6.09.coc - Cor Na Prática

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Estudos sobre Cor e

Composição
Elisabete Barbosa Castanheira
6. COR NA PRÁTICA

6.1 A cor e os projetos arquitetônicos


Esta unidade contempla a apresentação de projetos de arquitetura sob a ótica do seu
elemento cromático. Primeiramente a forma pela forma e, depois, a reflexão sobre a
cor enquanto linguagem projetual.

Que relação é esta?

Vamos refletir sobre a cor?

A arquitetura estabelece uma relação com os nossos sentidos. As formas, os materiais,


as texturas, os elementos, as cores. Segundo Fraser (2007), a cor não estava presente
de forma tão relevante na arquitetura no final do século XX.

Para o autor, bastaria fazer uma pequena pesquisa sobre o tema para perceber que,
de fato, os arquitetos vinham privilegiando uma paleta mais sóbria. Veja, por exemplo,
o MUBE – Museu Brasileiro da Escultura, de 1995, projeto do arquiteto Paulo Mendes
da Rocha, em São Paulo.

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Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/797077/paulo-mendes-da-rocha-arquitetura-nao-
quer-ser-funcional-quer-ser-oportuna

Ou o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, do arquiteto Frank Gehry, que
começou a ser construído em 1987 e só foi finalizado em 2003.

Ou ainda o Memorial da América Latina, em São Paulo, de 1989, do arquiteto brasileiro


Oscar Niemeyer. Todos muito sóbrios em termos cromáticos, mas muito arrojados em
termos formais.

Fonte: https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/memorial-da-america-latina-renova-atracoes/

A cor entra quase como uma intervenção capaz de captar a atenção e reforçar a
mensagem que se deseja transmitir. Repare na escultura de Oscar Niemeyer, instalada
no Memorial da América Latina. A inserção da cor tem um objetivo muito claro em
termos conceituais, como refere o arquiteto: “Suor, sangue e pobreza marcaram a
história desta América Latina tão desarticulada e oprimida. Agora urge reajustá-la num
monobloco intocável, capaz de fazê-la independente e feliz”.

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Fonte: http://www.memorial.org.br/obras-de-arte/mao/

O século XXI, segundo Fraser (2007), emerge com o firme propósito de resgatar a cor
enquanto elemento da arquitetura. O autor cita arquitetos como Rem Koolhaas, por
exemplo, que apresenta concepções arquitetônicas com intensos elementos
cromáticos.

Veja o seu projeto para a Biblioteca de Seattle, nos Estados Unidos, de 2004, e a
inserção de cores vibrantes em áreas de circulação do equipamento.

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/571042427723772717/

Ou, ainda, Alessandro Mendini, que apresenta a cor como uma das principais
características de seu trabalho. O arquiteto e designer italiano tem parte de sua obra
elaborada a partir do conceito denominado Kitsch que, segundo o dicionário Aurélio, é
um estilo estético associado a estereótipos sociais e culturais e a um tipo de

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sensibilidade que se adequa ao gosto majoritário da população não erudita. Em outras
palavras: que é de gosto duvidoso.

Fonte: https://www.disup.com/clasicos-sillon-proust-de-alessandro-mendini/

Veja o projeto do arquiteto para o Museu de Groninger, na cidade de Groningen, na


Holanda. O elemento cromático está presente no exterior, mas é no interior do
equipamento que a cor se torna uma experiência sensorial impressionante. Um
mergulho cromático para o despertar dos sentidos.

Fonte: Fonte: https://seek.rs/image/114202


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gro
ningen,_het_Groninger_museum_positie1_fot
o8_2015-03-22_10.20.jpg

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Fonte: https://www.flickr.com/photos/iharsten/8593186004

Fraser (2007) menciona também Norman Foster e a sua relação projetual com a cor.
No projeto da Galeria Sperone Westwater Gallery, em Bowery, próximo de Manhattan,
em Nova York, cuja fachada apresenta a cor como elemento compositivo, o arquiteto
privilegiou 3 pontos em sua concepção: a participação ideal de luz em um espaço de
exibição de arte, o isolamento acústico necessário à apreciação do objeto artístico e,
por fim, estabelecer um manifesto arquitetônico, um marco na cidade, capaz de atrair
a visitação interessada em arte.

Fonte: https://jakerajs.photoshelter.com/image/I0000a5JisBpQGNs

Foster também privilegia a cor como elemento de sustentação no projeto do


Aeroporto Internacional de Pequim.

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Fonte: https://www.fosterandpartners.com/es/projects/beijing-capital-international-airport/

O trio de arquitetos Koolhaas, Mendini e Foster concebeu a obra Colours. Na obra é


apresentado um contingente de 90 cores acompanhada de comentários de utilização
seja em projetos arquitetônicos, de interiores ou design.

Esta reflexão sobre o assunto, na perspectiva de Koolhaas, se deve ao fato de a cor ser
elemento de fundamental importância na maneira como se percebe a arquitetura e na
maneira como o elemento cromático é capaz de alterar o espaço e a sua percepção.

O uso da cor pode se dar também por meio de distintos materiais. Repare no projeto
do Museu de Arte Contemporânea de Castilla y León, em León, na Espanha, de Luis
Mansilla e Emilio Tuñón, cuja fachada é constituída por painéis de vidros coloridos em
uma composição que ora se mostra como uma transformação de claro e escuro e, em
outras, com forte contraste.

Fonte: https://casavogue.globo.com/Arquitetura/noticia/2012/09/top-10-predios-mais-
coloridos-do-mundo.html

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Veja o projeto do prédio Manzana Perforada, em Madri, de autoria de Amann-
Canovas-Maruri. Este, que é um conjunto habitacional, apresenta uma composição
com forte contraste cromático obtido por meio do material, chapa metálica, que
reveste o exterior de cada unidade residencial.

Fonte: https://casavogue.globo.com/Arquitetura/noticia/2012/09/top-10-predios-mais-
coloridos-do-mundo.html

A cor foi ainda utilizada de forma interessante no estádio de futebol de Leiria, em


Portugal. O projeto de autoria do arquiteto português Tomás Taveira contemplou a
inserção de cor nas cadeiras das arquibancadas, de forma aleatória. O objetivo era
dispersar a atenção do espectador quando o jogo fosse transmitido pela televisão e,
por ventura, não houvesse um público representativo ocupando as arquibancadas do
estádio.

Fonte: https://desporto.sapo.pt/futebol/artigos/camara-de-leiria-abre-concurso-para-topo-
norte-do-estadio-municipal

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É claro que não há como generalizar o uso da cor, seja em projetos arquitetônicos ou
de interiores. O Centro Heydar Aliyev, em Baku no Azerbaijão, da arquiteta Zaha Hadid,
é um projeto de 2007 e também apresenta a monocromia em sua forma orgânica.

Projetos como o Orange Cube, de autoria do escritório de arquitetura Jacob +


Macfarlane, em Lyon, na França, fazem repensar os ambientes corporativos. Elaborado
como parte do projeto de revitalização da orla marítima da cidade, o Orange é um
conjunto de escritórios cuja cor, especial em termos de sua composição em termos de
durabilidade e resistência, foi escolhida por ser aquela utilizada em profusão nas áreas
marítimas

Fonte: https://donaarquiteta.com.br/influencia-das-cores-na-arquitetura/

A cidade de São Paulo, nos tempos mais recentes, tem visto a sua configuração
cromática ser alterada. O projeto de autoria do arquiteto Ruy Ohtake abriga, desde
2001, o instituto de arte que leva o nome de sua mãe, a artista Tomie Ohtake.

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A edificação apresenta uma fachada com elementos que parecem tremular ante o
vento paulistano mostrando uma paleta de cores de faz conviver azuis, roxos e até o
vermelho.

Fonte: https://donaarquiteta.com.br/influencia-das-cores-na-arquitetura/

Projetos como o Edifício João Moura (2009), em Pinheiros, do escritório Nitsche


Arquitetos, também sobressaem na paisagem monocromática paulistana exibindo
painéis cuja paleta de cor transita entre um azul muito intenso, um azul mais vibrante,
passando por um verde musgo e um verde tão claro que quase se confunde com um
cinza.

Fonte: http://ideazarvos.com.br/pt/empreendimento/joao-moura-1144/

O edifício Brasil, na Bela Vista, centro de São Paulo, também apresenta um elemento
cromático forte em sua fachada, que tem início no azul escuro, vai perdendo
intensidade e se transforma em um verde muito claro, até atingir um verde fortíssimo
no alto da edificação. É um marco se comparado ao redor cinzento e sério do centro
paulistano.

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Fonte: https://wzarzur.com.br/

E assim chegamos ao fim de mais este conteúdo da disciplina de cor e composição.

Até a próxima!

6.2 Harmonia contrastante


Esta unidade trata da composição cromática por meio da harmonização contrastante.

Rica em possibilidades de arranjo da cor, esta harmonia contempla as polaridades das


composições entre cores complementares e complementares divididas; o inusitado
das cores análogas complementares e, finalmente, as harmonias obtidas pela
construção geométrica da cor em trios, quartetos, quintetos e sextetos.

Vamos conhecer mais estes esquemas cromáticos?

A harmonia contrastante apresenta várias possibilidades de combinação cromática: o


harmônico complementar, as complementares divididas, o análogo complementar, os
trios, quartetos, quintetos e sextetos harmônicos.

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Harmônico complementar

O harmônico complementar é aquele que apresenta maior contraste uma vez que faz
conviver as polaridades cromáticas, ou seja, a cor e a sua oposta, a sua complementar.

Repare como é vibrante o contraste entre o sofá e a parede.

Agora observe este interior que, apesar de trabalhar o harmônico complementar


(sujeito a elaborar uma combinação cromática vibrante em excesso), consegue uma
composição interessante utilizando a inserção da cor complementar em pequena
proporção, ou seja, apenas em alguns detalhes transformando-os em pontos de
interesse no todo compositivo.

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Harmônico complementar divididas

O harmônico de complementares divididas trabalha com as cores vizinhas da


complementar de uma determinada cor. Veja o exemplo. Ao invés de trabalhar o
amarelo e o roxo, a sua complementar, trabalhamos com as suas cores vizinhas: o roxo
mais forte e o magenta.

Nesta fachada, temos este tipo de harmônico por meio do laranja e das cores vizinhas
da sua complementar, o verde e o azul.

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Já este conjunto de casas apresenta o harmônico complementar a partir do azul e as
cores vizinhas da sua oposta, o laranja muito intenso e o laranja mais amarelado.

Harmônico análogo complementar

O análogo complementar diz respeito a uma combinação de 4 cores, fazendo conviver


um par de cores e suas respectivas complementares. Como assim?

São duas cores, onde existe o intervalo de uma cor entre ambas, e as complementares
correspondentes.

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Repare nesta fachada, onde a harmonia análoga complementar é obtida por meio de
elementos das próprias edificações e elementos paisagísticos.

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Trio harmônico

O trio harmônico é obtido pela sobreposição de um triângulo equilátero sobre o


círculo cromático. Nesta simulação, temos o verde, o laranja e o roxo.

À primeira vista pode parecer uma composição cromática com poucas chances de
sucesso, mas veja que interessante pode ficar o verde como moldura inferior do
arranjo bi cromático: laranja/roxo.

Quartetos, quintetos e sextetos harmônicos

As composições por meio de quartetos, quintetos e sextetos segue o mesmo princípio


da elaboração do trio, ou seja, pela sobreposição de um quadrado, de um pentágono e
um hexágono, respectivamente, sobre o círculo cromático.

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Estas composições podem, numa impressão preliminar, dar a sensação de
aleatoriedade na elaboração cromática, muito em função da grande quantidade de
cores envolvida.

De qualquer forma, não podemos nos esquecer da questão da proporcionalidade, ou


seja, em que quantidade estas cores entrarão na composição? De que forma?

Além disto, é necessário pensar o contexto. Qual é a finalidade projetual? O que se


deseja como resultado? Quem usufruirá?

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Quando pensamos em espaços comerciais, por exemplo, não podemos nos esquecer
que a própria mercadoria pode contribuir para a construção de uma linguagem de
projeto.

São as premissas projetuais que direcionam as soluções.

E com isto encerramos mais uma unidade da disciplina de Cor e Composição.

Espero que tenham gostado.

Até a próxima!

6.3 Harmonia relacionada


Nesta unidade apresentaremos esquemas específicos de cor como a harmonia
relacionada.

Pedrosa (1980) refere-se à harmonia relacionada e contrastante. Dentro da harmonia


relacionada temos 3 harmônicos: o neutro, o monocromático e o análogo.

Neutro

O harmônico neutro é aquele constituído, em exclusivo, pelo branco, pelo preto e pela
variação da mistura dos dois, ou seja, do cinza.

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Cria um ambiente mais sóbrio, que pode ter pouco contraste, se os elementos
utilizados estiverem na zona mais clara da escala de cinza.

Ou mais contraste, na medida em que o cinza fica mais intenso.

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Monocromático

O harmônico monocromático, como o próprio nome refere, diz respeito a uma


composição com apenas uma cor e, eventualmente, suas variações tonais. Pode criar
um ambiente, dependendo da cor, mais sóbrio ou mais vibrante e, neste último caso, a
intensidade pode provocar desgaste e saturação no observador.

Análogo

O harmônico análogo diz respeito a uma combinação de cores que se encontram


próximas no círculo cromático.

Este harmônico pode, em algumas ocasiões, resultar em uma composição pouco usual,
mas, interessante em termos da combinação.

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A proporção de utilização entre as cores também é importante. Repare que nesta sala
o laranja é utilizado apenas em pequenos detalhes que acabam por contrastar de
forma mais discreta com a cor dominante da parede, causando menos estranheza na
combinação.

E assim encerramos mais um conteúdo.

Conclusão
No final do século XX a arquitetura passa por um período de abstinência cromática,
segundo Fraser (2007). A economia na utilização da cor faz com que constitua
pequenas intervenções que reforçam a linguagem projetual.

No início deste século, a cor reaparece como elemento de projeto, alterando a cidade,
as relações e, sobretudo, a percepção diante da edificação.

Esquemas cromáticos podem trazer combinações inusitadas como a harmonia


análoga; podem ainda imprimir uma linguagem de maior sobriedade com a harmonia
monocromática ou a neutra.

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Há muitos caminhos para conceber a harmonia cromática. Desde os arranjos mais
vibrantes das cores complementares, passando pelas análogas até chegar ao que nos
oferece a sobriedade da composição acromática, também conhecida como neutra.

A proporção no arranjo da cor é tão importante quanto a própria, pois, esta alquimia
dos matizes só resulta ante uma perfeita interação. Uma convivência em harmonia.

REFERÊNCIAS
FRASER, Tom. O guia completo da cor. São Paulo: Editora SENAC, 2007.

MUNARI, Bruno. Das coisas nascem as coisas. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.

PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Leo Christiano Editorial,
1980.

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