Mencarelli - Cena Aberta - Introdução PDF
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JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL A ABSOLVIÇÃO DE UM BILONTRA E O
TEATRO DE REVISTA DE ARTHUR AZEVEDO
~~
VF'"
Editora da Unicamp
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LUIZ FERNANDO MILANEZ
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MARGARIDA DE SOUZA NEVES
DÉA RIBEIRO FENELON
FINEP
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP
Mencarelli, Fernando Antonio
M521c Cena aberta: a absolvição de um bilontra e o teatro
de revista de Arthur Azevedo / Fernando Antonio
Mencarelli. - Campinas, SP: Editora da Unicamp / Centro
de Pesquisa em História Social da Cultura, 1999.
(Coleção Várias Histórias)
-1. Azevedo, Arthur, 1855-1908. 2. Teatro de revista-
Brasil - História. L Título.
20.CDD - 792.70981 COLEÇÃO V ÁRIAS HISTÓRIAS
ISBN: 85-268-0479-0
v ~ri?ls
Índices para catálogo sistemático: H1Stórras
1. Teatro de revista - Brasil - História 792.70981
do advogado de defesa, sr. Alberto de Carvalho, a constatação Era simples. Teria havido um grande desfalque no Mi-
de que a absolvição de seu cliente já havia sido advogada nistério do Império. Três contos de réis. O diretor estava em
pela revista de ano O bilontra e concedida pelo julgamento apuros. Se o comendador pudesse ajudar a resolver o proble-
popular através de seu enorme sucesso.' ma antes que este chegasse aos mais altos escalões, o diretor
De fato, ao estrear, O bilontra apresentava um final em lhe seria eternamente grato e, decerto, poderia utilizar sua
que o personagem principal, Faustino, o bilontra, não chega- influência inegável na obtenção do título de barão para quem
va a ir a-julgamento e prometia se regenerar. Dois meses após lhe prestara tão grande favor.
a estréia, no entanto, quando a peça já tinha deslanchado pe- O madeireiro ponderou alguns dias sobre a proposta,
rante o público, os autores mudam seu final, acrescentando mas por fim convenceu-se de que aquela era sua grande
um novo ato. Agora, Faustino, além de se regenerar, faz-se chance. Entregou o dinheiro. De posse deste, Lima e Silva
absolver pelo Tribunal do Júri do crime de estelionato." O pro- procurou justificar-se a respeito da demora na outorga do tí-
cesso, que já havia movimentado a opinião pública quando tulo e alegou vários imprevistos para conseguir mais alguns
tivera início em setembro de 1884, tornou-se motivo de riso réis. Por fim, pressionado, marcou a data da entrega do títu-
na cidade a partir da estréia da peça de Azevedo e Sampaio, lo. O comendador, que poderia ser chamado a partir de então
chegando a provocar momentos de hilaridade geral na corte de "barão de Vila Rica", organizou urna grande festa para
do Tribunal do júri." exibir o decreto a toda a sociedade. Lima e Silva compareceu,
Que caso policial foi esse capaz de mobilizar tantas aten- divertiu-se, e só desapareceu quando o comendador exibiu o
ções e provocar tão profundamente o humor dos moradores título a seus convidados.
da cidade? A queixa fora feita contra o empregado de comér- Alertado sobre as evidências de ser aquele um documen-
cio Miguel José de Lima e Silva, que era acusado de crime de to falsificado, o comendador enfim despertou para a possibi-
estelionato e falsificação pelo comendador e comerciante por- lidade de ter sido ludibriado, o que confirmou na manhã se-
tuguês Joaquim José de Oliveira por ter-lhe conseguido um guinte no Ministério. Enfurecido, apresentou imediata queixa
falso título de barão em troca da valiosa quantia de três con- à polícia. O caso chegou à imprensa e se transformou em mo-
tos de réis. O episódio, recheado de humor principalmente tivo de sonoras gargalhadas por toda a cidade. Tendo inicia-
pela ingenuidade do comendador, tem início com a aproxima- do em outubro de 1884,'0 processo se estendeu ainda por dois
ção do pilantra e gozador Lima e Silva que, ciente da vontade longos anos, tendo sido encerrado apenas em setembro de 1886.
pública e notória do honesto, iletrado e rico comerciante de Azevedo e Sampaio viram logo o potencial do caso para
madeiras em possuir um título de nobreza, tornou-se aos pou- ser explorado na nova revista de ano que escreviam sobre os
cos seu amigo e confidente. A confiança conquistada foi o pri- acontecimentos do ano de 1885 e o transformaram no eixo
meiro passo para propor a realização do sonho do comen- central da peça, dando o papel principal de condutor da re-
dador, uma vez que, segundo o bilontra, suas boas relações vista (compêrei, ao bilontra, que aqui passou a chamar-se Faus-
com um diretor geral do Ministério do Império tinham lhe tino, e um secundário para o comendador.
apresentado a ocasião perfeita para obter o baronato almeja- Ocupados com um pequeno e caricato Fausto tropical,
do pelo amigo português. Trabalho e Ociosidade, encarnações do Bem' e do Mal, dispu-
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Cena aberta
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Fernando Antonio Menearelli
Cena aberta
I As questões que vão se apresentando, umas após as ou- de 19 revistas de ano que lotaram teatros, deram lucros
II tras, constroem um intrincado labirinto onde só ousamos en- auspiciosos a seus produtores e, principalmente, fizeram a
trar com o auxílio das estratégias e pistas que nos ensinam cidade se divertir com o seu próprio retrato. Mais curioso ain-
alguns dos estudos mais recentes na área da história da cul- da é que, na virada do século, as revistas de ano já estavam
tura.'? em baixa, tendo tido seu auge e declínio ao longo dos contur-
A-primeira pergunta que nos toma de assalto e que, aliás, bados anos 80 e 90 que assistiram à transformação do Rio de
nos motivou desde o princípio deste estudo é anterior ao pró- sede da corte em capital federal.
prio episódio do "bilontra". Afinal, o que levou um autor co- A partir desta constatação, dois tipos de questões se co-
mo Arthur Azevedo, um dos principais representantes do gru- locam: por que as revistas de ano viram fenômeno nessa épo-
po de literatos que dominou a cena cultural do Rio nas últi- ca? Que íntima relação houve entre esse momento específico
mas décadas do século passado, a dedicar-se a um gênero tão da história social e cultural da cidade e esse gênero teatral
"destituído de nobreza" - segundo o ponto de vista dos lite- cuja fórmula de preparo era fielmente seguida pelos autores
ratos contemporâneos - como as revistas de ano? Por que locais? Por que é justamente O bilontra que deflagra esse su-
Azevedo dirigiu a maior parte de sua produção para o teatro cesso e emplaca o gênero, quando este já vinha sendo tentado
popular, em seus mais variados gêneros, principalmente as há alguns anos pelo próprio Azevedo e outros autores? Qual
revistas de ano, numa época em que seus pares literários fa- e.ra a novidade de O bilontra que se transformou em popula-
ziam de suas penas instrumentos de luta pelas "grandes cau- ridade e potencializou o sucesso de um gênero teatral?
sas da civilização" num país em construção? Que razões ex- O tema central da peça era a bilontragem, apresentan-
plicariam o fato de terem as revistas de ano grande destaque do uma estrutura que colocava um enfrentamento direto en-
no conjunto das obras deste ilustre membro fundador da Aca- tre os personagens alegóricos do Trabalho, moralmente iden-
demia Brasileira de Letras e reconhecido como a maior figura tificado ~om o Bem, e do Ócio, o Mal. A própria oposição Tra-
do teatro nacional do final do século XIX?Sendo um membro balho x Ocio, na forma como é apresentada aqui, é restritiva e
da elite cultural que participou ativamente da vida da cidade oculta um embate em torno dos significados dos termos tra-
numa época de tão profundas transformações, a ligação de vado então entre diferentes visões sobre o que caracterizaria
Azevedo com o teatro ligeiro, que tem papel predominante a ociosidade e o trabalho. Há uma historiografia recente que
em toda sua vida e obra, apresenta-se para nós como o pri- se debruça sobre esse tema e que norteará a reflexão sobre ele
meiro dos fatos obscuros dos quais procuramos extrair possí- neste trabalho." Para uma certa elite, por exemplo, falar em
veis significados. trabalho era praticamente falar em trabalho assalariado, e era
Outro aspecto em questão diz respeito a um fenômeno conveniente também confundir atividades autônomas e ou-
que também vai além dos limites do "caso do bilontra", mas tros expedientes com vadiagem. Como interpretar então' a ab-
que tem a revista de ano de Azevedo e Sampaio como marco solvição do bilontra ao final da peça, mesmo após sua supos-
inicial. As revistas de ano tornaram-se, a partir de O bilontra, ta regeneração?
um dos gêneros teatrais de maior popularidade no Rio do Para além destas questões mais amplas que dizem res-
final do século; e Azevedo, o responsável por uma sucessão peito à autoria e gênero teatral, há aquelas que nos coloca a
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Fernando Antonio Mencarelli Cena aberta
I
relação entre o caso do falso baronato de Vila Rica e a revista fessora de literatura carioca Flora Sussekind, ao qual este tra-
de ano que o inspirou. Através dela, buscamos refletir sobre a balho deve sua principal motivação e com o qual buscamos
maneira como a representação teatral podia se inspirar na estabelecer um diálogo a respeito de várias questões. Nele, a
realidade cotidiana e transformá-Ia em matéria para a diver- autora faz um estudo das revistas de ano de Arthur Azevedo,
são e o debate público de certas questões, assim como inda- procurando suas relações com as transformações pelas quais
gar-nos sobre o curioso "efeito bumerangue", que fez a cons- passava a cidade do Rio de Janeiro no período.
trução fictícia armada no palco ser utilizada para interferir Para Flora Sussekind, as revistas de ano tornaram-se
nos rumos das decisões do tribunal, estabelecendo uma rela- muito populares nas últimas décadas do século passado porque
ção entre júri, jornal e teatro, revelando-os como instâncias
in tercom unican teso era como se a história e as reformas tivessem se acele-
As perguntas se sucedem à medida que analisamos a radode tal maneira que a sociedade fluminense neces-
reação de Arthur Azevedo à decisão do Tribunal do Júri. Afi- sitasse de mapas teatrais renovados anualmente para
nal, como começamos a discutir anteriormente, por que ele que pudesse manter seu autoconceito e um projeto
se manifesta publicamente contra a decisão do tribunal? Como coletivo de futuro.l"
I[ viu o uso da revista e seus efeitos sobre os rumos do proces-
so? Qual o sentido que ele atribuiu ao final que inocentava o Para ela, as revistas de ano, assim como os panoramas,"
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bilontra na revista de ano? De que forma o tratamento dado que também estavam em moda na época, teriam a função de
il ao bilontra pela revista foi interpretado pelo tribunal? De que "criar" uma imagem da cidade para o espectador atônito com
forma estavam embutidas na revista diferentes e igualmente as transformações aceleradas. Na expressão de Flora Sussekind,
possíveis leituras? O que Azevedo quis dizer quando argu- as revistas e os panoramas seriam como "miragens tranqüi-
mentou que só porque o bilontra os fez rir os membros do lizadoras da Capital"." Esse papel de criar "painéis" da cida-
júri não poderiam tê-lo inocentado de suas culpas? de, de realizar uma leitura das transformações urbanas, ca-
Essas múltiplas questões e relações entre autor, gênero beria, portanto, também às revistas de ano. Para ela, esta é
teatral, texto, público e tribunal formam uma teia de signifi- uma das respostas possíveis para a popularidade das revis-
cações" que convidam ao exercício da interpretação, na bus- tas no período, o que hplicaria também o declínio do gêne-
ca de compreender aspectos de nossa história onde ela pare- ro, quanto à aceitação popular, quando, na passagem do sé-
ce ocultar seu sentido. A formulação dessas questões e a bus- culo, solidificava-se a República e a modernização da capital
ca de suas respostas estiveram especialmente pautadas pela federal.
bibliografia, ainda um tanto reduzida, que se ocupa dos estu- Ao longo do ensaio, Flora Sussekind analisa vários as-
dos da obra e da personalidade de Arthur Azevedo e do de- pectos das revistas de ano que contribuem fundamentalmen-
senvolvimento dos gêneros de teatro ligeiro no Brasil do final te para a compreensão de sua estrutura e eficácia como gêne-
do século XIX.13 ro teatral. Há, contudo, alguns pontos que merecem ser dis-
Dessa bibliografia é preciso destacar a importância do cutidos. Entre eles, aquele que motiva este trabalho. Ao reco-
ensaio As revistas de ano e a invenção do Rio de Janeiro, da pro- nhecer na revista de ano uma forma de "inventar" a cidade e
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Cena aberta
Fernando Antonio Menearelli
o cidadão numa época de intensas transformações, uma for- Num momento em que a sociedade carioca passava por
ma de criar uma "imagem", uma "miragem tranquilizadora um intenso processo de transformação - que tem sua face
da capital", essa abordagem, ao mesmo tempo e~ que parece mais visível nos projetos de reforma urbana que" expulsam"
revelar a operação básica que constitui as revistas d~ ano, as camadas mais pobres para fora do centro da cidade, mas
parece também, contudo, eludir as fo~mas co~o os dIfere~- também se estende por outros mecanismos de controle so-
tes personagens dessa sociedade flummense VIvem ~ssa hIS- cial, como as intervenções médicas de higienização do espa-
tória. Autor, espectador, cidadão, todos aparecem imersos ço público -, qual o significado que assume um gênero tea-
num processo de modernização, sem que haja maior precisão tral como o das revistas de ano, que integra elementos de tra-
quanto ao perfil de cada um desses personagens e da forma dições culturais distintas que estão em confronto direto em
como cada um deles vê e se relaciona com essas mudanças. outros campos?
Para a compreensão dos mecanismos de funcionamen- A compreensão das revistas como criadoras de mira-
to das revistas de ano e dos seus significados como produto gens tranqüilizadoras da cidade, como elemento no processo
cultural no contexto da sociedade carioca das últimas déca- de "invenção" do Rio de Janeiro, é uma abordagem extrema-
das do século XIX, não podemos deixar de considerar, por mente refinada, mas que neste caso, porém, parece pressupor
exemplo, a relevância das complexas relações que deviam se uma certa homogeneização da sociedade, abstraindo a possi-
estabelecer entre todos os envolvidos nas montagens das 'pe- bilidade de diferentes significados e interpretações estarem
ças de Arthur Azevedo: atores, músicos e cenógrafos, m~Ito.s sendo produzidos pelas revistas, conforme os diferentes seg-
de origem pobre (imigrantes, negros ou mula~o~);um públi- mentos sociais realizavam apropriações e atribuíam sentidos
co formado principalmente pelas camadas ~edIas ~a popu: segundo visões dinâmicas dos temas abordados. Olhar a re-
lação; e o próprio autor, um escritor e jornalIsta relacionado a vista a partir desse ponto de vista pode levar-nos a encontrar
elite cultural da cidade do Rio de Janeiro. Como se cruzavam as outras razões para seu sucesso no período.
diferentes experiências, histórias e visões desses "persona- Por tratar, quase jornalisticamente, dos temas cotidia-
gens" envolvidos na produção das revistas de ano e quant.as nos da cidade, a revista de ano tinha grande apelo popular, o
eram as leituras possíveis de um personagem, cena ou traje- mesmo que levou ao grande desenvolvimento da imprensa
arioca no período que, a partir do final da década de 70,
tória de uma revista de ano? .
Também não podemos deixar de observar as ~últiplas .impliou consideravelmente o número de títulos e exempla-
referências contidas no próprio gênero teatro de revista que, 1'(' em circulação e conquistou um grande interesse do públi-
ido avidamente também pelos diferentes estratos das illnhava o episódico e se coloca como uma dobra tênue sobre
consum "
camadas médias e das elites das grandes cidades europeIas e I noticioso, deformando-o como no procedimento da carica-
1111 I. Mas a multiplicidade de elementos e de diferenças so-
americanas de final do século XIX.
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Fernando Antonio Menearelli Cena aberta
ciais que estavam presentes no percurso da produção à re- o fenômeno do sucesso das revistas de ano de Arthur
cepção desse gênero teatral lhe imprime um alto grau de am- Azevedo, que com outras revistas de ano de grande sucesso
bigüidade e de multiplicidade de sentidos que, a nosso ver, na época praticamente dominaram o panorama teatral da ci-
ficam ocultos na leitura que os interpreta como "painéis" ou dade do Rio de Janeiro no período, é de grande valor para o
"miragens tranqüilizadoras da capital". estudo da história social e cultural do Brasil no final do sécu-
Há ainda uma questão que precisa ser discutida com lo passado. Sua riqueza como fonte de pesquisa é enorme de-
relação ao trabalho de Flora Sussekind. No decorrer da análi- vido às suas características. O episódio de O bilontra mostrou-
se, ela exemplifica o processo de transformação e moderniza- se como uma possível pista a ser seguida para enfrentar o la-
ção do Rio de Janeiro através das reformas urbanas e das birinto de informações sobre o cotidiano da cidade e seus per-
mudanças que acompanharam a passagem da condição de sonagens que as revistas nos proporcionam e buscar explica-
corte imperial para capital federal, enfatizando sempre a im- ções sobre as razões de seu grande sucesso. As questões que
portância da leitura que a revista realiza desta nova paisa- esse episódio propunha compunham-se de maneira a sugerir
gem urbana. um sentido oculto que convidava ao exercício da interpretação.
A análise é perfeitamente procedente no que diz res- Por que esse gênero de teatro ligeiro, conhecido como
peito à cidade do Rio de Janeiro no período, mas é preciso revistas de ano, transformou-se em uma das formas mais po-
lembrar que as revistas de ano e suas imediatas variações eram, pulares da cultura urbana do Rio de Janeiro nas duas últimas
no mesmo período, um fenômeno de escala muito maior, es- décadas do século passado, a ponto de tornar-se um dos prin-
tando presente nas principais capitais da Europa e da Améri- cipais núcleos da obra de Arthur Azevedo, o mais expressivo
ca. Portanto, se a análise para a cidade do Rio de Janeiro se autor dramático do período? Por que um gênero considerado
atém a dois pontos que dizem respeito especificamente à ci- menor e sem valor literário seduziu por tantos anos um dos
dade, como as reformas urbanas e a passagem de corte a ca- futuros fundadores da Academia Brasileira de Letras? Quais
pital da República, falta-nos a identificação de outros indica- eram as razões do sucesso das revistas de ano? Estas são as
dores que possam dar conta do fenômeno de modernização principais questões que nortearam este trabalho. O episódio
ocorrido nas grandes cidades do Ocidente, que criava a pos- do "bilontra" possibilitou relacioná-Ias através de uma for-
sibilidade da existência de uma certa realidade cultural em mulação mais definida e referenciada historicamente: quais
comum, entrevista, por exemplo, em fenômenos pontuais foram as razões do sucesso de O bilontra, que deflagrou a po-.
como o da existência de uma manifestação artística, neste caso, pularidade do gênero revista de ano no Rio de Janeiro, e como
um gênero teatral, que se desenvolveu no mesmo período em esse sucesso pode ser explicado pela forma como um novo
todas estas cidades. A questão, portanto, fica sendo a de in- gênero artístico de determinadas características abordava te-
vestigar mais detalhadamente, para a cidade do Rio de Janei- mas polêmicos, e de interesse comum a essa sociedade, como
ro, elementos que constituíam essa nova realidade cultural a oposição alegórica entre o trabalho e o ócio, particularmen-
urbana, que tinha como pano de fundo e entre seus temas te, então na ordem do dia.
prediletos a questão da reforma urbana e da condição de ca- Para buscar respostas às questões apresentadas até aqui,
pital da República. vamos nos basear em alguns dos estudos recentes sobre a his-
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Fernando Antonio Menearelli Cena aberta
tória da cidade do Rio de Janeiro no final do século passado, importantes formas de expressão artística do período no Rio
que têm mostrado corno as transformações pelas quais pas- de Janeiro - uma das mais populares, sem dúvida, incluindo
sava a cidade estão relacionadas a um processo de "moderni- nessa designação também o circo e outras variantes - (assim
zação" que não foi levado a cabo de forma consensual, corno corno o foi durante a Belle Époque em quase todas as princi-
uma inevitável necessidade social, mas que se deu, nas várias pais cidades da Europa e da América, antes do aparecimento
instâncias da sociedade, através de um permanente embate do cinema), de grande penetração social, atingindo várias ca-
de diferentes visões. Esses estudos tratam desde questões re- madas da sociedade através de uma multiplicidade de gêneros.
lativas ao processo de formação de um mercado de trabalho Se o teatro tinha urna importância tão considerável no
livre, que culmina com o fim da escravidão, quanto dos pro- panorama cultural da Belle Époque carioca, proporcional a
jetos de reforma urbana, que expulsaram as camadas mais essa importância era o papel exercido por Arthur Azevedo,
pobres do centro da cidade, estendendo-se também por ou- destacada figura pública dos meios literários, em diversas
tros mecanismos de controle social corno as intervenções mé- manifestações do fenômeno teatral. Crítico permanente ao
dicas de higienização do espaço público." longo de quase toda sua carreira, nos principais jornais do
Alguns poucos estudos, fundamentais para esta pesqui- Rio de Janeiro, tradutor de alguns clássicos da comédia, bem-
sa, têm tratado também da forma como os intelectuais e os sucedido parodiador de opere tas francesas, comediógrafo in-
artistas ela época viveram e pensaram essa "paisagem" em discutível, autor de inúmeras peças, e entre elas algumas das
constante transformação. Esses estudos procuram resgatar o principais comédias musicais da história de nossa dramatur-
ambiente intelectual em que poetas, romancistas, dramatur- gia, autor de dramas bem menos relevantes, principal mili-
go~ e literatos em geral (que em quase sua totalidade tinham tante em prol da construção do Teatro Municipal do Rio de
como ocupação principal a atividade jornalística ou outra não Janeiro, um dos poucos representantes da dramaturgia no gru-
literária, corno a engenharia, a política, o funcionalismo pú- po de notáveis que formou a Academia Brasileira de Letras,
blico etc., já que o processo de profissionalização do "escri- Azevedo encarnava a figura onipresente e ambígua do dublê
tor" estava ainda em fase de formação) produziram suas obras de intelectual e artista que se dedicou integralmente à causa
e quais eram então as várias visões sobre esse processo de do teatro e terminou por associar sua vida a ele.
"modernização" que estavam em debate. Procuram também Neste trabalho, vamos ao encontro dessa figura referencial
reconstituir os circuitos de circulação desses literatos e de suas de sua época, procurando reconstituir seu perfil múltiplo,
idéias, que transformaram redações de jornais e revistas li- misto de cronista e polemista do teatro carioca através das
terárias, cafés, restaurantes, cafés-concerto e teatros em espa- I ginas de diversos jornais e revistas por décadas seguidas,
ços privilegiados de encontros esporádicos ou reuniões siste- I r sença obrigatória nos círculos literários, militante de cau-
máticas de grupos que se posicionavam em torno de certas I. como o abolicionismo e a construção do Teatro Municipal,
causas, literárias ou não." ", • inda, funcionário público e contumaz homem de teatro.
Nesse ambiente destaca-se a arte dramática corno urna O que ressaltamos aqui e que nos leva diretamente ao
das principais atividades a que grande parte desses literatos " Ilh deste estudo é a dupla face da obra de Azevedo, advinda
estava relacionada, uma vez que o teatro era urna das mais 1" 11 ipalmente do seu extenso e bem-sucedido conjunto de
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Fernando Antonio Menearelli Cena aberta
peças de comédia musical- destacando-se aí as revistas de gistros (tanto de variações lingüísticas, quanto de fatos, per-
ano: obras de caráter eminentemente popular provenientes sonagens e relações sociais, entre outros). Registros que vão
I I da pena de um membro destacado da elite cultural carioca. desde aqueles que se pautam pelos modelos europeus de cul-
,
O próprio Azevedo revelava o conflito resultante dessa tura e "civilização" modernas até os que expressam a ima-
atividade dupla. Argumentava contra vários críticos, mas tam- gem (com certeza filtrada pela pena do autor) de uma imensa
bém contra sua própria consciência literária, que essas comé- maioria de excluídos - política, social e economicamente -
dias populares eram produto de uma necessidade sua de da nova ordem que foi se instituindo com a passagem do Rio
transformar o teatro em uma forma de complemento do or- de Janeiro para a condição de capital federal.
çamento mensal, responsável pelo amparo de uma família Essa não é uma característica que podemos encontrar
numerosa. Mas um aspecto, que transparece ao contato com em inúmeras outras obras do período, principalmente entre
sua obra, é que o talento dramático de Azevedo tanto o apro- os naturalistas (sendo que um dos seus principais represen-
ximava da comédia popular, quanto o afastava do drama ou tantes é Aluísio Azevedo, irmão de Arthur)? O que nos cha-
de qualquer outra forma literária tida para os padrões da épo- ma a atenção é o envolvimento de Azevedo com os gêneros
ca como "séria" a que tenha se dedicado (como os contos, por de teatro ligeiro, como as operetas e o teatro de revistas, que
exemplo). E o fato é que o casamento de Azevedo com a co- se desenvolveram no século XIX na maioria das grandes ci-
média musical foi um fenômeno de sucesso popular e uma dades da Europa e da América, incluindo aí o Rio de Janeiro,
das marcas da vida cultural carioca "da Belle Époque. e caracterizaram a chamada Belle Époque.
O intuito aqui é justamente tentar compreender os sig- Esse teatro ligeiro se distinguia de outros gêneros tea-
nificados dessa obra composta sob a tensão de exigências trais ditos "sérios", e da maior parte da literatura realista e
diversas, que basicamente poderiam ser agrupadas da seguinte naturalista que então estava em voga, por dizer-se totalmen-
maneira: de um lado, aquelas provenientes da formação eru- te voltado para o público, dirigido para agradá-l o, anuncian-
dita de um membro da elite intelectual carioca, que podiam do estar desvinculado de qualquer outra pretensão, seja lite-
ser manifestadas tanto pelos parceiros de redação ou da Aca- rária, filosófica ou política. Seu objetivo principal seria a di-
demia, quanto pela própria e conflituada "boa consciência" versão pura e simples da platéia. Por isso poderia ser rela-
literária de Azevedo, e, do outro lado, as exigências que vi- cionado, por um lado, tradições do teatro cômico e das fes-
á
nham das bilheterias dos teatros, expressas por um público tas populares, como as farsas e a Commedia dell' Arte, ou de
ávido pelas "bambochatas" das revistas e gêneros afins e pe- espetáculos como o circo e festas como o carnaval. Por outro
las preferências dos produtores. lado, teria a influência do ideário de um certo teatro francês
O resultado dessa tensão ficou impresso diretamente de meados do século XIX, de onde provinha diretamente, e
nas inúmeras peças cômicas, musicais ou não, produzidas por que tinha autores como Labiche e outros representantes das
Azevedo ao longo de sua prolífica carreira. A análise de um "peças bem-feitas" como seus principais modelos, assim como
volume considerável dessas peças de Azevedo nos levou à pensamento do crítico Francisque Sarcey como referência.
conclusão de que um dos principais significados de sua obra A nosso ver, esta questão remete à popularidade que
consiste no fato desta apresentar uma multiplicidade de re- rezavam os diversos gêneros ligeiros, particularmente, a re-
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Cena aberta
ti 1· eiro resultou em inúme- Illpi manipulado pelos inúmeros personagens urbanos en-
Privileg1ado de expres .f .d de do tea ro 19
Essa espect lC1 a 1. d hOJ· e a partir de referen- 'Illvidos no jogo da encenação teatral. O dramaturgo fabrica-
. m ser ana isa as ,I I' L texto visando a interação final entre palavra, intérpre-
ras obras que preClsa . _ condições, a forma e os
m cons1deraçao as . II ,llI'O utor, platéia, crítica, imprensa. Um dos resultados dessa
ciais que 1evem e . d Num gênero como as reV1S-
. ue foram cria as. , . 11,111\1 que esse mesmo palco se enchia dos mais variados
objetiVoScom q - t urna unidade tematlca
10 a obra nao em I I III l) ns fictícios, dando voz e espaço aos diversos tipos
tas de ano, por exemp , O utor faz algo semelhan-
.déi traI a apresentar. a I" I I' LIlavam por aqueles reduzidos metros quadrados como
ou uma 1 ela cen , do teatro registrando os
.
te a um trabalho Jorna 1S1 .
r ti co atraves '
ocuparam a atenção III o um sinteticíssimo resumo de Rio de Janeiro. Através
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Cena aberta
'~ cidadão e bom guarda nacional. Faz-se absolver pelo jury, do crime
de estelionato, casa-se com um respeitável camapheu (chamamos-lhe
I
I assim, por ser de grande valor) e monta uma fábrica de vinhos arti-
11 ficiais" (Binóculo, Revista lllustrada, 428, 20 mar., 1886. Rio de Janei-
ro: Typ. da Distração, P: 7).
\ h Cf. Raimundo Magalhães Jr., Arthur Azevedo e sua época. Rio de Janei-
ro: Saraiva, 1953, pp. 37-8.
\\1 NOTAS 7 Arthur Azevedo critica a forma como os jurados eram escolhidos na
I1
época. Dos 36 cidadãos sorteados entre a população aleatoriamente,
os advogados de defesa e acusação podiam recusar 24 nomes. O que,
1 A palavra "bilontra" aparece no Dicioná~o Aurélio ~om os seguintes para Arthur Azevedo, levava à escolha dos "menos inteligentes", e,
significados: 1. velhaco, patife, espertalhao; 2. mdlvlduo dado a con- como tal, mais suscetíveis à argumentação dos advogados (Arthur
quistas amorosas; 3. freqüentador de p:ostíbulos. No nosso caso, o Azevedo, A Vida Moderna, 15, 16 out., 1886. Rio de Janeiro, P: 115).
significado mais preciso é o pnmelro, nao d_elxando de apo~tar para 8 Arthur Azevedo e Moreira Sampaio, "O bilontra", in Teatro de Arthur
a adequação dos outros dois na compoSlçao das caractenshcas do Azevedo, tomo II. Rio de Janeiro: Inacen, 1985, p. 581.
tipo em questão. Quando foi utilizado por Arthur Azevedo, o t:rmo Y Cf. Robert Darnton, O grande massacre de gatos. Rio de Janeiro: Graal,
era uma gíria nova e que estava em moda. Vejamos como o propn~ 1986.
Arthur Azevedo define seu significado na revista de mesmo nome. 10 Vários autores têm se dedicado a perspectivas e abordagens inova-
"Se quer saber o que é bilontra.z' É bom que saiba, antes do mais.z' doras no campo da história cultural. Como não é nosso objetivo aqui
Que esta palavra não se encontra/ No dicionário de Morais.v A apresentar seus pontos de vista particulares, apenas citaremos, en-
bilontrage é sacerdócio/ Que cada qual pode exercer;/ Entre o pelin- tre outros, Peter Burke (org.), A escrita da história - Novas perspecti-
de . / O meio termo vem a ser./ Pode o bilontra ser um vas. São Paulo: Ed. da Unesp, 1992, obra da qual destacamos os arti-
tra e o capa OClO . /
velho,! Pode também ser um fedelho;/ M~s o modelo mais comum gos de Giovanni Levi, "Sobre a micro-história", op. cit., pp. 133-161,
É o arnizé que se emancipa;/ E que a leglhma dissipa/ A,o com~le- e "A história dos acontecimentos e o ressurgimento da narrativa",
tar ~s seus vinte e um./ Tipo de calças apertada,/ Ch~peu de fitas op. cit., pp. 327-348; Giovanni Levi, "Os perigos do geertzismo"
espantadas,/ Em cada pé bico chinês;/ Pode apostar: o pn~aí,c~n,~ (trad.), in Quaderni Storici, 58/aXX, 1, abr., 1985, pp. 269-277; Giovanni
trai O que quiser que ele é bilontra,! Se bem que finja ser mg es
(Arthur Azevedo e Moreira S~mpaio, "O bilontra". in Teatro de Art wr
i·· Levi, "Les usages de Ia biographie", in Annales ESC, 44, 6, nov-dez.,
1989, pp. 1.325-1.336; Lynn Hunt (org.), A nova história cultural. São
Azevedo, tomo lI. Rio de [arteiro: Inacen. 1985). Paulo: Martins Fontes, 1992; Roger Chartier, A história cultural. Lis-
"O Centenário do Bilontra é hoje festepdo com ?rande espal~af~to boa: Difel, 1990; Roger Chartier, "EI mundo como representación".
ela Companhia Braga [unior. O Bilontra é a p~~melra p~ça e seu in História Social, 10, Valença, 1991, pp. 163-175; Robert Damton,
p ênero que no Brasil atinge a cem apresentações (Cratchü, in A oida Boêmia literária e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1987;
g d a 12 25 set 1886 Rio de [aneiro, P: 95). Cratchü era um dos I bert Darnton, O beijo>de Lamoureite. São Paulo: Companhia das
mo erna, ., . A d . ensa
diversos pseudônimos utilizados por Arthur zeve ~ naLlmpr a~ I, tras, 1990; Carlo Ginzburg, O queijo e os vermes. São Paulo: Com-
da
"O sucessO do Bilontra acentua-se cada vez mais. o ucm 10 panhia das Letras, 1987; Carlo Ginzburg, Mitos, emblemas e sinais.
, [ l" (. O Meqlletrefe, Ii 1 Paulo: Companhia das Letras, 1989.
enchentes têm sido umas atras das outras ... in j'
fev 1886 Rio de Janeiro, P: 7). VI 11 l obre essa discussão, ver Celia Maria M. de Azevedo, Onda negra,
As ·'referê·ncias ao "processo do bilontra - Falso baronato de 1 a /l1I'rlO branco. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; Joseli Maria Nunes
Rica" foram retiradas de longos trechos do processo transcnto: pelo MI ndonça, Entre a mão e os anéis. A Lei dos Sexagenários e os caminhos
d d de defesa Alberto Marques de Carvalho, in Causas celebr~s d/l ouotíção no Brasil. Campinas: Ed. da Unicarnp. 1999.
~ra~~~i~a~ (Estudos de Direito Crim~n~l applicado). Rio de_[aneiro: LI~ \ 1 'Ilfford Geertz, A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar,
. C C tinho 1898. Os ongmals do processo nao foram e~ 1"'lH,
vrana ruz ou I r . • di . . d Rio
contrados apesar de intensa pesquisa nos arquivos JU iciais o 111111 são poucos os estudos que tratam especificamente ou da obra
.11 /\ I t h Li r Azevedo
ou do teatro de revista no Brasil. O mais relevan-
de Janeiro. .. d tri I ' it engra-
5 "O novo ato do Bilontra, intitulado Faustml 1n us na e ~Ul o . I. di.l .• para o desenvolvimento deste trabalho é um longo ensaio
çado. Faustino, cansado da perseguição do Trabalho, decide ser bom
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de Flora Sussekind sobre as revistas de ano de Arthur Azevedo: Flo- Brasiliense, 1986,Cidade febril. São Paulo: Companhia das Letras, 1996;
ra Sussekind, As revistas de ano e a invenção do Rio de Janeiro. Rio de Martha Esteves, Meninas perdidas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989;
Janeiro: Nova Fronteira, 1986. Além desta obra, pode.mos apontar: Sandra Lauderdale Grahan, Proteção e obediência - Criadas e seus pa-
Antonio Martins, Arthur Azevedo: a palavra e o nso. RIOde [aneiro: trões no Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1991; Lilia
Perspectiva, Ed. da UFRJ,1988,estudo lingüístico da obra de Aze,ve- Moritz Schwarcz, O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das
do feito por um dos principais especialistas no autor e ~esponsavel Letras, 1993;José Murilo de Carvalho, A formação das almas. São Pau-
pela edição de suas obras pelo Inacen. Nesta obra, Martins faz uma lo: Companhia das Letras, 1990, Os bestializados. São Paulo: Compa-
análise dos recursos lingüísticos utilizados por Arthur Azevedo para nhia das Letras, 1987,e José Murilo de Carvalho e outros, Sobre opré-
obter efeitos cômicos. Um dos aspectos mais interessantes deste tra- modernismo. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1988;
balho, segundo nossa leitura, é o que mostra como um dos prmcI- Maria Ângela Borges Salvadori, Capoeiras e malandros: pedaços de
pais recursos utilizados por Arthur Azevedo para ess.efim era a JUs- uma sonora tradição popular. Tesede mestrado. Campinas, Unicamp,
taposição dos inúmeros registros orais present~s na Cldad~:fazendo 1990 (no prelo) ..
uso tanto de gírias, trocadilhos populares e vanantes ImgUlStI~aS.de IX Jeffrey D. Needell, Belle époque tropical. São Paulo: Companhia das
negros, imigrantes emigrantes, quant? da norma culta e refere~cla.s Letras, 1993; Nicolau Sevcenko, Literatura como missão. São Paulo:
eruditas. Roberto Ruiz, O teatro de reoisia no Brasil, das origens a Pri- Brasiliense, 1985;Roberto Ventura, Estilo tropical- História cultural e
meira Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Mínc-Inacen, 1988: este é o polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991;
primeiro volume de um estudo que ter~ co~tin~idade em nova l?u- Leonardo Affonso de Miranda Pereira, O carnaval das letras - Os
blicação referente ao período postenor a PnmeI.ra Guerra.Mundlal. literatos e as histórias da folia carioca nas últimas décadas do século 19. Rio
É um trabalho de natureza basicamente descritiva, mas rICOem m- de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995;Sidney Chalhoub
formações e referências bibliográficas. Neyde Veneziano, O teatro de e Leonardo Affonso de Miranda Pereira (org.), A história contada -
revista no Brasil - Dramaturgia e convenções. Campinas: Pontes, Ed. Capítulos de história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova
I da Unicamp, 1991:nesta obra a autora se dedica fur:damentalmente Fronteira, 1998.
ao estudo da forma como o gênero se estrutura, explicando suas c?n- 1~ Antonio Martins, op. cit.
venções, alegorias e descrevendo os "tipos:' recorrentes na :evlsta
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brasileira, como o malandro, a mulata, o caIpIra e o portugues. Em
um capítulo introdutório, a autora aponta elementos que demons~
I tram as origens populares do teatro de revI~ta. Da ~e~ma aut~ra, ha
o posterior Não adianta chorar - Teatro de retnsia brasileiro ... Oba. Cam-
pinas: Ed. da Unicarnp, 1996, no qual desenvolve uma aborda~em
histórica e se ocupa dos aspectos dramatúrgicos do teatro de revista
brasileiro. Há também duas biografias clássicas de Arthur Azevedo:
a de Raimundo Magalhães Jr., citada anteriormente, e Roberto Seidl,
Arthur Azevedo - Ensaio bio-bibliográfico. Rio de Janeiro: ABC, 1937.
14 Flora Sussekind, op. cit., P: 8. . ..
15 Panorama: grandes quadros circulares de paisagens que pOSSIbIlIta-
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