Vicio em Pornografia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

FERNANDA ALVES BALDIM

O vício em pornografia: considerações sobre a internet e a adicção na atualidade

Maringá
2017
FERNANDA ALVES BALDIM

O vício em pornografia: considerações sobre a internet e a adicção na atualidade

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Psicologia do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade
Estadual de Maringá, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Psicologia.
Área de concentração: Constituição do Sujeito e
Historicidade.

Orientador: Prof. Dr. Paulo José da Costa

Maringá
2017
AGRADECIMENTOS

Nesse momento, gostaria de agradecer a algumas pessoas, em especial, pela contribuição


direta e indireta no desenvolvimento dessa pesquisa.
À minha mãe, Izilda da Silva Alves, pela paciência, dedicação e amor ao longo de minha
jornada escolar e universitária, sempre acolhendo minhas demandas e me fortalecendo diante
às adversidades.
Ao meu pai, Carlos Roberto Baldim, e irmão, Gabriel Alves Baldim, por me apoiarem nas
decisões tomadas e incentivarem na realização dessa pesquisa.
Ao meu namorado, Giovani Lauretti Bernado, pelo amor, estímulo e parceria durante o
processo do Programa.
Ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, por disponibilizarem a possibilidade de
alcance ao conhecimento.
Ao Professor Dr. Paulo José da Costa, pela paciência, cuidado e sabedoria, com os quais
conduzia suas orientações e por sua gentileza nos direcionamentos e esclarecimentos
referentes aos assuntos acadêmicos.
À professora Dra. Eliane Rose Maio e ao professor Dr. Jorge Luís Ferreira Abrão pelas
indicações realizadas na banca de qualificação, que contribuíram para o amadurecimento do
saber e viabilizaram maiores reflexões sobre a temática escolhida.
Aos amigos e amigas Guilherme, Tathyane, Letícia, Gustavo, Suzana, Amanda, Danilo,
Camila, Lívia e Maria Renata que se mostraram presentes e dispostos a acolher as angústias
suscitadas no decorrer da pesquisa.
Aos colegas de trabalho, que apoiaram a busca pelo conhecimento.
À Pollyana, meu presente da natureza de quatro patas, por permanecer ao meu lado e a sua
lealdade.
Aos criadores do Fórum utilizado nessa pesquisa e também a coragem dos depoentes por
externalizarem seus sentimentos e receios, pois somente por intermédio das postagens essa
investigação seria possível.
Por fim, à Capes pelo apoio financeiro.
O único modo de prolongar e multiplicar os nossos
desejos é impondo-lhes limites.

(MARQUÊS DE SADE)
O vício em pornografia: considerações sobre a internet e a adicção na atualidade

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi investigar o vício em pornografia e sua relação com a adicção na
atualidade. Para isso, foram analisados trinta e quatro depoimentos postados na internet em
um fórum destinado a auxiliar pessoas a romperem com o vício em pornografia. Os sujeitos
depoentes se apresentavam como sendo todos do sexo masculino, cuja faixa etária varia dos
17 aos 40 anos. Buscou-se realizar uma pesquisa que explicitasse, problematizasse e
compreendesse o vício em pornografia. O fenômeno estudado foi o uso frequente e quase que
exclusivo da pornografia por sujeitos que demonstram estarem em sofrimento devido a esse
comportamento. Nessa situação, observa-se que os sujeitos procuraram por ajuda no ambiente
virtual, local de ampla visualização, devido a um comportamento cujas consequências são,
justamente, o isolamento e a ruptura nas relações sociais. Para o desenvolvimento deste
trabalho, os pesquisadores se utilizaram do método proposto por Roque Moraes de análise de
conteúdo. Por meio de múltiplas leituras e releituras das postagens, os trinta e quatro
depoimentos foram divididos e descritos em seis categorias temáticas: Gatilhos silenciosos:
das revistas à internet; Vergonha, culpa e masturbação; Fetiche e fantasia; A adicção e seus
sintomas: a espiral da degradação; A (in)capacidade de amar; e O pedido de socorro. A teoria
psicanalítica fundamentou a análise e interpretação do material. A partir dos depoimentos,
levou-se a hipótese de que a economia psíquica envolvida na adicção com a pornografia
apresentou como finalidade minimizar as sensações de desprazer e evitar situações que
promovessem tensão. Ponderou-se que a busca desenfreada pela satisfação advinha por
intermédio de processos psíquicos primitivos, que resultavam em movimentos
autodestrutivos. Logo, o vício em pornografia foi entendido como uma manifestação de um
modo de funcionamento psíquico não neurótico e reconheceu-se que o sofrimento gerado por
essa modalidade de vício é de ordem narcísica, uma vez que ameaça a integridade egóica dos
adictos e caminha contra o propósito de Eros: a união entre os pares.
Palavras-chave: Pornografia. Internet. Adicção. Psicanálise. Dependência.
Pornography addiction: considerations about internet and addiction in actuality

ABSTRACT

The objective of the research consisted on a study of pornography and the relation with its
actual addiction. Thereunto, it was analyzed thirty-four internet written testimonies posted by
people in a specialized forum destined to help people break-off with the addiction. The
subjects of the testimonies had presented themselves as male, with the age between seventeen
and forty years old. It sought to do a research that explain, problematize and understand the
pornography addiction. Subjects those suffer because of the addiction relate the studied
phenomenon with the frequent and exclusive use of pornography. These studied situations
where the subjects turn themselves to the virtual world, place of worldwide exposition, to find
some sort help for the matters which consequences generally drives them to isolation and
brake ties with social relations. For the development of the research, the researcher used
Roque Moraes’ method of contentment analyses. Through the reading and rereading of the
thirty-four posted testimonies, it was possible to divide them in six categories: Silent Triggers
– from magazines to internet; Shame – guilty and masturbation; Fetish and Phantasy; The
Addiction and its Symptoms – the degradation spiral; The (In)capability of Love; The Asking
for Help. Psychoanalytic Theory based the fundaments of the analyses and interpretations.
From the testimonies, the hypothesis psych economy related with the pornography addiction
presented itself as a mean of reduction of unpleasant feelings and tense promoting situations.
It considered that the uncontrollable search for pleasure by primitive chemical reactions
resulted in self-destructive movements. Ergo, the pornography addiction understanding as a
non-neurotic psych mean of manifestation and the recognition of the suffering generated by
this addiction is from narcissist order, it menaces the egoic integrity of the addicts and goes
against the purpose of Eros: the union of pares.
Keywords: Pornography. Internet. Addiction. Psychoanalyses. Dependency.
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Caracterização do usuário. ................................................................................16


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
1.1 A ideia para a pesquisa ................................................................................................. 11
2 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA ............................................................................ 14
3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADICÇÃO EM PORNOGRAFIA ............................ 23
3.1 Uso ou abuso de drogas? .............................................................................................. 25
3.2 Explicando os termos: adicção, dependência e compulsão .......................................... 27
3.3 O contexto contemporâneo e as (neo)adicções ............................................................. 32
3.4 Por que a pornografia? .................................................................................................. 36
4 A PORNOGRAFIA: ALGUNS DESDOBRAMENTOS HISTÓRICOS E ATUAIS . 40
4.1 A pornografia em construção ........................................................................................ 40
4.2 A pornografia e a psicanálise ........................................................................................ 49
4.2.1 Danos da Pornografia ................................................................................................... 58
4.2.2 A internet ...................................................................................................................... 60
5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS CATEGORIAS POR TEMÁTICAS ...................... 64
5.1 Gatilhos silenciosos: das revistas à internet .................................................................. 65
5.2 Vergonha, culpa e masturbação .................................................................................... 71
5.3 Fetiche e fantasia .......................................................................................................... 79
5.4 A adicção e seus sintomas: a espiral da degradação ..................................................... 88
5.5 A (in)capacidade de amar ............................................................................................. 98
5.6 O pedido de socorro .................................................................................................... 106
6 A PROCURA DE SIGNIFICADOS .......................................................................... 115
6.1 A nossa cultura na atualidade e as raízes da adicção .................................................. 115
6.2 O funcionamento psíquico não neurótico ................................................................... 118
6.3 Adicção e sentimentos primitivos ............................................................................... 127
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 137
ANEXOS ................................................................................................................................ 145
11

1. INTRODUÇÃO

1.1. A ideia para a pesquisa

Quando assistimos ao documentário “Louis Theroux e a Indústria Pornô”, transmitido


por um canal televisivo fechado no ano de 2012, algo nos inquietou frente à temática da
pornografia. Naquele momento, ainda não sabíamos exatamente o que poderíamos estudar;
entretanto, já havíamos percebido que o campo ofereceria vários conteúdos que poderiam ser
objeto de investigação científica. Coincidentemente, em nossa rede social, composta por
conhecidos, colegas e amigos, estes nos procuravam para relatar seu sofrimento originário do
consumo desenfreado de material pornográfico. Queixavam-se, principalmente, da facilidade
em encontrar sexo virtual e do gozo solitário suscitado por meio de aplicativos de celular e de
sites de relacionamento.
À medida que entrávamos em contato com materiais ligados à temática, o que nos
intrigava era o sofrimento ocasionado por seu uso excessivo. Ao evidenciarmos a dor, não
desconsideramos o viés de entretenimento, mas este não nos mobilizava. Dessa forma,
progressivamente, o nosso interesse incidia sobre o vício em pornografia, devido à grande
quantidade de depoimentos que encontramos na internet quando fizemos a nossa busca sobre
pornografia.
O termo adicção, resumidamente, foi definido como um estado de dependência
psíquica ou biológica de algo, que será exposto no decorrer da pesquisa. Diante disso, o
objetivo desta pesquisa foi investigar o vício em pornografia e sua relação com a adicção
existente em nossa cultura na atualidade. Para isso, recolhemos trinta e quatro depoimentos de
sujeitos que se descreveram como viciados em pornografia, buscando a compreensão de tal
fenômeno a partir dos fundamentos da teoria psicanalítica. Em outras palavras, procuramos
realizar uma pesquisa que tentasse responder e/ou problematizar depoimentos de pessoas que
se denominam viciadas em pornografia, respeitando suas particularidades como sujeitos, por
intermédio da ótica da Psicanálise, e partindo das seguintes indagações: o que é o vício em
pornografia no discurso desses sujeitos? O que tais discursos expressam, para além do
manifesto? Como a Psicanálise pode contribuir para a compreensão desse fenômeno?
Os depoimentos para análise foram colhidos ao longo de, aproximadamente, seis
meses, do dia oito de abril de dois mil e quinze ao dia quatorze de outubro de dois mil e
quinze, na plataforma de pesquisa da Google, com o intuito de desempenhar uma das etapas
da abordagem metodológica escolhida e obter diferentes amostras. As informações referentes
12

à escolha dos depoimentos e de como ocorreu a pesquisa serão apresentadas mais à frente, na
parcela do trabalho destinada à estratégia metodológica.
Retornando à observação inicial de que o cenário pornográfico é rico em elementos
para análise e apresenta inúmeras possibilidades investigativas, queremos ressaltar que um
estudo que abrangesse toda a gama de elementos relacionados a tal campo seria inviável.
Assim, optamos por elencar o vício em pornografia como ponto central desta dissertação,
embora a compreensão de alguns outros conceitos, que se fizeram necessários, também tenha
sido fundamental para a discussão pretendida. Por esse motivo, no decorrer da terceira parte
deste trabalho, serão apresentadas algumas concepções sobre o que é erotismo e pornografia,
bem como serão explorados alguns recursos que facilitam sua imersão, como o acesso à
internet. Além disso, gostaríamos de salientar que a internet é uma ferramenta facilitadora
frequentemente utilizada para acesso ao conteúdo pornográfico e que, por vezes,
empregaremos a expressão “pornografia on-line”, para designar o conteúdo sexual acessado
por meio desse instrumento.
Embora o universo da pornografia se mostre amplo e multifacetado, o enfoque desta
pesquisa restringe-se à adicção em pornografia. Como elucidaremos a seguir, nos últimos
anos, houve notório crescimento pela procura e consumo de pornografia on-line. A título de
ilustração, segundo a notícia “Pornografia cresce na web e consumo afeta felicidade” (2010),
o consumo contínuo e intensificado de pornografia na Web afeta a felicidade e a
produtividade. Em tal texto consta a afirmação de que o uso frequente das produções
pornográficas on-line resulta em patologia que poderia ser incluída no DSM-5 (Diagnostic
and Statistical Manual) como doença de dependência sexual e pornográfica, visto que tal
manual é responsável por listar distintas categorias de transtornos mentais e fornecer
orientações para diagnosticá-los. Todavia, no DSM-5, essa adicção não foi incorporada,
embora exista nesse manual uma nova seção para vícios comportamentais. Um dos motivos
para a não classificação é a falta de pesquisas sobre o assunto.
Apesar de termos encontrado na internet pedidos de ajuda – para qualquer sujeito que
pudesse conferir amparo/auxílio – de pessoas que evidenciam um estado de dor em
consequência do uso excessivo de material pornográfico, e também de esses aspectos
negativos da pornografia serem um assunto corrente no cotidiano das pessoas, verificamos
que pouco foi produzido nos meios acadêmicos e científicos sobre o vício em pornografia.
Diante disso, acreditamos que a presente pesquisa possa contribuir tanto do ponto de vista
social quanto científico, pois em nosso levantamento bibliográfico nas bases de dados – como
CAPES, INDEX PSI, BVS PSI e SCIELO – deparamo-nos com um número pequeno de
13

produções científicas na língua portuguesa que tratassem da temática, principalmente textos


que a abordassem pelo viés psicanalítico, sendo que as fontes científicas encontradas,
majoritariamente, correlacionavam-se com a Antropologia e com as Ciências Sociais.
Dividimos a presente dissertação em seis partes norteadoras: na primeira, Estratégia
metodológica, apresentaremos o método utilizado para elaboração e desenvolvimento da
pesquisa. Na sequência, no segmento denominado Considerações sobre a adicção em
pornografia, debateremos o uso da terminologia adicção e exporemos porque entendemos os
conteúdos dos depoimentos sob o viés da adicção. Já na terceira parte, intitulada A
pornografia: alguns desdobramentos históricos e atuais, buscaremos contextualizar e
demonstrar como a pornografia se constituiu ao longo da história, além de apresentar algumas
pontuações psicanalíticas sobre o objeto de pesquisa. Vale ressaltar que, nessa seção, serão
apresentados sub-tópicos, que servirão para possibilitar a organização do pensamento acerca
do assunto e a transmissão de conteúdo de modo didático, para que, em seguida, na Descrição
e análise das categorias por temáticas, consigamos descrever e apresentar as principais
temáticas elencadas. Por fim, na quinta seção deste trabalho, A procura de significados,
finalizaremos a investigação de nosso objeto, elaborando interpretações e estabelecendo
relações entre os temas abordados.
14

2. ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

A presente pesquisa originou-se a partir de depoimentos encontrados na internet, de


pessoas que se denominam viciadas em pornografia. Tais pessoas narram as suas respectivas
histórias de vida ao redor do vício e como ele influencia o funcionamento de seu cotidiano.
Diante do material escolhido, por meio da perspectiva psicanalítica, objetivamos compreender
melhor o vício em pornografia.
A fim de alcançar esse objetivo, consideramos necessário expor o trajeto realizado
para a escolha do método que viabilizasse a execução da pesquisa. Em virtude do objeto de
pesquisa e da finalidade desta, optamos por uma pesquisa de abordagem qualitativa, sendo
que o procedimento adotado para embasar as proposições será o de análise de conteúdo,
proposto por Moraes (1999).
De acordo com Silveira e Córdova (2009), a pesquisa qualitativa busca um
entendimento sobre determinado fenômeno social. Os investigadores dessa modalidade
procuram esclarecer os motivos dos fatos sem reduzi-los a números, pois não é possível
transformar os dados de análise em escalas. Michel (2009) acrescenta que essa modalidade de
pesquisa compreende a existência de uma conexão específica entre o pesquisador e o objeto
de estudo, a qual é circunstancial e temporária. Assim, a pesquisa qualitativa necessita de
explicações considerando tais especificidades a partir de um conhecimento teórico já criado.
“Esse tipo de pesquisa se fundamenta na discussão da ligação e correlação de dados
interpessoais, na coparticipação das situações dos informantes, analisados a partir da
significação que estes dão aos seus atos” (p. 35).
Na presente dissertação, as hipóteses levantadas em face aos depoimentos foram
centradas na compreensão e na tentativa de significar o funcionamento das relações sociais.
Nas palavras de Michel (2009) na “... pesquisa qualitativa, o pesquisador participa,
compreende e interpreta” (p. 35, negritos e itálicos da autora).
Acreditamos que a pesquisa qualitativa seja a que melhor represente os anseios da
presente pesquisa, pois a pornografia é um produto cultural que permeia as relações pessoais e
o cotidiano de diversas pessoas. Apesar do vício em pornografia ser outro fenômeno, ele
também é construído por elementos culturais, por conseguinte, requer um entendimento
aprofundado, devido à procura dos sujeitos por auxílio. Logo, se solicitam ajuda, as
evidências são de que se encontram em estado de sofrimento por estarem nessa condição.
Optamos pela busca de depoimentos na internet porque os sujeitos viciados em
pornografia recorrem a esse espaço à procura de pessoas que também se encontram nessa
15

condição. O vício em pornografia é camuflado socialmente, por isso os usuários se escondem


no cenário virtual, sendo esse meio encarado como a única ferramenta de auxílio.
Ironicamente, a internet tem duas facetas: ela propicia o acesso ilimitado à pornografia, mas é
um recurso utilizado para se procurar por ajuda no que diz respeito à dependência.
A abordagem metodológica qualitativa empregada nesta investigação é a análise de
conteúdo, pois essa perspectiva, segundo Moraes (1999), vem contribuindo “... cada vez mais
na exploração qualitativa de mensagens e informações” (p. 8). Ela se apresenta como uma
metodologia de pesquisa capaz de “... descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de
documentos e textos” (p. 9), devido ao fato de auxiliar na compreensão dos mais variados
discursos, fugindo de uma leitura habitual e corriqueira.
Moraes (1999) afirma que essa metodologia denota um sentido particular às pesquisas
de cunho social, pois ela atinge as mais diversas áreas do conhecimento (psicologia, literatura,
ciências sociais, dentre outras), visto que facilita ao investigador o acesso às mensagens
complementares e subjacentes. A análise de conteúdo é constituída por qualquer conteúdo de
ordem verbal ou não verbal, como entrevistas, diários pessoais, jornais, dentre outros. No
nosso caso, o conteúdo foi transmitido por intermédio de depoimentos.
Um dos aspectos cruciais para a escolha dessa estratégia metodológica foi que o
material encontrado pelo pesquisador não está trabalhado, isto é, não possui inferências de
outros pesquisadores ou outras áreas do conhecimento (Moraes, 1999). Portanto, a análise de
conteúdo propicia ao pesquisador a realização de um trabalho de “... compreensão,
interpretação e inferência” (p. 10), que nesta pesquisa apresenta o respaldo da teoria
psicanalítica.
Em nossa concepção, a análise de conteúdo atrelada ao conhecimento psicanalítico
ofereceu um vasto repertório para interpretação e inferência, propiciando resultados positivos
ao longo da pesquisa. Isso porque a Psicanálise faz com que o pesquisador que dela se utilize
seja confrontado diariamente com o exercício de ir além do que está manifesto. Em outras
palavras, a Psicanálise busca respostas complexas e profundas diante dos elementos
facilmente detectados à primeira vista, mas que contêm subjacentes outros possíveis
significados. Em concordância ao apontado, Moraes (1999) salienta que a “mensagem da
comunicação é simbólica... É preciso considerar, além do conteúdo explícito, o autor, o
destinatário e as formas de codificação e transmissão da mensagem” (Moraes, 1999, p. 11-
12).
Como método desta pesquisa, seguimos as orientações de Moraes (1999), o qual
propõe que o processo de estudo seja constituído por cinco etapas: “1- Preparação das
16

informações; 2- Unitarização ou transformação do conteúdo em unidades; 3- Categorização


ou classificação das unidades em categorias; 4- Descrição; 5- Interpretação” (Moraes, 1999, p.
15).
No primeiro passo, Moraes (1999) considera que devemos pontuar quais dados serão
analisados. Para delimitar as amostragens, de início, devemos ler todos os materiais
recrutados e escolhermos quais dentre eles estariam em conformidade com a finalidade da
pesquisa. Em seguida, necessitamos reunir os dados e codificá-los, para que o material seja
identificado de maneira rápida. “Este código poderá ser constituído de números ou letras que
a partir deste momento orientarão o pesquisador para retomar a um documento específico
quando assim o desejar” (p. 15-16).
Os depoimentos para análise foram recolhidos entre os dias oito de abril de dois mil e
quinze e quatorze de outubro de dois mil e quinze, ou seja, durante seis meses, no portal de
busca Google. Ao colocar o termo de busca (“vício em pornografia”), a plataforma
selecionou, aproximadamente, quinhentos e cinquenta e oito mil (558.000) resultados. A
partir de outra busca com outras palavras (“história de viciados em pornografia”), foram
selecionados cento e vinte e um mil (121.000) resultados. Outra forma de pesquisa utilizada
foi usar a expressão “relatos de viciados em pornografia”, o que resultou em cerca de
cinquenta e sete mil e trezentas (57.300) respostas como fonte de pesquisa.
Uma pesquisa por todos os links encontrados seria inviável diante do tempo destinado
para a execução do Programa de Mestrado que é, aproximadamente, de dois anos. Logo,
optamos por investigar os vinte e cinco primeiros resultados de cada um dos descritores acima
citados, resultando em setenta e cinco páginas a serem investigadas. Contudo, para afunilar
ainda mais, decidimos por estabelecer três critérios de seleção para os depoimentos: a)
descrever a história de vida do usuário ao redor do vício; b) contemplar o aspecto
sintomatológico do uso excessivo de pornografia on-line; c) narrar o sofrimento psíquico em
decorrência do uso. Quando um depoimento estava de acordo com pelo menos um dos
critérios, ele era selecionado.
Os depoimentos foram retirados de um fórum, nomeado por “Vício em pornografia,
como parar?”. Trata-se de um site que se utiliza de uma técnica denominada Reboot, a qual se
propõe a realizar uma desintoxicação cerebral para combater o vício em pornografia. Esse
fórum é influenciado pelos estudos de um neurocientista chamado Gary Wilson e,
principalmente, em seu livro Your Brain on Porn: Internet Pornography and the Emerging
17

Science of Addiction1. O fórum contava com novecentos e noventa e cinco (995) membros
cadastrados e continha dezesseis mil e seiscentos e sessenta e nove (16669) mensagens até a
data de quatorze de outubro de dois mil e quinze. É importante ressaltar que os usuários do
fórum se identificam a partir do uso de pseudônimos e que o site pode ser acessado por
pessoas sem cadastro. Nesse fórum, pessoas narram a história de seu vício, como este afetou
sua vida e sua sintomatologia atribuída ao uso excessivo de pornografia e, em específico, de
pornografia on-line.
Dentre as diversas postagens, seguindo os critérios de seleção que indicamos,
selecionamos trinta e quatro postagens de pessoas que se denominam do sexo masculino.
Dessa totalidade, dois depoimentos são do usuário Magrão, dois do Projeto, três do
marcolopes e vinte e sete de outros sujeitos. Como selecionamos o material dentro de um
fórum virtual, os usuários poderiam responder aos depoimentos postados por outras pessoas;
assim, três respostas participaram da análise. Essas respostas foram incluídas no material a ser
investigado porque evidenciam claramente a sintomatologia do uso de pornografia, ou seja,
demarcam o estado de sofrimento em que esses sujeitos estão submersos.
Com a finalidade de apresentar os depoentes selecionados para esta pesquisa,
elaboramos um quadro sucinto com seus dados pessoais. Todavia, destacamos que a
veracidade dessas informações não foi confirmada, visto que tais denominações foram
encaradas como verídicas, pois entendemos que se o sujeito utiliza um pseudônimo na
virtualidade, não deseja apresentar alguns dados sobre si. Além disso, podemos considerar
também que, muitas vezes, as informações oferecidas no ambiente virtual são mais autênticas,
no que diz respeito à forma como o sujeito se identifica, do que as informações reconhecidas
socialmente por meio de documentos pessoais.
A partir da Figura 1, dispusemos alguns dados fornecidos pelos depoentes.

Depoente Identidade Idade Orientação Religião Relacionamento Tempo


de Gênero Sexual de uso
D1 Homem 34 Heterossexual Cristã Solteiro N.R.
D2 Homem N.R.* Heterossexual N.R. Solteiro N.R.
D3a/D12a Homem N.R. Heterossexual N.R. Solteiro N.R.
D4 Homem 22 Heterossexual N.R. Solteiro 9
D5b/D15.1b Homem N.R. Heterossexual Monot.** Solteiro N.R.
D6 Homem 28 Heterossexual Monot. “Noivo” 12
D7 Homem 32 Heterossexual N.R. Casado 12
D8 Homem N.R. Heterossexual N.R. N.R. N.R
D9c/D19c/D20c Homem 18 Heterossexual N.R. Solteiro 6

1
O cérebro e a pornografia: pornografia on-line e a emergência da ciência da adicção (tradução nossa).
18

D10 Homem N.R. Heterossexual N.R Casado N.R.


D10.1 Homem N.R. Heterossexual N.R. N.R. N.R.
D11 Homem N.R. N.R. N.R. N.R. N.R.
D13 Homem N.R. Heterossexual N.R. Solteiro 15
D14 Homem 29 Heterossexual Monot. Solteiro 16
D14.1 Homem N.R. Heterossexual N.R. N.R. N.R.
D15 Homem N.R. N.R. N.R. N.R. N.R.
D16 Homem N.R. Heterossexual N.R. Solteiro N.R.
D17 Homem 18 Heterossexual N.R. Solteiro 5
D18 Homem 17 Heterossexual N.R. Solteiro 6
D21 Homem 22 Heterossexual Cristã Solteiro 5
D22 Homem 27 Heterossexual N.R. “Namorando” N.R.
D23 Homem N.R. Heterossexual Cristã Solteiro 15
D24 Homem 23 Heterossexual Cristã Solteiro 11
D25 Homem N.R. Heterossexual Cristã Solteiro N.R.
D26 Homem 24 Heterossexual N.R. “Namorando” 11
D27 Homem 40 Heterossexual N.R. Solteiro 12
D28 Homem 36 Heterossexual N.R. Casado 24
D29 Homem 35 Heterossexual Cristã “Namorando” 23
D30 Homem 37 Heterossexual N.R. Casado 25
D30.1 Homem N.R. N.R. N.R. N.R. N.R.
Total: 30
Figura 1. Caracterização do usuário.
Notas:
* N.R.: Nenhuma resposta ou possibilidade de inferência.
** Monot.: Monoteísta.
Fonte: os dados foram compilados a partir do referido site: http://comoparar.forumeiros.com/

Assim, por intermédio das postagens, identificamos que essa pesquisa foi composta
por homens, cuja faixa etária varia de 17 – 40 anos, sendo que se destaca a incidência de
publicações de sujeitos de (20 – 29 anos). Tais usuários se denominam heterossexuais e,
majoritariamente, estão solteiros, ou seja, não estão em um relacionamento afetivo com outra
pessoa. Também destacamos a duração mais frequente do uso de pornografia: entre 11 e 15
anos.
Embora a maior parte dos usuários não tenha especificado a sua religião, inferimos
que eles sejam monoteístas, isto é, que possuam a crença em uma única divindade, pois a
palavra “Deus” aparece com frequência nas postagens. Além disso, afirmamos que em relação
à orientação sexual, apesar de alguns sujeitos como Bereta (D1), marcolopes (D20c),
vencedoremcristo (D23), dentre outros, demonstrarem dúvidas sobre isso, devido ao uso de
pornografia homossexual e transgênero, compreendemos que o questionamento origina-se de
um estranhamento por se considerarem, a princípio, heterossexuais. Além disso, ainda existe
19

o fato de que nenhum sujeito afirmou orientação sexual homossexual ou bissexual nas
postagens.
A fim de cumprir as etapas estabelecidas por Moraes (1999), iniciando pela
preparação de material, codificamos os depoimentos com a letra D, originária da própria
palavra depoimento. Assim, os depoimentos foram codificados em: D1, D2, D3, D4... até D30,
pois, como expusemos, há três depoimentos que são respostas. Quando alguém respondia ao
depoimento na mesma página de acesso (link) e essa mensagem era de interesse para a
pesquisa, a resposta era sinalizada como D10.1, D15.1 e D30.1.. Já quando uma mesma pessoa
escrevia outra mensagem no fórum, a classificação utilizada era a, b e c. Por fim, a letra A foi
utilizada para Magrão, B para Projeto e C para marcolopes.
Feito isso, passamos ao processo seguinte, o de unitarização. De acordo com Moraes
(1999), nessa etapa é necessário que o pesquisador leia novamente com atenção os dados
encontrados, para que possa determinar “uma unidade de análise” (p. 5). A partir de sua
definição, detectamos o aspecto que será submetido à categorização. As unidades de análise
podem ser constituídas por palavras, por frases, por pequenos trechos, ou até mesmo pelo
texto completo. Após essa classificação, devemos inserir códigos adicionais ao que já foi
elaborado na primeira etapa.
Utilizamos nesta pesquisa depoimentos na íntegra, com o intuito de preservar seu
conteúdo. Escolhemos por manter os depoimentos do modo como o encontramos na internet:
com erros ortográficos e de pontuação. Apresentamos pseudônimos e informações sociais,
como a idade dos usuários, as quais poderiam não ser verídicas. Isso porque, como nos
pautamos pela abordagem psicanalítica para a análise, acreditamos na verdade inconsciente,
isto é, entendemos que uma mentira se torna verdade na medida em que ela faz sentido para o
sujeito. Logo, toda a mentira exposta revelaria algum desejo de cunho inconsciente ou a
própria fantasia do sujeito.
Na terceira etapa, a de categorização, segundo Moraes (1999), precisamos agrupar
conteúdos que possuam elementos de análise semelhantes. “Classifica-se por semelhança ou
analogia” (p. 19). De forma geral, essa fase é caracterizada como um momento de diminuição
de dados, ela se organiza de maneira “... cíclica e circular, e não de forma sequencial e linear.
Os dados não falam por si. É necessário extrair deles o significado” (p. 19). Cíclico e circular,
pois os pesquisadores devem voltar incansavelmente aos textos, relendo-os, e, somente a
partir desse ato, os investigadores chegarão a níveis maiores de compreensão.
Moraes (1999) considera que uma categorização deve ser válida, exaustiva e
homogênea. Válida, pois necessita estar de acordo em relação à finalidade do trabalho;
20

Exaustiva na medida em que agrega todas as possibilidades de análise; tendo que abranger o
máximo de conteúdo significativo, não deixando nenhum elemento importante excluído de
análise; e homogênea porque necessita obedecer a um critério de categorização, ou seja, toda
a classificação precisa seguir uma única vertente de análise.
Tendo isso em vista, elencamos para a investigação seis categorias por temáticas:
1) Gatilhos silenciosos – das revistas à internet: esta primeira categoria se refere ao
dado de que os sujeitos que expuseram sua vida por meio de depoimentos terem,
majoritariamente, atribuído às revistas pornográficas, ou sensuais, o papel de disparadores
para o acesso ao universo da pornografia. Eles alegaram que naquela época, quando
visualizavam as revistas, o acesso era dificultado, pois ir até uma banca de revistas para
comprá-las era motivo de constrangimento social. Outros sujeitos narraram que o primeiro
contato com a pornografia foi por intermédio de revistas pertencentes aos seus próprios pais.
Por meio de tais afirmações, percebemos que a internet se mostrou para eles um facilitador de
acesso, pois não precisavam mais encarar o olhar do outro para encontrar sua satisfação
sexual.
2) Vergonha, culpa e masturbação: na segunda categoria, consideramos o que os
sujeitos expressam sentir ao terminarem o ato masturbatório após terem consumido conteúdo
pornográfico. Procuramos entender como esses sentimentos e mecanismos psicológicos atuam
no dinamismo psíquico em face ao uso de pornografia e às suas consequências.
3) Fetiche e fantasia: a terceira categoria aborda o fato de o sujeito somente sentir
prazer com o uso da pornografia. Diante disso, visamos analisar se é possível compreendê-la
como um objeto de fetiche, uma vez que muitos sujeitos revelam não sentir mais satisfação
em relações sexuais com outras pessoas, sendo que somente durante o acesso à pornografia o
prazer era encontrado, às vezes resumindo-se a uma modalidade específica de pornografia.
Também procuramos entender como esses aspectos fantasiosos afetam o sujeito.
4) A adicção e seus sintomas – a espiral da degradação: na quarta categoria, fizemos
um paralelo com a drogadição, pois muitos usuários de pornografia on-line afirmam que o
vício pode se assemelhar ao uso de drogas: começa-se com uma droga considerada “leve”
(álcool e cigarro) e parte-se depois para outras “pesadas’ (cocaína, crack...). Em se tratando de
pornografia, existe a abdicação de uma pornografia convencional e aceitável em favor de
outras mais intensas e até mesmo ilegais, como a pedofilia (adulto que apresenta preferência
sexual por crianças) e a zoofilia (sujeito que se sente atraído sexualmente por outras
espécies). À vista disso, procuramos discutir como a necessidade do consumo de elementos
cada vez mais tóxicos leva de fato à degradação do sujeito.
21

5) A (in)capacidade de amar: a quinta categoria foi definida em função da declaração


feita pelos sujeitos envolvidos no vício pela pornografia de que não sentiam vontade de estar
com outra pessoa. A pornografia foi apresentada, pelos usuários do fórum, como um vício
solitário, que degradou suas relações sociais e anulou a possibilidade de ingresso em um
relacionamento afetivo. Frente a essa situação, a (in)capacidade de amar foi discutida e
explicada por nós segundo os pressupostos psicanalíticos.
6) O pedido de socorro: a sexta e última categoria foi estabelecida porque os sujeitos
afirmaram estar profundamente angustiados e em sofrimento por se encontrarem nessa
situação compulsiva. Assim, o fato de buscarem por ajuda em um ambiente virtual
demonstrou para nós um pedido de socorro e de visibilidade para o seu problema. A partir
dessa categoria, portanto, debateremos como esse vício é enxergado a partir de julgamentos
morais no atual contexto social e teceremos algumas considerações sobre o papel da
psicologia perante essa situação de sofrimento.
Conforme Moraes (1999) aponta, a fase seguinte é nomeada por descrição, na qual é
comunicado o resultado de todo o processo anterior, identificação das classificações e escolha
do material. “Para cada uma das categorias será produzido um texto síntese em que se
expresse o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de análise incluídas em
cada uma delas” (p. 9). Nesse processo, são expostos os significados dos depoimentos
analisados.
Por último, temos a etapa da interpretação. Moraes (1999) considera que nessa etapa
do processo se vai além do conteúdo descrito, visando “... uma compreensão mais
aprofundada do conteúdo das mensagens através da inferência e interpretação” (Moraes,
1999, p. 24). Para a realização interpretativa, o pesquisador pode seguir dois caminhos:
embasar-se em uma determinada abordagem teórica para lançar uma interpretação ou criar, a
partir dos resultados descritos, uma nova teorização.
Como já demarcada nesta dissertação, a realização interpretativa procedeu dos dados,
construindo-se a partir da abordagem teórica psicanalítica. Laplanche (1992), em uma
reflexão sobre o ensino da psicanálise em universidades, afirma que em pesquisas dessa
modalidade, o texto torna-se o objeto de investigação, isto é, a pesquisa não se fundamenta
propriamente do conteúdo clínico, mas pode se relacionar com ele.
Portanto, por se tratar de uma pesquisa de análise documental em Psicanálise,
elucidamos que a teoria psicanalítica, embora tenha nascido na clínica, oferece recursos e
maleabilidade para o pesquisador analisar elementos sociais e culturais. A essa forma de
exercer Psicanálise, dá-se o nome de Psicanálise Extramuros ou Psicanálise Aplicada. De
22

acordo com Rosa (2004), tal maneira de abordar a Psicanálise é respaldada pelos princípios
éticos e concepções da própria linha de raciocínio. Como característica, encontramos o sujeito
envolvido com os aspectos políticos e sociais e não somente ligado ao tratamento clínico.
Nesse sentido, Lowenkron (2004) defende que “se a experiência estiver alicerçada nos
conceitos fundamentais da psicanálise... qualquer linha de investigação tem o direito de
chamar-se psicanalítica” (p. 30).
Nessa perspectiva apresentada por Rosa (2004) sobre a Psicanálise Extramuros ou
Psicanálise Aplicada, Hermann (2004) nos instiga à reflexão ao elucidar que a Psicanálise,
independente de se fazer sob diferentes contextos (universidade, clínica, literatura ou cultura),
propõe-se a movimentar conceitos e, com isso, a própria teoria, pois não há sentido em
utilizá-la de modo estático e paradigmático. Ante a essa afirmação, o autor agrega todas essas
ocasiões de pesquisa sob o título de clínica extensa, pois, de acordo com o Herrmann (2004,
p. 48), “a aplicação do método interpretativo sempre tem uma dimensão de cura, mesmo
quando não diz respeito a doença alguma”.
Assim, concebemos que nosso papel ao optarmos por essa linha teórica foi o de
movimentar conceitos e de tentar elaborar sentido a fenômenos culturais “como interpretantes
de uma psicanálise, mesmo que de uma psicanálise ficcional, hipotética ou quase conjetural”
(Herrmann, 2004, p. 48). Justificando ainda a escolha da psicanálise para auxiliar na
compreensão dos dados, González Rey (2012) pondera que esse viés teórico “... atua sobre
trechos complexos de informação, usando material indireto e implícito na produção do
conhecimento ...” (p. 20). Logo, a psicanálise busca possibilidades de investigação mediante
elementos que não podem ser observados de imediato, fator que enriquece e aprofunda
possíveis análises.
Principalmente, pautados nessa teoria e por outros autores atuais, a seguir,
apresentaremos uma justificativa teórica sobre alguns dos termos que estarão presentes na
presente pesquisa, tais como adicção, dependência, vício, dentre outros.
23

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADICÇÃO EM PORNOGRAFIA

Antes de iniciarmos nossas considerações, é preciso justificar teoricamente o motivo


pelo qual estamos tratando o objeto da pornografia pelo viés da adicção. Se a pornografia
apresenta elementos sociais, culturais e afetivos de nossa história, logo, ela seria uma
produção humana que possibilita o encontro do sujeito com seu passado e pertencimentos.
Contudo, alguns elementos psicopatológicos estão contidos no consumo do material na
cultura contemporânea. Assim, consideramos necessário expor nosso arcabouço teórico que
nos leva a encarar tal fenômeno por essa faceta da compulsão. Os autores escolhidos para
realizarmos essa discussão, foram Freud (1921/1996a; 1930/1996b; 1920/1996c; 1900/1996d;
1915/2004a), Gurfinkel (1995) e McDougall (1995/1997a; 1995/1997b).
Ao nos propormos apresentar a pornografia pelo aspecto adictivo, algumas
inquietações foram surgindo para que redigíssemos essa seção. Da mesma forma que um
dependente químico possui uma espécie de vinculação com a droga, consideramos que há
também um vínculo muito forte entre o usuário de pornografia e o objeto de seu vício. Como
ocorreria essa conexão? Há alguma especificidade nesse tipo de relação? De que modo esse
objeto-droga (Gurfinkel, 1995) intervém no psiquismo pela Psicanálise? A fim de responder a
esses questionamentos precisamos definir nosso pensamento sobre o que seria a adicção.
Primeiramente, gostaríamos de enfatizar que não estamos abordando a temática de
modo isolado, como um diagnóstico de doença psicológica, mas por uma ótica
contextualizada em uma totalidade. Em outras palavras, buscamos nesta seção condições para
elaborarmos um debate psicanalítico sobre a relação do sujeito com a droga e o papel que ela
ocupa no cenário contemporâneo.
Já em 1920, Freud (1920/1996c) afirmava que a compulsão à repetição é uma forma
de organização psíquica que está pautada além do princípio do prazer, isto é, a repetição de
eventos traumáticos é algo muito anterior à realização da satisfação, trata-se de algo mais
primitivo e repleto de angústia. Um elemento que retorna constantemente e não encontra sua
conexão, sequer uma elaboração. Por essa via, Gurfinkel (1995) passou aos estudos sobre o
aspecto compulsivo das adicções e o modo de funcionamento psíquico.
Gurfinkel (1995), em seus estudos, empenhou-se em discorrer a respeito da
toxicomania e o uso de outras drogas. Ao citarmos o autor, propomos um paralelo de suas
ideias com as nossas, visto que, pelo viés deste trabalho, a pornografia seria uma espécie de
objeto-droga. O autor teoriza sobre a existência de um “espaço intermediário” (p. 21 itálicos
24

do autor) no modo de funcionamento psíquico e no sintoma presente na organização adictiva,


que se restringiria à vivência particular.
De acordo com Gurfinkel (1995), ao nos referimos ao tema da toxicomania, de início
devemos abordar as diversas maneiras em que a droga é consumida, para que, posteriormente,
a intensidade do uso abusivo seja discutida. Em relação à adicção, devemos pontuar os
acontecimentos que seriam denominados como tal. O autor considera que poderia se
compreender a toxicomania no intercurso entre os dois debates apresentados. Na presente
pesquisa também acreditamos que seria na interseção entre o modo de uso da droga e por
meio da definição do que seria adicção que poderíamos compreender o vício pela pornografia.
Gurfinkel (1995) parte do entendimento que o termo droga é utilizado para se referir a
uma substância que atua no psiquismo e considera que seu uso não ocorre exclusivamente nos
tempos atuais, mas vem ocorrendo ao longo da história da humanidade. Ele afirma que as
drogas, antigamente, eram atreladas a rituais religiosos, como na Grécia, China, Egito e em
comunidades indígenas, os quais objetivavam o encontro do sujeito com uma entidade divina
superior. Com o passar do tempo, algumas sustâncias se distanciaram do discurso espiritual e
adentraram ao campo da farmacologia. Citamos como exemplo a cocaína, que antes era
utilizada na cultura inca, pois fornecia ao sujeito uma proteção divina e, posteriormente, foi
utilizada como anestésico e como elemento terapêutico pela medicina. Inclusive, alguns
estudos para mudança de paradigma a respeito da cocaína foram introduzidos por Freud.
Contudo, nos tempos atuais, essa mediação envolvendo a espiritualidade e os efeitos
terapêuticos se desvaneceram e o consumo imoderado se encontra relacionado com os
interesses sócio-econômicos, isto é, o que se cultua é o consumo de adictivos em larga escala.
(Gurfinkel, 1995).
Gurfinkel (1995) pondera que o estudo da adicção em drogas, como fonte de pesquisa,
é algo historicamente novo, que esbarra, coincidentemente, no desenvolvimento do saber
psicanalítico. Apesar de Freud ter tido um contato íntimo com a cocaína, ele pouco escreveu a
respeito, principalmente, sobre as toxicomanias. Se o estudo sobre a adicção em drogas é
apontado como contemporâneo, uma discussão sobre a compulsão pelo uso de pornografia
seria comparada ao nascimento de um novo universo de investigação.
Em consequência do aumento do uso de sustâncias para fins terapêuticos, elas
passaram a ser utilizadas pela psiquiatria para lidar com o sofrimento psíquico (Gurfinkel,
1995). Entretanto, essa utilização tomou fins não medicinais e incorreu no uso ocasional e no
abusivo, tanto de medicamentos antidepressivos, ansiolíticos, dentre outros, quanto de outras
modalidades de drogas popularmente conhecidas (maconha, cocaína etc.).
25

Gurfinkel (1995) cita que as drogas afetam o sistema nervoso central e se dividem em
três modalidades: “depressores, estimulantes e perturbadores de seu funcionamento” (p. 31).
Nesta pesquisa não contemplaremos os efeitos da pornografia no sistema nervoso, mas há
pesquisas que correlacionam o uso da pornografia com a dessensibilização cerebral, como é
citado por Henriques (2014), o qual expressa, em uma notícia intitulada Pornografia tem
efeito cerebral semelhante à droga, que em estudos realizados no Departamento de
Psiquiatria da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, constataram que a atividade
cerebral apresentada ao assistir à pornografia on-line se assemelha à atividade cerebral
desempenhada ao consumir a droga. E em outra pesquisa, financiada pela Wellcome Trust,
Crystal Bennes (2011) afirma que os sujeitos expostos à pornografia apresentam dificuldades
para controlar a própria conduta sexual, afetando significativamente as relações interpessoais,
pois do mesmo modo que as regiões cerebrais são estimuladas (corpo estriado ventral, córtex
cingulado anterior e amígdala) por sustâncias químicas em adictos por drogas, essas regiões
também seriam afetadas pela exposição ao conteúdo sexual explícito.

3.1. Uso ou abuso de drogas?

Quando pensamos no uso de drogas, percebemos várias relações distintas entre os


sujeitos e tais substâncias, sendo que dentre eles existem aqueles que fazem uso eventual de
drogas, isto é, usam-na socialmente e os que as consomem em demasia. Gurfinkel (1995)
afirma que o uso eventual de drogas se encontra atrelado a atividades específicas, a modelos
de vida, ocasiões de lazer e entretenimento. Há também outra modalidade de uso, que ocorre
em momentos de perigo, de dificuldades e de decisões, por exemplo, no período da
adolescência, quando comumente se inicia a experimentação de substâncias químicas e, como
veremos à frente nas descrições de categorias, da pornografia.
Conforme Gurfinkel (1995), há também o consumo de drogas incorporado ao dia a dia
do sujeito e que, ao que tudo indica, não afeta sua dinâmica de vida no que concerne às suas
atribuições. Mas, em outras situações, o uso influencia diretamente no andamento da
realização das atividades corriqueiras do sujeito, além de afetar os aspectos sociais e afetivos
de sua vida. No entanto, essa circunstância não se equipara ao estado de vício intenso, “...
onde o usuário não mais trabalha, não consegue se relacionar com os outros, abandona todas
as suas atividades e interesses em um verdadeiro rompimento com a ordem social. Aqui, toda
a vida passa a girar em torno da droga” (p. 32).
26

De acordo com uma página on-line disponibilizada pelo Governo do Estado de São
Paulo, o IMESC, Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo, (1999-2014),
baseado em uma publicação da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura –, considera que existem quatro modalidades de usuários de drogas: a)
experimentador: é o sujeito que, de início, faz uso da droga por diversas razões (curiosidade,
pressão no grupo de amigos...), mas seu relacionamento com a droga não se delonga, isto é,
não passa das primeiras experiências; b) ocasional: é o usuário esporádico de droga, esse
quadro não se caracteriza pela dependência, pois o cotidiano e as relações interpessoais não
são afetados; c) habitual: essa categoria engloba usuários frequentes de droga, nesse caso há
indícios de problemas nas relações interpessoais e profissionais – nesse nível é indicada a
procura por ajuda profissional –; e d) dependente: nesse nível o sujeito vive em função do
objeto-droga, os vínculos afetivos e profissionais estão deteriorados e, como consequência, o
sujeito sofre isolamento e marginalização.
Ao procurarmos no CID-10 (1993) o que seria a dependência, encontramo-la
caracterizada como uma síndrome, em que aspectos comportamentais, cognitivos e
fisiológicos se desenvolvem depois do uso exaustivo de drogas, ligados ao anseio de repetir o
uso da substância devido à complicação em comedi-lo. Nesse estágio, o usuário tem
entendimento dos impactos negativos da droga em sua vida, mas, apesar disso, continua com
o uso, pois a droga é entendida como ponto central de sua vida. Geralmente, nesse estágio, o
usuário desenvolve certa tolerância pela droga habitualmente usada.
Embora o que foi apresentado esteja ligado a substâncias psicoativas, quando
analisamos os depoimentos que serão posteriormente apresentados, constatamos que o
consumo de material pornográfico se equipara, em termos de danos
sociais/psicológicos/biológicos, à utilização de substâncias químicas. Mesmo que alguns
manuais categorizem os níveis de dependência, essa breve noção nos auxilia a entender a
intensidade do sofrimento envolvido na dependência e na compulsão existente tanto em
relação ao uso de drogas quanto de pornografia.
A partir do exposto, compreendemos que existem diversas modalidades de uso de
drogas, sendo que é a forma da relação entre o sujeito e a substância que demarcará: o
excesso, a moderação ou a ausência. Em outras palavras, da mesma maneira que o uso de
drogas pode resultar em drogadição ou não, a pornografia também se apresenta dessa maneira.
Gostaríamos de salientar que é a intensidade do uso feito pelo sujeito e o modo com que ele se
relaciona com a droga que determinará o impacto dela nas relações sociais e no psiquismo do
sujeito.
27

Nesta pesquisa, o usuário em estado de dependência foi escolhido justamente por já


haver comprometimento psicológico, afetivo e profissional devido ao uso massivo da
pornografia. O que nos preocupa é que os sujeitos envolvidos no uso de substâncias
psicoativas manifestam sintomas físicos, por vezes, visíveis, que chamam a atenção das
pessoas ao seu redor. Além de tudo, pelo fato do uso de drogas ter espaço em nossa cultura,
uma vez que nem sempre é repudiado, o amparo aos dependentes químicos é maior do que
aquele prestado aos dependentes vinculados com a pornografia, pois, muitas vezes, estes são
taxados de pervertidos sexuais ou tarados, o que gera asco e indiferença por parte da
comunidade; poucos olham para o indivíduo submerso na pornografia como alguém em
estado de sofrimento. Tal julgamento moral afasta quem está nessa situação de risco de
procurar ajuda profissional ou expor suas dificuldades para amigos e familiares.
Verificamos que há uma grande variedade de drogas e de modos de uso, contudo
constatamos que necessitamos ter cautela em não sucumbir a rótulos e estigmas sociais, como
o de tratar o sujeito como alguém exclusivamente doente e detentor de uma patologia
(Gurfinkel, 1995). De semelhante maneira devemos atuar com os sujeitos que usam a
pornografia, pois o modo excessivo com que alguns se relacionam com a droga os coloca em
um estado de intenso sofrimento psíquico, logo, carecemos de olhar para esses que consomem
desenfreadamente a pornografia como alguém que está desorganizado psiquicamente e que
necessita de amparo para se constituir.
Ademais, precisamos evitar categorizações prontas para compreender a relação do
sujeito com a droga.

Considero que uma abordagem da questão das drogas – uso ou abuso? – só pode se dar a partir
de uma atitude de aproximação da experiência do sujeito com a droga; aliás, esta é uma
condição para o estudo de qualquer problemática clínica. No caso do usuário de drogas, vemos
como em geral ele é estudado, observado, categorizado exteriormente, tratado como um
“corpo estranho” social. O desafio para o psicanalista é o de efetivamente se aproximar da
experiência do toxicômano, utilizando os seus instrumentos de observação e de reflexão, mas
sem deixar que estes últimos impeçam a “ligação direta” implicada na aproximação
(Gurfinkel, 1995, p. 39).

Assim, será da forma como expusemos nesta seção que entenderemos nosso objeto de
análise, a adicção em pornografia.

3.2.Explicando os termos: adicção, dependência e compulsão


28

Neste subitem nos perguntamos: o que de fato ocorre com o sujeito que faz uso
desenfreado da pornografia ou de outro objeto-droga? Verificamos uma inversão de papéis, o
objeto que outrora foi utilizado para obtenção de prazer passa da voz passiva à ativa, isto é, o
sujeito que usava o objeto, no momento da adicção, mostra-se aprisionado por ele, em uma
espécie de escravidão. De fato, a pornografia – o objeto – não possui a capacidade de
influenciar alguém, pois se assim o fosse, ela submeteria todos aos seus encantos, e isso não é
verdadeiro. Existem pessoas que fazem uso de pornografia, mas não poderiam ser
consideradas dependentes, da mesma forma que um sujeito que faz uso de droga pode ou não
se tornar um dependente químico.
Primeiramente, recorremos aos dicionários, tanto da língua portuguesa (Ferreira, 1999)
quanto o de psicanálise (Laplanche & Pontalis, 2001) para demarcar as definições dos termos
que estaremos empregando. Posteriormente, fizemos um resgate dos conceitos a partir de
algumas construções psicanalíticas. Ao consultarmos o dicionário Novo Aurélio Século XXI: o
dicionário da língua portuguesa, o termo adicção não foi encontrado, pois se trata de um
neologismo, ou seja, uma palavra nova com novas acepções. Em contrapartida, encontramos
em Ferreira (1999) o termo adicto, que denota alguém que não consegue renunciar a algum
comportamento destrutivo, como o uso de álcool e de outras drogas, por razões biológicas ou
psicológicas. Diante disso, o termo adicção será utilizado para se referir a alguém em estado
de dependência fisiológica e/ou psicológica.
Apesar da ausência do termo adicção no dicionário, segundo McDougall
(1995/1997a), a adicção seria um termo destinado para designar "um estado de escravidão" (p.
198). Embora lançada essa ideia de subordinação, o sujeito que está vinculado à droga, não a
sente como algo somente negativo. Muitas vezes essa relação com o objeto-droga é tão
intensa que se configura como o único elemento capaz de dar sentido à vida do sujeito. A
economia psíquica envolvida na relação aditiva objetiva suavizar sensações dolorosas ao
sujeito – como raiva, ódio, ansiedade, dentre outras – e minimizar qualquer aumento de tensão
diante de sentimentos prazerosos; em outras palavras, qualquer desequilíbrio é sentido como
uma ameaça ao sujeito. Assim, a partir do momento em que o sujeito mantém uma relação
aditiva com seu objeto-droga, necessita que este esteja sempre próximo a ele para amenizar
circunstâncias desprazerosas ou prazerosas.
Se o sujeito necessita da droga para aliviar suas sensações intensas, verificamos a
presença de um estado de dependência do sujeito para com o objeto, portanto, outro modo de
denominar a adicção seria por meio do conceito de dependência. Esse termo é utilizado para
29

designar alguém em estado de sujeição e subordinação. Ferreira (1999) define dependência


como:

... estados mórbidos em que a impressão de bem-estar causada por medicamento, ou droga,
leva o indivíduo a toma-lo, ou toma-la, em caráter contínuo ou periódico, inclusive para evitar
a sensação de mal-estar que lhe causaria a privação daquele medicamento ou daquela droga (p.
624).

Portanto, o dependente seria alguém que se utiliza de algum objeto de forma


compulsiva para fugir do desprazer ocasionado pela ausência de determinado objeto. Já a
compulsão é relacionada por Ferreira (1999) com a tendência à repetição. Laplanche e
Pontalis (2001) conceituam compulsivo como um sujeito que possui determinado tipo de
comportamento devido a uma espécie de ordem/exigência interna que, quando não executada,
culmina em uma enorme angústia.
A fim de elucidar na fonte tal conceito, Freud (1920/1996c), em seu texto Mais-além
do princípio de prazer, ao se deparar com a cena de uma criança brincando com um carretel
de linhas e ao analisar os relatos de sujeitos envolvidos em neuroses de guerra, percebeu a
existência de recursos psicológico que impelem o sujeito a recordar e a vivenciar novamente
eventos dolorosos de seu passado, geralmente, atrelados a algum trauma. O autor concluiu
que se a compulsão à repetição era mantida pelo movimento do reprimido em se manifestar,
logo, ela não estava baseada somente aos mandos do princípio do prazer, mas obedecia a uma
tendência além desse princípio, isto é, baseava-se em “... tendências mais primitivas do que
ele e dele independentes” (Freud, 1920/1996c, p. 28). Essa compulsão pode ser compreendida
como uma força pulsional que provoca a repetição do estado de sofrimento independente da
origem de seu material ser prazeroso ou não. Ela leva o sujeito, por meio de um estado
regressivo, a retornar a estados cada vez mais primitivos, até que eles se assemelhem à morte.
Freud (1920/1996c), no mesmo texto em que apresenta a noção de tendência à
repetição, também introduz um novo conceito, relacionado a essa força em “... restaurar um
estado anterior de coisas” (p. 68, itálicos do autor), nomeado de pulsão de morte. Ele
correlaciona essa pulsão com movimentos autodestrutivos, os quais ao se lançarem para o
mundo afora se revelariam por meio da agressividade ou da destruição.
Em síntese, o que queremos destacar com as questões elencadas é o caráter destrutivo
e regressivo que envolve a repetição. É como se toda a ação repetida denunciasse algum
evento doloroso experimentado pelo sujeito no decorrer da vida, principalmente, algum
intercurso ao longo do seu desenvolvimento infantil. Quando voltamos às ações repetidas no
30

acesso à pornografia, perguntamo-nos: o que isso quer evidenciar? A escolha por um


determinado objeto nunca é em si um acaso, o objeto escolhido aliado à experiência subjetiva
demarca alguma espécie de sofrimento.
A fim de compreender o estado de sofrimento no qual o sujeito está submerso,
devemos contextualizar o ambiente em que ele vive, para conjecturar hipóteses que atuem em
favor do estado de desprazer. Já dizia Freud, em 1930, que a vida é demasiadamente penosa
para os sujeitos, pois nos lança a diversas situações de sofrimento, de frustração e a atividades
de difícil execução. Com o objetivo de tolerar o sofrimento, o ser humano se vê impelido a
fazer uso de “medidas paliativas” (Freud, 1930/1996b, p. 83). Dentre essas medidas,
destacam-se: “derivativos poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraça; satisfações
substitutivas, que a diminuem; e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a ela” (p.
83), sendo o uso de qualquer uma dessas medidas inevitável. Freud (1930/1996b) destaca que
as satisfações substitutivas, a arte, por exemplo, produzem ilusões que divergem da realidade
– embora não sejam menos eficientes que as demais, devido à função que a fantasia
desempenha no psiquismo –, ao passo que o uso de sustâncias químicas modifica a fisiologia
corpórea.
Ao citarmos o texto Mal-estar na civilização, inevitavelmente, incorremos a pensar no
questionamento de Freud (1930/1996b) sobre o que, afinal, buscam os homens e as mulheres.
Ao longo de nossa caminhada, dispendemos energia para atingir ideais de felicidade. O ser
humano busca ser feliz e assim continuar. Essa expectativa é vista sob dois ângulos: um
positivo e um negativo. O primeiro objetiva o desaparecimento do desprazer; o segundo
aspira por um sentimento acentuado de prazer. Para o autor, a felicidade somente estaria
atrelada ao último aspecto e se manifestaria de modo episódico, ela se originaria da satisfação
de demandas que estariam impedidas por forças de elevada intensidade. Nesse viés, a
felicidade só seria atingida/sentida devido ao contraste com dias de infortúnio e desprazer,
visto que, se vivêssemos todos os dias satisfeitos, não saberíamos identificar a satisfação.
Freud (1930/1996b) propõe que a infelicidade é um sentimento mais fácil de se
identificar e sentir. Ela nos intimida em três sentidos:

... de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode
dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode
voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de
nossos relacionamentos com os outros homens. (p. 84-85).
31

O autor destaca que, dentre essas três formas, a mais dolorosa é a advinda de nossos
relacionamentos. Assim, como forma de se precaver do sofrimento originário das relações
humanas, Freud (1930/1996b) aponta que alguns homens e mulheres se utilizam de
mecanismos defensivos de isolamento, para permanecer distante de outros sujeitos. Contudo,
aflitos pelas exigências do mundo externo, os sujeitos se distanciam dele, mas a saída de
enfrentamento para lidar com essa situação, apontada por Freud (1996b), é justamente pela
via da ciência, tecendo conhecimentos para a compreensão do que nos rodeia.
No que se refere aos quadros de intoxicação, Freud (1930/1996b) afirma que nenhum
sujeito ainda conhece ou compreende totalmente o seu mecanismo de atuação. O que se sabe,
é que algumas sustâncias geram sensações prazerosas em nosso organismo, alteram nosso
estado de sensibilidade e que, por determinada quantidade de tempo, afasta-nos de sensações
penosas ou da dor. Embora algumas dessas sensações só possam ser evocadas por meio do
uso de substâncias químicas, Freud considera que em alguns casos as percepções podem ser
alteradas sem o uso delas, o próprio organismo se encarregando dessa alteração. É o caso da
mania, cujo quadro se assemelha a de algum sujeito em estado de intoxicação. Além disso, o
organismo também se altera na liberação de prazer e desprazer no decorrer da vida. O autor
alega existir um “... lado tóxico dos processos mentais...” (p. 86) pouco estudado pela
comunidade científica.
Segundo Freud (1930/1996b), o uso dos materiais intoxicantes teria como função o
encontro com a felicidade e o distanciamento do desprazer. Esse atalho à felicidade seria com
frequência trilhado por ocupar um local dentro da economia psíquica. Ora, se o sujeito
consegue diminuir o dispêndio de energia e alcançar tal estado, por que se desgastaria para
obtê-lo de outro modo? Freud (1930/1996b) acrescenta à discussão:

Devemos a tais veículos não só a produção imediata de prazer, mas também um grau
altamente desejado de independência do mundo externo, pois sabe-se que, com o auxílio desse
‘amortecedor de preocupações’, é possível, em qualquer ocasião, afastar-se da pressão da
realidade e encontrar refúgio num mundo próprio, com melhores condições de sensibilidade.
Sabe-se igualmente que é exatamente essa propriedade dos intoxicantes que determina o seu
perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis, em certas circunstâncias, pelo
desperdício de uma grande quota de energia que poderia ser empregada para o
aperfeiçoamento do destino humano (p. 86).

Outra medida adotada pelo ser humano para se esquivar do sofrimento e encontrar a
satisfação, sem necessariamente necessitar do outro, é por meio da fantasia (Freud,
1930/1996b), em que há o afastamento da relação entre o sujeito e o ambiente externo, sendo
que a satisfação envolve o mundo interno de cada sujeito por intermédio desse recurso. Esse
32

mecanismo não envolve explicitamente conflitos internos, devido ao fato do mundo externo
pouco afetar/controlar sua manifestação. Como exemplo desse tipo de satisfação, Freud
(1996b) cita as artes, que permitem ao sujeito contemplador transpor limites do real pela
imaginação, porém, esse estágio é breve e não permite o esquecimento das angústias reais.
Aparentemente, a pornografia, dentro de uma perspectiva freudiana, poderia ser entendida
como uma medida adotada pelas pessoas para se afastar do sofrimento e funcionaria sob a
influência da fantasia como um amortecedor de preocupações.
Em suma, alguns sujeitos acreditam, erroneamente, ter encontrado a felicidade, por
justamente terem se livrado do desprazer oriundo de alguma situação cotidiana. Contudo, ao
acreditarmos nisso estamos envolvidos no modo de mecanismo primário de fuga diante de
uma situação aflitiva. Visando abster-se do sofrimento, o sujeito envolvido no vício pela
pornografia localiza a sua satisfação em processos mentais internos e se utiliza do caráter de
deslocamento da libido para fixar-se em objetos pertencentes à realidade, vinculando-se com
eles. Como resultado, ele estabelece uma relação emocional com o objeto, a fim de obter uma
sensação de felicidade.

3.3.O contexto contemporâneo e as (neo)adicções

De início, gostaríamos de explicar o motivo pelo qual o prefixo neo encontra-se entre
parênteses. Essa escolha possui embasamento em duas referências, que nos auxiliaram na
empreitada de pensar o vício em pornografia. A primeira referência é pautada nos
entendimentos de McDougall (1995/1997a) sobre as neo-sexualidades, pois ela utiliza esse
prefixo a fim de destacar as novas manifestações da sexualidade. Nas palavras da autora,

Para enfatizar o caráter inovador e a intensidade dos investimentos envolvidos, refiro-me às


heterossexualidades desviantes e às homossexualidades desviantes como “neo-sexualidades”.
Esta nomenclatura utiliza o conceito de neo-realidades, que são criadas por frágeis pacientes
fronteiriços numa tentativa ilusória – ou mesmo delirante – de encontrar solução para conflitos
esmagadores. Nos desvios, tanto heterossexuais quanto homossexuais, a necessidade de
reinventar o ato sexual habitualmente pode ser rastreada até acontecimentos infantis
perturbadores ou comunicações desencaminhadoras a propósito da identidade sexual, dos
papéis sexuais e dos conceitos de feminilidade e masculinidade (McDougall, 1995/1997a, p.
188, itálicos da autora).

A segunda referência foi baseada em Castelo Filho (2012), uma vez que ele pensa o
contexto atual permeado por antigas dificuldades vivenciadas pelo sujeito, mas que se
apresentam por meio de novas roupagens. Assim, partimos do pressuposto de que o vício por
33

determinados objetos, drogas, jogos, sexo, dentre outros, sempre existiu. O fato é que com o
passar dos anos, alguns sintomas ganharam outras roupagens, isto é, passaram a se manifestar
a partir de formas distintas. Embora o vício pela pornografia seja atual, é sabido que o ser
humano sempre se relacionou de forma patogênica com alguns objetos. O que nos intriga
nesse momento da pesquisa é compreender de que modo opera o psiquismo para se vincular
com determinado objeto. Nenhuma relação ocorre por acaso. O objeto buscado nunca é em si
apenas um objeto, pois ele representa associação de ideias, mecanismos psíquicos de
condensação e de deslocamento e conteúdos reprimidos. A tentativa de compreender o
fenômeno do uso abusivo de pornografia é nova, mas o campo das adicções não é. Esse
universo desperta o interesse da cultura e, em específico, da comunidade científica há muito
tempo.
Vivemos em um momento histórico marcado por ideais de consumismo,
individualismo (fluidez nas relações) e competitividade (Bauman, 2001). Como resultado dos
modos de relação propostos por nossa cultura, temos a construção de sujeitos narcísicos
(Freud, 1930/1996b). Explicando melhor, o atual contexto histórico exige do sujeito que ele
seja autossuficiente e que procure saciar suas necessidades e encontrar satisfações em si
mesmo, de forma solitária por meio de seus próprios processos mentais internos. Para esses
sujeitos, geralmente, a procura pela felicidade será dificultada, pois se faz necessário que os
componentes libidinais se transformem e disponham das mais variadas formas, objetivando
alcançar realizações.
Como o cumprimento de determinadas tarefas é dificultada para o sujeito narcísico,
ele recorre a satisfações substitutivas (Freud, 1930/1996b) por meio das neuroses, sendo que a
recorrência desse recurso pode resultar em quadros de intoxicação ou psicose. Nas palavras
do autor, o “... homem que, em anos posteriores, vê sua busca da felicidade resultar em nada
ainda pode encontrar consolo no prazer oriundo da intoxicação crônica, ou então se empenhar
na desesperada tentativa de rebelião que se observa na psicose” (Freud, 1930/1996b, p. 92).
De acordo com McDougall (1995/1997b), os sintomas psicológicos são iniciativas do
sujeito para se autocurar e afastar o sofrimento de si mesmo. As sexualidades sintomáticas
obedecem a esse mesmo princípio, o de distanciar-se do sofrimento e tecer tentativas de se
autotratar. Baseada em Freud (1915/2004a), McDougall (1995/1997b) concorda que, embora
existam essas tentativas de lidar com o desprazer, as resoluções dadas pelo sujeito que
envolvem a sintomatologia são respostas de cunho infantil ao conflito, à desorganização e ao
desprazer psíquico. Ela acrescenta que, durante a vida, buscamos resolver conflitos
inconscientes geracionais (de nossos pais) e que somos obrigados a lidar com as exigências e
34

problemas do cotidiano. Como consequência, procuramos criar estratégias de enfrentamento


aos obstáculos e criamos modos de permanecermos vivos e manifestarmos nossa sexualidade.
No geral, depois de encontrados modos de lidar com os conflitos, os sujeitos tendem a se
utilizar das mesmas respostas por toda sua existência.
Quando pensamos no sujeito envolvido com o acesso ininterrupto à pornografia,
principalmente, a pornografia on-line, constatamos, por meio dos depoimentos, um nível de
sofrimento intenso gerado devido a tal comportamento. São práticas que despertam conflito
interno, pois acontecem com frequência e, por fim, acabam sendo práticas exclusivas para a
obtenção de satisfação. Será essa a resposta que o sujeito deseja dar constantemente ao longo
de sua vida? Frente à angústia de estar vivo e com as constantes exigências externas, a
solução encontrada é a visualização de pornografia. Esse caminho nos parece um atalho para
se fugir do sofrimento, que embora prazeroso, é infantil, pois não envolve elaboração e
pensamento (Freud, 1900/1996d; Freud, 1930/1996b).
Algo que nos chamou a atenção em um dos depoimentos de um usuário de pornografia
foi o fato dele relatar que seu uso de pornografia on-line ocorre de modo semelhante a uma
“espiral da degradação”. Para tal sujeito, o início do uso do pornô não gera danos severos,
pois é “leve” e normalmente ocorre por intermédio da visualização da pornografia tradicional,
mas com o passar do tempo os gostos vão se alterando e caminham para o interesse em
práticas mais bizarras e exclusivas, por exemplo, fetiches, práticas de alargamento anal e
vaginal, zoofilia, dentre outras.
Segundo McDougall (1995/1997b), há uma parcela dos sujeitos que lidam com suas
práticas e preferências sexuais de modo egossintônicos – conforme os anseios do ego2 –
independentemente da concepção das pessoas ao seu redor. As mais distintas maneiras de
preferências sexuais somente se tornam um obstáculo quando os sujeitos enxergam na sua
forma de obtenção de prazer uma prática ou condição que gera sofrimento, logo, são sentidas
como egodistônicas, ou seja, conflitantes com os desejos do ego. Em alguns casos, a autora
exemplifica citando o caso de alguns homossexuais masculinos: os sujeitos, devido a um
emaranhado de normas sociais heterossexuais, sentem-se culpados ou com vergonha de suas
práticas sexuais, mesmo sendo somente aquele determinado objeto que lhes forneça
satisfação.

2
O conceito de ego na teoria freudiana esteve sempre presente desde o início de seu pensamento. Para sintetizar
uma breve explanação do conceito, recorremos a Laplanche e Pontalis (2001), que apresentam o conceito de ego
dentro de uma perspectiva tópica, dinâmica e econômica. O ego estaria vinculado às demandas do id, aos
mandos do superego e as imposições da realidade, respectivamente. Ele participa intensamente do conflito
neurótico, em que expressa suas defesas perante uma situação ou sentimento de angústia e pode assumir “um
aspecto compulsivo, repetitivo, desreal” (p. 124).
35

Usualmente, no caso da pornografia, o sujeito que sente sua prática como


egossintônica, não apresenta sentimentos de culpa ou vergonha excessivos após o uso. Nessa
situação, a pornografia atuaria como entretenimento e maximizaria e atualizaria elementos
que compõem a fantasia. Inferimos que o fato do sujeito não sentir sofrimento em assisti-la,
pode ser entendido por ele não enxergar nesse objeto uma única fonte de satisfação. Já no
caso do sujeito que sente sua prática como egodistônica (como no caso dos usuários cujos
depoimentos foram selecionados para esta pesquisa), compreendemos que ele manifesta esses
sentimentos após o uso de pornografia e enxerga nesse objeto uma fonte exclusiva de prazer e
satisfação. A própria fantasia, nesses casos, torna-se restrita e o viés do entretenimento se
transforma em compulsão.
McDougall (1995/1997b) atendeu alguns casos em que os desvios sexuais eram
complicados e qualquer tentativa de intervenção na ritualização da sua execução era vista com
elevada intensidade de aflição/angústia. Nessas ocorrências, as quais nos fizeram refletir sobre
a situação da adicção em pornografia, os sujeitos se viam impossibilitados de fantasiar de
forma livre sobre as possibilidades sexuais, as fantasias são sempre ritualizadas e repetidas. A
função da fantasia é a de concretizar no campo anímico o que se tem vontade de se fazer no
cotidiano, mas que é impedido por restrições morais. Dito isso, compreendemos que a
limitação em explorar o campo da fantasia, encontrada em sexualidades desviantes, revelam
problemáticas psíquicas na introjeção de figuras de amor.
Por esse viés, McDougall (1995/1997b) se baseará em Winnicott (1975) para supor
que esses sujeitos possuem alguma problemática envolvida em questões que tratam dos
objetos/fenômenos transicionais, pois essa adversidade possui como consequência a “...
falência na capacidade de criar livremente uma ilusão no espaço que separa um ser de outro e
na de usar uma variedade de ilusões para suportar ausência, frustração e demora” (p. 191).
Nesse ponto, ao resgatarmos o conceito de neossexualidade exposto no início do
presente tópico, questionamo-nos se o uso de pornografia seria de fato uma adicção ou uma
nova forma de manifestação neossexual. Nesse sentido, McDougall (1995/1997b) considera
que a economia psíquica domina a sua sexualidade. “Essa economia é frequentemente
marcada por um sentido de premência e compulsividade, dando a impressão de que suas vidas
sexuais cumprem o papel de uma adicção” (p. 189).
Nosso entendimento psicanalítico nos faz compreender que não estamos buscando
nessa pesquisa classificar quais atitudes ou preferências sexuais são ou não desviantes ou
perversas, mas analisar o contexto e a relação com o objeto que resulta em estado de
sofrimento, isto é, quando o sujeito está lançado a um quadro sintomático. Logo, destacamos
36

a existência de atitudes sexuais que são variações da sexualidade; contudo, existem outras de
caráter patológico.
Em relação às escolhas objetais, McDougall (1995/1997a) afirma que nenhum sujeito,
de fato, realiza sua escolha objetal conforme sua vontade, principalmente, quando se trata de
relacionamentos exclusivos e incontestáveis estabelecidos pelas neossexualidades adictivas
por meio do isolamento devido a um modo de vida enclausurado pelas inovações sexuais de
cunho autoerótico.

3.4.Por que a pornografia?

Em relação à modalidade de vício, já citada em momentos anteriores, mas não


argumentada de forma eficaz, McDougall (1995/1997a) discorre que a escolha por um
determinado objeto-droga não ocorre aleatoriamente, pois cada objeto elencado se liga com as
etapas do desenvolvimento psicossexual em que ocorreu alguma perturbação na formação dos
objetos internos que oferecem amparo. A partir do objeto-droga escolhido, buscamos
compreender o motivo dos sujeitos em terem elencado determinado objeto para fixar-se em
relação aos demais.
Sob a perspectiva de Costa (2013), alguns aspectos que se relacionam com a adicção
tornam-se importantes de se destacar e investigar, o primeiro seria a dinâmica envolvida na
adicção, que pode ser analisada por dois pontos: a vinculação do sujeito com o objeto e a
economia do narcisismo. O segundo aspecto gira em torno da investigação sobre os objetos
internos tóxicos/persecutórios que pertencem ao psiquismo de cada sujeito, pois por essa
perspectiva, a adicção seria uma maneira de tradução das relações objetais. Por último, Costa
(2013) pontua que “a dependência de drogas representaria a tentativa imaginária de encontrar
na realidade um objeto manipulável, equivalente, do ponto de vista fantasmático, ao objeto
interno “intoxicador”, que assedia incontrolavelmente o sujeito” (p. 85).
O que afinal procuraria o adicto por pornografia? Euforia, potência, amortecimento,
apaziguamento...? Os motivos são diversos e obedecem a cada individualidade. O que se sabe
é que há sujeitos que se nutrem de outros indivíduos, isto é, alguns sujeitos na circunstância
aditiva não optam por sustâncias, mas por seus semelhantes, a fim de nutrir seu próprio
narcisismo quando expostos a situações de ansiedade (McDougall, 1995/1997a).
McDougall (1995/1997a) considera que o uso da sexualidade de modo equivalente ao
de uma droga demonstra a busca por conter sentimentos agressivos e minimizar os impactos
da castração, uma ameaça “... de perda dos limites do ego ou sentimentos de morte interior.
37

Dessa maneira, os parceiros e os roteiros sexuais se tornam continentes para as partes


perigosas e prejudicadas do indivíduo adicto” (p. 204-205). Portanto, a pornografia poderia
funcionar como substituta dos objetos parentais introjetados que estão ausentes e são usados
para reconstituir as imagens parentais fragilizadas. Assim, o sujeito, por meio da adicção,
exerceria tentativas de reconstituição egóica e alimentaria a fantasia de que toda e qualquer
situação está sob seu controle onipotente. Também na fantasia é representado o episódio
fusional do sujeito com o seu objeto interno tóxico, por intermédio do objeto-droga (Costa,
2013).
McDougall (1995/1997a) assegura que ao longo do trabalho psicanalítico com
pacientes adictos, estes demonstram estados emocionais primitivos atravessados por aspectos
sádicos e acentuado erotismo em condutas sexuais orais e anais. Nessa via, compreendemos
que o exposto por McDougall (1997) e Freud (1930/1996b) se direciona no sentido de
compreender que o uso de qualquer objeto-droga tem como intuito amortecer as sensações
desprazerosas da vida e se relacionam, principalmente, com falhas e ausências da figura
materna. Nesse sentido, Gurfinkel (1995) também se volta a essa questão do cuidado na
tentativa de tecer alguma explicação para a adicção.
McDougall (1995/1997a) investiga a economia psíquica envolvida nas sexualidades
criadas para suprir o papel de um objeto adictivo. Quando, brevemente, resgatamos os escritos
de 1905, encontramos que Freud (1905/1996e) propunha que a princípio o bebê necessita se
distanciar do objeto de amor (cuidadores) para ingressar na satisfação autoerótica, isto é,
sentir prazer por meio de seu próprio corpo e suas respectivas zonas erógenas (anal, oral...) a
fim de que posteriormente alcance a etapa objetal, quando passa a investir sua libido em outro
objeto – outro sujeito.
O primeiro momento de vida, quando o bebê não se distingue da mãe, McDougall
(1995/1997a) denominou como atividade anaclítica. Existem casos que o sujeito, apesar de ter
uma idade avançada, tende a se utilizar de outro ser humano do mesmo modo quando era
recém-nascido em consequência de ausências, excessos ou falhas de seus cuidadores.
McDougall (1995/1997a), baseada no conceito de neosexualidades, deriva a noção de
neonecessidades. Nessas, "... o objeto, o objeto parcial ou as práticas sexuais são buscados
incansavelmente, à maneira de uma droga" (p. 198). Logo, esses sujeitos recorrem às práticas
sexuais com objetos fetichistas ou exclusivas com frequência, fator que configura um
comportamento aditivo.
De acordo com McDougall (1995/1997a), todos os sujeitos são propensos a ingressar
em uma relação adictiva, pois quando somos lançados a situações que ultrapassam nossa
38

capacidade de compreender e agir em momentos de demasiada aflição ou estresse, buscamos


recursos externos, como cigarro, bebida, comida, entre outros, com a finalidade de nos
esquivarmos da tensão.
Na concepção de Ceccarelli (2011a), a adicção é resultado de um modo de
funcionamento psíquico ao qual o sujeito está submetido. Nas palavras do autor, “uma
dinâmica marcada pelo excesso de patos, de paixão, que leva ao sofrimento” (p. 70). Com o
intuito de minimizar o sofrimento e a angústia originados por esse excesso, o comportamento
adictivo se manifesta e possui uma atribuição na dinâmica psíquica: o entorpecimento do
sofrimento e a fuga do desprazer. Portanto, a conservação de um estado capaz de reduzir o
sofrimento nos torna sensíveis a suportar situações adversas.
McDougall (1995/1997a) conclui, na mesma linha de pensamento que Ceccarelli
(2011a), que o objetivo da situação adictiva é justamente esquivar-se do sentir. A autora não
chegou a essa conclusão por acaso. A fim de compreender o comportamento adictivo, ela
mesma, tabagista, ao longo de seu trabalho, optou por parar de fumar e nos revelou em seu
texto que “De fato, compreendi que eu criava uma cortina de fumaça por cima da maioria de
meus estados afetivos, neutralizado dessa maneira ou dispersando uma parte vital de meu
mundo interior” (p. 200). Esse trecho, trouxe-nos a hipótese de que além do comportamento
adictivo servir para mascarar um estado de grande tensão, a escolha pelo objeto-droga ou
objeto-adictivo nunca é aleatória. A fumaça expelida pelo cigarro escondia os sentimentos da
autora. E os viciados em pornografia, qual seria a relação do usuário com o objeto?
Winnicott (1956/2000;1975), ao longo de sua obra, debruça-se, principalmente, sobre
a relação entre a mãe e o bebê/criança com o objetivo de criar hipóteses acerca da constituição
e da dinâmica psíquica. Para o autor, a mãe suficientemente boa, a princípio, envolve-se em
uma relação fusional com seu filho, sendo que essa simbiose tende a dissolver-se ao passar de
algumas semanas. Contudo, há casos em que a mãe não consegue desfazer-se dessa
vinculação, o que pode configurar uma situação patológica para o bebê. Nessa relação, a mãe
possivelmente irá projetar em seu filho elementos ansiógenos que a constituem, e como o
recém-nascido não possui capacidade de discernir e suportar essa situação, incorporará as
demandas e sofrimentos maternos. Cabe a ressalva de que é importante para a criança ser
investida com afetividade ser estimulada em suas zonas erógenas para que ela possa se
desenvolver de forma devida.
De acordo com Winnicott (1975), à medida que a relação entre a mãe e o bebê se
mantém fusional, o desenvolvimento dos fenômenos e dos objetos transicionais se limitam,
uma vez que a mãe não permite ao seu filho que ele crie seus próprios recursos psicológicos
39

para lidar com a tensão. Em decorrência desse fato, o bebê não desenvolve mecanismos para
compreender a situação de estar só. Dessa forma, diante de qualquer circunstância aflitiva, o
recém-nascido procurará pela mãe, por não possuir recursos para enfrentar tal solicitação
externa. Nesse sentido, McDougall (1995/1997a) infere que a mãe com ansiedades, aflições e
desejos transmite ao seu filho seus próprios conteúdos e seu medo de estar só, o que resulta
em uma relação de dependência.
Sendo assim, a autora pontua que, no desenvolvimento dessa criança, a capacidade de
lidar com situações de desprazer ou excitação ficará limitada, visto que ela não obteve
recursos para organizar e constituir a figura maternal. Diante dessa desorganização, a criança
não consegue construir recursos para apaziguar suas próprias tensões. A ausência de objetos
internos adequados a leva a empenhar-se na procura por elementos que substituam essa
carência. Ao se deparar com os objetos-droga, encontra neles o escape para minimizar o
desprazer psíquico e também sua própria autonomia. McDougall (1995/1997a) afirma que

Desse modo, as drogas, a comida, o álcool, o fumo, etc. são descobertos como objetos que
podem ser empregados para atenuar dolorosos estados mentais – preenchendo uma função
materna que o indivíduo é incapaz de proporcionar a si mesmo. Esses objetos adictivos tomam
o lugar dos objetos transicionais da infância, os quais corporificavam o ambiente materno e, ao
mesmo tempo, liberavam a criança da dependência total da presença da mãe (p. 201-202).

No entanto, os objetos transicionais são soluções encontradas que se desenrolam em


um crescimento positivo, em termos de organização psíquica, enquanto que as soluções
aditivas não corroboram para o amadurecimento psíquico, pois são uma medida paliativa.
Embora o alívio seja temporário, há diminuição da tensão, e isso justifica a procura
compulsiva pelo objeto.
Em suma, compreendemos que frente aos traumas vivenciados pelos sujeitos nos
primeiros estágios da vida, a solução encontrada para a sobrevivência psíquica trilhou alguns
caminhos, dentre eles a adicção em pornografia. Nesse estado, compreendemos que atitudes
sádicas são dirigidas ao próprio sujeito, principalmente, por meio do mecanismo psíquico da
fantasia. Embora os sujeitos envolvidos estejam em uma situação de sofrimento, são capazes
de simbolizar e buscar recursos externos para suprirem suas demandas internas, mesmo que
de forma insuficiente.
Destinamos a seguinte seção dessa dissertação para realizar uma breve
contextualização história a respeito da pornografia, bem como, evidenciar alguns
desdobramos atuais em decorrência de seu uso e apresentar algumas concepções teóricas
sobre esse fenômeno.
40

4. A PORNOGRAFIA: ALGUNS DESDOBRAMENTOS HISTÓRICOS E ATUAIS

Antes de iniciarmos a apresentação das análises de categoria elencadas por temáticas,


faz-se necessário, primeiramente, realizar uma revisão teórica do que foi produzido na área
sobre a pornografia, principalmente dos trabalhos que envolvem um viés psicanalítico. As
plataformas de pesquisa consultadas foram: CAPES, BVS PSI, INDEXPSI e PSYCINFO.
Assim, para executarmos posteriormente as análises de categoria, apresentaremos nesta seção
um panorama inicial sobre a história da pornografia e algumas concepções; em seguida,
destacaremos a visão da psicanálise sobre a pornografia.
A presente exposição leva em consideração as dinâmicas pulsionais que constituem os
direcionamentos traçados pela sexualidade na cultura em que se inscreve, aqui propriamente
voltada ao Ocidente, especialmente, na perspectiva do inconsciente. Vale ressaltar que não
compreendemos que a pornografia seja em si mesma algo negativo ou positivo. Assim, a
proposta deste tópico é entender o papel social que ela ocupa a partir do julgamento de nossa
própria cultura.

4.1. A pornografia em construção

Historicamente, Leite (2012) afirma que no século XIX, nas ruínas de Pompeia,
arqueólogos italianos descobriram vários objetos e imagens sexuais. O museu de Nápoles
optou por manter os registros, mas afastá-los do acesso de crianças, mulheres e de homens
incultos, na época consideradas pessoas pouco instruídas. O setor que detinha tais registros foi
nomeado por “gabinete de objetos obscenos” (p. 101-102). Em 1819 e, posteriormente, em
1823 o nome do setor foi alterado para “gabinete de objetos reservados” (p. 102). Em 1860,
influenciado por Alexandre Dumas, o conjunto foi denominado por “coleção pornográfica”, o
que originou a expressão pornografia, cujo significado remete aos escritos sobre prostitutas
que narram os seus costumes e de seus clientes (Leite, 2012).
A pornografia não se originou como uma categoria científica, sendo difundida no
senso comum e cultivada pelo comércio midiático. No século XIX, foram criadas produções
literárias e visuais pornográficas que representavam a sexualidade humana. O que se produzia
era comercializado para obtenção de lucro; contudo, somente determinada parcela da
população tinha acesso ao material (Leite, 2012). Nessa configuração,
41

Sendo um discurso sobre sexo sob a lógica da espetacularização, a pornografia visa atingir,
antes de tudo, não a constância da razão abstrata, mas a fugacidade das reações físicas, sendo
um tipo específico de produto mal-afamado por ser considerado “sensacionalista”, ou seja, que
visa estimular as sensações corporais. A pornografia nasce como uma forma de classificação
socialmente reconhecida, mas cientificamente indefinida, sob o viés da cultura de massas e do
entretenimento (Leite, 2012, p. 103).

Assim, consideramos que a pornografia foi, ao longo da história, marginalizada por


instigar reações do corpo. Tais reações são mal-afamadas justamente porque se opõem à
moral, composta principalmente por princípios judaico-cristãos.
Conforme Foucault (1976/2009), e também visto em Ariès (1985), até o século XVII
perdurava-se certa abertura em relação à sexualidade. O exercício da sexualidade não
necessitava de sigilo, “as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem
demasiado disfarce... Eram frouxos os códigos da grosseria, da obscenidade, da decência, se
comparados com os do século XIX” (p. 9). Foucault (1976/2009) considera que o período
vitoriano (1837-1901) foi de intensa repressão à sexualidade, quando a própria família marital
nega a disseminação de discursos sobre o tema e concebe as relações sexuais apenas como um
mecanismo de procriação.
Dessa forma, a família proíbe que qualquer assunto relacionado à sexualidade seja
debatido e impõe discrição e mistério. Assim, diferentemente da lei que interdita determinada
atitude, a família usa de repressão, a qual, nas palavras de Foucault (1976/2009) “funciona,
decerto, como condenação ao desaparecimento” (p. 10), pois a respeito desse assunto “não há
nada para dizer, nem para ver, nem para saber” (p.10).
Todavia, tamanha repressão necessita de algum lugar para se manifestar. Assim, essa
manifestação se daria nos lugares de produção que visam ao lucro, aponta Foucault
(1976/2009), como a prostituição e a prática psicanalítica. Além desses lugares, pensamos e
destacamos a pornografia, pois ela revela o que não é dito, visto ou sabido. Foucault
(1976/2009) descreve que, desde o período clássico, a repressão esteve ligada diretamente ao
poder, ao saber e à sexualidade e que ela somente poderia ter a possibilidade de se expressar
por meio de pagamento com alto custo.
Para a apropriação entre esses elementos, faz-se necessário “uma transgressão das leis,
uma suspensão das interdições, uma irrupção da palavra, uma restituição do prazer ao real, e
toda uma nova economia dos mecanismos do poder; pois a menor eclosão de verdade é
condiciona politicamente” (Foucault, 1976/2009, p. 11). Ademais, Foucault (1976/2009)
indica que o início de um período repressivo ocorreu no século XVII, coincidentemente, com
a extensão da política capitalista. Falar sobre sexualidade requer que se dialogue sobre a
42

repressão, e essa discussão em si abarca uma modalidade de transgressão às normas, já que as


mulheres e homens que falassem a respeito desse assunto estariam incitando a desordem e a
libertação.
Assim, a moral vitoriana pregava o pudor – tudo que envolvesse o sexo deveria ser
banido. A justiça inglesa do século XIX denominava como pornografia toda temática que
objetivasse corromper a moral dos jovens e ofendesse a decência. Na arte, o que se mostrasse
como chocante, ou corruptor, era censurado (Branco, 1994). Segundo Moraes e Lapeiz
(1985), em contrapartida à moral rígida, a recém-descoberta da fotografia criou um terreno
fértil para o florescimento da pornografia, ocorrendo, no século XIX, sua explicitação e
disseminação.
Conforme Moraes e Lapeiz (1985), no século XIX são editadas clandestinamente as
primeiras revistas e almanaques pornográficos de forma ilustrada. A partir desses novos
recursos audiovisuais, o crescimento da produção pornográfica foi intensificado. Em 1802
originou-se na Inglaterra a “Sociedade para a Supressão do Vício” (p. 126) na tentativa de
barrar o comércio do material pornográfico. Como consequência, o tráfico de pornografia
invadia os lugares e as instituições, pois o elemento que planeja ser encoberto gera no homem
e na mulher a curiosidade e a necessidade de desvendar o mistério que ali se esconde.
Moraes e Lapeiz (1985) afirmam que a pornografia é um fenômeno enxergado,
debatido e perpassado por discursos carregados de valores morais. Nesse sentido, segundo
Leite (2012), a pornografia sempre foi desqualificada socialmente, visto que ameaça ferir
tabus morais e sociais. Ela é taxada como algo vulgar e perigoso, pois o que não é tido como
expressão legítima da sexualidade por meio da religião, da filosofia ou da estética vigente é
algo degradante ao ser humano. Por esse motivo, de início, a pornografia era um negócio
clandestino que somente foi legalizado, na maior parte dos países ocidentais, a partir do
século XX, da década de 70. Todavia, verificamos que no cenário contemporâneo ela ainda é
encarada pela sociedade com descrédito, ou seja, é culturalmente ilegítima.
No século XX, a pornografia se disseminou com mais intensidade, principalmente
depois dos anos 50. Moraes e Lapeiz (1985) reconhecem que a indústria pornográfica
propiciou a erotização da vida sexual, isto é, evidenciou novas modalidades sexuais e
maneiras de performance sexual. Assim, devido ao desenvolvimento do cinema erótico e da
fotografia, Lipovetsky (2005) considera que a partir desse fato houve uma grande explicitação
da máquina sexual humana. Em decorrência disso, os relacionamentos de sedução e o mistério
desaparecem de forma a evidenciar a relação sexual em uma espécie de deboche repetitivo.
Contudo, segundo o autor, podemos olhar a pornografia sob outro olhar, pois ela pode ser
43

enxergada como uma imagem de sedução, que refuta a ordem arcaica da Lei e do Proibido.
Na pornografia, tanto a censura quanto a repressão são abolidas em prol de tudo se ver, ouvir
e sentir. Lipovetsky (2005) assegura que o fato da pornografia ser compreendida somente
como indústria e por facetas negativas demonstra resquícios de moralismo.
Ainda de acordo com Lipovetsky (2005), no campo do sexo, algumas pessoas estão
procurando novos dispositivos e novas formas de manifestação e utilização de seus corpos.
Para o autor, a pornografia, assim como os movimentos sociais de liberação sexual
(feminismo, por exemplo), visa à despadronização e à subjetivação do sexo pelo sexo. O atual
cenário pornográfico promove a manifestação da diversidade libidinal, a qual o autor nomeia
como self-service libidinal, pois,

...o corpo e o sexo se tornam instrumentos de subjetivação-responsabilização; é preciso então


acumular experiências, explorar o próprio capital libidinal e inovar nas combinações.... Dessa
maneira, produzimos um sujeito não mais pela disciplina, mas, sim pela personificação do
corpo sob a égide do sexo.... (Lipovetsky, 2005, p. 13).

Em resposta à afirmação de Lipovetsky (2005), de que a pornografia pode ser


entendida positivamente por meio da transgressão às normatizações, verificamos que isso
pode gerar estranhamento ao leitor. A falta de pesquisas na área nos faz, por vezes, repudiar
esse modo de expressão humana como um mecanismo defensivo diante do diferente. Guerra,
Andrade e Dias (2004) acreditam que há no Brasil poucos estudos que tratam desse tema, o
que torna complexo o entendimento sobre o significado da pornografia, visto que é um termo
historicamente e culturalmente construído e repudiado. Nessa via, para compreendermos a
pornografia, consideramos pertinente expor algumas diferenciações e equiparações entre os
seguintes termos: erotismo, pornografia e obscenidade.
Para Branco (1994), o conceito de pornografia se modifica conforme se transforma o
cenário no qual está inserido. Ao definirmos esse conceito, corremos o risco de não englobar
variantes importantes. Assim, distinguir a esfera da pornografia da esfera do erotismo é algo
problemático e perigoso, pois à medida que diferenciamos os termos estamos categorizando a
sexualidade humana e a excitação. Geralmente a noção de erotismo está vinculada a algo
culto e erudito, enquanto que a pornografia está relacionada a uma produção industrial
desprovida de erudição. Todavia, há algo de específico em cada conceito, o que nos permite
esboçar uma diferenciação.
De acordo com Branco (1994) e Moraes e Lapeiz, (1985), a palavra erotismo foi
cunhada no século XIX e provém da mitologia grega, de Eros, o deus do amor, o qual objetiva
44

a aproximação, a união e a perpetuação dos seres vivos. Ao longo da história, o erotismo


abarcou uma carga de enobrecimento e grandiosidade – sexo implícito – enquanto que a
pornografia seria algo vulgar e grosseiro – sexo explícito. O primeiro não revelaria
explicitamente os conteúdos sexuais, já a pornografia os exploraria incansavelmente. Essa
diferenciação se mostra problemática na medida em que o erotismo se mostra sublime por
esconder e camuflar a sexualidade e a pornografia seria indecorosa justamente por revelar o
sexo e a nudez (Branco, 1994).
Branco (1994) considera que os conteúdos pornográficos transmitem princípios de
mutilação do ser, o que provoca um entendimento do ser humano como um ser fragmentado,
isto é, um ser humano exclusivamente corpóreo e desprovido de afetividade. Essas noções
embasam condutas sexuais que resultam em prazer parcial e solitário por meio da
masturbação. Nesse viés, o uso da pornografia não promoveria satisfação total e libertação das
amarras sociais. Já o erotismo teria o compromisso de desprender o sujeito da moralidade e
auxiliar na satisfação do desejo do sujeito.
Alguns autores como Guerra, Andrade e Dias (2004) consideram que a pornografia é
uma representação erótica do comportamento humano que se manifesta por meio de livros,
imagens, filmes, dentre outros, os quais possuem como objetivo gerar excitação sexual. Dessa
forma, atribuem à pornografia o adjetivo erótico. Já para Parreiras (2012), não cabe definir o
que é pornografia ou erotismo, uma vez que ambos são conceitos construídos historicamente e
culturalmente, a partir de distintas posições de poder, o que caracteriza que ambos não
possuem um significado intrínseco, estando sempre em modificação. Ainda, Moraes e Lapeiz
(1985) afirmam que, independente da distinção entre pornografia e erotismo, ambos estão
ligados diretamente à sexualidade e possuem como objetivo despertar em seu consumidor o
desejo sexual.
Diante das várias exposições sobre o que seria a pornografia, selecionamos as mais
frequentes, porém compartilhamos da mesma denominação que será apresentada por Leite
(2012). De acordo com o autor, a classificação pornografia refere-se a um modo encontrado
de organizar e selecionar as produções culturais que se relacionam à temática da sexualidade.
Dessa maneira, a pornografia articula-se com o momento histórico e com as ideias que a
designaram. O autor caracteriza como pornografia “... todo tipo de produção escrita, musical,
plástica ou audiovisual que seja voltada para um mercado próprio e que tenha como principal
objetivo a obtenção do lucro econômico através da excitação de seu público consumidor”
(Leite, 2012, p. 101).
45

Ao recorrermos ao dicionário Novo Aurélio: O dicionário da Língua Portuguesa


(1999) para compreendermos o que significa a pornografia, encontramos que esta designa um
discurso sobre a prostituição que abrange desde figuras, fotografias, filmes, espetáculos, obra
literária ou artes que discutem e tratam de assuntos obscenos ou licenciosos com intuito de
movimentar a sexualidade do sujeito. Nesse caso, tem como sinônimos os termos libidinagem
e devassidão, sendo a última intimamente relacionada com a libertinagem (Ferreira, 1999).
Segundo Moraes e Lapeiz (1985), a libertinagem é aludida ao imperativo do erótico,
explicita e evidencia o sexual por meio do estímulo aos corpos. Produz-se uma sexualidade
mediada pelo consumo, principalmente de materiais pornográficos (revistas, sex shops, vídeos
etc.), que fixa novos parâmetros de transgressão baseados na produção e consumo.

Essa ordenação do obsceno vai implicar numa delimitação do que seja pornografia, e seja o
que for deve sempre parecer proibida. É como interdito que ela deve ser consumida, pois ela
dá forma discursiva e vazão catártica às fantasias reprimidas de seus consumidos,
transformando seus fetiches em desenhos (Moraes e Lapeiz, 1985, p. 46-47).

Moraes e Lapeiz (1985) apontam como obscenidade os elementos que fogem à


normalidade do dia a dia, situação em que se encontram ocultos; ou seja, no cenário obsceno,
é explicitado o que estava encoberto. Por exemplo, o sexo não deve adentrar ao espaço
público, mas permanecer na esfera do privado. A pornografia engloba o sexo, sendo assim,
teria como intuito difundir elementos de cunho obsceno, isto é, exibir o que deveria ser
camuflado – o sexo. Portanto,

A exibição do indesejável: o sexo fora de lugar. Espaço do proibido, do não dizível, do


censurado: daquilo que não deve ser, mas é. A pornografia grita e cala, colocando lado a lado
o escândalo e o silêncio. É nesse jogo de esconde-esconde que encontramos o seu sentido, mas
é também por causa dele que se torna difícil defini-la (Moraes e Lapeiz, 1985, p. 9).

Assim, ao procurarmos o significado de obsceno em Aurélio (1999), conforme


apresentado anteriormente, encontramos que essa palavra designa algo que fere o pudor,
resultando em impureza e desonestidade. Produções obscenas seriam entendidas como
aquelas que excitam, mas também incitam sentimentos de vergonha, culpa e asco, causando
mal-estar psicossocial devido aos atos que se relacionam diretamente com o sexo.
Além disso, a obscenidade, segundo Havellock Ellis (s/d citado por Abreu, 1996), teria
como significado “fora de cena” (p. 18); isto é, aquilo que foge e se esconde aos padrões
diários do comportamento humano. Logo, a obscenidade consistiria em trazer para a cena
algum elemento que deveria estar fora dela, atuando por meio da transgressão. Outra
46

concepção apresentada por Lopes (2013), que se baseou no Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, é a de que o termo obsceno provém do
latim obcenu, algo que atinge a moral por meio de insinuações sexuais.
Frente ao que foi apresentado, adotaremos a visão de que a pornografia é um modo
encontrado de organizar e selecionar as produções culturais que se relacionam à temática da
sexualidade. A pornografia é um fenômeno histórico que engloba o erotismo, uma vez que
ambos compreendem uma gama de expressões humanas em movimento que se manifestam
em forma de vídeo, filme, fotografia, obras de arte, literatura, áudio e apresentações teatrais,
cujo intuito é instigar reações corporais sexuais por meio do desnudamento do corpo, das
perversões sexuais ou da referência à subversão de valores social e culturalmente construídos,
isto é, o estímulo sexual por intermédio do obsceno (elementos socialmente repudiados: o
desnudamento do corpo, a exibição dos genitais etc., isto é, tudo que não deveria ser
evidenciado na esfera pública).
Verificamos que o cenário midiático, composto por livros, revistas, jornais, anúncios,
internet, dentre outros, está repleto de conteúdos pornográficos que se referem diretamente ao
âmbito sexual. Moraes e Lapeiz (1985) consideram que, embora a pornografia não tenha uma
designação sistemática de significado no que se liga à linguística, ela está nas localidades e
invade os espaços, é mostrada e ao mesmo tempo escondida.
O cenário midiático que foi contemplado na presente pesquisa refere-se ao apogeu da
internet, que se consolidou a partir da década de 90. De acordo com Gaspar e Carvalheira
(2012), por meio do desenvolvimento da internet, novas formas de manifestação da
sexualidade emergiram juntamente com a difusão de conteúdos pornográficos, pois para
consumir pornografia não é necessária uma identificação prévia, mantendo, assim, o
anonimato do usuário. Segundo as autoras, considerando os dados apresentados pelo site de
estatísticas “Internet Filter Review” (p.164), 25% de todas as buscas on-line dizem respeito a
sites de conteúdo pornográfico, enquanto que 35% de todos os downloads realizados são de
origem pornográfica.
Para Parreiras (2012), pesquisas revelam que cerca de 40% das atividades realizadas
pela internet envolvem materiais pornográficos. A partir do desenvolvimento das novas
tecnologias, tornou-se mais simples e fácil a produção de material erótico e/ou pornográfico.
Como consequência, potencialmente qualquer pessoa pode ser produtora de conteúdos na
rede. Ante a essa possibilidade, averiguamos que houve notório crescimento do conteúdo
pornográfico, principalmente de vídeos amadores, pornografia mainstream (tradicional),
interações via webcam, pornografia altporn (categoria de pornô alternativo, em que as pessoas
47

envolvidas possuem modificações corporais como piercing e tatuagens ou pertencem a grupos


sociais como punks, góticos, dentre outros), pornografia kink (fetichista) e pornografia
feminista.
Young (1996) e Cooper, McLoughlin e Campbell (2004) afirmam de modo
correspondente em seus textos que, a partir do desenvolvimento da internet, originou-se uma
nova espécie de comportamento aditivo (Internet Addiction), consolidando um novo vício, o
de praticar o sexo on-line. Griffiths (2000) discorre que a dependência da internet pode ser
considerada como uma dependência tecnológica, cujos sintomas apresentam-se como:

Adicção cibersexual: uso compulsivo de sites adultos para cibersexo e ciberpornô. Adicção em
relacionamentos do ciberespaço: envolvimento excessivo em relacionamentos virtuais.
Compulsão pela internet: uso on-line obsessivo de jogos, compras ou investimentos no
mercado. Sobrecarga de informação: compulsão por navegação pela web ou em pesquisas em
banco de dados. Adicção em computador: obsessão por jogos de computador (p. 539, tradução
nossa)

Cooper et al. (2004) consideram que a internet é um veículo atrativo para o


comportamento sexual aditivo, devido a três fatores: acessibilidades, preço-custo e garantia de
anonimato. Assim, compreendemos que a acessibilidade se refere aos sites serem disponíveis
a qualquer momento do dia. Quanto ao preço-custo, ele diz respeito aos sites serem, em sua
maior parte, gratuitos; e no que concerne ao anonimato, a identidade do usuário é reservada.
Desse modo, tais fatores favorecem a adicção em pornografia on-line naqueles indivíduos que
possuem tendência ao vício, pois satisfazem as necessidades de maneira imediata.
Lanzarin (2000) concebe que a rede possibilita aos usuários o anonimato, assim como
um baile de máscaras. As máscaras, ao longo da história, eram utilizadas em eventos festivos
para realização do entretenimento sem reconhecimento da identidade, preservava o sujeito do
olhar social e possibilitava a imersão de novas formas de ser e de manifestar a sexualidade
para realização de seus desejos e fantasias.
Assim, sem a máscara não se pode viver de forma plena essa multiplicidade sexual
para realização do desejo. Tal condição parece estar subjacente aos sujeitos que buscam no
ciberespaço uma forma de satisfazer suas vontades, longe da censura e das normas sociais.
Assim como o uso de máscaras, os pseudônimos se tornam elementos comuns aos
frequentadores dos ambientes virtuais, principalmente naqueles relacionados à pornografia.
Segundo Lanzarin (2000), a rede virtual atua sobre os sujeitos, pois modifica os modos
de tratamento ao lidar com a fantasia. As fantasias são impulsionadas pelas frustrações sociais
diárias e, da mesma maneira como ocorre no sonho, a fantasia manifesta a realização de um
48

desejo ao buscar a satisfação, sendo uma produção inconsciente que não depende de
cronologia ou racionalidade.
A partir do espaço aberto nos meios midiáticos que visam tratar da questão da
sexualidade, emergem inúmeras indagações a respeito da influência do material pornográfico
na vida das pessoas, tanto em crianças e adolescentes como em adultos, principalmente por
seu caráter prazeroso e de entretenimento. Nesse sentido, Moraes e Lapeiz (1985) afirmam
que a “pornografia é diversão que se esgota rápido e que exige mais, sempre mais, deixando
quase nada de lembrança, só a vontade de querer novamente. Delicioso vício e viciada
delícia...” (p. 15). As autoras comparam a pornografia com os jogos eletrônicos: ambos
conduzem os personagens envolvidos para outra localidade de espaço e tempo e afetam os
sentidos humanos, devido ao impacto na visão, na audição e no tato (movimentos repetitivos).
Ainda de acordo com Moraes e Lapeiz (1985), assim como no uso do videogame, a
pornografia promete ser uma diversão solitária de prazer efêmero. Em uma fase de um jogo
de aventura no videogame, o usuário conhece, ou se esforça por descobrir, os caminhos que
levam ao prazer de terminar uma etapa do jogo escolhido. E quando se cansa do jogo ou este
se torna monótono, o usuário troca o jogo em busca de novas aventuras. No caso da
pornografia há um funcionamento semelhante, que leva o usuário a procurar por novas
aventuras, ou personagens, apesar da história ser igualmente conhecida.
Guerra, Andrade e Dias (2004) demostraram que existem tanto aspectos positivos
quanto negativos do uso da pornografia. Dentre os negativos, destacamos a constante procura
por corresponder ao padrão estabelecido pela indústria pornô, que não equivale
necessariamente à realidade do cotidiano. Pelo lado positivo estaria a alimentação de fantasias
e a busca de melhor performance nas relações sexuais com seus parceiros, isso quando a meta
é o prazer pelo contato com outra pessoa, não gerando isolamento e alienação.
Na visão de Moraes e Lapeiz (1985), a pornografia revela às pessoas o que lhe é
culturalmente digno de vergonha e proibido, exibindo o obsceno em um rito solene ao prazer.
Como a pornografia trata da exibição do obsceno, ela traz consigo um traço da perversão em
específico – o voyeurismo. O consumidor não é personagem do roteiro, é uma pessoa que
observa os acontecimentos, sem estar efetivamente envolvido com a produção das cenas, mas
participando delas, pois exerce uma prática que também infringe algo que devia estar mantido
fora da esfera pública, isto é, participa da violação de um segredo. O material pornográfico e o
consumidor são cúmplices desse ato. É como se houvesse um contrato de cumplicidade entre
o consumidor, o produtor e os personagens, que não é de cunho intelectual (Moraes & Lapeiz,
1985).
49

Tal condição nos leva a pensar em um acordo inconsciente com o objeto – no caso a
pornografia, o material pornográfico –, em que o sujeito se identifica com o objeto pela
repetição, podendo chegar a se tornar um vício, uma compulsão. As cenas geralmente se
focalizam nas repetições, seja de enredos, de filmagem dos genitais, seja do movimento
sexual de penetrar e retirar. Em consequência, o acúmulo de situações semelhantes provoca
identificação parcial pelo sintoma. Durante o uso do material, o sujeito não se sente só, pois
existem outros na cena, mesmo que de modo virtual e sem contato. Entretanto, após o gozo, a
realidade de sua solidão é evidenciada e o sujeito percebe que está só (Cole, 2011; Freud
1920/1996a; Moraes & Lapeiz, 1985).
Ao considerarmos que o uso e o contato com a pornografia ocorrem majoritariamente
de modo solitário, não é possível que ela seja consumida e/ou experimentada pelos sujeitos da
mesma forma, ainda que o conteúdo possa ser semelhante. Moraes e Lapeiz (1985) supõem
que cada vivência ocorre de forma particular na fantasia de cada sujeito e cada pessoa possui
seus recursos para lidar com as proibições internalizadas e com o medo de transgredi-las.
A partir do que foi exposto, compreendemos que a cultura cria repertórios de ritos e
costumes para execução das práticas proibidas, a fim de atender as demandas reprimidas do
sujeito, tidas como animalescas. Nesse ponto, questionamos se a pornografia seria uma forma
de ordenamento social que possibilita a transgressão, pois a procura pela pornografia revelaria
uma maneira de realização do desejo pela imaginação, que transpõe os limites da realidade e
os empecilhos diários.
Diante disso, lançamos a ideia de que o consumo de material pornográfico pode trilhar
dois caminhos: um que impulsiona a imaginação e a vida, ao tecer novas perspectivas na
esfera sexual, pois, ao colocarmos em cena o proibido e a transgressão, estaríamos
impulsionando e nutrindo o desejo; e outro, de interesse para a presente investigação, que é o
caminho do vício, da compulsão, da adicção, que inibe a criatividade e limita as formas de
obtenção do prazer e de construção de vínculos.

4.2. A pornografia e a Psicanálise

Inicialmente, gostaríamos de destacar que diferentemente do que será


majoritariamente exposto neste trabalho, em função do seu objetivo, não são todos os autores
que possuem uma visão exclusivamente negativa da pornografia. Alguns, pelo contrário,
acreditam que a pornografia surge como uma forma de libertação da sexualidade. Escoffier
(2011), por exemplo, considera que o desejo não é um elemento construído subitamente, mas
50

que se constrói a partir da fantasia; somente por meio da fantasia é possível ao sujeito desejar.
Para o autor, a pornografia nos habilita a conhecer e experimentar novas fantasias. Ela pode
nos transportar para outras localidades fantasiosas onde o sujeito se encontrará liberto do
moralismo e do controle social. A partir do mecanismo imaginativo somos capazes de
vivenciar a excitação sexual, sem compartilhar de seus efeitos nocivos, como a ansiedade, a
culpa ou o tédio. Nesse sentido, muitas pessoas se excitam eroticamente quando sua fantasia
contém um elemento de risco.
Cole (2011) aborda a temática sob duas perspectivas: uma positiva e outra negativa.
Sob o viés positivo, o autor afirma que o uso do material pornográfico por alguns sujeitos é
experimentado como uma situação de crescimento e prazer, pois por meio do uso alcançam
uma sensação de libertação e/ou desinibição, além de permitir que o sujeito explore seus
desejos e fantasias sexuais, pois alguns sujeitos no seu cotidiano não conseguiriam sustentar
suas escolhas objetais, preferências ou fetiches diante da sociedade. Outro fator apontado
como positivo é o uso da pornografia para revitalizar a vida sexual de casais que se encontram
insatisfeitos com a repetição ou com a diminuição de sua vida sexual.
Em contrapartida, o próprio autor afirma que a pornografia suscita vários sentimentos,
que fascinam ou repelem. Ela pode gerar uma forte resposta no sujeito que tem pouco contato
ou nenhum contato com ela, como também pode provocar uma resposta mínima em face de
um contato excessivo. Para o autor, a pornografia é um produto de difícil definição; ainda
sim, isso não tem sido um fator impeditivo para regular e limitar o seu alcance. A pornografia
declara que suscita excitação, contudo, por vezes, produz seu oposto. É um fenômeno cultural
que aparenta ser simples, mas seu efeito no psiquismo é repleto de paradoxos. Por esse
motivo, o autor considera estranha a proposta de adentrar no mundo da pornografia.
Diferentemente do que é colocado por Escoffier (2011) e da primeira perspectiva
apresentada por Cole (2011), Cebulko (2013) expõe que a pornografia não deve ser
confundida com um momento de representação da intimidade entre os pares/casais, pois ela
seria um material produzido com o objetivo de excitar eroticamente o sujeito a partir de
corpos alheios, sendo no geral definida como algo escrito, representado graficamente. Em
suma, o conteúdo pornográfico seria caracterizado por abordar temas eróticos destinados a
gerar excitação corpórea no público.
Contudo, na visão de Escoffier (2011), de Cole (2011) e de Galatzer-Levy (2012), a
pornografia resguarda o seu público das ameaças sociais em relação às atividades sexuais e
ansiedades associadas ao desejo sexual. Assim, a pornografia, por vezes, desprende o sujeito
das amarras morais, deixando-o experimentar novas possibilidades. Contudo, os autores
51

concordam que quando o uso perdura por muito tempo e o intervalo de satisfação torna-se
pequeno, isso pode se tornar problemático, devido ao caráter limitado da imaginação ou das
ansiedades geradas a partir de determinadas ideias eróticas.
Galatzer-Levy (2012) considera a pornografia como um “... tipo de mundo separado”3
(p. 485, tradução nossa), em que ela pode educar e proteger contra os perigos de se admitir
uma fantasia erótica criada. Em outras palavras, o autor defende que a pornografia pode
promover um efeito de socialização, pois ela pode ser uma ferramenta importante para as
pessoas envolvidas, e exemplifica com o caso de um jovem homossexual que vive em uma
comunidade onde as pessoas são conservadoras; para ele o acesso à pornografia gay pode
demonstrar que há outras pessoas cuja orientação sexual se assemelha a dele, o que pode
culminar em um autorreconhecimento sexual.
Entretanto, Galatzer-Levy (2012) salienta que a pornografia é um retrato limitado e
estereotipado da sexualidade, o telespectador sabe que os atores envolvidos na trama
geralmente são pagos para desempenhar determinada tarefa de cunho exibicionista. Em
consequência, isso pode reduzir a socialização de seu público que em outro momento teria um
grande alcance. Além disso, a pornografia pode caminhar em direção ao descompromisso
afetivo humano, pois o ambiente da pornografia confere importância à genitália e ao orgasmo,
não ao vínculo afetivo.
Entendendo a pornografia como algo negativo, Janin (2015), Galatzer-Levy (2012),
Cole (2011) e Woods (2015) equiparam a produção pornográfica e o comportamento dos
atores pornôs com máquinas sexuais, sendo que as produtoras focam no movimento repetitivo
de penetrar e retirar sem que haja vinculação afetiva entre os pares. Para os autores, a
pornografia não atende aos anseios de Eros, isto é, não se propõe a mostrar união e
construção, apenas coito e ideais estéticos. Diante disso, cabe perguntar: o que seria uma
experiência de entrega sexual? Se estamos expondo uma crítica ao que se propõe a ser o sexo,
devemos ao menos definir o que é esperado de uma conduta sexual. Para tanto, recorremos a
Winnicott (1975).
Conforme esse autor, a experiência de entrega sexual faz parte de uma dominação, em
que alguém se dispõe à experiência arriscada de demonstrar seu verdadeiro eu e, em
contrapartida, autoriza a si mesmo ser usado por um verdadeiro outro, que transmite ao sujeito
um ambiente relacional particular. Para compreender esse fenômeno, Winnicott (1975)
elabora uma diferenciação entre um objeto que seria um misto de projeções e o

3
“... a kind separate world” (Galatzer-Levy, 2012, p. 485).
52

desenvolvimento da capacidade do sujeito de investir em outro objeto pertencente ao


ambiente.
Winnicott (1975) considera que o sexo com uma pessoa que é um verdadeiro outro
(que não seria uma entidade projetiva) é possível quando o sujeito pode tolerar e aproveitar o
paradoxo do uso do objeto. O sexo excitante, aquele mutuamente aproveitado na situação em
que os parceiros consentem a se utilizarem uns dos outros, é um processo que depende da
capacidade individual de confiar na habilidade do outro para sobreviver a tal uso, sem a
ansiedade que pode perturbar e inibir o prazer sexual.
Segundo Cole (2011), também há possibilidade de haver um prazer mútuo quando se
coloca na categoria de objeto as partes do corpo do parceiro ou seus corpos como um todo. O
domínio do objeto parece ao autor como algo expansivo o suficiente para incluir a qualidade
de transformar a tragédia em triunfo, o que é fundamental para a excitação. A excitação
sexual depende de ambos os sujeitos acreditarem que o dano para os outros, assim como para
si mesmo, não é fatal e é um fenômeno tanto prejudicial quanto restaurador. É diferente da
sensação suscitada quando se usa uma pessoa forçando-a, prejudicando-a ou humilhando-a
sem seu consentimento.
Dito isso, exploraremos a ideia que lançamos sobre a semelhança entre o conteúdo
pornográfico e as máquinas. Cole (2011) e Guerra, Andrade e Dias (2004) concluem que a
pornografia é um produto comercial, ou seja, os autores compartilham a ideia de que o sexo se
transformou em mercadoria pela indústria. Em virtude disso, Cole (2011) relata que a
pornografia se apresenta como um material privado e de uso pessoal. Contudo, esse mesmo
produto é produzido não para atender individualidades, mas para alcançar maior número
possível de pessoas. Para Woods (2015), a pornografia focaliza os genitais (com penetração
ou não) e exige dos atores condutas mecânicas, não proporcionando qualquer espécie de
comunicação ou vinculação entre os envolvidos.
Outra característica que assemelha a pornografia a uma indústria e às máquinas, é o
aspecto da previsibilidade. Cole (2011) assegura que, ao assistir à pornografia, o sujeito tem
certeza do que acontecerá no enredo, pois a pornografia é obrigada a corresponder às
expectativas de seu público, ela é uma produção que seria menos eficaz se surpreendesse sua
audiência. Nesse sentindo, a pornografia produz personagens de ação para sua audiência,
porque tem certeza sobre como sua audiência reagirá. Enquanto a plateia for composta por
pessoas que são igualmente tratadas como personagens de ações, a possibilidade de surpresa
se torna reduzida. Em outras palavras, os personagens de ação são humanos como seus
próprios telespectadores.
53

Conforme Cole (2011), a pornografia não busca surpreender-nos. Ela é executada a


fim de garantir que não seremos surpreendidos, ou seja, que somente encontraremos o que é
esperado e previsível. Ela não objetiva nos deixar frustrados ou nos fazer esperar pelo clímax
de alguma situação. Essa capacidade de fornecer o que é esperado e previsível, de modo a
eliminar a frustração ou o atraso, remete-nos a uma realidade virtual e a uma espécie de mãe
fantasmática da primeira infância. De qualquer forma, nós estamos nos movendo em direção à
descrição de algo que não seja humano, algo que se assemelhe à fantasia ou a uma máquina.
Cole (2011) considera que, atualmente, a nossa identificação aparente com as
máquinas é entendida como algo emocionante e poderoso. Em consequência dessa
identificação parcial, as grandes indústrias conseguem vender seus produtos em grandes
escalas. A partir dessa consideração, o autor traça um paralelo importante entre a pornografia
e a publicidade. Ambas exploram o campo da fantasia, de modo que ele não tenha limites. Os
corpos em trabalho nos vídeos pornôs, aparentemente, não possuem limites, devem produzir
sensações suficientes para atingir o seu público e levá-lo ao orgasmo.
Outro ponto importante é que o trabalho, geralmente, é algo que requer a manutenção
e a organização da consciência de si mesmo. Assim, o trabalho do ator no pornô pode ser
registrado como sexo explícito, mas a qualidade do sexo pode ser diferente em contraste com
a experiência sexual entre pessoas no cotidiano apartado das câmeras. Devido à influência da
pornografia nas práticas sexuais das pessoas (telespectadoras), alguns sujeitos em seu dia a
dia consideram que o sexo agradável somente ocorre quando há o rompimento ou suspensão
da prática sexual tradicional, isto é, quando há a transgressão de alguma restrição.
Portanto, nessa situação, o sujeito ao fazer uso da pornografia não deseja ser
surpreendido pelos atores ou por enredos criativos pornográficos. Uma máquina é um objeto
programado para emitir respostas e ações repetitivas que obedeçam a um padrão. O sujeito
que procura satisfação sexual por meio dessa identificação não se abre a surpresas pelo receio
de ser frustrado ou desiludido. Conforme Cole (2011), quando nos envolvemos com a
manipulação pornográfica e concordamos com ela, ela nos convida (artista e público) a
participar de uma encenação, pois ambos, tanto o público quanto os atores, comportam-se de
modo previsível, como personagens de ações. Quando a pornografia funciona como se
pretende, o performer se porta como se estivesse obtendo sensações intensas, que se
assemelhariam às máquinas. Em contrapartida, os espectadores ideais de pornografia
responderiam como se fossem máquinas de consumo.
Ao ler os comentários de um ator pornô, Cole (2011) afirma não ter tido a impressão
que a surpresa é procurada ou desejada. No entanto, insatisfatória, ela pode estar presente no
54

momento em que se está trabalhando, quando a eficácia do seu desempenho em um vídeo


pornô será medida pelo nível de sensação despertadas no espectador, e não por seus parceiros.
Um espectador/voyeur deve assistir a um espetáculo assim como se os artistas estivessem,
realmente, envolvidos em uma relação sexual. O ator não está envolvido em sexo; não, pelo
menos, envolvido como se poderia imaginar, mas está envolvido com a apresentação de algo
que se assemelha a atos sexuais. Essa condição alienada do performer situa o espectador em
um tipo de trama.
Para Cole (2011), na produção pornográfica, os performers não são propriamente
atores, mas atletas, cujo esforço físico e habilidade existem para serem salvos e admirados
somente como feitos em si mesmos. Nesse sentido, Guerra, Andrade e Dias (2004)
complementam que há uma exaltação indevida do sexo e do corpo em nossa cultura; essa
valorização excessiva caminha ao aperfeiçoamento estético para obtenção de satisfação.
Contudo, esta somente pode ser alcançada mediante a própria exposição de si, pois é
necessário o olhar do outro para o reconhecimento. Nessa lógica, o corpo torna-se um objeto
expositivo.
Na pornografia, como afirma Cole (2011), os atos podem ser contados, medidos, os
corpos avaliados e comparados. A pornografia amadora ativa o completo desnudamento, pois
se distancia de tudo que foi exigido dos produtores profissionais anteriormente para fazer um
trabalho imaginativo, que criaria com artifícios e técnicas a intenção de transmitir uma
história sensual. Isto é, a pornografia amadora é em si performativa. A partir disso se supõe
que ela seria uma espécie de outra instância da pornografia em si (outra categoria), a qual
funciona do seguinte modo aos espectadores: retira a exigência de um determinado tipo de
atividade imaginativa, deixando nos fatos corporais o lugar da história, não havendo
exigências de um contexto narrativo que seja de interesse.
Segundo Cole (2011), a questão pode ser necessária para gerenciar a experiência dos
instintos, os quais não apareceriam em outras circunstâncias; por isso, o uso da pornografia
costuma ser um ato isolado. A pornografia tal como a conhecemos hoje é um produto por
excelência do capitalismo de consumo, pois é um produto no qual o sexo entre as pessoas é
transformado em trabalho, um produto cujos trabalhadores que o produzem são alienados.
Cole (2011) e Moraes e Lapeiz (1985) compartilham da compreensão de que o efeito gerado
pelo uso da pornografia visa atomizar e isolar, pois ele é frequentemente consumido por
sujeitos na solidão; assim, a distribuição e as vendas dos produtos são maximizadas.
Essa incapacidade de tolerarmos a frustração, atrelada a um ambiente cultural que está
vasto de conteúdos hedônicos e imediatos, resulta na produção de sujeitos regressivos e
55

desorganizados psiquicamente. A base para a construção egóica ocorre via princípio da


realidade e qualquer evento que se contraponha a essa força tende a gerar quadros patológicos
e sintomáticos. Logo, defrontamo-nos com satisfações parciais e afastamento do propósito de
Eros, que seria justamente a construção de um sujeito constituído em sua totalidade e
integralidade, diferente do sujeito adicto pela pornografia (Bauman, 2001; Cole, 2011; Freud,
1920/1996c, Freud, 1915/2004a).
O que nos leva a considerar que nossa compreensão não está equivocada ou
inconsistente é o fato de que, segundo Janin (2015), as demandas clínicas que se referem ao
uso de pornografia estão se tornando maiores e exigentes, pois as representações
pornográficas se apresentam mais obscenas e perigosas devido à lógica exibicionista nos
tempos atuais.
Uma das consequências do estímulo fornecido pela pornografia é a masturbação.
Freud (1938/1996f) já dizia que esse é o protótipo de todos os outros vícios. Nesse sentido,
Woods (2015), Galatzer-Levy (2012), Cole (2011), Wood (2007; 2014) e Ceccarelli (2011b)
discorrem sobre o ato masturbatório, articulando-o com a pornografia. No geral, os autores
afirmam que a satisfação sentida é parcial, ocorrendo por meio de pulsões parciais e zonas
erógenas distintas. Assim, a masturbação realizada por meio da pornografia promove um
vício solitário e situações de isolamento social.
Conforme Cole (2011), a pornografia leva o seu público a permanecer distante de
outras pessoas. Por isso que, para alguns, a questão da pornografia não é o sexo, mas a
masturbação. A masturbação é uma experiência agradável de natureza distinta do sexo
realizado com um parceiro, ela proporciona alívio da tensão sexual, mas não fornece uma
experiência erótica. Cole (2011) se baseia em Freud (1938/1996f) para entender o erotismo e
afirmar que, se eros é entendido como uma união, a masturbação como entretenimento pode
ser benéfica, residindo em uma categoria diferente da experiência erótica do sexo entre duas
pessoas.
De acordo com Wood (2007), o sexo virtual se apresenta de diversas formas, como a
pornografia on-line, sexo por telefone, bate-papos on-line ou mensagens de textos com
conteúdo sexual. Todas elas possuem um objetivo em comum: despertar a excitação sexual.
As atividades citadas são consideradas virtuais, pois, embora suscitem a imaginação de
cenários, onde poderia existir a fantasia de outros participantes, na realidade a pessoa que está
fazendo uso do recurso está sozinha e o ato sexual realizado consiste na masturbação solitária.
Nesse momento histórico contemporâneo, as imagens sexuais podem ser vistas de
forma privada, o que aumenta a possibilidade do ato masturbatório. Esse fator veio a
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corroborar com o desenvolvimento de fantasias voyeuristas e exibicionistas, ambas associadas


ao conteúdo da pornografia, e cultivou o desejo consciente de estar só para aqueles que
aspiravam por visualizar a pornografia. A proposta de Galatzer-Levy (2012) é discutir o
fenômeno da masturbação alavancado pelo uso da pornografia por intermédio da internet em
homens adolescentes, pois ele verificou que a atitude masturbatória se dissocia da fantasia
erótica pessoal, sendo a pornografia on-line responsável pelo alcance dessa dissociação.
Nesse sentido, Woods (2015) entende que estamos em uma geração em que muitos
adolescentes e crianças mantêm a primeira forma de relação sexual não com pessoas reais e a
partir de um convite para “sair”, mas por via midiática, por meio da transmissão de imagens
sexuais bruscas que, em sua maioria, inferiorizam as mulheres e até mesmo estimulam o
estupro ou o abuso sexual. Destacamos que esses materiais usualmente estão associados a
momentos excitatórios e de masturbação; logo, ocorre uma vinculação intensa entre os
elementos e é criado um quadro de uso abusivo. Esse quadro é compreendido como uma
situação psicologicamente regressiva. Esse estado Woods (2015) nomeou por universo anal.
Nele o sujeito regressa ao estado de cisão psíquica, onipotência infantil (em que tudo é aceito
e tolerado) e se depara com um emaranhado de projeções.
Por estarmos incluídos em uma era em que a cultura exalta a fama, a glória e a beleza,
Woods (2015) afirma que, em função disso, muitos adolescentes utilizam de modo excessivo
a internet, fator que aumenta o estado de isolamento social. O jovem que se sente só e pode
usufruir de recursos tecnológicos como a internet, ao se deparar com estímulos audiovisuais
pornográficos, recorre a eles para obter a sensação de que está vivenciando uma relação
sexual, mas essa sensação somente é experienciada quando acompanhada da masturbação,
pois a satisfação encontrada pode substituir a prática de relações sexuais reais.
Nessa perspectiva, segundo Ceccarelli (2011b), a pornografia atende às demandas
pulsionais, por vezes sem a representação pulsional e o afeto. A masturbação, geralmente, é
um ato solitário realizado para buscar prazer por meio de alguma fantasia com alguém ou
algo, sem que haja a necessidade de a pessoa estar presente. Contudo, quando o mundo
interno é escasso de elementos, o ato de fantasiar pode ser limitado. Nesse sentido, o mundo
fantasmático do sujeito é percebido como vedado ou feroz. Nesse caso, a pornografia se
mostra como uma saída proveitosa para a descarga de tensão e promove a experimentação
sexual sem o sentimento de culpa, uma vez que defende o sujeito e o outro presente na relação
sexual das forças pulsionais, que na fantasia são reconhecidas como incestuosas e agressivas.
Muitas fantasias masturbatórias envolvem o resgate de conteúdos edípicos e da cena
primária. Nessa perspectiva, alguns estudos (Peterson, 1991; Janin, 2015; Woods, 2015;
57

Enriquez, 1999) correlacionam a adicção à pornografia com a exposição de sujeitos à cena


primária. Woods (2015), baseado em Freud (1918/1996h) e em Winnicott (1975), refere-se à
cena primária para discorrer mais especificamente sobre os impactos da pornografia no
desenvolvimento. A cena primária auxilia a criança a criar uma compreensão do que seria
uma relação parental, à qual a criança se espelha para que futuramente tenha um exemplo do
que seria uma relação sexual. Além de tudo, no percurso do desenvolvimento, a criança
aprende a suportar o fato de estar fora desse modo de relação dos pais e aprende a suportar
essa privação. Por meio da cena primária, também são passados valores e noções culturais,
como a distinção entre os sexos e entre as gerações.
Acrescentamos o trabalho de Enriquez (1999) para melhor explicar questões a respeito
da cena primitiva, pois ele considera que ela está relacionada a um desejo infantil em decifrar
e participar da relação sexual dos pais. Essa cena, o sexo em si, é agressiva para a criança,
pois demonstra um ato de elevada tensão que busca sua descarga, incluindo um elevado
dispêndio de energia. No momento de descarga excitatória, a criança fantasia que a mulher,
sua mãe, está sendo tratada de modo agressivo, espancada ou torturada. Esse quadro
fantasioso, no momento em que é revivido pelo sujeito, demonstra a presença de conteúdos
que eram pertencentes a uma fase de seu desenvolvimento infantil – a fase do sadismo,
quando a criança fantasia sobre o espancamento – que seria carregada por sentimentos de
ódio, os quais serviram como fonte sexual. Logo, nessa etapa inicial notamos que o
ódio/agressividade se torna fundamental para demonstrar o amor (Freud, 1915/2004a).
Janin (2015) considera que a vergonha inconsciente presente na fantasia do
masoquismo, de ser tratado como uma mulher, é um triunfo sobre o ódio em direção ao objeto
que o sujeitou à passividade. A vergonha permite que ele encontre o objeto novamente. Há
uma associação no masoquismo entre a vergonha e o ódio, sendo que o masoquista parece
dizer uma e outra vez: “um pouco de vergonha para esquecer do meu ódio, um pouco de ódio
para mascarar minha vergonha” (p. 96, tradução nossa).
Notamos que o masoquismo se manifesta de diversas formas, mas independentemente
de suas expressões, o ódio e a vergonha estão associados, notavelmente em suas lacunas, em
negativadas formas (Janin, 2015). A partir do exposto observamos que a pornografia, por
evidenciar/esconder esses sentimentos suscitados pelo desnudamento do corpo e pela
agressividade, torna-se um campo extremamente interessante de reflexão e estudo para a
Psicanálise, pois, se a pornografia transmite em suas cenas elementos eróticos – os quais, por
sua vez, seriam embasados no ódio e na manifestação da agressividade – e se pensamos que a
58

vergonha se mostra ausente nas produções devido à exposição das próprias “vergonhas”,
verificamos que o ódio e a vergonha ocupam, negativamente, toda a encenação sexual.
Peterson (1991) reflete a respeito da influência da exposição à cena primária. Para ele,
tal exposição influencia na escolha do caminho erótico que será trilhado pelo sujeito. Dentre
esses caminhos destaca-se o da adicção pela pornografia. O autor considera que os sujeitos, a
fim de controlarem a estimulação suscitada a partir da cena primária, buscam por meio da
repetição adictiva recriar as imagens paternas e construir sua própria identidade. O autor ainda
sugere que os estímulos pornográficos foram utilizados pela via do menos traumático: o
sujeito se colocou na posição de especular indiretamente sobre sua participação na cena
primária.
A exposição à cena primária sobrecarrega o sujeito com excesso de estímulos. Em
consequência, aumenta o desconforto com o sexo e com a agressão. A adicção pela
pornografia demarca a presença de um passado que ainda permanece vivo para o sujeito.
Logo, tamanha exposição à cena primária pode gerar consequências patológicas. A frequente
exposição à sexualidade explicitaria o fracasso do caráter protetivo dos pais; contudo, o
desenvolvimento da patologia dependerá da constituição posterior do sujeito, da fase do
desenvolvimento psicossexual na qual se deparou com o fato, o funcionamento das fantasias
inconscientes e a condição da relação parental (Peterson, 1991).
Em suma, conforme os autores apresentados, torna-se possível compreender que a
indevida exposição às cenas de cunho sexual na infância poderia culminar em sintomatologia,
pois a adicção em pornografia poderia ser compreendida como uma forma de tradução dessas
mensagens excessivas que envolvem a sexualidade dos pais.

4.2.1. Danos da Pornografia

Alguns autores (Eisenman, 2001; Woods, 2015) sugerem que sujeitos que cometeram
crimes sexuais fariam uso de pornografia. Eisenman (2001) se baseia em uma pesquisa que
desenvolveu a partir de sua prática em programas de tratamento prisional. Ao passo que
Woods (2015) chegou a tal constatação a partir de sua experiência com criminosos sexuais na
clínica de Portman (localizada em Londres, a Portman Clinic é um local onde é oferecido
tratamento psicológico para adolescentes e adultos cujos delitos e outras perturbações se
relacionam com o imaginário sexual disponibilizado pela internet). Nessa clínica, os pacientes
declararam ser motivados a praticar crimes sexuais devido ao uso compulsivo de pornografia,
pois estas nutrem suas respectivas fantasias masturbatórias. Embora Woods (2015) seja
59

contrário à ideia de responsabilizar as mídias por atitudes criminosas, os relatos dos pacientes
o fazem pensar sobre a influência da pornografia como um disparador nas ocorrências de
delitos de cunho sexual, principalmente quando executados por adolescentes. A partir dessa
ideia, o autor questiona o papel da sociedade nessas condutas. Apesar disso, Wood (2007)
afirma que é irrisória a chance de um adicto por pornografia sair do nível da fantasia sexual e
atuar na realidade concreta. Com isso, afirmamos que criminosos sexuais frequentemente se
utilizam de pornografia, mas que não seria necessariamente o uso de pornografia que levaria o
sujeito a delinquir.
Apesar de não haver correlação entre o acesso à pornografia e as práticas sexuais
criminosas, Woods (2015) considera que o uso excessivo de pornografia é, atualmente,
detectado devido ao intenso consumo de imagens sexuais cada vez mais exorbitantes. Elas
podem gerar outras consequências, tais como: isolamento social, alienação da realidade e
prejuízo psicológico. Dentre os casos mais difíceis atendidos pelo autor, é evidenciado que
essa atitude voyeurista compulsiva pode ser entendida considerando o fato do sujeito ter
dificuldades em ser ele próprio visto e, em decorrência disso, isola-se e transmite sua tensão
para fantasias masturbatórias descontroladas.
Além disso, Woods (2015) e Cebulko (2013) discorrem sobre os danos ocasionados
pela pornografia nas relações conjugais. Woods (2015) aponta que, geralmente, a demanda
que está adentrando à clínica é o conflito gerado pela pornografia nas relações
conjugais/sexuais dos sujeitos. De acordo com Cebulko (2013), estudos que focam a
pornografia vista pela internet como adicção não fornecem uma compreensão detalhada sobre
o comportamento individual, sobre motivações inconscientes ou sobre o papel que o uso
compulsivo da pornografia on-line pode causar nas relações conjugais. Os estudos
expandiram e reforçaram o papel que o cérebro desempenha na compreensão do uso do
cibersexo. Todavia, ao se centrar no comportamento sexual compulsivo como a adicção,
podem obscurecer importantes informações, tais como a patologia subjacente de cada
indivíduo e algum trauma não tratado relacionado ao âmbito sexual, emocional e físico, e a
abusos ligados às falhas de desenvolvimento e déficits parentais.
Cebulko (2013), em seus estudos, analisa as relações conjugais em que os maridos
fazem uso massivo de pornografia, constatando que essas relações são permeadas por
elementos complexos e delicados. Desde 2007, a autora dedicou-se a estudar as esposas de
homens que usam pornografia e empregou uma perspectiva psicodinâmica para estudar e
ampliar seu conhecimento em relação às experiências dessas mulheres. Concluiu que muitas
dessas mulheres possuem experiências traumáticas com interferências em seu
60

desenvolvimento que parecem impedir a eficácia de gestão de suas vidas. Logo no início de
suas relações, as mulheres não conseguiram reconhecer os primeiros indícios em relação aos
interesses sexuais de seus parceiros e de suas outras atividades compulsivas. Os traumas não
tratados e as características de personalidade individual influenciam tanto a escolha do
cônjuge quanto a inabilidade de separar os problemas dinâmicos matrimoniais. Uma vez
casada e confrontada com a realidade da pornografia, a mulher tende a focar sua preocupação
especificamente no uso, por parte de seus maridos, da pornografia por meio da internet,
mesmo quando esse uso está envolvido em outras atividades relacionadas com a sexualidade e
com inúmeras outras compulsões.

4.2.2. A internet

Dentre as modalidades de acesso à pornografia, encontramos: livros, revistas,


fotografias, vídeos etc., sendo que o veículo mais destacado nos dias de hoje é a internet. Essa
forma de difusão de conteúdos sexuais facilita o acesso por parte de seu consumidor. Como
dito anteriormente, antigamente os sujeitos se viam impelidos a irem às bancas ou a casas
apropriadas para o consumo com o intuito de obterem o material, mas, nos dias de hoje, basta
apenas um clique para acessá-lo.
Verificamos que em outras épocas existiam restrições sociais e morais para consumir a
pornografia, uma vez que, no Brasil, por exemplo, revistas que contenham nudez em seu
conteúdo somente podem ser vendidas para maiores de dezoito anos. Por outro lado,
atualmente, a partir do advento da internet, o adolescente ou a criança que manifesta
curiosidade ou deseja consumir o material pornográfico não possui o impedimento social em
consumir, desde que tenha acesso à internet e um aparelho (computador, celular, dentre
outros) que permita o acesso. O fato é que se o adolescente ou a criança utilizarem a
pornografia de modo oculto, a sociedade não os julgará ou inibirá seu acesso.
Nessa perspectiva, o acesso ilimitado à pornografia on-line afeta o desenvolvimento de
crianças e adolescentes. O motivo é que ambos carecem de aprender a lidar com a frustração e
com os limites impostos pelas exigências sociais, caso contrário, a convivência do sujeito
adulto em sociedade tende a ser turbulenta e repleta por ansiedades. Assim, espera-se que uma
criança compreenda, com o passar do tempo, os limites que lhe são expostos, principalmente
em relação à sexualidade, isto é, consiga lidar com o desprazer até alcançar e desfrutar de seu
objeto de desejo. Woods (2015) observa que por meio do acesso facilitado pela internet, é
oferecido e favorecido à criança fantasias que a colocam em uma posição de onipotência, pois
61

ela pode ver/ter tudo sem advertências ou interdições. Em consequência, a criança/adolescente


perde a capacidade de lidar com a frustração ou de postergar a satisfação, isto é, suportar seu
próprio desprazer.
No ponto de vista de Galatzer-Levy (2012), a internet propicia uma nova e
surpreendente tecnologia que vem remodelando muitos aspectos da vida erótica. Essa
tecnologia oferece diversas informações sob diferentes níveis de precisão, a respeito de
distintos interesses e práticas eróticas, e basta estar próximo de um computador para se ter
acesso a esse mundo ilimitado. Além disso, o autor afirma que, normalmente, os
computadores são acessados no próprio quarto do adolescente, em suas próprias camas, ou
seja, são acessados em um local de intimidade.
Wood (2007) observa que a pornografia foi sempre precursora na exploração de novas
tecnologias. Nos últimos anos, alguns pacientes começaram a tratar de assuntos como as
interações sexuais que faziam via webcam, o modo com que eles baixavam pornografia por
intermédio de celulares e acessavam pornografia por meio de wireless sem ser descobertos.
Ao longo dos anos, o autor prevê que esses fenômenos se tornarão comuns ou desaparecerão,
devido às novas ferramentas tecnológicas.
De acordo com Wood (2007), a internet é um dos avanços tecnológicos de vasto
alcance e poder. Os aspectos da internet que a tornam poderosa também promovem um
potencial de excitação maníaco e onipotente. Ao navegar por ela, o sujeito tem total controle
sobre o que quer acessar e quando quer parar, além de ter acesso às fantasias sexuais sem
qualquer vinculação a outra pessoa. O autor ainda aponta em outro trabalho (2014) que a
internet pode trabalhar de três modos distintos: 1) como um objeto com propriedades
conhecidas; 2) como um local onde os dramas internos podem ser publicados; e 3) como um
catalisador que modifica o modo de relação do sujeito com os conteúdos a serem acessados.
No primeiro modo, Wood (2007) aponta como principal atributo da internet o fato dela
ser versátil, pois cria um local para os sujeitos se projetarem. Contudo, esse lugar não se
equipara a um papel em branco pronto para ser escrito, pois a internet é um local poluído de
conteúdo, mas que se mostra flexível e com várias facetas, isto é, ela se transforma conforme
há demanda por parte do sujeito. Ela também pode apoiar que o sujeito viole algo, pois se
mostra sedutora e nela o sujeito pode corromper-se. Assim, a virtualidade oferece forças para
realização de vários desejos, desde um espaço para criar recursos pensando em um coletivo a
recursos destrutivos.
No segundo modo, Wood (2014) destaca o papel que a internet exerce no nosso
psiquismo, principalmente seu aspecto em funcionar como um local para a publicitação do
62

que nos ocorre internamente, isto é, de nossos dramas internos, como se demonstrasse a
magnitude de sua natureza polimorfa. Além de projetarmos nossos conteúdos mais internos,
também participamos do que lançamos nesse espaço, criando um cenário na virtualidade.
Nele é possível externalizar sentimentos inadmissíveis e se nutrir afetivamente. A internet
propicia uma espécie de vida dupla ao sujeito para que ele possa concretizar seus desejos e
fantasias, independentemente da natureza deles.
Por último, há o terceiro modo, em que Wood (2007) compara a internet com um
catalisador, pois ela pode exercer uma atividade extremamente danificadora e gerar prejuízos
nas funções egóicas de alguns sujeitos. A internet, ao dar voz às defesas maníacas, leva o
sujeito a uma espécie de ruptura no funcionamento da posição depressiva. Contudo, a fantasia
onipotente que é despertada e as negações de nossas próprias limitações são consequências de
nossa própria agressão.
Outra hipótese levantada por Wood (2014) corresponde à relação entre a internet e o
estado borderline4. A associação é justificada na medida em que o envolvimento com a
internet pode ser vivenciado estando no limite entre a realidade interna e externa, não sendo
apenas uma expressão elaborativa da fantasia inconsciente. Geralmente, o que se acessa na
internet é realizado de modo solitário e o sujeito pode sentir sua atitude, por não ter outras
pessoas envolvidas, como uma expansão de sua própria psique. Essa posição fronteiriça entre
ambas as realidades pode ser traduzida como um embate de forças entre o ego e o superego5.
Para o autor, dentre os casos que ele já observou de sujeitos compulsivos por pornografia
infantil, seria improvável que qualquer um deles passasse da realização do plano virtual ao
real, isto é, de realizar a agressão sexual de violação, pois eles são inibidos na expressão da
agressão. O conteúdo visualizado na rede seria uma expressão de um conflito psíquico, em
que o campo virtual forneceria ao sujeito a possibilidade de projetar-se e se identificar.
Retornando aos aspectos egóicos e superegóicos, Wood (2014) considera que ambas
as instâncias possuem um emaranhado de normas que regem o estado de fantasia. Tal
condição baseará a emissão de pensamentos de atitudes perversas, agressivas ou bárbaras.

4
Segundo o CID - 10 (1993), o Transtorno de Personalidade Emocional Instável é subdivido em dois grupos: o
tipo impulsivo e o borderline (F 60.31). O último é caracterizado como um quadro de instabilidade emocional,
em que estão presentes elementos perturbadores ou pouco claros, como as adicções, a referência à autoimagem,
“objetivos e preferências internas (incluindo a sexual)... Há em geral sentimentos crônicos de vazio. Uma
propensão a se envolver em relacionamentos intensos e instáveis pode causar repetidas crises emocionais e pode
estar associada com esforços excessivos para evitar abandono e uma série de ameaças de suicídio ou atos de
autolesão (embora esses possam ocorrer sem precipantes óbvios) ” (p. 200-201).
5
O superego, de acordo com Freud (1923/1996i), seria o herdeiro do complexo de Édipo, que resumidamente é
responsável pela internalização das figuras parentais. E exerce, futuramente, um papel de criticidade a si mesmo
e de moralidade.
63

Para alguns sujeitos, o uso de internet se apresenta no limiar entre o mundo interno e externo,
como se estivesse em um jogo e existissem algumas normas implícitas na fantasia. Nesse
sentido, alguns sujeitos que são capturados pela polícia por fazer uso de pornografia infantil,
ficam chocados com a própria prisão, pois, de algum modo, acreditavam que sua atitude
ocorria somente em sua psique.
De acordo com Woods (2015), no universo da pornografia on-line, a agressividade
inerente ao ato de olhar desperta medo e vergonha em ser visto. O voyeur obtém a sensação
que pode visualizar qualquer coisa a qualquer momento e lugar, independente da autorização
social para aquilo. Contudo, o temor e a vergonha de ser visto acentua-se devido aos
elementos projetivos hostis. No desenvolvimento, a construção dos sentimentos de medo e
vergonha ocorre posteriormente ao processo de maturação e diferenciação do primeiro objeto
de amor, e eles desempenham um importante papel diante dos pensamentos relacionados a
proibições morais. Há casos em que o sujeito possui seu desenvolvimento interrompido, ou
estagnado, devido a um trauma ocorrido nos primeiros anos de vida. Um dos propósitos da
psicoterapia é retomar o ponto cujo desenvolvimento foi afetado. Para alguns pacientes, a
psicoterapia necessita recriar um espaço protetivo, para que seja possível retomar o
desenvolvimento interrompido do sujeito (Woods, 2015).
Por intermédio desta pesquisa, constatamos que, por vezes, a pornografia assume um
papel substitutivo às consecutivas ausências às quais o sujeito é impelido a lidar no decorrer
da vida. Entendemos que parte dessas faltas se entrelaçam à cultura vigente composta por
comportamentos competitivos e que estimulam o individualismo, ou seja, nega a
solidariedade, a vinculação e o amparo entre os pares. Outra parcela dessa ausência pode
corresponder às omissões de cuidado parental, sejam eles de ordem física ou psicológica, no
início da vida. O fato é que a compilação desses fatores gera sintomas, tais como o vício pela
pornografia on-line, que perpassa ideais de gozo ilimitado por meio de objetos parciais e
satisfações pelas mais diversas zonas erógenas. A função dessas medidas psicológicas deve-
se à necessidade de defender o sujeito das angústias originárias ligadas ao sentimento de
aniquilação, que se fortalece de acordo com os valores de nossa civilização.
Após apresentarmos algumas considerações a respeito da pornografia e de alguns
termos (adicção, dependência, vício, dentre outros) que estão presentes nessa pesquisa. Na
seção seguinte, conforme apontamos na parte destinada a Estratégia Metodológica,
apresentaremos a descrição e análise das categorias elencadas por temáticas, a partir do
procedimento metodológico adotado de Análise de Conteúdo (Moraes, 1999).
64

5. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS CATEGORIAS POR TEMÁTICAS

Na presente etapa serão descritos e analisados os seis eixos temáticos extraídos da


seleção dos depoimentos. No total investigamos trinta e quatro depoimentos, dos quais: trinta
são mensagens principais que iniciam o debate no fórum e quatro são respostas fornecidas às
mensagens principais.
Apesar de já destacado anteriormente, frisamos que os depoimentos foram extraídos
da internet em sua forma original e serão expostos tais como constam na íntegra de suas
exposições, inclusive com seus erros gramaticais e outros detalhes próprios. Como nossa
interpretação de dados será, no próximo capítulo, realizada por intermédio da teoria
psicanalítica, partimos do pressuposto de que os dados expostos nos depoimentos sejam
verdadeiros, tanto os referentes às idades, quanto ao sexo ou ao conteúdo em si, pois
acreditamos que o que foi expresso passa a ter valor de realidade, quando o que importa são o
sentido e o significado do que é veiculado na fala dos depoentes, tendo em vista que ganha
valor de realidade no funcionamento psíquico, em que a fantasia confunde-se com a realidade
material.
Dessa forma, descrevemos e analisamos depoimentos de sujeitos cuja faixa etária varia
dos 17 anos aos 40 anos, que se apresentam como sendo todos do sexo masculino (Figura 1).
Embora eles não se exponham diretamente como tal, inferimos o sexo em função dos
pseudônimos pelos quais se identificam serem masculinos e porque se chamam entre si de
“guerreiros, brothers”. Por exemplo: “Aos 12 anos fui apresentado à pornografia por um
amigo antes mesmo de eu descobri a masturbação” (Fabsjoia, D29, destaque nosso). Ademais,
todos os sujeitos se denominam heterossexuais, apesar de em algum momento manifestarem
dúvidas em relação à tal orientação, em decorrência de fazerem uso de modalidades sexuais
que lhes geram estranhamento, como é possível perceber no exemplo abaixo:

O meu problema não é eu ter deixado de gostar de mulheres, porque eu não deixei, o
problema é eu passar a gostar de mulheres com pénis. É perturbador, para mim é, sei que há
pessoas que não dão importância, mas eu dou. Eu sou heterossexual, na medida em que todos
os desejos românticos eu idealizo com uma mulher normal. Porém este meu lado mais
pervertido me envergonha. E a minha ansiedade aumenta pensando assim "cara, vejo isso
talvez a uns 3/4 anos, será que acabei mudando minha orientação? E se eu no fim disso tudo
continuar vendo pornografia travesti?". (marcolopes, D20c).

Em suma, os depoimentos foram escolhidos e subdivididos em categorias de análise, a


partir de sucessivas leituras do material durante o tempo destinado à pesquisa. Assim, quando
nos deparávamos com uma determinada constância dos assuntos na apresentação dos
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depoimentos, escolhemo-los. Diante disso, a seguir descreveremos e analisaremos as seis


categorias de análise por temáticas.

5.1. Gatilhos silenciosos: das revistas à internet

A partir de diversas leituras dos depoimentos selecionados, consideramos notória e


evidente a presença dos avanços tecnológicos no vício pela pornografia. A maioria dos
depoimentos foi escrita por sujeitos que se reportam ao advento da internet como uma mola
propulsora do vício pela pornografia, isto é, o fator desencadeante. Verificamos que o acesso
às modalidades pornográficas, a atrizes e a atores e aos mais diversos enredos são facilmente
acessados por meio da internet, em qualquer momento e local.
Assim, compreendemos que a internet auxilia no acesso à pornografia e que ela seria
uma ferramenta para a consolidação do vício, igualmente como eram outrora os livros, as
fotografias, as revistas, os canais de televisão restritos, as fitas VHS, os CDs e os DVDs
(digital versatile disc). Contudo, a internet apesar de ser um instrumento de facilitação ao
acesso, possui suas peculiaridades, que consideramos importante destacar nesta pesquisa, por
justamente estar evidenciada na maior parte dos depoimentos.
Atualmente, a internet está em todos os espaços, desde o público ao privado. Basta um
sistema para configurá-la e um aparelho tecnológico apropriado (celular, computador,
tablet...) e nos conectamos com qualquer pessoa ou conteúdo que estejam disponíveis na rede
de dados. Inclusive, podemos participar da montagem desse arcabouço de dados, postando e
disponibilizados outras informações. Diante disso surge a pergunta: afinal o que é de fato a
internet?
De acordo com Marchelli e Silva (1998), a internet é composta por um grande número
de computadores que estão ligados entre si, por meio de cabos, fibras ópticas, cujo intuito é o
de transmissão de mensagens nas quais se possa veicular conteúdos informativos. O que
possibilita essa troca é um elemento chamado interface de rede. Assim, a internet é
compreendida como um sistema global de redes de computadores interligados. Além disso,
ela redefine noções de espaço e tempo (Hall, 2005). Ao se redefinir noções básicas,
estruturantes e de pertencimentos, a constituição subjetiva é afetada por novos norteadores,
que compõem a novas tecnológicas audiovisuais.
Há décadas, como apontado nos depoimentos, o primeiro contato do jovem ou do
adulto com materiais pornográficos ocorria por meio de revistas, fotos ou vídeos VHS dos
próprios pais, amigos ou de bancas de revista. A missão de ir até uma banca de revista era
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vista como perigosa, pois era sabido que o material se destinava para maiores de dezoito anos.
A moralidade relacionada ao ser visto, ou flagrado, à procura do material, inibia o jovem;
afinal, aquele produto não se destinava a ele. Quem conseguisse o material era visto como
vitorioso e portador de um segredo, o da sexualidade e, psicanaliticamente falando, da
sexualidade dos próprios pais.
Abaixo selecionamos alguns trechos que evidenciam a descoberta da pornografia por
adolescentes e os impactos dos avanços tecnológicos ocasionados pela chegada da internet:

... lembro-me de ter me deparado com minha primeira foto porno aos 12 anos... foi num jornal
adulto... cara aquilo foi uma descoberta de mina de ouro pra mim... porém eu sou da época
da playboy... e meus pornôs foram fitas VHF época do Vídeo K7... peguei a época de banda
larga de 10 anos pra cá.... mas ainda assim essa desgraça me arrebentou... (Bereta, D1).

Assim como a maioria das pessoas eu entrei para o vício logo na adolescência. Aos 11 anos
lembro-me de ter ganhado de presente uma revista de mulher pelada, mas até aí nada de
mais. O problema mesmo veio aos 12 com a internet. Primeiro a discada e depois a internet
banda larga de alta-velocidade. Aos 12, mesmo sem saber disso na época, tenho para mim
que já estava completamente viciado em pornografia. A internet era o meu refugio. (Projeto,
D5b).

Um fator inquietante nessa pesquisa foi que alguns depoimentos trouxeram dados de
que o primeiro acesso não foi a partir dos doze anos de idade, mas antes disso. Portanto, o
primeiro contato com a pornografia ocorreu quando os sujeitos eram de fato crianças. Assim,
esse primeiro acesso ocorreu com pessoas incapazes de compreender a intensidade do
estímulo sexual provocado pelas imagens. Eles declararam que o contato com essa
modalidade midiática foi o início de seu próprio fim, isto é, a entrada do sujeito no vício. Este
fato quando relacionado ao cotidiano da evidente presença da internet, nos impele a pensar a
respeito da erotização cada vez mais precoce da infância (Felipe & Guizzo, 2003).
Felipe & Guizzo (2003) discorrem a respeito da erotização da criança, para elas as
modificações tecnológicas são responsáveis diretamente pelas vivências infantis, pois crianças
estão acessando conteúdos do universo adulto (como sexo e trabalho) sem obstáculos e estas
promovem a erotização do corpo infantil. Uma das causas desse fenômeno é relacionada pelas
autoras, com o processo da geração de capital. As autoras apresentam uma hipótese de que a
criança é uma consumidora em potencial e, paralelamente, também pode ser como um objeto
a ser consumido pelo universo adulto.
Tal ideia se justifica pelo fato de que: como as crianças são vistas como consumidoras
em potencial, por outro lado, as tecnologias de comunicação evocam a ideia de que a infância
e a adolescência são etapas de jovialidade que devem ser apreciadas e almejadas, para isso,
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nomeiam esse terreno do desejo pelo corpo jovem como "pedofilização" generalizada da
sociedade (Felipe & Guizzo 2003, p. 124). O apelo à constituição desse ideal ocorre via
imagens difundidas por meio de tecnologias audiovisuais, nessas a criança é convocada a
permanecer em posições sensuais ou estarem em circunstâncias sexualizadas. Em
consequência a essa constante sexualização, a criança responde ao que lhe é solicitado
manifestando interesses por elementos que se remetam à sexualidade, como o namoro e as
relações fugazes, onde podem satisfazer a lógica a qual estão inseridas - se manifestam como
adultos em forma de um corpo jovem. A partir disso levantamos indagações sobre o impacto
das tecnologias na formação subjetiva do sujeito e os direcionamentos que esta realidade
trilhará na vida psíquica, que embora não seja o objetivo dessa pesquisa, fez-se necessário ser
destacada.

... comecei a ver revistas e dvds pornográficos com meus amigos de rua, esse foi o começo da
minha destruição... Mas com a chegada de um PC na minha casa e a descoberta dessa
combinação perversa, posso dizer que foi o inicio do meu fim. (Paz, D25).

... Meu vício começou na década de 90, quando por acaso eu encontrei algumas revistas
pornográficas rasgadas jogadas na rua. E por incrível que pareça, vira e mexe eu sempre
encontrava alguma imagem de sacanagem jogada na rua. Isso foi despertando a minha
vontade de me masturbar e com certeza foi o inicio do meu vício em pornografia e
masturbação. (Alexandre, D30).

Tenho 24 anos e sou viciado em PMO [pornografia, masturbação e orgasmo] a 11 anos mais
ou menos. Comecei quando achei vídeos pornô no computador que era compartilhado pela
família, provavemente percentiam ao meu irmão mais velho. Isso foi um choque pra mim e
imediatamente eu gostei e despertou um interesse enorme por isso. A partir daí eu descobri o
P.[pornografia] Com o passar do tempo fui entrando no assunto de M [masturbação] e O
[orgasmo] e passei a praticar e fui viciando aos poucos. Na época já tinha internet banda
larga e já tinha achado fontes do material. Hoje eu estou em uma situação que me
envergonha muito. (surfista, D26)

... comecei ver pornografia na era pré-internet, material "analógico" e escasso, famosas
revistinhas com páginas grudadas, enfim... Devo ressaltar que na minha casa meio que tinha
bastante material a disposição, nada muito pesado, mas meu pai colecionava aqueles
posters/calendários de borracharia (famosas "folhinhas") e pra mim era até normal ver foto
de mulher com seio a mostra (mas nunca a parte de baixo) desde criança, e comecei a me
masturbar com uns 12 anos, vendo especies de cards/mini-calendários de propaganda que
davam de brinde por ai, alguns eram fotos de gatinhos ou paisagens e outros de mulheres
nuas (acho que não existe mais isso), essas sim mostravam a mulheres totalmente nuas, foi
meu primeiro PMO, fiquei todo contente, pois os amiguinhos mais velhos diziam que aquilo
era ótimo e "pra ser homem" você tinha que fazer. Bom, material era escasso, mas talvez uma
benção, até catalogo de lingerie excitava, se tivesse acesso a uma simples playboy da época
então, era material para PMO por semanas, e assim foi, depois as "revistinhas suecas" como
diziam e assim foi toda uma adolescência... Nessa mesma época veio a internet discada, fiquei
viciado em chats sobre sexo, eu chegava do trabalho as 18 e ficava conectado até as 22
direto,... (tiago_fernando, D28).
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Além disso, o advir da internet com rapidez na transmissão de dados digital ADSL
(Assymetrical Digital Subscriber Line) superior à transmissão da internet à rádio é uma
ferramenta utilizada para aqueles que querem acessar dados em alta velocidade. A agilidade
no acesso a informações no ambiente virtual nos coloca em uma situação com implicações
positivas e negativas. Se por um lado a internet nos proporciona recursos para celeridade na
busca e transmissão de conhecimentos informativos e de entretenimento, no caso satisfazendo
parcialmente nossas pulsões (epistemofílica6, voyeurista, exibicionista, sexuais, dentre
outras), não podemos esquecer que essa satisfação é parcial, não total, e no caso do acesso à
pornografia ela, à sua maneira, satisfaz a curiosidade sexual e as demandas sexuais mesmo
que não integralmente.
Ao tratarmos do aspecto pulsional, acrescentamos a essa apresentação de categoria as
constatações de Freud (1930/1996b) e de Ceccarelli (2011b). Eles explicam que, embora a
civilização nos obrigue à privação da satisfação pulsional, esta se vê impelida a criar
estratégias para que encontremos satisfação, mesmo que parcial, por meio de substitutos
diante das pulsões e conteúdos reprimidos. Cabe ressaltar que os objetos substitutos não
promovem a satisfação total das pulsões e produzem nos sujeitos um eterno estado de
descontentamento e sofrimento. Nessa via, a pornografia torna a vida em sociedade aceitável,
sendo que é uma criação da própria civilização que possibilita a transgressão. Ela é um objeto
substituto que oferece alguma satisfação às pulsões recalcadas, pois permite um escoamento
libidinal (Ceccarelli, 2011b).
Ainda de acordo com Ceccarelli (2011b), desde o nosso nascimento estamos
submersos num sistema que nos ensina a domesticar as pulsões. Assim, desde pequenos nosso
contexto de relações pessoais – primeiramente composto pelos cuidadores e em seguida por
amigos –fornecerá a nós símbolos que possibilitem nossa comunicação com a sociedade que
nos cerca e também estabeleçam comportamentos que podem ou não ser apresentar. Os
cuidadores são quem insere no sujeito um sistema de informações sobre a ética e a moral e
funda o alicerce necessário para o desenvolvimento em sociedade. Contudo, quando essas
figuras são incapazes de disponibilizar modelos identificatórios suficientemente bons, o
sujeito procura-os, por vezes, o ambiente midiático; isto é, a criança se baseia em figuras
vislumbradas da televisão ou da internet para compor seu psiquismo.

6
Designamos por pulsão epistemofílicia a pulsão nomeada por Freud (1905/1996e) como “pulsão de saber” (p.
184). O autor lança a hipótese de que concomitantemente ao florescer da vida sexual infantil também se origina
o ato de investigar e desejar compreender os elementos culturais que rodeiam a criança. Tal pulsão, na visão de
Freud (1905/1996e) é despertada pelas questões ao redor da sexualidade, cuja ação atende a uma maneira
sublimada de dominação e por meio da atividade de olhar/ver (escopofilia).
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Todavia, esses modelos não são suficientes, principalmente quando no futuro nos
deparamos com os casos de adicção, mais especificadamente, no vício em pornografia. Nesses
casos, como afirma McDougall (1995/1997a), há uma ausência das figuras de amparo. A
tentativa de controle pulsional quando composta, majoritariamente, por ausências, ao invés de
investidas afetivas/amorosas e explicações gera lacunas no psiquismo do sujeito, que de
algum modo necessitam ser preenchidas. Os modelos midiáticos, por serem acessíveis em
qualquer localidade (basta ter um computador, por exemplo), funcionam como modelo de
vida e de conduta sexual. Assim, em quadros de ausência parental, quando a criança tem
acesso a pessoas em situação pornográfica, esse modelo fornece explicações excessivas –
sobrecarregadas de conteúdos sexuais – de como se deve ser um adulto. Expostos a essas
explicações e juntamente ao fato da criança estar desamparada, a pornografia funciona na
medida em que possibilita que esse sujeito vulnerável não se sinta só (Moraes & Lapeiz,
1985; McDougall, 1995/1997b).

... a partir de 2005, com a aquisição de um Modem ADSL, a coisa se complicou de vez. O que
era rotineiro, tornou-se uma obsessão. A princípio, trancava-me no quarto e tirava inúmeras
fotos com meu celular, para que pudesse me masturbar logo em seguida. Isso ocorria várias
vezes por semana, o mesmo ritual, ano após ano. Nos anos posteriores, com a explosão dos
sítios de vídeos pornográficos, passei a baixar cada vez mais material, a ponto de abarrotar
uma pasta — oculta, claro — em meu notebook. Nessa última fase, nos últimos três, quatro
anos, não mais baixava conteúdos, mas utilizava um tablet para satisfazer o terrível e voraz
dragão que habitava em mim. E assim, passaram-se 10, 12 anos de minha vida, escoados pelo
ralo. (M. Mystère, D6).

Agora vamos ao que interessa. Tenho 29 anos e desde a infância eu tinha atração por
mulheres fumantes e por pés femininos (esse fetiche por pés até que é bem comum no Brasil).
Desde que comecei a me masturbar (aos 13) a maioria das vezes me masturbava com coisas
relacionadas aos fetiches e isso piorou quando surgiu a internet banda larga, foi aí que
realmente me vicei nesses fetiches. (Skid Row, D14).

Lembro-me bem agora, quando iniciei meu processo de enclausuramento havia apenas uma
coisa que me dava prazer: a pornografia na internet. Naquela época a internet ainda era
discada, fazia aquele barulho irritante antes de se conectar de fato à internet, e era muito
lenta, mas já existiam muitos sites ofertando pornografia gratuitamente. De início, apenas me
interessava por pornografia leve, mas com o tempo isso já não bastava, e fui aos poucos
mergulhando mais e mais fundo nesse mundo tão excitante e solitário ao mesmo tempo... E
também vivenciava as minhas primeiras experiências afetivas, com namoradas e ficantes. No
entanto, o que realmente me excitava eram as imagens e vídeos pronográficos que a internet
me apresentava, gratuitamente, no momento em que eu quisesse, a apenas alguns cliques de
distância. (Sputnik, D27).

De revistas encontradas num armário velho no trabalho de meu pai não demorou até os
primeiros DVDs pornô emprestados na escola. Minhas notas a partir de então desmoronaram
e me tornei um completo crápula, o tipo mais besta, mais irritante que pode haver (para vocês
70

verem como a pornografia, inclusive, torna o adolescente imaturo ao extremo). Ia para a


escola só para perturbar a todos (crente de que estava agindo como gente) e desejar coisas
impossíveis, se é que me entendem.” (Justiceiro do Sertão, D4).

Bom,se eu não me engano, a primeira vez que eu tive acesso a pornografia foi entre 2003 ou
2004...eu tinha 11 anos...e foi através de umas VHS velhas do meu pai...o engraçado dessa
fase é que quando eu assistia essas VHS, nunca aconteceu a "PMO" pois eu não sabia o que
era masturbação...eu ficava com tesão é claro mas assistia por pura curiosidade, vamos dizer
que eu ainda era "inocente"... não sabia das coisas...depois de assistir várias vezes, o vídeo
Cassete na hora de rebobinar as fitas enroscava e amassava elas por dentro e estragou todas
as fitas (hoje 10 anos depois dou graças a Deus por isso ter acontecido ainda cedo) como não
dava mais pra assistir, deixei isso pra lá. No começo de 2005 com 13 anos eu aprendi a me
masturbar...nessa fase a M era apenas usando a imaginação e raramente quando aparecia
alguma nudez ou cena de "softporn"[pornografia leve, normalmente, com enredos que não
focalizam exclusivamente os genitais] aleatória na TV a Cabo como HBO ,Max Prime e
canais do tipo...até ai foi tudo bem ,entrando na puberdade por volta de 2006,2007 nas Lan
Houses da vida eu descobri que existia revistas pornos de graça na internet (coisa que eu
achava que não existia)...eu nunca tinha tentado procurar isso na Lan House pois tinha medo
de ser pego rs' depois de algum tempo tomei coragem e comecei a pesquisar coisas leves
como Playboy, Sexy só pra alimentar a imaginação pra M quando chegasse em casa...tempos
depois também descobri que existia filmes pornos grátis na internet. Em 2008 com 15 anos eu
ganhei meu primeiro PC...aqui começa a pornografia em internet banda larga na minha
vida...nos primeiros dois anos até 2010 foi "de boa", assistia pornos de forma "normal", PMO
uma vez por dia, raramente 2 vezes por dia...então me formei no ensino médio no mesmo ano
em 2010...e ai começava o esse pesadelo na minha vida...do final de 2010 pra cá (últimos 5
anos) as coisas pioraram e MUITO. (Luxord, D21).

... minha historia começa aos 8 anos de idade, quando por acaso, descubro na estante da
minha casa, um arsenal de VHS porno pertencentes ao meu pai, um também viciado em
pornografia, e quando digo arsenal não é nenhum exagero da minha parte, pois ali continha
todo tipo de pornografia "normal" e Hard existente e aceitável para a época. nessa época
ainda como eu era criança eu achava completamente inaceitável e repulsivo alguns tipos de
pornografia, então fiquei no básico até mais ou menos meus 12 anos. A partir dos meu 12
anos a pornografia convencional já não me saciava mais, foi o período em que comecei a
ejacular, então foi quando comecei a sair do porno "GOSTOSAS" para algo mais fantasioso
como os de "HISTORIAS". Nessa vibe eu fui indo até achar um VHS realmente HARD para
mim, e foi quando tive meu primeiro orgasmo realmente intenso, fiquei naquela fita durante
dias, e nessa onda de porno de historias que envolviam incesto e sexo publico até meus 14.
Com 14 anos tive minha primeira namoradinha, o porno já estava instaurado na minha
cabeça, já tínhamos um aparelho DVD em e um ARSENAL pornográfico completamente novo
na estante, e foi quando aconteceu que, eu perdi minha virgindade... (Lee, D24).

A partir dos depoimentos acima, notamos que a internet possibilita o acesso a


informações sexuais, que estimulam um modo de funcionamento psíquico cada vez mais
perverso no sujeito. Em outras palavras, ela veicula elementos que prendem o sujeito em
determinada especificidade sexual, até que ele se amorteça de seus estímulos e procure,
progressivamente, a excitação em conteúdos mais exclusivos. Nesse sentido, segundo
Ceccarelli (2011b), os meios midiáticos difundem milhares de informações que ocasionam
efeitos perversos na formação de um psiquismo. O autor compreende como efeito perverso a
71

ocasião em que as mídias se aproveitam de seu poder de convencimento para produzir


condutas comportamentais e transmitir normas e entendimentos sociais do que seria
felicidade, principalmente no ato de transformar objetos corriqueiros em objetos
indispensáveis para encontrá-la. As mídias apresentam modelos identificatórios que são
considerados fundamentais para obter reconhecimento e êxito, porém essas figuras são
fantasiosas, na medida em que o alcance a esses padrões é impossível.

Os modelos impostos pela mídia, verdadeiros ditames de conduta, substituem, ou mesmo


eliminam, a singularidade do trajeto identificatório de cada sujeito (suas origens, a
particularidade de sua cultura, suas crenças e sistemas de valores ético-morais, enfim, a sua
história), o que pode levar a um empobrecimento radical da subjetividade. Modelos coletivos
hegemônicos criam ilusões identitárias, ... cuja manutenção só é possível pela eliminação da
circulação do desejo: o sujeito é transformado em objeto de consumo, e os valores sociais de
felicidade em necessidades narcísicas de sobrevivência. (Ceccarelli, 2012, p. 61).

Ceccarelli (2012) considera que a noção de consumo engloba desde elementos físicos
a elementos abstratos, como um objeto material (perfumes, roupas etc.) e algo do campo da
virtualidade, como os programas de televisão. Estes podem transmitir para as pessoas o
entendimento de felicidade, tristeza, ou até mesmo apresentar elementos tóxicos que, embora
permitam o acesso ao prazer, podem lançar o sujeito a uma situação de desconexão com as
demandas da realidade externa, pois a mídia auxilia no processo de se esquivar das exigências
sociais. Apesar desse fato por um lado preservar o sujeito das solicitações sociais, por outro
ao se esquecer delas, enclausura-se dentro de si mesmo e abstém-se de se relacionar com o
outro.
Assim, por meio dos depoimentos, compreendemos que essa dificuldade em se
aproximar afetivamente do outro na esfera social, deve-se ao fato de que, na pornografia, a
energia sexual é apresentada sem nenhuma barreira para que se atinja sua meta, pois o coito
na performance, geralmente, culminará em orgasmo. O sexo é explícito, sem enredo, ele não
se propõe a executar atos preparatórios de afetividade anteriores à prática sexual (carinhos e
preliminares) e, por fim, exige que ambos os personagens se comportem como máquinas
sexuais. Em suma, verificamos que as mídias pornográficas perpetuam modelos
identificatórios de performance e de atitude sexual desprovidos de vinculação afetiva entre si.

5.2. Vergonha, culpa e masturbação


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O eixo temático que foi contemplado nesta descrição e análise visa amalgamar e expor
elementos que se destacaram nas leituras e releituras dos depoimentos, que são: a culpa, a
vergonha e a masturbação. Apontamos que, na presente pesquisa, a palavra culpa será
vinculada à palavra arrependimento, por possuírem um resultado comum: o remorso.
De maneira simplificada, a culpa seria originada de algum comportamento emitido
sem a intenção de prejudicar algo ou alguém, mas que resultou em algum tipo de dano. Ela
também se encontra atrelada à certa deturpação realizada a determinado entendimento ético
ou moral. Como já exposto, ela será vinculada à palavra arrependimento, pois a última, de
acordo com Ferreira (1999), seria alguma “insatisfação causada por violação de lei ou de
conduta moral, e que resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras
violações” (p. 200).
A culpa, para Peres (2001), foi demonstrada ao longo da história por meio de marcos,
como o pecado original, o assassinato do pai e dos irmãos, que existem desde os primórdios
da humanidade. Nas palavras da autora:

Se no início, foi um ato, esse ato gerou a culpa e a culpa presentifica-se em nossa memória. A
culpa é sempre uma culpa recordada. Culpa que decorre de uma lei sob a qual somos regidos e
que se inscrevem sua dimensão simbólica; culpas reais que nos acometem por nossas faltas e
atos quotidianos (p. 7).

A esse respeito, Freud (1930/1996b) afirma que todo sujeito possui pulsões destrutivas
em si, e para que elas não se voltem para o ambiente social, faz-se necessária à existência de
algum elemento para inibi-la, pois se isso não for feito, o sujeito pode direcionar sua
agressividade contra a sociedade e contra seus pares. Para isso, ao longo do desenvolvimento
do sujeito, a civilização o conduz a internalizar sua própria agressividade, isto é, ao invés de
lançar a violência contra a civilização, o sujeito a devolve para o próprio ego. Assim, quando
tomada por parcela do próprio ego, ela “... se coloca contra o resto do ego, como superego, e
que então... está pronta para pôr em ação contra o ego a mesma agressividade rude que o ego
teria gostado de satisfazer sobre outros indivíduos” (p. 127). Daí, desse conflito entre as
exigências de um implacável superego e o ego originar-se o sentimento de culpa, que se
manifesta a partir do anseio do próprio sujeito em se penalizar.
Já a vergonha, segundo Ferreira (1999), seria um sentimento suscitado pela execução
de atividades que são contrárias à moralidade. O autor também a considera como: “2.
Sentimento penoso de desonra, humilhação ou rebaixamento diante de outrem. 3. Sentimento
de insegurança provocado pelo medo do ridículo” (Ferreira, 1999, p. 2062).
73

Além disso, por meio da disposição das palavras encontradas no dicionário,


observamos que logo abaixo da palavra “vergonha” é apresentada uma definição da palavra
“vergonhas”, exposta como uma forma de se referir ao órgão sexual feminino, a vulva. Sendo
assim, a nosso ver, fica evidenciado o moralismo encontrado em atividades que culminam no
sentimento de prazer por meio do desnudamento do corpo e do aparecimento dos órgãos
sexuais. Maio (2011), em sua obra O nome da coisa, atenta-nos que as palavras destinadas
para o órgão sexual feminino ao longo da história foram se modificando devido à repressão
social à mulher. Isso tanto é verdade que existem vários nomes ou sinônimos atribuídos a esse
órgão, “provavelmente em decorrência de toda a proibição e de todos os interditos que a
terminologia exerce sobre a repressão sexual feminina” (p. 104).
Segundo Freud (1905/1996e), a vergonha é uma força anímica instaurada no período
de latência e que antecede a etapa do desenvolvimento que denominamos puberdade. Esta é
caracterizada por ser um período de intensas modificações corporais, que indicam que o corpo
infantil está se transformando para aproximar-se da realização do ato sexual; e, uma vez que
uma relação sexual implica na existência de no mínimo duas pessoas, a possível presença de
outro, objeto sexual, exige ao sujeito que se preocupe consigo mesmo diante do olhar do
outro. Como já visto anteriormente, a civilização impõe limites para a satisfação e efetivação
desse ato; nesse aspecto, a vergonha pode atuar como resistência ao escoamento libidinal.
Assim, compreendemos que a vergonha torna-se elemento essencial para a
conservação e sustentação das normas sociais e exigências civilizatórias. Outro modo de
compreender a vergonha, além de resistência, é o de encará-la como um sintoma, pois, de
acordo com Freud (1905/1996e), ela pode se manifestar por meio do reprimido, sendo um
substituto dele. A partir do momento em que o sujeito não encontra satisfação por um
determinado direcionamento, “... a libido se comporta como uma corrente cujo leito principal
foi bloqueado; ela inunda então as vias colaterais que até ali talvez tivessem permanecido
vazias” (p. 161).
Portanto, quando não conseguimos alcançar a meta sexual, a tensão libidinal busca
outra via de descarga, não consciente e involuntária: o sintoma. A vergonha seria uma
possível opção encontrada pelo ego para interceder às exigências externas, pois diante dela, o
sujeito tende a se conformar às exigências da vida. A vergonha como sintoma é uma maneira
de promover a passagem da energia, que em outro momento foi reprimida e que suscita
sofrimento psíquico. Principalmente, para aquele que se vê em um ciclo de repetição no
consumo das vergonhas alheias, ou seja, da produção pornográfica.
74

Por fim, a masturbação seria uma ação suscitada pelo esfregar das mãos nos órgãos
genitais ou pela utilização de ferramentas destinadas à obtenção do orgasmo (Ferreira, 1999).
Esses sentimentos e tal atitude sexual foram frequentemente destacados nos depoimentos,
pois os sujeitos correlacionam o vício pela pornografia com a masturbação; isto é, o ato
masturbatório se faz presente após e/ou durante o ato de consumir a pornografia com o
objetivo de sentir satisfação. Como consequência, evidencia-se o surgimento do sentimento de
vergonha, de culpa e de arrependimento. Para tal elucidação, escolhemos o trecho abaixo, que
se relaciona ao que foi exposto.

Só pode ser isto! Só poder ser a pornografia e a masturbação. Não tenho mais o que tentar!
Já tentei de tudo!". Ou seja, eu não tinha certeza, mas por dedução (por já haver tentado de
tudo) eu enfim me dei conta de que podia ser a pornografia que estava me afundando... Minha
adolescência foi uma porcaria. Uma baixa autoestima contumaz e uma falta de impulso e
confiança para lidar com as garotas, tudo isso me conduzia ao que me restava de
"experiência sexual": a masturbação com pornografia ou mesmo a masturbação imaginando
garotas que eu queria... Comentava com minha psicóloga: "parece que falta um motor dentro
de mim". Hoje sei que esse motor é a libido, que me era roubada pela pornografia e
masturbação... descobri o quanto o sexo era incrível e era um ato de carinho entre duas
pessoas. Enfim descobria o que a pornografia e a masturbação me retiraram por décadas:
uma potência vital enorme!... Minha vida sexual é ativa e saudável hoje. Além da descoberta
de que sexo é carinho, aprendi que o sexo des-cansa, enquanto a masturbação cansa. O sexo
preenche sua vida. A masturbação nos enche de vazio (Magrão, D3a).

Observamos que o vício pela pornografia e a masturbação são apresentados pelos


sujeitos dos depoimentos como um resultado, que envolve uma gama de fatores, tais como a
baixa autoestima e a insegurança. Embora esses sentimentos se construam no decorrer de todo
o desenvolvimento do sujeito, a pornografia e a masturbação encontram um campo fértil para
que tais fatores ganhem proporções acentuadas no período da adolescência, pois, segundo
Aberastury & Knobel (1981), essa é uma etapa em que os jovens sofrem por alternâncias
emocionais, comportamentos instáveis que variam de uma introversão à extroversão e de
desordenamentos emocionais. Notamos que o universo da pornografia aparece como
alternativa ao prazer e ao autoconhecimento do adolescente. Entretanto, alguns não
conseguem se organizar devido a tamanho estímulo ofertado pela indústria do sexo.
Outros depoimentos nos mostram que as relações dos sujeitos e os significados da vida
se tornam em demasia esvaziados, devido ao uso frequente da pornografia e da contínua
prática masturbatória, pois ao estabelecer uma relação tão intensa e íntima com a pornografia,
as práticas de satisfação, refúgio e até mesmo de entretenimento do sujeito giram em torno
dela. Eles se sentem como se não houvesse outra via para encontrar tranquilidade, prazer e
satisfação.
75

Quando se é viciado, quer-se mais é que o mundo se dane. A zona de conforto é muito mais
tragicamente gostosa. Meu comportamento era diuturnamente só me masturbar e mais nada,
com ou sem pornografia, mas principalmente com. (Justiceiro do Sertão, D4).

... várias vezes cheguei a furar meu programa de estudos ou deixar de estudar para provas a
fim de ver conteúdo pornográfico e me masturbar. Contudo, ainda não percebia a gama de
efeitos nocivos que sofreria em razão do vício... estou com distimia, um tipo de depressão
leve, a qual certamente foi suscitada pela pornografia e masturbação... (M. Mystère, D6).

É como se as fantasias (masturbação e pornografia) fossem a minha cocaína, a minha fuga da


realidade (e suas eventuais frustrações) (Magrao, D12a).

A PMO virou válvula de escape para qualquer frustração. Por fim, ela virou motivo de
tormento na pior fase da minha vida, dado que minh ex usava a minha PMO como
justificativa pra dizer que eu era o maior lixo humano da TERRA. (Fabsjoia, D29).

Nos depoimentos acima é possível identificar dados que evidenciam falta de


autocontrole em lidar com a masturbação e com a pornografia. Tais elementos são
demonstrados de modo mais contundente nos depoimentos que apresentaremos logo abaixo,
nos quais é possível perceber que a masturbação e a pornografia se aliam de modo tão
específico no cotidiano do sujeito que, para eles, a consequente execução masturbatória aliada
ao componente pornográfico é suficiente por um breve período de tempo. Todavia, o mal-
estar suscitado por esse meio exclusivo de prazer leva a consequências físicas e emocionais.

Meu nome é Lucas, e estou aqui para tentar parar com a masturbação e a pornografia, Tenho
17 anos ,me masturbo desde aos 11.e percebi que estou com DE, pois eu percebo que uma
garota é atraente, e mesmo assim, nada de conseguir excitação, na minha cabeça sempre
pensei que era por causa da masturbação excessiva, mas nunca conseguia parar ... Já tive a
oportunidade de namorar com muitas garotas, porém sempre rejeitei, pois pra mim o prazer
que eu estava tendo com a pornografia e masturbação já bastava pra mim. Minha ansiedade
era tão grande para me masturbar que tudo que eu pegava com a mão eu ficava tremendo...
(Lucas, D18).

Descobri a masturbação em 2005, esse diabólico vício na minha adolescência, através dos
meus melhores amigos... E como todos aqui, que se interessam naturalmente por sacanagens
com o sexo oposto, comecei a ver revistas e dvds pornográficos com meus amigos de rua, esse
foi o começo da minha destruição. A pornografia é diretamente relacionada com a
masturbaçao, como sabemos... Mas com a chegada de um PC na minha casa e a descoberta
dessa combinação perversa, posso dizer que foi o inicio do meu fim... Tem dias que eu me
masturbo até 3 vezes, sempre aquela masturbação curta e insatisfeita com unico objetivo de
sentir a sensação do clímax o que me torna uma especie de ''bola insaciável de luxúria'' o dia
inteiro. (Paz, D25).
76

Salomao (D7), apesar de não fazer uma ligação direta entre a masturbação e a
pornografia, afirma que foi o ato masturbatório o responsável direto pelo consumo de material
pornográfico: “Meu vicio começou com masturbação, depois fui para vídeos pornográficos
na internet...” (Salomao, D7).
A partir dessa fala, nos reportamos ao exposto por Freud (1950/1996j) na carta 79, na
qual afirma que “... a masturbação é o grande hábito, ‘o vício primário’, e que é somente
como sucedâneo e substituto dela que outros vícios – álcool, morfina, tabaco etc. – adquirem
existência” (p. 323). A ação de se masturbar é de cunho totalmente autoerótico, pois ocorre
por meio do ato do sujeito excitar o seu próprio corpo. Acrescentamos aos dizeres de Freud
outro substituto, que seria o vício em pornografia. Contudo, nessa modalidade o que há de
mais primitivo é que o sujeito usuário de pornografia raramente se desvincula da
masturbação. Tal hábito estaria presente e seria ampliado para que sua execução ocorresse
atrelada à pornografia. Logo, a pornografia fornece outros elementos para a intensificação da
masturbação.
Frente a alguns depoimentos citados acima e a outros que serão destacados abaixo,
notamos que os sujeitos consideram a masturbação algo humilhante, uma prática negativa e
penosa, a qual deve ser escamoteada ou não realizada.

Aos 16, foi quando comecei a ter vergonha de mim mesmo, senti que precisava de uma
namorada e decidi parar com a pornografia e masturbação pela primeira vez. Foi uma época
em que eu percebi que a masturbação era algo humilhante e estava determinado a parar...
(Projeto, D5b).

Dos 12 aos 18 anos eu tive uma vida afetiva e sexual frustrante. Não ficava com as meninas,
não namorei. Perdi a virgindade com uma prostituta aos 15 anos e, talvez intimidado, tive
dificuldade de ereção. Mas me masturbava MUITO, geralmente fantasiando no banheiro ou
assistindo TV. Lembro que atrizes e Vjs da MTV me excitavam e eu me masturbava. Era todo
dia! Aos sábados eu fazia plantão para assistir o Cine Privê. Me masturbava vendo os filmes,
mas tentava segurar o orgasmo para o fim do filme. Até o fim eu me masturbava, sem
orgasmo, vendo todas as atrizes. E, por ter uma criação e uma vida religiosa (católica), me
sentia muito mal com a masturbação, vista como pecado. (Fabsjoia, D29).

Um fator elencado em vários depoimentos, dentre eles o de Fabsjoia (D29) e o de


Luxord (D21), refere-se à masturbação sendo vista como algo negativo por parte da religião,
sendo que ambos os depoentes se apresentam como pertencentes a alguma instituição
religiosa. Assim, a prática masturbatória e sexual é encarada como pecaminosa e impura
quando realizada sem o consentimento da própria instituição, que geralmente possui seus
próprios princípios e regras. O prazer gerado por tal atividade passa a ser compreendido pelos
77

membros dessas religiões como uma transgressão; e, como consequência, quem burla uma
regra deve ser punido.

... eu não entendia muito bem o vício em pornô... e aquele culpa como sem fosse um meteoro
caia na minha cabeça... mesmo assim eu não desisti... ficava 1 semana sem PMO, ai caia de
novo, depois mais uma semana sem PMO, caia de novo... minha Fé não existia mais, só ia pra
igreja por ir mesmo, e por causa de uma amiga que eu conheci na igreja, já não conseguia
orar mais pois tinha vergonha de Deus. (Luxord, D21).

Percebemos que os sentimentos de arrependimento e de vergonha podem contribuir


com muita intensidade para o aumento da culpa, principalmente nas repressões sociais diante
da manifestação de conteúdos sexuais. Os sujeitos dos depoimentos se sentem como se
tivessem executado alguma ação condenável devido às suas práticas e lamentam-se por terem-
na feito e desejado. Compreendemos que o fato complexo para os depoentes não é em si o
consumo esporádico ou ocasional do material, mas a constância e a frequência elevada de
consumo. Em suma, é a obstinação e a exclusividade da necessidade de consumo que atordoa
os sujeitos; é a excessiva importância destinada à pornografia e à masturbação que lhes gera
sofrimento.
A masturbação e a pornografia são consideradas práticas e atitudes condenáveis em
face aos princípios morais internalizados em nossa cultura, devido às influências religiosas,
principalmente do cristianismo. Em decorrência dessa influência moral e religiosa, o sujeito
consumidor de pornografia, como afirmado nos depoimentos, manifesta conflitos de interesse,
em que o desejo se confronta com a moralidade, culminando em sensações de sujeira, de
culpa, de arrependimento e de vergonha. O sujeito, ao consumir a pornografia, sente-se
impuro e indigno do respeito e da afetividade de outrem. Na ótica dos princípios cristãos que
permeiam nossa civilização, a masturbação corresponderia a um ato de luxúria, possibilitaria
desejos de cometer adultério (em pensamento ou em atitude) e atenderia aos desejos da carne,
ou seja, às demandas fisiológicas. Alguns depoimentos nos mostram que esse traçado com os
princípios religiosos não é vão, mas que possui raízes na transgressão da moralidade
estabelecida. Como: “porém, a cada fim de bronha a sensação de culpa era 100x pior do que
antes dessa fantasia, me sinto menos que nada, um depravado, um lixo” (Over, D10).

Durante o namoro, houve alguns períodos em que eu diminuí fortemente a quantidade de


pornografia, porque eu realmente gostava da minha namorada e tinha culpa por olhar fotos
de outras mulheres (exemplo: tinha sessões de pornografia apenas uma vez por mês).
(Projeto, D5b)
78

Hoje eu estou em uma situação que me envergonha muito. Me sinto sujo e completamente
arrependido por todo esse tempo perdido que pratiquei PMO... Eu não consigo ficar um dia
sem PMO. Às vezes eu penso comigo mesmo que isso não é necessário, mas algo no meu
cérebro me fala pra eu ir praticar pq vai me aliviar e eu vou ficar mais tranquilo, mas não é
isso que acontece, sempre que termina eu fico com sentimento de arrependimento e depressão
(surfista, D26).

Outro depoimento que nos gerou inquietação foi o de matheus750 (D8). Em seu
depoimento ele apresentou uma notícia de um homem que supostamente seria viciado em
pornografia e, por isso, cometeu uma série de estupros e assassinatos, passando assim do nível
virtual ao real à procura por satisfação, pois a pornografia não lhe bastava mais. Matheus750
sentiu-se preocupado por se identificar com o personagem da notícia, que estava se afundando
na procura por prazer.

Ele contou que era viciado em pornografia das mais pesadas e que um dia caiu na besteira de
sair de casa para pegar uma mulher, quando ele cometeu o primeiro estupro, voltou para
casa, dormiu e no dia seguinte se arrependeu. Passaram-se alguns dias, e "como aquele
caminho já havia sido aberto na mente" ele teve vontade novamente, e cometeu o segundo
estupro, e voltou para casa e no outro dia se arrependeu. E assim foi por várias vezes. Ele
relatava também, que não parecia ser ele, parecia ser outra pessoa, que ele sabia o que
estava fazendo, mas não tinha controle dele mesmo... Logo ao terminar a reportagem, eu me
senti completamente mal. Ao assistir e ouvir o relato daquele homem, não consegui ver
muita diferença entre mim e ele. Aquele homem estava afundado na pornografia, estava
indo a níveis mais baixos à procura de maior satisfação. Ele sentia-se arrependido após o
que acontecia, mas não conseguia controlar quando vinha o vício para cima dele. Era como
se fosse outra pessoa, sabia o que estava acontecendo, mas não conseguia parar e se
controlar. (matheus750, D8, negritos do autor).

O depoimento exposto nos mobilizou, pois matheus750 se sentia identificado com um


sujeito capaz delinquir na busca de satisfação e apontou como uma das causas de sua atitude a
falta de controle diante do ato compulsivo. Ele demonstra que a partir do momento em que
uma nova fonte de satisfação é consumida e alcançada torna-se difícil abdicar do objeto, esse
fato nos inquieta, visto que a falta de domínio próprio pode suscitar em crimes como a
pedofilia, o estupro e a zoofilia.
Além disso, outros depoimentos demonstram uma vasta procura no ambiente virtual
por conteúdos sexuais que não corresponderiam à orientação sexual descrita pelos próprios
sujeitos. Nesse ponto, não nos cabe enfatizar o preconceito velado e envolvido em relação a
algumas identidades sexuais, mas apontar para o sofrimento gerado pelo consumo de
determinada categoria pornográfica. Focalizamos, assim, o sofrimento gerado pelo conflito no
sujeito em se excitar assistindo à pornografia, pois, se flagrado em qualquer ambiente público,
sua atitude não seria aceita, mas na esfera particular tal categoria é buscada, por suscitar
79

desejo e interesse. Por exemplo, “... passei a assistir shemales [pornografia com transexuais
ou travestis], ficava destruído e arrasado depois de cada vídeo que via” (Balian de Ibelin,
D10.1) , “Eu sou heterossexual, na medida em que todos os desejos românticos eu idealizo
com uma mulher normal. Porém este meu lado mais pervertido me envergonha” (Marcolopes,
D20c),

No meu caso, e uma vez que sou virgem, o mal que a pornografia me trouxe foi mesmo a
escalada dos meus gostos, sobretudo por ver pornografia travesti (apesar de ser apenas
periodicamente), que me deixava com um sentimento de culpa e vergonha interior, pois até aí
eu sempre me senti atraído exclusivamente por mulheres... (Marcolopes, D19c).

... comecei a ver pornografia das mais repugnantes que vocês possam imaginar, TODOS OS
TIPOS, me masturbava o dia todo e chorava a noite toda... Bati de frente com o vicio e não
esperava o que estava por vir, nao conseguia passar 2 dias sem me masturbar, ficava criando
mentiras na minha cabeça do tipo "a só uma hoje e depois eu paro", "a eu bati ontem mesmo
entao nao perdi nenhum dia, nao custa bater uma hoje, ai amanha eu paro" e isso durante um
bom tempo (Lee, D24, maiúsculos do autor).

Pelo fato da masturbação ser um vício para os sujeitos que escreveram os


depoimentos, por estarem envolvidos com o vício em pornografia, eles revelam que burlam
normas e regras sociais, colocando até mesmo o seu trabalho em risco para desempenhar o ato
viciante. Sentem-se como se não conseguissem ter autocontrole para esperar o momento
oportuno de sentir satisfação.

... Descobri este Fórum hoje curiosamente umas duas horas após ter me masturbado no
banheiro do meu escritório assistindo videos pornográficos... Tenho vergonha de tanta coisa
degradante que já fiz para assistir pornografia e me masturbar. Até assisti videos e me
masturbei perto da minha filha que dormia ali no sofá. É vergonhoso (Alexandre, D30).

A vergonha nos parece pertencer a esse ciclo, pois os sujeitos tendem a esconder sua
dificuldade em lidar com a compulsão à pornografia. A visualização de conteúdos se torna
solitária e silenciosa, sendo que o olhar de outra pessoa é considerado algo abominável por
parte do viciado, pois as próprias amarras sociais o levam a escamotear o vício. Isso é
confirmado pelo fato de que os depoimentos foram escritos por meio de pseudônimos, para
evitar qualquer possibilidade de serem descobertos e taxados como pervertidos ou tarados
sexuais.

5.3.Fetiche e fantasia
80

Neste terceiro eixo temático, explicitamos o fetiche e a fantasia, pois ambos os


fenômenos, de acordo com os depoentes, estão vinculados com o uso excessivo de
pornografia. Muitos sujeitos revelam somente sentir prazer por meio do consumo da
pornografia, isto é, em suas relações sexuais reais dizem não conseguir atingir o prazer
desejado, sendo este suscitado somente por meio da fantasia envolvida no uso do objeto
pornográfico.
O fato da pornografia ser compreendida como um objeto de fetiche nos levou a
indagar a respeito de duas facetas: a exclusividade para atingir a satisfação sexual e o modo
de relação dos sujeitos dos depoimentos com seu objeto de prazer. Muitos relataram que a
princípio sentiam satisfação com a pornografia tradicional; contudo, com o passar dos anos
consumindo a pornografia, o estímulo oferecido pela pornografia tradicional não bastava
mais, sendo necessários outros estímulos diferenciados para encontrar a descarga da tensão
sexual.
Muitas vezes, encarar a pornografia como um objeto de fetiche fazia sentido, pois os
sujeitos não sentiam necessidade ou motivação para construir o prazer com outros sujeitos,
pois a fantasia envolvida no ato de encontrar a satisfação de modo autoerótico (masturbação)
lhes bastava, como no exemplo a seguir: “Já tive a oportunidade de namorar com muitas
garotas, porém sempre rejeitei, pois pra mim o prazer que eu estava tendo com a pornografia
e masturbação já bastava pra mim.” (lucasfsdf, D18).
Antes de descrevermos mais detalhadamente os depoimentos, gostaríamos de discorrer
a respeito de nossa compreensão sobre o que seriam os fenômenos da fantasia e do fetiche.
Comumente, a fantasia é entendida como “aquilo que não corresponde à realidade,
mas que é fruto da imaginação” (Ferreira, 1999, p. 878). Entretanto, isso se torna complexo à
medida que algo fantasioso é sentido pelo sujeito como algo real, ou seja, algum elemento do
campo da fantasia que se torna verdadeiro/concreto para o sujeito. Na Psicanálise, essa noção
é entendida como realidade psíquica. O motivo é que, para o sujeito do inconsciente, o que ele
vivencia no campo de suas fantasias é de fato concreto para o seu psiquismo. Nas palavras de
Laplanche e Pontalis (2001), essa seria uma “expressão utilizada... para designar aquilo que
no psiquismo do sujeito apresenta uma coerência e uma resistência comparáveis às da
realidade material” (p. 426).
Além disso, o “... conceito de fantasia é um recurso que propicia um entendimento
bastante sutil e complexo do comportamento e dos sentimentos...” (Segal, 2005, p. 6), pois a
fantasia atende a duas exigências: as pulsionais, originárias do id, e a realidade concreta;
portanto, sua atuação se dá no limiar entre elas. Outra compreensão trazida por Freud
81

(1915/2004a) é a de que a fantasia poderia ser entendida como o retorno de elementos que em
outro momento estavam recalcados, a fantasia permite que revivamos algo do passado, que
em determinada época não foi compreendido, devidos aos mais variados motivos.
A partir de uma leitura da obra freudiana, Lourenço e Padovani (2013) consideram que
as fantasias demonstram uma compreensão subjetiva a propósito da realidade dos eventos
passados, que se organizam por meio de mecanismos defensivos e desejos do sujeito. A
fantasia possui sua origem tanto na filogênese – história da espécie – como na ontogênese –
história do sujeito –, em outras palavras, na hereditariedade e na infância. Assim, para os
autores, a noção de fantasia inconsciente estaria relacionada a uma “... realidade dos fatos
vista e interpretada conforme os recursos psíquicos e desejos do indivíduo” (Lourenço e
Padovani, 2013, p. 323).
Ao pensarmos em desejos do sujeito e recursos psíquicos, perguntamo-nos qual seria o
papel da fantasia no fetiche, mas, antes disso, explicaremos do que se trata esse fenômeno.
Usualmente, o fetiche é entendido como “objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou
produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto” (Ferreira,
1999, p. 896). Logo, a palavra “fetiche” se refere a algo adorado e enaltecido. Já o fetichismo
é apresentado sob diversas formas; contudo, encontramos em um de seus significados que ele
estaria relacionado a uma perversão, em que o sujeito venera algum objeto que representa
alguém ou que suscita algum desejo sexual.
Freud (1905/1996e) afirma que a prática fetichista ocorre quando um objeto sexual
normal (coito) é sobreposto por outro que não oferece recursos para a prática do alvo sexual.
“O substituto do objeto sexual geralmente é uma parte do corpo... muito pouco apropriada
para fins sexuais, ou então um objeto inanimado que mantém uma relação demonstrável com
a pessoa a quem substitui, de preferência com a sexualidade dela” (p. 145). O autor afirma
que existem casos em que os sujeitos, apesar de fazerem uso de objetos fetichistas,
conseguem alcançar o alvo sexual. Entretanto, nos casos em que os sujeitos somente
conseguem obter a satisfação por vias exclusivas, verifica-se certo nível patológico.
De acordo com Freud (1905/1996e), há tipos diferentes de fetichistas. Alguns somente
conseguem chegar ao alvo sexual se existir um elo entre a supervalorização do objeto de
fetiche e o sujeito envolvido na cena. Em outros casos, os sujeitos abdicam do alvo sexual,
pois o objeto sexual não fornece as condições para que a satisfação seja atingida. Assim, a
situação somente é patológica caso o desejo pelo objeto de fetiche seja fixado e ocupe o local
do alvo sexual ou quando o fetiche se desvincula de um sujeito e se torna um objeto sexual
exclusivo.
82

Em seu artigo Fetichismo, Freud (1927/1996k) considera que, após o estudo de alguns
casos de fetiches, o objeto de fetiche seria análogo a um pênis específico. Nas palavras do
autor, o “fetiche é um substituto para o pênis... não é um substituto para qualquer pênis
ocasional, e sim para um pênis específico e muito especial, que foi extremamente importante
na primeira infância, mas posteriormente perdido” (p. 155). O autor acrescenta que esse
“pênis” deveria ter sido renunciado; entretanto, o fetichista opta por mantê-lo. Assim, as
práticas fetichistas demarcariam a transferência do suposto pênis materno para outro objeto,
sendo o fetichismo uma relutância em compreender a castração feminina.
Com frequência, alguns sujeitos demonstram estranhamento no seu próprio consumo
de pornografia, envolvendo transexuais e travestis, o que de certo modo, diante do exposto,
remete-nos ao jogo erótico envolvendo o pênis: tê-lo ou não. Uma hipótese seria a de que o
transexual, ou a travesti, remetesse o sujeito a uma situação de uma mulher portadora de um
pênis que nunca o perdeu. Desse modo, ao assistir ao tipo de pornografia a que nos referimos
aqui, o sujeito venera e se satisfaz fantasiosamente no corpo e na ideia de uma mulher que não
é castrada e que demonstra a completude fantasiosa. Contudo, tal adoração geraria no sujeito
dúvidas a respeito de sua própria orientação sexual, pois o sujeito confunde-se em relação à
identidade de gênero de tal mulher, mas o que lhe amedronta é a presença do pênis, pois ela o
coloca em uma espécie de confronto social a respeito de sua sexualidade.

Sempre gostei de mulheres, pelo menos desde a minha puberdade. Começei a ver pornografia
com 12 anos por volta disso. Eu só via lesbicas e hetero. Mas com o passar dos anos, depois
de ver muita pornografia começei a procurar novos estímulos, alguns nojentos, como
pornografia scat [pornografia com excrementos], outros que vão contra minha sexualidade,
como shemales. E a minha dúvida é a seguinte, será que alguma vez me vou deixar de
interessar por isso? Ou vou ter de viver com desejos perturbadores na minha cabeça de
travestis? Ou será que eu alguma vez me vou fartar de mulheres e procurar travestis? ... Eu
nunca fui muito viciado em pornografia, logo não tem sido muito dificil evitá-la. Mesmo assim
vi o suficiente para escalar meus gostos para generos pornograficos fora do comum.
(marcolopes, D9c).

Alguns depoentes revelam que encontraram na pornografia um objeto de satisfação tão


intensa que lhes gerou exclusividade e fixação, de modo a conseguir satisfação apenas por
meio do consumo, sem necessitar do alvo sexual de fato (o coito sexual). Como, “ ...me atolei
mais e mais na P ... O interesse por mulheres na vida real já não era mais o mesmo. Fiquei
cego perante aos inúmeros sinais e oportunidades que tive de ficar com várias mulheres”.
(nofapwinner, D2),
83

A pornografia me jogou desde a adolescencia num ciclo que é o seguinte: não busco
experiencias reais porque nao tenho vontade e motivação e, alem disso, tenho DE [Disfunção
Erétil]=> Como tenho DE e não sinto vontade de ter experiencias reais como uma mulher,
fico na mesma, onde estou, com o xvideos... Essa constatação joga por terra todo meu
esforço, e eu volto para a pornografia e a masturbação obsessiva. Sinto que com a
pornografia eu tenho algo que me da satisfação e prazer. Sem ela eu me anulo, porque não
consigo convencer uma louca a transar comigo! (Zé, D13).

Sempre gostei de tocar baixo em bandas, andar de skate e parece que essas coisas não tem
mais graça, pra mim PMO é a única coisa que está me satisfazendo, mas isso tudo é mentida,
ilusão da minha cabeça, eu sei que é bom no momento, mas depois eu me sinto um lixo, mas
mesmo assim eu volto a fazer de novo e não sei o pq... Eu namoro a 5 anos e amo minha
namorada, ela é linda e transo com ela todos os finais de semana, mas parece que isso não me
satisfaz. (sufista, D26).

Eu tenho 35 anos e a pornografia e a fantasia sempre acompanharam minha vida sexual. Aos
12 anos fui apresentado à pornografia por um amigo antes mesmo de eu descobri a
masturbação. Adiquiri um hábito deste amigo: olhar e fantasiar para todas as mulheres. E
assim começou minha adolescência. Dos 12 aos 18 anos eu tive uma vida afetiva e sexual
frustrante. Não ficava com as meninas, não namorei. Perdi a virgindade com uma prostituta
aos 15 anos e, talvez intimidado, tive dificuldade de ereção. Mas me masturbava MUITO,
geralmente fantasiando no banheiro ou assistindo TV. Lembro que atrizes e Vjs da MTV me
excitavam e eu me masturbava. Era todo dia! Aos sábados eu fazia plantão para assistir o
Cine Privê. Me masturbava vendo os filmes, mas tentava segurar o orgasmo para o fim do
filme. Até o fim eu me masturbava, sem orgasmo, vendo todas as atrizes.... Com o tempo a
coisa foi melhorando e comecei a fazer sexo sem viagra, mesmo com ereção mais fraca.
Muitas vezes pra gozar tinha que imaginar pornografia, senão, não gozava. Numa época,
parecia que eu tinha voltado quase ao normal, mas semana passada tive umas baixas e às
vezes transo tenso, com medo de falhar. Depois desses três meses de namoro (90 dias) e sem
PMO (apesar de ter fantasiado P. algumas vezes pra conseguir gozar), eu me sinto melhor
(Fabsjoia, D29).

Ao analisarmos os depoimentos fica evidente o redirecionamento libidinal ocasionado


pela pornografia e sua interferência na ereção masculina. Notamos que o objeto fetichista
retira a libido da via que estaria à procura de seu alvo sexual e a conduz a pontos de fixação,
sem os quais o sujeito se vê aniquilado.

Vale ressaltar que eu assistia porno mesmo namorando com ela (ela não sabia), e sim, cada
vez minha libido ficava mais "seletiva", em busca de categorias mais especificas de
pornografia. Sem elas não tinha ereção. Em janeiro de 2015, comecei a ficar com uma
garota, porem nao tinha ereção nenhuma ao beija-la. Tambem nao sentia desejo sexual,
vontade de me masturbar nem nada. Era como se não existisse libido (Azured, D16).

O pornô era a solução mágica para escapar de um mundo de problemas infindáveis. Até que
notei que o tempo que passava consumindo, o gênero e a qualidade das excitações não eram
as mesmas. Lésbicas, fetiches de agressão\dominação, homossexualismo (não que eu tenha
alguma coisa contra o homossexualismo, mas ele não está de acordo com minha orientação
sexual)! As coisas absurdas que via não estavam de acordo com minhas preferências reais...
84

Aos poucos eu fui passando dos vídeos para as fantasias mentais no meu novo mundo de
masturbador compulsivo. (Lion (Cassiano), D17).

Outro depoente, Lee, revela que seu primeiro contato com a pornografia foi aos oito
anos de idade. Narra que, aos catorze anos de idade, a pornografia estava internalizada em seu
psiquismo e seus fetiches foram se ampliando em virtude da pornografia e por ter sido
abusado pela mãe de sua namorada. Porém, ele não explicita esse delito cometido contra si
como ponto central de seu consumo por escalas sexuais mais específicas e considera a
pornografia como ponto determinante. Supomos que ele não tenha se debruçado mais
profundamente sobre a questão por resistências em relatar um trauma vivenciado no passado.
Entretanto, pelo fato do nosso objeto de estudo ser o vício pela pornografia, focalizaremos
esse ponto, embora frisemos que, possivelmente, a tentativa do depoente em elaborar tal ato
abusivo, pode ter ocorrido por meio da pornografia, pois esta oferece uma possibilidade de
tradução a esses eventos de cunho traumático e de sobrecarga sexual.

Com 14 anos tive minha primeira namoradinha, o porno já estava instaurado na minha
cabeça, já tínhamos um aparelho DVD em e um ARSENAL pornográfico completamente novo
na estante, e foi quando aconteceu que, eu perdi minha virgindade, e foi nada mais nada
menos que a mãe da minha namorada 30 anos mais velha que eu. foi ai que minha vida sexual
deslanchou, tudo q aprendi dos meus 14 aos 16 com ela, foi algo realmente intenso e
fantasioso. Foi então que a partir dai começaram os fetiches pesados unidos a vida sexual
ativa ... eu já tinha transado com todo tipo de mulher( bonita, feia, gorda, magra, velhas,
brancas, negras),o sexo já não me interessava com a mesma intensidade, pois ainda tinha
contato com pornografia e através dela tinha os melhores e mais intensos orgasmos, e foi a
partir desse período que entrei na pornografia "ESCROTA", buscava algo mais sujo e
repulsivo possível ( estupro, revenge[pornografia de vingança], bukake[pornografia com
ejaculação direcionada ao rosto]) (Lee, D24).

Fabsjoia discorre que, ao longo de sua vida, em decorrência do uso excessivo de


pornografia, ele desenvolveu disfunção erétil quando estava em uma relação sexual real, não
imaginária. Para que ele não passasse pelo constrangimento de não obter o desempenho
esperado em relações de intimidade com garotas, ele recorreu a medicamentos com a função
de manter a ereção. Contudo, para atingir o clímax sexual, ou orgasmo, sentia-se impelido em
imaginar cenas pornográficas, isto é, não conseguia se desconectar da virtualidade para, de
fato, vivenciar a cena sexual real.

Com o tempo a coisa foi melhorando e comecei a fazer sexo sem viagra, mesmo com ereção
mais fraca. Muitas vezes pra gozar tinha que imaginar pornografia, senão, não gozava. Numa
época, parecia que eu tinha voltado quase ao normal, mas semana passada tive umas baixas e
às vezes transo tenso, com medo de falhar. Depois desses três meses de namoro (90 dias) e
85

sem PMO (apesar de ter fantasiado P. algumas vezes pra conseguir gozar), eu me sinto
melhor (Fabsjoia, D29).

Outro depoimento, de tiago_fernando, demonstra uma necessidade similar à exposta, o


que nos faz suspeitar que a dessensibilização pelo alvo sexual (coito) se deve ao fato das
parceiras reais serem desinteressantes aos sujeitos, cujo fetiche pela pornografia é duradouro e
desvincula o sujeito de seu objeto amoroso.

Arrumei outra namoradinha, novinha e bonita, a primeira vez com ela também foi "meia
bomba" mas creio que pelo nervosismo, depois foi normal e com ER [Ejaculação Retardada]
como sempre, até que após uns anos a relação começou esfriar, ela já não gostava mais de
transar a todo instante como todo adolescente, eu também não me importava, já que a PMO
me dava mais prazer do que o sexo real, chegava ao cumulo de ir com ela pro motel e ficar
mais excitado com a idéia de ter a disposição o canal pornô na tv do que na transa com ela,
varias vezes acontecia de dar uma meia boca com ela, e quando ela pegava no sono, eu
colocava no canal porno e me masturbava, ai sim ficava satisfeito. Outras vezes quando
dormia na casa dela de fim de semana, as vezes ficava agoniado, esperava ela dormir e
mandava um PMO usando o pc dela mesmo (hoje escrevendo isso percebo como soa até
ridículo) (tiago_fernando, D28).

Nesse sentido, Sputnik reconhece que, para ele, as práticas sexuais convencionais,
quando lhes eram solicitadas, geravam-lhe incômodo. Ele desejava que elas terminassem
rapidamente para que conseguisse, de fato, encontrar satisfação e descarga por meio do
consumo pornográfico.

Ainda nessa época, eu iniciava a minha vida profissional, e havia acabado de terminar meu
curso na universidade. E também vivenciava as minhas primeiras experiências afetivas, com
namoradas e ficantes. No entanto, o que realmente me excitava eram as imagens e vídeos
pronográficos que a internet me apresentava, gratuitamente, no momento em que eu quisesse,
a apenas alguns cliques de distância... Namorei algumas meninas nessa época, com meus
vinte e poucos anos de idade, talvez 2 ou 3 meninas por um período mais ou menos longo, e
me recordo que com todas elas havia a repetição de um comportamento sexual errático de
minha parte, eu simplesmente não conseguia gozar, ejacular. Às vezes até broxava. Realmente
não entedia o porque, já que nada disso ocorria quando eu estava à frente da tela do
computador. Como eu poderia ter orgasmos tão delirantes assistindo pornografia na internet
e quando havia uma menina real eu não chegava lá?Aos poucos, conforme os anos se
passavam, esse sintoma aparecia com mais frequência e eu simplesmente fingia ter orgasmos,
era como seu eu quisesse me livrar o mais rápido possível daquela situação real para entrar
rapidamente no mundo virtual da pornografia. E quando a menina ia embora da minha casa,
lá estava eu novamente na frente da tela do computador, e só então conseguia gozar (Sputnik,
D27).

Além disso, a pornografia também se mostrou como um ambiente que proporciona ao


sujeito a exposição aos mais diversos conteúdos sexuais e fetichistas. O anseio em assistir às
práticas fetichistas por vezes é desenvolvido ao longo da exposição constante às
possibilidades de obtenção singulares e específicas de prazer.
86

A pornografia é diretamente relacionada com a masturbaçao, como sabemos... Mas com a


chegada de um PC na minha casa e a descoberta dessa combinação perversa, posso dizer que
foi o inicio do meu fim... Meu unico interesse sempre foi estar em casa em frente ao meu lap
top vegetando na internet. Hoje eu sou uma pessoa fria, não me sinto com dignidade pra
demonstrar sentimentos, evito qualquer contato tanto com homem quanto com mulher a todo
custo. Nos ultimos tres anos, posso dizer que o vicio se intensificou de uma forma demoniaca,
antes eu me satisfazia apenas vendo um video sensual de um cara transando com uma garota,
ejaculando e pronto. Eu sempre tive recaída por bunda como todo brasileiro... Mas nos
ultimos tres anos posso dizer que essa ''preferencia'' virou obssessão e eu passei a pesquisar
incansavelmente os mais variados sitios dessas produtoras pornograficas que tangem essa
parte das mulheres... . Mas hoje não, sou impaciente e frenetico eu só me satisfaço quando
fico passando as melhores partes do video, aquelas partes mais excitantes pra mim, em que
essa parte do corpo delas fica mais destacada no ato sexual... Durmo e acordo pensando
nisso, fantasio as minhas amigas do face, as atrizes da televisão, as garotas do meu whats.
Tem dias que eu me masturbo até 3 vezes, sempre aquela masturbação curta e insatisfeita com
unico objetivo de sentir a sensação do clímax o que me torna uma especie de ''bola insaciável
de luxúria'' o dia inteiro (Paz, D25).

Agora vamos ao que interessa. Tenho 29 anos e desde a infância eu tinha atração por
mulheres fumantes e por pés femininos (esse fetiche por pés até que é bem comum no Brasil).
Desde que comecei a me masturbar (aos 13) a maioria das vezes me masturbava com coisas
relacionadas aos fetiches e isso piorou quando surgiu a internet banda larga, foi aí que
realmente me vicei nesses fetiches. Eu conseguia levar uma vida sexual "normal", transei com
algumas mulheres e depois namorei uma garota que satisfazia meus fetiches e quando
terminamos foi aí que eu realmente me afundei na pornografia (relacionada aos fetiches)
(Skid Row, D14).

Pessoal estou lembrando que quando eu era viciado em pornografia já estava com uns
fetiches muito bizarros , um exemplo disso é de um que tinha que consiste em o cara ficar
deitado no chão de bruços e a mulher vir por trás dele e pisar em suas bolas literalmente ,
eles chama misso de CBT [método de tortura envolvendo o pênis e/ou testículos] . E isso me
excitava muito e andei pensando o quanto eu estava maluco em ficar excitado com uma coisa
doente dessas ... (Nerd, D11).

Eu sei como é ter fetiches. eu tenho muitos, desde os simples até os bizarros. Exemplos:
gravidas, travestis, urina, corno, zoofilia, pedofilia. e varias outras coisas... Eu fui
desenvolvendo esses fetiches conforme me viciava mais em porno, porque antigamente eu nem
imaginava que um dia iria sentir prazer vendo vídeos de travecos. até videos gays eu ja vi,
tudo pra conseguir mais variedade e mais prazer na pmo (Projeto renascimento, D14.1).

Outros demonstram como a pornografia afetou diretamente seu desenvolvimento


psicossexual e seu objeto sexual, como o caso do Justiceiro do Sertão. Ele afirma que, a partir
dos treze anos, iniciou o contato com a pornografia, sendo que desde então se tornou um “um
completo crápula, o tipo mais besta, mais irritante que pode haver” (D4) e desenvolveu
fixação por adolescentes, pois fantasiava com suas amigas e colegas de classe. Fantasias estas
que perduraram, aproximadamente, por nove anos.
87

... até as meninas da minha sala de aula, furtivamente naquelas funestas manhãs mesmo, me
serviam (eis de onde desenvolvi fixação por adolescentes/ninfetas/debutantes, ...)... Perdi
contatos, colegas, oportunidades de crescimento, de convívio (cheguei a ficar traumatizado
por não ter sido convidado às festas, desenvolvendo uma tara doentia por debutantes), perdi
tudo. Tudo... Cadê que aquelas imagens tristemente encantadoras me deixavam em paz? Era
só pegar um livro que o cérebro me repelia e me infestava a mente de ninfetas de peles
lisinha, de morenas latinas esculturais, de pezinhos de garotas (sempre fui louco), de forma
que nada demorava a desabar novamente (Justiceiro do Sertão, D4).

Em determinado momento do uso de pornografia, principalmente quando os sujeitos


se depararam com disfunção erétil, declararam que as fantasias não mais lhe saciavam, mas
que necessitavam buscar a especificidade e fixação no campo material, colocando-se em
situação de risco para efetivar sua satisfação.

Como eu precisava ver se eu "funcionava", precisava saber se o problema não era minha ex-
namorada e não eu, mas ao mesmo tempo eu tinha de novo a sensação de que não iria rolar,
por isso eu nem me arriscava em pagar caro por uma acompanhante de luxo. O fato é que eu
estava entrando na lógica da fantasia e da busca por novidades, que caracteriza nosso vício...
Até que num dia de desespero e solidão eu procurei uma psicóloga. Mas durante o tratamento
eu já estava usando níveis mais pesados de pornografia. Começar a ver vídeos gays ou de
travestis foram a ante-sala da minha procura por travestis na vida real. Comecei a frequentar
becos escuros e perigosos, correndo o risco de ser assaltado ou tomar uma navalhada... Uma
das coisas mais gratificantes do reboot é que as fantasias e fetiches vão sumindo. Sua
sexualidade volta a se reconciliar com sua moral, você se sente limpo, honesto, sente que é o
que sempre quis ser. Antes eu pensava: "só conseguirei namorar uma garota que aceite essas
minhas fantasias pesadas". Hoje sei que posso namorar qualquer garota pois não sou mais
escravo das fantasias (Magrao, D3a)

Meu vicio começou com masturbação, depois fui para vídeos pornográficos na internet ate
que chegou nas prostitutas ( o espiral da degradação vocês já conhecem) ... O pior é que já
estou em um estado bem avançado, as imaginações já saíram do campo da fantasia e estão
invadindo a vida real. Estou ficando viciado em sexo extraconjugal, já transei com várias
prostitutas, e quando chego em casa não consigo manter uma ereção satisfatória com a minha
esposa. O peso na consciência é grande, estou em um ciclo de mentiras constante para manter
a minha vida secreta (Salomao, D7).

Outro caso evidencia a falta de controle em relação às fantasias, em que sujeitos


transitam do consumo de modalidades pornográficas, cuja temática se refere ao abuso sexual,
como o estupro, e o efetivam na realidade.

Logo em seguida, o repórter foi entrevistar ele. Ele contou que era viciado em pornografia
das mais pesadas e que um dia caiu na besteira de sair de casa para pegar uma mulher,
quando ele cometeu o primeiro estupro, voltou para casa, dormiu e no dia seguinte se
arrependeu. Passaram-se alguns dias, e "como aquele caminho já havia sido aberto na
mente" ele teve vontade novamente, e cometeu o segundo estupro, e voltou para casa e no
outro dia se arrependeu. E assim foi por várias vezes. Ele relatava também, que não parecia
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ser ele, parecia ser outra pessoa, que ele sabia o que estava fazendo, mas não tinha controle
dele mesmo... Logo ao terminar a reportagem, eu me senti completamente mal. Ao assistir e
ouvir o relato daquele homem, não consegui ver muita diferença entre mim e ele. Aquele
homem estava afundado na pornografia, estava indo a níveis mais baixos à procura de
maior satisfação... A nossa sociedade precisa acordar, tirar essa venda da libertinagem, onde
tudo é bom, tudo é liberado, tudo deve ser feito conforme mandar a sua vontade. E começar a
conscientizar as pessoas que não se deve fazer tudo o que sua alma pede (a pornografia
desperta os níves mais baixo do ser humano) (matheus750, D8, negritos do depoente).

A partir do exposto, notamos que os sujeitos se sentem escravos das fantasias que
medeiam as práticas fetichistas, pois elas invadem seu psiquismo de modo a causar confusão e
conflito aos depoentes. O que de fato nos preocupa é o sofrimento gerado pela exclusividade
em se excitar e encontrar a satisfação. Nesse sentido, compreendemos que a pornografia
revive o polimórfico perverso (Freud, 1905/1996e), que estava recalcado. O avivamento dessa
situação é doloroso ao sujeito, visto que promove o conflito entre as instâncias morais e as do
desejo.
Segundo as palavras de Magrao,

Uma das coisas mais gratificantes do reboot é que as fantasias e fetiches vão sumindo. Sua
sexualidade volta a se reconciliar com sua moral, você se sente limpo, honesto, sente que é o que
sempre quis ser. Antes eu pensava: "só conseguirei namorar uma garota que aceite essas minhas
fantasias pesadas". Hoje sei que posso namorar qualquer garota pois não sou mais escravo das
fantasias. (Magrao, D3a).

Assim, em face do exposto, é notório que os sujeitos somente se sentem capazes de


manter sua vida quando esses elementos primitivos que estavam recalcados retornam ao seu
lugar originário, isto é, quando o polimórfico perverso se torna menos conflitivo, deixando
que a libido seja conduzida ao alvo sexual original.

5.4.A adicção e seus sintomas: a espiral da degradação

Antes de descrevermos o proposto para este eixo temático, gostaríamos de pontuar que
obtivemos dificuldade, ao longo desta pesquisa, em definir o que estamos considerando como
adicção/vício em pornografia. Por esse motivo, compreendemos o fenômeno a partir da
afetação ocasionada pelo objeto na vida dos sujeitos que a consomem. O que é concordante
aos dizeres de Loeck (2006) sobre o vício e a dependência. Nas palavras do autor:

Há a evidência também de que alguns usuários adquirem ou desenvolvem a dependência pela


substância que consomem, ou seja, suas vidas passam a ser norteadas a partir do consumo de
drogas. É um quadro de difícil definição o do vício ou da dependência, mas aqui será
89

considerado que se efetiva na dimensão totalizante que o consumo de drogas passa a ter na
vida dos indivíduos (p. 6).

Loeck (2006), a partir de seus estudos com usuários de drogas, enfatiza que estão
sujeitos diretamente à estigmatização e, no caso, o usuário de pornografia também está, na
medida em que esse hábito também é condenável socialmente. Entendemos que a falta de
conhecimento a respeito do vício em drogas, ou em pornografia, resulta em demonização do
objeto, ou situação, que causa dependência. Com o propósito de explorar o nosso objeto de
estudo, destacamos a sintomatologia ocasionada por seu uso.
Embora nosso intuito seja o de expor a sintomatologia presente no vício em
pornografia, temos de cuidar para não constituirmos uma “demonização” (Loeck, 2006, p.3) a
seu despeito, visto que, como afirma o autor (2006), ao atribuirmos somente malignidades ao
objeto, também estaremos destinando-as aos sujeitos que as utilizam.
No eixo temático anterior, demonstramos que a pornografia poderia ser entendida por
seu caráter fetichista. Já no presente eixo temático buscamos evidenciar a pornografia a partir
do viés da adicção e mostrar, por meio dos depoimentos, quais seriam os sintomas físicos,
psicológicos e sociais ocasionados pelo seu uso contínuo.
Alguns depoentes escrevem diretamente que o uso da pornografia se assemelha ao uso
de drogas, em que o contato se inicia a partir do consumo de drogas consideradas leves –
álcool e nicotina – e migram para outras mais intensas – crack e cocaína. No caso da
pornografia, os sujeitos revelam que abdicaram de uma pornografia tradicional e admissível
(softcore) para outras pesadas (hardcore) e ilegais (estupro e pedofilia).
Assim, este eixo se propõe a discutir os sintomas e a necessidade do sujeito viciado em
pornografia de consumir cada vez mais elementos considerados danosos, que interferem em
sua constituição e que leva, de fato, à sua degradação.
No geral, os depoentes consideram que o uso constante e imoderado de pornografia
gera sintomas, como: desmotivação em desempenhar atividades cotidianas, procrastinação das
tarefas, depressão, isolamento social, ansiedade, pensamentos suicidas, agressividade,
irritabilidade, insônia, negligência na alimentação com alteração de peso (uns afirmam terem
engordado, ao passo que outros emagreceram), dessensibilização peniana, disfunção erétil,
ejaculação retardada, abaixamento da libido e imaturidade (principalmente na etapa da
adolescência). Nas palavras dos depoentes,

Desmotivação, mito na procrastinação, apatia, falta de energia, isolamento social, estava


muito antissocial mesmo! Desenvolvi fobia social/ surto de panico e ansiedade! Ficava com
90

medo de me envolver com as mulheres (coisa que não tinha antes de me viciar em P), medo de
conhecer gente, etc. Me isolei na merda, depressivo, com pensamentos suicidas, fiquei
altamente solitário, agressivo, com insonia, me alimentando mal, fiquei magro, abaixo do
peso, peguei pesado na P e nas bebidas e nos cigarros. Me ferrei nos estudos. E me atolei
mais e mais na P. - Me ocorreu uma dessensibilização no pênis. Comecei a ter ejaculamento
retardado e principio de disfunção erétil. - O interesse por mulheres na vida real já não era
mais o mesmo. Fiquei cego perante aos inúmeros sinais e oportunidades que tive de ficar com
várias mulheres. Enfim, uma vida desgraçada que não desejo para ninguém! Eu sei que todos
esses sintomas não foram causados diretamente pela P. Mas a P aumentou absurdamente os
efeitos dessas coisas. Diria que o envolvimento social e a parte relacionada a sexualidade
foram as mais afetadas (nofapwinner, D2).

Amigos, espero que o relato abaixo sirva como estímulo a quem está afundado no vício e nas
suas consequências: solidão, dúvidas e falta de expectativa para com a vida... Nem sonhava
que já estava sofrendo de disfunção erétil induzida pela pornografia e de ejaculação
retardada. Saia o pesadelo de não conseguir transar, entrava o pesadelo de não sentir prazer
com o sexo. Daí para a frente eu sucumbiria lentamente a uma degradação que me fez correr
n riscos e perder uns 7 anos mais... Nisso minha vida foi afundando em solidão, em busca de
qualquer prazer, como um viciado em drogas. Então comecei a ir atrás daquelas prostitutas
baratas que anunciam em jornal. Como eu precisava ver se eu "funcionava", precisava saber
se o problema não era minha ex-namorada e não eu, mas ao mesmo tempo eu tinha de novo a
sensação de que não iria rolar, por isso eu nem me arriscava em pagar caro por uma
acompanhante de luxo. O fato é que eu estava entrando na lógica da fantasia e da busca por
novidades, que caracteriza nosso vício. E por fim, eu falhava na hora de transar com as
garotas de programa. A sensação se tornava certeza e minha vontade era não querer saber
mais sobre o assunto sexo, extirpar esse tema da minha vida... Fui perdendo todos os amigos,
restando apenas dois, que me aturavam com uma paciência gigantesca já que eu era um poço
de estresse, ansiedade e irritabilidade. Nisso comecei a me aprofundar no mundo da
pornografia... Além disso hoje eu consigo realizar projetos e a procrastinação diminuiu
tremendamente. Antes qualquer coisa era um problema gigante sobre o qual eu ficava
pensando e pensando. Agora, quando vou ver já estou agindo e em pouco tempo resolvi a
coisa... A pornografia é que lhe retira as cores e transforma a vida em algumas tristes e
pobres dezenas de tons de cinza... Estou muito feliz e é uma felicidade serena. Já conheci e
revisitei (com minha recaída) o inferno e não tenho mais curiosidade sobre como ele é
(Magrao, D3a)

... como sabemos graças aos recentes estudos sobre o vício em pornografia, o cérebro de um
viciado está dessensibilizado a velhos estímulos e está sempre à procura de novidades...
Completamente descontrolado, fui caindo para gêneros mais pesados até o ponto em que o
sexo virou o centro da minha vida. Nem preciso dizer que as outras áreas como emprego,
trabalho e dinheiro, estavam completamente desestabilizadas. E o desleixo para comigo
mesmo era digno de um viciado. Só que no meu caso, passava o dia inteiro trancado no meu
quarto vendo pornografia ou dormindo. Mas o fundo do poço mesmo foi quando começou a
DE (Disfunção Erétil). Com apenas vinte e poucos anos eu não conseguia mais ter ereções
com as minhas parceiras. Eram garotas lindas mas na hora H, eu falhava. No começo pensei
que era falta de exercícios físicos, excesso de refrigerante, ansiedade, medo de falhar ou até
mesmo apego ao meu ultimo relacionamento ou algum problema com as meninas. Quando
chegou a um ponto em que eu não conseguia me excitar nem com pornografia foi quando
bateu um desespero... - Mal humor e irritação comigo mesmo e com as outras pessoas. - Falta
de foco, procrastinação e perda de tempo. - Muito sono e preguiça. - Muita vergonha e culpa.
- Fraqueza física (pernas bambas, voz fraca, pele suja e desleixo pela aparência) (Projeto,
D5b).
91

Em 2008, graças a Deus e após muito esforço, fui aprovado num concurso público, e comecei
a trabalhar em 2010. À essa altura, já eram nítidos os efeitos que a pornografia e o hercúleo
esforço para omitir isso das pessoas ao meu redor desencadearam em mim. Comecei a notar
a queda de rendimento no trabalho, a dificuldade de concentração nos estudos e nas demais
atividades, a tendência ao isolamento, a ansiedade, a queda drástica da libido, entre outras
mazelas que me acometeram (M. Mystère, D6).

O que eu já senti e sinto durante todo esse tempo de vício, ou seja, algumas sequelas:
depressão, pensamentos suicidas, sem vontade de tomar banho e escovar os dentes, dores nas
articulações, dor quando tomo banho e sinto a água gelada, desânimo, falta de produção no
trabalho e motivação, medo de assumir responsabilidades, complexo de inferioridade devido
ao tamanho do meu pênis ..., medo das mulheres, timidez, vontade de ficar em casa direto e
deitado, solidão, vontade de ficar só no escuro, falta de concentração intensa, sem vontade
nenhuma de estudar, sem sonhos e sem planos, falta de sensibilidade, humor alterado,
compulsão por comidas - era jogador de futebol e hoje estou com mais de 120 kg, memória
um pouco debilitada, achar que eu nunca vou ser feliz de verdade, medo de urinar em
banheiros públicos por conta da vergonha, pensamentos repetitivos e de derrotas, enfim
(vencedoremcristo, D23).

A procrastinação faz parte da minha vida em tudo, sinto aquela preguiça desgraçada e uma
falta de vontade de fazer as coisas. Só quero saber de ficar sozinho, e quando isso acontece,
lá estou eu vendo pornografia no meu celular... Já perdi o controle, não consigo parar, já
tentei algumas vezes, geralmente quando estou trabalhando muito, até consigo ficar alguns
dias sem, mais são no máximo uns 3 dias. Agora realmente vejo que estou me afundando. Não
cuido de mim direito, não trato bem meus familiares, estou muito explosivo e sem paciência,
não consigo me concentrar direito, não tenho motivação para nada e a procrastinação toma
conta do meu ser. (Alexandre, D30).

Os depoentes avaliam que o excesso de pornografia, no período da adolescência, fez


com que eles tivessem sérias alterações comportamentais. Essas mudanças não foram
relatadas como positivas, mas como infortunas e penosas, suscitando quadros de extrema
imaturidade na convivência do púbere com seu meio social.

Minhas notas a partir de então desmoronaram e me tornei um completo crápula, o tipo mais
besta, mais irritante que pode haver (para vocês verem como a pornografia, inclusive, torna o
adolescente imaturo ao extremo)... Perdi contatos, colegas, oportunidades de crescimento, de
convívio ... perdi tudo. Tudo. No final de 2007, precariamente comecei a me dar conta de
minha situação, o que veio sob a forma de um amadurecimento repentino, violentíssimo
choque de realidade que me colocou em dois anos de depressão, a qual só cessou depois que
voltei atrás da decisão extrema de cometer suicídio e jurei a mim mesmo nunca mais
consumir PMO e só me matar de estudar (Justiceiro do Sertão, D4).

No inicio sentia vergonha ao procurar fotos pornôs e só via fotos de mulheres peladas e nada
mais. No decorrer do processo, fui escalando para gêneros cada vez mais pesados de
pornografia. Com 14 anos já tinha visto de tudo um pouco e perdi completamente o respeito
por mim mesmo. Fui um “adolescente problema” e na época atribui isso a minha idade e as
questões pessoais e familiares, mas hoje não tenho duvidas de que a pornografia foi uma
influência fundamental nesse processo. Minhas notas pioraram, meus relacionamentos
92

afetivos eram ridículos e eu me tornei uma pessoa cruel... Achei que seria fácil parar, e nem
suspeitava que a tarefa seria praticamente impossível... (Projeto, D5b).

Uma das principais características de um adicto é justamente o hábito e o ritual


envolvido na utilização de uma droga. Por exemplo, a partir do momento em que um fumante
estabelece que após alguma refeição ele fumará um cigarro, se assim não fizer, ele sente que
seu dia não foi proveitoso e se angustia quando essa etapa lhe é negada ou impossibilitada. O
mesmo ocorre com o dependente de pornografia, que cria horários e momentos para que
obtenha sua satisfação.
Na maior parte dos depoimentos, verificamos que os sujeitos criam rituais para usar a
pornografia. O período de uso que se destaca é o noturno, ou na madrugada, antes de dormir,
após os familiares se recolherem em seus aposentos. Evidenciamos que esse momento
escolhido, coincidentemente, é uma circunstância em que os sujeitos estão longe do olhar
social.

O que era rotineiro, tornou-se uma obsessão. A princípio, trancava-me no quarto e tirava
inúmeras fotos com meu celular, para que pudesse me masturbar logo em seguida. Isso
ocorria várias vezes por semana, o mesmo ritual, ano após ano. Nos anos posteriores, com a
explosão dos sítios de vídeos pornográficos, passei a baixar cada vez mais material, a ponto
de abarrotar uma pasta — oculta, claro — em meu notebook. Nessa última fase, nos últimos
três, quatro anos, não mais baixava conteúdos, mas utilizava um tablet para satisfazer o
terrível e voraz dragão que habitava em mim. E assim, passaram-se 10, 12 anos de minha
vida, escoados pelo ralo (M. Mystère, D6).

No início do uso da substância, o usuário a esconde dos demais, principalmente de


seus familiares. Com a pornografia ocorre o mesmo, sendo que é comum entre os viciados em
pornografia manterem uma pasta oculta em seu computador ou armazenarem os dados
pornográficos em um HD externo.
Faz-se notório o paralelo entre a drogadição e o vício pela pornografia, na medida em
que os sujeitos se expõem a situações perigosas para consumir o objeto de satisfação. Os
usuários de substâncias químicas, por exemplo, recorrem a becos, ruas escuras, e se
relacionam com pessoas envolvidas em um comércio ilegal para obter a droga. Em
contrapartida, alguns usuários da pornografia também se colocam em situações semelhantes.
M. Mystère, por exemplo, relatou ter chegado à loucura, ao assistir à pornografia durante o
trabalho e ao dirigir: “O maldito hábito era crescente e chegava às raias da loucura. Quantas
vezes não assisti a vídeos pornográficos no trabalho ou mesmo cheguei a dirigir assistindo a
um vídeo pornográfico pelo meu celular!” (M. Mystère, D6).
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Nesse sentido, outro personagem nos traz a informação de que, a partir do momento
em que estava dessensibilizado devido ao uso da pornografia, passou a buscar sua realização
sexual no relacionamento com prostitutas, pois lhe trazia novos estímulos.

O pior é que já estou em um estado bem avançado, as imaginações já saíram do campo da


fantasia e estão invadindo a vida real. Estou ficando viciado em sexo extraconjugal, já transei
com várias prostitutas, e quando chego em casa não consigo manter uma ereção satisfatória
com a minha esposa. O peso na consciência é grande, estou em um ciclo de mentiras
constante para manter a minha vida secreta. (Salomao, D7).

Embora tal trecho não elucide uma situação perigosa, implicitamente, observamos que
as fantasias envolvidas no processo de sentir prazer deixam de permear esse estado e passam a
atuar no concreto. Ou seja, os sujeitos passam da passividade à atividade na busca de novas
sensações e estímulos, que podem ou não caminhar rumo a algum ato criminoso. Como foi o
caso de Matheus750, que afirmou que um sujeito viciado em pornografia chegou a estuprar
mulheres, devido ao seu vício, sendo que ele próprio já havia desejado realizar tal delito. Nas
suas palavras:

Com o passar do tempo em que eu estava preso a esse vício da P, eu percebia o quanto eu
conseguia olhar para uma mulher na rua a ponto de desejá-la e me imaginar tendo relações
sexuais com ela. Acontecia de repente, quando eu percebi, eu já estava vidrado olhando para
aquela mulher e imaginando coisas, principalmente com aquelas que tinham uma saias bem
curtinhas, já imaginava levantando aquilo e, não preciso dar detalhes, não me orgulho disso,
e acho que deu para entender (Matheus750, D8).

E ele conclui dizendo:

A questão que quero deixar aqui é, ao meu ver, a P está diretamente ligada a maioria dos
casos de violência e estupro de mulheres. É notável como a P pode mudar a cabeça de um
homem como mudou a minha, imagina só em alguém com distúrbios mentais ou problemas
pessoais onde a pessoa acredita não ter nada a perder (Matheus750, D8).

Diante dessas pontuações, verificamos que alguns sujeitos transpõem o aspecto


fantasioso para o concreto para obter a satisfação e outros continuam a descarregar tensões
por intermédio das fantasias sexuais. Alguns leitores podem supor que os adictos que buscam
a efetivação de suas fantasias na realidade apresentam uma sexualidade mais organizada ou
amadurecida diante dos que optam pela atitude autoerótica; entretanto, não realizar essa
passagem do imaginário ao concreto não quer dizer que o sujeito que busque efetivar sua
fantasia no campo real esteja mais estruturado psiquicamente do que o sujeito que não
94

consiga. Isso porque ambas as condutas são formas de manifestação da adicção em


pornografia e, apesar de existirem alguns sintomas comuns entre os sujeitos, há
particularidades na sua expressão.
Além de se exporem a perigos, alguns depoentes contam que seu vício em pornografia
chegou a tamanha intensidade que procuraram pornografia mais pesadas, ou seja, repudiadas
socialmente, para excitar-se: “De início, apenas me interessava por pornografia leve, mas
com o tempo isso já não bastava, e fui aos poucos mergulhando mais e mais fundo nesse
mundo tão excitante e solitário ao mesmo tempo” (Sputnik, D27).
Sputnik segue afirmando que o vício em pornografia não possui características
evidentes, o que resultou em seu total desequilíbrio, principalmente por ser uma atitude
considerada comum. No caso de marcolopes, ele afirma que, após ter se dessensibilizado em
assistir à pornografia convencional, iniciou a busca por novos estímulos sexuais, como a
pornografia scat (com fezes e excrementos) e a com shemale (travesti ou transexual): “Mas
com o passar dos anos, depois de ver muita pornografia começei a procurar novos estímulos,
alguns nojentos, como pornografia scat, outros que vão contra minha sexualidade, como
shemales”. (marcolopes, D9c).
Análogo ao depoimento acima, Over também relata ter sofrido na transição de
material pornográfico:

Comecei com a pornografia aos 14 anos e ao decorrer do tempo algumas categorias de p não
me satisfazia mais. Por este motivo acabava migrando para categorias mais pesadas, até o
ponto que comecei a ter desejo por uma categoria sexual que não corresponde a minha
orientação sexual: shemale (travesti) (Over, D10).

O crescimento na escala da procura pelos mais variados estímulos sexuais ocasiona


tanto sofrimento que alguns usuários consomem conteúdos que abrangem práticas canibais.
Parece-nos que esses sujeitos não devoram a pornografia, mas que de alguma forma se sentem
devorados por ela.

Sou hétero, mas já busquei de tudo na internet...comecei por sexo convencional, orgias,
depois parti pra P gay, canibalismo, teens... Não quero mais ser escravo... Já saí com
mulheres e falhei na hora H, e hoje sei com 100% de certeza que foi por causa da maldita P
(doidan, D22).
95

De qualquer modo, compreendemos que as escalas de categorias pornográficas


resultam sempre em algum estímulo considerado “cada vez mais intenso”. Essa intensidade é
trazida pelos depoentes como sendo alguma produção de má qualidade, imoral ou desonesta.

... o sexo já não me interessava com a mesma intensidade, pois ainda tinha contato com
pornografia e através dela tinha os melhores e mais intensos orgasmos, e foi a partir desse
período que entrei na pornografia "ESCROTA", buscava algo mais sujo e repulsivo possível (
estupro, revenge [pornografia de vingança], bukake [com ejaculação])... nada mais
importava, comecei a ver pornografia das mais repugnantes que vocês possam imaginar,
TODOS OS TIPOS, me masturbava o dia todo e chorava a noite toda, saia com amigos
conhecia garotas, e toda vez que levava alguma garota pra casa eu brochava, inventava mil e
uma desculpas para as garotas, para mim aquilo estava acontecendo porque eu ainda amava
minha ex namorada e nunca conseguiria esquece-la , entrei em depressão profunda, foi então
que meio q me veio um estalo, pois nessa época eu estava me masturbando demais vendo
videos cuckold [assistir a(o) parceira(o) sexual transando com outra pessoa], que era uma
coisa antes que eu nunca tinha me interessado (Lee, D24).

Já está difícil sentir tesão, de tanta pornografia que eu já vi em toda a minha vida, atualmente
passo muito tempo até encontrar uma imagem ou vídeo que me atraia. Cheguei ao ponto de
me exitar agora somente com videos de troca de casais. É humilhante mais atualmente o que
mais me excita é ver videos de CUCKOLD, ou seja, aqueles videos onde o marido filma sua
mulher transando com outro ou outros caras (Alexandre, D30).

Vencedoremcristo nos informa que, no momento em que deixou de utilizar a


pornografia, entrou em um quadro de abstinência. É comumente sabido que ao deixar de
consumir um entorpecente, o dependente químico ingressa em uma espécie de síndrome
sintomática, ocasionada pela interrupção na administração da substância no organismo. No
abuso de pornografia, o descrito não é diferente:

Consegui ficar uns 70 dias sem o vício, porém eu não entendia o porque de eu sentir tanta
coisa na abstinência, mas vocês abriram meus olhos e agora posso entender que o que sinto é
fruto da abstinência, tipo mal humor, sonhos eróticos, tratar mal as pessoas que mais amo,
desânimo, vontade de me masturbar assim que acordo, dentre outras coisas
(vencedoremcristo, D23)

Assim, da mesma forma que um dependente químico, o viciado em pornografia


também apresenta abstinência e pensamentos repetitivos para reincidir no vício. Lee também
assinalou:

Bati de frente com o vicio e não esperava o que estava por vir, nao conseguia passar 2 dias
sem me masturbar, ficava criando mentiras na minha cabeça do tipo "a só uma hoje e depois
eu paro", "a eu bati ontem mesmo entao nao perdi nenhum dia, nao custa bater uma hoje, ai
amanha eu paro" e isso durante um bom tempo (Lee, D24)
96

Além de tudo, o usuário demonstrou a dificuldade em abdicar do objeto de satisfação,


sendo que as recaídas são frequentes: “Acabei recaindo, fiquei mal mais voltei com meu
objetivo, e foi ontem depois de 7 dias sem PMO, acabei recaindo denovo, meu mundo
desmoronou e aqui estou” (Lee, D24).
O depoimento de sufista nos chamou a atenção pelo fato do sujeito fazer uso de
pornografia, masturbação e orgasmo, juntamente ao uso de cocaína, sendo que, em um
comparativo entre ambos os vícios, apontou que a pornografia seria o pior deles.

Hoje eu estou em uma situação que me envergonha muito. Me sinto sujo e completamente
arrependido por todo esse tempo perdido que pratiquei PMO. O pior de tudo, é que eu estou
praticando PMO com cocaína. Isso me faz ter dois problemas que quero me livrar, mas eu sei
que o problema mais grave é o PMO, isso que me leva a querer usar cocaína... O meu motivo
pra querer parar com esse vício, é que está me atrapalhando na vida profissional. Eu me sinto
completamente paranóico quando estou na presença de líderes, e fico achando que eles sabem
do meu problema, que eles sabem que eu pratico PMO e que uso cocaína. O problema é que
eu fico vermelho, não sei o que falar nem como agir... Às vezes eu pratico PMO sem o uso de
drogas. Ontem por exemplo eu pratiquei PMO e a última vez que eu usei drogas foi a uma
semana. Eu não consigo ficar um dia sem PMO. Às vezes eu penso comigo mesmo que isso
não é necessário, mas algo no meu cérebro me fala pra eu ir praticar pq vai me aliviar e eu
vou ficar mais tranquilo, mas não é isso que acontece, sempre que termina eu fico com
sentimento de arrependimento e depressão. (sufista, D26).

Assim, percebemos que tanto a droga (substância) quanto a pornografia são


procuradas quando o sujeito se encontra diante de algum acontecimento em sua vida que lhe
faça entrar em contato com a frustração, ou seja, quando encontra algum impeditivo para
obter satisfação. Como citamos anteriormente, Freud (1930/1996b) discorre sobre os objetos
substitutivos. Nesse sentido, o sujeito viciado em pornografia a procuraria como um modo de
experimentar o prazer em uma tentativa de amortecer os impactos da frustração e da
ansiedade gerada (vergonha, arrependimento ou culpa). A procura pelo prazer e pelo alívio da
tensão, no caso dos depoentes, evidencia-se pela compulsão no abaixamento de suas tensões.
Citamos, como exemplos, os depoimentos que seguem:

Percebo que as fantasias retornam quando alguma expectativa minha é frustrada. É como se
as fantasias (masturbação e pornografia) fossem a minha cocaína, a minha fuga da realidade
(e suas eventuais frustrações). Não posso viver a vida real só quando ela é bela, tenho de
vivê-la também quando ela é amarga, difícil e dura, vivê-la por inteiro. Porque o vício não é
vida real, é fuga da realidade. E também porque senão na primeira frustração mais forte eu
posso retornar ao vício, que é o que já me aconteceu (Magrao, D12a).

Mas no fim das contas sei que a PMO atravessou tudo isso. Foi um anestésico à auto-estima
baixa desde o início da adolescência (poderia fantasiar com a PMO coisas que não vivia na
97

realidade. dificuldade com mulheres e tal...), meus medos de falhar e não ser bom o bastante e
etc. A PMO virou válvula de escape para qualquer frustração. Por fim, ela virou motivo de
tormento na pior fase da minha vida, dado que minh ex usava a minha PMO como
justificativa pra dizer que eu era o maior lixo humano da TERRA (Fabsjoia, D29).

... o trabalho começou a ser estressante, e como eu só trabalhava,chegava em casa e ficava no


ócio,a PMO ficou mais frequente por causa do trabalho, era assim que eu aliava a tensão...em
2012 a coisa já estava mais tensa...a PMO era bem frequente de 4 a 5 vezes por dia... comecei
a ir a igreja e consegui ficar 1 mês sem PMO, e também recebi a notícia que esse conhecido
tinha saído da prisão...ele ficou só 3 meses lá pois ele era uma boa pessoa só que a
curiosidade o levou longe de mais...enfim estava confiante,só que infelizmente vacilei e acabei
caindo na PMO.. eu não entendia muito bem o vício em pornô... e aquele culpa como se fosse
um meteoro caia na minha cabeça...mesmo assim eu não desisti...ficava 1 semana sem PMO,
ai caia de novo, depois mais uma semana sem PMO,caia de novo...chegou um momento que
eu já estava de saco cheio pois não conseguia me livrar disso e acabei desistindo...e nesse
meio tempo (2013) eu arrumei um novo emprego...e a frequência da PMO só
aumentando...isso me atrapalhou de mais no trabalho...até que foi demitido em 2014 por falta
de produtividade,pois não conseguia trabalhar direito,ficava com uma ansiedade monstra e
também só ficava com sono pois meu horário estava começando a ficar descontrolado... me
tornei uma pessoa fria,chata, e extremamente crítica a tudo... De meados de 2014 até semana
passada as coisas ficaram complicadas...pois eu só ficava em casa, acabei engordando
(chegando aos 120Kg) por causa da vida sedentária que estava levando,já não ligava tanto
pra higiene pessoal,as vezes ficava sem escovar os dentes por um ou dois dias...sono
totalmente descontrolado...acordava as 11:00, 12:00 e dormia as 02:00,03:00 da madrugada
depois de várias sessões de PMO. (Luxord, D21).

Igualmente ao exposto no capítulo sobre a adicção, percebemos que, independente do


objeto-droga, o sujeito se sente impelido por sua ansiedade a encontrar qualquer forma de
alívio e de prazer. A essa fuga persistente para o consumo do objeto dá-se o nome de
obsessão, que é caracterizada por um conjunto de pensamentos que se repetem no psiquismo
do sujeito (Ferreira, 1999). A fim de elucidar o dito, recorremos aos dizeres de Paz:

Virei um procastinador voraz, eu não me respeito. Nos ultimos tres anos, posso dizer que o
vicio se intensificou de uma forma demoniaca, antes eu me satisfazia apenas vendo um video
sensual de um cara transando com uma garota, ejaculando e pronto. Eu sempre tive recaída
por bunda como todo brasileiro, na epoca do colegio nunca perdia a oportunidade de falar da
bunda das minhas amigas e elas gostavam. Mas nos ultimos tres anos posso dizer que essa
''preferencia'' virou obsessão... (Paz, D25).

Em todos os depoimentos apresentados, a pornografia se apresentou como um recurso


procurado para alívio de tensão e busca por satisfação, cujos efeitos fisiológicos, psicológicos
e sociais são nocivos para o sujeito. A repetição envolvida no uso da pornografia, com o
passar do tempo, pode levá-lo ao isolamento, à depressão, à obesidade, à disfunção erétil etc.
Portanto, concluímos que o uso da pornografia pode ser equiparado ao uso de substâncias
químicas, desde que respeitadas as suas particularidades como objeto.
98

5.5.A (in)capacidade de amar

Iniciamos a apresentação do presente eixo temático trazendo um questionamento de


Freud (1930/1996b) a respeito do que seria necessário para se obter a felicidade. Segundo o
autor, para ser feliz, o sujeito deve ser capaz de amar e trabalhar, sendo que ambos os
aspectos se encontram comprometidos quando há o vício em pornografia. Vale destacar que
este eixo temático foi desmembrado do anterior, que descrevia os sintomas originários do uso
abusivo de pornografia. O motivo se deve ao fato de que identificamos nos depoimentos uma
grande frequência de menções ao amor, seja com relação à incapacidade de amar o próximo,
seja no que se refere ao amor a si mesmo.
Primeiramente, para contextualizar nossa concepção do que seria o amor, resgatamos
algumas breves designações encontradas na obra freudiana. Em 1914, no texto A guisa de
introdução ao narcisismo, a ideia de amor nos é apresentada por meio da noção de narcisismo
secundário, em que, resumidamente, o sujeito direcionaria a sua libido para um determinado
objeto e esse investimento retornaria ao sujeito (Freud, 1914/2004c). Nas palavras de
Laplanche e Pontalis (2001), “narcisismo secundário designa um retorno ao ego da libido
retirada dos seus investimentos objetais” (p. 290). Contudo, essa relação libidinal iria além do
autoerotismo, já que, embora o amor seja ligado à idealização e à projeção do sujeito em
encontrar a satisfação sentida na infância com seus cuidadores, trata-se, de fato, de outro
sujeito desprovido de interdições sociais, ou seja, um objeto que o sujeito pode amar sem que
ocorra um parricídio ou incesto7.
Outra compreensão possível levantada na obra de Freud (1924/1996l) nos leva a supor
que o amor e a felicidade corresponderiam ao sentimento de completude do ser, pois a
castração nos situa em uma espécie de perda do sentimento de satisfação única, vivenciado na
tenra infância, na relação com nossos cuidadores (geralmente mãe/pai), sendo que o sujeito
aspira por retornar a esse estado. A esse sentimento de busca por satisfação e de completude
dá-se o nome de desejo. Já em 1930, Freud (1930/1996b) nos leva a supor que o amor poderia
ser entendido a partir da procura constante por felicidade e no universo fantasioso criado por
essa procura, pois o sujeito nessa investigação cria recursos para lidar com sua própria
infelicidade.

7
Segundo Ferreira (1999), os termos parricídio e incesto correspondem, respectivamente, ao ato de um sujeito
assassinar quem exerça em sua vida uma figura parental ou qualquer dos ascendentes e o incesto estaria
relacionado à “união sexual ilícita entre parentes consanguíneos, afins ou adotivos” (p. 1092).
99

Diante dessas pontuações a respeito dos elementos que compõem o amor,


acrescentamos que Amaro (2006) o define como atitudes de “... tolerância, humildade,
gratidão, generosidade, noção de limites (um não à onipotência); capacidade de ser continente
da criança que existe dentro de cada um...” (p. 338).
Assim, após esses breves apontamentos teóricos, demonstraremos que a capacidade de
amar dos sujeitos viciados em pornografia está deteriorada, pois eles não conseguem se
desprender do autoerotismo, que culmina em seu próprio aniquilamento.
O título fornecido a esse eixo temático se baseou no discurso de alguns depoentes, que
revelam que a pornografia influencia diretamente na perda da libido e na capacidade de
desenvolver e expressar sentimentos. Iniciaremos a exposição dos trechos, com o depoimento
de Bereta, de trinta e quatro anos:

... mas ainda assim essa desgraça me arrebentou... nunca consegui amar profundamente as
namoradas que tive... sempre passava 2 anos e eu enjoava... tinha baixa de libido.... enfim
terminava o relacionamento e lá estava eu denovo no pornô, foi indo eu comecei a sair atrás
de mulheres apenas para sexo... era transar uma vez e pronto já perdia o interesse.....o
sentimento pra min não existia mais... e eu pensava..."eu perdi a capacidade de amar"... Cara
com tudo isso que vivi pela idade que tenho e nunca ter conseguido casar, desenvolvi
depressão... fobia de pânico... e agora por ultimo após uma conversa boba com a ex-
namorada pensamentos a respeito de minha orientação sexual...de qualquer forma vejo que
um dos problemas de nunca ter conseguido casar foi o fato de eu associar esse inferno de
pornografia no meio dos meus relacionamentos (Bereta, D1).

Nofapwinner descreve que a pornografia suscitou nele receio em se relacionar com


mulheres e de conviver com pessoas novas. Ele descreve uma série de sintomas, já
mencionados no eixo anterior, e afirma que as áreas social e afetiva se tornam as mais
afetadas.

Ficava com medo de me envolver com as mulheres (coisa que não tinha antes de me viciar em
P), medo de conhecer gente... - O interesse por mulheres na vida real já não era mais o
mesmo. Fiquei cego perante aos inúmeros sinais e oportunidades que tive de ficar com várias
mulheres...Diria que o envolvimento social e a parte relacionada a sexualidade foram as mais
afetadas (nofapwinner, D2)

Magrao, ao narrar o desenvolvimento de seu vício pela pornografia, afirma que teve
problemas no período da adolescência, principalmente para se relacionar com mulheres.
Assim, visando a encontrar satisfação, recorreu à pornografia como uma forma de experiência
sexual. Em suas palavras:
100

Minha adolescência foi uma porcaria. Uma baixa auto-estima contumaz e uma falta de
impulso e confiança para lidar com as garotas, tudo isso me conduzia ao que me restava de
"experiência sexual": a masturbação com pornografia ou mesmo a masturbação imaginando
garotas que eu queria (Magrao, D3a).

Logo, notamos que os sujeitos que se expõem excessivamente à pornografia, muitas


vezes, procuram-na como uma forma de escape para lhe proporcionar prazer. Todavia,
quando ela é acessada, alguns sujeitos a veem como uma via única de encontrar a satisfação e
atribuem ao objeto “poderes”, isto é, acreditam que ela possui a capacidade de afetar a
manifestação de seus comportamentos.
O depoente segue afirmando que, com o passar dos anos, conseguiu se relacionar
afetivamente, mas que, em decorrência do vício por pornografia, desenvolveu problemas de
ereção, o que impede uma aproximação física sexual concreta entre seu corpo e algum objeto.

Pouco depois eu enfim arrumei uma namorada. Novamente eu me percebia com uma
sensação de que eu não conseguiria fazer sexo. E quando fui tentar, embora estivesse
morrendo de vontade, não consegui realizar a penetração. E nas próximas vezes que tentei,
foi a mesma coisa. Uma sensação horrível, de pesadelo. Eu estava descobrindo o sexo e ele
estava se tornando mais um problema que uma solução para mim. Chegou uma hora em que
enfim consegui transar com minha namorada. Porém havia um problema: eu não sentia
prazer suficiente para gozar. Isso quando não perdia a ereção... Pois bem, o fato de eu não
conseguir transar com minha namorada fez com que o namoro afundasse (e hoje sei que
nossa capacidade de amar também é afetada pelo vício). Muitas vezes pensei que o problema
era ela. E algo simbólico e revelador é que no dia em que eu terminei o namoro eu comprei
um computador com internet. Até então eu consumia pornografia só aos fins de semana.
Depois disso voltou a ser todo dia...Fui perdendo todos os amigos... Me sentia sujo e barra-
pesada demais para namorar com alguma garota da minha faculdade... Foi então que conheci
uma garota e me apaixonei por ela. Começamos a sair e logo me veio o alerta atemorizante:
"pode rolar sexo". A possibilidade de fazer sexo pra mim durante todos esses anos era isso:
aterrorizante (Magrao, D3a).

Nesse ponto verificamos a duplicidade do desejo: ao mesmo tempo em que se deseja


um envolvimento, o próprio sujeito repele qualquer possibilidade de sua efetivação.
Levantamos a hipótese de que, inconscientemente, os sujeitos constituem mecanismos
defensivos para não concretizar o desejo ou permitir-se adentrar em uma relação. Algumas
das barreiras são simbolizadas e demarcadas pelo sentimento de culpa, de asco, vergonha e
terror.

... meus relacionamentos afetivos eram ridículos e eu me tornei uma pessoa cruel... Aos 16, foi
quando comecei a ter vergonha de mim mesmo, senti que precisava de uma namorada e decidi
parar com a pornografia e masturbação pela primeira vez... Com 17 anos comecei a namorar
e a ter uma vida sexual ativa. Aliás, o meu pensamento para justificar a pornografia antes
desse período era de que quando eu fizesse sexo eu não iria mais querer assistir pornografia...
Obviamente que mesmo com o namoro e com uma vida sexual normal, esse hábito não
101

terminou. Ao contrário, só foi piorando ao longo dos anos, já que como sabemos graças aos
recentes estudos sobre o vício em pornografia, o cérebro de um viciado está dessensibilizado
a velhos estímulos e está sempre à procura de novidades. Nesse sentido, por mais que eu
gostasse ou amasse a minha namorada, minha mente sempre tinha a tendência de procurar
por novidades virtuais, mesmo que de vez em quando (Projeto, D5b)

O trecho abaixo nos alerta para a necessidade de debate a respeito da importância do


amparo no combate ao vício em pornografia.

Em abril de 2012, comecei a namorar a garota de que hoje sou noivo. Para mim, era
impensável compartilhar com ela o meu segredo, que guardava a sete chaves. Não poucas
vezes, deixei de vê-la justamente para ficar vidrado à tela de um computador ou coisa que o
valha. O namoro, contudo, não fez com que o vício minguasse, como inocentemente pensei
que fosse ocorrer...Passaram-se um, dois anos de namoro, e só recentemente, há 20 dias, de
súbito e sem racionalizar, pois se o fizesse seria demovido da ideia, desabafei e contei-lhe
tudo, os mínimos detalhes. Óbvio que isso a deixou chocada. Ela jamais esperava isso de mim
— não que ela esperasse isso de alguma maneira, mas é que se trata de algo que não passa
pela cabeça de muitas pessoas, não compõe o mundo delas, como infelizmente passou a
compor o meu e de todos quantos leem esse texto. Para a minha alegria, todavia, após o
baque inicial, minha noiva absorveu o problema e passou a me oferecer apoio incondicional,
o que me fortaleceu a seguir em frente (M. Mystère, D6).

O sujeito que consegue ultrapassar a vergonha social e externalizar a sua angústia e


sua dificuldade para outrem, principalmente quando esse alguém pertence a sua rede social de
amigos ou é seu parceiro ou parceira, sente-se acolhido no seu sofrimento e fortalecido para
organizar seus pensamentos obsessivos e ansiógenos. Todavia, raros são os casos nos quais os
sujeitos se sentem amparados e acolhidos para expor suas angústias e receios, pois, a partir
das releituras dos depoimentos, fica evidenciada a prática de sabotagem do sujeito para si
mesmo quando está submerso na pornografia, quando o vício se torna tão intenso que se
deseja destruir o que se tem para se consumir mais conteúdo pornográfico.
A maior parte dos sujeitos demonstram esconder de suas parceiras, amigos e família o
vício pela pornografia. Entretanto, quanto mais camuflado o vício é, maior o nível de
destrutividade do sujeito, haja vista que este recorre a outras vias para se sentir melhor.
Quanto mais reservado for o sujeito quanto ao seu vício, mais este o destrói e seus efeitos
invadem o ambiente familiar e profissional.

Sempre escondi esse problema da minha esposa, por achar que ela não saberia lidar com a
situação. O pior é que já estou em um estado bem avançado, as imaginações já saíram do
campo da fantasia e estão invadindo a vida real. Estou ficando viciado em sexo extraconjugal,
já transei com várias prostitutas, e quando chego em casa não consigo manter uma ereção
satisfatória com a minha esposa. O peso na consciência é grande, estou em um ciclo de
mentiras constante para manter a minha vida secreta (Salomao, D7).
102

Uso pornografia a 15 anos e esse uso constante me tirou algo muito importante que foram as
experiências de vida. Experiencias que todo mundo precisa ter para ganhar traquejo social,
para aprender a lidar com o sexo real, com o sexo oposto, enfim, a ter a experiencia básica e
comum que se espera que um cara tenha desenvolvido. A pornografia me jogou desde a
adolescencia num ciclo que é o seguinte: não busco experiencias reais porque nao tenho
vontade e motivação e, alem disso, tenho DE [Disfunção Erétil] => Como tenho DE e não
sinto vontade de ter experiencias reais como uma mulher, fico na mesma, onde estou, com o
xvideos.Quando nesse ano eu tentei enfim parar com o vicio, me vi numa situação muito
incomoda que é a seguinte: Ok, agora estou a 3 meses sem me masturbar, com uma grande
vontade de transar com uma mulher, mas não tenho traquejo social nenhum. 15 anos de
ansiedade social e ausencia quase total de experiencias reais, me transformaram num zero em
termos de carisma, de conquista.
Essa constatação joga por terra todo meu esforço, e eu volto para a pornografia e a
masturbação obsessiva. Sinto que com a pornografia eu tenho algo que me da satisfação e
prazer. Sem ela eu me anulo, porque não consigo convencer uma louca a transar comigo!
Não tenho traquejo social nenhum. Alguem já se viu nessa situação de merda? (Zé, D13).

Apesar de ter parado com a pornografia, o sujeito acima demonstra não possuir
recursos para retomar a sua vida. Desse modo, necessita se fortalecer como sujeito para não
cair novamente no vício. O que nos leva a pensar que um tratamento apropriado para o vício
pode auxiliá-lo a criar estratégias de enfrentamento nessas situações.
Os sujeitos quando se percebem envolvidos na repetição em longo prazo, criam metas
e nutrem expectativas para abdicarem de seu vício. Luxord, por exemplo, deseja abandonar o
objeto tóxico, para que a partir disso consiga adequar-se socialmente em uma vida
profissional e afetiva. Em relação ao aspecto profissional, ele não prolonga o assunto no
relato, mas afetivamente indica que anseia por estabelecer uma relação amorosa. Nas palavras
do depoente, “... meus objetivos agora são de me livrar definitivamente desse mal, arrumar
um emprego e arrumar uma namorada (de Deus rs')”(Luxord, D21). Notamos por intermédio
de sua afirmação que, para Luxord, seria importante que sua namorada fosse alguém que
estivesse ligada aos ensinamentos da religião evangélica, já que ele se denominou
frequentador de uma igreja dessa crença. Tal sujeito faz uma exigência para com o sexo
oposto, de pureza, integridade moral e honra, a qual narra não possuir totalmente.
Novamente, a questão da dignidade e da honra se destacam. Um dos depoentes, Paz,
afirma não se sentir respeitável para se aproximar de alguém. Supomos que o uso da
pornografia ocasionou impedimentos para amar, refletidos na baixa autoestima e na
incapacidade de sentir amor-próprio, ou, em outras palavras, o sujeito não se sente
suficientemente bom para alguém, pois ao seu ver, não era bom nem para si próprio.

... tanto no ensino fundamental como no médio, relacionamento com garotas foi ficando cada
vez mais escasso na minha vida, eu não sentia dignidade e intrepidez de me aproximar delas,
tanto para ter amizade como para namorar, fui desenvolvendo uma repulsa inexplicavel ao
103

sexo feminino. minha vida social foi se esvaindo ao longo dos anos ao ponto de que hoje, nao
tenho mais nada, nada mesmo, nem amigos... Fui perdendo o interesse social ao longo dos
anos, o interesse por estudar, trabalhar... Hoje eu sou uma pessoa fria, não me sinto com
dignidade pra demonstrar sentimentos, evito qualquer contato tanto com homem quanto com
mulher a todo custo (Paz, D25).

Alguns sujeitos revelam que, de início, não atrelavam as dificuldades para se vincular,
ou praticar uma relação sexual, à pornografia. Contudo, ao longo do tempo, verificaram que
sua sintomatologia se relacionava diretamente ao uso desse material. Em alguns casos, os
sujeitos contam sofrer por disfunção erétil e não sentir satisfação sexual com seus parceiros
sexuais. Um deles afirma que “Namoro uma mulher muito atraente, mas comecei a sofrer de
disfunção erétil. Já havia ocorrido comigo, mas nunca associei à P”. (doidan, D22). Outro
acrescenta:

Ainda nessa época, eu iniciava a minha vida profissional, e havia acabado de terminar meu
curso na universidade. E também vivenciava as minhas primeiras experiências afetivas, com
namoradas e ficantes. No entanto, o que realmente me excitava eram as imagens e vídeos
pronográficos que a internet me apresentava, gratuitamente, no momento em que eu quisesse,
a apenas alguns cliques de distância... Namorei algumas meninas nessa época, com meus
vinte e poucos anos de idade, talvez 2 ou 3 meninas por um período mais ou menos longo, e
me recordo que com todas elas havia a repetição de um comportamento sexual errático de
minha parte, eu simplesmente não conseguia gozar, ejacular. Às vezes até broxava. Realmente
não entedia o porque, já que nada disso ocorria quando eu estava à frente da tela do
computador. Como eu poderia ter orgasmos tão delirantes assistindo pornografia na internet
e quando havia uma menina real eu não chegava lá? Aos poucos, conforme os anos se
passavam, esse sintoma aparecia com mais frequência e eu simplesmente fingia ter orgasmos,
era como seu eu quisesse me livrar o mais rápido possível daquela situação real para entrar
rapidamente no mundo virtual da pornografia. E quando a menina ia embora da minha casa,
lá estava eu novamente na frente da tela do computador, e só então conseguia gozar... No
entanto, depois de muito sofrer, principalmente pelas inúmeras perdas de oportnidade de
manter relações afetivas com meninas incríveis e lindas, notei que esse comportamento era a
principal causa destes afastamentos por parte delas. Não estou dizendo que era o único
motivo, até porque elas também devem ter suas questões, mas certamente, de minha parte, era
o principal motivo. É claro, elas percebiam que havia algo de errado, eu estava distante, eu
não estava lá quando estávamos transando, minha mente estava totalmente conectada às
imagens que meu cérebro estava acostumado a ver no computador. E notei isso quando uma
menina, ao terminar comigo, me escreveu que nós manifestávamos nossos desejos sexuais de
maneira muito diferente. Pronto! Por mais que ela não soubesse dessa minha história, ela foi
capaz de perceber, pelas poucas vezes que fizemos sexo, que havia algo fora do lugar. E foi
aí, somente nesse momento, que me dei conta do quanto todos esses anos de pronografia me
transformaram num viciado, incapaz de obter prazer e sentir tesão com uma mulher real.
Certamente muitos outros aspectos da minha vida foram afetados por esse vício. Mas sem
dúvida alguma, o aspecto mais afetado foi a minha vida afetiva… Não só com as namoradas,
mas também com amigos e família. Me mantinha distante dos amigos e da família, só queria
estar em casa pra assitir pornografia na internet (Sputnik, D27).

Como apontamos, um dos motivos para o ingresso do sujeito na pornografia ocorre


devido a situações de frustração presentes em sua vida. Nesse sentido, Lee (D24) discorre que
104

de início era capaz de amar, porém, por causa do desgaste do relacionamento afetivo recorreu
à pornografia como um escape diante de uma situação complicada que estava enfrentando. A
problemática se encontra no fato do sujeito recorrer exclusivamente a essa forma de escape e
de sentir prazer. Em seu caso, o problema se agravou de tal modo que ansiava por ver seu
objeto amoroso desfrutando de prazer com um desconhecido. É possível supor que,
inconscientemente, da mesma forma que ele sentia prazer com a pornografia por meio da
destrutividade de sua relação com sua mulher, desejava que a mulher sentisse prazer com
outro sujeito, como um ato de punir-se. Por fim, seu desejo inconsciente foi realizado, pois ela
se relacionou com outro homem.

Aos meus 19/20 anos encontrei a mulher da minha vida, em todos os sentidos, amei da forma
mais intensa e possível que um ser humano pode amar, nossa como eu a amava, o sexo com a
pessoa que você ama realmente muda você, eu tinha esquecido de vez a pornografia,
transávamos todos os dias de todas as formas em todos os lugares, ela sabia como fazer, mal
eu sabia que estava cultivando o maldito fetiche em minha cabeça.Com o passar do tempo o
desgaste da relação foi inevitável, brigas, ciumes, foi quando lentamente comecei a voltar a
pornografia, da mesma forma quando tinha 8, bem de leve, a relação começava a esfriar,
comecei a me aprofundar na pornografia até o ponto em que a relação sexual com a minha
mulher, a pessoa que mais amei em toda minha vida, esfriasse de vez, começava o tormento
em minha vida. Entre idas e vindas sem fim, pornografia rolando a mil, ao ponto de eu
desejar ver, minha namorada dando pra outro cara( Foi ai que comecei a notar que tinha
algo de errado com o uso da pornografia), o medo, a angustia me corroendo, e eu sem saber
o porque daquilo estar acontecendo. Foi então que tudo acabou, junto com a minha vida, ela
conheceu outra pessoa e acabou engravidando, minha vida tinha acabado (Lee, D24).

A exposição prolongada e excessiva à pornografia causa uma espécie de intoxicação,


pois os sujeitos se sentem como se estivessem consumindo uma toxina, criando uma condição
em que, quando pensada em uma relação amorosa, é capaz de afetar a libido e
consequentemente a vinculação entre as pessoas. Contudo, tal “entorpecente” impacta não
somente a qualidade de vida do sujeito, mas a de seus familiares e parceiras, pois eles notam
que há algo acontecendo com o sujeito. Contudo, pelo fato desse vício ser silencioso e pouco
difundido, os amigos, os familiares e os parceiros não conseguem identificar o que está
causando sofrimento no ente querido, o que gera sentimentos de desconfiança e receio.

Arrumei outra namoradinha, novinha e bonita, a primeira vez com ela também foi "meia
bomba" mas creio que pelo nervosismo, depois foi normal e com ER como sempre, até que
após uns anos a relação começou esfriar, ela já não gostava mais de transar a todo instante
como todo adolescente, eu também não me importava, já que a PMO me dava mais prazer do
que o sexo real, chegava ao cumulo de ir com ela pro motel e ficar mais excitado com a idéia
de ter a disposição o canal pornô na tv do que na transa com ela, varias vezes acontecia de
dar uma meia boca com ela, e quando ela pegava no sono, eu colocava no canal porno e me
masturbava, ai sim ficava satisfeito. Outras vezes quando dormia na casa dela de fim de
semana, as vezes ficava agoniado, esperava ela dormir e mandava um PMO usando o pc dela
105

mesmo (hoje escrevendo isso percebo como soa até ridículo)... Quando conheci minha atual
esposa, as primeiras vezes também foi na base do azulzinho, mas com o tempo consegui me
"desintoxicar" e ter ereção normalmente, mas desde a época do namoro, morar junto e
casamento, devo contar nos dedos as vezes que consegui atingir o orgasmo apenas com
penetração. O pior, ela é louca para engravidar, mas desse modo fica dificil, ela nunca
comentou, já vi no historico do navegador dela buscas no google questionando se é possivel
engravidar sem ejaculação, e já tentamos um tratamento com inseminação (ela percebeu que
por meios "naturais" não iria rolar), mas não deu certo também, quando o médico pedia pra
fazer espermograma e tinha que abster de sexo/maturbação por 3 a 5 dias era minha maior
agonia... 3º Sinal - Logo após me cadastrar iria escrever meu relato, já deletei algumas
contas que possuia em sites de P. (inclusive pagos), mas já estava tarde e queria fazer com
calma, minha esposa já dormia, mas eu estava sem sono, então peguei meu iPad e por acaso
abri o historico, e vi uma busca que ela fez, questionando o desinteresse do marido, e algo
como "meu marido fica o tempo todo no computador" e os sites que ela andou lendo, com
MUITAS mulheres relatando o mesmo, ai sim ISSO pra mim foi a gota, ou seja, não era
apenas eu que estava me sentindo mal por perder tanto tempo com PMO, estava afetando a
vida de outra pessoa, talvez no longo prazo (ou mesmo curto) levaria ao divorcio ou traição...
Só estou morrendo de medo da tal Flatline, dia desses já tive um começo de DE ao tentar
fazer sexo com a esposa, na verdade perdi a ereção no meio da relação, e que isso possa
piorar ainda mais minha relação com ela que pelo visto não anda nada boa (tiago_fernando,
D28).

O que eu mais quero é conseguir me relacionar com as pessoas sem a paranóia de achar que
eles sabem do meu problema. Eu não consigo manter um relacionamento profissional e estou
perdendo cada vez mais a habilidade de aprender, de evolluir. Não sou mais ambicioso como
antes e larguei um monte de atividade que a tempos não faço mais. Sempre gostei de tocar
baixo em bandas, andar de skate e parece que essas coisas não tem mais graça, pra mim
PMO é a única coisa que está me satisfazendo, mas isso tudo é mentida, ilusão da minha
cabeça, eu sei que é bom no momento, mas depois eu me sinto um lixo, mas mesmo assim eu
volto a fazer de novo e não sei o pq.Eu namoro a 5 anos e amo minha namorada, ela é linda e
transo com ela todos os finais de semana, mas parece que isso não me satisfaz (sufista, D26).

Evidencia-se que o contato material entre o sujeito viciado em pornografia e suas


parceiras se torna mecânico à medida em que suas fantasias e desejos somente se satisfazem e
se efetivam na imaginação suscitada pela pornografia. Os atos preliminares e sexuais reais,
como o olhar e tocar, esvaziam-se de significado e de excitação, pois o prazer centra-se no
consumo midiático de um enredo que está pronto e que, na maioria das vezes, já se sabe o que
vai acontecer. Em contrapartida, torna-se notório que a ação sexual entre os pares carece de
criatividade e inventividade. Logo, o vício em pornografia inibe a curiosidade sexual do
sujeito para com o outro.

Em 2010, aos 30 anos, aconteceu um relacionamento em que a pornografia seria um grande


problema. A garota, muito ciumenta, descobriu meu gosto pela pornografia e começou a me
infernizar. Por mais que eu tentasse me controlar, não conseguia. Só que tinha uma coisa:
com ela, durante 3 anos, não tive DE uma só vez! e era muito sexo... É como se a mão dela
não conseguisse me excitar e como se nossos amassos e beijos surtissem pouco efeito.Hoje,
106

não preciso mais imaginar P pra gozar, mas no início com ela, precisava pensar em P.
(Fabsjoia, D29).

Sob a ótica de alguns depoentes, parte da sua libido sexual na relação com as suas
parceiras é represada, pois o cenário midiático da pornografia transmite ideais, nos quais a
mulher é inferiorizada e ridicularizada pela prática sexual.

Não tenho motivação para o trabalho e nem para as relações interpessoais, apesar de ainda
ter um trabalho acredito que se eu não parar com a pornografia, as coisas não vão durar de
pé por muito tempo... Para se ter uma ideia de como a pornografia foi ruim para mim, é que
até os 25 anos eu ainda era virgem. Ou seja, era tímido e não gostava de me socializar,
preferia ficar sozinho no meu canto vendo pornografia e me masturbando. Isso com certeza
foi o motivo que me levou a ficar tanto tempo virgem... E mesmo tendo casado e com filha,
ainda assim eu continuava vendo pornografia e me masturbando, mesmo tendo uma mulher
tão linda na minha cama. Minha vida de recém casado não foi nada fácil. Muitas brigas,
acredito que sempre por minha falta de paciência e compreensão. Pois acredito que a
pornografia me fez ver minha mulher como um simples objeto (Alexandre, D30).

Sem o lixo da PMO na sua Vida e na sua mente, você voltará à desejar sua mulher como
nuncas antes. À fará mais feliz! Você também será mais feliz e leve por estar limpo deste vício
miserável e será mais amoroso, terno, perspicaz! Seus filhos se sentirão melhor quando
sentirem às suas renovadas energias e você poderá amá-los ainda mais com um coração
limpo, mais sábio e com uma mente brilhante! (The GreatSpirit, D30.1).

Em face do exposto, consideramos que os sujeitos, cujos depoimentos foram


analisados, apresentaram-nos a pornografia como um vício solitário, que deteriora as relações
sociais e afetivas de quem o consome.

5.6.O pedido de socorro

A partir das cinco modalidades apresentadas anteriormente, consideramos pertinente


destinar um eixo descritivo ao relato dos sujeitos que usam excessivamente a pornografia e
solicitam auxílio para lidar com seu sofrimento.
Tal vivência perturbadora é descrita por meio da compulsão em consumir pornografia,
que geram sintomas – psicológicos, fisiológicos, sociais – os quais afetam significativamente
o modo como o sujeito consumidor de pornografia se relaciona com seu meio. Ao perceberem
a nocividade no uso da pornografia, os sujeitos se sentem desamparados e solitários, visto
que, segundo o relato dos depoentes, não possuem uma rede social compreensiva, apoio
governamental ou até mesmo assistência médica/psicológica adequadas.
107

Assim, o objetivo deste eixo temático é evidenciar o pedido de ajuda dos sujeitos – de
modo explícito e implícito – em relação às suas dificuldades em encontrar amparo e ajuda
especializada. Na maior parte das postagens dos depoentes é expresso esse pedido, ficando
latente em alguns. A partir desse dado manifesto, compreendemos que os sujeitos recorrem a
espaços virtuais para expor suas angústias e receios, pois estão vivenciando um momento
conturbado em suas vidas.
Dessa forma, a procura pelo ambiente virtual para a enunciação do sofrimento, parece-
nos ser uma ação de desespero – um pedido de socorro – e de busca de visibilidade para o
problema. É notório, por meio dos depoimentos, que o vício em pornografia é encarado sob
julgamentos morais no presente cenário social. Assim, consideramos pertinente chamar a
atenção dos profissionais das áreas psicológica e médica quanto a essa demanda, pois alguns
depoentes se sentem negligenciados quando procuram algum tipo de ajuda especializada,
como destacado por Bereta, a seguir:

Cara foi um inferno por 6 meses (ano passado)... comecei a ir a um terapeuta e eu falei pra ele que
tinha problema com pornografia ele falou que não era problema que se eu evitasse seria pior pois
estaria matando o "homem" em mim. Mano até então foi beleza... com ajuda de um psiquiatra eu
comecei a ficar de boa... tomando remédios....mas mesmo assim no pornô tava lá... foi aí que eu em
desespero, junto com a depressão buscando ajuda de Deus me deparei com os vídeos científicos a
respeito da pornografia. Foi como tomar um tapa na cara, sendo que Deus ensina na bíblia e eu
sempre soube desde pequeno que "se for pra se abrasar, case-se" mano daí então tudo fez sentido. Foi
como se eu enxergasse uma luz no fim do túnel (Bereta, D1).

Contudo, necessitamos frisar, que, por vezes, a suposta conduta inapropriada dos
profissionais deve-se, entre outros motivos, à falta de pesquisas no trato de questões referentes
ao assunto. Evidencia-se no discurso dos depoentes ser incomum um sujeito adentrar ao
consultório e expor tamanha dificuldade e ser acolhido de prontidão diante de sua
problemática, sem que haja preconcepções, ou até mesmo desdém sobre sua queixa, pois,
comumente, o consumo de pornografia é entendido como um ato que ocorre na adolescência e
que destina ao conhecimento do próprio corpo, sendo desconsiderado o sofrimento que pode
se fazer presente.
Geralmente, o pedido de ajuda por parte dos sujeitos é revelado por intermédio da
exposição sintomatológica acarretada pelo vício, pela declaração de uso excessivo de
pornografia e devido à procura, na maior parte frustrada, por profissionais que deveriam estar
capacitados ao atendimento dessa demanda. Como forma de elucidar esse ponto, recortamos
alguns trechos que nos servem de exemplo:
108

Olá amigos, novo soldado de apresentando! Então meu caros,... tenho 22 anos, Cristão e Virgem rs' e
também estou nessa luta contra esse vício maldito, e vou contar um pouco da minha história pra
vocês... vi que tinha algo MUITO errado comigo eu precisava parar com a pornografia imediatamente
se não isso iria acabar me matando (Luxord, D21).

Bom dia meus Amigos! Como dito no titulo do tópico, estou me apresentando para guerra contra esse
mal que tanto nos destrói e nos aflige, quero compartilhar com vocês tudo que aconteceu, acontece e
acontecerá a partir de hoje, pois como todos que estão aqui, eu sou apenas mais um que não suporta
mais tanto sofrimento. EU MEREÇO SER FELIZ (Lee D24, maiúsculos do depoente).

É incrível como à PMO tem sido um vicio silencioso que têm destruído tantas pessoas (eu inclusive) ao
longos destas últimas décadas! Ela vem e pega pessoas de todos os tipos e idades! Preto, branco; alto,
baixo; rico ou pobre, feio ou bonito; homem ou mulher, hétero ou homo; ateu ou religioso... enfim, ela
pega qualquer um que não estiver atento às suas garras mefistofélicas! E o pior é que ela vem como
algo inocente! "Ah! Que mal tem ver só uma mulher nua? Não vai me fazer mal... e vai ser apenas por
hoje também..." E quando vemos este "hoje" se transforma em dias, meses, anos e depois incríveis
décadas! E a "inocente mulher nua" depois se desenvolve para os mais terríveis conflitos internos,
externos, pessoais, inter-pessoais, familiares e/ou profissionais! Sem contar que à mulher nua depois
fica muito insossa e procuramos os mais variados gêneros de pornografia; muitos chegando até à
Zoofilia e outras formas às mais bizarras de buscarmos o prazer! Pois o cérebro fica cada vez mais
exigente nos seus processos de busca de Dopamina! É incrível o seu relato e nos faz pensar o quanto
este vício é miserável e degradante! (The GreatSpirit, D30.1).

Além disso, inferimos, por meio de tais depoimentos, que quando o sujeito se defronta
com suas limitações em lidar com a repetição de determinado comportamento aditivo em seu
cotidiano, em virtude da ocorrência de perturbações de ordem libidinais (sociais e afetivas) no
seu contexto de vida, a pornografia torna-se não mais uma opção de escape para enfrentar as
frustrações, mas uma via em direção à sensação de aniquilamento e desintegração.

Eu já me sentia um lixo há muito tempo e quanto mais eu procurava mais as minhas esperanças
decaiam, pois eu percebia sem sombra de duvidas que a maioria das pessoas que escreviam os textos
sobre como parar(sobretudo de sites religiosos) estavam também completamente afundadas no vicio e
apenas dissimulavam que sabiam o “como” parar, como uma forma de fugir do próprio sentimento de
culpa e vergonha, já que o que elas ensinavam eram métodos ridículos e nem um pouco funcionais
(estes sites, por mais “bem intencionados” que sejam, infelizmente ainda são a maioria do conteúdo
existente sobre o tema na internet brasileira). Pensando que não havia mais solução e completamente
desiludido. Cheguei ao ponto, pela primeira vez na minha vida de considerar me suicidar. Não fui
muito longe nessa ideia, mas o fato é que, de acordo com a minha própria percepção distorcida pelo
vício e a autoimagem negativa que eu tinha de mim mesmo, a minha vida da forma como estava, já não
tinha utilidade e não valia a pena ser vivida! (Projeto, D5b).

Olá amigos, sou novo aqui. Tenho lido os relatos aqui no fórum e tomei coragem de dividir minha
história. Tenho 40 anos de idade e agora vejo com clareza que passei muitos anos da minha vida, algo
como 10 ou 12 anos, absolutamente mergulhado num mundo fechado, dentro de mim. E só agora
entendo a causa principal desse problema. Lembro-me bem agora, quando iniciei meu processo de
enclausuramento havia apenas uma coisa que me dava prazer: a pornografia na internet... Percebo
agora que esse vício carrega consigo um elemento diferente de qualquer outro: ele não é socialmente
reprovável, principalmente entre os homens. Pelo contrário, muitas vezes em conversas com amigos,
quando o assunto era pronografia na internet, a sensação era de que isso não representava qualquer
problema, e até certo ponto era um comportamento estimulado nessas rodas de conversa... Passei
então a pesquisar o assunto na internet e encontrei inúmeros, centenas, de depoimentos de pessoas (em
sua grande e esmagadora maioria homens) no mundo todo que estão na mesma situação. Muitos
conseguiram sair deste processo auto-destrutivo. Percebi, nesses depoimentos, que muitos dos sintomas
que eles relataram são idênticos aos meus (Sputnik, D2).
109

No depoimento acima, o pedido de ajuda é irrefutável e são destacados elementos


importantes que estão latentes e tangenciam a busca de socorro por sujeitos que podem estar
nessa situação dolorosa como o fato de alguns sujeitos estarem engolfados nessa situação
repetitiva e – pelo uso de pornografia ser socialmente aceito, principalmente, entre os homens
– sentirem-se inibidos de buscar auxílio e falar sobre o seu problema com temor de uma
possível ridicularizarão.
Nesse sentido, podemos pensar que nossa sociedade midiática atual, no modo em que
está organizada, limita as tentativas de falar sobre o vício em pornografia, pois o
descredibiliza. A possibilidade de abordar esse assunto é restringida, pois atualmente somos
bombardeados por publicações midiáticas de cunho sexual em qualquer momento de nosso
cotidiano, no acesso à internet, nos comerciais, nos programas televisivos, entre outros. Esse
excesso de publicação de material que envolve conteúdos sexuais torna-se algo corriqueiro.
Diante disso, problematizar o vício em pornografia direciona a sociedade em geral a pensar e
repensar elementos veiculados no cotidiano. Essa atitude pode implicar, ou não, em
questionamento sobre as estruturas e hierarquias sociais.
Atrelada à restrição em manifestar suas perturbações para as pessoas com as quais os
sujeitos apresentam vinculações (família, colegas, amigos, dentre outros) soma-se a
dificuldade em localizar entidades especializadas em viciados em pornografia. Lee afirma ter
encontrado apenas auxílio em espaços religiosos, que desaprovam a prática masturbatória e o
usuário de produções pornográficas. Todavia, a partir do encontro com um site que se
destinava exclusivamente para o trato dessa problemática, o sujeito em questão se identificou
com os demais usuários, o que possibilitou iniciar uma ação contra o vício.

Comecei a pesquisar sobre o vicio em pornografia, e achava apenas sites religiosos dizendo para
buscar a igreja todo esse papo clichê onde tudo e qualquer coisa é pecado(Obs: Sou Cristão, acredito e
oro todos os dias para me libertar), foi quando quase desistindo encontrei o blog, li a pagina inicial, e
vi os comentários, entrei no forum e comecei a ver alguns relatos, e era como se eu estivesse contando
minha historia em tópicos picados, meu coração se encheu de alegria em descobrir o que me destruía
por dentro e ver que muitos estavam conseguindo se libertar e ter uma vida feliz... gostava de ler a
parte dos relatos onde pessoas superaram o vicio maldito de PM... Foi quando cansado de me
martirizar e depois de perder uma garota incrível por conta de uma DE, acordei pra realidade. Vi que
se eu não agisse logo acabaria com a minha vida, foi quando fiquei 8 dias sem me masturbar, isso
entrando todos os dias aqui, reforçando meu objetivo e lendo os benefícios e os males que essa
desgraça traz a nossas vida. Então a partir de hoje serei membro ativo do Blog, pois preciso de ajuda,
não aguento mais essa situação, sofro demais com isso e vejo que não estou sozinho nessa luta.
Obrigado, vcs realmente estão fazendo a diferença em minha vida e espero que eu tbem possa faze na
vida de vcs. Espero que hoje seja o primeiro dia do resto de nossas vidas (Lee, D24).
110

Embora o fórum encontrado por diversas pessoas possa ser um meio de ajuda, ele não
se configura como um tratamento (nem esse é o seu propósito), isto é, ele não possui um
método e intervenções direcionados às particularidades de cada sujeito que demanda por
auxílio. Entretanto, na ausência de espaços terapêuticos adequados, os sujeitos inclinam-se às
possibilidades que lhes pareçam imediatas, de apoio, de acolhimento, de se sentirem
compreendidos, de compartilharem os pontos em comum, como é possível perceber em
alguns casos a seguir: “fico feliz por ter encontrado essa comunidade... Preciso realmente de
ajuda. Um forte abraço” (Salomao D7), “Olá amigos,... e é muito bom poder trocar
experiências com pessoas que falam nosso próprio idioma.” (SkidRow, D14) e “Saudações
irmãos. Sou novo no fórum e estou muito feliz por ter um lugar como esse para que possamos
compartilhar experiencias /informações... Desejo que a luz da sabedoria e da força de
vontade ilumine seus caminhos... Forte abraço irmãos!” (Over, D10).

Quando descobri o fórum - pois sabia que havia algo de errado, e suspeitava que era esse meu vicio em
PMO... E agora, como estou? -Não sinto mais vontadede ver P. E já cortei da minha vida isso. Farei o
máximo para não cair. Não fico mais vidrado nesse mundo de fantasias,fuga e mentiras. -Sinto uma
sensibilidade equilibrada. Voltei a ter excitação com fotos sensuais (sem ser nuas), com as mulheres
nas ruas, voltei a ter ereções involuntárias, voltei a ter confiança em mim e na vida. - E como melhorei
o meu lado social! Recuperei a autoestima para chegar nas mulheres, sair, conversar, conhecer,etc.
Ainda venho trabalhando forte nisso. Mas a cada dia tenho bons resultados. Uma das melhores partes
do reboot... Você perceber que está voltando a ativa com as garotas! e ver que você está se
relacionando mais com as pessoas no geral. Sempre conheço uma mina nova ou pelo menos troco
ideias. Tenho chegado nas garotas que quero sem ficar com medo e me tremendo de ansiedade. Tenho
saído todo final de semana com os amigos. As vezes até mesmo nos dias comuns de semana ( a falta de
tempo é muita, mas as vezes é bom quebrar a rotina). - Estou com o meu peso normal. Gastrite
praticamente sumiu. Parei de avacalhar e me refugiar em P, álcool, cigarros,etc. - Voltei a estudar! e
procrastinando bem menos. Agora tenho mais energia e foco. O mundo não é mais o casulo escuro de
antes. Me sinto livre, leve. Renovado para continuar minha vida de uma maneira melhor e mais
saudável. E sim, estou muito feliz! VeryHappy. Agora só administrar meus pensamentos e hábitos.
Ficar ligado para não recair, pois o inimigo sempre está esperando o momento de relaxamento para
atacar. (nofapwinner, D2).

Apesar de o fórum fornecer um suporte aos dependentes em pornografia e os induza a


sentir gratidão devido ao encontro entre pessoas que estão em situações semelhantes em prol
de um objeto tóxico comum, necessitamos pontuar que esse sentimento origina-se de uma
identificação entre os membros pelo sintoma, porém o fórum e os integrantes que o compõem
não atendem e respondem às angústias que levaram o sujeito ao ingresso compulsivo do
objeto e a possíveis elaborações necessárias para o enfrentamento e entendimento do vício.

E eis que me deparei, em meados de 2014, após finalmente haver beijado uma garota e perdidominha
virgindade, com este maravilhoso fórum, esta abençoada iniciativa deste parceiro fantástico chamado
Projeto Sabedoria, que me introduziu, via o fórum e o blog, a todas as exatas informações de que eu
necessitava para meu livramento, após quase uma década afundado numa vida que nem vida é. Só
digo, Projeto, meu eterno e muito sincero obrigado por salvar minha vida e a de todos aqui. Quem
111

batalha vence, quem procura acha. Procurei e achei, batalhei como se deve batalhar e venci... E aqui
estou. Em vista ao passado, no Paraíso. Corro atrás do prejuízo feito um louco, é verdade, porém creio
que ainda há tempo de ser gente, de modo que os resultados devem vir. Sigo buscando-os. Saibam que
todo o esforço vale a pena. Saibam que a luta é válida, sim. Estou me sentindo bem como jamais, vejo-
me simplesmente outro ser, totalmente o oposto do verme que um dia fui. Não sei se terei condições de
moderar algum tópico ou coisa que o valha como andaram desejando, entretanto continuarei por aqui
dando apoio a todos os que precisarem. Ajudemo-nos uns aos outros e melhor sentir-nos-emos conosco
próprios. Vamos lá. Cheguei lá. E com certeza, todos nós chegaremos!! (Justiceiro do Sertão, D4).

Apesar disso, é incomensurável a sensação de retomada do controle da minha vida após um hiato de
10, 12 anos. É como se eu houvesse acordado de um estado de coma e ganhasse uma nova chance, uma
folha em branco para reescrever a minha história. Tudo isso seria um enorme surto de egoísmo se eu
não destinasse essas últimas linhas a agradecer imensamente ao Projeto por todo o trabalho que tem
desenvolvido. Não encontro palavras para expressar minha gratidão, não só a ele mas também a todos
os que mutuamente se ajudaram no fórum, ao trocar experiências, oferecer apoio, relatar testemunhos
de sucesso. Sou enormemente grato a cada um de vocês, conquanto não nos conheçamos e nunca
saberemos quem está do outro lado do monitor. Avante, guerreiros! (M. Mystère, D6).

O momento oportunizado pelo ambiente virtual parece possibilitar vivências


catárticas, ou seja, por intermédio das postagens os sujeitos se habilitam a libertar sentimentos
e tensões em um ato de purgação, mas essa exposição, salvo exceções, não é capaz de trazer à
consciência elementos que estão reprimidos no inconsciente e, como resultado, libertar os
adictos de sua sintomatologia, pois a sua ligação com eventos de cunho traumático se torna
improvável na medida em que não combate as resistências e tende a alcançar sucessos
provisórios. Portanto, a catarse representa uma possibilidade de elaboração de eventos
passados que pode ser obtida por meio da verbalização a despeito dos eventos traumáticos
reprimidos (Freud, 1913/1996m).

Foi bom escrever bastante e escrever sobre isso agora, que era algo que eu pensava a
bastante tempo, pois agora pouco eu quase vi P, quase! Ufa! Foi quando eu decido vir aqui,
ler, ganhar força. Escrever me ajudou a passar a vontade (Matheus750, D8).

Bom dia guerreiros!!! Estou começando o Reboot hoje. Na verdade, já estou sem ver
pornografia e me masturbar há 5 dias, mas quero começar do zero. Já vi alguns vídeos e li
vários relatos os quais me motivaram bastante... Pretendo postar minha luta diariamente, pois
estou com tempo para isso. Já expus minha história em outro tópico, mas resumindo sou
viciado em pornografia e masturbação há uns 15 anos, mas de forma violenta tem uns 10
anos. Meu objetivo é abandonar de uma vez esse vício, além de ter meus desejos restaurados.
(vencedoremcristo, D23).

Espero compartilharcom vocês nos próximos dias, pela minha experiência, e pela primeira
vez na minha vida, contar-lhes algo novo, sobre uma nova pessoa...eu...abraços (doidan D22).

Apesar disso, é incomensurável a sensação de retomada do controle da minha vida após um


hiato de 10, 12 anos. É como se eu houvesse acordado de um estado de coma e ganhasse uma
nova chance, uma folha em branco para reescrever a minha história. Tudo isso seria um
enorme surto de egoísmo se eu não destinasse essas últimas linhas a agradecer imensamente
ao Projeto por todo o trabalho que tem desenvolvido. Não encontro palavras para expressar
minha gratidão, não só a ele mas também a todos os que mutuamente se ajudaram no fórum,
ao trocar experiências, oferecer apoio, relatar testemunhos de sucesso. Sou enormemente
112

grato a cada um de vocês, conquanto não nos conheçamos e nunca saberemos quem está do
outro lado do monitor. Avante, guerreiros! (M. Mystère,D6).

Descobri este Fórum hoje curiosamente umas duas horas após ter me masturbado no
banheiro do meu escritório assistindo videos pornográficos. Faço uso da pornografia desde a
adolescência e agora finalmente entendi que foi o meu vício em pornografia que me fez tanto
mal por mais de 25 anos. Sem dúvidas acredito que atualmente estou no fundo do
poço...Preciso mudar. Preciso sair dessa. Nunca contei estas coisas para ninguém antes, e
estou encarando esta postagem aqui neste Fórum como uma "terapia" que espero, vá me
ajudar a parar com o vício em pornografia e masturbação. Amo minha esposa, meus filhos e
minha família. Eles merecem que eu seja uma pessoa melhor. Preciso parar, vou conseguir.
Obrigado a todos (Alexandre, D30).

Como demonstrado acima, os sujeitos atribuem ao ato de escrever sobre seu vício o
sentimento de alívio, que se liga ao desejo de se purificarem. É como se confessassem suas
impurezas e delitos, por meio de explosões emocionais, a pessoas habilitadas a lhes
perdoarem.
Diante do fato de alguns sujeitos considerarem o trabalho desempenhado pelo Fórum
como completo e capaz de promover a cura, um dos próprios criadores do Fórum alerta que
este promove um auxílio inicial ao enfrentamento do vício em pornografia. Entendemos como
ajuda inicial a atitude de promover acesso a informações a respeito de outros sujeitos que
também se encontram na mesma situação dolorosa, sendo capaz de impulsionar os sujeitos
positivamente ao confrontamento com as situações repetitivas e danosas.

Uma nova esperança. Cansado dos sites brasileiros que não falavam nada com nada e que abordavam
o assunto apenas superficialmente, tive a ideia de começar a procurar por sites em inglês. Até que
finalmente cheguei noyourbrainonporn, o site do Gary Wilson. No inicio, estava desconfiado já que não
tinha mais muita fé em achar uma solução realmente eficaz para o problema. Depois de algumas
páginas de leitura, comecei a me identificar com os relatos e com a abordagem cientifica. Depois de ler
alguns casos de sucesso, uma esperança se reacendeu no meu coração... Por fim, como durante o
processo do reboot eu lia muitos textos dos sites gringos e traduzia para mim mesmo esses textos, e
compadecido e até um pouco indignado por perceber tanta desinformação nos sites em português,
decidi compilar um ebook sobre como parar para as pessoas que assim como eu, sempre tentaram
parar, mas não sabiam o “como”, tivessem ao menos uma referência para consultar. Coloquei para
mim mesmo que eu não me meteria na vida das pessoas e nem faria uma cruzada contra a
pornografia, mas que aqueles que buscassem sinceramente por respostas, deveriam encontra-las de
alguma forma e que o ebook seria essa ajuda inicial (Projeto, D5b, negrito nosso).

Entendemos que, entre os vários obstáculos apresentados pelos depoentes, as


consecutivas recaídas, ou seja, o retorno ao uso de pornografia que outrora havia sido
abdicada, são consideradas muito relevantes. Uma das possíveis explicações seria que o
processo de integração no trabalho catártico torna-se dificultoso, pois existem alguns aspectos
atrelados à adicção que se mantêm dissociados do psiquismo e somente conseguiriam ser
integrados por meio de um trabalho gradual e técnico, e não somente por intermédio da
113

confecção de relatos no ambiente virtual, mesmo considerando o processo catártico, o alívio,


o acolhimento etc.
Embora alguns depoentes afirmem ter procurado por ajuda especializada, diversas
postagens sinalizam para a falta de qualificação adequada aos profissionais consultados no
trato com essa demanda. Portanto, o pedido de socorro, mesmo quando é destinado aos
lugares que tecnicamente deveriam ser aptos a fornecer um tratamento diferenciado, não é
atendido, pois tais lugares não estão preparados para o acolhimento, para a escuta e para a
intervenção necessária à demanda.
Fabsjoia, por exemplo, alega ter procurado um grupo para viciados em sexo e, apesar
de esse ambiente tê-lo auxiliado, o usuário considera que ele não possuía a eficácia esperada,
pois, do seu ponto de vista, o terapeuta desconhecia a causa do seu vício.

Como dá pra perceber, quanto mais aumentava a pornografia na minha vida, mais dificuldade eu tinha
em ter relações sexuais sem DE. entrei em um grupo de viciados em sexo (alguns eram em pronografia,
outros eram viciados em sexo real), me ajudou, mas não conseguia me controlar e, me parese, o
terapeuta desconhecia a natureza do vicio em PMO e sua gravidade. (Fabsjoia,D29)

Magrao também reconhece os benefícios da psicoterapia, pois o fez avistar o objeto de


seu sofrimento e as consequências do seu uso. Entretanto, não atribui o sucesso de sua
melhoria a esse tratamento.

Amigos, espero que o relato abaixo sirva como estímulo a quem está afundado no vício e nas suas
consequências: solidão, dúvidas e falta de expectativa para com a vida... Minha primeira tentativa de
fazer reboot se deu em 24 de outubro de 2013. Esta data marcou uma grande exclamação em minha
vida: "Só pode ser isto! Só poder ser a pornografia e a masturbação. Não tenho mais o que tentar! Já
tentei de tudo!". Ou seja, eu não tinha certeza, mas por dedução (por já haver tentado de tudo) eu enfim
me dei conta de que podia ser a pornografia que estava me afundando... Depois desse tempo todo,
resolvi ir a um urologista. Pensei: "só posso ter algum problema circulatório". Chegando lá, os exames
mostraram que ao contrário, eu tinha uma circulação na região do pênis muito boa. O médico me deu
um Viagra mas disse que aquilo era só por questões psicológicas e mandou eu procurar uma
psicóloga... Até que num dia de desespero e solidão eu procurei uma psicóloga. Mas durante o
tratamento eu já estava usando níveis mais pesados de pornografia. Começar a ver vídeos gays ou de
travestis foram a ante-sala da minha procura por travestis na vida real... Aí minha psicóloga me disse:
"Já parou pra pensar que você pode ser gay? Se você for, não tem problema nenhum, é normal". Nisso
eu entrei em pânico... Comentava com minha psicóloga: "parece que falta um motor dentro de mim".
Hoje sei que esse motor é a libido, que me era roubada pela pornografia e masturbação... Nisso eu fui
tentando e recaindo, tentando e recaindo. Até que chegou um momento em que eu passei a ter a
certeza: "Sou viciado mesmo!". Não havia mais dúvidas, a teoria, as minhas tentativas e a compulsão
me mostravam que eu era viciado. Estava feliz porque enfim eu sabia o que eu tinha! Foram anos sem
lutar pois o inimigo era invisível. Agora eu o via pelo menos.(Magrao, D3a).

Em suma, concluímos que os sujeitos manifestam, por meio de seus relatos, ansiedade,
solidão, fraqueza, desesperança, desespero e intenso sofrimento por estarem em uma situação
de adicção. Inferimos que os sujeitos buscam auxílio e amparo no ambiente virtual e anseiam
114

por visibilidade para seu sofrimento, o que soa como um pedido de ajuda. Contudo, padecem
e se inibem em sua problemática devido a múltiplos fatores, entre eles os julgamentos morais
e a dificuldade em encontrar profissionais com qualificação que permita a criação de um
vínculo que propicie compreensão e ajuda.
A seguir, pautados na descrição e análise dos eixos temáticos levantados nesta seção,
buscaremos novos sentidos diante do conteúdo utilizado, principalmente, pelo viés
psicanalítico.
115

6. A PROCURA DE SIGNIFICADOS

Conforme apontamos anteriormente, quando apresentamos a estratégia metodológica


da presente pesquisa, a última etapa utilizada na análise de conteúdo (Moraes, 1999) é a
interpretativa. Nossa intenção, nessa seção, foi cumprir o principal objetivo da pesquisa, ou
seja, ir além do conteúdo descrito pelo material utilizado, por intermédio do uso de
inferências e interpretações, baseadas na Psicanálise.
Antes de retomarmos nosso objetivo central, algumas asserções precisam ser
realizadas. Primeiramente, pontuamos que o propósito da pesquisa não foi classificar o
consumo de material pornográfico segundo juízos de valor. O uso de pornografia, como já
demonstrado em capítulos anteriores, trata-se de um ato histórico e cultural praticado por
homens e mulheres. Em outras palavras, alguns homens e mulheres ao longo da história
utilizaram de meios sonoros, visuais, dentre outros, para estimulação sexual, visando à
descarga sexual e/ou prazer.
Partindo do pressuposto apresentado por Gurfinkel (1995), McDougall (1995/1997a;
1995/1997b) e Costa (2011), destacamos também que a pornografia veiculada na atualidade
não possui por si só a capacidade de suscitar um quadro de dependência e adicção. Todavia,
toda a discussão apresentada remete a modalidades de vida que se relacionam ao excesso no
consumo e às características peculiares de cada um desses sujeitos.
Nessa seção nos debruçamos em suposições e possíveis análises do material recolhido
e descrito por meio dos eixos temáticos. Tais ressalvas e afirmações são necessárias, pois não
conhecemos a fundo a história particular e os eventos que atravessaram cada sujeito que
compõe a presente pesquisa, visto que os depoentes utilizam pseudônimos e o ambiente
virtual para se expressar. Assim, levantamos a hipótese de que fazem uso dessas
características para que, de fato, não sejam reconhecidos. Como forma de respeito aos
depoentes e também ao considerarmos esse material como verídico em si, pelo fato de se
apresentar por meio do testemunho do próprio sujeito a respeito de sua vida, essas
interlocuções podem conter algumas conclusões que poderiam não ser aplicadas em alguns
dos casos particulares expostos. Contudo, nosso objetivo não foi o de fornecer análises
inflexíveis e que abarquem a todos os sujeitos, mas de investigar o vício em pornografia e sua
relação com a adicção na nossa cultura atual.

6.1. A nossa cultura na atualidade e as raízes da adicção


116

Partimos do pressuposto de que nenhum fenômeno é apartado de relações sociais e de


seu contexto histórico. Por meio de significados herdados pela história de cada família e por
hábitos presentes ao longo das gerações, entendemos que a cultura é responsável por atitudes
e pensamentos humanos, pois ela fornece uma rede de significados, que influencia o nosso
modo de ser e estar no mundo e nos auxilia a manifestar alguns comportamentos de modo
semelhante para solicitar algo e demonstrar descontentamento. Compreender o viés cultural
no qual estamos inseridos nos fornece recursos para questionar o fenômeno da dependência
em pornografia, pois esse comportamento não está esvaziado de significado, mas integra
aspectos relacionais presentes em nossa cultura.
Na concepção freudiana (1930/1996b), a cultura – formada pela família e por outras
instituições – possui em sua gênese a atribuição de amenizar o sofrimento humano e fornecer
proteção aos perigos da natureza e de nossas próprias pulsões. Entretanto, no exercício de seu
ofício, os sujeitos que representam a cultura optam por meios punitivos e coercitivos, que, ao
invés de proporcionar alívio ao sujeito, ocasionam mais sofrimento. Ou seja, por intermédio
da agressividade, a cultura impõe restrições e renúncias aos homens e às mulheres com o
objetivo de controlar seus desejos e mantê-los protegidos. Embora possam se evidenciar
ganhos nessa relação, como a sobrevivência, o ser humano está fadado a manter relações
frustradas com o outro e a manifestar modos distintos de sofrimento, justamente pela
necessidade de escoamento dessa energia reprimida e de sua ligação a um objeto.
Ademais, entendemos que a constituição de cada sujeito que pertence a uma cultura é
atravessada diretamente por diversas instituições, a familiar, por exemplo. Segundo Minerbo
(2013), ao nascer, o bebê é lançado aos cuidados de um cuidador – integrante de uma rede
simbólica – que o introduz nas normas de diversas instituições e estas irão lhe fornecer
recursos para o entendimento do mundo que o cerca. Posteriormente, a “... criança internaliza
essas significações e, em seguida, a própria função simbolizante, que cria novos símbolos. É o
processo de subjetivação” (p. 30).
Assim, um dos papéis desempenhados pelos cuidadores é o de prover à criança/bebê
recursos para executar o processo de simbolização. Essa possibilidade de produzir e formar
símbolos fornece sentido à existência humana, e é nomeada de função simbolizante, cuja
principal atribuição é elaborar e integrar experiências (Minerbo, 2013).
De acordo com Minerbo (2013), a função materna está intimamente relacionada com a
função simbolizante, que é desempenhada pelo inconsciente da mãe, por substitutos e por
instituições, “estabelecendo laços simbólicos entre significantes e significados que propiciam
a experiência subjetiva de ‘fazer sentido’” (p. 423). Por exemplo, uma criança está com sede,
117

mas não possui a representação do que é sentir sede, assim, chora desesperadamente, pois não
sabe externalizar verbalmente sua angústia. A mãe, ou algum cuidador, dirige-se à criança
fornecendo-lhe algum líquido e o nomeia: “você está com sede? Beba essa água”. Desse
modo, essa perturbação ganha significado e é integrado ao psiquismo da criança. Contudo, há
alguns casos em que os cuidadores não destinam significados às angústias vivenciadas pela
criança; logo, os símbolos e significados não são integrados, ocasionando falhas na
constituição egóica desse sujeito. Diante da dificuldade em atribuir símbolos à ausência, a
falta é sentida “como uma presença má e persecutória ou... lança o sujeito num vazio de
significações. Daí sua constante angústia de separação” (Minerbo, 2013, p. 89).
Nesse sentido, Costa (2011), Costa (2013), Ceccarelli (2011a) e McDougall
(1995/1997a) também discorrem que há casos em que a pessoa incumbida em realizar a
função materna é incapaz de prover afetividade ou significados para o desprazer vivenciado
pelo bebê, dificultando a formação de um encadeamento de ideias e a nomeação dos
acontecimentos. Nesses casos, a adicção pode ocorrer quando os cuidadores falham em sua
capacidade de amparar a criança. Essa falha é compreendida como figuras que, ao invés de
apresentarem o mundo à criança de modo afetivo e com explicações a respeito, exime-se
dessa atribuição e não se fazem presentes nesse processo. Tal conduta produz lacunas no
psiquismo desse sujeito em formação, que de algum modo precisam ser completadas
(Ceccarelli, 2011a; Costa, 2011; Costa, 2013; McDougall, 1995/1997a; Minerbo, 2013).
Na concepção de Ceccarelli (2011a), “o objeto na adicção é, em certa medida,
contingente” (p. 71), devido ao fato de se portar como um elemento substitutivo ao bebê em
suas relações socioafetivas iniciais com o ambiente externo. Uma vez que o bebê pode se
segurar e se sustentar em um objeto para que se mantenha vivo fisicamente e
psicologicamente, no futuro essa mesma lembrança do objeto que o amparou pode ser
deslocada a outro objeto externo, que permita ao sujeito sobreviver psiquicamente. Dentre tais
objetos encontram-se os elementos adictivos (drogas, pornografia etc.).
Em alguns casos de vício, como o relacionado à heroína, Ceccarelli (2011a) teoriza a
respeito de uma falha narcísica primitiva na constituição do sujeito que influencia no
desenvolvimento psicossexual e na maneira como o sujeito se relaciona com os objetos do
mundo externo. Ao longo da vida, o sujeito se empenha em buscar suprir essa lacuna por
meio do uso de objetos, mas esse anseio é frustrado. Nas palavras de Ceccarelli (2011a), “o
objeto da adicção está ali apenas como coadjuvante na eterna tentativa sempre frustrada e
constantemente renovada de apagar a falha básica” (p. 72).
118

Além da ausência materna, Costa (2011) supõe que um dos fatores responsáveis pela
adicção seria o declínio da figura paterna, principalmente por ser comum em condutas
aditivas a dificuldade de adquirir responsabilidades e se individualizar. A figura paterna, na
Psicanálise, de modo geral, é destinada à manutenção das regras e interdições sociais.
Segundo Costa (2011, p. 204), “a ausência da função atribuída ao pai de regulação dos
impulsos através do limite ao prazer é o grande vazio da atualidade”.
Em suma, considerando o que é dito pelos autores utilizados nesta pesquisa,
reconhecemos que o comportamento adictivo é frequentemente explicado na teoria
psicanalítica pela tentativa desesperada do sujeito em não estar/permanecer só, ou seja, devido
à intensa dependência do outro e pelo medo frequente de perder os objetos de amor – figura
paterna e/ou materna. A propensão a recorrer a objetos substitutivos se torna uma via
economicamente viável ao psiquismo; por exemplo, o objeto pornográfico surge como uma
alternativa para prover explicações ao sujeito. Porém, as mensagens transmitidas por tal
objeto são tóxicas porque são excessivas, uma vez que sobrecarregam o psiquismo do sujeito.

6.2.O funcionamento psíquico não neurótico

A partir dos dizeres dos depoentes, especialmente das questões levantadas no segundo
eixo – como a fala de surfista: “As vezes eu penso comigo mesmo que isso não é necessário,
mas algo no meu cérebro me fala pra eu ir praticar pq vai me aliviar e eu vou ficar mais
tranquilo” (D26) –, é possível pensar que do mesmo modo que um cuidador da primeira
infância, a pornografia, quando escolhida como objeto adictivo, é vivenciada como algo que
não frustra o sujeito que recorre a ela. O sujeito na adicção não busca ser surpreendido, mas a
segurança e a proteção diante das surpresas da vida. Por isso, a compulsão à repetição (Cole,
2011).
Costa (2013) levanta hipóteses a respeito da origem dessa conduta. Para ele, o
contexto teria desprovido o sujeito de suportes básicos e elementos para a constituição
psíquica (imagem narcísica). Como resultado, o sujeito tem afetada a sua capacidade de
resistir à separação com o seu objeto tóxico. De um modo geral, Costa (2013) considera que o
objeto tóxico internalizado é substituído por um novo objeto com a finalidade de suprir essa
falta. Na perspectiva de Ceccarelli (2011a; 2011b), na adicção ocorre uma ruptura do ego, em
que o objeto escolhido atenderia às demandas de onipotência infantil e cumpriria as pulsões
primárias, ocasionando a sensação de que o objeto estaria presente sempre que solicitado.
119

Ceccarelli (2011a), ao explicar o sentimento de onipotência infantil, realiza um resgate


ao primeiro modo de relação do bebê. Para o autor, a primeira vinculação do bebê ocorre com
algum cuidador que lhe forneceu vida psíquica. De início, o bebê acredita que seu cuidador
possui a capacidade de protegê-lo de quaisquer perigos e frustrações originárias do mundo
externo e, durante o seu amadurecimento, o sujeito combate qualquer hipótese que ponha fim
a esse sentimento de proteção. Assim, esse cuidador serve como um elemento fundamental na
constituição do sujeito, pois ele é quem auxiliará a criança a lidar com sentimentos e com
situações de desamparo fisiológicas e psíquicas. Contudo, esse anseio pela manutenção da
figura de amparo torna-se problemático quando o sujeito não consegue se desvincular dela.
Assim, a conduta adictiva seria descrita como uma tentativa de não se separar da figura de
amparo, que impossibilita o sujeito “de construir um mundo interno tranquilizador e ser capaz
de estar só” (p. 72). Para Ceccarelli (2011a), os pilares da conduta adictiva se baseiam na

preocupação... a ser quebrada, amortecida..., seria o colapso psíquico devido à não


introjeção das imagos parentais necessárias para que passado o desamparo inevitável dos
primeiros anos de vida, a criança possa ser o que chamei de “pai para si mesmo”. Esta
dinâmica psíquica particular é reatualizada sempre que uma ameaça, real ou imaginária, se
apresenta ao sujeito. O recurso à adicção é a tentativa de evitar, de quebrar o desamparo
gerado por este estado psíquico (p. 73-74, itálicos do autor).

Em decorrência do que foi apresentado no primeiro eixo temático, supomos que os


pontos teóricos acima destacados podem ser sustentados e reiterados nesta pesquisa, pois
ficou evidente nas narrativas dos depoentes que o seu primeiro acesso ao objeto substitutivo
ocorreu antes dos doze anos, ou seja, quando crianças, em uma época importantíssima na
formação do psiquismo. Embora a exposição à pornografia não tenha por si só a capacidade
de suscitar dependência, no caso específico dos depoentes, o objeto adictivo, a pornografia,
foi um recurso utilizado pelo ego para a manutenção pulsional de um estado capaz de ser
suportado. Com a finalidade de lidar com a falta de significados atribuídos às suas angústias,
os sujeitos recorreram às adicções na tentativa de diminuir o sofrimento e formar sua própria
identidade. As adicções são construídas a partir de objetos pertencentes à cultura e tornam-se
notórias a partir do momento em que não podem ser controladas pelas instituições e abdicadas
pelo sujeito.
Nossa perspectiva, diante do exposto, é de que a cultura lança símbolos ao sujeito, que
podem ou não culminar em sofrimento psíquico, e que dependem diretamente do modo
individual com que cada sujeito se organiza perante essa matriz simbólica. Em outras
palavras, nossa subjetividade seria formada por meio das intervenções culturais (maternas,
120

paternas, institucionais), sendo estas responsáveis pela maneira como nos portamos no
mundo, bem como pelo nosso sofrimento.
No primeiro eixo temático, por meio dos depoimentos, os sujeitos reconhecem o
sofrimento gerado devido aos impactos das tecnologias na constituição do processo de
dependência com a pornografia – principalmente, diante das dificuldades levantadas em
responder às solicitações institucionais na infância e na adolescência, assim como em
comprometerem-se em atividades esportivas, acadêmicas e/ou familiares. Considerando tais
informações, é possível supor que essas condutas evidenciam que estamos vivenciando um
momento histórico de fragilidade da cultura.
A fragilidade da matriz simbólica (capacidade de significar) nos dias de hoje está
constituindo sujeitos desprovidos de recursos simbólicos para lidar com a carga pulsional
(Minerbo, 2013). No caso do vício em pornografia, torna-se evidente que o processo de
simbolização em nossa cultura não se dirige às integrações, havendo uma ruptura em relação a
sua atribuição – que exploramos detalhadamente durante a discussão. Tal hipótese também foi
prevista por Costa (2011) ao tratar do processo de aculturação.
Segundo Costa (2011), vivenciamos um momento histórico revolucionário, que nos
impele a uma celeridade adaptativa. Tais transformações devem-se em grande parte ao avanço
da tecnologia, especialmente as ligadas à ampliação da comunicação entre os sujeitos. Nas
palavras de Costa (2011, p. 201), “não tínhamos ideia do poder contido na comunicação, não
suspeitávamos de nossa sede de contato, nossa curiosidade pelo outro, nosso desejo de nos
apresentarmos, de sermos vistos”.
Devido à sutileza dos meios tecnológicos, especialmente a internet, em adentrar no
nosso psiquismo, é possível pressupor que estamos vivenciando um episódio histórico de
aculturação (Costa, 2011). Ele é descrito como um movimento de ruptura nos costumes e nos
valores sociais (responsáveis ao provimento de identidade e pertencimento de sujeitos em
grupos) gerador de ansiedades como resultado de um processo histórico transitório.
Como consequência desse processo de aculturação, o consumo desenfreado de
tecnologias de comunicação, no ponto de vista de Costa (2011), também culmina em
interrupção no processo de elaboração das ansiedades que se relacionam com a separação das
figuras de cuidado. Assim, os sujeitos mais afetados pelas tecnologias seriam as crianças e os
adolescentes que, possivelmente, podem apresentar mais dificuldade na autonomia e na
aquisição de responsabilidades.
Apesar de destacarmos os impactos nocivos das tecnologias, necessitamos de cautela
em sua categorização como algo exclusivamente nocivo às crianças e aos adolescentes, pois
121

tais ferramentas também contribuem de modo saudável para o desenvolvimento deles; por
exemplo, ao estimular o acesso ao conhecimento, ao facilitar a aproximação entre as pessoas e
possibilitar a comunicação entre entes queridos de forma mais acessível financeiramente ou
até mesmo gratuita. Outro contraponto importante a ser salientado é que a exposição à
pornografia não é suficiente para gerar danos na vida dos sujeitos, mas é necessária uma gama
de fatores que contribuem para a manifestação e para o desenvolvimento de um quadro de
dependência.
No caso desta pesquisa, buscamos fornecer significados a uma determinada demanda
por intermédio de testemunhos. Neles, as características expostas e descritas, principalmente
no primeiro eixo temático, que se relacionam ao período da infância e adolescência, levaram-
nos a supor que tais sujeitos não possuíam recursos psíquicos e mediações externas (de
familiares, professores...) para se utilizarem de ferramentas tecnológicas de modo autônomo e
responsável. Por exemplo, na narrativa de Justiceiro do Sertão (D4), ele relatou as
consequências geradas em seu psiquismo após a exposição constante à estimulação
audiovisual.

... me tornei um completo crápula, o tipo mais besta, mais irritante que pode haver (para
vocês verem como a pornografia, inclusive, torna o adolescente imaturo ao extremo). Ia para
a escola só para perturbar a todos (crente de que estava agindo como gente) e desejar coisas
impossíveis...

E acrescentou: “quando se é viciado, quer-se mais que o mundo se dane. A zona de


conforto é muito mais tragicamente gostosa” (D4). Assim também na postagem de M.
Mystère, em que afirma: “várias vezes cheguei a furar meu programa de estudos ou deixar de
estudas para provas a fim de ver conteúdo pornográfico e me masturbar. Contudo, ainda não
percebia o gama de efeitos nocivos” (D6).
Diante desses exemplos e do que foi demarcado no primeiro eixo, um de nossos
entendimentos, em face à dificuldade desse público em estabelecer autonomia e adquirir
responsabilidade, está relacionado diretamente à hipótese de enfraquecimento das instituições
que representam a cultura, como a família, o sistema educacional, a religião, dentre outros,
outrora presumidos por Minerbo (2013).
Para que uma instituição tenha o poder de afetar um sujeito é necessário que ela tenha
força para constituir um local simbólico, ou seja, as bases de uma instituição somente se
sustentam caso forneça símbolos que auxiliem a integração do sujeito, visto que uma
instituição é responsável pelo processo de construção da subjetividade. Por intermédio desta,
122

os sujeitos pensam, sentem e se manifestam segundo os significados fornecidos (Minerbo,


2013).
Nesse sentido, Minerbo (2013) discorre que, na ocasião em que as instituições
diminuem sua força, a união simbólica fica debilitada, ocorrendo o rompimento do símbolo.
Em consequência, “a descrença nas narrativas e a fragilidade do símbolo indicam o
enfraquecimento das instituições” (p. 416). A autora afirma que diante do enfraquecimento
simbólico, os sujeitos estão manifestando o seu sofrimento por meio de condutas compulsivas
de caráter adictivo.
Presumimos que, se a personalidade neurótica é construída pelo símbolo, ou seja, “por
uma matriz simbólica relativamente fixa a partir da qual o sujeito lê o mundo e reage a essa
leitura” (Minerbo, 2013, p. 26, itálicos da autora), a fragilidade do símbolo resulta em um
modo de funcionamento psíquico não neurótico. Portanto, compreendemos por meio de nossa
investigação que o vício em pornografia é um modo de funcionamento psíquico não neurótico
(Green, 2002, citado por Minerbo, 2013); em outras palavras, está relacionado à falha na
constituição do narcisismo e, consequentemente, na integração egóica, dado que a
personalidade neurótica se relaciona predominantemente a perturbações na dinâmica das
relações objetais.
Explicando melhor, para Minerbo (2013), na estrutura neurótica do psiquismo, há um
escudo protetor capaz de possibilitar conexões libidinais que se alojam no interior do
psiquismo e proporcionam o desempenho de atividades egóicas (sublimatórias, realitárias,
criativas, simbólicas e de proteção). Já no funcionamento não neurótico, a energia “será
descarregada, na forma de energia não ligada” (p. 75, itálico da autora). Como exemplo
disso, Minerbo (2013) elucida a ocorrência a partir da relação entre uma mãe que, ao invés de
prover suporte às angústias da criança, destina-lhe angústias e tensões. Nas palavras da autora,

O psiquismo da mãe não aguenta tensões; ele “espana” em situações de angústia e descarrega
na criança, esperando que ela possa fazer a necessária continência e transformação, o que,
evidentemente, excede sua capacidade psíquica de elaboração. Ou seja, em lugar de funcionar
como paraexcitação, a própria mãe é fonte de afetos penosos e traumáticos. A criança irá se
subjetivar segundo esses modelos de funcionamento psíquico, com prejuízo de sua
paraexcitação. (p. 75, itálico da autora).

Nas estruturas não neuróticas, todo e qualquer estímulo energético é sentido como
intenso e desorganizador, devido à vulnerabilidade egóica (Minerbo, 2013). No caso da
adicção em pornografia, a evacuação dessa energia tende a ser descarregada no mundo
externo por meio de atuações, que conduz o sujeito a um estado confusional e dificulta a
123

criação de uma rede de representações estáveis que viabilizem o pensamento reflexivo. Como
consequência, o sujeito tende à compulsão à repetição (Freud, 1920/1996c; Minerbo, 2013) e
busca no objeto adictivo a elaboração de suas angústias, pois, diferentemente do neurótico, o
adicto não possui estabelecida uma continência interna de suas angústias e necessita procurar
em um objeto externo esse amparo (McDougall, 1995/1997a).
Como demonstrado por meio das postagens, os adictos em pornografia vivenciam um
ciclo de repetições, pois não conseguem se desvencilhar da intensa recorrência de seu
comportamento. Supomos que se esses sujeitos não estivessem em uma situação de
vulnerabilidade egóica, conseguiriam por intermédio do pensamento reflexivo, atrelado a um
engajamento psicoterápico ou analítico, esquivar-se da situação aflitiva. Todavia, torna-se
evidente por meio do eixo seis, a possibilidade remota de abdicarem do objeto tóxico, visto
que este representa a eles uma situação de conforto e satisfação, mesmo que esporádica, como
expresso nas palavras de um depoente: “Sinto que com a pornografia eu tenho algo que me da
satisfação e prazer. Sem ela eu me anulo...” (Zé, D13).
Tal fato é notório em nossa pesquisa, uma vez que os depoentes nos transmitem a
mensagem, por intermédio de suas postagens, de que a realidade para eles não é suportável e
que somente encontram alguma sensação de alívio durante o consumo do objeto pornográfico.
A partir dessa averiguação, fomos capazes de estabelecer dois pontos que prejudicam os
sujeitos a se desvencilharem das amarras ligadas à compulsão: a) a dificuldade de encontrar
profissionais e serviços adequados que atendam a sua demanda; e b) a própria perspectiva do
sujeito, ou seja, a sua própria especificidade subjetiva que o impede de se desvincular da
conduta adictiva devido a sua economia psíquica que favorece o desenvolvimento de intensas
resistências ao tratamento; resistem à mudança porque ela os tiraria da zona de conforto.
Neste momento se faz importante pontuar que, na ocasião em que os sujeitos desejam
manifestar sua solidão, tristeza e insatisfação para alguém, essas queixas comumente podem
ser respondidas com deboches, ironias ou agressividade. A escuta inexperiente e não reflexiva
de alguns sujeitos pode resultar em pensamentos e respostas como: “você não melhora porque
não quer” e “para de usar isso se está te fazendo mal”. Contudo, esse raciocínio simplório não
leva em consideração a complexidade da questão. O adicto por si só não consegue mudar sua
realidade, pois não possui “matriz simbólica para apreender nuanças, nem para conceber a
complexidade do objeto” (Minerbo, 2013, p. 87) ou para compreender dados de realidade
complexos.
Assim, constatamos que tais escutas inexperientes não são adequadas, conforme a
exposição do sexto eixo, pois levam o sujeito a evitar a procura de ajuda. Entretanto, embora a
124

procura de ajuda especializada seja fundamental, ela é só um dos aspectos a ser considerado
pelos profissionais e pelos serviços de saúde. Não basta apenas oferecer uma escuta
experiente para que a problemática seja resolvida, porque há outro ponto a ser contemplado: a
perspectiva do próprio sujeito. Em outras palavras, apesar de haver a possibilidade de uma
escuta experiente que possa compreender os sujeitos nesse quadro, isso não significa
diretamente que os próprios sujeitos aceitarão esse auxílio e a intervenção dos profissionais.
Esse entrave no engajamento em um tratamento médico e/ou psicológico por parte do
paciente é previsto na teoria psicanalítica por meio de um fenômeno nomeado por resistência.
O sujeito em tratamento, por vezes, manifesta soluções defensivas em oposição ao
tratamento que independem de motivos específicos. Uma das hipóteses seria devido ao ganho
secundário do sintoma, ou seja, a persistência em manter um quadro sintomático seria uma
saída viável para os sujeitos, visto que o tratamento pode colocar em perigo o ego, que
historicamente se constituiu de determinada maneira. Em outras palavras, livrar-se de um
sintoma poderia deixar o sujeito indefeso para conviver com suas próprias angústias, pois os
sintomas foram um meio encontrado de afastar o próprio sujeito de algum evento traumático
vivenciado. Dessa forma, as resistências intrínsecas a cada sujeito dificultam sempre a busca
pela verdade psíquica de cada um. Portanto, além de investir na capacitação de profissionais,
proporcionar serviços adequados e alertar a população em geral a respeito dessa modalidade
de sofrimento, é preciso considerar o viés do sujeito e sua especificidade subjetiva.
Considerando os pontos apresentados, a partir do momento em que o sujeito sente essa
resposta repleta de desprezo, rejeição e indiferença, qualquer possibilidade de procurar ajuda
ou de dialogar a respeito de seu problema é sentida como negativa e perigosa, visto que até
mesmo a imaginação de uma situação de tamanha intensidade desorganiza o sujeito, pois
poderia desarmá-lo em suas defesas, como já salientamos acima. Até mesmo situações
corriqueiras, como trabalhar ou realizar alguma atividade diária, podem ser encaradas pelo
sujeito com medo e reserva, pois os depoentes sentem que estão prestes a se fragmentar diante
de qualquer situação de tensão ou cobrança. Em decorrência de se perceberem incapazes de
resolver impasses de sua realidade cotidiana, os sujeitos sentem ódio de si, por viverem no
limite e sob ameaça constante de aniquilação. É como se seu comportamento adictivo
representasse um segredo que pode ser descoberto a qualquer momento. Um depoente
comunicou explicitamente o medo de ser descoberto da seguinte maneira: “O peso na
consciência é grande, estou em um ciclo de mentiras constante para manter a minha vida
secreta” (Salomao, D7).
125

Como resultado dessa sensação aflitiva permanente, pensamos a respeito da


dificuldade desses sujeitos, com falhas na constituição de seu narcisismo, de obter a
felicidade, tanto no trabalho quanto no amor, sendo que em ambas as esferas, por envolverem
uma dinâmica objetal, a necessidade de integração egóica nos parece comprometida.
Presumimos que uma das formas de se encontrar a felicidade seria por meio da relação entre
sujeitos – inibidas ou não em sua meta sexual – em práticas como amar e trabalhar, mas elas
requerem um ego amadurecido, capaz de abdicar, por vezes, de si mesmo e destinar a própria
libido a outro objeto no mundo que o cerca. Tais constatações nos levaram a seguinte
indagação: seriam os viciados em pornografia infelizes? E a resposta diante do já apresentado
não nos gera dúvidas: eles estão infelizes e com obstáculos em criar recursos internos para
lidarem com a própria infelicidade.
Na nossa compreensão, desde o seu nascimento, o sujeito humano clama por amparo e
proteção, sendo que nesse caso específico da adicção em pornografia, os sujeitos se expõem
como solitários e desamparados. Isso tanto é verdade que eles buscam ajuda no ambiente
virtual a fim de camuflar sua solidão e sentirem-se pertencentes a um grupo e a algum lugar.
O mínimo de atenção que a internet oferece é sentida para eles como amparo. Contudo, essa
mesma faceta abre pouco espaço para o concreto, pois por meio de pseudônimos, os próprios
sujeitos afastam a possibilidade de contato, como se estabelecessem defesas a seu ego, que já
encontra-se fragmentado, prestes a se aniquilar.
Essas argumentações parecem se expressar muito intensamente no quinto eixo, no qual
os depoentes constantemente afirmam sofrer por causa da perda da libido (direcionada a um
objeto externo) e da capacidade de sentir e de expressar sentimentos. O fato dos sujeitos não
enxergarem possibilidade em se desprenderem do próprio autoerotismo gera psiquicamente a
sensação de fragmentação. Logo, o viciado em pornografia apresenta como característica a
diminuição da curiosidade sexual em relação ao outro, uma dessensibilização em amar, em
que o outro não é percebido com curiosidade e mistério, mas esvaziado de significado e
interesse.
Para Freud (1914/2004c), a incapacidade de amar resulta diretamente na atitude do
sujeito em se autodepreciar e em sentimentos de inferioridade. Ele identifica como origem
desses sentimentos o esvaziamento egóico, “resultante da enorme quantidade de
investimentos libidinais dele retirados; portanto, trata-se aqui de danos ocorridos... devidos às
aspirações de vertentes sexuais que não mais se submetem ao controle” (p. 116). Em
concordância com o rebaixamento do autoconceito, os viciados em pornografia nos parecem
126

recorrer a uma supercompensação de suas características no uso abusivo de conteúdos


sexuais.
Além da dificuldade em estabelecer vínculos afetivos, consideramos importante
retomar a discussão a respeito da dificuldade relatada pelos depoentes em desempenhar
atividades socialmente úteis, como trabalho, estudo e práticas esportivas. Pelo viés
psicanalítico, essas ações poderiam ser entendidas como possibilidades sublimatórias (Freud,
1914/2004c), por afastarem o sujeito do objeto sexual com o objetivo de encontrar em outros
objetos – por intermédio do símbolo – outra modalidade de satisfação. Em outras palavras, a
sublimação atenderia às pulsões sexuais e às demandas da cultura, sendo ela um mecanismo
que permite aos sujeitos destinarem suas pulsões agressivas e sexuais a objetos externos.
Todavia, os sujeitos que se encontram nessa situação adictiva manifestam dificuldades em
desempenhar tais atividades, pois o prazer sentido por elas está afetado, justamente pelo fato
do sujeito não conseguir realizar ligações entre as cadeias de representações; isto é, a
atividade sublimatória seria posterior e possível para aqueles cujas funções egóicas possam
suportar e proporcionar essa ação.
Mas afinal, o que impulsiona o sujeito a consumir pornografia de modo abusivo?
Supomos que a necessidade acentuada de resgatar um período de intensa dependência com o
outro. O sujeito procura um objeto capaz de se portar como uma de suas figuras de cuidado,
ou seja, de nomear as angústias subjacentes à tenra infância. Devido à impossibilidade de
regresso, o objetivo substitutivo surge como uma esperança em ser capaz de desempenhar
essa função ou de modificar as falhas no processo de simbolização vivenciadas na infância.
Em vista disso, o sujeito busca de modo traumático esse encontro, por meio da repetição
compulsiva.
Nesse sentido, os sujeitos procuram principalmente o prazer, ou melhor, o alívio, por
intermédio do material disponível na internet. Minerbo (2013) observa que essa ferramenta
possui noções de tempo e espaço próprias, que não impõem limites nem controle, lançando o
sujeito constantemente a situações perigosas. “Por isso, a hipótese de que a internet induz a
passagem ao ato, por mobilizar transferência e fantasias primitivas – envolvendo a
sexualidade infantil perverso-polimorfa e aspectos narcísicos onipotentes –, merece ser
cuidadosamente considerada” (Minerbo, 2013, p. 452-453). A atuação revive alguma situação
do passado por meio do infantil, em que a excitação pulsional transpõe os limites da
continência simbólica.
Um fator que atesta tal afirmação foi o conteúdo levantado no primeiro e no terceiro
eixo temático, pois constatamos que a internet é uma ferramenta que viabiliza o acesso a
127

materiais de cunho sexual, que estimulam uma forma perversa de funcionamento psíquico.
Esses materiais, quando utilizados sob determinadas condições, são capazes de enclausurar os
sujeitos em uma fixação à determinada modalidade sexual, até que ele se entorpeça desses
estímulos e recorra a modalidades de prazer mais intensas e exclusivas, como a pornografia
relacionada à coprofilia e à zoofilia.
Ademais, a partir da exclusividade da satisfação obtida pela adicção em pornografia –
a qual retira a libido do direcionamento ao outro na busca do alvo sexual, sendo reconduzia a
pontos de fixação –, podemos pensar que nela o modo de funcionamento não neurótico se
revela na constante busca do adicto em se sentir completo e onipotente, além do que nos
parece que sem essa obsessão pelo objeto adictivo o sujeito se sente aniquilado. Tais
amarrações se dão a partir do que é descrito no eixo temático que discorre a respeito da
fantasia e do fetichismo.

6.3. Adicção e sentimentos primitivos

A partir de Bauman (2001), Cole (2011), Freud (1920/1996c; 1915/2004a) e


Ceccarelli (2011b), consideramos que a capacidade de tolerar a frustração relacionada a um
ambiente cultural permeado por elementos que propiciem práticas hedonistas e de prazer está
afetando a constituição psíquica dos sujeitos, que manifestam comportamentos regressivos
devido à desorganização psíquica. Na tentativa de realizar integrações e fornecer significado à
própria vida, o sujeito recorre ao uso de objetos adictivos, com o objetivo de não sentir o
vazio e a dor ocasionada pelo sentimento de desamparo e angústia.
Como levantado no terceiro, no quinto e no sexto eixo temático, os depoentes sentiam
a pornografia, o objeto adictivo, como provedor de malignidades que os destruiria e os
aniquilaria. Os sentimentos de aniquilação e de fragmentação eram constantes. Teoricamente,
o primeiro sentimento, aponta Minerbo (2013), ocorre em ocasiões fusionais do sujeito com o
objeto, nas quais é atribuído ao objeto desempenhar atividades psíquicas que proporcionem ao
sujeito a integralidade. Quando há uma possibilidade de se distanciar do objeto ou perdê-lo,
isso gera sentimentos relacionados com a angústia de morte8. Também associada à angústia de
morte expomos o sentimento de fragmentação, no qual o ego do sujeito está enfraquecido e,

8
Conceito que se encontra relacionado na teoria freudiana com a pulsão de morte (1920/1996c), a qual é
responsável por mover o sujeito em direção ao estado de aniquilamento total das pulsões, ou seja, à morte. O
excesso de potência dessa pulsão resulta em ações autodestrutivas ou em agressividade para com os objetos do
mundo exterior.
128

por estar vulnerável, apresenta a possibilidade de desintegração. Assim, o objeto realiza,


nesses casos, o papel de contenção e de proteção ao sujeito.
Compreendemos que o vivenciado pelos adictos em pornografia pode ser nomeado
como um sofrimento de ordem narcísica, pois coloca em risco a integridade egóica de cada
sujeito. Essa modalidade de sofrimento pode ser manifestada por meio de alguns sentimentos,
como sensação de aniquilamento, vergonha, culpa, humilhação, ódio a si mesmo e
raiva/repulsa da pornografia. Tais sentimentos demonstram que cotidianamente esses sujeitos
vivenciam o medo de morrer ou de adentrar a um estado psicótico (Minerbo, 2013).
A expressão desses sentimentos – culpa, asco, vergonha, dentre outros – foi
compreendida por nós, com base no segundo e no terceiro eixos, como sintomas, em razão de
expor de forma involuntária o sofrimento psíquico gerado por um quadro adictivo. Como já
dito antes, o adicto em pornografia consome continuamente as “vergonhas alheias”, em
consequência identifica a própria atitude como humilhante e transgressora, responsável por
ferir os padrões morais. Seu consumo obstinado, quando atrelado às exclusividades de prazer,
produz sensações de aniquilamento de si mesmo no campo moral, uma vez que, devido aos
pilares culturais em que a sexualidade é algo condenável, o excesso de uso da pornografia é
sentido como algo que desmerece o adicto, sendo este indigno de respeito e do amor de
outrem.
Supomos que os sujeitos dos depoimentos se utilizam do consumismo pornográfico
como um modo de defesa contra a fragmentação e contra o aniquilamento psíquico; a
pornografia se apresenta como um recurso para mantê-los vivos. Notamos que o sofrimento
gerado é ocultado pela cultura, em que os sujeitos se sentem vivos durante o tempo em que
podem consumir a pornografia. Diante disso, a configuração psíquica não neurótica, em
específico as adicções em geral, parece estar consolidada na nossa atual cultura, que é
sinalizada pela não eficácia da função simbolizante, desde o objeto primário às instituições
que poderiam trabalhar com essa ausência.
De acordo com Minerbo (2013), o funcionamento não neurótico é representado por
intensidades distintas de sofrimento narcísico e pelos mecanismos defensivos que são
suscitados na tentativa de minimizá-los. Nessa modalidade de sofrimento, o sujeito dirige
ódio ao objeto escolhido, pois este resgata o desprovimento de proteção do primeiro objeto,
que pode ter ocasionado um trauma. O sujeito visa destruir o objeto, pois ele representa
constantes ameaças de fragmentação e de aniquilação do eu. Odeia-se o objeto, pois ele revela
que falhou em sua missão de suprir ou escamotear algo vivenciado.
129

Apesar de o sujeito manifestar ódio ao objeto substitutivo, ele também realiza uma
tentativa de poupá-lo e de salvá-lo da destruição, pois independente de ter fracassado, de
algum modo, o objeto-droga cumpre uma de suas missões: ele promove alívio momentâneo às
pulsões. Ademais, o que prenderia o sujeito nessa relação com o objeto dirige-se para além do
princípio do prazer, isto é, o encontro com o objeto revive o traumático por meio da repetição.
Nas palavras de Laplanche e Pontalis (2001), a compulsão à repetição se refere a um

... processo incoercível e de origem inconsciente, pelo qual, o sujeito se coloca ativamente em
situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar do protótipo e tendo,
pelo contrário a impressão muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na
atualidade (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 83).

Ademais, conforme o que foi apresentado no quarto eixo temático, é possível


assegurar que os depoentes afirmam conscientemente que a pornografia é vivenciada como
um objeto provedor de malignidade, capaz de aniquilá-los, e identificam, assim, as
consequências da sua dependência e da sua compulsão. No entanto, ao acreditarmos que as
compulsões são baseadas principalmente em processos inconscientes e que os sintomas
nomeados pelos sujeitos também são formações inconscientes, entendemos que a formação da
repetição e dos sintomas é resultado de diversas causas que possuem raízes inconscientes,
permanecendo inacessíveis ao sujeito (Freud, 1920/1996c) e que o “conteúdo inconsciente é
substituído por outro segundo determinadas linhas associativas” (Laplanche e Pontalis, 2011,
p. 202).
Assim, concebemos que tais externalizações e nomeações dos sintomas podem ser
compreendidas por meio de dois mecanismos psicológicos: o deslocamento e a condensação.
Resumidamente, ambos seriam formações inconscientes responsáveis pelo funcionamento
psíquico. O deslocamento retira a intensidade de uma representação dolorosa e a deposita em
outra representação de menor intensidade energética por meio de uma cadeia de associações.
Em sequência, essa energia é investida e condensada em um quadro sintomático (Laplanche
& Pontalis, 2001).
O conteúdo que se encontra manifesto é o quadro de adicção. Contudo, levantamos a
hipótese de que ele mascara uma dificuldade vivenciada por esses sujeitos em sua história de
lidar com o vazio e com a dor ocasionada pelos sentimentos de desamparo e de angústia em
relação às figuras de cuidado, que foram insuficientes na formação egóica, ou seja, que
falharam ao prover e estimular a autonomia e a individuação. O adicto revela em si as marcas
130

da dificuldade em ficar só, as quais se relacionam intimamente com suas vivências


traumáticas primárias.
A marca constante, relatada por intermédio das postagens, a ambivalência em relação
à pornografia, amor e ódio, pode ser comparada com a ambivalência dos primeiros anos de
vida em relação ao seio materno. De acordo com Melanie Klein (1946/1991), o primeiro
objeto, ao longo do desenvolvimento infantil, é o seio materno. No ponto de vista infantil, ele
está dividido em bom (gratificador) e ruim (frustrador). Tal divisão é fundamental em cindir o
amor e o ódio. No princípio, o bebê dirige ataques ao seio materno, pois o vê cindido. Esse
período no desenvolvimento infantil foi descrito por Klein (1946/1991) como posição
paranóide, e, com o tempo, o sujeito tende a integrar essas figuras cindidas e adentrar a
posição depressiva.

Isso porque com a introjeção do objeto como um todo as relações de objeto do bebê se alteram
fundamentalmente. A síntese entre os aspectos odiados e amados do objeto completo dá
origem a sentimentos de luto e culpa que implicam progressos vitais na vida emocional e
intelectual do bebê (Klein, 1946/1991, p. 22).

Klein (1946/1991) também discorre que mecanismos de cisão de objetos são reflexos
de defesas de um ego arcaico. Além disso, essa autora também elenca que algumas ansiedades
associadas ao ego rudimentar são expressas por meio de dois grandes medos: o ser
envenenado e o de ser devorado. Esses medos são sentidos nos primeiros meses do
desenvolvimento; contudo, se expressam em adultos por meio de vivências psicóticas e de
estados confusionais.
No caso dos adictos em pornografia, cujos depoimentos foram analisados nesta
pesquisa, supomos que as elaborações necessárias para que houvesse uma integração
fundamental em relação às figuras de cuidado de algum modo foram insuficientes, pois
percebemos medos persecutórios intensos e evidências de pontos de fixação, que culminam
em um modo de funcionamento psíquico não neurótico e paranoide. Ademais, notamos como
reflexo dessa insuficiência egóica uma tendência dos depoentes em sentirem-se fragmentados,
prestes a se despedaçar. No que concerne a esses sentimento, Klein (1946/1991) afirma que,
como resultado de uma estrutura egóica arcaica, o sujeito possui uma propensão a se sentir
despedaçado, sendo tais sentimentos característicos nos primeiros meses de vida.
Diante disso, presumimos que os adictos em pornografia depositam no objeto
escolhido um papel que outrora deveria ter sido desempenhado por algum cuidador e mantêm
com esse objeto relações intensas de ódio e amor: ama-se a ideia de não estar só e odeia-se ao
131

perceberem que tal objeto é frustrante, na medida em que não fornece a continência necessária
para acolher as angústias. Presumimos que esse modo de funcionamento não neurótico se
expressa por meio de uma formação psíquica (egóica) rudimentar, evidenciada por medos
arcaicos (o de ser devorado, exposto com mais detalhes adiante) que ocasionam no adicto os
sentimentos de aniquilação e fragmentação. Em suma, há possibilidade de que as instituições
responsáveis (principalmente a familiar), por integrarem e apresentarem o mundo aos sujeitos
desta pesquisa, por meio de uma matriz simbólica, falharam na missão de significar a falta e
de oferecer amparo.
O que mais nos chama a atenção é que os sujeitos se descrevem como se sentissem
devorados pela pornografia, como se ela tivesse o poder de devorá-los e os prendessem dentro
de si. Costa (2011) afirma que, devido ao bombardeio de informações e de estímulos aos
sentidos humanos, o sujeito inclina-se a um estado regressivo. Esse estado se justifica em
função de que a vinculação dos sujeitos com a tecnologia resulta na incorporação passiva da
imagem, que se assemelha “a relação oral primitiva com o objeto” (p. 202).
Ao pensar sobre o sentido literal das palavras, Costa (2013) considera que o objeto-
droga é de fato ingerido/incorporado e a ideia de “devorá-lo” parece se relacionar diretamente
com o objeto. Essa ideia também se associa com o proposto por Costa (2011) a respeito do
declínio da figura do pai, pois como já demarcado por Freud (1913/1996n), o sentimento da
mania é posterior ao assassinato do pai na horda primeva, que em seguida culminará no
sentimento de culpa e no masoquismo.

A devoração fantasmática da droga é um ato físico e um ato psíquico de ressimbolização de


objetos e eventos preliminarmente simbolizados. Essa ideia nos permite admitir, com mais
facilidade, a tese da “droga” material como uma nova metáfora do objeto psíquico intoxicador,
e não apenas como o encontro no mundo externo de um objeto-evento que jamais se deixou
simbolizar” (Costa, 2013, p. 91, itálicos do autor).

Destacamos a constante presença do ódio na posição subjetiva oral. O que isso quer
dizer? A princípio resgatamos que Freud (1915/2004a), ao discorrer a respeito do
desenvolvimento da capacidade amar e das pulsões sexuais, afirma que a primeira meta
desempenhada pela pulsão é a de incorporação oral. Nessa etapa o amor é “capaz de coexistir
com a eventual interrupção da existência própria e autônoma do objeto e que, portanto, pode
ser caracterizada como uma forma de amor ambivalente” (p. 161). Logo, ao entendermos que
os adictos revivem essa etapa do desenvolvimento, estamos supondo possíveis traumas e
fixações em etapas preliminares da sua constituição (Freud, 1915/2004a; Klein, 1946/1991).
Na perspectiva de Minerbo (2013), essa maneira de se portar perante o objeto revela um
132

profundo desamparo, que pode ser gerado por vários fatores, mas resultou na ausência de
formação de estruturas e de funções psíquicas. Assim, qualquer sentimento que retire o sujeito
de sua conservação é sentido como insuportável e o expõe a angústias de morte. O sujeito
nessa situação anseia que o objeto o constitua para evitar sentimentos de tensão e que o
permita ser onipotente. Ao se deparar como dependente do objeto,

A impotência o remete a uma representação de si extremamente desvalorizada. Seu superego -


encarnado ou não pelo objeto – o critica por estar tão longe do ideal, que é a onipotência; ele
sente vergonha por suas falhas e indigno de amor (Minerbo, 2013, p. 332).

Conforme a sintomatologia apresentada anteriormente nos eixos temáticos, é evidente


a sensação de ameaça experienciada pelo sujeito, que o leva a sentir-se humilhado em
depender de algo tão socialmente repudiado como a pornografia. Assim, percebemos diante
do exposto nos depoimentos que o ódio possui função de defesa ao adicto em pornografia,
pois ao invés de aniquilar-se, odeia. Portanto, anseia por organizar sua própria psique.
Por intermédio dos depoimentos apresentados e das teorizações elaboradas,
concluímos que, nas adicções por pornografia, as defesas utilizadas pelos sujeitos para lidar
com a angústia geram consequências, como rupturas no modo de funcionamento psíquico,
que se expressam diretamente na maneira em que o sujeito gere a própria vida. As constantes
repetições demonstram determinar, reduzir e esgotar a vitalidade dos sujeitos e as condições
de enfrentamento do vício.
Por fim, como já comentado anteriormente, nosso modo de vida na sociedade
contemporânea objetiva a extinção da falta e da ausência, sendo esses sentimentos
diretamente responsáveis por impulsionar a autonomia e a criação do pensamento reflexivo e
articulado (Costa, 2011; Mahler, 1963/1982). Diante disso, notamos a urgência em criar uma
rede de representações, ou seja, uma compilação de significados que possam auxiliar na
integração do psiquismo de quem sofre por dificuldades na constituição narcísica, visando o
distanciamento dessa situação de dependência e a formação da autonomia e da individuação.
133

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento desta pesquisa foi possível o aprofundamento teórico e


reflexivo a respeito do vício em pornografia e a análise de sua relação com a adicção na nossa
cultura atual; contudo, cabe ressaltar que maiores pesquisas, teorizações e esclarecimentos se
fazem necessárias devido à tamanha abrangência e à complexidade do fenômeno.
Notamos que a pornografia é uma produção histórica, que foi/é difundida no senso
comum por representar a sexualidade humana, além de ser explorada pelo comércio e por
indústrias, principalmente, nos dias atuais, por aquelas que se relacionam com tecnologias
audiovisuais. Embora seja um produto comum, desperta no meio cultural julgamentos morais
e, em consequência, necessita ser censurada pelas instituições, pois não é compreendida, na
maior parte das vezes, como uma expressão legítima da sexualidade, seja pelas instituições
religiosas, seja por valores filosóficos e estéticos. Além disso, a pornografia também salienta
posições de poder em uma determinada sociedade. Em contrapartida à moral, verificamos o
florescimento do cenário pornográfico, especialmente no ambiente virtual, e o excesso no
consumo.
Foi justamente este aspecto que contemplamos nesta pesquisa: o excesso. Sentimos a
necessidade de criar uma rede de explicações que atribuísse sentido ao notório crescimento
pela procura e pelo consumo de pornografia, visto que nos deparamos com uma gama de
pedidos de ajuda na internet de pessoas que manifestam sofrimento como resultado do uso
excessivo de material pornográfico. Paralelamente a essa demanda, encontramos um número
pequeno de produções psicológicas em língua portuguesa nas bases de dados de pesquisa.
Tais fatores nos instigaram e nos impulsionaram a seguir em frente na pesquisa, mesmo
considerando a existência de limitações.
Diante disso, escolhemos um método que melhor se aplicasse às dificuldades e aos
anseios da pesquisa: o método de análise de conteúdo (Moraes, 1999). A partir dessa
preferência, a pesquisa foi exposta a cinco momentos para a sua efetivação: preparação das
informações, transformação do conteúdo em unidades, classificação das unidades em
categorias, descrição e interpretação.
Assim, por meio do material recolhido (depoimentos), consideramos que discutir a
respeito da compulsão em utilizar pornografia requer cautela dos pesquisadores para não
reproduzir estigmas e, com isso, afastar quem está submerso nessa modalidade de sofrimento,
uma vez que, os depoentes estavam em uma relação intensa com o objeto-tóxico e a
134

pornografia se configurou como o único elemento em suas vidas capaz de lhes fornecer
sentido.
Como tentativa de explicar o excesso, recorremos, principalmente, aos conhecimentos
psicanalíticos e levantamos a hipótese de que a economia psíquica na relação com a
pornografia tinha como finalidade minimizar as sensações de desprazer e evitar situações que
promovessem qualquer ameaça à sensação de “equilíbrio”. Esse anseio em permanecer sem
ameaças à integridade do sujeito foi relacionado por nós com uma tentativa de “restaurar um
estado anterior de coisas” apresentada por Sigmund Freud (1920/1996c), ao tratar da pulsão
de morte, e por outros psicanalistas. Analisamos que o sujeito consumidor de pornografia
apresentou movimentos autodestrutivos, que poderiam se relacionar a algum evento doloroso
vivenciado ao longo de sua história.
A hipótese é de que os sujeitos estavam ou estão infelizes com o rumo de suas vidas
e/ou com o retorno de angústias não elaboradas em seu passado, em consequência,
procuraram a pornografia ansiando pelo encontro com a felicidade e pelo distanciamento de
qualquer possibilidade de desprazer. É como se recorressem a um atalho nessa busca frenética
a um estado de plenitude.
Associado a essa procura impaciente, também compreendemos que o modo de
organização de nossa sociedade prega justamente esse ideal de felicidade, em que somente a
encontraremos por intermédio do consumo excessivo de bens materiais e de produções
hedônicas, que satisfaçam nossa demanda narcísica. Citamos como exemplo a intensa
exaltação do corpo e do sexo; essa excessiva valorização atribui ao corpo a responsabilidade
de obtenção do prazer por meio de processos primitivos de olhar e ser olhado e de devorar e
incorporar, frequentemente mediados por algum dispositivo audiovisual que mantenha essa
satisfação isolada do contato real entre os sujeitos.
Nessa via reflexiva, percebemos que a satisfação obtida pelos adictos é parcial e se
afasta do propósito de Eros: a união entre os pares, sendo que o clímax é alcançado de modo
solitário por meio do ato masturbatório. Em conformidade a uma cultura que nos impõe ideais
individualistas e narcísicos, o comportamento adictivo foi percebido como uma tentativa
desesperada por parte dos depoentes de não se sentirem solitários. Os sujeitos mostravam
demandar por amparo e temer a solidão. Todavia, estar só e consumir um objeto substitutivo
foi uma escolha economicamente viável ao psiquismo para atender as demandas da cultura e
aos anseios primitivos do sujeito. Em consequência dessa escolha, o próprio objeto lança o
sujeito a uma situação de intenso sofrimento, pois as mensagens transmitidas por esse objeto
sobrecarregaram o psiquismo de cada depoente.
135

Reconhecemos o sofrimento gerado por essa modalidade de vício como de ordem


narcísica, uma vez que ameaça a integridade egóica dos adictos devido à manifestação
frequente de alguns sentimentos, como aniquilamento, vergonha, culpa, humilhação, entre
outros. Essa forma de sofrimento foi categorizada como um modo de funcionamento psíquico
não neurótico, pois estava em sincronia com o momento atual de nossa cultura – momento de
rupturas e de questionamentos de paradigmas –, cuja principal marca é a ineficácia do papel
do símbolo e o desprovimento de proteção e de significados no momento em que eles são
mais necessários: na tenra infância.
Em suma, nossa hipótese se baseia na presunção de que os adictos dessa pesquisa
confiaram à pornografia a função que em um momento anterior deveria ter sido realizada por
algum cuidador ou pela cultura. Assim, é mantida com o objeto substitutivo uma relação
primária semelhante àquela conservada com o primeiro objeto de amor, o que impossibilita a
integração egóica e o desenvolvimento a favor da autonomia e da individuação.
Associado ao exposto, pensamentos que vivenciamos um momento histórico de
transição entre o contato do sujeito com objetos materiais e virtuais, sendo que o contato com
elementos virtuais realizados, principalmente, por crianças e adolescentes, por vezes, ignora a
presença de um adulto responsável em realizar uma mediação devida diante dos conteúdos
que estão sendo acessados. Em consequência a falta de mediação, nos deparamos com a
fragilidade do símbolo e com funcionamentos psíquicos rudimentares que não levam a uma
integração dos elementos encontrados na cultura. Portanto, nossa ideia é de que sempre que
existe a mediação, há espaço para o pensamento.
Além dessas breves conclusões, gostaríamos de aproveitar este momento da
dissertação para salientar que, infelizmente, alguns aspectos não foram trabalhados nesta
pesquisa em virtude de seu objetivo mesmo, mas que merecem igual destaque no meio
científico e maior amplitude em sua transmissão, para que tais informações alcancem à
comunidade não acadêmica. Citamos como exemplo de reflexões que surgiram ao longo do
período de investigação: o questionamento a respeito do papel submisso destinado à mulher
na pornografia – coisificação da mulher –; a erotização da infância; o consumo de pornografia
ilegal; o sofrimento das atrizes e dos atores no cenário pornográfico, ou seja, os bastidores por
trás das produções pornográficas; o acesso à pornografia na infância e na adolescência e seus
possíveis impactos na aquisição da autonomia e da responsabilidade; a falta do uso de
preservativos no ato sexual; e o repúdio destinado à pornografia transgênero, que foi
concebida por vários depoentes como “o nível de pornografia mais repugnante” pareado à
pedofilia e à zoofilia.
136

Além disso, destacamos também que a pornografia pode apresentar um viés


emancipatório, por se tratar de uma produção que se propõe a transgredir normatizações e a
possuir elementos que aborde as mais diversas formas de identidade de gênero e atenda aos
anseios das distintas manifestações de orientação sexual. Contudo, a falta de pesquisa nessa
perspectiva nos faz reproduzir críticas ou até direcionar nossa percepção a uma compreensão
totalitária da pornografia como negativa. Tal atitude nos levava durante a pesquisa a um
constante enfrentamento de mecanismos defensivos diante do que é diferente, ou melhor, do
que é desconhecido.
Também se faz importante pontuar que no início desta pesquisa, o Fórum escolhido9
para o recolhimento dos depoimentos, até quatorze de outubro de dois mil e quinze, contava
com 995 membros cadastrados e continha 16679 mensagens. Após um ano, três meses e
dezoito dias, na data de dois de fevereiro de dois mil e dezessete, o fórum contava com 2976
membros cadastrados e continha 91630 mensagens. O notório crescimento de participantes e
de mensagens de ajuda nos faz aferir a necessidade de maior destaque, atenção e transmissão
de informações, tanto no cotidiano das pessoas quanto no meio científico, a respeito do vício
em pornografia. Diante disso, esta dissertação objetivou contribuir para as discussões sobre o
fenômeno do vício em pornografia, tendo em vista o reduzido número de estudos no campo
psicanalítico.
Por fim, salientamos que a problematização realizada a respeito do vício em
pornografia é um fenômeno com direcionamentos sociais, psicológicos e de saúde pública.
Mais pesquisas com novas concepções do fenômeno poderão, além de aprofundar as
discussões, auxiliar nos processos de definição de propostas governamentais ligadas à saúde
pública, voltadas aos sujeitos que estão em estado de sofrimento e que necessitam se esconder
por trás de pseudônimos para poderem relatar suas angústias e buscar algum tipo de ajuda.

9
http://comoparar.forumeiros.com/
137

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS
146

DEPOIMENTOS UTILIZADOS – CONTEÚDO INTEGRAL

1 D1: postagem de Bereta em 6/4/2015 às 17h45m


Bom Galera tenho 34 anos, sou heterossexual (até então era, agora não sei mais), sou cristão,
e já tive 6 namoradas, mas uma coisa é certa. Nunca, mesmo sendo cristão, e com namoradas
deixei de ver pornografia... foram épocas em que a mesma se manifestava mais forte... e eram
noites intermináveis madrugada a dentro na punheta.... depois passava... e eu ficava de boa...
depois voltava e assim foi... lembro-me de ter me deparado com minha primeira foto porno
aos 12 anos... foi num jornal adulto .... cara aquilo foi uma descoberta de mina de ouro pra
mim... porém eu sou da época da playboy... e meus pornôs foram fitas VHF época do Vídeo
K7... peguei a época de banda larga de 10 anos pra cá.... mas ainda assim essa desgraça me
arrebentou... nunca consegui amar profundamente as namoradas que tive... sempre passava 2
anos e eu enjoava... tinha baixa de libido.... enfim terminava o relacionamento e lá estava eu
denovo no pornô, foi indo eu comecei a sair atrás de mulheres apenas para sexo... era transar
uma vez e pronto já perdia o interesse.....o sentimento pra min não existia mais... e eu
pensava..."eu perdi a capacidade de amar"...Cara com tudo isso que vivi pela idade que tenho
e nunca ter conseguido casar, desenvolvi depressão... fobia de pânico... e agora por ultimo
após uma conversa boba com a ex-namorada pensamentos a respeito de minha orientação
sexual. Cara foi um inferno por 6 meses (ano passado)... comecei a ir a um terapeuta e eu falei
pra ele que tinha problema com pornografia ele falou que não era problema que se eu evitasse
seria pior pois estaria matando o "homem" em mim. Mano até então foi beleza... com ajuda de
um psiquiatra eu comecei a ficar de boa... tomando remédios....mas mesmo assim no pornô
tava lá Os pensamentos pararam inquietantes e intrusivos pararam... até que eu consegui
transar com uma mina esse início de ano.... porém foi a primeira vez da minha vida que eu
broxei... foi aí que eu em desespero, junto com a depressão buscando ajuda de Deus me
deparei com os vídeos científicos a respeito da pornografia. Foi como tomar um tapa na cara,
sendo que Deus ensina na bíblia e eu sempre soube desde pequeno que "se for pra se abrasar,
case-se" mano daí então tudo fez sentido. Foi como se eu enxergasse uma luz no fim do
túnel.... Então de 2 meses pra cá, eu venho fazendo o reboot... porém os pensamentos a
respeito da minha sexualidade voltaram forte... ao ponto de eu realmente começar até a sonhar
com sexo gay...o detalhe é que nunca sequer olhei pornô gay...O reboot tem sido beleza... não
tenho sentido vontade de PMO [Pornografia, Masturbação e Orgasmo] mto menos apenas e
MO [Masturbação e Orgasmo]... ou apenas M [Masturbação].... e minha Flat Line [Momento
147

transitório, onde ocorre perda de libido e flacidez peniana] já está durando a mais de um mês.
Gente... porém estou cético quanto a minha orientação sexual.... será que virei gay mesmo???
ao ponto de começar a me atrair por homens??? eu tenho evitado olhar pra homens pois tenho
mto medo de me sentir atraído... e isto tem me deixado mto em pânico... estou tomando
remédio pra ansiedade.... pois é sair na rua desencadeia um nervosismo do cão... não que eu
seja homofóbico longe disso gente... tenho amigos gays da escola e na vida pessoal... mas o
fato de eu ter me deparado com esse paradoxo frente a minha vida na qual sempre gostei e me
atraí por mulheres.... tem me deixado mto mal. de qualquer forma vejo que um dos problemas
de nunca ter conseguido casar foi o fato de eu associar esse inferno de pornografia no meio
dos meus relacionamentos. Enfim gente.... essa foi parte da minha história... tamo junto...
vamos tirar o máximo de homens dessa porcaria de pornô. Abraço a todos.

2 D2: postagem de nofapwinner em 29/03/2015 às 09h49m


Gostaria de ressaltar primeiramente, os meus agradecimentos ao inventor do fórum, à todos
aqueles que trabalham seriamente nas pesquisas dos malefícios sobre a pornografia e à todos
os brothers que ao longo dessa jornada tem me dado muita vibração positiva,incentivo e
conselhos. Desejo sucesso! obrigado de coração!
Vou tentar ser o mais breve e eficiente possível no meu relato.
Colocarei as consequências que o reboot me trouxe e as minhas percepções sobre o mesmo.
Antes:
- Desmotivação,mito na procrastinação,apatia,falta de energia,isolamento social,
estava muito antissocial mesmo! Desenvolvi fobia social/ surto de panico e ansiedade!
Ficava com medo de me envolver com as mulheres (coisa que não tinha antes de me viciar em
P[Pornografia]), medo de conhecer gente,etc. Me isolei na merda,depressivo, com
pensamentos suicidas, fiquei altamente solitário, agressivo, com insonia, me alimentando mal,
fiquei magro,abaixo do peso,peguei pesado na P e nas bebidas e nos cigarros. Me ferrei nos
estudos. E me atolei mais e mais na P.
- Me ocorreu uma dessensibilização no pênis. Comecei a ter ejaculamento retardado e
principio de disfunção erétil.
- O interesse por mulheres na vida real já não era mais o mesmo. Fiquei cego perante
aos inúmeros sinais e oportunidades que tive de ficar com várias mulheres.
Enfim, uma vida desgraçada que não desejo para ninguém!
Eu sei que todos esses sintomas não foram causados diretamente pela P. Mas a P aumentou
absurdamente os efeitos dessas coisas.
148

Diria que o envolvimento social e a parte relacionada a sexualidade foram as mais afetadas.
A pornografia realmente me quebrou e desequilibrou tudo!
Quando descobri o fórum - pois sabia que havia algo de errado, e suspeitava que era esse meu
vicio em PMO. Principalmente P- só esperei uma semana para começar o reboot. Durante
essa semana estudei o máximo que pude sobre o assunto e comecei a jornada...
E agora, como estou?
-Não sinto mais vontade de ver P. E já cortei da minha vida isso. Farei o máximo para não
cair. Não fico mais vidrado nesse mundo de fantasias,fuga e mentiras.
-Sinto uma sensibilidade equilibrada. Voltei a ter excitação com fotos sensuais (sem ser
nuas), com as mulheres nas ruas, voltei a ter ereções involuntárias, voltei a ter confiança em
mim e na vida.
- E como melhorei o meu lado social! Recuperei a autoestima para chegar nas mulheres, sair,
conversar, conhecer,etc. Ainda venho trabalhando forte nisso. Mas a cada dia tenho bons
resultados. Uma das melhores partes do reboot... Você perceber que está voltando
a ativa com as garotas! e ver que você está se relacionando mais com as pessoas no geral.
Sempre conheço uma mina nova ou pelo menos troco ideias. Tenho chegado nas garotas que
quero sem ficar com medo e me tremendo de ansiedade. Tenho saído todo final de semana
com os amigos.
As vezes até mesmo nos dias comuns de semana ( a falta de tempo é muita, mas as vezes é
bom quebrar a rotina).
- Estou com o meu peso normal. Gastrite praticamente sumiu. Parei de avacalhar e me
refugiar em P, álcool, cigarros,etc.
- Voltei a estudar! e procrastinando bem menos. Agora tenho mais energia e foco. O mundo
não é mais o casulo escuro de antes.

Me sinto livre, leve. Renovado para continuar minha vida de uma maneira melhor e mais
saudável.
E sim, estou muito feliz! Very Happy
Agora só administrar meus pensamentos e hábitos. Ficar ligado para não recair, pois o
inimigo sempre está esperando o momento de relaxamento para atacar...
O meu caso não foi um dos mais sérios de vicio em P. Mas com certeza seria em pouco
tempo...
Ainda bem que cai fora dessa.
O que eu diria?
149

Recomendo MUITO que vocês levem a sério esse reboot.


Funciona! não é papo furado.
Primeiro estudem o máximo que poderem sobre o tema. SIGAM TODAS as instruções do e-
book!
não se enganem pensando que vão conseguir sem ler o e-book (veja no site).
Estudem e estejam preparados para saber o que fazer. Centenas de pessoa já fizeram isso
antes e muitos estão fazendo agora. Os relatos são de uma maneira geral muito parecidos.
Depois que estudarem sobre o tema. Ergam a cabeça, encham o peito e muita atitude!
mão na massa. Levem isso como a meta principal da vida de vocês no momento.
Eu não recai nenhuma vez na P(só em M depois de 40 e tantos dias)
porque segui as instruções recomendadas. Levem muito a sério! Eu não fiquei me enganando.
Tomei logo uma atitude radical no começo. Procurei não ficar arrumando brecha pra recair.
Se recaírem, não se enterrem em lamentações. Recomecem. Vejam o que está de errado
e concertem.
Relaxem e sigam em frente. O tempo passa rápido demais! Nem parece que já fazem 90 dias
desde que parei P...
Se eu consegui, vocês conseguem também.
Reboot é vida! é real! façam!
Sucesso para todos!

3 D3a: postagem de Magrao em 04/04/2015 às 01h30m


Amigos, espero que o relato abaixo sirva como estímulo a quem está afundado no vício e nas
suas consequências: solidão, dúvidas e falta de expectativa para com a vida. O relato ficou
longo, mas resumir décadas de sofrimento e dois reboots em poucas linhas é algo complicado.
Minha primeira tentativa de fazer reboot se deu em 24 de outubro de 2013. Esta data marcou
uma grande exclamação em minha vida: "Só pode ser isto! Só poder ser a pornografia e a
masturbação. Não tenho mais o que tentar! Já tentei de tudo!". Ou seja, eu não tinha certeza,
mas por dedução (por já haver tentado de tudo) eu enfim me dei conta de que podia ser a
pornografia que estava me afundando.
Antes disso
Minha adolescência foi uma porcaria. Uma baixa auto-estima contumaz e uma falta de
impulso e confiança para lidar com as garotas, tudo isso me conduzia ao que me restava de
"experiência sexual": a masturbação com pornografia ou mesmo a masturbação imaginando
garotas que eu queria.
150

Aos 21 anos me mudei para São Paulo. Nessa época eu morava em frente a uma "casa de
entretenimento adulto". Às vezes pensava: "Por que não vou lá e mato logo essa curiosidade
para com o sexo?". Era virgem ainda. Porém eu tinha a sensação (e hoje eu penso: o que seria
isso? Meu inconsciente? Um saber não-sabido...) de que se eu fosse nesse lugar, eu iria
"falhar". Portanto eu não fui, por conta dessa insegurança.
Pouco depois eu enfim arrumei uma namorada. Novamente eu me percebia com uma
sensação de que eu não conseguiria fazer sexo. E quando fui tentar, embora estivesse
morrendo de vontade, não consegui realizar a penetração. E nas próximas vezes que tentei, foi
a mesma coisa. Uma sensação horrível, de pesadelo. Eu estava descobrindo o sexo e ele
estava se tornando mais um problema que uma solução para mim.
Chegou uma hora em que enfim consegui transar com minha namorada. Porém havia um
problema: eu não sentia prazer suficiente para gozar. Isso quando não perdia a ereção. Nem
sonhava que já estava sofrendo de disfunção erétil induzida pela pornografia e de ejaculação
retardada. Saia o pesadelo de não conseguir transar, entrava o pesadelo de não sentir prazer
com o sexo. Daí para a frente eu sucumbiria lentamente a uma degradação que me fez correr n
riscos e perder uns 7 anos mais.
Pois bem, o fato de eu não conseguir transar com minha namorada fez com que o namoro
afundasse (e hoje sei que nossa capacidade de amar também é afetada pelo vício). Muitas
vezes pensei que o problema era ela. E algo simbólico e revelador é que no dia em que eu
terminei o namoro eu comprei um computador com internet. Até então eu consumia
pornografia só aos fins de semana. Depois disso voltou a ser todo dia.
Nisso minha vida foi afundando em solidão, em busca de qualquer prazer, como um viciado
em drogas. Então comecei a ir atrás daquelas prostitutas baratas que anunciam em jornal.
Como eu precisava ver se eu "funcionava", precisava saber se o problema não era minha ex-
namorada e não eu, mas ao mesmo tempo eu tinha de novo a sensação de que não iria rolar,
por isso eu nem me arriscava em pagar caro por uma acompanhante de luxo. O fato é que eu
estava entrando na lógica da fantasia e da busca por novidades, que caracteriza nosso vício. E
por fim, eu falhava na hora de transar com as garotas de programa. A sensação se tornava
certeza e minha vontade era não querer saber mais sobre o assunto sexo, extirpar esse tema da
minha vida.
Fui perdendo todos os amigos, restando apenas dois, que me aturavam com uma paciência
gigantesca já que eu era um poço de estresse, ansiedade e irritabilidade. Nisso comecei a me
aprofundar no mundo da pornografia. Saí com uma garota que eu já conversava há anos com
ela, desde a época do ICQ. Fiquei apaixonado de primeira por ela. Fomos pra cama e ...nada.
151

Falhei. Não conseguia disfarsar minha humilhação e em minha cabeça o sentimento vinha:
"esse pesadelo não vai acabar nunca?". A garota não quis mais saber de mim. Fiquei UM
ANO fugindo, não querendo pensar nisso.
Depois desse tempo todo, resolvi ir a um urologista. Pensei: "só posso ter algum problema
circulatório". Chegando lá, os exames mostraram que ao contrário, eu tinha uma circulação na
região do pênis muito boa. O médico me deu um Viagra mas disse que aquilo era só por
questões psicológicas e mandou eu procurar uma psicóloga.
Pouco tempo depois eu fui pra cama com outra garota. Tomei o Viagra e... nada. Obviamente
que isso só acentuou minha vontade de não querer saber de sexo, de não pensar naquilo e me
afastar de qualquer conversa que envolvesse esse assunto. Anos se passaram novamente.
Até que num dia de desespero e solidão eu procurei uma psicóloga. Mas durante o tratamento
eu já estava usando níveis mais pesados de pornografia. Começar a ver vídeos gays ou de
travestis foram a ante-sala da minha procura por travestis na vida real. Comecei a frequentar
becos escuros e perigosos, correndo o risco de ser assaltado ou tomar uma navalhada. Me
sentia sujo e barra-pesada demais para namorar com alguma garota da minha faculdade. A
vida dupla de um viciado já estava sedimentada em minha vida nesse tempo.
Simultaneamente, comecei a me questionar: "por que não sinto prazer com mulheres na cama,
embora as ache bonitas?", "por que me pego vendo pornografia de travestis ou mesmo saindo
na vida real?", "será que sou gay?", "e quando me perguntarem por que eu não namoro?".
Aí minha psicóloga me disse: "Já parou pra pensar que você pode ser gay? Se você for, não
tem problema nenhum, é normal". Nisso eu entrei em pânico. Ser gay deve ser algo legal para
os gays, não para quem sempre pensou ser hétero. Eu desde minha infãncia sempre gostei de
garotas, sempre sonhei em ter uma namorada e não esperava que seria tão difícil conseguir
algo que para a maioria das pessoas é muito simples. Eu gostava de mulheres, mas elas não
me excitavam. Estava cindido ao meio: "Quer dizer que eu posso amar uma mulher mas sentir
prazer é só com homens?". Num dia de desespero, andando como um zumbi viciado à procura
doentia de qualquer prazer, cheguei a ir a uma balada gay. Pensei: "vamos acabar com isso
logo, não aguento mais NÃO SABER O QUE EU SOU".
Já pensava atemorizado em como eu ia justificar para minha família que eu era gay. E enfim,
nessa balada havia aquelas salas escuras onde os caras ficam se pegando. Ali alguém começou
a me tocar e eu não senti nada. Por um lado foi um alívio: tive um indicativo de que eu não
era gay. Por outro lado o pesadelo continuava: "O que eu tenho então?"
Comentava com minha psicóloga: "parece que falta um motor dentro de mim". Hoje sei que
esse motor é a libido, que me era roubada pela pornografia e masturbação.
152

Enfim, depois de uma viagem de uns 20 dias onde fiquei sem pornografia e reduzi bastante a
masturbação, quando voltei fiz sexo e consegui ereção e orgasmo (algo raríssimo pra mim).
Ali comecei a ter uma intuição de que antes de transar seria bom ficar uns dias sem
masturbação. E nisso, muito de vez em quando eu conseguia transar com garotas de
programa, embora de vez em quando ainda falhasse.
Foi então que conheci uma garota e me apaixonei por ela. Começamos a sair e logo me veio o
alerta atemorizante: "pode rolar sexo". A possibilidade de fazer sexo pra mim durante todos
esses anos era isso: aterrorizante. Foi então que eu comecei a pesquisar sobre isso na internet,
e descobri o YourBrainOnPorn. Fiz algumas tentativas descompromissadas de parar. Queria
mas não queria parar. Quando essa garota entrou em minha vida, veio a exclamação: "é isto,
só pode ser isto, você já tentou de tudo, pare de perder tempo e comece pra valer agora!".
Nisso eu fui tentando e recaindo, tentando e recaindo. Até que chegou um momento em que
eu passei a ter a certeza: "Sou viciado mesmo!". Não havia mais dúvidas, a teoria, as minhas
tentativas e a compulsão me mostravam que eu era viciado. Estava feliz porque enfim eu
sabia o que eu tinha! Foram anos sem lutar pois o inimigo era invisível. Agora eu o via pelo
menos.
Criei um blog sobre o vício no final de 2013 e logo apareceu o www.apoio.forumais.com de
viciados em pornografia em português. No início éramos 4 pessoas apenas, e o Projeto estava
lá já nos ajudando, com o ebook. Depois de tanto sofrimento, sabia enfim o que eu tinha e
como consertar minha vida. Junto com o fórum eu engatei minha primeira sequência bem
sucedida, que veio a ser meu primeiro reboot. Comecei a descobrir uma nova vida ali!
Uma força impressionante, concentração, a ressensibilização que me fazia sentir uma série de
prazeres que antes não sentia (uma das piores coisas do vício era a vida mecânica, onde eu
beijava uma garota e não sentia prazer nenhum!).
Foram 109 dias em hard mode e, após isso, eu "perdi minha virgindade de fato", descobri o
quanto o sexo era incrível e era um ato de carinho entre duas pessoas. Enfim descobria o que a
pornografia e a masturbação me retiraram por décadas: uma potência vital enorme!
Porém, como eu não tinha uma parceira fixa e não havia muita informação (não sabia se após
os 90 dias estávamos "curados para sempre" ou não, não previa coisas como efeito caçador
após o sexo, etc etc) logo eu recaí. Fui do céu ao inferno. Mas vejo que esta foi minha
"adolescência tardia". Nesse curto período limpo de pornografia eu descobri minha
masculinidade, descobri aquilo que a maioria faz durante a adolescência, por exemplo, passar
uma tarde nos amassos com uma garota em casa. Tudo isso era novidade e como veio tudo
num turbilhão, em vez de vir aos poucos, foi difícil de administrar. Escrevi sobre isso em meu
153

blog: http://vivasempornografia.blogspot.com.br/2015/03/reboot-recaida-e-reboot-da-
escuridao.html
Fiquei mais meio ano tentando rebootar novamente (o que mostra que recair não vale a pena
rs). No início desse ano fiz um mochilão pro exterior e enxerguei nisso a grande oportunidade
de engatar um reboot novamente. E foi o que aconteceu. Três meses se passaram e muita
coisa mudou!
Além dos benefícios mais conhecidos do reboot - volta da potência sexual, sensibilidade aos
prazeres, enorme sensação de força, concentração,etc - algo que eu gostaria de ressaltar é
como hoje eu consigo conversar olhando nos olhos, ouvir as pessoas, porque o reboot me fez
perder a extrema ansiedade que eu tinha.
Além disso hoje eu consigo realizar projetos e a procrastinação diminuiu tremendamente.
Antes qualquer coisa era um problema gigante sobre o qual eu ficava pensando e pensando.
Agora, quando vou ver já estou agindo e em pouco tempo resolvi a coisa. Minha iniciativa
está a mil! Mudei meu local de trabalho e horário, e estou mudando de área acadêmica. Acho
que enfim as coisas estão se acertando para mim, tanto na vida pessoal quanto na minha
questão de decidir um futuro profissional, e isso só é possível porque hoje eu estou livre de
pornografia e masturbação. Enfim eu estou com as rédeas sobre minha própria vida!
O cuidado comigo mesmo é outra coisa que mudou tremendamente. Minhas roupas, minha
aparência, meu quarto são reveladores do quanto eu mudei para melhor!
Hoje eu consigo dizer não, me valorizo diante das mulheres e me guardo para o momento
certo de realizar meu sonho de mais de duas décadas atrás: namorar uma garota.
Uma das coisas mais gratificantes do reboot é que as fantasias e fetiches vão sumindo. Sua
sexualidade volta a se reconciliar com sua moral, você se sente limpo, honesto, sente que é o
que sempre quis ser. Antes eu pensava: "só conseguirei namorar uma garota que aceite essas
minhas fantasias pesadas". Hoje sei que posso namorar qualquer garota pois não sou mais
escravo das fantasias.
Minha vida sexual é ativa e saudável hoje. Além da descoberta de que sexo é carinho, aprendi
que o sexo des-cansa, enquanto a masturbação cansa. O sexo preenche sua vida. A
masturbação nos enche de vazio.
Hoje eu me sinto jovem e com um monte de possibilidades pela frente. Hoje vejo que tenho
um futuro, tanto acadêmico-profissional em algo que eu estou descobrindo que gosto, quanto
um futuro afetivo! Very Happy Me sinto homem também e não tenho mais vergonha de
mim. Hoje tenho um monte de amigos.
154

Quem convive comigo diz que eu mudei demais. As mudanças vão desde comentários de que
a minha pele melhorou até sobre a minha personalidade, meu modo de ser no dia a dia. E eu
percebo isso, que desde o meu primeiro reboot vim resolvendo uma série de questões internas
(a principal a compulsão do vício) e isso foi mudando minha visão sobre o mundo. A vida não
é feia como eu pensava ser nos tempos de vício. A vida é boa, eu me conciliei com ela. A
pornografia é que lhe retira as cores e transforma a vida em algumas tristes e pobres dezenas
de tons de cinza.
Estou muito feliz e é uma felicidade serena. Já conheci e revisitei (com minha recaída) o
inferno e não tenho mais curiosidade sobre como ele é. A variável-chave para toda essa
mudança em minha vida foi o reboot, ter ficado livre de pornografia e masturbação.
Meu pensamento antes do reboot: "Vou ter de deixar passar essa (garota ou uma oportunidade
qualquer) pois eu não consigo, não estou pronto". Meu pensamento após o reboot: "Vou
aproveitar essa oportunidade pois hoje sei que consigo". A diferença entre o "não consigo" e o
"consigo" em nossa vida é abissal.

4 D4: postagem de Justiceiro do Sertão em 01/04/2015 às 05h31m


Hoje é primeiro de abril, e felizmente não é mentira.
Este que vos fala sou eu, Justiceiro do Sertão, 22 anos, que venho até aqui agora comemorar,
ante mim e todos, o cumprimento de minha meta consagrada de 90 dias livre de pornografia,
masturbação e orgasmo. Só o começo da luta eterna.
Nasci em família simples e batalhadora, filho de nordestinos (com muito orgulho) pobres, e
tive neste vício a pior desgraça de minha vida. A coisa que frustrou todos os sonhos pelos
quais seria capaz de lutar.
Tudo começou quando, aos 13 para 14 anos, em meio a tão benfazejo momento por que
passava, vivendo em relativa estabilidade familiar e indo bem na escola (sendo até chamado
de nerd), por falta de maturidade (um dos piores males de que pode padecer um ser humano)
desenvolvi minha personalidade adulta de maneira errada: de uma hora para outra, aquele
fervilhar de emoções da adolescência, que outro mais responsável lapidaria com busca pela
decência e progresso, pendeu para o lado ruim por teimosia; sentia minha consciência me
dizer para ser um bom menino, estudar muito, fazer as coisas direito, evitar vícios para não se
perder na vida, porém mesmo assim acabei voluntariamente naufragando. Garoto ingênuo que
era, fiz-me influenciar por nossa paupérrima cultura pós-1945, esse hedonismo mal-
interpretado, essa banalização da sexualidade como um deus a ser idolatrado, como algo a que
todo homem deve venerar para ser homem. Criança, criança.
155

De revistas encontradas num armário velho no trabalho de meu pai não demorou até os
primeiros DVDs pornô emprestados na escola. Minhas notas a partir de então desmoronaram
e me tornei um completo crápula, o tipo mais besta, mais irritante que pode haver (para vocês
verem como a pornografia, inclusive, torna o adolescente imaturo ao extremo). Ia para a
escola só para perturbar a todos (crente de que estava agindo como gente) e desejar coisas
impossíveis, se é que me entendem. Em casa, tendo em vista a queda do meu rendimento
escolar (inclusive frente ao sacrifício para pagar escola particular para mim), briguei com
meus pais. Briga feia, melhor nem entrar em detalhes.
Não, eu não queria mudar, não queria acordar. Quando se é viciado, quer-se mais é que o
mundo se dane. A zona de conforto é muito mais tragicamente gostosa. Meu comportamento
era diuturnamente só me masturbar e mais nada, com ou sem pornografia, mas principalmente
com; até as meninas da minha sala de aula, furtivamente naquelas funestas manhãs mesmo,
me serviam (eis de onde desenvolvi fixação por adolescentes/ninfetas/debutantes, algo que
felizmente me foi fulminado pelo reboot). Houve tempos em que, em classe, quando não
estava tendo crises voluntárias de excitação, não parava de falar, cantar e me exibir feito uma
criança histriônica, tumultuando a aula, para desespero e ódio de todos e para minutos depois
esconder a cabeça entre um livro para pensar em sexo. Vivia o tempo todo discretamente
reparando nos corpos das meninas e me permitindo excitar para descontar tudo à tarde, e
nenhum receio tinha de nada. Estudar,esqueçam. Um professor, inclusive, chegou a cortar
relações comigo. Perdi contatos, colegas, oportunidades de crescimento, de convívio (cheguei
a ficar traumatizado por não ter sido convidado às festas, desenvolvendo uma tara doentia por
debutantes), perdi tudo. Tudo.
No final de 2007, precariamente comecei a me dar conta de minha situação, o que veio sob a
forma de um amadurecimento repentino, violentíssimo choque de realidade que me colocou
em dois anos de depressão, a qual só cessou depois que voltei atrás da decisão extrema de
cometer suicídio e jurei a mim mesmo nunca mais consumir PMO e só me matar de estudar.
Tentei parar na raça mesmo, mas cadê que conseguia? Cadê que aquelas imagens tristemente
encantadoras me deixavam em paz? Era só pegar um livro que o cérebro me repelia e me
infestava a mente de ninfetas de peles lisinha, de morenas latinas esculturais, de pezinhos de
garotas (sempre fui louco), de forma que nada demorava a desabar novamente. Assim foi
durante sete anos, enquanto (sabe-se lá como) me formava na faculdade.
E eis que me deparei, em meados de 2014, após finalmente haver beijado uma garota e
perdido minha virgindade, com este maravilhoso fórum, esta abençoada iniciativa deste
parceiro fantástico chamado Projeto Sabedoria, que me introduziu, via o fórum e o blog, a
156

todas as exatas informações de que eu necessitava para meu livramento, após quase uma
década afundado numa vida que nem vida é. Só digo, Projeto, meu eterno e muito sincero
obrigado por salvar minha vida e a de todos aqui. Quem batalha vence, quem procura acha.
Procurei e achei, batalhei como se deve batalhar e venci.
Iniciei meu primeiro reboot “oficial” em 17 de agosto de 2014, sobrevivendo 55 dias e
covardemente me sabotando para não zerar o contador até o 93º, pelo que já pedi desculpas e
renovo-as. Após, passei cerca de um mês e meio em meu último círculo infernal e reiniciei
humildemente meu contador na madrugada de ano-novo, enquanto em casa meus pais bebiam
champanhe, comemorando o relativamente estável momento por que passávamos e passamos.
E aqui estou. Em vista ao passado, no Paraíso. Corro atrás do prejuízo feito um louco, é
verdade, porém creio que ainda há tempo de ser gente, de modo que os resultados devem vir.
Sigo buscando-os.
Saibam que todo o esforço vale a pena. Saibam que a luta é válida, sim. Estou me sentindo
bem como jamais, vejo-me simplesmente outro ser, totalmente o oposto do verme que um dia
fui.
Não sei se terei condições de moderar algum tópico ou coisa que o valha como andaram
desejando, entretanto continuarei por aqui dando apoio a todos os que precisarem. Ajudemo-
nos uns aos outros e melhor sentir-nos-emos conosco próprios. Vamos lá.
Cheguei lá.
E com certeza, todos nós chegaremos!!

5 D5b: postagem de Projeto em 13/10/2014 às 14h52m


Demorou, mas chegou!
Espero que o meu relato seja útil de alguma forma....
Bom, não vou revelar o meu nome aqui, até porque não vejo utilidade nenhuma nisso.
Gostaria apenas de dizer que atendo pelo apelido de Projeto, já que fui eu quem criou esse site
e o tenho mantido até o momento (por isso Projeto). Devido aos vários pedidos, abaixo está o
meu relato. Tentei resumir ao máximo a minha história, mas mesmo assim o texto ficou
grande. Como existem poucos depoimentos de pessoas que concluíram o reboot em
português, penso que isso justifique o seu tamanho.
Bem vindo ao mundo encantado da pornografia
Assim como a maioria das pessoas eu entrei para o vício logo na adolescência. Aos 11 anos
lembro-me de ter ganhado de presente uma revista de mulher pelada, mas até aí nada de mais.
O problema mesmo veio aos 12 com a internet. Primeiro a discada e depois a internet banda
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larga de alta-velocidade. Aos 12, mesmo sem saber disso na época, tenho para mim que já
estava completamente viciado em pornografia. A internet era o meu refugio.
Como era um adolescente, tudo era novidade. No inicio sentia vergonha ao procurar fotos
pornôs e só via fotos de mulheres peladas e nada mais. No decorrer do processo, fui escalando
para gêneros cada vez mais pesados de pornografia. Com 14 anos já tinha visto de tudo um
pouco e perdi completamente o respeito por mim mesmo. Fui um “adolescente problema” e
na época atribui isso a minha idade e as questões pessoais e familiares, mas hoje não tenho
duvidas de que a pornografia foi uma influência fundamental nesse processo. Minhas notas
pioraram, meus relacionamentos afetivos eram ridículos e eu me tornei uma pessoa cruel.
Primeira tentativa de parar
Aos 16, foi quando comecei a ter vergonha de mim mesmo, senti que precisava de uma
namorada e decidi parar com a pornografia e masturbação pela primeira vez. Foi uma época
em que eu percebi que a masturbação era algo humilhante e estava determinado a parar.
Achei que seria fácil parar, e nem suspeitava que a tarefa seria praticamente impossível.
Nessa época eu não fazia ideia das consequências desastrosas do vicio, apenas intuía que não
era uma coisa boa e já não me sentia bem com esse hábito. Além do mais não existia nenhum
método sobre como parar e o assunto não era debatido seriamente. Pelo contrário, a
pornografia era vista como saudável e recomendável no meu circulo de amizades.
Depois de algumas tentativas ingênuas para parar, eu voltei para o hábito da masturbação e
pornografia, mas como o vício era espaçado (por exemplo, uma ou duas vezes por semana),
depois de um tempo, eu já havia esquecido completamente o meu desejo de parar e passei a
ver isso apenas como um hábito “normal” e “natural”.
Namoro e autoengano
Com 17 anos comecei a namorar e a ter uma vida sexual ativa. Aliás, o meu pensamento para
justificar a pornografia antes desse período era de que quando eu fizesse sexo eu não iria mais
querer assistir pornografia. Era algo até meio lógico para quem nunca tinha feito sexo até
então. Ou seja, eu pensava que o vício em pornografia era apenas um reflexo do meu desejo
natural por sexo e logo que começasse a transar esse desejo iria passar. Penso que muitos
adolescentes pensam assim também e por isso nem suspeitam que estejam viciados.
Obviamente que mesmo com o namoro e com uma vida sexual normal, esse hábito não
terminou. Ao contrário, só foi piorando ao longo dos anos, já que como sabemos graças aos
recentes estudos sobre o vício em pornografia, o cérebro de um viciado está dessensibilizado a
velhos estímulos e está sempre à procura de novidades. Nesse sentido, por mais que eu
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gostasse ou amasse a minha namorada, minha mente sempre tinha a tendência de procurar por
novidades virtuais, mesmo que de vez em quando.
A minha performance sexual era ótima e eu sempre aguentava fazer sexo por várias horas
seguidas, então a pornografia não era ainda considerada por mim como um “grande
problema” ou uma emergência a ser tratada nessa fase da minha vida.
Fundo do poço
Durante o namoro, houve alguns períodos em que eu diminuí fortemente a quantidade de
pornografia, porque eu realmente gostava da minha namorada e tinha culpa por olhar fotos de
outras mulheres (exemplo: tinha sessões de pornografia apenas uma vez por mês). Para dizer a
verdade, eu nem me considerava propriamente um “viciado em pornografia”, apenas alguém
que gostava de sexo, como a maioria das pessoas. Mas sempre que havia uma crise ou um
desentendimento o recurso “desafogador de mágoas” era a pornografia.
Quando o namoro acabou foi o fundo do poço. Completamente descontrolado, fui caindo para
gêneros mais pesados até o ponto em que o sexo virou o centro da minha vida. Nem preciso
dizer que as outras áreas como emprego, trabalho e dinheiro, estavam completamente
desestabilizadas. E o desleixo para comigo mesmo era digno de um viciado. Só que no meu
caso, passava o dia inteiro trancado no meu quarto vendo pornografia ou dormindo.
Mas o fundo do poço mesmo foi quando começou a DE (Disfunção Erétil). Com apenas vinte
e poucos anos eu não conseguia mais ter ereções com as minhas parceiras. Eram garotas
lindas mas na hora H, eu falhava. No começo pensei que era falta de exercícios físicos,
excesso de refrigerante, ansiedade, medo de falhar ou até mesmo apego ao meu ultimo
relacionamento ou algum problema com as meninas.
Quando chegou a um ponto em que eu não conseguia me excitar nem com pornografia foi
quando bateu um desespero. Vergonha eu já não tinha fazia muito tempo, mas a sensação de
impotência foi algo muito humilhante e desesperador. Somado a isso o estado caótico da
minha vida, comecei a procurar desesperadamente por uma explicação.
A Busca
Ah, esqueci de dizer que durante a fase do namoro eu cheguei a procurar um psicólogo para
falar sobre o meu problema e também busquei ajuda religiosa! Nenhuma alternativa
funcionou e no caso do psicólogo, ele disse para mim que a masturbação era normal, saudável
e que “com o tempo isso iria passar”. Percebam que não estou criticando ninguém aqui, nem
dizendo que psicologia não funciona, apenas relatando exatamente o que aconteceu. (*obs:
apesar disso, a psicologia me ajudou em muitas outras áreas, menos com o vício em
pornografia).
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Depois, passei a procurar desesperadamente na internet uma explicação e encontrei apenas


sites religiosos. Eu já me sentia um lixo há muito tempo e quanto mais eu procurava mais as
minhas esperanças decaiam, pois eu percebia sem sombra de duvidas que a maioria das
pessoas que escreviam os textos sobre como parar(sobretudo de sites religiosos) estavam
também completamente afundadas no vicio e apenas dissimulavam que sabiam o “como”
parar, como uma forma de fugir do próprio sentimento de culpa e vergonha, já que o que elas
ensinavam eram métodos ridículos e nem um pouco funcionais (estes sites, por mais “bem
intencionados” que sejam, infelizmente ainda são a maioria do conteúdo existente sobre o
tema na internet brasileira).
Pensando que não havia mais solução e completamente desiludido. Cheguei ao ponto, pela
primeira vez na minha vida de considerar me suicidar. Não fui muito longe nessa ideia, mas o
fato é que, de acordo com a minha própria percepção distorcida pelo vício e a autoimagem
negativa que eu tinha de mim mesmo, a minha vida da forma como estava, já não tinha
utilidade e não valia a pena ser vivida!
Uma nova esperança
Cansado dos sites brasileiros que não falavam nada com nada e que abordavam o assunto
apenas superficialmente, tive a ideia de começar a procurar por sites em inglês. Até que
finalmente cheguei no yourbrainonporn, o site do Gary Wilson. No inicio, estava desconfiado
já que não tinha mais muita fé em achar uma solução realmente eficaz para o problema.
Depois de algumas páginas de leitura, comecei a me identificar com os relatos e com a
abordagem cientifica. Depois de ler alguns casos de sucesso, uma esperança se reacendeu no
meu coração.
Reboot de 90 dias
Não preciso dizer que comecei o reboot ali mesmo. No começo, assim como todo mundo, eu
achei que não precisava de bloqueadores. Depois de umas 30 recaídas, eu não tive dúvidas e
comecei a levar mais a sério o experimento. Recaí muito também em sites de relacionamento
e com o facebook. Chegou um ponto que eu não aguentei mais me auto enganar e bloqueei
esses sites também. Foi nesse período que eu consegui ficar o maior tempo sem pornografia
desde os meus 11 anos de idade e comecei a sentir os “superpoderes” na pele.
Comecei a namorar com uma outra garota, também muito bonita, só que estava atravessando
a flat-line e ainda estava com o medo de a minha DE não ter acabado. Na primeira transa levei
um pacote de Viagra junto por precaução. A ereção foi mais ou menos, mas já foi uma grande
coisa já que fazia tempo que isso não ocorria. Depois de algumas relações sexuais esporádicas
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eu estava mais “ereto” do que nunca. Em menos de 30 dias eu tinha me recuperado da DE. O
Reboot funciona!!!
Uma nova realidade
Bom, daí para a frente eu recuperei minha vontade de viver. Meus sonhos e projetos voltaram
com tudo. Meus relacionamentos melhoraram em uns 200%. Meu relacionamento com a
minha família nunca esteve tão bom. O sexo nem se fala. Eu acabei terminando com essa
minha nova namorada, mas por outros motivos e não por causa do reboot. Na verdade,
percebi que na prática, o reboot faz aumentar os nossos laços e o respeito pela nossa
companheira, assim como o dela por nós.
Projeto Sabedoria
Por fim, como durante o processo do reboot eu lia muitos textos dos sites gringos e traduzia
para mim mesmo esses textos, e compadecido e até um pouco indignado por perceber tanta
desinformação nos sites em português, decidi compilar um ebook sobre como parar para as
pessoas que assim como eu, sempre tentaram parar, mas não sabiam o “como”, tivessem ao
menos uma referência para consultar. Coloquei para mim mesmo que eu não me meteria na
vida das pessoas e nem faria uma cruzada contra a pornografia, mas que aqueles que
buscassem sinceramente por respostas, deveriam encontra-las de alguma forma e que o ebook
seria essa ajuda inicial. O resto da história vocês conhecem.
Dicas:
São várias as dicas que eu teria para dar, elas estão registradas no ebook e nos fóruns que
participo, mas se eu pudesse resumir as principais, seriam essas:
- Instalar vários bloqueadores (não tem jeito, mesmo depois de “rebotado” eu ainda uso os
bloqueadores)..
- Ser radical (no sentido de não considerar a pornografia mais como uma opção para a vida).
- Arrumar uma namorada (a ideia não é virarmos “monges”).
- Ler os benefícios de quem parou (essa foi a minha principal motivação, porque eu percebi
serem verdadeiros os relatos e os benefícios elencados).
- Estudar as estratégias e o “como” essas pessoas conseguiram parar (e procurar aplica-las,
obviamente).
- Ler as pesquisas cientificas sobre o vício (para entender como tudo funciona e se perdoar
pelo seu passado).
- Ajudar os outros (parece piegas, mas sinto que quando estou ajudando os outros eu é que
sou o mais ajudado, pois esse compromisso, sem querer me ajuda a me manter “limpo” e a ter
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compaixão pela situação das outras pessoas, assim como a compreender cada vez mais a
natureza humana. Por isso obrigado a todos, de coração!).
Para finalizar, um resumo dos prejuízos e benefícios que eu constatei durante o processo:
Antes do Reboot:
- Mal humor e irritação comigo mesmo e com as outras pessoas.
- Falta de foco, procrastinação e perda de tempo.
- Muito sono e preguiça.
- Muita vergonha e culpa.
- Fraqueza física (pernas bambas, voz fraca, pele suja e desleixo pela aparência).
Depois do Reboot:
- Maior socialização.
- Muito mais tempo livre (impressionante!)
- Interesse pela natureza e coisas simples da vida.
- Amor pelos meus semelhantes e disposição em ajudar.
- Foco e concentração, assim como melhorias na aparência e melhor desempenho no trabalho
e tarefas do dia-dia.
- Melhor relacionamento com o sexo oposto.
- Muito mais assediado pelo sexo oposto (sério!)
- Às vezes, até excesso de energia e um gozo espontâneo pela vida, sem precisar fazer nada
para sentir isso.
Fim
...

6 D6: postagem de M. Mystère em 29/12/2014 às 14h06m


Olá, caros companheiros de batalha.
Conheci esse sítio e o e-book aqui disponível em setembro deste ano de 2014, quando
pensava que não havia mais condições de que retomasse o controle da minha vida. Eu já havia
desistido do abandono do vício, sendo levado a crer que só me restava me entregar à
compulsão. Tenho 28 anos de idade, e sempre tive contato com a pornografia. No entanto, a
partir de 2005, com a aquisição de um Modem ADSL, a coisa se complicou de vez. O que era
rotineiro, tornou-se uma obsessão. A princípio, trancava-me no quarto e tirava inúmeras fotos
com meu celular, para que pudesse me masturbar logo em seguida. Isso ocorria várias vezes
por semana, o mesmo ritual, ano após ano. Nos anos posteriores, com a explosão dos sítios de
vídeos pornográficos, passei a baixar cada vez mais material, a ponto de abarrotar uma pasta
162

— oculta, claro — em meu notebook. Nessa última fase, nos últimos três, quatro anos, não
mais baixava conteúdos, mas utilizava um tablet para satisfazer o terrível e voraz dragão que
habitava em mim. E assim, passaram-se 10, 12 anos de minha vida, escoados pelo ralo.
Concomitante ao fortalecimento do vício, em 2005, comecei a estudar para concursos
públicos, o que me levou, pelo contato inicial com as matérias jurídicas, a cursar Direito.
Nessa época, várias vezes cheguei a furar meu programa de estudos ou deixar de estudar para
provas a fim de ver conteúdo pornográfico e me masturbar. Contudo, ainda não percebia a
gama de efeitos nocivos que sofreria em razão do vício.
Em 2008, graças a Deus e após muito esforço, fui aprovado num concurso público, e comecei
a trabalhar em 2010. À essa altura, já eram nítidos os efeitos que a pornografia e o hercúleo
esforço para omitir isso das pessoas ao meu redor desencadearam em mim. Comecei a notar a
queda de rendimento no trabalho, a dificuldade de concentração nos estudos e nas demais
atividades, a tendência ao isolamento, a ansiedade, a queda drástica da libido, entre outras
mazelas que me acometeram.
Em abril de 2012, comecei a namorar a garota de que hoje sou noivo. Para mim, era
impensável compartilhar com ela o meu segredo, que guardava a sete chaves. Não poucas
vezes, deixei de vê-la justamente para ficar vidrado à tela de um computador ou coisa que o
valha. O namoro, contudo, não fez com que o vício minguasse, como inocentemente pensei
que fosse ocorrer. O maldito hábito era crescente e chegava às raias da loucura. Quantas vezes
não assisti a vídeos pornográficos no trabalho ou mesmo cheguei a dirigir assistindo a um
vídeo pornográfico pelo meu celular!
Passaram-se um, dois anos de namoro, e só recentemente, há 20 dias, de súbito e sem
racionalizar, pois se o fizesse seria demovido da ideia, desabafei e contei-lhe tudo, os
mínimos detalhes. Óbvio que isso a deixou chocada. Ela jamais esperava isso de mim — não
que ela esperasse isso de alguma maneira, mas é que se trata de algo que não passa pela
cabeça de muitas pessoas, não compõe o mundo delas, como infelizmente passou a compor o
meu e de todos quantos leem esse texto. Para a minha alegria, todavia, após o baque inicial,
minha noiva absorveu o problema e passou a me oferecer apoio incondicional, o que me
fortaleceu a seguir em frente.
Hoje, entretanto, após praticamente ter me abandonado nos braços do mundo pornográfico,
meu contador indica 92 dias sem PMO. Já não imaginava que isso fosse possível. Tentei parar
por centenas de vezes. Era um gigante invencível que crescia mais e mais, cuja altura já
chegava ao céu. Foi quando decidi pesquisar sobre os danos que a pornografia poderia causar
e “tropecei” nesse sítio — digo tropeçar, entremente não creio em acaso, e sim que tudo tem
163

seu tempo e propósito. Devorei o e-book e comecei o reboot. O medo de recaídas era
constante, como se eu caminhasse pisoteando ovos. Claro que cheguei à beira da queda
algumas vezes, mas, logo que me vinha aquela vontade louca de ver pornografia e me
masturbar, rapidamente entrava no fórum do sítio e lia relatos de pessoas que tiveram êxito
nessa empreitada. Esse recurso sempre funcionou como uma injeção de motivação para
avançar.
Ainda há muito chão a ser percorrido, sem dúvidas. Não senti até então os tais
“superpoderes”, até porque estou com distimia, um tipo de depressão leve, a qual certamente
foi suscitada pela pornografia e masturbação. Tenho feito uso de medicamentos há menos de
um mês e vislumbro dias melhores, com a graça de Deus. Apesar disso, é incomensurável a
sensação de retomada do controle da minha vida após um hiato de 10, 12 anos. É como se eu
houvesse acordado de um estado de coma e ganhasse uma nova chance, uma folha em branco
para reescrever a minha história.
Tudo isso seria um enorme surto de egoísmo se eu não destinasse essas últimas linhas a
agradecer imensamente ao Projeto por todo o trabalho que tem desenvolvido. Não encontro
palavras para expressar minha gratidão, não só a ele mas também a todos os que mutuamente
se ajudaram no fórum, ao trocar experiências, oferecer apoio, relatar testemunhos de sucesso.
Sou enormemente grato a cada um de vocês, conquanto não nos conheçamos e nunca
saberemos quem está do outro lado do monitor.
Avante, guerreiros!

7 D7: postagem de Salomao retirada do fórum em 14/10/2014 às 22h58m


Tenho 32 anos sou casado e tenho problemas com pornografia pelo menos a 12 anos.Iniciei o
Reboot à apenas 2 dias. Meu vicio começou com masturbação, depois fui para vídeos
pornográficos na internet ate que chegou nas prostitutas ( o espiral da degradação vocês já
conhecem) Trabalho viajando e passo uma média de 20 dias por mês fora de casa, creio que o
meu vicio começou por conta disso, tenho vários sintomas descritos no livro (ansiedade,
depressão, masturbação compulsiva, falta de concentração, lapsos de memória e etc) e agora
estou começando a ter problemas de ereção. Sempre escondi esse problema da minha esposa,
por achar que ela não saberia lidar com a situação. O pior é que já estou em um estado bem
avançado, as imaginações já saíram do campo da fantasia e estão invadindo a vida real. Estou
ficando viciado em sexo extraconjugal, já transei com várias prostitutas, e quando chego em
casa não consigo manter uma ereção satisfatória com a minha esposa. O peso na consciência é
grande, estou em um ciclo de mentiras constante para manter a minha vida secreta. Preciso de
164

conselhos. Devo ou não devo contar pra minha esposa ? É possível ficar limpo sem precisa
contar pra ela ? Aceito também conselhos de esposas noivas e namoradas de pessoas que
estão fazendo o reboot. Fico feliz por ter encontrado essa comunidade. Através do livro
consegui realmente entender o que acontece comigo. Preciso realmente de ajuda. Um forte
abraço.

8 D8: postagem de matheus750 em 23/02/2015 às 22h53m


Boa noite meu caros,
A longo tempo venho criando teorias sobre esse assunto e gostaria de compartilhar, ver o que
vocês acham, se concordam ou não.
Com o passar do tempo em que eu estava preso a esse vício da P, eu percebia o quanto eu
conseguia olhar para uma mulher na rua a ponto de desejá-la e me imaginar tendo relações
sexuais com ela. Acontecia de repente, quando eu percebi, eu já estava vidrado olhando para
aquela mulher e imaginando coisas, principalmente com aquelas que tinham uma saias bem
curtinhas, já imaginava levantando aquilo e, não preciso dar detalhes, não me orgulho disso, e
acho que deu para entender...
A algum tempo, eu vi na televisão a reportagem de um homem que tinha uma vida boa,
aparentava ser uma pessoa muito boa, todos gostavam dele no trabalho e era dito como um
exemplo de pessoa, mas que depois de um tempo, descobriram que ele era um estuprador em
série, que ao sair do trabalho ele pegava o carro dele e saia atrás de mulheres.
Logo em seguida, o repórter foi entrevistar ele. Ele contou que era viciado em pornografia das
mais pesadas e que um dia caiu na besteira de sair de casa para pegar uma mulher, quando ele
cometeu o primeiro estupro, voltou para casa, dormiu e no dia seguinte se arrependeu.
Passaram-se alguns dias, e "como aquele caminho já havia sido aberto na mente" ele teve
vontade novamente, e cometeu o segundo estupro, e voltou para casa e no outro dia se
arrependeu. E assim foi por várias vezes. Ele relatava também, que não parecia ser ele,
parecia ser outra pessoa, que ele sabia o que estava fazendo, mas não tinha controle dele
mesmo.
Em certo momento, o repórter perguntou: "Já imaginou se fosse suas filhas?", e o cara
respondeu: "E é isso que mais me dói, é o que mais me deixava arrependido". O repórter:
"Mas então porque você fez isso? E continuou fazendo?". O cara repetiu: "Não era eu lá, eu
era outra pessoa"....
Queridos, antes de mais nada, quero que fique claro que eu não estarei defendendo a causa
desse estuprador. Ele deve ser punido sim, por mais que o problema dele tenha sido
165

psicológico, ele cometeu um crime muito gravíssimo e precisa ser punido. Mas o que estou a
dizer agora é para que abramos nossos olhos...
Logo ao terminar a reportagem, eu me senti completamente mal. Ao assistir e ouvir o
relato daquele homem, não consegui ver muita diferença entre mim e ele. Aquele
homem estava afundado na pornografia, estava indo a níveis mais baixos à procura de
maior satisfação. Ele sentia-se arrependido após o que acontecia, mas não conseguia
controlar quando vinha o vício para cima dele. Era como se fosse outra pessoa, sabia o
que estava acontecendo, mas não conseguia parar e se controlar.
Agora amigos, leiam novamente o parágrafo que está em negrito, porém agora esqueçam tudo
o que eu escrevi anteriormente. Quantos de nós não nos identificamos com esse relato? E
agora ao pensar que esse relato é o relato de um estuprador dá até um calafrio na espinha.
É claro que o nível que ele chegou, foi além de qualquer e todo nível moral. Mas fiz esse
relato, para pensarmos no GRANDE PERIGO que corremos. Não estou dizendo que nós
poderemos nos tornar estupradores ou algo do tipo se não pararmos, claro que não! Mas digo
isso, pelo fato que a P muda a cabeça das pessoas, umas para lados mais sombrios, outras nem
tanto. É brincar com fogo.
E acredito que quanto mais respostas para a pergunta "por que parar?" nós reunirmos, mais
fortes poderemos ser.
Já li também sobre um pesquisa, agora não me lembro onde, que dizia ter sido entrevistados
vários homens, e perguntado a eles: "Se você pudesse praticar relações sexuais com uma
mulher, de modo a forçá-la, tendo a certeza de que ninguém nunca descobriria, você o faria?".
E sei que mais da metade dos homens confessaram que fariam sim, e isso é assustador. Só de
pensar na minha garota, nas mulheres da minha família, já me dá um medo e ódio ao mesmo
tempo.
A nossa sociedade precisa acordar, tirar essa venda da libertinagem, onde tudo é bom, tudo é
liberado, tudo deve ser feito conforme mandar a sua vontade. E começar a conscientizar as
pessoas que não se deve fazer tudo o que sua alma pede (a pornografia desperta os níves mais
baixo do ser humano).
Eu posso dizer que estou melhor com relação a isso, já consigo andar na rua sem ficar
secando as mulheres e imaginar coisas. E estou muito mais forte. Hoje por exemplo, estava ao
meu lado do onibus uma mulher de uns 30 e poucos anos, com seios bem avantajados por
assim dizer, rs. E não tive como não notar de primeira, mas a primeira olhada é de boa, sem
maldade, apenas percebe, mas aí veio a segunda olhadinha, é onde veio o problema... Já
percebi que ela estava com aquele blusa fina e sem sutiã, aquilo me despertou um coisa... é
166

aquela coisa.. rs. Mas logo me toquei e parei de olhar, tentei limpar minha mente, mudar meu
pensamento e consegui me tranquilizar e esquecer, e o pior que logo depois ela chegou para
mais perto de mim, foi então que eu cheguei a colocar a mão nos olhos, disfarçadamente,
como se eu estivesse me apoiando, para não acontecer de sem querer olhar de novo e
despertar aquele sentimento. Foi uma luta vencida, posso assim dizer.
A questão que quero deixar aqui é, ao meu ver, a P está diretamente ligada a maioria dos
casos de violência e estupro de mulheres. É notável como a P pode mudar a cabeça de um
homem como mudou a minha, imagina só em alguém com distúrbios mentais ou problemas
pessoais onde a pessoa acredita não ter nada a perder.
É ALGO GRAVÍSSIMO!
Bem, a questão está lançada. O que você acham sobre isso?
Obs: Desculpem pelo longo post, mas quis explicar da melhor forma possível.
Obs2: Foi bom escrever bastante e escrever sobre isso agora, que era algo que eu pensava a
bastante tempo, pois agora pouco eu quase vi P, quase! Ufa! Foi quando eu decido vir aqui,
ler, ganhar força. Escrever me ajudou a passar a vontade.

9 D9c: postagem de marcolopes em 07/03/2015 às 13h14m


Boas amigos, hoje escrevo falando acerca do meu caso. Já me tinha apresentado antes, num
post sobre a escalação para porno shemale. Desde há quase 2 semanas não vejo pornografia.
Me mastrubei e ejaculei durante esta semana, mas sem ver nada. Me arrependo de o ter feito,
pois pode me ter "atrasado" no meu reboot.
Fazendo uma explicação breve do meu caso para quem ainda não viu meus posts. Sou um
rapaz de 18 anos, sou virgem ainda. Sempre gostei de mulheres, pelo menos desde a minha
puberdade. Começei a ver pornografia com 12 anos por volta disso. Eu só via lesbicas e
hetero. Mas com o passar dos anos, depois de ver muita pornografia começei a procurar novos
estímulos, alguns nojentos, como pornografia scat, outros que vão contra minha sexualidade,
como shemales. E a minha dúvida é a seguinte, será que alguma vez me vou deixar de
interessar por isso? Ou vou ter de viver com desejos perturbadores na minha cabeça de
travestis? Ou será que eu alguma vez me vou fartar de mulheres e procurar travestis? Se
alguém esteve como eu e deixou de gostar de shemales por favor me diga, eu não tenho
ninguém com quem falar senão vocês.
Até agora ainda não sinto grandes diferenças durante o meu reboot. Eu nunca fui muito
viciado em pornografia, logo não tem sido muito dificil evitá-la. Mesmo assim vi o suficiente
para escalar meus gostos para generos pornograficos fora do comum.
167

Mentalmente tem sido uma autêntica montanha russa cheia de altos e baixos. Tem horas que
me sinto bem comigo mesmo, e outras em que fico pensando para mim "e se eu ficar gostando
para sempre de shemales?". Isso me incomoda bastante, já tenho saudade de estar bem
comigo mesmo a 100%. Essa questão fica mesmo no meu subconsciente, tanto que às vezes
fico pensando se gostaria que minhas amigas tivessem um pénis, e se acho a ideia sexy. Acho
que ainda não consegui afastar a minha atração por shemales, infelizmente.
Tem alguém aí que passou por isto também? Acham que eu vou mesmo deixar de gostar desta
m***? Tem sido difícil lidar com isto, sem poder falar para ninguém. Só aqui na internet é
que eu posso desabafar, pois tenho vergonha de falar isso para meus amigos e família. Tenho
de fingir que estou bem para eles, mesmo nos momentos em que me estou sentindo mal, e
isso custa muito.

10 D10: postagem de Over em 05/02/2015 às 16h26m


Saudações irmãos.
Sou novo no fórum e estou muito feliz por ter um lugar como esse para que possamos
compartilhar experiencias / informações.
Comecei com a pornografia aos 14 anos e ao decorrer do tempo algumas categorias de p não
me satisfazia mais. Por este motivo acabava migrando para categorias mais pesadas, até o
ponto que comecei a ter desejo por uma categoria sexual que não corresponde a minha
orientação sexual: shemale (travesti).
Sou hetero, casado e nunca tive relação sexual com nenhuma shemale.
Gostava de assistir apenas pornografia de shemale, mas não gays. Quanto mais feminina a
shemale, melhor; não sentia atração com as que não era dessa maneira, bem como não sinto
atração alguma por homens. Sinceramente não sei o que acontece comigo, nem lembro como
isso começou. Porém, a cada fim de bronha a sensação de culpa era 100x pior do que antes
dessa fantasia, me sinto menos que nada, um depravado, um lixo.
Já encontrei, na internet, pessoas na mesma situação que a minha. Mas isso não me diz nada,
quero acabar com isso, meu consciente clama por isso, mas sou viciado né...
Abrir esse tópico pra saber se tem mais alguém que passa por isso, e se por acaso tiver, saiba
que você não está só nessa Razz
No mais, estou a 26 dias limpo e já sinto os benefícios do reboot. Consigo controlar mais os
desejos, sofria com ejaculação precoce e agora estou quase 100%, e não sei se é por isso mas
estou dormindo muito melhor, acordo mais desposto.
Desejo que a luz da sabedoria e da força de vontade ilumine seus caminhos...
168

Forte abraço irmãos!

11 D10.1: postagem de Balian de Ibelin em 05/02/2015 às 22h43m


Sou novo aqui também mas já frequentava o fórum como visitante alguns meses. Minha
situação é parecida com a sua, assistia muita pornografia e sempre estava atrás de novidades,
mais dopamina. Sou Hétero gosto de mulher, mas ver pornografia normal(hétero) não era
suficiente eu sempre estava atrás de alguma coisa diferente. Então passei a assistir shemales,
ficava destruído e arrasado depois de cada vídeo que via.
Estou a 37 dias de Restauração, não sinto vontade de ver porn.. de shemale. Já percebi
algumas mudança, me sinto outro homem.
Força e Honra!

12 D11: postagem de Nerd em 28/02/2015 às 11h43m


Pessoal estou lembrando que quando eu era viciado em pornografia já estava com uns fetiches
muito bizarros , um exemplo disso é de um que tinha que consiste em o cara ficar deitado no
chão de bruços e a mulher vir por trás dele e pisar em suas bolas literalmente , eles chama
misso de CBT . E isso me excitava muito e andei pensando o quanto eu estava maluco em
ficar excitado com uma coisa doente dessas , algum de vcs já passou por isso ou esta passando
? Conte- nos suas experiencia , abraço e boa recuperação para todos

13 D12a: postagem de Magrao em 16/02/2015 às 20h18m


Amigos, estive pensando algumas coisas. Percebo que as fantasias retornam quando alguma
expectativa minha é frustrada. É como se as fantasias (masturbação e pornografia) fossem a
minha cocaína, a minha fuga da realidade (e suas eventuais frustrações). Não posso viver a
vida real só quando ela é bela, tenho de vivê-la também quando ela é amarga, difícil e dura,
vivê-la por inteiro. Porque o vício não é vida real, é fuga da realidade. E também porque
senão na primeira frustração mais forte eu posso retornar ao vício, que é o que já me
aconteceu.

14 D13: postagem de Zé em 24/11/2015 às 12h09m


Uso pornografia a 15 anos e esse uso constante me tirou algo muito importante que foram as
experiências de vida. Experiencias que todo mundo precisa ter para ganhar traquejo social,
para aprender a lidar com o sexo real, com o sexo oposto, enfim, a ter a experiencia básica e
comum que se espera que um cara tenha desenvolvido.
169

A pornografia me jogou desde a adolescencia num ciclo que é o seguinte: não busco
experiencias reais porque nao tenho vontade e motivação e, alem disso, tenho DE => Como
tenho DE e não sinto vontade de ter experiencias reais como uma mulher, fico na mesma,
onde estou, com o xvideos.
Quando nesse ano eu tentei enfim parar com o vicio, me vi numa situação muito incomoda
que é a seguinte:
Ok, agora estou a 3 meses sem me masturbar, com uma grande vontade de transar com uma
mulher, mas não tenho traquejo social nenhum. 15 anos de ansiedade social e ausencia quase
total de experiencias reais, me transformaram num zero em termos de carisma, de conquista.
Essa constatação joga por terra todo meu esforço, e eu volto para a pornografia e a
masturbação obsessiva. Sinto que com a pornografia eu tenho algo que me da satisfação e
prazer. Sem ela eu me anulo, porque não consigo convencer uma louca a transar comigo! Não
tenho traquejo social nenhum.
Alguem já se viu nessa situação de merda?

15 D14: postagem de Skid Row em 27/11/2014 às 07h55m


Olá amigos, primeiramente gostaria de agradecer aos criadores deste fórum e do site "Vício
em Pornografia", descobri esse fórum faz uma semana (antes eu usava o your brain
rebalanced e your brain on porn) e é muito bom poder trocar experiências com pessoas que
falam nosso próprio idioma.
Agora vamos ao que interessa. Tenho 29 anos e desde a infância eu tinha atração por
mulheres fumantes e por pés femininos (esse fetiche por pés até que é bem comum no Brasil).
Desde que comecei a me masturbar (aos 13) a maioria das vezes me masturbava com coisas
relacionadas aos fetiches e isso piorou quando surgiu a internet banda larga, foi aí que
realmente me vicei nesses fetiches. Eu conseguia levar uma vida sexual "normal", transei com
algumas mulheres e depois namorei uma garota que satisfazia meus fetiches e quando
terminamos foi aí que eu realmente me afundei na pornografia (relacionada aos fetiches).
Continuei saindo com mulheres na vida real até que notei que eu "não funcionava mais" e foi
aí que me desesperei.
Para encurtar a história (quem quiser saber mais detalhes pode perguntar) eu consegui ficar 8
meses sem PMO e mais de 1 ano e meio sem alimentar os meus fetiches. Eu achava que eles
nunca iriam embora e que eram parte de mim, hoje eu sei que é possivel se libertar de
qualquer fetiche que você tenha e das vezes que eu recaí graças a Deus foram com fotos de
170

instagram e videos softcore de garotas peladas. Atualmente estou 18 dias sem o PMO e meu
objetivo é parar completamente até com essas coisas "softcore".
Agradeço desde ja a quem for ler o relato. Obrigado.

16 D14.1: postagem de Projeto renascimento em 04/01/2015 às 16h48m


Eu sei como é ter fetiches. eu tenho muitos, desde os simples até os bizarros.
Exemplos: gravidas, travestis, urina, corno, zoofilia, pedofilia. e varias outras coisas...
Eu fui desenvolvendo esses fetiches conforme me viciava mais em porno, porque antigamente
eu nem imaginava que um dia iria sentir prazer vendo vídeos de travecos.
até videos gays eu ja vi, tudo pra conseguir mais variedade e mais prazer na pmo.
Desde que comecei o reboot esses fetiches foram enfraquecendo aos poucos, porque
antigamente eu chegava fantasiar a noite e sonhar com essas coisas. é claro q na vida real eu
nao realizo essas coisas, mas na pmo eu queria um pouco de tudo, ou quase tudo...
Tive bastante recaídas ultimamente e acabei voltando para alguns fetiches, mas nao como
antigamente.
Acredito que você vai conseguir se libertar skid row, questão de tempo e persistência...
Desejo-lhe uma boa recuperação!

17 D15: postagem de Gabriel C em 30/08/2015 às 20h35m


Cada vez mais me convenço de que o vício em pornografia é pior que vício em drogas! Sim, é
muito pior. Apesar de nunca ter consumido drogas, tenho essa convicção.
O viciado em drogas e em álcool não consegue esconder o seu vício por muito tempo, pois
suas consequências ficam bem explícitas. Um alcoólatra, um viciado em cocaína, etc, têm
seus problemas expostos primeiro para a família e até para a vizinhança. Assim, na maioria
das vezes a família busca soluções, tratamentos e todo o tipo de ajuda para salvar seu familiar.
Por isso vemos tantos centros de reabilitação de usuários de drogas, programas
governamentais, e todo um aparato de apoio para recuperar o viciado.
Já nós que somos viciados em pornografia não vemos isso acontecer. É um vício oculto, onde
parece que está tudo normal. A vergonha, a incompreensão e falta de informação adequada
nos faz lutar quase que sozinhos, abandonados à nossa própria sorte.
Muitos que tentaram se abrir com algum familiar ou amigo foram vistos como tarados, sem
vergonha, promíscuos, ou tiveram os mais variados conselhos equivocados, como
simplesmente procurar uma namorada, entre outros conselhos.
171

Este fórum com certeza vai nos motivar, porque encontraremos aqui histórias, casos parecidos
com os nossos, sintomas semelhantes e conselhos de quem conseguiu superar.
Sairemos dessa lama, a pornografia não é mais uma opção!!!!!!!
Avante, guerreiros!

18 D15.1b: postagem de Projeto em 31/08/2015 às 09h42m


Muito bem colocado Gabriel. É isso mesmo que acontece. Não sei se você chegou a ver os
comentários de uma matéria no blog sobre um garoto que morreu depois de se masturbar 42
vezes seguidas. Se você entrar no G7 que é de onde foi tirada a notícia, 99% dos comentários
das pessoas era tirando sarro do cara, como se ele simplesmente fosse um tarado necessitado.
Até o comentário da mãe dele é meio irônico (o que até me deixou em dúvida se a notícia é
real ou não). Mas mesmo na hipótese de isso não ter acontecido, os comentários das outras
pessoas refletem exatamente o que pensa a sociedade à respeito do problema.
De um lado estamos nós, os machos, "vitimados" num certo sentido pela nossa própria
evolução biológica que não teve tempo de se adaptar a tecnologia. Nossos sistema de
recompensa inteiro foi programado para passar os nossos genes adiante pra o maior número
possível de fêmeas em idade reprodutiva sempre que surgir a oportunidade, enquanto as
mulheres procuram pelos melhores genes e aqueles que tem condições de prover os filhotes.
De outros estão a sociedade, a mídia, a igreja, as feministas e até mesmo setores da ciência,
querendo fazer as pessoas crerem de forma generalizante que isso tudo não passa de safadeza
e mal caratismo dos homens ou então que é natural e recomendado, polarizando a questão de
forma simplista num desses dois extremos.
Sim, nós não vivemos mais nos tempos das cavernas, mas acontece que o nosso cérebro ainda
vive. Ele se adaptou e é premiado em termos químicos quando age de acordo com essa velha
necessidade evolutiva. Nosso cérebro demorou alguns milhares de anos para se adaptar à
essas condições do homem primitivo. Nossa sociedade mudou, evoluiu muito rápido, mas
não deu o tempo suficiente para que ele se adaptasse às novas circunstâncias. Para termos
uma ideia, a internet com essa quantidade infinita de "oportunidades de sexo" é coisa de 14
anos atrás. Ou seja, praticamente nada em termos evolutivos!
Enfim, a ideia aqui não é justificar o problema, muito menos incentivar esse comportamento,
mas apenas localizá-lo adequadamente para ilustrar o quanto a nossa sociedade é ignorante a
respeito disso e o quanto a questão é mais profunda do que parece. Graças a Deus, existe o
método do reboot!
Bem vindo ao fórum! E sim, pornografia não é mais uma opção!
172

19 D16: postagem de Azured em 07/04/2015 às 23h12m


Bom galera, sou novo aqui, vou contar a vocês minha história um pouco.
Desde inicio de 2014, eu tinha uma otima libido, ereção, impulso sexual, etc. Comecei a
namorar nessa época, com uma garota muito bonita, ja eramos muito intimos, eu tinha muito
tesão por ela. Os meses se passaram e comecamos a ser mais intimos ainda, até que ela
comecou a fazer sexo oral em mim quando vinha para cá. Uma coisa estava estranha, e eu
sabia que não era ela. Quando ela me masturbava ou fazia oral, eu não mantinha a ereção, eu
tinha que usar minhas mãos para manter a ereção, e depois ela assumia o controle, e ficava
assim, eu > ela > eu > ela , até que eu atingisse o orgasmo. Conheci a pornografia aos 11 anos,
mas nunca suspeitei dela ser a causa. Bem, fim do ano tentamos sexo, porém minha ereção
estava ruim, e minha libido não andava tão boa. Não conseguimos fazer nenhuma das 2 vezes
que tentamos, por minha culpa. Sempre estranhava isso, fui a um urologista achando que tinha
algum problema de hormonio/ circulação. Tudo certo nos exames.
Devido a algumas brigas, terminei com ela em dezembro de 2014, e 1 semana depois perdi a
libido por completo, mas tinha certeza que essanão era a causa, pois ja tinha passado por
coisas semelhantes ou até piores, e minha libido continuou la em cima. Vale ressaltar que eu
assistia porno mesmo namorando com ela (ela não sabia), e sim, cada vez minha libido ficava
mais "seletiva", em busca de categorias mais especificas de pornografia. Sem elas não tinha
ereção. Em janeiro de 2015, comecei a ficar com uma garota, porem nao tinha ereção
nenhuma ao beija-la. Tambem nao sentia desejo sexual, vontade de me masturbar nem nada.
Era como se não existisse libido. Passei 2 meses indo em urologista e psicologo, até que
buscando sobre meu problema, encontrei esse site. 95% dos sintomas bateram com oque sinto
: falta de ereção, penis sem sensibilidade, depressão, ansiedade, fraqueza, HOCD (pornos
estranhos, que não batiam com meu interesse natural, mas por alguma razão eu estava
sentindo tesão), concentração baixa, insegurança, etc.
As vezes eu só me masturbava só pela obrigaçao,e muitas vezes não conseguia. Dia sim, dia
não. Tudo estava muito variável. Eu achava que minha testosterona subia num dia no outro
abaixava... Suspeitei de alimentação, excesso de academia, problemas de circulação, TUDO.
Então, achei o meu problema. Li o Ebook, e comecei o reboot há 3 dias atrás. Bom, nesses
ultimos 3 meses, meu me masturbava e assistia porno, mas a ejaculação e masturbação era
muito sem prazer, mais por uma "obrigação" ou "ansiolotico", o porno era muito especifico,
penis com sensiblidade baixissima e libido muito baixa. As vezes nem conseguia. Estou na
mesma, porem sem PMO há 3 dias.
173

Andei lendo e vi oque chamam de "flatline". Acontece que, eu estou esperienciando todos os
sintomas do flatline. Desinteresse por masturbacao, porno, tudo. Nem faço questão nenhuma.
Também venho sentindo ansiedade, mais sono e alguns momentos meio depressivos. Porém
em algumas manhãs acordo com ereção, mas das beeeem fracas, e só algumas. Nesses ultimos
3 dias venho indo para academia, aulas e fazendo aerobicos, minha alimentação sempre foi
muito boa, e isso é oque vem me ocupando. Enfim, é possivel que por todos esses 3 meses eu
estive em um flatline e quando me masturbava eu apenas resetava ele sem saber? Estou com
todos os sintomas de um flatline... Bem, gostaria que me ajudassem nessa jornada silent , e
vou continuar relatando de dias em dias, ou sempre que tiver duvidas!
Se possível, respondam a minha duvida do flatline, e me contem se ja passaram por algo do
tipo. Grato!

20 D17: postagem de Lion (Cassiano) em 18/02/2015 às 23h39m


Olá a todos.
Sou novo na comunidade e há 13 dias completos comecei a fazer o reboot.
Aos meus 18 anos, consumindo pornô desde os 13, me viciei devido a minha condição
naquele tempo. Era um tipo nerd extremamente inseguro, tinha problemas com a aparência e
era rejeitado, tinha muitos problemas na família. As pessoas ao redor não querem te ajudar,
mas ficam julgando e tiram sarro. Eu era um fodido e aqueles foram tempos muito difíceis.
Passei a viver num ciclo de culpa e vergonha, tentando esconder de todos meu vício. Não
tinha energia nem tesão pelas coisas da vida, nunca estava de boa mesmo, mesmo no mais
incrível dos momentos. Minhas experiências sociais\amorosas foram sofríveis e
traumatizantes. Não tinha amigos e os que eu considerava amigos eram caras que zombavam
de mim pelas costas, tiravam vantagem ou que tinham pena.
O pornô era a solução mágica para escapar de um mundo de problemas infindáveis. Até que
notei que o tempo que passava consumindo, o gênero e a qualidade das excitações não eram
as mesmas. Lésbicas, fetiches de agressão\dominação, homossexualismo (não que eu tenha
alguma coisa contra o homossexualismo, mas ele não está de acordo com minha orientação
sexual)! As coisas absurdas que via não estavam de acordo com minhas preferências reais.
Tinha pesquisado alguma coisa e tentado ficar limpo disso, mas acabei deixando pra lá. Perdi
dia de treino pra ficar me masturbando. Eu estava frustrado, mas passei a estar confortável
isolado. Deixei de fazer coisas incríveis. Durante a adolescência mais tardia, tive muitas
chances de transar, muitas mesmo que perdi por conta do vício. Eu era frio e apático, e um
dos meus maiores problemas é uma ansiedade social absurda.
174

Aos poucos eu fui passando dos vídeos para as fantasias mentais no meu novo mundo de
masturbador compulsivo. Achei que o problema estaria resolvido se a masturbação fosse
apenas para ideias na minha cabeça. Também comecei a me enganar com aquela história de se
masturbar sem ejacular (a ejaculação está longe de ser o foco do problema) e fiz isso por
muito tempo até voltar a ver pornô usualmente, já sem a mesma excitação de antes. Até que
há 13 dias atrás, me senti muito mal. Foi a pior sensação que já tive na minha fodendo vida.
Naquele momento eu sabia que queria mudar. Li o ebook em algumas horas e aceitei
convictamente a missão de recuperar o controle sobre meus hábitos.
Espero ter sucesso nesta jornada. Quero que saibam que vocês estão sendo uma inspiração e
uma fonte de informação pra mim. Agradeço muito aos que estão tornando isso possível

21 D18: postagem de lucasfsdf em 27/01/2015 às 08h07m


Bom Dia,
Meu nome é Lucas,e estou aqui para tentar parar com a masturbação e a pornografia,Tenho 17
anos,me masturbo desde aos 11.e percebi que estou com DE,pois eu percebo que uma garota é
atraente,e mesmo assim,nada de conseguir excitação,na minha cabeça sempre pensei que era
por causa da masturbação excessiva,mas nunca conseguia parar,agora depois de ler o livro,e
relatos,e perceber que essa realmente é a causa,E estou pedindo a ajuda de vocês! Estou a três
dias pretendo atingir o máximo que eu conseguir! Pois estou muito pra baixo com isso.
Além de mais danos que a pornografia estava causando em mim.... Eu sempre fui uma pessoa
muito tímida,com uma ansiedade social muito grande,eu ainda lembro que teve um tempo que
não conseguia nem olhar diretamente para uma pessoa por muito tempo,sempre olhando pra
baixo.
Já tive a oportunidade de namorar com muitas garotas,porém sempre rejeitei,pois pra mim o
prazer que eu estava tendo com a pornografia e masturbação já bastava pra mim.
Minha ansiedade era tão grande para me masturbar que tudo que eu pegava com a mão eu
ficava tremendo.
E a pornografia comum já não me satisfazia mais(Na verdade nenhuma me satisfazia
mais,pois não estava conseguindo mais ficar excitado nem com ela),eu sempre estava à
procura de lésbicas,incesto... E isso com certeza não era normal... Eu sabia que não era.
Mas como todo viciado,e não me importava se sentia prazer ou não,eu só queria continuar e
continuar vivendo nesse mundo que eu criei....
Postarei posts a cada 1 semana,pois estou estudando pra concursos,e começo a faculdade.Aí
fico um pouco apertado.Abraços!!
175

22 D19c: postagem de marcolopes em 22/03/2015 às 08h09m


Bom dia amigos, venho aqui falar um pouco do meu reboot.
Começei mal, a pensar que não conseguiria nunca deixar de sentir vontade de ver pornografia.
No meu caso, e uma vez que sou virgem, o mal que a pornografia me trouxe foi mesmo a
escalada dos meus gostos, sobretudo por ver pornografia travesti (apesar de ser apenas
periodicamente), que me deixava com um sentimento de culpa e vergonha interior, pois até aí
eu sempre me senti atraído exclusivamente por mulheres. Eu não sei o que é sofrer de DE ou
de impotência, mas acreditem, duvido que isso seja tão mau como sentir atração por
pornografia que não corresponde à nossa orientação, isso nos fere gravemente o orgulho, pelo
menos a mim foi assim.
Este forum me ajudou a compreender o que estava acontecendo comigo, mas ainda assim
quando iniciei o reboot pensava para mim :"Ok, eu acredito que sim, a pornografia me fez
mudar meus gostos mas, para quê estou fazendo isso? Eu nunca vou deixar de me sentir
atraído por travestis, vou ter de levar isso comigo o resto da minha vida.". De facto, começei a
cerca de 20 dias e não deixei ainda de ter pensamentos que não consigo controlar. Ao início
isso me fazia sentir pior ainda, pois me sentia incapaz de mudar. Mas depois de continuar a ler
testemunhos e ver videos (https://www.youtube.com/watch?v=h61WZemN9o4 - sobretudo os
deste cara, que são bem legais e motivadores) já vi que é perfeitamente normal. Mas eu sou
um cara que se preocupa demasiado com os problemas, estou sempre pensando "será que já
me sinto menos atraído? quanto tempo isto irá durar" e acabo por adormecer pensando nisso.
Hoje infelizmente tive um sonho, onde estava vendo pornografia travesti e ejaculei. É ruim
quando isto acontece, parece que seu cerebero te venceu quando não poderias fazer nada. Ele
achou uma maneira de se satisfazer sem eu estar consciente. Eu sei que isso não iria acontecer
provavelmente se não fosse tão ansioso, se não estivesse constantemente a pensar "será que
vou conseguir deixar de sentir isto?" este sonho não existia.
Mas tenho de continuar lutando para no fim chegar ao objetivo que procuro. Tenho minha
vida toda pela frente, não posso viver com esta angustia ate ao fim. Me sinto melhor, mas
ainda me falta muito caminho.
Gostaria de ouvir vossos cometários, se passaram pelo mesmo, ou mesmo se já conseguiram
acabar o reboot e como se sentem.

23 D20c: postagem de marcolopes em 07/04/2015 às 07h22m


Peço desculpa pela demora, mas não sabia que meu post tinha vindo parar aqui.
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Em primeiro lugar, e passados dias, eu já sinto mais vontade de ver mulheres do que
propriamente transexuais. Aliás eu não fui um viciado que via exclusivamente pornografia
travesti! Sinceramente era talvez 20% da pornografia que eu via, a maior parte era pornografia
straight. Mas tinha tempos, em que via mais intensamente e como formar de renovar o
estimulo acabava vendo shemale, ou outras generos mais nojentos. O meu problema não é eu
ter deixado de gostar de mulheres, porque eu não deixei, o problema é eu passar a gostar de
mulheres com pénis. É perturbador, para mim é, sei que há pessoas que não dão importância,
mas eu dou. Eu sou heterossexual, na medida em que todos os desejos românticos eu idealizo
com uma mulher normal. Porém este meu lado mais pervertido me envergonha. E a minha
ansiedade aumenta pensando assim "cara, vejo isso talvez a uns 3/4 anos, será que acabei
mudando minha orientação? E se eu no fim disso tudo continuar vendo pornografia travesti?".
Mas reparem, eu no incio nao me sentia interessado nessa pornografia, bem pelo contrário. Eu
por exemplo também tinha altura em que via BBW, umas mulheres obesas tendo sexo, e
nunca no iníco da minha viagem pelo porn eu me sentia atraído por isso. Mas durante o dia
normal, se vir uma obesa na rua não terei qualquer interesse em transar com ela. Acho que
acontece o mesmo com os travestis, eu na vida real não tenho interesse nenhum, ao contrário
de muita gente que chega a contactar travestis, eu não seria capaz.O meu problema e
sobretudo ansiedade, a vontade muito exagerada de chegar ao fim do reboot e conhecer os
resultados.
Mas sinceramente, eu acredito que vou ultrapassar isso, poderá não ser em 90 dias, poderá ser
em 180 ou mesmo em anos. Eu apesar de não ver muito intensamente essa pornografia eu
assisti ela durante anos, e é normal que não seja fácil desfazer minhas ligações cerebrais. Mas
eu não nasci assim, eu acredito na mudança!
Obrigado amigos pelas vossas palavras!

24 D21: postagem de Luxord em 10/04/2015 às 13h28m


Olá amigos, novo soldado de apresentando!
Então meu caros,vou me identificar aqui como "Luxord"...tenho 22 anos,Cristão e Virgem rs'
e também estou nessa luta contra esse vício maldito,e vou contar um pouco da minha história
pra vocês.
Bom,se eu não me engano, a primeira vez que eu tive acesso a pornografia foi entre 2003 ou
2004...eu tinha 11 anos...e foi através de umas VHS velhas do meu pai...o engraçado dessa
fase é que quando eu assistia essas VHS,nunca aconteceu a "PMO" pois eu não sabia o que
era masturbação...eu ficava com tesão é claro mas assistia por pura curiosidade, vamos dizer
177

que eu ainda era "inocente"... não sabia das coisas...depois de assistir várias vezes, o vídeo
Cassete na hora de rebobinar as fitas enroscava e amassava elas por dentro e estragou todas as
fitas (hoje 10 anos depois dou graças a Deus por isso ter acontecido ainda cedo) como não
dava mais pra assistir,deixei isso pra lá.
No começo de 2005 com 13 anos eu aprendi a me masturbar...nessa fase a M era apenas
usando a imaginação e raramente quando aparecia alguma nudez ou cena
de"softporn"aleatória na TV a Cabo como HBO,Max Prime e canais do tipo...até ai foi tudo
bem,entrando na puberdade por volta de 2006,2007 nas Lan Houses da vida eu descobri que
existia revistas pornos de graça na internet (coisa que eu achava que não existia)...eu nunca
tinha tentado procurar isso na Lan House pois tinha medo de ser pego rs' depois de algum
tempo tomei coragem e comecei a pesquisar coisas leves como Playboy,Sexy só pra alimentar
a imaginação pra M quando chegasse em casa...tempos depois também descobri que existia
filmes pornos grátis na internet.
Em 2008 com 15 anos eu ganhei meu primeiro PC...aqui começa a pornografia em internet
banda larga na minha vida...nos primeiros dois anos até 2010 foi "de boa", assistia pornos de
forma "normal", PMO uma vez por dia, raramente 2 vezes por dia...então me formei no
ensino médio no mesmo ano em 2010...e ai começava o esse pesadelo na minha vida...do final
de 2010 pra cá (últimos 5 anos) as coisas pioraram e MUITO.
Eu me tornei menor aprendiz e comecei a trabalhar numa empresa grande, a mais importante
no seu ramo eu diria...só que por alguns problemas lá, o trabalho começou a ser estressante, e
como eu só trabalhava,chegava em casa e ficava no ócio,a PMO ficou mais frequente por
causa do trabalho, era assim que eu aliava a tensão...em 2012 a coisa já estava mais tensa...a
PMO era bem frequente de 4 a 5 vezes por dia...no mesmo ano eu sai da empresa pois o
contrato já tinha acabado, e ai a coisa desandou...até que no final de 2012 um conhecido dos
tempos de escola foi preso porque encontraram pornografia de menores no PC dele...eu fiquei
em choque, pois eu e os colegas de escola quando ficamos sabendo da prisão dele, sabíamos
que esse conhecido era um "bronheiro" de mão cheia rs'...todos sabiam mas ninguém falava
nada...e ai que eu quase entrei numa deprê pois eu tinha a consciência que ele era viciado em
pornô desde os tempos de escola e tinha quase certeza que foi isso o que o levou a pornografia
infantil...e eu ao mesmo tempo eu estava começando a me tornar um viciado em pornô então
eu percebi que Pornô não era uma coisa boa e então dias depois do ocorrido eu tentei
parar...então com um vazio existencial terrível e um princípio de depressão, eu redescobri a
Deus,(eu nasci em família evangélica e tinha deixado de ir a igreja desde 2009) comecei a ir a
igreja e consegui ficar 1 mês sem PMO, e também recebi a notícia que esse conhecido tinha
178

saído da prisão...ele ficou só 3 meses lá pois ele era uma boa pessoa só que a curiosidade o
levou longe de mais...enfim estava confiante,só que infelizmente vacilei e acabei caindo na
PMO.. eu não entendia muito bem o vício em pornô... e aquele culpa como se fosse um
meteoro caia na minha cabeça...mesmo assim eu não desisti...ficava 1 semana sem PMO, ai
caia de novo, depois mais uma semana sem PMO,caia de novo...chegou um momento que eu
já estava de saco cheio pois não conseguia me livrar disso e acabei desistindo...e nesse meio
tempo (2013) eu arrumei um novo emprego...e a frequência da PMO só aumentando...isso me
atrapalhou de mais no trabalho...até que foi demitido em 2014 por falta de produtividade,pois
não conseguia trabalhar direito,ficava com uma ansiedade monstra e também só ficava com
sono pois meu horário estava começando a ficar descontrolado...enfim ai a situação estava
chegando no limite, me sentia muito mal,me sentia um oceano de hipocrisia pois eu estava na
igreja, fazendo papel de santo enquanto em casa eu era um masturbador compulsivo, então
minha mente ficou cauterizada me tornei uma pessoa fria,chata, e extremamente crítica a tudo
e eu sabia o tempo todo que eu ofendia a Deus como aquilo que eu fazia e aquela sensação de
Deus estar me "filmando" toda vez que eu estava na PMO,e um vazio gigante dentro de
min...comecei a ter medo da morrer.
De meados de 2014 até semana passada as coisas ficaram complicadas...pois eu só ficava em
casa, acabei engordando (chegando aos 120Kg) por causa da vida sedentária que estava
levando,já não ligava tanto pra higiene pessoal,as vezes ficava sem escovar os dentes por um
ou dois dias...sono totalmente descontrolado...acordava as 11:00, 12:00 e dormia as
02:00,03:00 da madrugada depois de várias sessões de PMO,meu sonho de me formar na
faculdade de RI e ir morar no exterior indo por pelo ralo,minha Fé não existia mais,só ia pra
igreja por ir mesmo, e por causa de uma amiga que eu conheci na igreja, já não conseguia orar
mais pois tinha vergonha de Deus...e isso já estava começando a gerar problemas de saúde...e
eu cheguei a um ponto que eu nunca imaginei que chegaria...comecei a ficar com tesão vendo
pornô de Shemale!, coisa que em 2010 eu achava nojento ( com todo respeito aos homos) e
quando eu via sem querer em algum xvideos da vida eu brochava na hora...poucas semanas
atrás eu estava começando a gostar!... só que eu sabia que era hétero...eu nunca me interessei
por homens, só por mulheres (só entendi essa questão quando li o livro que está indicado aqui
no forum dias atrás) ai realmente cai na real e vi que tinha algo MUITO errado comigo eu
precisava parar com a pornografia imediatamente se não isso iria acabar me matando...e pela
graça de Deus,semana passada procurando formas de parar de consumir esse lixo eu achei na
internet o "Your Brain on Porn" do Dr. Gary Wilson e foi a melhor coisa que eu aconteceu
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esse ano...depois que li o livro percebi que havia esperança de largar esse lixo e então a 5 dias
atrás eu encontrei uma "mina de ouro" chamada comoparar.forumeiros.com.
E cá estou eu, 5 dias sem PMO...até agora foi relativamente tranquilo, aquela vontade as
vezes bate mas é algo suportável...e os depoimentos de vocês aqui tem me ajudado muito a ter
motivação pra continuar...e nesses 5 dias que em comparação a maioria de vocês seja pouco,
já fez uma diferença significativa na minha vida...sinto que aquela preguiça constante está
indo embora e procrastinação também,minha motivação de estudar está começando a
renascer,consegui concertar o meu horário de sono,a minha voz engrossou (foi a primeira
coisa que eu notei rs'),estou fazendo dieta pra perder todo esse peso que eu ganhei, um velho
sonho meu de aprender japonês está renascendo rs', (desde 2007 eu sonho em aprender
japonês e estudar no Japão) a disposição pra começar a trabalhar está voltando, estou
começando a ajudar mais minha mãe nos afazeres de casa...meus objetivos agora são de me
livrar definitivamente desse mal,arrumar um emprego e arrumar uma namorada (de Deus
rs')...sou eternamente grato ao Dr.Gary Wilson e a vocês do forum que conseguiram se livrar
desse mal e estão dando forças aos irmãos de luta mais fracos...pretendo postar aqui o meu
progresso nesses 90 dias de luta.
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS E NOS DÊ FORÇAS PRA VENCER ESSA LUTA!

25 D22: postagem de doidan em 05/04/2015 às 22h37m


Pessoal, boa noite...
Decidi iniciar meu reboot no dia 03/04/2015...isso porque, acredito que como muitas pessoas
aqui, comecei a sentir fisicamente as consequências da P e da M. Sou viciado há
aproximadamente 14 anos, tenho 27 de idade. Namoro uma mulher muito atraente, mas
comecei a sofrer de disfunção erétil. Já havia ocorrido comigo, mas nunca associei à P. Já
tentei muitas vezes parar, mas dessa vez conheci o ebook e sinto que vai ser diferente. Sou
hétero, mas já busquei de tudo na internet...comecei por sexo convencional, orgias, depois
parti pra P gay, canibalismo, teens... Não quero mais ser escravo... Já saí com mulheres e
falhei na hora H, e hoje sei com 100% de certeza que foi por causa da maldita P. Espero
compartilhar com vocês nos próximos dias, pela minha experiência, e pela primeira vez na
minha vida, contar-lhes algo novo, sobre uma nova pessoa...eu...abraços

26 D23: postagem de vencedoremcristo em 03/03/2015 às 09h23m


Bom dia guerreiros!!! Estou começando o Reboot hoje. Na verdade, já estou sem ver
pornografia e me masturbar há 5 dias, mas quero começar do zero. Já vi alguns vídeos e li
180

vários relatos os quais me motivaram bastante. Já imprimi o ebook e vou começar a ler hoje.
Pretendo postar minha luta diariamente, pois estou com tempo para isso. Já expus minha
história em outro tópico, mas resumindo sou viciado em pornografia e masturbação há uns 15
anos, mas de forma violenta tem uns 10 anos. Meu objetivo é abandonar de uma vez esse
vício, além de ter meus desejos restaurados. Obs: sinto desejos por homens de uma forma
quase insaciável desde muito tempo. Já fiquei com mulheres e me apaixonei por várias, porém
sou virgem e hoje não sinto nada por mulheres. Meu vício sempre foi pornô gay. Quero fazer
esse reboot sem pornografia e masturbação para limpar a minha mente e me entender melhor.
Não tenho nada contra gays, mas eu não sou feliz desse jeito e quero mudar, pois vi relatos de
pessoas heterossexuais que acabaram sentido prazer por vídeos gays e com travestis devido ao
vício. Sou Cristão e sei que sozinho não irei conseguir, mas sei que jesus me dará a força
necessária para suportar esses 90 dias. Já tentei parar várias vezes, porém sem sucesso.
Consegui ficar uns 70 dias sem o vício, porém eu não entendia o porque de eu sentir tanta
coisa na abstinência, mas vocês abriram meus olhos e agora posso entender que o que sinto é
fruto da abstinência, tipo mal humor, sonhos eróticos, tratar mal as pessoas que mais amo,
desânimo, vontade de me masturbar assim que acordo, dentre outras coisas. O que eu já senti
e sinto durante todo esse tempo de vício, ou seja, algumas sequelas: depressão, pensamentos
suicidas, sem vontade de tomar banho e escovar os dentes, dores nas articulações, dor quando
tomo banho e sinto a água gelada, desânimo, falta de produção no trabalho e motivação, medo
de assumir responsabilidades, complexo de inferioridade devido ao tamanho do meu pênis -
em tono de 13 cm de comprimento e 12 de diâmetro, medo das mulheres, timidez, vontade de
ficar em casa direto e deitado, solidão, vontade de ficar só no escuro, falta de concentração
intensa, sem vontade nenhuma de estudar, sem sonhos e sem planos, falta de sensibilidade,
humor alterado, compulsão por comidas - era jogador de futebol e hoje estou com mais de 120
kg, memória um pouco debilitada, achar que eu nunca vou ser feliz de verdade, medo de
urinar em banheiros públicos por conta da vergonha, pensamentos repetitivos e de derrotas,
enfim. Nesse momento, não estou trabalhando e fico direto em casa praticamente, mas me
matriculei em alguns cursos para sair um pouco de casa. No mais, irei compartilhar meu dia a
dia, postando sempre a noite para ter uma noção exata de como foi meu dia. Abraços e fiquem
com Deus! Obs: Fiz o contador de dias na marra e acabei de ver que está com a data de
dezembro, mas vou deixar assim mesmo, pois o que importa são os 90 dias, porém não sei se
essa data errada vai atrapalhar. Se alguém poder me ajudar, agradeço.

27 D24: postagem de Lee em 20/02/2015 às 09h59m


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Bom dia meus Amigos!


Como dito no titulo do tópico, estou me apresentando para guerra contra esse mal que tanto
nos destrói e nos aflige, quero compartilhar com vocês tudo que aconteceu, acontece e
acontecerá a partir de hoje, pois como todos que estão aqui, eu sou apenas mais um que não
suporta mais tanto sofrimento. EU MEREÇO SER FELIZ.
Bom então vamos la:
Meu nome é Caio, tenho 23 anos, e sou viciado em pornografia.
minha historia começa aos 8 anos de idade, quando por acaso, descubro na estante da minha
casa, um arsenal de VHS porno pertencentes ao meu pai, um também viciado em pornografia,
e quando digo arsenal não é nenhum exagero da minha parte, pois ali continha todo tipo de
pornografia "normal" e Hard existente e aceitável para a época. nessa época ainda como eu
era criança eu achava completamente inaceitável e repulsivo alguns tipos de pornografia,
então fiquei no básico até mais ou menos meus 12 anos.
A partir dos meu 12 anos a pornografia convencional já não me saciava mais, foi o período
em que comecei a ejacular, então foi quando comecei a sair do porno "GOSTOSAS" para
algo mais fantasioso como os de "HISTORIAS". Nessa vibe eu fui indo até achar um VHS
realmente HARD para mim, e foi quando tive meu primeiro orgasmo realmente intenso,
fiquei naquela fita durante dias, e nessa onda de porno de historias que envolviam incesto e
sexo publico até meus 14.
Com 14 anos tive minha primeira namoradinha, o porno já estava instaurado na minha cabeça,
já tínhamos um aparelho DVD em e um ARSENAL pornográfico completamente novo na
estante, e foi quando aconteceu que, eu perdi minha virgindade, e foi nada mais nada menos
que a mãe da minha namorada 30 anos mais velha que eu. foi ai que minha vida sexual
deslanchou, tudo q aprendi dos meus 14 aos 16 com ela, foi algo realmente intenso e
fantasioso.
Foi então que a partir dai começaram os fetiches pesados unidos a vida sexual ativa, ou seja,
como eu era (sou, depende do ponto de vista kk) um cara muito bonito, conseguia a mulher
que queria, ou seja, como eu já tinha contato com bebidas alcoólica e maconha( Quando eu
cito a droga e o álcool, é pelo motivo que ela aumenta seu libido ao extremo e nessas horas
meu amigo, o que importa é se tem vagina ou não kk), e eu já tinha transado com todo tipo de
mulher( bonita, feia, gorda, magra, velhas, brancas, negras),o sexo já não me interessava com
a mesma intensidade, pois ainda tinha contato com pornografia e através dela tinha os
melhores e mais intensos orgasmos, e foi a partir desse período que entrei na pornografia
"ESCROTA", buscava algo mais sujo e repulsivo possível ( estupro, revenge, bukake)
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Aos meus 19/20 anos encontrei a mulher da minha vida, em todos os sentidos, amei da forma
mais intensa e possível que um ser humano pode amar, nossa como eu a amava, o sexo com a
pessoa que você ama realmente muda você, eu tinha esquecido de vez a pornografia,
transávamos todos os dias de todas as formas em todos os lugares, ela sabia como fazer, mal
eu sabia que estava cultivando o maldito fetiche em minha cabeça.
Com o passar do tempo o desgaste da relação foi inevitável, brigas, ciumes, foi quando
lentamente comecei a voltar a pornografia, da mesma forma quando tinha 8, bem de leve, a
relação começava a esfriar, comecei a me aprofundar na pornografia até o ponto em que a
relação sexual com a minha mulher, a pessoa que mais amei em toda minha vida, esfriasse de
vez, começava o tormento em minha vida. Entre idas e vindas sem fim, pornografia rolando a
mil, ao ponto de eu desejar ver, minha namorada dando pra outro cara( Foi ai que comecei a
notar que tinha algo de errado com o uso da pornografia), o medo, a angustia me corroendo, e
eu sem saber o porque daquilo estar acontecendo. Foi então que tudo acabou, junto com a
minha vida, ela conheceu outra pessoa e acabou engravidando, minha vida tinha acabado.
Após o acontecimento citado acima entrei de cabeça na pornografia, nada mais importava,
comecei a ver pornografia das mais repugnantes que vocês possam imaginar, TODOS OS
TIPOS, me masturbava o dia todo e chorava a noite toda, saia com amigos conhecia garotas, e
toda vez que levava alguma garota pra casa eu brochava, inventava mil e uma desculpas para
as garotas, para mim aquilo estava acontecendo porque eu ainda amava minha ex namorada e
nunca conseguiria esquece-la , entrei em depressão profunda, foi então que meio q me veio
um estalo, pois nessa época eu estava me masturbando demais vendo videos cuckold, que era
uma coisa antes que eu nunca tinha me interessado.
Comecei a pesquisar sobre o vicio em pornografia, e achava apenas sites religiosos dizendo
para buscar a igreja todo esse papo clichê onde tudo e qualquer coisa é pecado( Obs: Sou
Cristão, acredito e oro todos os dias para me libertar), foi quando quase desistindo encontrei o
blog, li a pagina inicial, e vi os comentários, entrei no forum e comecei a ver alguns relatos, e
era como se eu estivesse contando minha historia em tópicos picados, meu coração se encheu
de alegria em descobrir o que me destruía por dentro e ver que muitos estavam conseguindo
se libertar e ter uma vida feliz. Li o e book inteirinho umas 3 vezes, gostava de ler a parte dos
relatos onde pessoas superaram o vicio maldito de PM.
Bati de frente com o vicio e não esperava o que estava por vir, nao conseguia passar 2 dias
sem me masturbar, ficava criando mentiras na minha cabeça do tipo "a só uma hoje e depois
eu paro", "a eu bati ontem mesmo entao nao perdi nenhum dia, nao custa bater uma hoje, ai
amanha eu paro" e isso durante um bom tempo.
183

Foi quando cansado de me martirizar e depois de perder uma garota incrível por conta de uma
DE, acordei pra realidade. Vi que se eu não agisse logo acabaria com a minha vida, foi
quando fiquei 8 dias sem me masturbar, isso entrando todos os dias aqui, reforçando meu
objetivo e lendo os benefícios e os males que essa desgraça traz a nossas vida. Acabei
recaindo, fiquei mal mais voltei com meu objetivo, e foi ontem depois de 7 dias sem PMO,
acabei recaindo denovo, meu mundo desmoronou e aqui estou.
Então a partir de hoje serei membro ativo do Blog, pois preciso de ajuda, não aguento mais
essa situação, sofro demais com isso e vejo que não estou sozinho nessa luta. Obrigado, vcs
realmente estão fazendo a diferença em minha vida e espero que eu tbem possa faze na vida
de vcs.
Espero que hoje seja o primeiro dia do resto de nossas vidas.
Quero deixar um agradecimento especial para o Projeto. Parabéns cara, vc é um exemplo para
todos nós, me espelho demais em vc e sei que um dia alcançaremos a gloria assim como vc,
ainda nos veremos na na área "Historias de sucessos" Laughing
Também quero deixar meu salve especial para os membros Theo becker, Nofapwinner, e the
great spirit, que foram os que mais me identifiquei e tive o prazer de ler topicos deixados aqui,
que realmente fizeram diferença em minha vida, obrigado meu amigos
Então é isso pessoal, amanha volto para dizer como anda o processo, e começarei a ser mais
participativo nos fóruns, obg a todos desde já, fiquem com Deus, e até logo.

28 D25: postagem de Paz em 06/01/2015 às 19h34m


Descobri a masturbação em 2005, esse diabólico vício na minha adolescência, através dos
meus melhores amigos. Antes eu era um adolescente alegre, cheio de amizades, extrovertido e
modéstia parte, eu sou um cara muito bonito, as minhas amigas e até desconhecidas nunca
perdiam a oportunidade de me bajular quando eu passava ou chegava. E como todos aqui, que
se interessam naturalmente por sacanagens com o sexo oposto, comecei a ver revistas e dvds
pornográficos com meus amigos de rua, esse foi o começo da minha destruição. A
pornografia é diretamente relacionada com a masturbaçao, como sabemos. Acontece que
depois que comecei com isso, aquele jovem que eu era, foi se degradando ao longo dos anos,
eu lembro que eu era muito extrovertido, cheio de vida, cheio de amigos e amigas, tanto na
escola quanto na igreja, no bairro. A minha infancia foi daquelas que ninguem pode acreditar
como eu me deixei levar por isso. Infancia em que meus passatempos eram jogar bola, bater
tazo, sair com os amigos pro clube. Mas com a chegada de um PC na minha casa e a
descoberta dessa combinação perversa, posso dizer que foi o inicio do meu fim. Eu era um
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adolescente muito legal, não tinha vergonha de nada, eu era um jovem tão ativo socialmente,
estudioso que voces nao podem imaginar. Quando descobri isso, posso dizer que comecei a
desenvolver medos de adolescente e ao longo dos anos fui desenvolvendo certos temores que
eu jamais imaginava ser fruto disso, passei a ter muita vergonha de estar exposto na sala de
aula, tanto no ensino fundamental como no médio, relacionamento com garotas foi ficando
cada vez mais escasso na minha vida, eu não sentia dignidade e intrepidez de me aproximar
delas, tanto para ter amizade como para namorar, fui desenvolvendo uma repulsa inexplicavel
ao sexo feminino. minha vida social foi se esvaindo ao longo dos anos ao ponto de que hoje,
nao tenho mais nada, nada mesmo, nem amigos. Meu unico e melhor amigo que restou nesses
ultimos anos se afastou de mim por achar que eu sou um gay enrustido... Fui perdendo o
interesse social ao longo dos anos, o interesse por estudar, trabalhar. Tive problemas pra
concluir o ensino medio por conta desse temor que eu sentia de me expor na sala de aula.Meu
unico interesse sempre foi estar em casa em frente ao meu lap top vegetando na internet. Hoje
eu sou uma pessoa fria, não me sinto com dignidade pra demonstrar sentimentos, evito
qualquer contato tanto com homem quanto com mulher a todo custo. Virei um procastinador
voraz, eu não me respeito. Nos ultimos tres anos, posso dizer que o vicio se intensificou de
uma forma demoniaca, antes eu me satisfazia apenas vendo um video sensual de um cara
transando com uma garota, ejaculando e pronto. Eu sempre tive recaída por bunda como todo
brasileiro, na epoca do colegio nunca perdia a oportunidade de falar da bunda das minhas
amigas e elas gostavam. Mas nos ultimos tres anos posso dizer que essa ''preferencia'' virou
obssessão e eu passei a pesquisar incansavelmente os mais variados sitios dessas produtoras
pornograficas que tangem essa parte das mulheres, nao passei a me satisfazer so com um
video, mas sim varios, antigamente eu apenas deixava o video de um cara com uma mulher
rolando e me masturbava tranquilamente ate chegar ao climax no final. Mas hoje não, sou
impaciente e frenetico eu só me satisfaço quando fico passando as melhores partes do video,
aquelas partes mais excitantes pra mim, em que essa parte do corpo delas fica mais destacada
no ato sexual. Tem video que eu so quero ver a parte da ejaculaçao do cara na bunda da garota
e ja partir pra outro. Durmo e acordo pensando nisso, fantasio as minhas amigas do face, as
atrizes da televisão, as garotas do meu whats. Tem dias que eu me masturbo até 3 vezes,
sempre aquela masturbação curta e insatisfeita com unico objetivo de sentir a sensação do
clímax o que me torna uma especie de ''bola insaciável de luxúria'' o dia inteiro. E no meu
caso é mais complicado porque bunda a gente vê a todo momento tanto na rua,na tv, nas redes
sociais, as mulheres e garotas estão cada vez mais ousadas nesse aspecto, voces sabem. É
muito tenso e as consequencias foram devastadoras na minha vida. Até, claro, encontrar esse
185

site com esse fórum que me deu um ar de luz no fim do túnel. Sei que posso parar, o meu
problema é o tédio e a falta de ocupação. Sempre que estou só sem ter o que fazer meu
refúgio é o computador e a masturbação. Nunca procuro atividade diferente e passo o resto do
dia frustrado e impaciente e mal-humorado com minha familia. Quando não faço, fico mais
produtivo, social, fico com vontade de sair de casa. Eu percebo isso no meu dia-a-dia mas
como um vicio de longo prazo, é complicado. Hoje foi meu primeiro dia off, e com todas as
informações que li até agora, quero ver qual será meu desempenho, espero relatar cada vez
mais melhoras e beneficios.
abraços amigos !

29 D26: postagem de sufista em 18/11/2015 às 19h14m


Boa noite.
Tenho 24 anos e sou viciado em PMO a 11 anos mais ou menos. Comecei quando achei
vídeos pornô no computador que era compartilhado pela família, provavemente percentiam ao
meu irmão mais velho. Isso foi um choque pra mim e imediatamente eu gostei e despertou um
interesse enorme por isso. A partir daí eu descobri o P. Com o passar do tempo fui entrando
no assunto de M e O e passei a praticar e fui viciando aos poucos. Na época já tinha internet
banda larga e já tinha achado fontes do material.
Hoje eu estou em uma situação que me envergonha muito. Me sinto sujo e completamente
arrependido por todo esse tempo perdido que pratiquei PMO. O pior de tudo, é que eu estou
praticando PMO com cocaína. Isso me faz ter dois problemas que quero me livrar, mas eu sei
que o problema mais grave é o PMO, isso que me leva a querer usar cocaína. Encontrei esse
site, li todo o material e não achei nenhum caso igual ao meu e eu estou precisando muito da
ajuda de vcs. Meu principal objetivo agora é acabar com o vício em PMO, assim eu tenho
certeza que vou acabar com o meu segundo vício. Estou aqui pra buscar ajuda apenas para
PMO que é o meu maior problema.
O meu motivo pra querer parar com esse vício, é que está me atrapalhando na vida
profissional. Eu me sinto completamente paranóico quando estou na presença de líderes, e
fico achando que eles sabem do meu problema, que eles sabem que eu pratico PMO e que uso
cocaína. O problema é que eu fico vermelho, não sei o que falar nem como agir. Hoje fui
convidado a tomar café com muitos líderes me observando, e eu comecei a ficar
completamente vermelho e com medo de pegar a xícara de café pq estava tremendo muito.
Apesar de eles estarem sentados em outra mesa e eu em outra com outro líder, eu fiquei
totalmente preocupado se eles estavam percebendo ou não o meu comportamento. Isso me fez
186

ficar muito envergonhado e com vontade de buscar outro emprego, pq acho que eles sempre
que me virem vão ficar lembrando de toda essa cena que está na minha cabeça.
Às vezes eu pratico PMO sem o uso de drogas. Ontem por exemplo eu pratiquei PMO e a
última vez que eu usei drogas foi a uma semana. Eu não consigo ficar um dia sem PMO. Às
vezes eu penso comigo mesmo que isso não é necessário, mas algo no meu cérebro me fala
pra eu ir praticar pq vai me aliviar e eu vou ficar mais tranquilo, mas não é isso que acontece,
sempre que termina eu fico com sentimento de arrependimento e depressão. O que eu mais
quero é conseguir me relacionar com as pessoas sem a paranóia de achar que eles sabem do
meu problema. Eu não consigo manter um relacionamento profissional e estou perdendo cada
vez mais a habilidade de aprender, de evolluir. Não sou mais ambicioso como antes e larguei
um monte de atividade que a tempos não faço mais. Sempre gostei de tocar baixo em bandas,
andar de skate e parece que essas coisas não tem mais graça, pra mim PMO é a única coisa
que está me satisfazendo, mas isso tudo é mentida, ilusão da minha cabeça, eu sei que é bom
no momento, mas depois eu me sinto um lixo, mas mesmo assim eu volto a fazer de novo e
não sei o pq. Eu quero resetar a minha dopamina, quero sentir vontade novamente de aprender
novas músicas e praticar algum esporte. Até quando eu to jogando e a minha performance é
baixa, eu sinto vontade de ir praticar PMO, quando alguém do trabalho faz alguma coisa que
eu não estou de acordo ou algo que eu fiquei irritado, eu sinto vontade de praticar PMO.
Quero sair dessa. Não quero mais ficar vermelho quando estou falando com alguém. Não
quero mais ter paranóia de achar que estão pensando mal de mim. Quero ter uma vida normal.
Eu quero nunca mais praticar PMO na minha vida.
Já tentei seguir os passos de ficar os 90 dias sem praticar PMO, mas eu não consigo passar de
3 dias. Ou eu durmo com tremedeira, ou no meio da noite eu acordo com tremedeira e surge
uma vontade muito forte. Queria orientações para que não acontecesse recaídas neste caso.
Eu namoro a 5 anos e amo minha namorada, ela é linda e transo com ela todos os finais de
semana, mas parece que isso não me satisfaz. Ultimamente eu diminui bastante a frequencia
de PMO, eu to numa fase de um dia sim, um dia não, às vezes fico quarta, quinta e sexta-feira
sem PMO e meu desempenho com a minha namorada é muito grande e ela fica feliz quando
eu ejaculo bastante, dá pra perceber; eu tbm fico mais satisfeito. Pensar dessa maneira, que eu
tenho que agradar ela, me faz sentir mais vontade de parar.
Espero que compreendam a minha situação. Cada um tem sua história, essa é a minha. Quero
me tornar uma pessoa melhor comigo mesmo.

30 D27: postagem de Sputnik em 14/09/2014 às 12h23m


187

Olá amigos, sou novo aqui. Tenho lido os relatos aqui no fórum e tomei coragem de dividir
minha história.
Tenho 40 anos de idade e agora vejo com clareza que passei muitos anos da minha vida, algo
como 10 ou 12 anos, absolutamente mergulhado num mundo fechado, dentro de mim. E só
agora entendo a causa principal desse problema.
Lembro-me bem agora, quando iniciei meu processo de enclausuramento havia apenas uma
coisa que me dava prazer: a pornografia na internet.
Naquela época a internet ainda era discada, fazia aquele barulho irritante antes de se conectar
de fato à internet, e era muito lenta, mas já existiam muitos sites ofertando pornografia
gratuitamente. De início, apenas me interessava por pornografia leve, mas com o tempo isso
já não bastava, e fui aos poucos mergulhando mais e mais fundo nesse mundo tão excitante e
solitário ao mesmo tempo.
Ainda nessa época, eu iniciava a minha vida profissional, e havia acabado de terminar meu
curso na universidade. E também vivenciava as minhas primeiras experiências afetivas, com
namoradas e ficantes. No entanto, o que realmente me excitava eram as imagens e vídeos
pronográficos que a internet me apresentava, gratuitamente, no momento em que eu quisesse,
a apenas alguns cliques de distância.
É claro que, como ainda era algo muito incipiente, tanto a internet quanto o meu vício – que
só agora sou capaz de compreender – não havia qualquer sinal claro de adicção. E mesmo
quando me parecia que havia algo de errado no fato de acessar a internet apenas para ver
imagens e vídeos pronográficos, eu imediatamente pensava que, ora, não havia problema
algum, pois me masturbar é algo natural e aquelas imagens eram apenas os estimulantes, nada
de mais, nada grave.
Namorei algumas meninas nessa época, com meus vinte e poucos anos de idade, talvez 2 ou 3
meninas por um período mais ou menos longo, e me recordo que com todas elas havia a
repetição de um comportamento sexual errático de minha parte, eu simplesmente não
conseguia gozar, ejacular. Às vezes até broxava. Realmente não entedia o porque, já que nada
disso ocorria quando eu estava à frente da tela do computador. Como eu poderia ter orgasmos
tão delirantes assistindo pornografia na internet e quando havia uma menina real eu não
chegava lá?
Aos poucos, conforme os anos se passavam, esse sintoma aparecia com mais frequência e eu
simplesmente fingia ter orgasmos, era como seu eu quisesse me livrar o mais rápido possível
daquela situação real para entrar rapidamente no mundo virtual da pornografia. E quando a
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menina ia embora da minha casa, lá estava eu novamente na frente da tela do computador, e


só então conseguia gozar.
Em alguns momentos durante estes 10 anos de vício em pronografia na internet (que volto a
repetir, só agora eu o reconheço), eu tomava a decisão de que teria que parar com aquilo e
então apagava todos os milhares de arquivos de imagem e vídeo que tinha. Mas isso durava
pouco, e logo eu voltava ao ciclo viciante.
Percebo agora que esse vício carrega consigo um elemento diferente de qualquer outro: ele
não é socialmente reprovável, principalmente entre os homens. Pelo contrário, muitas vezes
em conversas com amigos, quando o assunto era pronografia na internet, a sensação era de
que isso não representava qualquer problema, e até certo ponto era um comportamento
estimulado nessas rodas de conversa.
Quem poderia ser contra a busca pelo prazer sexual?
No entanto, depois de muito sofrer, principalmente pelas inúmeras perdas de oportnidade de
manter relações afetivas com meninas incríveis e lindas, notei que esse comportamento era a
principal causa destes afastamentos por parte delas. Não estou dizendo que era o único
motivo, até porque elas também devem ter suas questões, mas certamente, de minha parte, era
o principal motivo. É claro, elas percebiam que havia algo de errado, eu estava distante, eu
não estava lá quando estávamos transando, minha mente estava totalmente conectada às
imagens que meu cérebro estava acostumado a ver no computador.
E notei isso quando uma menina, ao terminar comigo, me escreveu que nós manifestávamos
nossos desejos sexuais de maneira muito diferente. Pronto! Por mais que ela não soubesse
dessa minha história, ela foi capaz de perceber, pelas poucas vezes que fizemos sexo, que
havia algo fora do lugar.
E foi aí, somente nesse momento, que me dei conta do quanto todos esses anos de pronografia
me transformaram num viciado, incapaz de obter prazer e sentir tesão com uma mulher real.
Certamente muitos outros aspectos da minha vida foram afetados por esse vício. Mas sem
dúvida alguma, o aspecto mais afetado foi a minha vida afetiva… Não só com as namoradas,
mas também com amigos e família. Me mantinha distante dos amigos e da família, só queria
estar em casa pra assitir pornografia na internet.
Passei então a pesquisar o assunto na internet e encontrei inúmeros, centenas, de depoimentos
de pessoas (em sua grande e esmagadora maioria homens) no mundo todo que estão na
mesma situação. Muitos conseguiram sair deste processo auto-destrutivo. Percebi, nesses
depoimentos, que muitos dos sintomas que eles relataram são idênticos aos meus.
189

Encontrei na internet um neurocientista americano que é um dos pouquíssimos profissionais


de saúde que tem se debruçado sobre este assunto, que eu julgo ser uma epidemia masculina
da era da internet rápida. Gary Wilson, por ser neurocientista e fisiologista, demonstra
cientificamente como os mecanismos da fisiologia e química cerebral se transformam e se
adaptam quando alguém está viciado em pornografia na internet. E também aponta as
soluções para aqueles que querem se livrar desse vício.
E foi então que resolvi parar, de uma vez por todas, com a pronografia na internet. Eu
realmente quero ser feliz. Completei 1 semana sem pornô e masturbação.

31 D28: postagem de tiago_fernando em 22/01/2015 às 06h49m


Sou novo aqui, vou postar o relato do meu reboot, que começa hoje, pois ontem foi a gota que
faltava pro copo transbordar na minha vida, e percebi que estava MESMO no fundo no poço
em relação ao vício em PMO.
Ontem aconteceram "3 sinais" que eu estava indo longe demais e resolvi dar um basta. Que eu
tinha um sério problema já sabia de longa data, tenho 36 anos, casado a pouco tempo,
comecei ver pornografia na era pré-internet, material "analógico" e escasso, famosas
revistinhas com páginas grudadas, enfim... Devo ressaltar que na minha casa meio que tinha
bastante material a disposição, nada muito pesado, mas meu pai colecionava aqueles
posters/calendários de borracharia (famosas "folhinhas") e pra mim era até normal ver foto de
mulher com seio a mostra (mas nunca a parte de baixo) desde criança, e comecei a me
masturbar com uns 12 anos, vendo especies de cards/mini-calendários de propaganda que
davam de brinde por ai, alguns eram fotos de gatinhos ou paisagens e outros de mulheres nuas
(acho que não existe mais isso), essas sim mostravam a mulheres totalmente nuas, foi meu
primeiro PMO, fiquei todo contente, pois os amiguinhos mais velhos diziam que aquilo era
ótimo e "pra ser homem" você tinha que fazer.
Bom, material era escasso, mas talvez uma benção, até catalogo de lingerie excitava, se
tivesse acesso a uma simples playboy da época então, era material para PMO por semanas, e
assim foi, depois as "revistinhas suecas" como diziam e assim foi toda uma adolescencia, por
ser timido, nerd e sem jeito com garotas, fui perder a virgindade com 19 anos, e a primeira
vez foi uma transa "meia bomba" como era de se esperar (mas eu não sabia na época), depois
as próximas ficaram melhores em relação a ereção, mas desde sempre tive ER, a ponto da
menina achar que não estava gostando e até reclamar da "demora". Lembro que mesmo sem
ter muita noção eu já desconfiava que o excesso de PMO fosse o motivo da ER e umas 3 ou 4
vezes cheguei a juntar todo meu material (chegava a encher um saco de lixo) e descartar por
190

ai. Mas como eu já ganhava meu dinheiro, acabava adquirindo material novo em pouco
tempo.
Nessa mesma época veio a internet discada, fiquei viciado em chats sobre sexo, eu chegava do
trabalho as 18 e ficava conectado até as 22 direto, pagava uma baba de conta de telefone e
ouvia minha mãe reclamar que aquilo era um vício. Varias vezes fui "flagrado" durante o ato,
tentava disfarçar mas era óbvio o que estava fazendo, toda noite, durante horas a fio.
Arrumei outra namoradinha, novinha e bonita, a primeira vez com ela também foi "meia
bomba" mas creio que pelo nervosismo, depois foi normal e com ER como sempre, até que
após uns anos a relação começou esfriar, ela já não gostava mais de transar a todo instante
como todo adolescente, eu também não me importava, já que a PMO me dava mais prazer do
que o sexo real, chegava ao cumulo de ir com ela pro motel e ficar mais excitado com a idéia
de ter a disposição o canal pornô na tv do que na transa com ela, varias vezes acontecia de dar
uma meia boca com ela, e quando ela pegava no sono, eu colocava no canal porno e me
masturbava, ai sim ficava satisfeito. Outras vezes quando dormia na casa dela de fim de
semana, as vezes ficava agoniado, esperava ela dormir e mandava um PMO usando o pc dela
mesmo (hoje escrevendo isso percebo como soa até ridículo), mas após tantos anos de namoro
ela meio que passou a refutar o sexo, e eu usava isso como desculpa para o meu exagero de
PMO. Ahh foi ai que também comecei a frequentar "inferninhos" para uma rápida aliviada, o
pior de tudo era que com "elas" eu não tinha ER, pelo contrario, acabava que eu sempre ia
quando o tesão estava a mil, e como eu ia nos baratinhos onde não rola nem preliminares, eu
encarava aquilo uma PMO, onde o P. seria "ao vivo", nossa, cada baranga e atingia o orgasmo
em poucos minutos, não dava pra entender
Quando terminei o namoro e comecei sair com meninas de sites de encontro da net, e voltava
ao problema da primeira vez ser "meia bomba" pelo nervosismo, então pra garantir passei a
consumir sidelnafila (generico do viagra quando ficou barato) e isso só piorou a coisa, pois
também "viciou" psicologicamente, ou seja, sempre tomava um antes do encontro "pra
garantir"
Quando conheci minha atual esposa, as primeiras vezes também foi na base do azulzinho, mas
com o tempo consegui me "desintoxicar" e ter ereção normalmente, mas desde a época do
namoro, morar junto e casamento, devo contar nos dedos as vezes que consegui atingir o
orgasmo apenas com penetração. O pior, ela é louca para engravidar, mas desse modo fica
dificil, ela nunca comentou, já vi no historico do navegador dela buscas no google
questionando se é possivel engravidar sem ejaculação, e já tentamos um tratamento com
inseminação (ela percebeu que por meios "naturais" não iria rolar), mas não deu certo
191

também, quando o médico pedia pra fazer espermograma e tinha que abster de
sexo/maturbação por 3 a 5 dias era minha maior agonia, acaba apelando pra tecnica do Edging
para conseguir.
Já havia visto o video do Gary Wilson, faz pouco mais de um ano inclusive, por indicação de
um forum nerd onde as pessoas discutiam dicas para melhor aproveitamento de
estudos/carreira, uma das dicas de ouro foi parar de ver pornografia e se masturbar no pc, dai
postaram link do video e do topico NOFAP do reddit, eu lembro que assisti esse video já de
madrugada e fiquei até sem dormir de tantos pensamentos, parece que acendeu uma luz no
fim do tunel, mas não lembro se o tópico do tal forum descambou pra zueira e foi deletado e
acabei largando isso pra lá
Meu vicio em PMO era tanto que eu trabalhava a manhã toda ao mesmo tempo que ficava
vendo P. no trabalho, as vezes gravava videos no celular e ir pro banheiro "me aliviar", mas o
pior era que como morava perto e almoçava em casa, então todo dia eu praticamente engolia a
comida o mais rápido possível e ia pro pc visitar os sites usuais e mandar um PMO, as vezes
não conseguia atingir o orgasmo e voltava com raiva para o trabalho
Voltando aos "3 sinais" que comentei no inicio, atualmente estou desempregado e de férias da
faculdade onde faço uma segunda graduação (e não consigo foco nos estudos pela PMO),
então acabo ficando o dia todo em casa, sozinho, no ócio (até deveria aproveitar pra estudar
ou resolver outros assuntos pendentes), mas fico o dia todo na frente do pc vendo P. e me
masturbando, se pra um adolescente já não é normal, imagina um homem com família, minha
esposa chega em casa a noite, fico um pouco com ela e logo volto pro pc e fico até de
madrugada vendo P. e consersando com mulheres (eu não traio, apenas falando obscenidades
e recebendo fotos para me masturbar, já que até P. comum perdeu a graça e preciso de coisa
mais real)
1º Sinal - Acabei baixando de bobeira um documentario chamado "[GNT]
Porn.on.the.Brain.2013.docsPT" (alias é o nome do arquivo para quem quiser procurar por ai),
ontem resolvi assisti-lo e foi outra explosão no cérebro igual do video do Gary Wilson,
recomendo a todos aqui que assistam (posso tentar compartilhar se quiserem, esta legendado),
a coisa foi tão impactante que parei o documentario na metade e fui pro pc fazer uma busca
por ajuda, o que me leva ao segundo sinal
2º Sinal - Quando assisti o video do Gary Wilson ano passado e ver na discussão lá do forum
que tinha mais pessoas na mesma situação, pensei em criar um forum espeficico pra isso, na
época não havia encontrado nenhum em português, mas acabei deixando de lado, e ontem
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rapidamente encontrei esse aqui e fiquei maravilhado, li os relatos, resolvi me cadastrar e aqui
estou
3º Sinal - Logo após me cadastrar iria escrever meu relato, já deletei algumas contas que
possuia em sites de P. (inclusive pagos), mas já estava tarde e queria fazer com calma, minha
esposa já dormia, mas eu estava sem sono, então peguei meu iPad e por acaso abri o historico,
e vi uma busca que ela fez, questionando o desinteresse do marido, e algo como "meu marido
fica o tempo todo no computador" e os sites que ela andou lendo, com MUITAS mulheres
relatando o mesmo, ai sim ISSO pra mim foi a gota, ou seja, não era apenas eu que estava me
sentindo mal por perder tanto tempo com PMO, estava afetando a vida de outra pessoa, talvez
no longo prazo (ou mesmo curto) levaria ao divorcio ou traição
Bom, é meu primeiro dia, estou bastante motivado, mas ao mesmo tempo tentado a ver P. ou
conversar com as mulheres que tenho contato, mas eu PRECISO mudar, vou passar a deixar o
pc desligado, dar um tempo até de facebook pessoal, pois sempre tem imagens que disparam o
gatilho (hj mesmo foi uma amiga de bikini), não ter outro jeito, vou ter que instalar um
bloqueador aqui pra não me sabotar
Só estou morrendo de medo da tal Flatline, dia desses já tive um começo de DE ao tentar
fazer sexo com a esposa, na verdade perdi a ereção no meio da relação, e que isso possa piorar
ainda mais minha relação com ela que pelo visto não anda nada boa

32 D29: postagem de Fabsjoia em 07/04/2015 às 23h02m


Minha história não é diferente da de muitos, mas quis fazer esse tópico para fazer um relato
acompanhado. A história é um pouco longa e recordo toda minha vida sexual e minha relação
com PMO, tudo isso pra entender o buraco que me enfiei e me levou à DE. Se tiver paciência,
leiam.
Eu tenho 35 anos e a pornografia e a fantasia sempre acompanharam minha vida sexual. Aos
12 anos fui apresentado à pornografia por um amigo antes mesmo de eu descobri a
masturbação. Adiquiri um hábito deste amigo: olhar e fantasiar para todas as mulheres. E
assim começou minha adolescência.
Dos 12 aos 18 anos eu tive uma vida afetiva e sexual frustrante. Não ficava com as meninas,
não namorei. Perdi a virgindade com uma prostituta aos 15 anos e, talvez intimidado, tive
dificuldade de ereção. Mas me masturbava MUITO, geralmente fantasiando no banheiro ou
assistindo TV. Lembro que atrizes e Vjs da MTV me excitavam e eu me masturbava. Era todo
dia! Aos sábados eu fazia plantão para assistir o Cine Privê. Me masturbava vendo os filmes,
193

mas tentava segurar o orgasmo para o fim do filme. Até o fim eu me masturbava, sem
orgasmo, vendo todas as atrizes.
E, por ter uma criação e uma vida religiosa (católica), me sentia muito mal com a
masturbação, vista como pecado.
Aos 19 anos tive minha primeira namorada. Era só beijar pro pau ficar duro como pedra.
Depois, aos 21 anos, fui namorar outra garota: muita excitação, ereção direto. Na sequência
namorei outra. Mesma coisa: excitação direto, só de elas me tocarem o rosto. Mas forma
namoros rápidos com pouco sexo, ams com MUITA ereção kkk
Aos 22 tive minha primeira grande paixão. Tive uma relação de 3 meses. mas era uma
loucura. Me excitava só com o beijo, em sentir a presença dela. Ereção direto e nos fim de
semana sexo 3 a 4 vezes por dia. A relação terminou e as outras (e poucas) meninas que fiquei
até o namoro seguinte, me excitavam muito só de beijar e o sexo rolava uma maravilha. Muita
ereção.
Apesar da vida sexual, sempre corria riscos para ver pornô na internet ou entrar em chats:
entrava no trabalho, na faculdade, com minha família circulando em casa...ou seja, era meio
descontrolado, apesar de ser menos frequente por falta de acesso, Mas sempre que tinha
acesso, lá estava eu vendo porno ou fantasiando via chat.
Enfim, aos 23 anos namorei outra garota, apesar de ter tido um sexo meio bomba da primeira
vez com ela, o resto foi excitação pura. Depois aos 24 anos namorei outra, que me negava
sexo. Fiquei com ela 5 anos! E, nessa época, via Internet, me afundei na pornografia, o que foi
motivo de muitas brigas.
Depois do término fiquei um ano sozinho e fiz sexo com 3 mulheres. Duas delas foram sexo
meia bomba, a terceira foi legal.
Como dá pra perceber, quanto mais aumentava a pornografia na minha vida, mais dificuldade
eu tinha em ter relações sexuais sem DE. entrei em um grupo de viciados em sexo (alguns
eram em pronografia, outros eram viciados em sexo real), me ajudou, mas não conseguia me
controlar e, me parese, o terapeuta desconhecia a natureza do vicio em PMO e sua gravidade.
Em 2010, aos 30 anos, aconteceu um relacionamento em que a pornografia seria um grande
problema. A garota, muito ciumenta, descobriu meu gosto pela pornografia e começou a me
infernizar. Por mais que eu tentasse me controlar, não conseguia. Só que tinha uma coisa: com
ela, durante 3 anos, não tive DE uma só vez! e era muito sexo.
MAs era muita briga, pois ela entrava no meu histórico de internet e, mesmo se eu apagasse,
ela tinha macetes (ela era gênio em computador) pra ver as páginas que eu tinha visitado. O
fato é que ela me achava um perverso e eu me sentia mal por isso. Muito mal. emagreci,
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ganhei gastrite e algumas brigas com ela - literalmente - quase me mataram. Ela bebia e
pirava. Ai começamos a ver pornô juntos e a coisa ficou mais doentia. Enfim, ela jogava na
minha cara que eu era pervertido, psicótico e eu abraçava isso no meu íntimo. Enfim,
terminamos. Ela queria voltar e sempre que me ligava, me provocava e eu ficava com ereção
forte. Tivemos um revival e só o beijo dela fazia subir o pau.
Enfim, como ela me fazia mal a isolei e nunca mais vi. Saí traumatizado com tudo isso. Tive
fobia, pânico, depressão. Emagreci, fiquei detonado...
Dois meses depois conheci uma garota que considerava das mais lindas que já tinha visto. O
sexo, nas primeiras vezes, foi meia bomba e nem havia reação lá embaixo quando ela me
beijava. Estava sem pornografia desde o fim do relacionameno anterior. Libido zero. Não
tinha muita sensibilidade na penetração. Durante duas ou três semanas fiquei assim. Na quarta
tive uma DE barra pesada e nada fazia o camarada subir. No dia seguinte a mesma coisa.
parecia um pesadelo. ai tomei viagra. Com viagra conseguia ereção sempre, mas demorava a
gozar. Pouca sensibilidade. Em um ano de namoro comecei a ter mais tesão por ela, mas em
muitas poucas vezes, ereção espontânea e quando rolava era meia bomba. Rolou sexo
algumas vezes sem viagra, mas com ereção mais forte umas pouquíssimas vezes. Eu, durante
um ano desse namoro, rolava com alguma frequência PMO, mas só me tomava MUITO
TEMPO, nas épocas de pior angústia. Achava que era baixa auto-estima e ansiedade que
geravam a DE, não a pornografia. Meu psicólogo dizia que era a ansiedade, meu psiquiatra tb.
enfim, o sexo era bom, mas tinha medo de abrir mão total do viagra. O relacionamento acabou
com uma traição dela, o que levou mais pra baixo ainda minha auto-estima. Durante 3 meses
encontrei umas 6 mulheres (RJ é foda) e fazia sexo com viagra. Até que conheci minha
namorada atual com quem estou há 3 meses. E há três meses também conheci este fórum.
Desde então, junto com o namoro, comecei o reboot. No início, ereção zero. A primeira vez
foi uma lástima. Ai voltei ao viagra. Com o tempo a coisa foi melhorando e comecei a fazer
sexo sem viagra, mesmo com ereção mais fraca. Muitas vezes pra gozar tinha que imaginar
pornografia, senão, não gozava. Às vezes a ereção rola legal, mas eu preciso estar me
manipulando. É como se a mão dela não conseguisse me excitar e como se nossos amassos e
beijos surtissem pouco efeito.Hoje, não preciso mais imaginar P pra gozar, mas no início com
ela, precisava pensar em P.
Numa época, parecia que eu tinha voltado quase ao normal, mas semana passada tive umas
baixas e às vezes transo tenso, com medo de falhar. Depois desses três meses de namoro (90
dias) e sem PMO (apesar de ter fantasiado P. algumas vezes pra conseguir gozar), eu me sinto
melhor. A presença de mulheres me gera curiosidade, atenção, fico meio assanhado...mas as
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ereções continuam meio difíceis, apesar de rolarem. De vez em quando ainda tomo viagra,
quando tenho medo de falhar. No fim de semana ela pareceu meio aborrecida com o tipo de
sexo que vínhamos tendo (sempre na mesma posição, pois se quiser variar muito, tenho medo
de falhar), e fizemos outras coisas. Foi bem legal e sem viagra.
eu já melhorei muito, mas meu sonho é voltar totalmente ao normal. Hoje, me sinto curado da
PMO, mesmo! Mas quero me curar totalmente da DE. Acordo excitadaço, ou seja: não é
problema orgânico.
Quero um dia vir aqui e relatar que estou curado da DE. Confesso que isso tem me
preocupado. MAs tenho Fé porque, em dois anos, pela primeira vez me sinto não totalmente
dependente do viagra.
Mas eu identifico algumas cousas da DE. Talvez seja uma soma de causas:
1.PMO
2.Baixa auto-estima
3.ansiedade de desempenho
4.medo de falhar
5.trauma, já que ela apareceu depois do fim traumático com aquela ex que tornou minha vida
um inferno com ciúmes da PMO.
Mas no fim das contas sei que a PMO atravessou tudo isso. Foi um anestésico à auto-estima
baixa desde o início da adolescência (poderia fantasiar com a PMO coisas que não vivia na
realidade. dificuldade com mulheres e tal...), meus medos de falhar e não ser bom o bastante e
etc. A PMO virou válvula de escape para qualquer frustração. Por fim, ela virou motivo de
tormento na pior fase da minha vida, dado que minh ex usava a minha PMO como
justificativa pra dizer que eu era o maior lixo humano da TERRA.
Hoje, sem PMO, me sinto mais focado, mais livre, menos angustiado, menos ansioso e mais
esperançoso! MAs quero ficar totalmente curado da DE e, se possível, gostaria de ouvir
relatos sobre curas de DE.
Farei disso um diário e sempre relatarei aqui meus avaços.
Abraços
FABSJOIA

33 D30: postagem de Alexandre em 18/02/2015 às 14h17m


Olá pessoal.
Tenho 37 anos. Casado com uma mulher incrível e pai de dois filhos maravilhosos.
196

Descobri este Fórum hoje curiosamente umas duas horas após ter me masturbado no banheiro
do meu escritório assistindo videos pornográficos.
Faço uso da pornografia desde a adolescência e agora finalmente entendi que foi o meu vício
em pornografia que me fez tanto mal por mais de 25 anos.
Sem dúvidas acredito que atualmente estou no fundo do poço.
Não tenho motivação para o trabalho e nem para as relações interpessoais, apesar de ainda ter
um trabalho acredito que se eu não parar com a pornografia, as coisas não vão durar de pé por
muito tempo.
A procrastinação faz parte da minha vida em tudo, sinto aquela preguiça desgraçada e uma
falta de vontade de fazer as coisas.
Só quero saber de ficar sozinho, e quando isso acontece, lá estou eu vendo pornografia no
meu celular.
Tenho vergonha de tanta coisa degradante que já fiz para assistir pornografia e me masturbar.
Até assisti videos e me masturbei perto da minha filha que dormia ali no sofá. É vergonhoso.
Meu vício começou na década de 90, quando por acaso eu encontrei algumas revistas
pornográficas rasgadas jogadas na rua. E por incrível que pareça, vira e mexe eu sempre
encontrava alguma imagem de sacanagem jogada na rua. Isso foi despertando a minha
vontade de me masturbar e com certeza foi o inicio do meu vício em pornografia e
masturbação.
Para se ter uma ideia de como a pornografia foi ruim para mim, é que até os 25 anos eu ainda
era virgem. Ou seja, era tímido e não gostava de me socializar, preferia ficar sozinho no meu
canto vendo pornografia e me masturbando. Isso com certeza foi o motivo que me levou a
ficar tanto tempo virgem.
Aos 25 anos, recém formado mudei de cidade e de estado, sai da casa dos meus pais para
enfrentar um desafio novo na vida profissional, mais a pornografia sempre me acompanhou.
Com 25 anos e morando sozinho, finalmente transei, foi com uma garota que conheci em um
ônibus de transporte publico. Este relacionamento não durou muito tempo, pois eu tinha e
tenho sérios problemas de relacionamento, tenho um temperamento muito difícil.
Conheci outras mulheres e digamos que "aproveitei" muito bem a vida até conhecer minha
mulher atual, 3 anos depois. Namorávamos quando ela ficou grávida da minha filha e ai nos
casamos. E mesmo tendo casado e com filha, ainda assim eu continuava vendo pornografia e
me masturbando, mesmo tendo uma mulher tão linda na minha cama. Minha vida de recém
casado não foi nada fácil. Muitas brigas, acredito que sempre por minha falta de paciência e
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compreensão. Pois acredito que a pornografia me fez ver minha mulher como um simples
objeto.
Passaram se 7 anos e agora nasceu meu segundo filho, um meninão lindo. E mesmo com
todas estas coisas boas acontecendo eu ainda continuo viciado em pornografia e masturbação.
Já perdi o controle, não consigo parar, já tentei algumas vezes, geralmente quando estou
trabalhando muito, até consigo ficar alguns dias sem, mais são no máximo uns 3 dias.
Agora realmente vejo que estou me afundando. Não cuido de mim direito, não trato bem meus
familiares, estou muito explosivo e sem paciência, não consigo me concentrar direito, não
tenho motivação para nada e a procrastinação toma conta do meu ser.
Já está difícil sentir tesão, de tanta pornografia que eu já vi em toda a minha vida, atualmente
passo muito tempo até encontrar uma imagem ou vídeo que me atraia. Cheguei ao ponto de
me exitar agora somente com videos de troca de casais.
É humilhante mais atualmente o que mais me excita é ver videos de CUCKOLD, ou seja,
aqueles videos onde o marido filma sua mulher transando com outro ou outros caras.
Preciso mudar. Preciso sair dessa.
Nunca contei estas coisas para ninguém antes, e estou encarando esta postagem aqui neste
Fórum como uma "terapia" que espero, vá me ajudar a parar com o vício em pornografia e
masturbação.
Amo minha esposa, meus filhos e minha família. Eles merecem que eu seja uma pessoa
melhor.
Preciso parar, vou conseguir.
Obrigado a todos.

34 D30.1: postagem de The Great Spirit em 18/02/2015 às 16h14m


É incrível como à PMO tem sido um vicio silencioso que têm destruído tantas pessoas (eu
inclusive) ao longos destas últimas décadas!
Ela vem e pega pessoas de todos os tipos e idades! Preto, branco; alto, baixo; rico ou pobre,
feio ou bonito; homem ou mulher, hétero ou homo; ateu ou religioso... enfim, ela pega
qualquer um que não estiver atento às suas garras mefistofélicas!
E o pior é que ela vem como algo inocente! "Ah! Que mal tem ver só uma mulher nua? Não
vai me fazer mal... e vai ser apenas por hoje também..." E quando vemos este "hoje" se
transforma em dias, meses, anos e depois incríveis décadas! E a "inocente mulher nua" depois
se desenvolve para os mais terríveis conflitos internos, externos, pessoais, inter-pessoais,
familiares e/ou profissionais! Sem contar que à mulher nua depois fica muito insossa e
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procuramos os mais variados gêneros de pornografia; muitos chegando até à Zoofilia e outras
formas às mais bizarras de buscarmos o prazer! Pois o cérebro fica cada vez mais exigente
nos seus processos de busca de Dopamina!
É incrível o seu relato e nos faz pensar o quanto este vício é miserável e degradante!
Quando eu cheguei neste Fórum, em minha mente eu era o único com o problema do vício em
pornografia, masturbação e orgasmo! Ah, ledo engano!
Hoje acredito que deve passar do Bilhão o número de pessoas envolvidas nos processos
viciantes da pornografia em toda à Terra! Por se tratar de um vício que age silenciosamente,
muitos nem sabem que estão viciados!!
Seja bem-vindo à este Fórum! Veja todos nós aqui como Irmãos de Caminhada e Entre-
Ajuda! Pois todos aqui têm ou já tiveram este problema! Só não caminhe sozinho neste vale
de sofrimento do vicio da PMO! Juntos somos mais fortes e capazes!
Verá que seu caso, por mais surpreendente que pareça, muitas vezes não será nada perto de
outros ainda mais incríveis, doloridos e tristes!
Hoje ainda vejo meu caso grave, mas não foi quase nada perto de casos mais extremos de
outras pessoas que até apelaram para à tentativa de suicídio!
Por isso leia o E-Book deste Fórum! Instale o Contador para um auxílio moral e instale os
Bloqueadores para um auxílio técnico e psicológico! Absorva todo o conteúdo que puder
deste Fórum, pois isso irá te fortalecer muito como tem fortalecido cada vez mais à todos nós
aqui desta Família!
Conte com todos nós para ganhar força e superar este vício!
Os benefícios sem á PMO virão e são incríveis!
À Cura é possível!!
Sem o lixo da PMO na sua Vida e na sua mente, você voltará à desejar sua mulher como
nuncas antes. À fará mais feliz! Você também será mais feliz e leve por estar limpo deste
vício miserável e será mais amoroso, terno, perspicaz! Seus filhos se sentirão melhor quando
sentirem às suas renovadas energias e você poderá amá-los ainda mais com um coração
limpo, mais sábio e com uma mente brilhante!
Tudo em sua Vida começará à melhorar!
No trabalho maior disposição e alegria!
Com as pessoas ao seu redor maior bom-humor, paciência, tolerância, compreensão e
respeito!
Dê uma chance ao Reboot, pois só vejo Luz neste Caminho!
Bom, por enquanto eu fico por aqui!
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Lhe desejo Força e Fé na Caminhada e estamos todos juntos!


Avante Guerreiro!
Um abraço!
Paz e Luz!
Namastê!

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