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ISSN 1808-9992
Dezembro, 2016 275

Agricultura Familiar, Territórios


e Políticas Públicas: Diretrizes
para uma Agenda de Pesquisa
ISSN 1808-9992
Dezembro, 2016

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Embrapa Semiárido
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Documentos 275

Agricultura Familiar, Territórios e


Políticas Públicas: Diretrizes para
uma Agenda de Pesquisa

Paola Cortez Bianchini


Maya Takagi
Marc Piraux
Jean-Philippe Tonneau
Fabrício Bianchini
Maria Aldete Justiniano da Fonseca Ferreira
Pedro Carlos Gama da Silva

Embrapa Semiárido
Petrolina, PE
2016
Esta publicação está disponibilizada no endereço:
https://www.embrapa.br/fale-conosco/sac
Exemplares da mesma podem ser adquiridos na:
Embrapa Semiárido
BR 428, km 152, Zona Rural
Caixa Postal 23 56302-970 Petrolina, PE
Fone: (87) 3866-3600 Fax: (87) 3866-3815
Comitê de Publicações da Unidade
Presidente: Flávio de França Souza
Secretária Executiva: Lúcia Helena Piedade Kiill
Membros: Diana Signor Deon
Fernanda Muniz Bez Birolo
Francislene Angelotti
Gislene Feitosa Brito Gama
José Maria Pinto
Juliana Martins Ribeiro
Mizael Félix da Silva Neto
Pedro Martins Ribeiro Júnior
Rafaela Priscila Antonio
Roseli Freire de Melo
Salete Alves de Moraes
Supervisor editorial: Sidinei Anunciação Silva
Revisor de texto: Sidinei Anunciação Silva
Normalização bibliográfica: Sidinei Anunciação Silva
Capa: Imburanatec
Editoração eletrônica: Nivaldo Torres dos Santos
1a edição (2016):

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação
dos direitos autorais (Lei no 9.610).
É permitida a reprodução parcial do conteúdo desta publicação desde que citada a fonte.
CIP - Brasil. Catalogação na publicação
Embrapa Semiárido

Agricultura familiar, territórios e políticas públicas: diretrizes para uma agenda de pesquisa
/ Paola Cortez Bianchini... [et al.]. –– Petrolina: Embrapa Semiárido, 2016.

25 p. il. (Embrapa Semiárido. Documentos, 275).

1. Semiárido brasileiro. 2. Pesquisa agrícola. 3. Desenvolvimento territorial. 4. Produção de


alimentos. 5. Segurança alimentar. I. Bianchini, Paola Cortez. II. Takagi, Maya. III. Piraux,
Marc. IV. Tonneau, Jean-Philippe. V. Bianchini, Fabrício. VI. Ferreira, Maria Aldete Justi-
niano da Fonseca. VII. Silva, Pedro Carlos Gama da. VIII. Título. IX. Série.

CDD 338.9

© Embrapa 2016
Autores

Paola Cortez Bianchini


Engenheira-agrônoma, M.Sc. em
Agroecossistemas, pesquisadora da Embrapa
Semiárido, Petrolina, PE

Maya Takagi
Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Economia
Aplicada, pesquisadora, Secretária de Relações
Internacionais – Embrapa, Brasília, DF

Marc Piraux
Geógrafo, D.Sc. em Agro-Economia, pesquisador
do Cirad, Paris, França

Jean-Philippe Tonneau
Geógrafo, D.Sc. em Geografia, pesquisador do
Cirad, Paris, França

Fabricio Bianchini
Engenheiro-agrônomo, analista da Embrapa
Semiárido, Petrolina, PE

Maria Aldete Justiniano da Fonseca Ferreira


Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Genética e
Melhoramento de Plantas, pesquisadora da
Embrapa Semiárido, Petrolina, PE

Pedro Carlos Gama da Silva


Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Ciências
Econômicas, pesquisador da Embrapa Semiárido,
Petrolina, PE
Apresentação

A Agricultura familiar é caracterizada, essencialmente, pela produção


agropecuária em pequenas propriedades com o empego de mão de obra
da própria família. Tem importante papel no abastecimento alimentar no
mercado brasileiro, além de contribuir para a subsistência e incremento
de renda de muitas famílias que vivem no Semiárido. Os dados apon-
tam que mais de 70% dos alimentos produzidos no País são provenien-
tes da agricultura familiar, que também tem papel importante na fixação
do homem no campo.

Nesse contexto, é necessário o desenvolvimento de tecnologias que


otimizem a produção de alimentos no sistema da agricultura familiar,
valorizando os saberes populares e a organização de diversos atores
sociais. Para tanto, dois elementos devem estar em harmonia: a pesqui-
sa científica e as políticas públicas. O primeiro é de fundamental impor-
tância para se criar as bases para que o segundo se consolide.

Dada a sua importância para a segurança alimentar em todo o mundo, o


ano de 2014 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU)
como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Isso fortalece esse
segmento, já que é o reconhecimento do seu caráter estratégico na
erradicação fome, um dos principais desafios do homem.

Em sintonia com as ideias da ONU, a Embrapa Semiárido realizou, em


2014, o Seminário Internacional Agricultura Familiar, Territórios e Políti-
cas Públicas com o objetivo de discutir a agricultura familiar e apresen-
tar algumas estratégias que podem contribuir para o melhor direciona-
mento da pesquisa científica e das políticas publicas voltadas para esse
segmento.

Pedro Carlos Gama da Silva

Chefe-Geral da Embrapa Semiárido


Sumário

Introdução .............................................................................. 9
O Seminário ............................................................................ 10
Desafios para a Agricultura Familiar, Territorial e Políticas Públicas 12
Desafios Gerais da Agricultura Familiar no Brasil ......................... 13
A Transição Agroecológica ...................................................... 13
Multifuncionalidade da Agricultura Familiar ................................. 14
Desafios para as Políticas Públicas Territoriais ............................. 14
Desafios para a Pesquisa com Agricultura Familiar e Desenvolvi-
mento Territorial ................................................................... 16
Agricultura Familiar e Desenvolvimento Terrirorial para o Semiárido 18
Diretrizes uma Agenda de Pesquisa e de Trabalho Construídas
Coletivamente 18
O que Pesquisar .................................................................. 19
Como Fazer ........................................................................ 21
Qual é a Contribuição da Pesquisa/Ensino/Ater para as Políticas
Públicas? ........................................................................... 22
Como a Embrapa Deve se Organizar para Responder a Esta
Agenda? ............................................................................ 23

Perspectivas .......................................................................
24
Agricultura Familiar,
Territórios e Políticas
Públicas: Diretrizes para
uma Agenda de Pesquisa
Paola Cortez Bianchini; Maya Takagi; Marc Piraux;
Jean-Philippe Tonneau; Fabrício Bianchini; Maria
Aldete Justiniano da Fonseca Ferreira; Pedro
Carlos Gama da Silva

Introdução

O Seminário Internacional Agricultura Familiar, Territórios e Políticas


Públicas foi realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),
Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para
o Desenvolvimento (Cirad/França), Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO) e Instituto Interamericano
de Cooperação para a Agricultura (IICA) em comemoração ao Ano
Internacional da Agricultura Familiar, declarado pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 2014.
O evento ocorreu entre os dias 26 e 27 de novembro de 2014, na
Embrapa Semiárido, em Petrolina, PE. Contou a presença de mais de
200 participantes, sendo: pesquisadores de 17 Unidades da Embrapa
de todas as regiões, estudantes e professores de Universidades e
Institutos Federais, instituições de assistência técnica e extensão rural
(Ater) públicas (governamentais e não governamentais) e privadas,
instituições associativas e representativas dos agricultores, institutos
de pesquisa nacionais e internacionais, instituições de fomento (IICA),
FAO, Cirad, ministérios e secretarias e secretarias estaduais, além
de agricultores e profissionais autônomos. As palestras apresentadas
podem ser acessadas no link: http://www.cpatsa.embrapa.br:8080/
publico/seminario/.
O objetivo do seminário foi destacar a importância e contribuição da
agricultura familiar na promoção da segurança alimentar, na gestão
10 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

e conservação dos recursos naturais e na manutenção da identidade


cultural dos territórios em regiões semiáridas.
Uma das grandes expectativas da Embrapa na realização deste Seminário
foi constituir um espaço de diálogo com a sociedade para debater os
grandes desafios da agricultura familiar, dos territórios e das politicas
públicas para, assim, obter orientações e qualificar ainda mais seu
trabalho nestes temas.
O percurso metodológico inovador adotado para a realização do Seminário
permitiu a coconstrução de uma agenda de pesquisa e de trabalho
elaborada a partir de trabalhos em grupo entre todos os participantes do
seminário.
A estratégia resultou em rica participação e construção coletiva, que
foi sistematizada e apresentada nesta publicação como uma agenda de
pesquisa para contextualizar e pautar as ações em torno da agricultura
familiar e do desenvolvimento territorial em instituições de pesquisa, de
ensino, de Ater e de desenvolvimento/fomento junto aos agricultores
nos territórios.

O Seminário

Para alcançar os objetivos propostos e delinear uma agenda de pesquisa


e de trabalho com orientações para ações em agricultura familiar,
desenvolvimento territorial e políticas públicas, definiu-se um percurso
metodológico que envolveu três fases.

A primeira fase teve como objetivo apresentar conceitos teórico-


metodológicos e identificar os desafios nos grandes temas do
seminário. Cada tema foi apresentado e discutido em um painel com a
participação de quatro palestrantes e um moderador.
Para guiar as apresentações dos palestrantes, foram propostos
objetivos específicos em cada um dos temas, de forma que o seminário
se apresentasse como um todo estruturado, voltado ao alcance dos
resultados esperados.
O painel 1 – Conceitos sobre Agricultura familiar e Desenvolvimento
territorial - teve como objetivo específico apresentar uma abordagem
conceitual da agricultura familiar e do desenvolvimento territorial,
considerando-se a diversidade e pluriatividade da agricultura familiar,
bem como suas relações e dinâmicas territoriais, apontando questões
11 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

relevantes para novos desafios da pesquisa, ensino e Ater. Foi


apresentado pelo professor Dr. Antônio Cesar Ortega, da Universidade
Federal de Uberlândia, pela professora Dra. Maria Nazareth Baudel
Wanderley, da Universidade Federal de Pernambuco, pelo pesquisador
Dr. Marcos Flavio Silva Borba, da Embrapa Pecuária Sul e pelo
pesquisador Dr. Jean-Phillippe Tonneau, do Cirad/França.
O painel 2 – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com enfoque
territorial – teve como objetivo apresentar a evolução, nas últimas
décadas, da pesquisa e do desenvolvimento territorial no Semiárido,
abordando os avanços em linhas técnicas e metodológicas, seus
respectivos impactos para o fortalecimento da agricultura familiar e
para formulação de políticas públicas, além de uma análise dos desafios
existentes. Esse painel teve apresentações de Dr. Pedro Carlos Gama
da Silva, chefe-geral da Embrapa Semiárido, Dr. Marc Piraux, do Cirad/
França, de Sr. Giovanne Henrique Sátiro Xenofonte, representante
da Rede Ater Nordeste e M.Sc. Espedito Rufino de Araújo, diretor do
Projeto Dom Helder Câmara.
O painel 3 – Políticas públicas e Desenvolvimento territorial – foi
realizado com o objetivo de apresentar uma caracterização histórica
das políticas públicas para a agricultura familiar no Semiárido,
analisando-se de forma crítica a implantação e evolução destas frente
à emergência da agroecologia e da convivência com o Semiárido e
propor orientações. Esse painel foi apresentado por Dr. Valter Bianchini,
secretário nacional da agricultura familiar (SAF/MDA); M.Sc. Andrea
Lorena Butto Zazar, secretária de desenvolvimento territorial (SDT/
MDA); Dr. Paulo César Oliveira Diniz, professor da Universidade Federal
de Campina Grande, PB e por Dr. Eric Pierre Sabourin, pesquisador do
Cirad/França.
Na segunda fase, os participantes foram divididos em quatro grupos de
trabalho, com objetivo de realizar uma breve discussão sobre os desafios
levantados pelos palestrantes e responder a quatro questões orientadoras
para a construção de uma agenda de pesquisa e de trabalho. Em
cada um dos grupos houve um mediador e um relator para conduzir e
sistematizar as informações geradas durante as discussões. Cada um dos
quatro grupos de trabalho respondeu às seguintes questões:
§ Qual deve ser o conteúdo da pesquisa para superar estes
desafios (o que pesquisar)?
§ Quais os métodos de pesquisa/ensino/extensão para superar
estes desafios (como fazer)? Como contemplar a diversidade e
assimetria da agricultura familiar?
12 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

§ Qual é a contribuição das instituições de pesquisa, ensino e


Ater para as políticas públicas?
§ Como a Embrapa deve se organizar para responder a esta
agenda (estratégias organizacionais)?
Após este trabalho, os grupos apresentaram seus resultados em
plenária com visão global das contribuições de cada grupo. Durante as
apresentações, fez-se uma síntese, evidenciando os grandes temas ou
orientações levantadas pelos grupos em cada questão.
A terceira fase do evento teve como objetivo apresentar uma síntese
geral do Seminário e apontar perspectivas futuras em relação à
Agricultura Familiar no Brasil, América Latina e no mundo. Para tanto,
foi realizada uma mesa redonda mediada pelo diretor da FAO no Brasil,
o Sr. Alan Bojanic, com a participação do presidente do CONTAG, Sr.
Alberto Broch; do vice-diretor do CIRAD/França (Centre de Coopération
Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement),
sr. Bernard Mallet, do Secretário Nacional da Agricultura Familiar
do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Sr. Valter Bianchini, do
vice-presidente do INTA/Argentina (Instituto Nacional de Tecnologia
Agropecuaria), Sr. José Catalano, do Diretor Executivo de Transferência
de Tecnologia da Embrapa, Sr. Waldyr Stumpf Júnior e do Chefe-Geral
da Embrapa Semiárido, Sr. Pedro Carlos Gama da Silva.
Apresentam-se, a seguir, os resultados do Seminário em dois blocos –
um primeiro bloco evidenciando os principais desafios para a agricultura
familiar, o desenvolvimento territorial e as políticas públicas com base
nas falas dos painelistas e um segundo bloco, com os resultados
sistematizados dos trabalhos em grupo.

Desafios para a Agricultura Familiar,


Territorial e Políticas Públicas

Com base nos painéis apresentados na primeira fase do evento, foram


levantados os principais desafios a serem enfrentados para fortalecer
a agricultura familiar e o desenvolvimento territorial, considerando as
seguintes dimensões, apresentadas a seguir:
13 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

a) Desafios para agricultura familiar no Brasil.


b) Desafios para as políticas territoriais ligadas à agricultura familiar.
c) Desafios para a pesquisa em agricultura familiar e desenvolvimento
territorial no Brasil.
d) Desafios para a agricultura familiar e o desenvolvimento territorial no
Semiárido.

Desafios Gerais da Agricultura


Familiar no Brasil

Os desafios gerais apontados foram:


1) O acesso a terra, às políticas públicas setoriais e ao mercado.
De fato, os agricultores familiares vivem uma realidade de assimetria e
marginalização, fundamentalmente vinculadas à:
§ Concentração e pressão fundiária, o pequeno tamanho das
propriedades, este sendo às vezes problemático.
§ Baixa abrangência da extensão rural, devendo-se qualificar esse
serviço.
§ Depreciação do meio rural e da agricultura familiar, o que
intensifica o êxodo rural, especialmente dos jovens que se
sentem sem estímulos para permanecer no campo.
O aumento da organização econômica e política da agricultura familiar
poderá melhorar o acesso aos fatores de produção que são: terra,
financiamento, capital tecnológico e outros, obtidos principalmente por
meio de públicas.

A Transição Agroecológica

O tema da transição agroecológica aparece como um segundo


desafio cada vez mais relevante nos tempos atuais, tendo em vista
a necessidade de promover modelos de produção sustentáveis e que
deem autonomia do agricultor. De fato, muitas vezes, a agricultura
familiar é prejudicada por práticas agrícolas não sustentáveis que
degradam o solo e outros bens naturais.
14 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

Multifuncionalidade da Agricultura
Familiar

Um terceiro grupo de desafios está associado ao reconhecimento da


multifuncionalidade da agricultura familiar, que consiste em superar
a visão do estabelecimento familiar como um espaço unicamente de
produção, já que isso que enfraquece o seu papel na sociedade. A
agricultura familiar representa um modo de vida, deve-se considerar seu
papel na manutenção da cultura alimentar, de preservação dos recursos
e das paisagens, de visões de mundo e em seu papel na produção de
bens comuns, como os fundos rotativos, os bancos de sementes, as
feiras agroecológicas. Ela tem também uma função de produção de
alimentos e de energia e se torna uma fonte de emprego importante no
meio rural.
A base de um projeto de sociedade, pautado numa nova concepção
do rural deveria assegurar investimentos produtivos para o
desenvolvimento sustentável, condições de vida decentes (iguais
àquelas da cidade) e afirmar-se política e culturalmente.

Desafios para as Políticas Públicas e


Territoriais

Para as políticas territoriais e relacionadas com a agricultura familiar,


permanecem os grandes desafios de superar o setorial e articular
o econômico, o social e o ambiental. Isso implica em fazer do
desenvolvimento territorial um instrumento para:
§ Superar a dicotomia rural-urbana.
§ Permitir que as diversas “agriculturas familiares” encontrem seu
lugar em sinergia com outros setores e atores.
§ Incorporar a formação de redes e de identidades, integrando a
distribuição do poder.
§ Conciliar as melhorias sociais com um processo de
desenvolvimento endógeno e mais autônomo, mas sendo capaz
de articular-se com as dinâmicas exógenas e vindas de outras
escalas.
15 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

Existe um desafio de articulação de escalas, analisando as expressões


das experiências no território – como elas estão saindo do local e
indo para outras escalas –, isso vem acompanhado de um desafio de
institucionalização dos processos. Reforçar as instituições territoriais
e os arranjos entre os atores e instituições (materializadas em
articuladores, lideranças, órgãos governamentais e não governamentais)
é necessário. As instituições territoriais são ainda frágeis, tendo fraca
capacidade de ação.
Há assim, necessidade permanente de gerar capacidades e
competências. Para isso, são necessários dispositivos específicos de
qualificação que necessitam de:
§ Metodologia de abordagem específica.
§ Abordagem sistêmica e multidimensional.
§ Protagonismo e autonomia dos agricultores familiares.
§ Interface/integração com políticas nas três esferas do
governo.
§ Formação e aprendizagem baseada na geração participativa
de conhecimentos.
§ Foco em agroecologia e sistemas produtivos sustentáveis.
§ Fortalecimento de capacidades, organizações sociais e
novas institucionalidades.
§ Promoção da interação e parcerias entre Estado e
sociedade.
§ Qualificação do processo de animação e de assessoria.
§ Capacitação em gestão e formação profissional.

Assim, é importante pensar novas políticas, que vão além do setorial.


É fundamental que tais políticas sejam elaboradas considerando-
se a diversidade das situações locais que envolvem a lógica dos
estabelecimentos e a lógica geográfica. As políticas públicas devem se
adequar à diversidade da agricultura familiar e aos diferentes biomas,
territórios e estados.
Também é fundamental considerar a realidade local. Colocar a família
como centro determinante das ações, reforçando a importância de
compreender as necessidades das famílias camponesas de forma que
as políticas e iniciativas não as desestabilizem.
16 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

A política de assistência técnica e extensão rural tem um papel


relevante para a agricultura familiar. Desta forma, deve-se reforçar a
necessidade de se desenvolver sistemas inovadores de Ater, pesquisa e
ensino considerando-se os saberes tradicionais e processos horizontais
de construção do conhecimento. Isso pode ser articulado por meio da
Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) e da
Embrapa.

Desafios para a Pesquisa


com Agricultura Familiar e
Desenvolvimento Territorial

Os desafios definidos são, antes de tudo, ligados a uma mudança de


postura da pesquisa e da maneira como as mesmas são conduzidas.
Assim, deve-se:
§ Mudar nossos paradigmas e postura – desenvolver capacidade
de escuta, de descontruir nossas evidências e coconstruir novos
saberes.
§ Considerar a pesquisa e a tecnologia como necessárias, mas
não suficientes – são apenas partes do processo de inovação.
§ Formar equipes inter e transdisciplinares (ciências naturais,
humanas e os saberes empíricos).
§ Investir em pesquisa aplicada para conhecer melhor os recursos
naturais e os sistemas produtivos existentes.
A pesquisa tem que ultrapassar o temático e o simples, o que implica
em considerar:
§ A complexidade dos problemas de coordenação intersetorial
com multiníveis, tendo em vista a multiplicação das instituições
envolvidas.
§ A necessidade de uma nova forma de produção de
conhecimento, com participação ativa dos agricultores.
§ A valorização da visão sistêmica e do pensamento complexo.
§ A valorização da “inteligência situacional” – com maior
potencial para realizar análises que partem da realidade para ir
para o modelo.
17 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

§ A valorização de outras formas de pensar (holística, sistêmica,


intuitiva, não linear).
§ A elaboração e a utilização de novos instrumentos de
pesquisa focados na construção participativa e processual:
demandas, objetivos e resultados; pesquisa-ação participativa;
planejamento da comunidade e não do projeto; diagnósticos
participativos dos sistemas agrários (não agrícolas)
considerando os componentes técnico e político, articulando
instituições locais e externas em torno de um projeto territorial.
Outro desafio apontado está ligado à postura, na maneira em como
os pesquisadores pensam e realizam a pesquisa. Os palestrantes
desdobraram dois elementos importantes: centrar a atuação em torno
do agricultor e organizar redes de pesquisa em parceria.
Centrar a atuação em torno do agricultor significa:
§ Considerar a experiência das famílias como objeto central de
pesquisa e das análises.
§ Valorizar a construção coletiva do conhecimento.
§ Considerar atores locais como sujeitos da transformação
(diálogo de saberes).
§ Enfatizar os arranjos e processos, ou seja, nos contextos
específicos que constituem uma capacidade local de inovação.
§ Valorizar a multifuncionalidade da agropecuária familiar.
Organizar redes de pesquisa em parceria significa:
§ Incluir o fortalecimento de Redes e os aprendizados com
outros atores. Exemplos: Colegiados territoriais, Núcleos de
Extensão em Desenvolvimento Territorial (Nedets), Núcleos de
Agroecologia (NEAs), Universidades, Ater, escolas de campo.
§ Deve-se considerar o risco de formar guetos de pesquisa – não
basta estudar agricultura familiar, agroecologia ou agronegócio
separados uns dos outros ou das outras formas de produção –
os sistemas são interdependentes.
§ Constituir observatórios abertos e não restritos à área da
pesquisa.
18 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

Agricultura Familiar e
Desenvolvimento Territorial para o
Semiárido

Para o desenvolvimento da agricultura familiar na região semiárida,


há necessidade de construir uma alternativa de modernização da
agricultura, baseada na convivência com o Semiárido. O modelo atual
está se esgotando e há cada vez maior dificuldade na permanência dos
agricultores na região.
É necessário fortalecer o conceito de convivência com o Semiárido,
centrado no conceito de estoques. As políticas devem, assim, promover
o aumento da capacidade de estoque:
§ De água – promovendo diferentes tecnologias para a captação
e armazenagem de água da chuva para consumo humano e
produção agropecuária.
§ De alimento e comida – protegendo e multiplicando sementes e
animais adaptados.
§ De forragem para os animais suportarem os períodos secos.
É fundamental partir da observação do que as famílias estão fazendo
em suas práticas cotidianas, com olhar apurado sobre os ciclos da
natureza e visibilizar as experiências das comunidades.

Diretrizes uma Agenda de Pesquisa


e de Trabalho Construídas
Coletivamente

Na segunda etapa do seminário, foi possível, a partir da sistematização


dos resultados produzidos pelos quatro grupos de trabalho, elaborar
diretrizes para a construção de uma agenda de pesquisa e de trabalho
para a agricultura familiar e o desenvolvimento territorial com foco no
Semiárido. Essas diretrizes expressam uma aproximação entre o Estado,
neste caso a Embrapa, e a sociedade e suas demandas, por meio da
constituição de um espaço de diálogo, que foi o seminário.
19 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

Os participantes de cada grupo de trabalho responderam às seguintes


questões orientadoras:
a) Qual deve ser o conteúdo da pesquisa para superar estes
desafios (o que pesquisar)?
b) Quais os métodos de pesquisa/ensino/extensão para superar
estes desafios (como fazer)?
c) Como contemplar a diversidade e assimetria da agricultura
familiar na pesquisa?
d) Qual é a contribuição das instituições de pesquisa, ensino e Ater
para as políticas públicas?
e) Como a Embrapa deve se organizar para responder a esta agenda
(estratégias organizacionais)? Considerar biomas, territórios,
temáticas e grupos populacionais.
A seguir são apresentados os resultados dos trabalhos realizados em
grupo.

O que Pesquisar?

Os prinicpais temas de pesquisa identificados foram:


§ A realidade local e a diversidade das experiências locais
– Conhecer o contexto e as dinâmicas sociais, culturais,
ambientais, políticas e econômicas locais da agricultura familiar
e dos territórios; compreender e dialogar com os saberes,
conhecimentos e experiências locais de agricultores e da Ater;
identificar e valorizar as potencialidades e oportunidades locais/
territoriais; compreender a diversidade e racionalidade da
agricultura familiar; sistematizar as práticas de convivência com
o Semiárido que as comunidades/famílias estão desenvolvendo.
§ Os recursos naturais – Identificar e valorizar os ativos naturais
locais; promover o aproveitamento dos recursos naturais;
identificar e valorizar os conhecimentos tradicionais sobre
recursos naturais; fortalecer pesquisas participativas sobre
os recursos naturais; fortalecer as cadeias de produtos da
sociobiodiversidade.
20 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

§ A agroecologia e sistemas de produção agroecológicos –


Aplicar/estudar os princípios e práticas da agroecologia para a
região do Semiárido brasileiro assim como em outras regiões do
País; identificar, sistematizar e desenvolver práticas e sistemas
de produção ecológicos (integrados), objetivando a autonomia
com baixo uso de recursos externos; priorizar produtos das
cadeias produtivas mais importantes para a agricultura familiar
do Semiárido; redução/eliminação do uso de agrotóxicos;
valorizar a agrobiodiversidade e os conhecimentos tradicionais
associados: sementes crioulas e variedades; identificar,
sistematizar, aplicar e desenvolver práticas de convivência com
o Semiárido; desenvolver tecnologias sociais; fortalecer as
agriculturas tradicionais; propor modelos de desenvolvimento
para a autonomia; adaptação à realidade; produção
compartilhada de conhecimento, desenvolvimento territorial,
inter e transdiciplinaridade, métodos e práticas de pesquisa
apropriados para a agroecologia e agricultura familiar.
§ A inserção da agricultura familiar nos mercados – Geração
de renda; tipos de mercados e canais de comercialização
– economia solidária, comércio justo e solidário, circuitos
curtos de comercialização, feiras, mercados institucionais/
governamentais; construção social dos mercados; agregação
de valor aos produtos da agricultura familiar (beneficiamento
e comercialização, certificação – selos/valor cultural/valor
ambiental, indicação geográfica de origem, orgânico, produto da
agricultura familiar); organização social.
§ Os impactos da pesquisa, Transferência de Tecnologia e Ater
– Avaliar os processos, métodos e instrumentos de pesquisa,
transferência de tecnologia e de Ater que estão sendo utilizados;
avaliar as tecnologias geradas nos centros de pesquisa em
meio real; avaliar e sistematizar os processos e métodos que
as redes sociotécnicas (de agentes de Ater e agricultores
experimentadores) estão desenvolvendo nos territórios.
§ Os impactos das políticas públicas – Avaliar o alcance,
eficiência e impacto das políticas públicas; avaliar a articulação
e integração e propor melhorias para as mesmas; subsidiar a
elaboração e avaliação de políticas públicas.
§ A atualização e o melhoramento da precisão do zoneamento
ecológico –econômico – Propor um zoneamento territorial
agroecológico – definir para os territórios áreas prioritárias para
21 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

conservação, agricultura, pecuária, recuperação ambiental,


implantação de tecnologias de captação de água de chuva,
poços, etc.; ordenamento agrário e fundiário, impactos das
grandes obras de desenvolvimento, mineração, etc.

Como Fazer?

As principais linhas de ação identifcadas em termos de metodologia de


pesquisa foram:
§ Formar e se integrar a redes – Instituir Núcleos de Agroecologia
na Embrapa; aproximar as instituições de pesquisa, ensino e
Ater; participar de fóruns e colegiados territoriais; participar de
redes multiatores, multinstitucionais e multidisciplinares; maior
interação com a sociedade; integração de políticas públicas – e
ministérios –; fortalecer a Ater e interagir com outros países.
§ Construir conhecimentos coletivamente – Para tanto, deve-se
utilizar métodos, metodologias e ferramentas participativas;
pesquisa-ação; institucionalizar novas práticas de pesquisa;
utilizar métodos qualitativos; promover o diálogo e o intercâmbio
de saberes e conhecimentos (multi e transdisciplinaridade);
fichas agroecológicas; utilizar métodos educativos; buscar
a contribuição das ciências sociais e humanas; sistematizar
experiências e conhecimentos; envolver jovens e mulheres;
realizar a animação de processos políticos, participativos e
educativos.
§ Mudança de postura e de enfoque – Pesquisa com enfoque
holístico e sistêmico; superar a visão setorial; contemplar outras
ciências, como as humanas e sociais, a aspectos ambientais,
etc; partir da realidade; identificar demandas nas comunidades,
pois apenas enfoque tecnológico não responde mais; pesquisa
com e não para; dar visibilidade ao que os agricultores
estão fazendo; aprender a escutar; valorizar as experiências
locais; compreender a realidade junto ao agricultores
familiares; compreender que o desenvolvimento ocorre no
local; abordagem territorial como estratégia; compreender as
limitações da visão de negócios para a agricultura familiar;
envolver jovens e mulheres e utilizar o enfoque agroecológico.
22 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

§ Comunicar resultados e processos – Utilizar linguagem


diferenciada; facilitar e ampliar o acesso aos resultados e
produtos da pesquisa – exemplo: sementes –; realizar a
comunicação interinstitucional; divulgar e valorizar experiências
de sucesso da Embrapa e parceiros; melhorar a comunicação
entre pesquisa, Ater e agricultores; dar visibilidade às
experiências de sucesso da Embrapa, parceiros e agricultores.
§ Atuar na formação e capacitação (educação) – Educação do
campo; protagonismo dos atores locais; valorização do rural;
grades curriculares adequadas aos contextos socioambientais;
formação de técnicos e pesquisadores para que compreendam
as especificidades do trabalho com agricultura familiar –
diversidade, heterogeneidade, etc. –; capacitação de técnicos e
agricultores no processo da pesquisa e qualificar os agentes de
Ater para a integração.

Qual é a Contribuição da Pesquisa/


Ensino/Ater para as Políticas
Públicas?

As contribuições identificadas da pesquisa, do ensino e da Ater para


melhoria da atuação das políticas públicas foram:
§ Produção de conhecimentos – Avaliar alcance, eficiência e
impactos das políticas públicas existentes; elaborar indicadores
de monitoramento e avalição de políticas públicas; avaliar
a participação da Embrapa em políticas públicas; propor
a articulação de políticas públicas; avaliar o acesso dos
agricultores familiares às políticas públicas e seus impactos;
analisar os investimentos nos territórios e na agricultura familiar
como instrumento para a tomada de decisão no processo de
desenvolvimento.
§ Adequação das normas que afetam agricultura familiar –
Mecanismos de contextualização/regionalização das políticas
públicas; acesso dos agricultores familiares às políticas
públicas; adequação de normas das políticas públicas para
comercialização de produtos da agricultura familiar – PAA,
PNAE, etc. –; adequação de normas da vigilância sanitária para
a agroindústria familiar.
23 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

§ Contribuir com políticas de outras áreas e setores –


Contribuição em políticas de educação contextualizada; revisão
de grades, programas e conteúdos de cursos de graduação e
pós-graduação; formação de professores do ensino básico para
a educação contextualizada.
§ Participar de fóruns e colegiados territoriais – Participar de
processos locais de desenvolvimento territorial com autonomia
em cada centro de pesquisa; propor e desenvolver políticas
públicas com outros setores da sociedade, a partir dos atores
sociais no território – de baixo para cima –; participar de
processos nacionais e internacionais de desenvolvimento
territorial e considerar a diversidade das agriculturas e de
pesquisadores e técnicos da Embrapa para contribuir em
políticas públicas.

Como a Embrapa Deve se Organizar


para Responder a Esta Agenda?

As grandes linhas de organização da Embrapa identificadas foram:


§ Organização interna – Fortalecer o MP6; ampliar e valorizar
equipes de trabalho multidisciplinares em agricultura familiar e
agroecologia; contratar profissionais das ciências humanas e
sociais; instituir Núcleos de Agroecologia em rede; rediscutir as
contribuições e objetivos do trabalho das unidades de produto,
bem como a integração entre as unidades ecorregionais da
Embrapa; realizar capacitação/formação para o trabalho com
agricultura familiar, agroecologia e desenvolvimento territorial
– nova forma de fazer pesquisa –, bem como capacitação
em educação problematizadora nos processos de pesquisa e
construção do conhecimento; adotar/compreender a construção
coletiva de conhecimentos; valorizar as pessoas e as
experiências de trabalho com agricultura familiar, agroecologia
e desenvolvimento territorial e atualizar marco referencial em
agroecologia.
§ Organização com parceiros – Estruturar-se em redes;
complementar as competências com parceiros; aproximação e
articulação com as demais instituições e com a sociedade em
24 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

geral; ações articuladas entre ministérios; maior interação com


universidades, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes); valorizar e dar visibilidade
às experiências dos agricultores e organizações que atuam na
convivência com o Semiárido e agroecologia.
§ Comunicação – Dialogar com o meio real; melhorar
comunicação com os agricultores; melhorar comunicação entre
pesquisadores, técnicos e agricultores; ampliar o acesso às
tecnologias e aos conhecimentos desenvolvidos.
§ Mecanismos para cumprir a agenda – Observatório Permanente
da Agricultura Familiar, Desenvolvimento Territorial e Dinâmicas
Socioambientais; Portfólio de Tecnologias Sociais – adequação
para ter abrangência territorial –; criar Portfólio de Análise de
Políticas Públicas; Fórum Permanente da Agricultura Familiar,
Agroecologia e Desenvolvimento Territorial; realizar convênios
com Ministério do Desenvolvimento Agrário; ampliar o acesso
aos resultados da pesquisa; criar espaços de diálogo e
interlocução constantes com a sociedade, tal como o Seminário
em outros biomas.
§ Experiências de sucesso – Revisitar experiências como o
Programa 09 que era aberto para outras instituições; incentivar
a formação de parcerias; bancos de tecnologias: experiência da
Contag e Embrapa nos anos 1990 e outras.

Perspectivas

O objetivo do seminário foi destacar a importância e a contribuição


da agricultura familiar na promoção da segurança alimentar, na
gestão e conservação dos recursos naturais e na manutenção da
identidade cultural dos territórios em regiões semiáridas. Uma das
grandes expectativas da Embrapa na realização deste seminário foi o
de constituir um espaço de diálogo com a sociedade para debater os
grandes desafios da agricultura familiar, dos territórios e das politicas
públicas para, assim, obter orientações e qualificar ainda mais seu
trabalho nesses temas e correlatos.
25 Agricultura Familiar, Territórios e Políticas Públicas: Diretrizes para uma Agenda ...

O percurso metodológico adotado permitiu atingir os objetivos. É


interessante destacar as concordâncias entre os desafios definidos
pelos palestrantes e os grupos de trabalho, o que traduz uma visão
bastante compartilhada entre as diferentes instituições e especialistas
presentes.
Existem, de fato, consensos sobre as necessidades de fazer evoluir
os conteúdos das pesquisas – mais orientadas sobre agroecologia
e convivência com o Semiárido, multifuncionalidade da agricultura
familiar, novo rural, enfoque territorial – e a maneira de conduzi-
las – baseada nas metodologias para valorizar a coconstrução de
conhecimentos, a avaliação e a parceria.
Esta evolução implica, e isso foi também consenso, uma mudança na
postura do pesquisador e do quadro institucional. Assim, para atingir
esses objetivos, existem duas necessidades fundamentais:
§ Vontade institucional na Embrapa para fazer evoluir o perfil
de novos pesquisadores e definir um contexto institucional
favorável às evoluções das metodologias.
§ A evolução das competências e uma forte política de formação.
Nestas condições será possível desenvolver e fortalecer:
§ Capacidade para criar redes de pesquisas com a Ater, o ensino
e os agricultores. A Anater pode ser um bom exemplo para
desenvolver sinergias entre pesquisa, ensino e desenvolvimento.
Além dela, as inúmeras redes locais e territoriais que já estão
atuando em sinergia, necessitando de uma maior comunicação
e interfaces com redes mais amplas – estaduais, territoriais e
nacionais, a exemplo das redes sociotécnicas e dos núcleos de
agroecologia das universidades e institutos federais.
§ Experiências concretas que possam servir de referências a essas
evoluções.
§ Núcleos de Agricultura Familiar na Embrapa, seus meios
e sua relação com o setor da transferência de tecnologia,
apropriando-se dos conceitos de intercâmbio e construção de
conhecimentos.
CGPE 13282

Ministério da
Agricultura, Pecuária
e Abastecimento

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