Protocolos em Anestesiologia - ISSUU
Protocolos em Anestesiologia - ISSUU
Protocolos em Anestesiologia - ISSUU
PROTOCOLOS em
PROTOCOLOS em ANESTESIOLOGIA
ANESTESIOLOGIA
A Anestesiologia moderna, como especialidade médica e área do conhecimento, PROTOCOLOS em
ANESTESIOLOGIA
evoluiu muito em capacidade de intervenção, segurança das técnicas e melhoria de
resultados para os doentes.
O conhecimento profundo da patologia associada dos doentes submetidos a intervenções
cirúrgicas, procedimentos diagnósticos ou terapêuticas invasivas, aliado à monitorização
peri-operatória cada vez mais fiável e disponível, permitiu alargar o âmbito das propostas
anestésicas e acompanhar a complexidade das cirurgias. Paralelamente a Anestesiologia Parte I Patologia Associada
Técnicas Anestésicas
tem acompanhado a escalada de complexidade e atuado em situações cada vez mais
exigentes. Parte II
Este livro congrega duas áreas essenciais da Anestesiologia. Numa primeira secção são
enumeradas as principais características das patologias associadas mais frequentes;
C
e numa segunda secção são apresentadas propostas anestésicas para os tipos de Coordenação
cirurgias e intervenções terapêuticas mais frequentes, das várias especialidades.
M HUMBERTO MACHADO
Escrita por médicos anestesiologistas, com vasta experiência clínica e capacidade de
Y
intervenção terapêutica em diversas áreas, esta obra pretende disponibilizar informação
CM
relevante e dar acesso a referências bibliográficas para aprofundamento das matérias.
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A forma de apresentação das várias patologias associadas e das propostas de técnicas
CY
anestésicas foi pensada de modo a facilitar o acesso e a rápida consulta, sendo assim
CMY uma ferramenta indispensável para médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
K
HUMBERTO MACHADO
Diretor do Serviço de Anestesiologia, Adjunto do Diretor Clínico, Chefe de Equipa do Serviço
de Urgência e Assistente Graduado Sénior em Anestesiologia do Centro Hospitalar Univer-
sitário do Porto, EPE. Especialista em Anestesiologia com Competência em Emergência
Médica pela Ordem dos Médicos.
Professor Catedrático Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da HUMBERTO MACHADO
Universidade do Porto. Doutor em Ciências Médicas pelo Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar da Universidade do Porto; Mestre em Gestão da Saúde pela Escola Nacional
de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.
Coordenador e autor das obras Manual de Anestesiologia e Fisiologia Clínica, publicadas
pela Lidel.
www.lidel.pt
ISBN 978-989-752-418-9
9 789897 524189
ÍNDICE
Autores........................................................................................................................................ XI
Siglas e Abreviaturas............................................................................................................ XIII
1 Cardiovascular................................................................................................................... 3
1.1 Doença Coronária................................................................................................. 3
1.2 Cardiomiopatia Restritiva.................................................................................. 5
1.3 Cardiomiopatia Hipertrófica............................................................................. 7
1.4 Cardiomiopatia Dilatada.................................................................................... 9
1.5 Insuficiência Mitral............................................................................................... 11
1.6 Insuficiência Aórtica............................................................................................ 13
1.7 Estenose Aórtica................................................................................................... 15
1.8 Estenose Mitral...................................................................................................... 17
1.9 Insuficiência Tricúspide...................................................................................... 19
1.10 Insuficiência Cardíaca......................................................................................... 21
1.11 Avaliação do Risco Cardíaco............................................................................. 23
2 Respiratória........................................................................................................................ 25
2.1 Asma......................................................................................................................... 25
2.2 Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)........................................... 28
2.3 Doença Pulmonar Restritiva (DPR)................................................................. 31
2.4 Hipertensão Pulmonar (HTP)............................................................................ 33
2.5 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)..................................... 36
3 Renal.................................................................................................................................... 39
3.1 Insuficiência Renal Aguda................................................................................. 39
3.2 Insuficiência Renal Crónica............................................................................... 41
4 Neurológica....................................................................................................................... 43
4.1 Acidente Vascular Cerebral............................................................................... 43
4.2 Doenças do Neurónio Motor............................................................................ 47
4.3 Doenças do Movimento..................................................................................... 49
4.4 Doenças Desmielinizantes................................................................................. 52
4.5 Demência................................................................................................................ 55
© Lidel – edições técnicas
5 Hematológica.................................................................................................................... 61
5.1 Anemia..................................................................................................................... 61
5.2 Trombocitopenia.................................................................................................. 63
5.3 Imunodeficiências................................................................................................ 64
5.4 Hipocoagulação.................................................................................................... 66
5.5 Antiagregação....................................................................................................... 68
VI Protocolos em Anestesiologia – Patologia Associada e Técnicas Anestésicas
5.6 Hemoglobinopatias............................................................................................. 70
5.7 Doença de von Willebrand (DvW) e Hemofilia.......................................... 72
5.8 VIH............................................................................................................................. 74
6 Hepática e Gastroenterológica................................................................................... 77
6.1 Doença Inflamatória Intestinal........................................................................ 77
6.2 Neoplasia Digestiva............................................................................................. 79
6.3 Doença Hepática Crónica.................................................................................. 82
6.4 Doença Hepática Aguda.................................................................................... 85
6.5 Hemorragia Gastrointestinal Aguda.............................................................. 86
6.6 Hepatites Víricas.................................................................................................... 88
7 Trauma................................................................................................................................. 91
7.1 Politraumatizado................................................................................................... 91
7.2 Traumatismo Cranioencefálico........................................................................ 96
7.3 Traumatismo Vertebromedular........................................................................ 99
7.4 Trauma Abdominopélvico................................................................................. 102
7.5 Trauma Torácico.................................................................................................... 105
7.6 Trauma dos Membros......................................................................................... 108
7.7 Queimados.............................................................................................................. 110
7.8 Trauma Facial......................................................................................................... 115
8 Endócrina............................................................................................................................ 117
8.1 Diabetes Mellitus................................................................................................... 117
8.2 Obesidade............................................................................................................... 119
8.3 Tiroide e Paratiroide............................................................................................ 121
8.4 Suprarrenal............................................................................................................. 122
8.5 Hipófise.................................................................................................................... 124
8.6 Doente sob Corticoterapia .............................................................................. 126
2 Ortopedia........................................................................................................................... 235
2.1 Membro Superior................................................................................................. 235
2.2 Membro Inferior.................................................................................................... 239
2.3 Ráquis....................................................................................................................... 245
3 Urologia............................................................................................................................... 251
3.1 Cistectomia Radical............................................................................................. 251
3.2 Nefrectomia............................................................................................................ 255
3.3 Prostatectomia ..................................................................................................... 259
3.4 Ressecção Transuretral da Próstata (RTU-p)................................................ 262
3.5 Outros Procedimentos em Urologia ............................................................. 265
© Lidel – edições técnicas
5 Neurocirurgia.................................................................................................................... 283
5.1 Tumores Supratentoriais.................................................................................... 283
5.2 Vascular Aneurismática...................................................................................... 286
5.3 Neurocirurgia Funcional ................................................................................... 289
5.4 Cirurgia da Fossa Posterior............................................................................... 292
5.5 Craniotomia Em Doente Acordado ............................................................... 295
8 Oftalmologia...................................................................................................................... 319
8.1 Câmara Anterior.................................................................................................... 319
8.2 Vitrectomia............................................................................................................. 321
8.3 Transplante de Córnea....................................................................................... 323
9 Otorrinolaringologia....................................................................................................... 325
9.1 Cirurgia do Ouvido.............................................................................................. 325
9.2 Cirurgia do Nariz................................................................................................... 327
9.3 Cirurgia da Laringe.............................................................................................. 329
Epidemiologia
A DCI é um dos principais fatores de morbimortalidade peri-operatória. Até 20% dos doentes submetidos
a cirurgia têm evidências pré-operatórias de isquemia miocárdica. Os fatores de risco para DCI são:
género masculino, idade, tabagismo, hipertensão, obesidade hipercolesterolemia, DM, sedentarismo,
história familiar
Fisiopatologia
A isquemia miocárdica resulta do desequilíbrio entre a oferta de O2 e o seu consumo pelo miocárdio.
A aterosclerose é a causa mais comum de défice do fluxo sanguíneo coronário, podendo resultar, de
acordo com o grau de estenose, em: angina estável, angina instável ou EAM
Implicações perioperatórias
Pré-operatório
n Identificar sinais e sintomas indicativos de DCI ativa (dor pré-cordial associada a exercício ou em
repouso) e de IC (cansaço, dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, edemas periféricos,
congestão pulmonar). Avaliar capacidade funcional
n MCDT:
– Estudo analítico individualizado ao doente e tipo de cirurgia ECG
– EcoTT para avaliar a FEVE
– Prova de esforço/Eco de stress útil para objetivar a capacidade funcional e evidenciar isquemia mio-
cárdica associada a aumento do consumo de O2 (dispensável em doentes com DCI estável e boa
capacidade funcional). Se prova de esforço ou Eco de stress positivas, realizar angiografia coronária
n Medicação habitual: betabloqueadores, nitratos, ACC e estatinas devem ser mantidos no periopera-
tório. Manuseio da antiagregação dupla de acordo com risco trombótico/hemorrágico. Adiar cirurgia
eletiva 6 meses-1 ano após o evento
Intraoperatório
n Monitorização:
– Standard ASA
– Ponderar PAI e monitorização de DC (p. ex., Starling SV®, Picco®) consoante complexidade cirúr-
gica e gravidade clínica
n Indução/Manutenção:
– Manter relação oferta/consumo de O2 favorável
– Analgesia e profundidade anestésica adequadas para evitar grandes estímulos simpáticos (que
resultam em hipertensão, taquicardia e aumento da contractilidade)
– Pode ser considerado betabloqueador de curta duração (p. ex., esmolol)
– Evitar PAM <20% do habitual devido à diminuição da perfusão miocárdica
© Lidel – edições técnicas
(continuação)
Pós-operatório
n Ponderar vaga em unidades de cuidados intensivos/intermédios, de acordo com fatores individuais
e risco cirúrgico
n Reconhecimento e tratamento precoce de hemorragia, hipotensão, dor, hipotermia e taquicardia
Preocupações gerais
Manter estabilidade HD evitando fatores que aumentam o consumo e diminuem a oferta de O2
Armadilhas
Doentes com DCI grave podem apresentar ECG e ecocardiograma em repouso normais. A deteção
intraoperatória de isquemia depende apenas do reconhecimento de alterações eletrocardiográficas, HD
ou alterações da cinética segmentar na ETE
Legenda: ACC – antagonistas dos canais de cálcio; ASA – American Society of Anesthesiologists; BNE – bloqueio de neuroeixo;
BNP – bloqueio de nervo periférico; DC – débito cardíaco; DCI – doença cardíaca isquémica; DM – diabetes mellitus; EAM – enfarte
agudo do miocárdio; ECG – eletrocardiograma; EcoTT – ecocardiograma transtorácico; ETE – ecocardiografia transesofágica; FEVE –
fração de ejeção do ventrículo esquerdo; Hb – hemoglobina; HD – hemodinâmica; HTA - hipertensão arterial; IC – insuficiência cardíaca;
MCDT – meios complementares de diagnóstico; PAI – pressão arterial invasiva; PAM – pressão arterial média.
BIBLIOGRAFIA
Allman, K., & Wilson, I. (Eds.) (2011). Oxford Handbook of Anesthesia, 3rd ed. Oxford: Oxford
University Press.
Hines, R., & Marschall, K. (2018). Stoelting’s anesthesia and co-existing disease, 7th ed. Philadel-
phia: Elsevier.
Kaplan, J. (2018). Kaplan’s Essentials of Cardiac Anesthesia, 2nd ed. Philadelphia: Elsevier.
Prout, J., Jones, T., & Martin, D. (Eds.) (2014). Oxford Higher Specialty Training: Advanced Training
in Anesthesia. Oxford: Oxford University Press.
HEMATOLÓGICA 5
5.1 ANEMIA
Epidemiologia
Em Portugal: cerca de 20% dos doentes tem anemia, dos quais 84% desconhece este facto (é consi-
n
Fisiopatologia
Definida como Hb inferior a 13 g/dl nos homens, 12 g/dl nas mulheres e 11 g/dl na grávida (anemia
n
fisiológica dilucional)
Hematócrito e contagem de GR também entram na definição
n
Anemia crónica: causas mais comuns nos países desenvolvidos são anemia por défice de ferro,
n
Minimizar perdas:
n
– Tratar coagulopatias
– Ponderar estratégia cell salvage
– Adotar técnicas anestésicas e cirúrgicas com potencial hemostático
© Lidel – edições técnicas
(continuação)
Pós-operatório
n Otimizar massa de GR:
– Atentar em interações medicamentosas
– Considerar défice de ferro e anemia
n Minimizar perdas:
– Monitorizar hemorragia pós-operatória
– Evitar flebotomia
– Aquecer doente, manter temperatura
– Monitorização de eventos adversos
– Tratar infeções atempadamente
n Controlar a anemia:
– Adotar estratégia de transfusão restritiva
– Evitar oxigenoterapia, maximizar entrega de O2
Preocupações gerais
n Minimizar a probabilidade de alterações que poderiam interferir na entrega de O2 aos tecidos, p. ex.:
– Hiperventilação hipocapnia desvio da curva para a esquerda
– Hipotermia desvio da curva para a esquerda
n Anemia aumenta o risco de isquemia e deiscência de anastomoses
Armadilhas
Anteriormente, o limiar de transfusão era de 10 g/dl, o que não está recomendado atualmente. Depois
de otimização da função cardiorrespiratória e da Hb e massa de GR no pré-operatório, deve adotar-se
uma estratégia restritiva, consoante a tolerabilidade e patologia do doente (p. ex., se doente com doença
coronária instável, considerar limiar de hematócrito de 28%-30%)
Legenda: DC – débito cardíaco; GR – glóbulos rubros; Hb – hemoglobina.
BIBLIOGRAFIA
Hines, R., & Marschall, K. (2018). Stoelting’s anesthesia and co-existing disease, 7th ed. Philadelphia:
Elsevier.
Miller, R. D. (Ed.) (2015). Miller’s Anesthesia, 8th ed. Philadelphia: Elsevier/Saunders.
National Blood Authority (2012). Patient Blood Management Guidelines: Module 2 – Perioperative.
Canberra: National Blood Authority.
Trauma 105
Epidemiologia
Causa de 25% das mortes relacionadas com o trauma, contribuindo ainda para morte por hipoxia ou
n
hipovolemia
Mortalidade por lesões penetrantes pulmonares isoladas é muito baixa (<1%), se cardíacas ≈ 20%
n
Fisiopatologia
Importante conhecer o mecanismo do trauma para estimar as lesões previstas e o risco de hemorragia
n
Têm de ser excluídas 6 condições imediatamente ameaçadoras de vida após trauma torácico:
n
– Pneumotórax hipertensivo:
- Se em ventilação espontânea: dor torácica, dispneia, ↓ MV, taquicardia, hipotensão, desvio da
traqueia, hipoxia (estes sinais mais tardios)
- Em ventilação com pressão positiva: rápida ↓ DC, e TA, hipoxia, ↓ expansibilidade torácica e
↓ MV, ↑ pressão de vias aéreas, taquicardia, enfisema subcutâneo, distensão venosa se hipovole-
mia ausente e desvio da traqueia. Tratamento com descompressão imediata com toracostomia
lateral (seguida da inserção de dreno torácico). Descompressão com agulha considerada técnica
de último recurso dada a alta taxa de falha
– Pneumotórax aberto/ferida torácica aberta
– Hemotórax maciço: >1500 ml de sangue na cavidade torácica, sinais de choque hipovolémico,
macicez à percussão, ↓ MV, hipoxia. Manuseio imediato com O2, acessos EV, ressuscitação fluidos
com protocolo de hemorragia maciça e colocação de dreno torácico
– Flail chest: por múltiplas fraturas de costelas adjacentes, se em ventilação espontânea o doente
apresenta dor severa e movimento paradoxal da parede torácica. Commumente associado a con-
tusão pulmonar que pode não aparecer no Rx tórax inicial e pode desenvolver rapidamente após
a lesão. Tratamento de suporte, oxigenoterapia, ventilação não invasiva ou invasiva protetora e
analgesia (opioides EV/bloqueios intercostais/epidural torácica). Indicações para IOT e VMI: hipoxe-
mia, hipoventilação, exaustão respiratória (bradia/taquipneia), lesões associadas com compromisso
ventilatório
– Tamponamento cardíaco: suspeitar em todas as vítimas de lesão penetrante torácica, do pes-
coço e abdómen superior. Tríade de Beck (hipotensão, ↑ PVJ, ↓ sons cardíacos), pulso paradoxal
(queda >10 mmHg da TAS na inspiração), sinal de Kussmaul (↑ PVJ na inspiração). Manuseio:
ressuscitação volémica e evacuação cirúrgica do tamponamento por esternotomia/toracotomia ou,
em último recurso, pericardiocentese
– Obstrução/rutura da VA: por trauma fechado ou penetrante. Sinais: enfisema subcutâneo, pneu-
momediastino, pneumoperitoneu, pneumopericárdio sem causa aparente. Pequenas lesões podem
não ser aparentes na broncoscopia direta e TC. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico.
A passagem de um TOT além da rutura pode permitir estabilizar o doente até ao tratamento defi-
nitivo
Outras lesões torácicas potencialmente ameaçadoras de vida:
n
– Lesões da aorta torácica: devem ser excluídas em qualquer doente com trauma de alta energia
como queda em altura ou acidente de viação. Região mais comum logo após emergência artéria
© Lidel – edições técnicas
(continuação)
– Lesão cardíaca fechada: após trauma fechado de impacto frontal torácico. Difícil diagnóstico dife-
rencial de isquemia do miocárdio. Se estabilidade HD e ausência de alterações eletrocardiográficas
pode excluir-se lesão cardíaca fechada. Se alterações eletrocardiográficas e hipotensão excluir
outras causas e realizar EcoTT. Tratamento sintomático, fluidoterapia cautelosa, vasodilatadores
coronários e monitorização de alterações de ritmo. Lesões penetrantes ou fechadas com rutura das
câmaras cardíacas: alta taxa de mortalidade imediata, podem apresentar-se com tamponamento
cardíaco e grande instabilidade HD. Diagnóstico clínico eFAST. Necessidade de descompressão e
tratamento cirúrgico emergente
– Rutura do diafragma (5% traumas torácicos fechados, diagnóstico pode ser difícil e tardio, 75% do
lado esquerdo com herniação de estômago e cólon com possível estrangulamento, queixas de dor
abdominal e torácica e ARDS com ↓ dos sons respiratórios, diagnóstico radiológico por Rx tórax,
TC e tratamento cirúrgico); rutura esofágica (queixas de dor abdominal e torácica severa, pneu-
momediastino no Rx tórax, Dx confirmado por estudo com contraste do esófago ou endoscopia,
tratamento cirúrgico urgente por alto risco de mortalidade associada a mediastinite)
n Outras causas de ventilação inadequada no doente traumatizado: redução do drive respiratório
(TCE, TVM cervical alto, choque, intoxicação, sedação excessiva), aspiração
n Exames diagnósticos: utilizar ecografia para exclusão de situações ameaçadoras de vida –
extended-FAST (> acuidade em detetar pneumotórax, hemotórax ou tamponamento cardíaco que Rx
tórax), Rx tórax, TC tórax
Implicações perioperatórias
Pré-operatório
n A abordagem do doente com trauma torácico segue a abordagem ABCDE de todos os doentes de
trauma
n Indicações para toracotomia (raramente necessária): lesão mediastínica, lesão traqueobrônquica,
fuga de ar maciça ou instabilidade HD com evidente ponto de partida torácico
n No trauma torácico fechado, se hemotórax >500 ml dreno torácico
n Se hemorragia mantida com débito >1500 ml em 24 h ou >200 ml em 3 h consecutivas toracotomia
n Toracotomia damage-control emergente se choque refratário por trauma torácico com dreno torá-
cico com débito inicial >1500 ml (hemotórax maciço)
n Ponderar tratamento por radiologia de intervenção, se disponível
Intraoperatório
n Manter mesmos princípios de manuseio perioperatório do doente politraumatizado
n Sequência:
– A: apesar da intubação com TDL ser desejável para toracotomia urgente não deve ser a abordagem
inicial. ISR com TET de largo calibre convencional (pelo menos 8,0 mm DI) para permitir broncos-
copia diagnóstica e proteger a VA de aspiração, fazendo-se depois a troca para o TDL
– B: após IOT pode haver necessidade emergente de toracostomia e colocação de dreno torácico
por desenvolvimento de pneumotórax hipertensivo após início da ventilação com pressão positiva.
Se necessária IOT para a cirurgia avaliar condições de extubação no final se flail chest ou contusão
pulmonar. Ponderar extubação para VNI
– C: acessos endovenosos adequados, monitorização invasiva da pressão arterial. Potencial utiliza-
ção de cell salvage (se conteúdos não contaminados). Utilização de sistemas de infusão rápida de
fluidos vantajosa
– D: vigilância e monitorização clínica
– E: importante manter normotermia
(continua)
Imunologia/Neuroendócrino 181
Epidemiologia
Ocorre em 0,1% da população
n
Homens e doentes com apresentação tardia tendem a ter doença mais grave e pior prognóstico
n
Fisiopatologia
Resposta imune de células T a antigénios próprios leva a autoimunidade contra componentes celula-
n
ção/lúpus induzido)
Implicações perioperatórias
Pré-operatório
Avaliar atividade da doença: níveis séricos de anticorpos e complemento
n
– Atividade e progressão da doença não tem relação comprovada com mortalidade, mas é prudente
adiar cirurgia eletiva até recuperação de flares
MCDT a pedir: hemograma, bioquímica, sedimento urinário, estudo de coagulação e ECG 12 dias
n
para todos. A restante avaliação pré-operatória irá depender das manifestações da doença
VA:
n
Hematológico:
n
– Anemia em aproximadamente 50% (doença crónica, hemólise, défice de ferro, IRC, toxicidade
farmacológica)
– Linfopenia
– Trombocitopenia em aproximadamente 10%
(continua)
182 Protocolos em Anestesiologia – Patologia Associada e Técnicas Anestésicas
(continuação)
n Alterações da coagulação:
– Estudo alargado se indicado
– Anticorpos antifosfolipídicos e outros fatores trombóticos – Alterações no estudo da coagulação
podem não refletir o estado pró/antitrombótico efetivo
– Prevenção primária com AAS. Prevenção secundária com hipocoagulação para INR 2,0-3,0
n Gastrointestinal:
– Avaliação de sintomatologia relevante
– Úlceras orais em 7%-52%
– Disfagia em 1%-13%
– RGE em 11%-50%
– Dor abdominal aguda em aproximadamente 40% (diagnóstico abdómen agudo Cx)
– Hepatite autoimune e por toxicidade de fármacos
n Musculoesquelética:
– Artrite não erosiva
– Osteoporose
– Subluxação atlanto-odontoideia
n Infeção:
– Aumento do risco de infeção pelo LES em si e pelos efeitos imunossupressores do tratamento
Imunossupressão aumenta o risco de infeção e deve ponderar-se a sua suspensão 1 mês antes
de cirurgia eletiva
n Efeitos do tratamento: a maioria dos fármacos utilizados no LES tem efeitos secundários relevantes
à prática anestésica, nomeadamente na interação com os RNMsc
Intraoperatório
n VA: a manipulação da VA deve ser o menos invasiva possível pelo risco de edema pós-extubação em
doentes com atingimento laríngeo, com atenção ao risco de aspiração em doentes com atingimento GI
n Proteção renal: pelo risco de nefrite lúpica subclínica. Manter DU, evitar hipoperfusão e nefrotóxicos
n Posicionamento: aferir a amplitude de movimentos articulares confortáveis no doente acordado e
não a exceder no doente anestesiado para evitar lesões
n Supressão adrenal: doentes medicados com ≥10-20 mg/dia de prednisona (ou equivalente) durante
≥3 semanas devem receber dose de stress de corticosteroide, além da dose habitual
Pós-operatório
n Analgesia: atenção a efeitos secundários e a interações
n Coagulação: medidas mecânicas de profilaxia de TVP e reintrodução de hipocoagulação terapêutica
assim que possível em doentes hipocoagulados
Preocupações gerais
n Doença multissistémica com grande variação interindividual de manifestações
n Proteção renal
n Alterações da coagulação
Armadilhas
n Lesão renal aguda
n Profilaxia antitrombótica
n Manifestações ocultas (p. ex., VAD não esperada)
Legenda: AAS – ácido acetilsalicílico; Cx – cirúrgico; DRCE5 – insuficiência renal crónica estádio 5; DU – débito urinário;
EBV – vírus Epstein-Barr; FEVE – fração de ejeção do ventrículo esquerdo; FR – frequência respiratória; INR – international normalized
ratio; LES – lúpus eritematoso sistémico; RNMsc – relaxante neuromuscular; SAF – síndrome antifosfolipídico; TC-AR – tomografia
computorizada de alta resolução; TVP – trombose venosa profunda; VAD – via aérea difícil.
ORTOPEDIA
2
2.1 MEMBRO SUPERIOR
monia de aspiração
(continua)
236 Protocolos em Anestesiologia – Patologia Associada e Técnicas Anestésicas
(continuação)
BIBLIOGRAFIA
Abel, R. B., & Rosenblatt, M. R. (2014). Preoperative evaluation and preparation of patients for orthopedic
surgery. Anesthesiology Clinics, 32(4), 881-892.
Allman, K., & Wilson, I. (Eds.) (2016). Oxford Handbook of Anesthesia, 4th ed. Oxford: Oxford University Press.
Kaye, A. D., Urman, R. D. & Vadivelu, N. (Eds.) (2012). Essentials of Regional Anesthesia. New York: Sprin-
ger-Verlag.
European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, ESRA. (s.d.). Procedures Specific Postopera-
tive Pain Management (PROSPECT): Better Postoperative Pain Management. Disponível em www.posto-
ppain.org, acedido a 18 de agosto de 2019.
OTORRINOLARINGOLOGIA
9
9.1 CIRURGIA DO OUVIDO
controlada, com níveis de PAM 50-60 mmHg e FC < 60 bpm, desde que o estado
físico do doente não o contraindique
Antiedematoso: metilprednisolona
n
TA não invasiva
n
Pletismografia
n
Pressão VA e EtCO2
n
BIS
n
n Analgesia:
– Paracetamol
– Parecoxib/ceterolac
© Lidel – edições técnicas
(continuação)
Extubação na sala operatória suave e calma sempre que possível, após descura-
rização completa (TOF ratio >90%)
Pós-operatório Controlo: HD, dor (morfina se necessário), delírio, náuseas e vómitos (particular
atenção por cirurgia com potencial emetizante), evitar movimentos bruscos da ca-
beça, ventilação, diurese, complicações locais
Problemas potenciais
Avaliação de patologia cardiovascular para limitar o grau de hipotensão controlada
Pré-operatório Avaliação dos extremos da posição da cabeça (sobretudo em doentes com DCV
ou artrite)
Possível lesão do nervo facial (alerta para dissecção e preservação do nervo facial)
Rigidez torácica induzida por remifentanilo
Intraoperatório
Evitar N2O ou suspender 30 min antes do fim do procedimento por risco de difusão
para o ouvido médio
Hemorragia no local cirúrgico
Pós-operatório Controlar movimentos bruscos da cabeça, NVPO, aumento da PIC e disrupção
do procedimento
Legenda: BIS – índice biespectral; BNM – bloqueio neuromuscular; DCV – doença cerebrovascular; DD – decúbito dorsal; ECG – ele-
trocardiograma; HD – hemodinâmica; IBP – inibidor da bomba de protões; NVPO – náuseas e vómitos pós-operatórios; PAM – pres-
são arterial média; PFR – provas funcionais respiratórias; PIC – pressão intracraniana; RAE – ring, adair and elwyn; Rx – radiografia;
TA – tensão arterial; TOF – train-of-four.
BIBLIOGRAFIA
Allman, K., & Wilson, I. (Eds.) (2016). Oxford Handbook of Anesthesia, 4th ed. Oxford: Oxford
University Press.
Butterworth, J. F., Mackey, D. C., & Wasnick, J. D. (2013). Morgan & Mikhail’s Clinical Anesthesiology,
5th ed. New York, N.Y.: McGraw-Hill Education LLC.
Pino, R. M. (Ed.) (2016). Handbook of Clinical Anesthesia Procedures of the Massachusetts Gene-
ral Hospital, 9th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer.
Cirurgia Pediátrica 391
13.10 PREMATURO
Nota: Prematuro: RN com nascimento antes das 37 semanas pós-concecionais. Prematuridade externa se nascidos antes das 28 semanas.
(continuação)
n AGIV: indução com tiopental e fentanilo, manutenção com
perfusão de fentanilo ou AGB com VC com baixa dose de
agente inalatório e altas doses de opioide. Conservar tempe-
ratura. Evitar SpO2 >96% (risco de ROP)
n O encerramento súbito pode causar grande aumento da
Encerramento do TAS e risco de HIV, pelo que o canal deve ser encerrado
canal arterial gentilmente e a concentração de anestésico volátil pode ser
temporariamente aumentada
n Dor ligeira, infiltração local/bloqueio interpleural pelo cirur-
gião + paracetamol + morfina
n Ventilação pós-operatória até estabilidade, para posterior
desmame
Geralmente por NEC, em prematuro doente. Corrigir altera-
ções ácido-base, desidratação e coagulopatia previamente.
Pode haver grandes perdas para o 3.º espaço com necessi-
Laparotomia
Procedimentos dade de fluidoterapia. Se não intubado previamente proceder
particulares com ISR. Necessidade de UCIN pós-operatória. Grande mor-
bimortalidade
n Procedimento não estimulante, geralmente para investiga-
ção de possível lesão cerebral
Pode ser realizado sem necessidade de fármacos por ali-
TC/RMN
n
Pós-operatório LRA
n
Legenda: AL – anestésico local; EV – endovenoso; FV – fibrilação ventricular; LRA – lesão renal aguda; PCR – paragem cardiorrespirató-
ria; VA – via aérea; TV – taquicardia ventricular.
BIBLIOGRAFIA
Borshoff, D.C., & Lighthall, G. (2013). The Anesthetic Crisis Manual. Perth, Australia: Leeuwin Press.
Ruskin, K. J., & Rosenbaum, S. H. (2015). Anesthesia Emergencies. Oxford: Oxford University Press.
Sekimoto, K., Tobe, M., & Saito, S. (2017). Local anesthetic toxicity: acute and chronic manage-
ment. Acute Medicine & Surgery, 4(2), 152-160. doi: 10.1002/ams2.265
14,5cm x 21 cm 19,4mm 14,5cm x 21 cm
PROTOCOLOS em
PROTOCOLOS em ANESTESIOLOGIA
ANESTESIOLOGIA
A Anestesiologia moderna, como especialidade médica e área do conhecimento, PROTOCOLOS em
ANESTESIOLOGIA
evoluiu muito em capacidade de intervenção, segurança das técnicas e melhoria de
resultados para os doentes.
O conhecimento profundo da patologia associada dos doentes submetidos a intervenções
cirúrgicas, procedimentos diagnósticos ou terapêuticas invasivas, aliado à monitorização
peri-operatória cada vez mais fiável e disponível, permitiu alargar o âmbito das propostas
anestésicas e acompanhar a complexidade das cirurgias. Paralelamente a Anestesiologia Parte I Patologia Associada
Técnicas Anestésicas
tem acompanhado a escalada de complexidade e atuado em situações cada vez mais
exigentes. Parte II
Este livro congrega duas áreas essenciais da Anestesiologia. Numa primeira secção são
enumeradas as principais características das patologias associadas mais frequentes;
C
e numa segunda secção são apresentadas propostas anestésicas para os tipos de Coordenação
cirurgias e intervenções terapêuticas mais frequentes, das várias especialidades.
M HUMBERTO MACHADO
Escrita por médicos anestesiologistas, com vasta experiência clínica e capacidade de
Y
intervenção terapêutica em diversas áreas, esta obra pretende disponibilizar informação
CM
relevante e dar acesso a referências bibliográficas para aprofundamento das matérias.
MY
A forma de apresentação das várias patologias associadas e das propostas de técnicas
CY
anestésicas foi pensada de modo a facilitar o acesso e a rápida consulta, sendo assim
CMY uma ferramenta indispensável para médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
K
HUMBERTO MACHADO
Diretor do Serviço de Anestesiologia, Adjunto do Diretor Clínico, Chefe de Equipa do Serviço
de Urgência e Assistente Graduado Sénior em Anestesiologia do Centro Hospitalar Univer-
sitário do Porto, EPE. Especialista em Anestesiologia com Competência em Emergência
Médica pela Ordem dos Médicos.
Professor Catedrático Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da HUMBERTO MACHADO
Universidade do Porto. Doutor em Ciências Médicas pelo Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar da Universidade do Porto; Mestre em Gestão da Saúde pela Escola Nacional
de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.
Coordenador e autor das obras Manual de Anestesiologia e Fisiologia Clínica, publicadas
pela Lidel.
www.lidel.pt
ISBN 978-989-752-418-9
9 789897 524189