Redes Sociais e Educação Um Possível Encontro
Redes Sociais e Educação Um Possível Encontro
Redes Sociais e Educação Um Possível Encontro
Introdução
Pensar a educação atualmente implica pensar, obrigatoriamente, a intensa relação entre
alunos e tecnologia. Assim, a crescente popularidade das redes sociais faz aumentar o
interesse de pesquisadores que buscam entender sua influência no processo de ensino e
de aprendizagem das pessoas ou dos grupos que delas fazem parte. Robleyer (2010)
demonstra que a grande convergência de pessoas para as redes sociais e a gama de
interações que ocorre confirmam que as redes podem ser usadas como um potencial
recurso educacional, podendo até facilitar o processo da aprendizagem, além de estimular
novas formas de interação. As redes são um terreno fértil que possibilitam a criação e a
experimentação do novo, tendo modificado alguns aspectos na vida das pessoas, como a
forma de consumir, de interagir, possibilitando novos aprendizados [Pireddu, 2013].
Como salientam Machado e Tijiboy,
(...) a comunicação em rede tem sido explorada como instrumento de
ativação de movimentos sociais e culturais como a luta dos direitos
humanos, feministas, ambientalistas, etc. Na educação, a participação
em comunidades virtuais de debate e argumentação encontra um
campo fértil a ser explorado. Através dessa complexidade de funções,
percebe-se que as redes sociais virtuais são canais de grande fluxo na
circulação de informação, vínculos, valores e discursos sociais, que
vem ampliando, delimitando e mesclando territórios. Entre
desconfiados e entusiásticos, o fato é que as redes sociais virtuais são
convites para se repensar as relações em tempo pós-modernos.
[Machado e Tijiboy, 2005, p. 2].
Nesse sentido, as redes sociais, em especial o Facebook, que em seu surgimento
trouxeram algumas preocupações quanto à privacidade e à segurança, deram lugar a
possibilidade de interação em um ambiente de aprendizagem onde se pode extrair uma
taxa de penetração inigualável.
Em um estudo realizado por Favero (2016), em que foram entrevistados
aproximadamente 200 professores universitários de dois países – Itália e Brasil – a
maioria, isto é, 81% considera importante o uso das Redes Sociais no
Ensino/Aprendizagem, e “68% acreditam que seja possível construir comunidades de
aprendizagem nos ambientes oferecidos pelas mídias sociais” [Favero, 2016, p. 21]. É
necessário “pensar as redes sociais na Internet como novos espaços de aprendizado,
compreender esses espaços e aprender a orientar esses processos” [Recuero, 2012].
Em uma entrevista ao Correio da Bahia [Fontes, 2015], Castells salienta que
“todos nós já vivemos hibridamente em presença física e presença virtual na rede. Em um
mundo assim, a educação é decisiva para aproveitar as imensas oportunidades que a
conexão permanente e o acesso a bases de dados oferecem”.
O sociólogo Pierre Lévy, entusiasta do Facebook, enquanto ferramenta de ensino
e aprendizagem, defende o seu uso, considerando que esse processo implica em pensar
cibercultura e educação se entrelaçando o tempo todo. A necessidade de repensar o papel
do professor também é fundamental, uma vez que este vem deixando de exercer papel
central na escola. Para ele,
a principal função do professor não pode mais ser a difusão dos
conhecimentos [...]. Sua competência deve deslocar-se no sentido de
incentivar a inteligência coletiva dos grupos que estão a seu cargo
[Lévy, 1999, p. 171].
Concomitantemente, o papel do aluno também se transforma, pois não aprende
mais passivamente como antes. Lévy (1999) afirma que o crescimento do ciberespaço e
o surgimento da cibercultura são demarcadores de uma nova era em que a sociedade
contemporânea passa por uma mutação nas relações de comunicação e educação. Isso
tem levado pesquisadores a se questionarem se as redes sociais e a Educação poderão
conviver e apoiarem-se mutuamente [Favero, 2016)].
Considerando-se a importância de mais estudos sobre o assunto, essa pesquisa tem
como objetivo uma revisão sistemática de literatura (RSL) relacionada com Educação e
uso de redes sociais em sala de aula como ferramenta pedagógica (em especial o
Facebook) buscando contribuir com a compreensão deste fenômeno. Detivemo-nos,
dando especial atenção, no uso das redes sociais na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Foi realizada a RSL sobre redes sociais e Educação, em uma lista de 2169 artigos
encontrados nos periódicos e eventos selecionados para este fim, dos quais 60 foram
selecionados para a análise proposta, uma vez que, somente os 60 faziam referência à
pesquisa. A importância de realizar uma pesquisa bibliográfica está na visão geral que se
obtém quanto ao amadurecimento de uma área de conhecimento específica.
Pesquisas relacionadas
Com o intuito de obter mais dados sobre o uso de redes sociais, buscou-se saber o que a
TIC Domicílios 2015 havia identificado. Dentre os dados elencados, é importante
salientar que 56% da população são usuários de Internet pelo telefone celular, um
aumento de nove pontos percentuais em relação a 2014 (47%), como é possível observar
na Tabela 1, cujos percentuais estão sendo calculados sobre o total de pessoas que
utilizaram telefone celular nos últimos três meses, que antecederam a pesquisa.
Tabela 1: Proporção de usuários de telefone celular, por atividades realizadas no telefone celular (Fonte: Pesquisa
TIC Domicílios 2015)
É importante salientar, também, que a análise realizada por faixa etária evidencia
que a proporção de usuários que utilizam telefone celular para acessar a Internet e os
serviços oferecidos na rede aumentou em relação a 2014 entre as pessoas “na faixa etária
de 35 a 44 anos (passando de 47%1 para 61% em 2015), e entre os adultos de 45 a 59 anos
(de 25% para 37%), o que indica uma popularização dessa atividade também entre os
mais velhos” [CETIC, 2015], conforme pode-se observar no Gráfico 1.
1
Percentual sobre o total da população
Gráfico 1: Proporção de indivíduos que usaram a internet no telefone celular nos três meses que antecederam a
pesquisa, por faixa etária (2013–2015)
Ainda com o intuito de descobrir mais sobre o assunto deste artigo, e identificando
que o uso de celulares tem aumentado, inclusive por adultos, o que poderia levar a um
aumento do uso dos mesmos em sala de aula, principalmente com as turmas da EJA,
estendeu-se à pesquisa em busca de trabalhos relacionados na plataforma da Capes, no
Repositório Aberto da Universidade do Porto e na biblioteca eletrônica SciELO,
procurando por trabalhos relacionados, dentro do mesmo período.
No Repositório do Porto, surgem mais de dois mil artigos sobre “redes sociais”.
Já na SciELO, a pesquisa traz 173 artigos, enquanto nos periódicos da Capes, surgem
2301 artigos, porém, não se localizam pesquisas que estejam realizando revisões
bibliográficas do tipo RSL com descritores como “redes sociais” AND “EJA”, ou
“Educação de Jovens e Adultos”.
Revisões sistemáticas de literatura são estratégias utilizadas pela comunidade da
Informática na Educação, no Brasil, quando necessitam delimitar alguma pesquisa,
conforme foi possível identificar nas revistas e eventos utilizados para a pesquisa deste
artigo; o que implica em afirmar que, pesquisas que façam uso da RSL a fim de identificar
sobre o uso de redes sociais na EJA não foram localizadas. Buscando suprir esta lacuna,
realizou-se esta pesquisa, cuja metodologia está descrita a seguir.
Metodologia
A RSL foi realizada a partir da busca de artigos nos anais do Simpósio Brasileiro de
Informática na Educação (SBIE), do Congresso Brasileiro de Informática da Educação
(CBIE) e do Workshop de Informática na Escola (WIE). Além disso, buscou-se artigos
também nas revistas Educação & Realidade, Revista Brasileira de Informática na
Educação (RBIE), Informática na Educação Teoria e Prática e na Revista de Novas
Tecnologias na Educação (RENOTE); artigos estes que tivessem relação com o uso de
redes sociais na educação, em especial no Ensino Médio - EJA. Foi feita a busca por
artigos que possuíssem as palavras “redes sociais”, “Facebook”, “Twitter” no título, no
resumo ou nas palavras-chave. Optou-se por delimitar apenas as redes sociais Facebook
e Twitter, devido à gama imensa de redes existentes e porque tínhamos como objetivo
averiguar o uso das redes que poderiam ser utilizadas em sala de aula, nas disciplinas das
autoras deste artigo.
O espaço temporal para realizar a busca ficou compreendido entre os anos de 2013
e 2017. Cabe salientar que, para o escopo desta pesquisa, foram selecionadas somente
revistas e eventos nacionais.
Devido às limitações apresentadas pelos veículos de publicação, como por
exemplo a ausência do campo pesquisa em alguns deles, ou, ainda, a ausência da
delimitação temporal, optou-se por ler um a um, cada um dos 2169 artigos dos veículos
escolhidos. Foram lidos os títulos, as palavras-chave e os resumos. Os que contivessem
as palavras acima mencionadas, eram separados para uma análise mais acurada. Como
foram poucos os artigos encontrados, optou-se por ampliar os descritores, diversificando
em sinonímias, que permitissem uma aproximação do que se estava buscando. Ao final,
estes foram os descritores que tornaram possível encontrar 60 artigos, os quais foram
separados para ser possível quantificá-los, conforme pode ser visto na Tabela 2: (1) Redes
Sociais (Facebook, WhastApp, blog), (2) EJA e Educação de Idosos e (3) Idosos e Redes
Sociais.
Pergunta Justificativa
P1 Quais são as universidades Estas universidades poderão se tornar
que estão pesquisando/ parceiras para melhor conduzir esta
publicando/ escrevendo sobre pesquisa, em âmbito nacional.
redes sociais na Educação?
P2 Em quais regiões estão sendo Permite buscar instituições e
realizadas pesquisas sobre professores/pesquisadores parceiros para
redes sociais na Educação. identificar como está sendo o uso, em sala
de aula, dos recursos oferecidos pelas redes
sociais.
P3 Quais são as Redes Sociais Serão as redes que poderão suscitar estudos
mais utilizadas pelos mais aprofundados em busca de opções
professores, em seu fazer pedagógicas diferenciadas.
educação?
Resultados
A pesquisa inicial realizada nos veículos de publicação escolhidos resultou em 2169
artigos. Conforme pode ser observado na Tabela 2, os eventos CBIE e SBIE foram os que
apresentaram mais artigos, isto é, 541 e 545, respectivamente. Refinando mais a pesquisa,
buscou-se artigos em que aparecessem palavras como “WhatsApp” ou “Blog”. Estas
aparecem com mais frequência na revista RENOTE (12) e no congresso SBIE (15).
Ainda, procurando um refinamento para saber se havia artigos que apresentassem algum
estudo sobre o uso de redes sociais com alunos da EJA, ou com idosos, constatou-se que
somente dois artigos mencionavam o uso das redes sociais com idosos; e 11 artigos
mencionavam Educação de idosos e EJA, porém não mencionavam redes sociais.
Em busca de quais são as universidades que estão publicando sobre “redes sociais
e Educação”, ou melhor, sobre os descritores mencionados acima, pode-se identificar uma
distribuição pulverizada das mesmas. A universidade que mais apresentou artigos foi a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Como é possível constatar no
Gráfico 2, dos 7 artigos, apenas 3 foram publicados numa revista do sul do País. Da
mesma forma, a Unisinos, uma universidade do Sul, teve 2 artigos escritos em uma revista
do Sul e 2 em um evento nacional. É importante notar, também, que as universidades de
outros estados não têm publicado nos meios fora de seu estado ou região, a não ser em
eventos nacionais, como é possível observar na Tabela 4. O total de universidades que
apareceram nos artigos foi de 73, o que implica dizer que existem artigos que foram
escritos em parceria entre as mesmas. As universidades que não aparecem no gráfico
apareceram na pesquisa com, apenas, um artigo publicado.
CBIE 3 3 1 1 7
Informática na 2 2 0 0 1
Educação: Teoria e
Prática
RBIE 2 3 0 0 1
RENOTE 7 2 1 0 0
Revista Educação e 1 2 0 0
Realidade
SBIE 0 4 0 1 1
WIE 1 3 1 1 4
SOMA 16 19 3 3 14
Pode-se aferir que ainda existem poucas publicações sobre o assunto, tanto por
região, quanto por universidades. Notório é que ainda há um vasto campo de pesquisa,
nesta área.
Após a mineração do corpus foi possível observar os resultados apresentados
pelos softwares de mineração de texto. A Tabela 5, apresenta os resultados da mineração
do software TextAnalyzer. Os dados estão dispostos em ordem crescente do número de
frequência com que as palavras apareceram no corpus minerado. Dentre as 50 palavras
solicitadas, foram escolhidas as 20 com maior significância e abrangência no âmbito de
análise dos dados dos artigos, excluindo-se palavras como “mas”, “que”, etc.
Tabela 5: Palavras recorrentes da mineração usando o TextAnalyzer (Fonte: Elaboração própria a partir de
resultado do TextAnalyzer)
Como é possível observar, as palavras com maior ênfase são “alunos” e “escola”.
Também são destacadas as palavras, “blog”, “professores” e “uso”, que podem
demonstrar uma utilização dos blogs por parte dos docentes como uma forma alternativa
no processo de aprendizagem. Pode-se observar o baixo emprego do termo
“compreensão”, o que deixa dúvidas quanto à aplicação, isto é, se estava sendo escrita
num sentido positivo de que estava tendo uma maior compreensão, ou se era num sentido
negativo; a não ser que se acessasse os artigos para lê-los com mais completude, para
identificar se estava havendo uma maior compreensão, em função do uso das redes
sociais, ou não. Outro fato importante a salientar, é a frequência do termo “tecnologias”;
tecnologias que oferecem ferramentas imprescindíveis para uma possível maior
qualificação no fazer educação.
O grafo (Figura 1) abaixo é o resultado da mineração dos artigos utilizando a
ferramenta Sobek: