Dependencia Emocional PDF
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2016v7n1p77
Resumo
A dependência emocional é um transtorno caracterizado por comportamentos aditivos
em relacionamentos amorosos. Entretanto, ainda há debate se esta dependência seria
considerada uma patologia, como denominá-la e quais sintomas a definiriam. Assim, o
presente estudo visa realizar uma avaliação sistemática da literatura acerca do tema,
revisando artigos anexados nas bases de dados Scielo, Portal de Periódico CAPES e
Google Acadêmico, publicados entre 2000 e 2014. Após uma análise criteriosa, foram
selecionados 20 estudos. Os resultados mostraram que a dependência emocional é
definida como um transtorno aditivo, no qual o indivíduo necessita do outro para
manter seu equilíbrio emocional. Sua etiologia está relacionada ao desenvolvimento do
apego na infância, além de fatores culturais e filogenéticos. Os tratamentos indicados
são: terapia individual, terapia grupal, grupos de apoio e livros de autoajuda. Algumas
inconsistências entre os estudos são discutidas, apontando a necessidade de mais
estudos na área a fim de elucidar estas questões.
Palavras-chave: Dependência Emocional; Dependência Afetiva; Dependência de
Relacionamentos; Dependências Genuínas.
INTRODUÇÃO
MÉTODO
RESULTADOS
componentes proposto por Livesley (Gude, Hoffart, Hedley, & Rø, 2004),
agressividade (Kane et al., 2000), timidez (Myers, Dilks & Marceaux, 2007) e
traços do modelo dos Cinco Grandes Fatores (Rubinstein, 2007). É importante
ressaltar que estes objetivos se referem muitas vezes ao mesmo artigo, já que
algumas publicações possuíam mais de um objetivo.
Apesar de utilizarem praticamente a mesma definição, os trabalhos
divergiram quanto à nomenclatura utilizada. O termo mais empregado foi
dependência emocional (9), seguido por dependência interpessoal (3),
Transtorno de Personalidade Dependente (3), dependência amorosa (2), amor
patológico (1), amor obsessivo (1) e dependência nos relacionamentos (1).
Todos os autores que definiram a dependência emocional afirmaram que o
indivíduo com este transtorno necessita do outro para estabilidade emocional
(Hoogstad, 2008; Izquierdo Martínez & Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010).
Por outro lado, Arntz (2005) distinguiu os conceitos de dependência
emocional e dependência funcional. A primeira seria caracterizada como uma
necessidade de ligação emocional e um senso de cuidado com o outro. Já o
dependente funcional poderia sentir-se incapaz de cuidar de si mesmo,
necessitando de uma pessoa mais forte da qual possa depender. No entanto,
ambos conceitos dizem respeito a uma relação afetiva patológica e dependente.
Quanto à etiologia, os autores (Hoogstad, 2008; Izquierdo Martínez &
Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010) parecem concordar quanto à influência do
desenvolvimento afetivo durante a infância nas relações amorosas futuras.
Hoogstad (2008) afirma que é necessário que a criança cresça em um ambiente
afetuoso e seguro, com aceitação incondicional, para que consiga desenvolver
sua identidade de forma sadia. Assim, o apego, como comportamento aprendido
durante a infância influenciaria nos relacionamentos da vida adulta, podendo
levar o indivíduo a desenvolver relacionamentos sadios ou disfuncionais de
acordo com a forma com que aprendeu a se apegar (Izquierdo Martínez &
Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010).
Três estudos procuraram verificar a relação entre os estilos de apego e a
dependência emocional. Encontrou-se uma correlação positiva entre o apego
preocupado e a dependência emocional (Alonso-Arbiol et al., 2002; Franco &
Aragón, 2008) e entre o apego ambivalente e a dependência emocional (Ahmadi
et al., 2013, Sophia et al., 2009). Já aqueles indivíduos não diagnosticados com
dependência emocional apresentaram predominantemente o apego seguro
(Sophia et al., 2009). Entretanto, Alonso et al. (2002) afirmaram existir uma
forte correlação negativa entre o apego evitativo e a dependência emocional,
enquanto que Franco e Aragón (2008) sugeriram existir uma correlação forte e
positiva entre estes dois construtos.
Dois fatores que também podem contribuir para o desenvolvimento da
dependência emocional estariam relacionados aos níveis de seleção filogenético e
cultural. O primeiro seria o componente neurobiológico, que explicaria a
DISCUSSÃO
devem ser submissas aos seus maridos, satisfazendo todos os seus desejos
(Charkow & Nelson, 2000). Além disto, o modo como as relações amorosas são
retratadas na mídia e na literatura também acabam por reforçar os padrões
patológicos da dependência emocional (Norwood, 1985; Sussman, 2010). Dessa
forma, os fatores culturais, muitas vezes, levam os indivíduos a almejar
relacionamentos dependentes, ou então, quando os vivem, acreditam que esta
dependência seja “normal”.
Apesar desta grande influência cultural no desenvolvimento e manutenção
do transtorno, os estudos revisados mostraram que a dependência emocional
deve ser entendida como um transtorno multifatorial, sendo influenciada
também por fatores neurológicos e psicológicos. Pesquisas recentes têm
investigado sobre as bases neurológicas do amor, encontrando que estas se
assemelham aos mecanismos envolvidos na utilização de substâncias psicoativas
(Fisher et al., 2005; Vasconcelos et al., 2002). Por outro lado, a vivência familiar
e os estilos de apego aprendidos também contribuem com a dependência
emocional (Feeney & Noller, 1990; Hazan & Shaver, 1987). Izquierdo Martinez e
Gomes-Acosta (2013) e Sussman (2010) afirmam que os estilos de apego
aprendidos durante a infância seriam repetidos na idade adulta, sendo
predominante na dependência emocional o apego preocupado (Alonso-Arbiol et
al., 2002; Franco & Aragón, 2008) e o apego ambivalente (Ahmadi et al. 2013,
Sophia et al. 2009). Em ambos, é predominante a visão negativa de si mesmo e
a positiva de outros (Bartholomew & Horowitz, 1991; Bartholomew & Shaver,
1998). Indivíduos com estes padrões de apego apresentam maiores índices de
culpa em situações de rejeição social, e cuidados e envolvimento excessivo com
o outro (Bartholomew & Horowitz, 1991). Assim, uma disfunção nos mecanismos
neurais ou a sua junção com outros fatores, como o ambiente familiar, os estilos
de apego e a cultura poderiam levar o indivíduo a estabelecer relações
patológicas.
Os comportamentos autodestrutivos e as comorbidades também parecem
fazer parte do quadro de dependência. Deste modo, a dependência emocional
pode estar associada a transtornos alimentares, transtornos ansiosos,
somatizações e depressão (Arntz, 2005; Bornstein, 2012). Além disso,
aumentam as chances de o indivíduo cometer suicídio ou para-suicídio, que
ocorreriam na tentativa de impedir o abandono por parte do parceiro, mostrando
sua vulnerabilidade, impulsividade e baixa tolerância à frustração, características
próprias dos dependentes emocionais (Bornstein, 2012).
Neste sentido, um tema bastante comum encontrado nos artigos
analisados foi a violência. A dependência emocional seria um dos fatores de risco
para a violência, principalmente a doméstica (Bornstein, 2006, 2012; Charkow &
Nelson, 2000; Kane et al., 2000). Aparentemente, homens que são
emocionalmente dependentes de suas parceiras tendem a desempenhar mais
frequentemente o papel de abusadores, enquanto que as mulheres dependentes
a pouca atenção dada pela Psicologia e Psiquiatria ao tema, visto que ainda não
estabeleceram protocolos terapêuticos específicos para estes indivíduos.
Uma das dificuldades em tratar indivíduos com dependência emocional
está relacionada à falta de consciência do problema por parte da população e dos
próprios profissionais de saúde. Assim, o indivíduo tende a procurar psicoterapia
quando um relacionamento chega ao seu fim e com a finalidade de mudar sua
conduta de modo a poder reatar a relação perdida (Norwood, 1985; Sirvent,
2000). Por outro lado, quando este paciente busca ajuda de outros profissionais,
a queixa é normalmente negligenciada ou amenizada, já que estes entendem
que a dependência faz parte de qualquer relacionamento afetivo (Cogswell, Alloy,
Karpinski, & Grant, 2010).
Por fim, pode-se concluir sobre a necessidade de uma maior quantidade de
estudos sobre o tema a fim de compreender algumas lacunas ainda existentes na
literatura como: a escolha do parceiro, sua prevenção e tratamento, sua etiologia
e prevalência, além de uma definição clara sobre os critérios diagnósticos.
Apesar da discussão sobre a exclusão da dependência emocional dos manuais
diagnósticos, este transtorno se mostra digno de atenção tanto devido à sua alta
incidência na população como às suas consequências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Sobre as autoras
Denise Catricala Bution é psicóloga e pesquisadora no GREA (Grupo de Estudos
Interdisciplinar em álcool e outras drogas) – Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas da FMUSP. E-mail: [email protected]
Amanda Muglia Wechsler é psicóloga, mestre em Psicologia e doutora em
Psicologia da Saúde pela Universidad Complutense de Madrid. É professora do
Centro Universitário UNIFAFIBE. E-mail: [email protected]