Arte Naval - Cap. 02

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CAPÍTULO 2

GEOMETRIA DO NAVIO

SEÇÃO A – DEFINIÇÕES

2.1. Plano diametral, plano de flutuação e plano transversal (fig. 2-1) –


Uma característica geométrica dos navios é possuírem no casco um plano de sime-
tria; este plano chama-se plano diametral ou plano longitudinal e passa pela quilha.
Quando o navio está aprumado (art. 2.80), o plano diametral é perpendicular ao
plano da superfície da água, que se chama plano de flutuação. Plano transversal é
um plano perpendicular ao plano diametral e ao de flutuação.

PLANO DIAMETRAL

PLANO DE FLUTUAÇÃO

SEÇÃO NO PLANO TRANSVERSAL


L F

Fig. 2-1 – Planos do casco

2.2. Linha de flutuação (fig. 2-2) – Linha de flutuação (LF), ou simplesmen-


te flutuação, é a interseção da superfície da água com o contorno exterior do navio.
A flutuação correspondente ao navio completamente carregado denomina-se flutuação
carregada, ou flutuação em plena carga. A flutuação que corresponde ao navio com-
pletamente vazio chama-se flutuação leve. A flutuação que corresponde ao navio no
deslocamento normal (art. 2.70) chama-se flutuação normal.

LINHA DE
FLUTUAÇÃO EM PLENA CARGA COSTADO
FLUTUAÇÃO
LINHA - -D'ÁGUA

FLUTUAÇÃO LEVE
CARENA

Fig. 2-2 – Linha de flutuação


50 ARTE NAVAL

2.3. Flutuações direitas ou retas – Quando o navio não está inclinado, as


flutuações em que poderá ficar são paralelas entre si e chamam-se de flutuações
direitas ou flutuações retas. O termo flutuação, quando não se indica o contrário, é
sempre referido à flutuação direita e carregada.

2.4. Flutuações isocarenas – Quando dois planos de flutuação limitam volu-


mes iguais de água deslocada, diz-se que as flutuações são isocarenas. Por exem-
plo, as flutuações são sempre isocarenas quando o navio se inclina lateralmente: a
parte que emergiu em um dos bordos é igual à parte que imergiu no outro, e a
porção imersa da carena modificou-se em forma, mas não em volume.

2.5. Linha-d’água projetada ou flutuação de projeto (LAP) – É a princi-


pal linha de flutuação que o construtor estabelece no desenho de linhas do navio
(fig. 2-3). Nos navios mercantes, corresponde à flutuação em plena carga. Nos navi-
os de guerra, refere-se à flutuação normal. A LAP pode, entretanto, não coincidir
com estas linhas de flutuação devido à distribuição de pesos durante a construção.

LINHA-D'ÁGUA PROJETADA
CALADO AV
CALADO AR

FUNDO DA SUPERFÍCIE MOLDADA LINHA BASE

Fig. 2-3 – Linha-d'água projetada

2.6. Zona de flutuação (fig. 2-2) – É a parte das obras vivas compreendida
entre a flutuação carregada e a flutuação leve, e assinalada na carena dos navios de
guerra pela pintura da linha-d’água. O deslocamento da zona de flutuação indica,
em peso, a capacidade total de carga do navio.

2.7. Área de flutuação – É a área limitada por uma linha de flutuação.

2.8. Área da linha-d’água – É a área limitada por uma linha-d’água no


projeto do navio (art. 2.42).

2.9. Superfície moldada (fig. 2-4) – É uma superfície contínua imaginária


que passa pelas faces externas do cavername do navio e dos vaus do convés.
Nos navios em que o forro exterior é liso (art. 6.17d), esta superfície coincide com a
da face interna deste forro.
Nas embarcações de casco metálico, o contorno inferior da superfície
moldada coincide com a face superior da quilha sempre que o navio tiver quilha
maciça (art. 6.6a) e, algumas vezes, se a quilha é chata (art. 6.6c); nas embarca-
ções de madeira, coincide com a projeção, sobre o plano diametral, do canto supe-
rior do alefriz da quilha.
GEOMETRIA DO NAVIO 51

MEIA-BOCA

Fig. 2-4 – Superfície moldada

2.10. Linhas moldadas – São as linhas do navio referidas à superfície mol-


dada. Em navios de aço, a diferença entre as linhas moldadas e as linhas externas
é muito pequena; por exemplo, a boca moldada de determinada classe de
contratorpedeiro é de 35 pés e 5 polegadas e a boca máxima é de 35 pés e 6
polegadas. As linhas do desenho de linhas são moldadas (fig. 2-5).

2.11. Superfície da carena – É a superfície da carena, tomada por fora do


forro exterior, não incluindo os apêndices. Nos navios de forro exterior em trincado
(art. 6.17d), a superfície da carena é medida na superfície que passa a meia espes-
sura deste forro exterior.
A superfície da carena somada à superfície do costado representa a área
total do forro exterior, e permite calcular aproximadamente o peso total do
chapeamento exterior do casco.

2.12. Superfície molhada – Para um dado plano de flutuação, é a superfície


externa da carena que fica efetivamente em contato com a água. Compreende a
soma da superfície da carena e as dos apêndices. É necessária para o cálculo da
resistência de atrito ao movimento do navio; somada à superfície do costado permi-
te estimar a quantidade de tinta necessária para a pintura do casco.

2.13. Volume da forma moldada – É o volume compreendido entre a super-


fície moldada da carena e um determinado plano de flutuação.
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COMPRIMENTO TOTAL: .............. 10' 0"
COMPRIMENTO ENTRE PP: ......... 93' 6"
BOCA: ........................................ 25' 0"
PONTAL: .................................... 13' 0"
CAMBOTA: ................................. 0"
ALT. FUNDO: .............................. 1' 3"

PLANO DAS BALIZAS

ARTE NAVAL
LINHA-D´ÁGUA

PLANO DAS LINHAS-D´ÁGUA

Fig. 2-5 – Desenho de linhas


GEOMETRIA DO NAVIO 53

2.14. Volume da carena – É o volume compreendido entre a superfície mo-


lhada e um dado plano de flutuação. Este volume é, às vezes, chamado simples-
mente carena, pois, nos cálculos, não há possibilidade de confusão com a parte do
casco que tem este nome.
Para embarcações de aço, o volume da carena é calculado pelo volume do
deslocamento moldado mais o do forro exterior e dos apêndices, tais como a parte
saliente da quilha, o leme, o hélice, os pés-de-galinha dos eixos, as bolinas etc.
Para as embarcações de madeira, é o volume do casco referido ao forro exterior
mais os volumes dos apêndices. O volume da carena é o que se emprega para o
cálculo dos deslocamentos dos navios.

2.15. Curvatura do vau (fig. 2-6) – Os vaus do convés, e algumas vezes os


das cobertas acima da linha-d’água, possuem uma curvatura de modo a fazer com
que a água possa sempre escorrer para o costado, facilitando o escoamento. Esta
curvatura é geralmente um arco de circunferência ou de parábola e dá uma resistên-
cia adicional ao vau.

-
LINHA-D´ÁGUA

Fig. 2-6 – Dimensões da seção a meia-nau

2.16. Linha reta do vau (fig. 2-6) – Linha que une as interseções da face
superior do vau com as faces exteriores da caverna correspondente.

2.17. Flecha do vau (fig. 2-6) – É a maior distância entre a face superior do
vau e a linha reta; é, por definição, medida no plano diametral do navio.

2.18. Mediania – Interseção de um pavimento com o plano diametral do


navio.

2.19. Seção a meia-nau – É a seção transversal a meio comprimento entre


perpendiculares (art. 2.50).
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2.20. Seção transversal; seção mestra – Chama-se seção transversal qual-


quer seção determinada no casco de uma embarcação por um plano transversal. A
maior das seções transversais chama-se seção mestra. A seção mestra é situada
em coincidência com a seção a meia-nau, ou muito próximo desta, na maioria dos
navios modernos, qualquer que seja o seu tipo.
Em muitos navios modernos, e particularmente nos navios cargueiros, certo
comprimento da região central do casco é constituído por seções iguais à seção
mestra numa distância apreciável, quer para vante, quer para ré da seção a meia-
nau; diz-se então que estes navios têm formas cheias. Nos navios que têm formas
finas, a forma das seções transversais varia muito em todo o comprimento do navio
a vante e a ré da seção mestra.

2.21. Centro de gravidade de um navio (CG) – O centro de gravidade


(ponto G, fig. 2-7) é importante para os cálculos de flutuabilidade e de estabilidade,
porque o peso do navio pode ser considerado como uma força nele concentrada.
Como, em um navio, os pesos são usualmente distribuídos por igual de um
lado e do outro do plano diametral, o CG está, em geral, neste plano. Nos navios de
forma usual, o CG é situado no plano da seção a meia-nau, ou muito próximo dele.
A posição vertical do CG varia muito de acordo com o projeto de cada navio.
Conforme sua definição em mecânica, o centro de gravidade é o ponto de
aplicação da resultante de todos os pesos de bordo, e a soma dos momentos de
todos os pesos em relação a qualquer eixo que passe por ele é igual a zero.
A posição do CG se altera com a distribuição de carga, nos tanques, nos
porões, no convés etc.

F1

NAVIO APRUMADO NAVIO ADERNADO

Fig. 2-7 – Centro de gravidade, centro de carena e metacentro transversal

2.22. Centro de carena, de empuxo ou de volume (CC) – É o centro de


gravidade do volume da água deslocada (ponto C, figs. 2-7 e 2-8) e é o ponto de
aplicação da força chamada empuxo (art. 2.24). É contido no plano diametral, se o
navio estiver aprumado (art. 2.80); na direção longitudinal, sua posição depende da
forma da carena, não estando muito afastada da seção a meia-nau nos navios de
forma usual. Está sempre abaixo da linha-d’água.
GEOMETRIA DO NAVIO 55

Fig. 2-8 – Empuxo


Nos navios de superfície, o centro da carena está quase sempre abaixo do
centro de gravidade do navio, pois há pesos que estão colocados acima da linha de
flutuação, mas nenhuma parte do volume imerso poderá estar acima desta linha.
A determinação da posição do centro de carena é de grande importância para
a distribuição dos pesos a bordo, pois o CG do navio deve estar na vertical do CC e
a uma distância para cima não muito grande; sem estes requisitos o navio não
ficaria aprumado, nem teria o necessário equilíbrio estável.

2.23. Centro de flutuação (CF) – É o centro de gravidade da área de


flutuação, para uma determinada flutuação do navio.

2.24. Empuxo (fig. 2-8) – Em cada ponto da superfície imersa de um corpo,


há uma pressão que age normalmente à superfície. Esta pressão cresce com a
profundidade do ponto abaixo da superfície da água; ela é medida pelo produto h x p,
na profundidade h abaixo do nível da água cujo peso específico é p.
Suponhamos, por exemplo, que há um orifício de 0,10 m² em um ponto da
carena situado a cinco metros abaixo da superfície do mar; um metro cúbico da
água do mar pesa 1.026 quilogramas. A pressão da água neste ponto será igual a 5
x 1.026 quilogramas por metro quadrado, e um tampão para aguentar o veio d'água
naquele orifício deve exercer um esforço de

1
5 x 1.026 x ––– = 513 quilogramas
10

No caso de um corpo flutuante como é um navio, estas pressões, sendo


normais à superfície imersa, agem em muitas direções; entretanto, cada uma pode
ser decomposta em três componentes em ângulo reto:
(1) horizontal, na direção longitudinal do navio;
(2) horizontal, na direção transversal do navio;
(3) vertical.
Estando o navio em repouso, as componentes horizontais equilibram-se en-
tre si, pois não há movimento em qualquer direção horizontal.
Os pesos parciais que compõem um navio têm uma força resultante simples
que se chama o peso do navio; esta força é aplicada no centro de gravidade e age
56 ARTE NAVAL

numa vertical para baixo. É o efeito combinado de todas as componentes verticais


das pressões que se opõe ao peso do navio.
Chama-se empuxo à força resultante da soma de todas as componentes
verticais das pressões exercidas pelo líquido na superfície imersa de um navio.
Portanto, um navio em repouso é submetido à ação de duas forças verticais;
o peso do navio, agindo verticalmente para baixo, e o empuxo, agindo verticalmente
para cima.
Como o navio não tem movimento para cima nem para baixo, conclui-se que
o empuxo é igual ao peso do navio; como ele está em equilíbrio, os pontos de
aplicação destas forças, isto é, o CG e o CC, estão situados na mesma vertical.

2.25.Princípio de Arquimedes – “Um corpo total ou parcialmente mergu-


lhado num fluido é submetido à ação de uma força de intensidade igual ao peso do
volume do fluido deslocado pelo corpo, de direção vertical, do sentido de baixo para
cima, e aplicada no centro de empuxo (CC)".
Consideremos um navio flutuando livremente e em repouso em águas
tranqüilas. Vimos, no item anterior, como se exercem as pressões da água sobre a
superfície imersa do casco.
Suponhamos agora que o navio foi retirado da água e deixou uma cavidade,
como se pudéssemos por um momento agüentar as pressões da água e mantê-la
no mesmo nível (fig. 2-9). Enchemos esta cavidade, que representa o volume do
líquido deslocado pelo navio, com água da mesma densidade; esta água será equi-
librada pela pressão da que a circunda, exatamente como o foi o casco e como
qualquer outra porção da massa líquida; as componentes horizontais das pressões
equilibram-se e as componentes verticais sustentam o peso em cada ponto.
Portanto, a força resultante das pressões da água, isto é, o empuxo, opõe-se
ao peso do volume líquido deslocado num caso, e no outro ao peso do navio; o
empuxo é aplicado no centro da carena.
Fica assim demonstrado o princípio que citamos acima e, ainda mais, que o
peso do navio é igual ao peso da água por ele deslocada.

Fig. 2-9 – Água deslocada

2.26. Flutuabilidade – A flutuabilidade, que é a propriedade de um corpo


permanecer na superfície da água, depende da igualdade entre o peso do corpo e o
empuxo do líquido. Como, no nosso caso, o líquido é sempre a água, a flutuabilidade
GEOMETRIA DO NAVIO 57

varia principalmente com o peso específico do corpo, isto é, o seu peso por unidade
de volume.
As madeiras leves têm um peso específico menor que o da água; um pedaço
de madeira leve flutua sempre. O ferro, por exemplo, tem um peso específico maior
que o da água e por isto um pedaço de ferro maciço não pode flutuar. É tornando oco
um material que se diminui enormemente o seu peso por unidade de volume e,
portanto, aumenta-se a flutuabilidade. É possível assim a construção de navios
feitos com materiais mais pesados que a água, como o ferro e o aço.
As leis de flutuabilidade aplicam-se não somente a qualquer navio de super-
fície, como a um submarino, ou a qualquer objeto totalmente imerso. Quando imerso,
um objeto permanece em repouso e na sua posição imersa somente no caso em
que o seu peso for igual ao peso do volume deslocado. Mas um objeto totalmente
imerso quase sempre pesa mais ou pesa menos que o volume da água que deslo-
ca. Nestes casos, a fim de que possa manter-se em equilíbrio e em sua posição de
imersão, deverá receber uma força adicional, respectivamente, para cima ou para
baixo. Esta força é dada pelos propulsores e pelos lemes horizontais no caso do
submarino, ou pelo apoio no fundo do mar, em alguns casos.

2.27. Reserva de flutuabilidade (fig. 2-8) – É o volume da parte do navio


acima da superfície da água e que pode ser tornada estanque. Na maioria dos
navios, é o volume compreendido entre a flutuação e o convés principal, mas em
alguns refere-se também às superestruturas como o castelo e o tombadilho, que
podem ser estanques.
A reserva de flutuabilidade exprime-se em percentagem do volume deslocado
pelo navio; uma vez que é expressa em percentagem, a reserva de flutuabilidade
pode também referir-se ao deslocamento, em vez de referir-se ao volume.
A reserva de flutuabilidade dos navios de guerra de tipo usual varia de 50 a 75
por cento do deslocamento normal. Num submarino em deslocamento normal, a
reserva de flutuabilidade é de cerca de 30 por cento.
Para um navio imergir completamente é necessário carregá-lo com o peso
correspondente a uma quantidade de água que ocupe um volume igual à reserva de
flutuabilidade. Isto significa que a reserva de flutuabilidade é a flutuabilidade em
potencial que cada navio possui; a soma do empuxo e da reserva de flutuabilidade é
o poder de flutuabilidade total de um navio.
A reserva de flutuabilidade é função da borda-livre, que definiremos a seguir. É
importante para os navios em caso de avaria, pois quanto menor for, será o navio
menos capaz de suportar um acidente no mar.

2.28. Borda-livre (BL) (fig. 2-6) – É a distância vertical da superfície da água


ao pavimento principal (geralmente o convés), medida em qualquer ponto do compri-
mento do navio no costado.
Nos navios mercantes, a borda-livre mínima é marcada no costado para de-
terminar a reserva de flutuabilidade necessária. A expressão borda-livre, sem outra
qualificação, em navio mercante, refere-se à borda-livre mínima, isto é, à medida a
meia-nau e a partir da flutuação em plena carga, tal como é definida no art. 14.2.
58 ARTE NAVAL

Os navios de guerra têm sempre a borda-livre muito maior que a exigida para
os navios mercantes de iguais dimensões e por isto não é necessária sua marca-
ção. Entretanto, a borda-livre interessa aos cálculos de flutuabilidade e de estabili-
dade, e nos navios de guerra é medida na proa, a meia-nau e na popa, e refere-se à
flutuação normal.
A borda-livre é, em geral, mínima a meia-nau, devido ao tosamento (art. 2.34)
que os navios têm.
A borda-livre é chamada algumas vezes de franco-bordo, mas esta expres-
são está caindo em desuso. Em inglês, chama-se freeboard; em francês franc
bord, e em italiano bordo libero.

2.29. Metacentro transversal (M) (fig. 2-7) – Quando um navio está apru-
mado (art. 2.80), seu plano diametral é vertical e o centro de carena C é contido
neste plano. Mas se ele tomar uma inclinação, o centro de carena afasta-se deste
plano, pois a forma do volume imerso é modificada. Na fig. 2-7 foi dada uma inclina-
ção transversal ao navio, e a forma do volume imerso que era LOFKL passou a ser
L1 OF1 KL1. O centro de carena moveu-se de C para C1. A linha de ação do empuxo,
com o navio inclinado, intercepta a linha de empuxo quando o navio estava apruma-
do, num ponto M. As diversas posições do centro de carena que correspondem às
diferentes inclinações determinam uma curva; o centro de curvatura para uma incli-
nação infinitamente pequena do navio é chamado metacentro, ou, neste caso,
metacentro transversal, e coincide com o ponto M.
Assim, pode-se definir o metacentro como sendo o ponto de encontro da
linha vertical passando pelo centro de flutuação quando o navio está na posição
direita, com a linha vertical que passa pelo CF quando o navio está inclinado de
qualquer ângulo. O metacentro deve estar acima do centro de gravidade para haver
equilíbrio estável.
Para um ângulo de inclinação, como o da figura, a posição do metacentro
não é a mesma que para uma inclinação infinitesimal. Entretanto, quando o ângulo
de inclinação se aproxima de zero, a posição limite do metacentro torna-se um
ponto fixo, que é chamado metacentro inicial. Em geral, e a não ser que seja dito o
contrário, a palavra metacentro refere-se ao metacentro inicial, pois na prática se
considera invariável este ponto para inclinação até 10 graus nos navios de forma
usual.
Da figura 2-7 podemos estabelecer as seguintes relações:

GZ –> braço de endireitamento


GM –> altura metacêntrica (art. 2.33)
q –> ângulo de inclinação
ME –> momento de endireitamento
W –> deslocamento do navio (art. 2.66)
GZ = GM sen q
ME = W.GZ

Podemos também concluir da figura que, se M estiver abaixo de G, teremos


um momento de emborcamento.
GEOMETRIA DO NAVIO 59

2.30. Metacentro longitudinal (M’) (fig. 2-10) – Se dermos uma inclinação


longitudinal pequena, como se vê na figura, obteremos um ponto M’ chamado
metacentro longitudinal, em tudo semelhante ao que foi definido no item anterior.

Fig. 2-10 – Metacentro longitudinal

2.31. Raio metacêntrico transversal (fig. 2-7) – É a distância MC entre o


metacentro transversal M e o centro da carena C.

2.32. Raio metacêntrico longitudinal (fig. 2-10) – É a distância M’C entre


o metacentro longitudinal M’ e o centro de carena C.

2.33. Altura metacêntrica (fig. 2-7) – É a distância entre o centro de gravi-


dade G do navio e o metacentro M; mais corretamente, na fig. 2-7, a distância GM
refere-se à altura metacêntrica transversal.

2.34. Tosamento, ou tosado (fig. 2-11) – É a curvatura que apresenta a


cinta de um navio, quando projetada sobre um plano vertical longitudinal; ele deter-
mina a configuração do convés principal e do limite superior do costado. Tosamento
é também a medida desta curvatura, isto é, a altura do convés nos extremos do
casco, acima do pontal. Podemos ter tosamento AV e tosamento AR.

TOSAMENTO NA PROA
TOSAMENTO NA POPA CONVÉS NO LADO CONVÉS NO CENTRO

BORDA-LIVRE
PONTAL

C
AV
AR
C

C AV + CAR
CALADO MÉDIO = C TRIM PELA POPA
MN
2

Fig. 2-11 – Tosamento


60 ARTE NAVAL

2.35. Alquebramento – É a curvatura da quilha, quando apresenta a


convexidade para cima. Em geral ocorre como uma deformação permanente causa-
da por fraqueza estrutural ou por avaria. O alquebramento é o inverso do tosamento,
o qual também pode ser aumentado pelas mesmas causas de deformação.

2.36. Altura do fundo ou pé de caverna (figs. 2-4 e 2-6) – Altura a que se


eleva o fundo do casco, da quilha ao bojo, no ponto de encontro entre a tangente ao
costado vertical e o prolongamento do fundo do casco; é medida nas linhas moldadas.

2.37. Adelgaçamento (fig. 2-6) – Curvatura ou inclinação para dentro, que


tem o costado do navio acima do vau mais comprido.

2.38. Alargamento – Curvatura ou inclinação para fora, do costado do navio;


muito comum na região da proa. É o contrário de adelgaçamento.

SEÇÃO B – DESENHO DE LINHAS E PLANO DE FORMAS

2.39. Desenho de linhas – Ao projetar um navio, o construtor naval traça o


desenho de linhas ou plano de construção (fig. 2-5), que é a representação da forma
e dimensões do casco por projeções de certas linhas em três planos ortogonais de
referência. O traço do desenho de linhas é ensinado em Arquitetura Naval.
A superfície do casco de navio contém curvaturas a três dimensões. Se fizer-
mos interceptar esta superfície por planos, as linhas de interceptação serão linhas
a duas dimensões, as quais podem ser traçadas em verdadeira grandeza, se
projetadas em um dos planos de referência.

2.40. Planos de referência (fig. 2-5) – São os três planos ortogonais em


que são projetadas as linhas de interceptação da superfície do casco por uma série
de planos paralelos a um deles; são os seguintes os planos de referência do dese-
nho de linhas:
a. Plano da base moldada – É o plano horizontal tangente à parte inferior
da superfície moldada. É a origem para todas as distâncias verticais, que se cha-
mam alturas.
b. Plano diametral – É o plano vertical longitudinal de simetria do casco. É
a origem para todas as distâncias transversais horizontais que se chamam afasta-
mentos, ou meias-larguras, ou ainda meias-ordenadas.
c. Plano de meia-nau – É o plano vertical transversal a meio comprimento
do navio.

2.41. Linhas de referência – As seguintes linhas de referência aparecem


no desenho de linhas:
a. Linha da base moldada, linha de construção ou linha base (LB) – É
a interseção do plano da base moldada por qualquer dos outros dois planos de
referência. Nos navios sem diferença de calado, a linha de base moldada confunde-
se com o contorno inferior da interseção da superfície moldada com o plano diametral.
GEOMETRIA DO NAVIO 61

A figura 2-3 mostra uma colocação pouco comum da linha base no projeto do navio
em relação à linha-d’água projetada.
b. Linha de centro (LC) – É a interseção do plano diametral por qualquer
plano horizontal ou por qualquer plano vertical transversal. É, portanto, uma linha de
simetria numa seção horizontal ou numa seção transversal do casco.
c. Perpendiculares – Ver art. 2.47.

2.42. Linhas do navio – As linhas do navio propriamente ditas são:


a. Linhas-d’água (LA) – Interseções do casco por planos horizontais. Elas
aparecem em verdadeira grandeza no plano das linhas-d’água (fig. 2-5) e são usual-
mente denominadas de acordo com sua altura acima do plano da base: LA de 2
pés, de 8 pés etc. A linha da base moldada é a LA zero. O espaçamento destas
linhas depende do calado do navio.
Note-se que as linhas-d’água que aparecem no desenho de linhas são usa-
das no projeto e na construção do navio, mas em algumas delas o navio evidente-
mente não pode flutuar. As linhas em que o navio flutua chamam-se linhas de flutuação
(art. 2.2), e muitas vezes não são paralelas às linhas-d’água do desenho de linhas,
devido à distribuição de pesos.
A linha de flutuação correspondente ao calado para o qual o navio é desenha-
do chama-se linha-d’água projetada; em geral os navios são construídos para terem
a quilha paralela à linha-d’água projetada, ao contrário do que mostra a figura 2-3.
b. Linhas do alto – Interseções do casco por planos verticais longitudinais,
ou planos do alto. Elas aparecem em verdadeira grandeza no plano das linhas do
alto e são denominadas de acordo com seu afastamento do plano diametral. Há
geralmente quatro destas linhas espaçadas igualmente, a partir do plano diametral,
que determina a linha do zero.
c. Linhas de balizas – Interseções do casco por planos verticais transver-
sais. Elas aparecem em verdadeira grandeza no plano das balizas (fig. 2-5).
Para isto, a linha de base é dividida em 10, 20 ou 40 partes iguais, conforme
o tamanho do navio e a precisão desejada, e por cada divisão é traçada uma ordena-
da vertical ou baliza. Geralmente nos dois intervalos de vante e nos dois de ré
traçam-se também balizas intermediárias.
O plano das balizas mostra o corpo de proa (metade de vante do navio) à
direita da LC e o corpo de popa (metade de ré do navio) à esquerda.

2.43. Traçado na sala do risco


a. Risco do navio – O desenho de linhas, depois de pronto, é enviado para
a sala do risco. Aí ele é riscado sobre o chão, em escala natural, e todas as imper-
feições e discordâncias de linhas que aparecem são corrigidas.
b. Tabelas de cotas riscadas – Na sala do risco são levantadas, do risco
do navio, as cotas seguintes:
Meia-boca – afastamento do plano diametral.
Alturas – levantadas para as seguintes linhas: linhas-d’água, linhas do alto,
convés (altura no centro e altura no lado) e para outras partes como quinas e bolinas.
Estas cotas são organizadas em tabelas que se chamam tabelas de cotas
riscadas nas balizas.
62 ARTE NAVAL

c. Linhas corretas das cotas riscadas – Pela tabela de cotas riscadas, é


organizado um novo desenho de linhas que substitui o primitivo, desta fase do pro-
jeto em diante. Neste desenho pode figurar a tabela de cotas riscadas nas balizas.

2.44. Planos do desenho de linhas (fig. 2-12) – Resumindo o que foi dito
anteriormente, podemos dizer que o desenho de linhas é constituído por três vistas,
ou planos, a saber:

M O D O D E R E P R E S E N TA R A S
P la n o d e
L I N H A S D O N AV I O
VISTA D O D ESEN H O D E re fe rê n c ia
LIN H AS em que são
p ro je ta d a s L in h a s L in h a s d o L in h a s
d'água a lto d e b a liz a s

p l a no d a ve r d a d e i r a
1 - P l a no d a s l i nha s - d ' á g ua re ta s re ta s
base g r a n d e za

p l a no ve r d a d e i r a
2 - P lan
l a no d o
a sp erfil
l i nha s d o a l t o re ta s re ta s
d i a me tra l g r a n d e za

p l a no d e ve r d a d e i r a
3 - P l a n o d a s b a l i za s re ta s re ta s
m e i a - na u g r a n d e za

PLANO DO PERFIL

PLANO DIAMETRAL

LINHA BASE
PLANO DAS BALIZAS

PLANOS DAS LINHAS-D'ÁGUA

Fig. 2-12 – Planos do desenho de linhas

No desenho de linhas figuram ainda as seguintes linhas: linhas moldadas do


convés principal e das superestruturas (castelo e tombadilho) e, algumas vezes,
das cobertas; se o convés tem curvatura, são mostradas as linhas convés no centro
e convés no lado, isto é, na mediania e na borda, respectivamente.
Para verificar a continuidade da superfície do casco (fig. 2-5), geralmente dois
ou mais planos diagonais são passados aproximadamente na perpendicular do pla-
no das balizas e inclinados em relação ao plano das linhas-d’água e ao plano das
linhas do alto. Traçam-se então os diversos pontos das interseções das balizas
GEOMETRIA DO NAVIO 63

com estes planos inclinados, nos planos das linhas-d’água e das linhas do alto. A
ligação destes pontos por uma curva suave, contínua e coerente com as medidas
significará que o casco está corretamente projetado.

2.45. Plano de formas


a. Cavernas moldadas – A linha da base moldada no navio que já havia
sido dividida em 10, 20 ou 40 balizas é depois dividida em um número muito maior
de cavernas. O espaçamento das cavernas depende de considerações estruturais e
é geralmente baseado na experiência de navios semelhantes. Deve-se procurar sem-
pre que possível conservar um espaçamento constante ao longo do navio.
Para facilitar a instalação dos acessórios em geral, como máquinas, beli-
ches etc., a Marinha americana adota os seguintes espaçamentos nominais de
caverna:
Navios grandes: 4 pés (1,22m)
Contratorpedeiros: 2 pés (0,61m)
Navios pequenos: 1 pé e 9 pol (0,53m)
Para os navios construídos no sistema transversal (art. 6.2) haverá uma ca-
verna em cada um destes espaços nominais, mas nos demais sistemas pode haver
cavernas somente em cada 2, 3 ou 4 espaços nominais. Contudo, conserva-se
nestes sistemas a divisão acima que vai constituir o principal elemento longitudinal
do navio.
b. Traçado do plano de formas – O plano de formas (incorretamente, às
vezes, chamado de forma) é um desenvolvimento do plano das balizas, mostrando,
em vez de balizas, todas as linhas de cavernas moldadas. Ele mostra, além das
cavernas moldadas, as linhas moldadas do convés, cobertas, longarinas, bainhas
das chapas do casco e apêndices do casco.
Na Marinha americana o plano de formas é traçado na escala de 1 polegada/
1 pé (para navios de 400 pés ou menos de comprimento) ou 1/2 polegada/1 pé
(navios de mais de 400 pés) em duas partes (corpo de proa e corpo de popa).

SEÇÃO C – DIMENSÕES LINEARES


2.46. Generalidades – As dimensões lineares de um navio não são toma-
das de maneira uniforme, variando segundo as diferentes nações, e segundo os
navios sejam de guerra ou mercantes, de casco metálico ou de madeira, e ainda
conforme o cálculo que se deseja fazer.

2.47. Perpendiculares (PP) – As perpendiculares são duas retas normais à


linha-d’água projetada, contidas no plano diametral e traçadas em dois pontos es-
peciais, na proa e na popa, no desenho de linhas do navio; são as Perpendiculares
a vante (PP-AV) e a ré (PP-AR).

2.48. Perpendicular a vante (PP-AV) – É a vertical tirada no ponto de inter-


seção da linha-d’água projetada com o contorno da roda de proa (figs. 2-5 e 2-13).

2.49. Perpendicular a ré (PP-AR) – É traçada de modo variável conforme o


país de construção do navio.
64 ARTE NAVAL

L A

COMPRIMENTO ENTRE PERPENDICULARES


PP – AR PP – AV

Fig. 2-13 – Comprimento entre perpendiculares


a. Nas Marinhas brasileira e americana, a PP-AR é a vertical tirada no ponto
de interseção da linha-d’água projetada com o contorno da popa (figs. 2-5 e 2-13).
b. Nas Marinhas inglesa e italiana: (1) nos navios mercantes em geral, e em
qualquer navio que possua um cadaste bem definido, a PP-AR é a vertical traçada
no ponto de encontro da linha-d’água projetada com a face externa da porção reta
do cadaste (fig. 2-14); (2) nos navios de guerra, e em qualquer embarcação que não
tenha o cadaste bem definido, é a vertical traçada no ponto de encontro da linha-
d’água projetada com o eixo do leme, e em geral coincide com este eixo.
Nos navios de madeira, as perpendiculares passam pela interseção do plano
de flutuação com a projeção, sobre o plano diametral, do vértice do alefriz existente
na roda de proa e no cadaste.

2.50. Comprimento entre perpendiculares (CEP) – É a distância entre as


perpendiculares a vante e a ré, acima definidas (fig. 2-13). De acordo com estas
definições, o comprimento entre PP é o comprimento medido pelo construtor naval,
ao projetar o navio e ao traçar o desenho de linhas.

COMPRIMENTO DE RODA A RODA

LINHA DO CONVÉS NO CENTRO

PP–AR

COMPRIMENTO NO CONVÉS

Fig. 2-14 – Comprimento no convés e comprimento de roda a roda

Usualmente, quando se disser comprimento de um navio, sem especificar


como ele foi medido, deve entender-se o comprimento entre PP, pois a ele são
referidos os principais cálculos da embarcação, como os que se referem a propul-
são, peso, resistência e custo da estrutura do navio.
É necessário, entretanto, ao comparar navios de nações e de tipos diferen-
tes, que se tenha o cuidado de verificar que os comprimentos sejam medidos na
mesma base.
Na Marinha brasileira, o comprimento entre PP é, na verdade, o comprimento
da linha-d’água de projeto, determinado pelo contorno do navio no desenho de li-
nhas; ele inclui o balanço de popa e mede o comprimento da carena do navio.
GEOMETRIA DO NAVIO 65

Na Marinha inglesa, o comprimento entre PP não inclui o balanço de popa e


a medida que adotamos é chamada de comprimento na flutuação, ou comprimento
na linha-d’água.

2.51. Comprimento de registro – Corresponde ao maior dos seguintes va-


lores: (a) 96% do comprimento medido na flutuação igual a 85% do pontal entre a
face externa da roda de proa e o extremo de ré do contorno de popa; e (b) o compri-
mento medido entre a face externa da roda de proa e o eixo do leme, na mesma
linha-d'água acima.
Esta medida interessa particularmente aos navios mercantes, e é estabelecida
nas regras das principais Sociedades Classificadoras, tais como o Lloyd’s Register
e o American Bureau of Shipping. É utilizada para os objetivos de classificação para
os cálculos da borda-livre (art. 14.2) e para a determinação do deslocamento e
velocidade dos navios mercantes, e é muitas vezes chamada “comprimento entre
perpendiculares, para classificação”.

2.52. Comprimento no convés (fig. 2-14) – É a distância entre as interse-


ções do convés principal com a face de vante da roda de proa e com a face de ré do
cadaste, ou com o eixo do leme, se o navio não tiver cadaste bem definido.
Se a roda de proa é curva, como é o casco dos navios veleiros, o ponto de
referência a vante é a interseção do prolongamento da parte reta do talhamar com o
referido convés.
Este comprimento é algumas vezes chamado “comprimento entre perpendi-
culares”, mas preferimos não confundi-lo com o comprimento entre perpendiculares
que já definimos e que é muito mais empregado.
Ele é utilizado para a comparação de navios mercantes e é usualmente refe-
rido pelo armador ou construtor naval ao contratar um navio novo.

2.53. Comprimento de arqueação – É medido no plano diametral, na face


superior do convés de arqueação, entre a superfície interna do forro interior na proa
e a superfície interna do forro interior na popa, descontando-se a parte que corresponde
à inclinação da roda de proa e do cadaste na espessura do pavimento. É utilizado
para os cálculos de arqueação dos navios mercantes.

2.54. Comprimento de roda a roda (fig. 2-14) e comprimento total – É a


distância medida, paralelamente à linha-d’água projetada, entre os pontos mais
salientes da roda de proa e do cadaste, nas partes imersas ou emersas; o gurupés,
se existe, ou o leme, se eventualmente se estende para ré da popa, ou peças
semelhantes, não são geralmente considerados.
Algumas vezes este comprimento toma uma significação particular, e refere-
se ao comprimento máximo do navio, ou às dimensões necessárias para o conter
num cais ou num dique seco e deve então incluir as peças da estrutura acima
referidas. A esta última medida chamaremos o comprimento total.
2.55. Comprimento alagável – É o comprimento máximo de um comparti-
mento, o qual, se ficar alagado, deixará o navio permanecer ainda flutuando com o
66 ARTE NAVAL

convés no nível da água. É utilizado pelas Sociedades Classificadoras, para as


regras de espaçamento das anteparas transversais estanques dos navios mercan-
tes.
Por essa regra é admitida uma reserva de segurança que é determinada pelo
fator admissível, o qual varia com o comprimento do navio. Assim, um navio de 170
metros de comprimento tem um fator admissível de 0,5, isto é, o comprimento
admitido para cada compartimento estanque é somente a metade do comprimento
alagável. Em tal navio haverá dois compartimentos estanques, no mínimo, em um
comprimento alagável.

2.56. Boca – É a largura da seção transversal a que se referir; a palavra boca,


sem referência à seção em que foi tomada, significa a maior largura do casco. Meia-
boca é a metade da boca.

2.57. Boca moldada (figs. 2-4 e 2-15) – É a maior largura do casco medida
entre as faces exteriores da carena, excluindo a espessura do forro exterior, ou
seja, é a maior largura do casco medida entre as superfícies moldadas.

MEIA-BOCA MÁXIMA DO

Fig. 2-15 – Boca, calado, pontal


GEOMETRIA DO NAVIO 67

2.58. Boca máxima – É a maior largura do casco medida entre as superfí-


cies externas do forro exterior, da couraça ou do verdugo. Nos navios de forro exte-
rior em trincado (art. 6.17), para os cálculos da superfície da carena e do desloca-
mento, a boca máxima é medida a partir da superfície que passa a meio do forro
exterior.

2.59. Pontal (figs. 2-11 e 2-15) – Pontal moldado, ou simplesmente pontal é


a distância vertical medida sobre o plano diametral e a meia-nau, entre a linha reta
do vau do convés principal e a linha da base moldada.
O pontal pode ainda ser referido a outro pavimento, mas neste caso toma o
nome de acordo com o local medido: pontal da primeira coberta, pontal da segunda
coberta etc.

2.60. Calado (figs. 2-3 e 2-15) – Calado d’água, calado na quilha, ou sim-
plesmente calado, em qualquer ponto que se tome, é a distância vertical entre a
superfície da água e a parte mais baixa do navio naquele ponto.
Geralmente medem-se o calado AV e o calado AR. Na figura 2-3 estes cala-
dos são referidos, respectivamente, às perpendiculares AV e AR; na prática são
medidos nas escalas do calado, que são colocadas próximo das respectivas per-
pendiculares.
O calado de um navio varia desde o calado mínimo, que corresponde à condi-
ção de deslocamento leve, e o calado máximo, que corresponde à condição de
deslocamento em plena carga; calado normal é o que o navio tem quando está em
seu deslocamento normal (art. 2.70).
Em cada flutuação podemos ter o calado AV, AR ou a MN. Calado a meia-
nau é o medido na seção a meia-nau, isto é, a meio comprimento entre perpendicu-
lares; ele nem sempre corresponde ao calado médio, que é a média aritmética dos
calados medidos sobre as perpendiculares AV e AR.
O calado a que se referem os dados característicos de um navio de guerra é
o calado normal. A bordo, para os cálculos de manobra de pesos e determinação do
deslocamento, mede-se o calado médio; para entrada em diques e passagem em
águas de pouco fundo mede-se o maior dos calados na flutuação atual, que é geral-
mente o calado AR.
Quando não há diferença nos calados AV e AR, isto é, o navio está com a
quilha paralela ao plano de flutuação, diz-se que está em quilha paralela. Quando há
diferença nos calados, diz-se que o navio tem trim (art. 2.80). Os navios são
construídos, na maioria das vezes, para terem quilha paralela na flutuação corres-
pondente à linha-d’água projetada.

2.61. Calado moldado (fig. 2-15) – No desenho de linhas, e algumas vezes nas
curvas hidrostáticas do navio (art. 2.82), o calado é referido à linha da base moldada.
O calado referido à linha da base moldada chama-se calado moldado, ou,
algumas vezes, calado para o deslocamento, pois é utilizado para cálculo dos des-
locamentos. Esta medida interessa particularmente ao construtor naval, ou a quem
consulta as curvas hidrostáticas do navio.
68 ARTE NAVAL

Em geral, nos navios modernos de quilha chata, a diferença entre o calado


moldado e o calado na quilha é muito pequena (fig. 2-6). Nas embarcações de quilha
maciça, entretanto, esta diferença não é desprezível.

2.62. Escala de calado (fig. 2-16) – Em todos os navios, a boreste e a


bombordo, a vante e a ré, e algumas vezes a meia-nau, são escritas nos costados
as escalas numéricas para a leitura dos calados.
Em geral, as escalas não são escritas no navio exatamente no lugar das
perpendiculares, mas nos pontos em que a quilha encontra os contornos da roda de
proa e do cadaste.
O zero de todas as escalas é referido à linha do fundo da quilha (fig. 2-15), ou
à linha que passa pelos pontos mais baixos do casco (leme, pé do cadaste, pá do
hélice etc.), sendo esta linha prolongada horizontalmente até sua interseção com
as partes inferiores de cada perpendicular nas extremidades do navio.
A graduação das escalas pode ser em decímetros, com algarismos da altura de
um decímetro (às vezes em navios pequenos, 1/2 decímetro) ou em pés ingleses, com
algarismos da altura de um pé (nos navios pequenos, 1/2 pé, isto é, seis polegadas).
Com os algarismos de altura de um decímetro ou
de um pé, são escritos na escala somente os números
pares de decímetros ou de pés, e o intervalo entre os
números é igual, respectivamente, a um decímetro ou a
um pé. Cada número indica sempre o calado que se 5,90m
tem quando a superfície da água está rasando o seu
limbo inferior; por conseqüência, quando o nível da água
estiver no limbo superior de um número, deve-se acres-
centar uma unidade, e as frações da unidade serão es-
timadas a olho. Por exemplo, na figura 2-16, quando a
5,60m
superfície da água estiver rasando o limbo inferior do
número 56, o calado será 5,60 metros, e quando estiver
na altura do limbo superior do número 58, o calado será
5,90 metros.
Se os algarismos tiverem a altura de meio
decímetro (cinco centímetros) ou meio pé (seis polega- 5,35m

das), escrever-se-ão todos os números inteiros de


decímetros ou de pés. Neste caso, se o nível da água
estiver rasando o limbo superior de um número, será
necessário acrescentar apenas meio decímetro ou meio Fig. 2-16 – Escala de
pé para ler o calado. calado
Em todos os países, de modo geral, as escalas
são escritas em algarismos arábicos; entretanto, muitos navios adotam a escala
em decímetros escrita em algarismos arábicos em um dos bordos (BE), e a escala
em pés escrita em algarismos romanos no outro bordo.
A altura dos algarismos, a que nos referimos acima, é a de sua projeção num
plano vertical, a qual nem sempre coincide com a altura do algarismo inscrito no
costado, por ser este muitas vezes côncavo nas extremidades do casco. Os alga-
GEOMETRIA DO NAVIO 69

rismos são entalhados na superfície das chapas ou fundidos em metal, sendo neste
caso presos ao costado por meio de parafusos; eles são pintados de cor branca ou
preta conforme a pintura do casco seja escura ou clara, para melhor visibilidade.
Nos navios que adotam o sistema inglês de medidas, algumas vezes são
marcados nas escalas somente os algarismos que indicam a unidade de pés; as-
sim, os calados de seis pés, 16 pés e 26 pés serão sempre representados pelo
algarismo 6; para o pessoal de bordo será muito fácil determinar qual o algarismo
das dezenas pela simples inspeção do navio.

2.63. Coeficientes de forma ou coeficientes de carena – Estes coefici-


entes, que exprimem a relação entre as diversas áreas e volumes da carena e as
áreas e volumes das figuras planas ou sólidas circunscritas, têm grande utilidade
para o projeto do navio, pois eles definem a finura do casco e de suas seções.
Consideremos para uma dada flutuação:
A = área da parte imersa da seção mestra
AF = área do plano de flutuação na linha-d’água projetada
L = comprimento entre PP
B = boca máxima da parte imersa
C = calado médio
Os coeficientes de forma serão:
a. Coeficiente de bloco CB (fig. 2-
17a) – É a relação entre o volume desloca-
do V e o volume do paralelepípedo que tem
para arestas respectivamente L, B e C:
V
CB = ––––––
L.B.C
b. Coeficiente prismático CP, coefi-
ciente cilíndrico ou coeficiente longi- Fig. 2-17a – Determinação do
tudinal (fig. 2-17b) – É a relação entre o coeficiente de bloco
volume deslocado e o volume de um sólido
que tenha um comprimento igual ao com-
primento do navio na flutuação e uma se-
ção transversal igual à da parte imersa da
seção mestra:
V
CP = –––––
A.L

Este coeficiente representa a distri-


Fig. 2-17b – Determinação do coefici-
buição longitudinal do deslocamento do na-
ente longitudinal
vio, e é utilizado principalmente para os cál-
culos de potência e velocidade.
c. Coeficiente da seção a meia-nau ou seção mestra CSM (fig. 2-17a) – É
a relação entre a área da parte imersa da seção a meia-nau e a área do retângulo
circunscrito: A
CSM = –––––
B.C
70 ARTE NAVAL

d. Coeficiente da área de flutuação CWL (fig. 2-17a) – É a relação entre a


área de flutuação e a do retângulo que a circunscreve:
AF
CWL = –––––
L.B
Este coeficiente refere-se sempre à linha-d’água projetada, a menos que se
diga o contrário.

2.64. Relações entre as dimensões principais e outras relações – Além


dos coeficientes de forma, as relações entre as diversas dimensões de um navio
têm importância no estudo dos planos, pois exprimem numericamente as propor-
ções da forma da carena.
Estas relações devem estar compreendidas entre determinados limites, os
quais indicam as boas proporções do casco; para os navios mercantes estes limi-
tes são estabelecidos nas regras das Sociedades Classificadoras. São as seguin-
tes as relações mais empregadas:
a. Relação entre o comprimento entre PP e a boca = L/B; varia aproximada-
mente de 4 a 10.
b. Relação entre o comprimento entre PP e o calado = L/C; varia aproximada-
mente de 10 a 30.
c. Relação entre a boca e o calado = B/C; varia aproximadamente de 1,8 a 4.
Além desta, são muitas vezes empregadas nos cálculos outras expressões
numéricas, como, por exemplo, as relações dos diversos coeficientes entre si.

2.65. Tabela dos coeficientes de forma da carena – Os coeficientes de


forma não variam muito para os navios do mesmo tipo; são os seguintes seus
valores médios aproximados, que podem ser considerados como valores típicos:
C o e f. d e C o e f. d a C o e f. C o e f. d a á re a
N AV I O
b lo c o s e ç ã o a M. N . p ris má tic o d e flu tu a ç ã o

E nc o ur a ç a d o 0 ,6 0 0 ,9 7 0 ,6 2 0 ,7 3

C r u za d o r p e s a d o 0 ,6 0 0 ,9 7 0 ,6 2 0 ,6 9

C r uza d o r d e 10.000
1 0 0 0 0 t o ns 0 ,5 3 0 ,8 5 0 ,6 2 0 ,7 2

C r u za d o r e s m e n o r e s 0 ,5 6 0 ,8 3 0 ,6 7 0 ,7 4

C o nt r a t o r p e d e i r o s 0 ,5 2 0 ,8 3 0 ,6 3 0 ,7 4

Re b o c a d o re s d e p o rto 0 ,5 9 0 ,8 9 0 ,6 5 0 ,8 0

N a vi o s d e p a s s a g e i r o s 0 ,6 7 0 ,9 9 0 ,7 2 0 ,7 7

N a vi o s d e c a b o t a g e m , m i s t o s 0 ,6 4 0 ,9 7 0 ,6 6 0 ,7 7

C a r g ue i r o s g r a nd e s 0 ,7 8 0 ,9 9 0 ,7 8 0 ,8 4

C a r g ue i r o s m é d i o s 0 ,7 1 0 ,9 8 0 ,7 2 0 ,8 0

N a vi o s -t a nq ue s 0 ,7 6 0 ,9 7 0 ,7 7 0 ,8 4

Ia t e s a m o t o r p a r a a l t o - m a r 0 ,5 7 0 ,9 4 0 ,6 0 0 ,7 2

Ia t e s a ve l a 0 ,2 0 0 ,4 0 0 ,5 0 0 ,7 5
GEOMETRIA DO NAVIO 71

SEÇÃO D – DESLOCAMENTO E TONELAGEM

2.66. Deslocamento (W) ou (D D) – É o peso da água deslocada por um navio


flutuando em águas tranqüilas. De acordo com o Princípio de Arquimedes, o deslo-
camento é igual ao peso do navio e tudo o que ele contém na condição atual de
flutuação:
W = peso do navio = peso da água deslocada = volume imerso x peso específico da água.
O deslocamento é expresso em toneladas de mil quilogramas nos países de
sistema métrico decimal e em toneladas longas (2.240 libras ou 1.016 quilogramas)
nos países que adotam o sistema inglês de medidas.
Os navios são desenhados para terem um deslocamento previamente deter-
minado, que no caso dos navios de guerra é o deslocamento correspondente à
condição normal de flutuação. Isto não quer dizer que, ao terminar a construção, ele
flutue exatamente na linha-d’água projetada, quando estiver na condição normal. Os
pesos do casco e dos acessórios podem variar no curso da construção, tornando-
se maiores ou menores que os estimados pelo construtor ao desenhar o navio.
Muitas vezes navios da mesma classe, construídos em estaleiros diferentes, com
os mesmos desenhos e especificações, diferem um pouco nos calados correspon-
dentes às diversas condições de deslocamento.
Nos navios mercantes o deslocamento se refere, em geral, à condição de
plena carga.

2.67. Cálculo do deslocamento – O deslocamento de um navio de aço,


para cada linha de flutuação, é calculado, durante a construção, pela soma das
seguintes parcelas: deslocamento moldado, deslocamento do forro exterior e deslo-
camento dos apêndices.
Deslocamento moldado é o peso da água deslocada pelo volume compreen-
dido entre a superfície moldada da carena e um plano de flutuação.
O forro exterior é constituído pelo chapeamento exterior (art. 1.55a); os apên-
dices compreendem a parte saliente da quilha, as bolinas, o leme, os hélices, os
pés-de-galinha dos eixos etc.
O deslocamento de um navio de madeira é calculado pela soma do desloca-
mento do casco referido ao forro exterior mais o deslocamento dos apêndices.
O cálculo do deslocamento interessa a todos os navios, mas particular-
mente aos navios de guerra, os quais são comparados sempre pelo peso de água
que deslocam. Sendo a soma de todos os pesos parciais de bordo, o desloca-
mento é variável, pois depende da carga transportada e dos pesos dos materiais
de consumo, tais como água doce, mantimentos, combustível, lubrificante, muni-
ção etc.
De todos os valores que o deslocamento pode ter, consideram-se, em geral,
os seguintes, que serão definidos a seguir: deslocamento em plena carga, desloca-
mento normal, deslocamento leve e deslocamento padrão.
Há uma tendência dos navios para aumentar de deslocamento à proporção
que envelhecem, devido ao peso das tintas, dos novos aparelhos e acessórios colo-
cados etc.
72 ARTE NAVAL

2.68. Fórmulas representativas do deslocamento


a. Sistema métrico:
Deslocamento em água salgada = 1.026 x volume imerso na água salgada em m3.
Deslocamento em água doce = volume imerso na água doce, em m3.
b. Sistema inglês:
Deslocamento em água salgada = volume imerso na água salgada em pés cúbicos
35
Deslocamento em água doce = volume imerso na água doce em pés cúbicos
36
Sabe-se que 35 pés cúbicos de água salgada ou 36 pés cúbicos de água
doce pesam uma tonelada longa.

2.69. Deslocamento em plena carga, deslocamento carregado ou des-


locamento máximo – É o peso de um navio quando está com o máximo de carga
permitida a bordo. Corresponde ao navio completo, pronto para o serviço sob todos
os aspectos, com água no nível superior das caldeiras, todas as máquinas e so-
bressalentes, toda a tripulação e seus pertences a bordo. Paióis de munição e
projéteis, de mantimentos, tanques de água de alimentação de reserva e de água
potável, tanques de óleo combustível e lubrificantes, todos atestados. Porões de
carga cheios e passageiros com suas bagagens a bordo, se o navio é mercante.
Nenhuma água nos tanques de lastro ou nos duplos-fundos, exceto a água de ali-
mentação de reserva das caldeiras.

2.70. Deslocamento normal – É o peso do navio completo, pronto para o


serviço sob todos os aspectos, com água no nível superior das caldeiras, com todas
as máquinas e sobressalentes, tripulação e seus pertences, a bordo. Uma carga
normal (geralmente 2/3 da carga total) de combustível, munição, água potável e de
alimentação de reserva, mantimentos etc. a bordo. Nenhuma água nos tanques de
lastro ou duplos-fundos, exceto a água de alimentação de reserva.
Quando se fala em deslocamento dos navios de guerra, deve ser entendido o
deslocamento normal, a menos que se diga o contrário. Nos navios mercantes não
se cogita do deslocamento normal; consideram-se principalmente o deslocamento
em plena carga e o deslocamento leve.

2.71. Deslocamento leve ou deslocamento mínimo – É o peso do navio


completo, pronto para o serviço sob todos os aspectos, mas sem munição, manti-
mentos, combustível, água potável, nem água de alimentação de reserva. Tripulan-
tes e passageiros não são incluídos. Nenhuma água nos tanques de lastro e
duplos-fundos.
O deslocamento leve corresponde a uma condição que a rigor nunca existe,
pois há sempre pessoas, água e algum combustível a bordo.

2.72. Deslocamento padrão – É o deslocamento do navio completo, com


toda a tripulação, com todas as máquinas, pronto para sair ao mar, incluindo todo o
armamento e munição, sobressalentes, mantimentos e água potável para a tripulação,
GEOMETRIA DO NAVIO 73

todos os diferentes paióis atestados, e com tudo o que for necessário transportar na
guerra, mas sem nenhum combustível ou água de alimentação de reserva.
É utilizado unicamente para a comparação dos navios de guerra relativamen-
te ao valor militar.

2.73. Resumo das condições de deslocamento – Na tabela a seguir apre-


sentamos um resumo das condições típicas de deslocamento definidas nos artigos
anteriores.

CONDIÇÕES TÍPICAS DE DESLOCAMENTO


N o rmal P le n a P ad rão
IT E N S Leve
(1 ) c arg a (2 )

C asco completo si m si m si m si m

Acessóri os do casco si m si m si m si m

Proteção (couraça) si m si m si m si m

si m si m si m si m
Máqui nas e caldei ras
vazi os a nível a nível a nível

Armamento si m si m si m si m

Muni ções não 2/3 si m si m

Equi pamento de convés si m si m si m si m

Ma nti me nto s e ma te ri a l
não 2/3 si m si m
so b re ssa le nte

Tri pulação não si m si m si m

Á g ua d e a li me nta ç ã o d e
não 2/3 si m não
reserva

C ombustível não 2/3 si m não

Percentagem aproxi mada


80% 100% 115% 85%
d e p e so

(1) Todos os dados de um navio de guerra referem-se a sua condição "normal" de desloca-
mento, salvo indicação em contrário.
(2) A condição “padrão” é a única reconhecida internacionalmente e foi estabelecida pelo
tratado de Washington, em 1922.

2.74. Expoente de carga, ou peso morto (gross deadweight, total


deadweight, deadweight)1 – É a diferença entre o deslocamento máximo2 e o
deslocamento mínimo. É, portanto, o peso da munição, combustível, água de ali-
mentação de reserva das caldeiras, água potável para beber e para cozinhas, água
para banho e fins sanitários, mantimentos, material de consumo, tripulação e seus
pertences etc., e mais o peso de toda a carga dos porões, passageiros, seus

1 – Citamos as expressões usadas nos países de língua inglesa, porque em muitos de nossos navios os
planos e livros dos navios são referidos a esses termos. Expoente de carga em Portugal chama-se porte.
2 – Por vezes podemos considerar o expoente de carga para um determinado calado, e nesse caso
ele será a diferença entre um determinado deslocamento e o deslocamento mínimo, conforme
explanado no art. 2-83.
74 ARTE NAVAL

pertences e bagagens, se o navio é mercante. Representa, assim, o peso que o


navio é capaz de embarcar, ou, ainda, exprime o líquido deslocado na passagem da
condição de navio leve a plena carga.
O expoente de carga não exprime o peso da carga paga de um navio mercan-
te, o qual é apenas uma parte dele e é constituído pelo peso da carga dos porões,
malas do correio, carga no convés, e pelos passageiros, seus pertences e baga-
gens.

2.75. Porte útil, peso morto líquido, ou carga paga (cargo deadweight,
net deadweight) – O peso da carga paga que um navio pode transportar não é um
dado fixo, dependendo da duração da viagem. O expoente de carga é constituído
pela soma do peso de combustível, aguada, tripulação, materiais de consumo diver-
sos etc., mais o peso da carga paga. Ora, numa viagem pequena há necessidade
de menor peso de combustível, aguada etc. que numa viagem longa, permitindo o
transporte de um maior peso de carga paga.
Para uma viagem determinada é possível ao armador ou ao comandante do
navio estimar o peso de combustível, aguada e material de consumo necessário;
deduzindo estes pesos do expoente de carga poderá ele calcular o peso de carga
paga disponível para aquela viagem, no qual se incluem passageiros e bagagens.

2.76. Arqueação Bruta (AB) – É um valor adimensional, proporcional ao


volume dos espaços fechados do navio. Até a entrada em vigor da Convenção Inter-
nacional para Medidas de Tonelagem de Navios, este valor, chamado "tonelagem de
arqueação" ou, simplesmente, "tonelagem", era expresso em unidades de 100 pés
cúbicos ingleses, ou seja, 2,83 metros cúbicos. A unidade era convencional, baseada
no processo Moorson para medida de capacidade de um navio, em que a “tonelada”
era arbitrariamente convencionada como tendo 100 pés cúbicos ingleses; esta uni-
dade era chamada de tonelada de arqueação.
Os navios mercantes e, em alguns casos, os navios de guerra, têm que
pagar certos impostos alfandegários, atracação, taxa de navegação em canais,
docagem, praticagem etc. Estes impostos são geralmente calculados em propor-
ção ao valor comercial do navio, isto é, à sua capacidade de transporte, representa-
da pelo volume de todos os espaços fechados suscetíveis de poderem servir de
alojamento a mercadorias e passageiros.
A arqueação é usada para a comparação dos navios mercantes.
Para a comparação da capacidade de transporte é usada a arqueação líquida
do navio. A arqueação líquida (AL) de um navio é função do volume e dos espaços
fechados destinados ao transporte de carga, do número de passageiros, do local
onde serão transportados, da relação calado/pontal e da arqueação bruta.
Na maioria dos países, a arqueação que estiver no certificado concedido pelo
país da bandeira do navio é aceita como base para os cálculos das diferentes taxas.
Evidentemente os armadores desejam ter seus navios construídos de modo
que, com os processos atuais de medida, a arqueação bruta e a arqueação líquida
sejam tão pequenas quanto permitam as necessidades do serviço pretendido e as
regras das Sociedades Classificadoras. Daí o grande número de tipos de casco dos
navios mercantes.
GEOMETRIA DO NAVIO 75

Há ainda a tonelagem de equipamento ou numeral do equipamento, calcula-


da por dimensões determinadas nas regras das Sociedades Classificadoras. A to-
nelagem de equipamento é usada para determinar o peso das âncoras e o diâmetro
das amarras e espias dos navios mercantes.

2.77. Cálculo da arqueação – O cálculo da arqueação de um navio mercan-


te obedece a regras especiais que não nos compete citar aqui; por estas regras o
navio é dividido em partes, tomando-se as medidas e calculando-se os volumes
internos em cada uma delas:
a. Volume dos espaços fechados abaixo do convés – É o volume interno
abaixo do convés principal.
b. Volume dos espaços fechados acima do convés principal – Inclui o
volume de todos os espaços fechados acima do convés principal; estes espaços
são constituídos principalmente pelo castelo de proa, superestruturas, tombadilho e
espaços entre os conveses principal e superiores.
As partes de um navio que não estão incluídas nos cálculos da arqueação
bruta são chamadas de espaços isentos ou excluídos.

2.78. Sistema Moorsom, regras do Canal do Panamá, do Canal de Suez


e do Rio Danúbio – Até o ano de 1849 havia diversas regras para calcular a tone-
lagem dos navios mercantes e estas regras consistiam em dividir o produto do
comprimento, boca e pontal medidos em pés, por um número que variava de 94 a
100. Para unificar estas regras o governo inglês nomeou naquele ano uma comissão
da qual era secretário o Sr. George Moorsom. Esta comissão estabeleceu um regu-
lamento que tomou o nome de “Sistema Moorsom”, o qual, se bem que já bastante
modificado atualmente, serve de base a todas as leis e regulamentos de tonelagem
das principais nações marítimas.
O Sistema Moorsom estabelece regras pelas quais é possível medir, com
suficiente precisão, a capacidade interna total e a capacidade interna utilizável para
o transporte de carga e passageiros. A tonelagem é igual ao volume em pés cúbicos
ingleses dividido por cem. O divisor cem foi escolhido por facilitar os cálculos e por
modificar muito pouco as regras então existentes.
O Sistema Moorsom é universalmente adotado, mas difere ligeiramente nos
regulamentos de um país para outro, pelo modo como são interpretados, para os
diversos tipos de navios, os espaços isentos e deduzidos.
Para a navegação em canais, rios e lagos interiores há ainda diferentes re-
gras para o cálculo da tonelagem, sendo as principais aquelas que se referem ao
Canal do Panamá, ao Canal de Suez e ao Rio Danúbio. Estas regras seguem os
princípios gerais estabelecidos no Sistema Moorsom, diferindo deste principalmen-
te quanto aos espaços isentos e deduzidos. Não cabem neste livro maiores explica-
ções acerca do Sistema Moorsom e dos outros regulamentos de tonelagem; para
conhecimento dos mesmos devem ser consultadas obras especializadas.

2.79. Relação entre o expoente de carga e a capacidade cúbica – Os


navios mercantes são geralmente comparados pelo expoente de carga (deadweight);
Mas sob o ponto de vista comercial, tanto o expoente de carga como a capacidade
76 ARTE NAVAL

cúbica são fatores importantes, pois ambos definem a praça do navio, isto é, a
capacidade de transporte de mercadorias.
Capacidade cúbica ou cubagem é o volume dos espaços cobertos realmente
utilizáveis para a carga. Exprime-se, geralmente, em metros cúbicos ou em pés
cúbicos; nos petroleiros, pode ser expresso por barris (1 barril = 158,984 litros = 42
galões americanos = 34,97 galões ingleses). Nos cargueiros, os planos de bordo
indicam a cubagem de cada coberta e de cada porão para a carga a granel e para a
carga em fardos. A cubagem para carga a granel representa o espaço interno total
do compartimento, deduzido o volume ocupado pelos vaus, cavernas, pés-de-car-
neiro, tubulações e obstruções semelhantes. A cubagem para fardos é medida en-
tre o fundo do porão e a aresta inferior dos vaus, e lateralmente entre as sarretas
(que cobrem internamente as cavernas), deduzindo-se pés-de-carneiro, tubulações
etc.
Deve haver certa relação entre o expoente de carga e a capacidade cúbica.
Se não fosse isto, teríamos comumente um navio com os porões cheios de merca-
dorias sem ter recebido a bordo todo o peso que o seu calado máximo permitisse;
ou, ao contrário, se a capacidade cúbica fosse muito grande, o navio poderia ficar
carregado até o calado máximo e ainda ter muito espaço desocupado. Evidente-
mente, isto depende da qualidade de carga que o navio transporta, isto é, do volume
por unidade de peso da carga; um navio dedicado ao transporte de minério de ferro
carrega muito mais peso que um navio de mesmas dimensões de porão transpor-
tando trigo, por exemplo.

2.80. Trim e banda; compassar e aprumar – Trim é a inclinação para uma


das extremidades; o navio está de proa, abicado, ou tem trim pela proa, quando
estiver inclinado para vante. Estará apopado, derrabado, ou terá trim pela popa,
quando estiver inclinado para ré.
Trim é também a medida da inclinação, isto é, a diferença entre os calados
AV e AR; é expresso em metros ou em pés ingleses, dependendo da medida em-
pregada no calado do navio.
Banda ou adernamento é a inclinação para um dos bordos; o navio pode estar
adernado, ou ter banda para boreste ou para bombordo; a banda é medida em
graus.
Compassar ou fazer o compasso de um navio é tirar o trim, isto é, trazê-lo à
posição de flutuação direita quando estiver inclinado no sentido longitudinal. Quan-
do um navio não tem trim, diz-se que está compassado, ou que está em quilha
paralela, ou em águas parelhas.
Aprumar, ou trazer a prumo um navio, é tirar a banda, isto é, trazê-lo à posi-
ção de flutuação direita quando estiver inclinado no sentido transversal. Quando um
navio não tem banda, diz-se que está aprumado.
Quando um navio não tem banda nem trim, diz-se que está em flutuação
direita.
Quando um navio tem trim, é preferível que esteja apopado; um navio abicado
é mais propenso a embarcar água pela proa, dispara os propulsores, e também é
mais difícil de governar.
GEOMETRIA DO NAVIO 77

2.81. Lastro; lastrar – Lastrar ou fazer o lastro de um navio é colocar um


certo peso no fundo do casco para aumentar a estabilidade ou para trazê-lo à
posição de flutuação direita, melhorando as condições de navegabilidade.
Lastro é o peso com que se lastra um navio. É comum os navios, e particular-
mente os petroleiros e mineraleiros, saírem leves de um porto, isto é, sem carga.
Neste caso, em que se coloca bastante lastro a fim de torná-lo mais pesado, o seu
expoente de carga consta quase que exclusivamente de lastro; diz-se então que o
navio está em lastro.
O lastro pode ser temporário ou permanente; o lastro permanente é constitu-
ído por areia, concreto, sucata de ferro ou por linguados de ferro fundido ou chumbo;
é usualmente empregado para corrigir a má distribuição de pesos na estrutura devi-
do a erro de construção ou à modificação na espécie do serviço para o qual o navio
foi construído.
O lastro temporário é sempre líquido e é geralmente constituído pela água
salgada, que é admitida ou descarregada por meio de bombas em tanques chama-
dos tanques de lastro.
Geralmente os navios têm um ou mais tanques de lastro AV e AR, para
corrigir o trim. Lateralmente alguns navios têm também tanques de lastro para cor-
rigir a banda. Os compartimentos do duplo-fundo, distribuídos no sentido do compri-
mento e separados sempre em tanques a BE e tanques a BB, podem ser utilizados
como tanques de lastro, corrigindo o trim ou a banda.

2.82. Curvas hidrostáticas (fig. 2-18) – Ao desenhar um navio o construtor


naval calcula as propriedades da forma da carena para um grande número de suas
flutuações direitas. O resultado deste cálculo é geralmente apresentado em curvas
que podem ser chamadas “curvas características das propriedades hidrostáticas da
forma do navio” ou, mais simplesmente, curvas hidrostáticas. Estas curvas podem
ser traçadas num só desenho que é incluído nos planos gerais do casco; o modo
como são elas constituídas não é importante para o pessoal de bordo, aos quais
interessa saber apenas como utilizá-las.
Os desenhos das curvas hidrostáticas nem sempre são exatamente iguais
uns aos outros, diferindo quanto ao número de curvas apresentadas e, também, de
um país para outro, conforme o sistema de medidas empregado. De modo geral,
entretanto, elas têm o aspecto apresentado na fig. 2-18. Esta representa as curvas
hidrostáticas de um contratorpedeiro de 1.200 toneladas, desenhadas conforme o
uso nas Marinhas americana e brasileira.
As escalas verticais são escritas em pés (1 pé = 0,305 metro) e represen-
tam os calados médios na quilha. A escala horizontal em cima é escrita em tonela-
das (1 long ton = 1.016 quilogramas).
Na parte inferior do desenho temos um perfil externo do navio: a linha inferior
deste perfil é a linha do fundo da quilha, e a linha da base moldada não está repre-
sentada, mas é indicada a sua posição. As escalas horizontais por baixo do perfil
representam as numerações das balizas, a de cima, e das cavernas, a de baixo.
Para a leitura das curvas hidrostáticas temos então duas escalas: a vertical,
em pés, e a horizontal, em toneladas inglesas. Todas as curvas são referidas ao
calado médio em pés, mas nem todas se referem a toneladas; para estas são
ESCALA DE PÉS = CALADO MÉDIO

Fig. 2-18 – Curvas hidrostáticas

ESCALA DE PÉS = CALADO MÉDIO

ARTE NAVAL 78
GEOMETRIA DO NAVIO 79

escritos, junto à curva, os fatores de conversão que transformam a escala horizontal


de toneladas na medida a empregar. Isto torna o uso destas curvas aparentemente
difícil, o que não é realmente, conforme tentaremos mostrar com os exemplos apre-
sentados a seguir, que se referem todos ao contratorpedeiro da fig. 2-18:

CURVA 1, deslocamento em água salgada, e CURVA 2, deslocamento


em água doce.
Exemplo (A) – Qual é o deslocamento em água salgada quando o ca-
lado é 9 pés?
Solução – Entra-se na escala vertical dos calados com o valor 9 pés e se-
gue-se a linha horizontal correspondente até interceptar a curva 1; lê-se o desloca-
mento na escala de toneladas diretamente acima do ponto de interceptação, 1.030
toneladas.
Exemplo (B) – Qual é o deslocamento em água doce quando o calado
é 10 pés?
Solução – Entra-se na escala dos calados com o valor 10 pés e segue-se a
linha horizontal correspondente até encontrar a curva 2; lê-se o deslocamento na
escala de toneladas diretamente acima do ponto de encontro, 1.160 toneladas.

CURVA 3, posição vertical do centro de carena, e CURVA 4, posição


longitudinal do centro de carena.
Exemplo – Localizar o centro de carena quando o calado do navio é 10 pés.
Solução – Primeiramente vejamos a altura do centro de carena acima da
linha de fundo da quilha: segue-se a linha horizontal dos 10 pés até interceptar a
linha reta chamada “Diagonal para o centro de carena e o metacentro transversal
acima da quilha”, que é traçada a 45° dos eixos e a partir da origem. Deste ponto de
interceptação segue-se a linha vertical para baixo até encontrar a curva 3. Segue-
se agora a linha horizontal a partir deste ponto de encontro até ler, na escala de pés,
a altura do centro de carena acima da linha de fundo da quilha, 6 pés.
Para a posição longitudinal do centro de carena, segue-se a linha horizontal
do calado 10 pés até encontrar a curva 4; lê-se, na escala de toneladas, diretamen-
te acima deste ponto de encontro, 70 toneladas. O fator de conversão escrito na
curva 4 é 50 toneladas / 1 pé a vante da baliza 10.
O CC está 6 pés acima da linha de fundo da quilha e a 1,4 pé para vante da
baliza 10 (seção a meia-nau).

CURVA 5, áreas de flutuação.


Exemplo – Qual é a área da flutuação correspondente a 9 pés de calado?
Solução – Segue-se a linha horizontal do calado 9 pés até encontrar a curva
5; diretamente acima deste ponto de encontro, na escala de toneladas, lê-se 1.160
toneladas. O fator de conversão dado nesta curva é 1 tonelada / 5 pés quadrados.
A área da flutuação será 1.160 x 5 = 5.800 pés quadrados.

CURVA 6, posição longitudinal do centro de flutuação.


Exemplo – Qual é o centro de flutuação para o calado de 8 pés?
Solução – Segue-se a linha horizontal do calado 8 pés até encontrar a curva
6 e lê-se, na escala de toneladas, acima deste ponto de encontro, 60 toneladas.
80 ARTE NAVAL

O fator de conversão escrito nesta curva é 25 toneladas / 1 pé; logo, o centro de


flutuação está a 60 / 25 = 2,4 pés, por ante a ré da baliza 10 (seção a meia-nau).

CURVA 7, toneladas por polegada de imersão (art. 2.84).


Exemplo – Para o calado 7,5 pés qual é o número de toneladas por polegada
de imersão?
Solução – Procura-se a interceptação da linha horizontal correspondente ao
calado 7,5 com a curva 7; diretamente acima deste ponto, na escala de toneladas,
lê-se 650 toneladas. O fator de conversão desta curva é 50 toneladas / 1 tonelada.
Logo, para 7,5 pés de calado, o número de toneladas por polegada de imersão é 650
= 13 toneladas.

CURVA 8, área da seção a meia-nau.


Exemplo – Qual é a área da seção a MN para o calado médio de 9 pés?
Solução – Segue-se a linha horizontal do calado 9 pés até encontrar a curva
8; diretamente acima deste ponto de encontro, na escala de toneladas, lê-se 400
toneladas. O fator de conversão para esta curva é 2 toneladas / 1 pé quadrado; a
área da seção a MN será 400 / 2 = 200 pés quadrados.

CURVA 9, contorno da seção a meia-nau.


Esta curva tem pouca utilidade a bordo: mostra a forma da seção a meia-nau.

CURVA 10, altura do metacentro transversal acima da linha de fundo


da quilha.
Exemplo – Quando o calado médio é de 10 pés, qual a altura do metacentro
transversal?
Solução – Procura-se o ponto de encontro da linha horizontal de 10 pés com
a linha “Diagonal para o centro de carena e o metacentro transversal acima da
quilha”, segue-se a vertical a partir deste ponto para cima até interceptar a curva
10. Do último ponto segue-se a horizontal até ler na escala de pés, 13 pés e 3
polegadas. O metacentro transversal está 13 pés e 3 polegadas acima da linha do
fundo da quilha.

CURVA 11, raio metacêntrico longitudinal.


A leitura desta curva é feita de modo semelhante à da curva 5. Por exemplo,
para 9 pés de calado o valor é 340 x 5 = 1.700 pés.

CURVA 12, momento para variar o trim de 1 polegada.


A leitura desta curva é feita de modo semelhante à da curva 5. Por exemplo,
para 9 pés de calado o valor é 190 pés-toneladas.

CURVA 13, correção ao deslocamento quando o navio estiver com 1


pé de trim pela popa.
Os deslocamentos e os calados deduzidos das curvas 1 e 2 são corretos
apenas para as flutuações direitas, para as quais foi calculada a curva, ou para as
suas flutuações isocarenas determinadas por uma inclinação transversal do navio.
GEOMETRIA DO NAVIO 81

Se o navio estiver flutuando descompassado, isto é, com uma inclinação


longitudinal, os resultados obtidos na curva do deslocamento são considerados
apenas como aproximação. Estas aproximações são julgadas suficientes na práti-
ca para as inclinações longitudinais até 1 grau, inclusive; se for desejada maior
aproximação, aplica-se a correção que é dada pela curva 13.
Exemplo – Suponhamos que o navio esteja calando 8,5 pés AV e 10,5 pés
AR. O deslocamento em água salgada correspondente a seu calado médio, 9,5
pés, é 1.120 toneladas, lido na curva 1. Entrando na curva 13 com o calado médio,
9,5 pés, encontraremos 250 toneladas na escala de toneladas; sendo o fator de
conversão desta curva 100 toneladas / 1 tonelada, a correção ao deslocamento
será 250/100 = 2,5 toneladas por 1 pé de trim pela popa. No caso atual temos dois
pés de trim pela popa e o deslocamento correto será 1.120 + 5 = 1.125 toneladas.

CURVA 14, área da superfície molhada.


A leitura desta curva faz-se de modo semelhante à da curva 5. Por exemplo,
o valor correspondente ao calado médio de 11 pés é 1.110 x 11, que corresponde a
12.210 pés quadrados.

CURVA 15, áreas das seções da carena abaixo da flutuação normal.


Exemplo – Na caverna 80, qual é a área da seção imersa em flutuação
normal?
Solução – Segue-se a linha vertical da caverna 80 até interceptar a curva
15; deste ponto de interceptação tira-se uma horizontal até ler o valor corresponden-
te na escala de pés, 4,2 pés. Sendo o fator de conversão 1 pé / 50 pés quadrados,
a área pedida será 4,2 x 50 = 210 pés quadrados.

CURVA 16
Esta curva mostra a forma da seção do navio no plano diametral e as posi-
ções relativas das balizas no projeto e das cavernas, que são partes estruturais do
casco.

2.83. Escala de deslocamento – Para os navios mercantes, algumas das


curvas hidrostáticas são também apresentadas sob a forma de uma escala, como a
que vemos na figura 2-19.
A escala é a tradução numérica da curva. Ela contém os deslocamentos em
água salgada correspondentes aos calados médios na quilha a partir da condição
de deslocamento leve até o deslocamento em plena carga. A fig. 2-19 está feita com
o calado em pés e polegadas, e o deslocamento em toneladas (1 ton = 2.240 libras
= 1.016 quilogramas), mas podemos obter uma escala no sistema métrico decimal.
A escala do deslocamento tem ainda uma coluna para os expoentes de car-
ga correspondentes aos diversos calados médios na quilha, a partir do calado míni-
mo, e outra coluna para a medida da borda-livre (art. 2.28).
Se na curva do deslocamento traçarmos novos eixos de origem no ponto A,
que corresponde ao deslocamento leve, a curva representará a partir deste ponto A
o expoente de carga. O zero do expoente de carga corresponde, portanto, ao deslo-
camento leve.
82 ARTE NAVAL

Muitas vezes a escala indica também o deslocamento em água doce, o ex-


poente de carga em água doce, e, algumas vezes, as toneladas por polegada (ou
toneladas por centímetro) e a correção ao deslocamento, quando o navio estiver
descompassado.

BORDA-LIVRE

DE CARGA
EXPOENTE

CALADO

DESLOCAMENTO

Fig. 2-19 – Escala e curva de deslocamento


GEOMETRIA DO NAVIO 83

2.84. Toneladas por centímetro de imersão e toneladas por polegada


de imersão – É muitas vezes necessário conhecer quanto um navio, flutuando num
calado determinado, imergirá (ou emergirá) devido ao embarque (ou desembarque)
de peso. O cálculo é facilitado, se conhecermos o peso que deve ser adicionado ou
retirado do navio a fim de aumentar ou diminuir uniformemente o calado de uma
unidade. Este peso chama-se toneladas por centímetro quando representa o núme-
ro de toneladas métricas necessárias para fazer variar o calado de um centímetro,
ou toneladas por polegada, se indicar o número de toneladas inglesas necessárias
para modificar de uma polegada o calado do navio.
Os navios geralmente possuem curvas nas quais se podem obter as tonela-
das por centímetro ou as toneladas por polegada, correspondentes a cada flutuação
e referidas ao calado respectivo (curva 7, art. 2.82).
As fórmulas são as seguintes:
a. Toneladas por centímetro – Ao peso p acrescentado (ou retirado)
corresponde um aumento (ou diminuição) v no volume da água deslocada pelo na-
vio; esta variação de volume é igual ao produto do aumento de calado pela área do
plano de flutuação, admitindo-se que esta área permanece constante. Se conside-
rarmos o navio flutuando na água salgada, teremos:
A F.c
Toneladas por cm = T = v.d = 1,026 . –––––– = AF.c . 0,01026
100
T = variação de peso em toneladas métricas (1.000 quilogramas)
AF = área do plano de flutuação em m2
c = variação do calado em cm
v = variação do volume de água deslocada pelo navio
d = densidade da água salgada.
Fazendo c = 1 cm, teremos as toneladas por centímetro: T = 0,01026 AF
Quando, entretanto, não se conhece o valor exato das “tons. por centímetro”,
pode-se obter com boa aproximação o seu valor correspondente ao deslocamento
em plena carga.
Sabe-se que a relação entre a área de flutuação e a do retângulo circuns-
crito varia entre 0,7 e 0,8 nos navios de formas ordinárias; podemos então subs-
tituir na fórmula acima a área de flutuação pelo seu valor em função da área
deste retângulo, a qual é igual ao produto do comprimento entre PP pela boca
máxima.
A. Baistrocchi apresentou, na Arte Navale, as seguintes regras para obter
as toneladas por centímetro de variação de calado, quando o navio está em plena
carga:
(1) T = 0,0070 L.B, para navios de grande velocidade, compridos e de formas
finas (CB < 0,6)
(2) T = 0,0075 L.B, para navios de forma ordinária (0,6 –< C B –< 0,7)
(3) T = 0,0084 L.B, para navios de formas cheias (CB > 0,7)
sendo:
L = comprimento entre PP, em metros;
B = boca máxima, na flutuação carregada, em metros; e
CB = coeficiente de bloco.
84 ARTE NAVAL

É fato conhecido que nas proximidades da flutuação em plena carga, nos


navios de forma ordinária, o costado é quase perpendicular à flutuação direita, ou
são mínimas as variações na forma de sua seção horizontal. Portanto, na prática,
não se comete grande erro em supor que o peso capaz de fazer imergir um navio
dez, vinte, trinta centímetros a partir da linha de flutuação normal seja igual a dez,
vinte, trinta vezes o peso que o fará imergir de um centímetro; e isto é também
verdadeiro, dentro dos mesmos limites, quando se retira a carga para fazer emergir
o navio. Deste modo, as regras dadas acima são verdadeiras para um intervalo de
30 centímetros, para cima ou para baixo da linha-d’água normal. Ver os exemplos
dados no art. 2.87.
b. Toneladas por polegada
AF AF
T = ––––––– = ––––
12.35 420
Sendo:
T = variação de peso em toneladas longas (1.016 quilogramas); e
AF = área do plano de flutuação em pés quadrados.

No denominador, “12” é a relação de 1 pé = 12 polegadas e “35” é a relação


entre o peso e o volume da água salgada (35 pés cúbicos de água salgada pesam 1
tonelada).
Assim, a área do plano de flutuação (em pés quadrados) dividida por 420 na
água do mar (ou por 12 x 36 = 432, na água doce) dará o número de toneladas
longas necessárias para aumentar ou diminuir o calado de uma polegada.
Uma regra prática aproximada: “1/10 do comprimento do navio em pés =
número de toneladas por polegada”.

2.85. Cálculo aproximado do deslocamento – Este cálculo só é feito


quando não se possui a curva do deslocamento (fig. 2-19), que é um caso pouco
provável.
Sabemos que o peso de um navio é igual ao peso do volume da água que
desloca. Como o peso de um corpo é igual ao seu volume multiplicado pelo peso
específico, representando por V o volume da água deslocada, que é o volume da
carena para a flutuação carregada, e por d o peso específico da água, podemos
exprimir o deslocamento do navio por:
W = V.d

Sabendo-se que o valor médio do peso específico da água do mar é 1,026


(peso em quilogramas de um decímetro cúbico da água do mar), teremos:
W = V . 1,026
Sendo:
V, o volume da carena, em metros cúbicos;
L, o comprimento entre perpendiculares, em metros;
B, a boca extrema máxima, em metros;
C, o calado médio, em metros; e
CB, o coeficiente do bloco.
GEOMETRIA DO NAVIO 85

V
Temos: CB = –––––––
L.B.C
(art. 2.63) => V = CB.L.B.C

Assim, W = V . 1,026 => W = CB.L.B.C . 1,026

Exemplo – Deseja-se calcular o deslocamento em água doce de um cruza-


dor menor, que tem as seguintes dimensões:
Comprimento entre PP (L) = 122 m
Boca máxima (B) = 12 m
Calado médio (C) = 4,6 m
Conhecendo-se o coeficiente de bloco para este tipo de navio (art. 2.65), que
é CB= 0,56, teremos:
W = 0,56 . L.B.C = 0, 56 . 122 . 12 . 4,6 = 3.771 toneladas.

2.86. Cálculo aproximado da arqueação


a. Arqueação Bruta (AB)
AB = K1 .VT, onde
K1 = (0,02 . log VT) + 0,2; e
VT = volume total dos espaços fechados da embarcação.

b. Arqueação Líquida (AL)


A arqueação líquida pode ser calculada pela fórmula:

{A + [–––––––––––––––––
1,25 . (AB + 10000)
10.000
. (N + 0,1N )]}
1 2

Sendo:
N1 = número de passageiros em camarote de até 8 beliches; e
N2 = número de demais passageiros não incluídos em N1.
A = ao maior valor entre 0,25 . (AB) ou K2 .Vc (4H/3P)2, onde Vc é o volume
total dos espaços de carga, H é o calado moldado e P o pontal moldado e
K2 = (0,02 . log Vc) + 0,2.
0.18 [B + M/2]2
Para os navios com a seguinte relação: 0,40 –< –––––––––––––– –< 0,85,
B.P
onde B é a boca máxima em metros; e M é o perímetro da seção mestra,
limitado pela interseção da face superior do convés de forro exterior, em metros, o
volume dos espaços fechados abaixo do convés principal pode ser calculado pela
seguinte expressão:
VC = [(B + M)/2]2 . 0,18 . L

2.87. Variação do calado médio devido a uma modificação do peso


sem alterar o trim – Sendo embarcado (ou desembarcado) um peso de modo que
seu centro de gravidade fique na vertical que passa pelo centro de flutuação, não
haverá inclinação longitudinal nem transversal, portanto não haverá alteração no
86 ARTE NAVAL

compasso; ter-se-á apenas uma imersão (ou emersão) paralela à flutuação, isto é,
calado AV e o calado AR variam de uma mesma quantidade, e do mesmo modo o
calado médio.
Este cálculo é muito facilitado pela consulta às curvas hidrostáticas da fig. 2-
18; a posição do CF é dada pela curva 6, e, se o peso foi colocado na vertical deste
centro de flutuação, a variação do calado é dada pelas curvas do deslocamento
(curva 1 ou curva 2).
Não se conhecendo a posição exata do CF, o que é um caso pouco provável,
far-se-á um cálculo aproximado admitindo um ponto suposto para o centro de
flutuação; se não tivermos à mão a curva nem a escala do deslocamento, emprega-
remos as toneladas por centímetro.
Nos navios de guerra considera-se o centro da flutuação normal colocado
aproximadamente a 0,04 do comprimento entre perpendiculares (L) por ante-a-ré do
meio de L, ou seja, 0,54 a partir da perpendicular AV.
Exemplo 1 – Suponhamos que um navio está em seu deslocamento normal
e sabe-se que o número de toneladas por centímetro para este deslocamento é 16.
Ao chegar a um porto o navio, deve ser desembarcada uma quantidade regular de
carga cujo peso não se conhece. Após a descarga, entretanto, verificou-se uma
diminuição de 5 cm no calado AV e no calado AR. Qual o peso desembarcado?
Solução – A diminuição do calado médio foi de 5 cm; então, o peso da carga
desembarcada é igual a 16 x 5 = 80 toneladas.
Exemplo 2 – Supõe-se que o navio esteja navegando em seu deslocamento
normal, para o qual o número de “toneladas por centímetro” é 20; durante o cruzeiro
gastaram-se 100 toneladas de óleo combustível de um tanque situado abaixo do
centro de flutuação. Qual foi a diminuição do calado?
Solução – A diminuição do calado foi de 100 / 20 = 5 cm.

2.88. Variação do calado ao passar o navio da água salgada para a


água doce e vice-versa – Um navio aumenta ligeiramente de calado, ao passar da
água salgada para a água doce, porque é necessário deslocar maior massa de água
para equilibrar o peso do navio, uma vez que o peso da água doce é menor.
Este problema é facilmente resolvido pelas curvas 1, “deslocamento em água
salgada” e 2, “deslocamento em água doce”, na fig. 2.18. Não se possuindo estas
curvas, pode-se calcular a mudança de calado em função das “toneladas por centí-
metro”.
Um metro cúbico de água salgada pesa 1,026 tonelada; consideramos a
água doce dos rios pesando 1,010 tonelada, isto é, 0,016 tonelada menos.
Como o deslocamento (peso) do navio não mudou, o volume da água doce
deslocada será maior, fazendo com que o navio desça até que o seu peso e o
empuxo de novo se equilibrem; isto fará aumentar o calado. A quantidade de que o
navio imergiu, ao passar da água salgada para a água doce, será a mesma que
imergiria se permanecesse na água salgada recebendo a bordo um peso de 0,016 x
W, sendo W o deslocamento.
W . 0,016
aumento de calado = ––––––––––––––––––––––
toneladas por centímetro
GEOMETRIA DO NAVIO 87

Exemplo – Um navio tem 1.260 toneladas de deslocamento com o calado


médio de 3,80 metros na água e 4 toneladas por centímetro de variação de calado;
qual será o seu calado na água doce?
1.260 . 0,016
Solução – aumento de calado = ––––––––––––– = 5 cm
4
O calado do navio passará a ser 3,85m.
Se a densidade na água doce fosse diferente da suposta acima (1,010 é o
valor médio), o cálculo poderia ser feito pelo mesmo raciocínio. Note-se que nos
referimos ao calado médio, porque o aumento de calado geralmente não é igual a
vante e a ré, pois a carena é mais cheia na popa, em geral.
Para um cálculo aproximado, e para um navio de formas ordinárias, na sua
flutuação em plena carga, podemos tomar a mudança de calado como sendo de 1,3
centímetro para cada metro de calado do navio. Por exemplo, um navio que tenha de
calado 5 metros, ao passar em seu deslocamento máximo, da água do mar para a
água do rio, imergirá de 5 x 1,3 centímetro, ou seja, 6,5 centímetros, e vice-versa.
Outra regra prática, para navios mercantes: “1/4 do calado máximo, em pés =
aumento de calado, em polegadas, ao passar para a água doce.”

2.89. Variação de trim devido a uma modificação de peso – Admitimos


até aqui todas as variações de peso como sendo feitas sobre a vertical que passa
pelo centro de flutuação. Mas podemos ter necessidade de deslocar longitudinal-
mente um peso qualquer, ou embarcar um peso a vante ou a ré. Nestes casos
haverá uma variação do trim.
Variação de trim é a soma do aumento de calado numa extremidade do navio
e a diminuição na outra. Por exemplo, um navio tem calado AV = 6 metros e calado
AR = 7 metros, isto é, o trim é de 1 metro pela popa. Suponhamos que, por um
movimento qualquer de peso, venha este navio a ter calados de 6,40 m AV e 6,70 m
AR. O trim passou a ser 0,30 m pela popa e a variação do trim foi 0,40 + 0,30 =
0,70m.
Na prática é suficiente considerar que as mudanças de calado AR e AV são
iguais, isto é, a variação do trim será igual ao dobro da mudança de calado em uma
das extremidades.
Vamos considerar o nosso problema em três partes distintas:
a. Variação produzida no trim por se mover longitudinalmente um peso
que já se encontra a bordo
p. l L
Variação de trim = ––––– x –––––
W GM'
onde:
p = peso movido, em toneladas;
l = distância longitudinal, em metros;
L = comprimento entre perpendiculares, em metros;
W = deslocamento, em toneladas;
GM’ = altura metacêntrica longitudinal (ver fig. 2-10), em metros.
88 ARTE NAVAL

Exemplo – Para um navio em que L = 120 m, GM’ = 150 m. W = 6.000 t,


calado AV = 5,26, calado AR = 5,84, deslocou-se longitudinalmente para vante em
30 metros um peso p = 20 toneladas. Pedem-se os calado AV e AR.
20 x 30 120
Solução: variação de trim = ––––––––– . ––––– = 0,08 m
6.000 150
Houve portanto um aumento de calado AV de 4 cm e diminuição de calado
AR de 4 cm:
calado AV = 5,26 + 0,04 = 5,30 m
calado AR = 5,84 - 0,04 = 5,80 m
b. Valor do momento que faz variar de um centímetro o trim em plena
carga – Este valor é geralmente obtido por uma curva semelhante à curva 11 da fig.
2-18, mas pode ser deduzido por cálculo.
Na equação do item anterior, se fizermos a variação de trim igual a 1 centíme-
tro, teremos: 1 p.l L
––––– = ––––– . –––––
100 W GM'

O produto p . l representa o momento que faz variar de 1 centímetro o trim;


seu valor é:
D GM' 6 000 150
p . l = ––––– . ––––– = ––––––– . ––––– = 75
100 L 100 120

Se neste navio deslocarmos longitudinalmente de 30 metros um peso de 20


toneladas, a variação na diferença de calado será:

20 . 30
––––––––– = 8 cm
75

A altura metacêntrica GM’ é geralmente determinada para cada navio; mas


no caso de não se conhecer o seu valor, pode-se considerar, nos navios de guerra
de proporções ordinárias, que a altura GM’ é quase igual ao comprimento L e, com
um discreto grau de aproximação, far-se-á então o uso da seguinte regra, não apli-
cável às embarcações de grande calado, nem às de tipo especial:
“O momento que faz variar de 1 centímetro o trim de um navio (ou seja, o
produto do peso pela distância longitudinal) é quase igual (em metros-toneladas) a
um centésimo do deslocamento do navio em toneladas.”
O resultado desta regra, dada por Baistrocchi na Arte Navale, estará um
pouco abaixo ou acima do valor real, conforme seja o navio comprido e fino ou curto
e largo, já que nos primeiros, GM’ é maior do que L e, para os segundos, GM’ é
menor do que L. Para os navios mercantes, o momento de que se fala será provavel-
mente superior de 30 a 40 por cento ao dado pela regra acima.
c. Variação produzida no trim por embarque ou desembarque de pe-
sos – O cálculo é facilitado, e dá, como resultado, uma boa aproximação, supondo-
se que os pesos a embarcar representam menos de 2% do deslocamento do navio.
Em primeiro lugar imagina-se que os pesos sejam embarcados no próprio centro de
GEOMETRIA DO NAVIO 89

flutuação; o navio imergirá, sem variar o trim, até que o aumento de deslocamento
faça equilíbrio ao peso embarcado. Este cálculo será feito como foi indicado no art.
2.87, pelas “toneladas por centímetro”.
Depois de se haver suposto que o peso seja calculado no centro de flutuação,
o que resta a fazer é trazê-lo a sua verdadeira posição. Se houver variação de diver-
sos pesos, multiplica-se cada peso pela distância percorrida, seja para a proa ou
seja para a popa e faz-se a soma de todos os momentos para a ré e a de todos os
momentos para vante do CF. A diferença entre estes constitui o momento que cau-
sa a variação de trim. A última operação então será calcular a variação de trim
produzida por este momento, o que se faz pelo método metacêntrico, empregado
no item b deste artigo.
Exemplo – Sejam os calados primitivos do navio 8,50 m AR e 8,20 m AV;
sejam 20 tons. as “toneladas por centímetro” de imersão, e 150 metros-toneladas o
momento necessário para variar um centímetro na diferença de calado. Deve-se
embarcar um peso P = 40 tons. a uma distância d = 15 metros para a proa do centro
de gravidade G no plano de flutuação. Pedem-se os novos calados.
Solução – O embarque deste peso, supondo-se primeiramente colocado
sobre G, dará um aumento de calado = 40/20 = 2 centímetros (art. 2.87). Os cala-
dos serão agora, 8,52 AR e 8,22 AV, permanecendo constante o trim: 30 cm.
Se deslocarmos este peso de 15 metros para vante de G, teremos um
momento 15 x 40 = 600 (metros-toneladas), o qual tende a fazer imergir a
proa do navio. A variação no trim será 600/150 = 4 cm; a diferença de calado será
agora 30 - 4 = 26 cm (subtrai-se porque o peso foi colocado na proa reduzindo a
diferença de calado); os novos calados admitindo o CF a MN são:
calado AR = 8,52 - 4/2 = 8,50 m; e
calado AV = 8,22 + 4/2 = 8,24 m.
90 ARTE NAVAL

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