Prostatectomia
Prostatectomia
Prostatectomia
Fevereiro/2018
1
2018 Ministério da Saúde.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que
não seja para venda ou qualquer fim comercial.
Informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
E-mail: [email protected]
Em 28 de abril de 2011, foi publicada a Lei n° 12.401 que dispõe sobre a assistência
terapêutica e a incorporação de tecnologias em saúde no âmbito do SUS. Esta lei é um marco
para o SUS, pois define os critérios e prazos para a incorporação de tecnologias no sistema
público de saúde. Define, ainda, que o Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias – CONITEC, tem como atribuições a incorporação,
exclusão ou alteração de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a
constituição ou alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica.
2
Cabe à Secretaria-Executiva – exercida pelo Departamento de Gestão e Incorporação
de Tecnologias em Saúde (DGITS/SCTIE) – a gestão e a coordenação das atividades da
CONITEC, bem como a emissão deste relatório final sobre a tecnologia, que leva em
consideração as evidências científicas, a avaliação econômica e o impacto da incorporação da
tecnologia no SUS.
ii
SUMÁRIO
1
1. RESUMO EXECUTIVO
Tecnologia: Dispositivo de Cirurgia Robótica
Contexto: Apesar da solicitação de incorporação ter sido considerada não conforme pela
Secretaria-Executiva da CONITEC, visto que não foram apresentadas as informações
imprescindíveis para sua avaliação, o Secretário da SCTIE solicitou que fossem realizados os
estudos necessários para a avaliação do tema pela CONITEC, de acordo com os artigos 15 e 16
do Decreto nº 7.646, de 21/12/2011. Como o demandante não especificou a indicação
proposta para o uso do sistema robótico, a Secretaria-Executiva da CONITEC optou pela
prostatectomia radical, por ter sido o procedimento apontado como o mais promissor pelos
hospitais de excelência para o uso do dispositivo robótico, durante estudo piloto realizado em
2014. O Dispositivo de Cirurgia Robótica, ou Sistema de Cirurgia Vídeo-laparoscópica
Roboticamente Assistida, é um sistema basicamente composto por um console onde o
cirurgião manipula comandos transmitidos para uma plataforma com braços robóticos
posicionados sobre o campo cirúrgico. Os possíveis benefícios do dispositivo, comparado à
cirurgia aberta ou via laparoscopia, consistem basicamente na maior precisão cirúrgica com
menor lesão periférica, menor sangramento e consequente recuperação mais acelerada. A
maior amplitude de movimentos em relação à mão humana permite eliminar tremores e a
fadiga dos cirurgiões. A grande barreira em relação ao dispositivo é o seu alto custo que pode
representar um elevado custo de oportunidade e um potencial gerador de iniquidades. Por se
tratar do único dispositivo registrado junto à ANVISA e, portanto, o único disponível para
utilização no Brasil, o relatório foi baseado no Sistema de Cirurgia Roboticamente Assistida “Da
Vinci®”, fabricado pela empresa Intuitive Medical (EUA).
Evidências científicas: As evidências encontradas apontam que a cirurgia robótica pode trazer
benefícios em relação ao menor sangramento e menor necessidade de transfusão de sangue
em comparação à cirurgia aberta e laparoscópica. Outros benefícios como menor tempo de
recuperação, melhor continência urinária e recuperação da função sexual também são
apontados em alguns estudos, entretanto, devido à elevada heterogeneidade e a baixa
2
qualidade metodológica dos estudos, não se pode afirmar de forma conclusiva qual das
técnicas apresenta efetivamente os melhores resultados, tampouco se tais benefícios
justificam os elevados custos envolvidos na utilização da cirurgia robótica.
Experiência Internacional: Outros países como o Canadá, Reino Unido, Austrália e Bélgica
realizaram avaliações do dispositivo de cirurgia robótica que indicam um potencial impacto
positivo em resultados clínicos, entretanto, todos recomendam uma análise econômica
aprofundada quanto à sustentabilidade na incorporação e implantação de novos serviços com
esta tecnologia devido aos elevados custos associados e por terem alguns benefícios ainda
marginais em relação aos comparadores.
3
2. APRESENTAÇÃO
Em seu dossiê, o demandante não especificou a indicação proposta para o uso do sistema
robótico e citou diferentes tipos de cirurgias minimamente invasivas, como hérnia incisional,
prostatectomia e histerectomia. Dessa forma, a Secretaria-Executiva da CONITEC avaliou o uso
do sistema cirúrgico robótico na prostatectomia radical, por ter sido o procedimento mais
promissor apontado por hospitais de excelência (usuários da tecnologia) para o uso do
dispositivo robótico, durante estudo piloto realizado em 2014 (para validar a Diretriz
Metodológica de Avaliação de Equipamentos Médico-Assistenciais).
4
3. A DOENÇA
A próstata é uma glândula que se localiza na parte baixa do abdômen. É um órgão
pequeno situado logo abaixo da bexiga e à frente do reto que envolve a porção inicial da
uretra. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás
apenas do câncer de pele não melanoma). Em valores absolutos e considerando ambos os
sexos é o quarto tipo mais comum e o segundo mais incidente entre os homens. A taxa de
incidência é maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento1.
Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca
de três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas
taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos
diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento
na expectativa de vida. Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se
para outros órgãos e podendo levar à morte. A grande maioria, porém, cresce de forma tão
lenta (cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a
ameaçar a saúde do homem1.
Segundo o INCA – Instituto Nacional de Câncer, a estimativa de novos casos para o ano de
2016 era de 61.200 casos e o número de mortes apurado no ano de 2013 foi de 13.772 óbitos1.
4. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
A incidência do câncer de próstata encontra-se em forte elevação devido ao efeito
combinado do envelhecimento da população, da melhoria da sensibilidade das técnicas
diagnósticas e da difusão do uso da medida sérica do antígeno prostático específico (PSA). Os
métodos diagnósticos clínicos para detecção precoce são o exame de toque retal, onde o
médico avalia tamanho, forma e textura da próstata; e o exame de PSA que mede a
quantidade de uma proteína produzida pela próstata. Níveis altos dessa proteína podem
significar câncer, mas também doenças benignas da próstata3.
Para confirmar o diagnóstico da doença é preciso fazer uma biópsia. A biópsia é indicada
caso seja encontrada alguma alteração no exame de PSA ou no toque retal3.
5
Para doença localizada, podem ser oferecidos: cirurgia, radioterapia e até mesmo
observação vigilante (em algumas situações especiais). Para doença localmente avançada a
radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizadas. Para
doença metastática, o tratamento de eleição é a terapia hormonal1.
PROSTATECTOMIA RADICAL
Onde:
6
E os estádios:
T – Tumor primário / TX - O tumor primário não pode ser avaliado / T0 - Não há evidência
de tumor primário / T1 - Tumor clinicamente não aparente, não palpável nem visível por
exame de imagem / T1a - Achado histológico incidental em 5% ou menos de tecido ressecado /
T1b - Achado histológico incidental em mais de 5% de tecido ressecado / T1c - Tumor
identificado por biópsia por agulha (por exemplo, devido a PSA elevado) / T2 - Tumor
confinado à próstata. / T2a - Tumor que envolve uma metade de um dos lobos ou menos / T2b
- Tumor que envolve mais da metade de um dos lobos, mas não ambos os lobos / T2c - Tumor
que envolve ambos os lobos / T3 - Tumor que se estende através da cápsula prostática / T3a -
Extensão extracapsular incluindo envolvimento microscópico do colo vesical / T3b - Tumor que
invade vesícula(s) seminal(ais) / T4 - Tumor que está fixo ou que invade estruturas adjacentes
que não as vesículas seminais: esfíncter externo, reto, músculos elevadores do ânus e/ou
parede pélvica2.
A abordagem cirúrgica pode ser por via perineal, retropúbica ou laparoscópica (pré-
peritoneal ou transperitoneal), roboticamente assistida ou não.
A via perineal é usada por alguns cirurgiões, mas tem a desvantagem de não poder
acessar linfonodos pélvicos, além de cursar com maiores riscos de complicações e lesões
retais. A via retropúbica ainda é a mais utilizada (figura 1), com ótimo controle tumoral4.
7
A prostatectomia suprapúbica é realizada com o paciente em decúbito dorsal com
discreta hiperextensão da mesa cirúrgica, por meio de incisão mediana infraumbilical que se
estende até a raiz do pênis. A dissecação dos planos é feita no espaço retropúbico pré-
peritoneal para exposição da face anterior da próstata e da transição vesicoprostática. Segue-
se com liberação das faces laterais da próstata, ápice prostático e posteriormente a abertura
da fáscia endopélvica de cada lado e ligadura do complexo da veia dorsal do pênis. A uretra é
exposta, seccionada e reparada para anastomose futura. A face posterior da próstata é
dissecada e procede-se com a ligadura e secção dos vasos prostáticos. Continua-se com a
liberação da próstata até o colo vesical e exposição da fáscia de Denonnvelier, que é aberta
para dissecação das vesículas seminais e dos ductos deferentes. A base prostática é seccionada
no colo vesical e a peça é extraída em monobloco. Procede-se com revisão da hemostasia,
introdução de cateter vesical de demora e, finalmente, anastomose vesicouretral. Os nós são
aproximados por palpação e a aproximação da bexiga junto à uretra é mantida por tração do
cateter vesical de demora. Atualmente, o acesso suprapúbico é o método de preferência da
maioria dos urologistas brasileiros para a prostatectomia radical4.
8
Figura 2 – Prostatectomia laparoscópica
5. A TECNOLOGIA
Por se tratar do único dispositivo registrado junto à ANVISA (Registro nº 10302860146)
e, portanto, o único disponível para utilização no Brasil, o relatório foi baseado no Sistema de
Cirurgia Roboticamente Assistida “Da Vinci®”, fabricado pela empresa Intuitive Medical (EUA).
9
controladores gerais nas mãos do cirurgião que possibilitam o domínio dos instrumentos e de
um endoscópio com imagens tridimensionais, além dos demais controles via acionadores
comandados por pedais. De um modo geral, o console promove ao cirurgião o mesmo
posicionamento das mãos e um alinhamento visual em relação às mãos e aos instrumentos,
similarmente como ocorre no procedimento cirúrgico aberto5.
10
6. EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
A busca por evidências científicas e informações econômicas foi pautada com o objetivo
de fornecer subsídios à tomada de decisão e responder a pergunta estruturada formulada a
partir do acrônimo P.I.C.O.:
11
Tabela 2. Resultados da busca na literatura
12
Identificação
(n = 3)
Publicações incluídas
(n = 3)
13
Revisão Sistemática da Cochrane 20176
14
O estudo de Yaxley 2016 mostrou que não houve diferenças entre a prostatectomia
assistida por robô e a prostatectomia aberta para os desfechos de qualidade de vida, urinária e
sexual, nas complicações relacionadas à cirurgia, nas complicações graves e na dor após 12
semanas de cirurgia. A cirurgia com o robô reduziu o tempo de internação em relação à
cirurgia aberta6.
A estimativa de perda de sangue total foi menor para a prostatectomia assistida por robô
do que para a prostatectomia aberta (443,74 ml (DP = 294,29) versus 1.338,14 ml (DP =
591,47); p<0,0001)8.
15
Cirurgia assistida por robôs versus cirurgia aberta
Figura 6 – Forest plot - continência após 6 meses - robô assistida vs. prostatectomia aberta9
Figura 7 – Forest plot - continência após 12 meses - robô assistida vs. prostatectomia aberta9
A meta-análise mostrou que a cirurgia assistida por robôs apresentou uma maior
probabilidade de manter a função sexual preservada 12 meses após a cirurgia do que com a
cirurgia aberta (risco relativo 1,59; IC 95% 1,28 a 1,99). Embora com uma heterogeneidade
relativamente alta (I² = 73%), todos os estudos mostraram um efeito a favor da cirurgia
robótica. (Figura 8)
16
Figura 8 – Forest plot – função sexual após 12 meses - robô assistida vs. prostatectomia aberta9
Figura 9 – Forest plot – tempo de permanência - robô assistida vs. prostatectomia aberta 9
17
Figura 10 – Forest plot – complicações gerais - robô assistida vs. prostatectomia aberta 9
Figura 11 – Forest plot - continência após 6 meses - robô assistida vs. Laparoscopica9
Figura 12 – Forest plot - continência após 12 meses - robô assistida vs. Laparoscopica9
18
A meta-análise mostrou que a cirurgia assistida por robôs aumentou a probabilidade de a
função sexual ser efetiva 12 meses após a cirurgia em relação à cirurgia laparoscópica (risco
relativo 1,66). A diferença do grupo é estatisticamente significante (p <0,01). Os estudos
individuais apresentaram uma aparente alta heterogeneidade (I² = 70%), no entanto, todos os
estudos mostram um efeito em favor da cirurgia robótica. (Figura 13)
Figura 13 – Forest plot – função sexual após 12 meses - robô assistida vs. Laparoscopica9
19
A meta-análise não mostrou diferença significativa para complicações gerais em
prostatectomia assistida por robô em comparação à laparoscopia (risco relativo 1,01, p = 0,97).
Os estudos individuais mostraram uma heterogeneidade relativamente alta (I² = 68%), com
efeitos favoráveis para ambas as tecnologias. (Figura 15)
Figura 15 – Forest plot – complicações gerais cirurgia robô assistida vs. Laparoscopica9
Figura 16 – Forest plot – complicações perioperatórias cirurgia robô assistida vs. Laparoscopica9
20
Em conclusão, os autores da publicação afirmaram que os robôs cirúrgicos parecem ser
úteis, mas caros. Provavelmente existem alguns benefícios da cirurgia robótica para resultados
como diminuição do tempo de internação ou preservação da função sexual pós-
prostatectomia, mas é altamente questionável se estes benefícios legitimam os elevados
custos envolvidos9.
21
Figura 17 – Qualidade da Revisão Sistemática9
Figura 18 – Qualidade dos estudos (não ECR) da cirurgia robô assistida vs. prostatectomia aberta9
22
Figura 20 – Qualidade dos estudos (não ECR) cirurgia robô assistida vs. Laparoscopica9
23
Tabela 4. Nível de evidência dos estudos - cirurgia robô assistida vs. Laparoscopica9
24
Revisão Sistemática CADTH10
Outra revisão sistemática com meta-análise encontrada foi elaborada em 2011 pelo
CADTH - Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health, onde foi avaliada a
efetividade clínica e análise econômica do sistema de cirurgia robótica comparado à cirurgia
aberta e à laparoscopia convencional10. Foram analisados resultados para os procedimentos
prostatectomia, histerectomia e nefrectomia, sendo incluídos respectivamente: 51 estudos
para prostatectomia, 26 para histerectomia e 10 para nefrectomia. Não houve dados de
ensaios clínicos randomizados e com base em meta-análises primárias dos estudos
observacionais incluídos, a cirurgia assistida por robôs foi associada a benefícios para alguns
desfechos como: redução do tempo de internação hospitalar; perda de sangue e taxas de
transfusão; taxas de margem cirúrgica positivas (Margin Rate = risco de recorrência
bioquímica; que se aumentada, significa necessidade de tratamento secundário); e redução de
taxas de complicações pós-operatórias10.
Os autores desta revisão sistemática do CADTH concluíram que a cirurgia assistida por
robôs pode ter impacto positivo em vários resultados clínicos, entretanto, dadas as limitações
da evidência disponível e a incerteza sobre a relevância clínica do tamanho dos benefícios em
comparação às demais alternativas, as decisões sobre a aceitação da cirurgia assistida por
robôs são complexas e precisam ser feitas com cuidado. As comparações entre os métodos de
cirurgia referentes às taxas de sobrevivência e ao tempo de retorno ao trabalho não foram
conclusivas10. Os resultados das meta-análises realizadas no estudo são apresentados a seguir
(figuras 21 a 35).
25
Figura 22 - Tempo de internação cirurgia robô assistida vs. prostatectomia aberta 10
Figura 23 - Incontinência no 3º e 12º mês - cirurgia robô assistida vs. prostatectomia aberta10
26
Figura 24 - Incidência de complicações cirurgia robô assistida vs. prostatectomia aberta 10
27
Figura 26 - Surgical Margin cirurgia robô assistida vs. prostatectomia aberta10
28
Figura 28 - Incidência de transfusão cirurgia robô assistida vs. prostatectomia aberta 10
29
Figura 31 - Incontinência no 3º e no 12º mês cirurgia robô assistida vs. Laparoscopica10
30
Figura 34 - Perda de sangue cirurgia robô assistida vs. Laparoscopica10
31
Informações complementares sobre as evidências
Estudos clínicos com dados do mundo real junto ao ICESP por meio do financiamento de
um Sistema de Cirurgia Robótica DECIIS/SCTIE/MS
Com vistas a se obter uma análise em cenário real sobre a utilização da cirurgia
roboticamente assistida, o Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde do
Ministério da Saúde (DECIIS/SCTIE/MS), por meio do Programa para o Desenvolvimento do
Complexo Industrial da Saúde (PROCIS), firmou o convênio nº 771232/2012 com a Secretaria
do Estado de São Paulo no valor de R$ 8.213.790,00 para aquisição de um Sistema de Cirurgia
Robótica Da Vinci, tendo por objeto: “Comparar através de ensaios prospectivos
randomizados, a curva de aprendizado, os resultados perioperatórios oncológicos e funcionais
entre as diferentes operações realizadas em Instituição de alto volume cirúrgico”. O objetivo é
a realização de estudos prospectivos, randomizados comparando resultados no tratamento do
câncer por via aberta, vídeocirurgia endoscópica e roboassistida em: laringectomias,
esofagectomias, gastrectomias, pancreatectomias, ressecções do reto, histerectomias,
linfadenectomias pélvicas, prostatectomias, cistectomia, nefrectomias parciais, além de
estudos fase II para hepatectomias, tireoidectomias, timectomias e segmentectomias
pulmonares. Desta forma, serão fornecidos à comunidade científica resultados fidedignos a
respeito da viabilidade das técnicas cirúrgicas e avalições de custo-efetividade da cirurgia
roboticamente assistida em serviço público do SUS. O estudo clínico em andamento é
conduzido pela equipe de pesquisadores do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Octavio Frias de Oliveira (ICESP) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O
estudo está registrado sobre o código de identificação NCT02292914, com os devidos
objetivos, critérios de inclusão e exclusão de pacientes, resultados primários e secundários,
desenho e metodologia. A curva de aprendizado, estudo de custo-efetividade, monitoramento
32
ativo do CCIH e análise dos resultados QALY estão em andamento, apresentando atualmente
cerca de 40% de evolução. As principais dificuldades relatadas pelo ICESP têm sido:
Dados Internacionais
33
CADTH para a aquisição, operação e manutenção do Sistema Robótico Da Vinci, conforme
mostra a tabela 5.
O NICE - National Institute for Health and Care Excellence, em seu protocolo para
tratamento de câncer de próstata ressalva que os serviços que desejam utilizar o Sistema de
Cirurgia Robótica para tratamento do câncer de próstata localizado devem se assegurar de sua
sustentabilidade, tomando por base que a mesma pode se mostrar custo-efetiva naquele país
em centros que realizam ao menos 150 procedimentos roboticamente assistidos por ano12.
34
Dados nacionais
600.000,00
500.000,00
400.000,00
300.000,00
200.000,00
100.000,00
0,00
2012 2013 2014 2015 2016 2017
35
O NATS-INCA forneceu também informações sobre os instrumentais e consumíveis
utilizados por procedimento com o Sistema Da Vinci. Alguns destes itens são passíveis de
reprocessamento por esterilização, permitindo uma reutilização máxima de até 10 vezes. A
tabela 7 traz as quantidades e os valores associados a cada instrumental e consumível
utilizado, bem como o cálculo do custo total por cirurgia que é de aproximadamente R$ 30 mil.
Em relação ao consumo anual de energia elétrica, o NATS-INCA estima o valor de R$ 4.000 ao
ano, considerando o funcionamento do sistema por 4 dias semanais.
Último valor
Valor por
Item Código Qtde. pago Valor Total
cirurgia
24/08/2017
36
A tabela 8, elaborada a partir de dados fornecidos pelo DECIIS/SCTIE/MS e pelo NATS-
INCA, com base em informações nacionais, demonstra o Custo Total de Propriedade projetado
para o Sistema de Cirurgia Robótica Da Vinci num período de 7 anos de vida útil. Considerando
uma plena autonomia do serviço, foram incluídos nesta projeção o simulador robótico e a
termodesinfectora, no entanto, os respectivos valores podem ser desconsiderados caso o
serviço já tenha acesso a tais equipamentos.
R$ 9.351.225
AQUISIÇÃO PESQ. DE MERCADO - R$ 9.351.225
(US$ 2.877.300)
PLANEJAMENTO e 5% DO VALOR DE R$ 467.561 R$ 467.561
-
LOGÍSTICA AQUISIÇÃO (US$ 143.865)
INSTALAÇÃO e
R$ 88.601
ADEQUAÇÕES na PESQ. DE MERCADO - R$ 88.601
(US$ 27.262,00)
INFRAESTRUTURA
***R$ 30.394 em
OPERAÇÃO instrumentais e
NATS-INCA / NICE 7 anos R$ 31.913.700
(não inclui RH) consumíveis x 150
procedimentos a.a.
LAVADORA R$ 269.171
PESQ. DE MERCADO - R$ 269.171
TERMODESINFECTORA (US$ 82.822)
R$ 667.943
SIMULADOR ROBÓTICO PESQ. DE MERCADO - R$ 667.943
(US$ 205.521)
CTP - TOTAL - - 7 anos R$ 45.142.996
37
Considerando a quantidade relativamente baixa de procedimentos estimados (150
a.a.) e o fato de não terem sido computados os custos referentes ao maior tempo de cirurgia e
dos recursos humanos envolvidos na cirurgia robótica, pode-se inferir que o impacto
orçamentário real de uma eventual incorporação da tecnologia tende a ser ainda maior.
% %
Procedimento Valor (SIGTAP) Qtde. Total (R$)
(Qtde.) (Valor)
(Cod. 04.09.03.004-0)
RESSECCAO ENDOSCOPICA DE R$ 594,68 10043 R$ 5.972.371 42% 14%
PROSTATA
(Cod. 04.09.03.002-3)
R$ 1.001,71 6074 R$ 6.084.386 26% 15%
PROSTATECTOMIA SUPRAPÚBICA
(Cod. 04.09.03.003-1)
PROSTATOVESICULECTOMIA R$ 1.088,40 801 R$ 871.808 3% 2%
RADICAL
(Cod. 04.16.01.012-1)
PROSTATECTOMIA EM R$ 3.983,29 2713 R$ 10.806.665 12% 26%
ONCOLOGIA
(Cod. 04.16.01.013-0)
PROSTATOVESICULECTOMIA R$ 4.416,26 4050 R$ 17.885.853 17% 43%
RADICAL EM ONCOLOGIA
TOTAIS - 23681 R$ 41.621.083 100% 100%
38
consumíveis apurados na tabela 7, seria de R$ 29,8 mil/procedimento. Levando-se em conta
que o Sistema de Gerenciamento de Equipamentos e Materiais permanentes (SIGEM -
http://portalfns.saude.gov.br/sigem) financiáveis pelo Ministério da Saúde sugere o valor de
R$ 293 mil para a aquisição de um Sistema de Vídeo Laparoscopia contra R$ 9,3 milhões do
Sistema Robótico e que o Custo Total de Propriedade de cada tecnologia segue
proporcionalmente essa diferença, o custo incremental do procedimento roboticamente
assistido deverá ser ainda maior.
O NICE do Reino Unido aborda a cirurgia robótica em sua diretriz para tratamento do
câncer de próstata como uma possibilidade de intervenção a ser considerada no câncer de
próstata localizado, entretanto, ressalva que os prestadores de serviços devem assegurar que
seus sistemas robotizados para o tratamento cirúrgico do câncer de próstata localizado sejam
rentáveis, baseando-os em centros que deverão realizar pelo menos 150 prostatectomias
radicais laparoscópicas assistidas por robôs por ano12. Essa quantidade de 150 procedimentos
também vem sendo adotada em alguns centros clínicos da Itália como uma meta à
sustentabilidade do serviço, conforme informações obtidas por meio de teleconferência com
um especialista daquele país.
Na Bélgica, o Centre Fédéral d’Expertise des Soins de Santé em seu Report nº 104c
relata que, apesar do clamor implícito ou explícito sobre a eventual superioridade desta
tecnologia, a mesma é bastante dependente da habilidade do cirurgião e que não há
evidências claras que comprovem ou refutem os resultados. Apesar disso, informa que
frequentemente pacientes são induzidos por cirurgiões como a melhor intervenção disponível
39
e que a tecnologia tem se mostrado eficaz e segura desde que operada por profissionais
especializados na cirurgia robótica14.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
40
Os estudos encomendados e financiados pelo DECIIS/SCTIE/MS junto ao ICESP, onde
estão incluídos estudos de efetividade em diversos procedimentos e avaliações econômicas no
contexto do SUS, poderão abrir novas perspectivas e indicadores do real benefício na da
cirurgia roboticamente assistida comparada à cirurgia aberta e à cirurgia laparoscópica,
minimizando as incertezas e subsidiando uma futura tomada de decisão de forma mais segura.
11. REFERÊNCIAS
1- Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e
Vigilância. Câncer de Próstata, Estimativas e Tratamento. Rio de Janeiro: INCA; 2017. Disponível em:
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/prostata.
3- Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e
Vigilância. Cartilha sobre Câncer de Próstata, Vamos falar sobre isso? Rio de Janeiro: INCA; 2017.
Disponível em:
http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/cartilha_cancer_prostata_2017_final_WEB.pdf
4- Amorim G, Cruz G, Veloso D, Kartabil J, Vieira J, Alves P. Análise comparativa das técnicas de
prostatectomia radical perineal e suprapúbica na abordagem do câncer de próstata localizado. Einstein.
2010; 8(2 Pt 1):200-4.
6- Ilic D, Evans SM, Allan CA, Jung JH, Murphy D, Frydenberg M. Laparoscopic and robotic-assisted
versus open radical prostatectomy for the treatment of localised prostate cancer. Cochrane Database of
Systematic Reviews 2017, Issue 9. Art. No.: CD009625. DOI: 10.1002/14651858.CD009625.pub2.
41
7- Guazzoni G, Cestari A, Naspro R, Riva M, Centemero A, Zanoni M, et al. Intra- and peri-
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11- Moran PS, O'Neill M, Teljeur C, Flattery M, Murphy LA, Smyth G, Ryan M. Robot-assisted radical
prostatectomy compared with open and laparoscopic approaches: a systematic review and meta-
analysis. International Journal of Urology 2013; 20(3): 312-321
12- NICE National Institute for Health and Care Excelence. Prostate cancer: diagnosis and
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https://www.nice.org.uk/guidance/cg175/chapter/1-Recommendations#assessment-2 Acesso em
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13- Close A, Robertson C, Rushton S, Shirley M, Vale L, Ramsay C, Pickard R. Comparative cost-
effectiveness of robotassisted and standard laparoscopic prostatectomy as alternatives to open radical
prostatectomy for treatment of men with localised prostate cancer: a Health Technology Assessment
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