Dependencia Emocional PDF

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DOI: 10.5433/2236-6407.

2016v7n1p77

DEPENDÊNCIA EMOCIONAL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA


LITERATURA

Denise Catricala Bution


Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP

Amanda Muglia Wechsler


Centro Universitário UNIFAFIBE

Resumo
A dependência emocional é um transtorno caracterizado por comportamentos aditivos
em relacionamentos amorosos. Entretanto, ainda há debate se esta dependência seria
considerada uma patologia, como denominá-la e quais sintomas a definiriam. Assim, o
presente estudo visa realizar uma avaliação sistemática da literatura acerca do tema,
revisando artigos anexados nas bases de dados Scielo, Portal de Periódico CAPES e
Google Acadêmico, publicados entre 2000 e 2014. Após uma análise criteriosa, foram
selecionados 20 estudos. Os resultados mostraram que a dependência emocional é
definida como um transtorno aditivo, no qual o indivíduo necessita do outro para
manter seu equilíbrio emocional. Sua etiologia está relacionada ao desenvolvimento do
apego na infância, além de fatores culturais e filogenéticos. Os tratamentos indicados
são: terapia individual, terapia grupal, grupos de apoio e livros de autoajuda. Algumas
inconsistências entre os estudos são discutidas, apontando a necessidade de mais
estudos na área a fim de elucidar estas questões.
Palavras-chave: Dependência Emocional; Dependência Afetiva; Dependência de
Relacionamentos; Dependências Genuínas.

EMOTIONAL DEPENDENCY: A SYSTEMATIC REVIEW OF LITERATURE


Abstract
Emotional Dependency is a disorder characterized by addictive behaviors in romantic
relationships. However, there is still controversy about whether this dependency
should be considered pathological, as well as its appropriate denomination and the
symptoms that would define it. This paper presents a systematic evaluation of the
literature on emotional dependency, reviewing all the indexed articles in Scielo,
CAPES, and Scholar Google databases, published between 2000 and 2014. After
careful analysis, 20 studies were selected. The results show that emotional
dependency is defined as an addictive disorder, in which the individual needs another
to maintain his emotional balance. Its etiology is related to the development of
attachment during childhood, in addition to cultural and phylogenetic factors. The
indicated treatments are individual therapy, group therapy, support groups and self-
help books. We point out some inconsistencies among the studies, showing the need
for more research to elucidate these questions.
Keywords: Emotional Dependency; Affective Dependence; Relational Dependency;
Genuine Dependence.

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Bution & Wechsler

DEPENDENCIA EMOCIONAL: UNA REVISÍON SISTEMÁTICA DE LA


LITERATURA
Resumen
La dependencia emocional es un trastorno caracterizado por comportamientos aditivos
en las relaciones amorosas. Sin embargo aún hay debates sobre si esta dependencia
sería considerada una patología, cómo denominarla y qué formas la definía. Así el
actual estudio tiende a realizar una evaluación sistemática de la literatura sobre el
tema, revisando artículos anejos en las bases de datos Scielo, Portal de Periódico
CAPES y Google Académica publicados entre 2000 y 2014. Después de un análisis
juiciosa, fueron seleccionados 20 estudios. Los resultados muestran que la
dependencia emocional es definida como un trastorno aditivo, en el que el individuo
necesita del otro para mantener su equilibrio emocional. Su etiología está relacionada
al desarrollo de apego en la infancia, además de factores culturales y filogenéticos. Los
tratamientos indicados son: terapia individual, terapia en grupo, grupos de apoyo y
libros de autoayuda. Algunas inconsistencias entre los estudios se señalaron.
Palabras clave: Dependencia emocional; Dependencia afectiva; Dependencia de
relacionamientos; Dependencias genuinas.

INTRODUÇÃO

Um sentimento que permeia muitas relações humanas é o amor. Esta


emoção é alvo de diversos escritores, cientistas e filósofos, tanto em
perspectivas otimistas, como Kant e Byron, como em pessimistas, tais como
Goethe e Schopenhauer (Sánchez Aragón, 2007). O amor é também objeto de
estudo de psicólogos sociais, pois faz parte das relações humanas. Dentre as
diversas teorias psicológicas sobre o amor, Sternberg (1988) propõe a teoria
triangular do amor, em que o descreve como resultado de três elementos:
Intimidade, Paixão e Compromisso. A Intimidade refere-se ao sentimento de
proximidade, ligação e conexão com o outro. A Paixão envolve a ânsia de se unir
ao parceiro, sendo a expressão de desejos e necessidades como autoestima,
amparo, afiliação, dominação, submissão e realização sexual. O último
componente, Compromisso, consiste em dois aspectos que não necessariamente
ocorrem concomitantemente: o primeiro é de curto prazo, que seria a decisão de
amar ao outro e o segundo a longo prazo, referente ao compromisso de manter
esse amor. Entretanto, apesar da divisão dos componentes do amor em apenas
três categorias, estas, quando combinadas, podem resultar em diferentes tipos
de amor.
Yela (1997) realizou uma revisão deste modelo, dividindo a Paixão em dois
componentes: erótica e romântica. Assim, o modelo proposto consistiria em
quatro elementos: Compromisso, Intimidade, Paixão Erótica e Paixão Romântica.
A Paixão Erótica estaria relacionada à dimensão física e fisiológica do amor. Já a
Paixão Romântica consistiria em ideias e atitudes impetuosas sobre o objeto
amado, que seriam próprias da construção cultural do amor em nossa sociedade:
pensamentos intrusivos, idealização, crença de que existe algo mágico na
relação, identificação do companheiro com o ideal romântico de parceiro, entre
outros. O fator Intimidade compreenderia aspectos recíprocos de um vínculo
especial de união afetiva, tais como: apoio emocional, compreensão,

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entendimento, confiança, segurança e conforto junto ao companheiro. Por fim, o


componente Compromisso referir-se-ia à decisão de manter o relacionamento
apesar das dificuldades encontradas, devido ao apreço e estima sentidos pelo
amado e pela própria relação.
Outro aspecto que tem recebido atenção dos estudiosos são os
mecanismos neurológicos envolvidos nas relações amorosas. Observa-se que os
sentimentos amorosos utilizam as mesmas vias neurais que substâncias
psicoativas, ativando os sistemas de recompensa do cérebro (Fisher, Aron, &
Brown, 2005) e criando sintomas de dependência similares. Portanto, apesar do
termo “dependência” ser tradicionalmente ligado ao uso de substâncias ou
drogas psicoativas, as dependências de sentimentos (denominação utilizada por
Moral e Sirvent, 2009) ou as Dependências de Relacionamentos (denominação
proposta por Sirvent, 2000) também merecem ser objeto de pesquisa e
intervenção, visto que apresentam etiologia e sintomatologia semelhante à de
outras dependências. Neste sentido, a Dependência de Relacionamentos,
segundo Sirvent (2000) seria caracterizada por comportamentos aditivos que
teriam como base os relacionamentos interpessoais.
Bornstein e Cecero (2000) propõe que uma relação de dependência pode
ser definida por quatro elementos: motivacional, afetivo, comportamental e
cognitivo. O componente motivacional refere-se à necessidade de suporte,
orientação e aprovação. O segundo componente, afetivo, está relacionado à
ansiedade sentida pelo indivíduo diante de situações nas quais ele necessita agir
independentemente. O componente comportamental alude à tendência a buscar
ajuda de outros e de submissão em interações interpessoais. E o último
componente remete à percepção do sujeito como impotente e ineficaz.
Assim, pode-se classificar as Dependências de Relacionamentos em dois
tipos: (1) as Genuínas, quando apenas uma patologia relacionada à dependência
afetiva está envolvida e (2) as Mediadas, quando o sujeito é adicto ou convive e
depende de um. Dentre as Dependências Genuínas estariam: a Dependência
Emocional, a Tendência Dependente, o Apego Ansioso, os Transtornos de
Personalidade (entre eles, dependente, limítrofe e antissocial), etc. Já nas
dependências mediadas estariam a codependência e a bidependência. A
codependência ocorre quando um indivíduo não adicto estabelece um vínculo
patológico e depende de outro sujeito, que por sua vez, é dependente de drogas
ou álcool. Por sua vez, na bidependência, um indivíduo adicto estabelece uma
relação dependente com outras pessoas, que podem ou não fazer uso de
substâncias psicoativas (Sirvent, 2000).
Considerando-se esta categorização, o presente estudo teve como foco um
subtipo de dependência genuína: a Dependência Emocional. Esta foi definida por
Moral e Sirvent (2008) como um padrão crônico de demandas afetivas
insatisfeitas, que buscam ser atendidas através de relacionamentos interpessoais
caracterizados por um apego patológico. Apesar de essas dependências serem

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ignoradas por muitos profissionais, são muito frequentes no cotidiano clínico.


Ademais, comumente figuram como comorbidades de outras psicopatologias,
como depressão, transtornos alimentares e transtornos ansiosos (Arntz, 2005;
Bornstein, 2012). A tudo isto soma-se o fato de que a maioria dos pacientes não
busca ajuda e os que o fazem são, em sua grande maioria, mulheres (Sirvent,
2000). Portanto, nota-se que as dependências de relacionamentos se configuram
como um campo de estudo ainda pouco explorado, necessitando de maiores
investigações e maior unidade no que se refere aos termos utilizados, que são
variados e pouco precisos em sua definição operacional. Dessa forma, o presente
artigo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura a fim de
obter um panorama geral sobre a produção científica acerca da Dependência
Emocional.

MÉTODO

Para atingir o objetivo proposto, foi realizada uma revisão sistemática da


literatura através de um levantamento exclusivamente eletrônico nas bases de
dados: Scientific Library Online (SciELO), Portal de Periódicos CAPES e Google
Acadêmico. Foram selecionadas cinco palavras-chave, pesquisadas
individualmente: “Affective Dependence”, “Emotional Dependency”, “Pathological
Love” e “Love Addiction”.
Os critérios de inclusão empregados foram: artigos científicos, publicados
entre os anos de 2000 a 2014, nos idiomas Inglês, Português e Espanhol,
quantitativos ou teóricos, cujos objetivos principais se referiam à investigação da
dependência emocional. Os critérios de exclusão se referiram a pesquisas
relacionadas à validação de instrumentos de avaliação psicológica, qualitativas e
com participantes menores de idade. Também foram excluídos livros, teses e
artigos não científicos. Incluíram-se apenas artigos referentes às dependências
genuínas, ou seja, apenas dependências afetivas, sem o envolvimento de
indivíduos que façam uso de substâncias químicas. Desta forma, foram excluídos
artigos referentes a dependências mediadas, como a codependência e a
bidependência.
A partir dos critérios de inclusão e exclusão, foram encontrados 3.635
artigos, sendo que, destes, apenas 2.506 artigos foram avaliados, devido à
impossibilidade de acesso aos demais artigos em função da visualização
permitida em cada base de dados. A seleção inicial destes artigos ocorreu
através de seus títulos, sendo excluídos, neste processo, 2.183 artigos pelos
seguintes motivos: 88 títulos eram duplicados, 91 artigos eram referentes a
crianças e adolescentes, 639 eram teses, cartas, livros ou editoriais, 126
versavam sobre outras dependências como drogas e tabaco, 227 consistiam em
análises de documentos artísticos, 120 abordavam diferentes patologias e
psicopatologias, 59 abarcavam assuntos relativos à fisiologia, 41 foram escritos

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em idiomas não considerados nesta pesquisa, 587 não se referiam à


dependência emocional, 1 estudo era anterior ao ano 2000, 144 se referiam à
política e/ou ética e 60 eram sobre pedagogia. Por fim, obteve-se um total de
251 artigos para a segunda etapa de análise.
A segunda análise foi realizada através da leitura dos resumos de cada
artigo. Nesta etapa, foram excluídos 216 artigos: 9 discorriam exclusivamente
sobre apego, 27 eram relativos a outras dependências como drogas, álcool ou
codependência, 2 estavam escritos em idiomas não abarcados por esse estudo, 7
versavam sobre biologia e fisiologia, 50 aludiam a relacionamentos amorosos e
seus conflitos, 54 eram teses ou capítulos de livros, 6 eram relacionados a
organizações, 14 consideravam outras patologias e psicopatologias, 39
abordavam violência, 6 consistiam na construção de instrumentos padronizados
e 2 eram estudos de caso.
Assim, foram selecionados 35 artigos que passaram por uma terceira
análise. Esta etapa consistiu na leitura integral dos artigos, eliminando-se 15
trabalhos: 5 estudos de caso, 1 sobre diferenciação entre vícios, 4 cujos
objetivos não estavam relacionados à dependência emocional, 3 que falavam
sobre a dependência a um indivíduo dependente e 2 artigos aos quais não foi
possível ter acesso. Portanto, a amostra final desta pesquisa consistiu em 20
artigos científicos referentes à dependência emocional e/ou afetiva.

RESULTADOS

Os resultados descritivos dos artigos selecionados pela revisão sistemática


encontram-se no Apêndice A. Dentre os artigos selecionados, treze (65%) eram
estudos empíricos e sete (35%) eram trabalhos teóricos, sendo um de meta-
análise, um de revisão sistemática da literatura e cinco revisões da literatura. Os
estudos empíricos contaram com um total de 3.954 participantes, sendo os
estudantes universitários o grupo mais analisado, representando 74% das
amostras (2.916 sujeitos). Quanto à sua nacionalidade, os estudos estiveram
distribuídos da seguinte maneira: seis eram dos Estados Unidos, quatro da
Colômbia, dois da Austrália e um trabalho de cada país listado: Brasil, Irã, País
Basco, Países Baixos, Espanha, Israel, Noruega e México. Observou-se um
interesse crescente da comunidade científica sobre o assunto conforme pode ser
observado na Figura 1, que demonstra que no período de 2000 a 2006 foram
publicados sete artigos. Já no período entre 2007 e 2013 foram treze publicações
sobre o tema.

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Figura 1. Frequência de artigos sobre dependência emocional e/ou afetiva


publicados por ano.

Em relação aos trabalhos teóricos, três tinham como objetivo definir a


dependência emocional abordando sua conceituação, etiologia e tratamento
(Hoogstad, 2008; Izquierdo Martínez & Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010).
Dois artigos discutiram a relação entre dependência emocional e violência
(Bornstein, 2006, 2012), um relacionava a dependência emocional aos traços do
modelo dos Cinco Grandes Fatores (Bornstein & Cecero, 2000) e dois
diferenciaram a dependência emocional de outros tipos de dependência:
funcional (Arntz, 2005) e econômica (Bornstein, 2006).
Os trabalhos empíricos se dividiram da seguinte forma: três visavam
traçar o perfil cognitivo dos dependentes emocionais (Jaller Jaramillo & Lemos
Hoyos, 2009; Lemos Hoyos, Londoño Arredondo, & Zapata Echavarría, 2007;
Lemos, Jaller, González, Díaz, & De La Ossa, 2012), três investigaram a relação
entre dependência e apego (Ahmadi, Davoudi, Ghazaei, & Mardani, 2013;
Alonso-Arbiol, Shaver & Yárnoz, 2002; Franco & Aragón, 2008) e dois
pesquisaram sobre a relação entre violência e dependência emocional (Charkow
& Nelson, 2000; Kane, Staiger, & Ricciardelli, 2000). Um artigo buscou realizar
uma análise clínica a fim de diferenciar características de dependentes
emocionais com relação a outros tipos de dependências de relacionamentos e da
população geral (Moral & Sirvent, 2009) e outro comparou um grupo com
dependência emocional e um sem dependência emocional quanto à
impulsividade, personalidade e satisfação em relacionamentos românticos
(Sophia et al., 2009). Também foi abordada a relação entre a dependência
emocional e outros assuntos, tais como: dependência instrumental, diferenças
entre gêneros (Alonso-Arbiol et al., 2002), papéis nos relacionamentos amorosos
(Charkow & Nelson, 2000), ciúmes (Franco & Aragón, 2008), modelo de dois

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componentes proposto por Livesley (Gude, Hoffart, Hedley, & Rø, 2004),
agressividade (Kane et al., 2000), timidez (Myers, Dilks & Marceaux, 2007) e
traços do modelo dos Cinco Grandes Fatores (Rubinstein, 2007). É importante
ressaltar que estes objetivos se referem muitas vezes ao mesmo artigo, já que
algumas publicações possuíam mais de um objetivo.
Apesar de utilizarem praticamente a mesma definição, os trabalhos
divergiram quanto à nomenclatura utilizada. O termo mais empregado foi
dependência emocional (9), seguido por dependência interpessoal (3),
Transtorno de Personalidade Dependente (3), dependência amorosa (2), amor
patológico (1), amor obsessivo (1) e dependência nos relacionamentos (1).
Todos os autores que definiram a dependência emocional afirmaram que o
indivíduo com este transtorno necessita do outro para estabilidade emocional
(Hoogstad, 2008; Izquierdo Martínez & Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010).
Por outro lado, Arntz (2005) distinguiu os conceitos de dependência
emocional e dependência funcional. A primeira seria caracterizada como uma
necessidade de ligação emocional e um senso de cuidado com o outro. Já o
dependente funcional poderia sentir-se incapaz de cuidar de si mesmo,
necessitando de uma pessoa mais forte da qual possa depender. No entanto,
ambos conceitos dizem respeito a uma relação afetiva patológica e dependente.
Quanto à etiologia, os autores (Hoogstad, 2008; Izquierdo Martínez &
Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010) parecem concordar quanto à influência do
desenvolvimento afetivo durante a infância nas relações amorosas futuras.
Hoogstad (2008) afirma que é necessário que a criança cresça em um ambiente
afetuoso e seguro, com aceitação incondicional, para que consiga desenvolver
sua identidade de forma sadia. Assim, o apego, como comportamento aprendido
durante a infância influenciaria nos relacionamentos da vida adulta, podendo
levar o indivíduo a desenvolver relacionamentos sadios ou disfuncionais de
acordo com a forma com que aprendeu a se apegar (Izquierdo Martínez &
Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010).
Três estudos procuraram verificar a relação entre os estilos de apego e a
dependência emocional. Encontrou-se uma correlação positiva entre o apego
preocupado e a dependência emocional (Alonso-Arbiol et al., 2002; Franco &
Aragón, 2008) e entre o apego ambivalente e a dependência emocional (Ahmadi
et al., 2013, Sophia et al., 2009). Já aqueles indivíduos não diagnosticados com
dependência emocional apresentaram predominantemente o apego seguro
(Sophia et al., 2009). Entretanto, Alonso et al. (2002) afirmaram existir uma
forte correlação negativa entre o apego evitativo e a dependência emocional,
enquanto que Franco e Aragón (2008) sugeriram existir uma correlação forte e
positiva entre estes dois construtos.
Dois fatores que também podem contribuir para o desenvolvimento da
dependência emocional estariam relacionados aos níveis de seleção filogenético e
cultural. O primeiro seria o componente neurobiológico, que explicaria a

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dependência emocional a partir de uma fixação na superativação neuronal,


frequente no início de relacionamentos; ou seja, o indivíduo necessitaria dessa
atividade neuronal aumentada para se sentir confortável em seu relacionamento
atual. O segundo fator seria o cultural, associado principalmente à mídia, que
retrata o amor como algo idealizado, sinalizando como um comportamento
comum a obsessão e a dependência exagerada do objeto amado (Sussman,
2010).
Quanto à prevalência da dependência emocional, não houve consenso
entre as pesquisas: Sussman (2010), a partir de uma revisão da literatura,
afirmou que entre 5% a 10% da população seria dependente emocionalmente.
Ahmdi et al. (2013) verificaram que 17,9% de uma amostra de 290 pessoas
apresentou dependência emocional. Outros estudos obtiveram uma porcentagem
de 24,6% da amostra estudada com tal patologia (569 sujeitos) (Lemos et al.,
2012; Jaller Jaramillo & Lemos Hoyos, 2009). Gude et al. (2004) afirmam que
essas discrepâncias ocorrem principalmente em função do tipo de participantes
utilizados nas pesquisas, ressaltando que a incidência do transtorno de
personalidade dependente varia de 17% em pacientes internados, 29% em
pacientes que recebem tratamentos diários e de até 47% em pacientes
ambulatoriais.
No que se refere ao gênero, também não houve concordância entre os
estudos analisados. Alonso-Arbiol et al. (2002) afirmaram que a dependência
emocional tende a ser mais acentuada na população feminina. Myers et al.
(2007) também encontraram uma relação entre a dependência emocional e a
timidez e os ciúmes nas mulheres. No entanto, Franco e Aragón (2008)
constataram maior presença de ciúmes em homens, além de raiva, dor, temor e
desconfiança. Já outros estudos não encontraram relação significativa entre
gênero e dependência (Jaller Jaramillo & Lemos Hoyos, 2009; Lemos et al.,
2012), impossibilitando extrair conclusões mais generalizadas sobre este tema.
Outro assunto estudado foi a violência. Os estudos afirmaram que
indivíduos caracterizados como dependentes emocionais tem maiores chances de
realizarem/sofrerem violência doméstica e ainda assim manterem-se no
relacionamento (Bornstein, 2006; Charkow & Nelson, 2000; Kane, Staiger, &
Ricciardelli, 2000). Além disto, apresentam maiores riscos de apresentar
comportamentos autodestrutivos (Bornstein, 2012), doenças físicas e outras
psicopatologias, como transtornos alimentares, transtornos ansiosos e
somatizações (Arntz, 2005; Bornstein, 2012).
Com relação ao perfil cognitivo, os estudos divergiram. Lemos Hoyos et al.
(2007) encontraram que os dependentes emocionais possuíam crenças centrais
de dependência e paranoia, distorção cognitiva de falácia de mudança e um
déficit na estratégia de enfrentamento autonomia. O esquema inicial
desadaptativo predominante foi o de desconfiança/abuso (Lemos et al., 2012;
Jaller Jaramillo & Lemos Hoyos, 2009). Já no estudo de Lemos Hoyos et al.

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Dependência emocional: revisão

(2007), a distorção cognitiva que mais diferenciava os dependentes emocionais


da população geral eram a falácia de controle e as “deverias”.
Ainda sobre o perfil dos dependentes emocionais, observaram-se
comportamentos de submissão ao outro, sinais de fissura e abstinência na
ausência do objeto amado, ausência de decisões nos relacionamentos,
sentimentos de insatisfação, vazio emocional, medo da solidão, baixa tolerância
a frustração, tédio, desejo de autodestruição e sentimentos negativos, falta de
consciência sobre seus problemas, sensação de estarem presos ao
relacionamento e de que não conseguirão deixá-lo, conflitos de identidade, foco
excessivo no outro e autonegligência, assunção de toda a responsabilidade pelos
acontecimentos e necessidade de ajudar o parceiro, tentando resolver todos os
problemas (Moral & Sirvent, 2009). Sophia et al. (2009) também encontraram
que os pacientes diagnosticados com dependência emocional eram mais
impulsivos, apresentavam traços de evitação a danos, autotranscendência e
possuíam relações mais insatisfatórias, quando comparados com um grupo
controle. Já Bornstein e Cecero (2000) e Rubinstein (2007) observaram a
presença de alguns traços de personalidade relacionados à dependência
emocional, como neuroticismo e amabilidade.
Para o tratamento da Dependência Emocional, a psicoterapia individual é a
mais indicada por todos os autores, que divergem com relação à sua abordagem.
Sussman (2010) não menciona um marco teórico específico, mas cita a
entrevista motivacional e o autogerenciamento como meios eficientes para lidar
com a dependência emocional. Outros autores recomendam a realização de
terapia da realidade (Hoogstad, 2008) e terapia comportamental ou de aceitação
e compromisso (Izquierdo Martínez & Gomes-Acosta, 2013). Outros tratamentos
citados são a participação em grupos de apoio, especialmente aqueles com o
programa dos doze passos, livros de autoajuda e terapia grupal (Sussman,
2010).

DISCUSSÃO

A dependência emocional é um tema que recebe vasta atenção popular,


sendo tema de livros, filmes e programas de televisão. Recentemente, esta
temática também vem ganhando espaço no campo científico, dada a sua alta
incidência na população, variando entre 5% a 24,5% (Ahmdi et al., 2013; Gude
et al., 2004; Jaller Jaramillo & Lemos Hoyos, 2009; Lemos et al., 2012;
Sussman, 2010). Entretanto, apesar das altas taxas de incidência e do número
crescente de pesquisas na área, o tema ainda parece ser pouco estudado (Gude
et al., 2004).
No presente estudo, foi encontrada uma multiplicidade de terminologias
referentes a este transtorno, o que ilustra a confusão conceitual e nominal
acerca da dependência emocional. Tal confusão é evidenciada pela falta de

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pesquisas na área e o escasso conhecimento sobre o assunto. Talvez pela falta


de parâmetros funcionais fornecidos pela quarta edição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) sobre o Transtorno de Personalidade
Dependente, os pesquisadores passaram a utilizar outras nomenclaturas para o
mesmo problema (Bornstein, 2006). Por exemplo, Arntz (2005) e Bornstein
(2012) argumentaram que a definição do Transtorno de Personalidade
Dependente fornecida pelo DSM-IV considerava apenas a dependência funcional
e não contemplava traços de dependência emocional.
O DSM-5, apesar de incluir o Transtorno de Personalidade Dependente
(TPD), sugere a sua retirada. No entanto, Bornstein (2011) questiona os
métodos de formulação dos critérios diagnósticos do DSM, como: (a)
informações imprecisas por parte do grupo dos consultores do DSM com relação
à literatura utilizada para embasar as mudanças realizadas, não fornecendo
dados sobre os critérios de inclusão e exclusão e o método utilizado para a
revisão; (b) falta de suporte empírico para as mudanças propostas, pois, os
estudos revisados não forneciam evidências suficientes de que os Transtornos de
Personalidade que continuaram no manual possuíam mais validade e utilidade
clínica do que aqueles que foram retirados. Por exemplo; encontrou-se que os
custos de saúde associados com o Transtorno De Personalidade Histriônica e o
Transtorno de Personalidade Dependente (recomendados para serem excluídos)
foram maiores do que os custos associados aos Transtornos de Personalidade:
obsessivo compulsivo, antissocial e esquiva (recomendados para continuarem no
manual), sinalizando que o TPD traz sérios prejuízos psicossociais; (c)
priorização de alguns transtornos de personalidade em detrimento de outros,
visto que alguns transtornos foram mais estudados e, assim, possuíam mais
evidências do que outros que não foram investigados. Portanto, é provável que,
futuramente, o TPD receba uma nova e melhor categorização, uma vez que as
adições comportamentais já estão sendo reconhecidas e incluídas no DSM como
parte dos transtornos aditivos. Porém, ainda é necessário que se obtenha um
melhor entendimento sobre as características desta dependência.
O perfil dos dependentes emocionais encontrado nos estudos revisados
nesta pesquisa assemelha-se ao afirmado na literatura. De modo geral, as
pessoas que tem dependência emocional são descritas como submissas, com
dificuldades de tomar decisões em seus relacionamentos, sentindo-se
responsáveis por todos os acontecimentos e centrando-se completamente em
sua relação. Assim, tendem a prestar cuidados excessivos ao outro e resolver os
seus problemas, mesmo que isso implique em se auto negligenciar (Moral &
Sirvent, 2008).
Não se encontrou um consenso nas pesquisas no que se refere à
prevalência de gênero neste transtorno. Uma possível explicação para essa
questão seria o fator cultural, uma vez que em algumas culturas se acredita que
para as mulheres um relacionamento é essencial para a felicidade, e que elas

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Dependência emocional: revisão

devem ser submissas aos seus maridos, satisfazendo todos os seus desejos
(Charkow & Nelson, 2000). Além disto, o modo como as relações amorosas são
retratadas na mídia e na literatura também acabam por reforçar os padrões
patológicos da dependência emocional (Norwood, 1985; Sussman, 2010). Dessa
forma, os fatores culturais, muitas vezes, levam os indivíduos a almejar
relacionamentos dependentes, ou então, quando os vivem, acreditam que esta
dependência seja “normal”.
Apesar desta grande influência cultural no desenvolvimento e manutenção
do transtorno, os estudos revisados mostraram que a dependência emocional
deve ser entendida como um transtorno multifatorial, sendo influenciada
também por fatores neurológicos e psicológicos. Pesquisas recentes têm
investigado sobre as bases neurológicas do amor, encontrando que estas se
assemelham aos mecanismos envolvidos na utilização de substâncias psicoativas
(Fisher et al., 2005; Vasconcelos et al., 2002). Por outro lado, a vivência familiar
e os estilos de apego aprendidos também contribuem com a dependência
emocional (Feeney & Noller, 1990; Hazan & Shaver, 1987). Izquierdo Martinez e
Gomes-Acosta (2013) e Sussman (2010) afirmam que os estilos de apego
aprendidos durante a infância seriam repetidos na idade adulta, sendo
predominante na dependência emocional o apego preocupado (Alonso-Arbiol et
al., 2002; Franco & Aragón, 2008) e o apego ambivalente (Ahmadi et al. 2013,
Sophia et al. 2009). Em ambos, é predominante a visão negativa de si mesmo e
a positiva de outros (Bartholomew & Horowitz, 1991; Bartholomew & Shaver,
1998). Indivíduos com estes padrões de apego apresentam maiores índices de
culpa em situações de rejeição social, e cuidados e envolvimento excessivo com
o outro (Bartholomew & Horowitz, 1991). Assim, uma disfunção nos mecanismos
neurais ou a sua junção com outros fatores, como o ambiente familiar, os estilos
de apego e a cultura poderiam levar o indivíduo a estabelecer relações
patológicas.
Os comportamentos autodestrutivos e as comorbidades também parecem
fazer parte do quadro de dependência. Deste modo, a dependência emocional
pode estar associada a transtornos alimentares, transtornos ansiosos,
somatizações e depressão (Arntz, 2005; Bornstein, 2012). Além disso,
aumentam as chances de o indivíduo cometer suicídio ou para-suicídio, que
ocorreriam na tentativa de impedir o abandono por parte do parceiro, mostrando
sua vulnerabilidade, impulsividade e baixa tolerância à frustração, características
próprias dos dependentes emocionais (Bornstein, 2012).
Neste sentido, um tema bastante comum encontrado nos artigos
analisados foi a violência. A dependência emocional seria um dos fatores de risco
para a violência, principalmente a doméstica (Bornstein, 2006, 2012; Charkow &
Nelson, 2000; Kane et al., 2000). Aparentemente, homens que são
emocionalmente dependentes de suas parceiras tendem a desempenhar mais
frequentemente o papel de abusadores, enquanto que as mulheres dependentes

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Bution & Wechsler

tendem a ser vítimas (Bornstein, 2006, 2012). O dependente emocional tende a


ser possessivo e tem medo de ser abandonado (Moral & Sirvent, 2009), além de
ser mais impulsivo (Sophia et al., 2009) e ciumento (Franco & Aragón, 2008).
Portanto, no caso dos homens, ao perceberem algum perigo em sua relação, seja
ele real ou imaginário, podem tornar-se violentos e abusar de suas parceiras. No
caso das mulheres, que geralmente são apontadas como vítimas, a dificuldade
de término de relacionamento ocorre pelo medo de ficar sozinha e pelo
sentimento de estar atada à relação (Moral & Sirvent, 2009). Porém, é
importante interpretar esses dados com cautela, uma vez que Bornstein, (2006)
ressalta o fato de que todos os estudos na área investigam sempre homens
como abusadores e mulheres como vítimas e não o inverso. Também é
importante lembrar o caráter de adição da dependência emocional, o que torna
ainda mais difícil romper o relacionamento, principalmente pelos sintomas de
fissura e abstinência que acometem o indivíduo ao tentar sair da relação
(Izquierdo Martínez & Gomes-Acosta, 2013; Sussman, 2010).
Para entender a dinâmica dos relacionamentos dependentes e a frequente
violência neles presente, faz-se importante citar o triangulo de Karpman (citado
por Hoogstad, 2008), que tem em seus vértices os seguintes papéis:
perseguidor, salvador e vítima. Assim, em relacionamentos nos quais impera a
dependência emocional, cada indivíduo assume um papel e, por vezes, os
parceiros trocam de papéis. Este modelo evidencia o problema de colocar papéis
estáticos no âmbito da violência doméstica, com o homem como abusador e a
mulher como vítima, uma vez que um relacionamento é algo dinâmico.
Também se nota a falta de estudos sobre os parceiros escolhidos pelos
dependentes emocionais, já que a maioria dos estudos foca no dependente e não
nos tipos de parceiros selecionados. O mais provável, segundo Moral e Sirvent
(2008), é que ocorra uma dependência mútua, uma vez que os relacionamentos
estabelecidos por estes tipos de indivíduos são extremamente conturbados,
devido aos sentimentos de posse predominantes nos dependentes emocionais.
Deste modo, a dependência mútua explicaria a permanência do parceiro e da
relação, mesmo que conflituosa.
Portanto, devido a todas as implicações individuais e sociais relacionadas
à dependência emocional, é importante analisar formas de prevenção e
tratamento adequadas. São comuns os tratamentos em grupos de apoio, sendo
que no Brasil podem-se encontrar grupos como o MADA (Mulheres que Amam
Demais Anônimas) e os HADA ou HADES (Homens que Amam Demais
Anônimos). No entanto, não foram encontradas pesquisas científicas sobre
formas de intervenção ou prevenção dirigidas à dependência emocional, apesar
de serem essenciais na discussão sobre qualquer psicopatologia. O fato da
literatura específica indicar como um dos meios de tratamento livros de
autoajuda (Sussman, 2010) e a disseminação dos grupos de apoio atesta que a
literatura popular trata do assunto há mais tempo do que a científica e evidencia

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Dependência emocional: revisão

a pouca atenção dada pela Psicologia e Psiquiatria ao tema, visto que ainda não
estabeleceram protocolos terapêuticos específicos para estes indivíduos.
Uma das dificuldades em tratar indivíduos com dependência emocional
está relacionada à falta de consciência do problema por parte da população e dos
próprios profissionais de saúde. Assim, o indivíduo tende a procurar psicoterapia
quando um relacionamento chega ao seu fim e com a finalidade de mudar sua
conduta de modo a poder reatar a relação perdida (Norwood, 1985; Sirvent,
2000). Por outro lado, quando este paciente busca ajuda de outros profissionais,
a queixa é normalmente negligenciada ou amenizada, já que estes entendem
que a dependência faz parte de qualquer relacionamento afetivo (Cogswell, Alloy,
Karpinski, & Grant, 2010).
Por fim, pode-se concluir sobre a necessidade de uma maior quantidade de
estudos sobre o tema a fim de compreender algumas lacunas ainda existentes na
literatura como: a escolha do parceiro, sua prevenção e tratamento, sua etiologia
e prevalência, além de uma definição clara sobre os critérios diagnósticos.
Apesar da discussão sobre a exclusão da dependência emocional dos manuais
diagnósticos, este transtorno se mostra digno de atenção tanto devido à sua alta
incidência na população como às suas consequências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo procurou-se revisar a produção científica acerca do tema da


dependência emocional. Os resultados apontaram que este transtorno é
caracterizado pela necessidade de estar em um relacionamento a fim de se
atingir estabilidade emocional. Tal patologia se assemelha à dependência de
substâncias, tanto em relação à sintomatologia quanto aos processos neurais
envolvidos. Também foi observado que a dependência emocional pode ter sérias
implicações tanto para quem sofre desta problemática como para aqueles que
estão à sua volta, sendo a violência doméstica a consequência mais discutida.
Em função destas consequências negativas e do número de pessoas que
sofrem dessa dependência, defende-se a necessidade de se obter uma visão
mais precisa do tema. Apesar da alta incidência na população e do crescente
número de publicações, o assunto ainda é negligenciado. Deste modo, acredita-
se que uma compreensão mais aprofundada do tema facilitará seu diagnóstico,
prevenção e tratamento, aspectos ainda pouco estudados na área.
Foram encontradas algumas contradições na literatura específica, o que
pode ser atribuído ao fato de ser um campo bastante influenciado por fatores
culturais. Outra dificuldade encontrada foi a multiplicidade de terminologias
utilizadas. Essa variedade dificulta o estudo do problema, impossibilitando a
sintetização dos achados científicos já que, muitas vezes, os dados não são
comparados justamente pela utilização de nomes diferentes. Assim, este estudo
também se configurou como uma primeira tentativa de apresentar as diferenças

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Bution & Wechsler

entre as terminologias utilizadas, buscando uma compreensão mais abrangente


deste transtorno.
É importante ressaltar algumas limitações do presente estudo, uma vez
que, apesar da escolha cuidadosa dos descritores utilizados, alguns artigos
provavelmente não foram encontrados devido à diversidade de nomenclaturas.
Durante o desenvolvimento do trabalho, também foi notado que outras palavras-
chave pertinentes ao assunto não foram incluídas, como “Relationship
dependency” e “Romance addiction”. Essa limitação pode ser resolvida através
da integração entre o presente estudo e futuras revisões de literatura que
abordem tais descritores. A pouca acurácia de alguns artigos ao descrever seus
resultados também impede uma conclusão mais precisa e unificada dos achados
sobre o tema.
Portanto, acredita-se que este é um campo ainda pouco explorado,
possibilitando que muitos estudos ainda sejam realizados. Apesar do número de
publicações ser crescente, ainda são poucas as pesquisas que se dedicam a
estudar este tema. Neste contexto, são necessários esclarecimentos sobre
algumas questões, como a prevalência da dependência emocional tanto na
população geral, quanto em relação a gêneros, verificando também a influência
da cultura na incidência e manutenção desta patologia. Também é importante
compreender melhor a dinâmica existente no relacionamento estabelecido por
indivíduos dependentes e o tipo de parceiro escolhido por estas pessoas. Apesar
de vários artigos teóricos versarem sobre a etiologia dessa dependência, não foi
encontrada nenhuma pesquisa empírica sobre o assunto, o que é de extrema
importância para o entendimento deste transtorno. Programas de tratamentos
adequados para esse tipo específico de dependência também podem ser alvo de
futuras pesquisas, já que muitos dos tratamentos sugeridos provêm de livros de
autoajuda, derivam de tratamentos com dependentes químicos ou de
tratamentos gerais adaptados para a dependência emocional. Tais intervenções
geralmente não possuem testagem científica e nem comprovação de sua eficácia
para pacientes com dependência emocional. Desta forma, faz-se necessário
aumentar o debate sobre o tema a partir de pesquisas com maior rigor
metodológico, de modo a ampliar a compreensão dos profissionais da saúde
sobre a dependência emocional, seus aspectos constituintes e possibilidades de
intervenção.

REFERÊNCIAS

As referências marcadas com o símbolo * fazem parte da revisão da literatura.

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Sobre as autoras
Denise Catricala Bution é psicóloga e pesquisadora no GREA (Grupo de Estudos
Interdisciplinar em álcool e outras drogas) – Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas da FMUSP. E-mail: [email protected]
Amanda Muglia Wechsler é psicóloga, mestre em Psicologia e doutora em
Psicologia da Saúde pela Universidad Complutense de Madrid. É professora do
Centro Universitário UNIFAFIBE. E-mail: [email protected]

Recebido em: 19/11/2015


1ª revisão em: 08/03/2016
2ª revisão em: 19/03/2016
Aceito em: 29/03/2016

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Apêndice A. Resumo geral dos artigos revisados.

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