Blimunda 69 Fevereiro 2018 - Fundacao Jose Saramago
Blimunda 69 Fevereiro 2018 - Fundacao Jose Saramago
Blimunda 69 Fevereiro 2018 - Fundacao Jose Saramago
M E N S A L N . º 6 9 F E V E R E I R O 2 0 1 8 F U N DAÇ ÃO J O S É S A R A M AG O
ATRAVESSAR A CHINA
AGORA!
BLIMUNDA
A PALAVRA CHAVE PARA COMPREENDER OS PRÉADOLESCENTES
A VERDADE DE
PESSOA
PESSOA
EM MADRID
3 Editorial
5
Pessoa, embaixador
cultural em Madrid
Leituras
14
Sara Figueiredo Costa
Estante
20
Andreia Brites
Sara Figueiredo Costa
Pessoa apresenta
a sua vanguarda
28
em Madrid
Ricardo Viel
38
Sara Figueiredo Costa
45
A Casa da Andréa
Andréa Zamorano
Agora!
64
Andreia Brites
66
Andreia Brites
Espelho Meu
70
Andreia Brites
Saramaguiana
Existiu para Fernando
79
Pessoa uma verdade?
José Saramago
83
Agenda
Epígrafe
O Museu Reina Sofía, em Madrid, inaugurou no dia 6 de fevereiro a
exposição «Pessoa – Toda a arte é uma forma de literatura». A proposta
da mostra, que estará patente até 7 de maio, é apresentar ao público não
só a obra de Fernando Pessoa mas também a produção das vanguardas
portuguesas da primeira metade do século XX. São 160 obras de arte (en-
tre pinturas, desenhos e fotografias) de artistas como Almada Negreiros,
Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana e Sarah Afonso, além de uma
vasta documentação que inclui manifestos, livros, revistas e correspon-
dências deste período.
Desde 2014 é a terceira exposição sobre Fernando Pessoa a ocu-
par a capital espanhola. A primeira foi na
Pessoa, Biblioteca Nacional de Espanha (BNE) e
embaixador tinha como objetivo abordar a relação do
3
FUNDA Ç ÃO
Blimunda 69
fevereiro 2017
DIRETOR
Sérgio Machado Letria
Onde estamos
Where to find us
Rua dos Bacalhoeiros,
Lisboa
Tel: (351) 218 802 040
www.josesaramago.org
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COMO CHEGAR
GETTING HERE
Metro Subway
Terreiro do Paço
(Linha azul Blue Line)
Autocarros Buses
25E, 206, 210, 711, 728, 735,
746, 759, 774, 781,
782, 783, 794
Segunda a Sábado
Monday to Saturday
10 às 18h 10 am to 6 pm
ANDRÉ CARRILHO
leituras do mês S A R A F I G U E I R E D O C O S TA
Alicia Kopf
Irmão de Gelo
Alfaguara
DORADOS DIAS
DE SOL Y NOCHE
Luis Antonio De Villena
Pre-textos
FORTE APACHE
Marcelo Montenegro
Segundo volume das memórias do Companhia das Letras
poeta e crítico literário espanhol,
agora focadas nas décadas de 70 e 80 Novo livro de poesia do autor
do século passado, revelando uma brasileiro, reunindo num único
cidade, Madrid, como epicentro da volume dois livros anteriores,
narrativa por onde passam amores, Orfanato Portátil (2003) e Garagem
livros, celebrações e muitos episódios Lírica (2012), e o inédito Forte
relevantes para a compreensão da Apache. Um excerto: «penso em
geração poética e literária a que alguém que, na manhã/ do dia de
chamaram de «los novísimos». SFC sua morte, desiste/ de usar a camisa
que mais gosta,/ preferindo guardá-
la para uma festa/ que terá na noite
seguinte.» SFC
E
S 14
T A N T E
T
E
MANOBRAS
DE GUERRILHA
Bruno Vieira Amaral
Quetzal
E S T A N
T
E
OS 22 MISTÉRIOS
DA HISTÓRIA,
Geòrgia Costa
SANTA CAMARÃO
Xavier Almeida
Nuvem de Letras
A ÁRVORE DAS
MENTIRAS
Frances Hardinge
Presença
A HORTA DO SIMÃO
Rocío Alejandro
que a despoleta é o desejo que a
protagonista tem de ser reconhecida,
Kalandraka elogiada e amada pelo pai, o
reverendo Erasumus Sunderlys.
Simão é um coelho e, como é bem Estamos em plena época vitoriana e a
sabido, gosta de cenouras. Por isso rapariga debate-se com suspeitas em
escolhe cultivá-las no terreno que relação às ações do pai e aos boatos
escolhe para si e delimita com uma que contra ele se impuseram e teriam
cerca que constrói. Mas nem sempre obrigado a família a abandonar Kent
se tem controlo sobre os desejos e as e partir para a ilha de Vane. A ciência
ações dos outros e o que aconteceu e a paleontologia fazem parte da
a Simão, debaixo dos seus próprios narrativa e é em torno de pesquisas,
olhos, foi uma espécie de reforma descobertas e segredos que a diegese
agrária não planeada. A ilustração evolui. AB
realça cada momento deste processo
através da composição do espaço das
páginas, partindo de uma estrutura
definida no início. A paleta de cores
varia pouco dando à forma e à sua
repetição o papel principal. AB
Exposições
livraria
biblioteca
auditório
Terça a sábado
Abr a Set —
10h às 13h /
15h às 19h
Out a Mar —
10h às 13h /
15h às 18h
NASCI NA
AZINHAGA
SENTIMENTALMENTE
SOMOS HABITADOS POR
UMA MEMÓRIA
Pes
soa
apresenta a sua vanguarda em
20
Ma
dri
Ricardo
Viel
Fernando Pessoa, que em vida nunca cruzou a fronteira de Portugal
com Espanha, tem se tornado um habitué em Madrid. Nos últimos anos
foram-lhe dedicadas três exposições na cidade: em 2014 na Biblioteca Na-
cional de Espanha, em 2016 no Círculo de Belas Artes e agora no Museu Rei-
na Sofía. A diferença desta mostra para as anteriores é que Fernando Pessoa
vai acompanhado. A exposição Pessoa. Toda a arte é uma forma de lite-
ratura, que foi inaugurada a 7 de fevereiro e fica patente até 7 de maio, leva
ao museu mais visitado da Espanha as vanguardas portuguesas e explora o
papel fundamental que o poeta de Tabacaria teve nesse modernismo luso.
São mais de 160 obras de arte (pintura, desenho, fotografia, gravura) de
artistas como Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Sarah Afonso e
Almada Negreiro, e centenas de documentos originais (livros, revistas, peças
de teatro e correspondências). Tudo isso acompanhado de excertos de textos
de Pessoa apresentados nas paredes com o mesmo destaque que os quadros,
valorizando as palavras. «Toda a arte é uma forma de literatura, porque toda
a arte é dizer qualquer coisa», diz o verso de Álvaro de Campos que empres-
ta o nome à exposição. E no Reina Sofía, a literatura é mostrada como uma
obra de arte.
O português João Fernandes, responsável pela curadoria da exposição
conjuntamente com a historiadora Ana Ara, conversou com a revista Bli-
munda sobre esse desembarque de artistas lusos na capital espanhola. Num
domingo de sol em Madrid, com uma temperatura bastante agradável para o
inverno, o subdiretor do Museu Reina Sofía guiou-nos pelas salas do museu
e concedeu-nos esta entrevista.
Mais do que uma exposição sobre Fernando Pessoa, esta mostra pretende
olhar para o modernismo português e o papel que o poeta desempenhou
nesse momento cultural, certo?
Nem faria muito sentido num museu de arte uma exposição só sobre
o Pessoa. Acontece que, entre as múltiplas facetas da sua textualidade, ele
constrói conceitos de vanguarda e de modernidade que são extremamente
singulares e curiosos porque se dissociam das vanguardas que vêm de Paris,
que são aquelas de que ele tem conhecimento e são as dominantes naquela
época – o cubismo, o futurismo etc. Pessoa contrapõe a essas vanguardas
um outro sentido das coisas a partir da sua forma muito idiossincrática de se
situar em relação à arte, à cultura e à vida. E é por isso que ele vai construir
conceitos como o poulismo, o intersecionismo o sensacionismo que são con-
ceitos de vanguardas muito próprios. E como muitas vezes ele não encontra
protagonista para essas vanguardas cria os seus próprios, os heterónimos.
Como foi possível fazer uma exposição assim tão completa fora de Portugal?
Esta exposição aqui é possível porque algo que nos interessa neste mu-
seu é interrogar a história da arte juntando-lhe histórias que não são co-
nhecidas. E não são conhecidas precisamente pelas relações de poder que
estruturaram a história da arte a partir dos centros artísticos, políticos e eco-
nómicos dominantes do século XX. A vanguarda portuguesa é uma dessas
histórias periféricas. Achámos que o museu deve escrever incessantemente
a história, propor novas interpretações e mostrar coisas menos conhecidas.
O Pessoa é uma figura que atrai muita atenção. Tê-lo como ponto central
ajudou a que a exposição se realizasse?
Sim, é uma figura que atrai e que, às vezes, é usada de uma forma opor-
tunista, em minha opinião. O Pessoa está ao serviço dessa indústria do tu-
rismo que coloca Portugal na moda. Há um mito que se constrói hoje em
Portugal, e que passa por coisas tão simples como o Pessoa fazer parte do
passaporte português ou de uma loja que vende sardinhas em conserva no
Rossio ter os seus poemas nas latas. Não é isso que nos interessa. Há esse
efeito que faz com que o Pessoa quase que entre para a indústria do espetá-
culo e passe a ser um ícone pop. Nós não vamos por aí.
O Reina Sofía recebeu no ano passado quase 4 milhões de visitantes. Esta
mostra pretende divulgar artistas modernistas portugueses ao grande pú-
blico?
É um objetivo do museu apresentar histórias menos conhecidas da his-
tória da arte. Sem dúvida que apresentar essa exposição no Reina Sofia ajuda
na divulgação desses artistas são muito pouco conhecidos fora de Portugal
e que mesmo dentro de Portugal nunca foram apresentados juntos. Sem dú-
vida que isso implica uma acessibilidade maior a esses artistas difusão das
suas obras, mas isso contribuiu, sobretudo, para interrogar uma história da
arte e para interrogar o que possa ter havido de distinto e periférico nessa
vanguarda. E colabora, também, para divulgar uma faceta menos conhecido
da obra do Pessoa que é o seu pensamento sobre as vanguardas, e as van-
guardas que ele próprio protagoniza e cria como alternativa às vanguarda
mais conhecidas.
Sente-se orgulhoso, como português, de ver uma exposição tão ampla so-
bre o seu país no Reina Sofía?
Estou contente por ver obras de arte que gosto muito, algumas das quais
tenho uma relação quase pessoal, possam ser apresentadas numa exposição
que acontece no museu onde trabalho. Isso é para mim significativo, mas
estou em Espanha num projeto internacional em que a arte não se define
por sua nacionalidade e ou bandeiras, mas é importante que a arte não seja
acrítica nem seja algo de neutro em relação à própria história. Nós aqui con-
támos a história da arte a partir dos seus conflitos enquanto muitos museus
contam a história da arte a partir de uma pretensa neutralidade da arte, isto
para nós não é possível. Para nós é importante explorar esses conflitos e ex-
plorar o que foi esquecido, descolonizar o museu dos próprios poderes que
fizeram do museu o reflexo dos discursos dominantes de uma época. Nós
estamos muito mais com os discursos que foram vencidos, porque achámos
que os derrotadas da história continuam presentes numa história que está
em constante mudança.
chi
cinco livros para atravessar a
Sara
Figueiredo
Costa
na 28
Yu Hua
china
A China em Dez Palavras
Relógio D'Água
Cisnes Selvagens
Quetzal
Saga familiar, o romance que trouxe fama internacional
a Jung Chang acompanha a história de três gerações
da família da autora, percorrendo um arco temporal
entre a vida da sua avó — dos fins do Império aos
alvores da República, já com a guerra entre comunistas
e nacionalistas a ganhar terreno — e a sua própria,
criança nascida em pleno governo de Mao Zedong,
crescendo entre a propaganda, as purgas políticas e
as primeiras dúvidas sobre as boas intenções de um
regime que dizimou um sem número de vidas.
Ma Jian
china
Beijing Coma
Chatto & Windus
N U M A GA L Á X I A
N ÃO M U I TO
D I S TA N T E M A S
U M TA N T O
DISFORME
ANDRÉA ZAMORANO
38
Numa galáxia não muito distante mas um tan-
to disforme, vivia um povo apático. E assim o era por ser governado por um
vampiro-poeta. A estranha criatura levava os seus concidadãos a ficarem in-
decisos entre sentirem medo das suas incursões noturnas – quando se en-
contrava com outros seres repulsivos para sugar o sangue da população sub-
-repticiamente – ou de ouvir um dos seus poemas ou discursos, capazes de
causar graves irritações nos olhos e nos ouvidos de quem acidentalmente se
cruzasse com as pérolas de naftalina.
Nessa galáxia, as cidades funcionavam agrupadas em estados que por
sua vez correspondiam, pelo menos em teoria, a estados-nação como se de
uma federação se tratasse, sendo o iníquo vampiro-poeta a autoridade máxi-
ma. Um desses estados-nação era considerado pelos restantes como o local
mais maravilhoso da galáxia, tamanha era a sua beleza. O exuberante estado-
-nação era então governado por um ser muito alto, com pés enormes e uma
cabeça minúscula que mal dava para pensar. A desproporção entre cabeça
e pés fazia com que os seus atos fossem catastróficos. Todas as vezes que o
governador se mexia, os seus pés agigantados e a sua cabeça insignificante
acabavam por esmagar partes do estado e da população. Apesar dos clamores
iniciais mais valia que o governador não saísse do seu lugar. Assim aos habi-
tantes resignados restava esperar que o tempo do mandato terminasse.
No lindíssimo estado-nação havia ainda uma cidade de cores vibrantes
que de tão extraordinária era conhecida para além da galáxia. Todo o univer-
so sonhava em um dia visitar a cidade maravilhosa. Porém a pouca sorte do
povo apático estendia os seus tentáculos, o prefeito da cidade era uma ovelha-
-cantora. Dócil e de fala mansa nas suas apresentações, o alcaide mostrava-se
com uma farfalhuda pele de lã branquinha, como cabe a todo cordeiro que se
preze, e a sua voz encantava os homens e as mulheres de alma pura que acre-
ditavam nas canções em que o edil prometia o paraíso para os que sonhassem
o seu projeto: uma nova cidade, depois um novo estado-nação e por fim toda
a galáxia não muito distante mas totalmente disforme seriam dele e do seu
tio-pastor do maior rebanho de ovelhinhas da galáxia.
Contudo, a cidade imaginada pelo ardiloso e terno prefeito estava
longe de existir tal como a sua governação. A violência assolava as ruas da
cidade maravilhosa como as ondas num mar de ressaca que destroem sem
piedade ciclovias suspensas e mal construídas em lugares paradisíacos. Não
via lados, ideologias políticas, cor da pele, não fazia diferenças sociais. Quem
sabe a única expressão da igualdade na cidade fosse a sua brutidão. Selvagem
para todos, inacessível para a maioria e incrível apenas para os que a viam
como lugar idealizado ou do alto das suas coberturas bem construídas. Era
assim a cidade maravilhosa.
O prefeito ovelha-cantora fazia de conta que acreditava que os seus sal-
mos eram suficientes, punha-se no alto de tribunas religiosas com um manto
de oração nas costas e um colete à prova de balas por baixo do paletó a entoar
os cânticos flamejantes contra as manifestações populares e viajava. Viajava
tanto que – como o deus emque acreditava – praticamente estava em toda a
parte menos na cidade que jurou comandar.
Numa das suas ausências intergalácticas, em surdina o governador dos
pés desmesurados e cabeça de semente de papoila fez um acordo com o he-
matófago líder vampiro-poeta e ambos tomaram a sua cidade de assalto. Me-
lhor dizendo, contra os assaltos. O prefeito ovelha-cantora que não conside-
rava nenhum dos dois governantes à altura dos seus planos de dominação da
galáxia foi chutado para um canto estelar, perdendo autonomia e prestígio na
cidade que sonhou transformar com drones e leitinho para as crianças.
O maleficente vampiro-poeta e o governador dos pés colossais e cabeça
de alfinete uniram-se contra o crime organizado – por pura ironia – tendo o
governador aberto mão de parte significativa da administração dow estado-
-nação para a união galáctica em troca do ministério das construções espam-
panantes no executivo que se constituiria num breve futuro.
Não, o crime na cidade maravilhosa não terminou nos meses que se
seguiram à ocupação federal-militar-galáctica imposta pelo vampiro-poeta,
mas os seus caninos ficaram afiados. Os tanques na avenida à beira-mar, os
helicópteros em voos rasantes, os homens fortemente armados com permis-
são para matar – e não por ironia – foram uma espécie de Whey-Protein go-
vernamental. O vampiro-poeta ganhou musculatura, atreveu-se a aparecer
na luz do dia, candidatou-se à presidência da união galáctica e venceu ao
aniquilar previamente as vozes dissonantes.
Nos anos que se seguiram, a solução tonificada foi replicada em todas
as capitais dos estados-nação, tornando-as também em cidades maravilhosas
– nem mesmo o prefeito ovelha-cantora sonhara com tal desfecho. Ao povo
apático, o vampiro-poeta chupim ia dando uma bolachas de água e sal como
quem sonha em atirar bacalhau para uma plateia histérica. E foi assim que
um dia, na sua magnanimidade distorcida decidira poupar a população de
pelo menos um dos seus suplícios: estar horas de pé em filas para votar num
dia de feriado galáctico. Já não era necessário. Todos os governantes ao nível
dos estados-nação e das cidades passaram a ser indicados por ele, libertan-
do a população para um feriado bem passado em família. Afinal, tanto fazia
mesmo. Quaisquer bestas candidatas, nas suas mais específicas monstruosi-
dades, seriam seres parasitários e facilmente corruptíveis. O vampiro-poeta
encarregava-se de zelar pelo povo apático e a galáxia não muito distante pas-
sara a ser um lugar bastante conforme.
AMIGO DE
SARAMAGO
SEJA AMIGO DA
FUNDAÇAO
JOSE SARAMAGO
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a
go
Andreia Brites
45
ra!
Agora é palavra cha-
ve. O agora dos pré
adolescentes de há
dez anos era muito
diferente deste. Se
há presente na exis-
tência, é nesta fase.
Por isso, pensar nos
leitores pré adoles-
centes implica pen-
sar neste momento.
Adolescência só aos 15
Há três décadas a adolescência começava algures pelos 12 anos. As
crianças de então largavam a sua condição infantil para abraçarem com
maior ou menor entusiasmo essa nova fase sem direito a pré. Hoje vem da
boca dos próprios a assunção da nova condição: a adolescência só começa
aos 15, antes dá-se o tal preâmbulo.
Não entrando em questões do desenvolvimento cognitivo e emocional,
é um facto que os especialistas dão como mais tardia esta fase que antes ape-
nas consistia num intervalo entre a infância e a juventude. Provavelmente
as causas são diversas e imbricadas, como sempre acontece nas dinâmicas
socio-culturais e bioquímicas. Inegável é contudo a infantilização de muitos
comportamentos e a expansão de um estado anterior ao da idade adulta,
com tudo o que isso acarreta do ponto de vista da autonomia e da responsa-
bilidade individual. Pode dizer-se que esta nova baliza intermédia vem legi-
timar ainda mais esse prolongamento mas há evidências acerca de padrões
de comportamento próprio que se adquirem e intensificam entre os 10, 11
anos e os 14 e se esbatem a partir dos 15.
No que concerne à leitura, o contexto é dinâmico e obedece a padrões:
tendências antigas foram recuperadas e convivem com novas propostas. O
marketing revela-se uma arma poderosíssima e muitas vezes perigosa. E ainda
não há soluções milagrosas para levar os pré-adolescentes a ler. Pode mudar a
designação, mas a idade da não leitura mantém-se a mesma. E novidades?
É inegável a expan-
são de um estado
anterior ao da idade
adulta, com tudo o
que acarreta na au-
tonomia e responsa-
sabilidade individual.
As modas
Modas há muitas. Uma delas é o ressurgimento de coleções antigas,
como O Colégio das Quatro Torres, As Gémeas, ambos de Enid Blyton
ou ainda Patrícia de Julie Campbell, todas da responsabilidade da Oficina
do Livro, ainda pela mão da ex-editora Rosário Alçada Araújo que também
apostou na reedição de algumas obras da Condessa de Ségur. O sucesso não
seria óbvio, não fora pela memória afetiva das adultas de referência, mães,
tias, professoras, que logo se reconfortaram com as boas recordações da sua
própria infância e se apressaram a disponibilizar os livros à descendência. É
por isso comum encontrar raparigas entre os oito e os doze anos que leem
estas coleções e sonham em frequentar colégios internos com as amigas ou
em partilhar aventuras em grupo.
Em oposição à tradição chegam a uma velocidade difícil de acompa-
nhar sagas e mais sagas diarísticas de anti-heróis que sofrem as agruras da
pressão do grupo. A moda já tem mais de uma década e nasceu com O Diá-
rio de um Banana, de Jeff Kinney, ainda pela Vogais & Cª. antes da criação
do grupo editorial 20|20. É aliás maioritariamente da chancela Booksmile,
que pertence ao grupo, que chegam diversos títulos do mesmo género ao
mercado. Escola, Eu cómico e Jacky Ha-Ha, de James Paterson ou Rita
Risca Rabisca (Knife & Packer) são outras coleções que se juntam a Tom
Gates (Liz Pichon). No entanto, continua a ser O Diário de um Banana
a coleção mais vendida. A par desta, Diário de uma Tótó (Rachel Renée
Russell) editado pela Gailivro será o correspondente feminino com mais su-
cesso. O que há de mais relevante nesta fórmula é que se operou ao longo
da década uma mudança ao nível da receção. Se quando apareceu O Diário
de um Banana este era lido sobretudo por pré-adolescentes entre os 12 e
os 14 anos, é hoje muito comum encontrar a maioria dos seus leitores entre
o público infantil, a partir dos 8 anos. Ao contrário do que acontecia e acon-
tece com grande parte dos clássicos literários juvenis que são lidos cada vez
mais tarde, por ausência de interesse ou dificuldades de competência leitora,
esta fórmula que inclui a narrativa textual e visual e o humor do quotidiano
é de imediata compreensão pelos mais novos, que se revêm e facilmente ace-
dem ao humor produzido por trocadilhos, comentários e situações. Outro
caso de sucesso é o de David Walliams, editado pela Porto Editora. O autor
britânico, originalmente ator de comédia, garante personagens próximas do
grotesco a par de outras, normalmente crianças, absolutamente insuportá-
veis, provocando grande entusiasmo junto dos mais novos graças às situa-
ções criadas e às estratégias narrativas que utiliza. O ritmo, a ilustração e a
composição de personagens e cenários imprevisíveis combinam na perfeição
e alimentam avidamente muitos leitores.
Não quer isto dizer que aos 12 ou aos 13 anos ninguém leia este tipo de
livros, haverá sempre quem aceda mais tarde, mas a moda migrou e isso não
é por acaso. Esta fragmentação, o apelo da imagem e a piada, muitas vezes
mais evidente do que seria desejável, fazem já parte do quotidiano da gera-
ção de crianças que já nasceu com o youtube. Neste contexto, se há infanti-
lização de comportamentos e desresponsabilização dos pré-adolescentes e
adolescentes no que respeita às suas tarefas e autonomias, há um acesso cada
vez mais precoce às ferramentas que ditam conversas e partilhas.
o apelo da imagem
e a piada , m u i ta s
vezes mais evidente
do que seria desejá-
vel, fazem parte da
geração que já nas-
ceu com o youtube.
Nada é novo, tem apenas outra roupagem, mais produção, mais comu-
nicação para cumprir os desejos do seu público, mais oferta e mais velocida-
de. Desde sempre os diários foram apreciados pelos mais novos mas é certo
que hoje O Diário Secreto de Adrian Mole soa desadequado a pré-ado-
lescentes que não entendem o humor ácido do protagonista que vive num
contexto social desfavorecido, combate o capitalismo de Margaret Tatcher
(quem é mesmo essa tal dama de ferro?) ou tem, avant la lettre, preocupa-
ções ambientais. Todavia não podemos considerar que quem acompanhou
as frustrações e ilusões de Adrian dispusesse de todos estes dados. É eviden-
te que estas obras não foram nunca uma moda e que apenas eram lidas por
quem conseguia pôr as suas competências de leitura ao serviço de múltiplas
inferências e pelo menos intuía que não era problemático não perceber um
ou outro comentário para disfrutar da leitura.
O drama acentuou-se como preferência. Desengane-se quem considera
que é um nicho feminino. Assim começou e muito pela descoberta da leitura
por mulheres que encontraram em Nicholas Sparks e Nora Roberts uma iden-
tificação que partilharam com as filhas. Hoje esses autores já não constam da
primeira linha de preferências das pré-adolescentes, tendo sido sustituídos por
A Culpa é das Estrelas e À procura de Alaska, de John Green, ou por Se
eu ficar, de Gayle Forman. Conscientes deste filão, as editoras começaram a
apostar noutros títulos que correspondem a experiências traumáticas relacio-
nadas com a doença, a morte, o abandono, a violência ou a discriminação. A
par da Presença, a editora com o maior e melhor catálogo juvenil, a Nuvem de
Tinta, chancela da Alfaguara em Portugal, tem vindo a dar cartas. A Rapariga
que sabia demais, de M. R. Carey, é um bom exemplo. Basta fazer a expe-
riência de introduzir o título num motor de busca e logo aparece uma lista de
referências que inclui blogues e opiniões no Goodreads. O Quarto de Jack,
de Emma Donoghue, é outro exemplo, desta feita editado pela Porto Editora
que se vai sempre mantendo atenta aos êxitos internacionais e edita estes títu-
los não na coleção juvenil mas na coleção de literatura. Basta percorrer o site
da editora para confirmar que apenas um título deste género, O Coração de
Simon contra o mundo, consta dos dois catálogos. Depreende-se então que
a estratégia comercial da Porto Editora não é a de distinguir destinatários e
sim miscigenizá-los como estratégia de contaminação. O mesmo não acontece
com o maior sucesso juvenil da Porto, a coleção Cherub. Essa tem o seu lugar
bem definido já que o seu público, o que deseja ação e mistério mas ainda não
está preparado para contextos políticos complexos, não quer ver os seus elei-
tos ao alcance dos adultos. No entanto, os thrillers de Jeff Abbott, que podem
preencher o desejo de ação a estes pré-adolescentes quando crescerem mais
um pouco e deixarem de se sentir identificados com as lógicas da Cherub, já
integram o catálogo de literatura geral.
os pré-adolescen-
tes e os adolescen-
tes são vítimas, como
todos os utilizado-
res, de algoritmos
que estudam as
suas preferências.
não são de hoje os argumentos que defendem os livros em relação aos filmes,
justificando que nos primeiros o leitor tem mais informação e pode imagi-
nar espaços e personagens a seu bel prazer. O que acontece atualmente é que
a transposição entre formatos é mais acelerada e o acesso mais geral. Quer
A Rapariga que sabia demais, quer O Quarto de Jack têm adaptações
ao cinema. Isso, contudo, deixou de ser uma ameaça para os editores que
usam os trailers, entrevistas de atores e testemunhos dos próprios autores
para promover os livros. Quem não gosta de ler vai sempre preferir os filmes
e as séries. Mas a circulação das opiniões faz a moda e instala a curiosidade.
O acesso em diferentes formatos leva a que também os livros estejam mais
próximos dos pré-adolescentes.
Leituras paralelas
É falso afirmar que os pré-adolescentes leem menos do que antigamen-
te. Em primeiro lugar porque antigamente é demasiado vago para se conse-
guir uma comparação, em segundo porque os pré-adolescentes leem noutras
plataformas e outras tipologias de texto desvalorizadas e desconhecidas pelos
adultos. Tutoriais, instruções e comentários em fóruns temáticos são algu-
mas delas. Os jogos alimentam curiosidade, necessidade de aperfeiçoamento
e até desejo de aprofundar conhecimentos ao nível da programação. Muitos
dos que afirmam não ler quando questionados não têm em consideração
este tipo de leitura. Mais uma vez, tal comportamento não é novo. O mesmo
já vem acontecendo há muito tempo com a banda-desenhada, embora se
sinta menos o preconceito com a sua progressiva integração nos programas
de português e uma lenta e discreta valorização nos orgãos de comunicação
social. O que se passa com estas plataformas e tipologias é digno de refle-
xão. Por um lado, não interessam a quem não joga e por outro não têm uma
linguagem acessível a esse público, o que em muito dificulta o domínio por
parte de educadores e mediadores adultos. Todavia, a competência de leitu-
ra instrutiva e o léxico específico constituem ferramentas que poderão vir a
ser preciosas num futuro que se prevê altamente dependente de softwares e
códigos de programação que vão do mais básico ao mais complexo.
O papel do livro, porém, mantém uma legitimação científica relativa-
mente a este universo, tanto quanto uma oportunidade de mercado para
as editoras. Assim, não faltam livros associados a jogos populares como o
Clash Royale que tem pelo menos três guias não oficiais, um editado origi-
nalmente no Brasil, outro em Espanha e outro no Reino Unido. Assassin's
Creed é um dos jogos com maior aceitação junto da crítica e do público. O
primeiro jogo saiu em 2007 e uma década depois continuam a criar-se novos
jogos para a série na ordem de um por ano. Reúne fantasia, mitologia, ficção
histórica, personagens fictícias e outras reais. Não chega a ser um mundo
paralelo como o de Tolkien mas concentra muita informação que se explora
não apenas numa outra série de jogos como em banda-desenhada, filmes e
vários romances que acompanham as épocas principais em que decorrem
os jogos. A saga é complementar ao jogo, podendo ser lida por quem gosta
Q u e m n ã o l ê s ofre
de falta de referên-
cias e de um fraco
domínio da língua,
quer a nível semân-
tico e lexical, quer
a nível estrutural.
se não é proporcionado ao pré-adolescente e anteriormente à criança um
ambiente que incentive a curiosidade e a constante leitura do mundo, não
terá ele as ditas referências que o ajudarão a ultrapassar as dificuldades que a
literatura sempre apresenta. Quando muitos não leitores pré-adolescentes e
adolescentes afirmam jocosamente que só leem legendas, isso é atualmente
mais perigoso do que parece. Basta ler os rodapés dos canais de informa-
ção para deparar com múltiplos erros ortográficos e até de concordância. A
acrescentar a isto, muita legendagem de séries e filmes chega do Brasil com
marcas gramaticais distintas. O cuidado com a língua no texto que se expõe,
nomeadamente no que à comunicação social diz respeito, é imperativo. Por-
que, ao contrário do que pensam esses pseudo-rebeldes quando o afirmam,
a ler legendas e rodapés podem ler muito sobre o mundo.
A falta de vocabulário, a dificuldade em distinguir o literal do figurado
e a velocidade fragmentada dos hábitos sociais e de comunicação são hoje
factos consumados que dificultam o hábito de ler literatura. Contudo, tam-
bém há pré-adolescentes que assumem não gostar de ler mas que gostam que
lhes leiam. É um caminho, incompleto mas melhor do que nada. Neste pre-
sente sempre em mudança é importante aproveitar o que as modas, na sua
efemeridade, podem ter de bom. E mediar, oferecendo mais possibilidades.
and the winner is...
Fevereiro é mês de anúncio dos mais importantes prémios americanos de-
dicados ao livro infantil e juvenil nos E.U.A. As categorias são diversas e para
além dos vencedores há ainda um conjunto de menções honrosas. O anún-
cio aconteceu no encontro da American Library Association no passado dia
14, em Denver. De todos os prémios, os mais antigos e importantes destacam
o melhor livro pelo texto e o melhor álbum pela ilustração.
64
Newbery Medal
Hello, Universe, Erin Entrada Kelly, Greenwillow Books
Destinado ao público pré-adolescente, esta narrativa reúne quatro persona-
gens numa transformação de relacionamento. O buller, a mística, a surda e o
inseguro representam diferentes perfis e a sua interacção pretende mudar e
melhorar a sua relação com o mundo.
Matthew Cordell
Caldecott Medal
Wolf in the snow, Matthew Cordell, Feiwel and Friends
O álbum acompanha o caminho trilhado por uma capuchinho vermelha na
tentativa de proteger um lobo. Partindo do referente imediatamente identifi-
cável (uma menina vestida com um casaco vermelho com capuz e um lobo)
o autor tece uma aventura que provoca sucessivas provas à menina.
espelho meu
AND R E I A BR I T E S
66
-brancas, cascavéis, pica-paus, são outros dos oitenta animais de que o índice final
dá conta.
O texto, por seu turno, quer-se sempre breve e coloquial, podendo relacionar
o animal com histórias tradicionais, como acontece com o lobo, ou destacando
características e comportamentos mais inusitados mas sempre a propósito como
por exemplo no caso dos patolas azuis em que a fêmea escolhe o macho pela vi-
vacidade do tom das suas patas. Outro caso é o da alimentação da raposa que não
se limita à caça que por si só já se revela de pequeno porte. O facto desta também
comer insetos e bagas condiz com muitas descrições das narrativas onde o animal
tem protagonismo. O equilíbrio entre a informação mais geral e o pormenor que
merece destaque leva o texto para um caminho menos comum contrariando o
léxico científico e a objetividade enciclopédica. O que fica por dizer não se pode
assim exigir. Ao leitor mais curioso fica-lhe o desejo de mais.
O livro não tem qualquer pretensão que ultrapasse o âmbito da relação esté-
tica-comunicativa. Contudo cumpre a sua intenção com a subtileza suficiente que
faz parecer o equilíbrio natural e espontâneo. Por isso é um álbum.
6767
Como reagir a uma narrativa que se lê como o
O MUNDO seu contrário? Entre redundâncias, ecos e pontuação
É REDONDO diminuta há uma menina que pensa e sente coisas inu-
Gertrude Stein sitadas acerca do mundo. Gertrude Stein criou assim
ilustrações de o universo de Rosa, impondo ao leitor o absurdo que
Rachel Caiano
Ponto de Fuga chega sem mediação. A escrita automática revela-se
no texto e pelo texto, obrigando a um constante exer-
cício de recuperação dos elementos que podem, ape-
sar disso, associar-se numa lógica narrativa.
Assim, e a espaços, acompanham-se as angústias
de Rosa, a menina que questiona o nome e a identida-
de, que tem um cão chamado Love e um primo cha-
mado Willie, que vai à escola que fica nas montanhas
e rejeita um leão chamado Billie.
O árduo desafio de subir à montanha e se sentar
numa cadeira no topo acentua o jogo de impossibili-
dades e inversosimilhanças. Por outro lado, cada episódio parece aproximar-se
de uma parábola que nunca se efetiva. Até onde consegue o leitor afastar-se
dos eixos que regulam o discurso? Até onde aceita o pacto contra causalidades
e limites? Se o faz, entra num lugar de ritmos, sonoridades, imagens poéticas e
silogismos filosóficos. Rosa canta e chora. As suas canções seguem o estilo mas,
por serem canções, apresentam-se como composições poéticas e como pausas
no esforço de descodificação. Se há experiência de estranhamento, é esta. Pre-
cisamente por isso, deve ser proporcionada. Porque neste livro tempo, espaço e
razão perdem todas as referências que guiam o leitor e oferecem-lhe a universa-
lidade e intemporalidade por excelência do mundo pensado e sentido em plena
liberdade. Provavelmente porque é redondo e nele tudo rola em movimento
perpétuo. O que significa Rosa é uma rosa é uma rosa não é óbvio, pode até não
ser nada para alguns. É apenas esse movimento das coisas e das palavras nesse
lugar onde se encontram, se justapõem e confundem. A desarmonia desarma
mas o ritmo mantém o texto sempre vivo.
Rachel Caiano cumpre, com as suas ilustrações, as designações de Stein
que, desde a primeira edição do livro exigiu páginas de fundo rosa e tipografia
azul. Nesse sentido cada figura é traçada a azul e branco, iluminando um objeto
do seu discurso, seja o relógio pelo tempo ou a cadeira que a protagonista trans-
porta ao longo desse percurso que poderia ser uma viagem iniciática. A escolha
das cores respeita Rosa, a menina que tanto repete o seu nome, e a sua cor pre-
ferida, o azul. Rosa e azul dialogam no grafismo como no texto.
Depois da tradução portuguesa, que ocupa a primeira parte do volume,
um interfácio do editor explica a importância da autora e deste texto, seguindo
a versão inglesa. Oitenta anos passados sobre a primeira edição de O Mundo
é redondo, a tradução portuguesa de Luísa Costa Gomes devolve aos leitores
de português a oportunidade de experienciarem este clássico vanguardista, em
nada menor do que a restante obra da escritora americana.
ex i st i u
para fer-
josé saramago
nando
pessoa
uma ver-
saramaguiana
70
dade? 70
71
p essoa
A Casa
José Saramago
Aberta de segunda a sábado, das 10 às 14h. Última visita às 13h30.
Abierto de lunes a sábado de 10 a 14h. Última visita a las 13h30 h.
Open from monday to saturday, from 10 am to 14 pm.
Last entrance at 13.30 pm.
ATÉ
25
FEV
O Grande Dia da Batalha
Como viver quando o abismo da precariedade, da miséria e da
desgraça cada dia mais se abre debaixo dos nossos pés, neste
agónico capitalismo em que nos afundamos? Espectáculo de Jorge
Silva Melo a partir de Máximo Gorki. Lisboa, Teatro Nacional D. Maria II.
79
feve re i ro
ATÉ
31
MAR
Cinzas
Exposição de fotografias de Miguel Vale de Figueiredo onde as imagens
a preto e branco compõem um olhar sobre o território afectado pelos
incêndios de Outubro passado. A venda das fotografias é, também, um
modo de ajudar quem tanto perdeu nestes incêndios. Tondela, ACERT.
ATÉ
02
ABR
Joana Biarnés. A Contracorriente
Exposição que reúne imagens recolhidas pela fotojornalista catalã entre
as décadas de 60 e 70 do século passado. Barcelona, Palau Robert.
ATÉ
06
ABR
A Instauração do Moderno
Percurso pelo acervo do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo,
procurando pistas para compreender o processo de instauração da
arte moderna no Brasil, ao longo do século XX. São Paulo, Museu de Arte
Contemporânea.
feve re i ro
ATÉ
16
ABR
Um Grande Comício Sem Palavras
Setenta anos depois da II Exposição Geral de Artes Plásticas, a Casa da
Achada apresenta alguns dos quadros ali apreendidos pela PIDE, por
serem considerados anti-nacionais e subversivos. Lisboa, Casa da Achada
– Centro Mário Dionísio.
ATÉ
16
MAI
Picasso y el Museo
Uma exposição que aborda a obra de Pablo Picasso a partir da influência
que as visitas a museus – actividade a que o artista se dedicou desde os
13 anos – sobre ela exerceram. Madrid, Circulo de Bellas Artes.
feve re i ro
25
FEV
Converxencias
Concerto que reúne a Banda Municipal de Música de Santiago de
Compostela, o grupo português Canto D'aqui e a cantora galega
Uxía Senlle. Santiago de Compostela, Teatro Principal.
07
A
Óscar
Espectáculo de João Paulo
25
muitas latitudes, nomeadamente dos países de língua portuguesa e
da China. Macau, Edifício do Antigo Tribunal.
MAR
Ai como é diferente o carnaval em Portugal. Lá
nas terras de além e de Cabral, onde canta o
sabiá e brilha o Cruzeiro do Sul, sob aquele céu
glorioso, e calor, e se o céu turvou, ao menos
o calor não falta, desfilam os blocos dançando
avenida abaixo, com vidrilhos que parecem
diamantes, lantejoilas que fulgem como pedras
preciosas, panos que talvez não sejam sedas e
cetins mas cobrem e descobrem os corpos como
se o fossem, nas cabeças ondeiam plumas e
penas, araras, aves-do-paraíso, galos silvestres,
e o samba, o samba terramoto da alma, até
Ricardo Reis, sóbrio homem, muitas vezes sentiu
moverem-se dentro de si os refreados tumultos
dionisíacos, só por medo do seu corpo se não
lançava no turbilhão, saber como estas coisas
começam, ainda podemos, mas não como irão
acabar.
José Saramago