Livro Dispersões Com Créditos
Livro Dispersões Com Créditos
Livro Dispersões Com Créditos
Organizadores
Manoela Afonso Rodrigues
Cleomar Rocha
Dispersões | 2020 1
Dispersões
Organizadores
Manoela Afonso Rodrigues
Cleomar Rocha
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM ARTE E CULTURA VISUAL – PPGACV/FAV
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM
PERFORMANCES CULTURAIS - PPGIPC/FCS
MEDIA LAB/UFG
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS/UFG
GOIÂNIA, GO
2021
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)
ISBN 978-65-995244-1-7
21-68601 CDD-700
Dispersões | 2020 5
De outro lado, o devir, enquanto dispersão, evidencia esse adensa-
mento, matriz de implicações e imbricações de brasilidades, no reconhe-
cimento das emergências na expressão artística visual, em seus vários en-
foques e abordagens. A construção desse pensamento amplo, indicial em
paragens não necessariamente novas, mas sempre renovadas, conduziu
nossos pesquisadores a reflexões inéditas, aqui apresentadas na forma de
artigos e resumos. Vinte artigos e oito resumos expandidos, dentre os me-
lhores avaliados pelos respectivos Comitês formadores da Anpap, nos dão
os horizontes do pensamento e da pesquisa nas artes visuais no Brasil.
No Comitê de Curadoria, as reflexões se articulam a partir das histórias
das exposições, dos projetos curatoriais e das mediações, apontando para
conexões entre o local e seus espalhamentos tanto em termos territoriais, in-
terseccionais, quanto no que tange às relações transdisciplinares entre arte,
ciência e tecnologia na contemporaneidade. No Comitê de Educação em
Artes Visuais ficam evidentes as dispersões no componente curricular Arte, a
produção de materiais de auxílio à aprendizagem crítica na área, bem como
a relevância das narrativas de vida na formação docente e das micronarrati-
vas ligadas à educação presentes em sites e redes sociais hoje. Já os textos
selecionados pelo Comitê de Teoria, História e Crítica da Arte apontam para
nomadismos, deslocamentos transatlânticos, tecno-imagens, a fotografia
e o cinema, o Atlas Mnemosyne e o pensamento que se dá pelas imagens
em conexão e dispersão, nas idas - e vindas - do corpo ao mundo. Os textos
do Comitê de Preservação, Conservação e Restauro ressaltam os desafios a
serem enfrentados nas passagens da materialidade da arte ao arquivo digi-
tal, sinalizando também a presença da colonialidade nas estratégias políti-
cas que desarticulam a vida cultural de determinados locais. Finalmente, o
Comitê de Poéticas Artísticas discute as desapropriações, o espaço público,
as tecnologias, materialidades e sensorialidades, apontando para entrelaça-
mentos do aqui e do agora, do sonho e da vigília, em conexão com a imagi-
nação que busca vislumbrar tantos outros futuros possíveis.
Dispersões | 2020 6
Mais que apresentar caminhos para a cena da pesquisa em arte, os tex-
tos dão mostras da profícua e relevante inquietação que nos move, espectro
que funda o desejo da pesquisa e aponta os caminhos para levá-la a cabo.
Em um ano tão conturbado quanto o de 2020, realizar o primeiro
Encontro Nacional da Anpap remotamente foi um desafio somente su-
perado pelo engajamento de nossos membros associados. E se tomamos
o universo com suas estrelas como padrão gráfico, foi na dispersão dos
lugares em que estávamos, ao longo do congresso, nas várias partes do
Brasil e em alguns outros pontos do planeta, que nos vimos uma vez mais
unidos, em um congraçamento que marca nossa história, nossos percur-
sos. Dispersos territorialmente, fomos uno, dando exemplo de como su-
peramos obstáculos e ajustamentos de fusos horários, mesmo em tem-
pos de pandemia.
Mesmo dispersos, nossas origens nos acompanham e criamos cons-
telações1. Boa leitura.
1 Relembramos os amigos anpapianos que foram brilhar nas estrelas. Neste livro, registra-
mos a presença e as saudades do associado Carlos Cabral, que nos deixou em 19 de janeiro
de 2021.
Dispersões | 2020 7
Sumário
Comitê Curadoria
IDENTIDADE E MEMÓRIA:
TRAJETOS DE FORMAÇÃO.......................................................................................103
Auvaneide Ferreira de Carvalho / Maria Betânia e Silva
Comitê
Curadoria
UMA EXPOSIÇÃO DE MANUEL
DE ARAÚJO PORTO-ALEGRE
Paulo Gomes
Dispersões | 2020 14
aspectos históricos e biográficos sobre Manuel de Araújo Porto-Alegre
(Rio Pardo, RS 1806 – Lisboa, Portugal, 1879), o Barão de Santo Ângelo,
destacando sua visibilidade local em textos, exposições e em alguns tra-
ços de sua biografia. Destacamos o processo curatorial, desde a definição
do tema até sua realização enquanto exposição, tratando da localização
das obras e seu conhecimento e, finalmente, enfatizamos alguns aspectos
pontuais surgidos durante a curadoria no trato com as obras, analisando
algumas delas à luz das pesquisas desenvolvidas no intuito de promover
um registro preciso de seus significados e funções finais.
Sobre o Barão
Dispersões | 2020 15
Apesar das condições precárias do campo artístico local, mesmo as-
sim, sua incipiente formação em Porto Alegre o habilitou para frequentar
a Academia Imperial de Belas Artes, onde entrou, em 1827, como aluno
de Grandjean de Montigny (1776–1850), João Joaquim Alves de Sousa
Alão (1777–1837) e Jean-Baptiste Debret (1768–1848). Sua importância
no desenvolvimento das artes plásticas e da literatura no Brasil Imperial
é inquestionável. Intelectual de primeiríssima linha, um homem de mil
instrumentos ou o “homem tudo”, como definiu o historiador Max Fleiuss
com precisão absoluta essa personalidade multiforme. Sua participação
na construção da identidade artística e cultural do Brasil Imperial é notá-
vel, pois seu talento se dividiu em mil atividades, o que levou a uma ava-
liação superficial de sua contribuição. Certamente um julgamento injusto,
não pela evidência da multiplicidade de atividades e da relativa eficiência
lograda em parte considerável delas, mas, principalmente, por que esse
julgamento não leva em consideração o contexto cultural no qual ele
atuou. Sua personalidade multiforme e inquieta, assim como os inúmeros
compromissos assumidos nas mais variadas instâncias, não permitiria a
ele especializar-se. Daí a ampliação quase improvável de atividades, sain-
do inclusive da área cultural e artística, expandindo-se na arquitetura, na
política e na diplomacia.
O Barão de Santo Ângelo viveu em um momento vital da formação
do Brasil, o da construção de sua identidade nacional após a Proclamação
da Independência. Atuando em um período politicamente conturbado,
que se estendeu por todo o segundo Império, marcado por dissidências
políticas em inúmeras províncias, pela escravidão que manchava a re-
putação do país e pela Guerra do Paraguai. Porto-Alegre agiu com seus
meios para superar as dificuldades de constituir uma identidade cultu-
ral que ficasse infensa aos problemas vigentes e fosse, ao mesmo tempo,
de aceitação pacífica por todos. A par disso, havia a incipiente tradição
artística local, marcada pela riquíssima produção colonial — ainda não
Dispersões | 2020 16
conhecida e parcialmente desconsiderada — e a necessidade de cons-
tituir um corpus de obras que fosse compatível com as necessidades e
ambições nacionais. Um momento crucial e difícil, certamente, mas esti-
mulante e desafiador. Alinhado em propósitos com o romancista José de
Alencar (1829–1877), com o historiador Francisco de Adolfo de Varnha-
gen (1816–1878), com o compositor Antônio Carlos Gomes (1836–1896)
e, não esquecendo, com a figura ímpar de D. Pedro II, o imperador intelec-
tual que o apoiou, ele avulta, como um empreendedor afoito e arrojado e
um intelectual de visão ampla e generosa.
A curadoria e a exposição
Dispersões | 2020 17
A partir de elaboração de um memorial e de um plano de trabalho, a Co-
ordenação de Artes Plásticas da Secretaria Municipal de Cultura de Porto
Alegre passou a administrar o projeto, fazendo os contatos necessários
e gerenciando os trâmites para a realização da mostra. A ideia era a de
celebrar a data e, ao mesmo tempo, possibilitar ao público local a opor-
tunidade de ver, ou rever, essas obras inacessíveis, na sua maioria, desde
1996–1997, ocasião da última exposição de vulto sobre o artista.
Sobre essa inacessibilidade, é importante destacar que não foram
muitas as mostras individuais dedicadas ao artista entre nós. Sendo a
maior parte delas ligadas às efemérides, a mais remota ocorreu em 1956,
por ocasião das comemorações do sesquicentenário de seu nascimento,
evento organizado pela Divisão de Cultura da Secretaria da Educação
de Porto Alegre. Em 1979, o Instituto de Artes da UFRGS, por ocasião do
centenário de morte do artista, dentro da extensa programação, incluiu
uma exposição no Museu Júlio de Castilhos. Somente em 1996, 16 anos
depois, ocorreu essa exposição4. Essa foi uma mostra ampla e generosa,
incluindo toda a produção do artista disponível no Museu, obras em co-
modato do MARGS, fotografias, objetos relativos ao seu tempo do acervo
da instituição, obras de artistas correlatos e, ainda, originais e impressos
de sua autoria, vindos da Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul, da Bi-
blioteca da UFRGS, do Museu Hipólito José da Costa e da Biblioteca Rio-
-Grandense (Rio Grande).
A produção mostrada nesta exposição é oriunda exclusivamente
de acervos locais. É um conjunto reduzido, mas expressivo, pois mesmo
não contando com pinturas de porte e faltando suas caricaturas, a co-
leção, chamemos assim, permite delinear um perfil bastante preciso das
atividades artísticas do Barão. A coleção do Museu Júlio de Castilhos é
expressiva em numerosa em obras (31) e muito rica em desdobramen-
tos: as três pinturas e os 28 desenhos têm um espectro temático amplo.
Dispersões | 2020 18
Juntamos a esse conjunto, quatro trabalhos oriundos da mesma coleção
(que estão em comodato no MARGS), um retrato pertencente a coleção
da Fundacred e uma pintura da coleção da Cúria Metropolitana. Das co-
leções privadas não temos notícias, e contamos apenas com uma obra de
um amador local.
A curadoria da exposição, mais do que uma tarefa de localização e
identificação, foi o trabalho de organizar do acervo disponível com vistas à
sua exibição. O inventário do Museu Júlio de Castilhos, datado de 1941, de-
tentor da maior parte da obra, inclusive proprietário formal das quatro que
hoje estão em comodato no MARGS, é um documento impreciso na descri-
ção das técnicas, na titulação das obras e na identificação de seus temas. O
mesmo se dá com a obra da Cúria Metropolitana, assim como a Pinacoteca
Fundacred. Muitos dos títulos atribuídos nos inventários são arbitrários ou
mesmo incorretos, dados observáveis após a análise cuidadosa das peças.
Para a organização da mostra procedemos a uma tentativa de clas-
sificação temática, separando o corpus em grupos: Retratos e Figuras, Pai-
sagens, Estudos de Vegetação, Estudos de Decoração, Cenografia e Teatro,
Estudos de Pinturas, Ilustração e Pintura. São categorias arbitrárias, eviden-
temente, mas preocupadas em centrar o tema das obras e entender sua
destinação final. Os grupos são de tamanho irregular, compreendendo
desde uma única obra — a folha de rosto do álbum Capanema — até
os conjuntos numerosamente expressivos, como os estudos de vegeta-
ção, que contam com seis peças. Essa classificação permitiu uma visão
orgânica da coleção, distribuída por áreas de interesse do artista, e tam-
bém estimulou uma análise pontual das peças dentro dos conjuntos, per-
mitindo um avanço na conferência de temas, títulos e destinações das
obras. Partindo dessa organização, que serviu de estrutura para a exibição
das obras, foram elaborados textos curtos para a exposição, que foram
colocados ao lado dos conjuntos, explicitando as intenções e tecendo
Dispersões | 2020 19
comentários sumários sobre as obras. Esse material compõe o catálogo
digital, produzido pela Coordenação de Artes Plásticas da Secretaria Mu-
nicipal de Cultura de Porto Alegre.
Figura 1. Ecce Homo, sem data. Óleo sobre tela, 116 x 76 cm. Coleção Arquidiocese de
Porto Alegre, RS. Foto: Alfredo Nicolaiewsky
Dispersões | 2020 20
É notável a presença da pintura intitulada Ecce Homo6 [Figura 1],
atribuída em livro e inventário ao artista e que, até onde sabemos, ha-
via sido exibida pela última vez em 1956, na exposição comemorativa do
sesquicentenário, conforme consta no catálogo do evento. No reduzido
corpus local das pinturas do Barão de Santo Ângelo em Porto Alegre, o
Ecce Homo merece um lugar de destaque, mesmo sem a certificação final
de sua autoria e ausência de documentação consistente sobre sua en-
trada no acervo da Arquidiocese de Porto Alegre (Cúria Metropolitana).
Segundo Sofia Inda (2020):
Dispersões | 2020 21
Figura 2. Descida da cruz, sem data. Aquarela sobre papel, 17 x 22 cm. Acervo Museu
Júlio de Castilhos, RS. Foto: Alfredo Nicolaiewsky
Dispersões | 2020 22
Figura 3. Estudo para painel decorativo, 1851. Aquarela sobre papel, 25 x 22 cm.
Acervo Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli. Foto: cedida pelo MARGS.
O Estudo para painel decorativo10 [Imagem 3], datado de 1851, foi clas-
sificado no grupo dos Estudos para Decoração, por entendermos que suas
características combinam mais com uma decoração alegórica parietal do
que com uma pintura autônoma (talvez, mesmo que remotamente, po-
deríamos aventar a possibilidade de ser um estudo para uma ilustração).
De temática indefinida, com duas figuras distintas — um homem velho
com toga e uma figura feminina jovem, apontando para o alto — em uma
gruta, elas têm, à esquerda do espectador, a escultura da Loba Romana
do Capitólio, com sua identificação na base. A gestualidade de ambas as
personagens indica claramente uma narrativa alegórica não identificada.
Seus elementos, apesar da relativa facilidade de identificação, dependem
Dispersões | 2020 23
ainda de uma interpretação plausível. Rafael Cardoso (2014, p. 189) aventa
a possibilidade de a figura masculina ser a imagem de algum historiador ro-
mano, talvez Suetônio, mas esclarece que “essa identificação exigiria maior
pesquisa iconográfica”.
Figura 4. Croquis para um cenário, sem data. Aquarela sobre papel, 35,5 x 44 cm.
Acervo Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli. Foto: cedida pelo MARGS.
Dispersões | 2020 24
uma decoração incoerente com o espaço. Se for, como diz o registro de
aquisição, um croqui para um cenário, qual seria a peça? Letícia Squeff
(2004, p. 96) informa que Porto-Alegre projetou cenários para duas pe-
ças de Domingos José Gonçalves de Magalhães. Em nota, ela informa,
baseada em De Paranhos Antunes, que as peças foram Antônio José, ou o
Poeta e a Inquisição (1838) e Olgiato (1389). Das duas, apenas a primeira
tem uma cena de cárcere, conforme podemos ler na rubrica indicativa:
QUINTO ATO
Dispersões | 2020 25
Figura 5. Estudo cenográfico (provável), 1851. Aquarela sobre papel, 27 x 20 cm.
Acervo Museu Júlio de Castilhos, RS. Foto: Alfredo Nicolaiewsky
Dispersões | 2020 26
Mas é impensável alguma outra explicação que não essa, visto que as re-
ferências são explícitas: o cárcere e a jovem mulher dando o seio ao ho-
mem, em atitude de tensão e receio, visto que ela segura a porta com o
olhar aflito. Não poderia ser uma cena teatral, pois seria impensável sua
apresentação em cena. Enquanto estudo para uma pintura, ou mesmo
uma ilustração, faz sentido.
Dispersões | 2020 27
um rigor que beira a rudeza. Não há efetivamente muita habilidade na
pintura, ao contrário, ela é rígida no desenho, simplista na modelagem da
aparência do retratado e de suas roupas, e o colorido não se faz destacar.
Talvez esse juízo, fundado na aparência atual da pintura, seja injusto, pois
estamos fazendo-o a partir de uma tela que, em algum momento mais
propício, deve ter tido um melhor aspecto. Efeitos talvez de uma restau-
ração pouco feliz ou de um desgaste natural, a pintura certamente não
recomenda seu autor, com a notável exceção de ser obra de um jovem
aspirante à profissão de artista, com formação ainda incipiente. Há ainda
no acervo do Museu Júlio de Castilhos um outro retrato, uma fotografia
pintada do retrato feito por Pedro Américo,14 em 1869, quando o artista
teria por volta de 50 anos.
Figura 7. CERVÁSIO, Vicente. Retrato do Barão de Santo Ângelo, c. 1929. Óleo sobre
fotografia, 50 x 60 cm. Museu Júlio de Castilhos, RS. Foto: Alfredo Nicolaiewsky
Dispersões | 2020 28
O terceiro retrato [Figura 7], uma fotografia pintada à óleo, é de auto-
ria de Vicente Cervásio15 (? – ?). É um retrato notável pela força do exibido
aqui, provavelmente, um homem com mais de 70 anos, mas com um bri-
lho intenso no olhar e uma afirmativa presença.
Conclusões
Dispersões | 2020 29
Aqui, no Rio Grande do Sul, tudo se configura como um pálido re-
flexo: somos antes operários de uma grande fábrica, eternamente em
dificuldades, trabalhando sempre no vermelho e em reduzidos recursos
humanos. Somos curadores periféricos, uma figura mista de gestor, admi-
nistrador, crítico, historiador e mediador. Desse modo, somos obrigados
a desenvolver uma multiplicidade de atividades correlatas e ações para-
lelas para chegar a um bom termo. Assim, se não logramos um retrato à
altura da importância de Manuel de Araújo Porto-Alegre, o Barão de Santo
Ângelo, tentamos minimizar a invisibilidade de sua presença entre nós, pro-
movendo uma leitura clara e objetiva de sua obra disponível e, finalmente,
propondo ao público, se não o necessário retrato, ao menos um correto perfil
do grande artista.
Notas
1 Parte integrante da pesquisa n º 38643 (UFRGS), intitulada Artistas, Historiadores da
Arte e Críticos: uma perspectiva da arte no Brasil a partir dos acervos artísticos e docu-
mentais (públicos e privados) (UFRGS), atualmente em desenvolvimento, integrante do
grupo de pesquisa de mesmo nome: CAPES nº 548038 (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogru-
po/3547353698576447).
2 Exposição realizada na Pinacoteca Aldo Locatelli, da Coordenação de Artes Plásticas da
Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre, de janeiro a março de 2020. O
projeto contou com a assessoria de curadoria de Marina Roncatto e Nina Sanmartin Alves,
e a assistência na curadoria e na pesquisa de Sofia Inda.
3 Manuel de Araújo Porto-Alegre Filho nasceu em Paris, em data não informada, mas possi-
velmente em 1867, sendo o sexto filho do casal, o único sobrevivente, visto que duas irmãs
nasceram depois, mas faleceram ainda crianças. Seu nascimento, em Paris, ocorreu quan-
do da estada do artista naquela cidade, como auxiliar na secção de Belas Artes do Brasil
na Grande Exposição Universal de Paris, antes de sua transferência definitiva para Lisboa.
Seus dados também não constam, com exceção de seu nome, na detalhada genealogia
de Porto-Alegre, intitulada “Família do Povoador”, de autoria de Paulo Xavier, publicada no
“Caderno de Artes 1”, de junho de 1980, editado pelo Instituto de Artes da UFRGS, volume
dedicado a Manuel de Araújo Porto-Alegre.
Dispersões | 2020 30
4 “A Aventura Artística de um Barão – Manuel de Araújo Porto-Alegre – Vida e Obra. De-
zembro/1996 a abril/1997”, com curadoria compartilhada entre seis profissionais, textos
de Armindo Trevisan, Francisco Riopardense de Macedo e cronologia elaborada por Lina
Bach Martins.
5 É necessário esclarecer aqui que, para uma avaliação correta da produção do artista, dis-
persa em coleções públicas e privadas, seria necessário um registro sistemático, impresso
ou mesmo digital de sua obra plástica. Nos falta um catalogue raisoné desta, com exceção,
em parte, da caricatura. As poucas obras visíveis não são suficientes para julgá-lo com isen-
ção, e as existentes indicam um pintor tecnicamente dotado, mas pouco inventivo (visto
que seus temas e tratamentos não vão muito além do padrão da época) e reduzidamente
dedicado ao ofício da pintura (são poucas as obras e algumas delas estão inacabadas). Por
isso, seria injusto julgá-lo com base no pouco que temos.
6 Ecce homo, sem data. Óleo sobre tela, 116 x 76 cm. Coleção da Arquidiocese de Porto
Alegre (RS). No verso da pintura, consta um carimbo indicando que a tela foi produzida
em Paris.
7 Floresta brasileira, 1853. Sépia sobre papel, 62,2 x 87,3 cm. Museu Nacional de Belas Artes (RJ).
8 Descida da cruz, sem data. Aquarela sobre papel, 17 x 22 cm. Museu Júlio de Castilhos
(Porto Alegre, RS). Nº de registro: 1861.
9 No inventário do Museu Julio de Castilho está registrado como aquarela quando, na ver-
dade, é uma aguada de nanquim. Mantivemos nas legendas os mesmos dados do referido
inventário.
10 Estudo para painel decorativo, 1851. Aquarela sobre papel, 25 x 22 cm. Acervo MAR-
GS (transferência do Museu Júlio de Castilhos). A obra, bastante divulgada, foi exposta na
mostra “A Aventura Artística de um Barão – Manoel de Araújo Porto-Alegre – Vida e Obra”
(Museu Júlio de Castilhos, dezembro de 1996 a abril de 1997) e está reproduzida no catálo-
go da mostra. Também foi apresentada, e está reproduzida no catálogo, da mostra “Araújo
Porto-Alegre: Singular & Plural” (Instituto Moreira Salles, 2014, p.191).
11 Croquis para um cenário, sem data. Aquarela sobre papel, 35,5 x 44 cm. Acervo MARGS
(transferência do Museu Júlio de Castilhos, Nº de registro: 1852). A obra foi exposta em: “A
Aventura Artística de um Barão – Manoel de Araújo Porto-Alegre – Vida e Obra”. Museu Júlio
de Castilhos, dezembro de 1996 a abril de 1997 e “Araújo Porto-Alegre: Singular & Plural”
(Instituto Moreira Salles, 2014, p.178).
12 Estudo cenográfico (provável), 1851. Aquarela sobre papel, 27 x 20 cm. Museu Júlio de
Castilhos (Porto Alegre, RS), Nº de registro: 1859. Exibida em “A Aventura Artística de um
Barão – Manoel de Araújo Porto-Alegre – Vida e Obra” (Museu Júlio de Castilhos, dezembro
de 1996 a abril de 1997).
Dispersões | 2020 31
13 Autorretrato, de Manuel de Araújo Porto-Alegre, 1823. Óleo sobre painel (provavel-
mente tela colada sobre painel), 29 x 23 cm. Museu Júlio de Castilhos (Porto Alegre, RS), Nº
de registro: 1879.
14 Trata-se do Retrato do Barão de Santo Ângelo, sem data. Cópia (óleo sobre fotografia),
medindo 93 x 78 cm, de autor desconhecido, a partir do original de Pedro Américo de
Figueiredo e Melo (Acervo do Museu D. João VI, EBA/UFRJ). A obra é bem conhecida pelos
gaúchos, tendo sido reproduzida, sem a moldura oval, na capa do “Caderno de Artes 1”
(Instituto de Artes da UFRGS, junho de 1980) e no interior (publicação não paginada). O
retrato original foi pintado por Pedro Américo, em 1869, ano de seu casamento com Carlota
de Araújo Porto-Alegre (1844–1918), segunda filha de Porto-Alegre.
15 CERVÁSIO, Vicente. Retrato do Barão de Santo Ângelo, c. 1929. Óleo sobre fotografia,
50 x 60 cm. Museu Júlio de Castilhos (Porto Alegre, RS), Nº de tombo: 54/32. A obra foi ex-
posta em “A Aventura Artística de um Barão – Manoel de Araújo Porto-Alegre – Vida e Obra”
(Museu Júlio de Castilhos, dezembro de 1996 a abril de 1997) e está reproduzida duas vezes
no “Caderno de Artes 1” (Instituto de Artes da UFRGS, junho de 1980, não paginado). A
pintura de retratos a partir de fotografias era uma prática recorrente no final do século XIX
e primeiras décadas do século XX e este, de Cervásio, é oriundo do famoso Atelier Calegari.
16 Vista geral da exposição O Barão no Paço (Pinacoteca Aldo Locatelli, Paço Municipal de
Porto Alegre, janeiro de 2020). Foto de Alex Rocha.
Referências
Dispersões | 2020 32
GOMES, Paulo. O Barão no Paço: Obras de Manuel de Araújo Porto-Alegre em
coleções locais” (catálogo digital). Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura/
Coordenação de Artes Plásticas/Pinacoteca Aldo Locatelli, 2020 (no prelo).
INDA, Sofia. “Notas sobre a tela Ecce Homo”. Porto Alegre, 2019. (pesquisa
efetuada para a curadoria).
Dispersões | 2020 33
“INVERSA PERSPECTIVA”:
SOBRE A POÉTICA ARQUITETÔNICA DE
WELLINGTON DE MEDEIROS
Dispersões | 2020 34
sistemas estabelecidos, podem servir para reforçar o discurso hegemônico,
como também, pode ser palco de revoluções culturais emblemáticas. As
exposições podem servir para a construção de narrativas históricas, inter-
ferindo nas concepções patrimoniais, nos rumos do mercado de arte, na
definição e manutenção das memórias de um país ou região, no legado
que ficará registrado na história da arte.
Um dos temas mais discutidos e abordados no campo da história
da arte e da museologia contemporâneas tem sido o campo da história
das exposições. Sua estruturação como área de conhecimento forçou a
revisão crítica das práticas expográficas, museológicas, historiográficas,
patrimoniais e das políticas da promoção da arte em todo o mundo.
Na década de 1990, a Editora Inglesa Afterall, fundada em 1998, por
Charles Esche e Mark Lewis, na Central Saint Martins, da University of Arts
London, iniciou a publicação da série "Exhibition Historie”1 (História das
Exposições), estabelecendo a primeira metodologia para pesquisa em um
novo campo de conhecimento, ligado à história da arte.
A coleção "Histórias das Exposições” lançada inicialmente em 2010,
com a publicação do primeiro livro da série Exhibiting the New Art: “Op Losse
Schroeven” and “When Attitudes Become Form – 1969, uma análise compa-
rativa de duas mostras realizadas no mesmo ano e organizadas por Harald
Szeemann. Com um dos livros dedicado ao tema da 24ª Bienal Internacio-
nal de São Paulo, intitulado "Cultural Anthropophagy: the 24th Bienal de São
Paulo 1999", publicado em 2015 pelo curador espanhol Pablo Lafuente.
No Brasil o ponto inicial para o início da pesquisa em história das ex-
posições partiu da participação do curador/pesquisador Pablo Lafuente,
a partir da sua participação no VII Seminário Semestral de Curadoria do
extinto Curso de Mestrado em Artes Visuais da Faculdade Santa Marce-
lina, em São Paulo capital, a convite da Curadora Lisette Lagnado. Pos-
teriormente Lagnado em parceria com a Pesquisadora Mirtes Marins de
Dispersões | 2020 35
Oliveira criaram o Curso de Curadoria: histórias das exposições na Escola
São Paulo e num terceiro momento foi quando um grupo de curadores/
pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP, formado por
Fábio Cypriano, Cauê Alves e Priscila Arantes, lotados em distintos depar-
tamentos, criaram o Curso Arte: história, crítica e curadoria (Cypriano e
Oliveira, 2017, p. 5-6).
A publicação dos livros e "história das exposições: casos exemplares"
organizados por Fábio Cypriano e Mirtes Marins de Oliveira, em 20172,
e "história das exposições: debates urgentes” com organização do Fábio
Cypriano, com textos dos autores Isadora Brandão Pin, Cauê Alves, Julia
Lima, Priscila Arantes, Viviane Tabach, Mirtes Marins de Oliveira, Isabella
Guimarães Rezende, publicado em 2018, lançaram no mercado editorial
brasileiro literatura especializada na área.
Em 2017 durante o 26º Encontro Nacional da Associação Nacional
de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP), Memórias e Inventações,
as pesquisadoras Lisbeth Rebollo Gonçalves (USP) e Bruna Fetter (UFRGS)
organizaram o simpósio "história das exposições" com a participação de
12 pesquisadores de estados variados do país apresentando suas pesqui-
sas em história das exposições3.
O projeto de pesquisa “Fora do Eixo: história das exposições de arte
(in)visibilizadas” foi criado pelo AUTOR em 2018, vinculado ao PIBIC/UFPB
2018-2019, objetivando investigar a história das exposições de arte fora
do eixo hegemônico da arte brasileira, com ênfase nas exposições de arte
realizadas no estado da Paraíba, nas décadas de 1980 e 1990 nas cidades
de João Pessoa e Campina Grande.
Ao longo do desenvolvimento da pesquisa em curso nos acervos dos
jornais Correio da Paraíba e União; no Museu de Arte Assis Chateaubriand;
na hemeroteca e no arquivo de fotos da Fundação Espaço Cultural José
Lins do Rêgo (FUNESC); no acervo da Fundação Casa de José Américo de
Dispersões | 2020 36
Almeida; da biblioteca nacional; do Museu de Arte de São Paulo (MASP)
e da Pinacoteca UFPB, encontramos referências a exposições realizadas a
partir dos anos 2000, que despertaram nosso interesse, hora pelo inedi-
tismo do tema na arte paraibana, hora pela posição política e impacto no
cenário local e internacional.
Nesta investigação destacamos a presença das "poéticas arquitetô-
nicas" (Moriente, 2010) na arte paraibana, a partir da atuação do artista
Wellington de Medeiros4, um campinense, que desde sua formação na
área de design e artes visuais já atuava como artista voltado para a ressig-
nificação dos elementos construtivos do imaginário urbano.
Dispersões | 2020 37
quebra, esses são elementos centrais para os artistas na hora de pensar
seu trabalho. No caso dos trabalhos expostos em museus de arte contem-
porânea, alguns trabalhos expostos são literalmente um contraponto a
estrutura da caixa arquitetônica, não buscam o diálogo e sim o conflito,
a quebra de estruturas, a ruptura com o estabelecido. É uma queda de
braços interminável entre a arquitetura e a arte.
Essa relação tem sido foco para o desenvolvimento de inúmeros tra-
balhos artísticos no Brasil e no mundo que tencionam discutir politica-
mente as posturas diferenciadas a respeito da arquitetura e da arte con-
temporânea. O contexto urbano das grandes cidades e o museu de arte
contemporânea tem sido um dos palcos privilegiados para abrigar essa
forma política de arte.
Dispersões | 2020 38
formidável e paradigmático de transição entre a dimensão corporal e
a construída. (...) finais dos anos oitenta, onde se pode contemplar a
absoluta e límpida coerência e seriedade de seus projetos arquitetô-
nicos (...) dentro do mesmo contexto espacial e sociocultural anglo-
-saxão devemos incluir ao menos mais dois nomes, Bruce Nauman
(Fort Wayne, Indiana, 1941) e Dan Gahan (Urbana, Illinios, 1942), am-
bos tem manifestado um interesse aberto pelo comportamento do
indivíduo submetendo o corpo do sujeito a uma série de condições
mediadas pelo espaço circundante (MORIENTE, 2010, p. 30).
Dispersões | 2020 39
Essas ações, como protocolos de invasão do espaço, tentam pro-
pagar a esfera artística além do exposto nos apertados recintos do
museu ou da galeria. Esses protocolos diversificaram-se em atos
representativos como os happenings ou as performances que, por
sua vez, se reproduziam em espaços definidos. A localização era tão
importante como o processo dos acontecimentos criativos que se
levam a cabo nela, porque os corpos – inertes ou ativos – que se
localizam em um espaço dotam no de um significado preciso (MO-
RIENTE, 2010, p. 28). .
Dispersões | 2020 40
pinturas, instalações e objetos em diálogo com o espaço da galeria, fixan-
do e projetando desenhos espaciais com fitas isolantes, expondo pinturas
construtivas com imagens arquitetônicas e objetos seguindo a mesma po-
ética, utilizando materiais comuns na construção civil.
A proposta central para a “inversa perspectiva” foi construir um diá-
logo entre os trabalhos expostos (pinturas, objetos e instalações) com o
espaço da galeria da Usina Cultural Energisa. Em seu trabalho Wellington
de Medeiros trava um embate com a perspectiva, subvertendo as suas
possibilidades, por meio da experimentação com formas arquitetônicas,
seja no espaço bidimensional das pinturas ou no tridimensional dos ob-
jetos e instalações.
A perspectiva é por natureza uma ilusão ótica, necessária para que os
seres humanos possam ver o mundo em três dimensões, percebendo a par-
tir dos planos os espaços profundos. Em seu trabalho Wellington subverte
a perspectiva convencional, apresentando representações de espaços que
seriam impossíveis na realidade, ângulos, cantos, linhas, texturas e cores,
são utilizados a serviço de uma proposta que recria realidades arquitetôni-
cas, mundos imaginários formados por vigas, colunas e superfícies.
Wellington criou espaços, dentro de espaços, dentro de espaços, no
interior da galeria, a exposição foi pensada como uma única instalação,
praticamente um site specific (figura 01). Ao entrar na galeria o especta-
dor se depara a sua direita com uma série de pinturas com dimensões
de 1,30m X 1,30m; 1,50, X 1,50m e uma maior medindo 1,70m X 1,70m,
fazendo uma relação com a altura do corpo do artista (figuras 02, 03 e 04).
Dispersões | 2020 41
Figura 01 – Vista parcial da Exposição “Inversa Perspectiva” a partir da entrada
exterior do hall da Galeria da Usina Cultural Energisa. Foto: Wellington de Medeiros.
2017. Acervo do Artista.
Dispersões | 2020 42
Figura 02 – Sem título – Óleo s/ tela – 1,30m X 1,30m - 2015. Foto: Wellington de
Medeiros. Acervo do Artista.
Figura 03 - – Sem título – 1,50m X 1,50m - Óleo s/ tela – 2015. Foto: Wellington de
Medeiros. Acervo do Artista.
Dispersões | 2020 43
Figura 04 – Sem título – Óleo sobre tela – 1,70m X 1,70m – Foto: Wellington de
Medeiros, 2017. Acervo do artista.
Dispersões | 2020 44
Figura 05 – Vista parcial da exposição “inversa perspectiva” – Galeria da Usina Cultural
Energisa – Janeiro e fevereiro de 2017. Foto: Wellington de Medeiros. Acervo do Artista.
Dispersões | 2020 45
Figura 06 – Desenho geométrico em perspectiva – dimensões variadas – fita isolante
– 2017. Foto: Wellington de Medeiros. Acervo do artista.
Dispersões | 2020 46
Os desenhos geométricos em perspectiva foram fixados nas paredes
da galeria, criando projeções tridimensionais no espaço com suas som-
bras projetadas. As formas construtivas podem mudar de configuração de
acordo com o ângulo de percepção visual do espectador, criando ilusões
óticas e novas projeções. Nesse contexto as pinturas, os desenhos e as co-
lunas sugeridas, formam um todo complexo, uma instalação, já que todos
os trabalhos dialogam entre si e com o espaço da galeria.
Considerações Finais
Dispersões | 2020 47
projetam no piso a partir das sombras projetadas pela iluminação dialo-
gando com os desenhos e pinturas dispostos nas paredes da galeria.
A “inversa perspectiva” é um exemplo do uso da “poética arquitetô-
nica” como estruturante para o processo criativo do artista Wellington de
Medeiros, bem como, para sua proposta curatorial e expográfica para esta
exposição específica.
Notas
1
No link: https://www.afterall.org/books/exhibition.histories/
2
Disponível parcialmente em: https://books.google.com.br/books?id=TsqCDwAAQBA-
J&pg=PT140&lpg=PT140&dq=Hist%C3%B3ria+das+exposi%C3%A7%C3%B5es:+de-
bates+urgentes+-+F%C3%A1bio+Cypriano&source=bl&ots=1XLPVp0-jT&sig=ACfU3U-
3t9ABtBEJYmBK24pIb6Ag9gcWpxw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjJ-M_k5e_oAhX-
PEbkGHc6NA3MQ6AEwAnoECAoQLA#v=onepage&q=Hist%C3%B3ria%20das%20
exposi%C3%A7%C3%B5es%3A%20debates%20urgentes%20-%20F%C3%A1bio%20
Cypriano&f=false
3
Disponíveis nos anais do evento no link: http://anpap.org.br/anais/2017/.
4
PhD em Design pela Universidade de Staffordshire, Inglaterra (2007); Mestre em Artes Vi-
suais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998) e Graduado em Design pela
Universidade Federal da Paraíba (1988). Atualmente é professor associado nos cursos de
graduação e mestrado em Design da Universidade Federal de Campina Grande.
5
Merzbau, que é o mesmo que 'Casa Merz'. Merzbau era uma combinação de colagem,
escultura e arquitetura que começou ocupando um canto do ateliê de Schwitters e foi gra-
dualmente expandida para oito cômodos de sua casa em Hannover. Pode ser considerada
a primeira instalação artística, onde roupas, cabelos e garrafas com urina, eram guardados
em caixas e malas e presos às paredes com arames e gesso. Nesta obra o formalismo cons-
trutivista convivia com nichos que homenageavam amigos e ídolos do artista. Foi destruí-
da por um ataque dos aliados durante a II Guerra, em 1943. Incomodado pela ascensão de
Hitler e dos nazistas, Schwitters adquire uma propriedade na Noruega, para onde se muda
em 1937. Inicia uma segunda versão Merzbau em Lysaker, cidade próxima a Oslo. Deno-
minada Haus am Bakken, incorpora formas e elementos naturais, como pedras, pedaços
de madeira e conchas. Foi destruída por um incêndio, em 1951. Em 1947, o Museu de Arte
Dispersões | 2020 48
Moderna de Nova York financia a produção de uma terceira Merzbau, chamada Merzbarn,
em um velho celeiro em Langdale Valley. (MAC Virtual – acervo roteiros de visita. Disponí-
vel em: http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/roteiro/PDF/44.pdf. Acesso
em: 09.06.2020).
6
“Em 1919, Tatlin iniciou seu projeto para o Monumento à Terceira Internacional, conhecido
como a Torre de Tatlin. Neste trabalho, Tatlin procurou simbolizar o desenvolvimento do
socialismo, empregando formas de uma construção abstrata, pensada como uma grande
escada em que as espirais representariam o movimento da humanidade liberta (…)” (Souza
Silva, 2011, s/p).
7
Na década de 1920, El Lissitzky propôs o “Espaço Proun”, um espaço imaginário, dinâmico,
geométrico, determinado pelo movimento dos objetos, concebido para a Exposição de
Berlim de 1923. “(...) a utopia do Proun de El Lissitzky, constitui a expressão mais simples
e pura desse programa estético produtivo ou produtivista das vanguardas: a epopeia de
uma obra de arte que, a partir dos elementos plásticos abstratos compreendidos no espaço
limitado da tela, rompe seu princípio tradicional de representação para projetar-se sobre
indefinidas dimensões virtuais ou reais do espaço, enquanto verdadeiro princípio produtor
da realidade de uma nova sociedade, uma nova civilização e inclusive de um novo cosmos”
(Subirats, 1993, p. 43).
Referências
Dispersões | 2020 49
GUERRA, Eliane Linhares de Assis. Manual de pesquisa qualitativa. Belo
Horizonte – MG: Ânima Educação, 2014.
SOUZA SILVA, Marcelo de. A torre de Tatlin e eu: uma relação de amor e ódio. In:
Revista Hacer: história da arte e da cultura – estudos e reflexões. Disponível
em: https://www.hacer.com.br/torre-de-tatlin. Acesso em: 09.06.2020.
Dispersões | 2020 50
Programa de Computação, Comunicação e Artes (PPGCCA UFPB); docente/
investigador do Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). Pós-Doutor (PGEHA MAC USP); Doutor em Arquitetura e Ur-
banismo (PPGAU UFRN), com bolsa sanduíche Erasmus Mundus na Univer-
sidade do Minho - Portugal; Mestre em História (PPGH UFPB); Especialista
em Educação Especial (UFPB) e Licenciado em Educação Artística – Artes
Plásticas (UFPB). Email: [email protected].
Dispersões | 2020 51
FACTORS 6.0: A CURADORIA E A MEDIAÇÃO
EM EXPOSIÇÕES DE ARTE, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
Dispersões | 2020 52
principal escolhida para o Festival, sem deixar para trás o viés social e sus-
tentável manifestado em edições anteriores. A partir dos conceitos estabe-
lecidos, a curadoria prioriza dar visibilidade aos artistas contemporâneos
que problematizam estas questões emergentes em suas obras.
Dispersões | 2020 53
A exposição é o meio de comunicação ideal para traduzir o discurso
científico que dá sentido aos objetos. A razão é que a exposição que
pretende transmitir uma mensagem em relação aos objetos que ela
expõe usa esses objetos como suporte da referida mensagem e a
constrói com os objetos que se tornam intencionalmente portado-
res de ideias, ao mesmo tempo em que disponibiliza ao visitante que
não é especialista, a informação complementar que irá guiá-lo na in-
terpretação. Desta forma, a exposição pode satisfazer a curiosidade
e a necessidade de explicações sobre os conjuntos de peças que a
própria exposição provoca. (BLANCO, 1999, p. 36, tradução nossa).
Dispersões | 2020 54
Figura 1. Registro da obra Transfiguración no FACTORS 6.0. Foto: Acervo particular.
Dispersões | 2020 55
O cotidiano está presente na obra eletrotêxtil, “Contenedor de lu-
gares” (2019), de Marlin Velasco (Figura 3). A artista propõe encontrar, nos
caminhos percorridos que revelam as atividades do dia a dia, marcas au-
ditivas, visuais e táteis que contextualizam a percepção espaço temporal.
Nesta visão própria da cidade, uma identidade imaginária se constrói por
meio da luz, da cor e da textura dos tecidos, ativando experiências senso-
riais distintas.
Dispersões | 2020 56
Figura 4. Registro da obra Espaço Interior no FACTORS 6.0. Foto: Acervo particular.
Figura 5. Registro da obra Zero part 2: Life no FACTORS 6.0. Foto: Acervo particular.
Dispersões | 2020 57
A instalação “L’ombrePortée [off-cells]” (2019), de Sandra Rey, trata
da capacidade de enxergar luz na escuridão, onde as células periféricas da
retina, denominadas off-cells, entram em atividade (Figura 6). O dispositi-
vo apresentado propõe tomar consciência de que perceber o escuro não
é uma inércia, mas uma atividade que exige habilidade de nossa visão.
Existe um campo de luminosidade em que toda luz pressupõe também
uma sombra, e ambas provocam uma ativação perceptiva.
Dispersões | 2020 58
Para Raquel Fonseca, o conceito estético de fotogenia, indica que,
por produção de luz, todo corpo que projeta luz é um corpo fotogênico.
“Fotogenia” (2019) apresenta o ser em fotografia, o fotogênico nascido
da luz (Figura 7). Energia e luz podem ser consideradas matéricas, quando
dão forma ao corpo, enquanto algo em transformação, que pode tanto
revelar quanto desvelar.
Dispersões | 2020 59
emitir luzes e sons. Ao trabalhar na arte com energia, pode-se sempre es-
tabelecer outras conexões criativas, sobretudo, quando as propostas de
trabalho são transdisciplinares.
Dispersões | 2020 60
Começar pelo meio é um indício apresentado por Lancri (2002), de
como o pesquisador em artes pode realizar seu trabalho. Nesse sentido,
entende-se o meio como um local produtivo para pensar as propostas da
equipe de mediação. Ainda, é possível dizer que a equipe de mediação
estabelece suas estratégias de modo rizomático, pois assim como em De-
leuze e Guattari (1995) insere-se entre, no meio de questões que envol-
vem o público e as questões relativas ao evento. Assim, por intermédio
das ações aplicadas, estabelece-se conexões entre obra e público; público
e artistas; artistas e mediadores; mas também entre a própria equipe de
mediadores do evento.
Entre as estratégias de comunicação inseridas no projeto de media-
ção do Festival, além da própria mediação da exposição, constam cartazes
5
Dispersões | 2020 61
O projeto de mediação para o FACTORS 6.0 tem como foco a forma-
ção dos mediadores e visa promover uma autonomia crítica na atuação
durante o período da exposição, o que o diferencia de edições anteriores,
nas quais dava-se ênfase ao público e suas necessidades, com projetos de
mediação direcionados a pensar os possíveis diálogos com os visitantes.
Nesta edição, os encontros do grupo voltam-se para a pesquisa ampliada
de conceitos sobre o tema do Festival, Luz e Energia, e aos estudos rela-
cionados a transdisciplinaridade em Arte, Ciência e Tecnologia.
Investir na formação dos mediadores para o FACTORS tem sido um
desafio, consideradas as particularidades do Festival. É importante que os
visitantes participem de uma construção de conhecimento mais crítica,
contextualizada e de relações externas à mostra, como nesse caso, vincu-
ladas à concepção de sustentabilidade. O processo de formação dos me-
diadores do FACTORS 6.0 ocorre em três fases9. Posteriormente, para com-
plementar as etapas de reuniões, desenvolve-se um material de apoio10
para mediação. O sucinto manual desenvolvido, tem como objetivo pro-
porcionar o conteúdo inicial para embasar posteriores aprofundamentos
teóricos e conceituais em assuntos relacionados ao Festival.
O grupo de mediadores tem como objetivo contextualizar o Festi-
val em cinco momentos, a partir da reunião inicial com a curadoria: no
primeiro, dar início às discussões sobre o tema da 6ª edição, reconhecer
os artistas participantes e apresentar os integrantes do núcleo de media-
ção11; no segundo, apresentar e debater, a partir de um seminário, o en-
tendimento dos conceitos ‘energia’, ‘luz’ a partir do texto curatorial, como
os demais ‘arte contemporânea’, ‘interação’, ‘participação’ e ‘mediação’; no
terceiro, analisar os contextos de produção e campos de atuação de cada
artista, também no formato de seminários; o quarto, discutir sobre as
obras, a partir das fichas técnicas recebidas pela curadoria, com o objetivo
de situar e relacionar a produção ao contexto do artista; e, o quinto mo-
mento tem como objetivo tratar das abordagens com o público/visitante.
Dispersões | 2020 62
O tema do evento é explorado de diferentes maneiras durante a for-
mação dos mediadores, considerando a Arte, Ciência e Tecnologia. Por
meio da arte, no sentido de que a luz e energia podem ter conceitos abs-
tratos ou concretos, podem mover corpos e máquinas, podem existir a
partir do aparato tecnológico ou do sol, busca-se uma discussão poética.
E, ao buscar o viés científico, tratam-se dos tipos de energia, suas fontes e
meios de obtenção, relacionando às energias renováveis com a sustenta-
bilidade, poluição, fatores climáticos e impactos ambientais.
Com essa metodologia, busca-se proporcionar discussões e priori-
zar a qualidade de pesquisa sobre conceitos e contextos que envolvem o
evento, para atuação crítica e independente dos mediadores e, sobretu-
do, menos engessada na reprodução de informações técnicas.
Durante os encontros do núcleo de mediação, discute-se sobre o
acolhimento e a recepção dos diferentes públicos que poderiam visitar o
Festival e a importância de estabelecer diálogos a partir da interação com
as obras. Trata-se de um evento institucional, o que justifica a presença
maior do público universitário no Festival (Figura 9).
Dispersões | 2020 63
Para proporcionar maior aproximação com este público, são elenca-
das palavras-chave de cada uma das oito obras com o objetivo de ativar
possíveis diálogos. A partir de tais termos os mediadores estabelecem fios
condutores, que podem ser desenvolvidos ou não, pelos visitantes, e que
vão ao encontro do que aponta Martha Marandino:
Para a obra ‘Rueda del infortúnio 2’, do artista Leo Nuñez, os termos
escolhidos são: política, consumo consciente, economia e sociedade; para
‘Fotogenia’, de Darci Raquel Fonseca: padrão, sombra, estética e ilumina-
ção; para ‘L’ombre portée [off-cells]’, de Sandra Rey, as palavras-chave são:
poética, visão, ciência, escuro e biologia humana; para a obra ‘Zero part
2: life’, de Sabrina Barrios: simbologia, universo, direção, espaço-tempo e
espaço físico; ‘Contenedor de lugares’, de Marlin Velasco: território, relevo,
geografia, sensibilidade e tátil; ‘Espaço interior’, de luiz duVa: urbano, exis-
tência humana, hábitos, cidade, tempo e vibração; ‘Viridis’, de Rosangela
Leote: natureza, manipulação genética, evolução, sinestesia e baixa tec-
nologia; e, para ‘Transfiguración’, de Gabriel Gendin e Gisela Biancalana:
sociedade, política, relações humanas, crítica social.
A montagem da exposição realizada pelo LABART conta com a pre-
sença dos artistas, o que possibilita à equipe de mediação uma maior
aproximação dos aspectos intrínsecos à prática artística e científica deles
Dispersões | 2020 64
e de suas obras para este Festival. Esta proximidade contribui significati-
vamente para o aprendizado e o conhecimento dos mediadores, e quali-
fica ainda mais o trabalho da equipe junto ao público visitante.
Considerações finais
Dispersões | 2020 65
mais complexas para levar e discutir com o público. Promovem o distan-
ciando do papel explicativo da mediação onde foram consideradas diver-
sas questões, como a proximidade com os artistas, as informações via QR
Code, e o diálogo aberto com o público.
A proposta curatorial e de mediação do FACTORS 6.0 de fato pro-
porciona ao público uma experiência em Arte, Ciência e Tecnologia, por
meio de obras em diferentes linguagens, em consonância aos conceitos
pensados para a sexta edição do Festival que segue promovendo a arte
contemporânea.
Notas
1
A curadoria do FACTORS 6.0 foi proposta e realizada pelas professoras e curadoras Nara
Cristina Santos (UFSM) e Mariela Yeregui (UNTREF), juntamente às curadoras assistentes
Andrea Capssa (doutoranda em Artes Visuais PPGART/UFSM) e Natascha Carvalho (mes-
tranda em Artes Visuais PPGART/UFSM) e contou com a equipe de apoio curatorial formada
pelas estudantes do curso de graduação em Artes Visuais (UFSM), Flávia Queiroz e Alice
Zanini. Portanto um trabalho compartilhado.
2
Mais informações em: https://bienalsur.org
3
SANTOS, Nara Cristina; YEREGUI, Mariela (Org.). FACTORS 6.0 [recurso eletrônico]: catálogo
de exposição 2019: Festival Arte, Ciência e Tecnologia. Santa Maria, RS: Ed. PPGART, 2019, p. 5.
4
Sala Claudio Carriconde, localizada no térreo do Prédio 40 da UFSM, é o espaço expositivo
onde se concentram as ações do FACTORS. Este ano de 2019 a performance aconteceu em
auditório anexo.
5
Elaborado por Rittieli Quaiatto (2019) e por Daniel Lopes (2019), desenvolvido por eles e
pelos mediadores Ana Luiza Martins, Amanda Malí, Matheus Flores e Maurília Fagundes.
6
Disponível em:
https://www.ufsm.br/editoras/editorappgart/wp-content/uploads/sites/740/2020/01/Ca-
tálogo_FACTORS_6.pdf.
7
Disponível em: https://www.ufsm.br/laboratorios/labart/factors-6-0/.
8
Disponível em: encurtador.com.br/bijY2.
Dispersões | 2020 66
9
A primeira, durante as reuniões que precedem a mostra, incluindo as iniciais com a cura-
doria; a segunda, no decorrer da montagem da exposição física, onde o grupo entra em
contato com os artistas e discute as especificidades das obras, esclarece dúvidas, o que
possibilita novas conexões entre as informações levantadas; e, a terceira, ao longo do even-
to, estabelecendo contato com os visitantes, ou seja, fazendo a mediação.
10
Neste, são apresentados e discutidos os conceitos de mediação, arte contemporânea,
arte e tecnologia, a função do mediador, o contexto do FACTORS e da sexta edição do
Festival; também são compiladas informações sobre os artistas e suas produções, seguidas
por uma série de referências virtuais para pesquisa.
11
O grupo de mediadores foi formado por seis integrantes, membros do LABART e estu-
dantes da disciplina Arte Contemporânea, Ciência e Tecnologia, no Curso de Graduação
em Artes Visuais da UFSM.
Referências
Dispersões | 2020 67
LOPES, Daniel Jaenisch. FACTORS 6.0: A MEDIAÇÃO E O USO DO
DISPOSITIVO QR CODE. Trabalho de Graduação do Curso de Licenciatura em
Artes Visuais/UFSM, 2019, 70 p.
OBRIST, Hans Ulrich. Uma breve história da curadoria. São Paulo: BEI
Comunicação, 2010.
Dispersões | 2020 68
Andrea Capssa
Natascha Carvalho
Rittieli Quaiatto
Dispersões | 2020 69
Daniel Jaenisch Lopes
Flávia Queiroz
Alice Siqueira
Dispersões | 2020 70
DE VOLTA AO PASSADO: RECRIAÇÕES
E REMONTAGENS DE EXPOSIÇÕES
COMO ESTRATÉGIA, ABORDAGEM E
METODOLOGIA CURATORIAL
Dispersões | 2020 71
Tal é a pergunta inicial que ampara e conduz uma investigação a
que tenho me dedicado, desenvolvida no plano prático-teórico, sobre o
resgate, a recriação e a remontagem de exposições enquanto estratégia,
abordagem e metodologia curatorial. Meu interesse é discutir e refletir se
procedimentos curatoriais que abordam exposições do passado podem
resultar em e de metodologias e modelos críticos, e se desenvolverem en-
quanto tal, sobretudo se fundamentadas pelos parâmetros e aportes da
chamada História das Exposições; a qual, em suma, tenta dar conta de as-
pectos não abarcados pela tradicional História da Arte — voltada priori-
tariamente aos artistas e às obras — tais como os aspectos institucionais
e políticos que determinam em grande parte as instâncias de circulação,
apresentação e visibilidade da produção artística no encontro com a esfera
pública. É nessa compreensão que tenho tomado a História das Exposi-
ções como um sub-campo ou um campo complementar à História da Arte.
No que segue, inicialmente abordo um projeto curatorial da mencio-
nada pesquisa prático-teórica, o qual parte de minha própria experiência
junto à implementação de um programa expositivo institucional, que tem
lugar em um museu de arte, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MAR-
GS). A seguir, como fundamentação que oferece bases teóricas, conceituais
e históricas a esse programa expositivo institucional, discuto o que consi-
dero configurar, sobretudo em anos recentes, uma espécie de impulso pelo
interesse por recriações e remontagens de exposições do passado.
Dispersões | 2020 72
pintura”, e sob minha curadoria, a mostra trouxe a público mais de 70
obras, abarcando a produção do artista desde o começo dos anos 1980
até a atualidade.
Abrindo mão de qualquer caráter retrospectivo, bem como de nar-
rativas lineares e evolutivas, “Também e ainda pintura” se organizou em
torno de três eixos, cada qual apresentado em uma sala, de modo a ex-
plorar de forma mais complexa a temporalidade que marca a produção
de Frantz nas últimas quatro décadas.
No modelo curatorial adotado, não optamos, portanto, por uma abor-
dagem cronológica interessada em demonstrar etapas que se sucedem
evolutivamente. Até porque, em sua trajetória, os momentos e as fases se
sobrepõem, vão e voltam, com processos e procedimentos desenvolvidos
em tempos diversos e que, no decorrer, complementam-se e desdobram-
-se. No conjunto dos trabalhos reunidos, “Também e ainda pintura” partiu
dos procedimentos e operações do artista com o objetivo de proporcionar
ao público uma pertinente discussão e experiência sobre o fazer e a refle-
xão em torno do campo expandido da pintura.
O primeiro eixo trouxe a público trabalhos de grandes dimensões,
de diferentes épocas, alguns deles inéditos. São obras que resultam dos
pisos e das paredes de ateliês de artistas que Frantz forra com lonas. Essas
coberturas permanecem em cada lugar durante anos, recebendo resíduos
de todo tipo que restam fora dos trabalhos alheios. Quando Frantz decide
retirar os forros, os acúmulos de tinta e sujeira surgem como indicações
de um acaso que, por meio de um processo de apropriação, enquadra-
mento e montagem, permitem-lhe identificar e nomear as superfícies
como pintura. Dialogavam com essas grandes pinturas-não-pintadas os
diversos objetos apresentados na sala, que consistem em resíduos de tin-
ta acrílica acumulados em potes e bacias que funcionam como formas e
moldes. Espécie de alegoria a partir da matéria primeira da pintura, esses
Dispersões | 2020 73
trabalhos enfatizam a abordagem conceitual com a qual Frantz desloca o
campo pictórico para o plano objetual. Ao fim, tanto as pinturas quanto
os objetos levam igualmente a indagar sobre a materialidade e a presen-
ça da pintura, por meio da insinuação de um jogo entre falso e verdadeiro,
ausência e presença, original e apropriação.
Um segundo eixo da exposição apresentou um trabalho inédito
de Frantz. Trata-se de “Liquid Paper”, que se vincula à sua mais recente
frente de pesquisa e realização, baseada na manipulação de catálogos
de exposição. Frantz intervém nos discursos visuais e textuais contidos
nas publicações artísticas, adulterando e editando as imagens e os textos
que encontra ao longo das páginas. Mais do que o embaralhamento e o
apagamento das autorias, essa operação de apropriar-e-intervir dá a ver
sempre uma obra outra, embora ao mesmo tempo impossível de ser des-
vinculada por completo de seu referente anterior. Assim, “Liquid Paper”
nos aponta para uma nova operação conceitual de Frantz, e que resulta
em mais um desdobramento visual a pautar sua extensa produção. Efei-
to também de procedimentos de apropriação e intervenção, mostra-nos
que a realidade é sempre uma construção a ser mediada, e a arte a opera-
ção que se ocupa de intervir nesse real construído.
Por fim, no terceiro eixo, adotamos uma estratégia curatorial distin-
ta, que foi propositadamente concebida a fim de que nos permitisse revi-
sitar uma exposição do passado, com objetivo de abordar a intersecções
entre a história do artista e a história do MARGS. Trata-se da exposição
“Pichações”, apresentada por Frantz em 1982 no MARGS. Nela, mostrava
suas pinturas baseadas nas intervenções escritas que encontrava nos mu-
ros, muitas delas de caráter político e subversivo, e que depois o levariam
a outras obras, como a série pautada pela presença recorrente e expres-
siva do X, este símbolo dúbio, que ao mesmo tempo significa anulação
e opção. Foi uma exposição audaciosa à época, e também provocativa,
Dispersões | 2020 74
tanto pelo fato de um museu apresentar pichações legitimando-as como
pintura, como por se tratar de um jovem artista, então com 19 anos.
Passadas quase quatro décadas, decidimos remontar “Pichações”
como um dos segmentos de “Também e ainda pintura”. Com a recriação,
nosso objetivo era emular o significado e a experiência da exposição ori-
ginal ao reunir a quase totalidade dos trabalhos expostos em 1982, à ma-
neira como foram apresentados, tendo por base as poucas fotografias e
documentos que registram a exposição originária. Nesse empenho, con-
seguimos reunir um conjunto significativo de obras, que hoje se encon-
tram em coleções particulares e acervos públicos, a exemplo do próprio
MARGS. Para ampliar e expandir a experiência advinda dessa remonta-
gem em relação à exposição originária de 1982, decidimos incluir outras
obras relacionadas à série “Pichações”, além de uma farta e extensa reu-
nião de documentos históricos levantados durante a pesquisa curatorial,
procedentes do arquivo pessoal do artista e do Núcleo de Documentação
e Pesquisa do MARGS.
O programa público da exposição contou com uma fala no auditório
do museu, com curador e artista, intitulada “História das Exposições como
abordagem curatorial”. Na ocasião, abordou-se a exposição “Pichações” de
1982 a partir da experiência advinda do seu processo de resgate, recria-
ção e remontagem, tomando a História das Exposições enquanto parâ-
metro e aporte para uma metodologia curatorial.
A partir dessa experiência de remontagem em um de seus eixos,
“Também e ainda pintura” acabou por originar e dar início a um dos pro-
gramas expositivos da atual gestão do MARGS, intitulado “História do
MARGS como História das Exposições”, com o qual se pretende daqui por
diante revisitar outros episódios da história do museu – e de artistas que
nele expuseram – a partir de resgates, recriações e remontagens de expo-
sições emblemáticas do passado.
Dispersões | 2020 75
O impulso por resgates, recriações e remontagens de
exposições históricas
Dispersões | 2020 76
Ainda em 2014, o Jewish Museum apresentou “Other Primary Struc-
tures”, revisitando a mostra de 1966 “Primary Structures: Younger Ame-
rican and British Sculptors”, considerada um dos momentos decisivos
no estabelecimento do cânone minimalista. Com curadoria de Jens Ho-
ffmann, o projeto procurou reescrever esse episódio na História da Arte
ao reinterpretar a mostra original, expandindo-a para além do estrito foco
anglo-americano, com a inclusão de obras realizadas durante o mesmo
período por artistas da América Latina, Ásia e Oriente Médio.
Outro exemplo vem do Museo del Barrio, que em 2016 inaugu-
rou “ The Illusive Eye” como uma revisitação a “ The Responsive Eye”, mostra
coletiva originalmente apresentada pelo MoMA, em 1965, destacando a
op art. A nova versão propôs uma leitura diferente — a exposição originá-
ria se concentrava na psicologia e fisiologia da percepção —, procurando
traçar os conceitos e valores da op art desde suas origens esotéricas no
misticismo pitagórico (egípcio) e teosófico (oriental).
Além do interesse e gesto de retorno ao passado, tais projetos são
em sua maioria resultado de trabalhos alentados em termos de pesquisa
e produção, tendo em comum também o fato de serem realizados por
instituições e museus de arte, no quadro de programas artísticos e expo-
sitivos. É o que assinala Catherine Spencer no texto “Making it New: the
trend for recreating exhibitions”, no qual discute essa constatada tendên-
cia por regastes de exposições históricas:
Dispersões | 2020 77
É nesse mesmo sentido que Jo Melvin assinala o quanto a recriação e
as remontagens de exposições demonstram envolver aprofundadas pes-
quisas, muitas vezes de parâmetros acadêmicos, com grande ênfase no
material de arquivo. Porém, como afirma no texto “Back to The Future”, o
remake expositivo envolve a emoção do evento, uma vez que ver “obras
de arte reunidas em um só lugar é uma experiência diferente de examinar
os catálogos ou ensaios críticos” (2015, s/nº).
Em termos de impacto quanto à escala e à dimensão da recriação
expositiva, um dos mais emblemáticos projetos em anos recentes se deu
em 2013, na Fundação Prada, de Veneza, com “When Attitudes Become
Form: Bern 1969/Venice 2013”. Com curadoria de Germano Celant, em di-
álogo com Thomas Demand e Rem Koolhaas, consistiu na remontagem
da seminal “Live In Your Head: When Attitudes Become Form (Works –
Concepts – Processes – Situations – Information)”. Concebida pelo cura-
dor Harald Szeemann4, e originalmente apresentada em 1969, na Kuns-
thalle de Berna, na Suíça, a mostra apresentou artistas que transitavam
nos desdobramentos do minimalismo e dos conceitualismos, todos hoje
fundamentais para a História da Arte contemporânea euro-americana5.
Considerada um dos marcos da curadoria contemporânea, “When
Attitudes Become Form” de 1969 se caracterizou por ser organizada sem
um tema geral, “dando ênfase (…) à presença física dos artistas e à realiza-
ção de trabalhos no local e no contexto dos espaços da cidade e do mu-
seu” (VOORHIES, 2017, p. 75-76). A exposição “transformou a galeria em
um estúdio, com artistas viajando para Berna para produzir instalações e
ações que se estendiam até as ruas da cidade, reconhecendo novas formas
de arte que estavam se desenvolvendo” (FOWLE, 2007, p. 14). Como fica
evidenciado, não se tratou exatamente uma exposição de obras de arte
enquanto objetos, mas de processos e experimentações, com a implica-
ção de que “os próprios artistas, como sujeitos criativos e personalidades
Dispersões | 2020 78
excêntricas, estavam tão expostos quanto os trabalhos muitas vezes efê-
meros resultantes de suas atividades” (BIRNBAUM, 2005, s/nº).
A remontagem de 2013 envolveu a reconstrução da estrutura arqui-
tetônica e ambiental da Kunsthalle de Berna, em escala real, assim como a
recriação de obras apresentadas em 1969, sendo que originalmente mui-
tas delas haviam sido feitas a partir de materiais efêmeros e perecíveis
e, em alguns casos, foram criadas especificamente para o local, restando
depois apenas seus vestígios e registros.
No Brasil, também há exemplares em anos recentes de projetos ins-
titucionais de recriações e remontagens de exposições emblemáticas do
passado. Um exemplo é “Do corpo à terra – um marco radical na arte bra-
sileira”, apresentada em 2001, em comemoração aos 30 anos da Semana
de Arte de Vanguarda de Belo Horizonte (MG) de 1970, então coordenada
por Frederico Morais e Mari’Stella Tristão, e que consistiu em dois eventos
simultâneos e integrados: a mostra “Objeto e participação”, no Palácio das
Artes, e a manifestação “Do corpo à terra”, que se desenvolveu no Parque
Municipal6. Apresentada no Itaú Cultural Belo Horizonte, a recriação “Do
corpo à terra – um marco radical na arte brasileira” contou novamente
com curadoria de Frederico Morais, apresentando registros visuais e so-
noros das obras e situações propostas pelos artistas nos eventos ocorri-
dos em 1970, além de obras reconstruídas, dada a efemeridade de muitas
das propostas e realizações.
Neste ponto, cumpre assinalar os paralelos que podemos traçar
entre “Do corpo à terra”, de 1971, e “When Attitudes Become Form”, de
1969, sobretudo porque esta exposição passou a ser canonizada como
ato inaugural da curadoria contemporânea pela inovação trazida com seu
caráter de exposição processual e pelo envolvimento do curador como
propositor de uma estrutura expositiva aberta e experimental resultan-
te de sua atuação junto aos processos artísticos (DALCOL, 2018). Bruce
Dispersões | 2020 79
Altshuler (1994, p. 236) pontua que a partir da exposição de Szeemann “a
organização de exposições se tornou esforço crítico e potencialmente ex-
perimental”, resultando na “ascensão do curador como criador”. Também
discutindo o legado de “When Attitudes Become Form”, Daniel Birnbaum
(2005, s/nº) argumenta que com este projeto Szeemann “praticamente
definiu o papel do curador como o entendemos hoje”7 e que a partir de
sua atuação “a figura do curador deixaria de ser vista como uma mistura
de burocrata e empresário cultural” para se apresentar “como uma espé-
cie de artista”. Birnbaum assim afirma:
Dispersões | 2020 80
que ficou marcado pela tomada de consciência e posição por parte do
meio artístico brasileiro em relação à situação do país9 e às convenções
e ao sistema artístico vigentes. Na recriação, os artistas participantes se
fizeram presentes com as obras produzidas nos anos 1960.
No ano seguinte, foi a vez do MASP trazer a público um grande pro-
jeto de resgate, recriação e remontagem de exposição histórica com “A
mão do povo brasileiro 1969/2016”. Apresentada em 1969 como expo-
sição inaugural do MASP na avenida Paulista, “A mão do povo brasileiro”
foi originalmente concebida por Lina Bo Bardi com o diretor do museu,
Pietro Maria Bardi, o cineasta Glauber Rocha e o diretor de teatro Mar-
tim Gonçalves, apresentando um vasto panorama da cultura material do
Brasil — cerca de mil objetos, incluindo carrancas, ex-votos, tecidos, rou-
pas, móveis, ferramentas, utensílios, maquinários, instrumentos musicais,
adornos, brinquedos, objetos religiosos, pinturas e esculturas.
Por ocasião da remontagem de 2016, o MASP anunciou se tratar um
projeto de “reencenação de uma de suas exposições mais icônicas”, “sen-
do tomada como objeto de estudo e precedente exemplar para práticas
museológicas descolonizadoras”, com o objetivo de “estimular a reflexão
e o debate sobre seu estatuto e contexto no museu e na história da arte, e
as contestadas noções de ‘arte popular’ e ‘cultura popular’” (MASP, 2016, s/
nº). A curadoria foi da equipe do MASP: Adriano Pedrosa, diretor artístico;
Julieta González, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea; e
Tomás Toledo, curador. Quanto à metodologia, vale a pena mencionar o
seguinte trecho do texto curatorial, uma vez explicita o partido, o proces-
so e a metodologia curatoriais:
Dispersões | 2020 81
recolhendo trabalhos similares e respeitando as tipologias de obje-
tos. A arquitetura da exposição segue a de 1969, também com adap-
tações. Optamos por não atualizar a mostra — e os objetos reunidos
foram feitos, até onde sabemos, antes de 1970 (MASP, 2016, s/nº).
Dispersões | 2020 82
também nos catálogos. Nesse sentido, concordo com Laura C. Mallonee
(2014, s/nº), quando especula que o maior benefício do resgate de uma
exposição “talvez seja nos permitir reavaliar a história com uma perspec-
tiva nova e, às vezes, mais clara”. É algo que vai ao encontro da opinião de
Catherine Spencer (2015, s/nº), ao afirmar que, em seus exemplares mais
produtivos, “esses retornos podem desafiar nossa definição convencional
de exposição ‘histórica’ e nos levar a criar histórias alternativas”, uma vez
que “recriar exibições históricas pode oferecer oportunidades valiosas
para explorar o que pensamos como histórias de arte estabelecidas a par-
tir de perspectivas novas e inesperadas”. Uma compreensão semelhante
aparece no já mencionado texto de Jo Melvin (2015, s/nº), segundo quem
“essa revisitação fornece uma troca nova e fluida que permite um reposi-
cionamento constante da história como um encontro provisório sempre
aberto à reconsideração”.
E aqui é necessário levar em conta o papel que as exposições têm
desempenhado na revisão e mesmo na reconstrução da História da Arte
frente à problematização de seus cânones e da linearidade de suas narra-
tivas oficiais, na medida em que permitem que se invista na capacidade
de incluir vozes e perspectivas invisibilizadas e silenciadas ao longo de
um processo histórico hoje questionado. Dito de outro modo, a meu ver
as exposições têm oferecido a oportunidade de lidar com a História da
Arte como um campo sempre aberto e continuamente em desenvolvi-
mento e reavaliação.
Seja como for, a pergunta ainda vigora: o que, afinal, alimentaria
a motivação por tais retornos ao passado? Encontro eco em Catherine
Spencer, segundo quem é fundamental “se engajar com perguntas so-
bre os motivos e critérios que regem esses retornos, pois é aqui que suas
implicações mais interessantes e provocativas podem ser encontradas”
(SPENCER, 2015, s/nº).
Dispersões | 2020 83
Há por certo uma mistura de interesses que envolvem desde estraté-
gias educativas até ações de marketing, mas também ambições por parte
dos curadores em trabalhar de forma criativa e autoral com ativação de
memórias e arquivos por meio de estratégias curatoriais e de dispositivos
e aparatos expositivos. Nesse sentido, como afirma Kerr Houston no texto
“Past Imperfect: Restaging Exhibitions and the Present Tense”, tais proje-
tos são em comum “motivados principalmente pelo desejo de tornar o
passado o mais concreto e acessível possível” (2016, s/nº).
A meu ver, os curadores, em seu interesse por revistar exposições do
passado, encontram possibilidades de reconhecer as práticas curatoriais
anteriores a fim de adotar uma abordagem crítica que permita examinar
como essas exposições reconstroem, reescrevem e reapresentam o pas-
sado. Nesse sentido, entendo que o impulso por tal “virada curatorial” em
direção ao passado certamente é demonstrativo e exemplar do amadure-
cimento dos Estudos Curatoriais e Expositivos, bem como da História das
Exposições, como disciplinas, áreas de investigação ou sub-campos com
parâmetros e história próprios.
Dito de outro modo, a prática e a reflexão a partir da curadoria têm
desenvolvido sua própria genealogia, tornando a exposição um obje-
to em si. Ao mesmo tempo, a dimensão criadora e mesmo autoral das
práticas curatoriais, muitas vezes em tensionamento entre as conver-
gências e as dissoluções com as práticas artísticas (DALCOL, 2019), tem
sido central para o crescente entusiasmo pela História da Curadoria e
das Exposições.
Em 2009, por exemplo, a revista “The Exhibitionist”, produzida por e
para curadores, publicou uma edição dedicada a exposições do passado.
No ano seguinte, a editora inglesa Afterall Books lançou sua série “Exhibi-
tion Histories”, com o objetivo de oferecer “análise crítica de exposições
de arte contemporânea que mudaram a maneira como a arte é vista e
Dispersões | 2020 84
feita”. Desde então, vem conformando metodologias e um campo de
pesquisa. Outras publicações também surgiram, incluindo os dois volu-
mes de “Exhibitions that Made Art History”, de Bruce Altshuler.10
Como argumenta Felix Vogel (2013), o tema das exposições — e tam-
bém sua história — tem sido estabelecido como objeto de pesquisa a partir
dos anos 1990, tanto na História da Arte como em campos relacionados.
Publicações, conferências, projetos de pesquisa, cursos universitários e pe-
riódicos atestam isso. Esse interesse pela História das Exposições se deve,
ao menos em parte, à chamada “nova” História da Arte e suas abordagens
contextuais e sócio-históricas. Mas, como argumenta Vogel, é a crescente
visibilidade e transformação das exposições desde os anos 1960 que tem
motivado um envolvimento mais profundo com sua história.
Dispersões | 2020 85
mas também a refletiram, no sentido de que exigiam um conheci-
mento de seu objeto de estudo para, em primeiro lugar, construí-lo
(VOGEL, 2013, p. 46).
Dispersões | 2020 86
manter o passado, mas também e sobretudo desconstruir e reavaliá-lo. Se
fundamentados pelos parâmetros e aportes da História das Exposições,
acredito que os retornos ao passado com recriações e remontagens de
exposições históricas podem encontrar fecundas estratégias e aborda-
gens de metodologia curatorial.
Notas
1
Um precedente dos projetos que comento em sequência no texto pode ser encontrado
em “‘Degenerate Art’: The Fate of the Avant-Garde in Nazi Germany”, exposição de 1991,
no Los Angeles County Museum of Art, que procurou reapresentar a infame exposição de
1937, “Entartete Kunst’ (Degenerate Art)”, organizada pelo Partido Nacional Socialista na
Alemanha nazista, com o objetivo de condenar a arte moderna — como arte degenerada
— e assim colaborar para a construção de uma ideologia de “pureza” racial e seus efeitos
propagandistas.
2
Na bibliografia em língua inglesa, na qual o predominantemente encontramos referen-
ciais teóricos sobre o assunto, as expressões equivalente que costumam constar são, por
exemplo, reinstalling, re-exhibiting, restaging, restaged, recreated e reprised.
3
Todas as traduções a partir daqui são minhas.
4
Atribui-se a expressão “curador independente” à atuação do suíço Harald Szeemann, no-
tadamente por duas exposições suas que são consideradas marcos da atividade e do pen-
samento curatorial em arte contemporânea: a própria “Live In Your Head: When Attitudes
Become Form (Works – Concepts – Processes – Situations – Information)”, em 1969, e a
Documenta 5 de Kassel, em 1972. Com esses projetos, Szeemann não só lançou premissas
de autoria e viés conceitual/temático para grandes mostras no campo da atividade e do
pensamento curatorial, como também se projetou ao posto de um dos mais importantes
curadores independentes do sistema artístico internacional de então.
5
Refiro-me a artistas como Carl Andre, Giovanni Anselmo, Joseph Beuys, Walter de Maria,
Hans Haacke, Michael Heizer, Joseph Kosuth, Sol LeWitt, Richard Long, Bruce Nauman, Cla-
es Oldenburg, Richard Serra e Robert Smithson.
6
Da primeira, participaram Carlos Vergara, Dileny Campos, Franz Weissman, George Helt,
Lee Jaff, Ione Saldanha, Manoel Serpa, Manfredo de Souzanetto, Orlando Castaño, Yvone
Etrusco, Teresinha Soares e Umberto Costa Barros. Da segunda, Alfredo José Fontes, Artur
Barrio, Cildo Meireles, Décio Noviello, Dilton Luiz de Araujo, Eduardo Ângelo, Hélio Oitici-
ca, José Ronaldo Lima, Lee Jaffe, Lotus Lobo, Luciano Gusmão, Luiz Alphonsus e Thereza
Simões.
Dispersões | 2020 87
7
Vale destacar que Szeemann não se intitulava curador independente, preferindo empre-
gar o termo em alemão Ausstellungsmacher, que corresponde a exhibition maker em in-
glês e ao realizador de exposições em português.
8
Entre os artistas participantes, estavam Antonio Dias, Carlos Vergara, Hélio Oiticica, Ivan
Serpa, Pedro Escosteguy, Rubens Gerchman, Vilma Pasqualini, Waldemar Cordeiro e Wesley
Duke Lee.
9
Nunca é demais relembrar que estamos falando do contexto da ditadura militar do Brasil
(1964-1985). Ao depor o presidente João Goulart, eleito democraticamente, o golpe militar
foi instaurado em 1º de abril de 1964 e durou até 15 de março de 1985, sob comando de
generais que se sucederam no governo.
10
No Brasil, os estudos são recentes. Em 2014, o Grupo de Pesquisa História da Arte: modos
de ver, exibir e compreender e o Museu de Artes Visuais da Unicamp realizaram o colóquio
“Histórias da arte em exposições: modos de ver e exibir no Brasil”, cujos anais podem ser
consultados (Disponível em: <https://haexposicoes.files.wordpress.com/2014/10/arqui-
vo_completo.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2018). Em 2017, o 28º Encontro da ANPAP contou
com um simpósio intitulado “História das exposições”, cujos anais podem ser consultados
(Disponível em: <http://anpap.org.br/anais/2017/>. Acesso em: 28 jul. 2018). Em termos
de publicações recentes no Brasil. Cf: CYPRIANO, Fabio; OLIVEIRA, Mirtes Marins de (orgs.).
História das exposições — casos exemplares. São Paulo: EDUC/Editora da PUC-SP, 2016; e
CAVALCANTI, Ana; OLIVEIRA, Emerson Dionisio de; COUTO, Maria de Fátima Morethy; MAL-
TA, Marize (orgs.). Histórias da arte em exposições: modos de ver e exibir no Brasil. Rio de
Janeiro: Rio Books/Fapesp, 2016.
Referências
Dispersões | 2020 88
do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre. Disponível em: <http://www.
lume.ufrgs.br>.
FOWLE, Kate. “Who cares? Understanding the role of the curator today”. In:
RAND, Steven e KOURIS, Heather (eds.). Cautionary Tales: Critical curating.
New York: Apexart, 2007, p. 26-35.
HOUSTON, Kerr. “Past Imperfect: Restaging Exhibitions and the Present Tense”,
18 abr. 2016. Disponível em: <https://bmoreart.com/2016/04/past-imperfect-
restaging-exhibitions-and-the-present-tense.html>. Acesso em: 13 jun. 2020.
MALLONE, Laura C.. “Why Are There So Many Art Exhibition Revivals?”, 11 ago.
2014. Disponível em: <https://hyperallergic.com/138834/why-are-there-so-
many-art-exhibition-revivals/>. Acesso em: 13 jun. 2020.
MELVIN, Jo. “Back to The Future”, 8 dez. 2015. Disponível em: <https://frieze.
com/article/back-future-1>. Acesso em: 13 jun. 2020.
Dispersões | 2020 89
VOGEL, Felix. “Notes on exhibition history in curatorial discourse”. In: On
Curating — (New) Institution(alism), n. 21, Zurique, dez. 2013, p. 46-54.
Francisco Dalcol
Dispersões | 2020 90
MULHERES NO ACERVO: ANÁLISE DA
PRESENÇA DE ARTISTAS NAS COLEÇÕES
SÉCULO XX E SÉCULO XXI DO MALG
Introdução
Dispersões | 2020 91
que diminui ou até mesmo apaga a existência de atos e corpos femininos. É
um exercício de pensar em quem conta algo, que o faz sob sua perspectiva,
e quem transmite que, também, o faz sob seus termos e visão.
Nesse sentido a historiadora Linda Nochlin (2016) traz a discussão
do protagonismo feminino para a produção artística quando, em 1971,
questiona “Por que não houve grandes artistas mulheres?”, em ensaio ho-
mônimo. Ao longo da obra, a autora desbrava argumentos como o de-
senvolvimento da educação para mulheres, que acontece em estruturas
desiguais em comparação às bases oferecidas aos homens. Pontua, ainda,
a desqualificação dos trabalhos femininos, através de classificações como
“artes maiores versus artes menores”, além de reforçar as concepções já
citadas de Perrot (2007) sobre uma história narrada e escrita por homens.
A presente pesquisa tem como objetivo realizar um levantamento e
análise, a partir do recorte de gênero, nas coleções Século XX e Século XXI
do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), museu este vinculado ao Cen-
tro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), situada ao sul do
Rio Grande do Sul. Assume como pressuposto a existência de artistas mu-
lheres nos acervos dos museus com poucos ou nenhum registro e, assim,
encontra sua justificativa nos estudos de Perrot (2007) e Nochlin (2016) que
expõem a necessidade de dar visibilidade à produção artística feminina.
Desenvolvimento e Discussão
Atualmente localizado no coração da cidade, o museu de arte destinado
a preservação e exposição das obras doadas do/pelo artista pelotense Le-
opoldo Gotuzzo foi criado em 1986 e, desde sua origem, está em sintonia
com o ensino, a pesquisa e a extensão, pilares da institução ao qual é vincu-
lado. Da criação da Escola de Belas Artes de Pelotas, dada por um enorme
esforço e trabalho de D. Marina de Moraes Pires em 19491, até os dias de
hoje, o MALG é um organismo acadêmico paralelo ao que atualmente é o
Dispersões | 2020 92
Centro de Artes da universidade: um espaço de aprendizagem dos estu-
dantes e da comunidade, de formação de público através da aproximação
com as artes e de propor novos olhares a partir do diálogo entre tempos e
vozes contidas dentro e fora do museu.
A instituição cultural se originou a partir de um acervo dividido em 4
coleções, criadas atraves de doações à Escola de Belas Artes (e por obras
da própria coleção de alunos e ex-alunos, no caso da coleção EBA), incor-
poradas ao projeto do museu desde seu início. Recentemente, o acervo
é constiuido por 7 coleções2, dentre elas as coleções Século XX e Século
XXI, objetos de estudo dessa pesquisa; resultados do desenvolvimento do
museu que revelam seus diversos momentos e tragetória junto a univer-
sidade e a comunidade.
A Coleção Século XX é considerada o primeiro conjunto classificado
do acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo. Constitui-se sob crité-
rios como o recorte temporal das doações (entre 1986 e 2000), além da
submissão à avaliação de comissões de curadoria existentes ao longo da
história do MALG (MALG, 2017).
Figura 1. Maria Lidia Magliani, Retrato com pesadelo, 1990 [coleção Século XX -
MALG]. Óleo sobre tela, 120 x 121 cm. Foto: Daniel Rodrigues Moura.
Dispersões | 2020 93
Figura 2. Arlinda Nunes, Vínculo, 1986 [coleção Século XX - MALG].
Acrílica sobre madeira reprocessada, 70 x 51 cm. Foto: Daniel Rodrigues Moura.
Dispersões | 2020 94
Figura 3. Helena Pinto Ferreira, Bueiros, 2007 [coleção Século XXI - MALG].
Assemblagem, 72 x 72 cm. Foto: Daniel Rodrigues Moura.
Dispersões | 2020 95
A quantidade de obras que compõem a Coleção Século XXI é uma
questão interessante nesta pesquisa que busca analisar a presença de ar-
tistas mulheres nos acervos dos museus. Em 18 anos, a Coleção Século
XX se constituiu com um número três vezes maior de itens, cerca de 200,
em comparação a um período similar para a Coleção Século XXI. Isso de-
monstra uma mudança nas políticas de aquisição e foco curatorial, pois,
compreende-se atualmente como objetivos do MALG a divulgação do
acervo já existente e a relação com museus da cidade e do estado através
de projetos interinstitucionais (MALG, 2017).
Figura 4. Inah Costa, Translação mais rotação e dilatação [da série] Azul, 1986
[coleção Século XX - MALG]. Óleo sobre tela, 52 x 62 cm.
Foto: Daniel Rodrigues Moura.
Dispersões | 2020 96
Figura 5. Detalhe da exposição Geometrias, 2019. Foto: autor.
Dispersões | 2020 97
Vinholes e O eu: entre o autorretrato e a selfie; contemplam também os acer-
vos do museu, seja por seu discurso curatorial que cria dialogos que transi-
tam entre coleções e tempos, ou pelo seu apelo a valorização cultural das
obras através da revisitação de peças contidas em suas coleções.
Seguindo o levantamento que considera o último inventário realiza-
do no ano de 2017, é possivel constatar que entre as duas coleções ob-
servadas (Século XX e Século XXI), o número de artistas soma 138 e deste
total apenas 52 são mulheres. Isso nos permite entender o acesso à arte
para o gênero feminino tanto em meios acadêmicos quanto à inserção nos
acervos e, consequentemente, a sua visibilidade nas mostras artísticas. As
colocações de Nochlin (2016) e Perrot (2007) se mantém pertinentes e nos
instigam a seguir rastreando as presenças de artistas mulheres nas coleções
em museus e galerias.
Considerações Finais
Dispersões | 2020 98
dessas mulheres obtiveram acesso à academia? E do número total de
obras, quantas delas são atribuídas e/ou assinadas por elas? Em quais cir-
cunstâncias tais obras foram entregues e admitidas nas coleções? Essas
são dúvidas que apontam uma possível continuidade do estudo.
É importante destacar o acesso à tais dados como medida de um
momento histórico, capaz de realizar mudanças. É, ainda, indício de aber-
tura das instituições à novas perspectivas relacionadas a grupos sociais
que reivindicam a visibilidade que por muitos anos lhes foi negligenciada.
Sendo assim, a análise nos permite compreender a importância de não
somente acompanhar os processos, mas também registrá-los para que
possamos seguir evoluindo como sociedade.
Notas
1
A instituição é hoje o atual Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de
Pelotas. Com a fundação da UFPel, em 1968, a Escola de Belas Artes foi agregada como
uma de suas unidades de ensino, sendo absorvida por completo por ela somente em 1973.
2
As coleções Leopoldo Gotuzzo, Faustino Trápaga, João Gomes de Mello e Escola de Belas
Artes deram início ao acervo do museu. Posteriormente foram criadas as seguintes cole-
ções: Coleção Século XX, Coleção Século XXI e Coleção L. C. Vinholes.
3
A obra foi doada pela artista após a exposição que inaugurou a galeria Marina de Moraes
Pires, do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo. A artista foi escolhida para inaugurar a galeria por
ser a primeira pintora que, sistematicamente e com seriedade trouxe a Pelotas a Arte Moderna.
Referências
Dispersões | 2020 99
Arquivo (acervo e administrativo) do MALG – Museu de Arte Leopoldo
Gotuzzo. UFPEL, Pelotas.
NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas? São Paulo:
Edições Aurora, 2016.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.
Esse texto traz reflexões sobre contribuições que os espaços não formais
(GOHN, 2010; TRILLA, 2008) de ensino possibilitam desenvolver no per-
curso de formação e na construção do processo identitário. Especialmen-
te, nos centramos na formação multifacetada de um/a arte/educador/a
partindo de experiências vivenciadas com o ensino de Arte no NEIMFA1,
localizado na cidade do Recife.
A pesquisa narrativa foi o trajeto metodológico seguido. Dentro do
campo da pesquisa qualitativa, ela abre possibilidades para revisitar as
próprias histórias com o olhar crítico sobre os percursos de aprendiza-
gem que auxiliaram no desenvolvimento de saberes sobre a docência.
Esse tipo de pesquisa provoca inquietações na forma de compreender-se
como sujeito no mundo e permite também captar elementos impulsio-
nadores que alimentaram o desejo da docência em Arte como campo de
Carvalho (2005) em seu estudo deixa claro que o ensino de Arte nas
instituições não formais está organizado na forma de oficinas artísticas
e tem como principais os seguintes objetivos: ministrar conteúdos te-
óricos específicos das linguagens artísticas; aperfeiçoar as habilidades
técnicas; levar os/as estudantes a conhecerem técnicas e materiais; pro-
mover a profissionalização e a inserção deles/as no mercado de traba-
lho; formar sujeitos que sejam autores da própria história; viabilizar o
acesso aos bens culturais e simbólicos; desenvolver a autoestima e a
expressão com liberdade.
Notas
1
É uma instituição não governamental intitulada Núcleo Educacional Irmãos Menores
de Francisco de Assis (NEIMFA). Foi criada com base na parceria entre moradores da
comunidade do Coque e um grupo de jovens da Federação Espírita Pernambucana, em
26 de setembro de 1986. Fundado juridicamente em 26 de setembro de 1994, com foro
na cidade do Recife, Estado de Pernambuco, e sede atual à Rua Jacaraú, nº 31, bairro do
Coque, Recife-PE.
2
Núcleo de Arte e Comunicação – NAC faz parte do Núcleo Educacional Irmãos Menores de
Francisco de Assis – NEIMFA localizado na comunidade do Coque.
Referências
MARTINS, R.; TOURINHO, I.; SOUZA, E.C. (Org) Pesquisa Narrativas: Interfaces
entre histórias de vida, arte e educação. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2017.
Introdução
Competências e habilidades
Conclusão
Este estudo identifica que o ponto de partida para a definição dos objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento indicados para a redação da BNCC
foram os direitos de aprendizagem. Na versão preliminar os objetivos de
aprendizagem estão expressos em torno de dois grandes verbos: reconhe-
cer e compreender, que se relacionam na Taxonomia de Bloom com as ca-
tegorias conhecimento e compreensão. Na segunda versão os objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento indicam os verbos conhecer e interagir,
sendo que interagir não está indicado em nenhuma categoria da Taxono-
mia de Bloom, conhecer mantém-se na categoria do conhecimento.
Alinhada a pedagogia das competências e salientando que deve ser
assegurado o desenvolvimento das competências, bem como das habi-
lidades, os verbos destacados na terceira versão, reconhecer e respeitar,
promovem o trazer à consciência a informação ou fato, enquanto o verbo
respeitar, ao cumprir, observar. A versão homologada enfatiza o verbo uti-
lizar, o trato utilitário em relação aos conteúdos de ensino e partilhar, no
sentido de tomar parte em algo.
Notas
1
De acordo com a informação disponível no website desse movimento, o mesmo se apre-
senta como: “O Movimento pela Base Nacional Comum é um grupo não governamental de
profissionais da educação que desde 2013 atua para facilitar a construção de uma Base de
qualidade. O grupo promove debates, produz estudos e pesquisas com gestores, professo-
res e alunos e investiga casos de sucesso em vários países”. Disponível em: http://movimen-
topelabase.org.br/quem-somos/
2
Taxonomia de Bloom elabora objetivos que contemplam o desempenho - aquilo que se
espera que o estudante possa fazer - a partir das condições - aquilo que se oferece ao es-
tudante para que alcance o desempenho esperado - bem como os critérios que indiquem
se o desempenho pode ser aceito como satisfatório. Essa taxonomia considera que as seis
categorias – conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese, avaliação – estão as-
sociadas ao processo cognitivo (FERRAZ; BELHOT, 2010).
3
Função de articular a área de conhecimento e o componente curricular nas diferentes
etapas da escolarização, bem como integrar domínios de conhecimento.
4
Em 5 de dezembro de 2017 a Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI) a Associa-
ção Brasileira de Instituições de Ensino Evangélicas (ABIEE), a Associação de Escolas Cristãs
de Educação por Princípios (AECEP) e a Associação Nacional de Escolas Batistas (ANEB) em
Referências
CÓSSIO, Maria de Fátima. Base Comum Nacional: uma discussão para além do
currículo. Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 1570 – 1590, out./
dez. 2014.
Guilherme Panho
Introdução
Este pode ser um fator importante nesta análise, visto que as teorias
sobre o espaço de arte e o objeto da arte contemporânea, são comuns
aos cursos de formação de Artes Visuais.
O terceiro fator analisou a questão de acervo, os livros analisados
contavam apenas com reproduções de obras, ou obras originais, enquan-
to proposições artísticas planejadas e concebidas para o espaço do livro
didático, ou minimamente, enquanto obra passível de reprodutibilidade:
publicações de artistas, impressos, fotografias, proposições, em detrimen-
to de fotografias de pinturas, gravuras, esculturas.
Este dado talvez seja o mais relevante no contexto da pesquisa, visto
que encontrou em todos os livros analisados, apenas uma obra que se
encaixava nas características buscadas, como por exemplo: “O que é arte?
Para que serve?” de Paulo Brusky (1978) que pela característica que previa
Referências
QUEMIN, Alain. Les satar de lárt contemporain. Paris: CNRS Editions. 2013
Introdução
Obra não finalizada por Adorno, foi publicada em 1970 em Frankfurt sob
o título Aesthetische Theorie, um ano após a sua morte. A edição estuda-
da é de 2018, traduzida para o português de Portugal por Artur Morão,
professor de Filosofia da Universidade Católica de Portugal e publicada
BELTING, Hans. Imagen y Culto: Una historia de la imagen anterior a la era del
arte. Madrid: Ediciones Akal, 2012.
______; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Analice Pillar
Figura 3. Daniel Martinéz Lara e Rafa Cano Méndez. Cena do filme Alike, 2015. Fonte:
<https://www.youtube.com/watch?v=kQjtK32mGJQ>
Figura 4. Daniel Martinéz Lara e Rafa Cano Méndez. Cenas do filme Alike, 2015. Fonte:
<https://www.youtube.com/watch?v=kQjtK32mGJQ>
Figuras 5, 6 e 7. Daniel Martinéz Lara e Rafa Cano Méndez. Cenas do filme Alike, 2015.
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=kQjtK32mGJQ>
Figura 10. Daniel Martinéz Lara e Rafa Cano Méndez. Cena do filme Alike, 2015.
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=kQjtK32mGJQ>
Considerações finais
Referências
Referências
Referências
MEIRA, Marly Ribeiro; PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. (2010). Arte, afeto e
educação: a sensibilidade na ação pedagógica. Porto Alegre: Mediação.
Foco
“Difíceis de ver, pelos homens,
são os deuses”
(Hino Momérico II, a Deméter).
Começo por uma imagem.(Fig. 1) Uma luz circular e branca ilumina par-
cialmente um interior, especialmente a escrivaninha onde um homem
aparece debruçado e concentrado enquanto lê. A pena repousa sobre
o tinteiro, o mata-borrão espera. Há cadernos, pelo menos uma imagem
em papel sobre a mesa, uma certa desordem que revela diversas ações
Dispersão imprevista
Concentração circunstancial
Figura 8. Giorgio Vasari, Deposição da cruz.(s/d) Óleo sobre tela, 297X188 cm, Palazzo
Doria Pamphilj, Roma. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giorgio-
vasari-deposizione-dalla-croce-big.jpg
`
Figura 10. Sarcófago com ninfas. Salão Aldobrandini. Palazzo Doria Pamphilj, Roma.
Fonte: a autora.
Confluência final
Referências
Video, Nomadismo
Figura 1. Frame do vídeo Mientras paseo en cisne, 2010, de Lara Arellano. Video. 8’41.
Fonte: https://vimeo.com/140465604
Video, tecno-imagem
Referencias
GRAU, Oliver. Arte virtual: da ilusão a imersão. São Paulo: SENAC, 2007.
Regilene A. Sarzi-Ribeiro
Notas
1
Inaugurada em 22 de abril, a mostra estendeu-se por seis meses. Dos 102 artistas, 21 eram
gravadores. Os artistas convidados estavam distribuídos em 5 “gêneros” a saber: Pintura,
52; Desenho, 21; Gravura, 21; Escultura /objetos, 5; Tapeçaria, 3. No campo da gravura, cons-
tavam, entre outros, Anna Bella Geiger, Anna Letycia, Dorothy Bastos, Edith Behring, Fayga
Ostrower, Marcelo Grassmann, Hansen Bahia, Maria Bonomi, Miriam Chiaverini, Newton
Cavalcanti, Odetto Guersoni, Paulo Menten e Yara Tupinambá.
2
Aconteceram em novembro do ano de 1969: "Retrospectiva de Hansen Bahia", 98 gravu-
ras do artista alemão que se fixou na Bahia, em colaboração com o Instituto Goethe; em
dezembro: "25 anos de Gravura de Marcelo Grassmann”. Toda a obra gravada do artista,
em colaboração com a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em janeiro de 1970: "Gravado-
res Romenos", 79 trabalhos dos melhores gravadores da Romênia, em colaboração com o
Cultura e o RioArte.
20
Gravura MODERNA Brasileira. Acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Catálogo.15 de
setembro a 12 de outubro de1999, Rio de Janeiro.
21
COLEÇÃO Guita e José Mindlin. Coleção Monica e George Kornis. Espaço Cultural do Cor-
reios. Catálogo. 2 de setembro a 3 de outubro de 1999, Rio de Janeiro.
22
Montada no Rio de Janeiro, em outubro de 2007, foi levada para Curitiba, Salvador, Brasí-
lia e São Paulo, encerrando-se em setembro de 2008.
A GRAVURA Brasileira na Coleção Mônica e George Kornis. Catálogo. Caixa Cultural, Rio
23
de Janeiro, 2007.
24
GRAVURA e Modernidade. Gravura brasileira dos anos 1920 aos anos 1960 no acervo
da Pinacoteca de São Paulo. Gabinete de Gravura Guita e José Mindlin. Catálogo. Estação
Pinacoteca, nov. de 2014 a mar. de 2016. São Paulo.
Referências
GRAVURA e Modernidade. Gravura brasileira dos anos 1920 aos anos 1960 no
acervo da Pinacoteca de São Paulo. Gabinete de Gravura Guita e José Mindlin.
Catálogo. Estação Pinacoteca, nov. de 2014 a mar. de 2016. São Paulo.
NEISTEIN, José. Feitura das Artes. São Paulo: Ed. Perspectiva (Coleção
Debates-174)1981.
SPANUDIS, Theon. Arte das Formas e Artes das Formações” In: Revista
Arte&Ensaios n.23. Rio de Janeiro, Programa de Pós Graduação em Artes
Visuais/ Escola de Belas Artes , UFRJ, novembro de 2011, pp.135-143.
Figura 2. Vicente do Rego Monteiro, O Boto, 1921, aquarela e nanquim sobre papel,
35,4 x 26 cm. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Vicente permaneceu em Recife até 1921, ano que marcou seu retorno
para Paris. Durante esse período, o artista organizou oito exposições in-
dividuais. Nesse sentido, a capital pernambucana serviu de palco para a
apresentação das experiências simbolistas produzidas por Vicente, que
despertaram o interesse da elite intelectual do Recife e permitiram ao ar-
tista de colher críticas positivas na imprensa local. Somente na década de
1920, outras regiões brasileiras entraram em contato com a pesquisa vi-
sual antropofágica de base simbolista desenvolvida por Vicente do Rego
Monteiro. Em 1920 e 1921 ele organizou duas exposições no sudeste do
Figura 3. Vicente do Rego Monteiro, A caçada, 1923, óleo sobre tela, 202cm x 259,2
cm. Centro Pompidou, Paris
Notas
1
O atelier de Vicente, situado na Rua Gross, funcionou igualmente como um ponto de abri-
go para outros artistas e intelectuais pernambucanos como foi para o seu irmão mais novo,
o pinto Joaquim do Rego Monteiro, e para o sociólogo Gilberto Freyre.
2
N° 18 (out de 1925) – Les trois Religieuses et Nativité, N° 20 (dez 1925) – Mater Dolorosa et
le nu aux bras levés e N° 32 (fev 1927) – Adoration des berges.
Referências
Arquivos públicos
_____________________________________
Bibliografia
_____________________________________
rio oir
Cildo Meireles narra uma história das águas através das imagens sonoras
que se desenrolam de nossos ouvidos para dentro, evidenciando, tal qual
o artista e teórico Rodolfo Caesar defendeu, que “o som – esse suporte
privilegiado da música – não é facilmente dissociável da chamada ima-
gem.” (2012, p. 33, grifo do autor) Caesar não equipara o ato de ver ao de
escutar, mas alerta para o fato de que a imagem visual tem como seu o
estatuto imagético, apesar da existência tanto de imagens visuais quanto
de imagens sonoras. (CAESAR, 2013) Essa percepção não foi, no entanto,
inaugurada por Caesar, conforme pontuado pelo próprio artista e teórico.
Paul Valéry, em 1934, já alertava para esta questão, algo citado por Walter
Benjamin em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.
Um corpo que ri
O outro lado do disco começa com a risada de um bebê. Aos poucos, as gar-
galhadas de outras crianças vão se somando até que começam a surgir risa-
das de mulheres adultas, de homens, elas se embaralham, se adensam, se
diversificam. Quase ao final, gargalhadas que soam de forma mais madura
se apresentam e o emaranhado sonoro começa a se dissipar até que retor-
nam as risadas do neném. Há uma pausa e, em uma espécie de bis, emerge
uma última gargalhada – seria de uma bruxa? – e as gargalhadas cessam.
Nascer é ter voz. As nascentes dos rios cantam suas águas da mesma
forma que o bebê que nasce grita suas lágrimas para, logo mais, poder
sorrir e gargalhar. Talvez o espelho mais revelador da realidade não seja
aquele em que Narciso mirou sua figura e estampa, tampouco aquele que
os colonizadores portugueses deram aos indígenas, mas sim a voz que
parte de dentro do corpo para o mundo, a voz que transporta para o mun-
do os mais íntimos traços da identidade.
De acordo com LaBelle, a voz performa a interseção entre som e lin-
guagem através do discurso; ao partir do interior do corpo para se pro-
jetar em espaços exteriores a voz pode encontrar outras vozes. LaBelle
observa o paradoxo de Steven Connor segundo o qual a ambivalência
da voz estaria, ao mesmo tempo, dentro e fora, uma vez que é falada e
ouvida na cabeça do falante ela se torna “sensação vibratória e respira-
ção expelida”, gesto significante e mensagem comunicável. Esta dinâmica
permite reconhecer “nossa voz apenas quando ela nos deixa, apenas no
momento de sua articulação”. (LABELLE, 2008, p. 105-106 tradução nossa)
O riso, em rio oir, parece se instaurar, sobremaneira, no âmbito daquilo
que se encontra no exterior, fixando-se na dispersão das múltiplas gar-
galhadas, que se valem do ar como suporte, na busca por corpos/sujeitos
nos quais possa reverberar.
A partir da voz, os risos e as gargalhadas evidenciam o prazer que há
em gargalhar, para si e para aqueles ao seu redor que, por contágio, podem
acabar gargalhando também. A gargalhada ressoa no corpo daquele que ri
ao mesmo tempo em que toca os corpos dos sujeitos ao seu redor, tal qual
a voz que, como exalação, “carrega consigo o interior daquele que fala; o
Notas
1 Registramos nossos agradecimentos ao artista Cildo Meireles pela generosidade em nos
receber em seu ateliê e de dispor seu tempo para nos atender em uma série de entrevistas
realizadas desde janeiro de 2019.
2 Optou-se por não traduzir as palavras entrainment, entrain, entrained e entrainable por
acreditarmos que as expressões comportam, ao mesmo tempo, noções de encarrilhamen-
to, de arrastar, de se deixar levar pelo contágio e de ressonância.
CAESAR, Rodolfo. O som como é: imagem; água e ar, seus suportes. In: FLORES,
Livia (Org.) Pelas vias da dúvida: anais do 2o Encontro de Pesquisadores dos
Programas de Pós-Graduação em Artes do Estado do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Escola de Belas Artes, 2012, p. 32-45.
GIL, José. O corpo paradoxal. In: Movimento total: o corpo e a dança. São
Paulo: Editora Iluminuras, 2013, p. 45- 62.
MEIRELES, Cildo. Instalação rio oir, de Cildo Meireles. (Vídeo) Revista Época,
São Paulo: Editora Globo, 2011b. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=ZS-Nt2y3S4U>. Acesso em: 23 jan. 2019.
ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Primeiras estórias. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2005, p. 113-120.
WISNIK, Guilherme. Aqui, do lado de lá. In: Ocupação: Cildo Meireles rio oir
(catálogo de exposição). São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2011, p. 75-78.
Referências
BAZIN, André. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
PAULA, Nikita. Vôo cego do ator no cinema brasileiro. São Paulo: Annablume,
2001.
Juan Costa
Introdução
Assim como Breton propôs um novo olhar para a arte, esta pesqui-
sa também se fundamenta em trazer novos olhares para o Sertão. Estes
novos olhares serão baseados no surrealismo, movimento escolhido por
conta do ineditismo da confrontação destes dois assuntos, a ‘fotografia
do Sertão’ e as ‘ideias surrealistas’.
Discussões
Considerações Finais
Referências
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
do tempo gráfica criada por Dijkman não indica uma sucessão de datas de
eventos ocorridos no passado, como tradicionalmente poderiam apresen-
tar-se nos livros de história, nos monumentos ou nos memoriais. Sua sequ-
ência avança para o futuro, para um tempo que ainda não ocorreu, ou que
ainda não havia ocorrido no momento de realização da obra. Essas datas
correspondem a setenta filmes populares de ficção científica, começando
em 2008 e indo até o ano de 802.701. Todos eles têm em comum o fato de
ficcionalizarem o futuro, e as datas são relativas aos anos onde se passaria
sua ação. Junto ao nome dos filmes, encontra-se uma frase muito significa-
tiva de seu tema ou argumento. Por exemplo, ao ano de 2035 associa-se o
filme “Os 12 macacos” e a frase “O futuro é história”, e ao ano de 2119 conec-
ta-se o filme “Matrix” e a frase “A realidade é uma coisa do passado”.
O historiador Krzysztof Pomian nos diz que a cronologia é uma ma-
neira de representar o tempo por intermédio das “séries de datas e nomes
que mostram a sucessão de eras e suas subdivisões desde o ponto de
origem até agora, a distância entre os dois tendo sofrido uma enorme
dilatação nos últimos três séculos” (POMIAN, 2008, p. IX). Então, o que
constitui especificamente a cronologia na obra “Vagando pelo Futuro” é o
encadeamento da contagem sucessiva dos anos em ordem crescente, de
forma que o seu alinhamento se estende para o futuro mostrando como
este vai sendo imaginado pelos diferentes filmes.
1 O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico – Brasil.
2 Na transcrição, tentei manter as grafias, sequências, quebras de linhas e a mesma distri-
buição espacial que se encontra no texto reproduzido no livro.
3 Como é possível ver nesta passagem do livro “Uma breve história do tempo”, de Stephen
Hawking (2015, p.35): “Para todos os efeitos, o metro é definido como a distância percorrida
pela luz em 0,000000003335640952 segundo, conforme medido por um relógio de césio”.
Será que percebemos um tempo tão breve como esse? Além de definir o metro, o que
poderia significar a existência de um tempo tão breve como esse? Algo que nos escapa?
Uma impossibilidade?
4 Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/2001/10/01/o-proton-em-transforma-
cao/>. Acesso em: 19 mai 2020.
5 Débora Danowski e Eduardo Viveiros de Castro no livro “Há mundo por vir?” (2014) abor-
dam o tema do fim do mundo. Eles desenvolvem seu pensamento através do imaginário
das produções de diferentes culturas humanas. Nesses discursos, livros e filmes, tais como
os filmes The Day After Tomorrow (2004), de Roland Emmerich, Melancholia (2011), de Lars
von Trier, o romance The Road, de Cormac McCarthy, ou ainda a ficção ensaística de Gabriel
Tarde, Fragment d’histoire future, surge a possibilidade de uma extinção de toda a vida na
terra, ou do fim da espécie humana devida a um supervírus mortífero, a explosões nuclea-
res, a desastres naturais ou a crimes ambientais de alcance planetário.
6 Disponível em: <http://www.marjolijndijkman.com/?rd_project=164&lang=en>. Acesso
em: 19 maio 2020.
7 Idem.
Referências
AUSTIN, John Langshaw. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes Médicas,
1990.
MANATA, Franz (Org.). Guilherme Vaz – Uma fração do infinito. Rio de janeiro:
EXST, 2016.
Hélio Fervenza
INTRODUÇÃO
(...) lembro que o problema hoje é ético.
Lygia Pape, 1972
Figura 1. Nome das autoras, Espaço público de Porto Alegre durante o período de
pandemia, bairro centro, 2020. Foto Cláudia Zanatta.
(...) uma função que possa ser vista como “útil”, muito menos indis-
pensável, para o suave e lucrativo funcionamento da economia. Não
são necessários como os supostos produtores; mas numa sociedade
em que os consumidores, e não os produtores, são considerados
a força propulsora da prosperidade econômica (esperamos que a
recuperação “guiada pelo consumidor” nos tire dos problemas eco-
nômicos), os pobres também são inúteis como consumidores: não
serão seduzidos por lisonjas do mercado, não possuem cartões de
crédito, não podem contar com cheque especial nos bancos e as
mercadorias que mais precisam trazem pouco ou nenhum lucro
para os comerciantes. Não é de admirar que eles estejam sendo re-
classificados como “subclasse”: não mais uma anormalidade tempo-
rária esperando ser retificada e posta outra vez na linha, mas uma
classe fora das classes, uma categoria colocada permanentemente
fora dos limites do “sistema social”, uma categoria a que o resto de
nós prefere não pertencer. E todos estariam mais confortáveis se ela
não existisse. (BAUMAN, 2008a, p.72).
Figura 3. Lygia Pape, Fotogramas do vídeo em super 8 Divisor, 1967. Fonte: Lygia
Pape Espaço Imantado [catálogo de exposição], 2012.
Figura 6. Lygia Pape, Divisor Ação realizada em Lisboa, 2014. Fonte: https://www.
fernandomota.art/?lightbox=dataItem-jiexfahb
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhar com arte sempre foi lidar com incertezas. Períodos de crises são
oportunidades para reconsideramos nossas ações e a responsabilidade
Notas
1
Cidadania e Arte é um grupo originado no Instituto e Artes da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, em 2014 e vincula-se à linha de pesquisa “Arte pública participativa: articu-
lação entre poética e cidadania”. Para mais informações consultar: https://cidadaniaearte.
wordpress.com/
2
A decisão entre a saúde e o trabalho, a vida ou a sobrevivência, parece ser o novo parâme-
tro social. Não há emprego formal para todos, mas se a pessoa não tiver trabalho, ela não
vale nada. À parte disso, muito do trabalho contemporâneo é praticamente servil, precário,
destituído de todos os tipos de garantias, de proteções sociais.
Referências
BRETT, Guy. Lygia Pape. Uma semente permanentemente aberta. In: Catálogo
da exposição Lygia Pape. Espaço Imantado. São Paulo: Pinacoteca do Estado,
2012, pp.255-267.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas
vivos. São Paulo: Ed. Cultrix, 1997.
PAPE, Lygia. Espaço Imantado. In: Catálogo da exposição Lygia Pape. Espaço
Imantado. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2012, p. 244.
ZÉ, Tom. Com defeito de fabricação. (CD). NY: Luaka Bop/wea, 1998.
1
Stelarc (1946 - ), artista australiano, usa próteses, robôs, sistema de realidade virtual, inter-
net e biotecnologia para explorar alternativas de interfaces para o corpo. Ele se interessa
pela arquitetura evolucionária do corpo e maneiras possíveis de reconfigurá-lo através de
implantes e exoesqueletos. http://web.stelarc.org/
Para mim não há diferença entre o corpo e a mente, quer dizer, não
se trata de coisas distintas, são uma coisa só. A consciência humana
é resultado de um processo biológico e cultural que tem como su-
porte o próprio corpo e sem ele não existe nenhuma possibilidade
individual de consciência (ROCA, 2006).
2
Marcel-lí Antúnez Roca (1959 - ), artista catalão que parte de performances no anos 1980
e 90, com foco na atualidade em performances mecatrônicas.
REFERÊNCIAS
KAC, Eduardo. Time Capsule, 1997. Acesso em fev. 2012. Disponível em:
https://www.ekac.org/kactimbr.html.
LOVERY, Margot. Digital currents: art in the electronic age. Nova York e
Londres: Routledge Taylor & Francis Group, 2008.
NANCY, Jean-Luc. The Ground of the Image. New York: Fordham University
Press, 2005.
A arte visa conferir forma e peso aos mais invisíveis processos. Quan-
do partes inteiras da nossa vida caem na abstração devido à mu-
dança de escala da globalização, quando funções básicas do nosso
cotidiano são gradualmente transformadas em produtos de consu-
mo […], parece muito lógico que os artistas procurem rematerializar
essas funções e esses processos, e devolver concretude ao que se
furta à nossa vista. […] como suportes de experiências: a arte, ao
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.
MORAES, Dijon de. Limites do Design. São Paulo: Studio Nobel, 1999.
MILLER, Daniel. Stuff. Cambridge, UK; Malden, MA: Polity Press, 2010.
PETROSKI, Henry. A evolução das coisas úteis: clipes, garfos, latas, zíperes e
outros objetos do cotidiano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2007.
Luisa Paraguai
Introdução
Figura 2. Albrecht Dürer, Visão de Sonho, 1525. Aquarela sobre papel, 30 x 43 cm.
Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria. Fonte: http://warburg.chaa-unicamp.com.
br/obras/view/489.
Caramujo-Sonhador
Sonho de Quarentena
Figura 9. Pintura rupestre, 9.300 anos, Cueva de las manos, Argentina. Fonte:
https://www.cuevadelasmanos.org/foto-arte-rupestre.html.
Lima (2015), ao estudar a obra A terra dos mil povos, de Kaká Werá,
chama a nossa atenção para a função da Roda do Sonho também como
um momento de se encontrar orientações para as situações em pauta na
aldeia. Neste caso, o sonho:
Notas
1
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde reconheceu a COVID-19 como
uma pandemia: https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-openin-
g-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
2
Website da rede RIA 40tena: https://ria40tena.wixsite.com/ria40tena
3
Sonho de Quarentena: https://www.instagram.com/sonho.ria40tena
4
Endereço do grupo de pesquisa NuPAA no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil -
CNPq: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6237544308757036
5
“In the night between Wednesday and Thursday after Whitsunday I saw the appearance
in my sleep – how many great waters fell from heaven. The first struck the earth about 4
miles away from me with terrific force and tremendous noise, and t broke up and drowned
the whole land. I was so sore afraid that I awoke from it. Then the other waters fell and as
they fell they were very powerful and there were many of them, some further away, some
nearer. And they came down from so great a height that they all seemed to fall with an
equal slowness. But then the first water that touched the earth had very nearly reached it,
it fell with such swiftness, with wind and roaring, and I was so sore afraid that when I awoke
my whole body trembled and for a long while I could not recover myself. So when I arose
in the morning I painted it above here as I saw it. God turns all things to the best”. Texto de
Albrecht Dürer situado abaixo da imagem do sonho (MASSING, 1986, p. 241).
6
COSTA SILVA, Manuela Thayse. Mar de Dentro: do onírico ao poético. 2017. 103 f. Traba-
lho de Conclusão de Curso – Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2017.
7
Informação verbal passada na primeira aula do curso O Poder do Sonho, em 2 de junho de
2020. Kaká Werá: https://www.kakawera.com
8
Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues foi convidada a participar da rede RIA 40tena pela
Referências
CAMPBELL, Mary Baine. The inner eye: early modern dreaming and
disembodied sight. In: PLANE, Ann Marie e TUTTLE, Leslie (eds.). Dreams,
dreamers, and visions: the early modern Atlantic world. Philadelphia:
University of Pennsylvania Press, 2013, p. 33-48.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019.
LIMA, Tarsila de Andrade Ribeiro. A terra dos mil povos: história indígena do
Brasil contada por um índio e a questão do real-maravilhoso. In: SANTOS, Ana
Cristina dos; DIOGO, Rita (org.) O fantástico em Ibero-América: literatura
e cinema. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2015, p. 192-207. Disponível em:
http://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/LIVRO_Ibero-
America_22-01-2015.pdf. Acesso em: 10 jun. 2020.
Fig.4 O Louco, arcano O, encenado por Daniel Gustavo. Foto Liana Keller
Notas
1
Seguindo a grafia internacional, adotada nas traduções de Jodorowsky, a artista opta usar
o T mudo e não a palavra tarô tal como é recorrente nas edições brasileiras.
2
Os resultados visuais do projeto corpalma e demais trabalhos de Liana Keller podem ser
visualizados em:
https://www.facebook.com/kellerliana/photos/
https://www.flickr.com/photos/lianatrapo/albums/72157641647658804
https://www.instagram.com/lianakeller_arte_tarot/?hl=pt-br
Acessos em julho de 2020.
Referências
CALVINO, Italo. O castelo dos Destinos Cruzados. São Paulo: Companhia das
Letras, 1991.
Paola Zordan
Liana Keller
Introdução
Tudo começou com as dores daqui, acessando as de lá. Nesta noite, en-
quanto tomava banho, visitei o Alívio1. Ao dormir, acordei embaixo de um
pé-de-pau2, o flamboyant vermelho que fica em frente à casa de iaiá e
ioiô3. Dormi aqui e acordei lá para lembrar do tempo que adormecia, não
embaixo, mas em cima do flamboyant, árvore de tronco forte, que veio
da África, assim como os meus ancestrais. Era o melhor lugar que eu tinha
para estudar. Lá do alto eu observava todos os que estavam à minha volta.
Era possível ver a casa de farinha onde ficavam os meus desenhos. Nes-
sas idas e vindas, entre o processo de recordar e desenhar, entendo que
cada linha que traço hoje é um pedaço de história que escrevo. Passado e
presente se misturam e eu já não sei mais em que tempo vejo. Com a lam-
parina em punho, sigo iluminando, acompanho as linhas do meu traçado
que começou ainda na infância. Percebo que cada parte que se alumia, no
meu trabalho, é um pedaço da minha história que se acende.
Poéticas de libertação
Figura 2. Rosana Paulino, série Bastidores, 1997. Xerox transferido para tecido,
bastidor de madeira e linha. Dimensão: 30 cm de diâmetro. Fonte: http://www.
rosanapaulino.com.br
Figura 3. Dalton Paula, Corpo Indivíduo A, 2011. Fotografia 60 x 180 cm. Foto: Vinícius
de Castro. Edição: Heloá Fernandes. Fonte: https://www.daltonpaula.com.
Figura 4. Lucélia Maciel, Memórias, 2019. Nanquim sobre papel kraft, 224 x 200 cm.
Foto: Paulo Rezende. Fonte: Arquivo pessoal
Figura 6. Lucélia Maciel, Tenor, 2019. Instalação. Vidro, algodão e álcool. Foto: Paulo
Rezende. Fonte: Arquivo pessoal.
Considerações finais
Notas
1
Lugar onde nasci, na Chapada Diamantina, Bahia.
2
Pé-de-pau, no nordeste do Brasil, é um termo popular usado para nos referirmos a qual-
quer árvore.
3
Iaiá é o tratamento usado em alguns lugares do interior da Bahia para avó. Ioiô é a forma
masculina.
Referências
Entremeios
A Casa das Onze Janelas integra o Núcleo Cultural Feliz Lusitânia (Fig. 1)
que está associado ao projeto de restauração do núcleo urbano que deu
origem à cidade de Belém. O projeto assume os vestígios colonialistas
em sua própria denominação, visto que o Núcleo Feliz Lusitânia refere-se
à área do entorno do Forte do Presépio, onde foi construído o primeiro
agrupamento de casas de Belém. A primeira etapa do projeto foi concluí-
da quatro anos antes da criação da Casa das Onze Janelas, em 1998, com
a inauguração do Museu de Arte Sacra do Pará (MAS) e implantação do
Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM).
A Casa das Onze Janelas possui em seu acervo obras de artistas como Adria-
na Varejão, Alex Flemming, Amilcar de Castro, Armando Queiroz, entre ou-
tros. A possibilidade de trabalhar com obras desses artistas e de tantos ou-
tros pertencentes a diferentes coleções do museu, já demonstra a força do
acervo e o potencial educativo, que pode tramar ações, reflexões e formular
propostas, visando à difusão do conhecimento e estimular a sensibilidade
e percepção do mundo por via da arte. A Sala Ruy Meira, com o seu Gabi-
nete de Papéis, nesta última versão ainda doinibiliza ao público gravuras e
desenhos de artistas renomados, como Tarsila do Amaral, Volpi e Manoel
Pastana, com suas pranchas preenchidas de arte decorativa, que apontam
para o que conheceríamos, tempos depois, como design.
Questiona-se novamente: Como a lógica de dominação criada e mi-
nada por uma Matriz Colonial de poder pode ameaçar duas vezes, em tão
pouco tempo, um museu de arte contemporânea, representativo para a
Região Norte? Por que decretar o fim de uma potência educativa e de pre-
servação, que podem ser trabalhadas no campo da arte e da cultura, disse-
minando conhecimentos, ativando subjetividades e sensibilidades? Walter
Notas
1
Franciza Toledo faleceu precocemente, em 12 de outubro de 2010. Ela era arquiteta/
conservadora especialista em conservação de museus de Pernambuco; dedicou-se aos
estudos acerca das estratégias de conservação de acervos em museus em locais de clima
quente e úmido, bem como em sistemas alternativos de controle ambiental em condições
tropicais. Esteve em Belém prestando consultoria em dois momentos – um em 2001/2002,
no processo de implantação dos museus; e depois em 2005, para orientações do projeto
do Gabinete de Papéis.
2
Por orientação de Toledo foi feita a inserção de algumas “fitas medidoras, cuja leitura visu-
al em uma escala de cores (tons de azul e rosa) não é muito precisa” (TOLEDO et al., 2016).
3
Referimo-nos à Secretaria de Cultura do Estado, ao SIM e à direção do museu.
Referências
Orientações Gerais
Referências
BARRIO, Artur. Manifesto, 1969. In: FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecilia (Orgs.),
Escritos de Artista: Anos 60/70. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, pp.262-263.
ARTUR BARRIO E CRISTINA MOTTA. Artur Barrio, 2008. Disponível em: <http://
arturbarrio-trabalhos.blogspot.com/>. Acesso em 10 de julho de 2020.
REITOR
Prof. Dr. Edward Madureira Brasil
VICE-REITORA
Profa. Dra. Sandramara Matias Chaves
PRÓ-REITOR DE PESQUISA E INOVAÇÃO
Prof. Dr. Jesiel Freitas Carvalho
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E CULTURA
Profa. Dra. Lucilene Maria de Sousa
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
Prof. Dr. Robson Maia Geraldine
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Laerte Guimarães Ferreira Júnior
APOIO
ORGANIZAÇÃO
Coordenação Geral
Profa. Dra. Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues. FAV/UFG
Prof. Dr. Cleomar de Sousa Rocha. FAV/UFG
Tesouraria
Prof. Dr. Hermes Renato Hildebrand. IAR/UNICAMP
Profa. Dra. Lara Lima Satler. FIC/UFG
Assessoria
Anna Beatryz R. Cardoso. MEDIA LAB/UFG
Julia Mariano. MEDIA LAB/UFG
Reuben Lago. MEDIA LAB/UFG
Design
Eloá Augusta Ribeiro.
Daniel Barros Moreira.
Sistema de Informação
Prof. Dr. Daniel Paz de Araújo. CEATEC/PUC-Campinas
Coordenação da Monitoria
Cleomar de Sousa Rocha
Hermes Renato Hildebrand
Leda Maria de Barros Guimarães
Monitores
Amauri Batista de Souza
Anna Carolina Mendes Ramos
Aurisberg Leite Matutino
CONSELHO EDITORIAL
Comitê de Curadoria
Ana Maria Albani de Carvalho. PPGAV/IA/UFRGS
Francisco Eduardo Coser Dalcol. PPGAV/IA/UFRGS
Franciele Filipini dos Santos. PPGARTE/IdA/UnB. (Suplente)
Comitê de Educação em Artes Visuais
Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva. PPGAV/CEAD/UDESC
Robson Xavier da Costa. PPGAV/CCHLA/UFPB
Ana Luiza Ruschel Nunes. PPGE/SCHLA/UEPG. (Suplente)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Adriana Rodrigues Suarez [UEPG]
Agda Regina de Carvalho [Instituto Mauá de Tecnologia]
Alexandra Cristina Moreira Caetano [NDNP]
Alice Jean Monsell [UFPEL]
Ana Cavalcanti [UFRJ]
Ana Fabíola Pedrosa de Vasconcelos [USP]
Ana Luiza Ruschel Nunes [UEPG]
Ana Maria Albani de Carvalho [UFRGS]
Andréa Brächer [UFRGS]