperativas agrícolas -lhes a preferência nos contratos do Governo. As sociedades coope
segundo o modelo de uma sociedade estabelecida por Haas na rativas de construção, por exemplo, receberam valiosos contratos
Prússia Oriental em 1871. Originalmente, a admissão como mem para a Exposição de Paris de 1900. Havia semelhanças entre as
bro tinha sido limitada aos donos de grandes propriedades e aos cooperativas dos produtores em França e os antigosartels da
lavradores importantes, mas, em 1885, algumas cooperativas Rússia. Nas aldeias russas era comum os artífices camponeses
agrícolas de pequenos proprietários começaram a comprar os cooperarem na compra de matérias-primas e na venda de artigos
alimentos e os fertilizantes através da sociedade Insterburg. As prontos. Por vezes, associavam-se com oficinas, forjas e fundições.
sociedades Haas chegaram a criar uma federação nacional Na indústria de construção, vários produtores, como carpinteiros,
para tratar em termos mais equitativos com as associações que marceneiros, pedreiros etc., formavamartels cooperativos para
controlavam o fornecimento de fertilizantes químicos. Foram a construção de um edifício. Nas cidades russas, os carregadores,
fundadas várias cooperativas agrícolas especializadas, como as cocheiros e vendedores de jornais estavam m uitas vezes organi
que compravam maquinismos para quintas ou vendiam lacti zados em artels.
cínios, vinho e cereais. Na França, os sindicatos agrícolas desen- Nenhuma das associações de operários, de artífices ou campo
volveram-se na década de 1880. As suas actividades pretendiam neses — institut os educacionais, caixas económicas, associa ções
ser muito mais amplas do que as das cooperativas agrícolas de socorros mútuos, cooperativas — ameaçaram a estabili dade
noutros
da compra lados,
dos eutensílios
assumiamnecessários
frequentemente a responsabilidade
aos pequenos proprietários da novade sociedade
bancos operários que
não emergiu da asRevolução
estorvaram Industrial.
actividades Os
dos grandes
e da venda dos seus produtos. bancos comerciais. As lojas das cooperativas de consumo não
As cooperativas industriais limitavam-se à Grã-Bretanha, detivera m a expansão dos múltiplos armazéns. E os sonhos de
à França e à Itália e, em geral, foram menos bem sucedidas do Louis Blanc e Ferdinand Lassalle, de as oficinas cooperativas
que as sociedades agrícolas. virem um dia a ameaçar as empresas industriais capitalistas, não
Em França, em 1840, o socialista Louis Blanc advogou o passaram de sonhos.
estabelecimento de cooperativas de produtores. Defendia que
os artífices se podiam libertar da escravidão do capitalismo asso O DESENVOLVIMENTO DO SINDICALISMO OPERÁRIO
ciando-se e estabelecendo as suas próprias oficinas. Após a Revo
lução de 1848, por ocasião da Segunda República, algumas oficinas Os sindicatos operários eram associações operárias de uma
cooperativas foram criadas com apoio do Governo, que contri espécie diferente das associações de socorros mútuos ou socie
buiu com três milhões de francos, mas poucas tiveram sucesso. Só dades cooperativas. No tempo em que os produtos se fabricavam
a sociedade formada por um pequeno grupo de organizadores de em pequenas oficinas, existia certa relação pessoal entre o patrão
espectáculos em Paris sobreviveu até a o fim do século XI X . e o artífice, a qual não pôde sobreviver à aparição das grandes
Na Terceira República foi feita uma nova tentativa para estabelecer fábricas. Quando tomou conta da fundição de seu pai, Alfred
cooperativas de produtores. Em 1906, existiam 338 dessas socie Krupp empregava 7 homens mas, ao fim da sua carreira, a mão-
dades, um terço delas perto de Paris ou em Paris, e em Lião. -de-obra que empregava subira a dezenas de milhares de ope
O grupo maior (112 sociedades) ocupava-se em vários ramos do rários. Um operário fabril ou um mineiro isolado não estava
negócio da construção. O Estado ajudava, com subsídios, as mais em posição de discutir comdeo negocia
patrão ção
acerca
dosdeoperários
salários ou
cooperativas de produtores (93 000 francos em 1905) e assegurava- de horas de trabalho. O poder seria 153
Esses homens — os «Mártires de Tolpuddle» — foram acusados
de se terem prestado a compromissos ilegais e sentenciados a
sete anos de degredo.
As associações de artífices tinham florescido em Inglaterra
no século XVIII. Lutavam pela defesa dos preços tradicionais
do trabalho e pela continuação das restrições habituais sobre
o número de aprendizes a ser admitido. Por vezes forneciam
alimentos e alojamento a membros que andavam de cidade em
cidade em busca de trabalho e também ajudavam os sócios em
períodos de desemprego ou doença. Mesmo durante o período
da legislação repressiva de 1799-1824 essas uniões pouco tinham
a recear da lei. Mas as tentativas para formar sindicatos entre
os novos operários fabris, como o dos fiandeiros de algodão,
117. A Reu niã o G er al (c. 1830), uma caricatura do antisindicalismo operário, ridicularizando alarmaram tanto os patrões como o Govemo. Os esforços de
a competência das assembleias de trabalhadores para organizarem os seus próprios negócios. Francis Place e Joseph Hume conseguiram, em 1824, a anu
fortalecido se todos os homens de uma fábrica ou de uma região lação das leis proibitivas,
de inquietação mas um
industrial que isto novo
foi seguido
decreto por
foi uma tal onda
publicado
combinassem apresentar ao patrão uma frente unida. T inham em 1825, o qual, permitindo embora a existência de sindicatos
existido associações de operários durante o sistema doméstico,
mas assumiram maior importância quando os operários se reu 118. «Reunião dos Sindicatos em New-Hall Húh, Birmingham, 1832.
niram em grandes fábricas, visto ser mais fácil a união entre os
homens que trabalhavam juntos do que entre os espalhados
por várias aldeias. Pela ameaça de greves, um sindicato podia
assegurar melhores salários e melhorar as condições de trabalho,
o que nenhum operário conseguiria individualmente.
Os patrões, fortemente opostos aos sindicatos, eram suficien
temente fortes para os banir. Na Grã-Bretanha, os sindicatos
foram proibidos pelos decretos de 1799 e 1800, na França pela
lei de Le Chapelier (1791) e pelos artigos dos Códigos Penais
e Civis de Napoleão, e na Rússia pelo Código Penal de 1845.
Quando mais tarde tais leis foram modificadas ou anuladas, as
actividades dos sindicatos ainda podiam violar certas leis. Em
Inglaterra podiam ser perseguidos sob as leis relativas a patrões e
empregados ou, de acordo com a lei comum, por conspiração.
Seis
cato trabalhadores
rurais de
porDorset
quedose motim
ligaramnava
a um sindi-
154 foram processados ocasião l de 1797.
119. «O calcanhar de Aquil es» dos primeiros sindicatos foi a su a falta de coordenação explorar essa fraqueza. Os grevistas, entretanto, enveredavam pelos caminhos da violência.
nacional, e os patrões britânicos, desafiados com as greves em 1830, aprontaramse para Em cima: Bristol durante os motins de 1831.
operários, proibia a intimidação dos furadores de greve e tornava puseram reduzir os salários na renovação dos contratos anuais
muito difícil aos sindicatos conservarem-se dentro da lei quando dos mineiros. Após sete semanas, os patrões cederam e conce
organizavam uma greve. Começavam então a fazer-se tentativas deram aumento de salário e uma redução no número de horas
para a criação de sindicatos numa base mais ampla do que a pura de trabalho. Mas quando os mineiros, animados por esse sucesso,
mente local. John Doherty criou a União Nacional dos Fian fizeram uma segunda greve, um ano depois, os patrões esta
deiros de Algodão (1829) e a Associação Nacional de Protecção vam prontos para a luta e substituíram os grevistas por homens
ao Trabalho (1830), a última das quais declarava possuir 100 000 de outras áreas mineiras. Os grevistas recorreram à violência,
associad os entre os operários têxteis do Norte e Leste dos Midlands, e cerca de 50 foram punidos nos tribunais locais. Em Setembro,
mas ambas fracassaram após alguns anos. os grevistas tiveram de admitir a derrota e o sindicato falhou.
Enquanto os operários do algodão do Lancashire estavam O falhanço dos fiandeiros de algodão e dos mineiros de carvão
a ser organizados por Doherty, os mineiros de carvão de Durham foi seguido pelo falhanço do Grande Sindicato Nacional, que
e Northumberland formavam uma união que convocou uma pretendia a organização de uma greve geral de todos os assala
156 greve em Abril de 1831 , quando os senhores do carvão se pro- riados e, através dela, conquistar o domínio do sistema económico. 157
O movimento falhou ràpidamente, em parte por causa das O falhanço dos motins doPlug Plot no Lancashire e da greve
disputas internas, em parte por os patrões enfrentarem o dos mineiros de Durh am e Northumbe rland — seguido pe lo
desafio à sua autoridade processando tuna quantidade de sindi colapso final do Cartismo em 1848 — marcou o fim da primeira
calistas. fase histórica do unionismo operário inglês. Nos meados do
Durante algum tempo, os operários ingleses abandonaram século X IX , o centro de gravidade do movimento sin dicali sta
as tentativas de melhorar as suas condições por acção directa, operário deslocou-se do Norte para Londres, e a direcção, de
voltando-se, em vez disso, para a acção política. Esperavam que futuro, ficou nas mãos de trabalhadores altamente qualificados
a aprovação da lei de reforma parlamentar de 1832 levasse à e relativamente bem pagos. A Amalgamated Society of Engi-
eleição de uma Câmara de Comuns que estaria disposta a escutar neers (185 1) foi típica do union ismo do « novo modelo» de 1850 -
os seus agravos. Apoiavam todos os movimentos a favor de uma 1870. Essas uniões, dirigidas por homens como William Newton,
«Carta do Povo», do dia de dez horas de trabalho e da modificação William Allan, Daniel Gui le, Edw ard Coulson e Geor ge Odger ,
da nova Lei dos Pobres. Quando a Câmara dos Comuns rejeitou foram organizadas muna base nacional, impunham subscrições
a «Carta» pela segunda vez, em 1842, era manifesto que pouco muito altas, designavam funcionários permanentes, concediam
tinham conseguido com o apelo ao Parlamento, e verificou-se subsídios no desemprego e na doença, e tentavam resolver as
uma renovação da actividade directa dos sindicatos, tanto entre disputas industriais mais por meio de negociações que por
os fiandeiros do Lancashire
e Northumberland. Em 1842como entre os mineiros
as perturbações de Durham
do trabalho no meio de greves.
trabalhavam Os seus
juntos, secretários,
e essa «junta» que tinham
exerceu umasede em Londres,
influência consi
Lancashire deram srcem aos motins do Plug Plot. Os mineiros derável na modelação da política dastt ades unions. Foi importante
do carvão fundaram uma nova união em Wakefield, em 1841, o seu papel para a criação, em 1868, do Congresso dasTrades
e, quando realizaram a sua primeira Convenção Nacional, em Unions. Pela mesma época foi estabelecido com êxito o maqui-
Manchester, em Janeiro de 1844, afirmaram agregar mais de nismo para solucionar, por conciliação ou arbitragem, as dis
60 000 operários. Os mineiros de Dur ham e Northum berland putas industriais, por A. J. Mundella na indústria de meias de
— o grupo maior e mais militante do sindicato — contrataram o Nottingham e pelo juiz R. A. Kettle na indústria de construção
hábil advogado W. P. Roberts para seu conselheiro legal. Em de Wolverhampton. O significado das novasamal gamated societie s
Abril de 1844, quando os seus contratos anuais terminaram, os e da «junta» não devia contudo ser exagerado. Elas representavam
mineiros do Norte recusaram-se a renová-los segundo os velhos uma minoria dentro do movimento trade-unionista e em muitas
termos. Roberts propôs um novo contrato para assegurar o dia indústrias o controle dos sindicatos conservou-se totalmente
de dez horas, garantir trabalho quatro dias por semana, abolir as nas mãos de organizações locais que eram frequentemente muito
multas, e reduzir o prazo do contrato para seis meses em vez vigorosas na sua defesa dos interesses dos operários. A guerra
dos doze habituais. Os patrões, contudo, dominaram a greve dos sindicatos na década de 1850 levou às greves dos engenheiros
importando outros mineiros para os jazigos de Newcastle e expul (1852), dos operários de algodão de Preston (1853) e dos operários
sando os grevistas das casas que ocupavam e pertenciam às de construção de Londres (1859-1860).
minas. Após 19 semanas, os homens voltaram ao trabalho, acei Em 1865-1866, os Ingleses tiveram de se recordar de que o
tando pràticamente as condições dos patrões. Mas tinham conse lado negro do movimento sindicalista ainda existia. A burguesia
guido alguma coisa. O contrato anual desaparecera e os mineiros surpreendeu-se ao ler nos jornais os ultrajes cometidos contra não
eram agora contratados mensalmente. unionistas e patrões por certos operários da indústria de cutelaria
da Grã-Bretanha eram provàvelmente cerca de um décimo da
população trabalhadora masculina, mas o período de 1871 a
1914 assistiu a uma grande expansão de trade-unionismo. Embora
a união dos trabalhadores agrícolas de Joseph Arch, de 1872,
fosse desfeita pelos proprietários e lavradores, a união de Ben
Tillett, de estivadores de Londres, conseguiu assegurar o salário
mínimo de 6 dinheiros por hora a partir de uma greve em 1889,
enquanto os esforços de Annie Besant para organizar as operá
rias fosforeiras de Londres tinham também alcançado um certo
êxito em 1888. Estas novas uniões da década de 1880 eram
geralmente associáçõés* de operários mal pagos, sem qualificações
ou semiqualificados. Os seus membros podiam contribuir apenas
com baixas subscrições e gozavam de poucos benefícios mutua-
listas. Eram porém mais militantes do que as estabelecidas sm
1850, e, além disso, os seus chefes acreditavam na influência
para o Parlamento recebiam, frequentemente, apoio financeiro Partido Trabalhista teriam sido sèriamente limitadas. Por uma
das uniões. Em 1900, o total de membros dos sindicatos britâ lei de 1909, os membros do Parlamento passaram a ter ordenado,
nicos subira a cerca de dois milhões. enquanto uma outra lei de 1913 legalizava a colecta política, mas
Nos princípios do sécu lo X X , os adversários das organi puramente voluntária.
zações operárias atacaram os sindicatos através dos tribunais. Noutros pontos da Europa, o desenvolvimento dos sindicatos
A Companhia de Caminhos-de-Ferro Taff Vale recebeu em 1901 operários foi impedido por restrições legais. Algumas antigas
23 000 libras de indemnização daAm algamated Soc iety of Rail w ay organizaçõe s de operários — as associações de mineiros na
Servants por prejuízos causados por uma greve, embora esta não Alemanha, as associações de caixeiros-viajantes em França e os
tivesse carácter oficial. Em 1906, contudo, a lei de Conflitos de artels na Rússia — puderam sobreviver na nova era industri al,
Trabalho veio proteger os sindicatos contra casos semelhantes. mas as uniões mais modernas de artífices e operários fabris
Em 1909, W. V. Osborne ganhou uma acção contra uma trade foram muitas vezes impedidas de subsistir pela hostilidade de
union (a que ele pertencia), impedindo-a de realizar uma colecta patrões e Governos. Em França, muitas associações primitivas
política
Se esta para
sustentar membros trabalhistas
em uso, do
Parlamento. do de operários disfarçavam-se em associações de socorros mútuos.
sentença se tivesse mantido as actividades Em Lião, em 1830, desenvolveu-se um tipo de união — odevoir 163
» I
123. À esquerda: A lência. Os operários resistiram a uma redução de salários e à
Barricada, uma lito-
grafia de Steinlen que tentativa dos donos das fábricas de obrigar cada tecelão a tra
evoca o horror e a balhar com dois teares em vez de um. O governo anunciou ime
violência que acompa-
nharam a Comuna de diatamente que, de futuro, as autoridades não manteriam a
Paris de 1871. proibição de sindicatos operários, embora nenhuma mudança
se desse na lei. Esta concessão foi logo seguida de várias greves,
sendo uma das mais sérias a das fábricas de aço Le Creusot,
em 1870, quando 3000 soldados tiveram de ser enviados para
lá a fim de manter a ordem. O movimento do sindicalismo ope
rário em França sofreu nova paragem quando a França foi derro-
activistas.
contribuíremOutra
com razão foi«dinheiro
bastante a relutância dos trabalhadores
de resistência» em
para os seus pela
poucoconciliação
ligados aodo que pelas
Partido greves. Originalmente
Progressista, estavam
mas quando este um
declinou
sindicatos. Um operário inglês notava que, em reuniões da Pri como força política, a sua influência sobre os sindicatos «radicais»
meira Internacional, os delegados franceses foram os primeiros declinou também. Pela mesma altura, Wilhelm Ketteler, bispo
a erguer as mãos para votar a resolução, mas os últimos a m etê- de Mainz, advogava a organização dos trabalhadores católicos e
-las nos bolsos para a subscrição. Charles Rist calculava que organizaram-se então «uniões cristãs» sob a égide da Igreja católica,
em 1911 a média anual da subscrição dos sindicatos em França para impedir que os operários fossem afectados pelas doutrinas
era de uns meros 2,76 francos, comparados com 42,50 francos socialistas. Finalmente, havia associações «amarelas» ou «pacíficas»
em Inglaterra e 32,60 francos na Alemanha. Nessas circunstân que não eram sindicatos operários no sentido normal da palavra,
cias não é d e surpreender que nos primeiros ano s do século X X visto serem associações dentro das empresas e subsidiadas pelos
o movimento operário francês tivesse caído sob o domínio de patrões.
um grupo de sindicalistas militantes que pregavam e praticavam Os sindicatos socialistas «livres» tiveram de lutar muito para
a doutrina da violência, das greves e da revolução, mais do que sobreviver, mas a sua tenacidade e sacrifícios foram final
o progresso pelas negociações pacíficas com os patrões. As graves mente recompensados conseguindo o apoio de grande número
perturbações sociais em França nas vésperas da Primeira Guerra de operários alemães. Em 1870, lutaram com industriais poderosos,
Mundial foram devidas não só à situação de muitos trabalhadores como Emil Kirdorf e Alfred Krupp, no Ruhr, e Stumm, no Sarre,
mas também à incapacidade dos operários franceses para esta e tiveram de enfrentar a hostilidade implacável de Bismarck.
belecer uma organização sindical realmente estável e poderosa. A Lei Anti-socialista de 1878 feriu igualmente os sindicatos
Na Alemanha, não foi senão em 1860 que tanto a parte «livres» e o Partido Social Democrata. Cerca de 100 sindicatos
política como a industrial do movimento operário deram sinais foram dissolvidos, enquanto outros se tiveram de transformar
de reviver. Foram criados sindicatos de artífices e de operários em corpos não políticos ou associações de socorros mútuos.
Além disso, Puttkamer, o ministro prussiano do Interior, usou
a Lei Anti-socialista para banir as greves em 1886. Trêsanos
mais tarde, porém, desencadeou-se uma onda de greves nos dis
tritos mineiros do Rur, no Sarre e na Silésia Superior; ante a
seriedade das desordens no Rur, as tropas tiveram de intervir:
nos recontros morreram 11 pessoas e foram feridas 26.
Os sindicatos «livres», como o Partido Social Democrata,
sobreviveram porém a todas as tentativas para os suprimir.
Em 1891 havia 3 43 20 0 unionistas na Alemanha, dos quai s
277 000 pertenciam às uniões « livres». E m 1890 os operário s
alemães tinham recuperado o direito de formar sindicatos, e
estes, como as uniões britânicas, impuseram altas contribuições
e criaram um congresso nacional para tornar mais forte a sua
posição quando tratavam com os patrões ou com o Governo. Nas
vésperas da Primeira Guerra Mundial, os sindicatos germânicos 125. A distribuição de bastões a polícias especiais, na véspera da demonstração cartista em
«livres»,
operáriascom
maismais de 2 milhões
poderosas de membros,
do Continente, eram não
embora as organizações
tivessem
Kennington Common, 1848.
sido ainda capazes de persuadir muitos dos grandes industriais parlamentos anuais, votação secreta, abolição da qualificação
a aceitar o princípio do contracto colectivo, o que somente viria de propriedade para os membros do Parlamento, pagamento
a suceder em 1918. Embora os sindicatos «livres» estivessem em aos membros do Parlamento, e distritos eleitorais uniformes.
ligação íntima com o Partido Social Democrata, mantinham a A Carta reflectia o desapontamento dos operários ante a Lei de
sua independência e resistiam firmemente a todas as tentativas Reforma de 1832, e exigia a democratização da Câmara dos
feitas pelo partido para controlar a política dos sindicatos. Comuns, de modo a que os candidatos da classe trabalhadora
tivessem verdadeiras oportunidades de eleição. Esperava-se
OS CARTISTAS que o aparecimento de um poderoso partido operário no
Parlamento levasse a reformas que beneficiassem uma vasta
A acção política era outra arma com que os operários massa da população.
lutavam para melhorar as suas condições. Um dos exemplos Embora os pedidos da Carta fossem todos políticos, o movi
mais impressionantes foi o movimento Cartista em Inglaterra. mento tinha raízes sociais e económicas. Como um orador disse
Em 1836 foi fundada por William Lovett a Associação dos Traba numa reunião em Kersal Moor, Manchester, «o Cartismo, meus
lhadores de Londres para unir «num só laço a parte inteligente e amigos, não é um simples movimento político onde o principal
influente da classe trabalhadora das cidades e dos campos». ponto é vocês obterem o direito de voto. O Cartismo é uma
Os membros eram artífices e artesãos, mais do que operários questão vital. O Cartismo significa boa casa, boa comida e
fabris. Em 1838 a Associação preparou um projecto de proposta bebida, prosperidade, e poucas horas de trabalho». E Ebenezer
a submeter ao Parlamento, o qual foi publicado como «Carta Elliot declarou que o Cartismo significava «comércio livre, paz
168 do Povo». Continha seis famosos pont os: sufrágio universal, universal, liberdade de religião, e instruç ão nacional» .. . 169
O movimento espalhou-se da capital para os distritos indus dos Tory e a imbecilidade dos Whig» eram responsáveis—,
triais, onde obteve o apoio de muitos operários fabris.No pacificaram os perturbados distritos fabris.
Midlands, estava ligado à União Política de Birmingham,de Apesar das dissenções entre os cartistas, uma segunda con
Thomas Attwood, e no Norte a causa cartista foi sustentada por venção, organizada pela Associação Nacional da Carta, foi rea
agitadore s tão fogosos como Feargus 0 ’Connor, Richard Oastler, lizada em Londres em 1842 e outra petição apresentada ao Parla
Julia n Ha me y e J. R. Stephens, que estavam já a ataca r a Lei mento. A sua rejeição foi completa. Os motinsPlug Plot no Lan
dos Pobres e a pedir reformas fabris de longo alcance. AEstrela cashire, embora não cartistas de srcem, deram aos cartistas
do Nort e de 0 ’Connor era o jornal da cla sse trabalhadora des ses extremistas uma nova oportunidade de revitalizarem o entusiasmo
dias. Realizaram-se grandes reuniões públicas em muitos pontos dos operários e mineiros pela sua causa. Outros movimentos,
do país para eleger representantes a uma convenção cartistae porém, pareciam oferecer aos trabalhadores mais benefícios
este «Parlamento do Povo» reuniu-se em Londres, em Fevereiro imedia tos do que os c ai tis tas. E m 1848 , c om a Europa a arder
de 1839 , para preparar uma petição que acompanhasse a Carta em revoluções, os cartistas planearam uma manifestação em
quando esta fosse submetida ao Parlamento. Os debates na Kennington Common, em Londres, para apresentarem uma
Convenção revelaram desde logo a divisão entre chefes moderados, terceira petição ao Parlamento. O Governo tomou medidas vigo
como Lovett e Attwood, favorecedores de uma política de agi rosas para manter a lei e a ordem: o duque de Wellington foi
tação pacífica
Hamey, , e extremistas
que defendiam como Feargus
a destruição violenta0 das
’Connor e Jul ian
instituições responsável peloajudar
especiais para dispositivo de segurança,
a polícia. A chuva,e recrutaram-se
porém, abrandouagenteso
existentes. Em Julho a Câmara dos Comuns rejeitou a Carta ardor dos manifestantes e a polícia impediu-os de marchar
e vários dos chefes cartistas foram enviados para a prisão. Em para o Parlamento. A petição chegou a Westminster num carro
Novembro, John Frost, um dos membros da Convenção, conduziu de cavalos e verificou-se que continha muitas assinaturas falsas.
um bando de manifestantes armados a Newport, no Monmou- Os cartistas, cujas ameaças tinham alarmado as autoridades,
thshire, para protestarem contra a prisão de Henry Vincent, tomavam-se agora objecto de irrisão geral. Os operários volta
um chefe cartista local. A revolta depressa foi dominada e Frost ram à acção ao nível profissional, através das trades unions, num
teve a sorte de ver comutada para degredo a sentença de morte. esforço para assegurar melhor pagamento e melhores condições,
Em 1840 o movimento dividiu-se em várias facções. Os não e durante muitos anos não fizeram novas tentativas para a forma
violentos juntaram-se, ou à nova sociedade de Lovett para o ção de um partido político próprio. Foi apenas em 1880 e 1890
«progresso político e social do povo» através da instrução uni que a criação da Federação Social Democrática da Sociedade
versal ou a uma das congrega ções de «cartistas cristãos». Os Fabiana, e do Partido Trabalhista Independente abriu caminho
milit antes , diri gidos por Feargus 0 ’Connor e Bronterre 0 ’Brie n, para uma terceira força na política britânica, que desafiasse
fundaram a Associação Nacional da Carta, em Manchester, em tanto os conservadores como os liberais.
Julho de 184 0, e estabe lecera m o plano para um «mês sagrado»,
durante o qual o país devia ser paralisado por uma greve geral. OS SOCIALISTAS ALEMÃES
Na nova era dos caminhos-de-ferro e do telégrafo, o Governo
teve pouca dificuldade em manter a lei e a ordem. As tropas, Nos trinta anos em que os operários britânicos estiveram
sob a direcção
terem de Sir
os operários Charles agravos
legítimos Napie r — que quais
pelos c ontudo
«a afirmav a
injustiça a lutar pela melhoria das suas condições de vida, fundando sin
dicatos, cooperativas e associações de socorros mútuos, os ope 171
rários alemães foram construindo um partido socialista poderoso Na Primavera de 1847 Moll visitou Marx em Bruxelas e
para conseguir os seus fins. À volta de 1836, um pequeno grupo Engels em Paris e convidou-os para se juntarem à Liga dos
de revolucionários alemães exilados em Paris formou uma socie Justos e ao mes mo temp o anunciav a que a Lig a aceit aria as
dade secreta chamada «A Liga dos Justos». Depois do falhanço doutrinas de Marx e se mudaria de uma sociedade secreta para
da revolução de Blanqui, em 1839, na qual os seus chefes estive uma associação pública. Tanto Marx como Engels concordaram,
ram envolvidos, a Liga mudou-se para Londres, onde os seus visto sentirem que uma liga reformada, com sede em Londres
membros aumentaram tanto que, em vez de ser uma sociedade e ramos em Paris e Bruxelas, forneceria um excelente veículo
puramente alemã, se tornou de carácter internacional, e nmq para a sua propaganda. No Verão de 1847 a liga organizou a
sociedade pedagógica de operários foi então constituída conio sua primeira conferência pública em Londres. Na ausência de
cobertura para as actividades secretas da Liga. Em 1843 Friedrich Mar x — que não podia pagar a viagem de Bruxelas —, Engels
Engels veio a Londres, onde encontrou Karl Schapper, Heinrich expôs as opiniões do' amigo sobre a abolição do capitalismo e
Bauer e Josef Moll, membros dos mais activos da Liga, e viajou o estabelecimento de uma sociedade sem classes. Nos fins de
no Norte de Inglaterra, onde se pôs em contacto com alguns dos Novembro realizou-se em Londres uma segunda conferência
cartistas mais militantes, como Julian Harney. Engels considerava a que os dois assistiram. Uma nova constituição foi apro
o movimento cartista como a tentativa pioneira do proletariado vada, a ideologia marxista aceite, e Marx e Engels convidados
para No
representar
Verão deum papel
1844, eficazvisitou
Engels na política.
Karl Marx em Paris e para prepararem
do que agora se uma declaração
chamava a «Ligapública relativaEngels
Comunista». às finalidades
preparou
estabeleceu-se entre eles uma amizade que havia de ter profunda um breve esboço da política da Liga em forma de catecismo,
influência no desenvolvimento do socialismo internacional. mas o Manifesto Comunista foi trabalho de Marx. No Manifesto,
Engels voltou depois a Barmen, onde completou o seu livro sobre
126, 127. Friedrich Engels (18201895) e Karl Marx (18181883), ami gos de toda
«A Condição da Classe Trabalhadora em Inglaterra», cortando e profetas do «socialismo científico».
relações com o pai — um conceituado industri al — por defender
a propaganda comunista de Moses Hess na região. Em 1845,
Marx e Engels encontraram-se outra vez, em Bruxelas, onde
começaram a sua longa colaboração como escritores e agitadores
comunistas. Usaram o Comité de Correspondência de Bruxelas
como órgão para a propaganda das suas ideias, e em Outubro
de 1846 Engels comunicou ao Comité de Bruxelas que tinha
persuadido um pequeno grupo de socialistas alemães exilados
em Paris a aceitar a sua definição de comunismo. Isto acarretava
«a abolição da propriedade particular e a sua substituição por uma
comunidade de bens», objectivo a ser conseguido através de
uma «revolução democrática pela força». Lenine escreveu, mais
tarde, que a minúscula assembleia que aceitou a definição de
comunismo de Engels podia ser considerada a semente donde
cresceria o partido socialista germânico.
Marx defendia que «a história de todas as sociedades até aqui
existentes é a história das lutas de classes». Denunciava os males
da sociedade industrial dos seus dias e previa o triunfo dos tra
balhadores sobre os opressores burgueses. Criticava formas
primitivas do socialismo — tais como as propostas por Robert
Owen, Saint-Sim on e Weitling — , e term inava com um desaf io
retumbante aos seus adversários:
Os comunistas recusam-se a esconder as suas opiniões
e objectivos. Declaram abertamente que os seus fins só podem
ser obtidos pela destruição enérgica de todas as condições
sociais existentes. Que as classes governantes estremeçam
ante a revolução comunista. Os proletários não têm nada a
perder senão as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.
Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!
de meias era ainda uma indústria caseira. A malha produzia-se de tipo militar.
reforços que lhesAos magistrados
permitissem locais
lutar foram
contra então enviados
os destruidores de
em máquinas manuais, em pequenas oficinas, mas os artífices
eram empregados por patrões que possuíam as máquinas e as máquinas e, em Janeiro de 1813, foram enforcados 17 em Iorque:
matérias-primas. Em 1811, os operários das meias queixaram-se três pelo assassinato de Horsfall e os outros pelo ataque à fábrica
de que os patrões estavam a lançar no mercado quantidades exces de Cartwright. Estas medidas ajudaram a restaurar a lei e a ordem,
sivas de produto ao mesmo tempo barato e vistoso, e, para se embora houvesse novas revoltas e destruição de máquinas nos
manterem em concorrência, diminuíam os salários, tornando mais
129. Os Tecelões (c. 1895), um esboço de Kathe KoIIwitz.
dura a vida dos operários. Estes pediam o regresso aos métodos
tradicionais de produção e venda e às tabelas anteriores de
pagamento e serviam-se do terror como principal argumento.
Estavam tão bem organizados que se podia pensar que um único
cérebro planeava todos os movimentos contra os industriais.
Contudo, parece provável que vários dos chefes dos bandos
destruidores de máquinas, que aterrorizavam a região, usassem
o nome terrível de «General Ludd». Os luddites agiam em grupos
de cerca de cinquenta e desciam, rápidos, a uma aldeia após
outra para destruir as máquinas de malhas, desaparecendo tão
silenciosamente como tinham vindo, sem que as autoridades os
conseguissem apanhar. Em 1812, o movimentoluddite espalhou-se
à região de lã de West Riding e às cidades algodoeiras do
Lancashire e do Cheshire. NoTimes de 16 de Junho afirmava-se
melhorar as suas condições. Os sindicatos operários e as greves
eram ilegais em França, mas os tecelões de Lião descobriram
um buraco na lei. Em 1827 os mestres tecelões constituíram
o que era, na realidade, um sindicato, mas sob a aparência de
uma associação de socorros mútuos designada porDevoir M utuei.
130. A indústria do- Tratava-se de uma associação celular, cada célula agrupando
méstica existia ainda na
Europa nos fins do sé- vinte homens. Esperava-se que este método de organizar uma
culo XIX. O Tecelão união operária iludisse as proibições da lei, e, em 1831, uma
{c. 1883), uma gravura
de Max Liebermann. comissão mista, integrando representantes doDevoir M utuei e
mercadores, redigiu uma nova tabela de preços, com a assistên
Midlands em Junho de 1816, quando 53 máquinas foram partidas cia de Boubier dtí Mplart, prefeito do Departamento do Ródano.
na fábrica de Heathcote Boden, em Loughborough. Infelizmente, alguns mercadores recusaram-se a respeitar
esse acordo, e isto — combinado com aumentos de impostos
INSURREIÇÕES DOS OPERÁRIOS DE LIÃO locais e nacionais — levou os tecelões a recor rerem à greve.
Que os trabalhadores tinham motivos legítimos vê-se por um
lentoEmbora
do queo odesenvolvimento
da Grã-Bretanha,industrial da França
as revoltas fosse mais
dos tecelões de relatório da Câmara
pequena minoria do Comércio
de mercadores de de Lião,grandes
auferir que acusava umaà
proventos
seda de Lião, em 1831 e 1834, mostraram que a França também custa dos operários e recomendava a fixação de uma tabela
estava a enfrentar graves problemas sociais. O fabrico de sedas oficial de preços por peça. Uma proposta semelhante veio
— concentrado no distrito de Lião — constituía uma das indús do tribunal oficial de conciliação(prud’hommes), mas a recusa
trias mais importantes da França, representando cerca de 30 de cerca de cem mercadores em pagar os novos preços provocou
por cento da exportação do país. A indústria era financiada e a revolta dos trabalhadores em Novembro de 1831. Os insur-
dirigida por uns 750 fabricantes-mercadores que tinham consi rectos — na maioria tecelões assa lariados do distrito de C roix-
derável influência sobre o Conselho da cidade. Através dos seus -Rousse— dominaram a cidade. Na noite de 22 de Novembro
agentes, eles distribuíam a matéria-prima, recolhiam as sedas o general Roquet tinha retirado as suas tropas deixando a cidade
prontas e pagavam aos mestres tecelões. nas mãos de 3 0 000 insurrectos armados. Alguns armazéns
Havia cerca de 9000 mestres tecelões que possuíam ou arren foram incendiados, sendo o saque das lojas impedido pelos
davam oficinas e teares onde tecelões assalariados trabalhavam. próprios operários. Na verdade, uma das características desta
Os barracões onde se procedia à tecelagem eram por vezes pe quenos, revolta era que a lei e a ordem fossem mantidas pelos próprios
contando entre dois a dez teares manuais, e os mestres tecelões revoltosos. A revolta terminou de repente, tal como começara.
tinham geralmente a responsabilidade da acomodação dos seus Tendo protestado, os tecelões regressaram a suas casas e a vida
operários. Embora os mestres tecelões fossem pequenos capita da cidade voltou ao curso normal. O Governo enviou o príncipe
listas, muitos agiam numa escala tão modesta que se igualavam de Orleães e o marechal Soult para a cena, à frente de mais
aos seus assalariados. Ambos os grupos sentiam a sua depen de 20 000 soldados, mas a sua presença já não era necessária.
184 132. Alguns dos muito s panfletos marxistas em circulação nos fins do século.
Logo a seguir, várias firmas de algodão, em Stalybridge e como uma minoria fanática de militantes dedicados podia repre
Ashton-under-Lyne, anunciaram uma redução de salários. A sentar papel importante na política industrial, em total despropor
8 de Agosto, em Stalybridge, a multidão marchou de uma fábrica ção com o número dos seus sequazes. A revolta dos sindicalistas
para outra, chamando os operários para a greve e arrancando as em França estava intimamente associada com o movimento
válvulas das caldeiras para assim os encorajar. Os grevistas anarquista que se srcinou na última parte do século XVIII.
prosseguiram para Dukinfield, Ashton, Oldham, Denton e Will iam Godwi n, cujoEnquiry Conce rning Polit ical Jus ti ce apa
Hyde, percorrendo fábricas de algodão e minas de carvão. A 9 receu em 1793, foi um dos primeiros anarquistas, opondo-se a
de Agosto, um cortejo de grevistas de Ashton-under-Lyne toda e qualquer espécie de restrição à liberdade do indivíduo,
entrou em Manchester, tendo sido expulso pela polícia. Na mas defendendo o estabelecimento de uma nova sociedade por
mesma altura, grevistas locais encerraram várias fábricas na cidade. métodos pacíficos e não violentos. Pierre Proudhon, que em 1840
A violência cresceu quando alguns proprietários de fábricas deci inventou o slogan revolucionário «O que é a propriedade? A pro
diram fechar as suas portas e se recusaram a ser intimidados pela priedade é um roubo», também pensava que a sociedade podia
populaça. No dia seguinte, uma grande multidão reunida em ser transformada por meios pacíficos. Todavia, a sua opinião
Manchester obrigou várias fábricas a fechar e atacou uma fábrica de que o homem era por natureza irracional e violento, teve
de gás e uma estação de polícia. As desordens continuaram, mas, subsequentemente uma forte influência nos extremistas tanto da
doise dias
cia depois, commilitares
as autoridades o auxílioconseguiram
de 2500 agentes especiais,a aordem.
restabelecer polí esquerda
só pregava como da direita.
a violência masMikhail
também Bakunin,
punha por outroteorias
as suas lado, não
em
Entretanto, grevistas de Hyde e Ashton-under-Lyne tinham prática. A sua reputação como revolucionário ficou firmada
feito parar fábricas em Glossop, Disley e Stockport, tendo a de após a sua luta nas barricadas de Dresden em 1849, pelo que
Stockport sido atacada e saqueada. A seguir, a inquietação foi preso na Rússia e exilado na Sibéria. Reclamava a ruína com
espalhou-se para sul, para Macclesfield, Congleton, Leek e pleta de «este exausto mundo social que se tornou impotente e
Potteries, e para norte, atingindo muitas cidades algodoeiras estéril». Em 1860, a sua experiência como agitador em Inglaterra,
do Lanchashire, como Bumley, Bolton, Blackbum, Chorley e Itália, e Suíça, convenceram-no de que os camponeses da Rússia,
Preston. No conjunto, as autoridades encontraram pouca dificul da Itália e da Espanha, e os habilidosos relojoeiros domésticos
dade em pro teger as fábricas, e na primeira semana de Setembro a do Jura estavam tão maduros para a revolução como o prole
maioria dos grevistas tinha regressado ao trabalho. Os tecelões de tariado industrial de Inglaterra. Ai divergia de Marx, que defendia
Manchester, contudo, não desistiram da luta até 26 de Setembro. que a revolução devia entrar primeiro nas sociedades altamente
Com poucas excepções, não mais se ouviu falar de redução de industrializadas.
salários, e nesse aspecto as revoltas atingiram o seu objectivo. Bakunin ligou-se à Associação Internacional dos Trabalha
dores e depressa se envolveu numa disputa com Marx, o que
ANARQUISTAS E SINDICALISTAS causou o colapso da associação. Enquanto Marx esperava fundar
um partido político disciplinado, que assumiria a autoridade
Nos fin s do sécu lo X IX , extremist as frances es, como Sorel , quando os Governos existentes caíssem, Bakunin denunciava
Pouget e Paul Louis tentaram dar uma aparência intelectual e o comunismo como a «negação da liberdade» e defendia o esta
filosófica à doutrina da violência industrial. As actividades da belecimento de comunas independentes como base da futura
186 secç ão «sindicalista» do movim ento unionista francês mos trara m organização da sociedade. Um movimento anarquista, inspirado
133. A La go a de Lo ndr es (1906), de André Derain, mostra, simultâneamente, o sentido de
autosuficiência do homem industrial e a presença de correntes radicais e anárquicas na vida
cultural da Europa.
por ideias de Bakunin, floresceu em Itália durante certo tempo dos trabalhadores em Paris. Em Março e em Maio de 1909,
na década de 187 0, mas o maior suc esso de Baku nin foi em houve greves nacionais de funcionários dos correios e dos telé
Espanha. Aí, o seu discípulo Giuseppe Fanelli organizou um grafos. Em Outubro de 1910, uma greve nos Caminhos-de-Ferro
movimento anarquista que se conservou activo até à guerra do Norte espalhou-se para outras linhas, e Briand, o primeiro-
civil de 1936. Em 1880, o príncipe Kropotkin firmou a sua -ministro, que era socialista, chamou os reservistas. Muitos
posição como filósofo do movimento anarquista. Fora enviado grevistas foram recrutados desta maneira e tiveram de fazer, de
para a prisão, na Rússia, em 1874 por causa das suas actividades uniforme, o trabalho que se tinham recusado a fazer à paisana.
revolucionárias, mas conseguiu fugir e instalou-se em Londres, Em 1914, a acção firme de Governos sucessivos havia lutado contra
onde se dedicou a escrever e à investigação científica. a ameaça do sindicalismo, e o povo francês tinha mostrado cla
Nos começos do século X X , o anarquismo pareceu declinar. ramente que não queria ser dominado à toa por um punhado
Havia actos isolados de terrorismo, mas isso mal podia ser con de fanáticos. ' ~
siderado como movimento político sério. Depois, deu-se uma Em Espanha, existia desde 1870 um movimento anarquista,
renovação do anarquismo — em especia l em Fran ça — quando inspirado pelas ideias de Bakunin. Apelava para os trabalhadores
revolucionários inspirados pelas ideias de Bakunin, Kropotkin das indústrias de Barcelona e Bilbau, para os mineiros das Astú-
e Sorel, penetraram no movimento dos sindicatos operários e, rias, para os pequenos proprietários e para os trabalhadores
durante certo tempo,
contentamento o dominaram.
social geral — pois não Tirando vantagem
só operários do des
fabris mas rurais
de Alcoy,do Sul
em de1873,
Espanha. A insurreição
quando as fábricas dos operários
foram do papel
queimadas e o
também funcionários públicos, ferroviários, professores e tra alcaide assassinado, mostrou que a introdução das modernas
balhadores rurais tinham os seus agravos — , os sindic alista s indústrias em Espanha era acompanhada de problemas sociais
aventuraram-se a um programa de «acção directa» que envolvia que os países industriais mais velhos há muito conheciam. Em
sabotagens de máquinas, destruições de produtos fabricados, 1880 e 1890, os anarquistas provocaram conflitos industriais e
e tácticas de atraso, com o objectivo de impedir o rendimento motins de camponeses. Em 1911, fundou-se a Confederación
das fábricas e o movimento regular de transportes e serviços Nacional del Trabajo que, tal como a federação francesa dos
de correio. Deste m odo, os sindicalis tas — e os seus joguetes — sindicatos, que lhe servira de modelo, foi dominada pelos anar
infligiam o máximo de prejuízos ao público com o mínimo de quistas. Entretanto, as doutrinas anarquistas faziam progresso
inconvenientes para eles próprios. Não era fácil descobrir homens entre os camponeses, em especial na Andaluzia, onde as condições
que punham limalha nas máquinas, arrancavam válvulas de rurais eram excepcionalmente más.
caldeiras ou cortavam fios eléctricos. O anarquismo espalhou-se da Europa para a América do
A última arma dos sindicalistas foi a greve geral, que eles Norte e do Sul. As regiões fabris dos Estados Unidos, onde os
esperavam derrubasse a ordem social existente. Em 1899, vima males sociais associados à primeira industrialização eram tão
comissão da Co nf é
dé ra t i on G é
nér al e du Tr av ai l declarou que a sérios como tinham sido na Europa, mostraram ser um campo
greve geral era «o único método prático pelo qual a classe tra fértil para as actividades dos anarquistas. Em Chicago, em 1886,
balhadora podia libertar-se completamente do jugo dos capi por exemplo, os anarquistas exploraram as queixas dos grevistas
talistas e do Governo». Em 1906, a propaganda dos sindicalistas das fábricas de máquinas de ceifar McCormick e aí se verificaram
tornara-se tão activa e tão violenta que as autoridades temeram sérios motins com perda de vidas. Na América Central e do Sul,
que as demonstrações de 1 de Maio levassem a uma revolta anarquistas italianos e espanhóis aproveitaram-se quanto puderam
135. A pa rt id a. Um ca-
sal de emigrantes olha
fixamente por sobre as gra-
des da popa em The Last
of England (18641866),
de Ford Madox Brown.
EMIGRAÇÃO
A EUROPA EM 1914
Próximo volume:
Bizâncio e Europa
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