Apostila MACRO-UNIRITTER

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DISCIPLINA: MACROECONOMIA

PROFESSOR: LAURO ALOYSIO MARMITT

Esta Apostila contém uma


compilação de textos e exercícios de
diversos autores e foi elaborado com
o objetivo específico de servir como
material de apoio didático para o
aluno em sala de aula.
PLANO DE ENSINO – SUMÁRIO

AULA TEMA PÁG.


1 Sistema Financeiro Nacional. Estrutura e funcionamento. 4
Autoridades Monetárias e Instituições Financeiras

2 COPOM – Comitê de Política Monetária 14

3 Sistema de Liquidação e Custódia de Títulos. SELIC e CETIP. 20


Principais títulos negociados no mercado

4 Marcação a Mercado em Títulos Públicos 32

5 Estudo da Moeda. Funções e características essenciais da 39


moeda
6 Inflação. Inflação de Demanda e de Custos. Índices de Inflação. 62

7 Principais Taxas de Juros do Mercado. Meios de Pagamento e a


Base Monetária. Instrumentos de Política Monetária. 75

8 Prova Grau A - 04.10.2016

9 Atividade EAD – 08.10.2016.

10 Modelo IS-LM na Política Monetária e Fiscal 86

11 Atividade EAD – 15.10.2016

12 PIB – Produto Interno Bruto. PNB, PNL, RN. Mini Prova ENADE: 99
18.10.2016

13 Política Cambial e Balanço de Pagamentos 113

14 Mercado de Câmbio. Regimes Cambiais. Operações de Hedge 121

15 Crescimento e Desenvolvimento Econômico. Política Fiscal e o 132


Déficit Público

16 Política Tributária e as Receitas Públicas. Política de Rendas. 138

17 Prova Grau B – Semana de 29.11.2016

18 Correção Prova Grau B e revisão de conteúdos para Grau C

19 Prova Grau C – Semana de 13.12.2016

1
A Macroeconomia estuda a formação dos preços nos diversos mercados a partir
da ação conjunta da demanda e da oferta. Vem da palavra grega makros, que
significa grande. Dedica-se a uma visão geral da economia, ou seja, estuda o
resultado global do comportamento dos agentes, a partir da análise de
indicadores, como inflação, desemprego, produção total, consumo, volume total de
poupanças, etc.

A Macroeconomia estuda as condições de equilíbrio estável entre a renda e o


dispêndio nacional. As políticas econômicas de intervenção procuram sempre
estabelecer tal equilíbrio.

A Macroeconomia trata da evolução da economia como um todo, analisando a


determinação e o comportamento dos grandes agregados, como:
renda e produto nacional;
poupança e investimentos;
nível geral de preços;
empregos e desempregos;
estoque de moedas;
taxa de juros;
balanço de pagamentos;
taxa de câmbio.

A Macroeconomia trata os mercados de forma global e preocupa-se com a oferta


e demanda de mão-de-obra e com a determinação dos salários e nível de
empregos, mas não leva em consideração as diferenças em qualificação, idade,
origem da força do trabalho, etc. Quando considera apenas o nível de taxa de
juros, não são destacadas as diferenças entre os vários tipos de aplicações
financeiras.

2
Não existe conflito entre a Micro e a Macroeconomia, dado que o conjunto da
Economia é a soma de seus mercados individuais. A diferença é uma questão de
ênfase e de enfoque.

A Macroeconomia preocupa-se mais com questões conjunturais de curto prazo,


como por exemplo, o desemprego e a inflação. As questões estruturais, como
desenvolvimento econômico, distribuição de renda, globalização extrapolam a
análise econômica, visto que envolvem questões políticas que demandam
análises a médio e longo prazos.

3
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Entidades
Órgãos Normativos Operadores
Supervisoras
Instituições
Demais Outros
Banco Central do financeiras
instituições intermediários
Brasil - Bacen captadoras de
Conselho Monetário financeiras financeiros e
depósitos à vista
Nacional - CMN administradores de
Bolsas de
Comissão de Valores Bolsas de recursos de
mercadorias e
Mobiliários - CVM valores terceiros
futuros
Superintendência de
Conselho Nacional de Seguros Privados - Sociedades Entidades abertas
Susep Sociedades
Seguros Privados - de de previdência
seguradoras
CNSP capitalização complementar

Superintendência
Conselho Nacional da
Nacional de
Previdência Entidades fechadas de previdência complementar
Previdência
Complementar - (fundos de pensão)
Complementar -
CNPC
PREVIC

O SFN é o conjunto de instituições intermediadoras de recursos na economia.

SUBSISTEMA NORMATIVO: Cria as normas que orientam o funcionamento do


sistema financeiro. Suas funções são regular, controlar e exercer a fiscalização
sobre as instituições intermediadoras, disciplinar todas as modalidades de crédito
bem como a emissão de títulos e valores mobiliários.

SUBSISTEMA OPERATIVO: Funciona em segmentos específicos do mercado


financeiro, como Mercado de Capitais, Mercado Monetário e Mercado Cambial,
subordinando-se às normas emanadas do subsistema normativo.

Fazem parte deste subsistema:

4
Instituições financeiras bancárias ou monetárias: São aquelas com
capacidade de criar moeda: Bancos Comerciais; Bancos Múltiplos; Caixas
Econômicas e Cooperativas de Crédito.
Um exemplo de criação de moeda ocorre quando um Banco desconta uma
duplicata. Entrega ao cliente haveres monetários (moeda) e em troca recebe
haveres não monetários (duplicata).

Instituições financeiras não bancárias ou não monetárias: São aquelas que


não criam moeda: Bancos de Investimento; Bancos de Desenvolvimento;
Sociedades de Arrendamento Mercantil (Leasing); Sociedades de Crédito,
Financiamento e Investimento (financeiras) e Sociedades de Crédito Imobiliário.

Agentes Especiais: São instituições que complementam funções do subsistema


normativo e operam em nome do Tesouro Nacional, como por exemplo:
- Banco do Brasil;
- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES.

Os principais órgãos do Governo que integram o Sistema Financeiro Nacional são


o CMN, o BACEN, o BNDES e a CVM, que operam fiscalizando e promovendo o
funcionamento do mercado financeiro, tendo como principais funções a prestação
de serviços e a intermediação de recursos entre os poupadores e tomadores de
recursos.

5
AUTORIDADES MONETÁRIAS

Conselho Monetário Nacional: O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão


deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. Ao CMN compete:
• Estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial e
creditícia;
• Regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização das
instituições financeiras;
• Disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial.

O CMN é constituído pelo Ministro da Fazenda, pelo Ministro do Planejamento e


Orçamento e pelo Presidente do Banco Central do Brasil. O CMN reúne-se
ordinária e/ou extraordinariamente para discutir assuntos de interesse do SFN e
suas decisões são tomadas através de Resoluções. É presidido pelo Ministro da
Fazenda.

Entre suas principais atribuições podemos destacar as seguintes:

• Adaptar o volume de meios de pagamento às reais necessidades da economia


e de seu processo de desenvolvimento;
• Regular o valor interno da moeda, prevenindo ou corrigindo os surtos
inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa, as depressões
econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais;
• Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos do
País, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira;
• Orientar a melhor aplicação dos recursos das instituições financeiras públicas e
privadas nas diferentes regiões do País, gerando condições favoráveis ao
desenvolvimento da economia nacional;
• Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;
• Coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida
pública interna e externa, em conjunto com o Congresso Nacional;

6
• Autorizar as emissões de papel-moeda pelo BACEN e as normas reguladoras
do meio circulante;
• Fixar diretrizes e normas da política cambial;
• Disciplinar o crédito em suas modalidades e as formas das operações
creditícias;
• Determinar as taxas do recolhimento compulsório das instituições financeiras.

Banco Central do Brasil: É uma autarquia federal criada pela Lei 4.595, de
31.12.64, competindo-lhe cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe são
atribuídas pela legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho
Monetário Nacional. O BACEN é o órgão responsável pela execução das normas
que regulam o SFN.

São suas atribuições agir como banco dos bancos, gestor do SFN, executor da
política monetária, banco emissor e banqueiro do Governo.

Principais atribuições:
• Emitir moeda de acordo com condições do CMN;
• Executar os serviços do meio circulante;
• Receber os recolhimentos compulsórios dos bancos;
• Realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras
preservando a liquidez do sistema bancário;
• Regular a compensação de cheques e outros papéis;
• Efetuar política monetária através da compra e venda de títulos federais;
• Exercer o controle de crédito;
• Fiscalizar as instituições financeiras;
• Autorizar o funcionamento e operacionalidade das instituições;
• Controlar o fluxo de capitais estrangeiros;
• Administrar as Reservas Internacionais;
• Atuar como regulador do mercado cambial.

7
AUTORIDADES DE APOIO AO SFN

Comissão de Valores Mobiliários: Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda


que age sob orientação do Conselho Monetário Nacional. Composto por
Presidente mais quatro Diretores, todos nomeados pelo Presidente da República.
A CVM é um órgão normativo voltado ao mercado de ações e debêntures. Seus
objetivos podem ser sintetizados em: desenvolvimento, disciplina e fiscalização do
mercado de valores mobiliários, basicamente o mercado de ações e debêntures.

Seus principais objetivos são:


• Estimular a aplicação de poupança no mercado acionário;
• Assegurar o funcionamento às bolsas de valores e instituições auxiliares;
• Proteger os titulares de valores mobiliários contra irregularidades;
• Fiscalizar a emissão, o registro, a distribuição e a negociação de títulos
emitidos;
• Fortalecimento do Mercado de Ações.

Banco do Brasil: Pessoa Jurídica de direito privado, sociedade de economia


mista e sociedade anônima de capital aberto. Até janeiro de 1986 o BB
assemelhava-se a uma autoridade monetária mediante ajustamentos da conta
movimento do BACEN e do Tesouro Nacional. Hoje, é um banco comercial
comum, embora responsável pela Câmara de Compensação. Até 1986 o Banco
do Brasil atuou como co-responsável pela emissão de moeda, através do
ajustamento das contas das autoridades monetárias e do Tesouro Nacional.

Atualmente atua como banco comercial múltiplo, contudo, sendo ainda a União
seu maior acionista, incumbe ao Banco, também executar a política oficial de
crédito rural e operar como agente financeiro do Governo Federal.

8
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): Empresa
Pública Federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior. Responsável pela política de investimentos de Longo Prazo do Governo.

É a principal instituição financeira de fomento do Brasil por impulsionar o


desenvolvimento econômico, atenuar desequilíbrios regionais, promover o
crescimento das exportações, dentre outras funções. O BNDES supre a
necessidade de capitais no que se refere aos setores básicos da economia e à
infra-estrutura. Para a consecução de seus objetivos, conta com um conjunto de
fundos e programas especiais de fomento, como por exemplo, o FINAME e o
FINEM.

Caixa Econômica Federal: A CEF é um instituição financeira pública que atua de


forma autônoma e tem o objetivo de executar as políticas sociais do Governo,
como por exemplo, bolsa família. A CEF caracteriza-se por estar voltada ao
financiamento habitacional e ao saneamento básico.

É o principal agente do Sistema Financeiro da Habitação – SFH, atuando no


financiamento da casa própria, com ênfase para famílias com baixa renda. Os
recursos são originários principalmente do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS); aplicações em caderneta de poupança.

A CEF administra com exclusividade os serviços das Loterias Federais e é o


arrecadador do FGTS.

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INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Bancos Comerciais: Os Bancos Comerciais são intermediários financeiros que


transferem recursos dos agentes superavitários para os agentes deficitários,
mecanismo esse que acaba por criar moeda através do efeito multiplicador.

Os Bancos Comerciais podem descontar títulos, realizar operações de abertura de


crédito simples ou em conta corrente, realizar operações especiais de crédito
rural, de câmbio e comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo fixo,
obter recursos junto às instituições oficiais para repasse aos clientes, etc.

Bancos de Desenvolvimento: O BNDES é o principal agente de financiamento


do Governo Federal. Destacam-se outros bancos regionais de desenvolvimento
como, por exemplo, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o Banco da Amazônia,
dentre outros.

Cooperativas de Crédito: As Cooperativas de Crédito são instituições


financeiras, homologadas pelo Banco Central do Brasil, sem fins lucrativos e não
sujeitas a falência (Lei 5.764/71 e 4.595/64), cuja regulamentação é disciplinada
pela Resolução 2.771 de 30.08.2000.

Equiparando-se às instituições financeiras, as Cooperativas normalmente atuam


em setores primários da economia ou são formadas entre os funcionários das
empresas.

No setor primário, permitem uma melhor comercialização dos produtos rurais e


criam facilidades para o escoamento das safras agrícolas para os consumidores.
Todas as operações facultadas às cooperativas são exclusivas aos cooperados.

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Bancos de Investimentos: Seu objetivo é o financiamento a médio e longo prazo
para suprimento de capital fixo ou de giro das empresas. Não podem manter
contas correntes e captam recursos pela emissão de CDB e RDB.

As operações ativas que podem ser praticadas pelos bancos de investimento são:
• Empréstimos prazo mínimo de um ano para financiamento de capital fixo e de
giro;
• Aquisição de ações ou quaisquer outros títulos e valores mobiliários para
investimento ou revenda no mercado de capitais;
• Repasses de empréstimos obtidos no País ou no exterior;
• Prestação de garantia de empréstimos.

Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimentos: As Financeiras captam


recursos através de letras de câmbio e sua função é financiar bens de consumo
duráveis aos consumidores finais (crediário). Não podem manter contas correntes.

Sociedade Corretoras: Operam com compra, venda e distribuição de títulos e


valores mobiliários por conta de terceiros. Sua constituição depende de
autorização do BACEN e o exercício de sua atividade depende de autorização da
CVM. As Corretoras podem efetuar lançamentos de ações, administrar carteiras
de fundos de investimentos, intermediar operações de câmbio, dentre outras
funções.

Sociedades Distribuidoras: As Distribuidoras não têm acesso às bolsas como as


Sociedades Corretoras. Estão sujeitas a aprovação pelo BACEN. Suas atividades
são:
• Subscrição de emissão de títulos e valores mobiliários para revenda;
• Intermediação da colocação de emissões de papéis no mercado;
• Operações no mercado aberto, desde que satisfeitas as condições do Bacen.

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Sociedade de Arrendamento Mercantil: Operam com leasing, que se assemelha
a uma locação, onde o cliente tem a opção de renovação ou aquisição do bem
pelo valor residual garantido fixado em contrato, ou devolve-lo à empresa.

Atualmente, tem sido comum operações de leasing em que o valor residual é pago
de forma diluída ao longo do período contratual ou de forma antecipada, no início
do período. As Sociedades de Arrendamento Mercantil captam recursos através
da emissão de debêntures, com características de longo prazo.

Associações de Poupança e Empréstimo: Sociedades Civis onde os


associados têm direito à participação nos resultados. A captação de recursos
ocorre através de caderneta de poupança e seu objetivo é principalmente
financiamento imobiliário.

Sociedades de Crédito Imobiliário: ao contrário das Caixas Econômicas, essas


sociedades são voltadas ao público de maior renda. A captação ocorre através de
Letras Imobiliárias, depósitos de poupança e repasses da CEF. Esses recursos
são destinados, principalmente, aos financiamentos imobiliários diretos ou
indiretos.

Bancos Múltiplos: Para configurar um banco múltiplo, a instituição bancária deve


possuir, pelo menos, duas das seguintes carteiras, sendo obrigatoriamente uma
Comercial ou de Investimento:
• Carteira comercial,
• Carteira de investimento;
• Carteira de crédito imobiliário;
• Carteira de aceite;
• Carteira de desenvolvimento;
• Carteira de leasing.

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Bancos Cooperativos: São bancos comerciais surgidos a partir de cooperativas
de crédito. Sua principal restrição é limitar suas operações em apenas uma UF, o
que garante a permanência dos recursos onde são gerados, impulsionando o
desenvolvimento local.

13
COPOM – Comitê de Política Monetária

O Comitê de Política Monetária foi criado em junho de 1996, com o objetivo de


estabelecer as diretrizes da política monetária brasileira e definir o nível de taxa de
juros da economia.

A criação do Copom tinha como premissa básica proporcionar maior transparência


e ritmo adequado aos processos decisórios das autoridades monetárias.

Os objetivos do Copom são estabelecer as diretrizes de política monetária, definir


a meta da Taxa Selic e seu viés e analisar o relatório de Inflação. A taxa de juros
fixada nas reuniões do Copom é a meta para a taxa Selic, a qual vigora até a
realização da próxima reunião. Entretanto, o Copom pode também definir o viés
da taxa de juros, que é a prerrogativa dada ao Presidente do Banco Central para
alterar a taxa Selic a qualquer momento, antes da próxima reunião.

Se o viés for de baixa, significa que o Presidente do Bacen pode baixar a taxa de
juros Selic antes da data marcada para a próxima reunião. Se for de alta, o
Presidente do Bacen pode elevar a taxa Selic. E se o viés for neutro, somente
quando da realização da próxima reunião é possível alterar a taxa de juros Selic.

Atualmente, as reuniões do Copom ocorrem a cada 45 dias, iniciando-se numa


terça-feira e terminando ao final da quarta-feira, quando então é anunciada a
decisão sobre a taxa de juros Selic, ocorrendo, portanto, 8 reuniões anuais.

No primeiro dia da reunião, os chefes de departamento do Bacen apresentam


uma análise da conjuntura econômica, abrangendo inflação, nível de atividade,
evolução dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos,
ambiente externo, mercado doméstico de câmbio, situação da liquidez bancária,
mercado monetário, operações de mercado aberto e avaliação das tendências de
inflação.

14
No segundo dia, o diretor de Política Monetária do Bacen apresenta propostas de
diretrizes de política monetária e alternativas para a taxa de juros, baseadas na
avaliação da conjuntura econômica. Em seguida, os demais membros da Diretoria
fazem suas ponderações e apresentam suas proposições. Ao final, ocorre a
votação das propostas, buscando-se, sempre que possível, o consenso. Ao final
da reunião, em torno de 18 horas da quarta-feira, o Bacen informa a nova taxa
Selic e seu eventual viés.

Oito dias após a reunião, o Bacen divulga a Ata da Reunião, onde consta a
decisão tomada pelo Comitê, tendo como foco a transparência e o compromisso
de prestar contas à sociedade. Para reforçar o compromisso com a transparência,
se a decisão do Copom não tiver sido por consenso, as opiniões alternativas dos
membros da Diretoria são destacadas.

O Copom é composto pelos oito membros da Diretoria Colegiada do Banco


Central do Brasil, com direito a voto, sendo presidido pelo Presidente do Banco
Central, que tem o voto de qualidade. Também participam das reuniões sem
direito a voto, os chefes de departamento da instituição.

Portanto, são nove os membros do Colegiado do Bacen que constituem o Copom:


o Presidente do Bacen e os diretores de Política Monetária, de Política
Econômica, de Estudos Especiais, de Assuntos Internacionais, de Normas e
Organização do Sistema Financeiro, de Fiscalização, de Liquidações e
Desestatização e de Administração.

A partir de junho de 1999, a política monetária passou a adotar o conceito de


“Inflation Targeting”, ou Meta de Inflação, como diretriz. Desde então, as decisões
do Copom passaram a ter como um dos objetivos cumprir as metas para a
inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional.

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As metas de inflação são definidas anualmente pelo Conselho Monetário Nacional
por proposta do Ministro da Fazenda. O índice oficial adotado pelo Brasil é o IPCA
– Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado e apurado pelo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Este índice mede a variação nos preços de produtos e serviços consumidos pelas
famílias com renda entre zero e quarenta salários mínimos, apurado entre o
primeiro e o último dia de cada mês. A coleta dos dados abrange as regiões
metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo,
Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Distrito Federal, além do município de
Goiânia. A divulgação do IPCA ocorre até o dia 15 do mês seguinte.

A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional tem um intervalo de


tolerância estabelecido em 2% para cima ou para baixo. A cada trimestre civil, o
Bacen divulga um Relatório de Inflação. Este relatório aborda o desempenho do
sistema de metas, os resultados das decisões anteriores de política monetária e
uma avaliação futura de tendência de inflação. Havendo necessidade, o Bacen
utiliza estas informações para correção de sua trajetória na busca do controle da
inflação.

Para o sistema financeiro, a política monetária é de fundamental importância, visto


que pelos seus canais de transmissão que todas as decisões se refletirão na
economia. Todos os instrumentos de política monetária são transferidos para a
sociedade por meio do sistema financeiro.

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MERCADO FINANCEIRO

A existência de agentes econômicos com superávit em seus orçamentos e de


agentes deficitários, ou com projetos de investimentos que exijam recurso acima
dos disponíveis, resulta em oferta e procura de dinheiro. Nesse caso, as empresas
tomadoras de recursos pagam um prêmio conhecido como juros às unidades
superavitárias, para que essas apliquem tais recursos.

Do encontro dessas unidades econômicas, seguem diversos mercados e


diferentes configurações de prazo, do volume de recursos e forma de
remuneração pela liquidez.

Mercado financeiro é definido como o espaço onde se produz intercâmbio de


ativos financeiros e se determina seus preços. É o lugar físico ou ponto de
encontro entre ofertadores e tomadores de dinheiro.

Com o avanço da informática e das telecomunicações, o fechamento de negócios


por telefone e Internet intensificou-se, tornando o mercado financeiro mais ágil e
mais complexo.

Para o estudo do mercado financeiro, é importante entender que a intermediação


financeira desenvolve-se de forma segmentada em cinco grandes mercados:
mercado monetário, mercado de crédito, mercado cambial, mercado de derivativos
e mercado de capitais.

O mercado monetário envolve operações de curto e curtíssimo prazo,


proporcionando um rápido controle da liquidez da economia e das taxas básicas
de juros, conforme as metas estabelecidas pelas autoridades monetárias para a
execução da política econômica.

17
É o local onde os agentes econômicos procuram promover o equilíbrio de caixa de
curto e curtíssimo prazo.

Visa o controle da liquidez monetária da economia. Os papéis negociados têm


como parâmetro a taxa básica de juros da economia e caracterizam-se pelos
reduzidos prazos de resgate e alta liquidez.
Exemplo: Títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional, pelos Estados e
Municípios e os CDI.

O mercado de crédito é constituído basicamente pelos bancos comerciais e


sociedades financeiras, que realizam operações de financiamento de curto e
médio prazo, direcionadas aos ativos permanentes e ao capital de giro das
empresas.
É onde os agentes econômicos obtêm recursos de curto e médio prazos para
atender às suas necessidades de consumo de bens e serviços, produção e
investimentos.
Objetiva o suprimento das necessidades de caixa de curto e médio prazo dos
vários agentes econômicos, através de empréstimos e financiamentos a empresas
e concessão de crédito a pessoas físicas. Essas operações são realizadas por
instituições financeiras bancárias.

O mercado cambial contempla as operações que envolvem a troca de moeda de


um país pela moeda de outro, com a finalidade de suportar as transações
inerentes ao comércio internacional de bens e serviços e as operações de
empréstimos e financiamentos de agentes econômicos de um país para os
agentes econômicos de outros países. Mercado onde os agentes econômicos
efetuam a troca de moeda nacional por outras moedas e vice-versa.

É nesse mercado que ocorrem as operações de compra e venda de moedas


internacionais conversíveis e reúne agentes econômicos que realizam transações
com o exterior. A demanda por moeda estrangeira está presente nos

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importadores, devedores com compromissos externos e investidores
internacionais. No grupo de vendedores estão os exportadores, turistas,
tomadores de empréstimos, entre outros.

O mercado de derivativos contempla as operações com títulos derivativos de


commodities, com índices ou com taxas que têm por objetivo assegurar, no futuro,
um ganho ou uma proteção para os ativos. Mercado onde os agentes econômicos
transferem riscos decorrentes de oscilações de preços ou taxas.

Um derivativo é um instrumento cujo valor deriva de outro ativo real ou financeiro,


como por exemplo, ação, moeda estrangeira, ouro, etc.

Commodity é um termo em inglês que significa mercadoria em estado bruto ou


produto primário com grande importância comercial, como por exemplo, café,
milho, algodão, petróleo, cobre, soja, etc.

O mercado de capitais contempla as operações com ações, que em geral têm


prazo indeterminado, e as operações financeiras são de médio e longo prazo,
especialmente as de financiamento do capital de giro e do investimento das
empresas. Mercado onde os agentes econômicos obtêm recursos de médio e
longo prazo para investimentos de capital.

O mercado de capitais desempenha papel importante no processo de


desenvolvimento da economia de um País. É nesse mercado que se efetua a
ligação entre os que têm capacidade de poupar (investidores) e aqueles
carentes de recursos (tomadores) para o longo prazo. Procura suprir as
necessidades de financiamento por meio de operações de emissão de ações,
debêntures e commercial papers.

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SISTEMAS DE LIQUIDAÇÃO E CUSTÓDIA DE TÍTULOS

As operações com títulos públicos e privados são registradas e liquidadas em


ambientes que permitem ao Banco Central monitorar a liquidez da economia.
Garantem, assim, maior transparência e divulgação, melhorando a formação de
preços e a liquidez dos diferentes títulos públicos e privados neles negociados.

Grande parte dos títulos públicos e privados negociados no mercado monetário


são escriturais, ou seja, eles não são emitidos fisicamente, exigindo maior
organização em sua liquidação e transferência. Dessa forma, as negociações com
esses valores são controladas e custodiadas por dois sistemas especiais,
denominados Selic e Cetip.

Selic – Sistema Especial de Liquidação e Custódia de Títulos

É um sistema que controla e liquida financeiramente as operações de compra e


venda de títulos públicos e mantém sua custódia física e escritural.

Por meio da Selic, as instituições financeiras podem adquirir e vender títulos todos
os dias, criando assim, uma taxa diária conhecida por Taxa Média Selic – TMS,
que é a taxa média ponderada das operações realizadas no mercado secundário
de títulos públicos federais, ou taxa overnight, representativa das operações de
um dia útil.
Como os títulos públicos negociados no Selic são de grande liquidez e de baixo
risco, a taxa definida no âmbito desse sistema é aceita aparentemente como uma
taxa livre de risco, servindo de importante referencial para a formação das taxas
de juros no mercado financeiro.

Ao se identificar a taxa Selic, tem-se a taxa de juros por dia útil, formada pelas
negociações que envolvem os títulos públicos. A liquidação financeira ocorre no
ato da negociação, sendo conhecida como taxa D+0.

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Os vários negócios com esses títulos são acertados diretamente entre os
operadores das instituições financeiras credenciadas que operam no mercado
monetário, repassando as informações ao Selic, para que ocorra a transferência
do dinheiro, e posteriormente, dos títulos envolvidos nas operações.

Por meio da Selic, os negócios têm liquidação imediata. O sistema transfere


imediatamente o registro do título para a instituição financeira compradora do
mesmo e faz o respectivo crédito na conta da instituição financeira vendedora.
Assim, as partes envolvidas têm a certeza da validade da operação efetuada.

A liquidação física dos negócios realizados é feita mediante o lançamento de


débitos e de créditos nas contas de custódia escritural mantidas pelos
participantes no Sistema.

A liquidação financeira é efetuada diretamente na conta de reservas bancárias das


instituições financeiras liquidantes mantidas no Banco Central. Uma instituição que
não tenha conta de reserva bancária junto ao Bacen opera por intermédio de outra
que tenha esta conta.

Os principais papéis custodiados no Selic são: LTN, LFT, NTN e BBC.


Esses títulos são leiloados toda semana pelo Governo e são considerados uma
opção atrativa para as instituições financeiras e para pessoas físicas. As LTN e
LFT são emitidas apenas para captações feitas no mercado interno.

Vamos analisar como funciona esse sistema: o Governo precisa de capital para
honrar suas dívidas tanto de curto como de longo prazo. Só que não é capaz de
gerar receita suficiente para honrar todos esses compromissos. Então, vai ao
mercado e faz uma oferta de títulos com taxas pós ou prefixadas.

As instituições financeiras interessadas compram esses títulos, emprestando


dinheiro ao Governo. Depois, colocam os papéis nas carteiras dos fundos de

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investimento. Com o início da venda direta de títulos públicos pela internet, o
Governo pulverizou a dívida, permitindo aos pequenos poupadores a aquisição
direta de papéis, via Tesouro-Direto.

Títulos Públicos Federais: Papéis que o Governo emite para captar dinheiro do
público, principalmente para financiar seus gastos, quando são superiores as
receitas. Os leilões de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional têm a
finalidade de rolagem do déficit público.

LTN - Letras do Tesouro Nacional: Título emitido pelo valor nominal unitário
múltiplo de R$ 1.000,00. A sua rentabilidade é prefixada e definida no momento da
compra. Embora sua rentabilidade contratada não varie de acordo com a SELIC,
pois é prefixada, caso o papel seja vendido antes do vencimento, o Tesouro fará a
recompra pelo valor e pela taxa de juros que o mercado estiver praticando.
Contudo, no vencimento, os juros contratados serão garantidos. É um bom
investimento a médio e longo prazo (1 a 3 anos).

LFT - Letras Financeiras do Tesouro: Títulos emitidos com valores nominais


unitários múltiplos de R$ 1.000,00. O rendimento é ajustado diariamente pela taxa
Selic. Por tratar-se de um investimento pós-fixado, essa modalidade garante ao
investidor a atualização diária de seu investimento pelas taxas praticadas no
mercado.
Se os juros caem, a taxa cai na mesma proporção e se os juros sobem, o retorno
aumenta também na mesma proporção.
O resgate é efetuado pelo valor nominal, acrescido do respectivo rendimento,
desde a data de emissão do título. Investimento para médio prazo.

Trata-se de uma modalidade de empréstimo do Governo brasileiro, na qual ele


lança LFT no mercado para captar recursos. As instituições financeiras
interessadas compram essas LFT (portanto cedendo dinheiro ao Governo) e as
resgatam no período e valores previamente combinados.

22
NTN-B - Notas do Tesouro Nacional série B: Papéis pós-fixados com
rendimentos atrelados ao IPCA + taxa de juros ao ano.

NTN-C - Notas do Tesouro Nacional série C: Títulos pós-fixados emitidos com


valores nominais unitários múltiplos de R$ 1.000,00. O valor nominal é corrigido
pelo IGP-M e juros anuais pagos semestralmente, sobre o valor atualizado.
São emitidas com prazos longos que podem variar de 1 ano até 30 anos.

NTN-D - Notas do Tesouro Nacional série D: Papéis pós-fixados com


rendimentos atrelados ao dólar, também utilizados pelo Governo para atender às
demandas do mercado por dólar. São papéis indexados ao dólar + taxa de juros
ao ano.

NTN-F - Notas do Tesouro Nacional série F: Papéis de longo prazo com


rentabilidade prefixada.

NTN-H - Notas do Tesouro Nacional série H: Papéis pós-fixados com


rendimentos atrelados à Taxa Referencial (TR)

BBC - Bônus do Banco Central: Títulos de curto prazo, geralmente de 28, 35, 42
e 49 dias. Seu rendimento é prefixado e são vendidos nos leilões de títulos
públicos realizados pelo Banco Central.

23
TAXA SELIC – Sistema de Cálculos
A taxa SELIC é apurada diariamente após o encerramento das operações. É
determinada pela média ponderada das operações de um dia, lastreada em títulos
públicos federais.
Vamos considerar a realização de 4 operações de um dia, conforme tabela abaixo:

Operação Valor R$ Taxa % diária


A 1.200.000 0,044982
B 2.400.000 0,044627
C 4.800.000 0,045159
D 3.600.000 0,044805
Total 12.000.000

Taxa média diária ponderada das operações acima:


Operação % Taxa diária Taxa
Ponderada
A 10,00 0,044982
B 20,00 0,044627
C 40,00 0,045159
D 30,00 0,044805
100,00 0,044929

Usando HP-12C para calcular a taxa ponderada:


0,044982 ENTER 10 ∑ +
0,044627 ENTER 20 ∑ +
0,045159 ENTER 40 ∑ +
0,044805 ENTER 30 ∑ +
g XW = 0,044929

Taxa SELIC = [(1 + 0,044929/100) 252 - 1] X 100 = 11,9851% ao ano.

24
A tabela abaixo mostra de forma resumida a Taxa SELIC, definida pelo Comitê de
Política Monetária do Banco Central:

REUNIÃO DATA SELIC % AO ANO


203ª 30.11.2016
202ª 19.10.2016
201ª 31.08.2016
200ª 20.07.2016 14,25
199ª 08.06.2016 14,25
198ª 27.04.2016 14,25
197ª 02.03.2016 14,25
196ª 20.01.2016 14,25
195ª 25.11.2015 14,25
192ª 29.07.2015 14,25
191ª 03.06.2015 13,75
190ª 29.04.2015 13,25
189ª 04.03.2015 12,75
188ª 21.01.2015 12,25
187ª 03.12.2014 11,75
186ª 29.10.2014 11,25
185ª 03.09.2014 11,00
182ª 02.04.2014 11,00
181ª 26.02.2014 10,75
180ª 15.01.2014 10,50
179ª 27.11.2013 10,00
171ª 28.11.2012 7,25
164ª 18.01.2012 10,50
163ª 30.11.2011 11,00
156ª 19.01.2011 11,25
152ª 21.07.2010 10,75
148ª 27.01.2010 8,75
140ª 21.01.2009 12,75
139ª 10.12.2008 13,75
133ª 05.03.2008 11,25
128ª 18.07.2007 11,50
116ª 18.01.2006 17,25
115ª 14.12.2005 18,00
104ª 19.01.2005 18,25
103ª 15.12.2004 17,75
94ª 17.03.2004 16,25
91ª 17.12.2003 16,50
80ª 22.01.2003 25,50
79ª 18.12.2002 25,00
68ª 20.02.2002 18,75
61ª 18.07.2001 19,00
56ª 14.02.2001 15,25
46ª 19.04.2000 18,50
32ª 18.01.1999 25,00
31ª 16.12.1998 29,00
21ª 28.01.1998 34,50
20ª 17.12.1997 38,00

25
CETIP – CENTRAL DE CUSTÓDIA E LIQUIDAÇÃO FINANCEIRA DE TÍTULOS

A Cetip é uma associação civil, sem fins lucrativos, criada pelas instituições
financeiras, em conjunto com o Banco Central, com a finalidade de garantir mais
segurança e agilidade às operações do mercado financeiro brasileiro.

A Cetip é um mercado de balcão organizado para registro e negociação de valores


mobiliários de renda fixa. Presta serviços integrados de custódia, negociação,
registro de negócios e liquidação financeira, oferecendo o suporte necessário a
toda cadeia de operações.

O objetivo da Cetip é dar certeza da validade do título a quem compra e certeza


do recebimento do valor a quem o vende, portanto, dando garantia das operações
realizadas no mercado financeiro.

Funciona desde 1986 como um sistema bastante semelhante ao do Selic, só que


abrigando títulos privados. Algumas vezes, o sistema opera também com títulos
públicos que se encontram em poder do setor privado.

A Cetip é depositária principalmente de títulos de renda fixa privados, como por


exemplo, CDB, RDB, Depósitos Interfinanceiros, Letras de Câmbio e Letras
Hipotecárias.

Na função de depositária, a Cetip processa a emissão, o resgate e a custódia dos


títulos, bem como o pagamento dos juros e demais eventos a eles relacionados.
Na maioria das vezes, os títulos são emitidos de forma escritural, isto é, existem
apenas sob a forma de registros.

A transferência da titularidade do título só é feita após a liquidação financeira da


operação, que se dá com a disponibilidade dos recursos por parte do comprador.
Na Cetip os negócios não eram liquidados imediatamente como no Selic. As

26
transferências de recursos eram efetuadas por meio de cheques administrativos
das instituições operadoras ou ordens de pagamento equivalentes.

Assim, toda compra de títulos nesse mercado tinha sua liquidação financeira
efetuada no dia útil seguinte ao da operação, após a devida compensação
bancária. Por isso, a taxa de juros formada diariamente no sistema Cetip era
conhecida por Taxa Cetip ou D+1.

Com a entrada do Sistema Financeiro de Pagamentos (SBP) em 2002, a


liquidação das operações financeiras na Cetip está ocorrendo em D+0 e em
função disso, os sistemas Selic e Cetip passaram a ter o mesmo procedimento de
pagamentos.

Os sistemas SELIC e CETIP têm como objetivo básico promover a liquidação das
operações no mercado monetário, proporcionando maior segurança e liquidez aos
negócios.

27
MERCADO MONETÁRIO

O Mercado Monetário encontra-se estruturado de forma a executar o controle de


liquidez monetária da economia. Nesse mercado, os papéis são negociados tendo
como parâmetro de referência a taxa de juros, que se constitui em sua mais
importante moeda de transação.

Os papéis que lastreiam as operações do mercado monetário caracterizam-se


pela liquidez e pelos reduzidos prazos de resgate.

No mercado monetário são negociados:


• Os papéis emitidos pelo Bacen voltados à execução da política monetária
do governo (BBC e LBC);
• Os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, com o objetivo de financiar a
execução do orçamento fiscal da União (LTN, LFT, NTN);
• Os Títulos emitidos pelos Governos Estaduais, Municipais e do Distrito
Federal.
• Os certificados de depósitos interfinanceiros (CDI), unicamente entre
instituições financeiras.
• Títulos de emissão privada, como CDB, RDB, LH e LCI, dentre outros.

Mercado Primário
Para lançar um título no mercado, ou seja, para fazer a primeira venda de um
título, o Banco Central realiza o chamado leilão primário ou leilão formal. As
instituições financeiras credenciadas junto ao Bacen enviam suas ofertas, as quais
o Bacen pode aceitar ou não. O processo todo ocorre via computadores.

As instituições financeiras credenciadas para atuar como elo de ligação entre o


Bacen e as demais instituições financeiras são conhecidas como Dealers e sua
principal função é atuar como elo de ligação entre o Bacen e as demais
instituições do Sistema Financeiro Nacional. Os grandes bancos que atuam no

28
mercado brasileiro são credenciados e atuam como Dealers, como por exemplo,
Banco do Brasil, Bradesco, Itaubanco.

Mercado Secundário
Como as instituições financeiras não são obrigadas a carregar o papel comprado
em leilão primário até o seu vencimento, é prática comum a venda desses títulos a
outras instituições, seja de forma definitiva ou através de operações
compromissadas.

As operações compromissadas se definem como a venda não definitiva de títulos,


em que o vendedor assume o compromisso de recompra e o comprador assume o
compromisso da revenda por prazo e preço previamente definidos.

A venda desses títulos a outras instituições cria o mercado secundário, que tem no
mercado aberto o seu principal instrumento de operacionalização desses títulos.

29
MODALIDADES OPERACIONAIS DO MERCADO MONETÁRIO

O mercado monetário apresenta diversas modalidades de operações efetuadas


entre as instituições financeiras ou com pessoas físicas e jurídicas não financeiras.
As principais são descritas a seguir.

Leilões Formais: Consistem em ofertas primárias de títulos pelo Banco Central.


Qualquer pessoa física ou jurídica, por meio de instituições financeiras (bancos,
corretoras e distribuidoras), envia suas ofertas para apreciação do Bacen, até o
limite estabelecido para aquela instituição. Configura-se como um mecanismo de
financiamento do Governo por meio do mercado financeiro.

Leilões Informais (Go around): Destinam-se a manter o maior nível de


competitividade possível, mediante participação de todos os dealers credenciados
em uma operação de venda ou resgate de títulos. Num curto intervalo de tempo –
5 a 10 minutos – os operadores do Bacen acionam as instituições e acolhem os
lances propostos; selecionam os melhores e fecham imediatamente com as
instituições, sem divulgar o tamanho do lote vendido, nem o preço médio
negociado.

Compra e Venda Definitiva: Consiste na compra de um título com a intenção de


mantê-lo em carteira até o vencimento.

Operações Compromissadas: Refere-se à venda de um título efetuada entre


uma instituição financeira e uma contraparte (qualquer pessoa física ou jurídica)
com o compromisso de recomprá-lo a um determinado preço, em data
previamente definida.

As operações compromissadas se definem como a venda não definitiva de títulos,


em que o vendedor assume o compromisso de recompra e o comprador assume o
compromisso da revenda por prazo e preço previamente definidos.

30
Vejamos um exemplo: o cliente compra um título público, disponível na carteira do
Banco, com o compromisso de revendê-lo. O Banco paga uma remuneração ao
cliente com o compromisso de recomprá-lo a qualquer dia até o vencimento.
Nessa operação a instituição está recebendo um empréstimo, ou seja, dinheiro em
troca da venda temporária dos títulos.

Dessa forma, quando uma instituição necessita de recursos, inicia uma operação
de venda temporária de títulos com o compromisso de recompra: é a operação
compromissada. Inversamente, se essa mesma instituição deseja ou necessita
temporariamente carregar os títulos em sua carteira, ela compra os papéis com o
compromisso de revendê-los.

O mercado de operações compromissadas é facilmente acessível e altamente


competitivo. Igualmente diversificado também é o conjunto de participantes nesse
mercado, que inclui bancos, corretoras, distribuidoras, fundos de pensão, fundos
de investimentos, investidores institucionais e pessoas jurídicas não financeiras.

31
MARCAÇÃO A MERCADO

É a avaliação diária dos ativos que compõe uma carteira de investimentos a preço
de mercado. Marcar a mercado significa dar preço diariamente aos ativos

A marcação a mercado é uma espécie de avaliação de uma posição financeira


mediante sua comparação pelo preço vigente no mercado em determinada data.
Podemos dizer que marcar a mercado significa atribuir preço diariamente a
determinado ativo. É a forma de se atribuir o valor presente de determinado ativo,
ainda que seu vencimento esteja distante no tempo.

Um fundo de investimento é composto por ativos financeiros, que podem ser


títulos da dívida pública e privada (ativos de renda fixa), bem como papéis
negociados nas bolsas de valores (ativos de renda variável).

A legislação de fundos de investimento determina que os ativos integrantes das


carteiras dos fundos devem ser registrados pelo seu valor efetivamente pago e
ajustados, diariamente, ao valor de mercado, reconhecendo-se contabilmente a
valorização ou desvalorização verificada.

Até 31 de maio de 2002, o Banco Central do Brasil permitia que os ativos de renda
fixa fossem contabilizados de acordo com o preço de aquisição atualizado pela
curva de rentabilidade do papel até o seu vencimento. Se o papel fosse levado até
o vencimento, a rentabilidade não seria comprometida. A partir de 31/05/2002, por
determinação do Banco Central, os títulos passaram a ser avaliados diariamente a
valor de mercado, visando manter o real valor do patrimônio do fundo.

O preço de negociação do papel é influenciado pelas condições de mercado,


comportamento da economia doméstica, desempenho fiscal, o crescimento e
composição da dívida pública, incertezas sobre a economia externa, câmbio, etc.

32
Em função do comportamento destas variáveis, o papel pode ser negociado com
ágio ou deságio. Trata-se de um prêmio que o investidor paga (ágio) ou exige
(deságio) no ato da aquisição de um determinado título, em função da avaliação
da capacidade do emissor honrar o compromisso de pagar este título no valor e
data combinados.

Para melhor entendimento e ilustração, vamos imaginar um fundo de renda fixa,


composto por Letras do Tesouro Nacional. São títulos prefixados negociados com
deságio, pagando ao investidor uma quantia inferior ao valor de face.

No caso de um papel de renda fixa, quando da sua emissão, há uma data de


vencimento estabelecida, um valor de face, normalmente de R$ 1.000,00 e a
garantia de recompra na data de vencimento. O mercado analisará as condições
de remuneração do papel, observando o risco de crédito, prazo de vencimento e
taxa pré-fixada de remuneração.

Para um papel de renda pré-fixado, precisamos calcular o valor do PU (Preço


Unitário), aplicando um deságio sobre o valor ao par (valor inicial) do papel. A taxa
utilizada para o cálculo do valor presente (mercado) será definida considerando
vários fatores. Entre os principais destacam-se o cenário econômico, o político, o
custo de oportunidade e o risco de crédito. Com a taxa determinada, obtém-se o
valor do papel (PU). Os papéis de renda fixa têm seu preço de mercado conhecido
como Preço Unitário e são calculados da seguinte forma:

FV
PU =
(1 + i / 100) nd / nc

Onde: FV = Valor de face do título


I = Taxa de juros negociada
Nd = período desconhecido
Nc = período conhecido

33
Uma vez comprado esse papel com deságio, à medida que a data de vencimento
se aproxima, o valor do papel valoriza-se até atingir o seu valor de face, na data
de vencimento final.

Vamos imaginar um papel emitido pelo prazo de 12 meses a uma taxa prefixada
de 25% ao ano e um valor de face de R$ 1.000,00. Qual seria o valor presente
deste papel?

PU = 1000 .
du/252
(1 + Taxa Efetiva)

PU = 1000 = R$ 800,00
(1 +0,25)252/252

O mercado trabalha com o conceito de dias úteis, onde um mês possui 21 dias
úteis e um ano 252 dias úteis. No exemplo acima, como o prazo do papel é de um
ano, estamos utilizando essa metodologia.

Vamos imaginar agora que já passaram 152 dias úteis desde a data de aquisição
desse título, faltando, portanto, 100 dias úteis para seu vencimento e queremos
saber o PU nesta data.
Considerando o título com as características acima, seu Preço Unitário é:

1000
PU = = R $ 915,26
(1 + 25 / 100)100 / 252

Portanto, o mercado aceita o título, nesta data, por R$ 915,26. E se estivesse


faltando somente um dia útil para vencimento do papel, qual seria seu PU?
1000
PU = = R $ 999,11
(1 + 25 / 100)1 / 252

34
Veja que à medida que o prazo de vencimento vai chegando, o PU do papel se
aproxima do valor de face, no nosso exemplo R$ 1.000,00.

Voltando ao exemplo inicial, vamos imaginar que a taxa de juros não é mais 25%
ao ano e sim 40% ao ano. Qual seria o preço do papel com prazo de um ano, na
data da compra?

1000
PU = = R $ 714,29
(1 + 40 / 100) 252 / 252

E se a taxa de juros fosse 10% ao ano, qual seria o preço do papel?

1000
PU = = R $ 909,09
(1 + 10 / 100) 252 / 252

Veja a relação entre o nível de taxa de juros e o preço do papel. Existe uma
relação inversa entre o PU do papel e o nível de taxa de juros. Quanto maior for a
taxa de juros, menor será o PU do papel. Quanto menor for a taxa de juros, maior
será o preço do papel.

É muito importante o entendimento dessa relação. É exatamente por isso que


quando as taxas de juros se elevam, os preços dos papéis a mercado diminuem,
ocasionando valorizações negativas nos fundos de renda fixa dos bancos.
Vamos voltar ao exemplo onde já passaram 152 dias úteis desde a data de
aquisição desse título, faltando, portanto, 100 dias úteis para seu vencimento e
queremos saber o PU nesta data. Agora vamos utilizar a taxa de 40% ao ano.

Seu Preço Unitário será:

1000
PU = = R $ 875,01
(1 + 40 / 100)100 / 252

Portanto, o mercado aceita agora esse título por R$ 875,01.

35
Como se observa, com o aumento da taxa de juros de 25% para 40% ao ano, o
preço unitário (PU) de uma LTN ficou reduzido de R$ 800,00 para R$ 714,29. E
com a redução da taxa de 25% ao ano para 10% ao ano, o PU passou para R$
909,09.

No mercado de títulos com taxas pós-fixadas, ocorre uma relação direta entre taxa
de juros e preço do papel, em função do ágio ou deságio existente. Ocorre ágio
quando o valor pago no momento de aquisição do título é superior ao seu valor de
face, ou seja, sempre que a rentabilidade oferecida pelo papel é maior que o preço
de mercado no momento da negociação.

Já o deságio acontece quando o valor pago é inferior ao seu valor de face, de


maneira que a rentabilidade do título seja maior que a estabelecida originalmente.
Reprecificar um título significa atualizar o seu valor para o preço de mercado. Esta
é a marcação a mercado dos papéis que compõe carteiras de fundos de
investimento dos bancos.

A marcação a mercado buscou garantir para os diversos condôminos (cotistas)


dos fundos de renda fixa a rentabilidade efetiva a que fazem jus, já que em geral
cada um deles possui data de aplicação, data de resgate e período de
permanência distintos e a não marcação a mercado diária poderia, eventualmente,
transferir rentabilidade entre os cotistas.
Como os preços dos ativos dos fundos de investimento estão sujeitos às
condições momentâneas de mercado, as rentabilidades não podem ser fixadas a
priori, ou seja, é proibido garantir uma rentabilidade fixa para os fundos de
investimento.

A metodologia de apuração do valor de mercado é de responsabilidade de cada


instituição financeira. Esta metodologia deve ser estabelecida com base em
critérios técnicos consistentes e passíveis de verificação, levando em

36
consideração a independência na coleta de dados em relação às taxas praticadas
nas mesas de operações dos Bancos.

O Banco Central admite os seguintes parâmetros:


• Preço médio de negociação do dia da apuração, ou o preço do dia anterior;
• Valor provável de realização, calculado mediante modelo técnico de
precificação;
• Preço de instrumento financeiro semelhante, onde deve ser levado em
consideração, no mínimo, os prazos de vencimento, o risco de crédito e o
indexador utilizado.

A tabela abaixo sintetiza a negociação no mercado de Títulos Públicos

Produto O que negocia Governo Doadores de


Tomador Recursos
De Recursos
Vende Títulos Compram Títulos
Títulos Públicos R$ Capta R$ Doam R$
Paga Juros Recebem Juros
Quer taxa menor Querem taxa maior

37
Exercícios

1. Um título com valor de face de R$ 1.000,00 é negociado por um PU de R$


894,85 pelo prazo de um ano. Calcular a taxa de juros da operação. (11,75%)

2. Uma LTN de R$ 1.000,00 é colocada no mercado com taxa pré-fixada de 12%


ao ano, com 252 dias úteis e 360 dias corridos. Calcular o PU:
a) Na data da colocação do papel no mercado (R$ 892,86)
b) Passados 200 dias úteis (R$ 976,89)
c) Na metade do período, com juros de 18% ao ano (R$ 920,57)

3. Uma LTN de R$ 1.000,00 é colocada no mercado com taxa pré-fixada de 13%


ao ano, com 252 dias úteis e 360 dias corridos. Faltando 65 dias úteis para
vencimento, a taxa de juros alterou para 15% ao ano. Quanto vale o papel nesta
data? (R$ 964,59)

4. O Bacen está realizando leilão de Títulos Públicos (LTN) à taxa de 15% ao ano.
Considerando prazo de um ano com 252 dias úteis, calcular o PU (Preço Unitário)
de um título de R$ 1.000,00 nas seguintes datas:
a) Na data de aquisição do papel (R$ 869,57)
b) Faltando 50 dias úteis para o vencimento (R$ 972,65)
c) Faltando 10 dias úteis e a taxa alterou para 13% ao ano (R$ 995,16)

38
ESTUDO DA MOEDA

A moeda possui diversos aspectos, um dos quais ser um ativo, ou seja, é uma
forma de aplicação dos recursos dos indivíduos, um bem econômico que possui
seu próprio mercado, oferta e demanda. Considerado um bem essencial para a
economia, é utilizado para transações comerciais, permitindo aos indivíduos maior
poder de decisão sobre seus recursos.

A moeda pode ser conceituada como um bem econômico que desempenha as


funções básicas de intermediária de trocas, que serve como medida de valor e
que tenha aceitação geral pela população.

Além disso, como a moeda representa um poder de aquisição, desde o momento


em que é recebida até o momento em que é gasta em pagamento de outra
transação comercial, a moeda também se caracteriza como uma reserva de valor.

A moeda é um meio de pagamento legalmente utilizado para a realização de


transações comerciais com bens e serviços. É um instrumento previsto em Lei,
apresentando curso legal e forçado, em função da obrigatoriedade de sua
aceitação e possui poder liberatório, ou seja, libera o devedor do compromisso.

Dito de outra forma, moeda pode ser definido como um ativo financeiro de
aceitação geral utilizado na troca de bens e serviços com poder liberatório
(capacidade de pagamento) instantâneo.

Assim, a moeda é um objeto de aceitação geral utilizado na troca de bens e


serviços, sendo um instrumento de poder.

39
Origem e Evolução da Moeda
Nas economias primitivas, o sistema de vida da humanidade não lhes oferecia um
instrumento de troca que possibilitasse a transformação dos produtos disponíveis,
restringindo suas atividades à caça, à pesca e a coleta de frutos.

As comunidades viviam em grupos fechados, cujo objetivo principal era a


sobrevivência. Com o passar do tempo, o homem percebeu que poderia produzir
determinadas mercadorias em quantidades superiores às suas necessidades de
consumo. Com isso, surgem as trocas de mercadorias. Os indivíduos passam a
destinar a maior parte de sua produção às trocas com terceiros, possuidores de
bens de seu interesse.

As trocas evoluíram em duas etapas: trocas diretas, produto por produto e trocas
indiretas, por intermédio da moeda. Um exemplo de trocas diretas pode estar
relacionado com duas comunidades: uma localizada às margens de um rio
abundante em peixes, mas com poucos frutos naturais. Essa comunidade poderia
se especializar na captura de peixes e trocar com outra comunidade com
abundância e especialidade na coleta de frutos.

A implantação desse sistema de intercâmbio direto de mercadorias ficou


conhecido como escambo. É possível perceber que não era tão simples assim
esse sistema. Era preciso criar novas condições de comércio, permitindo que as
trocas pudessem ocorrer sem a dependência de interesses simultâneos entre as
comunidades.

A forma encontrada foi substituir as trocas diretas pelas trocas indiretas,


estabelecendo-se como padrão de conversão uma mercadoria ou produto que
fosse aceito por todos os indivíduos. Assim, foi introduzida a moeda. A
generalizada aceitação de determinados produtos recebidos em pagamento das
transações econômicas que dia-a-dia se tornavam mais intensas, configura a
origem da moeda.

40
Ao se estabelecer um produto ou mercadoria como base de troca, nasceu o
conceito básico de moeda: um instrumento facilitador das trocas que permite a
medida ou a comparação de valores. No passado, foi utilizado como moeda o
trigo, o sal, o gado e os metais.

Portanto, a qualidade mais importante que uma moeda deve ter é que possua
aceitação entre os agentes econômicos como instrumento facilitador de
pagamentos ao longo do tempo.

Um exemplo clássico foi o sistema monetário utilizado pelos antigos habitantes da


ilha de Yap, situada no Oceano Pacífico. As moedas eram rodas de pedra, com
diâmetro que variava de 30 centímetros a mais de quatro metros. O fato
interessante é que não era necessária sua posse física nas transações
comerciais, nem o deslocamento da pedra de seu local de origem. Quando uma
embarcação, que levava uma grande roda de pedra naufragou, esta pedra
continuou sendo utilizada como meio de troca, embora fosse praticamente
impossível naquela época removê-la do fundo do mar. Bastava que seu
proprietário, por tradição e por sua palavra, transferisse sua posse quando da
aquisição de algum produto para o novo proprietário.

O estabelecimento da mercadoria-moeda possibilitou um sistema de intercâmbio,


mas com muitas dificuldades. Um indivíduo possuidor de cinco sacas de trigo
querendo trocar por um boi, mas o valor do boi equivale a 10 sacas de trigo. Como
comprar meio boi?

Uma dificuldade era, portanto, a indivisibilidade de certas mercadorias ou


produtos. Outro problema que surgiu foi o fato de que a mercadoria-moeda
poderia ser multiplicada facilmente, sem o controle da sociedade.

Além disso, a mercadoria-moeda tinha a desvantagem de ser perecível, o que


causava sérios problemas para o sistema. Podemos imaginar um indivíduo com

41
50 sacas de trigo e todo ele se deteriorasse. Esse indivíduo teria zerado seu
estoque de moeda.

Como alternativa para esses problemas, passou-se a adotar os metais preciosos


como meio de troca, pois eram mais duráveis e permitiam a subdivisão com maior
facilidade. Sua produção era mais difícil, porém de melhor qualidade e não
apresentava os problemas das demais mercadorias-moeda adotadas
anteriormente.

A utilização dos metais preciosos, principalmente ouro e prata como moeda,


facilitou em muito as trocas e a circulação dos produtos e serviços necessários à
sociedade.

Entretanto, surgem novamente alguns problemas com relação a esse tipo de


moeda. Além do peso que dificultava o transporte, a falta de segurança era outro
dificultador, pois os possuidores das moedas ficavam muito vulneráveis ao ataque
de saqueadores.

Os cunhadores de moedas, os ourives, possuidores de locais mais seguros para a


guarda dos metais preciosos, passaram a ser os depositários das moedas e em
troca emitiam um comprovante de depósito, ou um recibo.

Esse comprovante ou recibo tinha, portanto, um lastro. Sempre que alguém


precisasse de moeda, trocava o recibo pelo metal precioso. Com o tempo, esse
recibo passou a ser endossado, transferindo a outro o direito de saque, eliminando
a necessidade de trocar o recibo por metal precioso a cada transação. Surgiu,
então, o princípio das cédulas com lastro.

Os cunhadores de moedas passaram a atuar como banqueiros, mantendo um


encaixe total sobre os seus depósitos e cobravam uma comissão pela guarda dos
metais. Até então, não emprestavam dinheiro.

42
Conquistando a confiança do público, iniciaram uma transformação no sistema. Ao
verificarem que os metais preciosos ficavam guardados em seus cofres por longo
período sem qualquer utilização por parte de seus legítimos possuidores,
passaram a emitir os chamados bilhetes de banco negociáveis.

Estas operações consistiam na emissão de recibos sem a contrapartida de um


depósito em metais preciosos – a moeda – cuja validade dependia de sua
aceitação geral como meio de pagamento em função da confiança do público.
Essa mudança fez com que os bancos deixassem de ser simples depositários de
metais e passaram a atuar como emissores da moeda fiduciária.

O Estado assumiu e monopolizou a emissão de moeda. A garantia de utilização


da moeda era dada pelo seu curso forçado, diante da obrigatoriedade de sua
aceitação pelos credores.

Posteriormente, surge a moeda bancária, ou escritural, representada pelos


depósitos à vista, que possuem liquidez e representam hoje uma espécie de
moeda de curso legal.

Desde o surgimento, as transformações da moeda sempre estiveram relacionadas


à redução dos custos das transações comerciais. Hoje em dia a moeda digital é
responsável pela significativa redução nos custos das transações comerciais.

43
As funções da Moeda

A introdução da moeda na economia conduz à dissociação das trocas em duas


operações básicas, ou seja, uma compra e uma venda. Com isso, a moeda passa
a desempenhar as funções básicas adiante comentadas:
• Função de intermediária de trocas;
• Função de medida de valor;
• Função de reserva de valor;
• Função liberatória;
• Função de padrão de pagamentos diferidos;
• Função de instrumento de poder.

A Moeda como Intermediária de Trocas

Essa função permite a superação da economia de escambo, passando para a


economia monetária. Os benefícios decorrentes da superação da fase primitiva
das trocas diretas por processos indiretos é uma evolução de grande alcance no
sistema. A moeda tornou desnecessário procurar o parceiro perfeito para as
trocas.

A moeda serve como meio de pagamento de aceitação geral, onde reside a razão
principal e determinante do aparecimento da moeda: a de facilitar o processo de
produção e distribuição de bens, ampliando as possibilidades de especialização e
divisão social do trabalho. A divisão do trabalho permite a especialização e resulta
em aumento da produção e da produtividade.

A utilização da moeda como intermediária de trocas reduz o tempo empregado em


suas transações, comparativamente às trocas diretas. Esse tempo passa a ser
utilizado em outras atividades, como por exemplo, lazer, trabalho produtivo,
aumentando o nível geral de bem-estar social.

44
Com a utilização da moeda como meio de troca, eliminam-se os inconvenientes
decorrentes da dupla coincidência de desejos exigidas na economia de escambo.
Com a separação da compra e da venda, aumenta a liberdade de escolha dos
agentes econômicos, criando-se condições para a competitividade e promovendo-
se a racionalidade do sistema econômico.

Uma das maiores vantagens da moeda é permitir ao homem, na qualidade de


consumidor racional, generalizar sua capacidade de escolha de produtos e
serviços, podendo demandar da sociedade aquilo que melhor lhe convier, visando
atender a sua satisfação pessoal.

O uso da moeda como intermediária de trocas faculta a seu possuidor a liberdade


de escolher o que deseja adquirir e em que momento do tempo.

A Moeda como Medida de Valor, ou Unidade de Conta

A utilização e aceitação generalizada da moeda levou ao estabelecimento de uma


unidade padrão de medida, à qual são convertidos os valores de todas as
transações comerciais realizadas na economia.

A moeda passa a servir como denominador comum de valores. Os bens e


serviços transacionados passam a ter seus valores expressos na unidade
monetária em uso, sendo a medida única de valor.

A existência desse denominador comum traz algumas vantagens adicionais:


• Racionaliza e aumenta o número de informações econômicas via sistema
de preços, possibilitando a atuação racional de produtores e consumidores;
• Possibilita a contabilização da atividade econômica e a administração
racional das unidades de produção, resultando na ampliação do bem-estar
dos indivíduos;

45
• Permite a contabilização dos valores agregados da produção, como
investimento, consumo, poupança e outros fluxos macroeconômicos, muito
importantes no planejamento e na administração da economia.

A moeda é o referencial das trocas e o instrumento pelo qual as mercadorias


são cotadas.

A Moeda como Reserva de Valor

A moeda serve como reserva de valor desde o momento em que é recebida até o
momento em que é gasta por seu possuidor. A retenção de moeda como reserva
de valor é uma forma alternativa de acumulação de riqueza. Diante das incertezas
da economia quanto as possibilidades futuras de conversão de outras formas de
ativos em moeda, ela é um reservatório de poder de compra.

Enquanto a liquidez dos mais diversos tipos de ativos existentes no mercado é


altamente variável, a moeda tem a característica de ser a liquidez por excelência.
As principais razões que levam os indivíduos à preferência pela utilização da
moeda como reserva de valor são:
• A imediata aceitação da moeda na conversão por outro tipo de ativo, em
uma ampla área geográfica;
• A imprevisibilidade do valor futuro de outros ativos. Alguns bens duráveis
perdem valor logo após sua aquisição, como por exemplo, carros novos.

A retenção de moeda como reserva de valor deve levar em conta o custo de


oportunidade dessa retenção. O custo de oportunidade é definido como a
remuneração que poderia ser obtida se a moeda retida fosse aplicada em algum
investimento alternativo. Por exemplo, quando uma pessoa decidir retirar o
dinheiro de uma aplicação financeira para guardar em casa, deve levar em
consideração o custo de oportunidade, ou seja, a remuneração perdida com o
resgate da aplicação.

46
Além disso, ocorrendo inflação no período de retenção da moeda, indicando
elevação no nível geral dos preços dos bens e serviços disponíveis no mercado, a
retenção de moeda implicará num custo adicional, representado pela perda do
pode real de compra.

Na função de reserva de valor, a moeda torna-se uma maneira de reter riqueza.


Importante lembrar que a moeda não é o único ativo que representa reserva de
valor.

A Moeda como Poder Liberatório

A moeda detém o poder de saldar dívidas, liquidar débitos e livrar seu possuidor
de qualquer situação passiva. Esta particularidade da moeda é denominada de
poder liberatório, ou função liberatória.

Esse poder é garantido pelo Estado, que pode forçar o curso da moeda, impondo
sua aceitação como forma de pagamento de qualquer dívida. Entretanto,
precisamos saber que a aceitação geral da moeda não é unicamente atribuível ao
Estado. A aceitação generalizada decorre muito mais da própria sociedade onde a
moeda circula do que de imposições legais.

Se a sociedade deixar de confiar na moeda, não há mecanismos eficazes capazes


de levar os agentes econômicos a participarem de transações comerciais onde a
moeda corrente venha a ser utilizada como meio de pagamento.

Portanto, existem fortes vínculos entre a função liberatória da moeda e o grau em


que ela é aceita pela sociedade. A aceitação generalizada é que garante à moeda
o exercício da função de poder liberatório.

47
A Moeda como Padrão de Pagamentos Diferidos

A moeda como padrão de pagamentos diferidos resulta de sua capacidade de


facilitar a distribuição de pagamentos ao longo do tempo. É uma função muito
importante para o funcionamento da economia, pois viabiliza os fluxos de
produção e renda.

Um bom exemplo de pagamento diferido é o salário dos trabalhadores. Na maioria


dos casos, os salários representam uma forma de adiantamento, pois embora a
empresa não disponha daquilo que produz antes que o ciclo de produção seja
concluído, os trabalhadores não podem esperar pela conclusão do processo
produtivo para que seu trabalho seja remunerado.

Da mesma forma, os empresários podem recorrer a empréstimos bancários para


suprir suas necessidades de capital de giro ou operações de investimentos. A
viabilização desses processos seria impossível sem a existência da moeda.

Como o crédito desempenha papel importante na economia, os pagamentos


diferidos sob a forma de antecipação ou de promessas de liquidação financeira,
encontram-se na base das atividades econômicas de investimento, produção e
consumo.

A Moeda como Instrumento de Poder

Esta função existe à medida que se admite a moeda como um título de crédito.
Quem a detêm possui o direito de adquirir os bens e serviços disponíveis no
mercado, tanto maiores e mais amplos quanto maior for o montante de moeda
disponível.

Esses direitos representam uma espécie de poder de decisão que conduz a uma
forma de poder econômico, que pode inclusive ser utilizada como instrumento de

48
pressão política, tendo como consequência a utilização do poder de forma nociva
à sociedade.

É inegável que os indivíduos ou grupos que detêm esses poderes podem


influenciar nos rumos do desenvolvimento político, econômico e social. O que se
espera e deseja é que a utilização da moeda como instrumento de poder seja
edificante à sociedade, ao invés de nociva.

Características Essenciais da Moeda

Para bem desempenhar as funções, a moeda deve reunir algumas características,


consideradas essenciais.

A moeda evoluiu de formas muito rudimentares para formas hoje sofisticadas,


adequando-se permanentemente às necessidades da economia. Entretanto, em
todas as etapas deste processo, foram mantidas certas características
consideradas essenciais, sem as quais os diferentes instrumentos monetários não
poderiam cumprir as funções básicas exigidas.

As principais características da moeda são:

Indestrutibilidade e inalterabilidade: A moeda deve ser durável, não se


destruindo à medida que os agentes econômicos a manuseiam na intermediação
das trocas. Por isso, é utilizado material de boa qualidade para sua confecção.
Além disso, a indestrutibilidade e a inalterabilidade são obstáculos à sua
falsificação, fazendo com que a moeda tenha aceitação geral, pela confiança do
público.

Homogeneidade: Duas unidades monetárias distintas, de igual valor de face,


devem ser rigorosamente iguais. Para exemplificar, podemos imaginar a

49
utilização, nos primórdios, do arroz como moeda. No caso de uma transação
envolvendo dois indivíduos, o comprador poderia querer pagar a dívida com arroz
de grãos miúdos e quebrados, enquanto o vendedor espera receber arroz de
grãos graúdos e inteiros.

A possibilidade desse tipo de desentendimento, pela não homogeneidade da


moeda, é um exemplo de que unidades monetárias do mesmo valor sejam iguais
para que a moeda possa exercer suas funções essenciais.

Divisibilidade: A moeda deve possuir múltiplos e submúltiplos em quantidade e


variedade, possibilitando a realização de transações de pequeno porte até as de
maiores valores. A existência de cédulas de um único valor dificultaria a maior
parte das transações comerciais. Se o valor desta cédula única fosse muito baixo,
as transações comerciais de valores elevados criaria sérias dificuldades
operacionais. Por outro lado, se o valor da cédula única fosse muito alto, as
pequenas transações comerciais ficariam prejudicadas. No exemplo clássico do
gado como moeda-mercadoria, o fracionamento era impossível, dificultando sua
utilização como instrumento de troca.

Transferibilidade: Refere-se à facilidade com que a moeda possa ser transferida


de um indivíduo para outro, sem a necessidade de qualquer tipo de registro que
identifique seu possuidor.
Novamente voltando ao exemplo do gado, sua utilização como moeda-mercadoria
ficaria prejudicada se cada um de seus sucessivos proprietários tivesse a
necessidade de gravar a fogo sua marca na pele do animal.

Após determinado número de transações, não restariam mais espaços para novas
marcas. O mesmo aconteceria se a transferência de cédulas se processasse
através de endosso de um possuidor para o outro.

50
Como ponto negativo, é preciso registrar que esta característica reduz a
segurança de quem possui a moeda em uso, mas facilita o processo de troca.
Cabe ao possuidor zelar pela guarda para evitar prejuízos pela transferibilidade
indesejada por perda ou até mesmo roubo.

Entretanto, uma das funções básicas da moeda é facilitar o processo de trocas;


então sua fácil transferibilidade converte-se num de seus atributos mais
importantes.

Facilidade de manuseio e transporte: O manuseio e o transporte da moeda não


pode prejudicar e nem dificultar sua utilização. Se o porte da moeda for dificultado,
sua utilização certamente será aos poucos descartada.
Vale aqui relembrar o sistema monetário utilizado pelos antigos habitantes da ilha
de Yap, onde as moedas eram rodas de pedra, com diâmetro que variava de 30
centímetros a mais de quatro metros.

Os primeiros metais não preciosos utilizados como moeda foram aos poucos
sendo descartados à medida que novas minas eram descobertas e a tecnologia
para fundição evoluía, fazendo com que seu valor por unidade se reduzia.

Sua substituição por ouro e prata decorreu principalmente pela facilidade de


manuseio e transporte, dado que uma pequena quantidade e com peso reduzido
representava um valor elevado.

Oferta Limitada: Qualquer mercadoria que não tiver uma oferta limitada, não terá
valor econômico significativo.

51
A Moeda-Papel

O desenvolvimento do sistema monetário à base de metais preciosos e o


incremento das atividades econômicas ensejou o aparecimento de um novo tipo
de moeda: a moeda-papel.

Com a multiplicação das trocas entre regiões e até países diferentes, ocorriam
alguns inconvenientes da moeda metálica como instrumento de pagamento. O
transporte de metais a longas distâncias tornou-se relativamente difícil em função
do peso e de risco elevado, sujeito ao roubo.

Pela precariedade das estradas e pelos riscos envolvidos no transporte dos metais
preciosos, foram criados instrumentos monetários mais flexíveis, já com a visão de
efetivação de operações de crédito.

Os judeus, os cambistas, os ourives e as casas bancárias italianas passaram a


custodiar ouro e prata, fornecendo aos depositantes um certificado de depósito,
que começaram a circular no lugar dos metais preciosos, em função da
comodidade e segurança.

Com a circulação espontânea dos certificados de depósitos de ouro e prata,


estava criada uma nova modalidade de moeda: a moeda-papel, com lastro de
100% e com garantia de plena conversibilidade, pois seus possuidores podiam, a
qualquer momento, trocá-la pelos metais preciosos depositados.

Essa garantia, lastreada pelo nome e honra das casas de custódia de maior
tradição, transformou essa nova moeda no instrumento preferencial de troca e de
reserva de valor, ampliando seu uso ao longo do tempo.

52
A Moeda Fiduciária

O uso generalizado da moeda-papel abriu o caminho para o desenvolvimento de


uma nova modalidade de moeda, não integralmente lastreada.

Ao longo do tempo percebeu-se que o lastro metálico integral de 100% em relação


aos certificados em circulação não era necessário para a operacionalização do
sistema monetário. Essa constatação decorreu da percepção de que a troca da
moeda-papel pelos metais preciosos não era solicitada por todos os seus
detentores ao mesmo tempo.

Enquanto alguns solicitavam a troca da moeda-papel pelos metais preciosos,


outros levavam para as casas de custódia novas quantidades de ouro e prata para
depósito.

Com isso, os chamados guardiões dos metais preciosos começaram a emitir


certificados não lastreados. A confiança dos comerciantes e da comunidade nos
fiéis e honrados depositários do ouro e da prata ensejou a criação da moeda
fiduciária, ou papel-moeda.

Esse processo originou a passagem da moeda-papel para o papel-moeda


(moeda fiduciária), citada como uma das mais importantes e revolucionárias
etapas da evolução histórica da moeda.

O Papel-Moeda (Dinheiro)

O dinheiro que circula na economia entre os indivíduos e empresas para


realização de pagamentos é conhecido como papel-moeda. O papel-moeda é um
documento emitido pelo Banco Central do Brasil, registrando valor monetário em
cada cédula emitida, que possui circulação ampla na sociedade como meio de
troca, possuindo liquidez imediata. O papel-moeda não rende juros aos seus

53
possuidores. Para render juros, é preciso depositá-lo em instituições financeiras
com concomitante aplicação em ativos que remuneram esse dinheiro.

No primeiro estágio, as características do papel-moeda eram as seguintes:


• Lastro inferior a 100%;
• Menor garantia de conversibilidade, pois todos ao mesmo tempo não
podiam transformar papéis em metais preciosos. Quando todos resolviam
fazer valer seu direito de forma simultânea, ocorria uma quebra geral do
sistema. Isso aconteceu na França, após a morte de Luiz XIV, com o Banco
de Law. Na Inglaterra, mais de 100 bancos provinciais foram à falência no
pânico de 1793. Entre 1810 e 1817, estima-se que cerca de 600
estabelecimentos emissores de moeda fiduciária fecharam suas portas;
• Emissão feita por particulares. Somente após a ruína do sistema que o
Estado passou a controlar o mecanismo das emissões, exercendo seu
monopólio.

O Estado passou a regulamentar as emissões de papel-moeda, estabelecendo


três sistemas básicos:
Sistema de Cobertura Integral: Consistia em tornar as emissões iguais ao
montante do encaixe metálico.
Sistema de Reserva Proporcional: Consistia em estabelecer uma relação legal
entre a emissão e o encaixe metálico. Esta relação variava de uma faixa entre 30
e 40%, dependendo do país.
Sistema de Teto Máximo: Consistia na fixação de um teto máximo de emissão,
sem relação com o encaixe metálico. Esse sistema apresentava a vantagem de
ser mais flexível que os anteriores, ensejando a facilidade na regulação da oferta
monetária em relação às necessidades da economia.

Hoje em dia praticamente todos os sistemas monetários são fiduciários, onde se


verifica a inexistência de lastro metálico e o monopólio do Estado na emissão.

54
A Moeda Bancária

Ao lado da moeda fiduciária, de emissão sem lastro e monopolizada pelo Estado,


de curso forçado e com poder liberatório garantido por Lei, foi desenvolvido outra
modalidade de moeda: a moeda bancária, ou escritural.

Atualmente a moeda bancária representa a maior parcela dos meios de


pagamento no mundo todo. Essa forma de moeda é criada pelos bancos
comerciais e corresponde basicamente ao total dos depósitos à vista nos bancos.
Sua movimentação pode ser feita pela emissão de cheques ou transferências
eletrônicas.

É escritural por corresponder a lançamentos a débito e a crédito registrados nas


contas correntes dos clientes dos bancos. Constitui um valor de troca, prestando
os serviços de liquidez.

A DEMANDA POR MOEDA

A moeda é um papel que não rende juros a seu possuidor. Então, que razões
levam as pessoas a reter moeda, se podem ganhar juros aplicando seus recursos
nos bancos?

A resposta dos estudiosos do assunto remete a três razões, adiante comentadas:

Demanda de Moeda para Transações: As pessoas e as empresas precisam de


dinheiro para suas transações do dia-a-dia, como por exemplo, alimentação e
transporte. Está relacionado ao atendimento de despesas ordinárias e certas.

Como não existe coincidência entre os fluxos de recebimentos e pagamentos, as


pessoas e as empresas necessitam reter ativos monetários durante o intervalo

55
que vai do momento em que recebem até o momento em que necessitam saldar
seus compromissos.
As pessoas não recebem sua renda diariamente. O salário é pago uma vez por
mês e os gastos são efetuados diariamente, de acordo com as necessidades.
Para fazer frente a esta defasagem de tempo entre recebimentos e pagamentos,
guarda-se moeda para realização das transações necessárias.

Demanda de Moeda por Precaução: As pessoas e as empresas precisam ter


uma certa reserva monetária para fazer face a pagamentos imprevistos, ou
atrasos de alguns recebimentos esperados. Decorre da necessidade de fazer
frente a despesas extraordinárias, ou incertas.

Existe a imprevisibilidade com relação a algumas despesas, tanto para as pessoas


como para as empresas. Existem inúmeros tipos de dispêndios que poderiam ser
aqui relatados e que não são facilmente previsíveis e nem programáveis. Por isso,
a necessidade de retenção de moeda por precaução.

A exigência da precaução decorre, em princípio, das dificuldades inerentes à


obtenção de moeda nos momentos em que esta se torna imprescindível por
motivos imprevisíveis.
As pessoas tem incerteza quanto ao futuro e acabam retendo moeda como
precaução para acontecimentos inesperados, como desemprego, doença, entre
outros.
No Brasil, podemos usar como exemplo uma forma de retenção de moeda por
precaução o limite do Cheque Especial nos bancos. Deixar o limite para utilização
somente em casos imprevisíveis é uma forma de retenção de moeda por
precaução.

Demanda de Moeda por Especulação: Dentro de sua carteira de aplicações, os


investidores às vezes deixam uma parte em moeda para observar o

56
comportamento do mercado, entrando numa nova aplicação no momento julgado
apropriado. Isso acontece com investidores do mercado acionário.

Na verdade, não é irracional manter ativos monetários para satisfazer as


oportunidades especulativas, desde que os agentes econômicos acreditem em
mudanças nos preços dos ativos, capazes de favorecer sua retenção para
aproveitar o momento oportuno de aplicação.
Para finalizar, podemos dizer que as duas primeiras razões (transação e
especulação) dependem diretamente do nível de renda. Quanto maior a renda,
maior será a necessidade de moeda.

Considerando que a taxa de juros representa um rendimento para quem possui


moeda e um custo para quem precisa tomar empréstimo, há uma relação inversa
entre demanda de moeda por especulação e o nível de taxa de juros. Quanto
maior a taxa de juros, menor será a quantidade de moeda que o aplicador irá reter
em sua carteira, preferindo aplicá-la no mercado.

A demanda de moeda depende principalmente de duas variáveis: nível de renda e


taxa de juros. Existe uma relação direta com a renda e uma relação inversa com a
taxa de juros.

57
Histórico da Moeda no Brasil
Unidades Monetárias Símbolo Paridade Vigência
Real (conhecido como Réis) R 01.09.1808 a
07.10.1833
Mil Réis Rs 08.10.1833 a
31.10.1942
Cruzeiro Cr$ Corte três zeros 01.11.1942 a
28.02.1967
Cruzeiro Novo NCr$ Corte três zeros 01.03.1967 a
14.05.1970
Cruzeiro Cr$ Sem alteração 15.05.1970 a
26.02.1986
Cruzado Cz$ Corte três zeros 27.02.1986 a
14.01.1989
Cruzado Novo NCz$ Corte três Zeros 15.01.1989 a
15.03.1990

Cruzeiro Cr$ Sem alteração 16.03.1990 a


31.07.1993
Cruzeiro Real CR$ Corte três Zeros 01.08.1993 a
30.06.1994
Real R$ Divisão por 2.750 A partir de
01.07.1994

58
TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA

Existem diversas teorias sobre a inflação, nenhuma delas isoladamente é


suficiente para explicar o processo inflacionário que o Brasil viveu entre as
décadas de 1970 e 1990. A teoria clássica da inflação define o conceito de
inflação através da chamada Teoria Quantitativa da Moeda.

O economista que tratou com muita propriedade a teoria quantitativa da moeda foi
Milton Friedman, Prêmio Nobel de economia em 1976, que nos anos 1960 deu
grande contribuição científica ao tratar o fenômeno da inflação.
A Teoria Quantitativa da moeda afirma que o nível de preços é determinado pela
quantidade de moeda em circulação. Esta relação é representada pela fórmula:
MV = P.Q

Sendo:
M = volume de moeda (meios de pagamento) existentes na economia
V = velocidade de circulação da moeda, ou seja, número de vezes que a moeda
troca de mãos em determinada unidade de tempo
P = nível de preços da economia
Q = quantidade produzida pela economia.

A equação quantitativa diz que a quantidade de moeda (M) multiplicada pela


velocidade da moeda (V) é igual ao preço de produção (P) multiplicada pela
quantidade total produzida (Q).

Esta equação revela que um aumento na quantidade de moeda (M) deve se


refletir em uma das outras três variáveis. Como a velocidade de circulação da
moeda é considerada constante no curto prazo, o aumento na quantidade de
moeda deve ser compensado ou pelo aumento no nível de preços ou pelo
aumento na quantidade produzida.

59
Quando o Governo coloca em circulação uma quantidade de moeda superior às
necessidades da produção, o efeito é o aumento no nível de preços, ou seja, a
Teoria Quantitativa da Moeda mostra que existe uma relação direta entre a
quantidade de moeda e a inflação.

Vamos analisar o exemplo abaixo:


Vamos considerar que a velocidade de circulação da moeda seja 1 e que o nível
de produção seja 100. Se a quantidade de moeda em circulação for 200, teremos:
MV = P.Q
200 x 1 = P x 100
P=2

Para esta quantidade de moeda, o nível de preços tem que necessariamente ser
igual a 2. O que aconteceria se o Governo emitisse mais moeda aumentando o
volume existente no mercado para M = 400 ?
MV = P.Q
400 x 1 = P x 100
P=4

Vamos considerar agora a seguinte situação, ocorrida durante um ano:


M = 60.000
P = 12.000
Q = 120
Então: 60.000 V = 12.000 x 120
V = 1.440.000 / 60.000
V = 24

A moeda circulou 24 vezes no decorrer de um ano para criar R$ 1.440.000 de


Renda. Isso mostra que para gerar uma Renda de R$ 1.440.000 num ano, não
são necessários R$ 1.440.000 em moeda, considerando que o estoque de
dinheiro circula na economia, passando de mão-em-mão e gerando Renda nesse

60
processo. A título ilustrativo, em 2010 a velocidade renda da moeda foi 13,12
vezes no Brasil.

A Teoria Quantitativa da Moeda costuma ser utilizada com frequência para


previsões dos meios de pagamentos. Por exemplo, se o Governo estiver prevendo
que a Renda aumentará em 6% e que os preços aumentem 20% e supondo que a
velocidade-renda da moeda permaneça constante, pode ser feita uma estimativa
para os meios de pagamento da seguinte forma:
P = 1,20
Q = 1,06
V=1
M = 1,20 x 1,06 = 1,2720

Podemos prever um crescimento dos meios de pagamento de 27,20%, supondo


que a velocidade-renda da moeda mantenha-se constante no período
considerado.
A ideia do Governo emitir moeda como meio de obter receitas para pagar suas
dívidas é chamada de imposto inflacionário. Esta atitude expande os meios de
pagamento, o “M” da equação quantitativa, o que resulta na elevação dos preços
da economia. Se “M” aumentar, preservando-se a igualdade de MV = PQ, o nível
de preços “P” aumenta, ou seja, há inflação.

Nesta situação os indivíduos perdem o poder aquisitivo imediatamente, uma vez


que a mesma quantidade de moeda que o seu salário representa não compra
mais a mesma cesta de bens e serviços que anteriormente comprava.
A solução proposta pelos monetaristas para reverter o processo inflacionário seria
o combate ao déficit público e o controle da quantidade de moeda.

No caso brasileiro, a Constituição proíbe o Banco Central de emitir moeda


exclusivamente para financiar o Governo. A forma de financiamento utilizada é a
emissão de títulos públicos, responsável pela crescente dívida pública.

61
INFLAÇÃO

A inflação pode ser conceituada como o aumento contínuo e generalizado no nível


geral de preços. É um fenômeno dinâmico e de natureza monetária, caracterizado
por uma elevação apreciável e persistente do nível geral de preços.
Dito de outra forma: elevação apreciável e persistente do nível geral de preços. A
inflação é um sintoma do mau funcionamento do dinheiro na economia.

A inflação representa a elevação no preço de todos os bens produzidos na


economia e não o aumento do preço de determinado bem específico, por isso
dizemos que a inflação é o aumento generalizado e contínuo no nível de preços.
Na atualidade são 356 itens medidos para cálculo da inflação.

Os movimentos inflacionários representam elevação de preços em todos os bens


produzidos pela economia, de forma contínua, depreciando o valor da moeda à
medida que o tempo vai passando.

A inflação representa um conflito distributivo existente na economia mal


administrada e a disputa dos agentes econômicos pela distribuição da renda
representa a questão básica no fenômeno inflacionário.

O exemplo mais típico refere-se ao desequilíbrio financeiro do setor público, que


força o Governo a elevar o estoque de moeda em quantidade superior ao
crescimento da economia, provocando a inflação. Caso o setor público reduza
seus gastos ao ponto de conseguir evitar o acréscimo de emissão de moeda, o
problema inflacionário poderia ser resolvido.

Um dos maiores desafios dos governos é o controle da inflação, que é medida


através de índices. Os índices de inflação correspondem à média das variações
dos preços dos produtos consumidos pelas famílias, cuja medição difere da
entidade responsável pela coleta dos dados e da região abrangida.

62
O processo inflacionário pode resultar de outros tipos de conflito. Um
extremamente importante está relacionado às relações entre salários e preços,
onde ocorre uma disputa entre trabalhadores e empresários, tornando instável a
relação entre salários e preços.

Outro problema do processo inflacionário pode ter origem nas transações


comerciais internacionais. A crise do petróleo na década de 1970 foi responsável
pela elevação da inflação no Brasil, em função da necessidade de importação do
produto.

Outra variável a ser considerada refere-se ao fator tempo. Talvez uma elevação
de preços durante um curto período de tempo está muito mais relacionada a uma
oscilação pontual do mercado do que a inflação. Podemos aqui citar o caso da
economia dos Estados Unidos, no período de 1957 a 1967, quando os índices
acumularam 14,8% nos onze anos, ou 1,26% ao ano, ou ainda 0,104% ao mês.
Neste caso, é possível concluir que houve apenas uma insignificante variação de
preços atribuível a fatores não inflacionários.

A variação média dos preços durante o prolongado período de tempo considerado


não foi expressiva para caracterizar o que se entende por inflação. Em função
disso, alguns economistas preferem conceituar a inflação como uma elevação
apreciável nos níveis de preços.

Mais uma vez é possível verificar que fica difícil determinar a magnitude mínima
da taxa de elevação dos preços, a partir da qual estará caracterizado o processo
inflacionário. Os 25 países integrantes da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) conseguiram manter o nível de aumento dos preços
no intervalo entre 1,81% e 2,43% ao ano nos últimos 50 anos, o que pode ser
considerado razoável.
No Brasil, a meta de inflação nos últimos anos estabelecida pelo CMN é de 4,50%
ao ano.

63
A tabela abaixo mostra a série histórica de nossa inflação, a partir de 1986. Vale
relembrar que o índice oficial adotado pelo Brasil para medição da inflação é o IPCA –
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado.
ANO IPCA IGP-M INPC IPC-FIPE
1986 79,65 59,22 68,08
1987 363,41 394,62 367,12
1988 980,22 993,29 891,67
1989 1.972,91 805,76 1.863,56 1.635,85
1990 1620,96 1.699,87 1.585,18 1.639,08
1991 472,69 458,38 475,11 458,61
1992 1.119,09 1.174,67 1.149,05 1.129,45
1993 2.477,15 2.567,34 2.489,11 2.490,99
1994 916,40 869,74 929,32 941,25
1995 22,41 15,23 21,98 23,17
1996 9,56 9,18 9,12 10,04
1997 5,22 7,73 4,34 4,83
1998 1,65 1,78 2,49 -1,79
1999 8,94 20,10 8,43 8,64
2000 5,97 9,95 5,27 4,38
2001 7,67 10,37 9,44 7,12
2002 12,53 25,31 14,74 9,92
2003 9,30 8,71 10,38 8,17
2004 7,60 12,41 6,13 6,56
2005 5,69 1,21 5,05 4,53
2006 3,14 3,83 2,81 2,54
2007 4,46 7,75 5,16 4,38
2008 5,90 9,81 6,48 6,16
2009 4,31 -1,72 4,11 3,65
2010 5,91 11,32 6,47 6,40
2011 6,50 5,10 6,08 5,81
2012 5,84 7,82 6,20 5,10
2013 5,91 5,51 5,56 8,56
2014 6,41 3,69 6,23 6,91
2015 10,67 10,54 11,28 12,58
2016

OBS.: No período de julho a dezembro/1994, quando iniciou o Plano Real, a inflação medida pelo
IPCA foi de 18,57%.
O IGP-M começou a ser calculado a partir de junho/1989.

64
O quadro abaixo mostra a composição dos principais índices de medição da
inflação brasileira.

INDICE INSTITUTO RENDA ABRANGÊNCIA COLETA DIVULGAÇÃO


11 maiores
Dia 1º ao dia 30 Até dia 15 do mês
IPCA IBGE 1 a 40 SM regiões
do mês seguinte
metropolitanas
11 maiores
Dia 1º ao dia 30 Até dia 15 do mês
INPC IBGE 1 a 8 SM regiões
do mês seguinte
metropolitanas
Dia 21 do mês
anterior ao dia Até o dia 30 do
20 do mês em mês referência.
12 maiores
referência. 1ª prévia: até dia
IGP-M FGV 1 a 33 SM regiões
1ª prévia: 21 a 10
metropolitanas
30 2ª prévia: até dia
2ª prévia: 21 a 20
10
Dia 1º ao dia 30
IPC- Município de São Até dia 10 do mês
FIPE 1 a 20 SM do mês de
FIPE Paulo seguinte
referência

O IPCA é o índice oficial da inflação brasileira.

O INPC é muito utilizado nos dissídios salariais, por representar a variação de


preços das famílias que ganham até 8 salários mínimos, faixa onde se situa a
maioria dos trabalhadores brasileiros.

O IGP-M é muito utilizado para reajuste de contratos, principalmente aluguéis


comerciais e residenciais.

O IPC-FIPE é calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da


Universidade de São Paulo (USP) e mede a inflação das famílias paulistanas que
ganham de um a vinte salários mínimos.

65
Peso % do Gasto
Tipo de Gasto
(a partir de 01.01.2012)

Alimentação e bebidas 23,12


Transportes 20,54
Habitação 14,62
Saúde e cuidados pessoais 11,09
Despesas pessoais 9,94
Vestuário 6,67
Comunicação 4,96
Artigos de residência 4,69
Educação 4,37
Total 100,00

Como é calculada a Inflação:

No ano de 2016, a inflação do 1º semestre foi a seguinte:

Mês Inflação %
Janeiro 1,27
Fevereiro 0,90
Março 0,43
Abril 0,61
Maio 0,78
Junho 0,35

Parta calcular a inflação acumulada no ano de 2016, é preciso utilizar o modelo


matemático de unificação de taxas de juros:

Iu = [(1 + i1/100) x (1 + i2/100) x .... (1 + in/100) – 1] x 100

Iu = [(1,0127) x (1,0090) x (1,0043) x (1,0061) x (1,0078) x (1,0035) – 1] x 100

Inflação acumulada 1º semestre/2016: 4,42%

66
A Inflação de Demanda

A inflação de demanda, considerada o tipo mais clássico de inflação, refere-se ao


excesso de demanda agregada, em relação à produção disponível de bens e
serviços. Intuitivamente, pode ser entendida como dinheiro demais à procura de
poucos produtos disponíveis no mercado.
A inflação de demanda é causada por um excesso de procura em relação à oferta
disponível.

De outra forma, podemos dizer que o processo inflacionário decorre do excesso


de demanda, ocasionado pela emissão de moeda. O Governo incorre em déficit
público, se financiando através da emissão de moeda, aumentando sua oferta. O
aumento da oferta de moeda ocasiona aumento no poder de compra que, se não
for acompanhado por um incremento compatível na produção de bens e serviços,
provocará inflação.

O Governo pode agir tanto direta como indiretamente para reduzir o processo de
inflação de demanda. A atuação direta acontece pela redução dos próprios gastos,
com efeito imediato e eficaz sobre a demanda agregada. Já a atuação indireta
ocorre por meio de políticas que desencorajam o consumo e o investimento
privado. Como exemplo, podemos citar uma política monetária que restrinja o
crédito, ou então uma política fiscal que aumenta a carga tributária das famílias e
das empresas.
A inflação de demanda tem origem basicamente em três fatores:
• Aumento no nível de Renda dos trabalhadores originária de reajustes
salariais;
• Redução da carga tributária, aumentando o poder aquisitivo dos
trabalhadores, o que pressiona o consumo em níveis superiores à
capacidade produtiva, induzindo a uma elevação dos preços;
• Redução das taxas de juros, que incentivam as compras parceladas e
acabam estimulando a inflação.

67
A Inflação de Custos

A inflação de custos pode ser associada a uma inflação de oferta. O nível de


demanda permanece praticamente o mesmo, mas os custos dos insumos
necessários para a elaboração do produto final aumentam e acabam sendo
repassados aos preços dos produtos.

O preço dos bens e serviços estão relacionados com seu custo de produção. Se
os custos de produção aumentam, mais cedo ou mais tarde o preço de venda do
bem tende também a aumentar.

Uma das razões mais frequente para o aumento dos custos são os reajustes
salariais. Se o aumento salarial for maior que o nível de produtividade, os custos
de produção vão aumentar, resultando em inflação de custos.

Algumas razões que contribuem para o aumento dos custos e podem elevar o
nível de preços, gerando inflação:
• Desvalorização cambial: muitos processos produtivos utilizam matéria-
prima importada. O aumento da taxa de câmbio torna estes produtos mais
caros dentro do território nacional e com isso os custos aumentam e
tendem a ser repassados;
• Aumento do custo da mão-de-obra: quando ocorre aumentos salariais, os
custos se elevam;
• Aumento de impostos: o aumento das alíquotas dos impostos provoca
aumento dos custos de produção, tendendo a serem repassados;
• Aumento da taxa de juros: dado que a maioria das empresas são
tomadoras de crédito, o aumento dos juros resulta em aumento de custos;
• Preços externos: os produtos importados podem subir de preços em
dólares, ampliando os gastos com os insumos necessários para a
produção.

68
Por outro lado, a inflação de custos pode ocorrer pela formação de monopólio, ou
oligopólio. Essas empresas têm condições de elevar seus preços acima do
aumento dos custos de produção e com isso elevar suas margens de lucro. Nesse
caso, a inflação de custos também é conhecida como inflação de lucros.

Muitos economistas acreditam que o fenômeno da estagflação (recessão


econômica com inflação) esteja associado ao processo de inflação de lucros.

A estagflação ocorre quando se tem paralelamente taxas significativas de inflação


e recessão econômica com considerável nível de desemprego. O nível de produto
e de empregos está reduzindo e mesmo assim os preços estão subindo, muitas
vezes impulsionados pelo poder do monopólio ou oligopólio.

Deflação
Conceituada como a queda persistente do nível geral de preços, ou seja, é o
oposto da inflação.
Caracteriza-se pela baixa oferta de moeda em relação à oferta de bens e serviços
ou pela queda na demanda agregada, que pode ser associada, por exemplo, a um
maior índice de poupança por parte dos consumidores.

O excesso de oferta de bens, ou carência de demanda, aumenta o índice de


capacidade ociosa na economia e causa um acirramento da concorrência entre os
produtores, que disputam os poucos consumidores disponíveis, o que leva a uma
rápida queda nos preços.

Como consequência, o nível de investimentos é reduzido e ocorre queda no


produto real e aumento no desemprego. A deflação pode acabar provocando
depressão. Normalmente, combate-se a deflação por meio de um aumento nos
gastos públicos e um maior grau de endividamento público, como forma de
aumentar a demanda agregada.

69
Estagflação

A estagflação ocorre quando se tem paralelamente taxas significativas de inflação


e recessão econômica com considerável nível de desemprego. O nível de produto
e de empregos está reduzindo e mesmo assim os preços estão subindo, muitas
vezes impulsionados pelo poder do monopólio ou oligopólio.

A inflação Inercial

Este tipo de inflação ocorre independentemente de pressões de demanda ou de


custos e está associado aos mecanismos de indexação da economia. É a prática
de reajustar os preços a partir da constatação da existência da inflação.

De acordo com a visão inercialista, os mecanismos de indexação formal


(contratos, aluguéis, salários) e informal (reajuste de preços na indústria,
comércio, tarifas públicas) provocam a perpetuação das taxas de inflação
anteriores, que são sempre repassadas aos preços correntes.

Os Monetaristas e os Estruturalistas

Os Monetaristas (ortodoxos) partem de um prognóstico de inflação de demanda.


A inflação tem uma característica conjuntural e seria provocada pelo excesso de
moeda em circulação na economia. Aumentos na oferta de moeda provocam
aumentos no nível geral de preços. Então, para os monetaristas a causa básica da
inflação é a emissão de moeda em volumes superiores às necessidades da
economia.

A inflação é decorrente do processo de emissão monetária devido aos déficits


públicos, o que eleva a demanda e força a alta dos preços. Assim, para combater
a inflação, deve-se estancar a emissão de moeda, o que só pode ser conseguido
com a retração da demanda, quer do setor privado, através da elevação dos

70
impostos, quer do setor público, através da queda nos gastos. Com isso, o
combate da inflação é conseguido através de uma política recessiva.

Para os Monetaristas, o problema inflacionário é mais de ordem conjuntural,


bastando para sua correção políticas de controle de demanda, via diminuição da
quantidade de moeda na economia.
A solução monetarista para reverter o processo inflacionário seria o combate ao
déficit público e o controle da quantidade de moeda.
Para os Estruturalistas (heterodoxos), a inflação não decorre do excesso de
demanda provocado pela emissão monetária. A emissão monetária é vista muito
mais como uma decorrência da inflação do que como causa.
Assim, a inflação poderia ser combatida sem o apelo ao controle da demanda, isto
é, não haveria necessidade de uma política recessiva.

Para os Estruturalistas, as principais causas da inflação são:


• Oferta de alimentos inelástica, combinada com uma demanda que cresce
aceleradamente, em razão da rápida urbanização e do crescimento da
população. A rápida urbanização provoca uma elevação da demanda de
produtos agrícolas. A resposta da produção agrícola não é imediata, motivando
um aumento nos preços dos alimentos. A elevação dos preços dos alimentos
pode acarretar uma verdadeira espiral de preços e salários da seguinte
maneira: como a alimentação é o principal item dos gastos familiares, os
trabalhadores tentarão recompor a perda de poder aquisitivo reivindicando
maiores reajustes salariais. Para o empresário, a elevação de salários
representará uma elevação dos custos de produção, que deverá ser repassado
para os preços dos produtos finais, acelerando o processo inflacionário. A
aceleração da inflação provoca uma nova queda do poder aquisitivo dos
assalariados, os quais procurarão recompor no dissídio seguinte, e a espiral de
preços e salários vai continuar.

71
• Estrutura do comércio internacional: rigidez das importações associada ao
pouco dinamismo das exportações. A estrutura dominante no comércio
internacional, onde os países subdesenvolvidos exportam produtos primários
tradicionais e os desenvolvidos exportam produtos industrializados e
tecnologia, deteriora a relação de trocas entre esses países,
desfavoravelmente aos subdesenvolvidos. Os países subdesenvolvidos não
podem prescindir de importações que visem o desenvolvimento econômico. A
tendência é enfrentar um déficit nas contas externas. A política adotada é a
desvalorização cambial, favorecendo as exportações e diminuindo as
importações. Como as importações são de produtos indispensáveis, a
desvalorização cambial elevará o custo das importações, resultando no
aumento do custo de produção, que são repassados aos preços dos produtos
finais, gerando um processo inflacionário.

HIPERINFLAÇÃO

Fala-se em hiperinflação normalmente quando a taxa de inflação supera algo em


torno de 50% ao mês, ou algo ao redor de 1% ao dia. A acumulação desse nível
elevado de inflação ao longo de vários meses resulta num aumento incrível no
nível geral de preços.

Os custos da hiperinflação são significativos para a sociedade. Quando o dinheiro


perde valor rapidamente, os executivos acabam dedicando muito tempo e esforço
na administração do caixa das empresas, em detrimento de atividades mais
importantes, como por exemplo, decisões de produção e novos investimentos.
Isso torna a economia menos eficiente.

A velocidade com que as empresas necessitam reajustar os preços impede a


elaboração de catálogos com preços dos produtos. Durante a hiperinflação na

72
Alemanha nos anos 20, o garçom tinha que ir à mesa a cada 30 minutos para
anunciar os novos preços.

Numa economia onde os preços mudam muito rapidamente, fica muito difícil para
os consumidores pesquisar melhores preços e perde-se o referencial. Outro
episódio ocorrido durante a hiperinflação alemã relata que quando os clientes
entravam no bar, costumavam pedir duas cervejas, pagando imediatamente.
Assim, ainda que a segunda cerveja perdesse um pouco de valor por esquentar
na mesa, esta perda era menor do que a do dinheiro da carteira deste cliente.

A arrecadação tributária dos governos também acaba sendo prejudicada em


regime de inflação elevada, pela defasagem de tempo entre o cálculo do imposto
e a data de recolhimento. O valor real da receita tributária acaba se reduzindo
significativamente.

Ninguém deve subestimar o grande inconveniente de viver num regime de


hiperinflação. Quando carregar dinheiro ao mercado fica tão difícil quanto trazer as
compras para casa, é sinal de que o sistema monetário não está cumprindo seu
papel de facilitar as transações comerciais. O Governo tenta contornar esse
problema adicionando mais zeros às cédulas e não consegue conter a explosão
do nível de preços.

Os custos da hiperinflação se tornam insuportáveis. Com o tempo, a moeda perde


seu papel de meio de troca e reserva de valor, dando lugar à fixação de preços a
moedas não-oficiais, como por exemplo, o dólar. Isso aconteceu no Brasil,
notadamente no período entre 1988 a 1993, onde a inflação mostrou-se
extremamente elevada, conforme mostrado na tabela anterior.

73
As Causas da Hiperinflação

A hiperinflação é causada pela excessiva expansão da oferta monetária, quando o


Banco Central emite moeda aceleradamente. Para frear esse processo, bastaria
que o Banco Central reduzisse a taxa de crescimento da oferta de moeda.

Entretanto, esta resposta é incompleta, pois não explica o motivo que leva o
Banco Central a emitir tanta moeda. A maior parte dos casos de hiperinflação
começa quando o Governo precisa emitir moeda para cobrir seus gastos, o
chamado déficit público.
Ainda que o setor público possa financiar seu déficit orçamentário via colocação
de títulos públicos no mercado, isto talvez possa se tornar inviável, pois os
credores observam neste endividamento um risco de crédito crescente.

Na dificuldade de colocação de seus títulos no mercado, então só resta ao


Governo a opção de emitir moeda, acelerando a expansão monetária e causando
a hiperinflação.

Enquanto a hiperinflação está a caminho, o desequilíbrio fiscal aumenta, pela


defasagem temporal na arrecadação, perdendo valor real. Assim, cresce a
necessidade do Governo de recorrer à prática da senhoriagem (receita do
Governo levantada através da emissão de moeda). A aceleração da emissão de
moeda leva à hiperinflação, conduzindo a um déficit público maior, resultando em
novas emissões de moeda, e assim sucessivamente.

O fim da hiperinflação quase sempre coincide com uma reforma fiscal de cunho
recessivo, onde o Governo consegue apoio político necessário para reduzir gastos
e aumentar os impostos. Essa reforma fiscal reduz a necessidade de
senhoriagem, permitindo diminuir a emissão monetária. Portanto, mesmo que a
inflação sempre seja um fenômeno monetário, o fim da hiperinflação acaba sendo
também um fenômeno fiscal.

74
Principais taxas de juros do Mercado Financeiro Brasileiro

TMS - Taxa Média Selic: Taxa média praticada nas operações diárias com títulos
públicos federais, registrados no Selic. A sua finalidade é definir a remuneração
dos títulos públicos. A apuração é pela taxa média de todas as operações
efetuadas com títulos públicos federais em um dia, registradas no Selic.

CDI - Certificado de Depósito Interfinanceiro: Taxa média praticada nas


operações diárias interbancárias. A sua finalidade é instrumentalizar as trocas
financeiras entre bancos. A apuração é feita pela Cetip por meio da média das
operações financeiras realizadas entre os bancos.

TBF - Taxa Básica Financeira: Taxa utilizada como base de remuneração de


operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração igual ou
superior a 60 dias. A finalidade é alongar o perfil das aplicações oferecendo
remuneração superior à TR. A apuração é feita pela taxa média mensal ponderada
dos RDB/CDB prefixados de30 a 35 dias dos 30 maiores bancos,
desconsiderando as duas maiores e as duas menores taxas.

TR - Taxa Referencial: Taxa básica referencial dos juros a serem praticados no


mês vigente. A taxa é divulgada pelo Banco Central e é usada para a correção das
aplicações da caderneta de poupança e das prestações dos empréstimos do
Sistema Financeiro da Habitação. A finalidade é servir como referência de taxas
de juros básica para o sistema econômico.

TJLP - Taxa de Juros de Longo Prazo: Fixada trimestralmente pelo Conselho


Monetário Nacional. A finalidade é balizar o financiamento da compra de bens de
capital, estimulando a atualização tecnológica, bem como a ampliação da
capacidade produtiva e modernização das empresas. A TJLP foi regulamentada
pela Resolução Bacen 2121, de 30.12.1994 e definida como custo básico dos
financiamentos concedidos pelo BNDES.

75
OS MEIOS DE PAGAMENTO

A Política Monetária pode ser definida como o controle da oferta de moeda e das
taxas de juros de curto prazo, que garantem a liquidez de cada momento da
economia. Envolve um conjunto de medidas com o objetivo de controlar o volume
da liquidez global à disposição dos agentes econômicos.

Dentre os principais objetivos, destacam-se os seguintes:


• Controlar os meios de pagamento de forma compatível com o crescimento
da economia;
• Corrigir distorções nos meios de pagamentos;
• Controlar o nível da taxa de inflação;
• Estimular o crescimento das atividades econômicas.

Os ativos financeiros existentes na economia possuem variados graus de liquidez


e por isso não podem ser considerados indiscriminadamente como meios de
pagamentos. Por isso, dentro do conceito de padronização internacional, o Banco
Central define os meios de pagamento de acordo com a classificação abaixo:

M1: Papel-moeda em poder do público mais os depósitos à vista nas instituições


financeiras bancárias. É o dinheiro que tem liquidez imediata, é aceito livremente
pela comunidade e não gera rendimentos.

M2: É a soma do M1 com os depósitos em poupança + os títulos privados


emitidos por instituições financeiras, como depósitos à prazo, letras de câmbio,
letras imobiliárias e letras hipotecárias + saldo de títulos em poder dos fundos de
Aplicação Financeira (FAF).

M3: Compreende o M2 + fundos de investimento de renda fixa e as operações


compromissadas com títulos públicos federais. O M3 agrega todas as captações
do sistema financeiro no mercado interno, com alto grau de liquidez.

76
M4: M3 + os títulos públicos federais, estaduais e municipais em poder do público.

Todos os conceitos de meios de pagamento são considerados sob a ótica do


aplicador, visando evitar a dupla contagem. O Banco Central procura controlar a
oferta total de moeda na economia, visto que a oferta de dinheiro está diretamente
relacionada aos preços. O controle do volume de dinheiro em circulação na
economia do País é uma condição necessária para que ele mantenha o seu valor.

Em períodos de inflação elevada, ocorre um processo de migração dos ativos


financeiros do M1 para os demais ativos, como M2, M3 e M4. Esse fenômeno é
conhecido como desmonetização da economia. É natural que as pessoas
procuram aplicar os recursos disponíveis em ativos que rendem juros, visando a
manutenção do poder de compra da moeda.

77
A BASE MONETÁRIA E O MULTIPLICADOR BANCÁRIO

O Banco Central contabiliza diariamente o total de papel-moeda emitido e o total


das reservas bancárias. A soma desses haveres resulta na Base Monetária, que é
conhecida como o passivo monetário do Banco Central.

No Brasil, somente o Banco Central pode emitir moeda, mediante autorização do


Conselho Monetário Nacional. Entretanto, os bancos comerciais, embora não
tenham o poder de emitir moeda, podem criar ou destruir moeda (meios de
pagamento).

Criam moeda quando concedem empréstimos, tendo por lastro os depósitos


recebidos dos clientes. Podemos citar como exemplo, o desconto de duplicatas,
onde ocorre a entrega de haveres monetários através de crédito na conta corrente
do cliente e o recebimento em troca de haveres não monetários (duplicata).
Por outro lado, a destruição de moeda ocorre quando o cliente liquida ou paga a
duplicata descontada anteriormente.

Em 1994 o Conselho Monetário Nacional aprovou um novo conceito de Base


Monetária, conhecido como Base Monetária Ampliada, definida como o passivo
monetário e mobiliário interno federal. Nessa nova definição, soma-se à Base
Monetária (papel-moeda emitido + reservas bancárias) os recolhimentos dos
depósitos compulsórios feitos em espécie e os saldos dos títulos emitidos pelo
Bacen e todos os títulos de emissão do Tesouro Nacional.

O processo de criação dos meios de pagamento pelos bancos comerciais ocorre


através da multiplicação dos depósitos à vista recebido dos correntistas. A moeda
colocada na economia pelo Bacen tende a transformar-se em depósitos nos
bancos. Os bancos, por sua vez, utilizam esses recursos para emprestar aos
clientes tomadores de crédito. O dinheiro dos empréstimos acaba retornando aos
bancos sob a forma de novos depósitos, e assim sucessivamente, visto que
depósitos geram novos empréstimos e esses geram novos depósitos.

78
Para evitar que esse processo se repita infinitamente, o Banco Central criou um
mecanismo de controle dessa multiplicação da moeda, conhecido como depósito
compulsório.

Para melhor entendimento do assunto, vamos imaginar um exemplo hipotético


onde o Banco Central emitiu R$ 1.000,00 em moeda e colocou em circulação na
economia, o qual foi totalmente depositado nos bancos sob a forma de depósito à
vista.
Vamos imaginar a incidência de depósito compulsório à alíquota de 20% sobre os
depósitos à vista, restando 80% do valor para emprestar, ou seja, R$ 800,00. O
processo de multiplicação desse dinheiro se daria da seguinte maneira:

Etapas Depósito à Vista Compulsório 20% Empréstimo

1ª 1.000,00 200,00 800,00


2ª 800,00 160,00 640,00
3ª 640,00 128,00 512,00
4ª 512,00 102,40 409,60
5ª 409,60 81,92 327,68
. . . .
n tendendo para zero idem idem
Final 5.000,00 1.000,00 4.000,00

Matematicamente, podemos resolver o problema da seguinte maneira:


∑ DV = 1.000 + (1.000 x 0,8) + (1.000 x 0,82 ) + (1.000 x 0,83 ) +...+ ( 1.000 x 0,8n )

Podemos resolver também esse problema através da soma dos termos de uma
progressão geométrica infinita, cujo valor da razão está entre 0 e 1, usando a
fórmula abaixo:
S = a1/1-r

79
Onde: S = soma dos termos da progressão geométrica
a1 = primeiro termo da progressão
r = razão da progressão

Então: S = 1/ 1 – 0,8
S = 1/0,2
S=5

Neste caso, o multiplicador bancário “5” representa a capacidade do sistema


bancário em criar moeda, ou seja, para cada R$ 1.000,00 de depósitos à vista o
banco pode conceder empréstimos de até R$ 5.000,00.

Quanto maior o percentual de depósito compulsório exigido pelas autoridades


monetárias, menor será o multiplicador bancário e menor também será a
capacidade de criação de moeda. Isso justifica a importância do Bacen em calibrar
o nível de exigência do depósito compulsório, visando manter o controle sobre os
meios de pagamento. Atualmente, o compulsório sobre os depósitos à vista sem
remuneração está fixado em 45%, além de 8% remunerado pela Selic.

Criação e Destruição de Moeda


Ocorre criação ou destruição de moeda quando se altera o saldo dos meios de
pagamentos, no conceito M1. Corresponde a um aumento ou diminuição da oferta
de moeda disponível.

Criação de Moeda Destruição de Moeda


Exportadores trocam dólares por reais Banco vende dólares aos importadores,
recebendo reais em troca;
Empréstimos dos Bancos para as Pagamento de empréstimos bancários
empresas
Desconto de duplicatas Aplicação financeira de longo prazo
Compra de títulos públicos

80
INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA

Ao Bacen, como depositário dos recursos da União, compete a emissão de


moeda, com exclusividade. Emite títulos de responsabilidade própria, de acordo
com as condições estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional e também
realiza operações de compra e venda de títulos públicos federais, como
instrumentos para a execução da Política Monetária. Através dos instrumentos de
política monetária, o Governo controla a oferta de moeda em nível suficiente para
adequar o desenvolvimento econômico e a liquidez do sistema financeiro.

Existem quatro instrumentos, pelos quais o Banco Central realiza a política


monetária: Operações de Mercado Aberto, Depósito Compulsório, Taxa de
Redesconto e Controle e Seleção do Crédito.

O Banco Central muitas vezes se encontra em situações nas quais necessita por
determinadas razões expandir ou contrair a base monetária, entendida como a
quantidade de moeda que circula na economia. Muitas vezes, o Governo tem o
interesse de fomentar a atividade econômica interna e, para isso, pode utilizar
uma política monetária expansionista, que estimule o crescimento econômico. Da
mesma maneira, quando o interesse do Governo é frear a atividade econômica, o
Banco Central pode, através de determinados instrumentos de política monetária,
contrair a base monetária.

Quando o Governo deseja expandir o crescimento econômico, pode realizar um


deles ou todos simultaneamente. Uma prática comum é combinar tais políticas
monetárias com políticas fiscais.

81
Operações de Mercado Aberto, ou Open Market

Consiste na compra e venda de títulos públicos pelo Bacen. Quando o Governo


objetiva aumentar a oferta de moeda, realiza operações de resgate dos títulos em
circulação. E quando deseja reduzir a oferta de moeda, realiza operações de
colocação de títulos no mercado.

O Banco Central muitas vezes entra no mercado para comprar ou vender títulos.
Este instrumento de política monetária é conhecido por open market, ou operação
de mercado aberto. Quando o Banco Central tem o objetivo de expandir a base
monetária, entra no mercado comprando títulos.

Ao fazer isto, ele coloca em circulação um determinado montante de dinheiro que


estava em seu poder. Com um volume maior de dinheiro na economia, ou seja,
com uma renda maior, a população irá gastar mais.

Isso tem um efeito muito positivo para o crescimento econômico, já que os


vendedores irão encomendar mais de seus fornecedores, estes irão por sua vez
comprar mais mercadorias das fábricas.

Os empresários irão contratar mais pessoas para realizar a produção e por sua
vez encomendar mais matéria prima. Isto contribui de forma significativa para o
crescimento do nível de empregos.

A situação contrária ocorre quando o Banco Central coloca títulos à venda. Ao


vender títulos, o Banco Central recolhe dinheiro das mãos da população. As
pessoas se sentem menos estimuladas a gastar e com isso o nível de atividade da
economia tende a diminuir.

82
O esquema abaixo ilustra de forma simplificada a situação onde o Bacen vende
títulos ao mercado:

BACEN vende títulos


A compra é paga em R$
REDUZ o volume de moeda em circulação
REDUZ a oferta de moeda
Consequência: Aumenta a Dívida Pública

Com uma quantidade maior de títulos em circulação, o Governo terá que pagar os
juros referentes a estes papéis e com isso a dívida pública é afetada diretamente.
As operações de Open Market constitui-se no mecanismo mais utilizado pelo
BACEN para fazer frente ao controle diário de oferta de moeda.

Depósito Compulsório
Percentual sobre os depósitos recolhido pelos Bancos ao Bacen. Poderoso
instrumento de controle do efeito multiplicador da moeda.

O depósito compulsório é uma taxa fixada pelo Banco Central, que determina que
uma parte dos depósitos à vista feita pela população nos bancos comerciais vai
para o caixa do Banco Central. O Bacen pode aumentar ou diminuir a taxa do
depósito compulsório, de acordo com seus interesses.

Quando o Banco Central diminui a taxa do compulsório, o montante que os


bancos comerciais devem enviar para o Banco Central diminui. Com isso, eles
conseguem reter um montante maior para emprestar. Ou seja, a quantidade de
crédito disponível à população aumenta. Com isso, mais dinheiro fica disponível
para a população e a base monetária se expande, e a partir daí, os gastos
aumentam e a economia cresce como um todo.

83
Quando o Banco Central aumenta a taxa do compulsório, ocorre a situação
inversa. Os bancos comerciais vão dispor de menos recursos para emprestar. O
crédito disponível para a população diminui e a base monetária se contrai,
desacelerando a economia. A elevação do compulsório também eleva a taxa de
juros dos empréstimos, em função da escassez de recursos disponíveis para
empréstimos.

Taxa de Redesconto ou Empréstimo de Liquidez

Linha de crédito do Bacen destinada a suprir eventuais necessidades de caixa dos


Bancos.
A taxa de redesconto é a taxa de juros cobrada pelo Banco Central nos
empréstimos aos bancos comerciais. Muitas vezes os bancos comerciais
necessitam de empréstimos de curto prazo para cumprir alguns compromissos
que, por falta de liquidez no período, não teriam como cumprir. O Banco Central
funciona como uma espécie de emprestador de última instância para os bancos
comerciais. Para compensar perdas de reservas, as instituições recorrem ao
mercado interbancário. Em último caso, recorrem ao redesconto junto ao Bacen,
que atua como o Banco dos Bancos.

Quando o intuito do Banco Central é injetar dinheiro no mercado, ou seja, expandir


a base monetária, ele reduz a taxa de redesconto. Os bancos comerciais se
sentirão mais estimulados a pegar mais empréstimos com o Banco Central e com
isso, irão reservar uma parte maior de seus recursos para empréstimos e
reservarão uma menor parte para as necessidades de curto prazo. Como
consequência, o crédito disponível aumenta e a economia é aquecida.

Uma taxa de redesconto menor que a taxa Selic, por exemplo, permitiria aos
Bancos captar esses recursos para financiar suas operações e com isso
aumentaria a liquidez do sistema.

84
Entretanto, normalmente a taxa de redesconto é superior à taxa de juros praticada
pelo mercado, razão pela qual os bancos só recorrem ao redesconto em última
instância.

A utilização da linha de Redesconto tem um caráter punitivo, pois sinaliza uma


situação de desequilíbrio da instituição financeira tomadora e sendo assim, possui
um custo mais elevado. O Bacen monitora o acesso a esta linha de
financiamento. Se determinada instituição financeira acessá-la com determinada
frequência, poderá ser interpelada pelo Bacen.

Portanto, existem dois tipos de redesconto:


Redesconto de Liquidez: visa socorrer os bancos quando ocorrer eventual saldo
negativo na conta de depósitos, em função de estar com problemas de liquidez;
Redesconto Especial: utilizado para incentivar setores específicos da economia. O
Bacen abre uma linha de crédito especial aos bancos comerciais, cujos recursos
somente podem ser canalizados para esta finalidade específica, como por
exemplo, incentivo aos exportadores.

Controle e Seleção do Crédito

Este instrumento estabelece de forma direta os controles do volume e o preço do


crédito.
O controle e a seleção do crédito impõe, de certa forma, algumas restrições ao
livre funcionamento das forças de mercado. Quando o Governo restringe o crédito,
está controlando o volume e seu destino; está também controlando o nível de
taxas de juros e fixando limites e condições para o crédito. Com este tipo de
medida, o Governo reduz as possibilidades dos agentes econômicos efetuarem
compras e vendas através da utilização do crédito.

85
Por outro lado, quando o Governo aumenta o volume de crédito no mercado, está
incentivando a demanda por bens e serviços. Esse mecanismo gera uma maior
oferta de bens e serviços na economia, podendo resultar em aumento dos preços
e consequentemente pode gerar um aumento da inflação. Portanto, este
instrumento pode ser utilizado com a finalidade de inibir os efeitos inflacionários na
economia.

Atualmente, o Governo estabelece anualmente a meta de inflação, entendido


como o nível máximo de inflação que as autoridades permitem atingir. O índice
oficial adotado pelo Brasil é o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Ampliado, calculado e apurado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Este índice mede a variação nos preços de produtos e serviços
consumidos pelas famílias com renda entre zero e quarenta salários mínimos,
apurado entre o primeiro e o último dia de cada mês. A coleta dos dados abrange
as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife,
São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Distrito Federal, além do
município de Goiânia. A divulgação do IPCA ocorre até o dia 15 do mês seguinte.

86
O MODELO “IS-LM” NA POLÍTICA MONETÁRIA

O modelo IS-LM foi desenvolvido por John Hicks em 1937. Este modelo se
fundamenta num conjunto de equações através do qual se estabelecem as
condições necessárias para o equilíbrio no mercado de bens e serviços e no
mercado monetário, visando o equilíbrio geral da economia. Posteriormente, a
análise de John Hicks foi ampliada por Alvin Hansen.

Para a maioria dos economistas, o modelo IS-LM ainda representa um elemento


constitutivo básico que capta grande parte do que ocorre na economia no curto e
médio prazo. Por isso, esse modelo é ensinado e utilizado até hoje.

A origem das letras IS-LM se referem a:


• I: Investimentos;
• S: corresponde a poupança (saving);
• L: corresponde a liquidez (liquidity);
• M: corresponde a moeda (money).

O Governo utiliza-se de diversos instrumentos de políticas macroeconômicas,


executados pela política monetária, política fiscal, política externa e política de
rendas. Cada uma dessas políticas tem sua própria dinâmica na condução das
atividades econômicas, porém todas estão identificadas com a política global do
País.
Os principais objetivos macroeconômicos a serem atingidos com a execução da
política monetária são os seguintes:

• Promoção do crescimento e desenvolvimento econômico;


• Promoção do nível de emprego e manutenção de sua estabilidade;
• Estabilidade dos preços via controle da inflação;
• Melhor distribuição da riqueza e da renda dos trabalhadores;
• Equilíbrio do balanço de pagamentos com o exterior, principalmente as
transações correntes.

87
A Política Monetária pode ser definida como o controle da oferta de moeda e
do nível de taxas de juros, visando garantir a liquidez para cada momento da
economia.

Para melhor entendimento do mercado de moeda, vamos analisar a curva LM, que
representa a relação existente entre a taxa de juros e o nível de renda que se
estabelece no mercado monetário.

A taxa de juros é o custo de oportunidade de guardar moeda, ou seja, é o que se


perde quando se guarda moeda que não rende juros, ao invés de aplicá-la no
mercado financeiro. Quando os juros se elevam, as pessoas e as empresas
desejam manter uma menor quantidade de sua riqueza em forma de moeda.
Sempre que possível, a maior parte é canalizada para aplicações financeiras que
rendem juros, visando a manutenção do poder de compra da moeda.

A curva LM mostra o nível da taxa de juros que equilibra o mercado de moeda a


cada nível de renda dado. A teoria da preferência pela liquidez mostra que a taxa
de juros de equilíbrio depende da oferta de moeda. Se o Banco Central altera a
oferta de moeda, a curva LM vai se deslocar.

A teoria da preferência pela liquidez indica que uma redução na oferta de moeda
resulta no aumento da taxa de juros. Por outro lado, um aumento na oferta de
moeda provoca uma redução na taxa de juros.

A curva LM representa o equilíbrio no mercado monetário, enquanto a curva IS


representa o equilíbrio no mercado de bens e serviços. Em conjunto, o modelo IS-
LM determina a renda nacional no curto prazo. Neste capítulo, vamos procurar
entender as causas das flutuações da renda nacional, ou seja, como essas
variáveis afetam a economia no curto prazo.

88
A curva LM mostra a relação existente entre a taxa de juros e o nível de
renda que ocorre no mercado monetário.

O gráfico abaixo representa o ponto de equilíbrio no mercado monetário, onde “Y”


representa a renda e “i” o nível de taxa de juros. A interseção das curvas IS-LM
representa o equilíbrio simultâneo nos mercados de bens e serviços e de saldos
monetários.

Ocorrendo um aumento na oferta de moeda pelas autoridades monetárias, a curva


LM se deslocará para a direita, ou para baixo. O novo ponto de equilíbrio se
desloca do ponto “A” para o ponto “B”.

A renda aumenta de “Y” para “Y1” e a taxa de juros reduz de “i” para “i1”.
É importante notar que a colocação de maior volume de moeda na economia
provoca um crescimento dos meios de pagamentos e consequentemente da
liquidez da economia.

Esse movimento caracteriza uma Política Monetária Expansionista, influenciando


positivamente o nível de consumo da população, visto que acarreta uma evolução
no nível da atividade econômica.
A diminuição da taxa de juros combinado com o aumento do nível de renda eleva
os investimentos e o nível geral de empregos.

89
Vamos agora analisar um exemplo de Política Monetária Recessiva. Uma política
monetária restritiva por parte do Governo afeta negativamente a atividade
econômica. Supondo que o Governo resolva reduzir a oferta de moeda na
economia, essa medida acarreta numa política monetária recessiva, ou restritiva.
A redução da oferta de moeda provoca o aumento da taxa de juros e a redução do
nível de renda.

A curva LM se desloca para a esquerda e para cima, conforme demonstrado no


gráfico anterior. O novo ponto de equilíbrio passa do ponto “A” para o ponto “B”. A
taxa de juros se eleva do ponto “i” para o ponto “i1 “ e a renda diminui do ponto “Y”
para o ponto “Y1”.

90
O MODELO “IS-LM” NA POLÍTICA FISCAL

A política fiscal está ligada à arrecadação tributária e aos gastos do Governo. Os


principais objetivos da política fiscal são:
• Acelerar ou desacelerar o ritmo de crescimento econômico;
• Acelerar ou desacelerar o ritmo de crescimento do consumo, via política
tributária;
• Estimular as exportações, através de incentivos fiscais;
• Desestimular as importações, através de tarifas alfandegárias.

A política fiscal representa todos os instrumentos de que o Governo dispõe para a


arrecadação de tributos (política tributária) e o controle de suas despesas (política
de gastos).
Entende-se por política fiscal a atuação do Governo no que diz respeito à
arrecadação dos impostos e administração dos seus gastos.
A forma como as políticas tributárias e de gastos são utilizadas afeta diretamente
o comportamento da economia.
Quando o Governo tem por objetivo estimular o crescimento econômico e a
criação de empregos, adota medidas fiscais para elevar a demanda agregada da
economia, ou seja, adota uma política fiscal expansionista, caracterizada por um
aumento nos gastos públicos e/ou redução nos impostos.

Quando o Governo tem por objetivo o controle da inflação, as medidas fiscais vão
no sentido inverso: é adotada uma política fiscal contracionista, recessiva ou
restritiva, com a ampliação da carga tributária, inibindo o consumo das famílias e o
investimento das empresas e/ou a redução dos gastos públicos.

Se o objetivo for melhorar a distribuição da renda, esses instrumentos são usados


de forma seletiva, em benefício das pessoas menos favorecidas, como por
exemplo, gastos públicos concentrados em regiões mais pobres da cidade, ou a
cobrança de impostos proporcional à renda das pessoas (quem ganha mais
pagaria mais impostos e quem ganha menos, pagaria menos).

91
A curva IS está diretamente ligada à política fiscal utilizada pelo Governo.
Representa o mercado de bens e serviços.

A curva IS mostra a relação existente entre taxa de juros e o nível de renda


que se estabelece no mercado de bens e serviços.

A curva IS é traçada para uma determinada política fiscal. Alterações na política


fiscal que aumentem a demanda por bens e serviços deslocam a curva IS para a
direita. Por outro lado, alterações na política fiscal que reduzem a demanda por
bens e serviços deslocam a curva IS para a esquerda.

Uma redução nas despesas governamentais ou um aumento na carga tributária


reduzem a renda, deslocando a curva IS para a esquerda.

Já um aumento nas despesas do Governo ou uma redução dos impostos reduz a


poupança nacional, qualquer que seja o nível de renda.

É importante lembrar que a curva IS não determina nem a renda, nem a taxa de
juros. A curva IS apenas apresenta a relação existente entre a renda e o nível de
taxa de juros no mercado de bens e serviços.

Para melhor entendimento dos efeitos da curva IS na política fiscal, vamos


analisar os gráficos abaixo. No primeiro exemplo, vamos considerar um aumento
nas despesas do Governo. Esse é um típico caso de política fiscal expansionista,
considerando que o aumento das despesas por parte do Governo deve gerar um
aumento na renda dos trabalhadores. Será que isso ocorre realmente?

92
O aumento nas despesas do Governo desloca a curva IS para a direita, ou para
cima. O novo ponto de equilíbrio passa do ponto “A” para o ponto “B”. A renda
aumenta de “Y” para “Y1”. Entretanto, observe que a taxa de juros aumenta de “i”
para “i1 “.

Quando a taxa de juros sobe, o nível de investimentos na economia tende a se


reduzir. Portanto, uma expansão fiscal aumenta a taxa de juros e reduz o
investimento.

Agora, vamos analisar um modelo de política fiscal recessiva, ou restritiva. Nesse


caso, a curva IS se desloca para a esquerda, ou para baixo, provocando uma
redução no nível de renda e também uma redução da taxa de juros.

93
Vamos analisar agora um exemplo de aumento da carga tributária:

O aumento nos impostos desloca a curva IS para a esquerda, ou para baixo. O


novo ponto de equilíbrio passa do ponto “A” para o ponto “B”. A renda diminui de
“Y” para “Y1” e a taxa de juros baixa de “i” para “i1 “.
Quando a taxa de juros baixa, o nível de investimentos na economia tende a se
elevar.
É preciso saber que é muito difícil para as autoridades do Governo trabalhar
isoladamente com a política fiscal ou com a política monetária, porque uma
medida acaba refletindo ou interferindo entre as políticas. Por isso, o ideal é a
utilização conjunta das políticas monetária e fiscal, assunto que será abordado no
próximo item.

94
POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL: O MODELO “IS-LM”

O uso conjunto das políticas monetária e fiscal é conhecido como a combinação


das políticas. Às vezes as políticas monetária e fiscal são utilizadas com um
objetivo comum. Entretanto, em certas ocasiões a combinação dessas políticas é
causada por tensões ou mesmo desacordos entre o Governo (encarregado pela
condução da política fiscal) e do Banco Central, responsável pela política
monetária.

Para entendimento da conjugação das políticas monetária e fiscal, vamos analisar


uma situação hipotética, mas que poderia ser utilizada como realidade para os
governantes.

Por exemplo, se o Governo lançar um pacote fiscal, para reduzir o déficit público
via aumento de impostos. Qual seria o impacto dessa medida sobre a economia?
A resposta depende muito da reação do Banco Central a esse aumento de
impostos.

Na realidade, são três os resultados possíveis, os quais serão analisados


mediante interpretação dos modelos gráficos adiante:

95
No gráfico acima, o Banco Central manteve constante a oferta de moeda, ou seja,
não modificou a política monetária. O aumento dos impostos desloca a curva IS
para a esquerda, ou para baixo, reduzindo a renda e a taxa de juros.

Já no próximo gráfico, o Banco Central mantém constante a taxa de juros. Neste


caso, quando a taxa de juros desloca a curva IS para a esquerda, o Bacen deve
reduzir a oferta de moeda para garantir a permanência da taxa de juros em seu
nível original. Isto desloca a curva LM para a esquerda, ou para cima. A taxa de
juros não se reduz, mas a renda cai muito.

O exemplo acima pode ser considerado uma combinação de uma política fiscal
recessiva com uma política monetária também recessiva, ou restritiva.

No próximo gráfico, o Banco Central procura impedir a queda da renda da


população, decorrente do aumento dos impostos. Por isso, aumenta a oferta de
moeda. Neste caso, o aumento dos impostos não chega a provocar uma
recessão, mas causa uma grande redução nas taxas de juros. A renda não sofreu
alteração.

96
Enquanto o aumento dos impostos reduz o consumo, a queda das taxas de juros
estimulam novos investimentos, gerando novas oportunidades de emprego.

O exemplo acima pode ser considerado uma combinação de uma política fiscal
recessiva com uma política monetária expansionista. A combinação de uma
política monetária expansionista com uma política fiscal recessiva provoca uma
redução na taxa de juros e mantém a renda constante.

A partir dos exemplos analisados, é possível verificar que o impacto de uma


mudança na política fiscal depende da política monetária adotada pelo Banco
Central, ou seja, depende de se procurar manter constante a oferta de moeda, a
taxa de juros ou o nível de renda.

Sempre que analisarmos as mudanças decorrentes de uma política, devemos


verificar sua repercussão ou impacto sobre a outra política. As diversas hipóteses
sobre o caminho mais adequado a ser adotado dependem da situação concreta e
das diversas variáveis que estão por trás da formulação da política econômica.

97
Portanto, vários fatores podem provocar flutuações econômicas, deslocando tanto
a curva IS como a curva LM. Entretanto, se as alterações nas políticas forem
tempestivas, os choques nas curvas IS e LM podem inibir flutuações na renda ou
no emprego.

A tabela abaixo mostra os efeitos das políticas monetária e fiscal na economia,


através do modelo IS-LM.

Deslocamento Deslocamento Flutuação Variação


IS LM na Renda Taxa Juros
Aumento Impostos Esquerda Nenhum Redução Diminui
Diminuição Direita Nenhum Aumento Aumenta
Impostos
Aumento Gastos Direita Nenhum Aumento Aumenta
Públicos
Diminuição Gastos Esquerda Nenhum Redução Diminui
Públicos
Aumento oferta Nenhum Direita Aumento Diminui
Moeda
Redução oferta Nenhum Esquerda Redução Aumenta
Moeda

98
PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)

As economias modernas produzem uma imensa variedade de bens e serviços.


Para medir a produção total, os economistas combinam em uma única medida de
produção as quantidades de produtos agrícolas (como, trigo, feijão, arroz, soja,
frutas), de bens industrializados (como vestuário, calçados, eletrodomésticos,
automóveis) e os serviços (cabeleireiros, faxineiras, serviços médicos) dentre
tantos outros.
Esta medida é relevante, pois além de refletir o nível de produção de um País,
permite avaliar seu grau de crescimento, ao comparar a produção de dois
períodos. Esta medida é o PIB – Produto Interno Bruto.

O PIB de um País representa o valor monetário de todos os bens e serviços finais


produzidos para o mercado em um período de tempo, normalmente um ano,
dentro das fronteiras de um País.

Valor monetário: Os bens e serviços que integram o PIB não são medidos em
quantidades produzidas e sim no valor em moeda corrente do País. Isso se
justifica porque como existem muitos tipos diferentes de bens e serviços e cada
um é mensurado por uma unidade diferente (metros, toneladas, unidades, litros),
seria difícil encontrar uma unidade comum para somá-los. Porém, ao utilizar o
valor monetário é possível combinar todos os produtos e serviços em um único
valor.

Bens e Serviços Finais: a medição do PIB é limitada aos bens e serviços finais,
ou seja, os bens e serviços disponíveis ao consumidor final. Essa limitação existe
para evitar o problema da dupla contagem.
Desse modo, no cálculo do PIB considera-se o valor agregado em cada estágio de
produção. Entende-se por valor agregado, a diferença entre o valor da produção e
o valor dos bens intermediários utilizados nesta produção.

99
Produzidos para o mercado: No PIB são computados apenas os bens e serviços
produzidos. Assim, compras de terrenos e de ativos financeiros como ações e
títulos não são incluídos, pois são um direito de propriedade e de recebimento
futuro, mas não representam bens e serviços.
Também não entram no cálculo do PIB compras de segunda mão, como por
exemplo, automóveis usados, uma vez que já foram produzidos em períodos
anteriores e computados no cálculo quando da primeira venda.

O PIB ainda inclui apenas os bens e serviços que serão destinados à venda, ou
seja, que são produzidos para o mercado. Se você mesmo limpa sua própria casa,
está produzindo um serviço final: a faxina, mas você está produzindo este serviço
para si e não para vendê-lo no mercado, por isso não entra no cálculo do PIB.
Agora se você contratar uma faxineira para executar o serviço, então o serviço
deve ser incluído, pois passa a representar uma transação de mercado.

Em um período de tempo, normalmente um ano: O PIB é uma variável fluxo, ou


seja, reflete o processo que se desenvolve no decorrer do tempo. Por exemplo, se
perguntarmos a uma empresa qual o seu nível de lucro, sua resposta não será a
mesma se a pergunta fizer referência ao mês ou ao ano.
O mesmo acontece com o PIB: é importante definir o período de tempo
considerado e, por tradição, usa-se o horizonte temporal de um ano.

Dentro das fronteiras de um País: O PIB mede o que foi produzido dentro das
fronteiras de um País, independentemente da nacionalidade dos proprietários das
unidades produtoras destes bens e serviços.
Um exemplo é o que acontece com os jogadores de futebol brasileiros: muitos vão
jogar em times fora do Brasil. Os serviços destes jogadores brasileiros em um time
da Espanha, por exemplo, formam parte do PIB espanhol e não do Brasil, pois o
serviço foi gerado dentro do território espanhol.

100
A dupla contagem:
Na economia existem os bens finais, que chegam ao consumidor final, e os bens
intermediários, que são utilizados no processo de produção de outros bens. O
valor dos bens intermediários já está incluído no preço dos bens finais.
Por exemplo, se uma fábrica produz papel que a outra usará para fazer um
caderno, o papel é chamado de bem intermediário, e o caderno é o bem final.
Se considerarmos toda a produção de cadernos e de papel no cálculo do PIB,
estaremos contando duplamente a produção de papel, já que seu valor está
embutido na produção de cadernos.

PIB x PNB:
É importante distinguir a diferença entre PIB e PNB (Produto Nacional Bruto). O
PIB representa a produção interna do País, enquanto o PNB representa a
produção realizada apenas por nacionais. A diferença entre eles é denominada de
Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLE), a qual se divide em Renda enviada ao
exterior e renda recebida do exterior.

Podemos definir a seguinte relação: PIB = PNB + RLE

Uma multinacional instalada no Brasil gera produção interna (incluída no PIB),


mas como uma parte da remuneração dessa empresa será enviada ao exterior a
título de remessa de lucros, esta remessa não faz parte do PNB porque não é
remuneração dos fatores de produção de propriedade nacional. Como o Brasil é
receptor de capitais internacionais, seja como investimentos ou empréstimos, a
renda líquida enviada ao exterior é maior do que a recebida e por isso o PNB
brasileiro é menor que o PIB.

101
Como o PIB é medido?
O PIB mede três coisas ao mesmo tempo: o total produzido, a renda total de todas
as pessoas da economia e a despesa total com os bens e serviços produzidos na
economia, uma vez que a renda total e a despesa total têm na verdade o mesmo
valor. Com base nisso, existem três formas de medir a atividade econômica de um
País, dentre elas podemos destacar:

Ótica da Produção:
Pela ótica da produção, é possível chegar ao PIB somando os valores monetários
de todos os bens e serviços finais produzidos pela economia em determinado
período de tempo. Assim,
PIB = QaPa + QbPb + QcPc +... QnPn

Para chegarmos ao valor monetário total de cada produto, é preciso multiplicar a


quantidade vendida pelo seu preço. Isso deve ser feito para todos os produtos e
devem ser somados para encontrar o valor produzido pelo País. Vale lembrar que
somente devem ser considerados os produtos finais para evitar o problema da
dupla contagem.

Exemplo: Numa economia que produz somente cinco tipos de produtos, o PIB
pode ser calculado de acordo com a fórmula acima:

Produto Medida Preço Unitário R$ Quantidade PIB


A Quilos 50 1.000 50.000
B Arrobas 100 30 3.000
C Litros 25 200 5.000
D Metros lineares 5 2.000 10.000
E Metros cúbicos 75 200 15.000

O PIB desta economia corresponde a R$ 83.000,00

102
Ótica das Despesas
O PIB pode ser medido como sendo a despesa total com a produção final da
economia, ou seja, é possível considerar todas as despesas de cada setor para
adquirir e produzir os bens e serviços. O valor monetário total das despesas é
igual ao valor monetário total da produção.
A Despesa pode ser dividida em: gastos pessoais em consumo; gastos com
investimentos efetuados pelas empresas; gastos do Governo e exportações
líquidas.

• Despesas das famílias = Consumo (C)


As despesas com consumo efetuadas pelas famílias se constituem no maior
componente da demanda agregada e podem ser divididos em:
Bens duráveis, como geladeiras, móveis, carros, etc.;
Bens não duráveis, como alimentos, bebidas, combustíveis, roupas, etc.;
Serviços, como educação, assistência médica, salão beleza, etc.

• Despesas das empresas = Investimentos (I)


O Investimento é a despesa com bens que aumentam a capacidade produtiva da
economia, pois esses bens são utilizados para produzir outros bens e serviços.
Inclui despesas em edificações e novos equipamentos e também a variação nos
estoques de bens mantidos pelas empresas. Os bens produzidos e não vendidos
constituem o estoque, que representam bens que foram produzidos no período e
por isso devem ser incluídos no PIB. Quando as empresas acumulam estoques de
seus produtos, os mesmos são considerados como bens comprados pela própria
empresa, fazendo com que o produto que assume a forma de estoque seja igual a
uma despesa no valor do produto. Isso é chamado de investimentos em estoques
e deve ser computado no PIB.

103
• Despesas do Governo (G)
As despesas do Governo em bens e serviços também se constituem em um
componente da demanda agregada da economia. Neste item entram despesas
com educação, segurança, infraestrutura (estradas, hospitais, aeroportos, etc.)

Exportações líquidas: Exportações (X) menos as importações (M)


As exportações representam os gastos do setor externo na compra de bens e
serviços produzidos por empresas brasileiras.
As importações representam a compra de brasileiros no exterior, ou seja, quanto é
gasto com o resto do mundo e representa uma saída de renda.

Desse modo, temos a seguinte equação: PIB = C + I + G + (X – M)


Esta relação também é chamada de Demanda Agregada ou ainda de Despesa
Nacional.

Ótica da Renda
A ótica da renda consiste na análise dos fatores que recebem para produzir o
produto total. O total do produto pode ser calculado computando-se as despesas
de cada setor e, como as despesas de um setor constituem renda para outro, o
valor total do produto pode ser analisado computando-se a renda de todos os
setores da economia.

Produto Nacional Bruto (PNB) x Produto Nacional Líquido (PNL)

O PN Líquido representa a produção líquida total gerada na economia de um País


no período de um ano. Quando o PNB está sendo produzido, está sendo
consumido parte do estoque de capital existente na economia, que nada mais é do
que a depreciação.

104
Dessa forma o PN Líquido considera o efeito da depreciação do capital.

PNB = PNL + Depreciação.

Do mesmo modo, ao considerarmos o investimento (I) da economia, estamos nos


referindo ao investimento total, incluindo as despesas necessárias para repor os
bens de capital consumidos na produção.
O investimento líquido é o investimento bruto menos a depreciação do capital e
também é chamado de formação de capital de uma Economia.

105
Renda Nacional (RN)
Para chegarmos à renda nacional, partindo do PNL, é preciso diminuir os impostos
indiretos e somar os subsídios.

Renda Nacional = PNL – impostos indiretos + subsídios

Produto Interno Líquido (PIL)


O produto Interno Líquido é obtido subtraindo-se do Produto Interno Bruto a
Depreciação.

PIL = PIB - Depreciação

A nomenclatura abaixo ajuda a melhor interpretar os conceitos econômicos aqui


abordados:

Produto Interno Bruto (PIB)


( - ) Renda enviada ao Exterior
( + ) Renda recebida do Exterior
( = ) Produto Nacional Bruto (PNB)
( - ) Depreciação
( = ) Produto Nacional Líquido (PNL)
( - ) Impostos indiretos
( + ) Subsídios
( = ) Renda Nacional (RN)

106
PIB per capita:
Quando se divide o PIB pelo número de pessoas na economia teremos o
resultado do PIB per capita, indicando a proporção de riqueza gerada
correspondente a cada habitante do País.

PIB Nominal X PIB Real


O PIB nominal mede o valor total da produção durante o período a preços
correntes. Quando o PIB cresce de um ano para outro temos duas possibilidades:
• a economia está produzindo uma quantidade maior de bens e serviços, ou
• os bens e serviços estão sendo vendidos a preços mais elevados, existindo
inflação nesta economia.

Para que estes dois efeitos sejam separados, os economistas devem isolar o
efeito das variações de preços desses bens e serviços. Por isso os economistas
utilizam a medida do PIB Real.

O PIB Real apresenta o valor dos bens e serviços produzidos este ano caso
fossem avaliados aos preços vigentes em algum outro ano específico do passado.
Para obter uma medida do montante produzido que não seja afetada pelas
variações dos preços, é usado o PIB Real, que é a produção dos bens e serviços
avaliada a preços constantes. Para calcular o PIB Real, é preciso primeiro
selecionar um ano como ano-base.

Utiliza-se então os preços de um bem no ano-base para calcular o valor dos bens
e serviços em todos os anos. Em outras palavras, os preços do ano-base
fornecem a base para comparar quantidades em diferentes anos.

Portanto, o PIB Real representa o PIB descontando-se o efeito da inflação. Como


o PIB Real não é afetado pela variação dos preços, as variações do PIB Real
refletem apenas mudanças nas quantidades produzidas, e, portanto, é uma
medida da produção de bens e serviços da economia.

107
RN a Preço de Mercado e RN a Custo de Fatores (RNpm x RNcf)

Na prática, a expressão “pm” não é utilizada para a medição da RN. Assim, a RN


refere-se a preço de mercado. Quando se pretende calcular a RN a custo de
fatores, é preciso grafar a sigla “cf”
A RN a preço de mercado é medida a partir dos valores transacionados no
mercado, ou seja, é medido pelo preço pago pelo consumidor final.

A RN a custo de fatores é um preço de fábrica, antes dos impostos e sem


considerar os preços dos insumos intermediários. A diferença entre ambos está
nos impostos indiretos e nos subsídios.
RNcf = RN – Tributos Indiretos + Subsídios.

Para cálculo de outros indicadores, a metodologia utilizada é a mesma.


PIBcf = PIB – Tributos Indiretos + Subsídios

PNBcf = PNB – Tributos Indiretos + Subsídios

PNLcf = PNL – Tributos Indiretos + Subsídios

O PNL avalia os bens a preço de mercado, que inclui impostos indiretos e


subsídios.
Com a exclusão dos impostos indiretos e subsídios, teremos o valor real recebido
pelos fatores de produção utilizados, constituindo-se na Renda Nacional.
Então, podemos concluir que PNLcf = Renda Nacional.

108
Exercícios

1. A contabilidade de determinado País apresentou os dados abaixo. Calcular o


PNB a custo e fatores. (618.000)
PIL 650.000
Impostos Indiretos 75.000
Subsídios 20.000
Depreciação 35.000
Renda Líquida enviada ao Exterior 12.000

2. A contabilidade de determinado País apresentou os dados abaixo:


PNLcf 200.000
Renda Líquida enviada ao Exterior 50.000
Impostos Indiretos 80.000
Subsídios 20.000
Depreciação 80.000

Calcular: PIB; PNB; PNL; RN.

3. A contabilidade de determinado País apresentou os dados abaixo:


PNB 510.000
Renda Líquida enviada ao Exterior 75.000
Impostos Indiretos 120.000
Subsídios 30.000
Depreciação 90.000

Calcular o PNL e a RN deste País. (420.000 e 330.000)

109
A RELAÇÃO DÍVIDA / PRODUTO INTERNO BRUTO

A política fiscal está diretamente ligada às receitas e as despesas do Governo.


Envolve, basicamente, a destinação dos recursos captados pelos governos
através da arrecadação tributária.

A política fiscal exerce forte impacto sobre a política monetária, principalmente


sobre o crédito, visto que à medida que os prazos para recolhimento dos impostos
se reduzem, afetam diretamente o fluxo de caixa dos agentes econômicos.

A utilização por parte das autoridades governamentais de uma política fiscal


adequada permite neutralizar o endividamento interno do Tesouro Nacional,
através de um superávit primário, que deve gerar inclusive recursos suficientes
para resgate dos Títulos Públicos Federais emitidos.

Especificamente no caso do Brasil hoje, para aumentar as receitas, é necessário


uma reforma tributária que melhore a capacidade arrecadadora e para reduzir as
despesas, uma reforma administrativa com o objetivo de reduzir os gastos.

Como o Governo brasileiro gasta mais do que arrecada, é obrigado a recorrer ao


endividamento, absorvendo recursos do setor produtivo da economia e
prejudicando a formação de poupança interna, tão necessária ao financiamento do
investimento produtivo, responsável pela geração de novos empregos e renda.

A tabela abaixo mostra a terminologia fiscal utilizada pelo Governo:

Déficit / Superávit Correção Monetária Despesas Financeiras


Primário (menor) Não inclui Não inclui
Operacional Não inclui Inclui
Nominal (maior) Inclui Inclui

110
PRIMÁRIO: (Receitas – Despesas)

OPERACIONAL: (Receitas – Despesas – Juros)

NOMINAL: (Receitas – Despesas – Juros– Correção Monetária)

Déficit Primário:
Inclui as receitas e despesas do exercício, excluindo as despesas com juros e
correções das dívidas passadas. É o total das Receitas menos o total das
Despesas, sem considerar juros e correção monetária. Dito de outra forma, é a
diferença entre os gastos públicos e a arrecadação tributária no exercício.

Déficit Operacional:
É medido pelo déficit primário acrescido dos juros reais da dívida passada. É
considerada a medida mais adequada para refletir as necessidades reais de
financiamento do setor público.

Déficit Nominal, ou Total:


É a diferença entre o total arrecadado e o total de gastos públicos. Inclui os juros e
as despesas com correção monetária e cambial das dívidas.

É importante lembrar que um quadro fiscal deficitário representa maiores


dificuldades na administração da política monetária. Para que seja possível uma
redução significativa nas taxas de juros é preciso que o déficit público esteja sob
controle.

O descasamento entre receitas menores que as despesas obriga o Governo a se


financiar através do mercado financeiro, emitindo títulos públicos. A colocação
desses títulos no mercado financeiro vai aumentar a dívida pública interna do
Governo.

A relação Dívida/PIB é um bom indicador da capacidade de solvência das dívidas

111
do Governo, ao relacionar o volume do endividamento com sua geração de
riqueza.

O Fundo Monetário Internacional – FMI – utiliza como medidas básicas do crédito


de um País o superávit primário e a Dívida Pública/PIB. Entretanto, o mercado
financeiro e as agências de classificação de risco, avaliam o risco e o crédito de
um País com a utilização de outras medidas, como por exemplo, a dívida
externa/exportações.

Os critérios mais óbvios para medição do risco de um País estão relacionados


com o conceito de solvência e liquidez, que incluem o total da dívida em relação
ao PIB, a relação da dívida externa com as exportações e reservas internacionais,
a proporção de vencimento dos títulos no curto prazo, dentre outros.

112
POLÍTICA CAMBIAL e BALANÇO DE PAGAMENTOS

Na política cambial, a determinação da taxa de câmbio no mercado envolve


diversas variáveis, com ênfase para as exportações e importações. O mercado de
câmbio envolve a negociação de moedas estrangeiras. No Brasil, as operações de
câmbio não podem ser praticadas livremente e devem ser conduzidas através de
um banco autorizado a operar com câmbio.

Os participantes do mercado de câmbio se dividem nos produtores e nos cedentes


de divisas. Os que produzem divisas são principalmente os exportadores,
enquanto que os que cedem divisas são os importadores.

No mercado de câmbio existe também os corretores de câmbio, que são os


intermediários nas operações, pois funcionam como um elo de ligação entre os
clientes e os bancos autorizados a operar neste mercado. A principal função dos
corretores é procurar no mercado o melhor negócio com as melhores taxas para
seu cliente efetuar o fechamento do câmbio.

Atualmente, o mercado de câmbio no Brasil está dividido em:


• Mercado de Taxas Livres – Dólar Comercial: Destinado às operações
comerciais de exportação e importação de mercadorias e também as
operações financeiras de empréstimos e investimentos externos.
• Mercado de Taxas Flutuantes – Dólar Turismo: Criado para legitimar
um segmento de mercado destinado a clientes que viajam para o
exterior.
As operações de câmbio são basicamente a troca da moeda de um País pela
moeda de outro País. Todas as operações de câmbio têm um enorme reflexo
sobre o Balanço de Pagamentos do País.

O Balanço de Pagamentos é o registro sistemático de todas as transações


econômicas que os residentes do País fazem com o resto do mundo durante o
ano. É uma espécie de contabilidade, ou livro-caixa da nação, envolvendo tanto

113
transações com bens e serviços bem como transações com capitais físicos e
financeiros. A Estrutura do Balanço de Pagamentos está abaixo:

BALANÇO DE PAGAMENTOS
A – BALANÇA COMERCIAL
Exportações
Importações

B – BALANÇA DE SERVIÇOS E RENDA


Viagens Internacionais (turismo, negócios)
Transportes (fretes)
Seguros
Juros
Lucros e Dividendos
Royalties e Licenças
Serviços Governamentais (embaixadas, consulados)
Outros Serviços

C – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS
Donativos enviados e/ou recebidos

D – BALANÇA DE TRANSAÇÕES CORRENTES


Soma dos itens (A + B + C)

E – BALANÇA DE CAPITAIS AUTÔNOMOS


Investimento Direto Líquido (Participação no capital de firmas estrangeiras
no País)
Reinvestimentos (Reinvestimento de firma estrangeira já instalada no País)
Empréstimos e Financiamentos
Amortizações de Empréstimos e Financiamentos

F – ERROS E OMISSÕES

G – SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS


Resultado Líquido (D + E + F)

H – VARIAÇÃO DE RESERVAS
Balança de Capitais Compensatórios, que corresponde a ( - G)

114
Vamos analisar as principais contas do Balanço de Pagamentos, para melhor
entendimento do assunto, conhecido como Transações Correntes. Nesta primeira
parte do Balanço de Pagamentos, a Conta de Transações Correntes envolve a
Balança Comercial, a Balança de Serviços e as Transferências Unilaterais.

A Balança Comercial registra os valores das exportações e das importações.


Registra as operações de compra e venda de mercadorias, ou seja, inclui as
exportações e as importações de mercadorias.

As Exportações correspondem à venda para outros países de mercadorias


produzidas internamente, isto é, corresponde à demanda de não residentes por
mercadorias produzidas no País. Representam uma entrada de capital, uma
receita em moeda estrangeira.
As Importações correspondem à compra de mercadorias produzidas em outro
País. Representam uma saída de capital, uma despesa em moeda estrangeira.

Se o total das exportações superar o das importações, a balança comercial


apresenta um superávit. Se acontecer o contrário, teremos um déficit. Uma série
de fatores influi sobre a ocorrência de um déficit ou superávit na balança
comercial. Entre os mais importantes, podemos citar a evolução dos preços das
exportações e importações de um País e a evolução dos volumes importados e
exportados.

A Balança de Serviços e Rendas registra as receitas e despesas de diversos


tipos de transações, destacando-se os transportes, fretes, seguros, turismo,
royalties, lucros, juros recebidos e enviados ao exterior.

• Fretes e Seguros: As mercadorias transacionadas com o exterior envolvem


despesas com fretes internacionais e seguros. Se o frete e o seguro for
realizado por uma empresa brasileira, então ocorre entrada de divisas.

115
• Juros: Representa os juros devidos por empréstimos realizados no exterior.
O Brasil é tomador de empréstimos no exterior e com base nisso esta conta
apresenta saldo negativo, representando saída de divisas da nação.

• Lucros: Representam os lucros auferidos por empresas multinacionais


instaladas no País e enviados ao exterior.

• Viagens Internacionais: Saldo líquido dos gastos efetuados pelos brasileiros


em viagens ao exterior, menos os gastos efetuados pelos estrangeiros em
viagens ao Brasil.

No caso de países endividados, a Balança de Serviços e Rendas apresenta-se


geralmente deficitária, devido ao pagamento de juros e pela remessa de lucros e
dividendos de empresas multinacionais.

Os serviços que representam remuneração aos fatores de produção externos,


como juros, lucros, royalties e assistência técnica são a Renda Líquida Enviada ao
Exterior, resultando na diferença entre PIB e PNB.

As Transferências Unilaterais envolvem doações, donativos, remessas e outros


valores que não terão retorno para o País. Registram o saldo de todas as
transações que não envolvem obrigações de retorno em contrapartida. São
contabilizados nesta conta, além dos donativos e doações, os alimentos e
medicamentos destinados a populações afetadas por desastres naturais, recursos
destinados a reparações de guerras, dentre outros.

Balança de Transações Correntes:

O saldo da conta de Transações Correntes resulta do somatório da Balança


Comercial + Balança de Serviços e Rendas + Transferências Unilaterais, podendo
ser positivo ou negativo. O ideal para a nação é que este saldo seja positivo.

116
Se o saldo da conta Transações Correntes for negativo, indica que o País
comprou do exterior mais do que vendeu em bens e serviços, aumentando suas
obrigações com o resto do mundo.

Por outro lado, se o saldo da conta Transações Correntes for positivo, indica que o
País vendeu mais bens e serviços do que comprou, resultando em ingresso
líquido de reservas.

É o item mais importante do balanço de pagamentos, à medida que mostra as


necessidades de recursos que o País terá de buscar no exterior para não perder
reservas internacionais. Um déficit muito elevado nesta conta torna o País
vulnerável a qualquer mudança no contexto internacional.

Balança de Capitais Autônomos:

É a conta que indica as alternativas de cobertura do déficit em transações


correntes, envolvendo as operações que modificam a estrutura de direitos e
obrigações de um País em relação ao resto do mundo. É dividida em:

• Investimentos e reinvestimentos: Representa o ingresso de capitais estrangeiros


(investimentos feitos por não residentes no País - entrada de dólares) e/ou o
capital de residentes aplicados no exterior (saída de dólares). Podem ser
investimentos diretos, quando o capital estrangeiro migra para o mercado
produtivo (por exemplo, o capital entra no País por meio da construção de uma
multinacional), ou investimento em carteira, quando o capital estrangeiro migra
para o mercado financeiro.

• Empréstimos e Financiamentos: Registra empréstimos recebidos do exterior pelo


FMI, Banco Mundial, bancos privados no exterior, tanto para o setor público como
para o privado e ainda o lançamento de títulos de empresas públicas e privadas
no exterior.

117
• Amortizações: Pagamento do principal referente aos empréstimos e
financiamentos obtidos no exterior ou ainda, recebimentos do principal feito por
não residentes referentes aos empréstimos concedidos pelo País ao exterior.

A principal variável a explicar o movimento de capitais entre os países é a taxa de


juros. Quanto maior a taxa de juros de um País em relação aos demais, maior o
estímulo à entrada de capitais externos neste País.

Erros e Omissões:
Surge em função de equívocos existentes no registro das operações do País com
o exterior. Na verdade, algumas contas são registradas com valores estimados.
Este item entra no balanço para corrigir os erros estatísticos e as transações não
registradas.

Saldo do Balanço de Pagamentos:

Somadas todas as contas anteriores temos o saldo do Balanço de Pagamentos.


Se negativo, significa que a saída de divisas foi superior à entrada, gerando um
déficit. Se positivo, temos um superávit. O resultado nesta conta reflete a variação
das reservas internacionais.

O superávit significa que há mais divisas do que as necessárias para cobrir as


saídas e esta sobra representa um aumento nas reservas internacionais do País.
Já o déficit mostra que as entradas não foram suficientes e tal resultado negativo
poderá ser coberto por uma saída de divisas do País, reduzindo as reservas
internacionais.

118
Exercício:

1. Um País apresentou os registros abaixo em seu Balanço de Pagamentos em


determinado ano:
Exportações 200.000
Importações 100.000
Transferências Unilaterais Recebidas 10.000
Saldo Transações Correntes - 50.000

Calcular o saldo da Balança de Serviços.


Resposta: ( - 160.000)

2. Um País apresentou os registros abaixo em seu Balanço de Pagamentos em


determinado ano:
Exportações 300.000
Importações 100.000
Transferências Unilaterais Recebidas 20.000
Juros pagos ao Exterior 80.000

Calcular o saldo da Balança de Transações Correntes.


Resposta: (140.000)

3. Um País apresentou os registros abaixo em seu Balanço de Pagamentos em


determinado ano:
Exportações ............................................220.000
Importações ............................................110.000
Transferências Unilaterais Recebidas .....20.000
Juros pagos ao Exterior ...........................40.000
Fretes e Seguros recebidos ......................10.000

Calcular o saldo da Balança de Transações Correntes.


Resposta: (100.000)

119
RESERVAS CAMBIAIS

As Reservas Cambiais refletem o montante de moeda estrangeira acumulado pelo


País. São constituídas pelo estoque de divisas estrangeiras, títulos de curto prazo
e posições de ouro em poder do Banco Central, bem como pelos Direitos
Especiais de Saque (DES) que são reservas do País junto ao FMI.

O resultado do Balanço de Pagamentos vai indicar se houve acúmulo ou perda de


moeda estrangeira no período, refletindo a variação das reservas cambiais. Vale
lembrar que o Balanço de Pagamentos registra somente o fluxo monetário dentro
de um determinado período de tempo, enquanto que as reservas cambiais
revelam o estoque de moedas estrangeiras em um determinado momento.

O quadro abaixo mostra a evolução das reservas internacionais, em US$ bilhões,


nos últimos anos.

ANO SALDO EM US$ BILHÕES


2002 37,82
2003 49,29
2004 52,94
2005 53,80
2006 85,84
2007 180,33
2008 193,78
2009 238,52
2010 288,57
2011 352,01
2012 378,61
2013 375,79
2014 363,55
2015 368,74

120
Mercado de Câmbio e Taxas de Câmbio

O mercado de câmbio ou de divisas é o mercado no qual se compram e vendem


as moedas dos diferentes países. Por ser um mercado como outro qualquer,
existem compradores e vendedores:

Compradores de Moeda Estrangeira Vendedores de Moeda Estrangeira


Importadores Exportadores
Quem viaja ao exterior Viajantes estrangeiros ao Brasil
Investidores no exterior Investidores estrangeiros no Brasil
Quem precisa pagar dívidas no Quem paga dívidas com o Brasil
exterior
Quem aposta na valorização da Quem aposta na desvalorização da
moeda estrangeira moeda estrangeira

A Taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda


estrangeira. É o preço de uma moeda expressa em termos de outra.
Exemplo: Quando falamos que o dólar americano vale três reais e cinquenta
centavos, já estamos expressando a taxa de câmbio entre duas moedas:
US$ 1,00 = R$ 3,50.
Do mesmo modo que definimos a taxa de câmbio do dólar, existem taxas de
câmbio para as diversas moedas estrangeiras (francos, marcos, libras, escudos,
pesos, etc.).
Quanto maior a oferta de divisas, menor será a taxa de câmbio e, quanto maior a
demanda por divisas, maior será a taxa de câmbio. Define-se como valorização
cambial ou apreciação cambial, o aumento do poder de compra da moeda
nacional perante as outras moedas (quando um real compra mais dólares), ou
seja, quando a taxa de câmbio cai (por exemplo, quando o valor do dólar cai).

121
Por raciocínio análogo, uma desvalorização cambial ocorre quando há perda do
poder de compra da moeda nacional (quando um real compra menos dólares).
Cabe distinguir variações nominais e variações reais na taxa de câmbio. Taxa de
câmbio Real é a taxa de câmbio nominal (a divulgada pelo mercado), deflacionada
pela razão entre a taxa de inflação doméstica e externa.
A taxa de câmbio nominal reflete o valor de uma moeda em relação a outra. Já a
taxa de câmbio real oportuniza a comparação de preços em uma única moeda, ou
seja, permite saber a quantidade de produtos estrangeiros que se pode adquirir
em troca de uma unidade do produto similar nacional.

A fórmula para obtenção da taxa real de câmbio é: (E.P*)/P


Sendo:
E = taxa de câmbio nominal
P* = preço do produto estrangeiro
P = preço do produto nacional

Exemplo 1: Um produto no Brasil custa R$ 90,00 e que nos EUA é vendido por
US$ 45,00. Se a taxa de câmbio estiver em US$ 1,00 = R$ 2,40, a taxa de câmbio
real entre os dois países será 1,20. Isso significa que nos EUA o produto está 20%
mais caro que no Brasil (US$ 45 x 2,40 = R$ 108,00) e R$ 90 + 20% resulta em
R$ 108,00. No nosso exemplo, para o preço se igualar, a cotação do dólar deveria
estar em R$ 2,00. Com a cotação de R$ 2,40/US$ 1,00 nossa moeda está
desvalorizada perante o dólar, tornando os produtos estrangeiros mais caros que
os brasileiros. Por outro lado, isso estimula as exportações brasileiras.

Exemplo 2: Um produto no Brasil custa R$ 100,00 e nos EUA é vendido por US$
40,00. Se a taxa de câmbio estiver em US$ 1,00 = R$ 2,00, a taxa de câmbio real
entre os dois países será 0,80. Isso significa que nos EUA o produto está 20%
mais barato que no Brasil (US$ 40 x 2,00 = R$ 80,00) e R$ 100 - 20% resultam em
R$ 80,00. Neste exemplo, para o preço se igualar, a cotação do dólar deveria
estar em R$ 2,50. Com a cotação de R$ 2,00/US$ 1,00 nossa moeda está

122
valorizada perante o dólar, tornando os produtos estrangeiros mais baratos para
os brasileiros e isso estimula as importações brasileiras.
A taxa de câmbio é uma variável muito importante dentro de uma economia, pois
pode influenciar o nível de produção e de inflação, além do próprio comércio
internacional e dos movimentos de capitais entre os países.
Ocorrendo uma desvalorização cambial (aumento na taxa de câmbio), os efeitos
serão os seguintes:

Exportadores Importadores
Aumenta a produção de bens Reduz a importação de produtos para
consumo
Aumenta o nível de empregos Aumenta o custo de produção dos
produtos para produção de outros bens
Desestimula as importações
Pressiona os juros para cima Pressiona a inflação

Um aumento na taxa de câmbio faz com que os compradores estrangeiros, com


os mesmos dólares comprem mais produtos brasileiros, o que estimula as
exportações.
Se as exportações subirem de forma representativa, provocará um aumento na
produção interna dos produtos brasileiros, o que estimula o emprego nestes
mercados exportadores.

Em contrapartida, os produtos importados ficam mais caros (são necessários mais


reais para pagar um produto em dólar). A importação de produtos destinados aos
consumidores finais tende a diminuir, já que os consumidores podem adquirir
produtos nacionais similares por um preço mais acessível.
Já a importação de bens intermediários (que serão usados como matérias primas
na produção de outros bens) não é facilmente retraída. A quantidade importada se
mantém, porém a um custo maior, o que tende a ser repassado para os preços,
provocando inflação.

123
Uma forma de reduzir a taxa de câmbio é aumentar a taxa de juros da economia.
Juros mais altos atraem capital estrangeiro para investir no Brasil, aumenta a
oferta de dólares e com isso pressiona o câmbio para baixo.
Atualmente, a taxa de câmbio tem sido usada pelos países como forma de
controlar a inflação, chamamos isso de âncora cambial. Uma valorização cambial
torna a moeda nacional mais forte, estimula a compra de produtos importados,
aumentando a concorrência com os nacionais, o que provoca uma pressão pela
queda dos preços domésticos, controlando a inflação.

No mercado de câmbio, a moeda estrangeira é uma mercadoria e está sujeita às


forças de oferta e procura. A taxa cambial é a relação de valor entre duas moedas,
pois corresponde ao preço da moeda de um determinado País em relação à
moeda do outro País. Por exemplo, a taxa de câmbio reais/dólares indica quantos
reais são necessários para comprar um dólar.

124
REGIMES CAMBIAIS

O Governo procura regulamentar o mercado de câmbio com o objetivo de


melhorar o desempenho de certas variáveis econômicas de seu interesse. Por
isso existem diferentes regimes cambiais.
Os principais regimes cambiais são:

• Regime de taxas de câmbio fixas: a taxa de câmbio do País é fixa e o que se


ajusta é apenas a quantidade demandada e ofertada àquele valor. O Governo
determina o valor da taxa de câmbio e intervém, através do Banco Central, de
modo a equilibrar a oferta e a demanda de divisas no nível da taxa de câmbio
estabelecida.
Quando no mercado há um excesso de oferta de divisas (dólares, por exemplo) o
Governo entra no mercado adquirindo estas divisas pela taxa de câmbio fixada
(compra o excesso para evitar que a taxa de câmbio se altere), equilibrando oferta
e demanda. Se tivermos o inverso, excesso de demanda de divisas, o Governo
vende, a esta taxa, divisas que possui em reserva.

Como a taxa de câmbio não se altera, este sistema permite um maior controle da
inflação, mas possui como desvantagem a vulnerabilidade das reservas
internacionais, já que para manter a taxa cambial fixa ocorrem oscilações sobre o
volume de reservas internacionais do País e sobre a quantidade de moeda
nacional. No Brasil este sistema vigorou nos Planos Cruzados (1986) e Verão
(1989).

• Regime de taxas de câmbio flutuantes ou flexíveis: a taxa de câmbio do País


é livre. O Governo intervém apenas como ofertante e demandante de divisas em
função de suas necessidades, do mesmo modo que o setor privado. As taxas de
câmbio são determinadas sem a intervenção do Banco Central, pelas forças da
oferta e da demanda.

125
A vantagem deste sistema é que a política monetária fica mais independente do
câmbio e as reservas internacionais são mais protegidas de ataques
especulativos.

A grande desvantagem deste sistema é sua volatilidade, pois movimentos bruscos


na oferta ou na demanda de divisas provocam grandes oscilações na taxa de
câmbio, gerando inconvenientes para a economia: torna-se um campo fértil para a
especulação, gera dificuldades para os importadores determinarem os preços em
reais das mercadorias importadas e acaba por desestimular as exportações pela
incerteza do valor que será recebido pelo exportador. Entretanto, é possível
proteger o valor da moeda, através de uma operação de hedge realizada no
mercado a termo de moedas. Esse assunto será melhor detalhado mais adiante.

Esta volatilidade faz com que alguns países adotem a chamada flutuação suja (ou
flutuação dirigida ou dirty floating). Neste sistema o câmbio flutua livremente, mas
dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao mercado. Se o
mercado estiver muito oscilante ou em um patamar que está afetando
negativamente a economia, O Banco Central intervém para estabilizar ou para
direcionar a taxa para o patamar desejável.

• Regime de bandas cambiais: O Governo estabelece e informa ao mercado os


valores limites que a taxa de câmbio pode assumir. É um regime híbrido, reunindo
as características do regime cambial fixo e flutuante. Dentro desses limites o
sistema funciona como se fosse câmbio flutuante e, nos limites, como câmbio fixo,
ou seja, estabelece-se uma faixa de flutuação. Quando a taxa atinge o limite
máximo (banda superior) ou o limite mínimo (banda inferior), o Banco Central
intervém, vendendo ou comprando moeda estrangeira.
Este sistema foi implantado no Brasil entre 1995 e 1999, durante o Plano real.

126
Atualmente, o mercado de câmbio no Brasil é de taxas livres e taxas flutuantes.
Neste tipo de mercado, as taxas de câmbio não devem sofrer interferência por
parte do Governo. Entretanto, as autoridades monetárias interferem neste
mercado, visando conter e regular as forças de mercado para garantir uma política
cambial que esteja de acordo com as condições de mercado desejadas para o
Governo naquele momento.

A intervenção do Governo, através do Banco Central pode ser feita sobre o


estoque de moeda da seguinte maneira:
• Se a taxa de câmbio cai, ficando abaixo do nível desejado pelo
Governo, indicando que a oferta de moeda estrangeira é maior do que a
demanda, o Banco Central entra no mercado e compra o excesso de
divisas, implicando numa gradual elevação da taxa. A intervenção do
Bacen permanece até que a taxa cambial retorne ao nível desejado.
• Se a taxa de câmbio sobe, ficando acima das expectativas do
Governo, indicando que a oferta de moeda é menor do que a demanda,
o Banco Central utiliza seus estoques de divisas internacionais e vende
no mercado um determinado montante de moeda estrangeira,
aumentando a oferta de moeda e fazendo com que a taxa caia, voltando
ao nível desejado.

Toda vez que o Banco Central resolve realizar uma operação de compra ou de
venda de moeda, utiliza os passos a seguir:
• Aciona todos os dealers e informa que haverá um leilão informal,
também conhecido como go around de câmbio e fixa o lote mínimo,
geralmente de US$ 500 mil.
• O segundo contato do Banco Central é para informar se o leilão será de
compra ou de venda de moeda estrangeira e para fixar as taxas. Nesse
contato, é fixado o prazo para os dealers apresentarem a quantidade de
moeda que está disposto a negociar no nível de taxas dado.
• O Banco Central recebe as propostas e divulga o resultado do leilão. O

127
Banco Central tem interesse na realização dessas operações
diariamente.

No Brasil, após a implantação do Plano Real em 1994, foi criado o conceito de


bandas cambiais com o objetivo de controlar a entrada de recursos externos. O
Banco Central passou a comprar dólares por uma taxa inferior à taxa de venda.
Uma diferença ampla entre as duas cotações (compra/venda) desestimulava a
entrada de dólares com objetivo de ganhos de curto prazo, pois o percentual
dessa diferença não permitia compensar, no curto prazo, a diferença entre as
taxas de juros internas e externas.

Este mecanismo foi extinto em janeiro de 1999, quando houve uma grande
desvalorização do real frente ao dólar. Passou-se a adotar o mecanismo de
câmbio livre, onde a cotação do dólar é formulada pelo mercado. Entretanto, é
uma utopia dizer que nosso mercado é de taxas livres, pois sempre existe a
intervenção das autoridades governamentais, quando julgam necessário para
conter a variação do preço da moeda.

Operações de Hedge

Os Contratos a Termo podem ser utilizados para hedge, que significa proteção.
Suponhamos que uma empresa brasileira tenha uma dívida de US$ 100.000,00
para pagar em 90 dias e que a taxa de câmbio para 90 dias seja de R$ 2,50. A
empresa pode realizar um contrato a termo para comprar US$ 100.000,00 para 90
dias por R$ 250.000,00, protegendo seu risco de câmbio, travando a taxa do dólar
em R$ 2,50.

Do mesmo modo, outra empresa brasileira tem créditos a receber no valor de US$
100.000,00 em 90 dias. Sem nenhum custo, pode realizar um contrato a termo

128
para vender US$ 100.000,00 em 90 dias por R$ 250.000,00. Assim, ela protege
seu risco de câmbio, travando a taxa do dólar em R$ 2,50.

Os Contratos a Termo também podem ser utilizados para fins especulativos. Um


investidor que acredita que o dólar irá aumentar de valor diante do Real pode
especular, tomando uma posição comprada num contrato a termo de dólar. Do
mesmo modo, um investidor que projeta a queda do dólar pode especular,
tomando uma posição vendida.

N D F – Non Deliverable Forward

As operações de NDF são uma espécie de derivativos e são negociados


diretamente entre as contrapartes, utilizando-se das instituições financeiras para
intermediação, sem a participação de corretoras ou bolsa de valores.

O Contrato de Venda/Compra a Termo de Moedas (Non Deliverable Forward)


consiste na venda ou compra da Taxa de Câmbio a Termo, de reais pela moeda
especificada, sem entrega física, para liquidação na data de vencimento registrado
na Câmara de Custódia e Liquidação - CETIP. É uma espécie de contrato a termo
de moedas sem a entrega física.
As operações em mercados derivativos estão sempre amparadas por contratos
que asseguram aos participantes o exercício de todos os seus direitos e o
cumprimento de suas obrigações.

O Contrato a Termo é uma operação que representa um acordo particular entre


duas partes, sendo que uma das partes garante a compra ou a venda do ativo-
objeto da negociação e a outra parte garante a venda ou a compra, na data futura
especificada.

O mercado a Termo envolve um acordo de compra e venda de certo ativo para


uma data futura e a um preço predeterminado. Nesses contratos não há ajustes

129
diários e as operações mais comuns são aquelas que envolvem a negociação com
moedas estrangeiras.

Tributação
As operações de Termo de Moeda estão sujeitas à incidência de Imposto de
Renda na fonte, à alíquota de 0,005% sobre o valor de liquidação financeira
previsto no contrato, sem prejuízo da responsabilidade do cliente no recolhimento
do Imposto de Renda à alíquota vigente, atualmente de 15%.
Fica dispensada a retenção do imposto de 0,005% sobre o valor da liquidação
financeira previsto no contrato, cujo valor seja igual ou inferior a R$ 1,00 (um real).

Ocorrendo mais de uma operação no mesmo mês, realizada por uma mesma
pessoa, física ou jurídica, deverá ser efetuada a soma dos valores de imposto
incidente sobre todas as operações realizadas no mês, para efeito de cálculo
deste limite de retenção previsto.

Exercícios

1. Operação de NDF, onde o cliente é Exportador e vende US$ 1.000.000,00 pelo


prazo de 100 dias corridos, visando proteger suas exportações. A cotação no
mercado a termo para 100 dias está em R$ 2,4032. No vencimento da operação, o
dólar estava cotado em R$ 2,1330. Efetue o ajuste da operação. (R$ 270.186,49)

2. Empresa Exportadora contratou NDF no valor de US$ 500.000,00 pelo prazo


de 248 dias corridos, à taxa de R$ 2,0453. No vencimento, a cotação do dólar
estava em R$ 2,1699. Efetue o ajuste da operação. (R$ 62.300,00)

130
3. Operação de NDF com Importador que compra dólares a R$ 1,6550. Valor da
operação: US$ 500.000,00. No vencimento, o dólar estava cotado em R$ 1,7330.
Efetue o ajuste da operação. (R$ 38.998,05)

4. Operação de NDF de US$ 1.000.000,00 onde o cliente é Exportador e vende


dólares a R$ 2,0300. Na data de liquidação, o dólar estava cotado em R$ 2,2528.
Efetue o ajuste da operação. (R$ 222.800,00)

5. Uma empresa Exportadora contratou operação de NDF em 28.05.2008 no valor


de US$ 500.000,00 vencimento para 25.05.2009 à taxa de R$ 1,8060. No
vencimento, a cotação do dólar estava em R$ 2,0279. Efetue o ajuste da
operação. (R$ 110.950,00)

6. Uma empresa Exportadora efetuou uma operação de NDF de US$ 500.000,00


pelo prazo de 360 dias corridos, com taxa contratada de R$ 2,1160. Faltando 4
dias úteis para o vencimento, resolveu liquidar a operação, em vista da baixa
cotação do dólar, a R$ 1,5880. O CDI estava cotado em 12,53% ao ano para
distrato da operação. Efetue o ajuste da operação. (R$ 263.492,60)

7. Operação de NDF de US$ 300.000,00 onde o cliente é Exportador e vende


dólares a R$ 1,8250 com vencimento em 360 dias corridos e 252 dias úteis. Na
data de liquidação, o dólar estava cotado em R$ 1,7225. Efetue o ajuste da
operação, informando se a empresa teve ajuste positivo ou negativo.
(R$ 30.748,46)

8. Uma empresa Exportadora contratou operação de NDF em 13.08.2008 no valor


de US$ 1.000.000,00 vencimento para 30.04.2009 à taxa de R$ 1,7230. No
vencimento, a cotação do dólar estava em R$ 2,1838. Efetue o ajuste da
operação. (R$ 460.800,00)

131
CRESCIMENTO x DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

O PIB é utilizado como um indicador da economia que revela quanto o uso dos
recursos produtivos gera de valor na transformação das matérias primas em
mercadorias, destacando quanto a economia produziu de renda e riqueza no ano.
O crescimento do PIB em termos globais e per capita ao longo do tempo é
denominado de Crescimento Econômico.
A simples mensuração do PIB não basta para explicar o fenômeno do crescimento
econômico. O produto pode aumentar em decorrência de fatores quantitativos,
como a utilização de quantidades maiores de recursos produtivos, e de fatores
qualitativos, como o aumento da produtividade.

Por exemplo, melhorias na qualidade da mão-de-obra, com aumento nos níveis


educacionais, treinamento e melhorias tecnológicas, através do aumento da
eficiência na utilização do estoque de capital e na eficiência organizacional através
da maximização na utilização dos recursos disponíveis também podem provocar
um aumento na produtividade e em consequência, um aumento no produto total.

Desse modo, é possível considerar como determinantes da produtividade o capital


físico, o capital humano, os recursos naturais e o conhecimento tecnológico.

O crescimento está ligado à qualidade da mão-de-obra e para melhoria neste fator


é importante o investimento em capital humano, através da educação. O padrão
de educação é medido por anos de escolaridade. Os países apresentam a
proporção da escolaridade média das suas populações fortemente
correlacionados com o tamanho do PIB. Ou seja, nos países em que o nível de
instrução da população é elevado há reflexos diretos e positivos no resultado do
produto da economia.

No Brasil a média de escolaridade do cidadão é de 11 anos. A título comparativo,


na Alemanha é de 22 anos.

132
No Brasil há ainda uma parcela muito grande de adultos quase analfabetos, e de
outro lado cidadãos instruídos por cursos universitários e de pós-graduação. Isso
acarreta uma diferença educacional que é refletida nos níveis salariais, o que
acentua a desigualdade social do País.

Outro fator importante para o crescimento de uma economia é o conhecimento


tecnológico. Em compasso com o conhecimento tecnológico estão a pesquisa e o
desenvolvimento que são a fonte da criação do capital físico. A pesquisa e o
desenvolvimento são gerados por agentes privados como inventores que
viabilizam a produção das suas ideias, cabendo ao Governo o papel de incentivar
tais pesquisas visando o desenvolvimento de novas tecnologias que serão
usufruídas por toda a sociedade e contribuirão para o aumento do produto da
economia.

Um País não deve apenas buscar um aumento no produto, ou seja, o crescimento.


Deve formular políticas que garantam mudanças na qualidade de vida de seus
habitantes. É preciso crescer, mas este crescimento deve ser percebido por todos
os habitantes. É desta maneira que se conquista o Desenvolvimento Econômico.

Para caracterizar um processo de desenvolvimento econômico, devemos observar


ao longo do tempo a existência de:
• Crescimento do bem-estar econômico, medido pelo PIB;
• Diminuição dos indicadores de pobreza, desemprego e desigualdade;
• Melhoria nas condições de saúde, nutrição, educação, moradia e transporte.

É importante ter bem nítida a diferença entre crescimento e desenvolvimento


econômico, pois é possível um País crescer sem se desenvolver.
A maneira como os economistas avaliam o desenvolvimento dos países é
acompanhando a evolução de alguns indicadores relativos à saúde e à educação,
por revelarem uma aproximação do que está ocorrendo com a qualidade de vida
da população.

133
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH
Existem vários indicadores sobre saúde, educação, emprego, etc. A Organização
das Nações Unidas (ONU) desenvolveu um indicador para monitorar o
desenvolvimento humano, aumentando as opções das pessoas para que possam
ter uma vida mais longa e saudável, se educar, ter acesso aos recursos
necessários para um padrão de vida melhor, defendendo a redução das
desigualdades.

Este indicador é conhecido como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Um


dos economistas mais envolvidos na definição e metodologia do IDH é Amartya
Sen, Prêmio Nobel de Economia de 1998.

Em sua metodologia o IDH agrega três variáveis:

• Indicador de renda, que é a renda per capita, ajustada para refletir a paridade
do poder de compra (PPP) entre os países;

• Indicador das condições de saúde, que é a expectativa de vida, ou índice de


longevidade;

• Indicador das condições de educação, que é uma média ponderada de outros


dois indicadores: a taxa de alfabetização de adultos e a taxa combinada de
matrícula dos ensinos fundamental, médio e superior.

A combinação destas três variáveis de cada País prevê que o aumento do produto
da economia deve também contemplar a melhora da qualidade de vida da
população, refletidas no aumento da expectativa de vida, da melhora da
educação, tornando o crescimento econômico efetivamente universal e benéfico à
população.

134
O IDH varia entre zero e um e classifica os países quanto ao grau de
desenvolvimento a partir dos seguintes critérios:

• IDH menor ou igual a 0,5: países com baixo desenvolvimento humano;


• IDH entre 0,5 e 0,8: países com médio desenvolvimento humano; e
• IDH maior do que 0,8: países com alto desenvolvimento humano.

O IDH do Brasil

Desde que o IDH passou a ser divulgado, o Brasil apresenta um índice crescente,
mas como seus valores estavam abaixo de 0,8 e eram superiores a 0,5, era classi-
ficado entre os países de médio desenvolvimento humano.

Para efeito de ilustração, em 1997 o indicador atingiu 0,739, classificando o Brasil


como a 79° economia em nível de desenvolvimento humano.

Em 2004 o indicador subiu para 0,792, elevando a classificação para a 69°


economia em nível de desenvolvimento humano.

Em 2012, a colocação do Brasil ficou em 85º entre os 186 países analisados, com
indicador de 0,730.

135
POLÍTICA FISCAL E DÉFICIT PÚBLICO

O Estado tem muita interferência na economia, uma vez que ele tem o papel de
apontar como a sociedade deve estar organizada para interagir no mercado que
produz e comercializa os bens e serviços.
Ao longo da história, a interferência do Estado na Economia é crescente, já que
com o crescimento da população, aumenta a necessidade de gastos com saúde,
educação, moradia, transporte, dentre outros.

Além disso, com o desenvolvimento da tecnologia e com a expansão das


empresas, a demanda por infraestrutura é cada vez maior e na maioria das vezes
a competência da geração destes bens e serviços é do Estado. Fatores políticos e
sociais também exigem uma atuação direta do Estado, já que, por exemplo, faz-se
necessária a adoção de políticas que diminuam a desigualdade social e de renda.

Com a rápida evolução destes fatores associada ao amadurecimento do mercado


financeiro, ao processo de globalização e intensificação do comércio exterior, a
economia de mercado passou a não cumprir adequadamente algumas funções, o
que justifica a participação ativa do Estado na economia.

De modo geral, podemos identificar três funções básicas para o setor público:

Função Alocativa: Está associada ao fornecimento de bens e serviços não


oferecidos adequadamente pelo sistema de mercado. São diagnosticadas
algumas falhas no sistema econômico que o mercado não consegue dar conta. O
Governo passa a complementar a ação do mercado, corrigindo as falhas
identificadas. Uma das principais falhas são as externalidades. As externalidades
correspondem ao fato de que a ação de determinados agentes pode ter impactos
sobre o resultado almejado por outros agentes. O consumo de um indivíduo afeta
o outro. Estes impactos podem ser positivos ou negativos. As externalidades
positivas surgem quando uma atividade cria benefícios para as outras pessoas,
sem que estas precisem pagar por eles.

136
Exemplos: Novo restaurante onde já existem outros; Avenida cuidada por
moradores; Casas dos vizinhos pintadas.

As externalidades negativas, por sua vez, surgem quando uma atividade impõe
custos não indenizados às pessoas. O Governo pode intervir para minimizar a
geração das externalidades, tributando o causador do problema e recompensar os
agentes afetados.
Exemplos: Poluição que a produção industrial causa aos rios; Fumar em sala de
aula; Vizinho com som alto no prédio.

Função Distributiva: O Governo funciona como agente redistribuidor de renda à


medida que, por meio da tributação, retira recursos dos segmentos mais ricos da
sociedade e os transfere para os segmentos menos favorecidos.
Esta transferência pode ser direta, como por exemplo, a previdência social, ou na
forma de redirecionamento na oferta de bens públicos, como por exemplo, um
programa de saneamento de favelas.

Função Estabilizadora: Está relacionada com a intervenção do Estado na


economia para alterar o comportamento dos níveis de preço e emprego, pois o
pleno emprego e a estabilidade de preços não ocorrem de maneira automática. O
Estado deve controlar os grandes agregados econômicos, evitando excessivas
flutuações e procurando diminuir os efeitos das quedas da atividade produtiva.

Diante destas funções, é possível observar a importância do Estado para a


economia e a sociedade. Nos países em desenvolvimento, esta atuação é ainda
mais relevante, visto que estes países têm um longo caminho a percorrer para
alcançar o nível de competitividade que traga ganhos significativos à economia e
para reduzir as desigualdades sociais, melhorando a vida de todos.

137
POLÍTICA TRIBUTÁRIA: AS RECEITAS PÚBLICAS

O sistema tributário é um importante instrumento que possui três funções básicas:


• Gerar recursos para financiar os gastos públicos
• Redistribuição de Renda: Ao definir quem na sociedade paga impostos, o
Governo pode diminuir a concentração de renda. Por exemplo, arrecadar impostos
junto aos ricos para financiar gastos com os pobres.
• Eficiência econômica e estímulo ao desenvolvimento: deve criar o mínimo de
distorções possíveis e evitar contrações no nível de investimentos. Exemplo: o
Governo pode aumentar a alíquota de um setor específico para diminuir o
consumo deste bem (cigarro) e pode subsidiar outro (leite) para estimular sua
produção e o consumo.

A política de arrecadação deve seguir os princípios da Teoria da Tributação:

Princípio da neutralidade:
As decisões sobre alocação de recursos se baseiam nos preços relativos
determinados pelo mercado. A neutralidade dos impostos seria obtida quando eles
não alterassem os preços relativos, minimizando sua interferência nas decisões
econômicas dos agentes de mercado. Assim, um dos objetivos do sistema
tributário é não ter impactos negativos sobre a eficiência econômica.

Princípio do benefício:
As pessoas devem pagar impostos em proporção aos benefícios que recebem do
Governo. A lógica deste princípio é que, com exceção dos mais pobres, não é
certo beneficiar um grupo de pessoas a custo de outros - os que obtêm o benefício
de um programa governamental devem pagar por ele. Uma aplicação deste
princípio são os serviços públicos que utilizam taxas específicas. Exemplo: energia
elétrica, abastecimento de água, transporte, etc.). Um problema de implementação
deste princípio é a dificuldade de identificar em alguns casos a demanda individual
pelo bem público.

138
Princípio da capacidade de pagamento:
As pessoas devem contribuir com impostos de acordo com a sua capacidade de
pagamento. O Imposto de Renda (IR) é um exemplo da aplicação deste princípio.
As medidas utilizadas para auferir a capacidade de pagamento são: renda,
consumo e patrimônio.

TIPOS DE IMPOSTOS
A arrecadação ocorre através da cobrança de Impostos. Existem vários tipos de
impostos que podem variar pela forma de incidência, pela base de incidência e
pelo impacto sobre a renda.

Impostos Diretos: Incidem diretamente sobre o contribuinte. Os principais


impostos deste tipo são os impostos sobre a renda (Impostos de Renda - IR) e os
impostos sobre a riqueza (propriedade) como o Imposto sobre a Propriedade de
Veículos (IPVA), Imposto sobre a Propriedade Territorial e Urbana (IPTU) e
Imposto sobre a Propriedade Rural (ITR).

Impostos Indiretos: Incidem sobre a compra de bens e serviços, afetando o


contribuinte indiretamente. Exemplos: Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), Programa de Integração
Social (PIS).
Os impostos indiretos são divididos em impostos específicos (valor fixo em
dinheiro, independente do valor do bem) ou impostos “ad valorem’” - alíquota
percentual sobre o preço do bem. É o caso do ICMS. É cobrado um percentual
sobre o valor da compra.

Imposto Progressivo: A participação dos impostos aumenta quando se eleva a


renda, portanto, paga mais quem ganha mais.
Exemplo: Imposto de Renda, cujas alíquotas crescem conforme aumenta o nível
de renda do contribuinte.

139
Imposto Regressivo: A participação dos impostos na renda do indivíduo diminui
conforme a renda aumenta, ou seja, as classes de menor poder aquisitivo pagam
proporcionalmente mais.

Exemplo: IPI de um produto. Se duas famílias comprarem o mesmo produto, vão


pagar o mesmo imposto, mas se levarmos em conta a renda, a família com menor
poder aquisitivo terá uma participação maior do imposto no total da sua renda e
este imposto pesará mais no orçamento familiar.

GASTOS do GOVERNO
Os gastos do governo podem ser divididos em gois grandes grupos:

• Despesas correntes: Gastos realizados com o objetivo de manter a máquina


governamental funcionando.
São divididas em:
A) Consumos do Governo: Pagamento de funcionários públicos, despesas com
manutenção do aparato público (energia elétrica, materiais, merenda escolar,
remédios em hospitais, etc).
B) Subsídios: Gastos com o objetivo de garantir ao consumidor preços inferiores
ao custo de produção. O produtor recebe o valor integral, sendo uma parte paga
pelo consumidor e outra pelo Governo.
Exemplo: subsídio do trigo - para que alguns bens essenciais como o pão não
pressionassem os orçamentos das classes menos favorecidas, embora todos os
consumidores acabam se beneficiando.
C) Transferências: Referem-se às despesas que são efetuadas pelo setor público
e destinadas ao setor privado, sem a contraprestação de serviços ou fornecimento
de bens, como é o caso do seguro-desemprego e a assistência social.
D) Juros: incluem tanto o pagamento de juros da dívida interna quanto externa.
São juros referentes ao endividamento do setor público.

140
• Despesas de Investimentos:
Despesas efetuadas para aumentar a capacidade de produção de bens e serviços
no País (construção de hidrelétricas, rodovias, hospitais, escolas etc). O Governo
dispõe de uma parcela muito pequena da receita para operar livremente, visto que
a maior parte dos recursos arrecadados é destinada a gastos já comprometidos e
que não podem ser cortados, seja por sua essencialidade, seja por medidas
legais.

Algumas despesas apresentam vinculações impostas por lei, ou seja, existem


porcentagens de arrecadação que já têm destinação garantida, como por
exemplo, existe uma porcentagem da arrecadação que precisa ser destinada à
saúde e educação.

Orçamento do Setor Público


Quando tratamos da descrição detalhada da arrecadação dos impostos e dos
gastos públicos, estamos tratando do Orçamento público. O total arrecadado por
um País é chamado de Carga Tributária.
Quanto ao saldo orçamentário, é possível ter déficit (falta de recursos) ou
superávit (sobra de recursos).
Se as Receitas forem maior que os gastos: teremos um superávit orçamentário
Se os gastos forem maior que as receitas: teremos um déficit orçamentário
Se as Receitas forem iguais aos gastos: teremos um orçamento equilibrado.

141
Déficit e Dívida Pública

O orçamento público total do País não considera apenas as receitas e gastos do


Governo Federal. Estão incluídas todas as esferas: federal, estadual, municipal, -
firmas estatais e Previdência Social.

O Brasil tem por meta alcançar um superávit primário, ou seja, as receitas do


exercício devem superar as despesas, para que a poupança gerada ajude no
pagamento dos juros da dívida pública.
Quando são adicionados os juros, o Brasil passa a incorrer em déficit, o superávit
primário gerado não é suficiente para arcar com os juros da dívida, fazendo com
que o País tenha que financiar este déficit.

Financiamento do Déficit - Dívida Pública


Quando incorre em déficit é preciso financiá-lo de alguma forma. Basicamente
existem duas formas de financiamento: emissão de moeda e venda de títulos
públicos.

Emissão de Moeda (monetização da dívida):


• Aumenta a pressão inflacionária
• Não aumenta a dívida pública

Emissão de Títulos Públicos:


• Não gera pressão inflacionária
• Aumenta a dívida interna (afeta os déficits futuros).

A Emissão de moeda é uma forma inflacionária de financiamento dos gastos


públicos. É gerado o imposto inflacionário, mas não aumenta o endividamento
público. Também é conhecida como monetização da dívida.
A emissão de títulos representa a emissão e venda de títulos públicos ao setor
privado. O Governo troca títulos por moeda que já está em circulação, o que evita
pressões inflacionárias, mas aumenta a dívida interna, pois o Governo para

142
colocar estes papéis à disposição do público precisa oferecer taxas de juros
atraentes, o que pressiona os déficits futuros.

A política econômica brasileira privilegia a estabilidade monetária e, também,


como a Constituição proíbe que o Banco Central emita moeda exclusivamente
para financiar o Governo, a forma de financiamento utilizada é a emissão de títulos
públicos, responsável pela crescente dívida pública. No Brasil, desde a
implantação do plano Real, é possível observar um crescimento expressivo da
dívida interna. A dívida externa praticamente não pressiona a gestão pública. A
tabela abaixo, de acordo com dados do Banco Central, mostra o crescimento da
dívida interna.

POLÍTICA DE RENDAS

Na política de rendas, o Governo exerce controles diretos sobre a remuneração


dos fatores de produção envolvidos na economia, como por exemplo, salários,
preços dos produtos intermediários e finais.

Estão enquadradas na política de rendas, as diversas medidas que tem por


objetivo a regulação de preços e rendimentos básicos da economia. Os principais
objetivos da política de rendas são:
• Proporcionar poder aquisitivo aos salários;
• Proporcionar a melhor distribuição de renda;
• Garantir renda mínima a determinados setores ou classes sociais da
economia;
• Reduzir o nível das tensões inflacionárias, visando a estabilidade dos
preços.

A política de controle de preços é adotada pelo Governo na tentativa de interferir


na fixação dos preços dos produtos pelas empresas, especialmente quando se

143
trata de monopólio ou oligopólio, como também de produtos essenciais, como por
exemplo, os remédios. É bom lembrar que a utilização dessa política tem se
mostrado ineficiente por períodos prolongados, porque as empresas conseguem
fugir dos controles impostos pelo Governo.

A política salarial envolve a fixação do salário mínimo por parte do Governo


Federal, visando proteger o poder de compra dos trabalhadores que conseguem,
no máximo, atingir esse nível mensal de renda, em função de sua baixa
qualificação para o mercado de trabalho.

SALÁRIO MÍNIMO – Série Histórica

Data Valor – R$ US$ Venda Relação US$


01.07.1994 64,79 1,0000 64,79
01.05.1995 100,00 0,9140 109,41
01.05.1996 112,00 0,9925 112,85
01.05.1997 120,00 1,0594 113,27
01.05.1998 130,00 1,1442 113,62
01.05.1999 136,00 1,6735 81,27
01.04.2000 151,00 1,7407 86,75
01.04.2001 180,00 2,1584 83,40
01.04.2002 200,00 2,3220 86,13
01.04.2003 240,00 3,3359 71,94
01.05.2004 260,00 2,9569 87,93
01.05.2005 300,00 2,5146 119,30
01.04.2006 350,00 2,1542 162,47
01.04.2007 380,00 2,0478 185,56
01.03.2008 415,00 1,6816 246,79
01.02.2009 465,00 2,3475 198,08
01.01.2010 510,00 1,7240 295,82
01.01.2011 540,00 1,6510 327,07
01.02.2012 622,00 1,7376 357,97
02.01.2013 678,00 2,0435 331,78
02.01.2014 724,00 2,3426 309,06
02.01.2015 788,00 2,6562 296,66
02.01.2016 880,00 3,9597 222,24

Os programas de renda mínima visam garantir uma complementação de renda às


famílias mais pobres, condicionado à comprovação de assiduidade e bom
desempenho escolar das crianças dessas famílias. A satisfatória relação

144
custo/benefício e os resultados favoráveis em termos de melhoria do nível de
educação das crianças carentes têm impulsionado o Governo a incrementar os
programas de renda mínima.

A partir da implantação do Plano Real em 1994, o Brasil vem mantendo controlado


o nível de inflação da economia. A sociedade espera a consolidação definitiva da
estabilidade da moeda em níveis baixos de inflação, estimulando o consumo
através de uma política de rendas focado na melhoria do poder aquisitivo da
população, como um todo.

145
INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA

O comércio internacional consiste no intercâmbio de bens, serviços e capitais


entre os diferentes países. O comércio internacional existe porque proporciona
vantagens em relação ao que as pessoas ganhariam se apenas consumissem
artigos produzidos localmente.

Além disso, cada País possui recursos distintos em decorrência das condições
climáticas, geográficas, riqueza mineral, tecnologia e quantidade disponível de
mão-de-obra, capital e terra cultivável.

Em virtude destas diferenças, não é possível produzir todos os bens e serviços na


quantidade necessária para atender a população, e, se conseguir produzir todos
os bens não conseguirá ser eficiente em todas as produções.

Assim como as pessoas que escolhem uma profissão e se especializam em uma


área, os países procuram se especializar na produção de bens e serviços que
possuem recursos para produzi-los. Alguns países possuem uma área para o
plantio maior e, portanto, irão se especializar na agricultura; outros países
possuem tecnologia avançada e se especializarão na produção de um bem que
exija maior disponibilidade de recursos tecnológicos.

Este fenômeno permite que cada País se especialize naquilo que faz melhor e
ganhe o suficiente para poder comprar os bens e serviços que não produz,
alimentando o comércio internacional.

146
Teorias das Vantagens Absolutas
Adam Smith, considerado o pai da Economia, escreveu em 1776 o livro ‘A
Riqueza das Nações’, no qual defendeu o livre comércio como a melhor alternativa
para todas as nações. A sua teoria destaca a importância da especialização, já
que afirma que um País deveria se especializar na produção da mercadoria que
produzisse com mais eficiência que as outras nações, ou seja, que tivesse
Vantagem Absoluta, e deveria importar as mercadorias que tivesse desvantagem
absoluta, ou produzisse de modo menos eficiente que os demais países.

Teorias das Vantagens Comparativas


A Teoria de Adam Smith sobre as Vantagens Absolutas é correta, mas só explica
uma parte do comércio internacional. Em 1817 David Ricardo, através do livro
‘Princípios de Economia Política e Tributação, ampliou a teoria. Para Ricardo, a
especialização internacional e a divisão do trabalho trazem vantagens para todas
as nações, concordando com a teoria de Adam Smith, porém seria necessário
analisar os custos de produção com outros países.
Cada País deveria se dedicar à produção de bens em que tivesse custos
comparativos menores em relação aos demais países.

Esta situação permitiria que mesmo que um País tivesse desvantagem absoluta
na produção das mercadorias, tenha ganhos com o comércio internacional, desde
que ele se especializasse na produção e exportação do bem em que sua
vantagem absoluta fosse menor. Além disso, deveria importar a mercadoria cuja
vantagem absoluta fosse menor.

O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada País deva se


especializar na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais
eficiente, ou que tenha um custo relativamente menor.
Essa é a mercadoria que deve ser exportada e deve ser importado as mercadorias
cuja produção interna implicariam num custo relativamente maior ao comparar
com o custo dos demais países.

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Atuação do Governo no Comércio Internacional: Políticas Protecionistas
Apesar das vantagens do livre comércio internacional, especialmente nos ganho
de eficiência, existem casos em que o Governo intervém, limitando as práticas de
comércio. Chamamos esta intervenção de políticas protecionistas.
Os instrumentos de proteção são formados por um conjunto de políticas, medidas
e procedimentos que os governos adotam com a finalidade de criar obstáculos às
transações econômicas com o exterior.

As razões que justificam as políticas protecionistas são:


• Proteção à indústria nacional: proteger uma indústria considerada estratégica
do ponto de vista da segurança nacional, ou ainda proteger uma indústria
nascente, que se encontra na fase de formação de sua estrutura produtiva e não
possui condições de sobreviver à competição internacional.

• Proteção do emprego: Ao importar alguns bens, a produção interna é reduzida,


o que afeta o emprego, visto que uma quantidade considerável de trabalhadores
deixa de ser empregada por causa do fim da produção interna. Para proteger o
emprego, o Governo pode fomentar a industrialização nacional através do
processo de substituição de importações, ou seja, desestimulando a importação
de bens fabricados no próprio País.

• Combate aos déficits comerciais: desestimular as importações e estimular as


exportações para reduzir os desequilíbrios na Balança Comercial.

Tipos de políticas protecionistas:


O Governo pode criar restrições ao comércio internacional através das seguintes
práticas:

• Tarifas de importação: é um imposto especial sobre os produtos importados. O


objetivo é elevar o preço do produto estrangeiro no mercado interno e assim

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proteger os produtos nacionais. Por exemplo, uma tarifa de importação de 25%
sobre um veículo de R$ 50.000,00 torna seu preço final dentro do território
nacional R$ 62.500,00, o que faz com que o consumidor analise a opção de
adquirir os veículos nacionais, com preços mais baixos.

• Cotas de importação: o Governo limita a quantidade de importações que podem


ser realizadas. Por exemplo, em 2001 o Governo dos Estados Unidos estabeleceu
a cota de 200 mil toneladas de aço importado do Brasil. O preço pode ser fixado
livremente pelo mercado, apenas a quantidade é controlada.

• Subsídios à exportação: São ajudas aos fabricantes nacionais de determinados


bens para que possam exportá-los a preços menores e mais competitivos. Estes
subsídios estimulam a produção nacional e o emprego.

• Restrições burocráticas: o Governo pode estabelecer processos aduaneiros


complexos, com uma série de documentos, normas de qualidade sanitárias e
obtenção de vistos consulares para dificultar a importação de certos bens.

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BIBLIOGRAFIA

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Editora Atlas, 2011

Sites pesquisados:
www.bacen.gov.br
www.ibge.gov.br
www.ipeadata.gov.br

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